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1 Os frades franciscanos e o relato sobre os cultos no oriente (séc. XIII e XIV) Amanda Mantoan Sabino 1 * A partir do século XIII tornou-se nítido o crescimento de viagens de homens, religiosos ou leigos, para terras distantes. Muitos desses homens ao visitarem terras ainda não exploradas diziam estar motivados não apenas por uma missão religiosa, como nos séculos anteriores, de expansão da fé, mas também pela necessidade de conhecer e dar a conhecer essas plagas. Registrado pelos relatos de viajantes, o interesse conhecimento dos outros tornar-se-ia um fator determinante para as viagens que se seguiriam no século XIII, e teria como fator de grande importância a característica da curiosidade como propulsora (MOLLAT, 1992: 18). Esse novo contexto seria bem diferente do encontrado nos séculos anteriores, quando a produção de relatos de viagem, restringiam-se quase exclusivamente para descrever a peregrinação a lugares santos e consagrados por milagres, no intuito de retornar à casa de Deus espiritualmente (WOLFZETTEL, 1996:12). Milhares foram os homens que se lançaram em peregrinações pela Cristandade, e principalmente, para a Terra Santa. A curiosidade vista como negativa e pecaminosa contribuiu durantes muitos séculos, em especial X e XI, para que o conhecimento a cerca de outros povos fosse tido como maléfico. Entretanto, com o advento das Ordens Mendicantes, elas teriam um importante papel no crescimento das viagens a lugares não restritos à santidade, mas ao desconhecido. Em contraposição, as ordens religiosas monásticas partilhavam da ideia de recusa do mundo, e em detrimento da vida religiosa plena, deixariam as preocupações mundanas, na tentativa de lutar contra as tentações que pairavam sob o plano terrestre. Para além dessas questões, o século XIII também foi marcado pelo crescente interesse da Santa Sé pelo conhecimento e desejo de conversão do império tártaro. Deste modo, frades franciscanos, foram enviados ao oriente distante a fim de conhecer esse povo tão estranho a eles, e deixariam por escrito relatos, itinerários e diários de viagem para seus conterrâneos e para a posteridade. Esses documentos serviam para descrever as dificuldades sofridas pelo caminho seguido, os povos encontrados nas rotas viajadas, seus mais variados costumes e as tentativas de se relacionarem com os tártaro-mongóis, vistos, inclusive, como possíveis aliados contra os muçulmanos. * Mestranda em História Medieval pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Estadual Paulista, Campus de Franca. Bolsista CAPES.

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Os frades franciscanos e o relato sobre os cultos no oriente (séc. XIII e XIV)

Amanda Mantoan Sabino1*

A partir do século XIII tornou-se nítido o crescimento de viagens de homens,

religiosos ou leigos, para terras distantes. Muitos desses homens ao visitarem terras ainda não

exploradas diziam estar motivados não apenas por uma missão religiosa, como nos séculos

anteriores, de expansão da fé, mas também pela necessidade de conhecer e dar a conhecer

essas plagas. Registrado pelos relatos de viajantes, o interesse conhecimento dos outros

tornar-se-ia um fator determinante para as viagens que se seguiriam no século XIII, e teria

como fator de grande importância a característica da curiosidade como propulsora

(MOLLAT, 1992: 18). Esse novo contexto seria bem diferente do encontrado nos séculos

anteriores, quando a produção de relatos de viagem, restringiam-se quase exclusivamente para

descrever a peregrinação a lugares santos e consagrados por milagres, no intuito de retornar à

casa de Deus espiritualmente (WOLFZETTEL, 1996:12). Milhares foram os homens que se

lançaram em peregrinações pela Cristandade, e principalmente, para a Terra Santa.

A curiosidade vista como negativa e pecaminosa contribuiu durantes muitos séculos,

em especial X e XI, para que o conhecimento a cerca de outros povos fosse tido como

maléfico. Entretanto, com o advento das Ordens Mendicantes, elas teriam um importante

papel no crescimento das viagens a lugares não restritos à santidade, mas ao desconhecido.

Em contraposição, as ordens religiosas monásticas partilhavam da ideia de recusa do mundo,

e em detrimento da vida religiosa plena, deixariam as preocupações mundanas, na tentativa de

lutar contra as tentações que pairavam sob o plano terrestre. Para além dessas questões, o

século XIII também foi marcado pelo crescente interesse da Santa Sé pelo conhecimento e

desejo de conversão do império tártaro. Deste modo, frades franciscanos, foram enviados ao

oriente distante a fim de conhecer esse povo tão estranho a eles, e deixariam por escrito

relatos, itinerários e diários de viagem para seus conterrâneos e para a posteridade. Esses

documentos serviam para descrever as dificuldades sofridas pelo caminho seguido, os povos

encontrados nas rotas viajadas, seus mais variados costumes e as tentativas de se relacionarem

com os tártaro-mongóis, vistos, inclusive, como possíveis aliados contra os muçulmanos.

* Mestranda em História Medieval pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Estadual

Paulista, Campus de Franca. Bolsista CAPES.

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Partindo desses relatos, procurar-se-á verificar como os missionários franciscanos –

imbuídos da tarefa de converter nas terras distantes - descreveram os hábitos religiosos dos

tártaros e dos demais povos que conheciam em suas missões. De outro modo, o objetivo desta

pequena reflexão é examinar como o conhecimento acerca dos costumes religiosos dos

tártaros-mongóis contribuiu, por meio da descrição e comparação, para a ação missionária

franciscana que persistiu até meados do século XIV. Partindo dessa proposta, cabe primeiro

pensar qual a ligação estabelecida entre a Ordem dos Frades Menores com as missões. Em um

segundo momento, pensar quais os relatos que mais oferecem informações sobre os costumes

alheios. Em seguida, quais as práticas que mais chamaram a atenção desses viajantes a partir

do grau de importância que conferiam. Por fim, quais as contribuições dessas descrições para

saber um pouco mais da ação missionária estabelecida nas terras de lá.

Os franciscanos e a ação missionária

Além do interesse dos religiosos do século XIII de conhecer os lugares para além da

Terra Santa, vale destacar, com maiores detalhes do que já mencionado acima, marco

importante desses tempos para refletir sobre as viajantes: a elaboração das bases da Ordem

dos Frades Menores. Como tal, essa ordem desempenhava um papel importante para a

promoção da conversão nas terras de lá. Tanto Francisco de Assis quanto seus seguidores

idealizaram uma comunidade de religiosos comprometidos não apenas com o ideal de pobreza

- muito característico e presente nos primeiros anos da ordem - e, consequentemente, com a

vida apostólica, mas também com a conversão de almas para Cristo. Assim, ao definir um

número de regras para seguir os passos de Cristo, que mais tarde viriam se tornar oficialmente

a regra da ordem franciscana, Francisco dedicou-se no capítulo Dos que vão entre os

sarracenos e outros infiéis, para abordar, exclusivamente, a pregação a não cristãos (SÃO

FRANCISCO DE ASSIS, 2005: 51). Capítulo esse que servia como espécie de roteiro para

muitos frades menores conseguirem se aventurar em outras partes da cristandade nas

primeiras décadas da ordem. Esse texto ajudou até mesmo aqueles que se lançaram na

conversão dos tártaros no oriente distante, contribuindo, assim, para reafirmar, direta ou

indiretamente, os princípios desse texto nos relatos por eles legados.

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São Boaventura2, franciscano de grande influência para o pensamento da ordem e

biógrafo da vida de São Francisco, descreve que o santo teria se interessado pela conversão de

sarracenos e de outros infiéis após uma orientação, proveniente do “oráculo da revelação

divina”, isto é, que através de um aviso divino, teria “sido enviado por Deus para conquistar

para Cristo almas que o diabo queria arrastar”. Continuando, explica o mesmo Boaventura

que, a partir dessa revelação, o religioso teria escolhido “viver mais para todos do que

somente para si, provocado pelo exemplo daquele que se dignou morrer sozinho por todos”

(SÃO BOAVENTURA, 2005: 459). Essa explicação que São Boaventura ajuda a deixar clara

a ligação entre a Ordem dos Frades Menores e o desejo de converter aquelas almas que ainda

não conheciam do amor de Cristo. Para aumentar o rebanho de almas para Cristo, o principal

meio para a conversão era a pregação. Na Ordem dos Frades Menores, a pregação possuía um

papel de destaque, sendo até mesmo considerada “pedra angular” para os religiosos da Ordem

dos Frades Menores. Para São Francisco de Assis e seus seguidores, o sermão seria o melhor

meio para instruir as pobres almas à salvação (ROEST, 2000: 272).

De modo geral, o sucesso da Ordem dos Frades Menores no século XIII também teria

sido propiciado, devido à circulação da ideia de que a Igreja estaria se afastando cada vez

mais de seu objetivo por conta da corrupção de seus altos membros. Logo, as ordens

mendicantes seriam reconhecidas pela própria Santa Sé por seu fator de disseminação da fé e

como possível solução para as dificuldades associando-a a imagem de São Francisco de Assis.

Como descrito nas hagiografias, fora designado por Deus para renovar a vida evangélica a

partir do que viria se tornar a Ordem dos Frades menores. Amparados pelo ideal de imitação

de Cristo, essa crença logo se tornaria o centro da concepção de missão dos franciscanos e

fixaria o papel a ser desenvolvido por esses frades menores (DANIEL, 1992: 36).

Os frades menores e as missões ao oriente distante

No início do século XIII, a cúpula da Igreja mostra-se preocupada, depois do avanço

de povos desconhecidos, com as fronteiras das terras cristãs. No segundo decênio do mesmo

século, os rumores de que um poderoso império estaria expandindo seus domínios3 pela Ásia

2 São Boaventura (1221- 1274) foi o sétimo Ministro-Geral da Ordem dos Frades Menores. Nome de grande

importância para o pensamento da Ordem dos Frades Menores escreveu obras como a Legenda Maior e Legenda

Menor, que relatam a vida de São Francisco de Assis. 3 Sobre os domínio do império tártaro, vale ressaltar que, com a ascensão de Gengis-Cã, no século XIII, tribos

mongóis e turcas da Mongólia deram início ao que viria ser o império tártaro. Alastrando-se a partir das estepes

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Central sob o comando de Gêngis-Cã4 era alvo de debate. O temor se concretizaria

posteriormente ao momento em que o chamado império tártaro-mongol5 devastasse e

conquistassem as regiões da Hungria, Morávia, Polônia e Rússia entre os anos de 1237 e

1242. A partir desses eventos, as autoridades cristãs não puderam negligenciar tal

intimidação. No ano de 1245, durante o décimo terceiro Concílio Ecumênico em Lyon, para

além de outros assuntos de grande preocupação - como as cruzadas contra os muçulmanos a

fim de conquistar a Terra Santa, e a excomunhão de Frederico II em decorrência de

desavenças entre os poderes temporal e secular – foram discutidas ações para conter o avanço

tártaro-mongol. Como resultado das decisões do Concílio Ecumênico, no decorrer do mesmo

ano, o frade menor João de Pian dei Carpini (1182-1252) é designado pelo papa Inocêncio IV

para recolher informações sobre os povos de lá, como também entregar uma carta endereçada

ao Grão-Cã Guiuc.

João de Pian de Carpine, embora sendo enviado como embaixador do papa em uma

missão propriamente de cunho diplomático, é de grande importância para se refletir a cerca do

conhecimento adquirido pela cristandade das terras de lá. Como também, aquele que teria

contribuído para impulsionar as demais viagens com intuito missionário de seus irmãos de

hábito. Assim, após retornar no ano de 1247 do encontro com os tártaros, o frade menor João

de Pian dei Carpine, seguindo as ordenações do papa Inocênio IV, redige detalhadamente o

que vivenciou e observou dos povos de lá em seu relato intitulado Historia Mongolorum. Já

no inicio de seu relato, Capine possui a preocupação de que aqueles que o lessem,

acreditassem em suas palavras, uma vez que alegava ser “a vontade de Deus, segundo o

mandato do Papa”, como também manifestava o desejo de suas revelações fossem “úteis aos

cristãos”. Com intuito de reportar aos seus congêneres o que diziam ver “com os próprios

às regiões atualmente conhecidas como Ásia Central, Europa Central, norte da Sibéria, Índia, China até o

planalto iraniano. Mais precisamente, acerca de sua extensão, sugiro: JACKSON, P. The Mongols and The

West, (1221-1410). Great Britain: Pearson, 2005. 4 Optamos por utilizar os no mes e localidades aqui citadas, seguindo uma padronização modernizada para

proporcionar uma leitura mais fluída e evitar possíveis equívocos. 5 O termo “Império” remete ao termo “Imperador”, que foi utilizado como maneira aproximada no vocabulário

ocidental para a tradução e compreensão do termo “Grão-Cã”, este que designava a autoridade suprema dos

mongóis. O próprio frei João de Pian dei Carpine utiliza-se de tal denominação como neste trecho: “O imperador

dos tártaros tem especial domínio sobre todos. Ninguém ousa morar em outro lugar, senão naquele que ele lhe

indica”. Logo, sendo considerado um imperador pelos próprios ocidentais, a denominação de “império” torna-se

correta, pois era um termo de compreensão utilizado no próprio século XIII e XIV. Cf. JOÃO DE PIAN DEI

CARPINE, História dos mongóis, In: Crônicas de viagem: Franciscanos no extremo oriente antes de Marco

Pólo (1245 – 1330). Tradução, introdução e notas de Ildefonso Silveira e Ary E. Pintarelli. Porto Alegre:

EDIPUCRS/EDUSF, 2005, p.16, 54;

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olhos” (CARPINI, 2005: 29) esse religioso procurou deixar por escrito sobre o itinerário

percorrido, como também descrições dos costumes religiosos, alimentares, organização

militar e relação com outros povos.

Apesar da História dos Mongóis contribuir detalhadamente com diversas informações

de interesse para acalentar a curiosidade e o medo da cristandade, o Itinerário de outro frade

franciscano, Frei Guilherme de Rubruc (1215-1293) proporciona maiores detalhes sobre o

costume dos povos de lá, especificamente os tártaros (MOLLAT, 1990: 18). Diferentemente

de João de Pian dei Carpine, Frei Guilherme segue uma viagem, no ano de 1253, imbuído da

missão de converter o grão-cã. Em seu relato, procura deixar evidente o alvo de sua viagem,

que era seguir a Regra franciscana não como embaixador, mas como pregador, ou seja, um

religioso interessado em instruir “àqueles incrédulos”. (RUBRUC, 2005: 118). O mesmo

Rubruc retorna, em 1255, a essas terras a mando do Rei dos Francos, Lúis IX, período em que

escreve o seu relato. Sobre os lugares alcançados na viagem do mesmo modo que João de

Pian de Carpine, Guilherme de Rubruc não teria entrado propriamente na China. A capital do

império tártaro ainda se localizava em Caracorum, onde localizava-se o grão-cã, quando esses

dois franciscanos efetuaram suas viagens. Somente anos depois seria transferida para uma

Cambalique6, na China (MOLLAT, 1990: 22).

Nessas duas primeiras viagens, a esperança de conversão e a possibilidade dos tártaros

como aliados contra o avanço dos muçulmanos, pareciam ser difíceis aos olhos de João de

Pian dei Carpine e Guilherme de Rubruc. Embora a desesperança estes dois viajantes não

aconselhassem novos empenhos missionários nas terras dos tártaros, uma vez que teriam,

como alega o próprio Rubruc, teriam de “responder às loucuras dos mongóis” (RUBRUC,

2005: 243) o empenho missionário não cessou. Experiente em missões de evangelização e

vigoroso seguidor de São Francisco de Assis (VAN DEN WYNGAERT, 1928: 167;

DOWNSON, 1955: 222), o frade João de Montecorvino dá início ao projeto de evangelização

na China quando chega por volta dos anos de 1293 e 1294. E lá permanece por 35 anos, até o

ano de sua morte, por volta de 1328-30. Durante os todos os anos em que esteve na China,

Montecorvino missionou boa parte sozinho, recebendo reforço apenas depois de alguns anos

quando suas cartas são recebidas pela Santa Sé. Embora existam apenas três delas, todas

possuem grande importância para investigar a ação missionária e obter informações dos povos

6 Cambaliq”, “Cambaluc”, “Kan-Baliq” era o nome da sede do império mongol que havia sido transferida de

“Caracorum”. A região onde atualmente corresponde a de Cambalique é Pequim, capital da China.

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do oriente. Além disso, é válido reforça que foi a partir deste religioso que nasce a primeira

sede cristã em terras do oriente distante, o Arcebispado de Cambalique onde foi arcebispo de

1307 até o fim da vida (GUÉRET-LAFERTÉ, 1990:3; MOLLAT, 1990: 22). Enquanto João

de Montecorvino ainda era arcebispo de Cambalique, outro frade franciscano, Odorico de

Pordenone (1265-1331), destinou-se para missionar na China por volta dos anos de 1314-

1318, até seu retorno a terras latinas em 1330. Como dos demais franciscanos supracitados,

Odorico de Pordenone deixou por escrito um rico relato de sua viagem, o Diário de Viagem.

Por meio desse texto, tem-se acesso a muitas informações sobre a diversidade geográfica e

cultural, como também a ação missionária dos franciscanos no oriente distante.

Há notícias de outros religiosos da Ordem dos Frades Menores que foram enviados a

fim de reforçar a missão de evangelização iniciada por João de Montecorvino na China.

Contudo, poucos são os relatos que sobreviveram ao tempo, restando apenas poucas cartas,

como é caso de André da Perúgia. Este frade tornou-se bispo de Zaytom, na China, ficando

conhecido por sua carta aos irmãos do convento da Perúgia relatando suas experiências como

missionário.

A partir desses textos descritivos é possível verificar que inúmeros temas sobre os

costumes dos tártaros e de outros povos que cruzavam pelo caminho chamavam a atenção

desses viajantes. E sendo um deles, a religiosidade e ritos dos tártaros. Assim, cabe questionar

como esses franciscanos descreviam esses costumes a partir dos olhos do ocidente cristão e

em que medida puderam contribuir para o empenho e meios de se converter João de Pian dei

Carpine é o primeiro que relata informações com maiores detalhes sobre as crenças pagãs dos

tártaros e seus ritos. A primeira observação que o frade faz é que os tártaros acreditam em um

só Deus (CARPINE, 2005: 35). Segue dizendo: “nada sabem sobre a vida eterna e a

condenação perpétua. Contudo, crêem que depois da morte viverão em outro mundo,

multiplicarão os rebanhos, comerão, beberão e farão outras coisas que os vivos fazem neste

mundo” (CARPINE, 2005: 38).

Em viagem posterior, Guilherme de Rubruc, ao dirigir-se à corte do grande Cã

Mangu7, conta que os tártaros acreditam em um único Deus, assim como afirma Carpine, mas

adiciona o fato de seguirem a seita de sacerdotes8 que raspam as cabeças e que “para onde

7 Gão-Cã do Império Mongol entre os anos de 1251 à 1259. Era neto de Gengis-Cã. 8 Guilherme de Rubruc conta que esses sacerdotes eram do povo dos “uigures”, os primeiros a submeterem-se ao

poder de Gêngis-Cã, e como recompensa teria dado “sua filha ao rei deles”. (RUBRUC, ed. 2005, p.167)

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quer que vão, tem sempre nas mãos um fio com cem ou duzentas contas, como nós levamos o

Pai Nosso” (RUBRUC, 2005: 164). Curioso, Guilherme de Rubruc incita um dos sacerdotes a

fim de obter maiores informações, dando início a um debate sobre a crença de Deus e suas

formas de manifestação entre os homens. Especificamente, as descrições religiosas de outros

povos no Itinerário são construídas a partir de comparações acerca da verdade partilhada na

cristandade latina. Esse movimento não é somente efetuado por ele, mas também por João de

Pian dei Carpine, e os demais frades da ordem minorita.

No entanto, embora partilhem desta crença em um único Deus, outro aspecto é notado

pelos viajantes. É possível verificar através das descrições dos costumes religiosos, a

veneração dos tártaros por bonecos feitos em tecido, que são descritos pelos viajantes como

“ídolos de feltro”. Para os tártaros, a veneração e oferenda destinada a esses ídolos seria uma

maneira de fazer com que as cabras dessem mais leite. Nesse caso, é notável que tal

veneração fosse tão presente, uma vez que o leite das cabras era de alta importância na

alimentação tártara. Para além da abundancia do leite, esses ídolos também ajudariam,

segundo a crença, na cura de crianças que forrem acometidas pela enfermidade, como

descreve Carpine. Guilherme de Rubruc, assim como o frade anterior, também descreve a

crença dos tártaros na confecção desses ídolos de feltro, mas acrescenta a informação de que

tais ídolos seriam destinados à homenagens aos defuntos (RUBRUC, 2005: 166). Anos após a

viagem desses dois frades, o franciscano Odorico de Pordenone também refere-se a essa

prática de culto aos ídolos de feltro. Mas ao contrário dos seus irmãos de hábito, Odorico

considera - ao relatar “as maravilhas operadas pelos frades menores na grande Tartária

quando estes expulsaram os demônios dos corpos oprimidos” – que havia um grande número

de tártaros “endemoniados”. Na tentativa de exorcizar esses demônios, acreditavam que tais

ídolos de feltro seriam uma “morada” para os mesmos, e assim os queimavam e purificavam

por meio de água benta. Essa atitude descrita, segundo o próprio franciscano, teria

possibilitado aos frades batizarem muitos daquela região (PORDENONE, 2005: 333-334).

Muito se encontra como um costume do povo tártaro a crença de que o fogo fosse

purificador que e protegesse de más intenções. Os frades franciscanos relatam nas diferentes

épocas de suas viagens à devoção dos tártaros a esse elemento. João de Pian dei Carpine

descreve um episódio da invasão em Kiev em que o rei desta região teria sido submetido aos

tártaros, obrigado a render-se, pediram-lhe que “passasse entre dois fogos”, e ainda explica

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que “ acreditam que tudo é purificado pelo fog”. Quando chegam embaixadores ou príncipes

em seus domínios, acreditam ser “preciso que eles e os presentes que trazem passem entre

dois fogos para serem purificados, para que não suceda que façam venefícios e tragam veneno

ou qualquer coisa má”. (CARPINE, 2005: 39) No relato de Guilherme de Rubruc, o frade

organiza alguns de seus capítulos a fim de descrever a corte de Mangu-Cã, onde a ação de

purificação do fogo para os tártaros é reafirmada, assim como Carpine diz, desde o que chega

de presentes para o cã, até mesmo a objetos pertencentes a pessoas mortas precisa ser passado

entre dois fogos (RUBRUC, 2005: 220-221). No século XIV, também são reportadas

informações de que as casas também ascendiam tochas de fogo para reverenciar quando o

Grão-Cã passasse por ela, segundo Odorico de Pordenone em sua estadia em Zaytum9, diz

presenciar.

Desde os primeiros relatos de franciscanos no século XIII até os demais que seguiram

rumo ao extremo-oriente no século XIV, um tema é frequentemente tratado pelos frades: a

tolerância religiosa dos tártaros mongóis em seus territórios10. Já na viagem de João de Pian

de Carpine, o frade conta que os Tártaros “não observam nenhuma lei sobre o culto a Deus”,

entretanto “ainda não obrigaram ninguém a negar a sua fé e a sua lei” (CARPINE, 2005: 37).

Essa característica tolerante dos líderes tártaros parece ter chamado atenção de outros frades.

O franciscano André da Perúgia, que viajou para além do que João de Pian de Carpini,

descreve de maneira clara, a partir de sua vivência em Catai11, as seguintes informações em

sua carta:

Neste vasto império há de fato homens de todas as nações abaixo do céu e cada

seita; e cada e todas são permitidas de viver de acordo com sua própria seita. Por

isso na opinião deles, ou devo dizer erro, que cada homem é salvo em sua própria

seita. E nós podemos pregar livremente e seguramente; mas dos judeus e

sarracenos nenhum é convertido. Dos idólatras, extraordinariamente muitos são

9 Cidade chinesa com uma sede de bispado católico, onde André da Perúgia teria sido bispo. 10 A tolerância dos tártaros para com outras religiões é vista para alguns historiadores, como Peter Jackson, como

“pluralista e sincrética”. Uma vez que os líderes tártaros procuravam proteger religiosos “dentro de cada grupo

confessional, com o objetivo de se beneficiar de suas...”. (JACKSON, 2005: 361; Tradução minha). Já para

Kappler, essa característica também teria contribuído para o aumento da “intensidade da circulação do Ocidente

para o oriente”, onde essas as rotas terrestres destinadas para o Extremo Oriente só seriam “fechadas com o

advento da dinastia Ming, em 1368”. (KAPPLER, 1994: 56). 11 Nome que designava as regiões que hoje correspondem à China.

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batizados: mas quando eles são batizados, eles não aderem estritamente ao modo

cristão (ANDREW OF PERUGIA, 1955: 237; tradução minha)12.

Como descrito por André da Perúgia, embora os tártaros lidassem com as demais

religiões, sendo elas cristãs ou não, de forma tolerante, sendo essa característica favorável à

pregação do evangelho por esses religiosos nas tentativas de conversão, o frade confessa

achar um erro essa atitude. A condescendência dos tártaros e a presença de homens de

diversas religiões no seio das cortes tártaras já era retratada pelos primeiros franciscanos do

século XIII. Carpine diz que “não observam nenhuma lei sobre o culto a Deus”, mas que

“ainda não obrigaram ninguém a negar a sua fé e a sua lei”. Ao longo se sua viagem,

Guilherme de Rubruc também menciona que na extensão das terras sob poder dos tártaros

“vivem misturados nestorianos e também sarracenos”.

A presença de cristão nestorianos e de demais vertentes é muito observada nos relatos,

e constantemente os frade franciscanos fazem observações a partir da contraposição do

cristianismo latino. Deste modo, João de Montecorvino, desabafa, sobre sua missão em Catai,

na sua segunda carta escrita no ano de 1305, que tentou convidar o imperador a aderir à “fé de

Nosso Senhor Jesus Cristo”, mesmo prestando “muitos benefícios aos cristãos”, ele estaria

“muito inveterado na idolatria”. A grande presença de cristãos nestorianos na China sob

domínio mongol, segundo Montercorvino, nos primeiros anos de sua missão, provocou

grandes empecilhos à sua missão para conversão. Desviando-se “muito da religião cristã”,

esses cristão tidos como heréticos, não possibilitariam a pregação de outra doutrina que não

fosse a deles, eram “corrompidos pelo dinheiro” e teriam causado grande desconforto ao frade

por meio de difamações (MONTECORVINO, 2005: 250-51). João de Montecorvino ainda

assevera que “se não fosse as mencionadas difamações, teria havido grande fruto”.

(MONTECORVINO: 2005, p. 252). O frade friuliano, Odorico de Pordenone também

menciona a frequente presença de nestorianos nos territórios tártaros, que segundo ele, “eram

cristãos da pior qualidade” (PORDENONE, 2005: 283). A presença dos cristãos cismáticos

no oriente distante é frequentemente mencionada pelos viajantes durante suas rotas até o

12 Treçho correspondente: “In this vast empire there are verily men of every nation under heaven and of every

sect; and each and all are allowed to live according to their own sect. For this is their opinion, or I should say

their error, that every man is saved in his own sect. And we can preach freely and securely, but of the Jews and

the Saracens none is converted. Of the idolaters, exceedingly many are baptized: but when they are baptized they

do not adhere strictly to Christian ways”. (ANDREW OF PERUGIA, 1955: 237)

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encontro com o grão-cã. Guilherme de Rubruc no anseio de encontrar com Sartach13, descreve

que determinada vez um sarraceno desejava ser batizado, mas sua conversão teria sido

impedida por acreditar não poder mais beber o cosmos14. Segundo Rubruc, “os cristãos

gregos, russos e alanos, que vivem entre eles, não o bebem para observar fielmente a sua lei;

não se consideram mais cristãos depois de o beberem e seus sacerdotes os reconciliam como

se tivessem negado a fé de Cristo” (RUBRUC, 2005: 135).

Para além da descrição de cristãos cismáticos, os viajantes também não deixaram de

reportar a partir de seus relatos o encontro com povos que nunca antes tinham tido contato e

que lhe causavam grande espanto. Alguns dos missionários franciscanos passaram pelas terras

da Índia, sob domínio do império Mongol. João de Montecorvino afirma em sua primeira

carta que ao passar pela Índia, encontrou povos que para eles “os bois são animais sagrados e,

por isso, não comem a sua carne por reverência; mas, usam o seu leite e o seu trabalho como

os outros homens”, e diz que os homens das regiões da Índia “são idólatras e sem lei[...]” e

que “não têm conhecimento de nenhum pecado”(MONTECORVINO, 2005: 252). Além de

observar o costume dos povos da Índia em ter o boi como animal sagrado, Odorico de

Pordenone, acrescenta outro fato de que “os idólatras deste reino ainda tem o péssimo

costume: quando um homem morre, queimam o morto, e se ele tiver esposa queimam-na

viva” (PORDENONE, 2005: 282).

Ao longo de todo o relato do franciscano Odorico de Pordenone, é notável sua

tendência em escrever, mais dos que os demais irmãos de hábito, coisas que pareceriam

“incríveis, se não a vissem com os próprios olhos” (PORDENONE, 2005: 284). Como o caso

em que descreve o “mau costume” de comerem seus mortos ao passar por certa “Ilha

Dandin”. Podenone diz que repreendia-os muito, pois era “contra toda razão”, mesmo

mostrando-lhes os malefícios diz que “jamais queriam crer em outra coisa, nem abandonar

esse ritual que tinham”. Para esse povo, não se devia deixar o corpo do falecido aos vermes,

pois casaria grande dano à alma. Guilherme de Rubruc também chegara a descrever esses

ritos de necrofagia. Conta que um dos primeiros povos que foram subjugados aos tártaros, por

Gêngis-Cã também possuíam tal costume, que de acordo com ele “costumam comer seus pais

falecidos, para, levados pela piedade, não lhes darem outro sepulcro senão suas vísceras.

13 Descrever quem é Sartach 14 O cosmos era uma bebida muito comum entre os tártaros. Guilherme de Rubruc diz que se trata de uma bebida

a base de leite de jumenta fermentado. (RUBRUC, ed. 2005, 123)

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Contudo, agora abandonaram isso, pois eram abominados por todas as nações” (RUBRUC,

2005: 167).

Conclusões

Não coube, neste texto, dados seus limites, mapear a grande parte das descrições dos

franciscanos sobre os costumes religiosos de outros povos, mas uma parcela delas que ajudem

a examinar as impressões desses missionários sobre os costumes dos tártaros e demais povos,

como a crença em um só deus, a veneração aos ídolos feitos de feltro, o fogo como elemento

purificador, como também, o desprezo de cristãos heréticos pela bebida tártara, o cosmos.

Imbuídos do desejo de converter, a descrição dos relatos vai além do que uma simples forma

de saciar a curiosidade de como são os costumes alheios ao Ocidente. Produzidos por esses

frades franciscanos, os relatos expõem o movimento de comparar a realidade das terras de lá

com as práticas partilhadas nas terras latinas. Além disso, a condenação dos maus costumes

dos tártaros e de demais povos servia para ensinar, de forma mais clara, os religiosos pregar o

cristianismo como única verdade a ser seguida, e assim encaminhá-los para o caminho da

salvação. Em outras palavras, além de como os relatos apresentam o principal objetivo ensinar

o caminho da salvação por meio da memória (FRANÇA, 2011: 296), eles dão pistas para

averiguar como esses franciscanos procuraram a partir da descrição dos costumes tártaros,

promover a superioridade cristã. Esses viajantes utilizaram, portanto, da comparação de

costumes distintos, descritos em seus relatos, como um meio para convencer e converter

infiéis, ajudando a consolidar um dos pilares da Ordem dos Frades Menores: arrecadar mais

almas para Cristo.

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