Os espíritos se comunicam na Igreja Católica · Somente a Doutrina Espírita é que procura...

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Os espíritos se comunicam na Igreja Católica (as almas do purgatório se manifestam a fiéis) Ora, ninguém, dotado de senso comum e que saiba racionar, pode ignorar a existência de uma comunidade e de uma comunhão entre os que vivem, com os que faleceram. (Golo Mann, 1909-1994). Estamos rodeados por pessoas falecidas que, indizivelmente tristes, querem comunicar-se conosco enquanto olhamos unicamente para o mundo terreno. Oh! que miserável escravidão em que nos metem os sentidos! (Dr. Peter Gehring, 1953-2003). Introdução Embora, num esforço inaudito, se tente provar que os mortos não se comunicam, a verdade é que eles não estão nem aí para isso e se comunicam assim mesmo. Podemos ver que, dentro da Igreja Católica, a manifestação dos defuntos é coisa comum, apesar de fazerem de tudo para que isso não venha à tona, porquanto haverá de se mudar dogmas impostos à força, o que poderá abalar a sua credibilidade como uma instituição religiosa. É evidente a contradição dos católicos, pois, apesar de dizerem que os mortos não se comunicam, mesmo assim não deixam de fazer seus pedidos ao santo ao qual dedicam a sua devoção. O pobre do Santo Antônio então, coitado, desde quando foi elevado a esse status de santo, não tem mais paz, tantos os petitórios que lhe fazem as solteironas, que não largam de sua batina, em súplica desesperada para conseguirem um bom marido. Ele faz cada “milagre” que espanta a qualquer um. Quando lhes demonstramos que também eles evocam os mortos (já que santo vivo, só o Santo Padre, o Papa), nos apresentam o argumento de que não “evocam”, mas “invocam”. Diante disso é bom socorrer-nos com o Houaiss: evocar: 1 t.d. chamar (algo, ger. sobrenatural), fazendo com que apareça “evocou todos os santos que conhecia para ajudá-lo naquela hora”; 2 t.d. tornar (algo) presente pelo exercício da memória e/ou da imaginação; lembrar “saudoso, evocava a infância com freqüência”, apaixonado, evocava o rosto da amada”; 3 t.d. JUR passar (causa judicial) de um tribunal a outro. Invocar: 1.t.d. chamar em auxílio, pedir a proteção de (falando ger. de seres ou forças divinas, sobrenaturais); suplicar “i. os santos”; 2 t.d. pedir auxílio, assistência; recorrer “i. a ajuda dos amigos”; 3 t.d. evocar (quaisquer forças sobrenaturais, ocultas) “i. os espíritos de antepassados”; 4 t.d. B infrm. causar irritação a; provocar (alguém) “a conversa mole dele invoca qualquer um”; 5 t.d. B infrm. deixar cismado; dar o que pensar a, intrigar “ele o invocou quando evitou o assunto do relógio roubado”; 6 t.i. e pron. B infrm. não simpatizar; antipatizar com “invocou(-se) com a cara dele logo de saída”; 7 t.d. JUR alegar a seu favor, aduzir como prova do que se diz “i. leis, precedentes, testemunhos”. Todos os dois verbos poderão ser usados indistintamente, já que ambos podem assumir o mesmo significado, que é chamar por algo sobrenatural, uma vez que é assim que todos vêem os fenômenos de aparição de um santo; dessa mesma forma é que também vêem a manifestação de qualquer outro espírito. Somente a Doutrina Espírita é que procura demonstrar que tais coisas estão estritamente dentro das leis divinas; conseqüentemente, são leis naturais, que ainda não são vistas assim, porquanto prevalecem a ignorância e o preconceito diante delas.

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Os espíritos se comunicam na Igreja Católica (as almas do purgatório se manifestam a fiéis)

Ora, ninguém, dotado de senso comum e que saiba racionar, pode ignorar a existência de uma comunidade e de uma comunhão entre os que vivem, com os que faleceram. (Golo Mann, 1909-1994).

Estamos rodeados por pessoas falecidas que, indizivelmente tristes, querem comunicar-se conosco enquanto olhamos unicamente para o mundo terreno. Oh! que miserável escravidão em que nos metem os sentidos! (Dr. Peter Gehring, 1953-2003).

Introdução

Embora, num esforço inaudito, se tente provar que os mortos não se comunicam, a

verdade é que eles não estão nem aí para isso e se comunicam assim mesmo. Podemos ver

que, dentro da Igreja Católica, a manifestação dos defuntos é coisa comum, apesar de fazerem de tudo para que isso não venha à tona, porquanto haverá de se mudar dogmas

impostos à força, o que poderá abalar a sua credibilidade como uma instituição religiosa.

É evidente a contradição dos católicos, pois, apesar de dizerem que os mortos não se

comunicam, mesmo assim não deixam de fazer seus pedidos ao santo ao qual dedicam a sua devoção. O pobre do Santo Antônio então, coitado, desde quando foi elevado a esse status de

santo, não tem mais paz, tantos os petitórios que lhe fazem as solteironas, que não largam de

sua batina, em súplica desesperada para conseguirem um bom marido. Ele faz cada “milagre”

que espanta a qualquer um. Quando lhes demonstramos que também eles evocam os mortos (já que santo vivo, só

o Santo Padre, o Papa), nos apresentam o argumento de que não “evocam”, mas “invocam”.

Diante disso é bom socorrer-nos com o Houaiss:

evocar: 1 t.d. chamar (algo, ger. sobrenatural), fazendo com que apareça “evocou todos os santos que conhecia para ajudá-lo naquela hora”; 2 t.d. tornar (algo) presente pelo exercício da memória e/ou da imaginação; lembrar “saudoso, evocava a infância com freqüência”, “apaixonado, evocava o rosto da amada”; 3 t.d. JUR passar (causa judicial) de um tribunal a outro.

Invocar: 1.t.d. chamar em auxílio, pedir a proteção de (falando ger. de seres ou forças divinas, sobrenaturais); suplicar “i. os santos”; 2 t.d. pedir auxílio, assistência; recorrer “i. a ajuda dos amigos”; 3 t.d. evocar (quaisquer forças sobrenaturais, ocultas) “i. os espíritos de antepassados”; 4 t.d. B infrm. causar irritação a; provocar (alguém) “a conversa mole dele invoca qualquer um”; 5 t.d. B infrm. deixar cismado; dar o que pensar a, intrigar “ele o invocou quando evitou o assunto do relógio roubado”; 6 t.i. e pron. B infrm. não simpatizar; antipatizar com “invocou(-se) com a cara dele logo de saída”; 7 t.d. JUR alegar a seu favor, aduzir como prova do que se diz “i. leis, precedentes, testemunhos”.

Todos os dois verbos poderão ser usados indistintamente, já que ambos podem assumir

o mesmo significado, que é chamar por algo sobrenatural, uma vez que é assim que todos

vêem os fenômenos de aparição de um santo; dessa mesma forma é que também vêem a

manifestação de qualquer outro espírito. Somente a Doutrina Espírita é que procura demonstrar que tais coisas estão estritamente dentro das leis divinas; conseqüentemente, são

leis naturais, que ainda não são vistas assim, porquanto prevalecem a ignorância e o

preconceito diante delas.

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Seriam as comunicações com os mortos algo abominável a Deus (Dt 18,12)? A questão é: Deus faria uma lei que pudesse levar a algo contrário ao que ele deseja ou que viesse a

aborrecê-Lo? Certamente que não! Portanto, se existe a possibilidade de se comunicar com os

mortos, é porque Deus criou uma lei para que isso aconteça, sem nenhuma dúvida. Mas, e a

proibição? Reputamo-la provinda da vontade de Moisés, que não queria que se evocassem os mortos para fins de adivinhação, pois o que ele proibiu foi a necromancia, que é exatamente

isso. Só que espertamente alguns teólogos querem fazer dessa proibição mosaica seu cavalo

de batalha, ou seja, uma proibição divina, porquanto, morrem de medo de que os “mortos”

venham a revelar outra verdade, da qual nem querem ouvir falar.

Vejamos o que Kardec falou a respeito disso, no Cap. XI, de O Céu e o Inferno:

Da proibição de evocar os mortos

1. - A Igreja de modo algum nega a realidade das manifestações. Ao contrário, como vimos nas citações precedentes, admite-as totalmente, atribuindo-as à exclusiva intervenção dos demônios. É debalde invocar os Evangelhos como fazem alguns para justificar a sua interdição, visto que os Evangelhos nada dizem a esse respeito. O supremo argumento que prevalece é a proibição de Moisés. A seguir damos os termos nos quais se refere ao assunto a mesma pastoral que citamos nos capítulos precedentes:

"Não é permitido entreter relações com eles (os Espíritos), seja imediatamente, seja por intermédio dos que os evocam e interrogam. A lei moisaica punia os gentios. Não procureis os mágicos, diz o Levítico, nem procureis saber coisa alguma dos adivinhos, de maneira a vos contaminardes por meio deles. (Cap. XIX, v. 31.) Morra de morte o homem ou a mulher em quem houver Espírito pitônico; sejam apedrejados e sobre eles recaia seu sangue. (Cap. XX, v. 27.) O Deuteronômio diz: Nunca exista entre vós quem consulte adivinhos, quem observe sonhos e agouros, quem use de malefícios, sortilégios, encantamentos, ou consultem os que têm o Espírito pitônico e se dão a práticas de adivinhação interrogando os mortos. O Senhor abomina todas essas coisas e destruirá, à vossa entrada, as nações que cometem tais crimes." (Cap. XVIII, vv. 10, 11 e 12.)

2. - É útil, para melhor compreensão do verdadeiro sentido das palavras de Moisés, reproduzir por completo o texto um tanto abreviado na citação antecedente. Ei-lo: "Não vos desvieis do vosso Deus para procurar mágicos; não consulteis os adivinhos, e receai que vos contamineis dirigindo-vos a eles. Eu sou o Senhor vosso Deus." (Levítico, cap. XIX, v. 31.) O homem ou a mulher que tiver Espírito pitônico, ou de adivinho, morra de morte. Serão apedrejados, e o seu sangue recairá sobre eles." (Idem, cap. XX, v. 27.) Quando houverdes entrado na terra que o Senhor vosso Deus vos há de dar, guardai-vos; tomai cuidado em não imitar as abominações de tais povos; - e entre vós ninguém haja que pretenda purificar filho ou filha passando-os pelo fogo; que use de malefícios, sortilégios e encantamentos: que consulte os que têm o Espírito de Píton e se propõem adivinhar, interrogando os mortos para saber a verdade. O Senhor abomina todas essas coisas e exterminará todos esses povos, à vossa entrada, por causa dos crimes que têm cometido. (Deuteronômio, cap. XVIII, vv. 9, 10, 11 e 12.)

3. - Se a lei de Moisés deve ser tão rigorosamente observada neste ponto, força é que o seja igualmente em todos os outros. Por que seria ela boa no tocante às evocações e má em outras de suas partes? É preciso ser conseqüente. Desde que se reconhece que a lei moisaica não está mais de acordo com a nossa época e costumes em dados casos, a mesma razão procede para a proibição de que tratamos.

Demais, é preciso expender os motivos que justificavam essa proibição e que hoje se anularam completamente. O legislador hebreu queria que o seu povo abandonasse todos os costumes adquiridos no Egito, onde as evocações estavam em uso e facilitavam abusos, como se infere destas palavras de Isaías: "O Espírito do Egito se aniquilará de si mesmo e eu precipitarei seu conselho; eles consultarão seus ídolos, seus adivinhos, seus pítons e seus mágicos." (Cap. XIX, v. 3.)

Os israelitas não deviam contratar alianças com as nações estrangeiras, e sabido era que naquelas nações que iam combater encontrariam as mesmas práticas.

Moisés devia, pois, por política, inspirar aos hebreus aversão a todos os costumes que pudessem ter semelhanças e pontos de contacto com o inimigo. Para justificar essa aversão, preciso era que apresentasse tais práticas como reprovadas pelo próprio Deus, e dai estas palavras: - "O Senhor abomina todas essas coisas e destruirá, à vossa chegada, as nações que cometem tais crimes."

4. - A proibição de Moisés era assaz justa, porque a evocação dos mortos não se originava nos sentimentos de respeito, afeição ou piedade para com eles, sendo antes um recurso para adivinhações, tal como nos augúrios e presságios explorados pelo charlatanismo e pela superstição. Essas práticas, ao que parece, também eram objeto de negócio, e Moisés, por mais que fizesse, não conseguiu desentranhá-las dos costumes populares.

As seguintes palavras do profeta justificam o asserto: - "Quando vos disserem: Consultai os mágicos e adivinhos que balbuciam encantamentos, respondei: -Não consulta cada povo ao seu Deus? E aos mortos se fala do que compete aos vivos?" (Isaías, cap. VIII, v. 19.) "Sou eu quem aponta a falsidade dos prodígios mágicos; quem enlouquece os que se propõem adivinhar, quem

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transtorna o espírito dos sábios e confunde a sua ciência vã." (Cap. XLIV, v. 25.) "Que esses adivinhos, que estudam o céu, contemplam os astros e contam os meses para

fazer predições, dizendo revelar-vos o futuro, venham agora salvar-vos. - Eles tornaram-se como a palha, e o fogo os devorou; não poderão livrar suas almas do fogo ardente; não restarão das chamas que despedirem, nem carvões que possam aquecer, nem fogo ao qual se possam sentar. - Eis ao que ficarão reduzidas todas essas coisas das quais vos tendes ocupado com tanto afinco: os traficantes que convosco traficam desde a infância foram-se, cada qual para seu lado, sem que um só deles se encontre que vos tire os vossos males." (Cap. XLVII, vv. 13, 14 e 15.)

Neste capítulo Isaías dirige-se aos babilônios sob a figura alegórica "da virgem filha de Babilônia, filha de caldeus" (v. 1). Diz ele que os adivinhos não impedirão a ruína da monarquia. No seguinte capítulo dirige-se diretamente aos israelitas.

"Vinde aqui vós outros, filhos de uma agoureira, raça dum homem adúltero e de uma mulher prostituída. - De quem vos rides vós? Contra quem abristes a boca e mostrastes ferinas línguas? Não sois vós filhos perversos de bastarda raça - vós que procurais conforto em vossos deuses debaixo de todas as frontes, sacrificando-lhes os tenros filhinhos nas torrentes, sob os rochedos sobranceiros? Depositastes a vossa confiança nas pedras da torrente, espalhastes e bebestes licores em sua honra, oferecestes sacrifícios. Depois disso como não se acender a minha indignação?" (Cap. LVII, vv. 3, 4, 5 e 6.)

Estas palavras são inequívocas e provam claramente que nesse tempo as evocações tinham por fim a adivinhação, ao mesmo tempo que constituíam comércio, associadas às práticas da magia e do sortilégio, acompanhadas até de sacrifícios humanos. Moisés tinha razão, portanto, proibindo tais coisas e afirmando que Deus as abominava.

Essas práticas supersticiosas perpetuaram-se até à Idade Média, mas hoje a razão predomina, ao mesmo tempo em que o Espiritismo veio mostrar o fim exclusivamente moral, consolador e religioso das relações de além-túmulo.

Uma vez, porém, que os espíritas não sacrificam criancinhas nem fazem libações para honrar deuses; uma vez que não interrogam astros, mortos e augures para adivinhar a verdade sabiamente velada aos homens; uma vez que repudiam traficar com a faculdade de comunicar com os Espíritos; uma vez que os não movem a curiosidade nem a cupidez, mas um sentimento de piedade, um desejo de instruir-se e melhorar-se, aliviando as almas sofredoras; uma vez que assim é, porque o é - a proibição de Moisés não lhes pode ser extensiva.

Se os que clamam injustamente contra os espíritas se aprofundassem mais no sentido das palavras bíblicas, reconheceriam que nada existe de análogo, nos princípios do Espiritismo, com o que se passava entre os hebreus. A verdade é que o Espiritismo condena tudo que motivou a interdição de Moisés; mas os seus adversários, no afã de encontrar argumentos com que rebatam as novas idéias, nem se apercebem de que tais argumentos são negativos, por serem completamente falsos.

A lei civil contemporânea pune todos os abusos que Moisés tinha em vista reprimir. Contudo, se ele pronunciou a pena última contra os delinqüentes, é porque lhe faleciam

meios brandos para governar um povo tão indisciplinado. Esta pena, ao demais, era muito prodigalizada na legislação moisaica, pois não havia muito onde escolher nos meios de repressão. Sem prisões nem casas de correção no deserto, Moisés não podia graduar a penalidade como se faz em nossos dias, além de que o seu povo não era de natureza a atemorizar-se com penas puramente disciplinares. Carecem portanto de razão os que se apóiam na severidade do castigo para provar o grau de culpabilidade da evocação dos mortos. Conviria, por consideração à lei de Moisés, manter a pena capital em todos os casos nos quais ele a prescrevia? Por que, então, reviver com tanta insistência este artigo, silenciando ao mesmo tempo o princípio do capítulo que proíbe aos sacerdotes a posse de bens terrenos e partilhar de qualquer herança, porque o Senhor é a sua própria herança? (Deuteronômio, cap. XXVIII, vv. 1 e 2.)

5. - Há duas partes distintas na lei de Moisés: a lei de Deus propriamente dita, promulgada sobre o Sinai, e a lei civil ou disciplinar, apropriada aos costumes e caráter do povo. Uma dessas leis é invariável, ao passo que a outra se modifica com o tempo, e a ninguém ocorre que possamos ser governados pelos mesmos meios por que o eram os judeus no deserto e tampouco que os capitulares de Carlos Magno se moldem à França do século XIX. Quem pensaria hoje, por exemplo, em reviver este artigo da lei moisaica: "Se um boi escornar um homem ou mulher, que disso morram, seja o boi apedrejado e ninguém coma de sua carne; mas o dono do boi será julgado inocente"? (Êxodo, cap. XXI, vv. 28 e seguintes.)

Este artigo, que nos parece tão absurdo, não tinha, no entanto, outro objetivo que o de punir o boi e inocentar o dono, equivalendo simplesmente à confiscação do animal, causa do acidente, para obrigar o proprietário a maior vigilância. A perda do boi era a punição que devia ser bem sensível para um povo de pastores, a ponto de dispensar outra qualquer; entretanto, essa perda a ninguém aproveitava, por ser proibido comer a carne. Outros artigos prescrevem o caso em que o proprietário é responsável.

Tudo tinha sua razão de ser na legislação de Moisés, uma vez que tudo ela prevê em seus mínimos detalhes, mas a forma, bem como o fundo, adaptavam-se às circunstâncias ocasionais. Se Moisés voltasse em nossos dias para legislar sobre uma nação civilizada, decerto não lhe daria um código igual ao dos hebreus.

6. - A esta objeção opõem a afirmativa de que todas as leis de Moisés foram ditadas em nome de Deus, assim como as do Sinai. Mas julgando-as todas de fonte divina, por que ao decálogo limitam os mandamentos? Qual a razão de ser da diferença? Pois não é certo que se todas essas leis emanam de Deus, deveriam todas ser igualmente obrigatórias? E por que não

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conservaram a circuncisão, à qual Jesus se submeteu e não aboliu? Ah! esquecem que, para dar autoridade às suas leis, todos os legisladores antigos lhes atribuíam uma origem divina. Pois bem: Moisés, mais que nenhum outro, tinha necessidade desse recurso, atento ao caráter do seu povo; e se, a despeito disso, ele teve dificuldade em se fazer obedecer, o que não sucederia se as leis fossem promulgadas em seu próprio nome!

Não veio Jesus modificar a lei moisaica, fazendo da sua lei o código dos cristãos? Não disse ele: - "Vós sabeis o que foi dito aos antigos, tal e tal coisa, e eu vos digo tal outra

coisa?" Entretanto, Jesus não proscreveu, antes sancionou a lei do Sinai, da qual toda a sua doutrina moral é um desdobramento. Ora, Jesus nunca aludiu em parte alguma à proibição de evocar os mortos, quando este era um assunto bastante grave para ser omitido nas suas prédicas, mormente tendo ele tratado de outros assuntos secundários.

7. - Finalmente, convém saber se a Igreja coloca a lei moisaica acima da evangélica, ou por outra, se é mais judia que cristã. Convém também notar que, de todas as religiões, precisamente a judia é que faz menos oposição ao Espiritismo, porquanto não invoca a lei de Moisés contrária às relações com os mortos, como fazem as seitas cristãs.

8. - Mas temos ainda outra contradição: - Se Moisés proibiu evocar os mortos, é que estes podiam vir, pois do contrário inútil fora a proibição. Ora, se os mortos podiam vir naqueles tempos, também o podem hoje; e se são Espíritos de mortos os que vêm, não são exclusivamente demônios. Demais, Moisés de modo algum fala nesses últimos.

É duplo, portanto, o motivo pelo qual não se pode aceitar logicamente a autoridade de Moisés na espécie, a saber: - primeiro, porque a sua lei não rege o Cristianismo; e, segundo, porque é imprópria aos costumes da nossa época. Mas, suponhamos que essa lei tem a plenitude da autoridade por alguns outorgada, e ainda assim ela não poderá, como vimos, aplicar-se ao Espiritismo. É verdade que a proibição de Moisés abrange a interrogação dos mortos, porém de modo secundário, como acessória às práticas da feitiçaria.

O próprio vocábulo interrogação, junto aos de adivinho e agoureiro, prova que entre os hebreus as evocações eram um meio de adivinhar; entretanto, os espíritas só evocam mortos para receber sábios conselhos e obter alívio em favor dos que sofrem, nunca para conseguir revelações ilícitas. Certo, se os hebreus usassem das comunicações como fazem os espíritas, longe de as proibir, Moisés acoroçoá-las-ia, porque o seu povo só teria que lucrar.

9. - É certo que alguns críticos jucundos ou mal-intencionados têm descrito as reuniões espíritas como assembléias de nigromantes ou feiticeiros, e os médiuns como astrólogos e ciganos, isto porque talvez quaisquer charlatães tenham afeiçoado tais nomes às suas práticas, que o Espiritismo não pode, aliás, aprovar.

Em compensação, há também muita gente que faz justiça e testemunha o caráter essencialmente moral e grave das reuniões sérias. Além disso, a Doutrina, em livros ao alcance de todo o mundo, protesta bem alto contra os abusos, para que a calúnia recaia sobre quem merece.

10. - A evocação, dizem, é uma falta de consideração para com os mortos, cujas cinzas devem ser respeitadas. Mas quem é que diz tal coisa? São os antagonistas de dois campos opostos, isto é, os incrédulos que nas almas não crêem, e os crédulos que pretendem que só os demônios, e não as almas, podem vir.

Quando a evocação é feita com recolhimento e religiosamente; quando os Espíritos são chamados, não por curiosidade, mas por um sentimento de afeição e simpatia, com desejo sincero de instrução e progresso, não vemos nada de irreverente em apelar-se para as pessoas mortas, como se fizera com os vivos. Há, contudo, uma outra resposta peremptória a essa objeção, é que os Espíritos se apresentam espontaneamente, sem constrangimento, muitas vezes mesmo sem que sejam chamados. Eles também dão testemunho da satisfação que experimentam por comunicar-se com os homens, e queixam-se às vezes do esquecimento em que os deixam. Se os Espíritos se perturbassem ou se agastassem com os nossos chamados, certo o diriam e não retornariam; porém, nessas evocações, livres como são, se se manifestam, é porque lhes convém.

11. - Ainda uma outra razão é alegada: - As almas permanecem na morada que a justiça divina lhes designa - o que equivale dizer no céu ou no inferno. Assim, as que estão no inferno, de lá não podem sair, posto que para tanto a mais ampla liberdade seja outorgada aos demônios. As do céu, inteiramente entregues à sua beatitude, estão muito superiores aos mortais para deles se ocuparem, e são bastantemente felizes para não voltarem a esta terra de misérias, no interesse de parentes e amigos que aqui deixassem. Então essas almas podem ser comparadas aos nababos que dos pobres desviam a vista com receio de perturbar a digestão? Mas se assim fora, essas almas se mostrariam pouco dignas da suprema bem-aventurança, transformando-se em padrão de egoísmo!

Restam ainda as almas do purgatório, porém, estas, sofredoras como devem ser, antes que de outra coisa, devem cuidar da sua salvação. Deste modo, não podendo nem umas nem outras almas corresponder ao nosso apelo, somente o demônio se apresenta em seu lugar.

Então é o caso de dizer: se as almas não podem vir, não há de que recear pela perturbação do seu repouso.

12. - Mas aqui reponta uma outra dificuldade. Se as almas bem-aventuradas não podem deixar a mansão gloriosa para socorrer os mortais, por que invoca a Igreja a assistência dos santos que devem fruir ainda maior soma de beatitude? Por que aconselha invocá-los em casos de moléstia, de aflição, de flagelos? Por que razão e segundo essa mesma Igreja os santos e a própria Virgem aparecem aos homens e fazem milagres? Estes deixam o céu para baixar à Terra;

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entretanto, os que estão menos elevados não o podem fazer!

13. - Que os cépticos neguem a manifestação das almas, vá, visto que nelas não acreditam; mas o que se torna estranhável é ver encarniçar-se contra os meios de provar a sua existência, esforçando-se por demonstrar a impossibilidade desses meios, aqueles mesmos cujas crenças repousam na existência e no futuro das almas! Parece que seria mais natural acolherem como benefício da Providência os meios de confundir os cépticos com provas irrecusáveis, pois que são os negadores da própria religião. Os que têm interesse na existência da alma deploram constantemente a avalancha da incredulidade que invade, dizimando o rebanho de fiéis: entretanto, quando se lhes apresenta o meio mais poderoso de combatê-la, recusam-no com tanta ou mais obstinação que os próprios incrédulos. Depois, quando as provas avultam de modo a não deixar dúvidas, eis que procuram como recurso de supremo argumento a interdição do assunto, buscando, para justificá-la, um artigo da lei moisaica do qual ninguém cogitara, emprestando-lhe, à força, um sentido e aplicação inexistentes. E tão felizes se julgam com a descoberta, que não percebem que esse artigo é ainda uma justificativa da Doutrina Espírita.

14. - Todas as razões alegadas para condenar as relações com os Espíritos não resistem a um exame sério. Pelo ardor com que se combate nesse sentido é fácil deduzir o grande interesse ligado ao assunto. Daí a insistência. Em vendo esta cruzada de todos os cultos contra as manifestações, dir-se-ia que delas se atemorizam.

O verdadeiro motivo poderia bem ser o receio de que os Espíritos muito esclarecidos viessem instruir os homens sobre pontos que se pretende obscurecer, dando-lhes conhecimento, ao mesmo tempo, da certeza de um outro mundo, a par das verdadeiras condições para nele serem felizes ou desgraçados. A razão deve ser a mesma por que se diz à criança: - "Não vá lá, que há lobisomens." Ao homem dizem: - "Não chameis os Espíritos: - São o diabo." - Não importa, porém: - impedem os homens de os evocar, mas não poderão impedi-los de vir aos homens para levantar a lâmpada de sob o alqueire.

O culto que estiver com a verdade absoluta nada terá que temer da luz, pois a luz faz brilhar a verdade e o demônio nada pode contra esta.

15. - Repelir as comunicações de além-túmulo é repudiar o meio mais poderoso de instruir-se, já pela iniciação nos conhecimentos da vida futura, já pelos exemplos que tais comunicações nos fornecem. A experiência nos ensina, além disso, o bem que podemos fazer, desviando do mal os Espíritos imperfeitos, ajudando os que sofrem a desprenderem-se da matéria e a se aperfeiçoarem. Interdizer as comunicações é, portanto, privar as almas sofredoras da assistência que lhes podemos e devemos dispensar.

As seguintes palavras de um Espírito resumem admiravelmente as conseqüências da evocação, quando praticada com fim caritativo:

"Todo Espírito sofredor e desolado vos contará a causa da sua queda, os desvarios que o perderam. Esperanças, combates e terrores; remorsos, desesperos e dores, tudo vos dirá, mostrando Deus justamente irritado a punir o culpado com toda a severidade. Ao ouvi-lo, dois sentimentos vos acometerão: o da compaixão e o do temor! Compaixão por ele, temor por vós mesmos. E se o seguirdes nos seus queixumes, vereis então que Deus jamais o perde de vista, esperando o pecador arrependido e estendendo-lhe os braços logo que procure regenerar-se. Do culpado vereis, enfim, os progressos benéficos para os quais tereis a felicidade e a glória de contribuir, com a solicitude e o carinho do cirurgião acompanhando a cicatrização da ferida que pensa diariamente." (Bordéus, 1861.)

(KARDEC, 1995, pp. 155-165).

O texto de Kardec é claro por demais, não necessitando, portanto, de nossa parte, de

nenhum comentário adicional.

O contato dos católicos com os mortos

Ao liberar os relatos de aparições e manifestações, a Igreja Católica, mesmo que não tenha sido essa a sua intenção, e, talvez, nem seja do agrado de seus líderes, acabou abrindo

espaço para que tais fenômenos viessem a público. Acreditamos que alguns deles vão se arder

por conta disso. São os ortodoxos que não abrem mão das tradições antigas, vivem num

mundo da lua, sem qualquer sintonia com os tempos modernos de liberdade de expressão e pensamento. Esses, certamente, são os que dariam tudo para restabelecer os tempos negros

da Inquisição, pois se sentiriam felizes em ver as pessoas, que não pensam como eles,

provando, ainda no plano físico, do gostinho do inferno, nas chamas da intolerância. Oh!

desculpe-nos, da fogueira! Ora, é tudo a mesma coisa! Transcrevemos, para conhecimento do nosso leitor, essa declaração constante da

Edições Boa Nova, uma publicação portuguesa de fonte católica:

Depois de terem sido ab-rogados os cânones 1399 e 2318 do C.D.C., mercê da intervenção de Paulo VI em AAS 58 (1966) 1186, os escritos referentes a novas aparições, manifestações, milagres, etc., podem ser espalhados e lidos pelos fiéis, mesmo sem licença expressa da autoridade eclesiástica, contanto que se observe a moral cristã em geral. (LINDMAYR, 2003, p. 4).

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1º Caso – Maria-Ana Lindmayr (1657-1726)

O primeiro caso que iremos apresentar é de Maria-Ana Lindmayr, carmelita descalça do Convento da Trindade, em Munique (Alemanha). Ela, ao longo de suas experiências, foi

escrevendo um diário, no qual relatava o seu contato com as almas do purgatório. Segundo o

que consta desse livro, ela possuía o dom da profecia.

Suas palavras:

Para fortificar a minha alma, aprendi por experiências que força há no Nome de Jesus. Deus seja louvado por me ter assim fortificado e a tal ponto instruído, fazendo-me muitíssimas vezes experimentar como é importante pronunciar o Santíssimo Nome de Jesus com uma grande confiança. Por este Nome Santíssimo, eu mesma beneficiei de um auxílio especial, na presença dos maus espíritos que tantas vezes me atacavam visivelmente, olhando-me como se fossem fazer-me em

pedaços. Quando pronunciava o Santíssimo Nome de Jesus, eles punham-se logo em fuga. (LINDMAYR, 2003, pp. 10-11). (grifo nosso).

Observamos que a nobre freira era alvo de espíritos obsessores que lhe queriam mal;

contudo, como era muito fervorosa, conseguia afastá-los apenas pronunciando o nome de

Jesus. Isso prova que a fé é um elemento substancial para nos livrarmos das ações desses espíritos ignorantes que ainda se comprazem na prática da maldade. Nada de novo em relação

ao que acontece por todos os lados, mas que, infelizmente, somente os Espíritas parecem ser

os únicos acordados para tais ocorrências. Quantas pessoas não foram tomadas como loucas,

quando, na verdade, apenas estavam subjugadas por espíritos maus? Infelizmente, a ignorância sobre esses fenômenos fazia com que se relacionassem tais casos à perda de juízo

da pessoa que sofria as suas nefastas influências.

Nas experiências, dizia Maria-Ana, que passava períodos de êxtase, dos quais havia três

espécies. Conta-nos:

No princípio, quando ainda não tinha nenhuma experiência destas três espécies de êxtases, preparava-me para a morte. No decurso destes êxtases, recebi a garantia (e a experiência ensinou-mo) de que o espírito ou a alma saía completamente do corpo e abandonava-o completamente. Este êxtase produziu sempre, como conseqüência, uma tal força,

que me é impossível descrevê-la... mas o corpo é que ficava mais fortemente surpreendido, quando a alma volta a entrar nele. Muitas vezes, durante três dias, eu não podia aquecer-me; os meus membros estavam tão adormecidos, e inutilizados, como os de um corpo morto”. (LINDMAYR, 2003, p. 15). (grifo nosso).

Não é outra coisa senão aquilo que denominamos de desdobramento, fenômeno pelo

qual o espírito se afasta do corpo, mas ainda não completamente desligado dele, e entra na dimensão espiritual, onde passa a viver temporariamente enquanto durar essa situação.

Kardec o chamou de emancipação da alma. Nessa situação, pode o corpo ficar totalmente

enrijecido, mantendo-se numa atividade mínima que lhe permite conservar-se vivo. Durante o

período do sono, é comum passarmos por isso; o grande problema é termos a consciência

dele. Inclusive, diga-se de passagem, que Lindmayr os comparava a essa fala de Paulo: “Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos – ignoro se no corpo ou fora dele, Deus o

sabe -, foi arrebatado até o terceiro céu” (2Cor 12,2).

No caso dessa freira, veja o que ela fez: “pedi ao Senhor que me fizesse perceber o

desenrolar do êxtase, mantendo-me o pleno uso da minha razão,... Esta graça foi-me concedida...”. (LINDMAYR, 2003, p. 16). Tal fato, que acontece com muitas pessoas, é

conhecido como desdobramento consciente, pois a pessoa, sabe e retém na memória os fatos

acontecidos na dimensão espiritual, durante o período em que ela lá permaneceu.

E deste modo, já alguns anos antes que Deus Se dignasse conceder-me a graça de comunicar com as ALMAS DO PURGATÓRIO, eu lhes fui dando testemunho ou prova da minha afeição por elas. Aprendi muito com esta prática das virtudes, e precisamente porque as próprias almas me avisavam e aconselhavam com todo o cuidado, não caía facilmente numa falta. Mas, em tudo isso, eu não pensava em nenhuma outra coisa e muito menos ainda eu

poderia sonhar com libertar assim as ALMAS DO PURGATÓRIO. (LINDMAYR, 2003, p. 27). (grifo nosso).

Não muito diferente do que acontece nas casas espíritas, onde os médiuns, em contato

com os espíritos, aprendem com eles, e a alguns deles, dependendo da condição evolutiva em

que se encontram, transmitem-lhes seus conselhos, exortando-os à prática das virtudes e do

bem. Não raro podem, os medianeiros, pela dedicação e amor aos espíritos, libertá-los de suas prisões mentais, proporcionando-lhes a luz do entendimento, para que continuem a sua

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caminhada evolutiva em busca da LUZ PLENA. Observe, caro leitor, que Maria-Ana considerou uma graça a possibilidade de

comunicar-se com os mortos; entretanto os que nunca passaram por uma experiência desse

tipo, dizem coisas absurdas, até mesmo atribuindo-as como sendo demoníacas. A quem

assiste a razão? Nem precisa responder, tão óbvia é a resposta. Contando como tudo começou, diz ela:

Há já alguns anos que eu recebo, da parte das ALMAS DO PURGATÓRIO, muitos avisos e isso de diversos modos, isto é, na medida em que eu mesma progrido na prática das virtudes. Sempre pedi a Deus que me libertasse de tais manifestações, com receio de que o Maligno se intrometesse nelas e assim me enganasse. (LINDMAYR, 2003, p. 28). (grifo nosso).

O sentimento da freira é o mesmo de tantos que são médiuns sem o saberem e que muito menos conhecimento possuem do fenômeno, situação que os leva a sofrer as influências

dos espíritos, muitas das vezes, maus; outras, dos viciados de ordem geral (sexo, bebida,

prazeres, etc). Por temor, fruto do desconhecimento, pedem a Deus que lhes retirem tal

“dom”, como se isso fosse possível. Quantos, no início do afloramento de sua mediunidade, não foram confundidos como tomados de possessão demoníaca... Infelizmente, a ignorância

tem mantido a idéia de que não se pode utilizar-se de tais dons, o que impede de se levar

ajuda a muitos espíritos, para que encontrem o seu caminho, de um lado, e, de outro, o

restabelecimento emocional do próprio médium. Seu primeiro contato:

As minhas relações mais estreitas com as ALMAS DO PURGATÓRIO começaram pouco depois da morte de meu pai. Uma jovem, Maria Pecher, deu-me a entender que tinha uma grande confiança em mim e desejava falar-me. Mas como ela era doente, não podia vir a minha casa. Até então, eu não tinha ainda tido qualquer relação amistosa com ela, mas soube que ela queria, já antes, encontrar-se comigo, e que tinha então sido impedida de o fazer por sua mãe, com medo de que eu viesse a meter a sua filha em beatices ou na vida religiosa. Depois da morte de sua mãe, Maria Pecher continuou a comportar-se de uma forma exemplar e digna de elogio, uma ótima jovem. Estava então noiva de um jovem de nome Hufnagel.

Tive de escusar-me, alegando que não podia sair de casa, antes que as cerimônias religiosas pela alma de meu pai tivessem sido celebradas, mas prometi-lhe ir nessa mesma semana. Ora, justamente na festa de Santa Catarina, virgem (25 de novembro), um sábado, fui ver essa jovem, na sua casa. Ela falou-me com toda a franqueza, pediu-me que rezasse por ela, para que pudesse morrer virgem. Passados dois dias, depois de ter posto em ordem todos os seus assuntos e de ter feito tudo quanto era necessário a um feliz fim, morreu, no dia 28 de novembro de 1690. Fiquei espantada com esta rápida morte e o Maligno sujeitou-me a verdadeiras angústias, como se eu tivesse rezado realmente para que ela morresse. Por isso, fiquei mesmo contente pelo fato de ninguém ter sabido daquilo que nós tínhamos dito uma à outra. Eu não tinha a menor idéia de que ela viria a minha casa, depois de sua morte. Mas bem depressa vários sinais me fizeram perceber a sua presença. Todavia, como não tinha experiência alguma de tais fenômenos, e muito menos os poderia imaginar, pouco auxílio conseguiu obter de mim.

Alguns dias mais tarde, no dia 1º de dezembro, uma sexta-feira, enquanto eu fazia as minhas orações da noite, diante do meu quadro da Santíssima Virgem, foi-me dito, em alta voz: “Reza por mim!”. Foi como se tivesse ouvido um cântico fúnebre. Depois, arejou-me o rosto com

um vento frio e puxou-me pelo hábito. Seguidamente, quando andava de noite com uma lanterna, via como que uma sombra, a caminhar diante de mim. Mas verdade é que, apesar de tudo isto, eu não pensava em coisa alguma de especial. (LINDMAYR, 2003, pp. 28-30). (grifo nosso).

Uma observação se faz necessária: é que o espírito se manifestou sem ter sido

evocado, provando, peremptoriamente, que as manifestações só acontecem mesmo porque

Deus as permite. A tão alegada proibição bíblica, tomada à conta de divina é, na realidade, fruto da observação de Moisés, quando via, na prática da necromancia, que era a evocação

dos mortos para fins de adivinhação, um completo desrespeito aos mortos. Isto também é

proibido no âmbito do Espiritismo, conforme nos orientou o codificador: “A verdade é que o

Espiritismo condena tudo que motivou a interdição de Moisés;...”. (KARDEC, 1995, p. 159). Reforça também a famosa frase de Chico Xavier: “o telefone toca de lá para cá”.

A primeira visita:

Por fim, no dia da festa da Imaculada Conceição (8 de Dezembro de 1690), eis o que me aconteceu: tinha por costume, em todas as festas da Santíssima Virgem, sempre que não estava doente, assistir à Missa das 4 horas ou das 4,30, na nossa capela da Santíssima Virgem. Inteiramente só, pelo caminho, munida de uma pequena lanterna, ia apressadamente à Missa. No meio da rua chamada ”Allée des Carmes”, vi diante de mim uma pessoa vestida de branco. Tinha a estatura e talha de Maria Pecher. Eu não pensava em nada de especial e seguramente

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por isso mesmo não senti pavor algum. Esta forma branca vai à minha frente ao longo de toda a caminhada de que já falei, ao longo das ruas e até à igreja dos jesuítas. Mas aí mesmo,

quando quis ver exatamente o que era, não pude descobrir ninguém. Apenas o consegui depois, uma vez na capela, quando me veio à mente quem tinha

caminhado diante de mim e tive então o conhecimento interior disso mesmo. Mais tarde, Maria fez-se uma vez mais reconhecer também de noite. E criei por ela uma terna afeição e, na minha oração da noite, diante do quadro da Santíssima Virgem, perguntei com uma grande confiança, se era para glória de Deus e salvação desta alma que ela vinha e se dava a conhecer, a fim de que não fosse enganada.

Ora, esta mesma noite, à meia-noite, uma alma apresentou-se. Era como se alguém me calcasse o pé com um dedo ardente, como uma agulha no fogo. Era tão doloroso como se

uma perna se me tivesse partido. Levantei-me imediatamente e dirigi-me para o meu altar. Ali, Deus levou-me, por três horas, a um estado tal, que não era senhora de mim, sem que, no entanto, tivesse perdido os sentidos. Tinha verdadeiramente de acautelar-me. Foi-me claramente mostrado o que faltava a esta minha alma. Foi-me mostrado também que tinha sido chamada

no estado de virgindade e que o único motivo pelo qual o Senhor a tinha levado para Si tão depressa, era o fato de ser noiva. Ora, ela devia morrer virgem. Jamais teria podido imaginar que o Além se poderia mostrar tão severo. Não, ninguém seria capaz de o compreender. Mas eu fui afinal instruída por esta alma e, deste modo, pude seguidamente acreditar em coisas que, de outra forma, jamais teria acreditado. Eu não me tinha enganado: a sua mãe, que veio no dia seguinte, deu-me uma sua confirmação tangível. Ela queimou-me ainda muito mais fortemente.

Tive também de passar três horas em oração, junto dela, e notar o que lhe faltava. Foi-me então manifestado que a mamã Pecher havia também ela morrido tão depressa unicamente porque tudo tinha feito para impedir a sua filha de abraçar o estado religioso. Era também por este motivo que ela tinha de sofrer muito no Purgatório. Esta alma indicou-me também muitas outras faltas que tinha cometido, comendo e bebendo boas coisas, sem que se tenha querido moderar. Porque não gostava de dar esmolas, durante a sua vida, ela disse-me que seu marido, ainda vivo (morreu apenas em 15 de Junho de 1700), me enviaria um pouco de dinheiro, que eu deveria distribuir pelos pobres da região. E de fato, o dinheiro foi-me entregue. Esta alma custou-me muito. Tive também de jejuar por ela a pão e água. Quatro semanas mais tarde, ainda eu via as marcas dessas queimaduras, porque a forma da mão e do dedo com que esta alma me tinha tocado o pé ainda continuavam visíveis. Quanto mais consolação eu experimentava ou sentia com estas aparições, tanto mais estas almas me custavam. Logo que ofereci todas as satisfações ou reparações por elas, a mãe e a filha vieram uma vez mais ao meu quarto, no dia 13 de Dezembro de 1690, dia da festa de Santa Luzia, virgem e mártir. Ressoou um belíssimo canto, tirado do Salmo.

“Que alegria, quando me disseram: vamos para a casa do Senhor!”.

Isso encheu-me de uma alegria, que jamais serei capaz de descrever. (LINDMAYR, 2003, pp. 31-33). (grifo nosso).

O importante aqui é registrar as queimaduras provocadas no corpo da freira pelo

contato desse espírito. Fatos como esse, mas em objetos, poderão ser vistos no Museu do Santo Sufrágio em Roma, assunto que iremos falar mais à frente. Ao que tudo indica, estamos

diante de fenômenos de efeitos físicos, comuns outrora, mas hoje são raros, não sabemos por

qual motivo. Digna, também, é a informação de que o espírito lhe passou informações para

que acreditasse no que lhe estava acontecendo.

Deus deu-me também muitas luzes a respeito das almas dos que viveram e morreram no luteranismo. Um grandíssimo número delas não são reprovadas e vão mesmo para a Bem-Aventurança eterna, porque não tiveram suficiente compreensão do seu erro ou foram completamente inocentes. (LINDMAYR, 2003, p. 48). (grifo nosso).

Fantástica a confirmação de que Deus não faz mesmo acepção de pessoas. A freira

católica comprova isso ao ver algumas almas, que “morreram no luteranismo”, indo para a bem-aventurança eterna, dando a explicação: “porque não tiveram suficiente compreensão do

seu erro” (aqui reflete o pensamento eclesiástico de que só quem está na Igreja Católica é que

se salva) “ou foram completamente inocentes” (quer dizer sem pecado, ainda no conceito

Católico).

As pobres almas mostraram-me que, no outro mundo, tudo está calculado com uma exatidão absoluta e que, nesta vida, dificilmente se pode fazer uma idéia perfeita dessa

duração... A permanência no Purgatório dura muitas vezes algumas centenas de anos. Tudo isso me fez ver como é grande a ofensa feita a Deus pelo pecado e que tudo quanto não foi expiado nesta vida o deve ser na outra. (LINDMAYR, 2003, p. 51). (grifo nosso).

Embora agindo dentro dos padrões católicos, e nem poderíamos esperar algo diferente,

é certo que “tudo quanto não foi expiado nesta vida o deve ser na outra”, confirmando que não há “perdão”, puro e simples, mas pagamento, exatamente o que disse Jesus: “... a cada

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um segundo suas obras” (Mt 16,27) e “... dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo” (Mt 5,26).

As pobres Almas do Purgatório fizeram-me ver que no outro mundo tudo é tão exatamente contado e examinado, que quase se não pode fazer uma idéia disso mesmo, nesta vida, e que no Além tudo veremos de uma forma absolutamente diferente daquela que poderemos imaginar neste mundo. (LINDMAYR, 2003, p. 54). (grifo nosso).

São quase que as mesmas palavras dos Espíritos Superiores, prepostos de Jesus, que disseram que nossa percepção no plano espiritual realmente irá mudar. Na condição de

espíritos a nossa visão se amplia, de tal forma que perceberemos muitas coisas de um jeito

bem mais claro do que imaginávamos aqui, quando encarnados, e acontecerá, certamente,

que muitas outras nem sonhávamos existir. Apareceram-lhe vários sacerdotes e bispos; sobre um deles a freira disse:

A este respeito, foi-me dada uma bem maravilhosa comparação. Vi, ao lado deste sacerdote, uma lâmpada. Uma lâmpada ordinária. Estava toda suja, cheia de gotas de sebo e não havia no interior mais que um pequeno coto de vela. E foi-me dito: “A lâmpada é a imagem da alma e do corpo. A alma deve dar o bom exemplo e iluminar, como uma luz. O corpo, em que habita a alma, deve dirigir-se segundo a alma; é necessário que não seja uma lâmpada suja, a fim de que a luz ilumine a lâmpada e a lâmpada seja para a luz um ornamento. Eu devia interrogar-me se colocaríamos uma lâmpada assim tão suja, sobre a mesa, diante de um homem todo limpinho e respeitável. E foi-me dito: “Tal como se não metem belas velas de cera branca numa lanterna ordinária e suja de cozinha, assim Deus já não dá a Sua Graça a um homem que, colocando no candelabro, deveria iluminar, mas que já não dá luz, já não dá bom exemplo. É antes uma pequenina e má luz, pronta a apagar-se, aquilo que convém a uma lanterna deste gênero. (LINDMAYR, 2003, p. 67). (grifo nosso).

Jesus já alertara de que “a quem muito foi dado, muito será exigido” (Lc 12,48). Se os líderes meditassem mesmo na missão que lhes cabe em conduzir os fiéis à verdade, deixariam

o egoísmo e o orgulho de lado, assumiriam de vez a sua condição de cristãos, informando-os

desses fatos. Aos infratores da Lei, não importa quem, será exigida a prestação de contas; aos

líderes que muito sabiam, mais ainda.

No dia 19 de Outubro de 1716, festa de São Pedro de Alcântara, indo à igreja, à noite, para rezar o Ângelus, vi uma figura a caminhar à minha frente. Era como que uma sombra de uma

brancura de neve e de grande estatura. Recomendei a sua alma a meu Bem-Amado. No dia 21 de Outubro, chegou-me a notícia da morte de meu antigo confessor, o Padre Inácio Wagner, S.J.,

falecido no dia 15 de Outubro, em Regensbourg. Este confessor tinha-me dito outrora, para que eu pudesse dormir sem ser incomodada

pelas ALMAS DO PURGATORIO e assim pudesse descansar melhor, que, das 8 horas da noite às 4 horas da manhã, nenhuma ALMA DO PURGATÓRIO deveria apresentar-se em minha casa. Quando eu perguntei a esta alma por que razão ela se não havia feito anunciar mais cedo, ela respondeu-me: “Minha querida filha, eu não pude manifestar-me mais cedo porque Deus queria que a notícia da minha morte te não chegasse senão pelos homens. Como isso já aconteceu, eu posso já fazer-me reconhecer por ti e falar-te. Minha filha! Só agora eu vejo o que significa estar no Purgatório. Anuncio-te que a minha proibição feita às ALMAS DO PURGATÓRIO, de se apresentarem em tua casa, de noite, não tem valor algum. Di-lo ao Padre Provincial e ao teu confessor. Minha querida filha, quanto eu gostaria de vir, mesmo durante a noite, se isso me não tivesse sido proibido, por causa dessa minha proibição. Ah! Que nos seja, pois, consenti vir de novo a tua casa, porque o próprio Deus o permite e só a obediência aos homens aqui está posta em causa. Eu não pensei que agi mal, fazendo-te uma tal proibição, e as almas sofredoras mostraram-se obedientes.

Mas quanto as penas do Purgatório são pesadas, isso só o sabem aqueles que as experimentaram”.

E eu disse a esta alma: “Em que posso eu, pobre como sou, prestar-te algum auxílio?” A alma disse-me: “Minha filha, como acontece aí, convosco, na terra? Acaso não

gostam as pessoas de estar com os seus amigos e benfeitores? Pois dessa mesma forma eu gosto de estar contigo”. (LINDMAYR, 2003, pp. 79-80). (grifo nosso).

Aqui se confirma o que foi informado pelas almas do purgatório, ou seja, que a visão da pessoa muda, quando ela passa para o mundo espiritual. O seu confessor, que antes proibia o

contato com as almas, vem, do mundo espiritual, dizer que estava enganado. Vai mais longe

ainda, quando disse que essas coisas só acontecem “porque o próprio Deus o permite”,

derrubando toda e qualquer citação bíblica contrária; para nós de Moisés, para os fanáticos de Deus. E o próprio Moisés, depois de morto, também muda de opinião, pois aparece a Jesus e a

três de seus discípulos (Lc 9,29-36). Assim, o padre confessor vem por os pingos nos is,

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colocando tudo no devido lugar. Se os fundamentalistas tivessem a coragem de ler isso, será que mudariam de opinião? Como se diz popularmente: “sei não...”.

Na condição de espírito, reconheceu humildemente, o padre-confessor, que a proibição

que fizera, de as almas não se apresentarem à freira, não tinha valor algum; obviamente

porque passou a ter conhecimento de que ele não tinha esse poder, que somente a Deus pertence. A explicação que ele deu para estar junto à freira (ao final do trecho acima) é muito

interessante; merece reflexão profunda dos contrários às comunicações com os mortos: “... se

nós gostamos de estar junto aos amigos, por que os mortos também não gostariam?”

Perguntamos, por nossa vez: seria uma coisa má deixar que isso acontecesse? Se tivermos um Deus de amor, certamente, que deixará isso acontecer, pois tal atitude revelará o seu amor

por nós. O nosso Deus é assim; e o seu, caro leitor, como é?...

Nenhum período da minha vida foi mais feliz e mais cheio de graças do que o tempo que eu passei com e pelas ALMAS DO PURGATÓRIO. Aprendi também que, amando as ALMAS DO PURGATÓRIO, se dá a Deus o maior prazer, porque estas Almas O têm muito a

peito e O amam de verdade, mas são também as mais pobres e não podem já conseguir em nada o mais pequeno alívio para elas próprias. O próprio Deus as não pode já ajudar a elas, por mais forte que seja o Seu amor por elas, porque, pelas faltas cometidas durante a sua vida, elas caíram sob o golpe da Justiça Divina. Então, não é já o tempo da graça, mas o da estrita

justiça. (LINDMAYR, 2003, p. 94).

Os que acreditam que se comunicar com os mortos é “algo abominável a Deus” ficarão

sem saída para explicar como uma coisa dessa natureza venha fazer feliz uma pessoa que

passou a vida se dedicando às coisas de Deus, como é o caso dessa freira.

Se as que foram para o lado de lá não podem ser ajudadas por Deus, porquanto, caíram “sob o golpe da justiça Divina”, por que então se crê no perdão puro e simples de

nossas faltas, que, de igual modo como as das nossas almas, são cometidas quando estamos

vivos?

2º Caso: Eugênia von der Leyen (1867-1929)

Informa-nos Arnold Guillet, editor do livro Conversando com as Almas do Purgatório, que Eugênia era uma princesa da dinastia germânica dos “von der Leyen”, do lado materno, da

estirpe dos Thyurn e Taxis, de cuja família o papa Pio XII foi amigo íntimo, e que, no período

de 1921 a 1929, teve contato com as almas do purgatório, apresentando o pároco Sebastião

Wieser, seu diretor espiritual, que testemunha:

Conheci a vidente nos últimos doze anos de sua vida e todos os dias eu ficava ciente dos acontecimentos que se davam com ela e das aparições que lhe surgiam... A vidente levava

uma vida santa; sua caridade não conhecia limites; era prestativa e sempre solícita em ajudar a quem quer que fosse. Era querida por Deus e pelos homens. É verdade que levei a princesa a

anotar os fatos que com ela aconteciam; declaro, porém, sob palavra de honra, que nunca, em ocasião alguma, lhe sugeri qualquer opinião minha. Responsabilizo-me, pela veracidade de seu diário, que é totalmente digno de fé... (VON DER LEYEN, 1994, p. 7).

Aqui, temos um padre atestando, sem o mínimo constrangimento, que os fatos são

verdadeiros; isso é importante, pois, muitas vezes, os que ficam preocupados em ter as

provas científicas dos fenômenos, se esquecem de que o testemunho de pessoas idôneas deve também ser levado em conta. Nos outros casos que citamos, isso também acontece, ou seja, a

própria liderança religiosa afirma da veracidade dos fenômenos.

A informação que o pároco nos dá de que Eugênia “era querida por Deus”, nos remete à

questão sempre levantada por alguns fundamentalistas, de que a comunicação com os mortos é coisa abominável a Deus. Se fosse, como uma pessoa que estava em contato com as almas

“do outro mundo” poderia ser querida por Deus, conforme atesta o seu pároco? Aliás, como

em todos os casos aqui citados, as aparições desses espíritos sempre se iniciavam sem que

nenhuma das pessoas envolvidas, por algum ato de vontade própria, as tivessem provocado,

confirmando, portanto, que as coisas só acontecem com a permissão e por vontade de Deus. Por que, nesses casos, são almas do purgatório e as que aparecem aos espíritas são os

demônios? Por qual privilégio e desgraça isso se dá?

Eugênia von der Leyen teve de levar uma vida opressiva entre dois mundos, tão pesada que lhe comprimia o coração. Unicamente o pequeno príncipe herdeiro Wolfram e os animais domésticos viram algumas de suas aparições, e mais ninguém. E com ninguém podia conversar sobre esses assuntos, a não ser com seu diretor espiritual. Deve ter sido para essa

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mulher algo de obscuro e confuso: uma invasão do sobrenatural que só foi possível por especial permissão de Deus. Algo tão espantoso, que não se compara com banalidades,... O contato com o Além é incomparavelmente mais profundo, pois fica ligado, por assim dizer, a

uma corrente de alta tensão, impossível de ser suportado, até fisicamente, por qualquer criatura. Só graças especiais de Deus podem sustentar uma tal sobrecarga do Além, sem

conseqüências letais para o ente que a recebe. (VON DER LEYEN, 1994, p. 17).

Realmente para uma pessoa que não tem conhecimento nenhum do plano espiritual a coisa pode se complicar. Quantos não foram taxados de loucos por conta disso? Sabemos que

os animais, algumas vezes, percebem os espíritos, fato confirmado aqui.

As pessoas que podem receber essa “sobrecarga do Além”, nós as denominamos

simplesmente de médiuns.

Dizem que em tempos passados reinava entre o povo uma forte crença em aparições de espíritos. Pois bem, tal crença, antigamente, era geral em toda parte e entre todos os povos. A parapsicologia tem demonstrado, por meio de provas, que tal crença tem razão de ser;

baseia-se em fatos reais. (VON DER LEYEN, 1994, p. 19).

Mas é exatamente isso que estamos falando o tempo todo. O que nos causa estranheza

é que os contrários são, invariavelmente, os que não estudam e nem pesquisam nada; por

isso, ficam presos aos dogmas teológicos de antanho, que foram impostos a ferro e fogo. E para finalizar as colocações do editor Arnold Guillet, citaremos apenas mais duas

coisas do que ele disse. A primeira diz respeito ao que apresenta como autenticidade da

atuação divina desses casos:

Na sexta-feira santa de 1949, morria em Gerlachscheim, Baden, após 68 anos de sofrimentos expiatórios pelas Almas do Purgatório, com a idade de 86 anos, Margarete Schäffner. Como escreve o professor Georg Seigmund, ela pedira “a Deus um sinal de que ela não era vítima de um engano, de sua própria fantasia ou de um logro diabólico. Apareceram-lhe então, duas vezes, Almas do Purgatório, que deixaram gravada num pano a marca dos dedos da mão, que parece ter estado em fogo, fornecendo, pois, um sinal visível que ela havia pedido. O Ordinariato de Freiburg exigiu e recebeu para exame aqueles panos...” (VON

DER LEYEN, 1994, p. 29). (grifo nosso).

A segunda é como essas coisas são vistas pelo público, culpando os pregadores por não

o esclarecer sobre isso:

Seremos tolos, se não nos convencermos destas verdades. Se os nossos pregadores, em vez de se dedicarem tanto à psicologia e a obras sociais, dissessem aos homens as verdades sobre as Almas do Purgatório e sobre as outras grandes realidades da religião, em breve, as nossas igrejas vazias se encheriam de fiéis, ávidos de ouvirem e meditarem sobre essas verdades, ao invés de reduzidas, como se encontram hoje, a uma existência meramente museulógica. ((VON DER LEYEN, 1994, p. 33). (grifo nosso).

Agora, iremos transcrever um trecho da fala do Dr. Peter Gehring, prefaciador desse livro com o diário de Eugênia:

Sabe-se, no entanto, que os mortos continuam a viver no Além. A experiência dá testemunho de que os falecidos continuam vivos. Nunca se ignorou que os seres humanos têm uma vida eterna e pode-se dizer que as relações com os mortos não se trata de uma crença, mas de um saber, de conhecimentos de todos os povos e de todas as comunidades tribais.

(VON DER LEYEN, 1994, p.40). (grifo nosso).

E ainda há os teimosos que querem negar tudo. Infelizmente, também encontramos os

que sabem de tudo e preferem esconder do povo, cujos interesses próprios sobressaem à

mensagem de conforto e consolação que deveriam proporcionar, pela função que exercem,

junto a seus fiéis. Cabe-nos aqui provar que o Dr. Peter Gehring está coberto de razão, porquanto, a

relação com os mortos é de conhecimento de todos os povos. Traremos uma informação

obtida de um documento escrito no ano de 1319 a.C. Transcrevemos do artigo de Paulo

Henrique, editor da Revista Universo Espírita:

Há 4 mil anos, o sumo sacerdote de Amon, a mais importante autoridade a serviço do faraó Mentuhotep II do Egito, estava preocupado com uma influência espiritual que o afligia. Mas ele estava determinado a, quando chegasse à noite em sua casa, resolver essa questão. Para os

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egípcios, os mortos podiam interferir em suas vidas. Depois de dar as ordens aos servos e cuidar de sua higiene, subiu ao terraço de sua

luxuosa residência e estendeu suas mãos para o céu estrelado fazendo uma evocação, pedindo auxílio dos Espíritos protetores: “Invoco os deuses do céu, os deuses da Terra, os do Sul, os do Norte, os do Ocidente, os do Oriente, os deuses do outro mundo”; então fez a eles um pedido: “Fazei com que venha até mim o Espírito”.

O Espírito veio, e lhe disse: “Eu sou aquele que vem para dormir em seu túmulo”. O sumo sacerdote de Amon pediu que o Espírito se identificasse para que pudesse

oferecer um sacrifício no nome dele, trazendo-lhe, assim, a paz. O Espírito respondeu: “Meu nome é Niutbusemekh, meu pai é Ankhmen e minha mãe é Taemchas”.

O sumo sacerdote então afirmou: “Diz-me o que desejas e farei com que isso se cumpra para ti. Não se preocupe, pois vou ajudá-lo. Meu coração ficará agitado com o Nilo... Não vou te abandonar, se fosse essa minha intenção não teria me ocupado com este assunto”.

O Espírito respondeu firme: “Chega de palavras”. Khonsuemheb, o experiente e poderoso sacerdote, com prestígio apenas superado pelo

faraó, sentou-se a chorar ao lado do Espírito, e disse-lhe: “Ficarei então aqui sem comer e sem beber, as trevas cairão sobre mim cada dia, não sairei daqui”.

O Espírito conta então, sua história: “Quando eu estava vivo sobre a terra, era o chefe do tesouro do faraó e também oficial do exército. Quando morri, meu soberano mandou preparar minha tumba, os quatro vasos de embalsamento e o meu sarcófago de alabastro. Mas o tempo passou, o túmulo caiu, o vento e a areia arruinaram tudo. Em outras épocas, por quatro vezes já me evocaram e prometeram uma nova sepultura. Mas até agora nada. Como posso acreditar em novas promessas? Somente com conversas não atingirei meu objetivo”.

O sumo sacerdote mandou três homens atravessarem o rio Nilo até a região funerária de Tebas. Escolheram um bom lugar e, além de uma nova tumba, o sumo sacerdote mandou que dez servos se dedicassem a fazer oferendas diárias de água e trigo ao espírito. Depois de todo esse trabalho, o sumo sacerdote ficou cheio de alegria por ter atendido aos desejos do Espírito.

Esse texto, em hieróglifo, foi encontrado em diversos pedaços de louça, chamados óstracos (com forma semelhante à da ostra; usado no Egito antigo como substituto do papiro para se desenhar ou escrever rascunhos), que hoje estão espalhados em museus da Europa. Eles foram traduzidos por diversos egiptólogos. É o mais antigo relato de um encontro entre um vivo e um morto. Apesar de conter dados e personagens reais da história do Egito, os pesquisadores consideraram o texto apenas como uma lenda fantasiosa... (FIGUEIREDO, 2007, pp. 32-33).

Podemos ler esse relato no livro Mitos e Lendas do Antigo Egito, Luís Manuel (pp. 195-

198). Aliás, é muito interessante esse caso por ser muito antigo, o que retira dele qualquer

relação com alguma das religiões tradicionais, para trazê-lo à conta de registro histórico, longe das arengas dogmáticas atuais.

Voltando ao caso de Eugênia. O seu diário tem muitas coisas interessantes, das quais

apenas iremos destacar algumas, para não tornar esse estudo muito extenso. A forma pela

qual que nele colocou os seus contatos com as almas do purgatório é do tipo de um histórico, relacionando cada uma com o respectivo registro do diálogo que teve com ela, em suas várias

aparições. As datas, que serão citadas nas transcrições, não obedecem a uma ordem

cronológica geral, mas aos casos particulares; por isso, não serão importantes; podem ser

desconsideradas; estaremos colocando-as para manter fidelidade ao texto original.

3 de dezembro – Primeiro veio Henrique; em seguida, Catarina. Perguntei-lhe: - “Ainda não enxergas a alma que está contigo?” - “Não”. - “E por que não”. - “Não estou mais na fase dele”. (VON DER LEYEN, 1994, p. 85).

A expressão “não estou mais na fase dele” é singular, pois reflete exatamente o que

vemos nas várias obras espíritas, que nos dão conta de que os espíritos que estão em faixas

vibracionais diferentes podem não se ver uns aos outros, especialmente, quando essa variação

das vibrações deles é muito significativa.

Como é fraco o meu amor para com esse pobrezinho. Sinto tanta repugnância diante dele. Eis que, no instante em que quis ceder ao impulso de me retrair, Catarina apareceu à minha frente. Ela apontou para sua boca e que ainda há pouco se assemelhava ao corpo do “Miserável”. E ela mudara tanto! Estava linda, mas tão linda! e sorria para mim. Alegrei-me com ela e perguntei-lhe: “Ainda ficas comigo?” - “Não”. - “E por que vieste agora?” - “Porque ficaste fraca”. - “Sim, sempre enfraqueço... Mas tenha dó! Olha para ele! Vê como está! Tenho que ter medo dele. Não o vês?” - “Não. Essa fase de minha existência passou.” Com isso desapareceu.

Que visão linda que ela oferece! Sou grata quando as Almas do Purgatório me ajudam para mudar para melhor. ((VON DER LEYEN, 1994, p. 93). (grifo nosso).

Sim, podemos aprender e muito no relacionamento com as almas do purgatório; porém, mais poderíamos com os espíritos superiores, já que a missão deles é exatamente

essa: de nos ajudar em nossa evolução. Lembramo-nos de uma passagem bíblica que diz:

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“Consulte as gerações passadas e observe a experiência de nossos antepassados... vão instruí-lo e falar a você com palavras tiradas da experiência deles” (Jo 8,8-9). É fácil, agora, entender

que as “gerações passadas” do texto são as almas (espíritos) de nossos familiares e amigos.

26 de fevereiro – Ele entrou aos gritos. Perguntei-lhe: “O que queres? Estou pronta a ajudar-te?” - “Por que não me aceitastes?” - “Porque não quis. Procura outras pessoas que se interessam em ajudar as almas”. - “Só tenho permissão de me dirigir a ti.” - “Quem és?” -

“Reinaldo”. “Por que não encontra paz?” - “Enganei gente”. - “Por que abriste a gaveta?” - “Por causa do dinheiro”. - “Como posso ajudar-te?” - “Furtei. Manda rezar uma missa”. - E se foi. (VON DER LEYEN, 1994, p. 108). (grifo nosso).

Mais uma alma diz sobre a questão de ser permitido vir se comunicar com os vivos.

Colheremos o que houvermos plantado, essa é a Lei para todos; pena que ignoramos tal coisa e por isso cometemos muitos desatinos, os quais a nossa consciência cobrará, mais hoje mais

amanhã. No plano espiritual, com nossa visão mais ampliada, é comum já percebermos o mal

que praticamos e tomamos resolução de repará-los.

15 de março – Durante muito tempo, ela ficou comigo. Não pertence essa alma àquela classe que amedronta; por ela sinto apenas comiseração. Deve ter sido muito bela, só a boca

está torta. Não falou, mas de bom grado rezou comigo. 16 de março – Alguns religiosos passaram a noite no castelo. Quando Hermengarda veio,

disse-lhe: - “Vai aos padres que podem rezar por ti melhor do que eu”. - Estive com eles, mas não enxergam”. - “Então é preciso enxergar-te para te ajudar?” - “Ofereces algo aos pobres se

eles não te estendem a mão?” - Passaste a vida aqui?” - “Não. Mas aqui eu pequei”. Ela traz consigo tamanha tristeza como jamais observei em outras almas. (VON DER LEYEN, 1994, p. 110). (grifo nosso).

Sabemos que existem no plano espiritual espíritos de variados níveis evolutivos, não

faltando entre eles os que se comprazem em amedrontar as pessoas, enquanto outros buscam mesmo é prejudicá-las, normalmente, por motivo de vingança.

Nem todos poderem ver os espíritos, é um fato; por isso, é que os “cegos” dizem não

haver vida após a morte. Só mesmo a morte para provar-lhes isso, caso ainda não

permaneçam com essa cegueira do lado de lá.

25 de maio – Houve uma barulheira horrorosa em meu quarto, estrondo e gemidos, embora eu não visse nada. Perguntei: “Quem está aí?” - “Muitos”. - “É Fridolino quem fala?” - “Sim, sou eu”. - “Por que não te posso ver?” - “Porque estás doente.” - “As tuas faculdades sofrem também.” - “Poderias ajudar-me?” - “Não!” - “Como percebes que estou enferma?” - “Tu não tens poder de nos atrair.” - “Mas então, por que ainda estás aí?” - “O caminho que devemos tomar nos é prescrito”. O barulho continuou, mas não mais responderam. Por muito tempo tive a

sensação de não estar só; é bastante desagradável tal situação. (VON DER LEYEN, 1994, p. 122). (grifo nosso).

Essa é uma realidade mesmo; quando os médiuns estão doentes a sua mediunidade

fica prejudicada. E, novamente, é falado a respeito de que os espíritos não podem fazer o que querem, mas o que foi prescrito, mostrando que tudo está sob controle, no caso, certamente,

de Deus. Tanto é que, questionada uma alma: “'Dize-me, é por vontade de Deus que tu vens a

mim?' - 'É-nos permitido por ele'”. (VON DER LEYEN, 1994, p. 123).

Acho, porém, que suas palavras se ligam com aquela sensação maravilhosa que agora está crescendo, pois quando a sinto, tenho a impressão de estar livre de mim mesma e viver num mundo diferente. Observei que meu corpo perde a faculdade de se locomover quando me sobrevém aquele estado, pois ao sentir chegar essa sensação, quis trancar a porta, mas já não o conseguia; veio a luz e tudo ficou indiferente para mim, que queria apenas gozar aquele inefável estado. (VON DER LEYEN, 1994, p. 132). (grifo nosso).

Kardec abordou a questão do estado de emancipação da alma; é o que aconteceu com Eugênia; aliás, o número dos que conseguem fazer isso é enorme. Popularmente se diz

“desdobramento”, “viagem astral”, “experiência extracorpórea”, etc., ou seja, tudo o que

acontece no dia-a-dia das pessoas; não sendo nada diferente do que se explica na Doutrina

Espírita. Para nós, fatos naturais; para outros, sobrenaturais; questão de ponto de vista,

apenas. Mais à frente, Eugênia diz: “Hoje, durante meia hora, estive fora de mim. Não sei onde estive; tenho a certeza de que estive fora de mim mesma”. (VON DER LEYEN, 1994, p.

136). É a segunda pessoa, relatada aqui neste estudo, que passa por isso.

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24 de abril – Faz três noites que me visita toda noite um animal todo preto, intermediário entre búfalo e carneiro. Fiquei muito assustada. Pulou no meu leito. Para remediar minha covardia, recorri à água batismal, e o quadrúpede me deixou em paz.

26 de abril – Ele veio de dia. Tem agora um rosto humano, mas todo preto, e provoca arrepios. Poderia até tratar-se do demônio. Mas não quero, de modo algum, pensar em tal possibilidade. (VON DER LEYEN, 1994, p. 140). (grifo nosso).

Para explicar esse tipo de aparição vamos recorrer ao dicionário: Zoantropia – delírio no qual um indivíduo pensa ter sido transformado em animal. Assim, utilizando o mesmo sentido

do vernáculo, na linguagem espírita é o fenômeno pelo qual os espíritos devotados ao mal se

tornam visíveis aos encarnados sob formas animalescas, as quais demonstram sua degradação

tanto moral quanto espiritual. Aparecem sob diversas formas, até mesmo assumindo uma

aparência “diabólica”; obviamente serão tal e qual se acredita nele: cara de homem, chifres, rabo e pés de bode, com direito a tridente e tudo; é capaz de trazer uma fogueirinha portátil.

29 de setembro – Três vezes tenho visto a alma de uma velhinha diante do altar de Nossa Senhora. Não a conheço. O dominicano deteve-se comigo longamente. Indaguei: - “Como é que a gente pode salvar-se? Ensina-me, por favor”. - “Crendo firmemente e sendo bem humilde”. - “Posso fazer alguma coisa para que as Almas do Purgatório não me procurem mais?” - “Não podes'”. - “Posso chamar uma alma se eu quisesse saber alguma coisa por intermédio ou a respeito dela?” - “Não tens nenhum poder sobre ela”. (32).

__________

(32) Os espíritas afirmam que se pode forçar os espíritos a aparecer. Se nem essa santa princesa, que

via as almas em formas diversas e convivia com elas, possuía o poder que os espíritas pretendem,

como o conseguiriam eles só para satisfazer sua curiosidade? Ou perguntemos mais realisticamente:

quem é que aparece nas sessões espíritas?

(VON DER LEYEN, 1994, p. 150).

Quem possui algum tipo de mediunidade, o tem por vontade divina; não há nada que o

médium possa fazer para alterar isso. Temos conhecimento de casos em que alguns médiuns

“perderam” a mediunidade pelo motivo de não trabalharem com ela. Nessa situação,

acreditamos que a missão que ele tinha foi passada a uma outra pessoa, motivo pelo qual será responsabilizado por isso, quando chegar o momento oportuno, segundo o estabelecido por

Deus.

O que esse espírito disse sobre ninguém ter poder sobre uma alma é absolutamente

verdadeiro; nenhum médium pode garantir a presença de um espírito, seja ele lá quem for, porquanto, tudo funciona de acordo com as regras estabelecidas de lá para cá, ou seja, tudo

ocorre pelo interesse do plano espiritual, obedecendo, obviamente, às leis divinas para as

manifestações espirituais. Mas isso estamos cansados de saber; inclusive, há uma frase de

Chico Xavier, que vale a pena citá-la novamente: “o telefone toca de lá para cá”.

Em relação ao conteúdo da nota, constante do livro, o que se percebe claramente é que as pessoas sempre estão a falar daquilo que não conhecem. Nunca ouvimos, em nosso meio,

alguém dizer que teria poder para fazer um espírito aparecer; isso é puro desconhecimento de

quem fala uma barbaridade dessa ou má-fé de algum sabichão.

Um espírito pode ser evocado sem problema algum, mas nada há que o faça aparecer se não houver a permissão de Deus, conforme fica bem claro no que estamos vendo aqui, que

não é diferente do que sabemos pela Doutrina Espírita. A prova de que a evocação funciona

pode ser vista em 1Sm 28,3-25, onde Saul vai à necromante de Endor para que ela evocasse o

espírito de Samuel, o que de fato aconteceu. Tem-se muito dito a respeito dessa passagem, visando descaracterizá-la como uma verdadeira sessão espírita, dizendo que quem apareceu

foi o demônio ou um pseudo-Samuel, mas não é honroso torcer os textos bíblicos à nossa

conveniência. Obviamente, que não aprovamos o motivo pelo qual ela foi realizada;

entretanto, o que interessa, aqui no caso, é que o espírito Samuel atendeu a evocação. E nós não evocamos espíritos por curiosidade; isso pode até acontecer por aí, mas não

é o nosso caso, o que prova que o autor da nota não entende mesmo de Espiritismo; talvez

seja um daqueles que ouviu o galo cantar e não sabe onde.

A sugestão sobre quem se manifesta nas sessões espíritas é mais um erro lamentável,

produto da ignorância do assunto por parte de quem se propôs a falar sobre ele, de um lado, e uma forma de amedrontar os fiéis, de outro. Senão, como mantê-los encabrestados? Usam e

abusam desse recurso, enganando os seus adeptos com uma figura mitológica da cultura

persa, que foi apropriada pelos teólogos do passado, mais apegados a superstições, crendices

e a coisas sobrenaturais.

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3º Caso – Maria Ágata Simma (1915-2004)

O nosso terceiro caso é de Maria Simma (1915-2004), nasceu em Sonntag (Vorarlberg), na Áustria. A partir de 1940 as almas vieram, algumas vezes, pedir-lhe orações.

As informações sobre ela foram dadas pelo Pe. Alfonso Matt, pároco da cidade.

As almas do purgatório se mostram de várias formas e modos. Algumas batem à porta, outras surgem de súbito. Umas se manifestam em aparência humana, claramente visíveis como em sua vida mortal, vestidas comumente, outras se apresentam de modo evanescente.

(ALBANO, 2004, P. 9). (grifo nosso).

Novamente temos a prova de que não há evocação dessas almas, sinal que elas vêm de

livre vontade, certamente com permissão para fazerem isso. É um ponto importante nesses

fenômenos, razão pela qual estamos repetindo-o.

Aqui também se nota que a forma, em que se apresentam, é a que tinham em vida mortal, exatamente conforme diz a Doutrina Espírita. Inclusive, aparecem vestidas; isso é

bom, pois alguém poderia, por gozação, dizer que são “almas peladas”, ao invés de “almas

penadas”.

Interessante esta frase no livro: “Sem dúvida, é agradável a Deus que os parentes se preocupem com seus mortos” (p. 14), à qual poderíamos acrescentar: “por isso, é, também,

agradável a Deus que nos comuniquemos com eles.

“O purgatório encontra-se em vários lugares”, respondeu um dia Maria Simma. “As almas nunca estão 'fora' do purgatório, e sim ‘com’ o purgatório”. Ela viu o purgatório de várias maneiras. Há ali uma multidão de almas; é um contínuo vaivém. Viu, certo dia, um número de almas na totalidade desconhecidas para ela. As que pecaram contra a fé tinham sobre o coração uma chama escura; as que pecaram contra a pureza, uma chama vermelha. Depois viu as almas em grupos: padres, religiosos, religiosas; viu católicos, protestantes, pagãos. Os católicos sofriam

mais que os protestantes. Os pagãos, ao contrário, têm um purgatório mais suave, e como recebem menos socorros sua pena dura mais. Os católicos, favorecidos com socorros, são libertados mais rapidamente. Viu também muitos religiosos e religiosas, que ali estavam por causa de sua tibieza na fé e sua falta de caridade. Crianças de apenas seis anos podem ser levadas a sofrer por longo tempo no purgatório.

Foi revelado a Maria Simma a maravilhosa harmonia que existe entre o amor e a justiça divinos. Cada alma é punida de acordo com a natureza de suas culpas e o grau de apego ao pecado cometido

A intensidade dos sofrimentos não é a mesma para todas. Algumas têm que sofrer

como se sofre na terra quando se vive uma vida dura, e devem esperar para contemplar Deus. Um dia de purgatório rigoroso é mais terrível que dez anos de purgatório leve. A duração das penas varia muito. O padre de Colônia ficou no purgatório desde 555 até a festa da Ascensão de 1954 e se não fosse liberto pelos sofrimentos aceitos por Maria Simma, continuaria ali por longo tempo.

Há também almas que têm de padecer terrivelmente até o Juízo final. Outras têm apenas meia hora de sofrimento, ou até menos: apenas “atravessam o purgatório”, por assim dizer.

O demônio pode torturar as almas do purgatório, sobretudo as que foram causa de

perdição eterna de outras. As almas do purgatório sofrem com paciência admirável e louvam a misericórdia divina,

graças à qual escaparam ao inferno. Sabem que merecem sofrer e deplorar suas culpas. Suplicam a Maria, Mãe da misericórdia. (ALBANO, 2004, p. 19-20). (grifo nosso).

Certamente, descontando-se o excesso, em virtude de sua crença religiosa, muitas

coisas são bem semelhantes ao que sabemos em relação aos espíritos desencarnados. A lei de afinidade, por exemplo, faz com que sejam agrupados numa mesma faixa vibracional os

espíritos que possuem os mesmos sentimentos e gostos, fazendo com que, na dimensão

espiritual contígua à Terra, haja várias faixas, compatíveis ao nível evolutivo e vibracional dos

milhares de espíritos que lá estão aguardando a sua vez de reencarnar, porquanto, ainda não têm evolução para ir para outros mundos mais evoluídos que a Terra.

Se cada alma é punida de acordo com o que ela fez, e se a intensidade do sofrimento

não é igual para todos, estamos, inevitavelmente, diante do “... a cada um segundo a suas

obras” (Mt 16,27), conforme dissera Jesus. E prevalecendo isso, no que de fato acreditamos,

então as crianças de apenas seis anos que “podem ser levadas a sofrer por longo tempo no purgatório”, terão que, necessariamente, ter pecado em outra vida, uma vez que, nem nós, os

homens, por justiça, punimos com tanto rigor crianças de tão tenra idade.

Nessa dimensão há espíritos ainda tão trevosos, que é natural confundi-los com os

demônios, especialmente para quem acredita neles. E conforme já vimos em caso anterior, nessa dimensão há padres, religiosos e

religiosas, deixando-nos tranqüilos quanto à questão da justiça divina atingir a todos

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indistintamente. Mas ainda prevalece o alerta de Jesus de que “a quem muito foi dado muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito será exigido” (Lc 12,48); é o que podemos ver,

quando se fala que os pagãos sofrem menos; claro que é por saberem menos; não é mesmo?

Muitas vezes me perguntei como poderia mandar uma alma do purgatório a uma pessoa. Pensava: “Por que elas não se dirigem diretamente a seus parentes? Seria muito mais simples para mim do que ter eu de fazer isto”. Então veio uma alma que me fez esta correção severa:

“Não peque contra as decisões divinas! Deus distribui as graças a quem quer. Você não teria nunca o poder de enviar uma alma a outra pessoa. Não é por seus méritos que Deus lhe concede estas graças. Considerando os méritos, muitos outros poderiam ser preferidos a você. É verdade que, desde pequena, tem ajudado muito as almas; mas também isto é graça. Essa graça, em outra pessoa, renderia muito mais do que em você. Junto aos santos que operam grandes milagres na terra estavam santos ainda maiores que não tiveram tal poder, e, no entanto, alcançaram santidade maior do que a daqueles aos quais Deus concedeu o poder dos milagres. Não se pode esquecer: EXIGE-SE MAIS DE QUEM RECEBE MAIS GRAÇAS. Deus quer que lhe peçamos as graças; uma prece perseverante ultrapassa as nuvens; ela é sempre atendida da melhor maneira em favor de quem a faz”.

(ALBANO, 2004, p. 26). (grifo nosso).

Traduzindo para uma linguagem espírita, diríamos que cada pessoa, portadora de

mediunidade, vem com ela para uma determinada missão. Por ser missão atribuída pelos

espíritos superiores, visando o progresso daquele indivíduo, nenhum médium tem o poder de passá-la a uma outra pessoa. Daí, a coisa fica cada vez mais clara: tudo acontece com a

permissão de Deus. Nesse caso, por que Deus dotaria uma pessoa da faculdade de comunicar-

se com os espíritos para, imediatamente, proibi-la de fazer isso? Para nós, isso não tem

sentido algum. Esse caso de Maria Simma tem uma particularidade interessante; é que ela fez várias

considerações pessoais sobre o seu contato com as almas do purgatório, que teve lugar na

segunda parte do livro. Vejamos alguns tópicos:

Por que Deus o permite?

Muitos se perguntam: “É possível que Deus permita aos mortos aparecerem aos vivos?” Admitindo que tudo seja possível à sua bondade, por que Deus permite coisas tão

extraordinárias? Certamente não é para satisfazer nossa curiosidade: se, pela misericórdia de Deus, acontecem fatos extraordinários, é porque fazem parte do plano divino da salvação. Este é o ponto de vista que devemos ter para um juízo e para proveito espiritual. Estes fatos são de

grande consolação para os falecidos, porque permite que sejam libertados dos sofrimentos, e incitam os vivos a rezarem mais pelas almas do purgatório e a se desapegarem do que é terreno.

O maior perigo hoje é que nas coisas materiais tudo vai muito bem. Devemos estar alerta e preocupar-nos mais com a vida eterna, que dura para sempre. Não apeguemos nossos corações ao que é temporal: de tudo o que passa, nada levaremos. Propriedades, negócios, belas casas, tudo isso passa e mais rápido do que imaginamos. Só levaremos as boas obras. É evidente que precisamos dos bens terrenos para viver, mas a questão é não apegar a eles o coração: eis o problema. Tal é o sentido e o escopo das aparições das almas do purgatório, como de todas as demais revelações particulares. E o único motivo pelo qual Deus permite esses contatos sobrenaturais. Que o bom Deus misericordioso se digne dar-nos sua bênção e a sua graça, para

podermos tirar proveito. A alma a quem Deus quer conceder uma graça particular tem tal graça desde o

nascimento, mas não é raro que seja concedida mais tarde. Os caminhos do Senhor são admiráveis, insondáveis. Um pecador pode tornar-se um grande santo, como o prova Santo Agostinho. Saulo, se tornou São Paulo de repente.

Prudência no que concerne às revelações particulares

Seguido (sic) as pessoas se admiram da grande reserva da Igreja Católica em relação às revelações particulares. Ela tem seus motivos, como guardiã que é da verdade: é melhor não reconhecer como autênticos dez casos verdadeiros que reconhecer um só não verdadeiro.

Mas, quando os fatos estão de pleno acordo com os ensinamentos de Cristo, a Igreja não pode rejeitá-los, mesmo no caso de não terem sido ainda objeto de um exame teológico mais profundo.

O bispo D. Bruno Wechner convocou-me para me dizer: “Duvido que seja da vontade de

Deus que você pergunte às almas do purgatório a respeito de outros mortos”. Eu lhe respondi: “Perguntei a uma alma: ‘Como podes dar-me conselhos a respeito das

almas sobre as quais vos faço perguntas?’ E recebi a seguinte resposta: “Por meio de Maria, Mãe da misericórdia, nós sabemos”.”

O bispo então ponderou que a gente não deve imiscuir-se nestes fatos, já que entre céu e terra há coisas que ainda não foram entendidas do ponto de vista teológico, e que, contudo, existem. Declarou, por fim, que eu não devia esperar ver reconhecido o caso, como verdadeiro; que a Igreja não poderia jamais fazê-lo enquanto eu vivesse, e que a Igreja era muito

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severa (devemos reconhecê-lo), por que mesmo uma pessoa favorecida por graças extraordinárias pode ser infiel à graça, e que nada está fora do alcance do inimigo. Por isso, tal alma devia ter um bom guia espiritual como proteção contra os enganos do demônio.

É necessário conhecer estes fatos? ou é melhor calar?

“Por que as almas do purgatório vêm até você?” Eis uma pergunta que me fazem seguidamente. Com certeza não é por causa da minha

devoção: há pessoas mais devotas que eu. Contudo, as almas não se dirigem a elas. Os fenômenos sobrenaturais não são “termômetros de santidade”: a pedra de comparação da perfeição é a caridade desinteressada - sofrer pelos outros por amor, imitando Cristo. Não

podemos levar uma vida terrena sem cruzes e sofrimentos. Uma alma do purgatório me disse um dia:

“O que tem maior eficácia é o sofrimento, quando suportado com paciência e colocado como oferta nas mãos da Mãe de Deus, a fim de que dele se sirva em favor de quem o desejar, onde será melhor e mais necessariamente utilizado”.

Custa menos, evidentemente, exortar uma pessoa que sofre a suportar a sua dor com paciência, do que nós mesmos sofrermos com coragem. Sei o que significa sofrer, mas justo porque o sofrimento é penoso que tem tanto valor.

Não saberia dizer exatamente por que as almas do purgatório vêm a mim. Certamente

podem dirigir-se a outras pessoas. Em Voralberg conheci duas, já falecidas, com as quais elas se comunicavam. Atualmente, com certeza, há ainda muitas outras às quais as almas vêm pedir ajuda, mas são menos conhecidas. A missão delas é diversa da minha.

Seria bem mais fácil, eu sei, manter estas coisas encobertas ao público, porque isso traz incompreensões e desprezo, muitas vezes por parte até do clero. Muitos padres se consideram tão sábios que pretendem entender de tudo. Mas os caminhos de Deus são insondáveis: requer-se grande humildade, e isto falta muito em nossos dias. (ALBANO, 2004, pp. 27-30). (grifo nosso).

Realmente Simma está coberta de razão; a permissão de Deus é dada para proveito nosso e dos espíritos. Provando que a vida continua após a morte, concentraremos mais

nossos objetivos às coisas “aonde não chega ladrão e a traça não rói” (Lc 12,33). Tudo quanto

ela falou para justificar o porquê Deus permite, se encaixa no que os Espíritos Superiores

disseram. Inclusive, há uma frase dita por ela cujo sentido é o mesmo dessa orientação do espírito Erasto: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só

teoria errônea”. (KARDEC, 1996, p. 292).

O bispo que a chamou para explicar-se, reconhece que há fatos ainda não explicados

pelos teólogos; mas que eles existem, existem! Enfim, mesmo que seja a contragosto,

reconhece a realidade dos fatos. O grande problema sempre é: como dar o braço a torcer... Os espíritos também disseram que ser médium não é nenhum privilégio, não coloca

ninguém no pedestal de santo; ao contrário, trata-se de uma necessidade evolutiva daquele

que é o intermediário entre os dois planos da vida. A sintonia dos espíritos com os médiuns se

faz obedecendo à lei de afinidade vibracional, uma lei fora da alçada do médium. Se a pedra de comparação da perfeição é a caridade desinteressada, então a máxima

da Doutrina Espírita – FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO – está corretíssima.

E vamos parabenizá-la pela oportuna frase: “Muitos padres se consideram tão sábios

que pretendem entender tudo”. Sem pestanejar, assinaremos embaixo!

As mensagens das almas tornam conhecidas estas aparições

Em 1954 – ano mariano – vinham almas todas as noites. Às vezes revelavam quem eram e me encarregavam de transmitir várias tarefas para seus parentes.

Deste modo, o caso (o contato com as almas) tornou-se público; isso me desagradou muito, pois eu não falaria a ninguém a não se ao meu pai espiritual.

Tive de transmitir alguns recados até em certos lugares que me eram desconhecidos. Acontecia-me de ter que anunciar aos parentes a devolução de bens mal adquiridos, o que era claramente indicado. Houve casos em que os membros da família não sabiam de nada; contudo, era verdade. (ALBANO, 2004, p. 33). (grifo nosso).

Quem tem a oportunidade de servir-se de intermediário, como no caso de Simma, não

tem dúvida alguma de que tudo é verdadeiro, uma vez que a experiência é mais forte que qualquer argumento teológico dogmático. Vamos mais longe ainda: até mesmo da Ciência,

pois essa sempre anda a reboque dos acontecimentos para estudá-los, visando descobrir-lhes,

se possível, as leis que os fazem funcionar. E se ela, por puro preconceito, não descobriu o

espírito, muito menos a sua sobrevivência, após a morte do corpo físico, como, então, aceitar que eles se comuniquem? É certo que, hoje em dia, alguns renomados cientistas estão

aceitando essa realidade, como, por exemplo, é caso do físico quântico Amit Goswami, que,

usando a física quântica, explica a realidade da sobrevivência do espírito em seu livro A física

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da Alma, Editora Aleph. Tudo, quanto aconteceu com ela, acontece com vários médiuns nos dias atuais.

Entretanto, se um deles é Espírita, bom; aí as coisa são: “fruto da mente”, “truque”, “é

satanás”, etc, qualquer opção é válida, menos que os fatos sejam verdadeiros. Intolerância,

incoerência e ignorância?!

O que sabem de nós as almas do purgatório?

As almas sabem a nosso respeito e o que nos acontece, mais do que pensamos. Sabem, por exemplo, quem foi ao funeral delas, se se reza ou apenas se vai para marcar presença, sem rezar, o que acontece com freqüência. Sabem se a pessoa sai após o ofertório, sem participar da Missa que está sendo celebrada por elas.

As almas sabem tudo o que se diz a seu respeito e o que se faz em seu favor; acham-se muito mais próximas de nós do que podemos imaginar. (ALBANO, 2004, pp. 34-35). (grifo

nosso).

Embora não possamos generalizar como a Simma fez, realmente, alguns espíritos sabem mesmo tudo de nós; quiçá até mais que nós mesmos. Segundo os Espíritos Superiores,

estamos literalmente num “mar de espíritos”, já que o número deles é bem maior do que o

daqueles que se encontram encarnados.

O que sofrem as almas do purgatório?

Sofrem de mil maneiras. Há tantos tipos de purgatório quantas são as almas. Cada uma sente saudade de Deus e esta é a dor mais lancinante. Além disso, cada alma é punida naquilo e por aquilo que a fez pecar. Acontece também na terra, quando a punição segue uma má ação:

quem come demais sofre dor de estômago; quem muito fuma fica intoxicado pela nicotina e corre o perigo de ter câncer nos pulmões.

Nenhuma alma gostaria de retornar à terra para viver como antes, nas trevas deste mundo, porque conhece coisas das quais não temos sequer idéia. (ALBANO, 2004, p. 37).

(grifo nosso).

No umbral, dimensão espiritual onde os espíritos ficam retidos até cumprirem toda a

evolução possível na Terra, há mesmo várias faixas vibracionais, que, para simplificar,

podemos dizer que são várias regiões. Os que lá se encontram, conforme já falamos, se agrupam por interesses e vibrações semelhantes. Os poucos que conseguem ver um plano

superior ao nosso, realmente, não têm a mínima vontade de voltar aqui para reencarnar

novamente.

4º Caso: Dr. Lino Sardos Albertini (1915-2005)

Embora esse caso não seja tratado como manifestação de almas do purgatório, mas

como de um espírito, vamos colocá-lo neste rol, porquanto, sendo de origem católica não há

outro lugar para onde essa alma tenha ido senão este; não é mesmo?

Dr. Lino Sardos Albertini foi um advogado católico, morou em Trieste, Itália, autor do

livro O Além Existe, no qual narra várias mensagens que recebeu de seu filho André. Foi presidente da Academia de Estudos Jurídicos e Econômicos “Cenáculo Triestino” e também da

Junta Diocesana de Ação Católica de Trieste. Foi vice-presidente nacional da União Pan-

européia Italiana, presidente do Arqueoclube de Trieste e autor de vários ensaios.

Transcrevemos o texto da contracapa do livro citado:

Este livro é a crônica de um diálogo incomum, entre duas diferentes dimensões, entre o aquém e o além, entre um pai que chama e um filho, morto em circunstâncias dramáticas, que responde. O diálogo ocorre através de uma sensitiva que categoricamente exclui qualquer recompensa e se recusa a desenvolver uma atividade pública.

Ela pratica um tipo de escrita automática por meio da qual desemaranha o fio que mantém unidos o advogado e seu filho, André.

Crítico e descrente no começo, Lino Sardos Albertini teve de resignar-se aos fatos inexplicáveis que André apresentava, a lógica severa das respostas, a sua coerência. Extraordinária é a maneira da transmissão das mensagens.

Envolvente como um romance, impregnado – mesmo na situação dolosa – de fé e esperança, este livro há de induzir os seus leitores a uma meditação profunda.

Resumindo o caso: o desaparecimento de André, nascido a 29.07.1955, o caçula de seis

filhos, se deu em 09.06.1981; portanto, aos 26 anos de idade; na época estava cursando o

último ano de Direito, após ter saído para uma viagem para alguns dias de férias. Como nunca mais aparecia, seus pais ficaram em extrema aflição, iniciaram uma desesperada busca para

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ver se o encontravam, mas nada. Foi como se ele tivesse sumido do mapa. A família já estava perdendo as esperanças, quando uma nova cliente sugere ao Dr.

Lino procurar a médium D. Anita (nome fictício). Recusou-se, no início; porém, diante da

situação, acabou por marcar um encontro com ela. Por essa médium ele ficou sabendo da

morte de seu filho, vítima de um assalto, obtendo provas incontestáveis que ele estava mais vivo que nunca, só que na dimensão espiritual. A grande questão era o porquê isso veio a

acontecer com ele; mas o próprio André disse, da outra dimensão da vida, o motivo a seu pai:

Depois de nos ter dado espontaneamente notícias da condição privilegiada em que se encontrava no além, pelas tarefas recebidas e pela possibilidade de comunicar-se conosco, André disse-nos ter nascido e morrido para executar uma missão especial, isto é, fornecer as provas da existência da vida após a morte, de modo que muitas pessoas acreditem mais em

Deus e respeitem a sua lei. É inútil dizer que sua mensagem nos chocou e nos emocionou profundamente”. (ALBERTINI, 1989, pp. 24-25). (grifo nosso).

Veja bem, caro leitor: o espírito reencarnou apenas para cumprir a missão de se

manifestar depois de morto, visando provar que a vida continua. Mas quem lhe deu essa missão senão Deus? E ainda dizem que a comunicação com os mortos é abominável a Ele. Até

quando irão manter as pessoas nessa ignorância mediante o terror dos dogmas?

Vejamos como o Dr. Lino descreve como D. Anita procedia para escrever as mensagens

de André:

Sem qualquer aparato ou encenação, com a máxima simplicidade, a qualquer hora e em qualquer ambiente, põe a mão esquerda aberta perpendicularmente e um pouco erguida sobre um papel.

Apóia perpendicularmente um pincel atômico ou uma caneta qualquer (uma vez usou até um batom). O pincel, ao invés de escorregar, como aconteceria com qualquer outra pessoa, fica colado à mão.

Pergunta mentalmente a seu pai, falecido, se a assiste. Obtida a resposta afirmativa, passa a fazer perguntas.

D. Anita não é canhota, porém, usa exclusivamente a mão esquerda quando desenvolve sua atividade mediúnica. O pincel, ao dar as respostas, se move não da esquerda para a direita, mas de cima para baixo. Às vezes o pincel procede vagarosamente ao escrever as respostas; em outros momentos, de repente, acelera muito a ponto de D. Anita ter dificuldade de segui-lo com a mão. Outras vezes, o pincel, inesperadamente, ao invés de continuar escrevendo, força a mão para distanciar-se da linha e começa e fazer sinais, deixando todos os presentes surpresos.

Enquanto o pincel escreve, D. Anita pode até se distrair: fuma, assiste à televisão, conversa

com os presentes sobre diversos assuntos. Acrescento que, ao receber as respostas, D. Anita nunca sabe do seu conteúdo, quer por

estarem escritas de cima para baixo, quer por ela se distrair freqüentemente. Só no fim, a folha é girada tornando possível ler a resposta da esquerda para direita.

D. Anita pode escrever assim a qualquer momento: fê-lo, por exemplo, mais de uma vez num hall de hotel, dentro de um carro e em muitos outros lugares, fechados ou ao ar livre.

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Ela rejeita de maneira categórica qualquer recompensa e não quer, de modo algum, que o fato seja difundido, para evitar toda publicidade e, também, o descrédito que poderia recair sobre quem exerce tão estranha atividade.

D. Anita fica muito perplexa com os resultados que obtém e está aberta a todas as interpretações.

Diante dos extraordinários resultados obtidos comigo, ela amadureceu um natural interesse em compreender melhor o fenômeno e mais nada.

Ela é do lar e só cursou o 1º grau. Inteligente, lê jornais e revistas normalmente, como as senhoras de sua idade e posição. Não acompanha as publicações especializadas em parapsicologia: nunca leu livros que tratem dessa matéria. No máximo, lê, quando lhe aparece a oportunidade, um ou outro artigo de revista ou acompanha algum programa na televisão, e sempre por acaso. Em outras palavras, ela não é, por nada, uma fanática. (ALBERTINI, 1989, p. 18-20).

Com isso, o Dr. Lino nos deixa a par de como ocorreu o fenômeno, o que nos dá a

oportunidade de podermos avaliar a sua autenticidade, porquanto ele não tinha nenhum

motivo para mentir sobre a forma pela qual D. Anita escrevia as mensagens de seu filho André.

Convém ressaltar que o livro, que temos em mãos, é uma tradução da 12ª edição

italiana, o que o faz, na Itália, um best-seller, sem dúvida alguma. O lamentável nisso é que a

editora brasileira, de orientação católica, publicou somente uma edição desse livro, preferindo

empurrar a verdade para debaixo do tapete de forma a manter os dogmas da Igreja, como se isso bastasse para que ela não venha à tona.

Dr. Lino dá o seu testemunho pessoal:

Acredito ser necessário e oportuno antepor as razões, absolutamente extraordinárias, que me levaram a escrever este livro e a dar-lhe o título que tem.

Antes de tudo declaro que, sendo convictamente católico, nunca duvidei da existência do além, verdade que constitui um pressuposto para a minha fé e para todas as religiões que não sejam mero sistema filosófico. No entanto, nem de longe pensei que uma tal verdade pudesse ser confirmada pelos fatos.

Como católico sempre acreditei na comunhão dos santos, na possibilidade de a Igreja militante, nós viventes nesta terra, poder comunicar-se com a Igreja purgante e com a Igreja triunfante, isto é, todos os nossos mortos. Com este espírito sempre rezei pelas almas dos meus familiares, pedindo a eles e aos santos pertencentes à Igreja triunfante ajuda para as necessidades materiais e espirituais dos meus familiares e minhas. Porém, mesmo nutrindo tais convicções, nunca pensei em poder ou dever fornecer provas dessa verdade dogmática.

Devo acrescentar que, de minha, parte, nunca me interessei pelos problemas da parapsicologia, termo que nem mesmo conhecia, antes – dada a mentalidade positivista dos meus estudos clássicos e da minha atividade profissional e o rigor religioso com que fui educado – considerava aquele pouco que havia ouvido falar sobre os fenômenos mediúnicos, mágicos, espíritas, etc., como fruto de enganos, artifícios, exaltações e até intervenções diabólicas.

Nunca em minha vida havia pensado em escrever e publicar uma obra como esta, e se alguém houvesse predito, eu o teria desmentido categoricamente.

Se, no entanto, cheguei a esse ponto, é porque fui e sou testemunha de uma série de fatos extraordinários que me causaram dúvidas e resistências, e obrigaram-me a seguir um caminho que nunca cogitara percorrer.

Se disser ter sido impulsionado a isto pelas mensagens de meu filho falecido, quem ler estas minhas linhas, terá todo o direito de pensar logo que eu me tenha enlouquecido pela dor. Mais ainda o pensará quem tem uma postura semelhante à minha, nos momentos iniciais.

Estou, porém, certo de que, após conhecerem as minhas experiências, confirmadas com fatos cientificamente documentados e ocorridos no passado, no presente e que, com certeza,

ocorrerão no futuro, se lerem o meu livro com espírito aberto, sereno e sem preconceitos, julgarão bem diferente os fatos de que fui testemunha. (ALBERTINI, 1989, p. 15-16). (grifo nosso).

Testemunho inquestionável, porquanto é um católico que vem provar a autenticidade

da comunicação entre os planos físico e espiritual, inclusive mencionando provas científicas

para sustentar isso. Uma atitude louvável do Dr. Lino foi a de pedir a opinião de dois padres, cujos textos iremos apresentá-los mais à frente, em outro item.

Em 23 de novembro de 1985, no grande salão do Círculo da Cultura e das Artes de

Trieste, o livro do Dr. Lino foi lançado, ocasião em que D. Anita recebeu essa mensagem:

Sorria com quem sorri. Chore com quem chore. Ame sem ser amado porque a luz infinita é amor. Aquele que permanece no amor permanece na luz infinita e a luz infinita permanece nele. Obrigado a todos. André. (ALBERTINI, 1989, P. 151).

5º Caso: Maria Gómez Cámara (1919-2004)

Na localidade de Bélmez de la Moraleda, província de Jaén, Espanha, nos fins do mês de

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agosto de 1971, a família de Maria Gómez Cámara, passou a presenciar fenômenos insólitos. No chão da cozinha de sua casa começaram a aparecer “caras humanas”, depois chamadas de

“As caras de Bélmez”. Esses fatos aconteceram até a ocasião de sua morte, em fevereiro de

2004.

Vários pesquisadores e Institutos de Pesquisas estiveram no local, entre os quais citamos o parapsicólogo Germán de Argumosa e S.E.I.P. – Sociedad Española de

Investigaciones Parapsicológicas, que comprovaram a sua autenticidade.

Descobriu-se que, antigamente, no local onde foi construída a casa de Maria Gómez

existia um cemitério católico, fato comprovado pelos ossos encontrados numa pequena escavação feita em busca das causas do fenômeno. Mesmo assim, ainda aparecem alguns

padres jesuítas, para negarem o fenômeno; tentando colocá-lo à conta de efeitos do

inconsciente, mas nunca provaram cientificamente essa sua hipótese.

Quem quiser ver maiores detalhes desses fenômenos, recomendamos o livro Las Caras de la Discordia – El fenómeno paranormal más importante de la história, publicação em

espanhol da Editora Nowtilus.

6º Caso: Museu das almas do purgatório

Esse item estava nos deixando muito preocupado de como iríamos apresentá-lo, visto

ser um assunto mantido sobre sete chaves. Mas tivemos a grata satisfação de vê-lo sendo

tratado no livro Maria Simma e as Almas do Purgatório, do qual transcrevemos o seu Apêndice:

Uma janela para o além

O museu. Se já na antigüidade - (Egito, Roma, Grécia) - havia coleções de obras de arte, porém, é relativamente recente o museu visto como lugar destinado a acolher e conservar obras de arte e objetos de interesse histórico-científico. De fato, somente em meados de 1400 é que se deu vida e desenvolvimento ao embrião desta instituição a que chamamos museu (do grego = lugar sagrado das musas), devido ao nascimento da arte de colecionar, brotado da consciência do

valor autônomo da arte. Hoje, ao lado de inúmeros lugares de cultura e de estudo, abertos ao público em todos os

continentes, que se ramificam em museus de arte, históricos, científicos, de história natural e etnográfica, surgiram os museus escolásticos, navais, das peças de cera, gesso, etc.

Roma, rica em museus de grande valor - museus “clássicos”, que vão desde os dedicados

às pinturas, esculturas, até os dedicados aos manuscritos, tapetes, troféus e armas - com o tempo foi enriquecida de museus qualificados como “originais”: do folclore e dos poetas romanescos, do fonógrafo e dos instrumentos musicais, da eletricidade e do pão.

Mas em Roma entre os museus originais, o mais original é o que contém uma documentação excepcional: uma coletânea de “provas” da imortalidade da alma, ou seja, da existência de um dos três reinos do além-túmulo: o purgatório.

No Lungotevere Prati, nas proximidades do Castelo Santo Anjo, numa igreja de estilo gótico dedicada ao Sagrado Coração do Sufrágio, está sediado o “museu das almas do purgatório”. É

uma pequena abertura pela qual é possível vislumbrar algo da misteriosa vida dos mortos. Esta janela - a única do mundo - foi aberta (com a aprovação do papa Bento XV) pelo padre

Vítor Jouet, missionário francês do Sagrado Coração.

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Mas o que levou o padre Jouet - fervoroso apóstolo da devoção às almas do purgatório (fundara uma associação para o sufrágio das santas almas) - a recolher a modesta mas impressionante documentação que constitui o museu? Foi um acontecimento extraordinário, sensacional, que se deu em 15 de novembro de 1897, numa capela dedicada a N. Senhora do Rosário. Nesta, havia um pequeno oratório, que o próprio padre mandara fazer em maio de 1893. Naquele dia, no altar da capela, se alastrou, de repente, um misterioso incêndio, no qual os fiéis ali presentes puderam ver, entre as chamas, a imagem de uma pessoa padecendo. Passado o incêndio, a silhueta daquela pessoa ficou delineada no painel de madeira que estava à esquerda do altar. Visto que todos consideraram o fato como aparição de uma alma do purgatório, a notícia do acontecido na capela de N. Senhora do Rosário de Lungotevere espalhou-se repentinamente pela cidade, como sendo um milagre.

O afluxo de gente para ver a silhueta impressa e as conseqüentes cenas de exaltação e fervor foram tais que as autoridades eclesiásticas, por prudência, decidiram tirar o painel.

Recordar-se dos defuntos

Padre Jouet, levando em conta a grande devoção às santas almas do purgatório, suscitada pela suposta ou real aparição daquela figura humana sofredora, empregou suas energias na construção de uma igreja, ponderando também o acontecimento como um meio usado pela Providência para convidar os vivos a se lembrarem dos falecidos, ou seja, um misterioso pedido de orações pelas almas da Igreja padecente, dirigido à Igreja militante.

Essa igreja - a atual - deve recordar às gerações futuras - além do misterioso acontecido de 15 de novembro de 1897 - a existência de um lugar onde os falecidos, sofrendo sem mérito, esperam dos vivos a caridade dos sufrágios (orações, Missas e obras de caridade) capazes de aliviar e abreviar seus sofrimentos.

Na nova igreja, dedicada ao Sagrado Coração do Sufrágio, foi colocado o painel no qual se encontra impresso o que parece ser a figura humana sofredora. Para protegê-lo das intempéries, decidiu-se escondê-lo com um tríptico representando Nossa Senhora entre os anjos (mas uma reprodução do painel é visível numa parede da sala usada como museu).

Padre Jouet, ardente apóstolo do sufrágio das almas do purgatório, movido pelo interesse e devoção suscitados nos fiéis pelo misterioso evento, pensou realizar o que denominou “Museu Cristão do além-túmulo”. Para concretizar sua idéia, pôs-se em busca de testemunhos e documentos que, de certa maneira, pudessem chamar atenção dos fiéis sobre a realidade do purgatório. O resultado de suas buscas forma o mais original e - por que não? - interessante museu do planeta.

Valor e elenco dos cimélios

O pequeno museu não tem, obviamente, objetivos especulativos. Muito menos de lucro. O autêntico fim desta original, e única coletânea de objetos raros (cimélios) foi e é fazer pensar na vida pós-morte; e também lembrar aos distraídos mortais que existe uma prisão - o purgatório - da qual não se sai até pagar o último centavo.

Ademais, os próprios religiosos, missionários do Sagrado Coração, aos quais está confiada a guarda dos cimélios, esclarecem que a documentação do museu tem valor apenas humano. Não podem constituir uma prova a respeito da fé. Mesmo se tratando de testemunhos de fatos que têm a garantia de pessoas dignas de crédito, a fé no além baseia-se em motivos bem acima de provas deste gênero.

Os cimélios expostos no museu foram recolhidos para manter viva nos fiéis a lembrança das almas dos mortos. Portanto, cumprem o papel específico de todos os elementos sensíveis e aptos a suscitar a devoção e alimentar a piedade religiosa.

Os visitantes, como não devem assumir atitudes céticas a priori, também não devem condicionar a fé na outra vida ao que observam. Os documentos do museu deveriam ser objeto de investigação e de estudo para se aceitar, ou não, seu valor. (Para alguns estudiosos de parapsicologia, estes cimélios são um testemunho de transformação e exteriorização da energia somática dos vivos, e não apresentam indícios de provirem do além. Seriam os vivos, em virtude do fenômeno definidos pelos parapsicólogos como “dramatização”, a provocarem, inconscientemente, aquelas marcas atribuídas às almas do purgatório).

Antes de elencar os cimélios, considero útil citar as palavras de Monsenhor Benedetti primeiro sucessor e continuador da obra do padre Jouet:

“Há pessoas que, a priori, erguem os ombros e dão uma risadinha diante das manifestações sensíveis do além, e negam totalmente o fato, e alguns até a possibilidade do fato... Não é justo rejeitar, sem examinar, os testemunhos de pessoas respeitáveis, dignas de fé, cuja virtude, de algumas, foi reconhecida oficialmente pela Igreja. E claro que se precisa ter cautela, avaliar e estudar, mas nem nos critérios humanos e científicos se admite o apriorismo da negação, quando um fato não se explica de outra forma, senão pela intervenção do sobrenatural. Este existe e, assuste-nos ou não, se existe deve poder manifestar-se. A vida das almas padecentes é ‘vida’, e, portanto, admite manifestações tais, cujo âmbito nos escapa, mas que não se pode racionalmente negar. Deus é senhor do espírito e da matéria, criador de um e de outro. Que maravilha se ele quiser - sempre em favor de suas criaturas - servir-se de uma e de outra por meios a nós desconhecidos! As negações sistemáticas, as risadinhas desdenhosas não têm sentido: deixemos límpida a fé e não perturbemos a verdadeira ciência”.

Cimélios especiais

Os dez objetos raros conservados no museu, bem em evidência numa grande vitrina, são

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elencados por ordem de disposição. Ei-los:

1 - Reprodução fotográfica do altar de N. Senhora do Rosário, de uma capela existente antes de 1900, entre a igreja atual e a casa religiosa. É visível a marca deixada na parede, após o pequeno incêndio de 15 de novembro de 1897.

2 - Marca de três dedos deixada no dia 5 de março de 1871, no livro de orações de Maria Zaganti, da paróquia de Santo André de Poggio Berni (Rimini) pela falecida Palmira Rastelli, irmã do pároco, morta em 28 de dezembro de 1870, a qual, por meio da amiga, pedia ao irmão, padre Santo Rastelli, a celebração de Missa.

3 - Aparição, em 1875, de Luísa Le Sénèchal, nascida em Chanvrières, morta em 7 de maio de 1873, a seu marido Luís Le Sénèchal, em sua casa em Ducey (Manche - França), para pedir-lhe orações: deixou como sinal a marca dos cinco dedos sobre um gorro. Segundo a narração autêntica da aparição, o queimado no gorro foi feito pela falecida para que o marido documentasse com sinal visível à sua filha o pedido de celebração de santas Missas.

4 - Fac-símile fotográfico (o original está em Winnenberg) de uma marca de fogo deixada, em 13 de outubro de 1696, sobre o avental de Irmã Maria Herendorps, do mosteiro beneditino de Winnenberg, perto de Warendorf (Vestfalia), da mão da falecida Irmã Clara Schoelers, religiosa da mesma Gidem, morta pela peste de 1637. Na parte inferior da foto vê-se a marca queimada de duas mãos, deixada pela Irmã sobre uma tira de tecido.

5 - Fotografia de uma marca deixada pela falecida senhora Leleux na manga da camisa de seu filho José, em sua aparição, em Wodecq (Bélgica). Segundo a narração deste, a mãe, morta há 27 anos, apareceu-lhe na noite de 21 de junho de 1789, após onze noites em que ele ouvia rumores que o assustaram e o deixaram doente. A mãe lembrou-o da obrigação de santas Missas, como constava no testamento paterno, e chamava-lhe seriamente atenção pela vida dissipada que estava levando, pedindo-lhe para mudar de conduta e trabalhar pela igreja. E pôs a mão sobre a manga de sua camisa, deixando uma marca bem visível. José Leleux mudou de vida e fundou uma Congregação de leigos piedosos. Morreu com fama de santidade em 19 de abril de 1825.

6 - Marca de fogo de um dedo, deixada pela piedosa Irmã Maria de São Luís Gonzaga, numa aparição à Irmã Margarida do Sagrado Coração, na noite entre 5 e 6 de junho de 1894. O relato, guardado no mosteiro de Santa Clara do Menino Jesus de Bastia (Perugia - Itália), conta como a Irmã Maria de São Luís Gonzaga, sofrendo por dois anos de tuberculose com grandes febres, tosse, asma e hemoptises, ficara desalentada e, portanto, desejosa de morrer logo para não mais sofrer. Porém, sendo bastante fervorosa, ante a exortação da Madre superiora, entregou-se à vontade divina. Dias depois, na manhã de 5 de junho de 1894, faleceu santamente. Apareceu na noite entre 5 e 6 de junho, vestida como clarissa, circundada de sombras, mas reconhecível.

Irmã Margarida, maravilhada, perguntou onde se encontrava; respondeu que no purgatório, tendo de sofrer pela sua impaciência para com a vontade divina. Pediu orações de sufrágio e, para atestar a realidade de sua aparição, colocou o dedo indicador sobre a fronha do travesseiro e prometeu voltar. Reapareceu-lhe nos dias 20 e 25 de junho para agradecer e dar avisos espirituais à Comunidade, antes de voar ao paraíso.

7 - Marcas deixadas numa mesinha de madeira, na manga da túnica e forro da venerável Isabel Fornari, abadessa das clarissas do mosteiro de S. Francisco, em Todi, pelo falecido abade Panzini de Mântua, no dia 10 de novembro de 1731. São quatro marcas: uma da mão esquerda sobre uma mesinha da qual se servia a venerável abadessa para seu trabalho (é bem visível o sinal da cruz impresso profundamente na madeira). A segunda é da mão esquerda numa folha de papel. Outra marca, da mão direita, na manga da túnica. A quarta é a mesma marca que, furando a túnica da Irmã, queimou o pano que estava sob a túnica, manchado de sangue. O relato é do padre Isidoro Gazala do Santíssimo Crucificado, confessor da venerável, a quem ordenou por obediência, cortar pedaços da túnica, da outra veste e da mesinha, para que lhe fossem entregues e conservados.

8 - Marca deixada num livro de Margarida Demmerlé, da paróquia de Ellinghen (diocese de Metz), pela sogra, que lhe apareceu trinta anos após a morte (1785-1815). Vestia as roupas da região, como uma peregrina: descia a escada do celeiro, gemendo e olhando a nora com tristeza, como a lhe pedir alguma coisa. Margarida, aconselhada pelo pároco, na aparição seguinte dirigiu-lhe a palavra e teve esta resposta: “Sou tua sogra, morta de parto há 30 anos. Vá em peregrinação ao santuário de N. Senhora de Mariental e mande celebrar ali duas santas Missas por mim”. Após a peregrinação, a aparição se mostrou novamente para anunciar sua libertação do purgatório. Margarida, orientada pelo pároco, pediu um sinal e a falecida o deixou, pondo a mão sobre o seu livro “A Imitação de Cristo”.

9 - Marca de fogo que o falecido José Schitz deixou tocando com a ponta dos cinco dedos da mão direita num livro de oração em língua alemã pertencente a seu irmão Jorge, no dia 21 de dezembro de 1838, em Sarralbe (Lorena). O falecido pedia orações para reparar sua pouca piedade em vida.

10 - Fotocópia de uma nota de 10 liras. Entre 2 de setembro de 1918 e 9 de novembro de 1919, foram deixadas 30 delas no mosteiro de São Leonardo, em Montefalco, por um padre falecido que pedia Missas. (A cédula original foi restituída ao mosteiro, onde se conserva). (ALBANO, 2004, pp. 67-74).

Algumas das provas que as almas do purgatório deixaram, para atestar a sua presença,

existentes no Museu:

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O cientista, orador, jornalista e escritor Henrique Rodrigues (1921-2002), foi presidente

do Centro de Estudos Psicobiofísicos de Belo Horizonte, que visitou esse museu, disse que lá

existem 280 peças comprobatórias, com identificação de nomes, datas, lugares em que os

fatos aconteceram. Uma coisa curiosa delas é que “pelos próprios relatos os fenômenos foram passados dentro dos conventos e igrejas, com freiras, irmãs, confessores e até padres e

bispos, eles vinham suplicar socorro, em preces, orações e missas” (RODRIGUES, 1998, pp.

12-15).

Sobre o Museu das Almas do Purgatório e suas conseqüências, trazemos esse depoimento:

A vida após a morte

Encerro este escrito sobre o museu das almas do purgatório com as palavras do notório estudioso de fenômenos ocultos, Alois Gatterer, de Innsbruck, o qual, ao ser questionado se o estudo das aparições ocultas pode esclarecer com segurança o destino das almas após a morte, disse: “Para responder a tal questão, interessante do ponto de vista científico, mas extraordinariamente importante para a práxis de vida, são de grande valor muitos fenômenos ocultos espontâneos, pertencentes à categoria das manifestações benignas, como as aparições das almas padecentes. Só uma hipercrítica insana pode rejeitar totalmente estes fatos e negar-lhes qualquer valor científico, só por causa da dificuldade de demonstrar a identidade”

Se a opinião de Gatterer é importante em razão de suas muitas experiências no campo das aparições ocultas, as manifestações e aparições espontâneas por mim elencadas - por gentil concessão dos responsáveis do museu - deveriam representar um importante subsídio para aqueles que, prescindindo em boa-fé do ensinamento da Igreja, procuram provas da continuação da vida após a morte”. (1). _________

(1) Artigo de Salvador Nofri, em “Sinal do Sobrenatural”, n. 31, de novembro de 1990.

(ALBANO, 2004, p. 74) (grifo nosso).

Então, infelizmente, estamos vendo, até os dias de hoje, só hipercríticos insanos.

7º Caso: aparição para a Irmã Ana Felícia (?-?)

Caso importante, porquanto sua veracidade é atestada por um líder da Igreja Católica,

que visitou o local do acontecimento. Vejamos:

Este fato portentoso é narrado por Monsenhor de Segur, que visitou o Convento das Terceiras Regulares Franciscanas daquela cidade, foi submetido a um rigoroso processo ordenado pelo Bispo de Foligno, em 23 de novembro de 1859:

Em 1870, diz o piedoso prelado, eu vi e toquei em Foligno, perto de Assis, na Itália, uma destas terríveis provas do fogo pelas quais as Almas do Purgatório, por permissão de DEUS, às vezes atestam que o fogo do Purgatório é um fogo real. Em 1859 morreu de uma apoplexia

fulminante a boa Irmã Teresa Gesta, que durante longos anos foi mestra das noviças. Doze dias depois, em 16 de novembro, uma Irmã chamada Ana Felícia, estava na rouparia quando ouviu um angustioso e triste gemido: - JESUS! Maria! Assustada a Irmã exclamou: — Que é isto? Não havia acabado de falar, quando ouviu uma queixa: Ai! Meu DEUS! Meu DEUS! Quanto sofro! Irmã Ana reconheceu logo a voz da defunta Irmã Teresa. Um cheiro sufocante de fumaça encheu toda a

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rouparia e percebeu-se o vulto da Irmã Teresa que dirigia-se para a porta e tocava a mesma com a mão direita, dizendo: Aqui fica a prova da misericórdia de DEUS. E na madeira da porta ficou carbonizada e impressa a mão da defunta, que desapareceu. Irmã Ana pôs-se a gritar

numa grande excitação nervosa. A comunidade correu para a acudir e sentia-se um cheiro sufocante de fumaça. A Irmã conta o que se passou e todas reconhecem, na mão pequenina gravada no portal, a mão da Irmã Teresa, que se distinguia muito pela sua pequenez e

delicadeza. As Irmãs comovidas, vão à capela e oram pela defunta. Passam a noite em oração e penitências em sufrágios da saudosa mestra de noviças. No dia seguinte oferecem a Santa Comunhão por aquela Alma. Mais um dia se passa e Irmã Ana Felícia ouve e vê depois Irmã Teresa radiante de glória, toda bela, que lhe diz com doce voz: “Vou para a glória! Sede fortes e corajosas na luta, fortes em carregar a cruz!” E desapareceu numa luz brilhantíssima... (Livreto Sufrágio, Belo Horizonte: Divina Misericórdia, 1996, pp. 12-13). (grifo nosso).

Mais um caso que se poderia juntar às provas do Museu das Almas do Purgatório.

8º Caso: Padre Miguel Martins

Em Sobradinho, uma das cidades satélites do Distrito Federal, o sacerdote católico Padre Miguel, após celebrar sua missa e retirar seus paramentos, incorpora o espírito chamado

de Frei Fabiano de Cristo e, ainda dentro da Igreja, passa a atender aos fiéis, que ali vão em

busca de alento espiritual.

Numa entrevista ao apresentador de TV Alamar Régis, ele disse que tudo começou no

ano de 1969, quando o espírito Frei Fabiano aparece-lhe dizendo que tinha que trabalhar com ele. Fez de tudo para que isso não acontecesse; mas, vencido pelas evidências e a bondade do

Frei, acabou cedendo e hoje é, talvez, o único Padre que, assumidamente, se diz médium.

Vejamos um pouco dessa sua entrevista:

Alamar: Mas a mediunidade em um padre, é uma coisa muito esquisita, do ponto de vista tradicional, considerando os dogmas da Igreja. O senhor não fica sem jeito quando enfrenta os seus próprios companheiros de doutrina?

Padre Miguel: Não é que eu tenha vergonha da minha espiritualidade – vocês chamam de

mediunidade, mas eu chamo de espiritualidade. Eu venho aceitando a ela porque eu só tenho visto caridade no Espiritismo. Eu tenho visto pessoas que não acreditavam em Deus e passaram a acreditar, pessoas que se afastaram por muito tempo de Deus e voltaram, pessoas que nunca leram o Evangelho e passaram a ler, porque o Frei deu o Evangelho Kardecista(?), porque ele não aceita outro Evangelho. Eu até brigo com ele porque ele diz que o “Evangelho Segundo o Espiritismo” é muito mais explicado e mais profundo que o da Igreja Católica. Apesar de eu não ver dessa maneira, ele acha isso.

Hoje até uma briga feia que dois padres pegaram comigo, falando sobre o Evangelho. Foi uma confusão muito grande, e eu tive de explicar que era uma opinião do Frei Fabiano, e pedi para que eles maneirassem um pouco, porque aquilo já estava causando um sofrimento enorme.

Eu fui parar numa reunião só de bispos e padres. Chamaram-me de charlatão, de vigarista, macumbeiro e de tudo quanto é nome.

Eu percebo que tenho um gênio muito forte, e nessa briga estava para reagir, quando o Frei Fabiano me encostou e disse:

- Não diga uma palavra, não fale nada. Assim como Jesus ficou calado diante de Pilatos, fique também diante desse tribunal”.

Aí, quando terminou, um dos participantes dessa reunião, que eu chamo de Inquisição, falou assim:

- “Você não vai se defender não?” A resposta foi a que o Frei mandou que eu desse: - “O tempo é que dirá e julgará o que eu faço em Sobradinho”.

Alamar: No nível moral, como o senhor define o espírito Frei Fabiano?

Padre Miguel: A ele devo muita coisa. Ele mudou minha vida toda. Eu gostava de tomar

uma “brahmazinha”, escondido, hoje não tomo mais. Eu saía muito, hoje não saio mais; fiquei caseiro; rezo muito. Eu não era de ler o Evangelho, era meio relaxado, hoje já estudo e procuro vivenciá-lo muito mais. Depois dele a minha vida mudou completamente.

Alamar: Quais as orientações mais significativas que o Frei Fabiano lhe tem dado?

Padre Miguel: Só boas orientações. Ele só fala das coisas do Alto. Para ele falar das

coisas daqui, eu tenho que insistir. Ele tem uma coisa de que eu gosto muito, a sinceridade. Se alguém estiver para morrer, ele diz mesmo. Agora ele até já parou um pouco de dizer. Prefere não tocar no assunto porque o mundo não compreende a morte e as pessoas sofrem muito quando é revelada antes.

A entrevista completa poderá ser vista na Revista Visão nº 1, abril/1998, pp. 40-43, e na nº 2, maio/1998, pp. 36-37. E já que estamos falando de padre, vejamos o que alguns

deles dizem, no próximo item.

Padres Católicos que acreditam no intercâmbio com os mortos

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1º – Pe. Pascoal Magni

Como prometemos anteriormente, quando falamos do livro do Dr. Lino, O Além Existe,

vamos apresentar a opinião do Pe. Pascoal Magni, que fez a sua apresentação:

Apresentação

Falando em meio a cristãos praticantes sobre os riscos que a Fé acarreta, freqüentemente, esquece-se de um que consiste na perda de dimensão. Esse esquecimento, sob o pretexto de

fidelidade, tornou míopes teólogos da época de Galileu. Daí ter acontecido tudo aquilo. Essa miopia, há um século intacta, nós a reencontramos diante da profundidade do

fenômeno da vida. Ainda hoje, ela domina mesmo diante de um novo fenômeno que lembra a profundidade meta-histórica da vida, tudo o que ultrapassa as dimensões do espaço-tempo. O católico praticante, todo domingo, conclui seu “Ato de Fé” com aquele admirável “pentagrama” que tem na “vida além da vida” – Creio na Vida Eterna – seu foco, sua plenitude. Mas quando ele deixa

o recinto sagrado e entra no mundo, parece se esquecer daquilo que professou. Entre o ato de fé na Vida Imortal – a vida no sentido pleno – e os atos existenciais,

corriqueiros ou extraordinários, interpõe-se não uma porta de comunicação, mas uma barreira. O véu do templo que, nos diz o Evangelho, se rasgou na morte de Cristo, está se

reconstruindo em muitas pessoas como uma membrana, bem diferente da membrana acústica, feita exatamente para por em comunicação dois mundo distintos, mas não estanques: o mundo exterior, sensorial por definição, e o mundo da interioridade, por natureza espiritual e imortal.

A perda das dimensões “do alto e do profundo” – conforme imagem paulina – torna surdos, para não dizer obtusos, muitos incrédulos e não poucos fiéis.

O contato com este livro e com os acontecimentos que constituem a sua essência provocará, com certeza, duas reações imediatas e opostas, análogas a um choque elétrico não muito forte. A reação de quem teme e solta imediatamente a tomada e a reação de quem pede: “Luz! Mais luz!”.

Aos míopes geralmente se atribui o medo: “Não me arrisco”, dirá sempre o bom positivista, fiel ao pentagrama dos sentidos. Mas como é possível viver segundo o pentagrama, quando a ciência moderna já escreve a própria partitura acima e abaixo das clássicas linhas?

“Não me arrisco”, dirão a mulher, o homem de fé, repetindo fórmulas que já viraram chavões e que, como todo lugar-comum, resistem à dinâmica do processo vital: são como pedras dificilmente biodegradáveis.

A circularidade a que se referia Paulo VI, falando de “Evangelho e cultura moderna”, exige adoração e, ao mesmo tempo, comunhão: tal como a Eucaristia, ato vital por excelência.

O típico processo vital do homem “criatura de Deus” não é o conhecimento articulado ao amor?

Esse livro fala do amor de um pai que perdeu o filho, sem saber como nem onde. A sua procura do “como” e do “onde” levou-o para uma dimensão com a qual nunca

sonhara. Ele acredita na Vida Eterna. Repetia, como todos os praticantes, as palavras do Creio.

Como dirigente da Ação Católica de uma cidade de fronteira, até ajudava os outros a praticar as obras da fé. E, no entanto, não imaginava encontrar-se na fronteira da vida além da vida. Foi preciso que seu filho desaparecesse na noite para que em sua alma pudesse surgir o alvorecer.

Nós, ouvintes e leitores, encontramo-nos ante um drama humano que nos envolve. A comoção é como uma onda do mar agitada pelo vento. Vive as suas modulações de freqüência que são, também, o sinal de participação direta.

Mas o autor deste livro não nos pede compaixão. Pede participação: participação numa Fé que se tornou certeza. Seu filho vive, além da fronteira cercada pelo arame que chamamos de morte.

Não é mais um coração ferido que nos pede uma gota de óleo para suavizar a ferida. É um coração iluminado, como se aquela gota de óleo se tivesse transformado num feixe de luz, como bem o sabiam os cristãos das catacumbas.

“Será?”, diz o cético, voltando para a rotina da mediocridade. Às vezes, o coração paterno sabe inventar milagres. Quem recebe as mensagens senão o coração de pai, para transformar a ponta pungente do espinho em um botão de rosa?”

Nossas explicações permanecem autógenas. Mas o homem insiste. E nos convida a considerar as circunstâncias desse reencontro, num plano bem diverso do que inicialmente previmos: não estaria ele buscando consolação segundo as razões do coração, ou ainda, investigar segundo os hábitos culturais da era da televisão?

Nada disso. Trata-se de outra dimensão, da dimensão de uma existência que se faz presença através de uma mediação, às vezes chamada de inspiração. A mão escreve de modo incomum. A pessoa transcreve mensagens que, realmente, não parecem elaboradas pela consciência pessoal ordinária. Como as elaboraria? O horizonte hipotético se abre exatamente para além das fronteiras costumeiras, em um domínio em que a metapsíquica, que ainda não é ciência, está tateando.

Passo a passo poderemos chegar longe. O que a Fé anuncia com firmeza, e que a teologia das últimas coisas vem indicando como o

termo de vida além da vida, já se revela suscetível de renovada reflexão. É hora de passar do primeiro leite – alimento completo para crianças, como lembra o

apóstolo Paulo – para uma alimentação condizente com a nossa idade. A nossa época talvez seja a mais privilegiada. A riqueza dos fenômenos e a perfeição dos instrumentos usados na pesquisa levam-nos a reconhecer na expressão vida além da vida, não só a projeção transfigurante das

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nossas aspirações, como também nos leva a individuar o núcleo constitutivo do ser, que é imortal. A luz que une a nossa existência à “transexistência” não constitui o mais alto valor na

escala logarítmica dos valores humanos?

Pe. Pascoal Magni

Teólogo, epistemólogo, escritor

(ALBERTINI, 1989, pp. 7-9).

2º - Pe. João Martinetti

Esse é o outro padre, cuja fala consta no livro do Dr. Lino.

A IGREJA ANTE OS FENÔMENOS PARANORMAIS

À Igreja, a meu ver, agrada que a verdade anunciada por Jesus Cristo receba hoje, num mundo secularizado, novas confirmações por meio de fatos e provas concretas, aptos a despertar o interesse dos indiferentes e dos agnósticos que, sem ele, dificilmente compreenderiam o valor das motivações mais interiores e profundas da Fé.

Entre os sinais e os indícios, já indicados pelos Santos Padres, de uma vida no Além, em primeiro lugar se apresentam alguns fenômenos paranormais espontâneos, isto é, não-

mediúnicos, como as bilocações de viventes e as aparições de mortos (inumeráveis as dos santos). Esses fenômenos, se forem enriquecidos de credibilidade testemunhal e conexos com acontecimentos objetivos (revelações de acontecimentos desconhecidos ou futuros e, em seguida, realizados, curas instantâneas etc.), oferecem um precioso e convincente convite ao homem moderno: aceitar a Fé, como tive oportunidade de ilustrar num livro recente (G. Martinetti, La vita fuori Del corpo, Elle Di Ci, Turim, 1986), do qual estou preparando a segunda edição, com acréscimos de muitos fatos históricos e contemporâneos.

Uma segunda categoria de fenômenos em favor do Além nos é dada pelas comunicações mediúnicas, que constituem um campo delicado e perigoso como a Igreja muitas vezes o declarou, fundando-se na Bíblia.

A Bíblia condena a necromancia (tipo particular de comunicação com presumíveis falecidos, conforme o costume das culturas tribais, mas não ausente nos nossos países), por causa de suas estreitas relações com as religiões mágicas e animistas. Deus, como é apresentado pela Revelação bíblica, quer nos conduzir para uma felicidade supraterrena, por meio do amor e obediência confiante nele e a aceitação de acontecimentos futuros – por nós desconhecidos, mas por ele permitidos para cada um de nós. O homem não pode pretender, servindo-se do poder dos “espíritos” (magia, adivinhação, necromancia), conhecer o próprio futuro, prejudicar, com feitiços, os próprios adversários e construir a seu gosto um destino de sucesso, riqueza e poder. Nas culturas tribais atuais, em que se praticam a magia e a necromancia, o Criador vem sendo esquecido, enquanto todo o culto é orientado, por meio de feiticeiros, para os falecidos. Eles querem, por meio dos mortos, obter “feitiços” para os inimigos e vantagens materiais para os que pedem.

As proibições do Magistério (a última é de 1971) são motivadas pela condenação bíblica à necromancia (que pode apresentar afinidades com certos tipos de espiritismo) e sobretudo pela possibilidade, não remota e teórica, de que nas comunicações mediúnicas se introduzam, sob nome falso, espíritos negativos, com a intenção de desviar os viventes do caminho certo e até provocar em alguém o fenômeno chamado “possessão”.

Com o progresso da parapsicologia científica, os estudiosos e também os que acreditam vêem na maioria das mensagens mediúnicas ordinárias não necessariamente a presença de Satanás, mas reflexos da psique do médium e dos participantes.

Em alguns casos reconhecem somente sérios indícios de contato com seres inteligentes que não vivem neste mundo.

1 – São os casos em que o presumido falecido revela o caráter, a maneira de pensar e de falar que possuía nesta vida aquele que diz ser, os nomes e os costumes de pessoas conhecidas por ele e pelos participantes da sessão, mas, sobretudo, notícias absolutamente desconhecidas dos médiuns e dos participantes, conhecidas somente pelo falecido quando estava nesta vida e verificadas, hoje, como exatas.

2 – Essas revelações possuem notável valor indicial quando se pode constatar a ausência de especiais e extraordinários dotes de clarividência no médium e nos participantes (isto é, nunca mostraram esse dotes em sua atividade ordinária) e, ainda mais, se as revelações acontecem com particularidades paranormais não atribuíveis a eles (como, por exemplo, com uma caneta que escreve sem a guia do médium). As notícias até agora desconhecidas e que se revelaram exatas são, então, um sinal bastante convincente da presença de um espírito que se comunica do além, mas não oferecem ainda fortes probabilidades de que seja verdadeiramente o falecido que diz ser.

Poderiam provir de entes de baixo nível moral que referem notícias exatas e verificáveis para enganar em outros campos que não se podem provar facilmente e assim induzir os viventes para posições que, com o passar do tempo, tornar-se-iam moral e religiosamente desviantes.

3 – Deus pode querer a intervenção de alguns falecidos em nossa vida para nos ajudar a acreditar na Vida eterna e para nos admoestar a que não nos apeguemos às coisas deste mundo (cf. Sto. Tomás, Suma, I, 89,8 ad 2; Supl. 69, 3; e noutros trechos). O Magistério católico, alertando

para o perigo do espiritismo, nunca declarou que o mesmo tenha sempre origens diabólicas. A

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Igreja permite que se tentem experiências neste campo por pessoas competentes (sólida formação religiosa e moral, senso crítico, uma boa cultura em parapsicologia, equilíbrio psíquico), à procura da verdade, com os devidos cuidados (por exemplo: que o médium tenha demonstrado retidão moral e não busque o lucro ou esteja à procura de notoriedade).

Sob tais condições, o Magistério se conforma à opinião que prevalece entre os estudiosos de que os fenômenos mediúnicos são originados, às vezes, por causas infraterrenas (o inconsciente dos participantes ou as fraudes do médium), mas não exclui que, em alguns casos, se manifestem determinados mortos.

Podemos razoavelmente concluir que o presumido morto que se comunica seja exatamente aquele que diz ser somente se apresentar suficientes indícios capazes de convencer que sua comunicação tenha sido autorizada por Deus e realizada em comunhão com ele. Nesse caso, nós, que acreditamos, sabemos que:

a) o morto nunca negará pontos substanciais do Evangelho e do ensino da Igreja;

b) poderia até fornecer deles confirmação e aprofundamento;

c) de sua intervenção hão de surgir efeitos positivos do ponto de vista moral e religioso (aproximação da fé, recuperação da paz e da tranqüilidade, oração, perdão, reconciliação, etc.).

Se se verificarem todas as precedentes condições, a exigência, para acreditar na autenticidade das comunicações, de provas científicas, provas tais que excluam absolutamente qualquer possibilidade de erro, embora mínima, e que apresentem a certeza matemática-física, representaria, a meu ver, um posicionamento de excessiva severidade metodológica, capaz de fechar o caminho a qualquer outro resultado e a qualquer outra pesquisa, quer de parapsicologia, quer de todas as outras disciplinas que não estudam exclusivamente os fenômenos físico-químicos.

De fato, o cientista acredita nas pessoas e nos acontecimentos e toma decisões comprometedoras ou até vitais só à base de certezas morais suficientemente meditadas (as relações humanas, os fatos históricos e os relativos testemunhos, os processos indiciários, os valores humanos não oferecem certezas científicas). O cientista que tem fé pode com razão acreditar, como com efeito acontece, nas aparições de Lourdes, de Fátima etc., apesar de esses fenômenos não serem suscetíveis de provas científicas, mas de certezas morais somente.

Até as aparições contadas pelos Atos dos Apóstolos, os milagres de Jesus, as profecias realizadas e as aparições dos Ressuscitados, que os Evangelhos e a Igreja sempre consideraram sinais qualificados da Fé, não podem ser comprovados cientificamente, mas se baseiam em certezas de ordem moral seriamente fundadas.

A intuição pessoal, além do mais, graças à iluminação divina, chega à certeza absoluta da Fé.

Os inúmeros e significativos reflexos positivos nas consciências, obtidos por meio de O Além Existe, demonstram a necessidade que tem o homem de sinais exteriores e de provas

objetivas que ajudem a Fé, hoje mais difícil, e o dever para nós que acreditamos, de estudar este caso relevante e todo o imenso e complicado campo do paranormal, deixando a atitude de desinteresse e de estranheza que, no último século, por influência do positivismo dominante, caracterizou boa parte da cultura católica.

Pe. João Martinetti

Estudioso da paranormalidade

(ALBERTINI, 1989, pp. 11-14).

3º - Pe. François Brune

Estamos diante de um pesquisador da Transcomunicação Instrumental, nome pelo qual

passou-se a designar a comunicação dos mortos através de aparelhos eletrônicos. Pe. Brune

teve a coragem de se lançar à pesquisa, para saber se tais fatos eram reais ou não. A

conclusão a que chegou está registrada no livro de sua autoria intitulado Os mortos nos falam. Vamos transcrever sua opinião sobre o assunto, já que não nos cabe, aqui, senão dar

uma idéia de como ele pensa, deixando, ao leitor, a oportunidade de ler o seu livro.

Interrogar sobre as origens, no pensamento ocidental, desta recente ideologia do nada, não é o meu propósito. O mais escandaloso é o silêncio, o desdém, até mesmo a censura exercida pela Ciência e pela Igreja, a respeito da descoberta inconteste mais extraordinária de nosso tempo: o após vida existe e nós podemos nos comunicar com aqueles que chamamos de mortos.

Escrevi este livro para tentar derrubar esse espesso muro de silêncio, de incompreensão, de ostracismo, erigido pela maior parte dos meios intelectuais do ocidente. Para eles, dissertar sobre a eternidade é tolerável; dizer que se pode vivê-la torna-se mais discutível; afirmar que se pode entrar em comunicação com ela é considerado insuportável.

O padre e teólogo que sou quis, como se diz, certificar-se completamente da verdade. Por que todos esses testemunhos deveriam ser, a priori, considerados suspeitos? Quando o conteúdo das mensagens e das comunicações gravadas reúne, como eu o demonstro, os maiores textos místicos de diversas tradições, existe nisso mais que uma simples coincidência. Eu acompanhei, pois, e estudei apaixonadamente os resultados das pesquisas mais recentes nesse campo. As conclusões deste trabalho ultrapassam minhas previsões: não somente a credibilidade científica das experiências de comunicação com os mortos encontra-se confirmada e não pode ser mais

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posta em dúvida, mas a prodigiosa riqueza dessa literatura do além reanimou em mim o que os séculos de intelectualismo teológico haviam extinguido.

(...) Todos sabem, a Igreja nutre a maior desconfiança em relação a esse tipo de fenômenos:

Ela prega a eternidade, é verdade, mas não aceita que se possa vivê-la e entrar em comunicação com ela. Eu mostro que não foi sempre assim. (....)

(BRUNE, 1991, pp. 15-16).

4º – Pe. Gino Concetti

Pe. Gino, teólogo católico, pertence à Ordem dos Franciscanos Menores, comentarista

do Jornal L'Obsservatore Romano, órgão oficial do Vaticano, disse, em novembro de 1996,

numa entrevista a esse jornal que:

Segundo o catecismo moderno, Deus permite aos nossos caros defuntos, que vivem na dimensão ultraterrestre, enviarem mensagens para nos guiar em certos momentos de nossa vida. Após as novas descobertas no domínio da psicologia sobre o paranormal, a Igreja decidiu não mais proibir as experiências do diálogo com os trespassados, na condição de que elas sejam levadas com uma finalidade séria, religiosa, científica. (

1)

Essa entrevista do Pe. Gino Concetti deu “panos para mangas” aqui no Brasil; não faltou fundamentalista para dizer que essa declaração era falsa, embora a imprensa mundial

tenha dado notícia disso; fora a questão de que, no próprio Jornal do Vaticano, isso pode ser

comprovado. Tentamos buscá-lo na Internet, mas, infelizmente, não consta mais do site do

Jornal. Entretanto, vimos essa notícia sendo divulgada em vários outros sites (2) e na Revista El Gran Corazón nº 174, janeiro 2002, pp. 8-10 e nº 175, março 2002, pp. 5-6, publicação da

Federación Espírita Cristiana de España.

Em 28 de outubro de 2001, no programa “Fantástico”, da Rede Globo, quando foi

apresentada a reportagem do Museu das Almas do Purgatório, Pe. Gino Concetti, foi ouvido pelo repórter da matéria, cujo trecho transcrevemos:

Repórter: “Podem acontecer comunicações entre os vivos e os mortos?”

Pe. Concetti: “Eu acredito que sim. Eu acredito e me baseio em um fundamento teológico

que é o seguinte: todos nós formamos em Cristo um corpo místico, do qual o Cristo é o soberano. De Cristo emanam muitas graças, muitos dons; e se somos todos unidos, formamos uma comunhão e onde há comunhão, existe também comunicação”.

Repórter: “O que o senhor pensa do Espiritismo?”

Pe. Concetti: “O espiritismo existe. Há sinais na Bíblia, na Sagrada Escritura. Mas não é do

modo fácil como as pessoas acreditam. Nós não podemos chamar o Espírito de Michelangelo ou de Rafael. Mas como existem provas na Sagrada Escritura, não se pode negar que exista essa possibilidade de comunicação”.

(CAJAZEIRAS, 2002, p. 89).

Diante disso, os católicos não teriam mais como negar as comunicações com os mortos; entretanto, não é o que acontece; há tantos fundamentalistas no meio, que é bem provável

que nem em Galileu Galilei ainda eles acreditem A única ressalva é a confusão que fez entre o

Espiritismo como uma doutrina religiosa e as manifestações dos espíritos (almas), tomando

um pelo outro.

Conclusão

Ocorre-nos a idéia de realçar duas coisas em relação aos casos citados: uma, que isso ocorre na Igreja Católica desde antes da codificação Espírita; a outra, que os médiuns são

encontrados nas mais variadas religiões, independente de classes sociais, já que não há

privilégio algum quanto a esse “dom”. O fato disso acontecer em vários países vem provar a

sua universalidade e, por isso, deveria merecer mais atenção dos cientistas. Veja e constate

você mesmo, caro leitor:

Maria-Ana Lindmayr (1657-1726), uma freira, carmelita descalça, Alemanha - início

1 http://www.universoespirita.org.br/GAIVOTAS%20DA%20PAZ/b_32.htm, consulta dia 18.04.2007, às

11:50hs.

2 Ver os sites listados nas referências bibliográficas.

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12/1690; Eugênia von der Leyen (1867-1929), uma princesa, Alemanha - início 08/1921;

Maria Simma (1915-2004), filha de um dono de uma hospedaria, Áustria - início

12/1940;

Maria Gómez Cámara (1919-2004), humilde agricultora, Espanha - início em 08/1971; Dr. Lino Sardos Albertini (1915-2005), advogado, Itália - contato com o filho em

fev/1983;

Irmã Ana Felícia (?-?), religiosa, Itália - aparição vista em 11/1859;

Pe Miguel Martins, sacerdote católico, Brasil - início 12/1985.

Quanto à recomendação de Kardec sobre as evocações, é bom ressaltar, porquanto, a maioria das pessoas acham que fazemos isso levianamente, que acontece justamente o

contrário:

Não há, para esse fim, nenhuma fórmula sacramental. Quem quer que pretenda indicar alguma pode ser tachado, sem receio, de impostor, visto que para os Espíritos a forma nada vale. Contudo, a evocação deve sempre ser feita em nome de Deus. Poder-se-á fazê-la nos termos seguintes, ou outros equivalentes: Rogo a Deus Todo-Poderoso que permita venha um bom Espírito comunicar-se comigo e fazer-me escrever; peço também ao meu anjo de guarda se digne de me assistir e de afastar os maus Espíritos. (KARDEC, 1996, p. 248). (grifo nosso).

Quando queira chamar determinados Espíritos, é essencial que o médium comece por se dirigir somente aos que ele sabe serem bons e simpáticos e que podem ter motivo para acudir ao apelo, como parentes, ou amigos.

Neste caso, a evocação pode ser formulada assim: Em nome de Deus Todo-Poderoso peço que tal Espírito se comunique comigo, ou então: Peço a Deus Todo-Poderoso permita que tal Espírito se comunique comigo; ou qualquer outra fórmula que corresponda ao mesmo

pensamento. (KARDEC, 1996, p. 249). (grifo nosso).

Quando dizemos que se faça a evocação em nome de Deus, queremos que a nossa recomendação seja tomada a sério e não levianamente. Os que nisso vejam o emprego de uma fórmula sem conseqüências, farão melhor abstendo-se. (KARDEC, 1996, p. 350). (grifo nosso).

Outras considerações de Kardec sobre o tema:

2ª O Espírito evocado atende sempre ao chamado que se lhe dirige?

"Isso depende das condições em que se encontre, porquanto há circunstâncias em que não o pode fazer."

3ª Quais as causas que podem impedir atenda um Espírito tão logo ao nosso chamado?

"Em primeiro lugar, a sua própria vontade; depois, o seu estado corporal, se se acha encarnado, as missões de que esteja encarregado, ou ainda o lhe ser, para isso, negada permissão.

"Há Espíritos que nunca podem comunicar-se: os que, por sua natureza, ainda pertencem a mundos inferiores à Terra. Tão pouco o podem os que se acham nas esferas de punição, a menos que especial permissão lhes seja dada, com um fim de utilidade geral. Para que um Espírito possa comunicar-se, preciso é tenha alcançado o grau de adiantamento do mundo onde o chamam, pois, do contrário, estranho que ele é às idéias desse mundo, nenhum ponto de comparação terá para se exprimir. O mesmo já não se dá com os que estão em missão, ou em expiação, nos mundos inferiores. Esses têm as idéias necessárias para responder ao chamado."

4ª Por que motivo pode a um Espírito ser negada permissão para se comunicar?

"Pode ser uma prova, ou uma punição, para ele, ou para aquele que o chama."

8ª O Espírito evocado vem espontaneamente, ou constrangido?

"Obedece à vontade de Deus, isto é, à lei geral que rege o Universo. Todavia, a palavra constrangido não se ajusta ao caso, porquanto o Espírito julga da utilidade de vir, ou deixar de vir. Ainda aí exerce o livre-arbítrio. O Espírito superior vem sempre que chamado com um fim útil; não se nega a responder, senão a pessoas pouco sérias e que tratam dessas coisas por divertimento."

9ª Pode o Espírito evocado negar-se a atender ao chamado que lhe é dirigido?

"Perfeitamente; onde estaria o seu livre-arbítrio, se assim não fosse? Pensais que todos os seres do Universo estão às vossas ordens? Vós mesmos vos considerais obrigados a responder a todos os que vos pronunciam os nomes? Quando digo que o Espírito pode recusar-se, refiro-me ao pedido do evocador, visto que um Espírito inferior pode ser constrangido a vir, por um Espírito superior."

10ª Haverá, para o evocador, meio de constranger um Espírito a vir, a seu mau grado?

"Nenhum, desde que o Espírito lhe seja igual, ou superior, em moralidade. Digo em

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moralidade e não em inteligência, porque, então, nenhuma autoridade tem o evocador sobre ele. Se lhe é inferior, o evocador pode consegui-lo, desde que seja para bem do Espírito, porque, nesse caso, outros Espíritos o secundarão."

12ª Serão necessárias algumas disposições especiais para as evocações?

"A mais essencial de todas as disposições é o recolhimento, quando se deseja entrar em comunicação com Espíritos sérios. Com fé e com o desejo do bem, tem-se mais força para evocar os Espíritos superiores. Elevando sua alma, por alguns instantes de recolhimento, quando da evocação, o evocador se identifica com os bons Espíritos e os dispõe a virem."

13ª Para as evocações, é preciso fé?

"A fé em Deus, sim; para o mais, a fé virá, se desejardes o bem e tiverdes o propósito de instruir-vos."

22ª Para se manifestarem, têm sempre os Espíritos necessidade de ser evocados?

"Não; muito freqüentemente, eles se apresentam sem serem chamados, o que prova que vêm de boa-vontade."

(KARDEC, 1996, pp. 358- 364).

Como ficou demonstrado pelas manifestações dos espíritos que aqui apresentamos,

independentemente de evocar ou não, os espíritos só aparecem porque há permissão; nada

acontece por vontade deles mesmos, pois seguem o controle de Espíritos Superiores, que são os prepostos de Jesus, que, com Ele, fazem cumprir a vontade de Deus.

As provas que tanto nos exigem determinados evangélicos, nós as apresentamos

usando as que os católicos possuem – citadas aqui neste estudo -, exatamente, de quem se

faz também de nossos adversários, ficando, dessa forma, fora de propósito eles contestá-las.

Aos católicos recomendamos que, se pesquisarem, acabarão percebendo que nem tudo que lhes dizem é verdadeiro, especialmente aqui no Brasil, onde parece que a cúpula católica

odeia os espíritas, apesar de que, diante de holofotes, dizem amá-los. É o tal do “tapinha nas

costas”, comum aos hipócritas.

A certos líderes continua prevalecendo o que disse Simma: “Muitos padres se consideram tão sábios que pretendem entender de tudo”. Outros negam o Espiritismo, por

dever de ofício.

Não sabemos se teríamos algum argumento aos céticos, porquanto, é difícil mesmo

demovê-los do que pensam; apenas lhes pediríamos que reflitissem um pouco mais, diante dessas provas que aqui apresentamos, e estudassem cientificamente o Espiritismo!

Paulo da Silva Neto Sobrinho Abril/2007

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Reportagem sobre declaração do Pe. Gino Concetti (visitadas em 20/04/2007): http://victorzammit.com/book/spanish/chapter03.htm;

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