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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS GUSTAVO MORRA BURGER OS EFEITOS NEGATIVOS DO BPA E DOS FTALATOS PARA A SAÚDE HUMANA São Carlos 2019

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

GUSTAVO MORRA BURGER

OS EFEITOS NEGATIVOS DO BPA E DOS FTALATOS PARA A SAÚDE

HUMANA

São Carlos

2019

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GUSTAVO MORRA BURGER

OS EFEITOS NEGATIVOS DO BPA E DOS FTALATOS PARA A SAÚDE

HUMANA

Monografia apresentada ao Curso de

Engenharia de materiais e manufatura, da

Escola de Engenharia de São Carlos da

Universidade de São Paulo, como parte dos

requisitos para obtenção do título de

Engenheiro de Materiais.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Aparecido

Chinelatto

São Carlos

2019

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Morra Burger, Gustavo

M954o Os efeitos negativos do BPA e dos Ftalatos para a

saúde humana / Gustavo Morra Burger; orientador Marcelo

Aparecido Chinelatto. São Carlos, 2019.

Monografia (Graduação em Engenharia de Materiais

e Manufatura) -- Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, 2019.

1. BPA. 2. Ftalatos. 3. Plastificantes. 4. Embalagens de alimentos. 5. Saúde. I. Título.

AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR

QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO

E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Prof. Dr. Sérgio Rodrigues Fontes da EESC/USP com os dados inseridos pelo(a) autor(a).

Eduardo Graziosi Silva - CRB - 8/8907

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GUSTAVO MORRA BURGER

OS EFEITOS NEGATIVOS DO BPA E DOS FTALATOS PARA A SAÚDE

HUMANA

Monografia apresentada ao Curso de

Engenharia de materiais e manufatura, da

Escola de Engenharia de São Carlos da

Universidade de São Paulo, como parte dos

requisitos para obtenção do título de

Engenheiro de Materiais.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Aparecido

Chinelatto

São Carlos

2019

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À minha família, amigos e amigas,

professores e orientadores que apoiaram e

me auxiliaram na conclusão deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, por todo o suporte, paciência, apoio incondicional e incentivo

ao longo de minha graduação. Sem vocês eu provavelmente não teria finalizado.

Ao meu pai, por ser um exemplo de dedicação, perseverança e resiliência,

por me incentivar e apoiar, do início ao fim, em minhas decisões e escolhas, e por

ter me auxiliado desde o início neste trabalho.

À minha mãe, por todo acolhimento nos momentos difíceis, pela sabedoria e

ensinamentos da vida, pela escuta e pelo carinho durante a minha jornada na

universidade.

Ao meu orientador, professor Dr. Marcelo A. Chinelatto, pela oportunidade e

orientação para escrever este trabalho de grande importância para a sociedade.

Ao meu grande amigo, Bráulio Oliveira, por ter sido a primeira pessoa a me

ajudar, orientar e me inspirar com o tema deste trabalho.

Ao meu grande amigo, Renato Stefani, por ter sido um mentor e fonte de

sabedoria ao longo da minha jornada na universidade, além de ter-me

proporcionado a oportunidade trabalhar ao seu lado.

À Empresa Júnior da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC jr.), por ter

me proporcionado os melhores anos e experiências durante minha graduação, por

ter criado grandes amizades e pela oportunidade de aplicar os conhecimentos da

sala de aula em projetos para as empresas de São Carlos e região.

Por fim, agradeço imensamente a todos meus amigos e amigas que, de

alguma forma, me incentivaram, me apoiaram e não me fizeram desistir da

faculdade e dos meus sonhos no meio dessa jornada, em especial, meus grandes

amigos e amigas da Comunidade Prove.

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“Não ore por uma vida fácil, ore pela força

para suportar uma vida difícil”.

(Bruce Lee.)

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RESUMO

BURGER, G.M. Os efeitos negativos do BPA e dos Ftalatos para a saúde humana. 2019. Trabalho de Conclusão de Curso – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2019. A industrialização de alimentos destinados ao consumo humano levou ao desenvolvimento de embalagens que pudessem mantê-los acondicionados por um período de tempo específico. Por conta disso, as embalagens poliméricas passaram a competir no mesmo nível de outros tipos de embalagens, pois eram extremamente convenientes para armazenamento, preparação e consumo de alimentos. Nos últimos anos, os plásticos de embalagens de alimentos ganharam espaço nos mercados outrora dominados pelos vidros e metais e continuaram a crescer com uma taxa média anual em torno de 3% e de consumo da ordem de 7,5 milhões de toneladas. Porém, como bem conhecido atualmente, os aditivos químicos de caráter plastificante, utilizados em recipientes de plástico, poderiam migrar para os alimentos porque não estariam completamente ligados à embalagem e causar sérios riscos e problemas à saúde humana. Duas das categorias de plastificantes mais comuns eram os ésteres de ácido ftálico (ftalatos) e o Bisfenol A (BPA). Os fenômenos de migração e lixiviação de plastificantes como BPA e ftalatos têm sido estudados há várias décadas e ainda há grande confusão sobre os riscos à saúde desses componentes químicos. Portanto, o objetivo deste trabalho foi estudar a relação entre os principais plastificantes constituintes das embalagens plásticas e seus efeitos deletérios na saúde humana, e trazer mais clareza a respeito das normas de segurança, limites de ingestão diária e métodos de análise de migração e lixiviação desses componentes nos alimentos. Por fim, de acordo com o estudo realizado, parece lícito e seguro concluir que, mesmo em dosagens muito baixas, os componentes aqui analisados podem, de fato, migrar das embalagens para os alimentos e provocar efeitos deletérios para a saúde humana, que vão desde infertilidade até diversos tipos de câncer. Palavras-chave: Plastificantes. Embalagens de alimentos. BPA. Ftalatos. Saúde.

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ABSTRACT

BURGER, G.M. The negative effects of BPA and Phthalates on human health. 2019. Trabalho de Conclusão de Curso – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2019. The foodstuffs industrialization for human consumption led to packaging development that could keep them wrapped for a specific period of time. Because of this, polymeric packaging began to compete on the same level as other types of packaging because they were extremely convenient for storage, preparation and consumption of food. In recent years, food packaging plastics have gained ground in markets once dominated by glass and metals and have continued to grow at an average annual rate of around 3% and consumption of around 7.5 million tons. However, as is well known today, plasticizing chemical additives used in plastic containers could migrate to food because they would not be completely attached to the packaging and cause serious risks and problems to human health. Two of the most common plasticizer categories were phthalic acid esters (phthalates) and bisphenol A (BPA). The migration and leaching phenomena of plasticizers such as BPA and phthalates have been studied for several decades and there is still great confusion about the health risks of these chemical components. Therefore, the goal of this work was to study the relationship between the main plasticizers constituents of plastic packaging and their deleterious effects on human health, and to bring more clarity regarding safety standards, daily intake limits and methods of analysis of migration and leaching of these components in food. Finally, according to the study, it seems reasonable and safe to conclude that even at very low dosages the components analyzed here can in fact migrate from packaging to food and cause deleterious effects on human health, ranging from infertility to various types of cancer. Keywords: Plasticizers. Food Packing. BPA. Phtalates. Health.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura química do BBP, DBP, DEHP e DIBP. ..................................... 20

Figura 2 – Esquema dos tipos de plastificantes ........................................................ 21

Figura 3 – Estrutura química do BPA ........................................................................ 27

Figura 4 – Mercado Global de Plastificantes – 2017 ................................................. 23

Figura 5 –Número de documentos publicados por ano sobre a migração de BPA e

ftalatos e seus efeitos prejudiciais à saúde humana. ................................................ 43

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Pesquisa geral das palavras-chave na plataforma Web of Science feita

em 04/02/2019 .......................................................................................................... 38

Tabela 2 – Primeira combinação das palavras-chave na plataforma Web of Science

feita em 04/02/2019 ................................................................................................... 39

Tabela 3 – Segunda combinação das palavras-chave na plataforma Web of Science

feita em 04/02/2019 ................................................................................................... 39

Tabela 4 – Combinação final das palavras-chave na plataforma Web of Science feita

em 04/02/2019 .......................................................................................................... 40

Tabela 5 – Pesquisa geral de palavras-chave na plataforma Scopus feita em

04/04/2019 ................................................................................................................ 41

Tabela 6 - Combinação final das palavras-chave na plataforma Scopus feita em

04/04/2019 ................................................................................................................ 42

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Aps Alguilfenóis

AS Simulador Alimentar

ATBC Acetil-ramibutila

BADGE Éter Diglicerídio de Bisfenol A

BBP Ftalato de Butilbenzila

BPA Bisfenol A

BPB Bisfenol B

BPS Bisfenol S

CEC Comissão das Comunidades Europeias

CEFIC Conselho Industrial da União Europeia

DBP Di-butil ftalato

DCHP Di-ciclohexil ftalato

DEHA Di-etilhexil adipato

DEHP Di-etilhexil ftalato

DEP Di-etil ftalato

DIBP Di-isobutil ftalato

DIDP Di-isododecil ftalato

DINP Di-isonil ftalato

DOA Di-octil adipato

DPP Di-pentil ftalato

ELISA Ensaio Imunosorvente Ligado a Enzima (enzyme-linked

immunosorbent assay)

ERα Receptor de estrogênio α

ERβ Receptor de estrogênio β

ESBO Óleo de soja epoxidado

ESFA Autoridade Europeia de Segurança Alimentar Europeia

GC-MC Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de Massa

(Gas cromatography-mas spectrometry)

HPLC Cromatografia Líquida de Alta Performance (High Performance

Liquid Cromatography)

IC Índice de confiança

IDR Ingestão Diária Recomendada

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IDT Ingestão Diária Tolerável

LEM Limite Específico de Migração

LGM Limite Global de Migração

ME Migração Específica

MG Migração Global

N Nitrogênio

O Oxigênio

PAEs Adipatos, ésteres de ácido ftálico (ou ftalatos)

PC Policarbonato

PE Polietileno

PEAD Polietileno de Alta Densidade

PEBD Polietileno de Baixa Densidade

PP Polipropileno

PS Poliestireno

PTFE Poli(tetrafluoretileno)

PVC Poli(cloreto de vinila)

Si Silício

Tg Temperatura de Transição Vítrea

TID Taxa de Ingestão Diária

UE União Europeia

UV Ultravioleta

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LISTA DE SÍMBOLOS

µg Micrograma

µL Microlitro

µm Micrometro

cm² Centímetro ao quadrado

dm² Decímetro ao quadrado

g Grama

kg Kilo grama

L Litro

mg Miligrama

ml Mililitro

ng Nano grama

ºC Graus Celsius

ph Índice de acidez

v/v Unidade volume/volume

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15

2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 17

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 18

3.1 Definição de polímeros e plastificantes e suas características .................... 18

3.1.1 Polímeros ......................................................................................................... 18

3.1.2 Plastificantes .................................................................................................... 18

3.2 Evolução e histórico dos polímeros e plastificantes ..................................... 21

3.3 Estudos de migração e lixiviação de plastificantes em alimentos e bebidas

.................................................................................................................................. 24

3.3.1 Definições e metodologia ................................................................................. 24

3.3.2 BPA .................................................................................................................. 26

3.3.3 Ftalatos ............................................................................................................. 32

3.4 Regulamentação e normas de segurança. ...................................................... 34

4 METODOLOGIA E RESULTADOS ....................................................................... 37

4.1 Web of Science .................................................................................................. 38

4.2 Scopus ............................................................................................................... 40

5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 44

5.1 BPA ..................................................................................................................... 44

5.2 Ftalatos................................................................................................................ 48

5.3 Problemas relacionados à saúde ........................................................................ 54

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 59

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 60

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1 INTRODUÇÃO

A industrialização de alimentos destinados ao consumo humano levou ao

desenvolvimento de embalagens que pudessem mantê-los acondicionados por um

período de tempo específico e, por isso, foi um campo em rápida evolução. Plástico

é qualquer tipo de polímero orgânico, sintético ou semi-sintético, que possui uma

macromolécula composta por muitas (dezenas de milhares) de unidades de

repetição denominadas meros, ligadas por ligação covalente. Seu nome refere-se à

propriedade de plasticidade, ou seja, a capacidade de deformar sem quebrar.

Dependendo da sua estrutura química, do número de meros e do tipo de ligação

covalente, podemos dividir os polímeros em 3 grandes classes: Plásticos, Borrachas

e Fibras (CALLISTER, 1985; CANEVAROLO, 2002). Dessa forma, a embalagem

plástica era uma das diversas categorias que se enquadravam os polímeros. Nos

últimos anos, os plásticos de embalagens de alimentos ganharam espaço nos

mercados outrora dominados pelos vidros e metais (Rahman e Brazel, 2004) e

continuaram a crescer em popularidade, com uma taxa média anual de crescimento

em torno de 3% e de consumo da ordem de 7,5 milhões de toneladas (CHEMICAL

ECONOMICS HANDBOOK, 2018).

Além de manter alimentos a salvo de contaminação, preservar as

propriedades nutricionais, características sensoriais dos alimentos e, prolongar a

vida útil, as embalagens forneceram recursos que são importantes para os

consumidores. Dessa forma, são considerados extremamente convenientes para

armazenamento, preparação e consumo de alimentos, capacidade de revenda,

evidência de adulteração e exibição de informações do produto, bem como recursos

de reutilização ou reciclagem (BHUNIA et al., 2013).

A escolha dos plastificantes que são incorporados nas embalagens de

alimentos está relacionada a alguns fatores como matriz alimentar, relação entre

quantidade de alimento e volume de embalagem, aspecto econômico como preço,

comercialização do produto e impacto na poluição ambiental. Uma das categorias de

plastificantes mais comuns eram os ésteres de ácido ftálico (ftalatos) e Bisfenol A

(BPA). A embalagem também era usada para armazenar diferentes tipos de

produtos, como legumes, carne, produtos lácteos e, especialmente, o caráter

lipofílico do alimento (Fasano e CIRILLO, 2018).

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Nos últimos 60 anos, mais de 30.000 substâncias diferentes foram avaliadas

por suas propriedades plastificantes, e destes, apenas 50% estavam em uso

comercial após atender aos rigorosos requisitos de desempenho, custo,

disponibilidade, saúde e meio ambiente impostos pelo mercado, usuários e

reguladores (PLASTICISERS INFORMATION CENTER, 2018). A maior produção de

embalagens se concentrou em produtos laminados flexíveis, feitos de diferentes

polímeros com muitas funções (BHUNIA et al., 2013). Os plastificantes são, desde

2017, os aditivos plásticos mais consumidos no mundo. O Bisfenol A e os ésteres de

ácido ftálico - daqui em diante referidos como "ftalatos" – estão entre os mais

prejudiciais (GLOBAL MARKET INSIGHTS, 2019).

Como bem conhecido atualmente, os compostos químicos utilizados em

recipientes de plástico podem migrar para alimentos porque não estão

completamente ligados à embalagem. O termo “migração” refere-se a difusão de

substâncias de uma zona de maior concentração (a camada de contato com

alimentos) a uma de menor concentração (geralmente superfície do alimento). Já a

lixiviação refere-se à remoção de uma substância de um sólido através de um meio

de extração líquido. Ambas dependem de vários fatores, como a quantidade de

composto na embalagem, o tipo de alimento, o tempo de armazenamento e a

temperatura, e a área de contato com alimentos (BARNES et al. 2007), (KHAKSAR

e GHAZI-KHANSARI 2009). Os fenômenos de migração e lixiviação de plastificantes

como BPA e ftalatos têm sido estudados há várias décadas (FRADOS, 1976; TILL et

al., 1982; CASTLE et al. 1996; FREIRE et al., 2006), e ainda hoje é um assunto de

extrema importância (FASANO e CIRILLO, 2018; YANG et al., 2019).

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2. OBJETIVOS

Os objetivos desse trabalho são: (1) estudar a os principais plastificantes

constituintes das embalagens plásticas, BPA e Ftalatos, e (2) investigar seus efeitos

prejudiciais na saúde humana.

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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Definição de polímeros e plastificantes e suas características

3.1.1 Polímeros

Polímeros, para Callister (1985) são compostos orgânicos, quimicamente

baseados em carbono, hidrogênio e outros elementos não metálicos. Além disso,

eles têm estruturas moleculares muito grandes, semelhante a cadeias, que

geralmente têm uma espinha dorsal de átomos de carbono. Incluem os materiais

familiares de plástico e borracha. Incluem os materiais familiares de plástico e

borracha. Alguns dos polímeros comuns e familiares são polietileno (PE), nylon,

poli(cloreto de vinila) (PVC), policarbonato (PC), poliestireno (PS) e borrachas de

silicone. Esses materiais normalmente apresentam baixas densidades, enquanto

suas características mecânicas são geralmente diferentes dos materiais metálicos e

cerâmicos. Eles não são tão rígidos nem fortes como esses outros tipos de

materiais. Além disso, muitos polímeros são extremamente dúcteis e flexíveis; i. é,

plásticos, o que significa que são facilmente moldados em formas complexas. Em

geral, são relativamente inertes quimicamente e não reativos em um grande número

de ambientes. Uma grande desvantagem dos polímeros é sua tendência a amolecer

e/ou decompor-se a temperaturas modestas, o que, em alguns casos, limita seu uso.

A palavra “polímeros” origina-se do grego poli (muitos) e mero (unidade de

repetição), ou seja, um polímero é uma macromolécula composta por milhares de

unidades de repetição denominadas meros, que são ligadas por ligação covalente. A

matéria prima para a produção de um polímero é o monômero, isto é, uma molécula

com uma unidade de repetição. Dependendo do tipo do monômero (estrutura

química), do número médio de meros por cadeia e do tipo de ligação covalente,

pode-se dividir os polímeros em três grandes classes: Plásticos, Borrachas e Fibras.

3.1.2 Plastificantes

Plastificante é um aditivo polimérico de baixa massa molar que aumenta o

espaçamento entre as cadeias de um polímero, tornando esse material mais flexível.

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Em geral, são líquidos com baixa volatilidade ou sólidos, mais comumente ésteres

de ftalato em aplicações de PVC para filmes e cabos, e são classificados como

internos ou externos, primários e secundários. Plastificantes externos não estão

ligados às cadeias poliméricas por ligações primárias e podem, portanto, ser

perdidas por evaporação, migração ou extração. Por outro lado, os plastificantes

internos são inerentemente parte do plástico e permanecem como parte do produto

(Frados, 1976). Além de garantir essa maior flexibilidade e elasticidade, os

plastificantes também auxiliam no processo de redução do fluxo de fusão e redução

do cisalhamento durante as etapas de mistura na produção de polímeros, e

melhoram a resistência ao impacto no produto plástico final (PAGE e LACROIX,

1995).

Segundo Gachter (1990), os plastificantes são geralmente escolhidos com

base nos seguintes critérios: compatibilidade do plastificante com a matriz

polimérica; características de processamento; propriedades térmicas, elétricas e

mecânicas desejadas do produto final; resistência à água, produtos químicos,

radiação solar, sujeira e microorganismos; efeito do plastificante nas propriedades

reológicas do polímero; toxicidade e análise de custo por volume. Os plastificantes

mais utilizados em todo o mundo são os ésteres de ácido ftálico (ftalatos) e adipatos

como, por exemplo, di-etilhexil ftalato (DEHP), di-etilhexil adipato (DEHA) e di-

isododecil ftalato (DIDP). Além disso, os ftalatos, em geral, combinam com a maioria

das propriedades desejáveis de um plastificante como: interação mínima com

resinas em temperatura ambiente; boas propriedades de fusão; isolamento

satisfatório para cabos; produzir compostos altamente elásticos; e relativamente não

volátil em condições ambientais e baixo custo. Além disso, conforme Crompton

(2007), alguns desses plastificantes incluem os ésteres ftálicos, como o DEHP

usado em formulações de PVC, compreendendo cerca de 80% do volume de

plastificante para a produção de PVC. Os plastificantes para PE incluem di-pentil

ftalato (DPP), DEHA, di-octil adipato (DOA), di-etil ftalato (DEP), di-isobutil ftalato

(DIBP) e, di-butil ftalato (DBP). A figura 1 abaixo apresenta alguns exemplos dos

plastificantes citados.

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Figura 1 – Estrutura química do BBP, DBP, DEHP e DIBP.

Fonte: próprio autor

Por fim, Rosen (2012), disse que o principal papel dos plastificantes é

melhorar a flexibilidade e processabilidade dos polímeros, pois, devido a sua baixa

massa molar, formam-se ligações secundárias nas cadeias poliméricas e as

separam. Dessa forma, os plastificantes reduzem a ligação secundária da cadeia

polímero-polímero e proporcionam maior mobilidade entre as macromoléculas, que

resulta em uma massa mais dúctil e facilmente deformável. Além disso, conforme a

figura 2, os plastificantes são categorizados segundo o método de plastificação,

podendo ser internos ou externos, e de acordo com o tipo de função, podendo ser

primários ou secundários. Um polímero pode ser plastificado internamente,

modificando quimicamente o polímero ou monômero, de modo que a flexibilidade

seja aumentada. Envolve a copolimerização dos monômeros do polímero desejado

(com alta Tg) e do plastificante (com baixa Tg), de modo que o plastificante seja

parte integrante da cadeia polimérica. Os monômeros plastificantes internos mais

utilizados são acetato de vinila e cloreto de vinilideno. Os plastificantes externos

mais amplamente utilizados incluem ésteres formados a partir da reação de ácidos

ou anidridos ácidos com álcoois. O plastificante interno melhora o alongamento e

flexibilidade do polímero, são altamente compatíveis com polímeros e podem ser

adicionados em grandes quantidades. Já o plastificante secundário normalmente

não pode ser usado como o único plastificante em um polímero plastificado pois

possui compatibilidade limitada com o polímero e/ou alta volatilidade. São utilizados

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de várias formas para reduzir custo, reduzir viscosidade, melhorar propriedades em

baixas temperaturas e aumentar a lubrificação superficial. Por fim, os extensores são

um subconjunto de plastificantes secundários comumente empregados com

plastificantes primários que reduzem custos em PVC flexível de uso geral

(SpecialChem, 2019).

Figura 2 – Esquema dos tipos de plastificantes

Fonte: próprio autor

3.2 Evolução e histórico dos polímeros e plastificantes

O primeiro polímero (plástico) conhecido feito pelo homem foi fabricado em

1862 por Alexander Parkes em Londres e, nos primeiros dias, os fabricantes de

celuloide ou vernizes de celuloide usavam cânfora natural e óleo de rícino para fins

de plastificação (GACHTER, 1990). Em 1912 descobriu-se o fosfato de trifenila,

posteriormente usado como substituto do óleo de cânfora e que marcou o início da

era dos plastificantes derivados de éster. Em 1920, os ésteres de ácido ftálico, ou

ftalatos, encontraram pela primeira vez aplicações como plastificantes onde o DBP

ganhou uma posição dominante entre plastificantes e o DEHP que foi introduzido em

1930. Também foi nessa década que o enorme sucesso industrial, decorrente da

adição de DEHP ao PVC para aumentar a flexibilidade, levou a uma aplicabilidade

cada vez mais exponencial na fabricação de solventes, adesivos, ceras, tintas,

produtos farmacêuticos, cosméticos, inseticidas e celulose regenerada. Já o DEHA

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foi utilizado como plastificante, em baixos níveis, para produzir filmes de PVC, de

modo que a principal fonte de exposição humana são os alimentos envoltos em filme

de PVC (GACHTER, 1990). Além disso, o Conselho Industrial da União Europeia

reconheceu pela primeira vez, também na década de 1930, que o monômero e o

plastificante Bisfenol A (BPA) possuíam potencial estrogênio sintético, i. e, um grupo

de hormônios esteroides que promoviam o desenvolvimento e a manutenção das

características femininas do corpo. O BPA era um composto orgânico sintético

usado extensivamente na produção de plásticos de policarbonato (PC), resinas

epóxi de revestimento de embalagens alimentícias, recipientes para beber e outros

produtos plásticos, incluindo brinquedos e monômeros dentários, e tinha sido

associado como causador de diversos tipos de problemas de saúde (CEFIC, 1990).

Segundo Lerner (2003), os plastificantes representam cerca de um terço do

mercado global de aditivos plásticos em termos de consumo. Em 1999, a demanda

global por plastificantes havia aumentado para 10,1 bilhões de libras, que valia cerca

de US $ 7 bilhões, enquanto a demanda total de plastificantes na América do Norte

era de 2,2 bilhões de libras. Europa, América do Norte e Japão eram os principais

consumidores de plastificantes e respondiam por 28, 22 e 10% da demanda global,

respectivamente. A taxa global de crescimento da produção de plastificantes,

estimada no início dos anos 2000, era de cerca de 2,8% ao ano.

O desenvolvimento de plastificantes especiais estava relacionado com o uso

extensivo de plásticos em uma ampla gama de aplicações. A legislação alimentar,

saúde e segurança industrial desempenharam um papel importante e, ao longo dos

últimos 50 anos, levaram ao desenvolvimento da vasta gama de plastificantes

atualmente disponíveis. Inicialmente, alguns ésteres de ácido graxo, benzoatos e

hidrocarbonetos clorados estavam disponíveis para atender aos novos requisitos de

segurança. Eles logo foram acompanhados por ésteres de ácido adípico, azelaico e

sebácico. Além disso, à medida que a indústria de plastificantes amadureceu, vários

desafios técnicos foram abordados para melhorar as formulações, resolver

problemas de uso final ou atender novos requisitos. Alguns dos problemas incluíam

a degradação de plastificantes tradicionais devido à sua volatilidade ou

suscetibilidade a raios UV, lixiviação de plastificantes para meios líquidos polares e

não polares, migração de plastificantes para outras substâncias poliméricas e

arredores e suspeitas de efeitos carcinogênicos (RAHMAN e BRAZEL, 2004).

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23

Segundo Fasano et al. (2012) desde 1933, o enorme sucesso industrial,

decorrente da adição de DEHP ao PVC para aumentar sua flexibilidade, leva a uma

aplicabilidade cada vez mais exponencial na fabricação de solventes, adesivos,

ceras, tintas, produtos farmacêuticos, cosméticos, inseticidas e celulose regenerada.

Eles não estão ligados aos plásticos e, portanto, podem migrar ou lixiviar para os

alimentos que estão em contato. O DEHA é utilizado, em baixos níveis, para

produzir filmes de PVC, de modo que a principal fonte de exposição humana são os

alimentos envoltos em filme de PVC que possuem de 8-25 µm de espessura. A

principal fonte de DEHA para exposição humana são alimentos embalados.

O PVC é responsável por 80-90% do consumo global de plastificante. Os

ftalatos são os principais tipos de plastificantes utilizados, pois atendem a uma

ampla gama de requisitos de processamento e desempenho, e representavam 65%

do consumo mundial de plastificantes em 2017, ante aproximadamente 88% em

2005. A previsão é de que os ftalatos representem 60% do consumo mundial em

2022. Os principais ftalatos incluem o DEHP, DINP, DIDP e DPHP. A China é o

maior mercado de plastificantes do mundo, representando quase 42% do consumo

mundial em 2017, e também possui o maior crescimento previsto de consumo entre

2017 e 2022, estimulado pelo aumento do consumo de plastificante em mercadorias

para os mercados doméstico e de exportação, conforme a figura 4. No geral, o

consumo global de plastificantes poderá crescer a uma taxa de cerca de 3% ao ano

nos próximos anos (SPECIALCHEM NEWSLETTER, 2019).

Figura 4 – Mercado Global de Plastificantes – 2017

Fonte: adaptado e traduzido de IHS Markit. Disponível em:

<https://ihsmarkit.com/products/plasticizers-chemical-economics-handbook.html>. Acesso em:

23/10/2019.

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3.3 Estudos de migração e lixiviação de plastificantes em alimentos e bebidas

3.3.1 Definições e metodologia

Castle (1996), diz que o teste de migração de compostos químicos de

embalagens de alimentos em simuladores envolve 2 etapas. A primeira delas é

expor a embalagem de polímero ao(s) simulador(es) e permitir que as substâncias

do material da embalagem migrem para o(s) simulador(es). A segunda etapa é

quantificar a quantidade de migrantes transferidos a um simulador de alimentos em

termos de migração global (MG) ou migração específica (ME), sendo a MG a

quantidade geral de migrantes que foram transferidos para o alimento e ME a

quantidade de um composto específico que migrou do plástico para o alimento. A

MG representa a quantidade total de substâncias não voláteis transferidas do

plástico em contato com alimentos para a comida (UE 10/2011). A Diretiva da UE

10/2011 limitou a MG a 10 mg/dm² em um contato área base ou 60 mg/Kg no

simulador ou alimento (para plásticos).

Já para Ferrara et al. (2001), o processo de migração podia ser dividido em 4

etapas principais: difusão de compostos químicos através dos polímeros, dessorção

das moléculas difusas da superfície do polímero, sorção dos compostos na interface

plástico-alimento e a dessorção dos compostos na comida. O processo de difusão

da massa é, geralmente, regido pela lei de Fick, a qual relaciona variáveis de tempo,

concentração e fluxo de migrantes no polímero e o coeficiente de difusão.

O termo “migração” refere-se à difusão de substâncias de uma zona de maior

concentração (a camada de contato com alimentos) a uma de menor concentração

(geralmente superfície do alimento). Este processo é frequentemente influenciado

pelas interações da embalagem com o alimento e a temperatura do sistema. Além

disso, a difusão de substâncias químicas a partir dos polímeros é muito complexa e

depende de vários parâmetros como, a concentração de substâncias no filme e

alimentos para embalagem, a natureza dos alimentos, temperatura e período de

tempo durante o qual a duração do contato ocorre. Durante o processo de difusão,

esses compostos penetram em outra matriz (como filme ou comida), o que altera

sua concentração na embalagem e na comida. A probabilidade de migração de

monômeros e oligômeros aumenta quando uma embalagem plástica é exposta à

altas temperaturas durante o processamento ou quando o alimento é armazenado

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por longos períodos. O plastificante é adicionado ao material para tornar o polímero

de base flexível durante a formação da embalagem de plástico. Provavelmente, o

uso de poliéster mais importante na embalagem de alimentos foi o tereftalato de

polietileno (PET), pois tinha excelente resistência à tração, resistência química e

baixa densidade. Já lixiviação, por definição, refere-se à remoção de uma substância

de um sólido através de um meio de extração líquido. No decorrer do tempo, os

plastificantes tendem a difundir o gradiente de concentração para a interface entre a

superfície do polímero e o meio externo o que, frequentemente, apresenta riscos à

saúde humana e ao meio ambiente (ARVATOYANNIS e BOSNEA, 2004).

Segundo Grob (2008), para analisar a migração global (MG) do contato do

alimento com a camada plástica, são 4 os simuladores de alimentos mais

comumente usados para simplificar os testes de conformidade regulamentar, desde

que os simuladores sejam quimicamente menos complexos do que os alimentos. Os

simuladores recomendados para testes de migração são: água (Simulador A) para

representar alimentos aquosos (ph>4,5); ácido acético aquoso a 3% (Simulador B)

para representar alimentos aquosos ácidos (ph<4,5); etanol aquoso a 10%

(Simulador C) para simular produtos alimentares alcoólicos, e azeite (Simulador D)

para alimentos gordurosos.

Para Khaksar e Ghazi-Khansari (2009), a migração de compostos químicos

poliméricos das embalagens de alimentos deve ser avaliada para garantir que a

quantidade de componentes migratórios atenda aos padrões de conformidade

estabelecidos pelas agências reguladoras. Essa migração é influenciada por vários

parâmetros como temperatura de contato, duração do contato, área de contato, tipos

de componente do material da embalagem e o tipo de alimento (gorduroso, ácido ou

aquoso). À medida que a temperatura aumenta, a difusão de monômeros,

oligômeros e outros compostos também aumentam, e isso poderia resultar em maior

difusão ou taxas de migração dos materiais da embalagem. Por fim, o coeficiente de

difusão dos componentes do material de embalagem aumenta de 6 a 7 vezes

quando as embalagens são expostas a flutuações extremas de temperatura (por

exemplo, da temperatura do freezer à temperatura de cozimento).

De acordo com Bhunia et al. (2013), a probabilidade de migração de

monômeros e oligômeros aumenta quando um plástico é exposto a altas

temperaturas durante a processamento ou quando o alimento é armazenado por

longos períodos. Essa transferência de compostos químicos de plásticos em

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alimentos tem levantado preocupações sobre os efeitos potencialmente adversos de

produtos alimentícios em saúde. Muito do trabalho inicial nesta área foi conduzido na

década de 1980, quando embalagens de alimentos para micro-ondas foram

desenvolvidos pela primeira vez para aplicações de consumo. Um deles é o PET

que absorve ondas eletromagnéticas tais como radiação de micro-ondas (RM), e

converte esta energia em calor, que é então transferido da embalagem para o

produto alimentar por condução, criando áreas localizadas de alta temperatura na

superfície do produto. Esses novos materiais de embalagem específicos para a RM

facilitaram o desenvolvimento de alimentos como pipoca para micro-ondas e

exigiram testes de segurança sob condições que eram completamente novos para a

indústria de alimentos.

Em sua revisão de literatura, Vilarinho et al. (2019), relacionou as

metodologias analíticas utilizadas para determinar níveis de BPA nos alimentos com

o resultado da migração de BPA da embalagem com os alimentos. As metodologias

mais utilizadas, por métodos cromatográficos, são a cromatografia líquida de alto

desempenho (HPLC) acoplada ao detector de fluorescência (FL) ou espectrometria

de massa (MS), e cromatografia em fase gasosa acoplada à MS (GC-MS). Com

relação aos níveis de migração determinados em diferentes tipos de materiais de

contato com alimentos, verificou-se que, apesar da grande maioria dos estudos

mostrar amostras positivas, nenhum deles excedeu o valor de LME estabelecido

pela União Europeia na época dos estudos.

3.3.2 BPA

O BPA é um composto orgânico sintético cuja fórmula química é (CH)3-2C-

(C6H4OH)2, um sólido incolor solúvel em solventes orgânicos e usado

extensivamente na produção de PVC, resinas epóxi de revestimento de embalagens

alimentícias, recipientes para beber e outros produtos plásticos. Além disso, o

Bisfenol A tem sido associado como causador de diversos tipos de problemas de

saúde (CEFIC, 1990). A figura 3 mostra a estrutura química do BPA.

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Figura 3 – Estrutura química do BPA

Fonte: próprio autor

Mesmo após mais de 70 anos de estudo, os riscos à saúde em relação à

ingestão de BPA ainda são amplamente debatidos pois não são totalmente

compreendidos. Segundo a regulamentação 10/2011/EU da CEC, dois parâmetros

são muito importantes para avaliar a migração de BPA nos alimentos: temperatura e

tempo de contato. A influência da temperatura na liberação de BPA foi

extensivamente comprovada para diversos tipos de recipientes como revestimentos

internos de latas, garradas plásticas, filmes para embalagens de alimentos,

embalagens rígidas para alimentos, brinquedos e mamadeiras. Em um primeiro

momento, independente se os resultados indicaram que a quantidade de BPA

migrada havia ultrapassado o IDT, ou não, todos eles comprovaram que o aumento

da temperatura provocou maior migração de BPA nas embalagens pesquisadas

(TAKAO et al., 2002; KANG et al., 2003; GOODSON, 2004; ARVATOYANNIS e

BOSNEA, 2004; BARNES et al., 2007; KHAKSAR e GHAZI-KHANSARI 2009;

BHUNIA et al., 2013). Por exemplo, os níveis de BPA detectados na água de latas

revestidas não aquecidas foi de 0,06 ng/cm². Porém, após o aquecimento para

100ºC essa concentração aumentou para 32 ng/cm², ou seja, um aumento de 532%

(Takao et al. 2002). Além disso, nos testes que envolveram amostras de água, o

efeito da temperatura na migração de BPA das latam podiam ser mais extensos e

significativos do que o tempo de aquecimento, pois à medida que a temperatura

aumentava, a difusão de monômeros, oligômeros e outros compostos aumentava,

resultando em maior difusão ou taxas de migração dos materiais da embalagem. Por

fim, o coeficiente de difusão dos componentes do material de embalagem

aumentava de 6 a 7 vezes quando as embalagens eram expostas a flutuações

extremas de temperatura, por exemplo, da temperatura do freezer à temperatura de

cozimento (KANG et al., 2003).

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Outro parâmetro considerado extremamente importante na regulamentação

da CEC foi o tempo de contato entre o alimento e a embalagem. A probabilidade de

migração aumenta quando o alimento é armazenado por longos períodos em

embalagens plásticas, pois resulta em maior difusão ou taxas de migração dos

materiais de embalagem. No decorrer do tempo, o BPA tende a difundir o gradiente

de concentração para a interface entre a superfície do polímero e o meio externo o

que, frequentemente, apresenta riscos à saúde humana e ao meio ambiente

(ARVATOYANNIS e BOSNEA, 2004 KHAKSAR e GHAZI-KHANSARI, 2009;

HALDEN, 2010; BHUNIA et al., 2013). Além disso, o tipo de alimento que estava

contido na embalagem, somado ao período de tempo em que o alimento permanecia

acondicionado, tinha influência direta na quantidade BPA migrado. Os alimentos

categorizados como oleosos e gordurosos foram os que apresentaram a maior

migração de BPA nos alimentos devido à sua característica lipofílica. Em outras

palavras, a natureza lipofílica do BPA favorece a migração para alimentos oleosos

ou gordurosos (KANG et al., 2003; CERVANTES e LOSADA, 2003; GOODSON,

2004).

Em relação aos problemas causados pela ingestão de BPA, deve-se levar em

conta questões como gênero, idade, histórico de doenças, os tipos de testes

(agudos, baixas dosagens etc), métodos de avaliação e os níveis considerados

seguros. A primeira referência do BPA ser considerado um potencial disruptor

endócrino, i. e, um grupo de hormônios esteroides imitadores de estrogênio e,

portanto, potencialmente maléficos para a saúde foi na década de 1930 (CEFIC,

1990). Ainda hoje, essa classificação permanece válida e o fato do BPA ser

considerado um imitador de estrogênio levou a pesquisas que relacionaram o BPA

com estudos de câncer de próstata, maturação sexual precoce em homens e

mulheres (RICHTER, 2007), disfunção do hormônio da tireoide (ROPERO, 2008) e,

por fim, problemas de saúde, incluindo obesidade, hiperplasia endometrial, abortos

recorrentes, esterilidade e síndrome do ovário policístico em mulheres, câncer de

mama, níveis alterados de hormônio luteinizante no plasma e diminuição da

testosterona no plasma em homens, aumento do tamanho da próstata, diminuição

da produção e fertilidade de espermatozoides em homens (TAKEUCHI et al., 2004;

(HALDEN, 2010). Os estudos em humanos ainda demonstraram que a maioria das

crianças, bem como homens e mulheres adultos, incluindo mulheres grávidas,

tinham níveis mensuráveis de BPA nos fluidos corporais. As medições de BPA no

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soro materno, soro fetal, sangue do cordão umbilical, líquido amniótico e placenta

indicaram que o feto humano em desenvolvimento poderia estar exposto ao BPA na

faixa de 1-3 ng/ml. No entanto, estudos agudos não refletiam a situação em seres

humanos, onde a exposição crônica era mais provável e de baixo nível e, portanto,

estudos adicionais de exposição crônica de baixo nível ao BPA eram necessários,

tanto em modelos animais quanto em humanos (VANDENBERG et al., 2007). Outros

estudos avaliaram as concentrações de BPA urinário e os resultados foram bastante

similares entre os sexos, mas para algumas variáveis houve diferença significativa.

Por exemplo, a concentração de BPA para pessoas com índice de massa corporal

(IMC) entre 18,5 e 24,9 foi de 3,91 ng/ml em comparação a 6,93 ng/ml com aqueles

categorizados como obesos (IMC > 35). Ainda verificou-se que as maiores

concentrações de BPA estavam associados com aumento da possibilidade de

doença cardiovascular, diabetes e anormalidade enzimática do fígado. (Lang et al.,

2008). Além disso, há uma possível relação entre as concentrações de BPA no

sangue e o risco de aumentar a probabilidade de causar câncer. Para o sexo

feminino, os níveis de BPA no sangue foram ligeiramente maiores do que em

relação ao gênero masculino, 2,99 μg/L e 2,87 μg/L, respectivamente. Para

indivíduos normais, não houve relação entre os níveis de BPA no sangue e aumento

de idade. Já para os indivíduos que tinham histórico de câncer, consumiam

alimentos embalados e bebiam água engarrafada apresentavam maior risco de

doença. (TASKEEN et al., 2012).

Em dezembro de 2004 havia 115 estudos publicados sobre efeitos de baixas

doses de BPA, e 94 desses relataram efeitos significativos. Em 31 publicações com

animais vertebrados e invertebrados, ocorreram efeitos significativos abaixo da dose

“segura” ou da referência prevista de 50 μg / kg / dia de BPA. Um modo estrogênio

de ação do BPA foi confirmado por experimentos in vitro, que descreveram a

interrupção da função celular. No entanto, os fabricantes de produtos químicos

continuaram mascarando essas descobertas publicadas porque nenhum estudo

financiado pelo setor relatou efeitos significativos de doses baixas de BPA, embora

mais de 90% dos estudos financiados pelo governo relataram efeitos significativos.

Foram reportados, mesmo em baixas dosagens de BPA, taxa de crescimento e

maturação sexual, níveis hormonais no sangue, função dos órgãos reprodutivos,

fertilidade, função imune, atividade enzimática e estrutura cerebral alterados. Por

fim, ainda possuíam o potencial de interromper a ação do hormônio tireoidiano,

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aumentar a proliferação de células humanas de câncer de próstata e bloquear a

síntese de testosterona. (VOM SAAL & HUGHES, 2005). O mais preocupante é que,

mesmo o BPA tendo sido considerado um estrogênio ambiental muito fraco, por

conta da sua baixa afinidade aos receptores de estrogênio (RE), ele foi detectado

em quase todos os indivíduos em nações desenvolvidas e isso implicou que os

seres humanos eram expostos continuamente ao BPA. Havia dois problemas

potenciais: (1) a ingestão de BPA poderia ser muito maior do que foi sugerido em

outros estudos e/ou (2) a ingestão diária prolongada levaria à bioacumulação de

BPA, aumentando níveis estacionários que não foram representados por qualquer

um dos modelos de metabolismo do BPA baseado na administração única e aguda.

Esses fatos revelaram que os mecanismos moleculares do BPA apresentaram uma

variedade de vias através das quais o BPA poderia estimular respostas celulares

mesmo em concentrações muito baixas. (WELSHONS, NAGEL e VOM SAAL, 2006).

Ainda sobre os efeitos das baixas dosagens de BPA, foi alcançado um consenso a

respeito do nível de confiança de que determinados resultados ocorreram em

resposta à baixa dose de exposição ao BPA. Em animais foram evidenciados

problemas como câncer de próstata e de mama, indução de proteínas no útero,

organização de circuitos sexualmente dimórficos no hipotálamo, puberdade precoce,

malformação genital e outros. Em humanos, foi considerado provável, mas exigindo

confirmação adicional, que a exposição do adulto ao BPA afetou o trato reprodutivo

masculino e feminino, o cérebro, o sistema reprodutor masculino e feminino, o

sistema imunológico e os processos metabólicos. (RICHTER et al., 2007).

Por fim, doses ambientalmente relevantes de BPA tinham efeitos profundos

no pâncreas de camundongos - um tecido essencial envolvido no metabolismo da

glicose. In vivo, uma única injeção de 10 mg/kg de BPA aumentou rapidamente a

insulina plasmática e diminui concomitantemente a glicemia. Quando os

camundongos foram tratados com BPA 100lg / kg / dia por 4 dias, o estrogênio

produziu um aumento no conteúdo de insulina, juntamente com uma

hiperinsulinemia e resistência à insulina. Os resultados analisados demonstraram

que, mesmo em doses bem abaixo do nível considerado seguro pela US-EPA,

efeitos adversos interromperam a função das células pancreáticas produzindo

resistência à insulina em camundongos machos. Portanto, essa homeostase

alterada da glicose no sangue, por conta da exposição ao BPA, poderia aumentar o

risco de desenvolver diabetes tipo II e causar disfunção hormonal na tireóide.

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(Ropero et al., 2008). Já em relação à bioacumulação de BPA no corpo humano,

foram encontradas relações negativas entre dosagens nanomolares e possíveis

aumentos na incidência de vários tipos de câncer. Essas concentrações

nanomolares de BPA aumentaram significativamente a proliferação, migração e

invasão de células malignas de neuroblastoma. Ao comparar esses resultados com

o da literatura disponível, foi verificado ainda que o BPA poderia aumentar a

motilidade celular in vitro de vários tipos de câncer, incluindo ovário, cólon, próstata

e pulmão. Ou seja, o BPA no corpo humano poderia ter o potencial de promover a

progressão do neuroblastoma através do crescimento e metástase das células

cancerígenas. (XIONG et al., 2017). Em relação ao efeito genotóxico, direto ou

indireto, do BPA nas vias de sinalização celular relacionadas ao câncer houve um

risco aumentado de carcinogênese, bem como a proliferação descontrolada de

células mamárias, de próstata e mutações nas células ovarianas. Vários sistemas in

vitro mostraram que os efeitos do BPA em ratos, mesmo em baixas dosagens,

reduziram a capacidade das células de responder a novos estímulos genotóxicos,

inibindo a expressão de genes envolvidos no reparo do DNA. Esse

comprometimento das células expostas ao BPA as tornou mais suscetíveis à morte

celular e acúmulo de danos ao DNA. Além disso, vários fatores podiam fazer com

que as células cancerígenas escapassem dos efeitos dos medicamentos anticâncer,

levando à resistência aos medicamentos. Ou seja, mesmo em doses baixas,

inclusive como concentrações nano-molares, o BPA podia causar respostas

tumorogênicas nos tecidos e, nos estágios mais avançados do câncer, essas células

poderiam se tornar resistentes às drogas anticâncer (NOMIRI et al., 2019).

De acordo com Lau e Wong (2000), a estrutura macromolecular da

embalagem plástica é formada pela reação química de monômeros. Tanto

monômeros como oligômeros tendem a migrar dos materiais das embalagens para

os alimentos. Quando a quantidade de monômeros e oligômeros não reagentes

atinge o limite especificado pela União Europeia/2011, podem surgir sérios riscos à

saúde humana. Além disso, as resinas epóxi de BPA, também conhecidas como

Éter Diglicerídio de Bisfenol A (BADGE), possuem efeitos citotóxicos em tecidos

vivos, e mostraram aumentar a taxa de divisão celular. A concentração fracionária

destes grupos epóxi não reagidos é o que determina o grau de toxicidade dos

compostos. O BADGE é o principal componente de resinas epóxi para revestimentos

internos de latas e o BPA não reagido no revestimento dessas latas, ou outros

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recipientes, pode migrar para os alimentos durante o aquecimento e

armazenamento.

3.3.3 Ftalatos

Da mesma forma em que há incompreensão dos riscos à saúde a respeito à

ingestão de BPA em relação a tempo de armazenamento, a influência da

temperatura na migração e outros, também há para os Ftalatos. Além de ser uma

categoria de plastificantes com uma numerosa quantidade de compostos, alguns

tipos de ftalatos migram mais do que outros e trazem diferentes riscos à saúde

humana. Durante os últimos 30 anos, numerosos estudos foram publicados a

respeito da presença de compostos de ftalato em alimentos devido à migração da

embalagem e efeitos prejudiciais para a saúde humana. Além disso, o alimento era a

principal fonte de exposição de vários ftalatos em humanos. Embora em humanos os

ftalatos sejam rapidamente metabolizados e excretados na urina e fezes, eles foram

detectados no soro, fluidos amnióticos e leite materno. Além disso, o DBP, BBP e

DEHP foram introduzidos na lista de compostos suspeitos de ter propriedades

disruptoras endócrinas. (FASANO et al., 2012).

Igualmente como para o BPA, os diferentes tipos de alimentos apresentaram

diferentes níveis de migração para os alimentos, em especial os alimentos

gordurosos devido a sua característica lipofílica (GOULAS et al., 2000; TSUMURA et

al., 2001; FANKHAUSER-NOTI e GROB, 2006; BONINI et al., 2008; XU et al., 2010;

FASANO et al., 2012; FIERENS et al., 2012 e YANG et al., 2019). Por exemplo, foi

investigada a migração de DEHA em queijos com diferentes teores de gordura (19%

a 30%) envolvidos em filmes de PVC alimentar plastificado com 28,3% de DEHA. Os

níveis de DEHA aumentaram com o aumento do tempo de contato para todos os

queijos, e os níveis mais altos de DEHA foram encontrados nos queijos com maior

teor de gordura, com 345,4 mg/kg; 222,5 mg/kg e 133,9 mg/kg respectivamente,

depois de armazenados a 5°C por 10 dias. (GOULAS et al., 2000). Da mesma

forma, ao analisar a presença de 8 compostos de ftalatos (DMP, DEP, BBP, DBP,

DEHP, DINP, DOP e DIDP) para óleo de cozinha e água mineral sob diferentes

condições de armazenamento, o teor de ftalatos foi sempre maior no óleo de

cozinha do que na água mineral. O DBP e o DINP apresentaram a maior migração

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para a água mineral, enquanto que o DEHP e o DBP exibiram o mais alto nível de

migração para o óleo de cozinha a 20ºC após 2 meses. A migração de ftalatos em

geral, no óleo de cozinha foi maior do que na água mineral (XU et al., 2010). Além

disso, foi verificado que o aumento da temperatura influencia a migração de ftalatos

nos alimentos (GOULAS et al., 2000; YANG et al., 2019). No que diz respeito ao

tempo de armazenamento e aumento da migração, houve discordância entre

estudos. Um deles investigou a presença de DEHA, DBP e ATBC em filmes de

embalagens. A migração do DEHA atingiu valores muito altos em caso de contato

com alimentos mais lipofílicos, mas que foi de grande importância verificar que as

quantidades migradas não dependiam do tempo de contato, e que os alimentos

embalados por muito tempo não representam risco, para os consumidores, de um

aumento da ingestão de plastificantes (BONINI et al., 2008). Porém, outros estudos

que também investigaram a migração desses ftalatos para longos períodos de

tempo comprovaram riscos à saúde como reduções de fertilidade, com contagens

reduzidas de espermatozoides e malformações do trato reprodutivo ao atingir a

idade adulta. Além disso, bebês e crianças são mais propensos a serem afetados

pelos ftalatos do que pelos idosos, e as mulheres são mais sensíveis aos ftalatos do

que os homens (FOSTER et al., 2000; FANKHAUSER-NOTI e GROB, 2006; YANG

et al., 2019).

O DEHP é o ftalato mais pesquisado e que apresenta os maiores níveis de

migração, e também, os mais variados riscos e problemas à saúde humana,

podendo ser, provavelmente, cancerígeno para os seres humanos (Li et al., 2018).

Em embalagens de alimentos feitas de PE e livres PE, as amostras da concentração

de DEHP foi a mais alta, sendo 0,80-11,8 mg/kg nas embalagens de PE e 0,012-

0,30 mg/kg nas livres de PE. A concentração de DEHP em 5 amostras embaladas

em poliestireno ultrapassou o valor da ingestão diária tolerável da União Européia,

que era de 1,85 mg para uma pessoa de 50kg de peso corporal. Além disso, houve

diferença da concentração de DEHP em relação à forma preparo dos alimentos e,

aparentemente, foram a causa da maior concentração de DEHP (TSUMURA et al.,

2001). Alguns dos efeitos adversos à saúde são redução de fertilidade e

malformação do sistema reprodutor (Foster et al., 2000), danos na integridade do

DNA no esperma humano (DUTY et al., 2003), abortos espontâneos (LATINI et al.,

2004), e síndrome da disgenia testicular (anormalidades genitais masculinas),

malformação do sistema reprodutor masculino e feminização permanente,

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34

evidenciada pelo crescimento de mamilos e períneo (HALDEN, 2010). No maior

estudo para analisar a migração de ftalatos em alimentos, foram avaliados mais de

400 tipos de produtos alimentares e materiais de embalagem. Os componentes

analisados incluíram DMP, DEP, DIBP, DNBP, BBP, DEHP, DCHP e DNOP. Todos

os compostos de ftalatos foram testados em 3 matrizes de amostras, sendo elas:

altamente gorduroso, baixa gordura e aquoso. O DEHP foi o composto mais

detectado (81% das 400 amostras), seguido por DIBP (75%), DNBP (69%) e BBP

(58%). (FIERENS et al., 2012).

3.4 Regulamentação e normas de segurança.

A Comissão das Comunidades Europeias, CEC, (1999), publicou a decisão

da comissão legislativa da União Europeia (1999/815/EC) a respeito da adoção de

medidas para proibir o uso de plastificantes de PVC em brinquedos de crianças que

continham um ou mais dos ftalatos DINP, DEHP, DBP, DIDP e BBP. Segundo a

diretiva, países como Dinamarca, Espanha, Grécia, França, Itália, Alemanha,

Áustria, Finlândia e Suécia, reportaram o risco à saúde causado por esses

plastificantes utilizados em brinquedos infantis. O Comitê Científico de Toxicidade,

Ecotoxicidade e Meio Ambiente (SCTEE) confirmou que, com base nos estudos

mais relevantes, os limites mínimos de segurança eram preocupantes e havia risco

de exposição em crianças que entravam em contato com esses brinquedos. O

comitê ainda concluiu que o DINP causava efeitos adversos nos rins e fígado, e o

DEHP causava danos aos testículos dos homens.

A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar Europeia, EFSA, (2004),

emitiu um relatório a respeito da sua avaliação de estudos de migração de óleo de

soja epoxidado (ESBO) em contato com materiais de embalagem de alimentos para

crianças. A avaliação foi realizada no contexto dos usos do ESBO em embalagens

de alimentos, com ênfase na avaliação da migração para alimentos para bebês que

pudessem resultar em ingestões de ESBO próximas ou excedendo a Ingestão Diária

Tolerável (IDT) de 1 mg / kg massa corporal. O IDT de 1 mg / kg de massa corporal

baseava-se em um nível sem efeito de 140 mg / kg de massa corporal / dia para

alterações de massa de órgãos observadas em um estudo de 2 anos em ratos. A

exposição estimada de crianças de 6 a 12 meses à ESBO, migrando para alimentos

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35

embalados em frascos de vidro e garrafas com tampas de metal seladas com PVC,

podia exceder o IDT em até 4 a 5 vezes. A conclusão final foi de que o IDT de 1 mg /

kg de massa corporal permanecia válido, de acordo com os resultados negativos

obtidos nos estudos analisados.

Para garantir a saúde humana, a União Europeia, na regulamentação 10/11,

estabeleceu limites e regulamentos para muitos compostos usados em embalagens,

especificando testes de migração usando simuladores de alimentos para determinar

sua provável migração para os alimentos. A UE fixou Limites Específicos de

Migração (LEM) para contaminantes isolados ou grupo de contaminantes no

Regulamento 10/2011. Estes valores eram em particular 0,3 mg/kg de simulador

alimentar (SA) para DBP, 30 mg/Kg para BBP, 1,5 mg/Kg 1 para DEHP e 18 mg/Kg

para DEHA. Para compostos para os quais não havia LEM, era aplicado um valor de

restrição de 60 mg/Kg de produto alimentar. Para folhas e filmes em contato com

menos de 500 mL ou mais de 10 litros, e para materiais os quais não era possível

estimar a relação entre a área de superfície desses materiais e a quantidade de

alimentos em contato, o LEM era expresso em mg/Kg, aplicando uma relação de

superfície para volume de 6 dm² por Kg de alimento. Em geral, com componentes

químicos das embalagens plásticas não deveriam ser liberadas para os simuladores

de alimentos em mais de 10 mg de todos os compostos em um dm2 de superfície de

contato entre alimentos e embalagens (Limite Global de Migração ou LGM). Por fim,

as Diretivas da UE 82/711/EEC e 85/572/EEC descreveram o teste de migração e

especificaram o uso de simuladores de alimentos dependendo do tipo de alimento.

Em relação aos materiais de contato com alimentos, quatro simuladores líquidos

eram descritos: água destilada para alimentos aquosos com pH acima de 4,5; ácido

acético a 3% em água destilada para alimentos aquosos ácidos com pH abaixo de

4,5; etanol a 15% para alimentos alcoólicos e óleo para alimentos gordurosos

(FASANO, 2012).

No seu estudo de caso sobre a migração de BPA, Taskeen (2012), observou

que as normas da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos da América

possuíam o mesmo nível considerado seguro que o da Autoridade Europeia de

Segurança Alimentar (EFSA). No caso, o limite máximo aceitável, ou dose de

referência, para o BPA era de 0,05 mg / kg massa corporal / dia (isso é igual a 50 μg

/ kg corporal / dia).

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36

De acordo com Fasano e Cirillo (2018), a fim de preservar a saúde humana, a

União Européia emitiu algumas diretrizes e estabeleceu como realizar testes sobre a

migração desses plastificantes. Foi definido que a temperatura e o tempo de contato

eram os parâmetros mais importantes para a migração de contaminantes para os

alimentos. Além disso, no Regulamento 10/2011/EU, a segurança das embalagens

de plástico foi garantida por testes de migração específicos que substituíram a

Directiva 2002/72. Considerando materiais em contato com alimentos como

materiais plásticos, novos simuladores foram indicados como etanol 10% (v/v)

(simulante A), ácido acético 3% (v/v) (simulador B), etanol 20% (v/v) (simulador C),

etanol 50% (v/v) (simulador D1), óleo vegetal (simulador D2) e óxido poli (2,6-difenil-

p-fenileno) (simulante E). Em particular, os simuladores A, B e C eram usados para

alimentos hidrofílicos, enquanto os simuladores alimentares D1 e D2 eram usados

para alimentos que tinham um carácter lipofílico e o simulador E era atribuído para

testar embalagens que estavam em contato com alimentos secos. Por fim, em 2015,

a EFSA, considerando dados sobre a exposição ao BPA e, consequentemente, o

risco humano, estabeleceu uma nova Taxa de Ingestão Diária (TID) de 4 μg/kg de

peso corporal por dia.

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37

4 METODOLOGIA E RESULTADOS

O trabalho foi desenvolvido pela pesquisa de artigos científicos nas bases de

dados do Portal de Periódicos da CAPES: Web of Science (coleção principal) e

Scopus (Elsevier). A escolha de duas plataformas diferentes se justificou com base

em dois aspectos:

1. não depender de apenas uma referência, ou seja, avaliar a variedade e

possibilidade de explorar os resultados;

2. avaliar o potencial das ferramentas de análises dos resultados de cada

plataforma;

Em ambas as plataformas, as datas selecionadas para a pesquisa de artigos

foram os anos de suas respectivas coberturas para que fosse possível observar a

evolução da publicação de artigos relacionados ao tema desse trabalho afim de

mostrar a importância do mesmo. Dessa forma, pode-se selecionar artigos de mais

de 50 anos até os dias atuais.

O início da pesquisa dividiu-se em duas etapas, sendo elas:

1. pesquisa geral de palavras-chave relacionadas ao tema central e explicadas

adiante;

2. combinação das palavras-chave e seus sinônimos, seguida da avaliação pela

leitura de títulos e resumos, para a posterior avaliação dos dados, seleção de

documentos para a leitura dos textos completos, e do desenvolvimento do

trabalho;

Primeiramente foi realizada uma pesquisa geral de palavras-chave para

verificar a quantidade de artigos que seriam retornados por cada busca. Essas

palavras-chave encontram-se na tabela 1. Posteriormente, foi utilizada a

combinação dessas palavras-chave, pelo próprio mecanismo de refinamento das

plataformas de pesquisa, para avaliar a qualidade de uma busca final mais refinada

e a quantidade de referências que seriam estudadas. Essa etapa foi importante para

filtrar artigos que estivessem mais próximos do assunto deste trabalho que envolve

migração ou lixiviação de BPA e ftalatos em embalagens plásticas e os problemas à

saúde relacionados a eles.

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38

Além disso, um recurso interessante de ambas as plataformas escolhidas foi

a utilização, no campo de pesquisas de títulos, palavras-chave e resumo de artigos,

do caractere asterisco (*) no final do termo escolhido. Isso significou, para as

plataformas de pesquisa, que seriam pesquisadas todas as palavras que

possuíssem um prefixo definido de letras. Por exemplo, ao pesquisar a palavra

pack*, o sistema iria buscar e apresentar como resultado todas as palavras que

contenham o prefixo pack, como em: package, packing, packet e assim por diante.

4.1 Web of Science

A tabela 1 abaixo demonstra, primeiramente, a linha de raciocínio utilizada

para a seleção das palavras-chave na plataforma e, consequentemente, a

quantidade de artigos publicados. Todos os artigos selecionados estavam escritos

em inglês.

Tabela 1 – Pesquisa geral das palavras-chave na plataforma Web of Science feita

em 04/02/2019

Palavra-chave Número de artigos

Plastic* 492,771

Components* 1,250,024

Health* 2,703,165

Food* 779,348

Pack* 559,644

Cancer* 2,257,192

Bisphenol A 25,082

BPA 13,309

Food packing 6,346

Plasticizers 6,890

Human Health 395,691

Poly* 4,321,461

Phthalate* 19,000

Fonte: próprio autor (2019)

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39

Em seguida, foram testadas combinações dessas palavras-chave conforme

as tabelas 2 e 3 abaixo.

Tabela 2 – Primeira combinação das palavras-chave na plataforma Web of Science

feita em 04/02/2019

Combinação 1 Número de artigos

Plastic AND Cancer 9,863

Plastic AND Components 22,997

Plastic AND Health 8,514

Plastic AND Food 12,151

Plastic AND Pack* 14,658

Fonte: próprio autor (2019)

Tabela 3 – Segunda combinação das palavras-chave na plataforma Web of Science

feita em 04/02/2019

Combinação 2 Número de artigos

Plastic AND Plasticizer AND Cancer 348

plastic AND plasticizer AND Health 385

plastic AND food + cancer 223

plastic AND pack AND cancer 77

plastic AND pack AND food 2592

plastic AND pack AND Bisphenol A 381

plastic AND BPA AND food packing 12

Poly* AND Plastic AND pack 84,644

Fonte: próprio autor (2019)

Por fim, uma busca mais rebuscada das palavras-chave resultou na última

combinação das mesmas para a seleção dos artigos.

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40

Tabela 4 – Combinação final das palavras-chave na plataforma Web of Science feita

em 04/02/2019

Combinação 3 Número de

artigos

Plastic + components + cancer + food 14

plastic + components + health + food 52

plastic + pack + cancer + components 4

plastic + pack + food + cancer 24

plastic + pack + health + cancer 10

plastic + BPA + cancer + food + pack* 132

food + BPA + pack + human health 41

Poly* + plastic* + pack* + food + health* + BPA* + PHTHALATE* 9

Fonte: próprio autor (2019)

A soma total de artigos da terceira combinação de palavras-chave (tabela 4)

foi de 286 artigos. A partir daí, foi feito mais um filtro nos resultados desses artigos

com a palavra-chave “migration”. Esta etapa retornou um número de 135 artigos e,

em seguida, foi feita uma leitura dos títulos e do resumo dos artigos que mais tinham

relação com o tema e as palavras-chave do trabalho. A seleção final dos artigos foi

feita considerando os títulos mais citados e com maior número de palavras-chave

referente à pesquisa inicial. Além disso, foi feita a leitura dos resumos para garantir

alinhamento com o tema central e foram selecionados 29 artigos desta plataforma.

Em um segundo momento, pela própria ferramenta de análise de resultados

do Web of Science, foi possível realizar uma pesquisa ainda mais aprofundada. Os

anos de publicação selecionados foram desde 1900 até 2019 e não houve filtro para

universidades, organizações, instituições, países ou autores que publicaram esses

artigos.

4.2 Scopus

Em seguida, o mesmo procedimento foi aplicado para a pesquisa de palavras-

chave utilizando a plataforma Scopus, isto é, foram feitas buscas individuais das

palavras-chave e, posteriormente, as combinações para obter o número de

resultados de artigos referente aos temas de interesse. A quantidade de artigos

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variou (o que era de se esperar) e possibilitou uma ampla variedade de documentos

para serem escolhidos. A tabela 5 mostra os resultados para a pesquisa geral de

palavras-chave.

Tabela 5 – Pesquisa geral de palavras-chave na plataforma Scopus feita em

04/04/2019

Palavra-chave Número de artigos

Plastic* 963,186

Components* 2,104,177

Health* 5,381,833

Food* 1,337,363

Pack* 919,980

Cancer* 2,996,539

Bisphenol A 29,247

BPA 13,452

Food packing 3,150

Phthalate* 21,911

Fonte: próprio autor (2019)

No geral, a plataforma Scopus forneceu mais resultados do que a Web of

Science. A tabela 6 mostra a escolha das palavras-chave final, assim como na

plataforma anterior.

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42

Tabela 6 - Combinação final das palavras-chave na plataforma Scopus feita em

04/04/2019

Combinação 3 Número de artigos

plastic + components + cancer + food 27

plastic + components + health + food 131

plastic + pack + cancer + components 5

plastic + pack + food + cancer 52

plastic + pack + health + cancer 41

plastic + BPA + cancer + food + pack* 22

food + BPA + pack + human health 98

poly* + plastic* + pack* + food + health* 1244

poly* + plastic* + pack* + food + health* + BPA* +

phthalate*

8

Fonte: próprio autor (2019)

O mesmo raciocínio utilizado na pesquisa da plataforma Web of Science foi

seguido para a plataforma Scopus. A soma total de artigos da terceira combinação

de palavras-chave (tabela 6) foi de 1628 artigos. Esta etapa retornou um número de

138 artigos e, em seguida, foi feita uma leitura dos títulos e do resumo dos artigos

que mais tinham relação com o tema e as palavras-chave do trabalho. A seleção

final dos artigos foi feita considerando os títulos mais citados e com maior número de

palavras-chave referente à pesquisa inicial. Além disso, foi feita a leitura dos

resumos para garantir alinhamento com o tema central e foram selecionados 29

artigos desta plataforma.

Em um segundo momento, pela própria ferramenta de análise de resultados

do Scopus, foi possível realizar uma pesquisa ainda mais aprofundada. Os anos de

publicação selecionados foram desde 1900 até 2019 e não houve filtro para

universidades, organizações, instituições, países ou autores que publicaram esses

artigos.O número total de artigos escolhidos e revisados para a elaboração deste

trabalho foi de 58.

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Na busca avançada por datas, foi possível observar que o número de

pesquisas sobre a migração de BPA e ftalatos e seus efeitos adversos à saúde vem

aumentando muito nos últimos 20 anos, conforme a figura 5 abaixo.

Figura 5 – Número de documentos publicados por ano sobre a migração de BPA e

ftalatos e seus efeitos prejudiciais à saúde humana.

Fonte: Plataforma de pesquisa Scopus (2019)

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44

5 DISCUSSÃO

5.1. BPA

Takao et al. (2002), também encontraram influência da temperatura na

liberação de BPA em latas revestidas. Em seu estudo, foram selecionadas 9 latas de

comidas diferentes, preenchidas com água, e aquecidas por 30 minutos nas

temperaturas de 80 ºC e 100 ºC para elucidar as tendências associadas à lixiviação

do BPA dos revestimentos internos. Baixos níveis de BPA foram detectados na água

de todas as latas não aquecidas (0,06 ng/cm²), porém, após o aquecimento para 100

graus Celsius essa concentração aumentou para 32 ng/cm². Quando as latas foram

aquecidas até 80 graus Celsius, a concentração de BPA foi reduzida em dois-terços.

Além disso, as latas que registraram as maiores concentrações de BPA na água

após o aquecimento apresentaram componentes (tampa, fundo ou corpo) com alto

conteúdo disponível de BPA.

Kang et al. (2003), conduziu um estudo bastante abrangente e descobriu que

a temperatura de aquecimento teve um efeito significativo na migração de BPA para

os alimentos. Também verificaram que as soluções de óleo vegetal e cloreto de

sódio aumentavam significativamente a lixiviação de BPA. As latas que continham 5

a 20% de uma solução de glicose, 1 a 10% de solução de cloreto de sódio e óleos

vegetais foram aquecidos até 121 graus Celsius por 30 minutos. Amostras de água

foram aquecidas até 105 graus Celsius por 30 minutos. No teste que envolveu

amostras de água, verificou-se que o efeito da temperatura na migração de BPA das

latas podia ser mais extenso do que o tempo de aquecimento. Quando as latas

foram aquecidas a 121ºC, a presença de 1 a 10% de cloreto de sódio ou óleos

vegetais aumentou muito a migração de BPA. Além disso, a presença de 5 a 20% de

glicose em latas aquecidas a 121ºC resultou em maior migração de BPA em relação

à dos controles de água.

Cervantes e Losada (2003) examinaram a migração de BPA, um aditivo

usado em produtos feitos de PVC, em filmes para embalagens de alimentos. Os

componentes principais foram identificados por Espectrometria Infravermelha por

Transformada de Fourier (FTIR) e a migração observada nos materiais foi realizada

através da Cromatografia Líquida de Alta Performance (HPLC), utilizando detecção

por fluorescência e ultravioleta. Os dois métodos de detecção por HPLC

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apresentaram limites de detecção diferentes (30 mg/L para ultravioleta e 3 mg/L para

fluorescência), mas proporcionaram determinações de BPA praticamente idênticas

para as amostras testadas. O conteúdo de BPA variando de 40 a 100 mg/kg foi

encontrado em três dos cinco filmes baseados em PVC analisados, e um conteúdo

de 500 mg/kg foi encontrado em um quarto. Para essas determinações, foi utilizada

extração em acetonitrila. Os testes padrão de migração foram realizados para água,

ácido acético (3%) e azeite, durante 10 dias a 40ºC. Em todos os casos, a maior

migração ocorreu para o azeite. A migração dos filmes com conteúdo de BPA

diferente de zero variou de 3 a 31 mg/dm², valores maiores que os relatados para

muitos outros materiais de contato com alimentos, mas menor que o limite de

migração específico da União Europeia para o BPA. No entanto, o filme estirável de

PVC poderia contribuir significativamente para a contaminação de alimentos pelo

BPA e deveria ser levado em consideração na estimativa da ingestão ou exposição

de BPA a essa substância.

Goodson (2004), conduziu um estudo para examinar a influência das

condições de armazenamento e diminuir a migração de BPA para 4 alimentos

diferentes: carne moída em molho (20% gordura), leite evaporado (8% gordura),

cenoura em salmoura (0% gordura) e sopa de legumes (0,3% de gordura). Além

disso, foi utilizado um simulador de alimentos a 10% de etanol. As latas cheias foram

processadas a 121ºC por 90 minutos antes do armazenamento. Posteriormente, as

latas foram armazenadas a 5ºC e 20ºC para representar condições ambientais de

armazenamento e refrigeração por até 9 meses. Além disso, um teste acelerado

com as latas foi realizado para simular 3 anos de armazenamento a 40ºC de 10 dias

a 3 meses. A quantidade de BPA migrado do revestimento da lata para o alimento

durante o processamento (90 minutos a 121ºC) foi considerada muito alta (80% a

100% do total de BPA presente no revestimento da lata). No entanto, nenhuma

migração adicional de BPA foi observada para esses 4 simuladores de alimentos

após 9 meses de armazenamento, indicando que altas temperaturas de

processamento promoviam a migração. A migração de BPA para 10% de etanol foi

significativamente maior que nos demais alimentos. Isto poderia ser atribuído à

solubilização do etanol com o revestimento da lata durante o processamento.

De acordo com Vandenberg et al. (2007), a determinação de BPA no soro

humano requeria métodos seletivos e sensíveis, com limites de detecção inferiores a

1 ng/ml, porque os níveis circulantes de BPA no sangue de animais após à

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exposição de baixas doses caíam de picograma até nanograma por mililitro. Os

estudos em humanos demonstraram que a maioria das crianças, bem como homens

e mulheres adultos, incluindo mulheres grávidas, tinham níveis mensuráveis de BPA

nos fluidos corporais e nos tecidos amostrados. O BPA foi medido repetidamente no

sangue humano (soro e plasma) com uma medida central da distribuição na faixa de

0.3-4.4 ng/ml no leite materno, líquido amniótico e tecido placentário. As medições

de BPA no soro materno, soro fetal, sangue do cordão umbilical, líquido amniótico e

placenta indicaram que o feto humano em desenvolvimento poderia estar exposto ao

BPA na faixa de 1-3 ng/ml. Os níveis no soro humano eram medidos de forma

semelhante por várias técnicas analíticas, como ELISA, se a sensibilidade do

método fosse igual ou inferior a 0,5 ng/ml. Estudos usando métodos de detecção de

espectrometria de massa eram considerados altamente confiáveis, enquanto havia

consideravelmente menos confiança em estudos que empregavam ELISA. Ainda

segundo o autor, haviam extensas evidências da cinética do metabolismo do BPA

em modelos de roedores após exposições agudas até doses relativamente altas.

Estudos em animais e humanos indicavam rápido metabolismo e depuração. O BPA

podia ser detectado no sangue logo após o tratamento e na urina e nas fezes

coletadas. No entanto, estudos agudos não refletiam a situação em seres humanos,

onde a exposição crônica era mais provável e de baixo nível. Portanto, estudos

adicionais de exposição crônica de baixo nível ao BPA eram necessários, tanto em

modelos animais quanto em humanos. Além disso, existiam algumas evidências de

que o metabolismo do BPA em roedores diferia dos desfechos metabólicos em

modelos de primatas. Em roedores, a maioria do BPA é excretada nas fezes, mas

no macaco o BPA é excretado pela urina.

Lang et al. (2008), procuraram averiguar se o aumento da concentração de

BPA na urina estava associada a efeitos adversos na saúde da população dos EUA.

Foram analisados 694 homens e 761 mulheres os quais foram separados entre

doentes e não doentes, por gênero e idade. As concentrações de BPA urinário foram

bastante similares entre os sexos, mas para algumas variáveis houve diferença

significativa. Por exemplo, a concentração de BPA para participantes com índice de

massa corporal (IMC) entre 18,5 e 24,9 foi de 3,91 ng/mL e de 6,93 ng/mL naqueles

categorizados como obesos (IMC > 35). Além disso, verificou-se que as maiores

concentrações de BPA estavam associados com aumento da possibilidade de

doença cardiovascular, diabetes e anormalidade enzimática do fígado.

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Segundo Halden (2010), o Bisfenol A era o componente monomérico mais

conhecido dos plásticos de policarbonato. No entanto, também era utilizado com

frequência como aditivo para outros plásticos, como, por exemplo, o PVC. Como a

polimerização do BPA deixava alguns monômeros livres, suas moléculas poderiam

ser liberadas de recipientes de bebidas e alimentos, para bebidas e alimentos ao

longo do tempo. Além disso, o processo de lixiviação era acelerado pela lavagem

repetida dos recipientes e ao armazenar neles itens ácidos ou básicos que

interagiam com o polímero. Como resultado, garrafas de água reutilizáveis,

mamadeiras e os revestimentos internos das latas de alimentos feitos com BPA,

lixiviavam o monômero ao longo do tempo. Mesmo após mais de 70 anos de estudo,

os riscos à saúde do BPA eram amplamente debatidos e ainda não eram totalmente

compreendidos. Em sua extensa revisão de literatura, a bibliografia classificou o

BPA como um disruptor endócrino ou imitador de estrogênio, que se ligava tanto ao

receptor de estrogênio α (ERα) quanto ao ERβ. Essa afinidade levou à pesquisas

que relacionaram o BPA com estudos de câncer de mama, maturação sexual

precoce em homens e mulheres, níveis alterados de hormônio luteinizante no

plasma e diminuição da testosterona no plasma em homens, aumento do tamanho

da próstata em homens, e também na diminuição da produção e fertilidade de

espermatozoides de homens. Por fim, estudos epidemiológicos encontraram

associações entre os níveis sanguíneos de BPA em mulheres e problemas de

saúde, incluindo obesidade, hiperplasia endometrial, abortos recorrentes,

esterilidade e síndrome do ovário policístico.

Taskeen et al. (2012), realizaram um estudo para analisar a possível relação

entre as concentrações de BPA no sangue e o risco de aumentar a probabilidade de

causar câncer. Um total de 100 indivíduos foram selecionados para o estudo e

divididos por grupos de idade: de 5 a 10 anos, 11 a 20, 21 a 30, 31 a 40 e 41 a 50

anos. Posteriormente, estes foram divididos entre normais e doentes, além de

gênero, educação, fonte de bebida de água, tipo de alimentação (dieta), hábitos de

fumar, beber, exposição a químicos e histórico de câncer na família. As amostras de

sangue foram coletadas e processadas para análise usando cromatografia líquida de

alto desempenho (HPLC-Rp). Concentrações de BPA foram encontradas em todas

as amostras de sangue de todos os grupos de idade e variaram de 1,53-3,98 μg/L.

No caso de indivíduos doentes, foi observado que o nível de BPA aumentou com a

idade. Para o sexo feminino, os níveis de BPA no sangue foram ligeiramente

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maiores do que em relação ao gênero masculino, 2,99 μg/L e 2,87 μg/L,

respectivamente. Para indivíduos normais, não houve relação entre os níveis de

BPA no sangue e aumento de idade. Já para os indivíduos que tinham histórico de

câncer, consumiam alimentos embalados e bebiam água engarrafada apresentavam

maior risco de doença.

Mansilha et al. (2013), realizaram um estudo afim de avaliar a migração de

BPA para vários recipientes plásticos usados para alimentar crianças, como

mamadeiras, xícaras de alimentação infantil e recipientes descartáveis. Para isso, foi

utilizado o crustáceo D. Magna para mensurar os impactos dos testes agudos e

crônicos em relação aos parâmetros reprodutivos do crustáceo e sua relação com os

seres humanos. Foram analisadas 12 marcas diferentes de mamadeiras de

policarbonato e polipropileno reutilizáveis (“livre de BPA”), um copo de alimentação

infantil e 3 recipientes para armazenar alimentos, sendo 2 de polipropileno e 1 de

policarbonato. Os recipientes foram preenchidos com água ultrapura e aquecidos a

100ºC em um micro-ondas. A temperatura de ebulição foi mantida durante 1 minuto

e, posteriormente, as amostras foram deixadas à temperatura ambiente por 2 horas.

Após padronização das metodologias, a reprodução dos testes foi realizada nos

recipientes de plástico. Para acessar o impacto biológico do BPA em condições reais

de exposição, indivíduos de D. Magna foram inseridos e criados em várias

mamadeiras e em outros recipientes de plástico. Os resultados mostraram que não

há relação entre as concentrações de BPA e o preço do produto, mas apenas em

relação aos polímeros de que são feitos. A migração de BPA de recipientes de

policarbonato foi maior quando comparado a outros materiais plásticos.

5.2 Ftalatos

Goulas et al. (2000), investigaram a migração de DEHA para queijos com

diferentes teores de gordura (19% a 30%) e umidade (38% a 56%) envolvidos em

filmes de PVC alimentar, plastificados com 28,3% de DEHA. Foram separados 3

tipos de queijo e as amostras foram divididas em dois grupos e armazenadas a 5ºC.

Um grupo foi analisado para verificar a quantidade de DEHA dos queijos inteiros em

um intervalo de 1h e 240h de contato (estudo cinético), e no segundo grupo os

queijos foram cortados em fatias de 1,2mm de grossura, também em contato com o

filme de PVC, por 240h (estudo de penetração). Os níveis de DEHA nos dois grupos

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49

foram realizados através do método de cromatografia gasosa e foram observadas

diferenças significantes na migração do DEHA para os diferentes tipos de queijo.

Primeiramente, os níveis de DEHA aumentaram com o aumento do tempo de

contato para todos os queijos, e os níveis mais altos de DEHA foram encontrados

nos queijos com maior teor de gordura, com 345,4 mg/kg; 222,5 mg/kg e 133,9

mg/kg nos queijos com 30%, 23% e 19% de gordura, respectivamente, depois de

armazenados a 5°C por 10 dias. Por fim, também foi investigado o grau de

penetração do DEHA nos queijos fatiados em contato com o filme de PVC por 10

dias a 5ºC. Os níveis de DEHA na segunda fatia (11,4 mg/kg a 25,7 mg/kg na

profundidade de 1,2 a 2,4 mm) diminuíram consideravelmente em comparação com

as primeiras fatias (194,3 a 505,7 mg/kg na profundidade de 0 a 1,2mm) e não foi

detectado níveis de DEHA para a terceira e quarta fatia (profundidade de 2,4 a 3,6

mm e 3,6 a 4,8 mm, respectivamente).

Tsumura et al. (2001), investigaram a ocorrência de compostos de ftalato em

16 almoços embalados com poliestireno, 10 almoços sem embalagens de

poliestireno, comprados em lojas japonesas. Os ftalatos analisados foram DEHP,

DNBP e BBP. Em todas as amostras a concentração do DEHP foi a mais alta, sendo

0,80-11,8 mg/kg nos almoços embalados em poliestireno e 0,012-0,30 mg/kg nos

almoços sem embalagens de poliestireno. A concentração de DEHP em 5 amostras

dos almoços embalados com poliestireno ultrapassou o valor da ingestão diária

tolerável da União Européia, que era de 1,85 mg para uma pessoa de 50kg de

massa corporal. Além disso, houve diferença da concentração de DEHP em relação

à forma preparo dos alimentos. Por exemplo, a carne de frango, quando não cozida,

apresentou 0,08 mg/kg de DEHP, 13,1 mg/kg quando frita e 16,9 mg/kg quando

embalada. As luvas descartáveis usadas na preparação da comida foram,

aparentemente, a causa da maior concentração de DEHP. A fim de descobrir se as

luvas de fato aumentavam a concentração de DEHP nos alimentos, foram feitas

amostras de arroz cozido, croquete e rabanete cozido. Cada um dos alimentos foi

colocado sobre uma luva de PVC contendo 30% de DEHP. Os níveis de migração

de DEHP foram 0,05 mg/kg para o arroz, 0,33 mg/kg no croquete e 11,1 mg/kg no

rabanete. Ao ser espirrado álcool sobre as luvas, a concentração nesses alimentos

aumentou para 2,03 mg/kg, 2,45 mg/kg e 18,4 mg/kg, respectivamente. Ainda

segundo o autor, em outro estudo, dois meses após a proibição das luvas de PVC

contendo DEHP para fins de cozimento no Japão, os testes foram revisados e

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50

refeitos. As mesmas formas de detecção e extração do estudo anterior foram

utilizadas. Dessa vez, os níveis de DEHP nas amostras foi de 45-517 ng de DEHP/g.

Além do DEHP, todos os outros ftalatos pesquisados apresentaram níveis menores

do que o estudo anterior à proibição do uso das luvas de PVC. De forma geral, os

níveis de ftalatos diminuiu 4% em relação aos valores do estudo anterior.

Segundo Tsumura et al. (2002), a tubulação de PVC era comumente usada

no processo de ordenha e na transferência de leite entre tanques de

armazenamento em fazendas leiteiras e fábricas de processamento de leite. Como

em muitos outros produtos de PVC, os plastificantes como ftalatos eram usados em

tubos de PVC para torna-los mais flexíveis, e dentre os quais o DEHP era o mais

frequentemente usado, com até 40% da composição. Como eles não eram

quimicamente ligados ao polímero, os plastificantes podiam migrar da tubulação de

PVC para o leite, especialmente a temperaturas relativamente mais altas durante

todo o processo de extração do leite.

Feng et al. (2005), mostraram, pelo do método de microextração em fase

sólida combinada com espectrometria de massa por cromatografia em fase gasosa,

que os níveis de DEHP no leite das vacas coletadas com uma máquina usando

tubos de PVC plastificado com 28% de DEHP variaram de 111,7 ng/g a 282,9 ng/g.

Isso era cerca de 15 vezes mais do que a média daqueles no leite de vaca coletado

manualmente sem o uso de tubulação de PVC (8,4 ng/g a 23,7 ng/g). Isso indicou

que a migração da tubulação de PVC podia ser a principal fonte de DEHP no leite e

produtos lácteos no Canadá.

Fankhauser-Noti e Grob (2006), mostraram que estudos de migração são

comumente realizados com simuladores de alimentos, proporcionando contato

uniforme da embalagem com a comida. Um estudo investigou a migração de ftalatos

de mamadeiras (n=277) sob condições de preenchimento a quente por 2 horas a

70ºC, e descobriu que os níveis de migração para o DIBP e DBP variaram de 50 a

150 μg/kg, enquanto o DEHP apresentou níveis de migração comparativamente

baixos (25 a 50 μg/kg). Além disso, a migração de outros 6 plastificantes (ESBO,

DEHP, DINP, DIDP, DEHA e ATBC) de juntas de PVC nos tampões das

mamadeiras foi relatada para contato com alimentos oleosos. A taxa média de

transferência foi calculada comparando-se a quantidade de plastificantes em contato

direto com alimentos com material de vedação e plastificantes encontrados em

alimentos. A transferência média foi de 46%, com a maior transferência de 90%

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observada para o ESBO. Os ftalatos mostraram uma alta taxa de transferência de

350% quando usados em material de vedação com óleo de oliva.

Bonini et al. (2008), analisaram a migração de plastificantes em 12 filmes de

embalagem de alimentos e 6 sacos para congelamento de alimentos ao longo do

tempo. O solvente de extração utilizado foi o acetato de etila, pois foi o único capaz

de solubilizar à temperatura ambiente todos os compostos padrões. Os períodos de

tempo analisados foram de 10, 20, 30, 40, 50 e 60 dias. Nas películas adesivas

declaradas livres de PVC, bem como nos sacos de congelamento de alimentos

feitos de poliestireno, nenhuma quantidade de plastificantes foi detectada. Em todos

os casos, a quantidade total de constituintes plásticos extraídos atingiu o valor

máximo de 10% (massa/massa). Os testes foram realizados conforme as regras

regulamentares da União Europeia e os resultados foram comparados para os

plastificantes mais importantes (DEHA, DBP e ATBC). A migração do DEHA atingiu

valores muito altos em caso de contato com alimentos mais lipofílicos. Além disso,

foi de grande importância verificar que as quantidades migradas não dependiam do

tempo de contato, e que os alimentos embalados por muito tempo não representam

risco, para os consumidores, de um aumento da ingestão de plastificantes.

Segundo Halden (2010), em sua extensa revisão de literatura, os ftalatos

eram um grupo diversificado de compostos de diésteres do ácido ftálico (mais de 25

ftalato diferentes), produzidos em grandes quantidades desde a década de 1930.

Estes, compreendiam cerca de 70% do mercado de plasticantes nos EUA e eram

incorporados aos plásticos como plastificantes para conferir flexibilidade e

elasticidade a polímeros rígidos, como o PVC. Diferentemente dos monômeros de

BPA nos plásticos de policarbonato, os ftalatos não eram ligados covalentemente à

matriz polimérica e, portanto, os tornavam suscetíveis à lixiviação. O DEHP, era um

dos principais ftalatos que causavam problemas de saúde em humanos. Além deste,

outros aditivos importantes incluíam o DINP, DBP, BBP, DIDP, di-n-octilf talato

(DNOP) e di-n-hexil ftalato (DNHP). As principais vias de exposição humana a

ftalatos incluiam, principalmente, exposições médicas causadas pela liberação direta

de ftalatos no corpo humano através de diálise, transfusão de sangue, ingestão de

alimentos contaminados, inalação de gases de tintas e revestimentos de parede.

Entre os efeitos adversos conhecidos e suspeitos à saúde estavam os resultados

reprodutivos, incluindo a síndrome da disgenia testicular (anormalidades genitais

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masculinas), malformação do sistema reprodutor masculino e feminização

permanente, evidenciada pelo crescimento de mamilos e períneo.

Xu et al. (2010), avaliaram a migração de 8 compostos de ftalatos (DMP,

DEP, BBP, DBP, DEHP, DINP, DOP e DIDP) de plásticos para óleo de cozinha e

água mineral sob diferentes condições de armazenamento. Os tempos de

armazenamento foram de até 2 meses sob condições estáticas de temperatura

(20ºC, 40ºC e 60ºC) e sob um estado “dinâmico” a 20ºC. Para o estado dinâmico, o

simulador alimentar embalado foi tratado a uma frequência de 50 vezes por minuto,

durante 5 minutos por dia, durante 2 meses. O teor de ftalatos foi sempre maior no

óleo de cozinha do que na água mineral. O DBP e o DINP apresentaram a maior

migração para a água mineral. O DEHP e o DBP exibiram o mais alto nível de

migração para o óleo de cozinha a 20ºC após 2 meses. A migração de ftalatos em

óleo de cozinha (alimentos gordurosos 1% a 14%) foi maior do que na água mineral

(alimento aquoso < 0,35%).

Segundo Fasano et al. (2012), os diésteres de ácido orto-ftálico eram

compostos lipofílicos orgânicos sintéticos, como DEHP, DEP, DBP e DINP,

introduzidos na década de 1920. Eram principalmente utilizados como plastificantes

para aumentar a flexibilidade dos plásticos tais como PVC. Durante os últimos 30

anos, numerosos estudos foram publicados a respeito da presença de compostos de

ftalato em alimentos devido à migração da embalagem e efeitos prejudiciais para a

saúde humana. Além disso, o alimento era a principal fonte de exposição de vários

ftalatos em humanos. Embora em humanos os ftalatos sejam rapidamente

metabolizados e excretados na urina e fezes, eles foram detectados no soro, fluidos

amnióticos e leite materno. Além disso, o DBP, BBP e DEHP foram introduzidos na

lista de compostos suspeitos de ter propriedades disruptoras endócrinas.

Fierens et al. (2012), conduziram o maior estudo para analisar a concentração

de ftalatos em 400 tipos de produtos alimentares e materiais de embalagem

vendidos no mercado belga. Os compostos de ftalatos analisados foram: DMP, DEP,

DIBP, DNBP, BBP, DEHP, DCHP e DNOP. Todos os compostos de ftalatos foram

testados em 3 matrizes de amostras, sendo elas: altamente gorduroso, baixa

gordura e aquoso. Em relação ao tipo de embalagem, foram utilizados 4 tipos

diferentes: saco plástico, cartão impresso e 2 tipos diferentes de filmes de

embalagem. O DEHP foi o composto mais detectado (81% das 400 amostras),

seguido por DIBP (75%), DNBP (69%) e BBP (58%).

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53

Em seu estudo, Li et al. (2018), investigaram a migração de 21 ftalatos (sendo

6 controlados e 15 não controlados) em 60 amostras de água potável engarrafada

de 10 marcas comerciais diferentes. A análise foi realizada por método de

cromatografia gasosa de espectrometria de massa para as amostras de garrafas

PET. Os valores de referência da ingestão (μg/kg de peso corporal/dia) foram

obtidos no Sistema de Informação de Risco Integrado (USEPA). Dos 21 compostos

analisados, 17 foram detectados em todas as amostras de água potável

engarrafada. As concentrações de PAE variaram de 0,010 a 0,51 μg / L. Para os

seis ftalatos controlados (DMP, DEP, DBP, BBP, DEHP e DNOP), as concentrações

totais foram de 0,17-0,98 μg / L, representando 38-78% do total de elementos

analisados. Entre os ftalatos considerados, o DEHP foi o único a ser provavelmente

cancerígeno para seres humanos. O risco unitário carcinogênico de referência da

água potável foi de 4,0 × 10−7 por μg / L. Um resultado igual ou inferior a 1, no caso

em que apenas uma via contaminante e / ou de exposição foi avaliada, indicava que

a exposição do receptor foi igual ou menor que a exposição "permitida" e que efeitos

adversos à saúde foram considerados improváveis. Um resultado inferior a 1 milhão

era normalmente considerado insignificante. Além disso, a influência das

propriedades físicas (peso, espessura, densidade e superfície interna) das garrafas

PET também foi investigada. A análise de regressão mostrou que os plásticos para

garrafas PET podem ser uma das fontes potenciais de ftalatos na água engarrafada,

especialmente para DMP, DBP, DIBP e DNP. Havia pouco ou nenhum risco para a

saúde humana de DEP, DBP, BBP e DEHP avaliados. No entanto, os riscos à saúde

associados à exposição aos 21 compostos analisados no estudo, não deveriam ser

ignorados devido às ocorrências onipresentes na água engarrafada.

Em seu estudo, Yang et al. (2019), investigaram a migração de ftalatos em

materiais de embalagens plásticas de alimentos para os alimentos da vida diária da

população chinesa e os riscos à saúde associados. Foram coletadas 283 amostras

de alimentos, divididas em 6 categorias, sendo elas: feijões, carnes, bolos, batatas,

leite e produtos aquáticos. Todas as amostras de alimentos, incluindo as 6

categorias, foram divididas em 2 grupos. O primeiro grupo foi utilizado para analisar

o conteúdo do ftalatos e o segundo grupo para investigar a migração dos ftalatos

dos componentes da embalagem nos alimentos. Além disso, foi elaborada uma

avaliação de risco cumulativa de acordo com o conteúdo dos ftalatos, uma dose

diária média do ftalatos baseada no banco de dados anuário estatístico da China e o

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risco total de um determinado ftalato em alimentos, através de uma fórmula. Dezoito

ftalatos foram investigados nas 283 amostras. Os resultados mostraram que o DEHP

foi detectado com mais frequência do que os outros ftalatos. Além disso, a migração

destes aumentou com o tempo e a temperatura, e quanto mais próximo de sua vida

útil. Bebês e crianças são mais propensas a serem afetados pelos ftalatos do que

pelos idosos. Por fim, as mulheres são mais sensíveis aos ftalatos do que os

homens.

5.3 Problemas relacionados à saúde

Foster et al. (2000), analisaram um experimento contínuo de reprodução em

ratos, realizados pelo Programa Nacional de Toxicologia, para avaliar os efeitos do

DBP na dieta dos ratos. A dieta era ministrada com doses de até 650 mg / kg / dia.

Foi observado que na geração dos pais, os efeitos sobre a reprodução foram

modestos. Porém, os filhotes machos dessa geração tiveram acentuadas reduções

de fertilidade, com contagens reduzidas de espermatozoides e malformações do

trato reprodutivo ao atingir a idade adulta. Uma avaliação de risco padrão pareceu

inadequada, pois os roedores, ao contrário dos primatas, metabolizam diésteres de

ftalato em monoésteres no intestino após administração oral. Acreditou-se que o

monoéster era o princípio ativo para indução de toxicidade reprodutiva e de

desenvolvimento de ésteres específicos de ftalato. Assim, se os seres humanos

produzissem níveis muito baixos do monoéster, a partir de uma exposição ambiental

ao diéster de ftalato, a probabilidade de qualquer toxicidade reprodutiva ou de

desenvolvimento por via oral pareceu extremamente remota.

Duty et al. (2003), buscaram determinar a relação da ingestão de ftalatos e a

integridade do DNA no esperma humano. Foram selecionados 168 indivíduos que

forneceram amostras de sêmen e urina. Oito metabólitos de ftalato foram medidos

na urina usando cromatografia líquida de alta eficiência e espectrometria de massa,

e um software foi utilizado para avaliar a integridade do DNA do sêmen. Foi

encontrada uma associação negativa entre o dano ao DNA no espermatozoide e a

exposição ao DEP.

Para investigar a exposição humana ao BPA, Takeuchi et al. (2004),

investigaram as concentrações séricas de BPA em mulheres com disfunção

ovariana e obesidade. Amostras de soro em jejum foram obtidas de 19 mulheres não

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obesas e 7 obesas com ciclos menstruais normais, 7 pacientes com

hiperprolactinemia, 21 pacientes com amenorréia hipotalâmica, e 13 pacientes não

obesos e 6 obesos com síndrome dos ovários policísticos (SOP). O BPA foi medido

por um ensaio imunossorvente ligado a enzima e foi detectado em todos os soros

humanos. As concentrações séricas de BPA foram significativamente maiores em

mulheres não obesas e obesas com SOP (1,05 +/- 0,10 ng / ml, 1,17 +/- 0,16 ng / ml,

respectivamente) e mulheres normais obesas (1,04 +/- 0,09 ng / ml) em comparação

com as mulheres normais não obesas (0,71 +/- 0,09 ng / ml). Não houve diferença

entre as mulheres com hiperprolactinemia, as mulheres com amenorréia

hipotalâmica e as mulheres normais não obesas. O estudo concluiu que existe uma

forte relação entre os níveis de BPA no sangue das mulheres e obesidade,

hiperplasia do endométrio, abortos recorrentes e SOP.

O objetivo do estudo de Latini et al. (2004), foi avaliar a exposição pré-natal

ao DEHP e seus possíveis efeitos biológicos. As concentrações séricas de DEHP

foram medidas no sangue do cordão umbilical de 84 recém-nascidos por

cromatografia líquida de alta eficiência. Foram encontradas concentrações

detectáveis de DEHP no sangue do cordão umbilical em 88,1% das amostras e as

concentrações médias foram 1,19 ± 1,15 µg / mL (IC de 95%). Os resultados da

análise de regressão logística indicaram uma correlação positiva entre a ausência de

DEHP no sangue do cordão umbilical e a idade gestacional no parto. Esses achados

confirmaram que a exposição humana ao DEHP pode começar no útero e sugeriram

que o ftalato está significativamente associado a um menor tempo de gravidez.

Vom Saal & Hughes (2005) realizaram uma pesquisa abrangente a respeito

dos efeitos da lixiviação de BPA e seus efeitos na saúde humana. Em dezembro de

2004 haviam 115 estudos publicados in vivo sobre efeitos de baixas doses de BPA,

e 94 desses relataram efeitos significativos. Em 31 publicações com animais

vertebrados e invertebrados, ocorreram efeitos significativos abaixo da dose

“segura” ou de referência prevista de 50 μg / kg / dia de BPA. Um modo estrogênio

de ação do BPA foi confirmado por experimentos in vitro, que descreveram a

interrupção da função celular. No entanto, os fabricantes de produtos químicos

continuaram mascarando essas descobertas publicadas porque nenhum estudo

financiado pelo setor relatou efeitos significativos de doses baixas de BPA, embora

mais de 90% dos estudos financiados pelo governo relataram efeitos significativos.

Foram reportados, mesmo em baixas dosagens de BPA, taxa de crescimento e

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maturação sexual, níveis hormonais no sangue, função dos órgãos reprodutivos,

fertilidade, função imune, atividade enzimática e estrutura cerebral alterados. Por

fim, ainda possuíam o potencial de interromper a ação do hormônio tireoidiano,

aumentar a proliferação de células humanas de câncer de próstata e bloquear a

síntese de testosterona.

Segundo Welshons, Nagel e Vom Saal (2006), o BPA tinha sido considerado

um estrogênio ambiental muito fraco por conta da sua baixa afinidade aos

receptores de estrogênio (RE) e por ter sido, de 10.000 a 100.000 vezes, menos

potente que o estradiol. Porém a constatação de que o BPA foi detectado em quase

todos os indivíduos em nações desenvolvidas foi consistente e implicou que os

seres humanos eram expostos ao BPA continuamente. Devido à rápida depuração

metabólica do BPA, seu estudo identificou dois problemas potenciais: (1) a ingestão

de BPA poderia ser muito maior do que foi sugerido e/ou (2) a ingestão diária

prolongada levaria à bioacumulação de BPA, aumentando níveis estacionários que

não foram representados por qualquer um dos modelos de metabolismo do BPA

baseado na administração única e aguda. Os resultados dos estudos revelaram que

os mecanismos moleculares do BPA apresentaram uma variedade de vias através

das quais o BPA poderia estimular respostas celulares mesmo em concentrações

muito baixas.

Richter et al. (2007), descreveram, baseado em mais de 150 estudos

publicados sendo que destes mais de 40 estudos consideraram a ingestão diária

recomendada (IDR) de 50 μg/kg/dia, os efeitos de baixas dosagens de BPA. Muitos,

mas não todos, foram semelhantes aos efeitos observados em resposta aos

estrogênios dietil estilbestrol e etil-n-estradiol (derivado de 17,β-estradiol, o principal

estrogénio endógeno nos seres humanos), mesmo que a potência do BPA tivesse

sido aproximadamente 10-1000 vezes menor que a do dietilestilbestrol ou

etinilestradiol. Com base nessa revisão, foi alcançado um consenso em relação ao

nível de confiança de que determinados resultados ocorreram em resposta à baixa

dose de exposição ao BPA. Em animais foram evidenciados problemas como câncer

de próstata e de mama, indução de proteínas no útero, organização de circuitos

sexualmente dimórficos no hipotálamo, puberdade precoce, malformação genital e

outros. Em humanos, foi considerado provável, mas exigindo confirmação adicional,

que a exposição do adulto ao BPA afetou o trato reprodutivo masculino e feminino, o

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cérebro, o sistema reprodutor masculino e feminino, o sistema imunológico e os

processos metabólicos.

Ropero et al. (2008), correlacionaram a ação de desreguladores endócrinos

causados for ftalatos, dioxinas e BPA, e os efeitos negativos causados na glicose do

sangue. Doses ambientalmente relevantes do desregulador endócrino bisfenol-A

(BPA) tinham efeitos profundos no pâncreas de camundongos - um tecido essencial

envolvido no metabolismo da glicose. In vivo, uma única injeção de 10 mg/kg de

BPA aumentou rapidamente a insulina plasmática e diminui concomitantemente a

glicemia. Quando os camundongos foram tratados com BPA 100lg / kg / dia por 4

dias, o estrogênio ambiental produziu um aumento no conteúdo de insulina das

células B, juntamente com uma hiperinsulinemia e resistência à insulina. Os

resultados analisados demonstraram que, mesmo em doses bem abaixo do nível

considerado seguro pela USEPA, efeitos adversos interromperam a função das

células pancreáticas produzindo resistência à insulina em camundongos machos.

Portanto, essa homeostase alterada da glicose no sangue, por conta da exposição

ao BPA, poderia aumentar o risco de desenvolver diabetes tipo II e causar disfunção

hormonal na tireóide.

Xiong et al. (2017), investigaram a relação do acúmulo de BPA no corpo

humano e o possível aumento na incidência de vários tipos de câncer. O estudo

focou em analisar o neuroblastoma (NB) e revelou que as concentrações

nanomolares de BPA poderiam aumentar significativamente a proliferação, migração

e invasão de células malignas de neuroblastoma. Porém, ao comparar seus

resultados com o da literatura disponível, verificou ainda que o BPA poderia

aumentar a mobilidade celular in vitro de vários tipos de câncer, incluindo ovário,

cólon, próstata e pulmão. Por fim, concluiu que o BPA no corpo humano poderia ter

o potencial de promover a progressão do neuroblastoma através do crescimento e

metástase das células cancerígenas.

Nomiri et al. (2019), investigaram os efeitos do BPA nas vias de sinalização

celular relacionadas ao câncer, pois a exposição ao BPA tinha sido associada a um

risco aumentado de carcinogênese, bem como induzir a proliferação descontrolada

de células mamárias, de próstata e mutações nas células ovarianas. Seu estudo

destacou um efeito genotóxico, direto ou indireto, do BPA em vários sistemas in vitro

e mostrou que, os efeitos do BPA em ratos mesmo em baixa dose, reduziu a

capacidade das células de responder a novos estímulos genotóxicos, inibindo a

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expressão de genes envolvidos no reparo do DNA. Esse comprometimento das

células expostas ao BPA as tornou mais suscetíveis à morte celular e acúmulo de

danos ao DNA. Além disso, foi relatado que vários fatores podiam fazer com que as

células cancerígenas escapassem dos efeitos dos medicamentos anticâncer,

levando à resistência aos medicamentos devido à expressão de proteínas anti-

apoptóticas e de sobrevivência. Isso levou à resistência das células cancerígenas

aos medicamentos anticâncer. Por fim, mesmo em doses baixas, inclusive como

concentrações nano-molares, o BPA podia causar respostas tumorogênicas nos

tecidos e, nos estágios mais avançados do câncer, essas células poderiam se tornar

resistentes às drogas anticâncer. Foi sugerido a realização de estudos adicionais

para melhor estabelecer os processos moleculares e de desenvolvimento, afetados

pela exposição ao BPA e seu impacto na saúde humana e ao meio ambiente.

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59

6 CONCLUSÃO

Portanto, com base na revisão e estudo desses 58 artigos, pode-se concluir

que: (1) a temperatura e o tempo de contato entre a embalagem plástica e o

alimento são os parâmetros mais importantes que influenciam tanto a migração

quanto a lixiviação de BPA e ftalatos nos alimentos, pois aumentam a taxa de

difusão dos materiais da embalagem.

Além disso, (2) alimentos categorizados como oleosos ou gordurosos são os

que apresentaram a maior migração ou lixiviação, tanto de BPA quanto de ftalatos,

nos alimentos devido à natureza lipofílica destes plastificantes.

No que diz respeito aos limites mínimos de ingestão considerados seguros

(3), os fabricantes de produtos químicos buscaram mascarar as descobertas

publicadas, pois em nenhum estudo feito por estes houve relação de efeitos

significativos de doses baixas de BPA. Mas, a literatura revisada é robusta e, em

mais de 90% dos estudos financiados pelo governo, houve relação significativa de

migração ou lixiviação de BPA, mesmo em baixas dosagens. Ou seja, não há uma

quantidade considerada segura e, mesmo em baixas dosagens, a migração ou

lixiviação de BPA traz riscos à saúde humana.

Por fim, (4) os efeitos nocivos à saúde humana em relação à migração ou

lixiviação de BPA são, principalmente, aumento da probabilidade de incidência de

diversos tipos de câncer (entre eles o de ovário, cólon, próstata e pulmão) e diversos

problemas no trato reprodutor masculino, como diminuição da fertilidade e produção

de testosterona e, em mulheres, aumento da probabilidade de desenvolver

Síndrome do Ovário Policístico. Em relação aos ftalatos, os maiores problemas à

saúde estão relacionados a redução de fertilidade, malformação e anomalias do

trato reprodutor masculino e feminino, danos à integridade do DNA no esperma,

aumento da probabilidade de abortos espontâneos e maior probabilidade de

desenvolvimento de câncer.

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