Os estudos sobre cultura politica, na analise do atraso do sul da Itália.

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Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Departamento de Ciência Política Pós-Graduação em Ciência Política Disciplina: Análise Política – DCP880 Docente: Mario Fuks Discente: Gianluca Elia Titulo: Os estudos sobre cultura politica, na analise do atraso do sul da Itália. The civic culture de Almond e Verba (1963) foi o primeiro estudo político comparativo cross-nation 1 sobre ‘cultura política’, abrindo um novo campo de pesquisa. Almond e Verba, a partir das comparações das atitudes e orientações dos cidadãos sobre assuntos políticos, pretendiam estudar quais condições culturais são propicias para o estabelecimento e a manutenção de sistemas democráticos. Seriam três os tipos de orientação política: a cogniti va, a afetiva e a avaliativa e existiria um mix de três diferentes tipos de cultura política: a paroquial , (tradicional e particularista) , a subjetiva, (centralizada e autoritária) e a participativa. Estados Unidos e Inglaterra 1 Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália e México.

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Revisão da literatura sobre a 'questão meridional' italiana

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Universidade Federal de Minas GeraisFaculdade de Filosofia e Cincias Humanas

Departamento de Cincia PolticaPs-Graduao em Cincia Poltica

Disciplina: Anlise Poltica DCP880Docente: Mario FuksDiscente: Gianluca Elia

Titulo: Os estudos sobre cultura politica, na analise do atraso do sul da Itlia.

The civic culture de Almond e Verba (1963) foi o primeiro estudo poltico comparativo cross-nation[footnoteRef:1] sobre cultura poltica, abrindo um novo campo de pesquisa. Almond e Verba, a partir das comparaes das atitudes e orientaes dos cidados sobre assuntos polticos, pretendiam estudar quais condies culturais so propiciasparaoestabelecimentoeamanutenodesistemasdemocrticos. [1: Estados Unidos, Gr-Bretanha, Alemanha, Itlia e Mxico.]

Seriamtrsostiposdeorientaopoltica:acognitiva,aafetiva e a avaliativa e existiria um mix de trs diferentes tipos de cultura poltica: aparoquial, (tradicional e particularista), asubjetiva, (centralizada e autoritria)e aparticipativa. Estados Unidos e Inglaterra seriam os modelos de mix de cultura cvica harmnico na qual a participao democrtica balanceada por um conjunto de passividade politica, confiana e deferncia para com as autoridades politicas construdas. Almond e Verba definiram a democracia italiana, assim como a mexicana e a alem, no meio do caminho do modelo deles, enquanto os pases do terceiro mundo teriam uma predominncia de cultura paroquial ligada a estruturas politicas primitivas, e portanto existiria a anarquia e o caos nestas sociedades. (ALMOND E VERBA, 1963).Na Itlia a democracia seria estruturalmente fraca e inacabada, e os italianos apticos, indiferentes e paroquiais. Porem estes resultados eram opostos as concepes dos cientistas sociais italianos da poca, que ainda percebiam como vivos os valores da resistncia contra o nazi fascismo e da Constituio da Republica Italiana. A pesquisa de Almond e Verba foi criticada porque a metodologia usada levava ao determinismo cultural. Os crticos achavam que fosse verdadeiro o contrario, ou seja, as instituies democrticas permitem o desenvolvimento de culturas politicas cvicas. O uso de perspectivas culturalistas por parte de autores estadounidenses, para explicar o menor desenvolvimento do sul da Itlia foi a rigor comeado por Banfield em 1958. Este chamou de familismo amoral, as bases morais que freavam o desenvolvimento daquela comunidade calabresas que ele estudou. Estas comunidades camponesas pobres e com baixo nvel de instruo, no mantinham laos extra familiares, e no pediam direitos sociais e civis aos polticos mas favorecimentos particularistas. (CORICA, 2011) Tambm este autor foi criticado, por parte de histricos e economistas especializados na Questo Meridional, ou seja, o diferente desenvolvimento do sul da Itlia, respeito ao norte da Itlia. Nestes crticos prevaleciam leitura de causaes econmicas e especificadamente de politica econmica governamentais erradas. Alguns destes acadmicos apelavam para solues tcnicas de economia politica geral, ou seja, industrializao e modernizao, outros mais crticos, influenciados pelos varias abordagem da teoria da dependncia, advertiam que esta industrializao, geograficamente de cima para baixo, gerava dependncia do sul da Itlia. (PERROTTA e SUNNA, 2012)Nos anos 90 foram reconsiderados os fatores socioculturais, especificadamente de cultura cvica, como causa da Questo meridional. Este retorno foi fruto do trabalho de Robert Putnam, mais bem acolhido na pennsula. Este trabalho teve a oportunidade de presenciar uma mudana institucional, gerada pela criao das regies italiana. Putnam pretendia entender o porqu dos diferentes desempenhos institucionais das regies, e concluiu que no eram diretamente determinados por fatores econmicos mas sobretudo por um menor ou maior graus de cultura cvica. (Felice, 2014)O livro de Putnam foi publicado na Itlia em 1993, no mesmo ano o historiador Salvatore Lupo (1993) criticou duramente o livro, definindo-o como: uma representao to improvvel que isentaria qualquer refutao. O trabalho de Putnam ainda seria iper-dualista, com vis metodolgicos na escolha deliberada de indicadores para confirmar a tese do livro, no analisa rigorosamente o contexto politico-institucional, alm de ser cheio de imprecises histricas, enfim um romance histrico que no ajuda no entendimento do presente e ainda menos do passado.Putnam se surpreendeu do fato que a introduo do self-government nos anos 70 na Itlia, teve timos resultados na Itlia central, bons no norte e pssimos no sul. A expanso da democracia atravs de uma mudana institucional que decentralizou, aperfeioou a civiness[footnoteRef:2] do norte e no teve como ser aproveitada no sul. Atravs de refinados indicadores o autor estadunidense deduziu uma teoria geral das precondies do autogoverno e da mesma democracia, precondies existentes no norte da Itlia e que faltariam no sul da Itlia. Estas precondies teriam se desenvolvido na baixa Idade Media no norte, porque a falta de um poder centralizado nesta regio, permitiu o desenvolvimento de autonomias politicas com formas de participao e solidariedade horizontal, definidas pelo autor como civiness, e sucessivamente uma economia cooperativista e assosiativista que se cristalizou nos milnios. (LUPO, 1993) [2: A civiness de Putnam traduzida por Lupo como dar sentido ao estado, espirito comunitrio, os seja, a identificao dos cidados com o bem publico.]

Putnam antes de analisar a eficincia das administraes regionais, apresenta um estudo das atitudes dos administradores, atravs de diversas entrevistas de 1970 ate 1989. No comeo da mudana institucional ele observou um espirito ideolgico anticentralistas dos administradores, mas com a consolidao das regies e o crescimento dos fluxos financeiros este espirito se atenuou. Putnam assim observa maior civiness no norte, ligada ao maior pragmatismo, deideologizao e solidariedade internas das classes politicas. Lupo duvida deste ultimo ponto e analisa criticamente as perguntas das entrevistas que foram feitas. Alm disso, segundo ele, no seria fidedigna a ideia de uma classe politica ideologizadaLupo critica sobretudo a dicotomia de Putnam, segundo a qual no sul as negociaes com o estado central, para a formao das regies, teriam sido guiadas por estratgias verticais, enquanto no norte seriam resultados de aes coletivas horizontais muito exagerada e no reflete por exemplo as mobilizaes anteriores dos sicilianos e sardos que levou muito antes disso a institucionalizao das regies com estatuto especial. Alm disso, a forte difuso do regionalismo em uma regio como a Siclia, aonde se formou um bloco politico e social entorno da instituio regional, contradiz o modelo de Putnam.Ainda segundo Lupo, Putnam elogia acriticamente a formao das burocracias regionais, sem dar demonstraes sobre a presunta maior responsiviness e accountabilitiy, e maior comunicao que teriam gerado estas burocracias. Putnam define como atraso cultural as simples duvidas dos cidados do sul sobre a eficcia desta descentralizao. Putnam insiste muito nas diversas capacidade das duas Itlia de colher a chance de democratizao, mas no demonstra que na Itlia como um todo teve tal processo linear, portanto no avalia a eficincia das novas instituies mas pretende mostrar a maior ineficincia destas no sul. Embora elogie o livro de Putnam porque rico de informaes e analises, Lupo no entende como fatos de milnios anteriores, nos quais Putnam busca as origens do unciviness do sul, poderiam explicar a atualidade, e no seriam fatos mais prximos mais importantes. Putnam defende que os diferentes mecanismos poltico-culturais das comunas e das monarquias sulistas, teriam eternizados as duas Itlia, e que dicotomicamente os fatores econmicos ao contrario variam no tempo e so menos importantes. Mas segundo Lupo, entre feudo e comunas tinha varias nuances, e alias nem toda a Itlia do norte foi comunal, e nem todo sul foi feudal, e a ideia de uma economia do norte baseada no comercio e na finana e uma economia do sul baseada na terra, assim como a ideia que no norte tinha cidados e no sul sditos, so anacronisticas. Mas sobretudo Lupo discorda sobre o argumento central do carter centralizador do feudalismo no sul da Itlia e da ruptura por parte deste dos laos de solidariedade para manter a ordem. Os feudos do sul eram muito pouco autocrticos e centralizados, os imprios espanhis ou franceses, eram fragmentados, e se sustentavam em um sistema de negociaes com os feudos. Ademais, os grandes mercantes toscanos tinham comprados enormes feudos no sul, e portanto constituam o ncleo principal da aristocracia do sul. Portanto segundo Lupo, e vale para todos os povos, embora possam existir grandes diferenas socioeconmicas e culturais, nunca se podem identificar dicotomicamente duas estradas politicamente e culturalmente divergentes e ainda mais cristalizadas nos sculos. O que se pode observar integrao, dependncia, semelhanas e logicas contiguas.Segundo Lupo, embora possamos reconhecer que a civilidade comunal represente um timo pressuposto posterior para a civiness, no se pode afirmar que o feudo seja um obstculo a esta mesma civiness, tanto que em outros estados europeus no se verificou esta dicotomia. Por exemplo usando a chave interpretativa de Putnam a Inglaterra parecia muito com a Itlia, mas no se verificou a mesma dicotomia, assim como na Frana, portanto a teoria geral de Putnam falta de uma analise do desenvolvimento politico-institucional europeu.Ademais, nem verdadeiro o argumento de que a presena de dinastias estrangeiras gerou uma revolta contra os valores do estado, porque quando Putnam afirma que o sul ficou vitima de dinastias estrangeiras ate 1860, esquece que desde depois do fim das dinastias dos Mdici, todas as populaes foram guiadas no norte e no sul por dinastias estrangeiras. Porque aquelas dinastias que foram sobremaneira selvagens no sul no foram tambm ao norte? Putnam considera, baseados em pouqussimas fontes, que at os senhores feudais do norte mais autocrticos tinham responsabilidades civis e assistencialistas, mas esquece de que no sul tambm existiam toda uma variedade de instituies paternalistas desse tipo, e que no existia somente opresso das populaes e falta de solidariedade horizontal.A tese central do livro de Putnam que o autogoverno local levaria nos milnios ao progresso, e enfim a democracia. Mas Lupo poderia ate reverter esta tese, mostrando que a forte centralizao no norte, ao contrario do sul, rompeu os laos particularistas e portanto levou a uma maior civiness, mas cairia no mesmo erro de esquematizao excessiva do Putnam, porque no existem estradas retas ate a democracia mas estradas tortuosas, que precisam de diferentes mapas. Tomando como exemplo a Emilia-Romagna que Putnam sempre cita como arqutipo da regio onde ficariam cristalizados os parmetros da civiness: propenso ao associativismo e ao solidariedade, falta de polarizao ideolgica, tendncia a resoluo de conflitos atravs de mediao, honestidade, confiana, tolerncia e obedincia a lei, Lupo adverte que nesta regio o associativismo, seja sindical, cooperativo ou politico, era baseado em discriminantes classistas, e que nesta regio mais que em outras a violncia era endmica, ali nasceu o fascismo, contrariando o argumento que as populaes do norte juntamente aos seus lideres desdenhavam qualquer forma de hierarquia autoritria. Embora isso no contradigas a percepo que as regies do norte foram e so as mais civis e tolerantes da Itlia, mas os parmetros que Putnam considera imutveis mudaram em poucas dcadas.Ademais como a civiness do norte se baseia em concepes duramente classistas, Putnam faz um grande esforo para considerara-la como paradigma para revitalizar a democracia dos Estados Unidos, no podendo usar o comunismo que era muito forte e radicado na Itlia, nas dcadas que ele estudou, prefere usar as comunas medievais.Lupo cita um trabalho que propem resultados divergentes ao de Putnam, o qual usa indicadores dualsticos. O trabalho de Paolo Farneti no usa indicadores dualsticos, mas estes so correlatos aos de Putnam. Farneti divide as regies da Itlia em trs categorias, com base na mobilizao politica, ou seja em regies principais complementares e reservatrio. Na primeira categoria estariam: Emlia, Ligria, Lombardia, Piemonte, Puglia e Siclia; na segunda Veneto, Toscana, Marche e Campania; na terceira as outras regies. Na pesquisa de Farneti a Siclia esta entre as primeiras por mobilizao politico-sindical e na pesquisa de Putnam fica ate atrs da Calabria. No inicio do sculo XIX, a Calabria segundo Putnam seria mais desenvolvida e industrializada da Emilia-Romagna, isso para demostrar que a civiness no deriva do desenvolvimento econmico, mas seria o seu pressuposto. A Emilia-Romagna depois supera a Calabria, prprio porque apresenta civiness. Mas Lupo alm de refutar estes dados, demostra que estes ndices de desenvolvimento usados por Putnam, na realidade seriam sinais de subdesenvolvimento. Embora seja real o problema terico geral de Putnam coloca, ou seja, o papel das tradies politicas na determinao das capacidades de controle da maquina politica por parte dos cidados e o problema especifico, as dificuldades de alcanar um controle satisfatrio, a categoria de civiness segundo Lupo pode no mximo indicar o resultado geral e sinttico do prprio percurso histrico. O nico quid, a imutabilidade de um fator, segundo Lupo talvez deveria ser procurado nos fatores geogrficos, geopolticos, climticos, ambientais, que diferenciam as regies do norte daquelas do sul, e que eventualmente mudam muito lentamente, ou so fixos. Putnam para fugir do determinismo econmico cai no determinismo politico-cultural ainda mais arbitrrio.Segundo Putnam a Itlia do sul dominada h um milnio pelas mfias e sem vida coletiva. O vicio central do autor o seu esquema dualstico, que coloca o sul da Itlia, fora da historia, assim como o terceiro mundo, no sujeitos da prpria historia mas vitimas de eternos crculos viciosos. Neste sentido para Putnam, uma parte integrante da Itlia, seria refrataria a democracia, e ao invs de achar aquilo que existe e que eventualmente diferenciaria, positivamente ou negativamente, a regio, procura somente aquilo que faltaria. De fato a civiness no uma entidade que possa tomar diferentes composies e formas a segunda dos sculos e latitudes, e se no existe, precisariam sculos para aparecer. Em uma coletnea de estudos mais recentes, organizada por Perrotta e Sunna (2012), retomada a linha do estudo de Putnam, ou seja so analisada as condies sociais e econmica na Idade Media, porem chegando ate os dias de hoje, e tentando criar um modelo multicausal. Segundo estes autores, existiriam trs causas originais do subdesenvolvimento do sul da Itlia, causas que os autores relacionam no decorrer da historia italiana. O subdesenvolvimento do sul da Itlia no seria determinado mas fortemente influenciado negativamente por estes fatores: 1) O prevalecer da renda agraria sobre outras forma de renda, tpica do latifndio, e que estendeu e prevaleceu sobre as outras ate meados do sculo XX. 2) A dependncia para com as economias mais fortes 3) Um relacionamento entre a sociedade civil e as instituies publica perverso. O segundo fator, a dependncia, foi gerada pelas politicas publicas, desde o nascimento do estado monrquico do sul, que para defender o seu poder central, reprimiu as autonomias locais, e aumentou sobremaneira a presso fiscal, diminuindo a poupana e portanto impossibilitando o desenvolvimento de atividades artesanais, industriais e do comercio interno destes bens. Nestas condies criticas, os soberanos para razes de entesouramento e financiamento venderam todos os direitos, concesses e monoplios aos mercados do centro-norte e aos mercados estrangeiro. Estas politicas orientaram a economia para a exportao de matrias primas e importao de manufaturados, impossibilitando a industrializao endgena.O terceiro fator originrio e em parte consequncia dos primeiros dois. O estado unitrio do sul, desde sua origem foi dominado por soberanos estrangeiro, que no representavam as populaes nativas. Alm disso, estes estados eram dependentes dos mercados externos e dos feudatrios internos. Nesta situao, o estado defendeu os interesses das classes latifundirias dominantes, reprimindo com violncia as demandas dos camponeses e impedindo o desenvolvimento de uma classe media independente e moderna. Praticamente ate a unificao da Itlia, esta estrutura permaneceu quase que a mesma, consolidando a hierarquia social e os valores da sociedade civil do sul da Itlia. Esta percebia as instituies publicas como opressoras ou como instrumentos, para servir aos seus fins particulares, mas nunca como uma entidade encarregada de cuidar do interesse publico.Com a unificao, a modernizao atravs de financiamentos pblicos da produo e dos gastos sociais, permitiu as velhas elites e aos valores pr-modernos de sobreviver dentro de uma falsa modernidade. Sem aumentar significativamente a produtividade, a renda agraria continuou a prevalecer. A persistncia de estas trs causas originarias, segundo Perrota e Sunna (2012), no se deve strictu sensu a fatores econmicos, mas as caratersticas culturais, como escasso senso cvico e familismo amoral. Portanto as solues seriam a recapitalizao social do territrio e a responsabilizao da classe politica e dirigente. Pesare (2013), apesar de reconhecer a multicausalidade dos argumentos de Perrota e Sunna, critica esta interpretao, tpica da abordagem culturalista, porque cristaliza comportamentos em uma cultura meridional, comportamentos que de outra forma poderiam ser lidos como adaptao difusa a politicas clientelistas.Segundo um autor mais critico do trabalho de Putam, Felice (2014), e que cita as critica anteriores de Lupo, foram dadas varias explicaes para o atraso econmico do sul da Itlia respeito ao norte. O autor chama um primeiro bloco destas explicaes, entre elas aquela de Putnam, como fceis e acusatrias. Uma dessas explicaes se apelam a uma suposta diversidade, congnita o ate gentica, como nas ideias neorracistas que tiveram como antecessor os estudos de antropologia criminal de Cesare Lombroso. Outra, politicamente correta, como no caso da teoria do capital social Putnam, tenta dar uma profundidade histrica ao familismo amoral de Edward Banfield, e estigmatiza certa falta de atitude a cooperar das gentes do Meridione, mas fixando esta atitude a eventos histricos remotssimos, na baixa Idade Media.Um primeiro problemas destas abordagem que no identificam as diferentes classes sociais, dentro das regies atrasadas, e sobretudo quais classes sociais se beneficiaram e quais pagaram o preo. A causa no deveria ser procurada nas diferenas entre as populaes do norte e do sul, mas no arranjo scio institucional iniquo. Um segundo problemas procuram as causas em era muito remotas, estas caratersticas se seriam cristalizadas nas pessoas nos sculos e poderiam ser modificada portanto em lassos de tempos muito longo, no dando possibilidade aos policy makers de programar mudanas. Ao contrario o capital social pode mudar e Putnam no explica porque no teria mudado ao longo da historia da unificao da Itlia.A intuio de Putnam, ou seja que a participao politica das classes medias nas cidades-estados do norte e a falta disso nas monarquias absolutas e latifundirias do sul, explicariam o surgimento de um capital social, fascinante segundo Felice, mas errada historicamente. Felice (2014), resgata tambm a abordagem marxista de Gramsci e acusa as classes dominantes do sul da Itlia de dolo, porque atrasaram (e ainda atrasam) deliberativamente o desenvolvimento do sul. Os mecanismos deste processo foram a orientao dos recursos econmico para a renda no lugar das atividades produtivas, deixando a populao com baixo nveis de instruo e portanto com nveis scio econmicos que favoreceram o comportamento social oportunista. Do outro lado atualiza a sua analise se servindo de estudos mais recentes de Acemoglu e Robinson (2012), para dar uma explicao institucionalista a desigualdade. Portanto o modelo de Felice scio institucional, incorpora as diferenas sociais, mas tambm a qualidade das instituies econmicas e politicas.As instituies, resultado do processo histrico, influem diretamente, atravs de uma articulada estrutura de incentivos, no crescimento econmico. Podendo contribuir na determinao das diferenas de capital social. Acemoglu e Robinson diferenciam entre instituies extrativistas e inclusivas, ambas influenciadas pela desigualdade interna e pela composio social. Nas primeiras as desigualdades de renda e de acesso a cultura maior e portanto prevalecem instituies extrativistas, que concentram a renda em uma elite privilegiada, como no sul da Itlia, enquanto as segundas permitem uma maior disseminao da riqueza. Ademais, estas instituies extrativistas reforam a excluso social e portanto a desigualdade, criando assim vinculo de path dependence, que deixam um determinado territrio ou um estado bloqueado in um determinado arranjo scio institucional. Na Itlia, segundo Felice, este arranjo foi o arquitrave do compromisso de poder entre as elites industriais do norte e as elites agrarias do sul. Sobre o diferente desempenho das instituies italianas, Felice afirma que ate meados do sculo XVIII, no tinha uma substancial diferena entre as regies do norte e do sul, e portanto no poderia ser considerado o sul como uma regio condenada ao circulo vicioso de gasto de dinheiro publico ineficiente e clientelismo. Felice acha o momento critico para explicar o fenmeno, entre a segunda metade do sculo XVIII ate a unificao da Itlia. Um complexo emaranhado de acontecimentos histricos, de revolues e restauraes, nos quais a unificao seguida por reformas falimentares, que no tocam a estruturas de poder dos bares latifundirios, que se funda no analfabetismo da maioria da populaes e no evita a formao das varias mfias. Neste processo a permanncia do latifndio no sul, era caraterizada por famlias mononucleares e restritas, hierrquicas e com forte diviso social da organizao do trabalho baseada no genro, enquanto a estrutura agraria menos concentrada do resto da Itlia, era caraterizada por famlias multinucleares, com colaborao nas decises da vida social estendidas em menor parte tambm as mulheres.ReferenciasACEMOGLU, Daron; ROBINSON, James.Por Que As Naes Fracassam: As Origens do Poder, Prosperidade e da pobreza. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012CORICA, Graziana, Cultura politica e anomalia italiana, societmutamentopolitica, issn 2038-3150, vol. 2, n. 3, pp. 211-225, 2011, www.fupress.com/smp

FELICE, Emanuele, Perch il Sud rimasto indietro, Il Mulino, 2014

LUPO, Salvatore, Usi e abusi dela storia. Le radici dellItalia di Putnam, Meridiani, No. 18, MATERIALI '93 (SETTEMBRE 1993), pp. 151-168. Stable URL: http://www.jstor.org/stable/23195132______________, Il conio del capitale sociale. La questione meridionale dopo il meridionalismo. Meridiana, No. 61, MEZZOGIORNO / ITALIA (2008), pp. 21-41. Stable URL: http://www.jstor.org/stable/23204166PERROTTA C. e SUNNA C. Larretratezza del Mezzogiorno. Le idee, leconomia, la storia, Bruno Mondadori, Milano-Torino, 2012, pp. 306

PESARE, Giuseppe, Il Mezzogiorno tra ritardo economico e arretratezza culturale. 24 gennaio 2013. Em https://sviluppofelice.files.wordpress.com/2013/01/il-mezzogiorno-tra-ritardo-economico-e-arretratezza-culturale-gpesare.pdfPUTNAM, R. LEONARDI, R. NANETTI, Making Democracy Work: Civic Traditions in Modern Italy, Princeton, Princeton University Press, 1993. traduo italiana, La tradizione civica nelle regioni italiane, Milano, Mondadori, 1993.