OS DRUIDAS - Os Deuses Celtas Com Formas de Animais - H. D'Arbois de Jubainville
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Transcript of OS DRUIDAS - Os Deuses Celtas Com Formas de Animais - H. D'Arbois de Jubainville
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OOOsss DDDrrruuuiiidddaaasss Os Deuses Celtas com
Formas de Animais
H. D'arbois de Jubainville Coordenao
Eduardo Carvalho Monteiro
http://groups.google.com.br/group/digitalsource
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H. D'arbois de Jubainville Eduardo Carvalho Monteiro (Coordenador)
Os Druidas Os Deuses Celtas com Formas de Animais
Tradutora:
Julid Vidili
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Traduzido originalmente do francs sob o ttulo:
Les Druides Et Les Dilux Celtics A Form D'Animaux
2003, Madras Editora Ltda.
Editor:
Wagner Veneziani Costa
Ilustrao da Capa:
Parvati
Produo:
Equipe Tcnica Madras
Coordenador:
Eduardo Carvalho Monteiro
Traduo:
Julia Vidili
Reviso:
Neuza Alves
Augusto do Nascimento
Camila De Felice
Tiragem:
3 mil exemplares
ISBN 85-7374-674-2
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Sumrio
Introduo
Os mitos no deixam a Memria se apagar
Os primitivos habitantes da Glia
Os Deuses Celtas com formas de Animais Prefcio
Primeira Parte
Captulo I
Os druidas comparados aos Gutuatri e aos Uatis
Captulo II
Instituio Galica
Captulo III
Qual a Diferena entre os Galaicos e os Gauleses?
Captulo IV
Conquista da Gr-Bretanha pelos Gauleses e Introduo do Druidismo na Glia
Captulo V
Provas Lingsticas da Conquista Gaulesa na Gr-Bretanha - Primeira Parte
Os Nomes de Povos encontrados no Continente
Captulo VI
Provas Lingsticas da Conquista Gaulesa na Gr-Bretanha - Segunda Parte
O p na Gr-Bretanha nos Nomes dos Povos alm dos Parisii, nos Nomes de Homens e de Lugares
Captulo VII
Provas Lingsticas da Conquista da Gr-Bretanha pelos Gauleses - Terceira Parte
Nomes de Cidades, de Estaes Romanas e de Cursos d'gua que encontramos tanto na Gr-Bretanha quanto no Continente Gauls
Captulo VIII
Provas Lingsticas da Conquista da Gr-Bretanha pelos Gauleses - Quarta parte
O rei Belga e Gauls Commios na Gr-Bretanha. Os Belgas so Gauleses
Captulo IX
Os druidas na Glia Independente, durante a Guerra feita por Jlio Csar
Captulo X
Os druidas na Glia sob o Imprio Romano
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Captulo XI
Os druidas na Gr-Bretanha fora do Imprio Romano e quando o Imprio Romano conheceu seu Fim
Captulo XII
Os druidas na Irlanda
Captulo XIII
Eram Monges os druidas da Irlanda?
Captulo XIV
O Ensinamento dos Druidas.
A imortalidade da Alma
Captulo XV
A Metempsicose na Irlanda
Segunda Parte
Captulo I
Os Deuses Celtas com forma de Animais
Noes Gerais
Captulo II
Os Deuses que tomam a forma de Animais na Literatura pica da Irlanda I. O Rapto das Vacas de Regamain
Comentrio II Gerao dos Dois Porqueiros
I. Os Dois Porqueiros
II. Os Dois Corvos
III. As Duas Focas ou Baleias
IV. Os Dois Campees Protesto de um Copista
V. Os Dois Fantasmas
VI. Os Dois Vermes
VII. Os Dois Touros Comentrio
Apndice
Jlio Csar e a Geografia
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Introduo
As corporaes brdicas que se mantiveram dentro do Pas de Gales
atravs das invases sucessivas dos romanos, dos anglo-saxes e dos ingleses
atravs de uma espcie de Franco-Maonaria, conservaram, com tenacidade
cltica, os resqucios tradicionais das velhas crenas nacionais, e as trades que
ns possumos so certamente sua ltima expresso.
Adolphe Pictet
Os celtas foram um dos grandes povos da Europa, nos anos 600 a 50 a.C.
Do Norte dos Alpes espalharam-se para o Leste e Oeste da Anatlia (atual
Turquia) at a Espanha e Gr-Bretanha. Apesar de suas tribos viverem em
constante conflito, quando Csar conquistou seus territrios para Roma em 52
a.C, os celtas estavam empenhados em uma unificao nacional. Caso a
tivessem materializado, dificilmente teriam sido subjugados pelo inimigo. As
tribos celtas, uma a uma, foram sendo absorvidas pelo Imprio Romano, com
exceo das que habitavam o extremo Norte da Esccia e da Irlanda. Nessas
regies, o antigo modo de vida dos celtas continuou durante a era crist e foi
onde menos as civilizaes se fundiram. Esse um dado importante, pois, foi a
regio onde mais completa se deu a Reforma Protestante. Por possurem uma
cultura eminentemente oral, pouca coisa chegou at ns sobre os usos, os
costumes e a religio cltica. O que foi preservado deve-se ao relato de viajantes
e historiadores gregos e romanos, nem sempre muito confiveis em suas
descries e vises dos costumes desse povo.
A lngua cltica extinguiu-se com o tempo, mas, graas aos insulares
britnicos e irlandeses da periferia ocidental do antigo mundo cltico, ela
ressurgiu no sculo V da nossa era na Bretanha e conservou-se dentro de regras
que permanecem at hoje.
O nome "celtas" comeou a ser usado pelos autores gregos do sculo V
a.C, referindo-se a alguns povos da Europa temperada, conhecidos como
"hiperbreos". Em 272, ao saquearem o santurio de Apoio, em Delfos, so
chamados de "gaiatas", denominao esta que doravante seria usada para
designar tanto os celtas orientais, sobretudo os que se fixaram na sia Menor,
quanto os celtas ocidentais. Polbio, o historiador grego, no faz distino entre
os celtas cisalpinos e transalpinos.
provvel que do equivalente ao termo "glatas" tenha surgido a
expresso "gauls" (Galli), que deu nome a um territrio determinado: a Glia
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cisalpina e transalpina. Assim, a designao de celtas (em latim, Celtae) mais
corrente para os gauleses transalpinos, mas deve-se consider-los sinnimos face
ao uso que os autores antigos faziam deles. Pode-se, portanto, dispensar-se as
implicaes geogrficas, j que essas denominaes ainda perduram nas lnguas
indo-europias vivas, entre as quais o gauls.
Celtas e druidas, enquanto etnias, eram povos distintos, conquanto
vivessem harmoniosamente e terem adquirido, pelo uso, o carter de termos
sinnimos. Aos historiadores, no entanto, a distino se faz necessria. Os
druidas como povo, no como sacerdcio so muito anteriores aos celtas.
Instruram primeiro os restos atlante-europeus e mais tarde os rio-celtas,
esclarece Madame Blavatsky em A Doutrina Secreta.
Csar escreveu seus "Comentrios" com evidente inteno de se exaltar
aos olhos da posteridade. Polio e Suetnio confessam que nessa obra abundam
inexatides e erros voluntrios. Os cristos s vem nos druidas homens
sanguinrios e supersticiosos; em seu culto somente encontram prticas
grosseiras. Entretanto, certos padres da igreja Cirilo, Clemente de Alexandria
e Orgenes distinguem com cuidado os druidas da multido dos idolatras, e
conferem-lhes o ttulo de filsofos. Entre os autores antigos, Lucano, Horcio e
Florus consideravam a raa gaulesa como depositria dos mistrios do
nascimento e da morte.
Os progressos dos estudos clticos Philosophie Gauloise, por Gatien
Arnoult; (Histoire de France, por Henri Martin; Bibliothque de Genve, por
Adolphe Pictet; Immortalit, por Alfred Dumesnil;
L'Esprit de la Gaule, por Jean Reynaud, a publicao das Trades e dos
Cantos Brdicos (Mystres des Bardes de I'lle de Bretagne), por Cyfrinach
Beirdd Inys Prydain e as inmeras obras de D'Arbois Jubainville ajudam na
apreciao de tais crenas.
Outras fontes vamos encontrar na obra de Plnio, o Velho, Histria
Natural, um observador minucioso morto em 79 d.C, quando se aproximou
demais do Vesvio para estudar sua famosa erupo. O srio-grego Posidnio,
em seu Histrias (52 volumes) tambm descreveu os celtas e os druidas, no final
do segundo sculo a.C. Autores posteriores emprestaram dele a maioria das
informaes e, entre eles, pode-se citar Estrabo (63 a.C. - 21 d.C.) e Diodoro da
Siclia (cerca de 40 a.C). Junto com Estrabo e Diodoro, Csar integrante de
um pequeno grupo de escritores cuja obra subsistiu aos sculos e que viveram
nos tempos em que os druidas praticavam seus cultos abertamente.
Testemunha contempornea, Ccero, amigo de Csar, afirmava ter-se
encontrado com um druida, Divaco, chefe dos duos, que procurou obter ajuda
de Roma contra os helvcios, precipitando assim a guerra gaulesa. Divaco, que
para alguns estudiosos no era druida, impressionou muito Ccero por seus
-
conhecimentos em cincias naturais, entre outros.
Em sua obra Anais, Tcito fornece informaes sobre o druidismo na
Inglaterra, mas se revela preconceituoso em sua anlise, considerando os druidas
"selvagens ignorantes".
Para no nos estendermos demais, citamos ainda entre os antigos: Lucano
(39 a 65 d.C), autor do poema pico Pharsalia; Valrio Mximo,
contemporneo de Tibrio; Digenes Larcio; Amiano Marcelino (390 d.C);
Hiplito (300 d.C.) e Dcimo Magno Arsnio (310 d.C).
Os Mitos no Deixam a Memria se Apagar
Afora o relato desses autores, sempre suscetveis de anlise, a maneira de
estudarmos o celtismo e o druidismo observando as razes que deixaram junto
ao folclore de seus descendentes, seus mitos, suas lendas e alegorias. Para
muitos, esses so detalhes de pouco valor, mas de algum tempo para c,
arquelogos e historiadores se conscientizaram da relevncia dessas tradies
como fontes de investigao. Os garimpeiros do passado caminham para a
concepo de que o elo que falta para unir e compreender os diversos momentos
importantes de nossas eras pode estar contido no inconsciente coletivo da
humanidade. Descobrir as chaves que abrem a porta dessa memria ancestral no
mundo dos arqutipos a funo do mito, que funde a memria essencial dos
fatos e a reminiscncia das idias, proporcionando um avano na interpretao
histrica.
O mito, portanto, um arqutipo, uma realidade interna da alma, que se
projeta na realidade externa. No se trata de uma iluso, mas fruto das
experincias passadas do esprito e que se insere em suas experincias presentes.
Logo, o mito exerce poderoso fascnio sobre o ser humano que se apega
intensamente a seus arqutipos. Se o mito sobrevive na esteira do tempo
fecundo, caso contrrio teria sido esquecido.
Margot Adler, autora de Drawing Down the Moon (1979), situa bem o
assunto: Quando algum combina o processo de indagao com o contedo de
beleza da Antigidade; quando mesmo num caso algum abre o fluxo de
imagens arquetpicas contidas na histria e lendas do povo, h tempos negadas
por essa cultura, muitos dos que se defrontam com essas imagens ficam
fascinados por elas e iniciam uma jornada inimaginada pelos que deflagraram o
processo.
A histria dos celtas e dos druidas est intimamente ligada memria de
seus mitos. Essas razes so mais profundas nos j citados extremo Norte da
Esccia e da Irlanda, onde os mitos e as lendas bardas ainda correm de boca em
boca e a alma cltica revivida a cada festa tradicional da regio, com seus
-
cantos, suas msicas, danas e seus costumes. E esses mitos so importantes na
medida que levantam os vus das crenas clticas e lembram a atmosfera do
"sobrenatural" em que viviam, com o misterioso entrosamento entre vivos e
mortos, tendo por cenrio a abbada das rvores e o escrnio celeste.
Na Frana, porm, solo da antiga Glia, que o esprito do celtismo mais
est impregnado. O que , porm, a alma cltica? a conscincia profunda da
Glia. Recalcada pelo gnio latino, oprimida pelos francos, desconhecida,
olvidada por seus prprios filhos, a alma cltica sobrevive atravs dos sculos. E
quem reaparece nas horas solenes da histria, nas pocas de desastres e de
runas, para salvar a ptria em perigo, como no episdio protagonizado por
Joanna d'Arc, que concitou seus conterrneos a expulsarem os estrangeiros de
seu solo.
Os celtas, portanto, como povo, no existem mais. Mas eles permanecem
vivos atravs de seu esprito, grafado na alma e no inconsciente dos povos que
os sucederam no fluxo e refluxo da histria. Fisicamente, todo indivduo porta
uma herana gentica, mas psiquicamente tambm carrega outra, a espiritual.
Trata-se da combinao de experincias de nossas vidas passadas, como
acontece com o druidismo, na forma de uma corrente que proporciona a
transmisso da tradio espiritual.
Os Primitivos Habitantes da Glia
Antes de falar do povo celta, temos de fazer uma viagem no tempo e
conhecer os lgures, primitivos habitantes de parte das terras ocupadas por
aquela civilizao. De acordo com Jullian, autor de Histria da Glia, a Ligria
se estendia na faixa de terra que rodeava o golfo de Leo, da Provena
Catalunha, e o povo era formado por homens do Neoltico, que sobreviveram
invaso dos celtas. Para quem aprecia uma arqueologia inslita, eles seriam
anteriores ao grande cataclisma que submergiu a Atlntida e, portanto,
contemporneos dessa civilizao descrita por Plato em dois fragmentos de
Timeu e Crtias.
Alguns estudiosos colocam a origem do druidismo na Hiperbrea, regio
localizada no Setentrio (Crculo rtico), que faria parte do continente da
Atlntida. Suas razes remontam a uma pr-histria do druidismo h,
aproximadamente, 26.000 a.C, junto de um povo aventureiro, de raa branca,
quando j eram sbios, tinham extraordinrios poderes psquicos e as chaves de
conhecimentos csmicos e terrenos. Com as diversas glaciaes, a temperatura
do planeta foi diminuindo e os hiperboreanos foram forados a migrar para o
sul, na direo das Glias. Em contato com os lgures, esses sbios passaram a
ser conhecidos como os Semnothes, que significa "os adoradores de Deus". Por
-
seus conceitos monotestas da Divindade como Poder Supremo, eles se
distinguiam dos povos pagos.
Segundo o relato que Plato concebe por Crtias, nove milnios e meio
antes de nossa Era, teria existido uma ilha situada no meio do Atlntico, com
face para o desfiladeiro de Gibraltar, cujos habitantes, descendentes do deus
Poseidon, constituam uma civilizao particularmente avanada, que dominava
a metalurgia, eram criadores de gado e agricultores.
Nesse tempo, explica Crtias, podia-se atravessar esse mar. Havia uma
ilha frente passagem denominada Colinas de Hrcules, que era maior que a
Lbia e a sia reunidas. Os viajantes desse tempo podiam passar dela para
outras, e dessas atingir todo o continente sobre a margem oposta desse mar, que
merecia de fato o seu nome porque de um dos lados, para o interior do
desfiladeiro de que falamos, havia apenas um porto de entrada estreita e do
outro, para o exterior, h esse mar e a terra que o rodeia e que se pode chamar,
no sentido exato da palavra, um continente.
Esse imprio, diz ainda Crtias, de acordo com o que ouviu na juventude,
compreendia toda a ilha e muitas outras ilhas e pores do continente. Entre
outros, do nosso lado, tinha a Lbia (nome geral para designar a parte de frica
do Norte, situada a oeste do Egito) e a Europa at o Tirreno (Itlia Oriental).
Ora, essa potncia, tendo concentrado todas as suas foras, tentou conquistar de
um s golpe o velho territrio, o novo (Grcia e Egito) e todos os que se
encontravam deste lado do desfiladeiro. Foi ento, Slon, que o poder da nossa
cidade mostrou aos olhos de todos o seu herosmo e a sua energia, sobressaindo
de todas as outras pela sua fora de nimo e arte militar. Primeiro, frente dos
Helenos, depois sozinha por necessidade, abandonada pelas outras, enfrentando
perigos supremos, venceu os invasores, levantou o trofu, preservou da
escravido os que nunca tinham sido escravos e, sem rancor, libertou todos os
outros povos e mesmo ns, que habitamos no interior das Colinas de Hrcules.
Mas no tempo que se seguiu houve terrveis tremores de terra e cataclismos. No
espao de um dia e de uma noite, todo o nosso exrcito desapareceu sob a terra e
tambm a ilha Atlntida se afundou no mar e desapareceu.
Muito papel e tinta foram gastos a favor ou contra a veracidade da
existncia da Atlntida. No nos move a inteno de fazer parte desse guisado
de opinies, mas apenas situar histrica e geograficamente a trajetria desses
povos na tentativa de elucidar algumas facetas de sua histria.
Voltemos, pois, aos lgures. Conforme descreve Jullian, os restos de suas
tribos teriam sido repelidas pelos celtas cerca de cento e cinqenta anos antes de
nossa era.
Os antigos exploradores, relata o historiador, vindos do sul ou do leste, de
Cdis ou da Fcida, usavam o nome de lgures para designar todos os habitantes
-
da terra gaulesa. Davam-no, tambm, s tribos do litoral da Provena, aos
indgenas da bacia do Rdano, aos povos da plancie de Marbona, aos que
habitavam ao longo do grande golfo do Atlntico e aos povos ainda mais
distantes, que erravam nas margens do mar do Norte. Mesmo na poca de Csar,
o mundo greco-romano recordava os tempos antigos em que o nome dos lgures
se estendia por toda a Glia.
D'Arbois de Jubainville situava-os tambm no extremo ocidente, na
origem do mbar, o Bltico, e ainda em Albion, ou seja, nas Ilhas Britnicas.
Ainda segundo Jullian, esses homens no se assemelhavam todos, mas
tinham um elemento comum, o idioma lgure: Na Itlia e na Espanha, nas
plancies da Germnia, nas ilhas do Mediterrneo e nas do Eceano, como na
Glia, deixaram como vestgios os nomes dos cursos de gua e das montanhas.
A Espanha e a Gr-Bretanha tem os seus "dives", homnimos dos riachos
franceses; "Douro" a mesma palavra que as "doires" italianas; o Sena francs,
"Sequana", significa o mesmo que o "Jucar", ao sul dos Pirineus. O solo da
Irlanda e o da grande ilha vizinha tm nomes da lngua lgure: era, creio, a dos
grupos indgenas "nascidos na ilha" bret, que os gauleses empurraram para o
interior e Csar ainda conheceu (...) Conquistando as terras dos lgures, relata
Jullian, os gauleses herdaram tambm as colheitas, as terras e os deuses; e nem
romanos, nem brbaros ou cristos extirparam de seus domnios, trinta ou
quarenta vezes seculares, os gnios das montanhas e das fontes, os espritos
protetores dos lugares.
Jullian prossegue descrevendo os habitantes da Glia nos sculos que
precederam ao ano 600 a.C, sobretudo como trabalhadores da pedra, a matria
principal de suas obras e seus instrumentos. Os operrios de ento tinham
noes exatas sobre os graus de resistncia recproca das rochas. E Jullian fala
de seus monumentos: Tambm os maiores menires e dolmens revelam prodgios
de mecnica. Mesmo que a maior parte desses blocos fosse extrada do solo do
pas, havia que tir-los, p-los no lugar, fix-los; alguns pesavam 250.000
quilos, outros mais, e alguns deles, dos mais pesados, foram transportados sete
ou oito lguas (250 quilmetros, no caso de alguns meglitos de Stonehenge).
Mais se toma um enigma cultura tecnolgica moderna, quando se sabe
que para se fazer tudo isso necessrio, alm dos braos dos homens, alavancas,
rolos, cabrestantes, cordas, os quais deveriam ser cuidadosamente conhecidos e
calculados o mecanismo, o poder de tenso e a solidez, ou seja, um saber preciso
de engenharia. Somados aos conhecimentos de astronomia revelados pelos
monumentos megalticos, podemos deduzir no estarmos diante de povos
brbaros e ignorantes como querem fazer crer Csar e muitos historiadores.
E a esse povo lgure que os celtas vo miscigenar-se e sobrepujar-se
enquanto raa. A partir da presena dos druidas entre os celtas, no foi a
-
sociedade que formou a religio, mas esta que estruturou a sociedade.
Os Deuses Celtas com Formas de Animais
A vida moderna, recheada de praticidades, racionalidades, alta tecnologia
e horrios rgidos, faz o homem obscurecer dentro de si suas razes e coloca a
dormitar em seu inconsciente os mitos que povoam seu universo mgico.
A relao homem/animal sempre permeou no contexto encantado da alma
humana a partir de suas primeiras conquistas: aprender a fazer fogo, inventar a
roda, localizar-se segundo os quatro pontas cardeais, transformar uma pedra em
arma. Desde tempos imemoriais o Homo Sapiens coloca os animais em lugar de
destaque no inconsciente coletivo e alimenta esse panteo de deuses com a
recordao de seus mitos, lendas e cultos ancestrais.
Na arte e na literatura vemos os reflexos dessa relao homem/animal,
que proporciona um complexo extraordinrio de tradies orais e escritas, que
compem a evoluo cultural, espiritual e religiosa da sociedade. Enfatizamos
que o mito conserva vivo o que a memria do homem teima em apagar.
Dentro do imaginrio humano surge o corcel galante, o leo ameaador, o
touro sensual, o corvo de intenes ocultas e todos os tipos de animais que
odeiam, amam, so superiores, so inferiores, ora deuses, ora escravos,
misturando-se aos Homo Sapiens, vivendo suas histrias fantsticas.
o eterno ciclo da vida colocando o ser racional frente a frente com suas
memrias atvicas.
O povo celta, igualmente a outros povos, conservou em si a adorao aos
animais, colocando-os na posio de deuses e, se sua cultura no permitiu que
chegasse at ns quase nada escrito ou grafado em seus monumentos
megalticos, os mitos sobreviveram e desafiam o homem moderno a descobrir-
lhe os segredos e simbolismos.
Henri-Marie D'Arbois Jubainville, nascido em Nancy em 1827 e falecido
em 1910, professor de idiomas e literatura cltica no Colgio da Frana em
1885, pertencia a uma famlia de tradio em pesquisas arqueolgicas e clticas,
tendo sido um dos eruditos que melhor souberam compreender o universo
mgico celta.
Portando em seu currculo vrias honrarias acadmicas, fez parte da
Academia das Inscries das Belas Artes (1884) e foi autor de inmeras obras
premiadas sobre o assunto celtas e druidas.
Este Os druidas Os Deuses Celtas com Formas de Animais apenas
um desdobramento do grande cabedal de conhecimentos que este historiador e
fillogo francs tinha da matria.
So estudos importantes para os apaixonados da cultura cltica e drudica,
-
aqueles que, esquecendo-se das modernidades da vida cotidiana, conseguem
mergulhar na msica das florestas, ouvir o farfalhar das folhas secas, o uivar dos
lobos, o murmurar das corujas nos bosques de carvalho e aceitam o convite para
participar da grande assemblia convocada por Cchulainn em Ulster, qual
estaro presentes Friuch, o Porqueiro de Munster, a Feiticeira Morrigan
travestida de loba cinzenta, os corvos que um dia foram porqueiros, os garbosos
cavalos de freios de prata e Mainchenn, o druida da Gr-Bretanha. Homens e
Animais confraternizam-se em seu mundo mgico.
E o mito sobrevive em Ulster.
Eduardo Carvalho Monteiro
-
Prefcio
A primeira parte deste volume e o incio da segunda so o texto das aulas
dadas pelo autor durante o segundo semestre escolar de 1904-1905.
Da primeira parte, uma primeira redao, depois desenvolvida, foi feita
por ele no leito em que a doena o prendia. O Altceltischer Sprachschatz de M.
A. Holder foi o precioso instrumento que tornou o trabalho possvel nessa
incmoda situao. A necessidade de repouso que se impe a um convalescente
impediu a composio de um ndice que deveria ficar no fim do livro e do qual o
autor lamenta muito a ausncia.
As doutrinas expostas nas pginas seguintes so, em diversos pontos,
diferentes daquelas geralmente admitidas. So fundadas nos textos citados em
notas. O desejo de submet-las ao exame dos eruditos e, em geral, de todos os
que se interessam por essa parte da Histria foi o motivo que decidiu o autor
para lanar imediatamente a presente publicao, talvez sem t-la amadurecido
o suficiente e sem preocupao com as crticas de que ela poder, justa ou
injustamente, ser objeto e vtima.
N. do A.: Estou tambm em dvida com o sr. Ernault, a quem devo um detalhe importante: a relao entre
gutuatros e , pg.14.
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Primeira Parte
Captulo I
Os Druidas comparados aos
Gutuatri e aos Uatis
Os gauleses tiveram duas categorias principais de sacerdotes: os druidas,
druidas = dru-uides, "muito sbios",1 dos quais todo mundo j ouviu falar, e os
Gutuatri, que so bem menos conhecidos. No diremos nada ainda sobre os
Uatis, ou seja, os adivinhos profissionais que, na Irlanda, So Patrcio no
considerou sacerdotes e que subsistiram oficialmente nessa ilha durante a Idade
Mdia, em meio populao cristianizada, diante de e com a proteo do
clericato cristo.
Quando, no primeiro sculo a. C, Jlio Csar conquistou a parte da Glia
que at ento estava independente do jugo romano, os druidas ocupavam nessa
regio uma situao considervel, sobre a qual o futuro ditador teceu diversas
consideraes,2 mas dizia-se ento que a corporao drudica era originria da
Gr-Bretanha e que fora importada da Gr-Bretanha para a Glia Setentrional,
central e ocidental, Galia contata. o que Jlio Csar nos ensina.3 Antes do
estabelecimento dos druidas no continente, os gauleses s tinham como
sacerdotes, alm dos Uatis, os Gutuatri, cujo nome vem de um termo derivado
do prefixo celta gutu-, em irlands guth, "voz".4
Seu nome significava "os faladores", "os oradores", ou seja, aqueles que 1 Sobre a etimologia da palavra druida, por Thurneysen, ver Holder, Altceltischer Spiachschatz, tomo I, col.
1321 e aqui nas pgs. 17, 66.
N. do T.: a palavra Uatis provavelmente originou o portugus Vate, 'adivinho, profeta' 2 De bello gallico, livro IV, cap. 13 e seguintes.
3 "Disciplina in Britannia reperta atque in Galliam translata esse existimur." De bello gallico, livro VI, cap. 13,
par. 12. Uma opinio diferente emitida pelos srs. J. Rhys e David Brenmor-Jones, The welsh People, pg. 83,
mas sem dar nenhuma prova. 4 Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo 1, col. 2046. Whitley Stokes, Urkeltischer Sprachschatz, pg. 115. E.
Windisc, Iriche Texte, tomo A pg. 605.
O sufixo -tro- se emprega ordinariamente como neutro e serve para formar nomes de instrumentos (Brugmann,
Grundriss, tomo II, pg. 112-113). Mas h excees, como no grego , "aquele que reparte", , "aquele que cura, o mdico. Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo II, col. 1962; para comparar: o nome
masculino irlands Rithar, Zeuss, Grammatica cltica, 2 a edio, pg. 752 e sobretudo o gauls gwalatr,
gwaladr, "governador", ibidem pg. 830; esta palavra tem sua origem no primitivo *ualatro-s, tro-s, derivado
de uala-, que vem da raiz UAL, "ser poderoso", como no latim ualere, ualidus, ualor. Da mesma forma gutu-a-
tro-s vem de gutua-, desenvolvimento de gutu- "voz".
-
dirigem a palavra aos deuses, aqueles que invocam os deuses. Esse nome pode
ser considerado semelhante ao nome germnico da divindade, god em ingls,
gott em alemo, tendo origem no termo primitivo indo-europeu ghtn, "o que
s invoca". Ghtn vem do particpio passado passivo neutro da raiz ghu, em
snscrito hu, "invocar", com o particpio passado masculino nominativo huts,
como em puru-huts, "muito invocado", apelido do grande deus Indra na
literatura vdica.5 O nome godo para sacerdote, gudja, parece derivar da mesma
raiz e significar "aquele que invoca"; um sinnimo germnico do gutuatroz
gauls.
Os Gutuatri, no nominativo singular em gauls *gutuatyos e com a
ortografia latina gutuater, ao qual Hirtius d o acusativo gutuatrum e o ablativo
gutuatro,6 eram sacerdotes ou de um templo ou de uma floresta sagrada. Tais
eram provavelmente os sacerdotes do templo, antistites templi, entre os Boii da
Itlia, em 216 a. C, quando, de um crnio de um general romano vencido,
fizeram um recipiente para beber.7
Havia Gutuatri na Glia no perodo da independncia. Jlio Csar, amigo
do druida Deviciacos, condenou morte e fez executar um gutuatros ou, como
escreviam os Romanos, um gutuater da terra de Chartres.8
Os Gutuatri subsistiram na Glia sob o imprio romano. Uma inscrio
romana de Mcon fala de um Gauls romanizado chamado Sulpicius que fora ao
mesmo tempo ligado ao culto ao imperador, como atesta seu ttulo de flamen
Augusti, e ao culto de uma divindade local, como se aufere de seu ttulo
Gutuater Martis,9 ou seja, sacerdote de uma das numerosas divindades clticas
assimiladas a Marte sob o domnio romano.10
Duas inscries romanas de Autun
contm dedicatrias ao deus gauls Anualos ou Anuallos, emanadas cada uma de
um gutuater; esses dois sacerdotes se chamam Gaius Secundius Vitalis Appa e
Norbaneius Thallus; Appa parece ser o nome gauls do primeiro, Norbaneius o
do segundo.11
Um quarto gutuater mencionado por uma inscrio em Puy-en-
Velay.12
Mais tarde, em Ausone, a expresso Beleni aedituus13
parece ser uma
traduo latina do gauls Beleni gutuatros.
O gutuater, ou melhor, gutuatros da Glia, parece ter tido a mesma funo
5 Kluge, Etymologisches Woerterbuch der deutschen Sprache, 5
a edio, pg. 143. Kluge e Luiz, English
Etymology, pg. 91 6 De bello gallico, l. VIII, c. 38 par. 3, 5.
7 Tito Lvio, l. XXIII, cap. 24 par. 12.
8 De bello gallico, l. VIII, c. 38.
9 Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo I, col. 2046. Na mesma inscrio, Sulpicius dito filho mais velho do
deus Moltinos, no genitivo primogeniti dei Moltini. 10
Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo I, col. 444, 445. 11
Esprandieu, Revue pigraphique, edio de outubro, novembro, dezembro de 1902, pg. 132, 133, n 1367,
1368, pl. IX, X. Revue celtique, t. XXII, pg. 148. Norbaneius derivado de Norba, nome de homem em uma
inscrio de Autun, Corpus inscriptionum latinarum, XIII, 2747; Holder, t. II, col. 760. 12
Holder, t. 1, col. 2046. 13
Ausone, Professores, XI, 24, edio Schenkl, pg. 64.
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do homrico, como por exemplo Crises, sacerdote do templo de Apolo14
em Crisa, vila de Troade;15
Dares, sacerdote do deus grego Hephaistos que foi
mais tarde assimilado aos deus romano Uolcanus16
; Laogonos, sacerdote do
templo erigido a Zeus, o Jpiter romano, sobre o monte Ida.17
No incio da
Ilada, Crises, como os Gutuatri, dirige a palavra a seu deus. uma orao18
que
seu deus ouve, constrangendo os gregos a devolver Crises a filha que eles lhe
tinham raptado. , apelido de Crises na Ilada, I, 11, quer dizer "aquele
que pede"; essa palavra tem o mesmo sentido que o gauls gutuatros.
Os Gutuatri gauleses tinham em Roma seu equivalente; eram os flamines,
no singular flamen, cada um encarregado do culto de um deus, por exemplo os
flamen dialis, sacerdotes de Jpiter. Os flamines no formavam uma
corporao,19
bem como, provavelmente, os Gutuatri.
Os druidas, ao contrrio, eram uma corporao20
e mesmo, se podemos
usar essa expresso, um tipo de congregao religiosa. Se comparssemos os
Gutuatri aos curas ou aos pastores protestantes, uma espcie de clericato
secular, sem parquias claro, poderamos perceber que os druidas tinham com
os Jesutas uma certa analogia. Os druidas no tinham, como os Jesutas, um
general, mas eram subordinados tambm a provinciais, um na Glia,21
um na
Irlanda,22
provavelmente tambm um na Gr-Bretanha. Estes tinham, como
misso, primeiro o culto de todos os deuses,23
depois o estudo e o ensino da
mitologia e de todas as cincias. Enfim, sabendo o passado, pretendiam
conhecer tambm o futuro.24
Os druidas, sob este ponto de vista, tinham concorrentes, os Uatis,
chamados de por Strabon25 e , ''adivinhos", por Diodoro de
Siclia,26
que tambm prediziam os acontecimentos futuros. Foi graas aliana
de So Patrcio com os Uatis, em irlands fthi, filid, que o Cristianismo na
Irlanda triunfou sobre o druidismo.
Os Uatis celtas tinham seu equivalente em Roma, no colgio dos ugures.
Uma outra instituio romana oferecia evidente analogia com os druidas,
14
, . Ilada, l, 370. 15
Ilada, l, 37, 451. 16
, . (Ilada, V, 9, 10). 17
, , ... (Ilada, XVI, 604, 605). 18
Ilada, l, 37-42. 19
Marquardi, Remische Staatsverwaltung, t. III, 2 edio, pg. 326. 20
Sodaliciis adstricti consortiis, Timagne, citado por Amio Marcelino, I. XV, c. 9, par. 8. 21
De bello gallico, I. VI, col. 13, par. 8. 22
Ver mais adiante, cap. XII. 23
"Rebus divinis intersunt". De bello gallico, l. VI, c. 13, par. 4. 24
Ccero, De divinatione, l, 41, 90; mais adiante, pg. 58. 25
. Strabon, l. IV, c. 4, par. 4; edio Didot, pg. 164, l. 21, 22. Este autor os considera sacerdotes. Esta tambm , parece, a opinio de Diodoro de Siclia. 26
, , . Diodoro de Siclia, l. V, c. 31, par. 3; ed. Didot, t. 1, pg. 272, l. 45-48.
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o colgio dos pontfices. Aos pontfices romanos pertencia uma grande parte das
atribuies conferidas aos druidas celtas, mas, antes de falar delas, constatemos
que os chefes postos frente dos druidas da Glia e dos da Irlanda
correspondiam ao pontifex maximus dos Romanos.27
Quanto s atribuies, sabe-se que freqentemente na Glia os druidas
eram rbitros de processos;28
os pontfices romanos foram em sua origem
encarregados da conservao dos textos das leis e uma de suas funes era
interpret-las. Os druidas ensinavam a histria a seus alunos;29
os pontfices
romanos no professavam a histria, mas a escreviam; redigir os anais de Roma,
Annales maximi, era uma das funes do pontifex maximus. O ensino da
astronomia, uma das atribuies dos druidas,30
no era dado pelos pontfices,
romanos mas, eram eles, que faziam o, calendrio, de cada ano31
e certos
conhecimentos astronmicos eram necessrios ao estabelecimento desse
calendrio.
Havia ento uma incontestvel semelhana entre a corporao drudica e
uma instituio romana: o colgio dos pontfices. Pode-se tambm, como j foi
dito, comparar os augures romanos aos Uatis ou adivinhos celtas. Assim, tendo
em vista essas trs instituies romanas, os flmines, os pontfices e os
ugures a Glia conquistada por Jlio Csar, ou seja, a Gallia comata,
oferece-nos trs instituies similares: os Gutuatri, os druidas e os Uatis.
Uma semelhana anloga se encontra entre a lngua latina e a dos celtas:
genitivo singular e nominativo plural em i para os temas em o, passivo e
deponente em r, futuro em bo, sufixos tat e tion,32
etc. sobretudo no dialeto
galico que a semelhana espantosa; ora, os druidas parecem ser de origem
galica e, outra analogia com Roma, a cor de sua vestimenta, o branco, a
mesma da toga romana.33
Mas havia um ponto pelo qual os druidas se distinguiam dos pontfices
romanos: eles ensinavam, como iriam mais tarde ensinar os jesutas; como j
haviam ensinado Pitgoras na Itlia, na obscura cidade de Crotona, no sculo VI
antes de nossa era; Scrates no sculo seguinte; Plato e Aristteles no sculo
IV; e os trs na Grcia, na capital literria dessa regio ilustre, a cidade de
Atenas. Pitgoras, Scrates, Plato e Aristteles eram filsofos; logo, pensaram
27
"His autm omibus druidibus praeest unus qui summam inter eos habet auctoritatem." De bello gallico, l. VI, c.
13, par. 8. Sobre os druidas da Irlanda e seu chefe, ver adiante, cap. XII. 28
Csar exagera quando (De bello gallico, l. VI, c. 13, par, 7) pretende que os druidas julgassem todos os
processos. 29
"Drasidae memorant reuera fuisse populi partem indigenam, sed alios quidem ab insulis extimis confluxisse et
tractibus transrhenanis." Timgeno (sculo. I a. C.) em Amio Marcelino, l. XV, c. 9, par. 4. 30
De bello Gallico, l. V, c. 14, par. 6. 31
Sobre os pontfices, vr Marquardt, Remische Staatsverwaltung, t. III, 2a edio, pgs. 281-303.
32 Tratado de E. Windisch sobre as lnguas clticas, par. IV, em Groeber, Grundriss der romanischen Philologie,
t. I, 2eedio, pgs. 390-394.
33 Marquadt, Das Privatleben der Rmer, 2 edio, pg. 554 e seguintes. Cf. adiante, pgs. 60, 72.
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os gregos, os druidas tambm o eram; eis por que os druidas so qualificados de
filsofos antes de nossa era, por volta do ano 200 por Sotion, na segunda metade
do sc. I por Diodoro de Siclia e, aps nossa era, na primeira metade do sc. III,
por Digenes Larcio34
.
Alm disso, a palavra filsofo, ou seja, "amigo da cincia e da sabedoria",
pode ser considerada a traduo grega do celta dru-uids, "muito sbio",
literalmente "fortemente vidente", em irlands dri, de genitivo drad.35
Aquele
que se cr e a quem se cr sbio ama a cincia e a confunde com a sabedoria. A
traduo latina da palavra dru-uids magister sapientiae, "mestre da
sabedoria".36
34
Ver os textos reunidos por A. Holder, Altceltischer Sprachschatz, t. I, col. 1322,1325, 1329. 35
De dri podemos aproximar si=su-uids, no genitivo sad=su-uidos, "sbio", literalmente, "bem vidente"
(Thurneysen): aquele que viu bem sabe o que viu. Cf. mais frente, pg. 66. 36
"Habent tamen ET facundiam suam magtstrosque sapientiae druidas". Mela, l. III, cap. 2, par. 18.
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Capitulo II
Os Druidas Foram em sua Origem uma
Instituio Galica
Os druidas parecem ter-se tornado conhecidos dos gregos a partir do ano
200 a. C, quando Sotion fala sobre eles.1 Eles estavam, nessa data, estabelecidos
na Glia deste lado do Reno, regio freqentada por negociantes marselheses.
Isso aconteceu pouco aps a conquista da Gr-Bretanha pelos gauleses sobre os
galaicos. Com efeito, essa conquista parece ter ocorrido entre os anos 300 e 200
a.C, aproximadamente.2 Os gauleses encontraram os druidas na Gr-Bretanha e
importaram essa instituio para o continente. o que Jlio Csar nos ensina;3
conclumos da que os druidas foram originalmente uma instituio galica e
prpria, antes dos Galaicos que dos Gauleses. Os Galaicos so um grupo cltico
que subsiste ainda com sua lngua na Irlanda e nas montanhas da Esccia. Desse
grupo, por muito tempo chefe das Ilhas Britnicas, o druidismo foi levado para a
vasta regio que se estende para o sul do canal da Mancha entre o oceano
Atlntico e o Reno; mas era desconhecido na Glia cisalpina e nas regies que
haviam sido clticas a leste do Reno, tanto na bacia do Danbio quanto na sia
Menor, onde o dru-nemeton, ou seja, o grande templo ou a floresta sagrada, no
tem qualquer relao com os druidas: se afirmssemos o contrrio, seria o
mesmo que dizer que grande sbio e grande ignorante so frmulas de valor
idntico. H na Frana um sinnimo de dru-nemeton, que uer-nemeton, no
1 Digenes Larcio, Prooemuim, par. 1, edio Didot, pg. 1, l. II. O tratado da magia atribudo por Digenes
Larcio a Aristteles apcrifo, no lendo a meno aos druidas, nesse tratado, qualquer valor cronolgico.
Sobre a data na qual escrevia Sotion, ver Christ, Geschichte der griechischen Litteratur, 3 edio, pg. 799. 2 Romilly Atten, em Celtic Art in pagan and christian Times, pgs. 21 e 61, diz trezentos anos antes de Cristo,
mas na pg. XVI parece pensar que podem ser apenas dois sculos antes da ocupao romana na Gr-
Bretanha. Eis como ele se exprime: The early iron Age began here two or three Centuries at least before the
roman Occupation. "A primeira idade do ferro comeou dois ou trs sculos, pelo menos, antes da ocupao
romana." Ora, ele explica (pg. 61) que a primeira idade do ferro comeou com a invaso dos povos celtas, ou
seja, dos Gauleses. Foi no ano 43 de nossa era que comeou a ocupao romana; logo, a conquista gaulesa
deve ter ocorrido entre 157 e 257 a. C. Cf. J. Rhys, Early Britain, 2 edio, pg. 4. 3 "Disciplina in Britannia reperta arque inde in Galliam translata esse existimatur, et nunc qui diligentius eam
rem cognoscere uolunt plerumque illo discendi causa proficiscuntur". Debello gallico, l. VI, c. 13, par. 11 e 12.
Salomon Reinachparece ter adivinhado a origem galica dos druidas, Revue celtique, l. XXI, pg. 175. No vejo
razo para crer, como o sbio J. Rhys (Studies in early Irish History, nos Proceedings of British Academy, vol.
I, pg. 34) que Csar teria escrito por engano Britannia no lugar de Hibernia. Na mais antiga epopia irlandesa,
a Gr-Bretanha aparece como o grande centro de instruo. E na Gr-Bretanha que o clebre heri Cchulainn
aprende o ofcio das armas; da Gr-Bretanha vem a profetisa que anuncia rainha Medb os resultados
desastrosos do Tin b Cailngi; no Cophur in d muccado, mais adiante, pg. 183, um Druida da Gr-
Bretanha prediz na Irlanda o triunfo dos side de Munster.
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plural uer-nemeta:
Nomine Uernemetis uoluit uocitare uetustas.
Quod quasi fanum ingens gallica lingua refert.4
4 Fortunato, 11, carmen 9, verso 9; edio de Frdric Leo, pg. 10.
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Captulo III
Qual a Diferena entre os
Galaicos e os Gauleses?
Os galaicos, ou como se diz hoje em dia, os galicos, so o ramo mais
setentrional da famlia celta; esse ramo se estabeleceu nas Ilhas Britnicas em
uma data difcil de determinar, entre o ano 1300 e o ano 800 a. C.1 Os Galaicos
viviam ento a idade do bronze. S saram dessa era por volta de 300 ou 200 a.
C., quando uma invaso gaulesa trouxe o ferro para as Ilhas Britnicas. Por
diversos sculos, talvez mil anos antes da invaso gaulesa, os Galaicos, armados
de lanas com pontas de bronze,2 espadas e punhais de bronze
3 triunfaram sobre
a raa annima que os precedera nas Ilhas Britnicas. Essa raa, da qual a
arqueologia nos mostra a longnqua existncia mas cuja lngua nos
desconhecida, ignorava os metais quando foi subjugada pelos Galaicos. Ela
estava ento na idade da pedra polida, na era neoltica, como dizem os
arquelogos, que se exprimem dessa forma, em grego, para se distinguir do
vulgo ignorante. As armas de pedra e de osso de que se servia essa raa eram
muito inferiores s armas metlicas dos Galaicos.
A conquista das Ilhas Britnicas pelos Galaicos no apenas introduzira um
metal que os habitantes daquelas ilhas no haviam conhecido at ento, mas
tambm fez penetrar uma lngua que ainda no se falava e que dominaria
durante muitos sculos. Era um dialeto celta.
Passaram-se muitas centenas de anos at que a conquista gaulesa
trouxesse s Ilhas Britnicas, com as armas de ferro que triunfaram sobre as
armas galaicas de bronze, um novo dialeto cltico, o gauls, que venceu e
substituiu o galico na Gr-Bretanha.
Uma das caractersticas que distinguem o gauls do galico a
substituio gaulesa da letra q e do ku indo-europeu por p. Os Galaicos,
Irlandeses e Gaels da Esccia tinham reduzido, havia muito tempo, essas duas
letras a k, kh, escritas c, ch. Os Galaicos, conservando o k e o ku, esto de acordo
com os romanos que falavam a lngua do Lcio, pequena provncia da Itlia
Central, enquanto que seus vizinhos, os osques e os ombrianos, dominados por
eles, embora muito maiores em nmero, mudavam para p, como os Gauleses, o 1 Romilly Allen, Celtic Art in pagan and christian Times, pg. 21.
2 Romilly Allen, ibidem, pgs. 8, 39.
3 Romilly Allen, ibidem, pgs. 10, 24, 240.
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ku e o q indo-europeus.4
Para o ku indo-europeu vamos nos limitar a um exemplo; o indo-europeu
*ekyo-s "cavalo", em snscrito avas, tomou-se em latim equus, em galico
equas, em seguida ech, each, mas em gauls epo-s, de onde deriva ebol, em
breto ebeul, "potro"=plos. O nome prprio osque Epidius5 parece tambm se
derivar de um nome comum osque, *epos, "cavalo".6
Eis agora um exemplo para o q.
O nome do nmero cardinal indo-europeu que quer dizer "quatro" era a
princpio *qyetyores; tomou-se em latim quatuor, em irlands antigo cethir, e
em seguida ceathair, ceithre; mas em gauls moderno pedwar, em breto pevar;
os Osques diziam petora.7 Desse nome de nmero h uma variante para a
composio. Em latim quadru- que aparece no portugus quadrpede, vindo
do latim quadru-pedi, quadru-pede, quadru-pedem. A forma do primeiro termo
desse composto , em irlands, ceathar, mas em gauls petru, como atestam o
nome do nmero ordinal petru-decametus, "dcimo quarto" e o nome do povo
Petru-corii, "Prigueux", que significa 'quatro batalhes'.8 A notao ombriana
petur- no composto petur-pursus, "dos quadrpedes", de que o correspondente
latino quadrupedibus.9
Encontram-se exemplos mais numerosos na Grammatica celtica.10
Portanto, os Galaicos no tinham, como os Gauleses, trocado o ku e o q
indo-europeus por p; ora, eles tinham, como os Gauleses, perdido o p indo-
europeu antes da data remota em que os dois grupos se separaram. Em
conseqncia, os Galaicos no tinham mais a letra p em seu alfabeto.
Entre as vinte letras de que se compe o alfabeto ogmico primitivo, ou
seja, aquele das antigas inscries da Irlanda, o p ficou faltando.11
Os Galaicos
haviam perdido a faculdade de pronunciar essa letra. Ela no apareceu em sua
lngua antes de meados do sculo V d. C., quando lhes foi imposta devido ao
triunfo do Cristianismo. Missionrios cristos, vindos da Gr-Bretanha, tiveram
4 Brugmann, Grundriss der vergleichenden Grammatik, t. l, 2 edio, pg. 554; cf pgs. 604-605
5 Sobre o nome prprio osque Epidius, ver Planta, Grammatik der oskish-umbrischem Dialekte, t. II, pg. 44,
501, 608. Cf. De Vit, Onomasticon, t. II, pg. 738. 6 A labializao parece ter se produzido em osque e em ombriano posteriormente data do mesmo fenmeno em
cltico e de maneira independente. Planta, Grammatik der oskisch-umbrischem Dialekte, t.I, pg. 331. 7 Planta, Grammatik, t. II, pg. 590; cf. t.I, pg. 37, 332 pgs.
8 Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo II, col. 977.
9 Planta, Grammatik, tomo. II, pg. 575, l. 11; cf. t. I, pgs. 114, 121, 243, 279, 332; t. II, pg. 2, 196.
10 2 edio, pg. 66; cf. Brugmann, Grundriss, t. I, 2 edio, pg. 605. O nome de rio Sequana e seu derivado
Sequani, nome de um povo que habitava a princpio s margens desse rio, no so uma prova de que os
gauleses tivessem conservado o q indo-europeu. Sequana um nome anterior conquista gaulesa conservado
na Glia; pode-se compar-lo a Donau, nome anterior conquista germnica e que mesmo assim subsiste nos
pases de lngua alem; Donau=Danuuius, Danbio. 11
Essas letras se dividem em quatro sries de cinco letras cada uma: 1 i, e, u, o, a; 2 r, s, ng, g, m; 3 q, c, t, d,
h; 4 n, s, f, l, b. No dicionrio ingls-irlands de Mac-Curtin, edio de Paris, 1732, pg. 714, encontra-se em
seguida a esse alfabeto seis letras complementares, entre as quais um p. Mas essas seis letras no tm em suas
formas nenhuma relao com as vinte letras que acabamos de falar. Formam uma adio relativamente recente,
cf. Brugmann, Grundriss, t. I, 2 a edio, pg. 515-518.
-
nessa poca o talento de faz-los pronunciar palavras de origem latina da forma
que eles mesmos as pronunciavam, mesmo que essas palavras contivessem a
letra p. O mais notvel foi Patricius.
Anteriormente, quando os Galaicos, ainda na Irlanda, tomavam
emprestado uma palavra latina que continha um p, substituam esse p por um c.
Assim, mercadores vindos da Gr-Bretanha lhes venderam peas daquele
tecido prpura que distinguia a vestimenta dos imperadores da dos outros
cidados e que na Gr-Bretanha vestiu Adriano, Stimo Severo no sculo II d.
C. e Carausius no sculo III. Mas os Galaicos, ou seja, os Irlandeses, no
puderam pronunciar os dois p do latim purpura, que em sua lngua se tornou
corcur.
Seu rgo rebelde desfigurou at mesmo duas palavras essenciais da
lngua dos cristos: na Irlanda, pascha, "Pscoa", virou casc e presbyter "padre",
cruimther. Nessa palavra no h apenas substituio do p pelo c, mas percebe-se
tambm a troca do b por m como na palavra francesa samedi para sabbati dies
(sbado) e no alemo samstag, inicialmente sambaz-tag, sambs-tag, no qual o
primeiro termo o latim sabbati com a desinncia germnica do genitivo s no
lugar do i latino.
Os Irlandeses chamaram primeiro Cothraige12
o clebre apstolo
Patricius (pronuncia-se Patrikius). Mas a vitria da doutrina desse santo
personagem teve um resultado fontico. A preguia do rgo vocal dos Galaicos
foi vencida. A letra p introduziu-se entre eles; pronunciaram Patric. Ao longo do
sculo VII, essa revoluo lingstica se cumpriu. O Cristianismo triunfara.
12
O ode Cothraige = *Quatricias = Patricius um a primitivo deformado pela influncia do u precedente. Pode-
se comparar ao e de *quenque, "cinco", que virou o no irlands cic, mesmo sentido. *Quenque deu em gauls
pempe. O a. de Quatricias produziu em Cothraige, por ao progressiva, o a que segue o r e o e da mesma
palavra resulta da ao regressiva exercida pelo a que segue o segundo i de *Quatricias.
-
Captulo IV
Conquista da Gr-Bretanha pelos
Gauleses e Introduo do Druidismo na Glia
Alm de um dialeto cltico diferente do falado pelos Gauleses, os
Galaicos possuam uma instituio que os Gauleses no tinham. Era o
druidismo. Durante o sculo III a. C, os Gauleses que viviam a leste do Reno, na
parte noroeste da Alemanha atual, foram expulsos pela conquista germnica.
Recuperaram-se dessa perda conquistando uma parte da regio situada a oeste
do Reno, de onde haviam expulsado os outros Gauleses estabelecidos no norte e
onde subjugaram os lgures instalados ao sul; depois se apoderaram da Gr-
Bretanha e de uma parte das margens orientais da Irlanda. Isto aconteceu entre
os anos 300 e 200 a. C. Eles introduziram, com sua dominao poltica e sua
lngua, o uso das armas e dos instrumentos de ferro na Gr-Bretanha, na qual,
at ento, s se usavam armas e instrumentos de bronze e onde se falava
Galico. Em compensao, encontraram os druidas que, mesmo pertencendo ao
povo vencido, impuseram-lhes sua dominao no que se poderia chamar de
ordem espiritual; fizeram aceitar seu domnio cientfico e religioso, no apenas
aos Gauleses da Gr-Bretanha,1 mas queles do continente, entre o Reno a Leste
e o oceano a Oeste, regio para onde uma parte dos druidas se transportou por
volta do ano 200 a. C. Ao mesmo tempo, um evento anlogo se produzia no
mundo romano: Roma, cujas armas haviam conquistado a Grcia, foi por sua
vez conquistada pela literatura e filosofia gregas, pelos pedagogos e artistas da
Grcia:
Gracia capta ferum uictorem cepit et artes
Intulit agresti latio2
Da mesma forma, os franceses e alemes guerreavam na Itlia nos sculos
XV e XVI e trouxeram a arquitetura italiana, que logo predominou, malgrado o
enfraquecimento poltico e militar dos italianos.
O sucesso dos druidas, esses professores galaicos, na Glia, durante os
1 Da o Druida dos Brittons, drud do Bretnuib, que aparece no Cophur in d muccado, um dos prefcios do Tin
b Cailngi, Windisch, Irische Texte, 3 srie, 1 caderno, pg. 240, l, 156. 2 Horcio, Epistolae, L. 11, epstola 1, verso 155, 156; cf. Teuffel-Schwabe, Geschichte der rmischen Literatur,
5a edio, 1890, t. 1, pg. 134.
-
dois sculos que precederam a era crist, pode ser comparado ao dos outros
Galaicos, como o irlands Clemente, que sob o domnio de Carlos Magno
tornou-se diretor da escola do palcio, e o irlands Scot Erigene, que escrevia
versos gregos e que gozava de posio considervel na corte de Carlos, o
Calvo.3 Expulsos da Irlanda pela invaso escandinava, trouxeram para o imprio
franco o conhecimento do latim clssico e do grego que a invaso brbara
expulsara. Deve-se a eles e a outros irlandeses menos conhecidos que os
acompanharam o renascimento dos estudos clssicos que se produziu na
Fiana no sculo IX e do qual um dos testemunhos um manuscrito da
biblioteca da cidade de Laon; esse manuscrito, que data do sculo IX, a cpia
feita na Frana de um dicionrio greco-latino de origem irlandesa.4
Mas voltemos aos Druidas.
Sobre a origem do druidismo e sua influncia na Glia em meados do
sculo 1 a. C, h duas passagens importantes no De bello gallico. Na primeira a
ser citada, Jlio Csar fala da principal funo dos druidas: seu aprendizado dura
vinte anos; trata da sobrevivncia das almas aps a morte, de astronomia, de
geografia, de cincias naturais, de teologia.5 Em algumas linhas mais acima, ele
explica de onde vem a instituio drudica. Pensa-se, diz, que ela nasceu na Gr-
Bretanha e que de l foi transportada para a Glia e em geral; hoje em dia,
aqueles que querem conhecer melhor o ensinamento dos druidas vo Gr-
Bretanha para estudar esse ensinamento.6
A conquista da Gr-Bretanha pelos Gauleses do ramo belga estabelecida
por uma outra passagem do De bello gallico. No ano 57 a. C, Jlio Csar se
prepara para a guerra contra os Gauleses do grupo belga. Toma informaes
sobre os inimigos que vai atacar; os Remi lhe fazem saber entre outras coisas
que no esqueceram o tempo em que Deuiciacos, rei dos Suessions, era o mais
poderoso de toda a Glia e tinha submetido a seu domnio no apenas uma
grande parte da Glia, mas tambm da Gr-Bretanha.7 No sculo XI de nossa
era, Guilherme, o Conquistador, s se apoderou de uma parte da Gr-Bretanha;
doze sculos mais cedo, Deuiciacos a tinha submetido inteiramente.
3 Haurau, Histria da filosofia escolstica, primeira parte, pgs. 148-175.
4 Esse manuscrito de Laon traz o n
a444. E. Miller publicou uma edio dele no tomo XXIX, 2 parte, das Notas e
trechos dos manuscritos da Biblioteca nacional e de outras bibliotecas, pgs. 1-230. Ver tambm um artigo do sr.
J. Vendiys, na Revue celtique, t. XXV, pgs. 377-381. 5 "In primis hoc volunt persuadere non interire animas, sed ab aliis post mortem transire ad alios, atque hoc
maxime ad virtutem excitari putant, metu mortis negtecto. Multa praeterea de sideribus atque eorum motu, de
mundi ac terrarum magnitudine, de rerum natura, de deorum immortalium vi ac potestate disputant et iuuentuti
tradunt." De bello gallico, l. VI, c. 14, par. 5,6. 6 "Disciplina in Britannia reperta atque inde in Galliam translata existimatur, et nunc qui diligentius eam rem
cognoscere volunt pterumque illo discendi causa profiscuntur." De bello gallico, l. VI, c. 13, par. 11, 12. 7 "Suessiones suos esse finitimos, fines latissimos, feracissimos agros possidere. Apud eos fuisse regem nostra
etiam memria Deuiciacum, totius Galliae potentissimum, qui cum magnae partis harum regionum tum
Britanniae imperium obtinuerit." De bello gallico, l. II, c. 4, par. 6, 7; cf. I V, c. 12, par. 2.
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Captulo V
Provas Lingsticas da Conquista Gaulesa na
Gr-Bretanha Primeira Parte
Os Nomes de Povos encontrados no Continente
O estabelecimento dos Gauleses na Gr-Bretanha demonstrado por um
certo nmero de provas alm do De bello gallico que acabamos de citar.
Em primeiro lugar assinalaremos a presena, nessa grande ilha, de povos
de origem evidentemente gaulesa que a habitavam no tempo da dominao
romana.8 Eram:
1) Os Belgae, em cuja terra se situava Uenta Belgarum, atual
Winchester, condado de Hampshire.9
2) Os Atrebatii, cuja capital, Calleua, hoje em dia Silchester, no
condado de Southampton. Eles eram, incontestavelmente, uma colnia dos
Atrebates, cujo nome persiste na Frana como Arras, capital do departamento de
Pas-de-Calais.10
O nome dos Atrebates teve um derivado, Atrebatensis11
que se
tornou Artois, nome de uma provncia da Frana antiga.
3) Os Catu-uellauni da Gr-Bretanha, estabelecidos nas redondezas de
Cambridge, a norte de Londres, vindos das redondezas de Chlons-sur-Mame. O
nome atual dessa cidade a pronncia francesa de um gauls primitivo idntico
ao setentrional Catu-uellauni.12
Esse nome, no continente, sob a dominao dos
reis merovngios, tornou-se Catalauni,13
de que os indiretos Catalaunis,
Catalaunos deram, em francs, Chaalons, que acabou se tornando o moderno
Chlons.
4) Mais ao norte da Gr-Bretanha, no condado de York, os Parisi tm
8 Cf. De bello gallico, l.V, c. 12, par. 2; adiante, pg. 47.
9 Ptolomeu, l. II, c. 3, par. 13; edio Didot, t. I, pg. 103, l. 1-4.
10 Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo I, col. 96-99.
11 Longnon, Atlas histrico da Frana, pg. 127.
12 Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo I, col. 863-865; cf. Longnon, que no Atlas histrico da Frana, pg.
5, 14, escreve Catuellauni, Catuellaunorum, lio do manuscrito latino 12907 da Biblioteca nacional, sculo VI,
e do manuscrito de Colnia 212, sculo VII. Os escribas suprimiram o segundo u de Catu-uellauni. No texto de
Amio Marcolino, da forma que o possumos, os dois u desapareceram; Catelauni, l. XV c. 11, par. 10;
Catelaunos, l. XXVII, c. 2, par. 4; edio Gardthausen, 1874, t. I, pg. 73; t. II, pg. 96. 13
a lio que Mommsen erroneamente preferiu, Chronica minora, t. I, pg. 590. Esta lio est no maior
nmero de manuscritos. Mas no se deve preferir quantidade qualidade, sendo esta determinada pela data.
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um nome que , quanto ao final, uma variante ortogrfica freqente em latim do
nome dos Parisii estabelecidos no continente s margens do Sena; de Paris ou
das redondezas que vieram, provavelmente no sculo III a. C., os Parisi que, sob
o imprio romano, estavam estabelecidos onde hoje o condado de York.14
5) No se pode tambm contestar a origem gaulesa dos Smertae,
populao cujo territrio deve ter sido na Esccia setentrional.15
Seu nome a
segunda parte do nome da deusa Ro-smerta, to freqentemente encontrado nas
inscries romanas da bacia do Reno.16
Havia na Gr-Bretanha, sob o imprio romano, dois povos, cujos nomes
no aparecem na geografia do continente gauls, mas que por volta do incio do
sculo VI foram em grande parte estabelecer-se na pennsula armoricana e
levaram para l um dialeto derivado do gauls, em que, por exemplo, p=ku e q
um elemento caracterstico; eram os Dumnonii e os Cornouii.
Os Dumnonii habitavam a pennsula sudoeste da Gr-Bretanha. Sem
abandonar completamente esta pennsula, atualmente inglesa, da qual uma parte,
o condado de Devon, ainda traz seu nome, foram ocupar todo o noroeste da
pennsula armoricana, ou seja, na Frana, a parte setentrional do departamento
de Ille-et-Vilaine, o departamento das Ctes-du-Nord quase inteiro e a poro
norte do Finistrio. Essa regio tomou e conservou por diversos sculos o nome
de Domnonia.17
O segundo povo eram os Cornouii, divididos na Gr-Bretanha em dois
ramos: um deles, na extremidade setentrional da Esccia, nos condados de
Sutherland e de Caithness, que desapareceu sem deixar vestgios; o outro, mais
ao sul, nos condados ingleses de Cheshire e de Shropshire, a noroeste do Pas de
Gales, que foi expulso pela conquista sax e foi tomar em parte o lugar dos
Dumnonii na pennsula sudoeste da Gr-Bretanha. Depois, no contente com
esse novo domnio, enviou uma colnia ao continente, perto dos Dumnonii, na
poro meridional que hoje o departamento do Finistrio. O territrio ocupado
pelos Cornouii na pennsula sudoeste da Gr-Bretanha se chama hoje em dia
Cornwall, em gals Cernyw; a regio de que o mesmo povo se apoderou no
continente recebeu na Idade Mdia o nome de Cornubia (pronuncia-se
Cornuvia); hoje em dia dizemos em portugus Cornualha, em breto Kern.18
14
Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo II, col. 946-947. 15
Ptolomeu, t. II, c. 3, par. 8; edio Didot, t. I, pg. 95, l. 1. 16
Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo II, col. 1230-1231; cf. col. 1593, 1594. 17
Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo I, col. 1370-1371. Nossa opinio aqui difere do sr. John Rhys, Early
Bfitain, 3 edio, pg. 44. Segundo esse renomado autor, as inscries galicas em caracteres ogmicos
encontradas na pennsula em questo atestam que os Duihnonii eram galaicos. Mas essas inscries so os
traos de uma ocupao irlandesa temporria e posterior ao abandono da Gr-Bretanha pelas legies romanas. 18
Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo I, col. 1130, 1131. Cf. J. Loth, A emigrao bretna Armrica, pgs.
157-191, e o terceiro mapa posto por Le Moyne de la Borderie no fim do I tomo de sua Histria da Bretanha.
Sobre os Cornouii da Gr-Bretanha, ver John Rhys, Early Brigam, 3 edio, pg. 293.
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A lngua trazida para o continente pelos Dumnoii e pelos Cornouii
estabelece claramente a origem gaulesa desses dois povos, sendo um dialeto
cltico, o breto, em que, como no gauls, o ku e o q tornam-se p. A mesma
observao se aplica ao crnico, lngua dos Cornouii que ficaram na Gr-
Bretanha.
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Captulo VI
Provas Lingsticas da Conquista Gaulesa na
Gr-Bretanha Segunda Parte
O p na Gr-Bretanha nos Nomes dos Povos alm dos Parisii, nos
Nomes de Homens e de Lugares
1 Os Picti, que sob o imprio romano foram inimigos to irredutveis
para os Bretes romanizados,1 trazem um nome que significa "aqueles que
tatuam"; a forma gaulesa do galico cicht,2 hoje em dia ciocht,
3 "gravador". O
nome dos Pictavi, ou melhor, Pichtoui, Pichtoues da Glia, foi desfigurado em
Pictones sob o imprio romano, mas se encontra nos nomes modernos de
Poitiers = Pictauos, de Poitou = Pictouom, subentendido pagum; um derivado
do prefixo pichto- de onde vem Picti; significa tambm, provavelmente,
"aqueles que tatuam"; esses tatuam a si mesmos.4
Podemos aproximar desses nomes de povos um derivado, o nome de
homem Pichtillos ou Pichtilos, escrito Pictillos, Pictilos por gravadores do
alfabeto que no conheciam o ch.5 O nome foi at mesmo deformado para
Pistillus 6 sob a influncia do nome comum latino pistillus "pilo". Significa
provavelmente "pequeno tatuado".
Os pictas chamavam, segundo Bde (1. I, cap, 12), Pean fahel (de pennos
ualli, literalmente "cabea", ou seja, "fim da muralha") extremidade ocidental
do vallum Antonini, situado na Esccia, entre o Firth of Forth a leste e a
embocadura do Clyde, Firth of Clyde, a oeste. O f inicial de fahel = uallum, em
gauls gwawl,7 toma o lugar de um u consoante inicial, como no cmico freg =
1 Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo II, col. 994-999.
2 Whitley Stokes, O'Davoren Glossary, n 367, em Archiv fr celtische lexicographie, t. II, pg. 255; Kuno
Meyer, Contributions to Irish Lexicography, ibid., pg. 367; Glossrio de Cormac em duas publicaes de
Whitley Stokes, Three irish glossaries, pg. 13; Sanas Chormaic, Cormac's Glossary, pg. 40. 3 Glossrio de O'Clery publicado por Arthur W. K. Miller, Revue Celtique, t. IV, pg. 385. Dineen, An irish-
english Dictionary, pg. 139. 4 Sobre a forma Pictari ver Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo II, c. 987-993. Sobre a variante Pictones,
ibidem, col. 1000, 1001. 5 Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo II, col. 999, 1000.
6 Holder, Altceltischer Sprachschatz, col. 1009, 1010.
7 Grammatica Celtica, 2 edio, pg. 1069; cf. Robert William, Lexicon cornu-britannicum, pg. 153; Davies,
Antiquae linguae britannicae dictionarum duplex, Londres, 1632, parte gaulesa na palavra gwawl e parte latina
na palavra vallum. William Owen, A Dictionary of the welsh Language, Londres 1803, no verbete gwawl. Cf.
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*yiracis, "mulher casada", variante de grueg, em gals gwraig, como no breto
fal, "mau",8 variante de gwall, encontrado tambm sob essa segunda forma em
gales;9 encontramos tambm f = u consoante em breto na variante derf, de derv,
"carvalho",10
em gales derw, sufixo deryos. O mesmo fenmeno produz no
francs fois (vez) de yicem ou fade (insipido), de yapidum, embora como regra
geral o francs represente por v ou g o u consoante inicial latino: vin (vinho) de
uinum, gain (estojo) de uagina [pequena concluso pessoal: viria da o costume
popular de apelidar a vagina de "boceta", que quer dizer estojo. - N. do T.].
A crnica picta, embora de feitura irlandesa (como o prova o nome
imaginrio do primeiro rei Cruidne,11
variante de Cruithne, nome irlands dos
Pictas),12
d uma lista de reis pictas em que diversos nomes so evidentemente
bretnicos. Eles so:
1) Ur-gust, no genittvo Ur-guist,13
nome de homem idntico a Gwrgwst
entre os Gauleses no Mabinogion,14
em velho breto Uuorgost, Uurgost,
Gurgost,15
a mesma palavra que o irlands Fergus em que o f inicial caracteriza
a pronncia galica;
2) Un-ust, no genitivo Un-uist,16
em irlands Oen-gus, Oen-gusa. O U
inicial oposto ao galico Oe evidentemente bretnico.
Uur-gust significa "escolha superior". Un-ust "escolha nica";
Citaremos ainda:
3) Taran,17
que, como nome comum, quer dizerem gals e breto
"tempestade"; encontramo-lo duas vezes em Gales como nome de homem no
Mabinogion;18
4) do nome masculino picta Drust, 19
escrito Drest, 20
que deriva
Drystan, nome gals de um personagem do Mabinogion, tornado clebre sob
uma forma um pouco alterada, Tristan, nos romances franceses da Tvola
Redonda;21
Whitley Stokes, Urkeltischer Sprachschatz, pg. 275, 276. 8 Troude, Novo dicionrio prtico breto-francs do dialeto de Lyon, pg. 200. Maunoir, O Sagrado Colgio de
Jesus, 2 parte, pg. 77, 147. 9 Victor Henry, Dicionrio Etimolgico do breto moderno, pg. 140.
10 Troude, Novo dicionrio prtico breto-francs, pg. 108.
11 William F. Skene, Chronicles of the Picts, Chronicles of the Scots, pg. 4.
12 John Rhys, Early Britain, 3
a edio, pg. 156, 241. Etimologicamente falando, Cruithne a mesma palavra
que , o nome que tomou a Gr-Bretanha antes de se chamar e Brittania; cf. Whitley Stokes, Urkeltischer Sprachschatz, pg. 63. 13
William F. Skene, Chronicles, pg. 7 e 8. 14
John Rhys e J. Gwenogvryn Evans, The text of the Mabinogion, pg. 134, l. 9; J. Loth, Curso de Literatura
Cltica, t. III, pg. 270. 15
J. Loth, Crestomatia Bret, pg. 178; cf. pg. 133. 16
William F. Skene, Chronicles, pg. 8. 17
William F. Skene, Chronicles, pg. 7. 18
John Rhys e J. Gwenogvryn Evans, The text of the Mabinogion, pg. 40, l. 7, pg. 134, l. 9; J. Loth, Curso de
Literatura Clca, t. III, pg. 270. 19
William F. Skene, Chronicles, pg. 6. 20
William F. Skene, Chronicles, pgs. 7, 8. 21
J. Loch, Curso de Literatura Cltica, t.III, pgs. 310-311, nota; cf. John Rhys e J. Gwenogvryn Evans, The text
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5) Terminaremos com Mailcon,22
que um nome idntico aos gauleses
Mailcun, Mailgon, nos Annales Cambriae, sculos VI, XII e XlII:23
Logo, os
Pictas so de origem gaulesa ou, pode-se dizer, pertencem ao ramo bretnico.
H um eminente sbio que cr o contrrio e os considera estrangeiros raa
indo-europia, pois que no sculo VI So Columba s pde fazer-se entender
atravs de um intrprete;24
mas a diferena que existe entre o irlands e os
dialetos bretnicos basta para explicar a impossibilidade em que os Pictas e seu
apstolo irlands estavam de se compreender sem a interveno de um
intermedirio bilnge.25
2 Epidii o nome de um povo gauls estabelecido na Esccia no
condado de Argyle, a norte do uallum Antonini.26
Esse nome, derivado de epos
("cavalo") em gauls, por conseqncia de origem gaulesa.27
Podemos
associar-lhe Epidius, gentilcio e nome de curso d'gua latino de origem osque.28
O equivalente de origem latina parece ser o gentilcio Equitius.29
Como o nome
dos Cornouii, como o dos Smertae, dos quais j se falou, como o de Alauna, de
que se tratar na pg. 49, vamos encontr-lo ao norte do uallum Antonini. Esses
trs nomes, como o dos Epidii, atestam o estabelecimento dos gauleses na
poro mais setentrional da Gr-Bretanha, regio em que os romanos jamais
puderam estabelecer seu domnio.30
3 Eppillos, nome de famlia ou abreviado, no lugar de um composto
como Epo-manduos, Epo-meduos, Epo-redi-rix. No se deve espantar com o
duplo p: uma duplicao da consoante aparece freqentemente em nomes de
famlia. 31
Eppillos o nome de um rei que reinava na regio sudeste da Gr-
of the Mabinogion, pg. 159, l. 27; pg. 303, l. 5; pg. 304, l. 24; p. 307, t. 13. 22
William F. Skene, Chronicles, pg. 7. 23
Edio de J. Williams ab Ithet, pgs. 4, 57, 81. 24
Vida de So Columba por Adamnn, l. I, c. 33; l. II, c. 32, edio Pinkerton-Metcalfe, t. I, pgs. 107, 153;
edio Reeves, pgs. 62, 145. A doutrina oposta nossa exposta por John Rhys, Early Britain, 3 edio, pgs.
272, 273. 25
Podemos saber o francs e no compreender nem o espanhol nem o italiano que, como o francs, so lnguas
neolatinas. 26
Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo I, col. 445; Ptolomeu l. II, c. 3, par. 8; cf. c. 2, par. 10, edio Didot,
t. I, pg. 81 e pg. 6. 27
Esta doutrina posta em dvida por John Rhys, Early Britain, 3 edio, pg. 225, que supe que esse nome
foi dado por vizinhos gauleses a uma populao que no era cltica. Mas ele no mostra nenhuma prova dessa
assero. 28
Planta, Grammatik deroskish-umbrischem Dialekte, t. II, pgs. 44, 608, 609. 29
De Vit, Onomasticon, t. II, pg. 746. 30
Mommsen, Roemische Geschichte, t. V, 2aedio, pg. 169, pretende que no sculo II a (ngua dos habitantes
da Gr-Bretanha, a norte do uallum Hadriani, seja o galico. Acreditamos ter demonstrado o contrrio. Foi
muito mais tarde que os Highlanders chegaram da Irlanda Esccia. Comparar concluso do tratado de
Alexander Macbain, Ptolemy's geography of Scotland nas Transactions of the gaelic Society of Inverness, t.
XVIII, pg. 388. 31
Starck, Die Kosenamen der Germanen, pg. 19 e seguintes. Cf. Zimmer na Zeitschrift de Kuhn, t. XXXII, pg.
158 e seguintes, e Revue Celtique, t. XIII, pg. 294.
-
Bretanha,32
A variante Epillos com um s p veio a ns por meio de moedas
recolhidas na Frana nos departamentos de la Vienne e das Bouches-du-Rhne.
Eppillos, como e-Epidii, deriva do gauls Epo-s, "cavalo", do qual h o
diminutivo Epos, "potro" = *pls existe ainda em breto; o gals ebol,
"cavalo", o mesmo ebeul.
4 No meio do caminho entre os Epidii e os domnios do rei Eppillos
encontramos perto de York, entre os Paris, a estao romana de Petuaria,
claramente falando Petuaria uilla, propriedade rural de Petuarios, ou seja, do
quarto filho. Quartus, "quarto" em latim, era nome e sobrenome.33
O gauls
petuarios a forma primitiva do gales pedwerydd e do breto pvar, "quarto".
Encontramos a mesma palavra empregada como nome de lugar na Glia.
Pithiviers, em Loiret, se chamava no sculo XII Pedveris no ablativo plural, o
que supe um nominativo do mesmo nmero. Peduarii ou Peduariae tomando o
lugar de um mais antigo Petuarii ou Petuariae com um t no lugar do d, como
mostra o derivado Petuarensis em uma carta do ano 1025; a correo seria
Petuariensis. Os Petuarii fundi ou Petuariae uillae da Glia eram na origem a
propriedade de um Galo-Romano chamado Petuarius, homnimo daquele que
na Gr-Bretanha deu seu nome uilla Petuaria.34
5 A sudoeste de Petuaria, em Penkridge, na Inglaterra, no condado de
Stafford, ficava a estao romana de Pennocrucium, palavra derivada de penno-
crouci, "cabea da colina", em irlands Cenn-cruaich.35
O primeiro termo desse
nome composto o gauls penno-s, em velho irlands cenn = *quennos.36
6 Em uma parte no determinada da Gr-Bretanha, o gegrafo de
Ravena ps uma localidade chamada Maponi.37
Supomos que preciso
subentender fanum e traduzir "templo do deus Maponos". Com efeito,
encontrou-se no norte da Inglaterra, nos condados de Durham, Cumberland e
Northumberland, oferendas ao deus Maponus, assemelhado pelos romanos com
Apolo. Corrigirmos para fons Maponus o fons Mabonus, nome de uma fonte
dedicada a esse deus e situada perto de Lyon no sculo XI.38
Maponus deriva do 32
Holder, t. I, col. 1455. J. Rhys, lectares on welsh Philology, 2 edio, pgs. 190-192; Early Britain, 3 edio,
pgs. 23, 24, 26, 28, 31, 33, 302. 33
Ver por exemplo Corpus inscriptionum latinarum, t. XII, pg. 899. 34
Holder, t. II, col. 981; cf. Revue Celtique, t. XVIII, pg. 246; J. Rhys. Lectures on welsh Philology, 2 edio,
pgs. 22, 23; Whitley Stokes, Urkeltischer Sprachschatz, pgs. 58, 59. 35
Betha Patraic em Whitley Stokes, The tripartite life os st. Patrick, t.I. pg. 90, l. 18. O Dinnsenchus oferece a
variante Crom-cruaich, edio Whitley Stokes, Revue celtique, t. XVI, pgs. 15, 16; cf. Todd, Saint Patrick,
apostle of Ireland, pg. 128, nota; Holder, t. II, col. 966; J. Rhys, Lectures on welsh Philology, 2 edio, pg.
184; Early Britain, 3a edio, pgs. 230, 310.
36 Whitley Stokes, Urkeltischer Sprachschatz, pg. 59.
37 Edio Parthey e Pinder, 436, 20.
38 Holder, t. II, col. 414; Corpus inscriptionum latinarum, t. VII, n
os 218, 332, 1345.
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gauls mapos, "filho", em gales e em breto map e mab, em" galico *maquas,39
genitivo singular maqui nas inscries ogmicas.40
mais tarde macc, no genitivo
maicc, e por fim mac, no genitivo meic, em seguida mic.
39
R. A. Stewart Macalister, Studies in Irish Epigraphy, 1a parte, pg. 6.
40 R. A. Stewart Macalister, Studies in Irish Epigraphy, 1
a parte, pgs. 21, 23,25, 26, 27, 28, 29, 34, 35, 36, 39,
41, 46, 47, 48, 49, 51, 53, 55, 59, 60, 67, 71, 72, 79; 2a parte, pgs. 16, 20, 51, 64, 74, 78, 83, 84, 91, 94, 95, 98,
100, 103, 105, 108, 1(0, 116, 121, 124, 128, 136; cf. J. Rhys, Lectures on Weish Philology, 2a edio, pgs. 388,
394, 395, 401.
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Captulo VII
Provas Lingsticas da Conquista
da Gr-Bretanha pelos Gauleses Terceira Parte
Nomes de Cidades, de Estaes Romanas e de
Cursos d'gua que encontramos tanto
na Gr-Bretanha quanto no
Continente Gauls
A lista dos nomes das cidades ou das estaes, situadas nas estradas da
Gr-Bretanha, no tempo do Imprio Romano, carrega ainda o trao da conquista
gaulesa anterior: vrios desses nomes encontram-se na parte do continente em
que os Gauleses foram chefes e parecem provir de l.
1) Um dos fatos mais conhecidos da guerra feita na Glia por Jlio Csar
o cerco de Uxello-dunum, ou melhor, Ouxello-dunon, "Alta fortaleza", na
vizinhana de Cahors (Lot);1 foi no ano 51 a. C. Ora, havia no imprio romano
um outro Uxellodunum que ficava na Gr-Bretanha.2 Kiepert (Atlas Antiquus)
pe esse Uxellodunum na Inglaterra setentrional, no condado de Cumberland,
identificando-a com a pequena cidade de Maryport.
2) Os textos geogrficos do tempo do imprio romano localizam na Glia
dez Nouio-magus, "campo novo". Esse nome composto foi levado Inglaterra,
ao condado de Kent:3 uma estao com esse nome se situava sobre a via romana
que, do porto de Rutupiae, atual Richborough, a nordeste de Douvres, levava
muralha construda por ordem do imperador Adriano (117-138) e que
chamavam uallum Hadriani.4
1 Sobre a localizao do Uxellodunum de Jlio Csar, ver E. Desjardins, Geografia... da Glia Romana, t. II,
pg. 422, nota 9. 2 E a localidade cujo nome foi escrito Axeloduno no ablativo na Noticia dignitatum, edio Bcking, t. II, pg.
114; cf. Petrie, Monumenta histrica britannica, pg. XXIV, col. 12. L-se Uxelludamo no gegrafo de Ravena,
edio Pinder e Parthey, pg. 433. A notao Uxellodunum no nominativo foi adotada por Forbiger, Handbuch
der alten Geographie, t. III (1848), pg. 300; cf Kiepert, Atlas antiquus, pl. XI; Corpus inscriptionum latinarum,
t. VII, n 1291. 3 Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo II, col. 790-792.
4 Itinerrio de Antonino, edio Parthey e Pinder, 472, 1.
-
3) Alm da mais famosa Mediolanum, hoje Milo, fundada pelos
Gauleses na Itlia setentrional, havia no imprio romano diversas outras. Os
documentos contemporneos a esse imprio mencionam quatro delas na Glia e
uma na Gr-Bretanha; esta ltima parece ser, hoje em dia, Clawddcoch, "fosso
vermelho", no condado chamado Shropshire, vizinho do pas de Gales e situado
a leste dessa regio neo-cltica.5
4) Na estrada de Londres, no uallum Hadriani, havia uma estao
chamada Cambo-ritum,6 "vau curvo". o nome primitivo de Chambourg (Indre-
et-Loire), de Chambord (Loir-et-Cher) e talvez mesmo de duas localidades
homnimas situadas na Frana.7
5) Um nome de lugar freqente na Glia romana Condate,
"confluente"; havia uma Condate na Gr-Bretanha sob o imprio romano:
pensamos ser a atual Northwich, no condado de Chester.8
6) O segundo termo durus, "fortaleza", to freqente na Glia romana,9
encontra-se na Gr-Bretanha, sob o imprio romano, no composto Lacto-durus,
hoje Towcester, condado de Northampton.10
7) Briua, "ponte", expresso muito conhecida daqueles que estudaram a
geografia da Glia romana,11
o segundo termo do composto Duro-brivae,
"pontes da fortaleza", nome de duas estaes nas vias romanas da Gr-Bretanha.
Uma pertence ao itinerrio de Londres a Douvres, a outra quela rota que de
Londres levava muralha de Adriano, uallum Hadriani. A primeira parece ser
Rochester, condado de Kent e a segunda Castor, condado de Northampton.12
8) Uernemetum, no itinerrio de York Londres, o nominativo-
acusativo singular de um nome de lugar que aparece no ablativo plural na Glia
em um poema de Fortunato:
5 Holder, Attceltischer Sprachschatz, tomo II, col. 518-521.
6 a lio de dois manuscritos que Parthey e Pinder citam em sua edio do Itinerrio de Antonino, 474, 7,
nota. Essa lio foi adotada por Kiepert, Atlas antiquus, XI, e por Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo I,
col. 715. 7 Holder, ibid., col. 715, 716; Longnon, Atlas Histrico, pg. 172.
8 por Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo 1, col. 1902-1904; Itinerrio de Antonino, edio Parthey e
Pinder, 469, 1; 482, 3; cf Whitley Stokes, Urkeltischer Sprachschatz, pg. 139. 9 Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo I, col. 1383.
10 Holder, ibid., tomo I, col 117. Kiepert, Atlas antiquus, cr que seja Kinderton; cf. Whitley Stokes, Urkeltischer
Sprachschatz, pg. 150. 11
Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo I, col. 610-611. 12
Holder, ibid, tomo I, col 1384; Uhys, Early Britain, 3 edio, pg. 300; cf. Whitley Stokes, Urkeltischer
Sprachschatz, pg. 184.
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Nomine Uernemetis uoluit uocitare uetustas
Quod quasi fanum ingens gallica lngua refert.13
Vernantes (Maine-et-Loire), chamada Vernimptas na poca carolngia,14
vem do antigo Vernemeta.
9) O prefixo gauls mandu, que o elemento fundamental do nome dos
Mandubii, povo gauls muito conhecido graas ao cerco, por Jlio Csar, de
Alsia, sua fortaleza, igualmente encontrada na Glia no derivado manduo que
forma o segundo termo do nome do povo Ueromandui e do nome de homem
Epo-manduos, conservado ainda no nome de lugar Epo-manduo-durum.15
O
prefixo mandu- aparece na Gr-Bretanha no composto Mandu-essedum, nome
de uma estao no itinerrio que ia da muralha de Adriano, uallum Hadriani, a
Rutupiae, atual Richborough, no condado de Kent; Mandu-essedum parece ser
hoje em dia Mancester, no condado de Kent.16
10) Sego-dunum era, no tempo do imprio romano, o nome da cidade de
Rodez (Aveyron). Deve-se corrigir para Segodunum o Segedunum do itinerrio
de Antonino, hoje Wallsend, no condado de Northumberland. Uma outra
Segodunum ficava na parte da Germnia que fora ocupada pelos Gauleses, perto
do Maine; sua localizao atualmente est compreendida no reino da Baviera.17
11) Igualmente a leste do Reno, os Gauleses possu(ram uma vila
chamada Cambo-dunum, "fortaleza curva"; hoje em dia Kempten, na Baviera.
Havia na Gr-Bretanha, sob o imprio romano, uma outra Cambo-dunum,
situada no atual condado de York.18
12) Os gauleses tinham uma divindade masculina chamada Alounos ou,
com a ortografia romana, Alaunus, que no continente gauls encontrado na
identidade de Mercrio em uma inscrio de Mannheim na margem direita do
Reno, no gro-ducado de Bade.19
O feminino, Alounae ou Alaunae, era o nome
de deusas adoradas nas redondezas de Salzburgo,20
a antiga luuauum em uma
terra gaulesa, o Noricum. Esse nome de divindades era tambm o nome de um
13
Carmina, l. I, c. 9, versos 9-10; edio de Frdric Leo, pg. 12. Cf. Itinerrio de Antonino, edio Parthey e
Pinder, 477, 5. 14
Longnon, Atlas histrico da Frana, pg. 297, col. 2; cf. C. Port, Dicionrio Histrico, Geogrfico e
Biogrfico de Maine-et-Loire, t. III, pg. 691. 15
Epamanduodurum no Itinerrio de Antonino, edio Parthey e Pinder 386, 4; cf. Holder, Altceltischer
Sprachschatz, tomo I, col. 1446. 16
Itinerrio de Antonino, edio Parthey e Pinder, 470, 3; Holder, Aitceitischer Sprachschatz, tomo I, col. 405. 17
Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo II, col. 1446, 1447. 18
Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo I, col. 714-715. 19
Holder, ibidem, t. I, col. 78. 20
Holder, ibidem, t. I, col. 107.
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povo: os Alauni, ou melhor, Alouni, uma populao do Noricum. Como nome de
lugar esse vocbulo foi trazido para a Glia: Alleaume-les-Vallognes (Manche)
e Allonne (Sarthe) so antigas Alauna.21
Os Gauleses introduziram esse nome na
Gr-Bretanha. O pequeno rio Aln, no condado de Northumberland, chamado
Alaunos por Ptolomeu. Esse gegrafo chama Alauna uma cidade situada na
embocadura do mesmo curso d'gua, chamada hoje em dia Alnwick.22
Uma
outra cidade chamada Alauna provavelmente se situou na Esccia ao norte da
muralha de Antonino, uallum Antonini,23
em uma parte da Gr-Bretanha que os
Romanos jamais puderam conquistar, mas de que os Gauleses se apoderaram na
sua poca de maior poder.
21
Longnon, Atlas histrico da Frana, pg. 25, 165; Holder, Altceltischer Sprachschatz, tomo I, col. 76. 22
Hoider, Altceltischer Sprachschatz, tomo I, col. 76, 77. 23
Hoider, ibidem, t. 1, col. 76; cf. Kiepert, Atlas Antiquus, tab. XI.
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Captulo VIII
Provas Lingsticas da Conquista
da Gr-Bretanhapelos Gauleses Quarta Parte
O rei Belga e Gauls Commios na Gr-Bretanha.
Os Belgas so Gauleses
Um fato sobre o qual nada dissemos at agora ser suficiente para
demonstrar que a lngua falada na Gr-Bretanha no ano 55 a.C. era idntica
lngua que os Gauleses usavam na mesma data. Uma passagem do De bello
gallico nos mostra Commios, rei dos Atrebates da Glia, enviado por Jlio Csar
Gr-Bretanha. Esse embaixador exps aos habitantes, em um discurso,
oratoris modo, os comunicados que o general romano o tinha encarregado de
transmitir. Jlio Csar no diz que nessa circunstncia Commios tenha precisado
de um intrprete,1 embora em outras circunstncias ele fale dos intrpretes
empregados por ele2 e por seu tenente Titurius Sabinus.
3
Dir-se-, talvez, que Commios era belga e que, segundo Jlio Csar,
parece que havia, entre a lngua e as instituies polticas dos Belgas e as dos
habitantes da Glia cltica, separada deles pelo Sena e o Marne, tantas
diferenas quanto entre a lngua e as instituies dos habitantes da Glia celta e
as dos Aquitanos.4 Esta a assero de um homem que no conhece nem a
lngua dos Belgas nem a dos outros Gauleses. Os iberos da Aquitnia falavam
uma lngua que no era indo-europia e que no tinha qualquer afinidade com as
lnguas celtas. Entre a lngua dos belgas e a dos outros Gauleses, s poderiam
existir diferenas dialetais insignificantes; no nos seria possvel distingui-las.5
Entre eles, a diferena mais importante estava nas instituies polticas; a
nordeste do Sena e do Marne, a realeza subsistia no tempo em que Jlio Csar
conquistou a parte da Glia a oeste do Reno (58-50 a.C); a sudoeste do Sena e 1 "Commius Atrebas, quem supra demonstraueram a Caesar in Britanniam praemissum. Hunc illi e naui
egressum, cum ed eos oratoris modo Caesaris mandata defernet..." De bello gallico, c. 27, par. 2, 3. 2 "Deuiciacum ad se uocari iubet, cotidianis interpretibus remotis, per C. Valerium Troucillum... cum eo
conloquitur". De bello gallico, l. I, c. 19, par. 3. 3 "Quintus Titurius Sabinus, cum procul Ambiorigem suos cohortantem conspexisset, interpretem sum Gnaeum
Pompeium ad eum mittit" De bello gallico, l. V, c. 36, par. 1. 4 "Gallia est omnis diuisa in partes tres, quarum unam incolunt Belgae,