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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO ELIZABETH C. WALTER OS EFEITOS DE UM PROGRAMA DE COMPREENSÃO DA LEITURA ORAL DIALÓGICA POR CRIANÇA COM AUTISMO NATAL/RN 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

ELIZABETH C. WALTER

OS EFEITOS DE UM PROGRAMA DE COMPREENSÃO DA LEITURA

ORAL DIALÓGICA POR CRIANÇA COM AUTISMO

NATAL/RN

2017

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ELIZABETH C. WALTER

OS EFEITOS DE UM PROGRAMA DE COMPREENSÃO DA LEITURA

ORAL DIALÓGICA POR CRIANÇA COM AUTISMO Dissertação apresentada, ao Programa de Pós-

Graduação em Educação, da Universidade

Federal Rio Grande do Norte, na linha de

pesquisa Educação e Inclusão em Contextos

Educacionais, como requisito parcial para

obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Débora Regina de

Paula Nunes.

NATAL/ RN

2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas – SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais

Aplicadas - CCSA

Walter, Elizabeth Cynthia.

Os efeitos de um programa de compreensão da leitura oral dialógica por criança com autismo /

Elizabeth Cynthia Walter. - Natal: UFRN, 2017.

196f.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte., Centro de Educação., Programa de Pós-

Graduação em Educação. Linha de pesquisa: Educação e Inclusão em Contextos Educacionais.

Orientadora: Dra. Débora Regina de Paula Nunes.

1. Autismo - dissertação. 2. Compreensão oral da leitura - dissertação. 3. Intervenção precoce -

dissertação. 4. Familia - dissertação. I. Nunes, Débora Regina de Paula. II. Título.

RN/UF/BS-CE CDU 376

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ELIZABETH C. WALTER

OS EFEITOS DE UM PROGRAMA DE COMPREENSÃO DA LEITURA

ORAL DIALÓGICA POR CRIANÇA COM AUTISMO Dissertação apresentada, ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade

Federal Rio Grande do Norte, na linha de pesquisa Educação e Inclusão em Contextos

Educacionais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação. Área

de concentração: Educação Inclusiva Linha de Pesquisa: Educação e Inclusão em Contextos

Educacionais

Orientadora: Profa. Dra. Débora Regina de Paula Nunes.

Aprovada em: ____ / ____ / ____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Profa. Dra. Débora Regina de Paula Nunes. UFRN

Orientadora

_____________________________________

Profa. Dra. Maria de Jesus Gonçalves - UFRN

Examinador Interno

________________________________________ Profa. Dra. Cátia Crivelenti de Figueiredo Walter - UFRJ

Examinador Externo

Natal, RN – 2017

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DEDICATÓRIA

A meus pais, Myriam e Daniel, pelo amor incondicional, sempre no meu coração!

A meus irmãos, Edi e Dafne, melhor presente da vida!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Rodrigo, sem ele, este sonho do mestrado não teria

existido. Obrigada pelo incentivo, pelo apoio constante, pelas conversas sobre ciência,

pesquisa, por acreditar que eu podia! por estar aí, me dando forças quando parecia que eu ia

desistir, por sua parceria, e por acreditar em mim! Gracias, Ro!

À minha querida amiga Kia, por me apoiar, por seu tempo, por me estimular a seguir e

mostrar que consigo! Obrigada pelas tirinhas diárias que tanto bem me fizeram!! tack så

mycket!!!

À minha querida amiga Fernandinha, pelo seu apoio, suas palavras de incentivo e de

confiança, vamo que vamo!!!!

À minha querida amiga Ana Paula que me ajudou com sua arte para armar os livrinhos.

À minha querida Eliana Rodrigues, por confiar em mim e me abrir portas profissionais e

pessoais, obrigada pela oportunidade!

À minha orientadora, Debora Nunes por ter me dado a oportunidade de caminhar por estes

caminhos, por sua generosidade em compartilhar seu conhecimento, por me exigir e me

ensinar ao mesmo tempo, por sempre me tratar com delicadeza, mesmo nos momentos mais

difíceis, por sua paciência, Muito obrigada!

À Profa. Maria de Jesus, pela generosidade em compartilhar seu tempo e seus conhecimentos.

Aos professores da linha de pesquisa que tão generosamente brindaram seus saberes durante

os Seminários.

Aos meus queridos colegas, com quem compartilhei momentos difíceis, alegres, responderam

minhas dúvidas, me ajudaram, e fizeram com que me sentisse acompanhada neste caminho,

obrigada Jessica, Pedro, Gueidson, Lisiê, Rogerio, Karol!

À Karol com K, a minha querida típica chica problema, por me bancar!

À meus amigos e amigas que me ajudaram todo este tempo, com palavras, mensagens, e

gestos de apoio, alguns à distância, outros de bem pertinho!

À Shirley Carvalho por sua generosidade em me ajudar com delicadeza e eficiência!

À família que generosamente participou da pesquisa, muito obrigada pelo seu compromisso e

pelo seu carinho!

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RESUMO

Ler é uma habilidade fundamental para o sucesso na vida escolar e adulta. Para muitos

indivíduos, os processos de decodificação da escrita e a compreensão leitora se desenvolvem

paralelamente. Para outros, esses processos são dissociados, como é o caso de alguns

educandos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que apresentam habilidades de

decodificação da escrita superiores à compreensão leitora. Esses prejuízos podem acarretar

dificuldades na aprendizagem. Nessa perspectiva, é fundamental o desenvolvimento de

programas interventivos de leitura que possam minimizar, precocemente, os problemas de

leitura evidenciados nessa população. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar

os efeitos de uma adaptação do programa de intervenção leitora denominada RECALL

(Reading to Engage Children with Autism in Language and Learning) na compreensão oral da

leitura de indivíduos com autismo. Participaram desta pesquisa uma criança com autismo, de

6 anos de idade e seu cuidador. O estudo, desenvolvido utilizando um delineamento intra-

sujeitos do tipo A-B (linha de base-intervenção) Follow-up, teve num primeiro momento

como variável independente (VI) o programa de capacitação e como variável dependente

(VD) o uso das estratégias do programa de leitura dialógica proposto, por parte do cuidador.

Em seguida, o uso das estratégias do programa de leitura dialógica proposto se configurara

como variável independente (VI) e as respostas da criança como variável dependente (VD). O

cuidador participou de um programa de capacitação, onde aprendeu a fazer uso de diferentes

estratégias interventivas com vistas a ampliar a compreensão oral da leitura da criança,

aplicando-as em seguida, durante as rotinas de leitura em sua residência. As sessões foram

videografadas e a frequência no uso das estratégias do programa por parte do cuidador e dos

turnos comunicativos da criança (iniciativas e respostas) foram contabilizados. Uma análise

qualitativa foi adicionalmente realizada. Os resultados evidenciaram ganhos quantitativos

(aumento da frequência) no uso de algumas estratégias do programa adaptado do Recall por

parte da mãe e ganhos qualitativos. Com relação à criança, os resultados mostraram ganhos

qualitativos (engajamento na atividade) e, em menor magnitude, ganhos quantitativos

(aumento de respostas corretas para algumas das estratégias do programa adaptado do Recall).

Contribuições e limitações do estudo são discutidas.

Palavras-chave: Autismo, compreensão oral da leitura, intervenção precoce, família.

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ABSTRACT

Reading is an essential skill for success at school and in adult life. For many individuals, the

decoding processes and reading comprehension develop in parallel. For others, these

processes are dissociated. Most students with Autism Spectrum Disorder (ASD) show better

decoding than comprehension skills, which can lead to learning disabilities. In this

perspective, it is essential to develop early reading intervention programs to diminish reading

difficulties in this population. Therefore, the present study aims to evaluate the effects of an

adapted version of the reading intervention program called Recall (Reading to Engage

Children with Autism in Language and Learning) on oral reading comprehension of

individuals with ASD. Subjects of the study were a 6-year-old child with autism and his

caretaker (mother). With them, we implemented a single-subject A-B (Baseline-Intervention)

Follow- up design, in which the training program was taken as independent variable (IV) and

the intervention program strategies used by the caretaker, taken as dependent variable (DV).

Subsequently, the intervention program strategies by the caretaker was considered as

independent variable (IV) and the child`s answers, as dependent variable (DV). Through

training sessions, the caretaker learned to use different program strategies in order to expand

the oral reading comprehension of the child. Such strategies were applied to the child during

reading routines at his home. Sessions were videotaped and the frequency of use of each

strategy by the mother, as well as the child`s communicative turns (initiatives and answers)

were quantified. In addition, we carried out a qualitative analysis on the reading routines. Our

results demonstrate both quantitative (frequency increment) and qualitative improvements in

the use of certain Recall strategies by the caretaker. With respect to the child, we observed a

quantitative improvement of smaller magnitude (increase of correct answers in some of the

programs strategies) associated to a significant qualitative improvement (higher levels of

activity engagement, longer sentences). Contributions and limitations of the study are

discussed.

Key words: Autism, oral/verbal reading comprehension, early intervention, family.

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Sumário

RESUMO ............................................................................................................ vi

ABSTRACT ........................................................................................................

LISTA DE ILUSTRAÇÕES .............................................................................

vii

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INTRODUÇÃO ................................................................................................

12

CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................

1.1 – Leitura e Escrita ....................................................................................

1.2 – Autismo .................................................................................................

1.3 – Programas de Intervenção em Leitura ..................................................

15

15

23

35

CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA .................................................................

2.1– Participantes ...........................................................................................

2.2 – Agente de Intervenção ..........................................................................

2.3 – Local .....................................................................................................

2.4 – Materiais ...............................................................................................

2.5 – Delineamento da Pesquisa ....................................................................

2.6 – Variáveis ...............................................................................................

2.7 – Procedimentos e Instrumentos ..............................................................

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47

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48

49

49

49

50

CAPÍTULO 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO ...........................................

3.1 – Avaliações Iniciais ................................................................................

3.2 – Efeitos da capacitação no comportamento do cuidador ........................

3.2.1 – Linha de Base ................................................................................

3.2.2 – Intervenção ....................................................................................

3.2.3 – Follow-up .......................................................................................

3.2.4 – Análise Conjunta ...........................................................................

3.3 – Efeitos do programa na compreensão oral da leitura de histórias na

criança ............................................................................................................

3.3.1 – Linha de Base ................................................................................

3.3.2 – Intervenção ....................................................................................

3.3.3 – Follow-up ......................................................................................

3.3.4 – Análise Conjunta ...........................................................................

3.3.5 – Iniciativas Comunicativas .............................................................

3.4 – Validade Social ....................................................................................

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64

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73

77

87

93

100

100

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109

113

116

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CAPÍTULO 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................. 123

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 129

ANEXOS

APÊNDICES

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Cartaz com rótulo apresentando troca de vogais ..................................... 19

Figura 2: Variáveis usadas durante o treinamento do cuidador ............................... 50

Figura 3: Variável usadas durante o uso das estratégias com a criança ................. 50

Figura 4: Ajudas visuais da hierarquia de dicas ..................................................... 62

Figura 5: Estratégias usadas pela mãe na linha de base ......................................... 75

Figura 6: Livrinho com ajudas visuais e perguntas do roteiro ................................ 78

Figura 7: Estratégias usadas pela mãe durante a Intervenção ................................. 83

Figura 8: Estratégias usadas pela mãe durante o Follow-up ................................... 88

Figura 9: Estratégias usadas pela mãe nas três fases do estudo ............................. 93

Figura 10: Respostas da criança durante a fase de linha de base para cada livro .... 102

Figura 11: Desempenho da criança em cada dia de leitura durante a linha de base 103

Figura 12: Frequência de resposta em cada nível hierárquico de ajuda visual ........ 105

Figura 13: Frequência de respostas durante a intervenção ...................................... 105

Figura 14: Respostas corretas e incorretas por dia durante o Follow-up ................ 110

Figura 15: Respostas corretas e incorretas para cada livro no Follow-up ............... 112

Figura 16: Respostas corretas para cada tipo de pergunta nas três fases do estudo. 114

Figura 17: Iniciativas verbais e gestuais produzidas pela criança ........................... 117

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Estratégias de ensino: quatro procedimentos instrucionais ................... 39

Quadro 2: Características das duas etapas comunicativas ...................................... 42

Quadro 3: Tipos de estímulos nos dois níveis comunicativos ................................ 43

Quadro 4: Livros utilizados durante a fase de linha de base ............................... 56

Quadro 5: Variáveis avaliadas na criança ............................................................... 57

Quadro 6: Variáveis avaliadas na mãe .................................................................... 57

Quadro 7: Livros utilizados na fase de Intervenção ................................................ 61

Quadro 8: Livros utilizados na fase do Follow-up .................................................. 63

Quadro 9: Análise de fidedignidade no uso do programa interventivo ................... 96

Quadro 10: Análise de fidedignidade no uso do programa durante o Follow-up ... 99

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Índice de Fidedignidade na LB das categorias da criança ............................ 53

Tabela 2: Índice de Fidedignidade na LB das categorias da mãe ................................ 53

Tabela 3: Índice de Fidedignidade na Intervenção das categorias da criança .............. 54

Tabela 4: Índice de Fidedignidade na Intervenção das categorias da mãe .................. 54

Tabela 5: Índice de Fidedignidade no Follow-up das categorias da criança ............... 55

Tabela 6: Índice de Fidedignidade no Follow-up das categorias da mãe .................. 55

Tabela 7: Escores da Escala CARS da criança antes do início da intervenção ........ 67

Tabela 8: Escores da Escala de Letramento Emergente .......................................... 68

Tabela 9: Habilidades de leitura e escrita da criança reportada pela mãe ............... 70

Tabela 10: Porcentagem das estratégias adotadas pela mãe durante a linha de base .. 75

Tabela 11: Porcentagem das estratégias adotadas pela mãe na Intervenção ........... 83

Tabela 12: Porcentagens das estratégias usadas pela mãe durante o Follow-up .... 88

Tabela 13: Porcentagem de uso das estratégias pela mãe nas três fases do estudo. 94

Tabela 14: Porcentagem de respostas nas três fases do estudo ........................... 113

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INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento

caracterizado por um persistente déficit nas habilidades sócio-comunicativas e pela

manifestação de padrões de comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos,

evidenciados ao longo de múltiplos contextos (APA, 2013). As estatísticas revelam que há

uma prevalência de 1 em 68 nascimentos de crianças que são diagnosticadas com TEA nos

Estados Unidos (Centers for Disease Control and Prevention - CDC, 2012). O único estudo

dessa natureza que se tem no Brasil indica 1 em 367 indivíduos afetados com essa condição

(PAULA, C.S. et al., 2011).

A Lei nº 12.764, que institui a "Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa

com Transtorno do Espectro Autista”, publicada em 2012, especifica que os indivíduos com

autismo são considerados pessoas com deficiência, reafirmando assim os direitos plenos à

cidadania. Dessa forma, assegura o direito à saúde, ao diagnóstico precoce, a receber

tratamento terapêutico, à formação profissional e à educação em escolas regulares.

Especificamente, com relação à escolarização, a Lei garante que a criança receba

Atendimento Educacional Especializado (AEE) além de acompanhante especializado na sala

de aula regular, quando for necessário.

Políticas dessa natureza têm favorecido a entrada desses educandos em contextos

regulares de ensino. Apesar desse acesso, a literatura revela que o desempenho acadêmico

desses alunos é insatisfatório (GOMES; MENDES, 2010; NUNES; AZEVEDO; SCHMIDT,

2013). Um dos fatores que pode explicar esse fenômeno são os prejuízos observados na

compreensão leitora dessa população (OAKHILL; CAIN, 2007; WHALON; DELANO;

HANLINE, 2013), que diretamente impacta a aquisição de outras habilidades acadêmicas.

Pesquisas revelam que, embora muitos educandos com autismo sejam capazes de

decodificar textos, não compreendem o que lêem. (MINSHEW, et al., 1994; FRITH, 2003;

JUSTICE; KADERAVEK, 2004; BROWN; ORAM- CARDY; JOHNSON, 2013; WESTBY,

2011; DAVIDSON; ELLIS WEISMER, 2014). Nessa perspectiva, pesquisas internacionais

têm focado em desenvolver programas de remedição de leitura para essa população

(WHALON et al., 2015; WHALON; HANLINE; DAVIS, 2016). Esses estudos revelam que

programas interventivos, se adaptados com estratégias para atender as especificidades das

crianças com TEA, podem evidenciar resultados positivos,

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O número de estudos publicados no Brasil sobre remediação de dificuldades de leitura

e letramento emergente são incipientes (OLIVEIRA, 2015), sendo encontradas poucas

pesquisas nacionais, que tratam de práticas interventivas envolvendo participantes com

autismo (BERNARDES, 2015; QUEIROZ, 2017). De forma específica, em revisão da

literatura, foram encontrados apenas três estudos dessa natureza. O primeiro, desenvolvido

por Bernardes (2015), tinha como objetivo verificar a eficácia do programa de leitura

proposto por Iñesta (1980) na aquisição de repertório de leitura em crianças de 10 e 11 anos

com TEA. A proposta de Iñesta (1980) diz respeito ao uso de dicas visuais, gestuais, verbais

ou físicas, como forma de aprendizagem sem erro para ensinar comportamento de ler para

pessoas com atrasos no desenvolvimento. No estudo de Bernardes (2015) essa proposta de

trabalho foi implementada pela pesquisadora na residência dos participantes. Os resultados

indicaram que o programa proposto por Iñesta (1980), com as alterações e ampliações

realizadas pela pesquisadora foi eficaz na aquisição de repertório de leitura dos participantes.

O segundo estudo, desenvolvido por Queiroz (2017) investigou os efeitos da Leitura

Dialógica e do Recall (WHALON et al., 2015) na aprendizagem de respostas verbais sob

controle da narrativa (texto e ilustrações) em uma criança de 7 anos com TEA. Recall (do

inglês, Reading to Engage Children with Autism in Language and Learning) é um programa

interventivo de leitura, adaptado da leitura dialógica. Assim sendo, combina os

procedimentos de instrução da leitura dialógica e incrementa estratégias baseadas em

evidência científica que auxiliam crianças com TEA nas habilidades nas quais apresentam

dificuldades (reciprocidade social, comunicação e linguagem, e atenção compartilhada,

inferências).

A pesquisa de Queiroz (2017) foi delineada como uma pesquisa experimental de

linha de base múltipla e conduzida no contexto de uma escola pública de ensino fundamental

do Distrito Federal. Os agentes de intervenção foram a pesquisadora e dois mediadores de

leitura, um para cada criança. Os resultados dessa investigação corroboraram os achados de

estudos anteriores, com relação à leitura dialógica, desde que feita com adaptações. Assim, é

salientado na referida pesquisa que essa modalidade de intervenção naturalística pode ser

promissora para desenvolver repertórios sócio-comunicativos em crianças com TEA.

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O objetivo do presente estudo foi ampliar os achados de Whalon et al. (2015) e

Queiroz (2017), avaliando os efeitos do programa de leitura dialógicas proposto,

implementado pelo cuidador, na compreensão oral da leitura de uma criança com TEA.

A presente dissertação está dividida em quatro capítulos. No primeiro são abordadas

cinco temáticas: (1) Os processos de desenvolvimento da Leitura e Escrita; (2) As

características do autismo; (3) O desenvolvimento de leitura em crianças com autismo; (4) Os

programas de intervenção leitora e, por fim, (5) Os programas de compreensão da leitura

textual em crianças com TEA. No segundo capítulo é descrita a metodologia implementada e,

no terceiro, são apresentados os resultados. Por fim, o quarto capítulo apresenta a discussão e

as considerações finais da pesquisa.

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CAPÍTULO 1

1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1- LEITURA E ESCRITA

1.1.1 Teorias de aquisição de leitura-escrita.

Diferentes teorias sobre a aquisição da leitura-escrita foram surgindo no decorrer da

história (BASTISDAS, 2001). Alguns modelos salientavam que existia uma idade ideal para

a criança ser alfabetizada. Ou seja, que a maturidade neural era responsável pela maturidade

para a leitura (MORPHETT; WASHBURNE, 1936). Outros defendiam a ideia de que se

tratava de habilidades como fruto de apropriadas experiências do ambiente, do contexto

(GATES, 1937; GATES; BOND, 1936; MARY CLAY, 1966 apud BASTIDAS, 2001). Esses

modelos deram origem, respectivamente à Teoria da Maturidade para a Leitura (TML) e a

Teoria da Leitura-Escrita Emergente (LEE).

Segundo Teale e Sulzby (1980) no primeiro modelo, originado na década de 1920, era

postulado que os processos mentais necessários para a leitura apareceriam automaticamente

em certa etapa do desenvolvimento. Assim foi criada a Teoria da Maturidade para a

Leitura (TML), que sugere que as crianças devem estar “mentalmente preparadas” para ler.

O conceito da maturidade neuronal foi derivado de teorias do desenvolvimento da criança,

como a proposta por Gesell, especialmente em relação à aprendizagem da língua materna nos

anos de 1920 e 1930 (BASTIDAS, 2001).

Segundo Teale e Sulzby (1986) uma investigação que alicerça a TML é a

desenvolvida por Morphett e Washburne (1928) onde foram avaliadas 141 crianças do

primeiro ano do ensino fundamental no começo do ano escolar, utilizando testes de

inteligência delineados para medir a idade mental. 5 e 9 meses depois os pesquisadores

mediram os rendimentos de leitura dessas mesmas crianças. Os resultados indicaram que os

alunos com maior avanço em leitura foram aqueles que tinham começado o ano escolar com,

pelo menos, 6 anos e 6 meses de idade.

Segundo Durkin (1978), isto levou os autores a interpretar que valia a pena pospor o

ensino da leitura até que a criança tivesse, pelo menos, 6 anos e meio de idade no início do

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ano escolar. Embora autoridades no campo da leitura na época, como Gates (1937) e Gates e

Bond (1936), questionassem os resultados da pesquisa, a TML, enquanto suporte para pospor

o ensino da leitura, perdurou por quatro décadas.

Com base nos princípios da TML, foram elaboradas metodologias que visavam

estimular a leitura, como o uso de materiais didáticos específicos (textos de leitura

sequencialmente graduados; cadernos de trabalho; etc.). Nesse modelo, o ensino eficiente da

leitura só poderia começar quando as crianças tivessem dominado um conjunto de habilidades

básicas consideradas pré-requisitos para ler. Assim, eram propostas atividades que

estimulavam a discriminação e memória auditiva, a discriminação e memória visual, o

reconhecimento de nomes e sons das letras, o reconhecimento de palavras, dentre outras. A

escrita só era ensinada quando a criança aprendia a ler.

Em decorrência da TML, diversos testes que avaliavam a maturidade para a leitura

foram desenvolvidos. Esses instrumentos partiam do pressuposto que todas as crianças

passavam por etapas sequenciais de maturidade e habilidades para a leitura. Assim sendo, o

progresso hierárquico nestas habilidades deveria ser analisado cuidadosamente através de

uma avaliação periódica (BASTIDAS, 2001).

As pesquisas no campo da Psicologia desenvolvidas na década de 1960 indicaram que

as crianças pré-escolares sabiam muito mais do que os pais e professores pensavam e que o

indivíduo aprendia muitas habilidades nos primeiros anos de vida. Nessa perspectiva, a ideia

da criança como ser passivo e mecânico foi substituída por de um indivíduo ativo na

aprendizagem e gerador de hipóteses (BASTIDAS, 2001). Essas pesquisas formaram o

alicerce para o surgimento de uma nova teoria de leitura, conhecida como Teoria da Leitura-

Escrita Emergente (LEE). Neste novo paradigma, a maturidade para a leitura passou a ser

vista não como um produto da maturidade neuronal, mas fruto das experiências apropriadas,

de fatores externos, contextuais ou ambientais que podiam acelerá-la (BASTIDAS, 2001).

A ideia de Leitura-Escrita Emergente (LEE), que fundamenta esta teoria, foi

introduzida por Marie Clay (1966) na década de 1960 (BASTIDAS, 2001; ROHDE, 2015).

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1.1.2 Letramento Emergente

Este modelo desafiou a noção imperante na época de que as crianças não estavam

prontas para se converter em leitores até alcançarem um ponto específico no tempo,

determinado pela idade e maturidade (FOSNOT, 2013; MAC GILLIVRAY, 2000; RAZFAR;

GUTIÉRREZ, 2003 apud ROHDE, 2015). Ao invés disso, propõe que os conceitos de leitura

emergem nas crianças antes que elas sejam formalmente “ensinadas” a ler. Em outras

palavras, contrário ao TML, essa proposta salienta que inexista um período neurologicamente

propício para o aprendizado da leitura.

O termo Leitura-Escrita Emergente, alude a elementos importantes. Primeiramente,

Leitura-Escrita é empregado para indicar que os dois aspectos são relevantes nesta teoria

(TEALE; SULZBY, 1986). A palavra Emergente, por sua vez, é utilizada por quatro razões

distintas. Primeiro porque designa que o desenvolvimento está em “processo de chegar a ser”,

ou seja, que a criança está em processo de se converter em leitor-escritor. Em segundo lugar,

sugere a existência de alguma coisa nova que emerge na criança, uma habilidade que antes

não estava ali. Isso implica em dizer que o desenvolvimento da leitura-escrita é um fator

intrínseco, como também, resultante de estímulos do ambiente. O terceiro ponto assinalado é

que essa teoria fundamenta-se no modelo de Piaget, quando indica que a aprendizagem se

constrói por processos de assimilação e acomodação. Assim, é enfatizado que, durante o

desenvolvimento, a criança aprende, ou seja, modifica suas estratégias e cria outras novas.

Por fim, o termo sugere que o crescimento observado na criança ocorre sem necessidade de

recorrer ao ensino formal. Em outras palavras, que o desenvolvimento da leitura-escrita é o

resultado do uso que a criança faz desses processos de assimilação e acomodação no

ambiente familiar e na comunidade.

Na década de 1960 destacam-se, ainda, as pesquisas conduzidas por Yetta Goodman

(1967), sobre o comportamento leitor de crianças principiantes na leitura e aquelas que

evidenciavam atrasos. Para Goodman (1968), a conscientização sobre aspectos de leitura-

escrita de crianças que vivem numa sociedade alfabetizada precede a idade escolar. Este fato

estimulou o desenvolvimento de estudos sobre a consciência precoce que a criança tinha

sobre as letras impressas, em diferentes formatos, em rótulos, cartazes, e outros meios

(BASTIDAS, 2001). Os resultados dessas investigações corroboraram que a raiz do processo

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leitor é estabelecida em idade precoce, que a função precede a forma na aprendizagem da

leitura, e que existe progressão, que vai desde a aprendizagem da leitura de símbolos em

contextos familiares até a leitura de textos com letras unicamente impressas (GOODMAN;

GOODMAN 1979 apud BASTIDAS 2001). Aprender a ler é uma habilidade fundamental

para o sucesso na vida escolar e adulta. Com base na ideia de LE, as crianças aprendem sobre

a função e o processo de leitura muito antes de pegar um livro e decodificar um texto

(ROHDE, 2015). Em outras palavras, letramento emergente refere-se às primeiras etapas da

evolução da leitura/escrita, que se desenvolvem antes da educação formal no período que vai

desde o nascimento da criança até que ela aprenda a ler e escrever de forma convencional

(WHITEHURST; LONIGAN, 1998; DIXON-KRAUSS; JANUSZKA; CHAN-HO CHAE,

2010; PHILLIPS; LONIGAN, 2005; KATIMS, 1994; FONTES; CARDOSO-MARTINS,

2004). O letramento emergente inclui as habilidades, os conhecimentos e as atitudes

precursoras do desenvolvimento de leitura e escrita convencionais, como também os

ambientes que apoiam e sustentam esses precursores (WHITEHURST; LONIGAN, 1998).

Dentre as habilidades e conhecimentos do letramento emergente se encontram: (a) os

diferentes domínios da linguagem, por exemplo, vocabulário, sintaxe, etc.; (b) conhecimento

sobre letra impressa e suas convenções, como, por exemplo, que em determinados idiomas se

lê da esquerda para a direita, saber identificar a capa do livro e seu o título, etc.; (c) início da

produção da escrita, como, escrever o próprio nome, conhecimento sobre o alfabeto (som e

nome das letras); (d) função da letra impressa (identificar, por exemplo, as bolhas de diálogo

nos livros/revistas) (CABELLA; JUSTICE; KONOLDA; MCGINTYA, 2011; FLEURY,

2014); (e) consciência fonológica, rima, dentre outras.

As atitudes referem-se ao interesse e motivação que a criança possa apresentar em

relação a livros, por exemplo, se gosta que leiam para ela e com que frequência solicita essa

atividade. Em relação à escrita, se a criança gosta de utilizar papel e lápis, brincar com letras

móveis, etc.

O ambiente diz respeito às diferentes atividades realizadas em casa ou no ambiente

escolar, como por exemplo, ensino do alfabeto e leitura compartilhada (WHITEHURST;

LONIGAN, 1998; WHITEHURST, et al.,1999). Assim sendo, a aquisição da leitura e da

escrita é compreendida como um continuum (WHITEHURST; LONIGAN, 1988). O contato

com a linguagem escrita e a interação com o adulto lendo historias para a criança influenciam

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o desenvolvimento das habilidades que compõem o letramento emergente (SNOW;

GRIFFIN; BURNS, 2005).

1.1.3 Modelos de leitura

De acordo com Frith (1985), o processo de desenvolvimento da leitura pode ser

descrito em três etapas ou estratégias: a logográfica, a alfabética e a ortográfica. A primeira

é caracterizada pelo desenvolvimento do léxico logográfico, com acesso direto da palavra

escrita à memória semântica. Assim, a criança lê de maneira visual direta, reconhecendo

palavras familiares tomando como referência as características gráficas e não a ordem das

letras (MARANHE, 2011), ou seja, pelas pistas contextuais e não linguísticas, tais como as

cores (CAPOVILLA et al, 2007), como se fossem desenhos (SEABRA; DIAS, 2012). Como

exemplo, podemos citar a leitura do rótulo da coca-cola, mesmo que as vogais estejam

trocadas.

Figura 1: Cartaz com rótulo apresentando troca de vogais.Fonte:

http://khorganz.deviantart.com/art/Caca-Cola-131975167

No exemplo acima, a palavra “caca cola” está escrito. É comum, no entanto, que na

fase logográfica, a criança não perceba a troca da letra “o” pela “a”. Esse fenômeno ocorre

porque a criança tende a ler tomando como base as especificidades gráficas.

Na leitura alfabética, a criança inicia o processo de associação grafema-fonema

(correspondência grafo-fonêmica), decodificando palavras novas e escrevendo algumas

simples. Ou seja, a sequência grafêmica é segmentada em unidades menores e convertida nos

seus respectivos sons para em seguida, fazer a junção dos segmentos fonológicos e produzir a

pronúncia da palavra. Posteriormente, se obtém o acesso semântico pelo feedback acústico da

forma fonológica na pronúncia (CAPOVILLA et al, 2007).

Desse modo, a criança primeiramente se apropria das regras mais simples fazendo

uma decodificação sequencial, conseguindo desse modo ler sem dificuldades

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(correspondendo grafemas com seus fonemas). Por exemplo, na palavra “lápis”, ou seja, um

som é lido atrás do outro /l/ /a/ /p/ /i/ /s/ seguindo a sequência em que aparece cada um dos

fonemas (sons das letras). Em um momento posterior a criança poderá fazer uso das regras

contextuais, ou seja, uma decodificação hierárquica. Em outras palavras, ela tenderá a ler a

palavra “Brasil” pronunciando o fonema final /l/ se a palavra se encontra isolada, entretanto,

se lida num contexto apoiada por uma imagem, seja, uma bandeira, um mapa, a criança pode

corrigir e ler [u], no fonema final fazendo uso do contexto que o remete ao pais Brasil.

Para avançar com sucesso nesta etapa a criança precisa conhecer o princípio

alfabético, ou seja, conhecer a correspondência grafofonêmica (grafema/letra – fonema/som)

e a consciência fonológica.

Especificamente, a consciência fonológica, que é a habilidade de detectar, identificar

e manipular a estrutura dos sons da linguagem, é considerada um dos mais fortes preditores

do futuro sucesso na leitura (SEBRA; MARTINS DIAS, 2011). Capovilla, Dias e Montiel

(2007) corroboram dados evidenciados anteriormente por Share (1995), Warrick, Rubin e

Rowe-Walsh (1993), mostrando que a consciência de segmentos suprafonêmicos, ou seja,

elementos maiores que os fonemas, como sílabas, rimas e aliterações (palavras que começam

com o mesmo som), se desenvolvem antes da criança receber instrução formal e antes que a

consciência fonêmica. A habilidade de rima (palavras que terminam com o mesmo som) é

vista como o primeiro indicador da consciência fonológica em crianças pequenas (JUSTICE;

PULLEN, 2003). Segundo Goswami (2001) através da rima a criança passa do significado

das palavras aos sons da linguagem. Vale ressaltar que, para alguns indivíduos compreender a

diferença entre os sons da linguagem do significado das palavras não é um processo

automático. Isso se deve, possivelmente, porque as crianças aprendem a linguagem,

inicialmente, como instrumento de comunicação e só depois passam a prestar atenção aos

sons (GOSWAMI, 2001).

A terceira etapa, discutida por Frith (1985) é a leitura ortográfica, que pode ser

compreendida como uma junção das habilidades desenvolvidas na fase logográfica

(reconhecimento instantâneo), e fase alfabética (análise sequencial) (MARANHE, 2011). Esta

etapa caracteriza-se pelo processamento visual direto das palavras, ou seja, a criança já possui

um léxico mental ortográfico e, a partir dessa representação ortográfica, tem acesso direto ao

sistema semântico. Assim, a pronúncia é resgatada como um todo a partir do léxico, sem a

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mediação fonológica (CAPOVILLA A. et al, 2007). Isso indica que essas unidades

ortográficas já estão armazenadas no seu léxico na memória a longo prazo, viabilizando a

leitura de palavras regulares e irregulares de forma automática. Entretanto, esta estratégia

ortográfica não permite a leitura correta de pseudo-palavras, ou palavras que ainda não se

encontrem armazenadas no léxico ortográfico da criança, devendo ela recorrer a estratégia

alfabética para poder ler esse tipo de palavras.

A leitura é uma atividade psicolinguística cognitiva complexa (CORSO; SALLES,

2009), em que diversos processos cognitivos e linguísticos estão envolvidos e inter-

relacionados (SILVA et al, 2012). A boa compreensão da leitura depende de processos

cognitivos de alto nível, como por exemplo, a memória, o acesso ao léxico, vocabulário,

leitura fluente, além da capacidade de realizar inferências. Nesta perspectiva, para ser um

bom leitor, não é suficiente reconhecer e derivar o significado de palavras impressas (SILVA

et al, 2012). Em outras palavras, decodificar o texto escrito e conhecer o vocabulário utilizado

não é suficiente para compreender o que se lê.

1.1.4 A compreensão da leitura

Westby (2011) destaca três níveis de compreensão da leitura: a compreensão básica, a

compreensão crítica e a dinâmica. Na primeira, o indivíduo apenas lê o que está nas páginas,

decodificando as palavras escritas. A segunda, denominada de compreensão crítica, requer a

habilidade de inferir. Em outras palavras, é necessário analisar, internalizar, interpretar,

sintetizar e explicar. Por fim, a leitura dinâmica inter-relaciona os conteúdos acumulados dos

diferentes textos lidos, além de levantar e resolver problemas/questões. Ou seja, envolve a

habilidade de fazer inferências entre os diferentes textos lidos para ver a relação que existe

entre eles. O que diferencia a compreensão/leitura crítica da dinâmica é que na primeira o

leitor constrói modelos mentais individuais para cada texto lido. Na leitura dinâmica, por

outro lado, o leitor primeiramente constrói modelos mentais individuais de cada texto lido,

depois relaciona-os. Ou seja, compara, contrasta com vistas a identificar suas semelhanças e

diferenças para, por fim, construir um modelo mental único que represente o conteúdo desses

vários textos lidos (WESTBY, 2002)

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É observado, portanto, que o que diferencia a compreensão básica dos outros dois

níveis de leitura é a capacidade de fazer inferências. Para fazer inferências é preciso construir

modelos mentais capazes de apreender as microestruturas e macroestruturas (WESTBY,

2011), que juntas formam o texto-base, (NOBLE; SALLES, 2014) e integrá-lo ao

conhecimento prévio (BROWN; ORAM- CARDY; JOHNSON, 2013).

As microestruturas dizem respeito ao significado das palavras, a compreensão de

sentenças, de pronomes em relação aos substantivos, assim como os conectivos entre as

sentenças. As macroestruturas do texto, por sua vez, referem-se ao conteúdo propriamente

dito, os pontos mais importantes, a sua organização, assim como a sua relação com os

múltiplos textos lidos (WESTBY, 2011) Segundo Brown e outros (2013) o conhecimento

prévio é fundamental para a compreensão. O leitor deve apresentar diferentes tipos de

conhecimento prévio, como o conhecimento semântico, ou seja, o conhecimento do

significado das palavras, considerando, tanto a extensão do vocabulário (podendo ser pobre,

restrito ou rico) como também a profundeza dessas representações simbólicas (STOTHERS;

ORAM-CARDY, 2012). Em outras palavras, conhecer e compreender que duas palavras

diferentes podem ter o mesmo significado ou que uma palavra pode ter mais de um

significado. Adicionalmente o conhecimento semântico está relacionado ao conhecimento de

diferentes disciplinas acadêmicas (geografia, história, matemática, etc), conhecimento de

procedimentos (por exemplo, como realizar o reparo de uma bicicleta, um carro), ter

conhecimento sobre quais os passos dos eventos que são familiares (uma festa de aniversário,

uma compra no supermercado, etc.), e conhecimento interpessoal (ou seja, conhecimento das

necessidades humanas, emoções, valores, relações, atitudes, etc. (KAMHI e CATTS 2005, p.

12 apud BROWN et al., 2013)

É interessante observar que a meta-análise conduzida por Brown et al., (2013) revela

que os preditores mais fortes da compreensão leitora foram o conhecimento semântico e a

habilidade de decodificar. Esses dados coincidem com os pressupostos do Simple View of

Reading, um modelo de leitura que salienta ser a compreensão leitora o produto da

decodificação e a compreensão linguística.

Outras pesquisas sustentam esses achados. Karasinki e Weismer, (2010 apud

WESTBY, 2011), por exemplo, observaram que para fazer inferências é preciso compreender

o input linguístico do texto, ou seja, o vocabulário, a sintaxe; além de ter conhecimento do

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mundo geral (conhecimento prévio) para poder relacionar o que se está lendo com o

conhecimento prévio. Adicionalmente, a Teoria da Mente1 e a memória de trabalho,

especialmente nas narrativas onde é necessário predizer o que vai acontecer têm papéis

primordiais. Em outras palavras, é fundamental inferir o que cada personagem do texto fará,

tomando como base as crenças, desejos intenções das personagens, assim como ser capaz de

buscar informações na memória, enquanto o texto é mantido na mente do leitor.

1.2- AUTISMO

1.2.1 Características

Embora o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tenha sido previamente considerado

um transtorno comportamental e da comunicação social, pesquisas mais recentes o descrevem

como um transtorno do neuro-desenvolvimento ou um transtorno do cérebro, resultante de

eventos genéticos que ocorreram antes do nascimento, acarretando consequências no

desenvolvimento cognitivo e sócio-emocional (GESCHWIND, 2009; HERBERT, et al. 2004;

JUST et al. 2007).

Estudos neuropsicológicos em adultos e crianças com autismo de alto funcionamento

revelaram existir perfis de pessoas com habilidades intactas e outras deficientes (MINSHEW;

GOLSTEIN; SIEGEL, 1997; WILLIAMS; GOLDSTEIN; MINSHEW, 2006). De uma forma

geral, as habilidades cognitivas de ordem cerebral elevada, ou seja, que dependem de altas

demandas de processamento da informação ou integração estão afetadas. Assim, a pessoa

com TEA tende a apresentar dificuldades em tarefas que demandam a memória de estímulos

complexos como a organização cognitiva, a formação de conceitos ou habilidades mais

complexas de linguagem como, a criação de histórias, a compreensão de metáforas,

inferências e expressões idiomáticas (MINSHEW et al., 1997; WILLIAMS et al., 2006,

MINSHEW; WILLIAMS, 2007).

Estas descobertas sugerem que o TEA seja um distúrbio cerebral, uma síndrome de

desconexão, (MINSHEW; WILLIAMS, 2007; GESCHWIND; LEVITT, 2007), que pode ser

1 É a habilidade de compreender que os outros têm intenções, pensamentos, desejos e sentimentos que são diferentes

aos da própria criança que começa a emergir por volta dos três anos. (BARON-COHEN, LESLIE, & FRITH, 1985).

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explicada por meio de uma teoria da interconectividade cortical interrompida (KANA et al.,

2011), que afeta as habilidades do indivíduo em processar informações. Adicionalmente,

infere-se que a organização neuronal, em termos de composição e interconexão entre os

neurônios, seja deficitária. Em última instância, em pessoas com TEA, as regiões do cérebro

que deveriam funcionar juntas, de forma coordenada e eficiente para realizar uma tarefa de

processamento de informação, estão afetadas, impactando a comunicação entre neurônios

(GESCHWIND; LEVITT, 2007).

As primeiras evidências sobre essa desconexão foram derivadas de um estudo de

Imagens de Ressonância Magnética Funcional (fMRI)2, realizado por Just et al., (2004).

Nessa pesquisa, foi investigada a ativação cerebral durante a tarefa de compreensão leitora de

sentenças, comparando a ativação de 17 adultos que apresentavam autismo de alto

funcionamento e 17 adultos com desenvolvimento típico, que participaram como grupo

controle. Os objetivos do estudo foram identificar: (a) as áreas corticais que se ativavam

durante a realização da tarefa; (b) a distribuição da ativação ao longo de algumas das áreas

chaves / importantes da linguagem; e (c), a sincronização da ativação ao longo das áreas

corticais. Os autores observaram que a coordenação do processamento nas duas áreas da

linguagem envolvidas na tarefa - área de Wernicke (processamento semântico) e área de

Broca (integração de sentença) - estavam significantemente reduzidas nos adultos com TEA,

quando comparadas com os pares com desenvolvimento típico. A baixa conectividade

funcional3, particularmente entre as regiões cerebrais frontais e posteriores, identificadas no

estudo de Just e colaboradores (2004) foi também encontrada em estudos da mesma natureza,

publicados posteriormente (JUST et al., 2007; MASON et al., 2008).

Especificamente na população com TEA, vários autores, dentre eles Ming;

Brimacombe; Wagner, (2007); Provost; Lopez; Heimerl, (2007), observaram associação de

déficits motores nesta população. Seus estudos mostraram que o déficit motor, mesmo sem

ser o sintoma principal no autismo, apresenta uma prevalência maior que dentre a população

2 É uma tecnologia de uso clinico. Durante o fMRI, o participante realiza uma tarefa cognitiva, e a informação e

enviada a um computador. O processamento dessa data, permite medir a hemodinâmica (mudanças na corrente

sanguínea e na oxigenação sanguínea) num grupo de neurônios que estão relacionados à atividade cognitiva

(WILLIAMS, D. L.; MINSHEW, N. J., 2010) 3 É uma medida que compara o tempo (timing) de resposta hemodinâmica (mudanças na corrente sanguínea e na

oxigenação sangüínea) em duas áreas cerebrais diferentes. No contexto de imagens cerebrais, a conectividade

funcional refere a evidencia indireta de comunicação ou colaboração entre varias áreas cerebrais. (JUST, 2004))

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com desenvolvimento típico, aparecendo precocemente e persistindo no tempo (MATSON;

MATSON; BEIGHLEY, 2011).

Em 2007 ASHA, Associação Americana de Fala, Audição e Linguagem através do

seu Comitê de Apraxia da fala na infância desenvolveu um Relatório Técnico, revisando as

pesquisas existentes sobre o tema, definindo a apraxia da fala na infância como:

Uma desordem neurológica dos sons da fala na infância onde a precisão e

consistência dos movimentos subjacentes a fala se encontram alterados devido

a um déficit no planejamento motor e na ausência de déficits neuromusculares.

O déficit principal se encontra na planificação e/ou programação da sequência

dos parâmetros espaço-temporais dos movimentos da fala, resultando em erros

na produção dos sons da fala e na prosódia. (ASHA, 2007).

Em outras palavras, os músculos se encontram funcionais para produzir sons da fala,

mas a criança apresenta dificuldades para planejar, coordenar, produzir e sequenciar os

movimentos para produzir os sons da fala, resultando em fala ininteligível.

Embora não sejam os únicos sinais que caracterizam a apraxia, pesquisas apontam

para três principais características segmentais e supra-segmentares que são consistentes com

os déficits em planejamento e programação dos movimentos da fala: (a) erros inconsistentes

tanto em consonantes como em vogais na produção de repetição de sílabas ou palavras; (b)

uma co- articulação mais alongada e interrompida nas transições entre fonemas e/ou entre

silábicas e (c) prosódia inapropriada.

Essas características acima mencionadas podem resultar em problemas precoces e

persistentes da linguagem expressiva, particularmente de alterações fonológicas, essenciais

para o desenvolvimento da leitura e escrita. (ASHA, 2007).

Tierney et al, (2015) mostraram a alta co-morbidade de autismo com apraxia da fala

no seu estudo envolvendo 30 crianças com déficits na comunicação. Os autores tinham como

objetivo determinar se o Checklist for Autism Spectrum Disorder (CASD) era efetivo para

corroborar o diagnóstico de autismo em crianças sem superestimar os sintomas autísticos em

crianças que não receberam o diagnóstico. Os resultados mostraram que 63.6% das crianças

que inicialmente foram diagnosticadas com autismo, apresentavam também apraxia e 36.8%

das crianças diagnosticadas inicialmente com apraxia apresentavam também autismo.

(TIERNEY et al., 2015).

Entretanto, mais pesquisas são necessárias na área do desenvolvimento da fala, devido

aos resultados variados encontrados nos poucos estudos publicados (BROOME et al., 2017).

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Um exemplo dessa discrepância é observado no estudo do Shriberg et al., (2011), com 46

crianças com autismo e fala inteligível, onde os resultados não sustentaram, de forma

significativa, a teoria da apraxia da fala na infância como concomitante ao autismo.

1.2.2 Alterações na linguagem

A origem das dificuldades de linguagem no autismo não é clara, especialmente devido

a variações dos sintomas (VARANDA; FERNANDES, 2014). O contínuo que compõe o

perfil sociocomunicativo da pessoa com autismo varia desde casos com falta de comunicação

verbal até casos com fala meticulosa. Algumas crianças com TEA apresentam

desenvolvimento da linguagem similar a crianças típicas, mas com transtornos nas

habilidades pragmáticas da linguagem. Assim, tipicamente falham em modificar a forma de

falar, de acordo com a situação ou com o interlocutor. Deste modo parecem, por exemplo,

não compreender que a fala dirigida à criança é distinta daquela dirigida ao adulto; ou que

não se utiliza o mesmo estilo de linguagem num contexto formal, como no trabalho, que em

um contexto informal, entre amigos. É observada, ainda, compreensão inadequada de

expressões, e/ou figuras de linguagem, como por exemplo metáforas ou ironias (ROBERTS

et al., 2004; YOUNG et al., 2005; SMITH et al., 2007).

Indivíduos com TEA tipicamente apresentam prejuízos na comunicação social,

incluindo déficits na participação em conversas, dificuldades em estabelecer e manter a

atenção compartilhada, níveis reduzidos de interesses, de afeto e na maneira de expressar as

emoções. Adicionalmente, falhas nas tomadas de turno, pobre contato visual, e da linguagem

corporal, assim como falta de expressões faciais e compreensão e uso de gestos estão

presentes em pessoas com esse transtorno (ASHA, American Speech, Language and Hearing

Associacion, 2015). Nesse cenário, essa população tende a apresentar graves dificuldades na

compreensão das relações interpessoais em contextos sociais, culminando em dificuldades em

fazer e manter amigos.

Vários autores, dentre eles Fernandes (1994), Volkmar e Pauls (2003), Bekaldi

(2006), Tager-Flusberg, (2006), Smith et al., (2007), e Eigsti et al., (2011) constatam que as

habilidades pragmáticas são características centrais das alterações observadas no autismo.

Assim, conforme salienta Perissinoto (2003):

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As maiores dificuldades estão nos aspectos pragmáticos da comunicação e na

estruturação de narrativas. Limitações de compreensão sobre como as pessoas usam a

linguagem para obter algo e na interpretação de narrativas, impedem o sujeito autista de

compreender, iniciar e manter a conversação”. (PERISSINOTO, 2003, p.25)

Brown et al. (2013), em seu estudo de meta-análise, corroboram com as palavras de

Towgood et al. (2009) quando dizem que a característica que melhor define o TEA é a

variabilidade. Sendo assim, são observadas também contradições nos resultados de pesquisas

realizadas sobre o desenvolvimento gramatical nos indivíduos com esse transtorno

(KJELGAARD; TAGER-FLUSBERG, 2001, TAGER-FLUSBERG; PAUL; LORD, 2005;

WHITEHOUSE; BISHOP, 2008; EIGSTI; BENNETTO, 2009). Em outras palavras alguns

pesquisadores relatam que o desenvolvimento gramatical encontra-se relativamente

preservado (EIGSTI; BENNETTO, 2009; VARANDA; FERNANDEZ, 2014), enquanto

outros identificam déficits gramaticais nas pessoas com TEA (TAGER-FLUSBERG; PAUL;

LORD, 2005; KJELGAARD; TAGER-FLUSBERG, 2001; ROBERTS et al. 2004,

WHITEHOUSE; BARRY; BISHOP, 2008). Embora as dificuldades da linguagem, tanto no

aspecto expressivo como receptivo e pragmático sejam uma das características principais nas

crianças com autismo, (WHITEHOUSE, 2008) existe uma minoria de indivíduos que

aparenta não apresentar déficits linguísticos.

Segundo Tager-Flusberg e Joseph (2003), essa variabilidade poderia ser atribuída à

existência de um subtipo de indivíduos com autismo, que apresenta dificuldades linguísticas

similares às apresentadas pelos indivíduos com distúrbios específicos da linguagem (DEL). O

DEL é um transtorno resultante de um déficit na memória fonológica de curto prazo4 que

restringe a aprendizagem de palavras novas e a compreensão de novas estruturas sintáticas

(GATHERCOLE; BADDELEY, 1990). Assim sendo, as crianças que apresentam DEL

adquirem e desenvolvem uma linguagem com uma gramática mais simples, alterações

sintáticas, vocabulário pobre, dentre outros prejuízos. Nessa perspectiva, e como

consequência das dificuldades no planejamento e organização de sentenças, as crianças com

DEL tendem a cometer atos disfluentes (rupturas) na fala mais frequentemente e de maior

duração que crianças com desenvolvimento típico. (BEFI-LOPES, et al., 2013).

4 Indivíduos com DEL não conseguem resolver as tarefas de repetição imediata de pseudopalavras quando estas são

de três ou mais sílabas, sugerindo que o problema estaria em manter material fonológico novo na memória.

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A criança com esse diagnóstico não apresenta dificuldades auditivas, cognitivas ou

físicas que possam causar esse atraso, porém, falha em evoluir linguisticamente dentro dos

parâmetros temporais e estruturais típicos em que se desenvolve nas outras áreas. Essas

dificuldades lingüísticas podem se manifestar no aspecto expressivo da linguagem ou em

ambos, ou seja, na expressão como na compreensão da linguagem (BEFI-LOPES;

MANHANI CÁCERES; ESTEVES, 2012).

Em 2001, Kjelgaard e Tager-Flusberg, estudaram crianças com autismo e, baseados

nas dificuldades ou não que apresentavam na linguagem, as dividiram em três diferentes

grupos. O primeiro grupo era composto por indivíduos com desenvolvimento típico da

linguagem; o segundo apresentava características borderline, evidenciando riscos de

desenvolvimento; e o terceiro grupo apresentava déficits na linguagem. Os referidos autores

observaram que o terceiro grupo apresentava déficits semânticos e sintáticos, ou seja, similar

as crianças com DEL. Adicionalmente, tanto o segundo grupo como o terceiro demonstraram

pobre desempenho nas tarefas de repetição de pseudopalavras, característica bem

representativa dos DEL.

É interessante observar que as tarefas de repetição imediata de informação verbal

(e.g., pseudopalavras) são muito usadas para avaliar memória fonológica de curto prazo5.

Para esses autores, esses dados sugerem, portanto, que dentre as pessoas com TEA existiria

um subtipo DEL, que apresenta déficits na memória fonológica a curto prazo. Esse déficit

levaria a um atraso na aprendizagem da linguagem, que seria observado pela dificuldade em

aprender palavras novas e compreender novas estruturas sintáticas.

Para Whitehouse e colaboradores (2008), no entanto, a explicação da alteração na

repetição de pseudopalavras por parte de crianças com autismo, que apresentam déficits

linguísticos, se deve a presença de déficits significativos em múltiplos domínios do autismo.

Eles estudaram três hipóteses que os levaram a essa conclusão. A primeira hipótese que

testaram foi a postulada por Kjelgaard; Tager-Flusberg (2001), e Tager-Flusberg e Joseph

(2003), de que existe um subtipo DEL no autismo. Whitehouse e colaboradores (2008)

realizaram um estudo comparativo envolvendo um grupo de crianças com DEL e dois

5 Frente as pseudopalavras, a criança não pode voltar ao seu conhecimento sonoro armazenado (palavra já

conhecida), só pode se apoiar na representação temporária da pseudopalavra no armazém fonológico (memória

fonológica de curto prazo) GATHERCOLE, (1990)

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subgrupos de crianças com autismo, com e sem déficits na linguagem. Nessa comparação

constataram que o grupo de crianças com DEL e o subgrupo de autismo com déficits da

linguagem apresentavam similitudes nos aspectos expressivos e receptivos da linguagem.

Entretanto, os resultados das tarefas de repetição de sentenças que avaliaram as habilidades

de sequência oral-motoras e memória verbal de curto prazo demonstraram um pior

desempenho por parte do grupo de crianças com DEL (características típicas dos DEL). Já o

grupo de participantes com autismo com déficits na linguagem teve desempenho dentro dos

limites da normalidade. Diferenças também foram observadas no padrão do tipo de erros

encontrados na tarefa de repetição de pseudopalavras onde, embora fossem observadas

similitudes entre os dois grupos em relação ao número de erros, o grupo DEL, mostrou uma

tendência a cometer mais erros nas pseudopalavras mais compridas do que os com autismo.

Com estes resultados, refutaram a primeira hipótese. Ou seja, de que não existe um subgrupo

DEL dentro do autismo, e que as dificuldades linguísticas observadas em pessoas com esse

transtorno devem ser atribuídas a outro fator.

A segunda hipótese testada por Whitehouse e colaboradores (2008) indica que

crianças com autismo apresentam déficits na repetição de pseudopalavras devido a uma

dificuldade de planejamento dos movimentos oral-motores. Os resultados da pesquisa, no

entanto, não sustentaram essa hipótese, uma vez que ambos os subgrupos (autismo, com e

sem déficits na repetição de pseudopalavras) apresentaram resultados similares nas tarefas de

sequências oral-motoras.

A terceira hipótese sugere que o déficit linguístico, incluindo a dificuldade na

repetição de pseudopalavras, está associado a uma maior severidade em pelo menos, um ou

mais domínios das três características centrais do autismo. Eles levantaram essa hipótese à

partir de um estudo anterior conduzido por Whitehouse e colaboradores (2007). Os autores

avaliaram o mesmo grupo de sujeitos analisados para comprovar ou descartar tanto a segunda

como a terceira hipótese. Especificamente para analisar a terceira hipótese utilizaram o Social

Communication Questionnaire (SCQ)6 (RUTTER; BAILEY; LORD, 2003). Dessa forma

puderam identificar diferenças sintomatológicas entre o grupo de crianças com e sem déficits

na repetição de pseudopalavras. Todas as crianças do grupo que tiveram desempenho inferior

6 O SCQ é um questionário, baseado no Autism Diagnostic Interview-Revised (LORD, RUTTER, & LECOUTEUR,

1994), que contém 40 itens, divididos em três sub-escalas que avaliam (1) interação e reciprocidade social; (2)

comunicação e (3) padrões de comportamentos estereotipados e repetitivos e interesse restritos.

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30

nas tarefas de repetir pseudopalavras obtiveram escores de 50% ou mais em duas ou mais das

sub-escalas do teste, comparada com o grupo que não tinha dificuldade na repetição de

pseudopalavras, que obtivera escores de 45%. Isso significa que foi sobre esta terceira

hipótese que o Whitehouse e colaboradores, em 2008, confirmaram que a alteração na

repetição de pseudopalavras por parte de crianças com autismo, que apresentam déficits

linguísticos se devia a presença de vários sintomas do autismo, significativamente severos,

que estariam atuando juntos. Em outras palavras, as crianças com alterações na repetição de

palavras, eram as que tinham mais probabilidade de apresentar graus significativos de déficits

em mais de um dos três domínios principais do autismo.

Eigsti e Bennetto (2009) salientam que o desenvolvimento sintático acontece mais

lentamente em pessoas com TEA ou, ainda, que tem início mais tarde, entretanto observaram

que essas crianças podem alcançar um desenvolvimento comparável ao das pessoas que

apresentam desenvolvimento típico. Varanda e Fernandes (2014), por exemplo, identificaram

atrasos no desenvolvimento da consciência sintática de 10 crianças com TEA, que tinham, em

média, 9 anos e linguagem oral preservada. Neste estudo, os pesquisadores acharam

indicações de que essas crianças acompanhavam o padrão de desenvolvimento em

consciência sintática de indivíduos com desenvolvimento típico de seis anos de idade, porém

com atraso.

Outra alteração da linguagem tipicamente evidenciada em pessoas com TEA é a

ecolalia, que pode se manifestar como imediata ou tardia. O primeiro tipo são as repetições

que se produzem imediatamente ou num período muito breve após ter ouvido o modelo

repetido. A tardia diz respeito às repetições produzidas num período de tempo

significativamente longo depois de ter ouvido o modelo. Alguns autores, dentre eles

Schreibman; Carr (1978) consideravam a ecolalia como uma simples repetição vazia, sem

sentido e sem nenhuma função aparente, da mesma forma que era considerado em crianças

com desenvolvimento típico. Entretanto, outros autores como, por exemplo, Fay (1973);

Shapiro (1977); Prizant e Duchan (1981) e Prizant e Rydell (1984) reconhecem a ecolalia

como uma tentativa de comunicação social, mesmo que rudimentar utilizada quando não se

alcançou determinada competência linguística. Violette e Swisher (1992) estudaram uma

criança com autismo e ecolalia utilizando duas variantes: estilo direcionado pelo adulto:

altamente ou minimamente e palavras: conhecidas ou desconhecidas, combinando-as nas

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quatro possíveis situações. A criança produziu significativamente mais imitações imediatas na

situação de palavras desconhecidas introduzidas de um modo altamente direcionado e

estruturado pelo adulto que nas outras três condições. Segundo os autores, desta maneira

ficou demonstrado uma interação entre o input social e linguístico, pelo menos para essa

criança. Ou seja, que a ecolalia foi fruto da falta de compreensão.

Outra carateristica muito observada em crianças e adultos com autismo são as

dificuldades, de graus variados, no aspecto pragmático da linguagem, ou seja, no uso social

da linguagem. Estas caraterísticas são consideradas por vários autores como centrais das

alterações observadas no autismo, Perissinoto (2003); Tager-Flusberg, (2006); Fernandes

(1994); Marchena; Eigsti (2010) dentre outros. Desta forma, indivÍduos apresentam

dificuldades em mudar estilo da linguagem segundo os diferentes ambientes e interlocutores o

exijam. Além disso, muitas crianças e adultos apresentam compreensão literal da linguagem,

apresentando déficits em compreensão de mensagens mais abstratos como pode ser uma

piada, ou um duplo sentido.

Cabe remarcar que, embora as dificuldades na comunicação social sejam uma das

principais características das crianças com TEA, não é possível determinar um único padrão

linguÍstico para todas elas, devido a heterogenidade do grupo, em termos de severidade de

sintomas.

1.2.3 Leitura em Crianças com TEA

A literatura científica indica que as habilidades de leitura em crianças com TEA são

relativamente boas ou melhores na decodificação (habilidades do código) do que na

compreensão (MINSHEW, et al, 1994; FRITH, 2003; DAVIDSON; ELLIS WEISMER

2014). Isso significa que esses indivíduos são capazes de decodificar de forma precisa, mas

não necessariamente compreender o conteúdo expresso. Esse fenômeno tipicamente ocorre

porque: (a) desconhecem o significado das palavras chave; (b) não compreendem os

conceitos expressos; (c) falham em fazer inferências; (d) são incapazes de fazer relações com

conhecimentos prévios; (e) apresentam dificuldades em monitorar a compreensão e/ou (f)

compreender e resolver referências anafóricas; (O’CONNOR; KLEIN, 2004; JUSTICE;

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KADERAVEK, 2004; NATION, et al, 2006; BROWN et al, 2013; WESTBY, 2011; VAN

KLEEN, 2008; LUCAS, NORBURY, 2015)

Até o presente, a literatura científica se baseia em três pressupostos teóricos para

explicar as atipicidades que indivíduos com TEA manifestam na compreensão da leitura

(GATELY, 2008): (a) Teoria da Mente; (b) Teoria da Função Executiva e (c) Teoria da

Coerência Central.

(a)- O primeiro modelo sugere que a pessoa com autismo apresenta uma Teoria da

Mente (capacidade meta-representacional) deficitária. Premack e Woodruff, (1978 apud

FRITH; HAPPE, 1994) definiram como Teoria da Mente:

[...] habilidade mental de atribuir estados mentais a si mesmo e a outros

indivíduos, ou seja, saber que outras pessoas sabem, querem, sentem ou

acreditam em coisas com a finalidade principal de compreensão e predição de

seus comportamentos (BARON-COHEN; LESLIE; FRITH, 1985 p.38)

Ou seja, a capacidade para atribuir crenças, desejos, intenções a si próprio e aos

outros. Nessa perspectiva, compreender que os outros podem pensar atuar e ter ideias

diferentes das nossas.

Com base no trabalho de Premack e Woodruff (1978 apud FRITH; HAPPE, 1994)

sobre chimpanzés e Teoria da Mente, Leslie, Baron Cohen e Frith realizaram, em 1985, um

estudo sobre falsa crença em crianças com autismo (FRITH, HAPPE, 1994). Os autores

utilizaram o teste de transferência inesperada, elaborado por Wimmer e Perner (1983 apud

REJENDRAN; MITCHELL, 2007) em 20 crianças com autismo de alto funcionamento com

idade cronológica média de 11 anos e idade mental superior ao grupo controle, composto por

14 crianças com síndrome de Down e 27 crianças com desenvolvimento típico em idade pré-

escolar. Como consequência, nesse modelo, o indivíduo com TEA apresentaria prejuízos na

compreensão da leitura por apresentar déficits particularmente na compreensão de estados

mentais dos personagens e dificuldades em fazer predições /inferências sobre as ações dos

mesmos (BARON-COHEN, 1989; CARNAHAN; WILLIAMSON 2010; WILLIAMSON et

al., 2009, apud EL ZEIN, 2014).

Embora a Teoria da Mente deficitária possa elucidar os déficits nas áreas de interação

social, comunicação e brincadeira, falham em explicar repertórios de interesses restritos, as

condutas obsessivas, dentre outras atipicidades (FRITH, HAPPE, 1994; HAPPE, 1994;

HAPPE, 1999).

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(b)- A Teoria das Funções Executivas proposta por Ozonoff e colaboradores (1991,

apud BOSA, 2000) sugere que a sintomatologia autista pode ser explicada por déficits em

funções executivas. Esse fenômeno seria resultante das diferenças na atividade do lobo frontal

do cérebro, que resulta em dificuldades de flexibilidade, planejamento e auto-monitoramento.

De forma específica, a parte anterior do córtex (pré-frontal) é

responsável pela capacidade de planejamento e desenvolvimento de estratégias

para atingir metas, o que requer flexibilidade de comportamento, integração de

detalhes num todo coerente e o manejo de múltiplas fontes de informação,

coordenados com o uso de conhecimento adquirido (KELLY, BORRILL E

MADDELL, 1996 apud BOSA, 2000, p. 281).

Frente à observação de comportamentos similares, entre sujeitos que apresentavam

sintomas de disfunção pré-frontal (cortical) e sujeitos com autismo, se construiu a hipóteses

de déficits nas funções executivas como possível explicação para o autismo (BOSA, 2001;

RAJENDRAN; MITCHELL, 2007). Ozonoff, Rogers e Pennington (1991) constataram, com

base em estudos conduzidos, que, nem todos os indivíduos com autismo de alto

funcionamento e síndrome de Asperger apresentavam déficits na Teoria da Mente, mas todos

foram incapazes de realizar, com proficiência, dois testes que avaliam as funções executivas,

o Teste Wisconsin de classificação de cartas (Wisconsin Card Sorting Test7- WCST8) e Torres

de Hanói). Baseados nestes resultados, os autores sugeriram que déficits nas funções

executivas eram a causa primária do autismo. (FRITH; HAPPE, 1994).

Segundo Ozonoff e colaboradores (1991 apud FRITH; HAPPE, 1994.), esses déficits

influenciam no desenvolvimento cognitivo que, por sua vez, pode afetar a habilidade dos

indivíduos de compreender efetivamente os textos escritos.

(c)- O terceiro pressuposto teórico é derivado do modelo da Teoria da Coerência

Central, que diz respeito ao estilo cognitivo de processamento focado em detalhes,

tipicamente presente em pessoas com TEA.

Segundo Frith (1989) tanto os déficits como as potencialidades no autismo, se

explicariam pela mesma causa a nível cognitivo, propondo, nas palavras da autora, que: “o

7 Instrumento psicológico frequentemente utilizado na avaliação das funções executivas: planejamento, flexibilidade

do pensamento, memória de trabalho, monitoração e inibição de perseverações. (Silva Filho, 2007) 8 Para resolvê-lo é necessário o planejamento e a execução de uma sequência de etapas lógicas e o estabelecimento

de um objetivo final.

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autismo se caracteriza por um desequilíbrio específico na integração da informação nos

diferentes níveis”. (FRITH; HAPPE, 1994).

Assim sendo, enquanto que indivíduos com desenvolvimento típico tendem a

processar informações de forma global, integrando as partes a um todo, característica

denominada por Frith (1985) de coerência central; indivíduos com autismo apresentam

processamento focado nas partes, ou seja, processando a informação a partir dos detalhes

dessa unidade, demonstrando falta ou deficitária coerência central. (FRITH, HAPPE, 1994;

RAJENDRAN; MITCHELL, 2007; JARDIM PEREIRA, 2010).

A coerência central pode ser observada na capacidade de compreender a ideia

principal de um texto lido, mesmo esquecendo alguns detalhes; ou entender o significado de

uma sentença, mesmo que ela tenha uma palavra ambígua (ex: manga, referindo-se à fruta e

não a parte de um vestuário)

Com o passar do tempo, a teoria original de Frith (1989) sofreu algumas

modificações, como por exemplo, (a) o processamento focado nas partes e não no todo é

agora considerado um estilo cognitivo e não um déficit; (b) o processamento local é

considerado como sendo superior ao processamento global e não, este último, considerado

deficitário e (c) que a coerência central deficitária pode se manifestar junto com os déficits

sociais, mas não podem explicar os mesmos (HAPPE; FRITH, 2006).

Nesta perspectiva, o indivíduo com TEA não consegue destacar a ideia principal num

texto, o que resulta em dificuldades para resumir, organizar, recontar uma estória, e fazer

predições sobre estórias lidas. (HAPPE, 2005; HAPPE; FRITH 2006, BOOTH; HAPPÉ,

2010).

Os três modelos teóricos supracitados visam explicar as razões que levam indivíduos

com autismo a apresentar dificuldades em organizar, conectar, e monitorar o conteúdo de um

texto. Adicionalmente, é primordial compreender situações sociais dentro das estórias, assim

como os estados emocionais dos personagens. (BARON-COHEN 1989; OZONOFF et al.

1991; WILLIAMSON et al. 2009, apud EL ZEIN, 2014).

Assim sendo, uma das hipóteses sustentada por Brown e colaboradores (2013), e

corroborada por White et al (2009) é que se evidenciam diferenças no desempenho dos

indivíduos com TEA com relação aos tipos de textos a serem lidos. Em outras palavras, os

autores notaram que quando eram lidos textos com menos demanda sobre conhecimento

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social, os níveis de compreensão leitora eram mais elevados que nos casos em que a demanda

exigida ao leitor incluía a compreensão de inferências, predições e conhecimento prévio

acerca de situações sociais.

1.3- PROGRAMAS DE INTERVENÇÃO EM LEITURA

1.3.1 Leitura Dialógica

Ler livros para crianças é uma atividade fundamental e, talvez, a mais importante para

o desenvolvimento posterior da leitura (DIXON-KRAUSS; JANUSZKA; CHAN-HO CHAE,

2010; SNOW, C. E.; BURNS, M. S.; GRIFFIN, P. 1998; LONIGAN, C. J. 2002; KATIMS,

1994; FONTES; CARDOSO-MARTINS, 2004; CARMINATO CONTI, 2013). A Leitura

Dialógica (tipo de Leitura Compartilhada) é um modelo interativo de leitura baseado em

pesquisas de Holdaway (1979 apud WHALON, 2013). Trata-se de um modelo que visa o

desenvolvimento de habilidades da linguagem oral, essenciais para a compreensão de leitura

(e.g. desenvolvimento do vocabulário, pensamento critico, fazer inferências e predições)

(HOGAN et al., 2011). Configura-se como uma atividade social, com o objetivo de estimular

a participação ativa da criança (PENIMONTI; JUSTICE, 2010). Desse modo, ela e o adulto

conversam sobre a estória do livro que estão lendo apresentando uma variedade de gêneros

literários, que estimula a criança a se converter em leitor. O adulto emprega estratégias que

favorecem a emissão de respostas e iniciativas de interação na criança (ZEVENBERGEN;

WHITEHURST, 2003; WHALON et al., 2013; WHALON et al., 2015). Deste modo, através

de perguntas de diferentes tipos e comentários o adulto guia ativamente a criança nas

estratégias que um bom leitor utiliza para compreender um texto. A criança ao responder e ao

iniciar comentários ou perguntas vai desenvolvendo as habilidades da linguagem oral,

necessárias para o sucesso da compreensão leitora (HOGAN et al., 2011). Este tipo de

intervenção utiliza a leitura repetida (repeated reading) criando assim uma atividade de

rotina, num ambiente contextualizado, previsível para as crianças, mas, ao mesmo tempo,

interessante e surpreendente, que o converte numa situação ideal para o desenvolvimento da

linguagem (BELLON-HARN; HARN, 2008).

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Nesse tipo de leitura, o adulto segue a estratégia PEEP, do Inglês, que significa

(prompt, evaluate, expand, praise). Em outras palavras, ele fornece dicas (prompt), depois

avalia a resposta dada (evaluate), em seguida expande a resposta da criança (expand) e, por

fim, elogia (praise). A sequência de instrução, PEEP começa com um estímulo inicial, como,

por exemplo, o adulto fazendo uma pergunta. Se a criança responde incorretamente ou não

responde, é apresentado um apoio visual contendo três imagens (uma das opções

correspondendo à resposta correta). Se, ainda assim, a criança der uma resposta incorreta ou

nenhuma resposta, uma das imagens é coberta, convertendo-se assim em uma opção binária.

Se de todos os modos, a criança não responde corretamente, se apresenta um “modelo direto”,

onde é pedido à criança repetir esse modelo. Se ainda assim, a criança não consegue imitar ou

apontar para a resposta correta, a mão da criança é colocada sobre a imagem correspondente a

resposta correta. Em qualquer nível da hierarquia de dicas que a criança emita uma resposta

correta, o adulto deverá, de acordo com o protocolo, expandir a resposta da criança,

parafraseando e ampliando, para depois reforçar.

Nesse contexto, ele formula diferentes tipos de perguntas de fato e inferenciais,

seguindo o acrônimo do Inglês, CROWD- Completition (Completar), Recall (Evocar), Open

end (Final Aberto), Wh- (Qu), Distancing (distanciamento) (HOGAN et al., 2011;

WHITEHURST; LONIGAN, 1998; WHALON et al., 2013).

É interessante observar que esse modelo é ancorado nos pressupostos da mediação

descritos por Vygotsky. Uma ideia fundamental no trabalho deste autor é o papel do meio

social no desenvolvimento da criança. Nos seus estudos ele alegava que a funções

psicológicas superiores se adquirem através das relações sociais e que a criança se desenvolve

na interação com o mundo que a rodeia (VIGOTSKI, 1991). Um dos princípios básicos de

sua teoria é o conceito de "zona de desenvolvimento proximal" (VIGOTSKI, 1991). O autor

parte do pressuposto de que há, no indivíduo, dois níveis diferentes de desenvolvimento: (a)

um efetivo (real) que se refere ao que a criança consegue resolver por si mesma, sem nenhum

tipo de mediação de outra pessoa; e (b) um potencial, que se caracteriza por aquilo que a

criança não consegue, ainda, fazer sozinha, mas conquista com o auxílio de outra pessoa, seja

um adulto (pais, professor, responsável) ou um colega que já possua a habilidade requerida. A

distância entre o nível de desenvolvimento real, e o nível de desenvolvimento potencial é a

zona de desenvolvimento proximal. (VIGOTSKI, 1991)

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Scaffolding é um processo que permite a criança solucionar um problema, realizar

uma tarefa ou alcançar um objetivo que sozinho, ou seja, sem um mediador não conseguiria

(WOOD; BRUNER; ROSS, 1976 apud SMIT; EERDE; BAKKER 2012). Esse suporte,

inicialmente descrito na interação de díades (mães e bebês) nos estudos de aquisição da

linguagem, é temporário e exige a adaptação do adulto, que irá gradualmente diminuindo o

auxílio à medida que a criança alcança maior independência na tarefa (SMIT; EERDE;

BAKKER, 2012). A estratégia do scaffolding tem analogia com a zona de desenvolvimento

proximal de Vigotski, quando alguém mais experiente funciona como mediador auxiliando a

criança nas aprendizagens.

A Leitura Dialógica utiliza o scaffolding, uma vez que tem como base a participação

do mediador durante a leitura. Através das perguntas, o leitor avalia o desenvolvimento da

criança, que responde sem ajuda se a sua compreensão estiver no seu nível de

desenvolvimento. Caso a criança não consiga responder sozinha, o adulto proporciona ajuda,

dicas, e não a resposta correta. Dessa forma, o adulto avalia a zona de desenvolvimento

proximal da criança, auxiliando-a com os diferentes níveis de ajuda (segundo a necessidade

da criança) na compreensão oral da leitura, diminuindo gradativamente o nível de ajuda até

que a criança consiga responder sozinha.

A Leitura Dialógica foi descrita pela primeira vez por Whitehurst et al., (1988). A

fundamentação teórica na qual os autores se basearam foi que implementar durante a leitura

de livros de histórias a prática no uso da linguagem e o feedback do adulto nas interações

guiadas por meio de scaffolding fomentariam o desenvolvimento da linguagem na criança.

(ZEVENBERGEN; WHITEHURST, 2003). Wells, em seu estudo desenvolvido em 1985

com 32 crianças típicas, demonstrou uma correlação significativa entre a exposição precoce a

livros e o desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita, assim como a linguagem oral.

De forma específica, esses autores observaram que a quantidade/frequência de leitura de

livros que os pais realizavam com seus filhos de 1 a 3 anos positivamente impactavam as

habilidades da leitura, escrita e linguagem oral aos 5 anos e a compreensão leitora na idade de

7 anos.

Whitehurst e colaboradores, (1988) desenvolveram um estudo com 30 crianças de

entre 21 e 35 meses de idade e desenvolvimento típico para testar experimentalmente a

hipótese de que a leitura de livros por parte dos pais tem efeitos diretos e imediatos na taxa

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(frequência/quantidade) de aquisição da linguagem das crianças. Dividiram as crianças em

dois grupos, um experimental e um de controle. O grupo experimental participou de um

programa de tratamento de quatro semanas que capacitando aos pais a modificar em

frequência e tempo a maneira em que eles falavam/estimulavam seus filhos durante a

contação de histórias nos lares. O grupo controle foi também exposto a historias, mas os pais

não foram instruídos a realizar modificações nos seus comportamentos.

Os resultados revelaram uma relação causal direita entre as atividades relacionadas à

leitura-escrita no lar da criança e o desenvolvimento da linguagem. Nesse estudo, os autores

comprovaram experimentalmente que a forma com que os pais falam com seus filhos durante

a contação de histórias afeta o desenvolvimento da linguagem. O programa interventivo

proposto pelos referidos autores incluía estratégias como: 1- Encorajar as crianças a falarem

mais através do uso de perguntas que comecem com onde / que / quem /quando /por quê? E

perguntas de final aberto (ex: o que pode acontecer?) 2- Repetir e expandir de forma mais

frequente as falas das crianças, 3- Elogiar e dar feedback corrigindo as falas das crianças.

Segundo os autores os resultados do estudo atribuem um papel importante a participação ativa

da criança (por intermédio das respostas às perguntas dos pais).

1.3.2 Programas de Compreensão da leitura textual e crianças com TEA

O National Reading Panel (Comissão Nacional de Leitura dos Estados Unidos, 2002),

revela que os programas de leitura que evidenciam boa evidência cientificam, comportam

cinco componentes essenciais da instrução da leitura, que incluem (a) consciência fonêmica;

(b) consciência fônica; (c) fluência na leitura; (d) vocabulário e (e) estratégia de

compreensão. Apesar desses componentes serem considerados efetivos para o

desenvolvimento da leitura em crianças com desenvolvimento típico, poucos estudos

descrevem seus efeitos em populações com autismo (VAUGHN; FLETCHER, 2012, apud EL

ZEIN et al, 2014).

Farah El Zein e colaboradores (2014) revisaram a literatura e fizeram uma síntese de

12 estudos publicados entre 1980 e 2012 sobre intervenções em compreensão leitora em um

total de 110 crianças entre sete e 17,5 anos que apresentavam TEA. Nesse estudo, quatro

categorias de análise foram construídas a partir das nove estratégias de intervenção

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encontradas nos 12 estudos escolhido. Essas estratégias incluíam 1- estratégias de ensino, 2-

identificação de anáforas, 3-instrução explicita, 4-prática em grupos cooperativos de

estudantes.

Em termos de estratégia de ensino, a primeira categoria analisada, quatro

procedimentos instrucionais se destacaram: (a) o programa de relação pergunta-resposta

(ASBERG; SANDBERG, 2010); (b) a intervenção de pergunta recíproca (WHALON;

HANLINE, 2008); (c) Atividades de pensamento de leitura dirigida (VAN RIPER, 2010) e

(d) organizador gráfico do mapa da estória (STRINGFIELD et al. 2011). O quadro 1. abaixo

exemplifica cada uma dessas estratégias:

Quadro 1: Estratégias de ensino: quatro procedimentos instrucionais.

Programa de relação pergunta-

resposta

Os pesquisadores modelam as estratégias utilizadas no

desenvolvimento de perguntas sobre o texto, para depois

classificá-las segundo o tipo de pergunta, por exemplo,

“aqui”, “refletir e buscar”, “fazer de forma

independente”

Intervenção de pergunta recíproca O professor modela estratégias para a elaboração de

perguntas acerca do texto e de sua classificação segundo

seu tipo (fatos-inferenciais, etc.)

Atividades de pensamento de leitura

dirigido

Duplas formadas por uma criança com desenvolvimento

típico e uma criança com TEA, que se revezam na leitura

de uma estória em voz alta e na elaboração de perguntas

sobre o texto. O professor explica previamente os

elementos de uma estória (lugar, personagens, problema,

solução, etc.) e, guia os alunos (durante a intervenção),

pelo processo mental de como gerar perguntas,

utilizando diversas estratégias visuais e manipulativas

(lista de auto-monitoramento, cartões com os elementos

da estória, cartões com as palavras das perguntas, etc.).

Organizador gráfico do mapa da Cada indivíduo lê a estória e completa um questionário

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estória que é apresentado oralmente. O mapa da estória funciona

como organizador que auxilia os estudantes a organizar

visualmente os elementos gramaticais da estória.

A segunda categoria, a identificação de anáforas é um método que ajuda na

compreensão leitora através da identificação de palavras de referência (anáforas) dentro de

um texto (CAMPBELLl, 2010 apud El ZEIN, 2014; O’CONNOR; KLEIN, 2004). Nesse

modelo, algumas palavras referentes, como, por exemplo, os pronomes são sublinhados e o

participante deve identificar com qual substantivo esse pronome está relacionado dentre duas

opções apresentadas. Outro tipo de facilitação é completar com uma palavra os espaços em

branco das sentenças no texto que foi alterado.

Na terceira categoria, instrução explicita, (FLORES; GANZ, 2007; GANZ;

FLORES, 2009; KNIGHT, 2010) os pesquisadores seguem um conjunto de procedimentos

estruturados no programa de intervenção direta. Os procedimentos são: (a) fornecer

instruções em forma de script; (b) instruir os estudantes a responderem em uníssono; (c)

utilizar um sinal explícito para evocar a resposta do aluno; (d) corrigir as respostas incorretas

dos alunos; e (e) modelar, guiar, e favorecer a prática independente.

Por fim, na quarta categoria, prática em grupos de estudantes, (KAMPS et al.

1992a, 1994b, 2015c) os pesquisadores utilizam diferentes formas de agrupamento dos

educandos como os grupos de aprendizagem cooperativo (entre crianças com

desenvolvimento típico e crianças com TEA e a tutoria feita pelos pares da sala de aula.

Nesta quarta categoria, a tutoria é feita com uma criança com desenvolvimento típico, que

fornece instruções diretas sobre a tarefa a ser realizada, modelando e incentivando o aluno

com TEA. Durante as sessões de leitura, o tutor pede para seu colega com TEA ler em voz

alta, registra o número de palavras por minuto lidas correta e incorretamente e lhe faz

perguntas sobre fatos da passagem lida. Os tutores são instruídos a reforçar as respostas

corretas.

A análise dos achados desta síntese sugere que as estratégias de ensino, a prática de

agrupar alunos e a instrução direta, previamente descritas, são práticas interventivas que

geram resultados promissores. Adicionalmente, a literatura aponta que estratégias cognitivas,

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41

como fazer perguntar, encontrar a ideia principal de um texto, resumir, e identificar anáforas

podem favorecer a compreensão leitora de estudantes com TEA (El ZEIN et al., 2014).

Conforme previamente salientado, a literatura mostra que grande parte dos estudantes

com TEA manifestam uma combinação paradoxal, de uma adequada habilidade na

identificação de palavras e uma compreensão leitora pobre (FLEURY, et al., 2014; LANTER

et al., 2012, WHALON et al., 2013). Esta evidencia sugere que muitos dos estudantes com

TEA podem ler adequadamente, mas apresentam níveis baixos de compreensão leitora

(FRITH; SNOWLING 1983; MINSHEW et al. 1994; O’CONNOR; KLEIN 2004;

SNOWLING; FRITH, 1986). Entretanto, outros estudos revelam que crianças com TEA

apresentam melhoras nas habilidades de leitura se são estimuladas em programas

interventivos que contemplem tanto as habilidades com foco no código (consciência

fonológica, consciência fônica, fluência) como as de significado (vocabulário e compreensão)

(LANTER; WATSON, 2008; CATTS; ADOLF; ELLIS WEISMER, 2006). Ou seja,

utilizando programas que contemplem os 5 componentes que a Comissão Nacional de Leitura

dos Estados Unidos (2000) destaca.

• RECALL

RECALL (do inglês, Reading to Engage Children with Autism in Language and

Learning) é um programa de intervenção que tem como objetivo desenvolver a comunicação

e as habilidades de leitura em crianças com TEA. Neste programa a intervenção ocorre em

um contexto onde um contador de histórias (professor/cuidador) e uma criança/ou grupo de

crianças lêem e relêem livros criteriosamente selecionados (WHALON et al., 2013). O

programa é ancorado no modelo de Leitura Dialógica (LD), uma prática interventiva de

Leitura Compartilhada (LC).

No programa RECALL são utilizadas estratégias da LD e práticas interventivas

baseadas em evidencias empíricas, destinadas a indivíduos com TEA.

Neste modelo de intervenção os livros são criteriosamente selecionados e lidos

durante vários dias. Segundo Pentimonti Justice e Piastra (2013, apud WHALON, 2015 e

JUSTICE; PULLEN, 2003) a Leitura Compartilhada deve incluir múltiplas leituras do mesmo

livro. A cada duas páginas (1-2; 3-4; 5-6) são preparados cartões de perguntas e um

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42

conjunto de três imagens para as respostas, sendo uma delas a correta. Preparam-se três

conjuntos de perguntas e respostas diferentes por páginas para serem utilizados um conjunto

diferente, para cada um dos três dias. As autoras explicam que nas pesquisas realizadas,

utilizando o RECALL, os apoios visuais são plastificados e encadernados para facilitar seu

uso, e que são colocados pequenos adesivos de diferentes cores para relembrar quando

utilizar as diferentes dicas.

Uma das dificuldades que crianças com autismo apresentam é a habilidade de fazer

perguntas (WHALON et al., 2015). Sendo assim, o cartão de pergunta é usado em

determinados momentos da leitura para relembrar a criança de perguntar. Em outras palavras,

a criança é estimulada a responder em algumas ocasiões e a perguntar em outras.

O programa RECALL pode ser utilizado tanto com crianças que se encontram no nível

das primeiras palavras (equivalente às habilidades comunicativas que crianças com

desenvolvimento típico alcançam entre 12 e 18 meses) como com crianças que se encontram

na etapa da combinação de palavras-frases simples (equivalente a habilidades comunicativas

que crianças com desenvolvimento típico alcançam entre 18 e 30 meses). As características

das duas etapas comunicativas estão descritas no quadro 2 abaixo:

Quadro 2: Características das duas etapas comunicativas.

ETAPAS

COMUNICATIVAS

CARACTERÍSTICAS

1º Nível

PRIMEIRAS

PALAVRAS

Poder nomear, identificar, solicitar objetos e/ou eventos tanto em

contexto como fora do dele; pelo menos algumas palavras são faladas

de forma inteligível; uso espontâneo de palavras em contextos variados,

com diversas pessoas e com diferentes propósitos.

2º Nível

COMBINAÇÃO DE

PALAVRAS

Compor frases de 2–3-palavras, uma variedade de elementos da fala,

como por exemplo, substantivos, verbos; combinação criativa de

palavras; comunicação para uma variedade de propósitos (perguntar,

comentar, responder, etc.)

Fonte: adaptação de WHALON et al., (2013)

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43

Outra sequência de instrução adaptada da (LD) que o RECALL utiliza, é o CROWD

(Completion, Recall, Open-ended, Wh-questions, and Distancing), que consiste em cinco

tipos de estímulos de perguntas para incentivar a participação ativa da criança.

1- Completar –O adulto deixa um espaço em branco ao final da sentença para a

criança preencher. Em geral, este tipo de estímulo é utilizado com livros que são altamente

previsíveis ou que incluem rimas / frases repetitivas.

2- Relembrar- são questões acerca do que aconteceu na história que está sendo lida.

3-Perguntas de Final Aberto- É perguntado à criança o que está acontecendo na estória

do livro.

4- Perguntas que comecem com: o que, onde, quando, quem, por que, como; tendo

como objetivo utilizar vocabulário da estória.

5- Distanciamento- Perguntas que ajudem a criança a relacionar informação do livro

com suas próprias experiências.

Exemplos dos cinco tipos de estímulos /perguntas (prompts) nos dois níveis

comunicativos são exemplificados no quadro 3 abaixo:

Quadro 3: Tipos de estímulos nos dois níveis comunicativos.

TIPOS DE ESTÍMULOS

(PROMPTS)

1er nível de etapas

comunicativas

2do nível de etapas

comunicativas

EXEMPLOS

EXEMPLOS

Completar

Frase repetitiva: “tinha a calça

suja, tinha a meia suja tinha a

mão ...

Frase repetitiva ou frase

previsível: no domingo ele...

na segunda ele... na terça

ele...na ...

Relembrar

Se exigem resposta simples:

“sobre o que subiu o menino?”

Se exigem respostas mais

elaboradas: “o que fez o

menino na quarta?”

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44

Perguntas com Final aberto “me fale o que está

acontecendo no desenho?”

Me fale o que está

acontecendo no desenho.

Perguntas que comecem

com: que? onde? quando?

quem? por que? como?

Perguntas sobre vocabulário

do livro, Expressivas: o que é

isso aqui? (apontando para o

desenho). Receptivas: aponte

o gatinho

Perguntas de vocabulário:

idem nível 1,

Perguntas de fatos: o que

comeu o gatinho?

Perguntas de inferência: o que

você acha que o menino vai

fazer depois?

Distanciamento

Respostas curtas com

seguimento? Alguma vez você

quebrou alguma coisa como o

gatinho quebrou? O que você

quebrou?

Quando você fez a bagunça

que o gatinho fez?

Fonte: adaptação de WHALON et al, (2013)

Fazer inferências é um requisito fundamental à compreensão da leitura (WHALON et

al., 2013; WESTBY, 2012; VAN KLEECK, 2008). A literatura mostra que as dificuldades

em realizar inferências causam dificuldades na compreensão leitora (CAIN e OAKHILL,

1999). Considerando que crianças com TEA tipicamente encontram prejuízos nessa

habilidade, um dos focos do RECALL é capacitar a criança a fazer inferências.

Da sequência CROWD, a Wh, ou seja, as perguntas que começam com: que? Como?

Quem? Onde? foi expandido além da estimulação do vocabulário, para incluir perguntas que

estimulam o uso de inferências, habilidade nas quais crianças com autismo apresentam

dificuldades. Estas perguntas têm como foco as habilidades de inferência necessárias para a

compreensão leitora e ênfase emocional, por exemplo: motivação: por que está triste?,

predição: o que acontecerá depois?, (VAN KLEECK, 2008).

O RECALL emprega, ainda, outras quatro estratégias que visam estimular a atenção

compartilhada, a reciprocidade social e as inferências (WHALON et al., 2013). Essas

estratégias incluem a identificação da emoção, a manutenção da atenção, a pausa intencional

e o uso de cartões para gerar/iniciar perguntas.

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Na primeira estratégia (identificação da emoção), a criança é orientada a identificar

como um personagem do texto está se sentindo. Esta dica foi acrescentada devido às

dificuldades que crianças com TEA apresentam para reconhecer e compreender os

sentimentos dos outros, tanto na linguagem oral como na escrita. Por exemplo: como você

acha que o gatinho está se sentindo?

A manutenção da atenção, a segunda estratégia descrita, é utilizada para estabelecer

atenção compartilhada e a iniciação. Assim, o adulto pode apontar para um desenho no texto

e exclamar "olha!", incentivando a criança a focar a sua atenção em um determinado

estímulo. A pausa intencional, por sua vez, é utilizada para encorajar as iniciativas de

interação da criança. Assim, antes ou depois de o leitor virar a página do livro, ele pausa por

um tempo de 3 a 5 segundos, enquanto olha de forma atenta para a criança, encorajando uma

iniciação.

Adicionalmente, considerando as dificuldades nas habilidades de tomada de turno, por

parte das crianças com TEA, no RECALL, o adulto apresenta modelos de como iniciar e como

responder as iniciativas comunicativas.

O programa RECALL emprega estímulos verbais e visuais para manter a atenção

compartilhada das crianças. Os apoios visuais auxiliam tanto na linguagem expressiva como

receptiva. Segundo Prizant e Wetherby (2005) os apoios visuais são uma ferramenta de

instrução efetiva para as crianças com TEA, também sendo encorajadores da atenção

compartilhada (PATTEN; WATSON, 2011).

Até a atualidade 2 estudos foram publicados com o objetivo de avaliar a eficácia do

RECALL (WHALON et al., 2015, WHALON et al., 2016). Na primeira investigação, o

programa foi implementado, com sucesso, em quatro crianças norte-americanas com TEA de

quatro anos de idade e que apresentavam compreensão e uso da linguagem verbal limitada.

Os participantes tiveram aumento do vocabulário, melhoras na compreensão e três deles,

aumento das iniciativas comunicativas. O estudo publicado em 2016 teve como participante

uma criança de quatro anos e agente de intervenção uma cuidadora. Os resultados dessa

pesquisa indicaram que o programa foi efetivo para aumentar a frequência de respostas

corretas do menino.

Mais recentemente, conforme salientado no capítulo introdutório desse manuscrito, foi

publicado, no Brasil, um estudo que utilizou um programa de Leitura Dialógica com

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adaptações do Recall, (QUEIROZ, 2017). O objetivo do presente estudo foi, portanto, ampliar

os achados de Whalon et al. (2015), Whalon et al. (2016) e Queiroz (2017), avaliando os

efeitos do programa Recall adaptado, implementado pelo cuidador, na compreensão oral da

leitura de uma criança com TEA.

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47

CAPÍTULO 2

2 - METODOLOGIA

2.1. Participantes

Participaram deste estudo uma criança com diagnóstico de autismo e seu cuidador

primário (mãe). A forma de seleção da díade foi por conveniência. De acordo com Gil (2008)

esse tipo de amostra ocorre quando o pesquisador seleciona os elementos/indivíduos

participantes da pesquisa por considerá-los representativos do total da população (amostra).

Assim sendo, é o menos rigoroso dos diferentes tipos de amostragem.

O recrutamento dos participantes ocorreu por meio de um “panfleto”, descrevendo os

objetivos e requerimentos do estudo, postado na sala de espera do Serviço de Psicologia

Aplicada (SEPA) da Universidade de Rio Grande do Norte. Esse local foi intencionalmente

escolhido por oferecer atenção a uma comunidade heterogênea, advinda de níveis

socioeconômicos e acadêmicos distintos. Foi acordado que a primeira díade, que contatasse a

pesquisadora e que atendesse aos requerimentos da pesquisa, seria selecionada.

Os critérios de inclusão da díade para o estudo foram: (a) o cuidador deveria

concordar em ser videografado e participar ativamente da pesquisa; (b) a criança deveria

apresentar diagnóstico de autismo e ter até seis anos de idade no início da pesquisa.

Diego, a criança, tinha seis anos e dois meses no início da pesquisa. Sua família está

configurada por pai, mãe e uma irmã mais velha, que não reside com a criança. Na época em

que a pesquisa foi realizada, Diego frequentava uma creche regular, em período vespertino.

Adicionalmente, a criança fazia sessões de fonoaudiologia, terapia ocupacional e

musicoterapia.

O menino havia sido diagnosticado com TEA aos quatro anos por uma neuropediatra.

Dentre os prejuízos sócio-comunicativos destacavam-se: (a) as dificuldades em manter

contato visual; (b) limitações na comunicação verbal, caracterizada por limitado uso

funcional da fala espontânea; e (c) ecolalia tardia e imediata. Em termos comportamentais,

destacavam-se (a) estereotipias motoras simples, (abanar as mãos, alinhar brinquedos); (b)

hiporreatividade a estímulos sensoriais (indiferença aparente a dor). Em termos de interesse

ou atividades destacavam-se (a) dificuldades com transições de atividades, (b) interesse pela

leitura de livros, permanecendo pouco tempo nessa tarefa.

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Claudia, a mãe, tinha 39 anos e é formada em marketing, pós-graduada em gestão

estratégica de pessoas. Ela trabalhava em tempo parcial, permanecendo o restante do dia com

Diego.

2.2. Agente de intervenção

A pesquisadora atuou como agente de intervenção da presente pesquisa. Ela possui

graduação em Fonoaudiologia, sendo Fonoaudióloga Bilíngue Certificada (Espanhol-Inglês).

Tem experiência na área de Fonoaudiologia, com ênfase em aquisição e desenvolvimento da

linguagem, estimulação da comunicação em crianças do espectro autista. Trabalhou entre

2003 e 2009 em um Programa Estadual de Estimulação Precoce, nos EUA, com crianças de 0

a 5 anos que apresentavam suspeita, risco e diagnóstico de TEA e suas famílias. Esse

programa era de abordagem naturalística, oferecida na casa dos pacientes, ensinando aos pais

a estimular a aquisição e desenvolvimento da comunicação e linguagem dos seus filhos.

2.3. Local

As sessões experimentais da pesquisa foram realizadas na residência da díade, alocada

em um bairro de classe média na cidade de Natal, Rio Grande do Norte.

As sessões de capacitação da cuidadora foram conduzidas presencialmente, numa sala

de consultório, sendo um lugar tranquilo e silencioso e à distância, por meio do Skype®, um

aplicativo digital que permite a comunicação por meio da internet. Esse dispositivo,

previamente utilizado por outros pesquisadores (BRUSHWEIN et al., 2016), foi adotado para

aumentar a frequência de encontros com a mãe.

Além do aplicativo Skype®, o presente estudo contou com o uso do aplicativo

Whatsapp – aplicativo de texto entre dois celulares utilizando conexão de internet. Esse

recurso foi empregado em uma ocasião para tirar algumas dúvidas que a mãe tinha na

implementação das estratégias interventivas. Vale destacar que a sugestão do uso do

aplicativo Skype® foi da pesquisadora, o uso do aplicativo Whatsapp®, de Cláudia, a mãe da

criança.

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A opção pelo encontro virtual se deu devido à possibilidade de aumentar a frequência

de encontros, considerando a falta de disponibilidade da mãe. Vale ressaltar que tanto os

encontros presenciais como os encontros através do aplicativo Skype® foram videografadas.

2.4. Materiais

Foram utilizados: (1) Uma filmadora digital; (2) uma filmadora de celular; (3) Livros

de Historias, (4) um livreto com recursos visuais.

2.5. Delineamento da pesquisa

A presente investigação caracteriza-se como uma pesquisa quase-experimental de

sujeito único com um delineamento do tipo A-B- Follow-up (SAMPAIO et al., 2008). Neste

delineamento de pesquisa, dois tipos de variáveis são destacados: (a) a variável independente

e (b) a dependente:

(a). As variáveis independentes são aquelas ativamente manipuladas pelo pesquisador,

que está interessado em seus efeitos. (SAMPAIO et al., 2008, HORNER et al., 2005),

(b). As variáveis dependentes são os aspectos e propriedades de um fenômeno; ou

seja, as características mensuráveis que o pesquisador vai buscar como efeitos das variáveis

independentes (SAMPAIO et al., 2008). Em outras palavras, o pesquisador busca confirmar,

ou não a relação funcional/causal da manipulação da variável independente e as mudanças

nas variáveis dependentes (HORNER et al., 2005).

2.6. Variáveis

O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos do programa RECALL adaptado

implementado pelo cuidador, na compreensão da leitura de uma criança com TEA. Sendo

assim, em um primeiro momento o programa de capacitação se configurou como variável

independente e o uso das estratégias RECALL adaptado pelo cuidador, como variável

dependente, conforme observado na Figura 2:

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Figura 2: Variáveis usadas durante o treinamento do cuidador.

Em seguida as respostas do cuidador (uso das estratégias RECALL adaptado) foram

compreendidas como variável independente e as respostas da criança, como dependentes,

conforme observado na figura 3 abaixo:

Figura 3: Variável usadas durante o uso das estratégias com a criança.

2.7. Procedimentos e Instrumentos

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário

Onofre Lopes – HUOL / UFRN com Número do Parecer 1.662.461 (Anexo A). Conforme

previamente salientado, o recrutamento dos participantes ocorreu através do SEPA, por meio

de um panfleto. A primeira díade a contatar a pesquisadora e atender aos requisitos da

pesquisa foi selecionada.

Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pela cuidadora, o

projeto foi desenvolvido em 6 etapas: (1) Avaliação; (2) Treinamento da assistente de

pesquisa, (3) Linha de base, (4) Capacitação, (5) Intervenção, (6) avaliação do programa.

As características de cada etapa estão descritas em seguida:

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(1) Avaliação: O objetivo dessa fase foi avaliar as demandas e potencialidades sócio-

comunicativas e comportamentais da criança, o seu grau de autismo, assim como a suas

habilidades de letramento. A avaliação ocorreu por meio de cinco instrumentos: (A)

Entrevista semi-estruturada (B) Childhood Autism Rating Scale (CARS) Schopler, Reichler &

Renner, (1988) (C) Escala de Letramento Emergente Saint-Laurent, Giasson e Couture,

(1998), adaptada por Fernandes, 2002 e (D) Home Emergent Literacy Profile Environment

for Children with ASD - (HELPA) (Lanter, 2008)

Abaixo segue as especificidades de cada um dos instrumentos.

A. Entrevista semi- estruturada – um roteiro de perguntas dirigido à mãe sobre o

desenvolvimento de Diego foi elaborado pela pesquisadora. Esse roteiro, que compreendia

questões abertas e fechadas sobre o desenvolvimento motor, da comunicação e a linguagem, a

interação social, os aspectos lúdicos, alimentares, as situações de auto-regulação e se a

criança manifestava dificuldades sensoriais, encontra-se no Apêndice A. A mãe respondeu as

perguntas de forma oral e escrita. O segmento oral da entrevista foi gravado e transcrito pela

pesquisadora.

B. Childhood Autism Rating Scale (CARS) (PEREIRA et al, 2008) – a escala

CARS foi aplicada pela pesquisadora para verificar o grau de severidade do autismo que

apresentava a criança. Essa escala foi desenvolvida por Schopler, Reichler & Renner (1988) e

traduzida e validada por Pereira (2007). É uma das escalas mais utilizadas como instrumento

para avaliar a gravidade do autismo (STELLA, 1999). Ela é constituída por 15 itens, 14 deles

avaliam o comportamento de diferentes domínios, sendo eles: I. Relacionamento Interpessoal,

II. Imitação, III. Resposta Emocional, IV. Uso Corporal, V. Uso de Objetos, VI. Resposta a

Mudanças, VII. Resposta Visual, VIII. Resposta Auditiva, IX. Resposta e Uso do Paladar,

Olfato e Tato, X. Medo ou Nervosismo, XI. Comunicação Verbal, XII. Comunicação Não

Verbal, XIII. Nível de atividade, e XIV. Nível e Coerência da Resposta Intelectual e um item

de impressões gerais (SCHOPLER et al., 1988; PEREIRA, 2008). A pontuação de cada

domínio varia de 1 a 4, sendo 1 considerado dentro dos limites de tipicidade e 4 considerado

sintomas autísticos severos/graves. Os resultados totais têm uma faixa de 15 a 60,

especificamente: 15 – 30: sem autismo; 31-36 – autismo leve/moderado; acima de 37 –

autismo grave) sendo então o ponto de corte para autismo 30 (SCHOPLER et al, 1980,

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PEREIRA et al., 2007, RODRIGUES ARAUJO, 2012). A escala demonstra vários

benefícios, dentre eles, (a) ser eficaz no diagnóstico diferencial e (b) no reconhecimento do

grau de severidade do autismo (leve, moderado ou severo), (c) ser breve e apropriada para uso

em qualquer criança acima de dois anos de idade. (SCHOPLER et al, 1988; PEREIRA,

2008). A escala se encontra no anexo B.

C. Escala de Letramento Emergente (SAINT-LAURENT, GIASSON E

COUTURE, 1998, adaptada por Fernandes, 2002) para caracterizar as habilidades de

letramento emergente da criança prévio à intervenção. A Escala de Letramento foi criada por

Saint-Laurent, Giasson, e Couture, em 1998, como parte do seu estudo, que tinha como

objetivo avaliar o impacto de um programa de letramento emergente a ser desenvolvido no lar

de crianças com deficiência intelectual. A escala é composta por 12 itens, dos quais quatro

foram especificamente criados para esse estudo: (a) Interesse por livros, (b) Interesse durante

leitura de historias, (c) Participação ativa durante a leitura, (d) Reconhecimento do primeiro

nome, e os outros oito itens (e) Conhecimento sobre o manuseio do livro, (f) Orientação na

leitura, (g) Conceitos relativos à escrita, (h) Relação entre palavra falada e palavra escrita, (i)

Funções de escrita, (j) Reconhecimento de palavras do cotidiano, (k) Leitura de faz-de-conta,

e (l) Traçado e princípio alfabético. Vale destacar que esse último item foi desenvolvido a

partir de instrumentos já existentes, como por exemplo, o "Instrument de Mesure de la

Conscience de I'Ecrit" (“Instrumento de Consciência da Escrita”) Belanger, Labrecque;

Baillargeon, & Giasson (1987); e de autores como Clay (1979); Purcell-Gates & Dahl (1991)

e Sulzby (1991). A escala foi adaptada para crianças brasileiras com deficiência intelectual,

por Fernandes em 2002. A escala se encontra no anexo C.

D. Home Emergent Literacy Profile for Children with ASD (HELPA), (LANTER,

2008) - Perfil de Letramento Emergente no Lar de Crianças com Transtorno do Espectro

Autista (TEA), traduzido ao Português pela pesquisadora. Este checklist permite a avaliação

indireta das habilidades emergentes de leitura, escrita e motivação para leitura. Ele consta de

44 perguntas divididas em 4 partes: (a) habilidades de leitura e escrita do cuidador, (b)

comportamentos que promovem a aprendizagem da leitura e escrita, (c) Percepção da

habilidade e interesse da criança em atividades relacionadas à leitura-escrita (d) crenças e

atitudes em relação a educação do filho. As duas perguntas da parte A que versam sobre a

habilidade de leitura e escrita do próprio cuidador primário, devem ser formuladas ao final do

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questionário, podendo o cuidador escolher não responde-las. O checklist se encontra no

Anexo D.

(2) Treinamento da assistente de pesquisa: Três assistentes de pesquisa foram

recrutados nesse estudo. O primeiro participou da etapa inicial, categorizando as sessões de

linha de base. O segundo e o terceiro foram recrutados quando o assistente inicial, por

motivos pessoais, abandonou o estudo. Com o propósito de discutir as variáveis dependentes

e independentes que seriam codificadas a pesquisadora teve encontros presenciais com a

primeira e a terceira assistente e encontros virtuais (Skype) com a segunda assistente de

pesquisa. Após a discussão, os assistentes receberam um manual de codificação (Anexo E) e

foram instruídos a codificar segmentos de sessões experimentais9 identificando a frequência

de ocorrência das variáveis investigadas. O treinamento com os assistentes foi finalizado

quando os assistentes de pesquisa e a pesquisadora alcançaram um índice de concordância de

75% em três sessões para cada uma das variáveis analisadas.

Os índices de concordância entre o primeiro e o segundo observador para o

comportamento da criança na fase de Linha de Base estão disponíveis na Tabela 1.

Linha de Base

Tabela 1: Índice de Fidedignidade entre Obs. 1 e 2 na fase da LB das categorias da criança

Índice de

concordância

Livro 1 Livro 2 Livro 3 Livro 4 Média de

concordância

Iniciativas 75% 100% 80% 80% 84%

Respostas

corretas

100% 75% 86% 75% 84%

Respostas

incorretas

86% 100% 80% 100% 91,5%

Em média os índices de concordância dos comportamentos da criança na fase da linha

de base: Iniciativas, Respostas corretas e Respostas incorretas, apresentam uma variação

aceitável.

A tabela 2 apresenta o índice de concordância entre os observadores para o

comportamento da mãe.

Tabela 2: Índice de Fidedignidade entre Obs. 1 e 2 na fase da LB das categorias da mãe.

Índice de

concordância

Livro 1 Livro 2 Livro 3 Livro 4 Média de

concordância

9 Esses segmentos foram videografados – essas sessões não foram utilizadas na codificação, mas foram usadas para

treinamento.

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54

Completar 100% 86% 75% 100% 90%

Evocar 100% 100% 80% 75% 89%

Final aberto 100% 100% 100% 100% 100%

Perguntas-Qu 75% 75% 100% 83% 83%

inferências 100% 100% 86% 100% 96,5%

Identificação

Emocional

100% 100% 100% 100% 100%

Pausa

intencional

100% 100% 100% 100% 100%

Completar

fonológico

100% 100% 100% 100% 100%

Atenção

compartilhada

93% 100% 100% 80% 93%

Expansão 100% 83% 80% 100% 91%

Elogio 100% 100% 100% 83% 96%

Em média os índices de concordância das estratégias utilizadas pela mãe na fase da

linha de base: Completar, Evocar, Final aberto, Perguntas-Qu, Inferências, Identificação

Emocional, Pausa intencional, Completar fonológico, Atenção compartilhada, Expansão e

Elogio apresentam uma variação aceitável.

A tabela 3 apresenta o índice de concordância entre os observadores para o

comportamento da criança na fase da Intervenção.

Intervenção

Tabela 3: Índice de Fidedignidade entre Obs. 1 e 2 na fase da Intervenção das categorias da criança

Índice de

concordância

Livro 1 Livro 2 Livro 3 Livro 4 Livro 5 Livro 6 Média de

concordância

Iniciativas 89% 100% 75% 100% 100% 100% 94%

Respostas

corretas

82% 100% 100% 75% 83% 100% 90%

Respostas

incorretas

87% 94% 96% 95% 92% 96% 93%

Em média os índices de concordância dos comportamentos da criança na fase da

Intervenção: Iniciativas, Respostas corretas e Respostas incorretas, apresentam uma variação

aceitável.

A tabela 4 apresenta o índice de concordância entre os observadores para o

comportamento da mãe.

Tabela 4: Índice de Fidedignidade entre Obs. 1 e 2 na fase da Intervenção das categorias da mãe.

Índice de

concordância

Livro 1 Livro 2 Livro 3 Livro 4 Livro 5 Livro 6 Média de

concordância

Completar 75% 100% 75% 100% 75% 80% 84%

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55

Evocar 100% 75% 75% 100% 100% 100% 91%

Final aberto 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Perguntas-Qu 81% 100% 95% 93% 94% 86% 91,5%

inferências 100% 100% 75% 75% 83% 75% 85%

Identificação

Emocional

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Pausa

intencional

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Completar

fonológico

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Atenção

compartilhada

75% 75% 100% 100% 100% 100% 91,5%

Expansão 80% 77% 83% 87% 80% 87% 82%

Elogio 83% 100% 100% 92% 100% 93% 90%

Em média os índices de concordância das estratégias utilizadas pela mãe na fase da

Intervenção: Completar, Evocar, Final aberto, Perguntas-Qu, Inferências, Identificação

Emocional, Pausa intencional, Completar fonológico, Atenção compartilhada, Expansão e

Elogio apresentam uma variação aceitável.

A tabela 5 apresenta o índice de concordância entre os observadores para o

comportamento da criança na fase do Follow-up.

Follow-up Tabela 5: Índice de Fidedignidade entre Obs. 1 e 2 na fase do Follow-up das categorias da criança.

Índice de concordância Livro 1 Livro 2 Livro 3 Média de

concordância

Iniciativas 75% 87% 76% 79%

Respostas corretas 94% 100% 88% 94%

Respostas incorretas 83% 89% 89% 87%

Em média os índices de concordância dos comportamentos da criança na fase da

Follow up: Iniciativas, Respostas corretas e Respostas incorretas, apresentam uma variação

aceitável.

A tabela 6 apresenta o índice de concordância entre os observadores para o

comportamento da mãe.

Tabela 6: Índice de Fidedignidade entre Obs. 1 e 2 na fase de Follow-up das categorias da mãe.

Índice de concordância Livro 1 Livro 2 Livro 3 Média de

concordância

Completar 90% 100% 92% 94%

Evocar 100% 100% 100% 100%

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56

Final aberto 100% 100% 100% 100%

Perguntas-Qu 100% 100% 100% 100%

inferências 100% 100% 100% 100%

Identificação Emocional 100% 100% 100% 100%

Pausa intencional 100% 100% 100% 100%

Completar fonológico 75% 90% 80% 82%

Atenção compartilhada 80% 100% 75% 85%

Expansão 100% 92% 92% 95%

Elogio 100% 83% 80% 88%

Em média os índices de concordância das estratégias utilizadas pela mãe na fase da

Follow-up: Completar, Evocar, Final aberto, Perguntas-Qu, Inferências, Identificação

Emocional, Pausa intencional, Completar fonológico, Atenção compartilhada, Expansão e

Elogio apresentam uma variação aceitável.

(3) Linha de base: Nesta etapa, o cuidador foi instruído a contar histórias, de maneira

espontânea (sem receber instrução alguma por parte das pesquisadoras) a seu filho. A escolha

dos seis livros, que seriam lidos duas vezes cada um, foi feita em conjunto entre a mãe e a

pesquisadora. Foram escolhidos livros que apresentavam uma estória simples, mas

interessante, coloridos, que tivessem desenhos que ilustravam o conteúdo da estória e

oportunidades de realizar perguntas sobre o estado emocional dos personagens. Nenhum dos

seis livros havia sido lido anteriormente para a criança.

Os livros escolhidos estão apresentados no quadro 4:

Quadro 4: Livros utilizados durante a fase de linha de base.

Titulo do livro Autor Edição Ano

1. O leão e o rato Domínio

publico

Ciranda Cultural 2014

2. Backyardigans no fundo do mar Justin Spelvin Fundamento

Educacional

2010

3. O ratinho, o morango vermelho maduro e o

grande urso esfomeado

Wood Audrey,

Wood Don

Brinke-Book 2012

4. Tatu-balão Sônia Barros Aletria 2014

5. A cigarra e a formiga Ciranda Cultural 2014

6. A sopa supimpa Estevão Melhoramentos 2011

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57

As sessões foram realizadas na residência da díade e videogravadas pelo pai da

criança. Nas análises foram calculadas as frequências de uso de cada uma das estratégias do

programa de leitura (RECALL) que foram aplicadas, espontaneamente, pela cuidadora, assim

como a frequência de turnos (iniciativas e respostas) da criança.

Os quadros abaixo indicam as variáveis analisadas de cada participante.

Quadro 5: Variáveis avaliadas na criança.

Variáveis da criança Definição

Respostas Quando a criança responde a uma pergunta da

intervencionista dentro dos 5 segundos de intervalo. As

respostas, que devem estar relacionadas ao conteúdo do

livro, podem ser verbais ou gestuais (ex. apontar a resposta

no livro)

Iniciativas verbais Quando a criança tece um comentário ou pergunta

espontânea sobre o livro sem que esta esteja condicionada,

ou seja, dependente de um comentário realizado pelo adulto.

Iniciativas não-verbais Quando a criança realiza uma ação não verbal para mostrar

ou compartilhar (ex. apontar ao livro, tocar ao adulto

chamando sua atenção, representa um evento da estória)

informação acerca do livro.

Quadro 6: Variáveis avaliadas na mãe.

Categorias da

mãe

Definição Exemplo

Completar *

Completar

fonológico*

Verbalizar uma frase afirmativa do

livro de forma incompleta, fazendo

uma pausa (silêncio) de três segundos

ao final da sentença.

Verbalizar uma palavra do livro de

forma incompleta, fazendo uma pausa

(silêncio) de três segundos ao final da

sentença.

Na segunda, Pedro comeu fruta, na

terça Pedro comeu fruta, na quarta,

Pedro comeu... (pausa de 3 segundos)

O Monstro um chamou a monstro dois

que chamou a monstro.…

O urubu pegou o vio...(lão)

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58

Evocar * Elaborar uma pergunta sobre eventos

específicos da história, que exijam

que a criança relembre a sequência de

fatos ocorridos.

O que foi o que os meninos

encontraram?

Pergunta com

final aberto *

Elaborar uma pergunta com múltiplas

possibilidades de respostas.

O que está acontecendo nesta página?

O que você vê aqui nesta página?

Perguntas Qu

Elaborar uma pergunta cuja resposta

seja a nomeação de um substantivo ou

verbo. Não devem incluir perguntas

sobre inferência ou evocação.

(começa com as palavras Quem,

Onde, Quando, Qual a cor, Como,

Com que).

O que é isso? Apontando para um

camelo

O que esta fazendo o menino?

Apontando para o menino andando de

bicicleta

Onde mora o camelo?

Quem é essa personagem?

O que o menino está fazendo? Aponta

para o menino correndo

Inferência * Elaborar perguntas que requerem

predições.

O menino caiu e se machucou. O que

você acha que vai a acontecer depois?

Por que o macaco foi dormir...?

Identificação

emocional *

Elaborar perguntas sobre como o

personagem está se sentindo ou como

a criança se sentiria se estivesse no

lugar do personagem.

Como você se sentiria se machucasse

o dedo?

Como você acha que o jacaré se

sente?

Pausa

intencional

Permanecer em silêncio por 3

segundos olhando para a criança.

Tipicamente ocorre antes ou depois de

virar a página do livro ou quando se

aponta para alguma imagem no livro e

se olha para a criança com ar

interrogativo, aguardando uma

iniciativa de interação da criança.

Ao virar a página do livro a mãe diz

“E daí, o lobo mau foi ... ” (faz

silêncio e segura a página do livro sem

virar)

Aponta para uma imagem do livro e

permanece em silêncio (3 segundos)

olhando para criança.

Atenção

compartilhada

Descrever verbalmente o que está

acontecendo em uma página do livro.

O leitor deve apontar para as imagens

enquanto verbaliza.

Ao apontar para a ilustração no livro a

mãe diz: olha aqui. Está vendo a

chapeuzinho vermelho com as frutas e

a casa ao lado e... etc.

Expandir o

vocabulário

Tecer comentários sobre a resposta

dada pela criança

A mãe pergunta: Quem é esse

personagem? O menino responde: O

jacaré! A mãe diz: Sim, vejo que é o

jacaré porque ele é verde e tem uma

boca grande!

Elogiar Tecer comentários positivos sobre

resposta da criança a respeito do livro.

Não considerar comentários sobre

comportamento (muito bom que você

está sentado ouvindo a história)

No exemplo acima, a mãe diria. Muito

bem! É o jacaré!

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59

Hierarquia de correções das respostas incorretas dadas pela criança.

PEEP hierárquico (ajudas visuais) - Quando a criança não responde ou responde

incorretamente, a mãe deve utilizar as ajudas visuais. Primeiramente são mostradas as 3 opções

de respostas, com o leitor rotulando cada opção. Se a criança apontar para a opção incorreta, a

pergunta é formulada novamente, sendo coberta a opção errada (aquela apontada pela criança) e

apresentadas as outras duas opções. Se a criança erra pela segunda vez, o leitor cobre as duas

respostas incorretas, aponta para a resposta correta e pede para a criança repetir. Categorizar

como: Nível 1 - a criança responde corretamente sem ajuda visual; Nível 2 - a mãe mostra as 3

imagens e a criança acerta na primeira tentativa; Nível 3 - a criança acerta quando a mãe mostra

as duas opções (isso significa que a criança já tentou uma vez e errou e a mãe cobriu a resposta

errada que a criança marcou); Nível 4 - a criança erra da primeira e da segunda vez e a mãe

mostra a resposta correta.

A fase de linha de base foi finalizada quando foi observada uma estabilidade na

resposta da mãe no uso espontâneo de, pelo menos, três estratégias do Recall adaptado. Em

outras palavras, durante quatro livros seguidos a cuidadora não fez uso nenhuma vez de três

estratégias determinadas demonstrando um platô, ou seja, não apresentando variabilidade na

resposta. Segundo Nunes Sobrinho (2001) a etapa da linha de base finaliza quando se

encontra uma estabilidade.

(4) Capacitação: A cuidadora foi capacitada pela pesquisadora a utilizar as estratégias

descritas no programa RECALL, que não estavam presentes em seu repertório, durante a

linha de base. O programa de capacitação teve duração de um mês, com dois encontros

presenciais e três encontros virtuais, sendo dois através do aplicativo Skype® e um através do

aplicativo Whatssap. Foram um encontro presencial e um encontro por Skype® antes da

intervenção. Adicionalmente foi realizado um encontro presencial após a leitura do livro,

outro encontro por Skype® após a leitura do terceiro livro, e mais um encontro virtual durante

a leitura do quarto livro. Vale ressaltar que a cuidadora optou por se comunicar com a

pesquisadora através do aplicativo Whatssap quando apresentava dúvidas sobre o protocolo

proposto.

Durante o primeiro encontro presencial, a pesquisadora descreveu verbalmente as

estratégias para a mãe, assim como dramatizou o seu uso utilizando livros não adotados no

estudo. Além disso, a cuidadora recebeu explicação sobre a importância do programa Recall

estar sendo aplicado de modo naturalístico, ou seja, pela cuidadora primária. Adicionalmente,

Page 61: OS EFEITOS DE UM PROGRAMA DE COMPREENSÃO DA … · ... ao Programa de Pós-Graduação em Educação, ... 3.3.1 – Linha de Base ... Livrinho com ajudas visuais e perguntas do roteiro

60

foi enfatizado o fato de que nesta etapa, que se distinguia da Linha de Base, ela teria um

roteiro de perguntas para utilizar durante a leitura dos livros que a pesquisadora construiu.

Vale destacar que a autoscopía, foi também utilizada como procedimento

metodológico na presente investigação. Essa prática é definida como um procedimento de

coleta de dados que utiliza a videogravação como recurso (SADALLA, LAROCCA, 2004). O

objetivo da autoscopía é realizar uma análise reflexiva do comportamento, visando a auto-

avaliação e, se necessário, a modificação de atitudes, ou da própria prática por parte do

indivíduo sendo filmado.

Esta técnica apresenta algumas vantagens, como por exemplo, capta acontecimentos,

situações, atitudes imperceptíveis e irrepetíveis à observação direta. Em outras palavras, uma

vez acontecido o comportamento, ou atitude na situação observada, podem passar

despercebidos detalhes que não foram captados a olho nu. Assim sendo, a possibilidade de

ver o vídeo uma e outra vez, parar o vídeo em determinada imagem, ou retroceder ou avançar

a imagem viabilizam a análise dos participantes da pesquisa, que podem corrigir, modificar,

reparar o comportamento, Linard (1975) que de outro modo não se conseguiria.

Durante a capacitação, segmentos das sessões de linha de base eram mostrados à

cuidadora e discutidos com a pesquisadora. De forma específica, foram identificados, de

forma colaborativa, momentos em que as estratégias do programa RECALL adaptado

poderiam ser utilizadas de maneira mais efetiva.

Além do encontro presencial, antes de começar a intervenção, foi realizado um

encontro virtual, por meio do aplicativo Skype®. Nesse encontro, Cláudia fez algumas

perguntas sobre as estratégias. A pesquisadora, por sua vez, retomou os procedimentos do

protocolo.

Ao término das duas primeiras capacitações, a pesquisadora e a mãe escolheram seis

livros contemplando as mesmas características das obras selecionadas na fase linha de base.

Assim como na linha de base, nenhum dos seis livros escolhidos havia sido lido

anteriormente para a criança.

Os livros escolhidos foram os seguintes apresentados no Quadro 7

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61

Quadro 7: Livros utilizados na fase de Intervenção.

TITULO AUTOR EDIÇÃO ANO

(1) E ainda o dente doía Ana Terra DCL, 1ra edição 2012

(2) Minha primeira experiência:

Aula de natação

Amrit Kaur Cedic International 2015

(3) Maria vai com as outras Silvia Orthof Atica 2012

(4) A festa no céu Ângela Lago Melhoramentos 2005

(5) Winnie, a Bruxinha Valerie Thomas Ciranda Cultural 2010

(6) Feliz Aniversario Winnie! Valerie Thomas Ciranda Cultural 2010

Após a escolha dos livros, a pesquisadora preparou o material para a intervenção, que

incluiu: a) Roteiro de perguntas para cada livro; b) Material didático (ANEXO E– manual

codificação recall).

Conforme descrito no manual, cada livro continha dois roteiros de perguntas, Roteiro

1 e Roteiro 2. O primeiro, lido no primeiro dia da intervenção, incorporava perguntas Qu, ou

seja, perguntas que começam utilizando a palavra “Que, Quem, Onde, Quando, Qual a cor,

Como, Por que”, onde se tem como objetivo claro a nomeação de um substantivo, um verbo,

etc. e o roteiro 2 acrescentava as demais estratégias, ou seja: Completar, Completar

Fonológico, Final Aberto, Evocar, Inferências, Identificação Emocional, sendo uma pergunta

por página (páginas esquerda e direita do livro aberto). As perguntas foram elaboradas pela

pesquisadora sob a supervisão da orientadora da dissertação.

Além dos roteiros de perguntas, o programa contou, ainda com ajudas visuais

estruturadas em um protocolo denominado de PEEP (Prompt, Evaluate, Expand, Praise)

Pausa e da Dica a Pergunta, Avaliar, Expandir, Elogiar, (explicado detalhadamente acima, no

quadro 6: variáveis da mãe). Livrinhos contendo as perguntas dos roteiros foram elaborados

para cada livro lido. Esses livrinhos, feitos de papel, tinham suas folhas laminadas e unidas

por meio de uma argola. Foram utilizados desenhos em preto e branco do site “Portal

Aragonés de la Comunicación Aumentativa y Alternativa (ARASAAC), também laminados,

que eram anexados com velcro, conforme ilustrado na figura 4

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Figura 4: Ajudas visuais da hierarquia de dicas.

(5) Intervenção – Após cada sessão de capacitação, a mãe era instruída a utilizar

com o filho as estratégias aprendidas. Assim como na linha de base, as sessões de intervenção

foram videografadas e posteriormente analisadas.

A cuidadora foi instruída a utilizar as estratégias do Recall, ou seja, a ler uma página

do livro, realizar a pergunta do roteiro correspondente a essa página avaliar se a criança

responde corretamente, nesse caso expande a resposta da criança e elogia. Caso a criança não

responda ou o faz de forma errada, ela devia utilizar a hierarquia de dicas correção, o PEEP,

explicada detalhadamente na seção Capacitação. Adicionalmente, ao longo da estória, e em

determinados momentos, ela faria uso das estratégias de Atenção Compartilhada, para manter

o foco da criança na estória, e da Pausa Intencional, para incentivar e estimular a criança a

iniciar uma interação com a cuidadora.

Adicionalmente, com o objetivo de avaliar a performance do programa de leitura

Recall por parte da cuidadora durante a intervenção se aplicou o (a) Formulário de

Avaliação da Capacitação do Cuidador, para obter dados sobre a fidedignidade na

implementação do protocolo do programa de leitura dialógica proposto, que foi adaptado de

Whalon et al. (2015) (incluído no ANEXO E- manual de codificação) durante a fase de

intervenção. Vale destacar que esse protocolo não foi usado na fase de linha de base devido a

que a mãe seguiu seu próprio roteiro de perguntas.

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63

(6) Follow up

A cuidadora foi instruída a ler três livros para a criança, também duas vezes cada um,

em dias diferentes, como nas vezes anteriores. Adicionalmente ela deveria ler o primeiro

livro, deixar passar pelo menos 15 dias, ler o segundo livro, deixar passar outros 15 dias e ler

o terceiro livro. Diferente da etapa interventiva, essas leituras não seriam intercaladas com

qualquer capacitação da pesquisadora.

De acordo com o quadro 8, desta vez os títulos foram os seguintes:

Quadro 8: Livros utilizados na fase do Follow-up.

Título Autor Edição Ano

(1) Minha primeira experiência:

no dentista,

Amrit Kaur Cedic 2015

(2) A Caixa de Segredos Celso Sisto Paulinas 2013

(3) Lucas brincando com o show

da Luna

Livro personalizado criado pelos

cuidadores primários

Dentro da Historia 2017

(7) Avaliação do programa

Os efeitos do programa no repertório da díade foram avaliados por meio de gráficos

com registros das frequências de ocorrência de cada comportamento (variáveis dependentes).

Adicionalmente, diários de campo foram considerados para a análise qualitativa dos dados.

Por fim, uma entrevista semi-estruturada foi utilizada para avaliar a validade social da

pesquisa. Assim foi analisada a percepção da cuidadora quanto a própria aprendizagem e às

habilidades comunicativas das crianças após o programa interventivo. Para esse fim foi

utilizado o questionário construído pela pesquisadora. (Apêndice B).

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64

CAPÍTULO 3

3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este estudo teve como objetivo geral avaliar os efeitos de uma adaptação do programa

RECALL na compreensão oral da leitura de histórias em indivíduos com TEA. Daqui se

desprenderam três objetivos específicos, que foram: (a) Capacitar o pai/cuidador a

implementar procedimentos de ensino utilizados no programa RECALL adaptado com uma

criança com autismo, (b) avaliar a responsividade do cuidador após o programa de

capacitação, (c) avaliar os efeitos da implementação do programa RECALL adaptado na

compreensão oral da leitura de histórias da criança com autismo.

Os resultados das análises serão agrupados em três grupos: (a) Avaliações iniciais, (b)

Efeitos da capacitação nas respostas do cuidador (c) Efeitos do programa na compreensão

oral da leitura de histórias na criança.

3.1 Avaliações iniciais

Registros da entrevista inicial conduzida com Cláudia, a mãe, revelaram alterações no

desenvolvimento sócio-comunicativo e comportamental de Diego. Em relação ao

desenvolvimento da linguagem, ela informou que o filho não balbuciou. Falou as primeiras

palavras aos três anos, verbalizando apenas palavras soltas. Apresentava, ainda, ecolalia e

cantarolava músicas. Com cinco anos falava frases pequenas, e quando queria alguma coisa,

normalmente pedia com apenas uma palavra.

Esse padrão de atraso na linguagem é característico das crianças com autismo,

coincidindo com observações de alguns autores, como Eigsti; Bennetto (2009) e Varanda;

Fernandes (2011). Esses estudiosos constataram que, embora o desenvolvimento sintático de

crianças com esse diagnóstico apresente percurso compatível com crianças típicas, ele

acontece mais lentamente ou tem início mais tardio.

Outra característica das crianças com autismo, conforme discutido na primeira parte

dessa dissertação é a presença de ecolalia na sua fala (FAY, 1969; PRIZANT; DUCHAN

1981; PRIZANT; RYDELL, 1984; VIOLETTE; SWISHER, 1992).

O atraso no desenvolvimento da linguagem foi fator primordial para que a família

consultasse um profissional da saúde para a avaliação de Diego, quando tinha por volta dos

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65

dois anos de idade. A princípio, o médico neuropediatra consultado sugeriu que ainda era

muito cedo para fechar diagnóstico, mas mencionou a possibilidade de um transtorno global

do desenvolvimento. Por fim, o menino foi diagnosticado com TEA aos quatro anos de idade,

por outro neuropediatra e uma psiquiatra infantil.

Em relação às habilidades sócio-comunicativas, a mãe informou que o filho

estabelecia pouco contato visual, mas gostava de estar com outras pessoas. Ele atendia

quando chamado pelo nome e compreendia comandos simples, como por exemplo: /me dá o

sapato/, (comando com só um objeto e uma ação). Vale destacar, no entanto, que em algumas

ocasiões o interlocutor precisava repetir algumas vezes o comando para ele entender o que lhe

era solicitado. Ademais, como assinalado por Cláudia, encontrava dificuldades em

compreender comandos mais complexos.

Crianças com desenvolvimento típico compreendem comandos simples a partir de 18

meses, por exemplo, /me da... (um objeto). A partir dos três anos compreendem e executam

comandos complexos, sejam de seleção de objetos /pegue o carrinho e a bola/, de execução de

mandatos, por exemplo, com um objeto /vai ao seu quarto e pegue a camisa/ e combinadas

/abre a caixa, tire a bola e me a traz/ (AZCOAGA et al., 1981). Nessa perspectiva, são

detectadas alterações no desenvolvimento do participante.

Em termos comportamentais são observadas atipicidades sensoriais e de auto-

regulação. Em relação a dificuldades sensoriais, Diego tem hipersensibilidade tátil, anda na

ponta dos pés, apresenta dificuldade para cortar os cabelos e as unhas dos pés. Esse repertório

comportamental é condizente com o quadro de autismo10. Ademais, caminhar nas pontas dos

pés é um comportamento observado em aproximadamente 20% das crianças com TEA

(MING et al., 2007).

Para se auto-regular, diante de situações em que é contrariado, Diego costuma pular e

pressionar o corpo com travesseiros. De acordo com a mãe, nesses episódios ele, por vezes,

grita, mas costuma se acalmar rapidamente.

As primeiras experiências no aprendizado da auto-regulação, numa criança típica se

produzem através da regulação fisiológica nos ciclos de sono e vigília, alimentação e se auto-

10

Vale destacar que esta característica é comumente observável em crianças com desenvolvimento típico, menores

que dois anos e em crianças com algum tipo de deficiência. Entretanto, esse sintoma pode trazer prejuízos

musculares à criança se persistir além dos dois anos de idade.

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66

acalmar. Aos três anos ela consegue demonstrar auto-regulação emocional e comportamental

em resposta às demandas sociais. Em outras palavras, crianças com desenvolvimento típico

tendem a não apresentar nem hiperreatividade nem hiporreatividade frente a diversos

estímulos do dia-dia. Assim toleram troca de fralda (tátil), corte de cabelo, sons específicos

(auditivo), comidas (gosto-cheiro), etc. (POSNER; ROTHBART, 2009 apud SILVA,

SCHALOCK, 2012). As comorbidades mais comuns no autismo são dificuldades no sono, na

alimentação, em se auto-acalmar, prolongados chiliques, autoagressão, que ao mesmo tempo

são sintomas que alteram o desenvolvimento da auto-regulação (REEBAY; ELBE, 2009 apud

SILVA, SCHALOCK, 2012.)

A seletividade alimentar é também observada no comportamento de Diego, uma vez

que gosta de comidas salgadas, mas não aceita doces. O DSM-V inclui a seletividade

alimentar como uma hiper ou hiporreatividade sensorial como sintoma do TEA. Este

comportamento pode se apresentar frente ao gosto, textura, cheiro e cor de determinados

alimentos (CERMAK; CURTIN; BANDINI, 2010; JOHNSON et al., 2008) causando

redução na variedade de comidas ingeridas e desta forma afetar a dieta da criança que deveria

ser balanceada.

Em alguns aspectos, o desenvolvimento de Diego assemelhava-se a de uma criança

típica. Cláudia relatou que não foram observadas alterações no desenvolvimento motor e que

o filho havia caminhado com 1 ano e uma semana de idade. Em termos de interesses, a mãe

comentou que o menino gostava de ouvir histórias, apesar de passar pouco tempo sentado

escutando a narrativa. Ele também gostava de músicas e de desenhos infantis. Vale destacar

que protestava quando o desenho animado estava em outro idioma. Nessas ocasiões

costumava colocar as mãos nos ouvidos.

Na escala de avaliação CARS, (Anexo B), dados coletados da entrevista com a mãe e

da observação da pesquisadora, Diego obteve 32 pontos, equivalente a autismo em grau

leve/moderado (escores entre 31 e 36 = autismo leve/moderado). Os escores individuais de

cada categoria se encontram na tabela a seguir:

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Tabela 7: Escores da Escala CARS da criança antes do início da intervenção.

Componentes da escala Pontuação da criança

Relacionamento interpessoal, resposta visual e comunicação não verbal (3,0)

Imitação (2,5)

Resposta emocional (2,5)

Uso do corpo (1,0)

Uso de objetos (1,0)

Adaptação a mudanças (3,5)

Resposta visual (3,0)

Resposta auditiva (2,0)

Resposta ao paladar, olfato e tato (1,0)

Medo e nervosismo (1,5)

Comunicação verbal (4,0)

Comunicação não verbal (3,0)

Nível de atividade (1,0)

Nível de coerência da resposta intelectual (1,0)

Impressões gerais (2,0)

Fonte: SCHOPLER, REICHLER & RENNER, 1988 adaptada por PEREIRA, 2008

Com o objetivo de caracterizar as habilidades de letramento emergente da criança prévio à

intervenção, foi aplicada a Escala de Letramento Emergente (SAINT-LAURENT, GIASSON E

COUTURE, 1998, adaptada por FERNANDES, 2002) no início da pesquisa. Nessa escala é

avaliado o interesse pela leitura de histórias, função e conceito da escrita, além do manuseio de

livros pela criança. A pontuação que varia de 0 a 65, reflete o grau de letramento emergente da

criança. Assim, os valores mais baixos revelam pouco letramento e os valores mais altos, alto

letramento. No presente estudo, a escala foi aplicada pela pesquisadora com apoio da mãe. Diego

obteve 18 pontos de escore total, indicando 27,69% da pontuação, equivalendo a um letramento

baixo. Entretanto, o interessante desta escala não é a pontuação total, mas o que se pode obter de

informação sobre cada ponto avaliado. Os escores individuais de cada categoria se encontram na

tabela 8 a seguir:

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Tabela 8: Escores da Escala de Letramento Emergente.

Componentes do letramento Escala Pontuação

1. Interesse em livros (0-3) 2

2. Interesse durante a leitura de historias

(0-3) 2

3. Participação ativa durante a leitura

(0-3) 1

4. Conhecimento sobre o manuseio do livro

(1+1+3) =5 1+1+3=5

5. Conhecimentos sobre a orientação da Leitura

(0-3) 0

6. Conhecimentos de Conceitos de escrita

(0-3) 0

7. Relação entre palavra falada e palavra escrita

(0-3) 0

8. Conhecimentos sobre funções da escrita

(0-10) 0

9. Reconhecimento de palavras do ambiente

(0-10) 0

10. Reconhecimento do primeiro nome

(0-1) 0

11. Leitura de faz de conta

(0-5) 1

12. Escrita (traçado e principio alfabético)

(0-16) 7

Escore Total 65 18 (27,69%)

Fonte: SAINT-LAURENT, GIASSON E COUTURE, 1998, adaptada por FERNANDES, 2002

Conforme observado no quadro acima, nos itens (1). Interesse em livros, (2). Interesse

durante a leitura de historias (4). Conhecimento sobre o manuseio do livro e (12). Escrita

(traçado e princípio alfabético11) Diego obteve maior pontuação.

O interesse espontâneo por livros (item 1) foi observado em episódio onde a

pesquisadora colocou sobre a mesa 3 obras infantis com capas coloridas e outros objetos,

11 O princípio alfabético é a correspondência que existe entre grafema (letra) e fonema (som). Em línguas

alfabéticas como Português, Espanhol, Inglês, etc, o leitor precisa fazer transferência das unidades impressas

para unidades de som para poder ler e por sua vez, o escritor precisa da transferência contraria, ou seja, de

unidades de som para unidades impressas para poder escrever (GABRIELI, 2009; WHITEHURST; LONIGAN,

1998; CARAVOLAS, 2005)

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como bolhas de sabão e um brinquedo de cubos de encaixe. Diego evidenciou interesse pelos

objetos dispostos, incluindo os livros, que pegou para manusear, após instrução verbal da

pesquisadora. Nesse momento, foi observado conhecimento sobre o manuseio adequado do

livro (item 4), quando o menino segurou a obra com o lado certo para cima; com a capa para

frente, e virou corretamente as páginas, uma por vez.

Durante a leitura de histórias, ele demonstrou interesse, permanecendo atento em

alguns momentos. Ademais, o gosto pela leitura foi observado nos episódios onde apontava

para desenhos nas páginas, vocalizava, olhando para o livro e respondia a algumas perguntas

simples de vocabulário, como “o que é isso”. Não se mostrou capaz, por outro lado, a

responder questões de inferências.

Para investigar o conceito da escrita, a pesquisadora lhe pediu que escrevesse seu

nome e a palavra “mamãe”. Essa tarefa permitiu que fossem pontuadas duas dimensões da

escrita: (a) a caligrafia (se usa letras convencionais ou não; pontuação de 1 a 6) e (b) o

principio alfabético, ou seja, a relação entre grafema (letra) e fonema (som) (pontuação de 0 a

2). Diego escreveu seu nome com letras convencionais, obtendo a pontuação máxima para

caligrafia (6). Vale destacar, no entanto, que ele demonstrou escrever de memória, nomeando

cada uma das letras ao invés do som. Assim sendo, em termos de princípio alfabético recebeu

nota mínima (zero). Para escrever a palavra “mamãe”, vocábulo que a mãe falou que ele

conhecia, não fez uso de grafemas, mas desenhou um círculo. Assim, recebeu pontuação 1 na

caligrafia (equivalente a desenho), falhando em evidenciar conhecimento sobre o princípio

alfabético.

Após a aplicação da Escala de Letramento Emergente (SAINT-LAURENT;

GIASSON; COUTURE, 1998, adaptada por FERNANDES, 2002), o perfil de leitura da

família foi avaliado pelo checklist Home Emergent Literacy Profile for Children with ASD-

(HELPA), (LANTER, 2009) - Perfil de Letramento Emergente no Lar de Crianças com

Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nessa escala, são avaliadas indiretamente duas

importantes áreas (1) motivação para leitura-escrita, com perguntas específicas como, por

exemplo, (a) se o filho tem um livro preferido? (b) se o filho desfruta de que alguém leia

um livro para ele? etc. e (2) o ambiente de leitura e escrita do lar explorado através de

perguntas específicas, como por exemplo, (a) quantidade de livros/ material impresso e

material para escrever que se tem na casa, que esteja ao alcance da criança.

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Sendo uma entrevista semi-estruturada, permite a formulação de perguntas

específicas e, ao mesmo tempo, admite que o cuidador acrescente informações, seja com

exemplos, seja justificando as respostas e/ou tecendo comentários de forma espontânea. A

escala investiga a função da leitura na perspectiva da criança. Assim, é possível identificar

se ela lê, por exemplo, por prazer, para buscar informação na rua (cartazes), em livros de

receitas, ou internet, etc. Nenhuma das opções indicadas pela escala descreviam o

comportamento de Diego. Assim, a mãe revelou, “Ele vê a gente utilizando (livros,

materiais escritos), mas não é sinalizado pra ele”. Em outras palavras, embora os pais façam

uso cotidiano da leitura em casa, não explicitam a sua função para o filho.

Perguntada sobre as próprias habilidades de leitura e escrita numa escala de 1 a 5,

onde 1 é o mais baixo e 5 o mais alto, a mãe se identificou com o ponto 4, que diz: “Leio

por prazer, e geralmente sinto-me bem confiante com as minhas habilidades leitoras. Eu

geralmente sinto-me bem confiante com as minhas habilidades escritas” (HELPA, 2012)

Na Tabela 9 são apresentadas as habilidades de leitura-escrita da criança reportadas

pela mãe. As respostas sobre esses pontos são estruturadas usando uma escala de 3-pontos

onde 3 = sim, 2 = talvez (e.g., não tenho certeza, emergindo ou inconsistente), e 1 = não.

Tabela 9. Habilidades de leitura e escrita da criança reportadas pela mãe.

Aspectos questionados12 Sim Talvez Não

Identificação dos nomes das letras 3

Correspondência letra-som 2

Palavras /frases do ambiente 1

Conceitos da Leitura-escrita

12

Nota: Identificação dos nomes das letras: a criança pode identificar qualquer nome de letra; Correspondência

letra-som: identificar os sons de qualquer letra; Palavras /frases do ambiente: reconhecer linguagem escrita num

ambiente natural; Aponta à palavra impressa: apontar às palavras e pedi para o adulto que as leia; Segue orientação

da palavra impressa: saber a orientação de leitura-escrita do Português; Vira pagina de a uma por vez: virar as

paginas dos livros de a uma por vez.; Acompanha a palavra impressa com o dedo: mover o dedo de esquerda à

direita acompanhando o texto escrito; Funções da palavra impressa: saber por que as pessoas leem e escrevem; Sabe

que a palavra impressa carrega mensagem: durante a leitura compartilhada saber quando o adulto lê no texto e

quando esta contando uma estória de forma oral; Leitura faz de conta: narrar o texto para se mesmo e para outros;

Escreve letras /palavras: produzir espontaneamente texto sem um modelo para copiar; Rima: produzir

espontaneamente uma cadeia de sons ou palavras que rimam; Manipulação dos fonemas: identificar uma palavra ao

ouvir os sons que a conformam (fonemas) de maneira isolados. Fonte: Lanter et al., 2012: Emergent Literacy in

Children with Autism.

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Aponta a palavra impressa 1

Segue orientação da palavra impressa 3

Vira pagina de a uma por vez 3

Acompanha a palavra impressa com o dedo 1

Funções da palavra impressa 1

Sabe que a palavra impressa carrega

mensagem 2

Leitura faz de conta 1

Escrita emergente

Escreve letras 3

Escreve palavras 3

Consciência Fonológica

Rima 1

Manipulação dos fonemas 1

A família tinha em casa materiais para ler e escrever que eram acessíveis ao filho,

como livros de crianças e de adultos, catálogos, letras ou números com ímãs, papel para

escrever/bloco de notas papel, canetas, lápis e giz de cera. Adicionalmente, eram

disponibilizados vídeos educativos, jogos educativos na TV, jogos educativos no computador

e quebra-cabeça de alfabeto.

A mãe, que era a pessoa que lia para criança com maior frequência, reportou que

começou a ler para o filho quando ele tinha 36 meses de idade e que o fazia, pelo menos, uma

vez por semana. Ela relatou que diariamente o estimulava para aprender a escrita do seu

nome, sinalizando as letras que o formava. Pelo menos duas vezes por semana brincavam de

fazer as letras com massinha. Nesses episódios, pedia que o filho identificasse as letras

formadas. Como colocado na tabela 3, ao ler, a criança coloca o livro corretamente para cima

e vira as páginas de maneira adequada. Apesar desse comportamento, a mãe diz não ter

certeza se o filho sabe que as pessoas leem as palavras dos livros ou se apenas inventam as

histórias narradas, já que não observou, por exemplo, o filho mover o dedo indicador ao

longo das palavras enquanto ela estava lendo ou quando ele mesmo fazia de conta que lia.

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Assim como a Escala de Letramento Emergente (SAINT-LAURENT, GIASSON E

COUTURE, 1998, adaptada por FERNANDES, 2002), a escala HELPA (LANTER, 2009)

identifica os tipos de perguntas que o cuidador faz para a criança durante a leitura. A mãe

relatou que, ao ler historias para o filho, tendia a fazer perguntas sobre nomeação, uma vez

que eram as que ele melhor compreendia. Assim, pedia, com frequência, que o filho

identificasse personagens, objetos e cores em detrimento a questões relacionadas aos

personagens ou eventos da estória. Nesse cenário é conjecturado que perguntas sobre

inferências, sentimentos dos personagens, ou aquelas que requerem evocar fatos anteriores na

estória e relacioná-los com a vida cotidiana eram pouco exploradas.

O relato de Cláudia sugeriu que o filho raramente buscava livros de forma

independente, tampouco escrevia de maneira espontânea. Segundo ela, era “muito raro” ver

a criança escrevendo livremente. Estimava que, ao menos, alguma vez ao mês observava o

filho ler/olhar as figuras num livro de forma independente. Em relação à frequência com

que a criança solicitava que ela lesse, declarou: “quando se trata de algum livro que é novo,

ele pede muito, mas depois diminui muito”.

A mãe tinha a impressão de que seu filho gostava que alguém lesse livros para ele,

mas considerava que o tempo de atenção do menino para realizar essa atividade era

insuficiente. Isso fica evidente em fragmentos extraídos da entrevista realizada durante

aplicação do HELPA. De forma específica, ao ser questionada sobre o interesse da criança em

ler, ela fala: “gosta, mas não tanto como das outras atividades”. E atribui esse comportamento

aos problemas de atenção quando acrescenta a sua resposta: “porque atenção não prolonga

tanto, mas gosta”. (ENTREVISTA HELPA, 22/8/2016)

Em termos de letramento, a criança mostrava-se capaz de identificar o alfabeto todo, o

nome dela, e as palavras mamãe e papai. Não conseguia ler palavras, mas copiava as letras ou

as escrevia quando ditadas. Entretanto, a mãe revelou que não tinha certeza se o menino

conhecia o som de alguma letra. Por fim, reportou que a criança não brincava de jogos de

rima, criando-as espontaneamente nem as identificando na brincadeira com o adulto. Esse

dado sugere a falta de consciência fonológica, essencial para o desenvolvimento da escrita

(CAPOVILA; DIAS; MONTIEL, 2008; SPINILLO; da MOTA; CORREA, 2010).

A escala tem uma seção que investiga sobre as crenças e atitudes da família acerca da

educação da criança. As perguntas versam sobre o grau de importância que dão à

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aprendizagem de leitura-escrita do filho e sobre o grau de confiança deles mesmos para

ensinar o filho a ler e escrever. Adicionalmente o instrumento avalia o papel que os pais

atribuem à escola e a eles mesmos em relação ao ensino de leitura e escrita do filho. Neste

item, Cláudia revelou que considerava extremamente importante que o filho aprendesse

habilidades de leitura e escrita. Entretanto, ela considerava que as habilidades leitoras e da

escrita da criança ainda não eram muito fortes. Isso fica evidente quando revela: “identificar

as letras domina perfeitamente, mas não passa daí”. Em relação às habilidades da escrita

declara: “letras que pedem, ele escreve, mas não escreve espontaneamente” (ENTREVISTA

HELPA, 22/8/2016).

3.2 Efeitos da capacitação no comportamento do cuidador

Essa seção de análise será dividida em 4 subtópicos: A) Linha de base, B)

Intervenção, C) Follow-up e D) Análise conjunta das 3 fases. As primeiras três explicitam a

frequência no uso das estratégias interventivas, assim como registros de diário de campo em

cada uma das etapas. Por fim, o último tópico traz uma análise conjunta, contrastando os

resultados das três etapas do estudo.

3.2.1 Linha de Base

Nesse segmento serão apresentadas as frequências no uso de estratégias presentes no

repertório de Cláudia, durante a atividade de leitura com o filho, antes da intervenção. Nessa

fase, ela foi instruída a ler seis livros para a criança da forma que sempre lia. Assim, não

recebeu qualquer instrução de como ler, nem como perguntar, tampouco foram fornecidas

ajudas visuais.

Os primeiros livros de linha de base foram lidos na cama da criança, estando a díade

recostada em travesseiros. Depois, a mãe foi mudando, alguns dias na sala (sentados no sofá)

e outros dias novamente recostados na cama. Vale salientar a importância do uso de espaços

selecionados pelos cuidadores em intervenções de cunho naturalístico. Em outras palavras,

tratando-se de uma pesquisa de natureza colaborativa, onde a mãe atuou como agente de

intervenção, foi propício a escolha dos espaços por ela.

Registros de campo sugerem que a mãe gostava da atividade de ler para o filho,

mesmo que em alguns momentos parecesse ficar tensa frente ao vídeo se a criança passava

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vários minutos sem prestar atenção ou não querendo participar. Isso foi observado durante a

leitura do segundo livro:

A mãe senta na cama e começa a ler o livro. O menino levanta e pega o livro

para cantar uma música enquanto folheia as páginas. A mãe tenta atraí-lo,

mas ele não deixa, ela o pega no colo, mas ele se solta e diz: “não”. A mãe

muda o tom de voz e fala para o esposo, que filmava que cortasse a

filmagem, dizendo... “ta bom, com gesto de desapontada”. (REGISTRO DE

CAMPO, NATAL-RN, 11/9/2016).

Ela fazia perguntas e, por vezes, as respondia, sem fornecer mais tempo para que a

criança atendesse ao seu comando. Esse comportamento é observado na seguinte cena,

extraída de uma sessão realizada durante a leitura do livro 1 dia 1:

A mãe pergunta: como era o nome dele? (apontando no livro). E em seguida

ela mesma responde: Adam. (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN,

2/9/2016)

Esse mesmo comportamento é observado em outra cena, do último livro desta fase.

Nesse momento, os dois estão recostados na cama e a criança parece desinteressada na leitura

que estão fazendo. O menino começa a verbalizar o nome de seu livro preferido

(Mecanimais). Nesse momento, a mãe aponta para um personagem na estória e diz: “Quem é

ele?”. Em seguida, sem fornecer mais tempo para resposta, ela responde: “O cozinheiro

Pedro” (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 9/10/2016)

A figura 5 mostra os tipos de perguntas e comentários tecidos pela mãe em fase de

linha de base. De forma específica, indica a frequência total, mostrada em quantidade de

vezes (unidades) com que cada estratégia foi utilizada nas 6 sessões de linha de base,

envolvendo a leitura dos 6 livros. Conforme previamente sinalizado, o objetivo dessa etapa

foi averiguar se a mãe utilizava, de forma espontânea, estratégias descritas no programa

interventivo.

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Ocorrência Total das Estratégias usadas pela Mãe (LB)

71

5041

2010

2 2 1 0 0 00

20

40

60

80

100

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Comple

tar

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Pausa in

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o

Estratégias

Fre

ên

cia

Figura 5: Estratégias usadas pela mãe na linha de base.

A tabela 10 abaixo retrata o uso, em termos de porcentagem, das estratégias adotadas

pela mãe. A porcentagem foi calculada dividindo a frequência computada de cada uma destas

estratégias pela soma total delas mesmas e multiplicando, posteriormente, por 100. Por

exemplo, o total de ocorrência de perguntas-Qu, nas 6 sessões de linha de base foi 71 vezes.

197 foi o número total de estratégias usadas assim sendo, 71/197x100= 36%. Isso indica que

em 36% das vezes do uso total das estratégias, a mãe utilizou a estratégia.

Tabela 10: Porcentagem das estratégias adotadas pela mãe (LB).

Estratégia Porcentagem de uso

Perguntas-Qu

36%

Completar 25,4%

Atenção compartilhada 20.8%

Completar fonológico 10.2%

Final aberto 5.1%

Evocar 1%

Inferências 1%

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Identificação emocional 0,5%

Pausa intencional 0%

Elogio 0%

Expansão 0%

A tabela 10 mostra que das 11 estratégias observadas no repertório da mãe, as três

mais prevalentes foram Perguntas-Qu, usadas 36% das vezes, estratégias de Completar,

implementadas 25,4% e, por fim, o Completar Fonológico usado em 10,2% das vezes.

As perguntas Qu eram tipicamente questões relativas a fatos prontamente observáveis,

como figuras ilustradas nos livros e/ou lidas no texto como, por exemplo, “qual a cor do

barco?”; “O que é isso?” ou “Qual o nome da sereia?”

Em relação à estratégia Completar, vale destacar que a mãe tipicamente a empregava

como frase conclusiva das narrativas. Assim, ao final da frase: “e viveram felizes para”,

tipicamente pausava, permitindo à criança completar a sentença com a palavra “sempre”.

Inicialmente, o Completar Fonológico não fazia parte do programa interventivo

proposto. No entanto, considerando o seu uso contínuo pela mãe, a pesquisadora julgou

pertinente a sua incorporação ao programa, uma vez que parecia ampliar a responsividade da

criança.

A literatura revela que o sistema auditivo utiliza vários mecanismos para processar

informação acústica (BELLIS, 2003). Dentre essas habilidades auditivas, básicas para a

comunicação e a audição, se encontra a “Closura ou Fechamento Auditivo”, ou seja, a

capacidade de entender e completar as partes faltantes de uma frase ou de uma palavra

percebida através da audição (LAMÔNICA et. al., 2012; BELLIS, 2003). O desenvolvimento

desta habilidade permite, entre outras coisas, compreender a mensagem recebida em um

ambiente ruidoso (PEREIRA, 2007). A Closura auditiva é o que chamamos de Completar e

de Completar Fonológico no presente estudo. Esse procedimento é ilustrado no segmento a

seguir:

Mãe e filho sentados na cama enquanto a mãe lê a estória, ela diz: “o nome do

menino é Da...” e a criança responde: “...niel”. (REGISTRO DE CAMPO,

NATAL-RN 26/9/2016)

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Conforme observado na figura 5, as categorias empregadas com menor frequência

foram, Final Aberto (10 vezes), Evocar e Inferência (2 vezes) e Identificação Emocional (1

vez). Em relação a essa última estratégia, vale destacar um dos únicos segmentos onde foi

empregada:

A mãe sentada na cama pergunta à criança, que parecia não estar prestando

atenção nesse livro: “Como é que Tyrone está aqui? oh, o Tyrone ficou com

medo” ... (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 14/9/2016)

O trecho revela que, embora tenha feito uma pergunta inferencial, não forneceu tempo

para a criança responder. A baixa frequência no uso dessas estratégias coincide com os

achados de van Kleeck; Vander Woude (2003). Esses estudiosos observaram, em pesquisa

sobre leitura compartilhada em crianças pré-escolares, que os cuidadores de crianças com

déficits na linguagem teciam comentários e elaboravam perguntas inferenciais, em menor

frequência quando comparados com pais de crianças com desenvolvimento típico.

A Atenção Compartilhada é uma habilidade na qual, crianças com autismo

apresentam dificuldade (WHALON, et al., 2013; MUNDY; NEWEL, 2007; DAMIÃO

FARAH; PERISSINOTO; CHIARI, 2009). Assim sendo, além dos tipos de perguntas

baseadas na leitura dialógica, o programa interventivo proposto sugere o uso de estratégias

que auxiliam no desenvolvimento de habilidades de atenção compartilhada, reciprocidade

social e comunicação. Esse conjunto de práticas, derivados do modelo RECALL (WHALON

et al., 2013), foi utilizado esporadicamente pela mãe. De forma específica, a Atenção

Compartilhada foi, de todas, a mais usada, ou seja, 41 vezes o equivalente a 20,8% do tempo.

A Pausa Intencional, o Elogio e a Expansão da linguagem não foram observadas durante a

linha de base, sugerindo que não faziam parte do repertório da mãe.

3.2.2 Intervenção

Na fase de capacitação, como detalhado no capítulo de Metodologia, a mãe foi

instruída a utilizar o programa Recall adaptado. Em outras palavras, recebeu, por escrito, o

roteiro de perguntas para ser utilizado durante a Intervenção em cada um dos dias de leitura.

Adicionalmente, foi lhe entregue um livrinho, com ajudas visuais, para ser usado caso a

criança respondesse errado ou não respondesse, conforme ilustrado na figura 6.

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Figura 6: Livrinho com ajudas visuais e perguntas do roteiro.

Conforme observado na figura 6, o livrinho era composto por páginas presas a uma

argola. Em cada página existiam três figuras (do software ARASAAC e em algumas

desenhadas pela pesquisadora) acompanhadas pelo nome da ilustração. Cada livrinho

continha entre 9 e 15 páginas, segundo a quantidade de páginas do livro escolhido para

leitura.

Durante o primeiro dia de leitura de cada um dos livros da intervenção estavam

incluídas, no roteiro, apenas as Perguntas-Qu (Que? Quem? Onde? Qual cor?), além das

estratégias de Atenção Compartilhada, Pausa Intencional, Elogio e Expansão da Linguagem.

No segundo dia de leitura, as perguntas tornavam-se mais complexas, sendo incluídas

questões de Final Aberto, Evocar, Identificação Emocional e Inferência.

Durante a fase da Intervenção a mãe contou as estorinhas no quarto da criança,

seguindo a rotina tradicional da família. Ao invés de deitar a criança ao seu lado, como fizera

na linha de base, algumas vezes optou por sentar o menino em uma cadeira, em frente a uma

mesinha. De acordo com ela, essa estratégia diminuiria a distração dele. De fato, registros de

campo sugerem que esse era um procedimento efetivo, uma vez que o menino parecia

permanecer mais tempo na tarefa quando sentado à mesa.

Em algumas sessões, os dois estavam sentados lado-a-lado, em frente à câmera e em

alguns outros encontros, a mãe se posicionava de costas para câmera, mas de frente para o seu

filho.

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Durante a leitura do primeiro livro, a mãe se mostrava entusiasmada, energética,

parecendo desfrutar da atividade. Com o passar da leitura do terceiro livro, a pesquisadora

observou que, por momentos, a mãe e o pai pareciam um pouco cansados ou ansiosos com o

estudo. Assim, a questão foi trazida pela pesquisadora em sessão de capacitação subsequente.

A mãe respondeu que estava confortável contando as histórias, mas que tanto ela como o

esposo ficaram um pouco frustrados frente ao fato de o filho não responder corretamente a

algumas das questões, consideradas por eles, já conhecidas pela criança. Isso ficou

evidenciado o seguinte fragmento:

[...] tem horas em que fico... não sei frustrada de ele não estar respondendo,

porque tem coisas que são de cor, coisas que sabe, que em outras situações

ele responde”. (CLÁUDIA, CAPACITAÇÃO POR SKYPE®, 14/11/2016)

Conforme previamente descrito, a mãe foi instruída, durante a capacitação, a utilizar

ajudas visuais dispostas em um livrinho. Se o menino respondesse de forma incorreta, três

opções visuais eram ofertadas. Se ele escolhesse a resposta errada, era oferecida a opção

binária. Considerando que Diego apresentava ecolalia, a pesquisadora sugeriu que as

respostas corretas não fossem postas como última opção. Essa configuração evitaria a

repetição verbal da resposta correta (se estivesse na última opção), dificultando a avaliação do

que, de fato, o menino havia selecionado como alternativa.

Cláudia pareceu gostar do uso das dicas visuais (livrinho). No primeiro encontro de

capacitação, quando recebeu a explicação sobre o programa, ficou entusiasmada com o uso

dessa estratégia, uma vez que ela mesma a usava para auxiliar o filho a fazer escolhas, em

casa. Assim, relatou que apresentava a opção binária (mostrando duas figuras) quando ele,

por exemplo, tinha que escolher entre dois filmes ou dois tipos de alimentos. Nessas ocasiões,

o menino falava a figura de seu interesse

Em vários episódios de leituras das histórias, a mãe perguntou e, imediatamente,

mostrou as três ajudas visuais (nível 2), anulando a possibilidade da criança de dar uma

resposta de nível 1 (sem ajuda visual). Esse padrão de comportamento foi observado,

principalmente, durante a leitura do primeiro livro, conforme evidenciado no seguinte registro

de campo:

A mãe faz a pergunta repetidamente e em seguida usa a hierarquia de dicas

dando a escolha de três opções de ajuda visual sem esperar a criança

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80

responder: “O que que o patinho mandou o jacaré fazer? O patinho falou para

ele fazer o que? é? O patinho falou para fazer o que para passar a dor de

dente? Pergunta-Qu) foi carinho, gritar ou chorar? O q é para o jacaré fazer?

é para ele fazer carinho, é para ele gritar ou para ele chorar?” Usa o PEEP

(nível 2). (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 2/11/2016)

Com a finalidade de reduzir o uso inadequado das dicas visuais, a pesquisadora

retomou essa estratégia interventiva com a mãe nas sessões subsequentes de capacitação.

Entretanto, esse mesmo padrão de comportamento não cessou, conforme evidenciado no

registro de campo do primeiro dia do livro cinco da fase da intervenção:

Frente a uma pergunta de tipo Final Aberto, a mãe, usa a estratégia e ao

mesmo tempo usa o PEEP, dando o nível de ajuda visual 2: “Que está

acontecendo aqui Diego? mmm – conta pra a mamãe? Que está acontecendo

aqui?” (pergunta) e em seguida: “A tartaruga está se escondendo dentro do

violão, a tartaruga está se escondendo dentro do armário ou a tartaruga está

se escondendo dentro de uma caixa? Que está acontecendo aqui?”

(REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 29/11/2016)

Falha no uso da estratégia pode estar associado à própria adaptação da mãe ao

protocolo proposto. Conforme discutido por outros autores, a adoção de uma prática

interventiva desenvolvida em outra cultura pode não ser prontamente assimilada (NUNES et

al, 2014). Embora atividades familiares, como a leitura de uma estória para criança, seja

comportamento presente em diversas populações, é essencial considerar as diferenças

culturais que possam existir (RICCO LUCATO SIGILO, 2000).

Nesse cenário, ressalta-se que este estudo foi aplicado em uma família brasileira,

utilizando uma adaptação de um programa de leitura criado para uma população norte-

americana. É importante, portanto, considerar as individualidades de cada cultura. Em um

estudo conduzido por Nunes e colaboradores (2014), por exemplo, as mães brasileiras

pareciam mais diretivas quando avaliadas em escala de responsividade interagindo com seus

filhos. Ademais, como salientam esses mesmos autores, a estimulação da criança no Brasil é

mais comumente realizada por profissionais em centros especializados ao invés do ambiente

familiar.

A demora de Cláudia no uso das estratégias propostas pode estar, portanto,

relacionada à necessidade de mais tempo para assimilar o protocolo. Isso é ratificado em sua

fala quando declara:

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[...] não era só aquela leitura que eu fazia antes, aquela leitura que eu lia por

ler, e eu ia deixando, se ele prestasse atenção tudo bem e senão tudo bem

também, e tinha perguntas que iam ser feitas e que se esperava alguma coisa

dele... (ENTREVISTA PARA VALIDAÇÃO SOCIAL, 2 DE JUNHO, 2017)

Registros de campo sugeriram que a mãe, por vezes, falhava em seguir a liderança do

filho, ou seja, tecer comentários ou fazer perguntas sobre o desenho que ele estava olhando.

Esse fenômeno pode ser observado na seguinte cena, extraído da sétima sessão (primeiro dia

do 4º livro) da fase de intervenção:

No meio da pergunta da mãe “Que que ela fez? ela trocou a cor do gato ou

ela fez dos gatos pretos? mmm?” (opção binária, ou seja, nível 3 da

hierarquia de dicas) o menino gostou da imagem do livro que mostra a

escada da qual a bruxa caiu e começa a fazer com os dedos como subindo a

escada. A mãe não segue o interesse dele, e responde rápido: ...” aqui ela

caiu... e aqui ela fez a mágica” (apontando na outra imagem q corresponde a

pergunta da mãe) e diz: “Presta atenção aqui meu amorzinho...” colocando os

cartões de ajuda visual nas mãos do menino. (REGISTRO DE CAMPO,

NATAL-RN, 15/11/2016)

Nesse caso, uma flexibilização do protocolo fosse, talvez, indicada. Isso permitiria

que a mãe deixasse o roteiro de perguntas de lado e permanecesse focada no objeto ou

personagem da estória que fosse de interesse da criança. Vale, ainda, destacar que em

algumas ocasiões, o menino respondeu incorretamente por estar focado num desenho,

enquanto a mãe continuava a falar sobre outra coisa. Essa dinâmica é ilustrada na seguinte

cena do sexto livro da intervenção:

A mãe faz uma Pergunta-Qu e ao mesmo tempo usa o nível 2 da hierarquia

de dicas: “Com que que eles estavam brincando Diego.? O que que os bruxos

estavam brincando aqui? Eles estavam brincando com vassouras, estavam

brincando com tartarugas ou estavam brincando com papel? Com que eles

estavam brincando, aqui oh, na festa? Eles estavam brincando com as

vassouras, com as tartarugas ou com papel?” A criança ao olhar o desenho no

livro comenta: “Olha, estão “bincando”, Olha, estão “bincasdo”. “Bincando”

(em voz sussurrada praticando muitas vezes como dizer corretamente as

palavras, repetindo baixinho até ele articular bem) A mãe continua: “Não era

com papel não, eles não tinham papel nenhum aqui. Eles estavam brincando

com que? com as vassouras ou com as tartarugas? Presta atenção aqui oh, no

livro! Com q eles estavam brincando aqui na festa, com as vassouras ou as

tartarugas? Diz pra mamãe!” (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN,

29/11/2016).

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Observando o vídeo podemos inferir que no momento em que a criança repete a

palavra “brincando” varias vezes, na tentativa de conseguir uma produção correta, a mãe o

interpreta como distração e continua como se ele tivesse dado uma resposta incorreta, passando da

ajuda visual do nível 2 (com três opções) à nível 3 (opção binária).

No intuito de não permitir que a criança se distraísse ou perdesse o interesse,

frequentemente a mãe fazia a mesma pergunta repetidas vezes, sem dar tempo para a criança

pensar e responder, conforme destacado no seguinte trecho:

A mãe pergunta sem pausa: “Qual é a cor da touca do Samuel? Qual é a cor

da touca do menino? Qual é a cor? Qual é a cor da touca?” (REGISTRO DE

CAMPO, NATAL-RN, 5/11/2016).

Vale destacar que o indivíduo com autismo apresenta, muitas vezes, dificuldades no

processamento de informações auditivas (SCHUH, EIGSTI, 2012). Nessa perspectiva, é

fundamental permitir mais tempo para que uma verbalização seja compreendida.

Adicionalmente, foi observada a mescla de perguntas de distintos níveis de

complexidade durante o mesmo segmento lido. Isso foi observado, por exemplo, durante a

leitura do primeiro livro, onde a mãe faz diversas perguntas que fogem ao roteiro original. De

forma específica ao invés de perguntar “Por que o jacaré tem um buraquinho na boca?”,

(tendo como opções de resposta (a) porque o dente caiu, (a) porque o dente quebrou e (c)

porque pintou o dente de cor preta), ela faz uma pergunta de Inferência e, em seguida uma

com Final Aberto. Essa cena é descrita no seguinte segmento:

Mãe pergunta: “O que é isso aqui na boca do jacaré, mm? Por que que o

jacaré tem esse buraquinho na boca? o que aconteceu com o dente do jacaré

quando ele espirrou?”, perguntando uma pergunta do tipo Qu, uma pergunta

inferencial, e uma de final aberto. (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN,

26/10/2016)

A mãe foi orientada a ler e não apenas contar a estória para o menino. Essa instrução

foi dada pelo fato da linguagem escrita ser diferente da linguagem oral, que pode apresentar-

se mais simplificada em estrutura sintática e menos rica em vocabulário. Quando a leitura era

feita em ritmo acelerado, Cláudia falhava em empregar onomatopeias, inflexões de voz ou

gestos. Quando lia de forma mais lenta, conseguia usar, com sucesso, onomatopeias e gestos,

que pareciam auxiliar o menino a manter o foco de atenção e permanecer na tarefa.

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A figura 7 mostra os tipos de perguntas e comentários tecidos durante a capacitação.

De forma específica, indica a frequência total, mostrada em quantidade de vezes (unidades)

com que cada estratégia foi utilizada nas 6 sessões de intervenção, envolvendo a leitura dos 6

livros. Conforme previamente sinalizado, o objetivo dessa etapa foi averiguar os efeitos da

capacitação no repertório comportamental da mãe.

Ocorrência total das categorias da mãe (Intervenção)

88

64

2011 13 17

7 8 6 61

0

20

40

60

80

100

Qu-

perg

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cia

Figura 7: Estratégias usadas pela mãe durante a Intervenção.

A tabela 11 abaixo retrata o uso, em termos de porcentagem, das estratégias adotadas

pela mãe durante a intervenção.

Tabela 11: Porcentagem das estratégias adotadas pela mãe na Intervenção.

Estratégia Porcentagem de uso

Perguntas-Qu

36.5%

Expansão 26.6%

Inferências 8.3%

Completar 7.1%

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Atenção compartilhada 5.4%

Final aberto 4.6%

Evocar 3.3%

Identificação emocional 2.9%

Completar fonológico 2.5%

Elogio 2.5%

Pausa intencional 0.4%

A tabela 11 mostra que, das 11 estratégias observadas na implementação do programa

por parte da mãe durante na fase de Intervenção, as mais prevalentes foram perguntas Qu,

usadas 36,5% das vezes, e a estratégia de Expansão, implementada 26,6% das vezes.

Era esperado, conforme previsto no roteiro, que a mãe implementasse as Perguntas-

Qu, em alta frequência. De fato, foram contabilizadas 90 perguntas nos roteiros originais

elaborados pela pesquisadora. Registros indicaram que Cláudia fez 88 perguntas, indicando

adequado seguimento do protocolo.

Conforme destacado no protocolo original do programa RECALL, o leitor não dispõe

de roteiro fixo para as Expansões, ou seja, deve criar, espontaneamente, respostas, com base

na resposta da criança. Por exemplo, frente à pergunta: “qual a cor da bananeira?”, a criança

responde “verde”. Nessa ocasião, a mãe pode dizer, “sim, a bananeira é verde e tem folhas

grandes”. Observa-se que Cláudia empregava essa estratégia com destreza, conforme

destacado no seguinte fragmento:

A mãe elogia a resposta correta da criança: “O sol, sim, muito bem!” E

continua com a expansão da resposta da criança: “Olha o sol, grandão! Bem

amarelão! Olha as bochechas do sol, bem laranja, olha q legal! Tem até nariz

Diego, esse sol”. (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 7/11/2016)

Vale destacar que, diferente do programa proposto, a mãe expandia suas próprias

respostas, quando a criança falhava em responder ou dava uma resposta errada. Isso é

observado no seguinte trecho:

A mãe pergunta: quem está com dor de dentes? Como a criança não

responde, ela diz: e o jacaré está com dor Diego, olha aqui...e expande sua

própria resposta: Ele está ai, ai, ai, ui ui ui, ele está com dor, o Jacaré…

(REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 29/10/2016)

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A criança pega as duas ajudas visuais e a mãe diz: Só uma, para ai, presta

atenção, e pergunta: ela é branca ou é verde? a criança não responde, então

ela dá o modelo correto (nível 4 da hierarquia de dicas) dizendo: Não é verde

não.... olha aqui (mostrando desenho) bem branquinha, e expande: feito um

algodão, é a cor da ovelhinha. (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN,

12/11/2016)

Sendo a Expansão um recurso não usado pela mãe durante a linha de base, ficou

demonstrado, pelo seu uso frequente na intervenção, que ela aprendeu a implementar essa

estratégia após o programa de capacitação.

O emprego de Inferências e Completar foram observados em porcentagem

semelhante. No primeiro caso com 8.3% e para a segunda estratégia 7.1%. No presente

estudo, diferente do estudo de Van Kleeck; Vander Woude; Hamemt (2006)13 não separamos

as perguntas da estratégia Inferência por níveis de dificuldade. Esse detalhamento talvez fosse

favorável para compreender o nível de dificuldade de Diego nesse tipo de questão.

O Completar da última frase “e viveram felizes para sempre” usada para finalizar a

narrativa, não fazia parte do roteiro original entregue à mãe. No entanto, uma vez que ela

evidenciou o uso dessa estratégia em linha de base, a mesma foi mantida e ressaltada durante

a intervenção. Como resultado, foi computado o seu uso junto com as outras oportunidades de

uso da estratégia, totalizando em 10,8% das vezes.

A Atenção Compartilhada e o Final Aberto foram usados em, aproximadamente 5%

das vezes. A primeira estratégia é observada na seguinte cena do primeiro livro da fase:

A mãe está lendo a estorinha e a criança começa a verbalizar a frase que sua

mãe usa quando termina de ler o livro querendo terminar a atividade:

“Feliiiiiiiz... Pra sempre...”. Repete mesma frase pois a mãe continua lendo.

Então ela utiliza a estratégia de Atenção Compartilhada para chamar a

atenção da criança no assunto que ela está tocando, e diz: “Oh, olha o

gravetinho!” (conseguindo captar a atenção da criança que olha para onde a

mãe aponta. (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 26/10/2016)

No exemplo a seguir se evidencia o uso da estratégia de Final Aberto:

13As autoras desse estudo separaram tanto as perguntas de fato como as inferenciais em dois níveis de

dificuldade cada uma delas. Perguntas de fato, nível I, por exemplo: “que é isso”? (Apontando a imagem

no livro) e nível II, por exemplo: “que esta fazendo o urso aqui”? E perguntas inferenciais, Nível III, por

exemplo: “como você pensa que o urso esta se sentindo porque seu amigo pequeno pássaro esta indo

embora? ’’ e nível IV, por exemplo, que você pensa que o urso vai fazer com sua flecha e a colher encima

dela?

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A mãe faz a pergunta de Final Aberto ao mesmo tempo em que utiliza PEEP

(Nível 2): “O que que está acontecendo aqui Diego, é? A tartaruga queria

comer queijo, o urubu virou o violão e a tartaruga caiu, ou o sorvete

derreteu? O que que está acontecendo aqui?” (E a repete duas vezes). A

criança responde incorretamente: “Ei sovete”. A mãe verbaliza: “Hein?” A

criança vocaliza: “ahhhmm” olhando os cartões. A mãe repete as ajudas

visuais: “A tartaruga quer comer queijo..., o urubu virou o violão e a

tartaruga caiu, ou o sorvete derreteu?” Preste atenção... A criança diz: “Dois”

- rindo concentrado no que ele está olhando no livro, sem prestar atenção a

mãe. “Que que está acontecendo aqui? Conta pra mamãe, a estória.”. volta a

perguntar a mãe. Frente ao silencio da criança a mãe usa PEEP nível 3: “O

sorvete não derreteu não... A tartaruga quer comer queijo ou o urubu virou o

violão e a tartaruga caiu? Que que está acontecendo?” O menino continua

olhando o livro. Então a mãe dá o modelo correto e diz: “A tartaruga não

quer comer queijo não Diego, o urubu virou o violão e a tartaruga caiu”,

expandindo a resposta: “olha só ela caindo do violão lá do céu no chão.” A

criança olha o cartão que a mãe pega e dá uma gargalhada (REGISTRO DE

CAMPO, NATAL-RN, 18/11/2016)

Evocar e Identificação Emocional estavam presentes em aproximadamente 3% das

vezes. A seguir, é apresentado um fragmento onde a estratégia de Evocar foi empregada pela

mãe:

A mãe faz uma pergunta de Evocar: “Você se lembra que a mãe comprou pra

ele entrar na piscina?” O menino se coloca as mãos na boca, e não quer

participar. A mãe pergunta novamente: “Se lembra?” (pega as ajudas

visuais), e diz: “vamos escolher... escolher só 1. a mãe do Samuel comprou a

roupa da natação: (óculos, a touca, sunga), comprou uma pipoca ou comprou

uma bicicleta para Samuel ter coragem de entrar na piscina? O que foi que a

mãe comprou pra ele? Você se lembra? Foi a roupa de natação (os óculos, a

touca) uma pipoca ou uma bicicleta?” A criança não responde nada, então a

mãe usa PEEP (Nível 2): “Não foi uma pipoca não, a mãe do Samuel não

comprou uma pipoca. O que foi que ela comprou, ela comprou uns óculos, a

sunga, a roupinha da natação ou ela comprou uma bicicleta?” OPÇÃO

BINÁRIA (nível 3) Todo o tempo a criança continua desatenta e irritada. A

mãe dá o modelo correto (PEEP nível 4): “Ela comprou a roupa dele para ela

entrar na piscina, se lembra? Ela comprou a sunga, os óculos, a touca verde,

as boias, não foi?!”, e expande a própria fala: “olha que legal ele usando

tudo, a prancha, igual ao Diego, fazendo natação, batendo pezinho, igual ao

Dieguinho” (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 5/11/2016)

A seguir se observa uma cena de leitura do livro sexto onde a mãe usou a estratégia de

Identificação Emocional:

A mãe faz uma pergunta de Identificação emocional ao mesmo tempo em

que usa PEEP (nível 2): “Como é que ela está se sentindo? Ela está triste, a

bruxa Winnie ficou feliz porque chegou o aniversário dela, ou ela está com

raiva? Como ela está se sentindo, a bruxa, quando se lembrou, que era o

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aniversário dela? Triste feliz ou com raiva?” A criança dá uma resposta

ecolálica e diz: “raiva”. A mãe então usa a OPÇÃO BINÁRIA (nível 3) e

diz: “Não, ela não está com raiva. Olha, ela está vendo no calendário que é o

aniversário dela. Ela ficou feliz ou triste?” Novamente a criança emite uma

resposta ecolálica e diz: “triste”. A mãe diz: “Também não... meu amor, ela

não ficou triste. Ela ficou muito feliz olha aqui, muito feliz quando viu

ahhhh, chegou a sexta feira 13 meu aniversário!” DA MODELO CORRETO

(nível 4) e realizou Expansão (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN,

30/11/2016)

Implementadas na mesma frequência estavam o Completar Fonológico e o Elogio

2.5% das vezes. No roteiro entregue a mãe, não havia nenhuma pergunta do tipo Completar

Fonológico, entretanto, espontaneamente a mãe usou essa estratégia seis vezes. Isso se

evidencia no registro de campo a seguir: A mãe pergunta: “olha aqui o olhão dele. Qual é a

cor do olho dele?” “Era ver” ... E a criança responde: ...”de”.

O escasso uso do Elogio (6) pode ser atribuído, em parte, à baixa frequência de

respostas corretas emitidas pela criança durante a intervenção.

3.2.3 Follow-up

O objetivo das sessões de follow-up, conduzidas, três meses e 12 dias após o término

da intervenção, foi avaliar a manutenção das estratégias interventivas pela cuidadora. Durante

esta etapa, explicada mais detalhadamente no capítulo de Metodologia, a mãe foi instruída a

ler três livros para a criança, também duas vezes cada um. Desta vez a pesquisadora não

entregou nenhum roteiro de perguntas, inclusive, permitindo que optasse ou não pelo uso de

ajudas visuais. Assim como na linha de base, nessa fase a mãe não recebeu qualquer instrução

ou dica da pesquisadora.

Se comparada com as fases anteriores, a mãe parecia mais relaxada nessa última etapa

da pesquisa. Podemos inferir isso porque lia a estória de forma mais pausada, utilizava

onomatopeias e repetia as perguntas com menos frequência, fornecendo mais tempo para a

criança processar e responder. Parecia ter conseguido se ajustar ao ritmo do filho e

estabelecer diálogos com ele através das perguntas que ela fazia e das respostas que ele dava.

Ninio; Bruner, (1978) estudaram, durante rotinas de leitura, os antecedentes e a produção da

nomeação numa díade (mãe-filho), quando a criança tinha de 8 meses a um ano e seis meses

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de idade. Resultados da pesquisa revelaram que a participação em diálogos durante a leitura

foi o melhor mecanismo para promover a nomeação, superando a estratégia de imitação.

Foram realizadas leituras de três livros, duas vezes cada um com espaço de 15 a 20

dias entre cada livro. Nas duas ilustrações a seguir, 8 e 12 é possível observar a ocorrência

total das estratégias usadas pela mãe nos três livros do Follow-up. Em valor de frequência

(unidade) na figura 8 e em porcentagem na tabela 12.

Figura 8: Estratégias usadas pela mãe durante o Follow-up.

Tabela 12: Porcentagens das estratégias usadas pela mãe durante o Follow-up.

Estratégia Porcentagem de uso

Perguntas-Qu

35.76%

Expansão 11.52%

Inferências 0.0%

Completar 19.39%

Atenção compartilhada 6.67%

Final aberto 1.21%

Evocar 0.0%

Identificação emocional 3.03%

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89

Completar fonológico 13.94%

Elogio 8.48%

Pausa intencional 0.0%

A tabela 12 acima mostra que das 11 estratégias do programa, a mãe utilizou oito.

Dessas oito estratégias, as mais prevalentes foram Perguntas-Qu, usadas 35,76% das vezes, e

a estratégia de Completar, implementada 19,39% das vezes.

A estratégia de Completar Fonológico foi utilizada 13.94%, ou seja, com uma

frequência parecida com a estratégia Expansão, que foi utilizada 11.52% das vezes.

Entretanto, a estratégia Elogio foi usada 8.48% das vezes.

Das 23 vezes que a mãe usou a estratégia Completar Fonológico, só em três

oportunidades ela foi usada como pergunta inicial. Em outras palavras, nas 20 vezes restantes,

a mãe usou a estratégia para auxiliar a criança a compreender uma pergunta de maior

complexidade, como apresentado no exemplo a seguir:

A mãe faz uma pergunta-Qu: “Como é o nome desse menino?” A criança

responde com ecolalia: “menino”. A mãe repete a pergunta: “Como é o nome

do menino?” “Cuspindo”, responde a criança olhando o desenho. Então a

mãe usa Completar Fonológico com a intenção de facilitar a pergunta: “O

menino que está cuspindo. O nome dele é Sa....” e a criança responde

corretamente: “Samuel” (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 22/3/2017)

É importante destacar que, embora a mãe tenha relatado, durante a capacitação, que

apreciava o uso de estratégias visuais, em nenhum dos três livros usados na fase de follow-up

foram utilizadas ajudas visuais. A mãe, perguntava uma vez e, se o filho não respondia

corretamente, ela repetia a pergunta. Se a resposta continuava incorreta, ela mudava o tipo de

pergunta. Em outras palavras, tipicamente começava utilizando uma Pergunta-Qu e, diante de

uma resposta incorreta, usava uma pergunta para Completar ou Completar Fonológico,

conforme observado no seguinte segmento:

Mãe: Como é o nome do irmão da Luna? (Pergunta-Qu) Diego: vocalizações ininteligíveis Mãe: Como é o nome do irmãozinho da Luna? (Pergunta-Qu) Diego: Da Luna (ecolalia) Mãe: O irmão da Luna? (Pergunta-Qu) Diego: Irmão da Luna (ecolalia) Mãe: Como é o nome? (Pergunta-Qu) Diego: Luna, aí, é Luna (resposta incorreta)

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Mãe: A Luna, e o nome do irmão dela é...? (Completar) Diego: Claudio... (resposta incorreta) Mãe: Claudio é o nome do bichinho (correção dialogada) Diego: Do bichinho (ecolalia) Mãe: Bichinho da Luna é Claudio, o irmão é...? (Completar) Diego: É júpiter (resposta correta) Mãe: É o júpiter, muito bem! (Elogio) (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 3/5/2017)

No exemplo acima, observamos que uma resposta ecolálica, considerada errada foi

estímulo para que a mãe modificasse a estratégia. Ao invés de apresentar os estímulos visuais,

ela modifica o tipo de pergunta para chegar a um nível mais fácil e fornecer, assim, ajuda

verbal, para que a criança chegue a responder corretamente. Assim, podemos inferir que, de

certa forma, a mãe estava usando esta estratégia como ferramenta equivalente as ajudas

visuais da fase da intervenção. Em outras palavras, analogamente a intervenção, frente a uma

resposta incorreta, a mãe utilizava três opções visuais (livrinho), depois duas, e depois dava o

modelo correto.

Van Kleeck; Vander Woude; Hamemt (2006), com o intuito de avaliar intervenções

para remediar ou evitar futuras dificuldades na compreensão leitora de crianças com atraso da

linguagem, utilizaram no seu estudo, a atividade de leitura repetida de livros com um roteiro

de perguntas dos dois tipos (perguntas factuais e inferenciais), e com dois níveis de

dificuldade para cada tipo de pergunta. Esse roteiro assemelha-se ao procedimento adotado

por Cláudia durante a fase de follow-up do presente estudo. Em outras palavras, Van Kleeck;

Vander Woude; Hammett (2006), incorporaram o roteiro de perguntas incluídas no próprio

livro, junto com as possíveis respostas da criança, e os níveis de ajuda, em forma dialógica.

Desse modo, todas as crianças do seu estudo recebiam as mesmas perguntas, dicas e ajudas na

mesma parte da narrativa. Ao fazer uma pergunta de fato de nível I, o agente de intervenção

começava com uma Pergunta-Qu: que é isso? (apontando para uma figura no livro). A

criança podia responder (1) corretamente, (2) adequadamente, mas sem dar a palavra exata,

ou seja, dando uma palavra dentro da rede semântica, mas não adequada (3) Resposta

Incorreta, ou uma não resposta. Caso a criança desse uma resposta tipo 2 ou 3, o agente

interventivo apresentava ajudas em forma de comentário, sem o uso de apoio visual.

A dinâmica descrita no estudo de Van Kleeck e colaboradores (2006) assemelha-se ao

que foi utilizado no presente estudo, equivalendo à estratégia de Completar. Se Diego

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respondia errado ou ficava sem dar resposta, a mãe continuava utilizando, no caso, o

Completar Fonológico.

Seguindo o protocolo do programa interventivo, era de se esperar que as estratégias de

Elogio e Expansão da Linguagem fossem empregadas com mais frequência. Ou seja, cada

vez que o cuidador elogia uma resposta correta dada pela criança, deve expandir essa

resposta. Exemplos do uso das estratégias Elogio e Expansão da Linguagem são observados

nos seguintes registros de campo:

A mãe pergunta: “O que bicho é esse aqui Diego, que estava perto do

Samuel? Que bicho é esse?” A criança responde: é uma joaninha e a mãe

repete a frase dele e elogia: “É uma joaninha muito bem!” (REGISTRO DE

CAMPO, NATAL-RN, 25/3/2017)

A mãe pergunta: “Eles estão conversando com quem?” A criança responde:

“Com a lua”... pela resposta correta a mãe repete a resposta dele, elogia e

expande: “Com a lua, Esso mesmo! A Luna, o L. o júpiter e o Claudio estão

conversando com a lua.” (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 3/5/2017)

A mãe pergunta: “O menino que está cuspindo. O nome dele é Sa…”

(Completar Fonológico), e a criança responde corretamente: “Samuel,” então

a mãe realiza expansão da linguagem acrescentando informação ao falado

pelo Diego, “Esse aqui é o Samuel que está com machucado.” (REGISTRO

DE CAMPO, NATAL-RN, 22/3/2017)

A mãe pergunta: “A foto de quem é, do...?” “Gato”: responde o menino. A

mãe elogia e expande a resposta correta da criança: “Isso! A foto do gato que

era o melhor amigo da menininha.” (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN,

10/4/2017).

Na primeira cena, a mãe repete a frase da criança e elogia; na segunda cena a mãe

repete a resposta do filho, elogia e expande; no terceiro exemplo, ela realiza expansão da

linguagem, ou seja, acrescenta informação ao que é verbalizado por Diego. Por fim, no quarto

segmento, ela elogia e expande a resposta correta da criança.

Nesse contexto, vemos diferentes formas da mãe se comportar frente às respostas

corretas da criança. Podemos atribuir esse padrão de comportamento ao fato da mãe sentir-se

mais livre por não estar usando o material ou por considerar que o filho não precisa mais das

ajudas visuais, conforme destacado na entrevista de validação social da pesquisa:

Frente à pergunta Usaria ajudas visuais no dia-dia ao contar histórias ao seu

filho? , a mãe responde [...] agora eu já acho que dá para ir mais solto... estar

mais livre mais para ver como ele responde. Como você está perguntando

agora, como é que eu faria... eu já fiz depois, não com esses livros, mas com

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92

os livrinhos dele, já contei a estória dessa forma, fazendo perguntas, e eu fiz

desse jeito (ENTREVISTA PARA VALIDAÇÃO SOCIAL, 2/6/2017).

Ao ser questionada sobre o não uso das ajudas visuais durante a fase do Follow-up, ela

responde:

Não sei, eu tô assim, pensando de como eu fiquei na hora que você disse

pode ser do jeito que você quiser, e eu fiquei na maior dúvida entre as duas...

fiquei sim, tentei, pensei, sentei, peguei os livrinhos que você tinha feito

antes para ver que eu ia fazer, pegava como você tinha feito para me basear,

ai que acabei dizendo não, vou tentar seguir a mesma estrutura de perguntas,

mas, mais livre, sem anotação, sem as dicas, vamos ver como ele responde,

[...] Ai eu gostei fazer dessa forma.. [...] que no momento da leitura não ia ter

que estar buscando tanto, porque no primeiro, eu fiz as anotações das

perguntas, mas na hora eu não peguei, eu fiz mais para mentalizar.

(ENTREVISTA PARA VALIDAÇÃO SOCIAL, 2/6/2017).

Da mesma forma que nas sessões de intervenção, a mãe empregou com frequência a

estratégia de Expansão. Interessante observar, que a utilizou não só frente às respostas

corretas senão também quando ela dava o modelo correto. Isso é exemplificado na sessão

cinco da fase do Follow-up:

A mãe faz uma Pergunta-Qu: “E como é o nome desse jogo q tem esses

números sabe?”...(mostrando no desenho), a criança responde

incorretamente, com vocalizações ininteligíveis, então a mãe muda o tipo de

pergunta para uma mais fácil, completar com dica fonológica: “É o jogo de

a..” ele volta a responder errado e diz: “De a mm...” assim sendo a mãe

ajuda: “Ama...” a criança erradamente responde: “amarelo”, desse modo a

mãe dá o modelo correto e expande dizendo: “Amarelinha”, e expande a

sentença: “o nome do jogo é amarelinha”. (REGISTRO DE CAMPO,

NATAL-RN, 3/5/2017).

As estratégias de Atenção Compartilhada e Identificação Emocional foram usadas

com frequência inferior às demais, ou seja, 6.67% das vezes e 3.03% das vezes

respectivamente.

A estratégia de Atenção Compartilhada é uma ferramenta que o programa utiliza com

o objetivo de estimular na criança a habilidade de atenção compartilhada14 (KASARI;

GULSRUD; WONG; KWON; LOCKE, 2010) durante a leitura do texto. Nesta etapa do

14 Triangulação do olhar coordenado e atenção mantida entre as pessoas e os objetos de interesse através do apontar e

mostrar

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93

Follow-up, Diego pareceu melhorar sua habilidade de compartilhar a atenção com a mãe uma

vez que pareceu seguir, de maneira mais constante, o seu foco de interesse. Assim, foi

observada, também, aumento na frequência de respostas corretas às perguntas feitas por

Cláudia.

A estratégia de Final Aberto foi implementada 1.21% das vezes, o equivalente a uma

duas. As estratégias de Inferência, Evocar e Pausa Intencional não foram utilizadas nenhuma

vez nesta fase do estudo. Como ressaltou Cláudia durante entrevista de validação social da

pesquisa, essas estratégias eram de difícil compreensão para o filho.

3.2.4 Análise conjunta

Com o objetivo de contrastar o uso das estratégias pela mãe, nesta seção serão

comparadas as três fases do programa. A figura 9 mostra o uso das estratégias, por parte da

mãe, nas etapas de linha de base, intervenção e follow-up.

Figura 9: Estratégias usadas pela mãe nas três fases do estudo (linha de base, intervenção e

Follow-up).

A tabela 13 mostra a porcentagem de uso das estratégias, por parte da mãe, nas etapas de linha de

base, intervenção e follow-up.

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94

Tabela 13: Porcentagem de uso das estratégias por parte da mãe nas três fases do estudo.

Estratégia

Porcentagem de uso

Linha de base Intervenção Follow-up

Perguntas-Qu

36%

36.5%

35.76%

Completar 25,4% 7.1% 19.39%

Atenção compartilhada 20.8% 5.4% 6.67%

Completar fonológico 10.2% 2.5% 13.94%

Final aberto 5.1% 4.6% 1.21%

Evocar 1% 3.3% 0.0%

Inferências 1% 8.3% 0.0%

Identificação emocional 0,5% 2.9% 3.03%

Pausa intencional 0% 0.4% 0.0%

Elogio 0% 2.5% 8.48%

Expansão 0% 26.6% 11.52%

De uma forma geral, os dados sugerem que a mãe empregou, nas três fases do estudo,

de forma mais assídua, as estratégias de Pergunta-Qu. Além desse tipo de estratégia estar

presente em seu repertório, conforme observado em linha de base, no protocolo do programa

era prescrito que apenas Perguntas-Qu deveriam ser feitas no primeiro dia de leitura de cada

livro, durante a intervenção. Por fim, essa alta porcentagem foi mantida no follow-up.

O Completar, presente em seu repertório, foi drasticamente reduzido na fase de

intervenção; voltando a apresentar aumento no follow-up. Essa redução no período

interventivo é atribuída ao fato do roteiro ser construído dessa forma, sem a inclusão da

estratégia de completar.

Da mesma forma que o Completar, a Atenção Compartilhada, sofreu grande queda na

intervenção e no follow-up. Isso pode ter ocorrido pela limitada demanda no uso da

estratégia. Ou seja, ao observar que o filho mantinha o foco de atenção na leitura, a mãe

julgou desnecessário tecer comentários sobre as ilustrações na página como forma de chamar

sua atenção.

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Como já comentado, o Completar Fonológico foi a estratégia incorporada ao

programa de intervenção por estar presente no repertório da mãe. Durante a intervenção foi

observada significativa queda em seu emprego. Isso se deve ao fato de a mãe ter no roteiro do

programa interventivo, a hierarquia de dicas de ajudas visuais para auxiliar a criança frente a

respostas incorretas ou não respostas. Em outras palavras, não descartou seu uso, mas

decresceu. Observa-se a volta ao uso dessa estratégia ao término da intervenção, justamente

fazendo, durante o Follow-up, o papel das ajudas visuais utilizado durante a intervenção.

As estratégias que obtiveram as mais baixas frequências durante as três fases do

estudo foram: Inferência, Evocar, Final Aberto e Identificação Emocional. Entretanto, não

todas seguem o mesmo padrão de ocorrência. As estratégias Inferência e Evocar, por

exemplo, apresentam baixa frequência na 1° fase, aumentando na 2° fase e decrescendo

abruptamente na 3° fase do estudo. Este padrão pode ser atribuído ao fato da mãe achar esses

dois tipos de perguntas as mais difíceis, restringindo o seu uso na elaboração dos roteiros.

Isso pode ser evidenciado na fala dela durante a entrevista de validação social:

[…] essas de evocar as achei as mais difíceis... Essa aí também, (inferência–

grifo nosso s) era muito difícil. O que que já passou... (evocar – grifo nosso)

... porque eu acho que assim, o “achar” você pensa... ele não tem ainda a

compreensão, por isso que as dicas visuais eram tão importantes...

(ENTREVISTA PARA VALIDAÇÃO SOCIAL, 2/6/2017).

A falta de mudança expressiva no uso de Final Aberto e Identificação Emocional na

fase do follow-up sugere a não incorporação dessas práticas no repertório da mãe.

FIDEDIGNIDADE

No intuito de avaliar o grau de fidedignidade com que a mãe implementou o protocolo

fornecido pela pesquisadora durante a intervenção, foi aplicado o Formulário de Avaliação

da Capacitação do Cuidador. O quadro 9 abaixo apresenta os resultados dos livros lidos

durante as fases de Intervenção.

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Quadro 9: Análise de fidedignidade no uso do programa interventivo.

E O DENTE AINDA DOÍA Dia 1 Dia 2 Formular as perguntas do roteiro C C Expandir o vocabulário I C Fornecer as dicas visuais (PEEP) C C Elogiar I (75%) I Estabelecer atenção compartilhada SIM SIM Pausa Intencional NÃO SIM Ajudas Visuais SIM SIM Livro SIM SIM

AULA DE NATAÇÃO

Formular as perguntas do roteiro C C Expandir o vocabulário C I

Fornecer as dicas visuais (PEEP) C C Elogiar I I Estabelecer atenção compartilhada SIM SIM Pausa Intencional SIM NÃO Ajudas Visuais SIM SIM Livro SIM SIM

MARIA VAI COM AS OUTRAS

Formular as perguntas do roteiro C C Expandir o vocabulário C C Fornecer as dicas visuais (PEEP) C I (16%) não pede para criança repetir Elogiar I I (8,3%) Estabelecer atenção compartilhada SIM SIM Pausa Intencional NÃO SIM Ajudas Visuais

Livro

BRUXA WINNIE

Formular as perguntas do roteiro C C Expandir o vocabulário C C Fornecer as dicas visuais (PEEP) C I (9%) porque não pede criança repetir

Elogiar I(0%) I Estabelecer atenção compartilhada SIM SIM Pausa Intencional NÃO SIM Ajudas Visuais SIM SIM Livro SIM SIM

A FESTA NO CÉU

Formular as perguntas do roteiro C C Expandir o vocabulário C C Fornecer as dicas visuais (PEEP) C C Elogiar I (0%) I (0%) Estabelecer atenção compartilhada SIM SIM Pausa Intencional NÃO NÃO Ajudas Visuais SIM SIM

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Livro SIM SIM

NIVER BRUXA WINNIE

Formular as perguntas do roteiro C C Expandir o vocabulário C C Fornecer as dicas visuais (PEEP) C C Elogiar I (0%) I (0%) Estabelecer atenção compartilhada SIM SIM Pausa Intencional NÃO NÃO Ajudas Visuais SIM SIM Livro SIM SIM

I= Inconsistentemente <80% C= Consistentemente ≥80% Estabelecer atenção compartilhada=4 OU MAIS (SIM) Pausa Intencional=3 OU MAIS (SIM) Ajudas Visuais=disponíveis (SIM) Livro=ao alcance da criança (SIM)

O quadro 9 mostra o comportamento da mãe em relação a cada item do programa. Em

outras palavras, se cada uma das estratégias foi aplicada consistentemente (igual ou superior a

80% das vezes) ou de forma inconsistente (inferior a 80%) em cada um dos seis livros da fase

da intervenção.

Observa-se que a mãe formulou as perguntas do roteiro, de forma consistente, em

todos os livros. Ela também expandiu a linguagem de forma adequada em todos, exceto em

um dos livros, Aula de natação. Em dois dos livros, Maria vai com as outras e A bruxa

Winnie, a mãe não conseguiu alcançar o valor de 80%. Isso pode ser, em parte, atribuído a

não repetir o modelo correto que ela apresenta quando a criança produz uma resposta errada.

Em outras palavras, a mãe implementou fidedignamente o programa, entretanto, em alguns

momentos, falhou em solicitar à criança repetir o modelo correto, conforme preconizado no

protocolo.

Em todos os outros dias, nos seis livros, a mãe aplicou consistentemente o PEEP, ou

seja, forneceu as dicas visuais cumprindo com a hierarquia dos níveis de ajuda. Quanto à

categoria Elogiar, vemos que em nenhum dos casos ela conseguiu alcançar 80%. Conforme

previamente ressaltado, esses dados coincidem com a baixa frequência de respostas corretas

dadas pela criança durante a intervenção. Em outras palavras, se a criança não produz ou

produz baixa quantidade de respostas corretas, é consequente a baixa frequência de elogios.

Quando as respostas corretas aumentam, como foi o caso do primeiro livro “E o dente ainda

doía”, é observado aumento de frequência de elogios.

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98

A Pausa Intencional foi usada três ou mais vezes só em quatro do total dos 12 dias do

programa. Durante todos os dias de leitura, a mãe estabeleceu atenção compartilhada quatro

ou mais vezes. Adicionalmente, as ajudas visuais estavam disponíveis e o livro ao alcance da

criança em todas as sessões. Baseado nos resultados do formulário pode-se dizer que a mãe

aplicou fidedignamente o protocolo do programa Recall adaptado durante a intervenção.

Esse mesmo Formulário foi usado para avaliar o grau de fidedignidade com que

aplicou o programa durante a fase de Follow-up.

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Quadro 10: Análise de fidedignidade no uso do programa durante o Follow-up.

CAIXA DE SEGREDOS Dia 1 Dia 2 Formular as perguntas do roteiro * * Expandir o vocabulário I (42,85%) I (56%) Fornecer as dicas visuais (PEEP) I I Elogiar I (28,57%) I (67%) Estabelecer atenção compartilhada NÃO SIM Pausa Intencional NÃO NÃO Ajudas Visuais NÃO NÃO1 Livro SIM SIM

VISITA AO DENTISTA

Formular as perguntas do roteiro * * Expandir o vocabulário I (72,41) I (66,67) Fornecer as dicas visuais (PEEP) I I Elogiar I (21,42) I (33,34) Estabelecer atenção compartilhada NÃO NÃO Pausa Intencional NÃO NÃO Ajudas Visuais NÃO NÃO Livro SIM SIM

A HISTORIA DE L. E O SHOW DA

LUNA

Formular as perguntas do roteiro * * Expandir o vocabulário I (40%) I (53,84) Fornecer as dicas visuais (PEEP) I I Elogiar I (60%) I (69,83%) Estabelecer atenção compartilhada NÃO NÃO Pausa Intencional NÃO SIM

Ajudas Visuais NÃO NÃO Livro NÃO NÃO 1 = a mãe utilizou mudança de perguntas * = A mãe pensou num roteiro, mas não escreveu as perguntas I= Inconsistentemente <80% C= Consistentemente ≥80% Estabelecer atenção compartilhada = 4 OU MAIS (SIM) Pausa Intencional = 3 OU MAIS (SIM) Ajudas Visuais = disponíveis (SIM) Livro=ao alcance da criança (SIM)

Para esta etapa não foi possível avaliar se a mãe formulou as perguntas do roteiro, de

forma consistente, pois foi ela mesma que organizou o roteiro de perguntas. O quadro mostra

que a mãe não conseguiu alcançar a frequência de 80% na estratégia Expansão da Linguagem

nem na de Elogiar, em nenhum dos três livros. O uso da Atenção Compartilhada só alcançou

o 80% durante a segunda leitura do primeiro livro. Em outras palavras, não podemos dizer

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que a mãe implementou fidedignamente o programa, devido a que realizou várias mudanças

do protocolo original.

3.3 Efeitos do programa na compreensão oral da leitura de histórias na criança

Essa seção de análise será dividida em 5 subtópicos: A) Linha de base, B)

Intervenção, C) Follow-up, D) Análise conjunta das 3 fases e E) efeitos da intervenção nas

iniciativas. As primeiras três explicitam as respostas da criança nas três fases do estudo,

assim como registros de diário de campo em cada uma das etapas. O quarto tópico traz uma

análise conjunta, contrastando os resultados das três etapas do estudo. Por fim, o último

tópico avalia o impacto da intervenção nos turnos comunicativos da criança.

3.3.1 Linha De base

O grau de engajamento de Diego durante a leitura na fase de linha de base foi variado.

Em alguns dias esteve participativo, respondendo atentamente à estória, mesmo que não

sempre corretamente às perguntas da mãe. Em outros, seu nível de participação foi limitado,

principalmente durante a leitura dos dois primeiros livros selecionados. Nessas sessões, a

mãe tentava captar a atenção do filho, mas, ele rolava na cama e quase não olhava para o

livro. Isso foi evidenciado nas sessões 1 e 3 da linha de base, como revelam os seguintes

fragmentos:

A mãe teve que repetir várias vezes “olha Diego”! durante a leitura tentando

chamar a atenção da criança. Entretanto, Diego rola pela cama. (REGISTRO

DE CAMPO, NATAL-RN, 2/9/2016)

A mãe começa a leitura dizendo: Backyardigans no fundo do mar...e a

criança começa dizer e repetir: agora não, e grita pedindo

Michimaaaaaaaaaaais x Macanimais, outro livro que ele queria ver. Só

depois de um tempo a mãe consegue que ele se acalme um pouco e participe.

(REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 11/9/2016)

Esses comportamentos sugerem que o menino pode não ter gostado do livro ou que

estava se adaptando à nova rotina de leitura. Afinal, apesar de ler com a mãe, não estava

habituado a ver o pai filmar sua interação.

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Em três dos seis livros, a criança apresentou um mesmo comportamento ritualístico,

caracterizado por virar as páginas uma a uma, ao ritmo de uma música que cantarolava. O

final da música coincidia com o final do conto. Quando engajado nesse comportamento, não

atendia aos comandos da mãe. Mesmo que a mãe nomeasse personagens e dissesse o que

estava acontecendo nas páginas, ele não parava nem respondia, continuando com sua

atividade. Isso foi evidenciado na sessão três, durante a leitura do segundo livro desta fase.

No final da história, quando a mãe terminou de ler, a seguinte cena foi presenciada:

A criança não quer aceitar o livro que a mãe propõe, verbaliza o nome do

livro que ele quer (Michimais x Mecanimais) e finalmente quando pega o

livro das mãos da mãe começa a cantar a música de um vídeo do qual ele

gosta “Auebeueueueinecheue” passando as folhas uma a uma, por vez. A

mãe pergunta se ele quer cantar, mas Diego atua como se estivesse fazendo

de contas que lê (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 11/9/2009)

Durante o segundo dia de leitura do livro, ele apresentou este comportamento uma

vez, quase no final. Essa conduta pode estar associada ao letramento emergente, de fazer de

conta que lê a estória, neste caso para si mesmo, observado em crianças típicas a partir do

final dos três anos de idade. (NUERK; PATRO; CRESS; SCHILD; FRIEDRICH; GÖBEL,

2015).

No terceiro livro, Diego pareceu mais motivado, uma vez que pegou o livro das mãos

da mãe e começou a folheá-lo, enquanto cantava uma música que pertence a um filme que

gosta. O menino pareceu, a princípio, ficar chateado com a mãe por querer convencê-lo a

ouvir a estória. Ao final, como ilustrado no segmento abaixo, cede à solicitação de Cláudia:

A mãe quer começar a contar a estória, mas Diego não presta atenção e

finalmente começa a cantar a mesma melodia de sempre, enquanto vai

passando as páginas do livro, fazendo coincidir o fim de ambos. Quando ele

termina, a mãe diz: É a estória do ratinho e o grande urso esfomeado... então

Diego pergunta: O que?, que?...(seria ecolalia tardia?). A mãe pede: senta

aqui no meu colo pra ver... a criança diz: “Miavez” x minha vez, ao mesmo

tempo em que tira o livro das mãos da mãe, e diz: “não,” . A mãe recupera o

livro e tenta continuar: “Olha a cara do ratinho...” Nesse momento a criança

tenta pegar o livro da mãe com outra estratégia e diz: Muito bem como

indicando que a vez dela deve acabar, e verbalizando o nome do outro livro.

A mãe começa novamente a estória e finalmente a criança fica tentada ao ver

o desenho de um morango e diz: é tomate. (REGISTRO DE CAMPO,

NATAL-RN, 18/9/2016)

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102

Embora não tenha apresentado um resultado satisfatório, em termos de respostas

corretas, o tempo de permanência de Diego na tarefa foi mais significativo durante a leitura

do quarto livro. Isso pode ser atribuído à possibilidade de ter gostado da estória.

Nos dois livros subsequentes (5 e 6), a mãe empregou a música como estratégia, o que

parece ter favorecido o tempo de permanência do menino na atividade. Essa dinâmica é

exemplificada no segmento abaixo, durante a leitura do sexto livro na fase de linha de base:

O conto tem uma música fácil e repetitiva com que a mãe consegue chamar a

atenção do Diego e faz com que ele participe. Ela canta: “Vou, não vou... e

ele acompanha: Fo-não Fo x vou não vou, Então a mãe continua lendo a

estória incluindo partes da música: ... Se tiver... e deixa o menino completar e

ele responde “A batatinha”! (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN,

6/12/2016)

Os dados quantitativos estão apresentados nas figuras 10 e 11 a seguir. A primeira

mostra o total das respostas corretas e incorretas dadas pela criança durante a Linha de Base,

para cada livro.

Respostas Corretas e Incorretas no Total dos Livros (LB)

8

35

6

1311

20

24

12

20

12

23

0

5

10

15

20

25

30

livro 1 livro 2 livro 3 livro 4 livro 5 livro 6

Livros

Fre

qu

ên

cia

s

corretas

incorretas

Figura 10: Respostas da criança durante a fase de linha de base para cada livro.

Observa-se uma maior frequência de respostas incorretas (111) comparadas com (46)

do total de respostas corretas durante a Linha de Base. Em apenas uma sessão, o número de

respostas corretas superou os de incorretas.

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103

Considerando que cada sessão corresponde a um dia de leitura, é interessante analisar

o desempenho da criança em cada dia. Nesse sentido, a figura 11 mostra o desempenho do

menino em cada uma das 12 sessões, correspondentes às leituras dos 6 primeiros livros.

Respostas Corretas e Incorretas do total das Sessões (LB)

0

8

1

2

0

5

2

4

7

6

5

6

5

15

12 12

2

10 10 10

3

9

13

10

0

2

4

6

8

10

12

14

16

S 1 S2 S 3 S 4 S5 S 6 S7 S 8 S9 S10 S 11 S 12

Sessões

Fre

qu

ên

cia

corretas

incorretas

Figura 11: Desempenho da criança em cada dia de leitura durante a linha de base.

Ao realizar uma análise comparando o 1º e o 2º dia de leitura de cada livro, é

observada uma melhora no desempenho no segundo dia, em 5 dos 6 livros lidos. Isso pode ser

atribuído à familiaridade com a história, visto que era a segunda vez que a mãe lia o mesmo

conto para o menino. Nessa perspectiva, parecia prestar mais atenção às perguntas de uma

história que já conhecia, fato que possibilitava responder corretamente às questões. Esse dado

revela a importância da leitura repetida (repeated reading) (WHALON, 2013; BELLON,

OGLETREE AND HARN, 2000), que facilita a compreensão leitora de educandos com

prejuízos sócio-comunicativos.

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3.3.2 Intervenção

Diego pareceu mais responsivo e engajado na leitura durante as sessões de

intervenção, quando comparado com linha de base. Nesta etapa, a criança parece ter melhor

compreendido a rotina de leitura, em que a mãe contava a estória e o pai filmava. Teve dias

de maior distração, não querendo participar e pedindo verbalmente por outro livro; se

negando a ouvir a estória; verbalizando “não”, ou “agora não” ou “minha vez”, para tirar o

livro das mãos da mãe. Houve, também, outros momentos de aceitação da atividade, em que

sentou ao lado de Cláudia e permaneceu atento à estória.

Diferente da Linha de Base, na fase de intervenção, a mãe tinha a possibilidade de

usar ajudas visuais como ferramentas de auxílio, caso a criança respondesse errado ou não

respondesse. Em algumas ocasiões, o menino pareceu responder bem com as ajudas como se

pode observar na seguinte cena extraída da leitura do primeiro livro:

A mãe faz uma Qu pergunta: O que que o patinho mandou o jacaré fazer,? o

patinho falou para ele fazer o que? é?, o patinho falou pra fazer o que para

passar a dor de dente?, a criança fica sem responder. A mãe utiliza o PEEP

(nível 2) e mostrando uma a uma as ajudas visuais pergunta: foi carinho,

gritar ou chorar?, o que é para o jacaré fazer?, é para ele fazer carinho, é para

ele gritar ou para ele chorar? A criança vocaliza e a mãe interpreta como

opção errada: Não é pra ele chorar não... então usa PEEP (nível 3): É para ele

fazer carinho ou é para ele gritar?, a criança diz carinho... em voz quase

imperceptível..., mas tentando responder, então a mãe ajuda com Completar

dizendo: É para ele fazer...e a criança responde corretamente dizendo:

carinho (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 26/10/2016).

A figura 12 a seguir mostra a frequência de resposta da criança em cada nível

hierárquico de ajuda visual:

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105

Níveis de Respostas da hierarquia de ajudas visuais da criança

(Intervenção)

22

5 3

127

0

20

40

60

80

100

120

140

Resposta Espontanea - Nivel

1

3 opções - Nível 2 Opção binária - Nível 3 Da modelo correto - Nível 4

Níveis

fre

qu

ên

cia

Figura 12: Frequência de resposta em cada nível hierárquico de ajuda visual.

Observa-se maior frequência de respostas de nível 4, ou seja, respostas corretas

emitidas com a ajuda do cuidador. Em outras palavras, ao errar as opções 1 (sem ajuda

visual); 2 (com 3 dicas visuais) e 3 (2 dicas visuais) a mãe procedia, indicando a figura que

adequadamente respondia à questão (nível 4). A alta frequência no uso do modelo (nível 4)

sugere, também, a alta frequência de respostas incorretas emitidas pelo menino, conforme

apresentado na figura 13, a seguir:

Respostas Corretas e Incorretas por Livro

(Intervenção)

11

36

4 3 3

1316

29

2225

22

0

10

20

30

40

Livro 1 Livro 2 Livro 3 Livro 4 Livro 5 Livro 6

Livros

Fre

qu

ên

cia

s

respostas corretas

respostas incorretas

Figura 13: Frequência de respostas durante a intervenção.

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106

Na Intervenção, como na linha de base, as respostas incorretas apresentam frequência

maior. Era esperado que, com a intervenção, o desempenho do menino melhorasse, uma vez

que dicas visuais estavam sendo dadas. Entretanto, isso não ocorreu. São destacados cinco

fatores que podem justificar esses resultados. O primeiro, conforme previamente salientado, a

introdução de perguntas com maior nível de dificuldade, incluindo questões inferenciais ou

sobre sentimentos, - que a mãe pouco havia empregado durante a linha de base. Como

previamente discutido, essas questões mais abstratas são de difícil compreensão para crianças

com TEA. Assim sendo, Diego pode ter respondido de forma incorreta por não compreender

perguntas dessa natureza, mesmo sendo disponibilizados recursos visuais.

Um segundo fator que pode justificar o fraco desempenho do menino foi a ecolalia

imediata. Nesse caso, a mãe considerou, muitas vezes, como resposta, o comportamento

ecolálico do menino. Conforme discutido na literatura, a ecolalia é por vezes uma forma de

indicar a não compreensão de um enunciado verbal (VIOLETTE; SWISHER, 1992). Assim

sendo, ao invés de estar respondendo a pergunta, o menino estivesse realmente tentando

processar o seu significado.

Ao invés de esperar, em várias ocasiões, a mãe tomou a ecolalia como resposta, e esta

estava incorreta. Isso é ilustrado no seguinte trecho da sessão 12 desta fase:

A mãe faz uma pergunta de identificação emocional e ao mesmo tempo já

usa o PEEP (nível 2): “Como é que ela está se sentindo? Ela está triste, a

bruxa Winnie ficou feliz porque chegou o aniversário dela, ou ela está com

raiva?” (e repete): “Como ela está se sentindo, a bruxa, quando se lembrou,

que era o aniversário dela? Triste feliz ou com raiva?” A criança responde:

“raiva” (ecolalia) A mãe então usa a OPÇÃO BINÁRIA (nível 3) e diz:

“Não, ela não está com raiva. Olha, ela está vendo no calendário que é o

aniversário dela. Ela ficou feliz ou triste?” “triste” (resposta ecolalica). A

mãe continua e diz: “Também não meu amor, ela não ficou triste”, e dá o

MODELO CORRETO (nível 4) e expande a linguagem: “Ela ficou muito

feliz olha aqui, muito feliz quando viu ahhhh, chegou a sexta feira 13 meu

aniversário.” (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 10/12/2016)

Um terceiro fator é que a mãe, ao repetir diversas vezes a pergunta, criava uma

mensagem oral muito comprida, de difícil compreensão. Isso é ilustrado nos seguintes

fragmentos das sessões 9 e 12, respectivamente:

A mãe faz uma Pergunta-Qu ao mesmo tempo em que já usa o PEEP (nível

2): “Quem levou o violão ao céu Diego? Foi o urubu, a lagarta ou o caracol?”

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107

(e repete) “Quem foi que levou o violão lá para o céu? Voando, é? Quem foi

que levou?” a criança começa a se distrair, tocando o rosto da mãe, Ela volta

a perguntar: “Foi o urubu, a lagarta ou foi o caracol? Quem levou o violão

para o céu, voando?” A criança produz “iu” (vocalização ininteligível). A

mãe volta a perguntar: “Quem foi? Urubu, a lagarta ou o caracol?” A criança

não responde. A mãe pega a figura do caracol e diz: “Não foi o caracol não...

Foi o urubu ou foi a lagarta? Quem foi? Quem levou o violão para o céu?

Urubu ou a lagarta?” (opção binária - nível 3) então a criança apresenta

ecolalia imediata: “Urubu ou a lagarta” “Quem foi?” Ele quer pegar os dois

cartões... Então a mãe tira o cartão da lagarta e diz: “foi o urubu, olha aqui

ele batendo asas e voando com o violão nas costas.” Ela da o modelo correto

(nível 4) Expansão. (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 29/11/2016)

Frente à pergunta de tipo Inferência do roteiro original baseado no desenho

que mostra só a patinha do gatinho pegando biscoito da jarra: “Olha aqui”,

(apontando a pata do gato) “quem você acha que está roubando um

biscoito?” (ajudas visuais: o gato Wilbur, corvo, urubu), a mãe pergunta e ao

mesmo tempo usa PEEP e diz: “Olha aqui Diego..., olha bem aqui: quem é

que está pegando um biscoito aqui? Hein? Quem é que está pegando um

biscoito aqui? É o gato Wilbur, é um urubu que está pegando biscoito aqui ou

é o corvo? Quem é que está pegando um biscoito aqui? Olha! Quem é, o

gato, um urubu ou o corvo? Quem é que está pegando aqui, o biscoito?” A

criança produz: “Evero titittitoco oeoe” (vocalização ininteligível).

(REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 10/12/2016)

O quarto fator era a complexidade dos livros selecionados. Possivelmente os livros

utilizados nessa fase foram de nível de compreensão intermédio/ alto, sendo, inclusive, mais

longos que os da linha de base. Isso pode ter sido produto da intenção da pesquisadora e da

mãe de buscar livros com tramas interessantes, que tivessem um desenvolvimento da estória

atraente e não só a repetição de números ou figuras simples.

O livro 5, “A festa no céu”, ilustra essa complexidade. Nessa trama, para compreender

a estória, é preciso entender que se precisa de asas para voar, assim como identificar quais

animais voam e quais não. Pensou-se numa pergunta do tipo completar para facilitar a

compreensão:

A mãe faz uma pergunta de tipo Completar: “O sapo não podia voar porque

não tem asas, o macaco não podia voar porque não tem asas, o ratinho

também não podia voar porque não tem asas, e a tartaruga não pode voar

porque não tem...?” a criança responde: “não”. A mãe então usa PEEP (nível

2) e diz mostrando as figuras: “Ela não tem asas, ela não tem olho ou ela não

tem rabo? O que que a tartaruga não tem?”, a criança fala “rabo” (ecolalia), a

mãe responde: “Naaaao, não é porque a tartaruga não tem rabo que ela não

pode voar...” veja bem “O sapo não pode porque não tem asas, o macaco

não pode voar porque não tem asas e a tartaruga não pode voar porque ela

não tem... “A criança fica em silêncio, embora olhando pra livro. A mãe volta

a usar PEEP (nível 3). “Por que ela não tem asa ou porque ela não tem olho?”

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108

Ele responde: “Não tem asa ou olho” apontando a cada uma das figuras

(ecolalia - esse apontar pode ser também ecolalia do movimento da mãe, ou

porque teve compreensão do vocabulário (asa-olho) ao ver as figuras, sem

compreender a linguagem de “que não tem”. (REGISTRO DE CAMPO,

NATAL-RN, 29/11/2016) grifo nosso

A complexidade dos livros pode ter afetado o nível de concentração do menino.

Assim, em alguns dias de leitura, a criança pareceu mais distraída, ou cansada conforme

ilustrado no seguinte relato:

A mãe pergunta e usa PEEP (nível 2): “que aconteceu com os bruxos Diego?

Eles se esconderam no armário, eles desapareceram/sumiram da festa, ou

todos os bruxos estão no carro? que que aconteceu com os bruxos aqui? Olha

pra cá, oh! Ah, não tem mais ninguém, olha aqui (apontando desenho do

livro). Eles se esconderam no armário, eles desapareceram ou eles estão no

carro? O que aconteceu com os bruxos?” Ao mesmo tempo em que a mãe

perguntava, ele chega mais perto do livro olha e diz: “Mac Queen”

(iniciação), reconhecendo o carro do filme. A mãe diz: “Não, eles não estão

no carro. Que aconteceu com eles? Eles sumiram –puf – desapareceram ou

eles estão escondidos no armário? Olha aqui, na estória. O que aconteceu?”

(PEEP nível 3). A criança fica em silêncio e a mãe então dá o modelo correto

e expande a própria produção: “Eles não estão escondidos no armário não,

olha, eles sumiram olha aqui, não tem mais ninguém, todos os bruxos

desapareceram depois que a bruxa Winnie tocou o trompete mágico”.

(REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 30/11/2016)

O quinto fator que pode explicar o fraco desempenho do menino foi a mudança de

comportamento da mãe em virtude das novas estratégias que estava aprendendo. Em outras

palavras, Cláudia parecia menos relaxada ao ter que realizar as perguntas e usar,

simultaneamente, as ajudas visuais, conforme prescrito no protocolo. O segmento abaixo

ilustra a quantidade de demandas da mãe ao seguir o programa interventivo:

A mãe pega as ajudas visuais e pergunta: “o que que está acontecendo com a

Maria, é? Por que ela está espirrando? vamos ver? Olha aqui... a Maria está

espirrando porque ficou dodói? Ela pegou uma gripe e ficou dodói? a Maria está

pintando ou ela está cozinhando?” (mostrando pra o desenho)...”por que a Maria

está”...(checa a pergunta no livrinho e corrige) “o que está acontecendo aqui?”

“Por que a Maria está espirrando? A Maria ficou dodói, a Maria está

pintando a Maria está cozinhando? Qual é? que ela tá? mmm?” (depois

espera 3 segundos e continuou usando PEEP). (REGISTRO DE CAMPO,

NATAL-RN, 7/11/2016)

Como ilustrado, a mãe tenta utilizar os recursos visuais na medida em que lê a

história. Isso era um comportamento novo, não observado em seu repertório durante a linha

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109

de base. A adaptação da mãe pode ter impactado, nessa perspectiva, o comportamento de

Diego, deixando-o também um pouco mais excitado. Ademais, talvez fosse importante

ensinar o uso do sistema ao menino antes de iniciar a intervenção. Em outras palavras, talvez

a criança não compreendesse que precisava apontar para a figura no livrinho para responder

as questões da mãe. Isso é ilustrado no seguinte segmento:

A mãe faz uma Pergunta-Qu e em seguida também usa o PEEP nível 2 sem

permitir que tal vez a criança respondesse sem ajuda: Qual era o bichinho q a

bruxa Winnie tinha Diego? (Sem pausa)... A bruxinha tinha um jacaré, a

bruxinha tinha um gato preto ou ela tinha uma ovelha, qual era o bichinho da

bruxa Winnie? Diz pra mamãe, qual é. A criança pega todas as ajudas,

vocaliza, mas não entrega. A mãe diz não era ovelha não, viu oh! Não era

ovelha, a ovelha Maria era na outra estória.... Nessa estória aqui a bruxa tinha

um bichinho, qual era o bichinho o gato preto ou jacaré, qual era?(usando

PEEP nível 3) O menino pega os dois cartões e começa a brincar com eles e

balbuciar, como se fossem dois bonecos com que ele brinca. Num momento

diz jacaré... e a mãe interpreta como resposta. Não era jacaré, era gato preto,

o gato Wilbur, olha aqui, preto de olho verde. Ela tinha um gato preto que

tinha um olho verde Diego. (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN,

15/11/2016)

Vale destacar que Diego estava acostumado às perguntas binárias em seu cotidiano,

quando a mãe, conforme previamente descrito nesse trabalho, mostrava-lhe dois pictogramas

para escolher alimentos ou filmes. Assim sendo, talvez não compreendesse as três opções de

respostas apresentadas na presente intervenção.

3.3.3 Follow-up

No presente estudo foi observada uma mudança qualitativa no comportamento da

criança desde a linha de base até o follow-up. Na linha de base a criança mostrava-se

resistente em participar da atividade; durante a intervenção foi aceitando e, por vezes,

desfrutando da leitura dos livros. Por fim, na terceira fase pareceu mais engajada e

participativa.

Três livros em momentos diferentes (com pelo menos 15 dias de diferença entre um

livro e outro) foram lidos na fase do Follow-up. A figura 14 mostra a frequência de respostas

corretas e incorretas para cada livro, em cada dia. Assim sendo, como foram três livros, a

figura 14 mostra a informação dos seis dias.

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110

Figura 14: Respostas corretas e incorretas por dia durante o Follow-up. L1, L2 e L3: livros 1,

2 e 3. D1: dia de leitura 1; D2: dia de leitura 2.

Na figura 14 é possível observar que no livro 1 desta fase, Diego obteve melhor

desempenho no 2° dia comparado com o 1°. Talvez a leitura repetitiva tenha ajudado nesse

resultado. Entretanto, se observamos o livro 2, no 1° dia o desempenho foi melhor que no 2°.

Uma possível explicação é o tipo de pergunta e a frequência com que cada uma delas foi

usada. No 1° dia, por exemplo, a mãe usou 10 vezes a estratégias de Completar, quatro vezes

o Completar Fonológico, 10 vezes a Pergunta-Qu, três questões ligadas à Identificação

Emocional e uma de Final Aberto. As perguntas de Completar eram, em linhas gerais, mais

fáceis de responder do que a maioria das Perguntas-Qu. Entretanto, os erros cometidos pela

criança nesse dia foram em algumas perguntas de Completar.

Uma análise qualitativa permite observar que a mãe usou a estratégia Completar, mas,

neste caso, relacionadas à emoção, tornando-as, talvez, em um Completar um pouco mais

difícil, por ser inferencial. Nesse caso, por exemplo, a mãe perguntou: “ele está sentindo…?”

E a criança deveria responder “medo”.

Além disso, outro erro cometido pela criança foi na pergunta de Completar

Fonológico, usualmente respondida corretamente. Entretanto, desta vez, a criança parecia não

possuir, no seu repertorio léxico, a palavra pedida pela mãe, como detectado no seguinte

segmento.

A mãe pergunta uma pergunta-Qu: o que é isso aqui? A criança não

respondeu então a mãe modificou a pergunta e disse: esse aqui é fu… a

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criança responde fumiga… e a mãe corrige dizendo: fumaça. (REGISTRO

DE CAMPO, NATAL-RN, 13/4/2016).

No segundo dia, a mãe fez mais perguntas complexas do que simples (uma vez

Completar, sete vezes Completar Fonológico e oito Perguntas-Qu), o que pode ter

desencadeado no aumento das respostas incorretas por parte da criança. É interessante, ainda,

observar como a mãe pede uma resposta específica, mudando o tipo de pergunta, de uma

pergunta-Qu a uma de Completar Fonológico. A despeito da tentativa de facilitar a

compreensão, Diego responde incorretamente, conforme observado no segmento abaixo:

A mãe faz uma Pergunta-Qu; “o que que as crianças estavam

fazendo?” A criança responde: “Estavam no parque”. A mãe quer uma

resposta mais específica e continua o diálogo: “estavam fazendo o que no

parque?” A criança então começa a buscar outro tipo de resposta e diz:

“dodói na língua”, a mãe continua: “estava com dor Samuel, mas que é que

as crianças estavam fazendo no parque?” A criança diz: “Estavam no

parque”, repetindo duas vezes a frase. “Estavam no parque fazendo o que?”

A mãe pergunta novamente e a criança responde: “No parque.” A mãe volta a

perguntar: “fazendo o que?” A criança aumenta as palavras na sentença: “No

parque ali para aquele lado”. A mãe usa a sentença falada pelo filho e

acrescenta: “foram para aquele lado no parque ficaram...”, tentando que ele

complete a frase. “Olha, no parque”, diz a criança. “Brin...(completar

fonológico)”, “brinquedo do parque”, foi a resposta da criança. “Brincando

no parque” modela corretamente a mãe. (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-

RN, 13/4/2016)

Mesmo tipo de erro cometido pela criança no 2° dia do livro 3 foi responder errado as

Perguntas-Qu, tanto para objetos como para personagens. No segmento a seguir fica

evidenciado como a ajuda da mãe, neste caso, pode não ter favorecido a compreensão do

menino:

A mãe faz uma Pergunta-Qu: Do que que eles estavam brincando? Na hora

que Diego chegou…? A criança diz: E chegou (ecolalia). A mãe volta a

perguntar: Quando Diego chegou eles estavam brincando de que? A criança

vocaliza de maneira ininteligível. A mãe pergunta novamente: “A Luna, o

júpiter e o Claudio estavam brincando de que?” A criança começa a nomear

os números 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10! (apontando aos números da amarelinha no

desenho). A mãe pergunta ao tempo que mostra no desenho: “E como é o

nome desse jogo que tem esses números, sabe?” O menino vocaliza. A mãe

muda o tipo de pergunta para Completar Fonológico: “É o jogo de a”... mas a

criança responde errado: “amarelo”. A resposta correta era amarelinha.

(REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 6/5/2016).

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112

No exemplo acima, mesmo mudando o tipo de pergunta feita, Diego parece não

conseguir responder corretamente à pergunta. Ou seja, a troca de uma Pergunta-Qu para

Completar Fonológico neste caso não o ajuda, pois ele parece desconhecer as palavras que

poderiam completar a frase.

A Figura 15, a seguir, mostra a frequência de respostas corretas e incorretas em cada

livro:

Figura 15: Respostas corretas e incorretas para cada livro no Follow-up.

Diferente das fases anteriores desse estudo, durante o follow-up a criança apresentou

maior frequência de respostas corretas que incorretas. Alguns fatores que podem explicar esse

comportamento são: (1) o uso das perguntas mais fáceis, sem a inclusão de perguntas

inferenciais pela mãe; (2) o nível de engajamento da criança, que se mostrou mais

concentrada e focada nas historias; (3) o tempo maior de espera da mãe para que o filho

respondesse as perguntas. Esses fatores estão explicitados no segmento abaixo, extraído do

livro 2:

A mãe faz uma Pergunta-Qu: “Onde foi que o dentista mandou Samuel sentar?”

A criança responde: “sentado”, então a mãe pergunta novamente: “Sentado

onde?” A criança parece concentrada, tenta buscar a palavra, como se tivesse

dificuldades pra nomear... finalmente diz: “senta...na boca”. A mãe retoma a

resposta da criança e diz: “Para abrir a boca, o dentista disse pra Samuel sentar

na”... mudando de perguntas para o tipo Completar. Então a criança consegue

responder corretamente: “cadeira”. A mãe realiza uma Expansão dizendo: “Na

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113

cadeira do dentista, tinha que sentar e abrir a boca, né?!” (REGISTRO DE

CAMPO, NATAL-RN, 10/4/2016)

3.3.4 Análise conjunta

O objetivo dessa análise foi contrastar o desempenho de Diego nas três fases do estudo. A

tabela 14 apresenta a porcentagem de respostas corretas dadas pela criança para cada tipo de

pergunta, durante as três fases do estudo. A figura 16, apresentada em seguida, mostra a

frequência de respostas corretas para cada tipo de pergunta.

Tabela 14: Porcentagem de respostas corretas dadas pela criança para cada tipo de pergunta nas

três fases do estudo.

Porcentagem de respostas corretas

Tipo de pergunta Linha de base Intervenção Follow-up

Perguntas-Qu 14,9% 33,3% 42,9 %

Completar 59,6% 40,0% 27,3%

Completar fonológico 25,5% 20,0% 24,7%

Final aberto 0% 3,3% 1,3%

Evocar 0% 3,3% *

Inferências 0% 0% *

Identificação emocional 0% 0% 3,9%

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114

Figura 16: Respostas corretas para cada tipo de pergunta nas três fases do estudo.

Os dados da figura 16 e da tabela 14 indicam bom desempenho da criança em

completar informações verbais estimuladas pela mãe. De fato, a maior porcentagem de

acertos detectado nas fases de linha de base e intervenção estava relacionada à estratégia de

Completar. Durante o follow-up, Pergunta-Qu foi a estratégia que teve a maior proporção de

acertos.

Bom nível de compreensão foi evidenciado nos comandos de Completar Fonológico,

onde o menino respondeu adequadamente a, aproximadamente, ¼ dos comandos na primeira

etapa para posteriormente oscilar entre 20 e 24%. Como comentado anteriormente, essa

estratégia não fazia parte do roteiro de perguntas entregue a mãe. Nesse sentido a

porcentagem de respostas corretas na fase da intervenção pode ter apresentado queda pelo

fato de Cláudia ter feito pouco uso dessa estratégia durante a segunda fase da pesquisa (6

vezes, o equivalente a 2,5% do total das estratégias).

Ao comparar a frequência de respostas corretas da linha de base (12) e a do Follow-up

(19), se observa um aumento na última fase. Considerando que a queda na intervenção foi da

frequência de vezes que a mãe usou a estratégia (seis) e não da resposta da criança, quem

respondeu corretamente as seis vezes, observamos bom desempenho para este tipo de

pergunta ao longo do estudo.

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115

Melhora no desempenho foi observado nas respostas às perguntas sobre fatos, como

as Perguntas-Qu, em que obteve uma porcentagem de 14,9% de acertos na primeira fase e

42.9% na última. Entretanto, quando comparados em frequência de perguntas realizadas pela

mãe, vemos que na linha de base a mãe utilizou a estratégia 71 vezes, sendo 7 respostas

corretas e 64 erradas. Na intervenção, foram um total de 88 perguntas das quais 10 foram

respondidas corretamente e 78 erradas e na última fase com um total de 59 perguntas 33

corretas e 26 incorretas. Assim sendo, em números absolutos de respostas corretas (7, 10 e

33) vemos um crescimento pequeno da primeira para a segunda fase e maior da segunda para

a terceira. O melhor desempenho é observado na última fase, onde 42.9% das respostas são

corretas.

Uma possível explicação para essa melhora no desempenho pode ser a frequência alta

de uso das Perguntas-Qu (fato). Em outras palavras, quanto mais uso a mãe deu a essa

estratégia, mais oportunidades de ouvi-la, conhecê-las e talvez compreendê-la. Outra

explicação possível, seria o fato de que uma criança desenvolve primeiro habilidades em

compreensão de respostas de fato para depois poder compreender perguntas de tipo

inferencial (van KLEECK; VANDER WOUDE; HAMMET, 2006)

Por fim, os dados revelam as dificuldades da criança em responder corretamente às

perguntas mais subjetivas, ou seja, àquelas não imediatamente identificadas na estória, como

as de Inferência, Identificação Emocional e Evocação e perguntas de Final Aberto.

Em termos de respostas às perguntas sobre Identificação Emocional, é possível

observar ligeira melhora ao longo do estudo. Em outras palavras, na linha de base a mãe usou

essa estratégia apenas uma vez e a criança não respondeu. Na Intervenção, a criança

respondeu incorretamente às 7 perguntas de identificação emocional formuladas pela mãe.

Por fim, na terceira fase, de cinco perguntas, a criança respondeu corretamente a tres.

Em relação às perguntas de Final Aberto, a mãe, em algumas ocasiões, começou

utilizando essa estratégia, mas, antes da criança responder, ela a convertia em uma pergunta

mais fácil, por exemplo, de Pergunta-Qu. Isso se observa no exemplo a seguir:

A mãe pergunta: “O que que está acontecendo aqui?” (mas em seguida

acrescenta): “O pai da menininha está mexendo em que? Olha aqui, que que ele

está pegando, o pai da menininha?” (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN,

25/3/2016).

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116

Na figura 16 podemos observar que, pelo fato de não ter perguntas de Evocar nem de

inferências no Follow-up, não podemos falar de tendências para essas estratégias. A

compreensão da inferência foi, no entanto, revelada no seguinte fragmento, onde o menino

parece compreender que a palavra “sentir”, tem relação com as palavras triste/feliz/com raiva:

A mãe pergunta: “O que que a menininha está sentindo? olha para o rostinho

dela...” (repete duas vezes mais a pergunta), assim, a criança tenta dar alguma

resposta correta usando todas as possibilidades que conhece e diz: “Triste...

está com raiva... está feliz”. (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN,

22/3/2016)

A mãe pergunta: “o que que a menininha está sentindo, Diego?” e a criança

diz: “não... ta... triste (pausa entre cada palavra), ta feliz” (REGISTRO DE

CAMPO, NATAL-RN, 25/3/2016)

3.3.5 Iniciativas Comunicativas

Iniciativas são verbalizações da criança dirigidas à mãe, sem que seja uma resposta a

uma pergunta. A variável “iniciativa”, no presente estudo, foi considerada se o conteúdo da

verbalização estivesse relacionado à estória que a criança estava lendo com a mãe. O objetivo

de registrar essa resposta foi observar se a capacitação da mãe afetou o comportamento sócio-

comunicativo da criança, em termos de iniciativas de interação.

Na figura 17 vemos as iniciativas nas três fases do estudo.

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117

Figura 17: Iniciativas verbais e gestuais produzidas pela criança.

A criança produziu iniciativas nas três fases do estudo, evidenciando aumento na

frequência na fase de intervenção e ligeira queda no follow-up. Este rebaixamento pode ser

atribuído a menor quantidade de livros usados na fase do Follow-up (3), se comparado com as

duas fases anteriores.

O nível de complexidade nos tipos de iniciativas verbais parece aumentar ao longo das

três etapas, conforme observado nos segmentos abaixo:

Exemplos de iniciativas da linha de base foram evidenciados ao longo das leituras:

Nomeações dos objetos que a criança via no livro: [tomate] x morango, [a

pipa] usando artigo e substantivo (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN,

18/9/2016)

Nome dos personagens: [Pablo] (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN,

14/9/2016)

Ações: [e caiu] (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 26/9/2016)

Frase que a mãe usava para começar a estória: [era uma vez]. (TODOS

OS LIVROS)

Frase que a mãe usava para terminar a estória: [e viveram felizes para

sempre] que era usada quando ele não queria continuar com a atividade de

leitura. (TODOS OS LIVROS)

Exemplos de iniciativas da fase da Intervenção foram evidenciados ao longo das

leituras:

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118

Nomeação: [É cochucha] x coruja ao ver a figura que a mãe pega

(REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 26/10/2016); [tatu], ao ver o

desenho no livro, (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 29/11/2016)

[tartaruga]; Pega cartão e diz [Mac Queen] (REGISTRO DE CAMPO,

NATAL-RN, 7/11/2016)

Ações: Olhando e apontando o desenho diz: [quebrou o dente]!!, [Natação,

na piscina] (Registro de campo, Natal-RN, 2/11/2016), [Olha, estão

bincando] x estão brincando. (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN,

6/12/2016),

Iniciação gestual: Ele começa a fazer onomatopéia de macaco, quando viu

desenho do macaco (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 15/11/2016)

Exemplos de iniciativas da fase do Follow-up foram evidenciados ao longo das

leituras:

Nomeação de cor de objeto: [amarelo] (apontando no desenho), (

REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 3/5/2017) Nomeação: quando viu o

desenho disse: [dentista]!! ao tempo que pegava o livro das mãos da mãe

(REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 10/4/2017), a criança vê o desenho

de remédio e lembrou o gesto e onomatopéia da mãe e disse: [tchi-tchi-tchi]

(REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 13/4/2016), [as abelhas] (apontando

o desenho) (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 3/5/2017), “É a lua”

(imagem do espaço) (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 3/5/2017), [de

comer banana] (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 3/5/2017), [as

estrelas] (REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 6/5/2017), [agora é da

banana], (antecipando a parte da estória que a mãe ia ler), [do robô]

comentando sobre a pagina de desenho do espaço. (REGISTRO DE

CAMPO, NATAL-RN, 6/5/2017) Expressões: [Nossa! e este quem faz?] (passando a mão pelo desenho),

(REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 6/5/2017) Pequeno dialogo: vê dinossauro no desenho e diz: [guau-guau-guau] então a

mãe diz. [dinossauro faz guau-guau-guau] e ele diz: [dinossauro ahhhh]

(REGISTRO DE CAMPO, NATAL-RN, 3/5/2017),

Conforme observado, durante a linha de base a criança produziu mais nomeações e

frases de uma só palavra. Durante a intervenção, as construções sintáticas vão se tornando

mais complexas, com o uso de artigos e verbos, resultando em construções mais compridas.

No Follow-up são observadas frases de até três e quatro palavras. Adicionalmente, o menino

faz correções na produção, dialogando com a mãe.

Durante a leitura, a criança também produziu iniciativas verbalmente em forma de

protesto, como: “não”, “agora não”, “minha vez”, pegando o livro das mãos da mãe. Vale

destacar que essas iniciativas não foram computadas já que o objetivo do estudo era avaliar

frequência de iniciativas relacionadas diretamente com a compreensão da estória lida.

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119

3.4 Validade Social

Validade social diz respeito à valoração que a pessoa ou grupo, submetido a um

tratamento, atribui aos efeitos produzidos pela prática interventiva. A sociedade (sujeito da

pesquisa) avalia se os procedimentos e resultados da intervenção foram importantes e se os

comportamentos aprendidos foram mantidos. (WOLF, M. M, 1978). Com o objetivo de

avaliar a validade social do presente estudo, uma entrevista foi realizada com a mãe ao

término da pesquisa. Nesse encontro, realizado por teleconferência (via Skype), com duração

de 90 minutos, foi utilizado um roteiro de entrevista.

Ao ser questionada sobre o grau de dificuldade no uso do protocolo, a mãe revelou

que as estratégias mais difíceis de usar eram as de Inferência e as de Evocar. Nas palavras da

mãe:

[…] As de Evocar achei muito difíceis. Essa aí também (Inferência) era

muito difícil. O que já passou, porque eu acho que assim... o “achar” você

pensa... ele não tem ainda a compreensão... (CLÁUDIA, ENTREVISTA,

2/6/2017)

Como previamente discutido, esses dados são consoantes com os achados de van

Kleeck; Vander Woude (2003), que revelaram que famílias de crianças com dificuldades na

linguagem utilizam espontaneamente menos perguntas inferenciais que as de fato, se

comparadas com famílias com crianças típicas.

No início da entrevista, a pesquisadora pediu a Cláudia falar livremente sobre o

estudo, indicando os aspectos que gostou e não apreciou do programa. O segmento a seguir

ressalta sua opinião:

Eu gostei, o único ponto a para a gente ficou mais difícil foi a questão da

disponibilidade, de ter que estar os dois, tinha que ser de noite, tinha dias que

a gente estava mais cansada, tinha dias que D. (pai) estava ocupado, que ele

tem que estar todo dia usando o telefone, aí teve a dificuldade da câmera, e

assim, algumas coisas mais assim, a questão da disponibilidade mesmo.

(CLÁUDIA, ENTREVISTA DE VALIDAÇÃO SOCIAL, 2/6/2017)

O relato acima indica que apesar de gostar, o desconforto estava ligado à logística de

ter que filmar as sessões em horários determinados.

Ao ser questionada sobre os hábitos de leitura após o término do programa, a mãe

revela:

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[…]. sim, não todas as noites, mas sim daquela forma que eu te falei, antes de

botar ele para dormir perguntamos, quer a estória do livro, se ele diz sim que

ele está respondendo o que quer, ne? Ai a gente lê. E ele pede assim mesmo

Estória do livro, não é qualquer estória não, e às vezes ele pega que... foi que

ele pegou um dia desses?, não estou lembrando se foi uma revista ou que ele

pegou e disse: era uma vez... passando as coisas como se estivesse lendo!.

Mas ele gosta a estória do livro mesmo, não é a estória solta não, gosta da

estória acompanhando o livro. (CLÁUDIA, ENTREVISTA DE

VALIDAÇÃO SOCIAL, 2/6/2017)

O segmento acima sugere que a família generalizou e adotou o habito da leitura com o

filho, sendo em várias ocasiões, a própria criança quem pede para realizar a atividade.

Evidencia-se um alto grau de validade social.

A co-parentalidade refere-se ao modo dos casais tomarem a responsabilidade da

criação dos filhos em forma conjunta (SIFUENTES; BOSA, 2010). O diagnóstico de autismo

e as características clínicas da condição podem trazer estresse nas famílias, provocando

muitas vezes que o peso da responsabilidade caia mais nas mães que nos pais (SCHMIDT;

BOSA, 2003; MILGRAM; ATZIL, 1988). É essencial para o bem-estar da criança e da

família toda, que as tarefas e responsabilidades possam ser divididas entre ambos os pais.

Este estudo teve a particularidade de envolver a família toda e não só a mãe, já que era

o pai quem filmava todas as sessões. Essa dinâmica permitiu que o pai incorporasse algumas

das estratégias implementadas por Cláudia, conforme o relato a seguir:

E ele pegava algumas coisas também, tinha dias que ficava com Diego e

ficava perguntando. Algumas coisas eu o vi perguntando parecido com que a

gente tinha perguntado na estória, sabe? Ate se tivesse com qualquer coisa, às

vezes estava com uma revista, com Diego, ele ficava perguntando, que ela

está fazendo aqui, Diego. Isso que a gente virou meio que um habito.

(CLÁUDIA, ENTREVISTA DE VALIDAÇÃO SOCIAL, 2/6/2017)

Uma das questões levantadas durante a capacitação foi o tempo dado à criança para

responder as perguntas durante a leitura dos livros. Esse fato pareceu marcante para Cláudia

que comentou, durante entrevista de validação social:

Uma coisa que ficou assim pra mim foi de esperar resposta, isso no dia a dia

hoje eu uso muito, que você dizia: dá um tempo... você não está dando tempo

para ele responder, acho que era a preocupação de ficar muito longo. Mas

hoje em dia eu faço isso em qualquer coisa que eu pergunto para ele e eu

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fico, dou um tempinho, ele fica olhando para mim, esperando que eu de a

resposta e eu coloco cara de paisagem... antes era automático, eu não o

deixava nem respirar. (CLÁUDIA, ENTREVISTA DE VALIDAÇÃO

SOCIAL, 2/6/2017)

Durante a entrevista de validação social quando perguntada, sobre o grau de conforto

e complexidade em utilizar as distintas estratégias, ela revela:

Como? (tem um nomezinho, né?) o das emoções, o que está sentindo? e o

que está acontecendo na imagem?... porque ele é muito ne?, visual, então o

que está acontecendo ele já dizia, essas eram as mais fáceis. As mais difíceis,

que não tenho dúvida eram as que já tinham passado (evocar) que não

estavam mais ai na frente dele, e o que estava pensando, porque o que estava

sentindo ainda tinha uma expressão para ele se basear o ver que estava

fazendo que estava sentindo, mas do que você acha que vai fazer?, para ele,

para mi é muito difícil.(CLÁUDIA, ENTREVISTA DE VALIDAÇÃO

SOCIAL, 2/6/2017)

A resposta da mãe coincide com o seu comportamento durante o follow-up, marcado

pela alta frequência de perguntas de fato e limitado uso de questões inferenciais. Conforme

revela, julgou as perguntas de inferência muito difíceis para o filho compreender.

Quando questionada sobre quais achava que o filho se sentia mais confortável para

responder, ela respondeu:

As mesmas. Uma coisa puxa a outra, fico mais confortável porque ele dá as

respostas. Fico mais desconfortável nas que ele não consegue entender.

(CLÁUDIA, ENTREVISTA DE VALIDAÇÃO SOCIAL, 2/6/2017)

Neste fragmento, a mãe explica que ela acredita que as perguntas “de fato” são

mais fáceis para a criança, e por isso as utiliza com maior frequência. Em uma perspectiva

dialógica, as respostas corretas emitidas pelo filho possivelmente reforçavam o uso da

referida estratégia pela mãe. Com as respostas corretas a esse tipo de pergunta, não parecia

haver necessidade para o uso das ajudas visuais no follow-up.

Quando perguntada se continuaria a utilizar as ajudas visuais como estratégia nas

leituras, a mãe respondeu negativamente, conforme observado no seguinte fragmento:

“Agora neste momento eu acho que não porque ele está dando, você viu que ele está dando

as respostas bem assim” (Cláudia, entrevista de validade social, 2/6/2017). Vale destacar,

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no entanto, a incerteza sentida, uma vez que, ao término de sua fala, ela pausa e, como

pensando em voz alta, revela [...] não sei, você me deixou na dúvida....

Especificamente, em relação à estratégia de Identificação Emocional, a mãe

demonstrou preocupação que seu filho não iria compreender perguntas desse tipo. Considerou

positivo o fato que usar ajudas visuais na intervenção pudesse dar um sustento mais concreto

à explicação verbal. Além disso, comentando sobre os diferentes tipos de perguntas durante a

entrevista de validação social a mãe disse: “o de sentimentos eu fico perguntando demais,

querendo saber se ele está compreendendo ou não”.

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CAPÍTULO 4

4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura sugere que uma parcela significativa de educandos com autismo,

incluindo aqueles que possuem bom desempenho em decodificação de leitura, apresentam

dificuldades em compreender o que leem (HUEMER; MANN, 2010; MAYES; CALHOUN,

2003; ELLIS WEISMER 2014). Pesquisas sugerem, ainda, que crianças com TEA

evidenciam dificuldades na aprendizagem acadêmica devido aos déficits que apresentam na

compreensão leitora (WHALON et al, 2013; OAKHILL; CAIN, 2007). Dentre os motivos

que justificam os prejuízos na compreensão leitora destacam-se os déficits em fazer

inferências, como assinalado por Cain; Oakhill (1999) e van Kleeck (2008). Adicionalmente,

as dificuldades em estabelecer a atenção conjunta e os distúrbios de linguagem Whalon et al.

(2016) podem prejudicar a realização dessa tarefa.

Com o conhecimento cada vez maior que as comunidades cientificas e terapêuticas

vão tendo sobre o TEA e suas especificidades é previsto que desenvolvam, cada vez mais,

programas interventivos precoces para esta população. A literatura mostra, mesmo que de

forma incipiente, a eficácia de alguns programas de leitura voltados para crianças com TEA.

Dentre eles, destacam-se o programa RECALL, descrito em dois estudos internacionais,

Whalon et al. (2015); (Whalon et al. (2016); e um programa de Leitura Dialógica com

adaptações do Recall, Queiroz (2017) publicado no Brasil. Vale destacar que o Recall, é um

programa de intervenção adaptado da Leitura Dialógica (LD), ou seja, de um tipo de leitura

compartilhada. Além das características da LD, o Recall inclui também, estratégias que

atendem as dificuldades específicas presentes nas crianças com autismo, como prejuízos na

atenção conjunta, reciprocidade social e linguagem.

O objetivo do presente estudo foi ampliar o conhecimento vigente, avaliando os

efeitos do programa de leitura dialógica proposto, quando utilizado por uma mãe com o seu

filho. Os participantes do estudo foram Diego, uma criança de seis anos, com autismo grau

leve/moderado e sua mãe (cuidadora primária).

Por meio de um delineamento de pesquisa de tipo A-B Follow-up foi avaliado a

eficácia do programa interventivo no nível de compreensão oral da leitura da criança. Em

termos gerais, a mãe da criança foi capacitada a utilizar 10 estratégias que visavam ampliar o

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nível de compreensão oral da leitura do filho. Dentre as estratégias apresentadas pela

pesquisadora quatro foram, de fato, incorporadas com fidedignidade pela mãe do menino

(Identificação Emocional, Atenção Compartilhada, Expansão, Elogio) e duas já faziam parte

de seu repertório (Completar e Qu- perguntas).

Interessante observar que o aumento na frequência de perguntas factuais, como o

Completar, Completar Fonológico e Perguntas Qu veio associada à mudanças qualitativas.

Particularmente, a mãe passou a elaborar sentenças mais longas, com nível de complexidade

mais elevado na terceira fase do estudo. Assim, Perguntas-Qu mais simples e curtas como,

por exemplo, “o que é isso?”, “o que está fazendo?”, foram mudando para, “Quem é que

estava escondido atrás da arvore, Diego?, “O que foi que o dentista colocou no dente do

Samuel?” ou “Quem era o homem de óculos, Diego?”

Dados qualitativos da pesquisa sugerem que perguntas mais subjetivas, como evocar

e inferência não foram incorporadas pela mãe por esta julgar que o filho não as

compreenderia. É preciso, também, considerar que o tempo de intervenção pode ter sido

insuficiente para a apropriação de alguns aspectos do programa, como o uso de estratégias de

tipo inferenciais.

Em termos gerais, os dados da pesquisa sugerem que a prática interventiva da mãe

impactou as respostas do filho. Apesar de não ter evidenciado aumento na frequência de

respostas corretas na fase de Intervenção (exceto nas Perguntas-Qu), o menino apresentou

maior número de acertos se comparamos a fase de Intervenção com a de Follow-up para as

estratégias Completar, Completar Fonológico e Perguntas-Qu, e Identificação Emocional.

Por fim, vale destacar que a criança apresentou aumento na frequência de iniciativas, na

quantidade de palavras que usava nas frases, ao longo das três etapas. Interessante notar, que

a medida que aumentaram as frequências de iniciativas relacionadas com a leitura,

diminuíram as iniciativas que não estavam relacionadas com a leitura.

Quantificar as respostas permitiu evidenciar a magnitude das modificações observadas

nos sujeitos da pesquisa, sendo estas sutis em alguns casos e robustas em outros. Se

combinadas tais respostas com a análise qualitativa, obtida por meio de vídeos e diário de

campo, é possível melhor compreender o comportamento da díade. Assim, a transcrição das

sessões experimentais e os registros de campo possibilitaram detectar ganhos qualitativos

tanto no repertório da criança, quanto da mãe. Diego, por exemplo, passou a solicitar a leitura

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dos livros, com mais frequência, assim como permanecer atento à leitura, seguindo o foco de

atenção da mãe durante as sessões.

O comportamento de Cláudia, por sua vez foi modificado em duas maneiras distintas.

Em primeiro lugar, ela parece ter modificado o estilo de interação durante a leitura,

valorizando tanto a pergunta formulada como a resposta da criança. Começou, nessa

perspectiva, a dar mais tempo para o filho responder. Esse comportamento evidencia uma

aprendizagem sobre a importância da tomada de turnos, essencial para o intercâmbio

comunicativo entre duas ou mais pessoas. Segundo Ninio et al. (1994), o estágio inicial do

desenvolvimento da criança é basicamente no aspecto pragmático da linguagem, observado

através da grande capacidade na habilidade da tomada de turnos conversacionais, da

comunicação gestual e das primeiras palavras que vão se desenvolver antes do aspecto morfo-

sintático.

Em segundo lugar, tanto Cláudia como o pai de Diego generalizaram o uso de

perguntas (especialmente Qu e Identificação Emocional) a diferentes contextos e situações da

rotina da criança fora da leitura como forma de comunicação.

O programa implementado no presente estudo diferiu-se do Recall original em oito

aspectos. Em primeiro lugar, ao invés do pesquisador, como realizado no estudo de Whalon

et, al. (2015), o programa foi protagonizado pela mãe da criança, que atuou como agente de

intervenção, com o apoio do pai.

Segundo Milgram; Atzil (1988) na criação de filhos com autismo, as mães, pelo papel

que assumem, se encontram num maior risco de esgotamento e alterações emocionais do que

os pais. Satisfação na vida pessoal é considerada um índice utilizado para avaliar saúde

mental. No caso de pais de crianças com deficiência, esse índice está mais comprometido

com o que os pais fazem para lidar com o desenvolvimento atípico dos filhos do que com a

deficiência em si. Um ponto que está em relação a satisfação pessoal, é a divisão de tarefas na

criação do filho com deficiência, em quantidade de tempo, esforço e quão justo seja essa

divisão entre ambos pais. Os resultados da pesquisa de Milgram; Atzil, (1988) mostraram

que os níveis de satisfação pessoal que as mães sentiam aumentava se eram ajudadas pelos

pais nos cuidados do dia-a-dia da criança (MILGRAM; ATZIL, 1988)

O segundo ponto destacado refere-se ao contexto em que o estudo foi realizado. Em

outras palavras, tomando como enfoque a abordagem naturalística de ensino (Hart; Risley,

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1975; LeBlanc et al., 2006), foi priorizado o ambiente natural como contexto interventivo; no

caso a residência da díade. O ensino naturalístico considera a aprendizagem da linguagem

como uma parte incidental /espontânea produzida nas interações nos ambientes do dia-a-dia

da criança que está sendo estimulada por um objeto (e.g., brinquedo) ou uma pessoa, (e.g.

amigo) que o motiva e o provoca a desenvolver tarefas funcionais (ELLIOT; HALL; SOPER,

1990; LeBLANC et al., 2006). Uma das formas de ver ganhos no desempenho de habilidades

aprendidas e a eficácia dos programas interventivos é através da generalização, ou seja,

manter e usar espontaneamente o aprendido em diferentes ambientes (por exemplo, lar,

escola, parque, etc.), com diferentes pessoas (pais, parentes, professores, etc.) e em diferentes

contextos (de brincadeira, acadêmico, etc. (HART; RISLEY, 1975; LeBLANC et al., 2006).

Um terceiro ponto que fez com que o presente programa diferisse do Recall original

foi o nível de participação da família. Considerando tratar-se de uma abordagem colaborativa

de intervenção, a mãe modificou as estratégias propostas. De forma específica, fez ajustes na

estratégia de Expansão, generalizando a mesma em suas falas e nas correções de respostas

incorretas do filho.

Em quarto lugar, destaca-se o número inferior de leituras realizadas. Ou seja, cada

livro, no referido estudo, foi lido duas vezes e não três como no protocolo original. Este

protocolo pode ter impactado o desempenho do menino. Em outras palavras, a menor

exposição ao livro trouxe, também, menos familiaridade com o mesmo, o que poderia ter

resultado em alta frequência de respostas incorretas.

O quinto ponto a ser destacado foi a redução no número de estratégias usadas.

Levando em consideração as características do participante, nem todas as estratégias

sugeridas no RECALL foram usadas. Assim, o distanciamento, (perguntas para que a criança

relacione eventos do livro com a própria experiência), foi suprimido por ser considerado, pela

pesquisadora, de difícil compreensão para o menino.

O sexto aspecto foi a incorporação da autoscopía, como estratégias de capacitação.

Esse procedimento, não utilizado no estudo de Whalon (2015), permite ao protagonista

analisar e modificar sua prática. Durante a capacitação a mãe assistiu trechos dos vídeos da

linha de base com o objetivo de rever cenas onde ela utilizou corretamente estratégias de

maneira espontânea. Da mesma forma, a pesquisadora pôde falar das estratégias que

poderiam ser incorporadas durante a intervenção.

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O sétimo item que difere do estudo de Whalon e colaboradores (2015) diz respeito à

quantificação das iniciativas de interação da criança. As iniciativas verbais e gestuais, junto

com as respostas formavam parte das variáveis da criança neste estudo. Observou-se uma

melhora no desempenho da criança através do aumento da frequência de iniciativas.

O oitavo ponto refere-se ao maior enfoque dado à análise qualitativa dos dados. Nesse

cenário, os dados qualitativos deram maior significado aos dados quantitativos, tanto para

explicar os resultados da mãe como os da criança. Desse modo, por exemplo, através das

sessões videografadas foi possível comparar os graus de engajamento que a criança

apresentou nas três fases da pesquisa. Foi possível inferir, por meio desses dados, que

possivelmente a criança incrementou o número de respostas incorretas durante a segunda fase

do estudo, por causa da forma como era perguntado e não necessariamente por não ter

compreendido a pergunta ou não saber a resposta.

Os achados do presente estudo sugerem que a Leitura Dialógica associada às

adaptações do programa Recall Whalon, et al. (2015) é uma opção promissora para melhorar

a compreensão da leitura oral em crianças com TEA. A despeito desses resultados, vale

destacar que os dados produzidos propiciaram uma reflexão sobre formas de melhorar o

programa proposto. Em primeiro lugar, a necessidade de realizar encontros de capacitação

com a criança para treiná-la a responder a perguntas, apontando ou verbalizando a resposta

correta, tendo assim certeza que compreende o processo de hierarquia de dicas. Um segundo

ponto a ser ressaltado diz respeito à familiaridade com livro. Assim, consideramos importante

começar a atividade da leitura com uma pré-leitura dialógica acerca do livro e a estória a ser

lida ou ouvida. Em outras palavras, introduzir a leitura inicialmente falando sobre a capa e as

ilustrações da obra, de forma que a criança identifique o vocabulário a ser aprendido, assim

como tenha a oportunidade de eliciar o conhecimento prévio. De acordo com Fontes;

Cardoso-Martins (2004) e Coen-Cumming, (2017), essa prática auxilia a criança a fazer

inferências sobre a estória ouvida, possibilitando elaborar imagens mentais do que vai

aparecer na estória e confirmar ou não as predições. Um terceiro ponto a ser destacado diz

respeito ao número de encontros para a capacitação.

Não podemos deixar de mencionar algumas limitações do presente estudo. Ter

realizado avaliações dos diferentes aspectos da linguagem (sintático–semântico-pragmático)

da criança antes da implementação do programa teria possibilitado a obtenção de mais um

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resultado para avaliar ganhos ou não no desempenho dela e na avaliação do programa. O

presente estudo avaliou o desempenho por meio do aumento ou não na frequência de

respostas corretas e iniciativas comparando o antes e o depois da intervenção. Finalmente,

talvez ter dado à mãe mais estratégias durante a capacitação para implementar nos momentos

em que a criança apresentava ecolalia imediata, teria diminuído ou evitado que ela as

considerasse respostas incorretas.

Apesar das limitações mencionadas, os achados do presente estudo indicam à Leitura

Dialógica conjuntamente com as adaptações do programa Recall, Whalon, et al. (2015), como

sendo um caminho propício de intervenção precoce e cunho naturalístico para estimular,

desenvolver e ampliar a compreensão da leitura oral em crianças com autismo em distintos

contextos.

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Page 145: OS EFEITOS DE UM PROGRAMA DE COMPREENSÃO DA … · ... ao Programa de Pós-Graduação em Educação, ... 3.3.1 – Linha de Base ... Livrinho com ajudas visuais e perguntas do roteiro

ANEXOS

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HOSPITAL UNIVERSITÁRIOONOFRE LOPES-HUOL/UFRN

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

Pesquisador:

Título da Pesquisa:

Instituição Proponente:

Versão:

CAAE:

Compreensão da Leitura em crianças com autismo: uma proposta de intervenção.

ELIZABETH CYNTHIA WALTER

Pós-Graduação em Educação

4

52519315.4.0000.5292

Área Temática:

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Número do Parecer: 1.662.461

DADOS DO PARECER

Ler é uma habilidade fundamental para o sucesso na vida escolar e adulta. Para muitos indivíduos os

processos de decodificação da escrita e a compreensão leitora se desenvolvem paralelamente. Para

outros,esses processos são dissociados, como é o caso de alguns educandos com Transtorno do Espectro

doAutismo (TEA), que apresentam habilidades de decodificação da escrita superiores à compreensão

leitora. Esses prejuízos podem acarretar dificuldades na aprendizagem. Nessa perspectiva, é fundamental o

desenvolvimento de programas interventivos de leitura que possam minimizar, precocemente, os problemas

de leitura evidenciados nessa população.

Apresentação do Projeto:

Objetivo Primário:

Avaliar os efeitos do programa RECALL na compreensão da leitura em indivíduos com TEA.

Objetivo Secundário:

Capacitar o cuidador a implementar procedimentos de ensino utilizados no programa RECALL com uma

criança com autismo, avaliar a responsividade do cuidador após o programa de capacitação e avaliar os

efeitos da implementação do programa RECALL na compreensão de

leitura da criança com autismo.

Objetivo da Pesquisa:

Financiamento PróprioPatrocinador Principal:

59.012-300

(84)3342-5003 E-mail: [email protected]

Endereço:Bairro: CEP:

Telefone:

Avenida Nilo Peçanha, 620 - Prédio Administrativo - 1º Andar - Espaço João MachadoPetrópolis

UF: Município:RN NATALFax: (84)3202-3941

Página 01 de 04

ANEXO A

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HOSPITAL UNIVERSITÁRIOONOFRE LOPES-HUOL/UFRN

Continuação do Parecer: 1.662.461

Riscos:

A criança pode sentir constrangimento, intranqüil idade ou ansiedade nos momentos de

observação,debaplicação dos instrumentos de avaliação(escala CARS, de letramento emergente), de vídeo-

filmagem.Esse constrangimento poderá ser expresso por meio de choro, comportamento agressivo,

agitação motora e/ou recusa em participar das sessões. Esses riscos poderão ser minimizados pela

interrupção das filmagens. A avaliação e/ou a filmagem só será retomada, com o consentimento do

cuidador, e quando as manifestações

de desgaste emocional, como por exemplo, choro, estereotipias motoras ou verbais tenham acabado. O

cuidador pode sentir ansiedade, ou se – sentir coibido ao ser vídeo-grafado.

Caso sinta-se afetado esses riscos poderão ser minimizados interrompendo a filmagem que será retomada

só com o seu consentimento.

Benefícios:

A participação da criança na pesquisa poderá trazer inúmeros benefícios, como por exemplo, receber uma

avaliação da comunicação e da compreensão leitora, possibilitando futuras intervenções, participar

prazerosamente de momentos de contação de estórias com os pais, ampliar seu vocabulário, aumentar o

tempo de atenção compartilhada, aprender a realizar inferências e melhorar a compreensão leitora. O

cuidador poderá aprender novas estratégias de leitura visando desenvolver a compreensão leitora, ampliar a

comunicação

e vocabulário de seu filho.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:

É um projeto em condições de realização, bem definido em termos metodológicos e logísticos, o que o torna

exequível.

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:

Todos os termos de apresentação obrigatória de acordo com a resolução vigente estão presentes.

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:

Nenhuma recomendação.

Recomendações:

todas as pendências foram corridas adequadamente:

1- Inseriu carta de anuência do local onde será recrutado o sujeitos da pesquisa (SEPA/UFRN)e informou

como ocorreu a seleção da criança após o aviso público;

2- Inseriu orçamento da pesquisa;

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:

59.012-300

(84)3342-5003 E-mail: [email protected]

Endereço:Bairro: CEP:

Telefone:

Avenida Nilo Peçanha, 620 - Prédio Administrativo - 1º Andar - Espaço João MachadoPetrópolis

UF: Município:RN NATALFax: (84)3202-3941

Página 02 de 04

ANEXO A

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HOSPITAL UNIVERSITÁRIOONOFRE LOPES-HUOL/UFRN

Continuação do Parecer: 1.662.461

3- Corrigiu o cronograma;

4- Anexou declaração datada e assinada pelo responsável da pesquisa afirmando o não início da pesquisa.

1. Apresentar relatório parcial da pesquisa, semestralmente, a contar do início da mesma.

2. Apresentar relatório final da pesquisa até 30 dias após o término da mesma.

3. O CEP HUOL deverá ser informado de todos os efeitos adversos ou fatos relevantes que alterem o

curso normal do estudo.

4. Quaisquer documentações encaminhadas ao CEP HUOL deverão conter junto uma Carta de

Encaminhamento, em que conste o objetivo e justificativa do que esteja sendo apresentado.

5. Caso a pesquisa seja suspensa ou encerrada antes do previsto, o CEP HUOL deverá ser comunicado,

estando os motivos expressos no relatório final a ser apresentado.

6. O TCLE deverá ser obtido em duas vias, uma ficará com o pesquisador e a outra com o sujeito de

pesquisa.

7. Em conformidade com a Carta Circular nº. 003/2011CONEP/CNS, faz-se obrigatório a rubrica em

todas as páginas do TCLE pelo sujeito de pesquisa ou seu responsável e pelo pesquisador.

Considerações Finais a critério do CEP:

Este parecer foi elaborado baseado nos documentos abaixo relacionados:

Tipo Documento Arquivo Postagem Autor Situação

Informações Básicasdo Projeto

PB_INFORMAÇÕES_BÁSICAS_DO_PROJETO_625249.pdf

02/07/201612:09:55

Aceito

Projeto Detalhado /BrochuraInvestigador

ProjetoEliCEP_modificado.pdf 02/07/201612:08:50

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

Outros declaracao_naoinicio.pdf 02/07/201612:08:21

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

Orçamento orcamento.pdf 02/07/201612:07:48

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

Outros CARTACOMITe_PESQUISA.doc 02/07/201612:07:02

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

Outros cartaanuenci_SEPA.pdf 02/07/201612:03:27

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

Outros Pendencia.pdf 23/05/201612:23:53

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

59.012-300

(84)3342-5003 E-mail: [email protected]

Endereço:Bairro: CEP:

Telefone:

Avenida Nilo Peçanha, 620 - Prédio Administrativo - 1º Andar - Espaço João MachadoPetrópolis

UF: Município:RN NATALFax: (84)3202-3941

Página 03 de 04

ANEXO A

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HOSPITAL UNIVERSITÁRIOONOFRE LOPES-HUOL/UFRN

Continuação do Parecer: 1.662.461

NATAL, 29 de Julho de 2016

André Ducati Luchessi(Coordenador)

Assinado por:

TCLE / Termos deAssentimento /Justificativa deAusência

TCLEadultos_modificado1.pdf 23/05/201612:20:51

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

Outros respostaspendencias_modificado.pdf 08/04/201614:41:17

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

Outros pendencia02_modificada.pdf 08/04/201614:40:22

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

TCLE / Termos deAssentimento /Justificativa deAusência

TALE_crianca.doc 17/01/201614:05:57

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

Outros cartaanuencia.pdf 22/12/201501:13:04

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

Folha de Rosto folhaderosto.pdf 20/12/201511:36:47

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

Outros identificacaopesquisador.pdf 25/11/201500:26:19

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

Outros termoimagens.pdf 25/11/201500:19:34

ELIZABETHCYNTHIA WALTER

Aceito

Situação do Parecer:Aprovado

Necessita Apreciação da CONEP:Não

59.012-300

(84)3342-5003 E-mail: [email protected]

Endereço:Bairro: CEP:

Telefone:

Avenida Nilo Peçanha, 620 - Prédio Administrativo - 1º Andar - Espaço João MachadoPetrópolis

UF: Município:RN NATALFax: (84)3202-3941

Página 04 de 04

ANEXO A

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Childhood Autism Rating Scale (CARS)

Versão em Português CARS (PEREIRA, 2008)

I. RELACIONAMENTO INTERPESSOAL

1 Sem evidência de dificuldade ou anormalidade na relação com as pessoas : o comportamento da criança é apropriado a sua idade. Alguma timidez, nervosismo ou aborrecimento podem ser observados, mas não em grau atípico.

1.5

2 Relacionamento levemente anormal: A criança pode evitar olhar o adulto nos olhos, evitar o adulto ou ficar nervoso se a interação for forçada, ser excessivamente tímido, não ser responsivo ao adulto como seria típico ou agarrar-se ao pais mais que o normal para crianças da mesma idade

2.5

3 Relacionamento moderadamente anormal: A criança demonstra indiferença (parece ignorar o adulto). Tentativas persistentes e vigorosas são necessárias para se conseguir a atenção da criança. O contato iniciado pela criança é mínimo.

3.5

4 Relacionamento gravemente anormal: A criança é constantemente indiferente ou inconsciente ao que o adulto está fazendo. Ela quase nunca responde ou inicia contato com o adulto. Somente a tentativa mais persistente para atrair a atenção tem algum efeito.

Observações:

II. IMITAÇÃO

1 Imitação apropriada: A criança é capaz de imitar sons, palavras e movimentos, os quais são apropriados para o seu nível de habilidade.

1.5 2 Imitação levemente anormal : A criança imita comportamentos simples como bater

palmas ou sons verbais únicos, a maior parte do tempo; ocasionalmente imita somente após estimulação ou com atraso.

2.5 3 Imitação moderadamente anormal: A criança imita somente parte do tempo e requer uma

grande dose de persistência ou ajuda do adulto; freqüentemente imita somente após um tempo (com atraso).

3.5 4 Imitação gravemente anormal: A criança raramente ou nunca imita sons, palavras ou

movimentos mesmo com estímulo e assistência de um adulto.

Observações:

III. RESPOSTA EMOCIONAL

1 Resposta emocional apropriada à situação e à idade: A criança demonstra tipo e grau apropriados de resposta emocional evidenciada por mudança na expressão facial, postura e conduta.

1.5 2 Resposta emocional levemente anormal: A criança ocasionalmente apresenta um tipo ou

grau inapropriados de resposta emocional. As reações nem sempre estão relacionadas a

Escala CARS

ANEXO B

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objetos ou eventos que envolve a criança. 2.5 3 Resposta emocional moderadamente anormal: A criança demonstra sinais claros de

resposta emocional inadequada (tipo ou grau). As reações podem ser inibidas ou excessivas e sem relação com a situação; pode fazer caretas, rir ou tornar-se rígido até mesmo quando não há objetos ou eventos produtores de emoção.

3.5 4 Resposta emocional gravemente anormal: As respostas são raramente apropriadas a

situação. Uma vez que a criança atinja um determinado humor, é muito difícil alterá-lo. Por outro lado, a criança pode demonstrar emoções diferentes quando nada mudou.

Observações:

IV. USO DO CORPO

1 Uso do corpo apropriado à idade: A criança move-se com a mesma facilidade, agilidade e coordenação de uma criança normal na mesma idade.

1.5 2 Uso do corpo levemente anormal :Algumas peculiaridades menores podem estar

presentes, tais como movimentos desajeitados, repetitivos, coordenação pobre ou o raro aparecimento de mais movimentos não usuais.

2.5 3 Uso do corpo moderadamente anormal: Comportamentos que são claramente estranhos

ou incomuns para uma criança nesta idade podem incluir movimentos estranhos com os dedos, postura peculiar do corpo ou mãos, fixar-se em uma parte do corpo, auto-agressão, balanceio, agitação dos dedos ou caminhar nas pontas dos pés.

3.5 4 Uso do corpo gravemente anormal: Movimentos intensos ou freqüentes do tipo listado

acima são sinais de uso corporal gravemente anormal. Estes comportamentos podem persistir apesar das tentativas de desencorajá-los ou de envolver a criança em outras atividades.

Observações:

V. USO DE OBJETOS

1 Uso e interesse apropriados por brinquedos ou outros objetos: A criança demonstra interesse normal por brinquedos e os utiliza de maneira apropriada para seu nível de habilidade

1.5 2 Uso e interesse levemente inapropriados por brinquedos ou outros objetos: A criança

pode demonstrar um interesse atípico por um brinquedo ou brincá-lo de maneira inadequadamente pueril (exemplo: bater ou chupar o brinquedo)

2.5 3 Uso e interesse moderadamente inapropriados por brinquedos ou outros objetos: A

criança pode demonstrar pequeno interesse em brinquedos ou outros objetos ou pode estar preocupada em usá-los de maneira estranha. Ela pode focalizar em alguma parte insignificante do brinquedo, tornar-se fascinada com a luz que reflete do mesmo, repetitivamente mover alguma parte do objeto ou brincar com um objeto exclusivamente.

3.5 4 Uso e interesse gravemente inapropriados por brinquedos ou outros objetos: A criança

ocupa-se com algum dos comportamentos acima com maior freqüência e intensidade. É difícil distrair a criança quando ela está ocupada com estas atividades inadequadas.

Observações:

ANEXO B

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VI. ADAPTAÇÃO A MUDANÇAS

1 Resposta apropriada a mudanças: Se a criança pode perceber ou comentar as mudanças na rotina, ela é capaz de aceitar estas mudanças sem angústia.

1.5 2 Adaptação a mudanças levemente anormal: Quando um adulto tenta mudar tarefas, a

criança pode continuar na mesma atividade ou usar os mesmos materiais. 2.5 3 Adaptação a mudanças moderadamente anormal: A criança resiste ativamente a

mudanças na rotina, tenta continuar sua antiga atividade e é difícil de distrair. Ela pode tornar-se infeliz e zangada quando uma rotina estabelecida é alterada.

3.5 4 Adaptação a mudanças gravemente anormal: A criança demonstra reações graves às

mudanças. Se uma mudança é forçada, ela pode tornar-se extremamente zangada ou não colaborativa e responder com acessos de raiva.

Observações: VII. RESPOSTA VISUAL

1 Resposta visual apropriada: O comportamento visual da criança é normal e adequado paa sua idade. A visão é utilizada em conjunto com outros sentidos como forma de explorar um objeto novo.

1.5 2 Resposta visual levemente anormal: A criança deve ocasionalmente ser lembrada de

olhar para objetos. A criança pode estar mais interessada em olhar espelhos ou iluminação , pode eventualmente ficar olhando para o vazio ou pode evitar olhar as pessoas nos olhos.

2.5 3 Resposta visual moderadamente anormal: A criança deve ser lembrada freqüentemente

de olhar para o que está fazendo, ela pode olhar fixamente para o vazio, evitando olhar as pessoas nos olhos, olhar objetos de um ângulo incomum ou segurar os objetos muito próximos aos olhos.

3.5 4 Resposta visual gravemente anormal: A criança constantemente evita olhar para as

pessoas ou para certos objetos e pode demonstrar formas extremas de outras peculiaridades visuais descritas acima.

Observações:

VIII. RESPOSTA AUDITIVA

1 Resposta auditiva apropriada: O comportamento auditivo da criança é normal e adequado para idade. A audição é utilizada conjuntamente com outros sentidos.

1.5 2 Resposta auditiva levemente anormal: Pode haver ausência de reposta ou reação

levemente exagerada a certos sons. Respostas a sons podem estar atrasadas e os sons podem necessitar de repetição para conseguir a atenção da criança. A criança pode ser distraída por sons externos.

2.5 3 Resposta auditiva moderadamente anormal: A reposta da criança aos sons é variável.

Freqüentemente ignora o som nos primeiros momentos em que é feito. Pode assustar-se ou cobrir as orelhas ao ouvir alguns sons diários.

3.5 4 Resposta auditiva gravemente anormal: A criança sobre reage ou subreage aos sons

num grau extremamente evidente, independente do tipo de som.

Observações:

ANEXO B

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IX. RESPOSTA AO PALADAR, OLFATO E TATO

1 Uso e reposta normais: A criança explora novos objetos de um modo apropriado à idade, geralmente sentindo ou olhando. Paladar ou olfato podem ser usados quando apropriados. Ao reagir a uma dor pequena, a criança expressa desconforto mas não reage exageradamente.

1.5 2 Uso e reposta levemente anormais: A criança pode insistir em colocar objetos na boca;

pode cheirar ou provar objetos não comestíveis. Pode ignorar ou ter reação levemente exagerada à dor mínima, para a qual uma criança normal expressaria somente desconforto.

2.5 3 Uso e resposta moderadamente anormais: A criança pode estar moderadamente

preocupada em tocar, cheirar ou provar objetos ou pessoas. A criança pode reagir muito ou pouco.

3.5 4 Uso e resposta gravemente anormais: A criança está preocupada em cheirar, provar e

sentir objetos, mais pela sensação que pela exploração normal ou uso dos objetos. A criança pode ignorar completamente a dor ou reagir muito vigorosamente a desconfortos leves.

Observações:

X. MEDO OU NERVOSISMO

1 Medo ou nervosismo normais: O comportamento da criança é adequado a ambas situações e à idade.

1.5 2 Medo ou nervosismo levemente anormais: A criança ocasionalmente demonstra muito ou

pouco medo ou nervosismo quando comparada às reações de uma criança normal da mesma idade e em situação similar.

2.5 3 Medo ou nervosismo moderadamente anormais: A criança demonstra um pouco mais ou

um pouco menos de medo do que seria típico para uma criança mais nova ou mais velha em uma situação similar.

3.5 4 Medo ou nervosismo gravemente anormais: O medo persiste mesmo após experiências

repetidas com eventos ou objetos inofensivos. É extremamente difícil acalmar ou confortar a criança. A criança pode, por outro lado, falhar em demonstrar adequado respeito por perigos que outras crianças da mesma idade evitam.

Observações:

XI. COMUNICAÇÃO VERBAL

1 Comunicação verbal normal, idade e situação apropriadas. 1.5 2 Comunicação verbal levemente anormal: A linguagem demonstra um atraso global. A

maior parte do discurso tem significado; porém alguma ecolalia ou inversão do pronome podem ocorrer. Algumas palavras peculiares ou jargões podem ser usados ocasionalmente.

2.5 3 Comunicação verbal moderadamente anormal:O discurso pode estar ausente. Quando

presente, a comunicação verbal pode ser uma mistura de alguma comunicação significativa e alguma linguagem peculiar, tais como jargão, ecolalia ou inversão do pronome. Peculiaridades relativas à linguagem com significado podem incluir questionamentos excessivos ou preocupação com algum tópico em particular.

3.5

ANEXO B

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4 Comunicação verbal gravemente anormal: Linguagem com significado não é utilizada. A criança pode emitir gritos infantis, sons animais ou bizarros, barulhos complexos reproduzindo linguagem, ou pode apresentar o uso bizarro e persistente de palavras reconhecíveis ou frases.

Observações:

XII. COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL

1 Uso normal da comunicação não verbal, idade e situação apropriadas. 1.5 2 Uso da comunicação não verbal levemente anormal: Uso imaturo da comunicação não

verbal; pode somente apontar vagamente ou esticar a mão para pegar o que quer de maneira imprecisa, nas mesmas situações nas quais uma criança da mesma idade pode apontar ou gesticular mais especificamente para indicar o que quer.

2.5 3 Uso da comunicação não verbal moderadamente anormal:A criança geralmente não é

capaz de expressar suas necessidades ou desejos não verbalmente e não consegue compreender a comunicação não verbal dos outros.

3.5 4 Uso da comunicação não verbal gravemente anormal: A criança utiliza somente gestos

bizarros ou peculiares, sem significado aparente e não apresenta consciência do significado associado aos gestos ou expressões faciais dos outros.

Observações:

XIII. NÍVEL DE ATIVIDADE 1 Nível de atividade normal para idade e circunstâncias. A criança não é nem mais nem

menos ativa que uma criança da mesma idade em uma situação similar. 1.5 2 Nível de atividade levemente anormal:A criança pode tanto ser um pouco irrequieta

quanto preguiçosa e mover-se lentamente algumas vezes. O nível de atividade da criança interfere pouco na sua performance.

2.5 3 Nível de atividade moderadamente anormal: A criança pode ser bastante ativa e difícil de

conter. Ela pode ter uma energia ilimitada ou pode não dormir facilmente à noite. Por outro lado, a criança pode ser bastante letárgica e necessitar de um grande estímulo para mover-se.

3.5 4 Nível de atividade gravemente anormal:A criança exibe extremos de atividade ou

inatividade e pode até mesmo mudar de um extremo ao outro freqüentemente.

Observações: XIV. NÍVEL E COERÊNCIA DA RESPOSTA INTELECTUAL

1 A inteligência é normal e razoavelmente coerente em várias áreas: A criança é tão inteligente quanto uma criança da mesma idade e não possui qualquer habilidade intelectual incomum ou problemas.

1.5 2 Funcionamento intelecual levemente anormal: A criança não é tão inteligente quanto

uma típica criança da mesma idade; as habilidades aparecem uniformemente atrasadas em todas as áreas.

2.5 3 Funcionamento intelectual moderadamente anormal: Em geral, a criança não é tão

inteligente quanto uma criança da mesma idade, porém, a criança pode funcionar próximo do normal em uma ou mais áreas intelectuais.

3.5 4 Funcionamento intelectual gravemente anormal: Apesar da criança não ser tão

inteligente quanto uma criança da mesma idade, ela pode funcionar até mesmo melhor

ANEXO B

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que uma criança normal da mesma idade em uma ou mais áreas.

Observações:

XV. IMPRESSÕES GERAIS

1 Sem autismo: a criança não apresenta nenhum dos sintomas característicos do autismo. 1.5 2 Autismo leve: A criança apresenta somente um pequeno número de sintomas ou

somente um grau leve de autismo. 2.5 3 Autismo moderado: A criança apresenta um número de sintomas ou um grau moderado

de autismo. 3.5 4 Autismo grave: a criança apresenta muitos sintomas ou um grau extremo de autismo

Observações:

ESCORES

I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII XII IV V VI

Resultado: 15 – 30: sem autismo 31-36 – autism leve/moderado Acima de 37 –autismo grave

ANEXO B

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Anexo D

ESCALA DE LETRAMENTO EMERGENTE

Aluno: ______________________________________________________ Data: ____________

Escala de Letramento Emergente (Continua)

Itens Descrição Atividade Pont. Final 1. Interesse em Livros

Pont. Máxima 3

Esta variável mede o interesse espontâneo da criança por livros. O avaliador coloca diferentes livros na frente da criança e observa sua reação. Pontuação: 0 = a criança não demonstra interesse; 1 = a criança precisa de apoio para olhar o livro; 2 = a criança precisa ser encorajada; e 3 = a criança pega os livros e olha todos eles espontaneamente.

2. Interesse

durante a leitura

de história s. Pont. Máxima 6

Esta variável mede a atenção que a criança dá para a história que está sendo

lida para ela por um adulto. Uma história longa e uma curta são lidas para a

criança. Para cada história, um escore é dado numa escala de 4 pontos,

variando de 0 (nenhum interesse), 1 (pouco interesse), 2 (interesse), 3

(interesse contínuo).

história Longa: Escore: história Curta: Escore:

3. Participação

Ativa durante a

leitura Pont. Máxima 3

Esta variável mede o comportamento da criança durante a leitura de história história. Uma criança é considerada participante ativa se ela comenta sobre

a história ou sobre as figuras; se responde as perguntas do avaliador (sobre

questões que encorajam a criança a predizer a história); se completa

sentenças para o avaliador (ex: ela tem que encontrar sua mãe e.... “pai”); e

se ela faz conexões com as coisas que ela conhece (“eu tenho um

também”). Estes comportamentos são medidos numa escala de 4 pontos,

variando de 0 (nenhuma participação), 1 (pouca participação), 2

(participação), 3 (alta participação).

história lida:

ANEXO C

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Escala de Letramento Emergente (Continuação) Itens Descrição Atividade Pont. Final

4. Conhecimento

sobre o

manuseio do

livro Pont. Máxima 5

Este item mede a manipulação do livro. 1 = se a criança segura o livro da

forma correta; 1 = se a criança segura o livro com a capa para cima, e até 3

pontos se virar as páginas uma a uma (virando poucas páginas = 1; mais do

que a metade = 2; do começo ao fim = 3).

5. Orientação na

Leitura Pont. Máxima 3

Este item mede o conhecimento da criança sobre o texto impresso. Pede-se

para a criança seguir o texto com os dedos durante a leitura do livro. 1 = se

a criança aponta para o início do texto; 1 = se a criança retorna para a

próxima linha; 1 = se ela aponta do início ao final do livro.

6. Conceitos

sobre escrita

Pont. Máxima 9

Este item mede o conhecimento da criança sobre os conceitos de letra,

palavras e sentenças. Durante a leitura, em 3 diferentes ocasiões, pede-se

para a criança circular uma letra, uma palavra e uma sentença. É dado 1

ponto para cada resposta correta.

Primeiro momento: Letra: Palavra: Frase: Segundo momento: Letra: Palavra: Frase: Terceiro momento: Letra: Palavra: Frase:

ANEXO C

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Escala de Letramento Emergente (Continuação) Itens Descrição Atividade Pont. Final

7. Relação entre

palavra falada e

palavra escrita

Três pares de palavras e três sentenças curtas são lidas para a criança, e em seguida

pede-se para que ela circule ou aponte a uma palavra específica. 1 = para cada

resposta correta (máximo = 6 pontos)

Palavra solicitada: Circulou: Palavra solicitada: Circulou: Palavra solicitada: Circulou: Palavra solicitada: Circulou: Palavra solicitada: Circulou: Palavra solicitada: Circulou:

8. Funções da

Escrita Pont.

Max. 10

10 figuras são mostradas para a criança, e pede-se para ela indicar em quais contêm

escrita. 1 = para cada resposta correta. (máximo = 10 pontos) Conseguiu separar: Festa Junina = Escola = Livro = Jogos Infantis = Dia do Médico =

9. Leitura da

Escrita no

Ambiente Pont. Max. 10

Pede-se para a criança identificar 10 palavras presentes no ambiente (ex:

McDonald’s, Pepsi). 1 = para cada resposta correta McDonald’s = Ben10 = Galinha Pintadinha = Coca-cola = Elma Chips = Danoninho = Kibon = Sadia = Estrela = Nescau =

10. Rec. do

primeiro nome Pont. Max. 1

O nome da criança é escrito no papel. 1 = resposta correta “O que está escrito aqui?”

ANEXO C

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Escala de Letramento Emergente (Conclusão) Itens Descrição Atividade Pont. Final

11. Leitura de faz-de-conta

Pont. Max. 5

Este item mede o conhecimento da estrutura da linguagem escrita. Após ouvir a

história em voz alta pelo avaliador, pede-se para a criança ler a história. 1 = rotular e

comentar sobre os itens das figuras; 2 = tecer oralmente uma sequência sobre as

figuras; 3 = criar uma história com a prosódia e redação da linguagem escrita; 4 =

usar a escrita pré-convencional como forma de ler a história; 5 = leitura convencinal.

12. Escrita Pont. Max. 16

Pede-se para a criança escrever seu primeiro nome e as palavras mamãe ou papai.

Cada produção é medida em duas dimensões: forma da letra e princípio alfabético.

Para a forma da letra são dados os seguintes pontos: 1 = desenho; 2 = rabiscos; 3 =

rabisco parecido com letra; 4 = letras como unidades; 5 = letras; 6 = escrita

convencional. Para a descoberta do princípio alfabético, as produções são medidas de

acordo com 3 categorias: 0 = nenhuma evidência do princípio alfabético; 1 = alguma

evidência; 2 = padrão consistente. (máximo = 16 pontos)

Seu nome: Forma da letra: Princípio alfabético: Papai: Forma da letra: Princípio alfabético:

Escore Máximo = 77 pontos

ANEXO C

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Emergent  Literacy  in  Children  with  ASD    

Ambiente de Letramento Emergente no Lar de Criancas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) Informação pessoal

__________ Código de identificação do cuidador principal (o nome real será só incluído na lista original) __________ Gênero __________ Raça? __________ Relação com a criança Os cuidadores reportarão qualquer outro cuidador principal que se encontre na casa e os identificarão com o titulo (e.g. mãe, pai, avo, irmãos, baba): __________ _____ Código de identificação da criancas (o nome real será só incluído na lista original) _____ Idade da criança

Nível Educacional _____ 1 = menos que ensino médio _____ 2 = diploma de ensino médio _____ 3 = pelo menos algum grau de nível universitário ou terciário _____ 4 = titulo de graduação _____ 5 = mestrado ou algum titulo profissional Ocupação (só se reportara se o cuidador deseja prover essa informação):___________.

Questionário da entrevista – Nota: O entrevistador apresentara as questões na seção (a) sobre as “Habilidades Literárias (de Leitura e Escrita do Cuidador” no final da entrevista. Se a entrevista é realizada pessoalmente (ao contrario de se fosse pelo telefone) o entrevistado recebera essas perguntas em um formulário que devera preencher e devolver ao entrevistador. Se a entrevista é através do telefone, as perguntas se lerão da mesma forma na qual estão escritas. (a) Habilidades Literárias (de Leitura e Escrita) do Cuidador

1. Numa escala de 1 a 5, sendo 1 a pontuação mínima e 5 a pontuação máxima, quão confiante você se sente acerca de suas próprias habilidades de LEITURA? Você também pode escolher não responder. _____ Não desejo responder. Por favor, circule a escolha que melhor reflete a confiança que você tem da sua própria habilidade de Leitura. 1 2 3 4 x 5

ANEXO D

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Emergent  Literacy  in  Children  with  ASD    

Apresento dificuldades leitoras. Por exemplo, na compreensão das instruções de cozinha ou ao dirigir, ou ao ler os bilhetes dos professores do meu filho.

Posso ler, mas não tão bem como os meus colegas do trabalho ou as pessoas com quem eu fui à escola. Geralmente eu não leio por prazer.

Posso ler para meu trabalho e algumas vezes ler por prazer ou para obter informação. Eu acho que minhas habilidades leitoras são em torno da media.

Eu sinto que posso ler melhor do que a maioria dos outros adultos quando comparados as pessoas de todos os ramos de trabalho. Eu leio por prazer, e geralmente sinto-me bem confiante com as minhas habilidades leitoras.

Eu sinto que ler é um ponto forte em mim. Eu sou capas de ler material que a maioria dos adultos não lê, (por exemplo, revistas acadêmicas, literatura clássica, publicações de interes especializado, profissional ou de mercado)

2. Numa escala de 1 a 5, sendo 1 a pontuação mínima e 5 a pontuação máxima, quão confiante você se sente acerca de suas próprias habilidades de ESCRITA? Você também pode escolher não responder. _____ Eu desejo não responder Por favor, circule a escolha que melhor reflete a confiança que você tem da sua própria habilidade de ESCRITA. 1 2 3 x 4 5 Apresento dificuldades para escrever. Por exemplo, posso ter problemas ao escrever indicações de cozinha ou de direção, ou ao escrever

Posso escrever, mas não tão bem como os meus colegas do trabalho ou as pessoas com quem eu fui à escola.

Eu posso escrever bem para meu trabalho ou para o que eu precisar fazer, mas não me considero um grande escritor. Eu acho que minhas habilidades da escrita são em

Eu sinto que posso escrever melhor do que a maioria dos outros adultos quando comparados as pessoas de todos os ramos de trabalho. Eu geralmente sinto-me bem

Eu sinto que escrever é um ponto forte em mim. Sou capaz de escrever para me comunicar com uma grande audiência em contextos profissionais (por exemplo: documentos de trabalho, apresentações, cartas formais dirigidas a colegas)

ANEXO D

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Emergent  Literacy  in  Children  with  ASD    

bilhetes para os professores do meu filho.

torno da media.

confiante com as minhas habilidades escritas.

(b) Uso de comportamentos que promovem a aprendizagem da leitura-escrita. 3. A seguir, eu vou ler uma lista de materiais para ler e escrever que podem ser encontrados na sua casa. Por favor, me diga se você tem esse item, e se é acessível a seu filho. *Serão reportadas somente respostas que incluam ter esse item e que esteja disponível para a criança. As respostas serão computadas e serão criados 5 grupos numerados igualitariamente para mostrar uma escala de cinco pontos com 1 sendo o menor e 5 sendo o maior. Material de Leitura

Livros de crianças e de adultos _____Revistas _____ guias de TV _____Gibis _____Jornais _____Catálogos _____Livros de ”Como… (e.i. de cozinha) _____Guias telefônicas _____Dicionário ou qualquer outro tipo de livro de referencia. _____Outros (descrever): ______________ Materiais de Escrita _____Letras ou números com ímãs ____papel para escrever/bloco de notas papel __ canetas e lápis __Quadro preto e giz _____Giz de cera _____Pilotos _____Pinturas _____papel para desenhar/pintar _____Outros (descrever): ______________ Televisão Computador e jogos relacionados _____Vídeos educativos _____Jogos educativos computacionais portáteis _____jogos de vídeos educativos na TV _____jogos educativos no computador _____Blocos com alfabeto

ANEXO D

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Emergent  Literacy  in  Children  with  ASD    

_____Letras para brincar na banheira _____quebra-cabeça de alfabeto _____Outros (descrever): ______________ 4. Com que freqüência alguém na sua casa lê para a criança (e.g. mãe, pai, irmãos, avô)? (1) Menos de uma vez por mês (*A os cuidadores que reportarem ler para suas criancas menos de uma vez por mês, lhes será pedido que elaborem o porque é assim que acontece) (2) 1-3 vezes mensais; pelo menos cada duas semanas. (3) 4-5 vezes mensais; pelo menos uma vez na semana (4) 1-3x semanal; pelo menos duas vezes por semana (5) 3 ou mais vezes por semana **Das pessoas que lêem para seu filho, quem é que mais lê para ele __________? 5. Quando foi que você ou alguém mais começou a ler para seu filho? (1) Cuidadores que ainda não começarão ler para seus filhos (2) 36 meses ou mais (3) 24 – 36 mêses (4) 12-24 mêses (5) 0-12 mêses

6. Com que frequência você tenta ensinar seu filho a ler num contexto fora de situações onde você se senta com seu filho e lê um livro para ele (“leitura compartilhada”) (e.i. identificar letras pelo nome, identificar o som das letras, ler palavras, examinar palavras buscando determinadas letras)? *Se pedira ao cuidador que de exemplos. (1) Menos de alguma vez ao mês (2) 1-3 mensais; pelo menos cada duas semanas (3) 4-5 mensais; pelo menos 1 vez pela semana (4) 1-3x semanais; pelo menos duas vezes pela semana (5) 3 vezes semanais, ou mais. Exemplo(s): 7. Com que freqüência você trata de ensinar seu filho a escrever letras ou palavras? (e.g. escrevendo em papel, com softwares de computador, utilizando livros de atividades)? *Aos cuidadores lhes será pedido prover exemplos

(1) Menos de alguma vez ao mês (2) 1-3 mensais; pelo menos cada duas semanas

ANEXO D

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Emergent  Literacy  in  Children  with  ASD    

(3) 4-5 mensais; pelo menos 1 vez pela semana (4) 1-3 semanais; pelo menos duas vezes pela semana (5) 3 vezes semanais, ou mais. Exemplo(s): 8. Aproximadamente quantos livros têm seu filho (ou estão disponíveis para ele a diário, e.g. da biblioteca)? * Caso seja necessário O entrevistador lera as resposta. Depois de que a resposta é dada o entrevistador se assegurara que a resposta numérica do cuidador reflete os livros que estão ao acesso da criança. Só será reportada a quantidade de livros que se encontre ao acesso da criança. Se o cuidador reporta que a criança não tem acesso a livros, pediram para ele elaborar o porquê dessa situação. (1) 5 ou menos (2) 6 ate 30 (3) 31-55 (4) 56-75 (5) 75 ou mais Elaboração: 9. Com que freqüência você mostra, ou chama a atenção do seu filho ao motivo (ao porque) alguém lê. (e.g. seguir uma receita de cozinha, lista de compras no supermercado)? *Será pedido exemplos (1) Menos (que) de alguma vez ao mês. (2) 1-3 mensais; pelo menos cada duas semanas. (3) 4-5 mensais; pelo menos 1 vez pela semana. (4) 1-3 semanais; pelo menos duas vezes pela semana. (5) 3 ou mais vezes na semana. Exemplo(s): 10. A seguir, vou ler uma lista de tipos de perguntas que você poderia perguntar a seu filho quando lê uma estória para ele. Por favor, me diga se você alguma vez pergunta esse tipo de perguntas (entrevistador lê as possibilidades)? Se o cuidador pergunta mais de um tipo de pergunta passar para pergunta 11 e 12. Se reportarem usar só um tipo de pergunta então pular a pergunta 13. .

_____ Eu pergunto ao meu filho: identificar certas coisas na pagina, tipo personagens, um objeto ou cor. _____ Eu pergunto ao meu filho perguntas sobre o que pode/poderia acontecer depois/a continuação. _____ Eu pergunto ao meu filho perguntas sobre os sentimentos dos personagens.

ANEXO D

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_____ Eu pergunto ao meu filho como ele pode se relacionar ao personagem ou a eventos na estória (e.g. se o personagem foi ao zoo- acerca de nossa viagem ao zoo, ou se o personagem tem um brinquedo favorito- acerca do brinquedo favorito dele)

11. Dentre estas perguntas, qual tipo de pergunta você utiliza (da mais frequentemente ate a menos frequentemente)? Vou ler as possibilidades novamente (o entrevistador le as possibilidades). O entrevistador ordenara as respostas numa escala descendente.

_____ Eu pergunto ao meu filho: identificar certas coisas na pagina, tipo personagens, um objeto ou cor. _____ Eu pergunto ao meu filho perguntas sobre o que pode/poderia acontecer depois/a continuação. ___ Eu pergunto ao meu filho perguntas sobre os sentimentos dos personagens. _____ Eu pergunto ao meu filho como ele pode se relacionar ao personagem ou a eventos na estória (e.g. se o personagem foi ao zoo- acerca de nossa viagem ao zoo, ou se o personagem tem um brinquedo favorito- acerca do brinquedo favorito dele)

(c) Percepção da habilidade e interesse do seu filho em atividades relacionadas à

leitura-escrita

12. Dentre estas, a qual tipo de perguntas provavelmente seu filho mais responderia? Vou ler as possibilidades novamente (o entrevistador lê as possibilidades). O entrevistador ordenara as respostas numa escala descendente.

_____ Eu pergunto ao meu filho: identificar certas coisas na pagina, tipo personagens, um objeto ou cor. _____ Eu pergunto ao meu filho perguntas sobre o que pode/poderia acontecer depois/a continuação. _____ Eu pergunto ao meu filho perguntas sobre os sentimentos dos personagens. _____ Eu pergunto ao meu filho como ele pode se relacionar ao personagem ou a eventos na estória (e.g. se o personagem foi ao zoo- acerca de nossa viagem ao zoo, ou se o personagem tem um brinquedo favorito- acerca do brinquedo favorito dele)

13. Com que freqüência você observa seu filho ler/olhar as figuras num livro de forma independiente. (Entrevistador lê as escolhas)? (1) Menos do que uma vez ao mês. (2) 1-3 vezes mensais; pelo menos cada duas semanas. (3) 4-5 vezes ao mês; pelo menos uma vez na semana. (4) 1-3 vezes semanais; pelo menos 2 vezes na semana (5) 3 o mais vezes na semana.

ANEXO D

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14. Qual das seguintes escolhas descreve melhor [sua impressão acerca de] como seu filho se sente acerca de que leiam livros para ele ou ela, você diria que ele ou ela: (entrevistador lê as escolhas)? (1) Que ele não desfruta para nada. (2) O tolera mais não o desfruta. (3) Aparenta indiferença. (4) O desfruta, mas não tanto como das outras atividades. (5) O desfruta muito. 15. Com que freqüência seu filho pede ou gesticula para que você lhe leia um livro (entrevistador lê as escolhas)? (1) Menos do que uma vez ao mês. (2)1-3 vezes mensais; pelo menos cada duas semanas. (3) 4-5 vezes ao mês; pelo menos uma vez na semana. (4) 1-3 vezes semanais; pelo menos 2 vezes na semana (5) 3 o mais vezes na semana. 16. Com que freqüência você observa que seu filho escreve/rabisca de forma independente (entrevistador lê as escolhas)? (1) Menos (que) de alguma vez ao mês. (2)1-3 vezes mensais; pelo menos cada duas semanas. (3) 4-5 vezes ao mês; pelo menos uma vez na semana. (4) 1-3 vezes semanais; pelo menos 2 vezes na semana (5) 3 o mais vezes na semana. 17. Com que freqüência você observa que seu filho brinca ou se interessa por letras (como vistas na TV, ou brincar com brinquedos do tipo imãs, quebra-cabeças ou blocos) (entrevistador le as escolhas)? (1) Menos (que) de alguma vez ao mês. (2)1-3 vezes mensais; pelo menos cada duas semanas. (3) 4-5 vezes ao mês; pelo menos uma vez na semana. (4) 1-3 vezes semanais; pelo menos 2 vezes na semana (5) 3 o mais vezes na semana. 18. Qual das seguintes escolhas você diria que melhor descrevem (sua impressão acerca de) como seu filho sentiria-se recebendo um livro de presente) entrevistador lê as escolhas? (1) Ficaria muito triste / desapontado. (2) Ficaria triste /desapontado (3) Indiferente

ANEXO D

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Emergent  Literacy  in  Children  with  ASD    

(4) gostaria (5) adoraria 19. Alguma vez você observou seu filho fazer de conta que lia para alguém ou para um brinquedo? * Se a resposta é sim, o entrevistador perguntara: com que freqüência? _____ Não ____ Sim (1) Menos (que) de alguma vez ao mês. (2)1-3 vezes mensais; pelo menos cada duas semanas. (3) 4-5 vezes ao mês; pelo menos uma vez na semana. (4) 1-3 vezes semanais; pelo menos 2 vezes na semana (5) 3 o mais vezes na semana

20. Seu filho tem ou teve alguma vez algum livro favorito, ou de series, ou de algum tema em especial q tenha sido lido para ele. _____Sim _____ Não Explicação 21. Diria que seu filho tem preferência por certo “tipo” ou ”gênero” de livro? * O entrevistador prove exemplos de gêneros de livros. Se for mais de um tipo, o entrevistador organizara as respostas em escala descendente. Exemplos: _____Livros de duas dimensões (e.i. livros de auto-relevo ou livros com texturas, cores brilhantes) _____Livros de atividades (e.g. livros para colorir, livros de atividades com letras) _____Material de leitura que tradicionalmente não é para criança. (e.g. jornal, atlas) _____Gibis _____Livros sobre um determinado tema que foi escrito para adultos (e.i. trens) _____ Livros sobre um determinado tema que foi escrito para criancas _____Livros de historias _____Outros_______________________________ 22. Seu filho pode identificar alguma letra? Se responde sim, quantas e quais são? _____Sim _____ Não _____Inconsistentemente / Habilidades emergentes _____não tenho certeza Explicação (quantas e quais, especificar se são letra maiúscula ou minúscula de forma ou cursiva) 23. Seu filho identifica seu nome escrito?

ANEXO D

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Emergent  Literacy  in  Children  with  ASD    

_____Sim _____ Não _____de maneira inconsistente / Habilidades emergentes _____ não tenho certeza Explicação (se tem):

24. Seu filho identifica outras palavras? Se sim, quantas e quais? _____Sim _____ Não _____de maneira inconsistente / Habilidades emergentes _____ não tenho certeza Explicação (quantas e quais): 25. Se seu filho lê palavras, você pensa que ele / ela pode ler palavras novas reconhecendo o som delas ou meio que as adivinhando? _____ Meu filho não é capaz de ler nenhuma palavra _____Sim _____ Não ____ de maneira inconsistente / Habilidades emergentes _____não tenho certeza Explicação (como o cuidador pensa que a criança aprende a ler novas palavras): 26. Seu filho pode escrever alguma letra copiando-as? Se sim, quantas e quais? _____Sim _____ Não _____de maneira inconsistente / Habilidades emergentes _____não tenho certeza Explicação (quantas e quais) 27. Seu filho pode escrever alguma letra de memória? Se pode, Quantas e quais? _____Sim _____ Não _____de maneira inconsistente / Habilidades emergentes _____não tenho certeza Explicação (quantas e quais): 28. Seu filho pode escrever seu nome ou outras palavras copiando-as? Se sim, Quantas e quais? _____Sim _____ Não _____ de maneira inconsistente / Habilidades emergentes _____não tenho certeza Explicação (quantas e quais):

ANEXO D

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Emergent  Literacy  in  Children  with  ASD    

29. Seu filho pode escrever seu nome de memória (sem importar se tem erros)? Se sim, Quantas e quais? _____Sim _____ Não _____ de maneira inconsistente / Habilidades emergentes _____não tenho certeza Explicação (quantas e quais): 30. Seu filho conhece o som de alguma letra? Se sim, Quantas e quais? _____Sim _____ Não _____ de maneira inconsistente / Habilidades emergentes _____não tenho certeza Explicação (quantas e quais): 31. Quando você vê seu filho lendo, ele coloca o livro corretamente para cima? _____Sim _____ Não _____ de maneira inconsistente / Habilidades emergentes _____não tenho certeza Explicação (se tem alguma): 32. Seu filho “tenta” virar as paginas de a uma por vez? (Se explicara que tem crianças que apresentam dificuldades no controle da motricidade fina que pode estar “escondendo” a habilidade dele de virar as paginas de a uma por vez) _____Sim _____ Não _____ de maneira inconsistente / Habilidades emergentes _____não tenho certeza Explicação 33. Alguma vez viu seu filho apontar a palavras (em qualquer contexto) para que você as leia, te levou ate qualquer palavra com seu dedo ou te pergunto que diz ai ( em alguma palavra) _____Sim _____ Não _____ Não tenho certeza Explicação (quais exemplos): 34. Você pensa que seu filho sabe que as pessoas lêem nas palavras de um livro, versus dizer a estória em forma oral (contar)? _____Sim _____ Não

ANEXO D

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Emergent  Literacy  in  Children  with  ASD    

_____ Não tenho certeza Explicação: 35. Alguma vez notou seu filho mover o dedo ao longo das palavras enquanto você estava lendo ou quando ele mesmo fazia de contas que lia? Se sim, movia o dedo de esquerda à direita? _____Sim _____ Não _____ Não tenho certeza Explicação: 36. Seu filho brinca de jogos de rima onde espontaneamente ele cria rimas? (e.g. identificando palavras que rimam repetindo musicas com rimas e inserindo palavras novas) _____Sim _____ Não _____ de maneira inconsistente / Habilidades emergentes _____não tenho certeza Explicação

(d) Crenças e atitudes acerca da educação do filho.

37. Qual das seguintes opções você diria que descreve melhor a importância que você da a que seu filho aprenda habilidades literárias, ao mesmo tempo comparadas com outros objetivos educacionais? (entrevistador lê as opções depois de expressar que compreende que tal vez a criança possa apresentar dificuldades significativas de comunicação e/ou comportamento e que a família os considere prioritários para ser tratados) (1) Não importante (2) Minimamente importante (3) Algo importante (4) Muito importante (5) Extremamente importante Elaboração (e.i. o que o cuidador considera que é, educacionalmente falando, o mais importante para seu filho neste momento) 38. Qual das seguintes opções você diria, melhor descreve quão confidente você se sente acerca da sua habilidade para ensinar seu filho as habilidades literárias (O entrevistador le as opções)? (1) Nada seguro (2) Minimamente seguro (3) Algo seguro

ANEXO D

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Emergent  Literacy  in  Children  with  ASD    

(4) Muito seguro (5) Extremadamente seguro 39. Você pensa que seu filho compreende o porquê (a razão) as pessoas lêem e escrevem? (1) Sim (3) Não (4) Não tenho certeza (5) Explicação: 40. Você sente que as habilidades leitoras do seu filho são relativamente fortes? Ou seja, comparadas com as outras coisas que seu filho faz, a leitura, é uma habilidade mais forte que outras habilidades? (1) Sim (2) Não (3) Não tenho certeza Explicação

41. Você sente que as habilidades da escrita do seu filho são relativamente seu forte? Ou seja, comparadas com as outras coisas que seu filho faz, a escrita, é uma habilidade mais forte que outras habilidades? (1) Sim (2) Não (3) Não tenho certeza Explicação:

42. Qual das seguintes opções você diria que descreve melhor quem você pensa que tem a responsabilidade de ensinar habilidades literárias a crianças com necessidades educacionais especiais. (Entrevistador lê as opções)?

(1) Só o sistema educacional (2) Só a família (3) Principalmente o sistema educacional, mas também a família. (4) Principalmente a família, mas também ao sistema educacional (5) Igualitariamente o sistema educacional e a família.

ANEXO D

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Emergent  Literacy  in  Children  with  ASD    

43. Quanto do desenvolvimento literário do seu filho você sente que é reflexo direto de seus esforços. (O entrevistador lê opções)? (1) Acredito que a escola é completamente responsável (2) Acredito que a escola é majoritariamente responsável (3) Acredito que eu sou responsável em igual quantidade do que aprendido na escola. (4) Acredito que sou responsável em maior quantidade que o aprendido na escola. (5) Acredito que meu filho tenha aprendido as habilidades literárias de forma

autônoma; nem a escola nem eu fomos responsáveis pela maior parte do apreendido por ele.

44. A que tipo de escola seu filho assiste atualmente?

(1) Educação geral em escola publica. (2) Escola publica sala de educação especial durante a maior parte do dia. (3) Pré-escolar para criancas com necessidades educacionais especiais e

desenvolvimento típico em escola publica. (4) Pré-escolar só para criancas com necessidades educacionais especiais em escola

publica. (5) Escola privada ou um programa que atende majoritariamente criancas com

desenvolvimento típico. (6) Escola privada ou um programa que atende só criancas com necessidades

educacionais especiais (7) Outros – por favor descreva ________________________

ANEXO D

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Manual  para  a  Codificação  do  RECALL    Contexto:  Na  intervenção,  a  mãe  foi  instruída  a  ler  o  livro  para  a  criança,  utilizando  o  roteiro  de  

perguntas  previamente  elaborado  pela  pesquisadora.  O   livro  era   lido  em  duas  oportunidades,  

sendo  utilizados  2  roteiros  de  perguntas  (roteiro  1  e  roteiro  2).  As  sessões  tipicamente  ocorriam  

no  quarto  da  criança  e  eram  videografadas  pelo  pai.  

 

Materiais:   Os   materiais   utilizados   nas   sessões   incluíam   um   livro   de   história   previamente  

selecionado   pela   pesquisadora   e   pela   mãe   e   dois   roteiros   de   perguntas.   O   primeiro   roteiro  

(roteiro  1)   incluiu  perguntas  utilizando:  QUE,  QUEM,  ONDE,  QUANDO,  e  POR  QUE.  O  segundo  

roteiro   (roteiro  2)  era  mais  elaborado,   incluindo,  além  das  questões  do  roteiro  1,  PERGUNTAS  

COM   INFERÊNCIAS,   PERGUNTAS   COM   IDENTIFICAÇÃO   EMOCIONAL,   PERGUNTAS   ABERTAS,  

FRASES  PARA  COMPLETAR  e  EVOCAR.      

 

Variáveis:   Dois   conjuntos   de   variáveis   serão   categorizados   (a)   as   respostas   da   mãe;   (b)   as  

respostas  da  criança.    

 

Instruções  para  a  codificação  das  sessões  experimentais  

Etapas  para  a  codificação  

1. Ler  o  ROTEIRO  (1  ou  2)  de  perguntas  de  cada  livro  

2. Preencher  o  FORMULÁRIO  DE  AVALIAÇÃO  DA  CAPACITAÇÃO  DO  CUIDADOR    

3. Preencher  o  Formulário  de  FIDEDIGNIDADE  DO  RECALL  

4. Preencher  o  Quadro  de  respostas  da  criança  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ANEXO E

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FORMULÁRIO DE AVALIAÇÃO DA CAPACITAÇÃO DO CUIDADOR Fidedignidade  na  implementação  do  protocolo  RECALL1  

Livro:                                                                                                                                        Roteiro:    ___(Dia  1)  ____(Dia  2)        Data:                                                                                                                                                Duração:     1.

Formular  as  perguntas  do  roteiro

Formular  a  pergunta  antes  de  virar  a  página

☐ Inconsistentemente 2 <80% ☐ Consistentemente ≥80% Pergunta   Sim   Não   Pergunta   Sim   Não   Observação  1       7        2       8      3       9      4       10      5       11      6       12      

2. Expandir o vocabulário Parafrasear  a  resposta  da  criança,  acrescentando  informação

1 Assista   o   vídeo   e,   com   bases   nas   respostas   da   mãe,   preencha   o   formulário   abaixo,  considerando  as  seguintes  instruções      Questão   Instrução   Segmento   Instrução  1   Marcar   SIM  ou  NÃO   indicando   se   a  pergunta  

foi  elaborada  Livro   Escrever   o   nome   do  

livro  2,3,4   Marcar   SIM   ou   NÃO   Indicando   se   as  

estratégias   foram   aplicadas   após   cada  pergunta    

Roteiro     Indicar   o   número   do  roteiro  Dia  1  ou  Dia  2  

5  e  6   Registrar   o   número   de   vezes   em   que   o  comportamento  foi  observado  

Data   Escrever  a  data  em  que  o  vídeo  foi  feito  

7  e  8   Registrar   se   o   comportamento   foi   ou   não  observado  

Duração   Tempo   de   duração   da  sessão  

2 Menos  de  80%  das  vezes  –  inconsistente  (menos  de  9  vezes  –  no  caso  de  11  perguntas)  -­‐  Igual  ou  mais  do  que  80%  -­‐  consistente

ANEXO E

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☐Inconsistentemente <80% ☐Consistentemente ≥80% Pergunta   Sim   Não   Pergunta   Sim   Não   Observação  1       7        2       8      3       9      4       10      5       11      6       12      

3. Fornecer  as  dicas  visuais  (PEEP)  

Após  uma  resposta  incorreta  ou  não  resposta  seguir  a  hierarquia  de  dicas  

previamente  descritas:  (Nível  2)  opção  de  três  escolhas  visuais,  (Nivel3)  

escolha  binária  de  opções  visuais,  (Nível  4)  modelo  direto  da  resposta  

correta  e  pedindo  a  criança  que  a  repita,  e  (Nível  4)  colocar  a  mão  da  

criança  sobre  o  apoio  visual  da  resposta  correta.    

☐ Inconsistentemente <80% ☐ Consistentemente ≥80% Pergunta   Sim   Não   Pergunta   Sim   Não   Observação  1       7        2       8      3       9      4       10      5       11      6       12      

4. Elogiar O  tecer  comentários  positivos  sobre  as  respostas  corretas  (com  ou  sem  ajuda)  da  criança.

☐ Inconsistentemente <80% ☐ Consistentemente ≥80% Pergunta   Sim   Não   Pergunta   Sim   Não   Observação  1       7        2       8      3       9      4       10      5       11      6       12      

5. Estabelecer  atenção  compartilhada

apontar  para  ilustração  no  livro  e  verbalizar  o  que  é  ilustrado  

Foram 4 ou mais dicas de manutenção da atenção providas durante a leitura? ☐ Sim ☐ Não Observações:

ANEXO E

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6. Pausa Intencional Antes o depois de virar a página, pausa por 3-5 segundos

enquanto olha atentamente à criança. As   pausas   podem,  

também  ocorrer  quando  o   leitor   aponta  para  uma   imagem  do  

livro  e  olha  para  a  criança.    

Foram 3 pausas intencionais realizadas durante a leitura? ☐ Sim ☐ Não Notas: 7. Ajudas Visuais

As ajudas visuais estiveram disponíveis ao longo da leitura do livro?

☐ Sim ☐ Não 8. Livro

A criança podia ver os desenhos/texto ao longo da leitura do livro.

☐ Sim ☐ Não Sugestões para o uso do RECALL?  

ANEXO E

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FORMULÁRIO  RECALL  CODIFICAÇÃO    

 

Resposta  da  mãe    (perg  do  roteiro)  

Categoria  de  respostas  da  mãe(estratégias  RECALL)  

Sem  ajuda  (nível  1)  

Nível  de  ajuda  visual3  fornecidos  pela  mãe  3  opções  

(nível  2)  

Opção  

binária    

(nível  3)  

Mostrar  a  

resposta  correta  

(nível  4)  

           

           

           

           

           

           

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3  O  nível  1  é  quando  a  criança  responde  corretamente  sem  ajuda  visual;  O  nível  2  é  quando  a  mãe  mostra  as  3  imagens  e  a  criança  acerta  na  primeira  tentativa;  O  nível  3  é  quando  a  criança  acerta  quando  a  mãe  mostra  as  duas  opções   (isso   significa  que  a  criança   já   tentou  uma  vez  e  errou  e  a  mãe  cobriu  a  resposta  errada  que  a  criança  marcou);  O  nível  4  é  quando  a  criança  erra  da  primeira  e  da  segunda  vez  e  a  mãe  mostra  a  resposta  correta  

ANEXO E

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A. Variáveis  da  mãe  

ESTRATÉGIAS  RECALL  

Categorias  da  mãe  

Definição   Exemplo  

Completar  *4   Verbalizar  uma  frase  afirmativa  do  livro  de  forma  incompleta,  fazendo  uma  pausa  (silêncio)  de  três  segundos  ao  final  da  sentença.  Essa  pergunta  pode  vir  acompanhada  da  estratégia  PEEP,  caso  a  criança  não  responda  ou  responda  incorretamente.  

Na  segunda  Pedro  comeu  fruta,  na  terça  Pedro  comeu  fruta,  na  quarta  Pedro  comeu......(pausa  de  3  segundos)  O  Monstro  um  chamou  a  monstro  dois  que  chamou  a  monstro....  

Evocar  *   Elaborar  uma  pergunta  sobre  eventos  específicos  da  história,  que  exijam  que  a  criança  relembre  a  sequência  de  fatos  ocorridos.  Essa  pergunta  pode  vir  acompanhada  da  estratégia  PEEP,  caso  a  criança  não  responda  ou  responda  incorretamente.  

O  que  foi  o  que  os  meninos  encontraram?  

Pergunta  aberta  *  

Elaborar  uma  pergunta  com  múltiplas  possibilidades  de  respostas.  Essa  pergunta  pode  vir  acompanhada  da  estratégia  PEEP,  caso  a  criança  não  responda  ou  responda  incorretamente.    

O  que  que  está  acontecendo  nesta  página?  O  que  você  vê  aqui  nesta  página?  

Pergunta  de  vocabulário  *  

Elaborar  uma  pergunta  sobre  um  substantivo  ou  verbo  claramente  ilustrados  no  livro.  Não  devem  incluir  perguntas  sobre  inferência  ou  evocação.  Essa  pergunta  pode  vir  acompanhada  da  estratégia  PEEP,  caso  a  criança  não  responda  ou  responda  incorretamente.  

O  que  é  isso?  Apontando  para  um  camelo  Onde  mora  o  camelo?  Quem  é  essa  personagem?  O  que  o  menino  está  fazendo?  Aponta  para  o  menino  correndo  

Inferência  *   Elaborar  perguntas  que  requerem  predições.  Essa  pergunta  pode  vir  acompanhada  da  estratégia  PEEP,  caso  a  criança  não  responda  ou  responda  incorretamente.    

O  menino  caiu  e  se  machucou.  O  que  você  acha  que  vai  a  acontecer  depois?  Por  que  o  macaco  foi  dormir...?  

Identificação   Elaborar  perguntas  sobre  como  o  personagem  está  se  sentindo  ou  como  a   Como  você  se  sentiria  se  machucasse  o  dedo?  

4 As categorias de respostas da mãe com um (*) podem ser elaboradas com apoio visual. Ver definição no quadro nível de ajuda visual (PEEP).

ANEXO E

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emocional  *   criança  se  sentiria  se  estivesse  no  lugar  do  personagem.  Essa  pergunta  pode  vir  acompanhada  da  estratégia  PEEP,  caso  a  criança  não  responda  ou  responda  incorretamente.  

Como  você  acha  que  o  jacaré  se  sente?  

Pausa  intencional  

Permanecer  em  silêncio  por  3  segundos  olhando  para  a  criança.  Tipicamente  ocorre  antes  ou  depois  de  virar  a  página  do  livro  ou  quando  se  aponta  para  alguma  imagem  no  livro  e  se  olha  para  a  criança  com  ar  interrogativo.  

Ao  virar  a  página  do  livro  a  mãe  diz  “E  daí,  o  lobo  mau  foi  ...  ”  (faz  silêncio  e  segura  a  página  do  livro  sem  virar)    Aponta  para  uma  imagem  do  livro  e  permanece  em  silêncio  (3  segundos)  olhando  para  criança.  

Atenção  compartilhada  

Descrever  verbalmente  o  que  está  acontecendo  em  uma  página  do  livro.  O  leitor  deve  apontar  para  as  imagens  enquanto  verbaliza.  Dizer  simplesmente  “olha”,  sem  elaborar  uma  sentença  descritiva,  não  deve  ser  considerado  

Ao  apontar  para  a  ilustração  no  livro  a  mãe  diz:    olha  aqui.  Está  vendo  a  chapeuzinho  vermelho  com  as  frutas  e  a  casa  ao  lado  e...etc.  

Expandir  o  vocabulário  

Tecer  comentários  sobre  a  resposta  dada  pela  criança   A  mãe  pergunta:  Quem  é  esse  personagem?  O  menino  responde:  O  jacaré!  A  mãe  diz:  Sim,  vejo  que  é  o  jacaré  porque  ele  é  verde  e  tem  uma  boca  grande!  

Elogiar   Tecer  comentários  positivos  sobre  resposta  da  criança  a  respeito  do  livro.  Não  considerar  comentários  sobre  comportamento  (muito  bom  que  você  está  sentado  ouvindo  a  história)  

No  exemplo  acima,  a  mãe  diria.  Muito  bem!  É  o  jacaré!  

Nível  de  ajuda  visual  (PEEP)  

PEEP  hierárquico  (ajudas  visuais)  -­‐  Quando  a  criança  não  responde  ou  responde  incorretamente,  a  mãe  deve  utilizar  as  ajudas  visuais.  Primeiramente  são  mostradas  as  3  opções  de  respostas,  com  o  leitor  rotulando  cada  opção.  Se  a  criança  apontar  para  a  opção  incorreta,  a  pergunta  é  formulada  novamente,  sendo  coberta  a  opção  errada  (aquela  apontada  pela  criança)  e  apresentadas  as  outras  duas  opções.  Se  a  criança  erra  pela  segunda  vez,  o  leitor  cobre  as  duas  respostas  incorretas,  aponta  para  a  resposta  correta  e  pede  para  a  criança  repetir.  Categorizar  como:  Nível  1  -­‐  a  criança  responde  corretamente  sem  ajuda  visual;  Nível  2  -­‐  a  mãe  mostra  as  3  imagens  e  a  criança  acerta  na  primeira  tentativa;  Nível  3  -­‐  a  criança  acerta  quando  a  mãe  mostra  as  duas  opções  (isso  significa  que  a  criança  já  tentou  uma  vez  e  errou  e  a  mãe  cobriu  a  resposta  errada  que  a  criança  marcou);  Nível  4  -­‐  a  criança  erra  da  primeira  e  da  segunda  vez  e  a  mãe  mostra  a  resposta  correta.  

ANEXO E

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Exemplo  

Mãe   Criança  

O  que  é  isso  (aponta  para  maçã)?    (pergunta  de  vocabulário)   Sem  resposta  

O  que  é  isso  (aponta  para  maçã)?    Isso  é  uma  maçã,  uma  banana  ou  

uma  melancia  (mostra  a  imagem  de  cada  uma  das  frutas)?    

Criança  aponta  para  a  

figura  da  banana    

Ih...acho  que  não  porque  as  bananas  são  amarelas  e  essa  fruta  é  

vermelha.  Essa  é  uma  melancia  ou  uma  maçã?  (cobre  a  imagem  da  

banana)  

Criança  aponta  para  a  

figura  da  melancia  

Não  sei...essa  fruta  não  é  tão  grande.  Ela  é  uma  maçã.  (aponta  para  a  

figura)  Diga  maçã.  

Criança  aponta  e  diz  

maçã.  

 

No  quadro,  essas  respostas  seriam  categorizadas  da  seguinte  forma:  

Pergunta  elaborada  pela  mãe  

Categoria  de  respostas  da  mãe  

Sem  ajuda  (nível  1)  

Nível  de  ajuda  visual  fornecidos  pela  mãe  3  opções  (nível  2)  

Opção  binária    (nível  3)  

modelar  a  resposta  correta  (nível  4)  

1-­‐  O  que  é  isso  (aponta  para  maçã)?5  

Pergunta  de  vocabulário  

     X  

 

 

COMENTÁRIOS GERAIS

• Decidiu-se não utilizar a estratégia de Distanciamento por achá-la difícil para a criança.

Considera-se uso de atenção compartilhada quando a mãe espera pelo menos 3-4

segundos entre sua intervenção: “olha ai”, e a sua segunda intervenção, seja comentário

ou pergunta.

• Procedera-se do mesmo modo, com todos os vídeos tanto dia 1 como dia 2.

Observar e preencher:

A) Na Criança:

5 Nesse  caso  não  é  preciso  registrar  TODAS  as  verbalizações  da  mãe.  Basta  indicar  que  a  pergunta  foi  feita  uma  vez  e  que  foi  preciso  4  níveis  de  ajuda.    

ANEXO E

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- Frequência de Iniciações Verbais,

- Freqüência de Iniciações Não Verbais,

- Freqüência de Respostas corretas e incorretas

- Nível de hierarquia de ajuda visual que a criança precisou para responder

(PEEP) (previamente adjuntado)

2- CATEGORIAS DA CRIANÇA

Categorias da criança Definição

Respostas Quando a criança responde à uma pergunta da intervencionista

dentro dos 5 segundos de intervalo e a resposta esta em relação

ao livro. As respostas podem ser verbais ou gestuais (ex. apontar

a resposta no livro)

Iniciações verbais Quando a criança realiza um comentário ou pergunta espontânea

sobre o livro sem que esta esteja condicionada, ou seja,

dependente de um comentário realizado pelo adulto.

Iniciações não-verbais Quando a criança realiza uma ação não verbal para mostrar ou

compartilhar (ex.apontar ao livro, tocar ao adulto chamando sua

atenção, representa um evento da estória) informação acerca do

livro. Se a iniciação não verbal é acompanhada de um comentário

(ex. tocando o livro enquanto diz: olha o menino) se conta como

iniciação verbal e não verbal

ANEXO E

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Prezado pai/responsável:

Você está sendo convidado a participar da pesquisa “Compreensão Oral da

Leitura em Crianças com Autismo: uma proposta de intervenção”.

O objetivo geral desse estudo é capacitar um cuidador a implementar

procedimentos de ensino utilizados em um programa de leitura chamado RECALL com

uma criança com autismo. Posteriormente, serão avaliados os efeitos da

implementação do programa na responsividade do cuidador e na compreensão da

criança.

A sua participação na pesquisa é completamente voluntária e poderá se retirar

da mesma a qualquer momento, sem penalização. Sendo assim, sua decisão de não

participar ou se retirar em qualquer momento não trará nenhum prejuízo em sua relação

com a pesquisadora ou com a instituição nem implicação para você. Não haverá gastos

financeiros para os participantes durante o estudo. Caso ocorra, haverá ressarcimento.

A sua participação na pesquisa incluirá: (a) ser videografado contando estórias a

seu filho em sua casa; (b) participar de um programa de capacitação em leitura; (c)

responder, junto à pesquisadora, as escalas: 1- de Letramento Emergente (SAINT

LAURENT; GIASSON; COUTURE, 1998, adaptada por FERNANDES, 2002) e 2-

CARS, SCHOPLER et al, 1980, traduzida e validada por PEREIRA et al., 2008.

Sendo uma pesquisa que lida com seres humanos este estudo pode apresentar

riscos aos participantes. Por exemplo, você pode sentir constrangimento, desgaste

emocional ou ansiedade de ser videografado. Caso você sinta-se afetado esses riscos

poderão ser minimizados interrompendo a filmagem que será retomada só com o seu

consentimento.

ANEXO F

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Por outro lado, como benefícios da participação na pesquisa, você poderá

aprender novas estratégias de leitura visando desenvolver a compreensão leitora, ampliar

a comunicação e vocabulário de seu filho.

Todas as informações recebidas através desta pesquisa serão confidenciais e o

sigilo sobre a sua participação será assegurado. Dessa forma os dados não serão

divulgados de forma a possibilitar sua identificação uma vez que durante a pesquisa você

será identificado por um nome fictício.

Durante a realização do estudo, as imagens serão guardadas em um arquivo de

computador utilizado exclusivamente para registros de dados do projeto. O equipamento,

acessado apenas pela equipe de pesquisa, é mantido na sala da coordenadora do

estudo, localizado na sala I (2o andar) no Centro de Educação (UFRN). Como forma de

preservar a identidade dos participantes, o arquivo contendo as imagens da pesquisa

poderá ser acessado mediante a digitação de uma senha sigilosa de acesso. É

ressaltado, ainda, que essas imagens serão apreciadas, em ambiente reservado, pela

equipe de pesquisa. O arquivo contendo as imagens será apagado ao término do projeto.

Em caso de qualquer dúvida sobre a pesquisa e a participação de seu filho você

poderá a qualquer momento se comunicar com a Orientadora e Coordenadora do

Projeto: Profa. Dra. Débora Regina de Paula Nunes - Tel: (84) 3615-4206 e-mail:

[email protected] e com a Pesquisadora: Elizabeth Walter- Tel: (84) 8853-4101, e-

mail: [email protected]

_____________________________ ____________________________

Profa. Dra. Débora Regina de Paula Nunes Elizabeth Walter - Pesquisadora Orientadora e Coordenadora do Projeto

ANEXO F

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Eu, ___________________________________________________, fui

esclarecido (a) sobre a pesquisa: “Compreensão Oral da Leitura em Crianças com

Autismo: uma proposta de intervenção”. Declaro que entendi os objetivos, riscos e

benefícios da minha participação na pesquisa e concordo em participar. Concordo em

ser videografado durante a pesquisa. Eu fui esclarecido que a participação é voluntária,

que não será remunerada, que não há gastos previstos e caso haja serei ressarcido.

Compreendo que posso cancelar a minha participação a qualquer momento sem

nenhuma implicação para a educação presente ou futura de meu filho. Fui notificado de

que todos os dados coletados serão anônimos e ficarão protegidos.

O pesquisador me informou que o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes – CEP/HUOL, localizado na Av. Nilo

Peçanha, 620 – Petrópolis * CEP 59.012-300 * Natal/RN * Fone: (84) 3342 5003 * E-

mail: [email protected].

O pesquisador responsável e os demais participantes declaram conhecer as

normas que envolvem as pesquisas com seres humanos, em especial a Resolução

CNS no 466/2012 e que a parte referente à coleta de dados somente será iniciada após

a aprovação da pesquisa por parte desse Comitê ou da Comissão Nacional de Ética em

Pesquisa (CONEP).

_________________________________

Pai/Mãe ou representante legal - Local e data

ANEXO F

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APÊNDICES

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APÊNDICE A

ROTEIRO DE PERGUNTAS DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA INICIAL Data Nascimento: ____/ ____/ ____ Diagnostico: (1) Desenvolvimento motor

A. A que idade ele caminhou?,

(2) Desenvolvimento da comunicação e linguagem:

A. Compreensão – Compreende situações? Compreende comandos simples

(por ejemplo, me da o sapato), e/ou complexos sem gestos? (por exemplo:

pegue a camisa azul do quarto que esta la gaveta.)

B. Expressão – Ele balbuciou? Como foi essa balbucia? Quando falou as

primeiras palavras? Como se comunica com vocês? Apresenta ecolalia? Como

faz quando quer conseguir alguma coisa? Apresenta linguagem verbal?

(3) Interação social

A. Vira ao ser chamado (responde ao nome)? Olha nos olhos quando você ou

alguma outra pessoa fala com ele? Gosta de estar com outras pessoas ou

prefere ficar sozinho? (4) Descreva características da alimentação

(5) Descreva aspectos lúdicos (6) Descreva como reage em situações que exigem auto-regulação (determinada

situação onde, por exemplo, é contradito, ou não recebe o que o quer na hora)

(7) Descreva se apresenta dificuldades sensoriais (por exemplo, precisa se mexer,

gosta de movimentos rápidos, ou muito lentos, precisa tocar ou apertar objetos ou ser

balanceado fortemente, gosta só de alimentos muito temperados, morde objetos em

lugar de comida, etc)

(8) Gosta de contação de estórias?

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(9) Por que motivo consultaram o profissional da saúde? Foi esse profissional de

quem seu filho recebeu o diagnóstico de autismo?

(10) Há algo que queira acrescentar ao que a pesquisadora não tenha lhe

perguntado?

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APÊNDICE B

ENTREVISTA PARA VALIDADE SOCIAL

1- Como você e seu esposo sentiram durante a pesquisa?

2- Que coisas vocês aprenderam? De que gostaram e de que não gostaram? (ou seja, q

modificariam e o que deixariam igual?)

3- Terem participado do projeto, trouxe alguma modificação na forma de ler para o seu

filho? Pode dar exemplos, ser especifica?

4- Ter participado do projeto, trouxe alguma modificação no aprendizado ou

comportamento do seu filho? Seja

Especifica- exemplos

5- Qual a sua opinião sobre o programa implementado? Acredita q foi útil? Como? Por

quê?

6- Faria modificações ao programa? Quais? Por quê?

7- Usaria ajudas visuais no dia-dia ao contar estórias ao seu filho?

8- Você se sentiu mais confortável utilizando qual estratégia? Por quê? E a mais difícil?

9- Como você avalia a duração do estudo?

10- Alguma outra coisa que gostaria de acrescentar?