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www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 1 Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA Disciplina: Geografia Ambiental Professor: Tibério Mendonça OS IMPACTOS AMBIENTAIS PRODUZIDOS PELA SOCIEDADE E A BIODIVERSIDADE Os problemas ambientais afetam e preocupam desde os países desenvolvidos aos em desenvolvimento. Lamentavelmen te esses problemas são muitos e afetam todos sem distinção de classe, raça, gênero ou religião. Dentre estes problemas faremos menção aos problemas de maior gravidade, que atualmente afetam toda a humanidade. Acúmulo de resíduos: o crescimento da população aumenta o consumo de bens e produtos, acarretando, assim, o aumento e acúmulo de resíduos. A transformação desses resíduos, na maioria das ve zes, é muito lenta, principalmente se observarmos o tempo que materiais não biodegradáveis, como plástico, levam pra se decompor. Diante do exagerado crescimento do acúmulo de resíduos, o homem se vê na necessidade de encontrar um destino para estes resíduos. Um deles, bastante utilizado, é a queima de resíduos, técnica que acarreta a liberação de uma grande quantidade de gases tóxicos e resíduos contaminantes do solo. Hoje, devido à preocupação com o desenvolvimento sustentável, se utiliza uma técnica menos danosa – o aterro sanitário –, na qual a escolha de um local adequado para a colocação dos resíduos acaba afetando menos o solo e as águas superficiais e subterrâneas. Mas outras medidas mitigadoras podem ser adotadas em relação ao problema do acúmulo de resíduos, a exemplo da reciclagem de material como papel e o alumínio, ou mesmo regulamentar, limitar ou até mesmo proibir a circulação de determinados resíduos, como, exemplo, os nucleares. Não podemos negligenciar os problemas que vêm ocorrendo com relação ao meio ambiente. Sentimos na pele as respostas catastróficas da natureza mediante séculos de exploração e poluição desenfreada. Isso tem ocorrido em razão do modelo econômico vigente que busca o lucro na base do “custe o que custar” sem poupar os recursos naturais. O meio ambiente tem se rebelado e sinalizado para a necessidade de mudanças de hábitos e de ações. Existe uma disparidade entre o preservar e o explorar e entre o discurso e a prática. Além de explorar os recursos naturais, o homem vem utilizando o meio ambiente para “depositar” seus resíduos e diluir seus dejetos. No caso do Brasil, ainda há um “déficit” – por sinal grande – na área da infraestrutura e do saneamento básico. No caso dos dejetos (resíduos de alimentos, fezes e urina), na maioria das cidades, são despejados nos cursos d’água na forma “in natura”, ou seja, esgoto sem nenhum tratamento. Isso é uma velha prática que ocorre, mesmo havendo uma legislação antiga

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Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Geografia Ambiental – Professor: Tibério Mendonça

OS IMPACTOS AMBIENTAIS PRODUZIDOS PELA SOCIEDADE E A BIODIVERSIDADE

Os problemas ambientais afetam e preocupam desde os países desenvolvidos aos em desenvolvimento. Lamentavelmente esses problemas são muitos e afetam todos sem distinção de classe, raça, gênero ou religião. Dentre estes problemas faremos menção aos problemas de maior gravidade, que atualmente afetam toda a humanidade. Acúmulo de resíduos: o crescimento da população aumenta o consumo de bens e produtos, acarretando, assim, o aumento e acúmulo de

resíduos. A transformação desses resíduos, na maioria das vezes, é muito lenta, principalmente se observarmos o tempo que materiais não biodegradáveis, como plástico, levam pra se decompor. Diante do exagerado crescimento do acúmulo de resíduos, o homem se vê na necessidade de encontrar um destino para estes resíduos. Um deles, bastante utilizado, é a queima de resíduos, técnica que acarreta a liberação de uma grande quantidade de gases tóxicos e resíduos contaminantes do solo. Hoje, devido à preocupação com o desenvolvimento sustentável, se utiliza uma técnica menos danosa – o aterro sanitário –, na qual a escolha de um local adequado para a colocação dos resíduos acaba afetando menos o solo e as águas superficiais e subterrâneas. Mas outras medidas mitigadoras podem ser adotadas em relação ao problema do acúmulo de resíduos, a exemplo da reciclagem de material como papel e o alumínio, ou mesmo regulamentar, limitar ou até mesmo proibir a circulação de determinados resíduos, como, exemplo, os nucleares.

Não podemos negligenciar os problemas que vêm ocorrendo com relação ao meio ambiente. Sentimos na pele as respostas catastróficas da natureza mediante séculos de exploração e poluição desenfreada. Isso tem ocorrido em razão do modelo econômico vigente que busca o lucro na base do “custe o que custar” sem poupar os recursos naturais.

O meio ambiente tem se rebelado e sinalizado para a necessidade de mudanças de hábitos e de ações. Existe uma disparidade entre o preservar e o explorar e entre o discurso e a prática.

Além de explorar os recursos naturais, o homem vem utilizando o meio ambiente para “depositar” seus resíduos e diluir seus dejetos. No caso do Brasil, ainda há um “déficit” – por sinal grande – na área da infraestrutura e do saneamento básico.

No caso dos dejetos (resíduos de alimentos, fezes e urina), na maioria das cidades, são despejados nos cursos d’água na forma “in natura”, ou seja, esgoto sem nenhum tratamento. Isso é uma velha prática que ocorre, mesmo havendo uma legislação antiga

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que disciplinava essa ação. Para se ter uma ideia já no Código Sanitário do Estado de São Paulo de 1894 ficava expresso que os esgotos não deveriam ser lançados em cursos d’água e presumia que, na falta de canalização, os dejetos poderiam ser lançados nos mesmos, entretanto, só depois de “purificados”.

Adverte-se que, na época, não existiam recursos técnicos capazes de “purificar” o esgoto. Outro detalhe importante dessa legislação era que os esgotos deveriam ser lançados na parte do rio em que a corrente fosse mais forte e a jusante da população, pois, assim, permitiria a autodepuração. A legislação já detectava o problema do homem estar emporcalhando a natureza, mas não evoluiu de forma a evitar tantos problemas com relação aos dejetos.

Hoje, a água contaminada é uma das causas principais da elevação da mortalidade infantil e da ocupação dos leitos dos hospitais por doenças infecciosas intestinais. Não podemos transformar nossos rios em cloacas da sociedade.

Já no caso dos resíduos sólidos, ou seja, o lixo, o caso é mais grave ainda. Estima-se que, no mundo, entre o lixo domiciliar e comercial são produzidos 2 milhões de toneladas/dia. Imagine o que significa esse volume de lixo. Já parou para pensar? Isso equivale a 700 gramas por habitante de áreas urbanas. Só a população de Nova York, devido ao alto poder aquisitivo e tendo acesso a este consumismo desenfreado, tem uma média bem superior a essa. Estima-se que cada cidadão nova-iorquino gere 3 kg de lixo/dia. Vindo para o Brasil, estima-se que o paulistano gere 1,5 kg/dia. O Brasil concentra 3% da população mundial e é responsável por 6,5% da produção de lixo no mundo. Aliás, países pobres e ricos têm estimativas diferentes para a quantidade de lixo. Os habitantes dos países pobres produzem de 100 a 220 kg de lixo a cada ano ou de 0,27 kg a 0,6 kg por dia. E os dos países ricos produzem de 300 mil a 1 tonelada por ano ou de 0,82 kg a 2,7 por dia.

Mas, o “pior dos mundos” é vivermos num país como o Brasil que caminha para o consumismo exacerbado que degrada a natureza e tem uma das maiores cargas tributárias do mundo, mas investe pouco em infraestrutura e saneamento básico. De todo o lixo gerado no Brasil, boa parte é armazenado de forma adequada em aterros, o restante encontra-se em lixões e mesmo em ambientes a “céu aberto”.

Lixão em Campina Grande

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O lixo disposto a céu aberto constitui um sério problema de saúde pública, pois propicia o surgimento de vetores, como artrópodes e roedores que podem transmitir doenças como leptospirose entre outras.

O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, no final de 2010, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, que tem o objetivo de incentivar a reciclagem de lixo e o correto manejo de produtos usados com alto potencial de contaminação.

Antes da sanção da lei, o único responsável pelos resíduos era o município. Agora, não só a Prefeitura como também empresas e cidadãos comuns têm como dever cívico cuidar do seu lixo.

A legislação, que tramitou no Congresso por cerca de 20 anos, ela considera a questão do poluidor-pagador como princípio importante para a responsabilidade compartilhada. Fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes agora são obrigados a fazer o caminho de volta e essa responsabilidade acabou criando a logística reversa, que é o caminho de volta dos resíduos. Ela responsabiliza as empresas pelo recolhimento de produtos descartáveis

Moradores terão de separar o lixo doméstico nas cidades onde há coleta seletiva. Para que projetos de limpeza pública e manejo de resíduos recebam recursos, os municípios terão de aprovar planos de gestão.

O artigo 54 da Política Nacional de Resíduos Sólidos impõe a exposição de resíduos de forma adequada em aterros até 2014, o que significa que até a Copa do Mundo os lixões devem ser eliminados das cidades brasileiras estabelecendo responsabilidades compartilhadas entre governo, indústria, comércio e consumidores sobre o destino final do lixo.

As Prefeituras terão de construir aterros sanitários ambientalmente sustentáveis, onde só poderão ser depositados resíduos sem possibilidade de reaproveitamento.

O serviço de coleta no Brasil se modernizou consideravelmente, mas ainda está longe do ideal, até porque o mundo atual é bem mais diversificado, e o problema do lixo também. Enquanto no Japão e no Canadá a coleta é de 100%, na União Europeia é de 99% e nos Estados Unidos é de 95%, no Brasil a taxa é de 62%.

O volume de RSU - Resíduos Sólidos Urbanos gerado em 2010 pela população é 6,8% superior ao registrado pelo Panorama em 2009. Foram quase 61 milhões de toneladas de lixo produzidos nos últimos doze meses e o aumento populacional no país não é desculpa para esse crescimento: o estudo mostrou que a geração de resíduos aumentou seis vezes mais do que a população em 2010, o que significa que, no último ano, cada brasileiro produziu, sozinho, uma média de 378 kg de lixo.

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E as más notícias não param por aí: o Panorama concluiu, ainda, que a quantidade de RSU com destinação inadequada aumentou quase dois milhões de toneladas, com relação a 2009: foram 23 milhões de toneladas encaminhadas a lixões e aterros controlados - que, por não possuírem mecanismos adequados de disposição e armazenamento do lixo, contaminam o solo e a água - contra 21,7 milhões, em 2009.

A região que apresenta o pior índice de destinação inadequada é a Centro-Oeste,

que encaminha mais de 71% do lixo que produz para lixões e aterros controlados. Em seguida aparece: Nordeste, com 66%; Norte, com 65%; Sul, com 30,3%; e Sudeste, com 28%3, onde situa-se o Estado com menor percentual de destinação incorreta de lixo: São Paulo, que é, ainda, o que mais produz RSU no Brasil: são mais de 55 mil toneladas por dia. O Rio de Janeiro, que ocupa a segunda posição do ranking, produz cerca de 20 mil toneladas diárias de lixo.

O desafio agora é pôr em prática a lei. Hoje no país, as pessoas já desenvolvem a coleta seletiva nas casas, indústrias e empresas. O único problema é que esse processo de separação acaba se misturando quando o caminhão passa para recolher.

O número de municípios no Brasil operando programas de coleta seletiva ainda é incipiente: 443 no Brasil todo, ou seja, apenas 8% do total, sendo a maior parte na regiões Sul e Sudeste (86%). Distribuição dos municípios com coleta seletiva por regiões: Norte (5); Centro-Oeste (13); Nordeste (45); Sul (159); Sudeste (221). Os dados são de 2010.

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Em 2010, aparas de papel/papelão continuavam sendo os tipos de material reciclável mais coletado por sistemas municipais de coleta seletiva, seguidos dos plásticos em geral, vidros, metais e embalagens longa vida.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos tem um conjunto de instrumentos que a

distingue como política pública. Com a sanção da lei, que distingue resíduo de rejeito, o Brasil passou a ter um marco regulatório nesta área. Resíduo é o lixo que pode ser reaproveitado ou reciclado e rejeito é o que não é passível de aproveitamento. A lei trata de todo tipo de resíduo: doméstico, industrial, construção civil, eletroeletrônico, da área de saúde etc.

Cores da Reciclagem

Quanto à fixação de habitantes nas áreas de disposição final do lixo, os estados, municípios e a União devem fazer planos, com diagnóstico da situação atual, proposição de cenários e estabelecimento de metas e programas. A partir de agora, as embalagens deverão ser fabricadas com materiais que propiciem a sua reutilização ou reciclagem. Diferença entre lixão, aterro controlado e aterro sanitário?

Um lixão é uma área de disposição final de resíduos sólidos sem nenhuma preparação anterior do solo. Não tem nenhum sistema de tratamento de efluentes

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líquidos - o chorume (líquido preto que escorre do lixo). Este penetra pela terra levando substâncias contaminantes para o solo e para o lençol freático. Moscas, pássaros e ratos convivem com o lixo livremente no lixão a céu aberto, e pior ainda, crianças, adolescentes e adultos catam comida e materiais recicláveis para vender. No lixão o lixo fica exposto sem nenhum procedimento que evite as consequências ambientais e sociais negativas.

O aterro controlado é uma fase intermediária entre o lixão e o aterro sanitário. Normalmente é uma célula adjacente ao lixão que foi remediado, ou seja, que recebeu cobertura de argila, e grama (idealmente selado com manta impermeável para proteger a pilha da água de chuva) e captação de chorume e gás. Esta célula adjacente é preparada para receber resíduos com uma impermeabilização com manta e tem uma operação que procura dar conta dos impactos negativos tais como a cobertura diária da pilha de lixo com terra ou outro material disponível como forração ou saibro. Tem também recirculação do chorume que é coletado e levado para cima da pilha de lixo, diminuindo a sua absorção pela terra.

Mas a disposição adequada dos resíduos sólidos urbanos é o aterro sanitário que antes de iniciar a disposição do lixo teve o terreno preparado previamente com o nivelamento de terra e com o selamento da base com argila e mantas de PVC, esta extremamente resistente. Desta forma, com essa impermeabilização do solo, o lençol freático não será contaminado pelo chorume. Este é coletado através de drenos de PEAD (polietileno de alta densidade), encaminhados para o poço de acumulação de onde o

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chorume acumulado será encaminhado para a estação de tratamento de efluentes. A operação do aterro sanitário, assim como a do aterro controlado prevê a cobertura diária do lixo, não ocorrendo à proliferação de vetores, mau cheiro e poluição visual.

A poluição ambiental

A ideia de poluição ambiental abrange uma série de aspectos, que vão desde a contaminação do ar, das águas e do solo, a desfiguração da paisagem, erosão de monumentos e construções até a contaminação da carne de aves com hormônios. A Poluição pode ser definida como a introdução no meio ambiente de qualquer matéria ou energia que venha a alterar as propriedades físicas, químicas ou biológicas desse meio, afetando, ou podendo afetar, por isso, a "saúde" das espécies animais ou vegetais que dependem ou tenham contato com ele, ou que nele venham a provocar modificações físico-químicas nas espécies minerais presentes. Poluição é qualquer acréscimo ao ar, à água, ao solo ou ao alimento que ameace a saúde, a sobrevivência ou as atividades de seres humanos ou de outros organismos vivos. Os poluentes podem entrar no meio ambiente de forma natural (por exemplo, por erupções vulcânicas) ou por meio de atividades humanas (por exemplo, com a queima de carvão). A maior parte da poluição advinda das atividades humanas ocorre em áreas urbanas e industriais, ou parte delas, onde as fontes de poluição, como carros e fábricas, se concentram. A agricultura industrializada também é uma grande fonte de poluição. Alguns poluentes contaminam a área onde são produzidos; outros são transportados pelo vento ou pela água corrente para outras áreas.

Desde o surgimento do ser humano na Terra, a humanidade pouco a pouco vem provocando modificações ao meio em que habita.

Na procura das causas da poluição ambiental, tal como observada hoje, deparamos com dois fatores básicos. Um destes está arraigado na tendência do homem à mecanização. Como nenhum outro ser vivo, consegue o homem transformar as matérias-primas que encontra de modo a torná-las úteis para si, seja como ferramentas ou máquinas, ou como artefato de lazer e objeto de arte. Durante a confecção de todos estes artigos formam-se quantidades apreciáveis de resíduos inúteis, que com o tempo acabam por comprometer o ambiente. Além disso, durante estes processos de fabricação não é consumida apenas a energia própria do corpo humano: há consumo, sobretudo de

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energias provenientes de outras fontes. Também a produção de energia está associada a uma poluição do meio ambiente. Assim sendo, todo o processo de industrialização constitui-se num dos componentes principais da poluição ambiental.

A segunda causa do comprometimento de meio ambiente reside no contínuo aumento da população, que força uma crescente produção de alimentos. Como a área de terras cultiváveis não pode crescer no mesmo ritmo que a população, o necessário aumento de produção só pode ser atingido mediante uma intensificação da agricultura nas áreas já disponíveis.

As duas causas, a industrialização e a produção de alimentos, tendem a aumentar com o crescente aumento da populacional, a não ser que sejam adotadas diretrizes em relação a ambas.

Em princípio tais modificações eram praticamente imperceptíveis, entretanto, ao longo dos tempos, e principalmente após a Revolução Industrial, as transformações se acentuaram gerando os que chamamos de poluentes ambientais, quais são decorrentes da produção e má administração de resíduos.

As atividades humanas, principalmente nas sociedades industrializadas modernas, geram diversos tipos de poluentes: lixo, fumaça e resíduos industriais, gases do escapamento de veículos motorizados etc., além da maior quantidade de resíduos orgânicos, como excrementos.

A questão da poluição ambiental é antiga; no século XIX, por exemplo, muitas cidades estadunidenses eram assoladas pela “poluição dos cavalos”. O cheiro de suor, de urina e de esterco desses animais estava em todos os lugares. Partículas de esterco seco poluíam o ar. Havia montes de esterco fresco por todos os lados, restos de comida de cavalo e muitas moscas. Tente imaginar como seriam nossas cidades hoje se todos tivessem um cavalo. Quando surgiram os automóveis, pensava-se que eles seriam uma solução limpa para os problemas causados pela poluição dos cavalos, mas hoje sabemos que essa previsão não foi acertada.

A poluição ambiental gerada pelas sociedades industrializadas tem provocado tragédias de grandes proporções. Em Londres, no inverno de 1952, as condições climáticas não permitiram a dispersão dos poluentes liberados pelos automóveis, pelas fábricas e pelos sistemas de aquecimento das residências, o que produziu efeitos drásticos: mais de 4 mil pessoas morreram em poucos dias, em decorrência de problemas respiratórios causados pelos poluentes que se concentraram na baixa atmosfera. Nos dois meses seguintes, mais de 8 mil pessoas morreram de enfermidades decorrentes da poluição atmosférica.

Outra catástrofe de grandes proporções ocorreu em Chernobyl, Ucrânia, antiga República da União Soviética, em 26 de abril de 1986. Uma falha na refrigeração de um reator nuclear fez com que ele explodisse, lançando poluentes radioativos que provocaram a morte imediata de dezenas de pessoas e doenças em milhares de outras. As autoridades levaram 30 horas para orientar a população a sair, tarde demais: o então governo soviético admitiu 15 mil mortes, mas, pelas contas de organizações não governamentais foram pelo menos 80 mil vítimas.

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Um exército de operários, sem equipamento apropriado, passou seis meses construindo uma estrutura de isolamento sobre o reator. Nenhum trabalhador sobreviveu.

Após 26 anos, os níveis de radiação baixaram e o governo da Ucrânia abriu a área para a visitação. Na cidade abandonada, a cena é fantasmagórica: as construções ainda guardam os símbolos do regime soviético, que controlava a vida e a morte das pessoas.

Os poluentes que produzimos vêm de dois tipos de fontes. Fontes pontuais de poluentes são fontes únicas e identificáveis. Entre os exemplos estão a chaminé de uma usina de queima de carvão ou de uma indústria, o cano de esgoto de uma fábrica ou o escapamento de um automóvel. Fontes não-pontuais de poluentes estão dispersas e com frequência são difíceis de identificar. Entre os exemplos estão os pesticidas pulverizados no ar ou levados pelo vento até a atmosfera e o derramamento em córregos e lagos de fertilizantes e pesticidas utilizados em fazendas, gramados e jardins. É muito mais fácil e barato controlar e poluição de fontes pontuais do que de fontes não-pontuais amplamente dispersas. Os poluentes podem ter três tipos de efeitos indesejados: Primeiro: eles podem perturbar ou degradar os sistemas de suporte à vida para os

seres humanos e outras espécies;

Segundo: eles podem causar danos à vida selvagem, à saúde humana e à propriedade;

Terceiro: eles podem criar incômodos como ruído e odores, sabores e visões

desagradáveis.

Um aspecto importante para o controle da poluição é o esclarecimento e a educação da população. Somente uma sociedade civil amplamente organizada e

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informada será capaz de exercer uma fiscalização ambiental sistemática, exigindo a criação e principalmente o cumprimento de leis ecológicas eficientes.

Atualmente, vivemos num mundo onde a natureza é profundamente agredida. Toneladas se matéria-prima, geradas dos mais diferentes lugares do planeta, são industrializadas e consumidas criando rejeitos e resíduos, que são chamados de lixo. Assim, lixo é todo material descartado, proveniente das atividades humanas. É importante lembrar que o lixo gerado pelo homem é apenas uma pequena parte da montanha acumulada todos os dias, composta pelos resíduos de outros setores. A Conferência de Estocolmo – 1972

Em Estocolmo - Suécia, no período de 5 a 16 de junho de 1972 ocorreu à reunião

de 113 países para participarem da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, conhecida como Conferência de Estocolmo. Foi Presidida pelo canadense Maurice Strong.

Essa Conferência é extremamente importante, pois, foi o primeiro grande encontro internacional, com representantes de diversas nações, para a discussão dos problemas ambientais e nela se consolidou e discutiu a relação entre desenvolvimento e meio ambiente.

A Conferência, apesar de atribulada, gerou um documento histórico, com 24 artigos (infelizmente, com poucos compromissos efetivos) assinado pelos países participantes e teve como um de seus principais desdobramentos a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a primeira agência ambiental global.

Dois documentos reforçavam as animosidades e conflitos existentes entre as nações. O primeiro: eram as conclusões do Relatório do Clube de Roma (composto por cientistas, industriais e políticos, que tinha como objetivo discutir e analisar os limites do crescimento econômico levando em conta o uso crescente dos recursos naturais). Estes detectaram que os maiores problemas eram: industrialização acelerada, rápido crescimento demográfico, escassez de alimentos, esgotamento de recursos não renováveis, deterioração do meio ambiente. Tinham uma visão ecocêntrica e definiam que o grande problema estava na pressão da população sobre o meio ambiente.

O segundo e não menos importante foi o documento base para a Conferência de Estocolmo denominado Only one earth: the care and maintenance of a small planet (Há uma só Terra: o cuidado e a manutenção de um pequeno planeta), de responsabilidade de Bárbara Ward e René Dubos, da Organização das Nações Unidas - ONU, que reuniu 70 especialistas do mundo, que reforçavam, em grande parte as conclusões do Relatório do Clube de Roma. Consequentemente, os debates na Conferência de Estocolmo giraram em torno da questão do controle populacional e da necessidade de redução do crescimento econômico.

Os dois pontos (controle populacional e redução do crescimento econômico) foram objeto de contestação por parte dos países em desenvolvimento, que viam na postura neomalthusiana, do Relatório do Clube de Roma, do documento base da Conferência e dos ambientalistas (o Greenpeace fora criado em 1971), um movimento de

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ampliação da subordinação internacional dos países subdesenvolvidos aos países desenvolvidos. Como resultado dessa resistência, foram incluídos na declaração vários capítulos que tentavam/buscavam resguardar a soberania dos países sobre seus territórios e os recursos naturais e também sobre sua necessidade e liberdade de alcançar o desenvolvimento.

Segundo Viola e Reis (1992:83), o governo brasileiro, na Conferência de 1972, liderou o bloco de países em desenvolvimento que tinham posição de resistência ao reconhecimento da importância da problemática ambiental (sob o argumento de que a principal poluição era a miséria) e que se negavam a reconhecer o problema da explosão demográfica. A posição do Brasil - na época sob o governo militar - era a de "Desenvolver primeiro e pagar os custos da poluição mais tarde", como declarou o Ministro Costa Cavalcanti, na ocasião.

A visão na época era a de que os problemas ambientais eram originados da pobreza, que era a principal fonte de poluição e que dispor de mais alimentos, habitação, assistência médica, emprego e condições sanitárias tinham mais prioridade do que reduzir a poluição da atmosfera. Ou seja, o desenvolvimento não poderia ser sacrificado por considerações ambientais dado que essa preocupação poderia prejudicar as exportações dos países desenvolvidos e em desenvolvimento.

A posição defendida era de que todos tinham direito ao crescimento econômico. Na Conferência de Estocolmo, o Brasil liderou 77 países (do total de 113 países) com acusações aos países industrializados e defesa do crescimento a qualquer custo. Em protesto estendeu uma faixa com os dizeres: “Bem vindos à poluição, estamos abertos a ela. O Brasil é um país que não tem restrições, temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua poluição, porque nós queremos empregos, dólares para o nosso desenvolvimento”. Essa faixa é famosa, pois, reflete o pensamento da época de todos terem o direito de crescer economicamente mesmo que à custa de grande degradação ambiental. Não se pode esquecer que o Brasil estava em pleno milagre econômico.

Não se pode deixar de lembrar que as denúncias internacionais e maiores preocupações com o meio ambiente ocorrem em um mundo fortemente desigual e com interesses conflituosos. Os diferentes graus de desenvolvimento permitiram as suposições de que o crescimento/desenvolvimento é possível a todos os países (basta trilhar o caminho certo) e que as preocupações com os problemas ambientais estivessem mais presentes em uns países do que em outros, portanto, adquiriam importâncias diferentes. A ênfase da Conferência, estabelecida pelos países desenvolvidos, era decorrente do desenvolvimento econômico, industrialização, urbanização acelerada e esgotamento dos recursos naturais, mas, os países em desenvolvimento, defendiam o direito de crescer e, a exemplo do que ocorreu com os desenvolvidos, também não queriam se preocupar com as questões ambientais.

Os países do III Mundo (subdesenvolvidos, pobres, periféricos, como se queira denominar) concentravam a maior parte da população mundial e apresentavam as maiores taxas de natalidade e, como não eram desenvolvidos economicamente, foi totalmente lógico que reagissem com hostilidade.

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Assim, os países pobres alegaram que os problemas ambientais são dos países ricos derivados do excesso de produção e consumo. Entendiam que o verdadeiro problema era que 2/3 da população mundial estava dominada pela pobreza, má nutrição, enfermidades, e que era necessário priorizar o desenvolvimento, portanto, a filosofia do crescimento zero era inaceitável. Defendem que o principal problema ambiental era a pobreza e que esse reconhecimento dependia a continuidade da reunião. O Primeiro Ministro indiano Indira Ghandi afirmou que a pobreza é a grande poluidora ao se referir ao fato de que os pobres precisam sobre-explorar seu meio ambiente para suprir as necessidades básicas.

Como alternativa à polarização entre as ideias de "crescimento zero" e de "crescimento a qualquer custo" propôs-se, na mesma Conferência de Estocolmo, a abordagem Ecodesenvolvimentista. Contrapondo-se à ideia da existência de um trade-off entre desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente (quer dizer, se há desenvolvimento não ocorre a preservação do meio ambiente ou se há preservação do meio ambiente não ocorre o desenvolvimento), a abordagem ecodesenvolvimentista entende o problema ambiental como um subproduto de um padrão de desenvolvimento, mas que o processo de desenvolvimento somente se tornará possível pelo equacionamento do trinômio eficiência econômica, equidade social e equilíbrio ecológico (Carvalho, 1987).

Na Conferência fica claro que o Homem é o centro da relação Homem-meio ambiente. A proposta dos 23 artigos trata a pobreza como causadora da degradação (artigo 10); não apoia o crescimento zero e sim crescimento com equilíbrio (arts. 8, 9 e 11) e afirma que deve ocorrer a preocupação com o crescimento populacional (arts. 15 e 16).

Em 1987, o documento Our Common Future (Nosso Futuro Comum) ou, como é bastante conhecido, Relatório Brundtland, que é o resultado do trabalho da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, da ONU, presidida por Gro Harlem Brundtlandt e Mansour Khalid, daí o nome final do documento, apresentou um novo olhar sobre o desenvolvimento, definindo-o como o processo que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. É a partir daí que o conceito de desenvolvimento sustentável passa a ficar conhecido.

Elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, o Relatório Brundtland aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo, trazendo à tona mais uma vez a necessidade de uma nova relação “ser humano-meio ambiente”. Ao mesmo tempo, esse modelo não sugere a estagnação do crescimento econômico, mas sim essa conciliação com as questões ambientais e sociais.

Com a sua publicação dissemina-se o conceito de desenvolvimento sustentável. O conceito de desenvolvimento sustentável mundialmente conhecido é “O desenvolvimento que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”.

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O Relatório Brundtland ainda define ou, pelo menos, descreve o nível do consumo mínimo partindo das necessidades básicas, no entanto é omisso na discussão sobre o nível máximo de consumo (de uso de energia, etc.) nos países industrializados.

O Relatório ainda enfatiza a necessidade de crescimento tanto nos países não-industrializados quanto nos países industrializados, mas para isso propõe que a superação do subdesenvolvimento no hemisfério sul só é possível com o crescimento contínuo dos países industrializados. Com esta posição, os interesses econômicos dos países industrializados e em desenvolvimento não são afetados, por isso o relatório recebeu amplo apoio político.

Em comparação com as discussões dos anos 1970, ele não nega a necessidade do crescimento econômico a qualquer custo, mantém sempre um tom diplomático, provavelmente uma das causas da sua grande aceitação depois de ser publicado.

Contudo, isso não invalida os grandes avanços que ocorreram após a publicação do relatório, inclusive, porque vários países passaram a discursar e a se comprometer, em maior ou menor grau, com as questões ambientais.

Segundo o Relatório da Comissão Brundtland, uma série de medidas devem ser tomadas pelos países para promover o desenvolvimento sustentável. Entre elas:

Limitação do crescimento populacional; Garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo; Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de

fontes energéticas renováveis; Aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em

tecnologias ecologicamente adaptadas; Controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades

menores; Atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia).

A biodiversidade em declínio

Embora muitas vezes aja como se fosse a única da Terra, a espécie humana é apenas uma entre 1,75 milhão de espécies de vida. Se você se surpreende com esse número, vai se espantar ainda mais ao perceber que ele não corresponde ao total de espécies existentes no planeta. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) estima que existam pelo menos 14 milhões de espécies vivas ao redor do globo. Há até especialistas que calculam esse número em 50 milhões - ou ainda mais.

Não dá para saber: todo ano são encontrados milhares de novas espécies. Na maior parte, são insetos, bactérias, fungos e outros organismos muito pequenos, mas

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também aves, anfíbios e até mamíferos, escondidos em lugares quase inacessíveis. Simplesmente não existem pesquisadores suficientes para descrever tantas formas de vida no planeta.

A biodiversidade é a variabilidade de organismos vivos de todas as origens existentes nos ecossistemas terrestres e aquáticos. O termo inclui também a diversidade de genes contidos em cada espécie e a maneira como os animais, plantas e microrganismo estão organizados e interagem para formar a estrutura e o funcionamento de um ecossistema.

A biodiversidade é responsável pela evolução e pela manutenção da vida em todos os lugares: no meio dos desertos, nas tundras congeladas, no fundo do mar, no alto das montanhas ou nas fontes de águas sulfurosas. Está aí um conceito estratégico, pois implica equilíbrio e estabilidade de ecossistemas e seu uso e aproveitamento pela humanidade de forma a preservá-los.

Desde que o homem começou a interferir na natureza, a biodiversidade tornou-se a base das atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras e florestais e, mais recentemente, da indústria de biotecnologia. É a fonte de proteínas, remédios, cosméticos, roupas e alimentos, bem como é essencial para a criação de grãos mais produtivos e resistentes a pragas e a outras doenças.

Considerando a importância desse conceito e o que ele implica, a Convenção da Diversidade Biológica, assinada por 156 nações, estabeleceu que os países tivessem direito soberano sobre a variedade de vida contida em seu território e o dever de conservá-la e de garantir que seu uso seja feito de forma sustentável, isto é, assegurando sua preservação. A convenção ressalta a necessidade de repartição justa e equitativa dos benefícios derivados do uso dos recursos genéticos entre todos os países e as populações cujo conhecimento foi chave para o uso desses recursos – por exemplo, comunidades acostumadas a utilizar as plantas de sua região desde tempos remotos, como os índios.

O problema da compensação financeira pelo conhecimento obtido a partir da biodiversidade, no entanto, é motivo de controvérsia. Ganhou manchete dos jornais o caso do cupuaçu, que teve um pedido de patente registrado no exterior por uma empresa japonesa, apesar de ser uma planta típica da Amazônia. A contestação de entidades ambientalistas nos escritórios de patentes internacionais impediu a aprovação do registro, pois as aplicações do produto já eram, desde há muito tempo, de domínio dos índios e das comunidades tradicionais amazônicas e não envolviam nenhum tipo de inovação que justificasse o direito de sua exploração pela companhia japonesa.

O conflito ocorre entre dois conceitos de patentes: o tradicional, criado com o advento da indústria e das inovações tecnológicas, no século XIX, estabelecendo que os direitos de comercialização de qualquer produto pertencem a quem primeiro os registra nos órgãos de patentes; e o instituído pela Eco - 92, prevendo que os ganhos com os princípios ativos de organismos vivos sejam divididos, além de com empresa e com os pesquisadores envolvidos, também com o país de origem daquela planta ou animal e com a população tradicional que já tinha os conhecimentos sobre esses princípios ativos. A Organização Mundial do Comércio (OMC) não aceita os novos preceitos propostos, e, enquanto o debate prossegue, multiplicam-se as disputas que envolvem medicamentos,

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alimentos e cosméticos. Abre-se espaço também para o que se chama de "biopirataria", que é a retirada ilegal de organismos vivos de seu país de origem para uso comercial. Futuro ameaçado

A questão da biodiversidade é motivo de preocupação também em outra escala. Durante as últimas centenas de milhões de anos, milhões de espécies foram extintas por causa de mudanças ocorridas na Terra ou em ecossistemas específicos. Trata-se de um fenômeno natural que se inscreve no processo de evolução - ao passo que os indivíduos de espécies menos aptas se extinguem com as mudanças nos ambientes, os mais aptos adaptam-se às novas condições e, ao sobreviver às mudanças, dão continuidade à vida no planeta. A diversidade biológica tem possibilitado que os ecossistemas reencontrem o estado de equilíbrio depois de sofrer algum tipo de impacto, às vezes extremamente grave.

O problema atual é que a sociedade está, ao mesmo tempo, reduzindo a biodiversidade e acelerando o ritmo das mudanças em todo o globo terrestre. Com relação ao aquecimento global, a mudança no clima do planeta vem alterando o ciclo de vida de animais e plantas e pode provocar a extinção de milhares de espécies nos quatro cantos da Terra. O desmatamento, causado pela expansão da agricultura e da pecuária sobre as regiões de floresta, devasta o solo, mata as plantas e os animais, altera o regime de chuvas e, indiretamente, afeta o clima. As cidades, com seus carros, fábricas, poluição, sujeira e consumo excessivo, degradam a natureza e diminuem número de espécies vivas.

O maior sinal de alerta contra os ataques à biodiversidade foi dado em 2005, com a publicação da Avaliação Ecossistêmica do Milênio, diagnóstico solicitado pela ONU sobre a saúde do planeta e sua relação com a manutenção da vida humana. De acordo com o relatório, resultado do trabalho de 1.360 cientistas de 95 países, incluindo o Brasil, a Terra está passando por um período de extinção em massa - já ocorreram outros, no passado. Estima-se que cerca de 27 mil espécies desapareçam a cada ano, muitas nem sequer descritas pela ciência.

O documento frisa que, caso se mantenha o atual ritmo de devastação ambiental, dentro de algumas décadas o planeta não conseguirá fornecer em quantidade suficiente os recursos naturais necessários à população humana, por causa, sobretudo da poluição e da exploração exageradas, além da introdução de espécies exóticas, interferindo no equilíbrio dos ambientes. Por fim, o texto reforça a importância da conservação e do uso sustentável da diversidade biológica.

A destruição da biodiversidade, além de provocar danos às espécies diretamente envolvidas, afeta a humanidade de várias maneiras. A diversidade genética das plantas, por exemplo, é essencial para a criação de grãos mais produtivos e resistentes a doenças, e, com a homogeneização da agricultura resultante da monocultura, isso está se perdendo.

O problema é antigo. A ocorrência de pragas e a perda da produção em razão de guerras ou desastres naturais já provocaram ondas de fome que vitimaram milhões de pessoas em várias épocas e partes do planeta. Mas sempre se conseguiu repor as perdas

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por meio de variedades que se adaptaram às novas condições ambientais. Mas, quando tudo se torna homogêneo, fica mais difícil enfrentar doenças e pragas que surgem de desequilíbrios dos ecossistemas.

O pior é que a devastação não dá sinais de que vai parar de aumentar. Estima-se que a atual taxa de extinção de espécies seja mil vezes superior à do período pré-histórico. Uma parte do problema é o simples aumento da população mundial, com o crescimento da produção industrial, e o uso de matérias-primas naturais para atender às suas necessidades. Mas é a utilização descontrolada dos recursos naturais que provoca mais destruição. O caminho, portanto, não é que se deixe de aproveitar o que a natureza tem de melhor. A dificuldade é fazer isso corretamente, sem agredir o meio ambiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Biodiversidade em Declínio. Atualidades Vestibular. São Paulo: Abril, 2010. CARVALHO, PAULO G.M. Meio ambiente e políticas públicas - a atuação da FEEMA no controle da poluição industrial. Campinas: UNICAMP, 1987.

FELLENBERG, GÜNTER. Introdução aos Problemas da Poluição ambiental. São Paulo: E.P.U., 2007.

Fim dos Lixões. Disponível em: < http://www.tiberiogeo.com.br > Acesso em 20 julho 2011.

Lixo x Aterro. Disponível em: < http://www.lixo.com.br > Acesso em 20 julho 2011.

MILLER, G. TYLER. Ciência Ambiental. 11ª ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007. Os desafios da Era do Lixo Disponível em <http://www.abrelpe.org.br/> Acesso em 12 janeiro 2012

Repensai a geração de lixo e dejetos. Disponível em: <http://artigos.netsaber.com.br> Acesso em 20 julho 2011. VIOLA, EDUARDO E LEIS, HECTOR R. - Desordem global da biosfera e a nova ordem internacional: o papel organizador do ecologismo. In: ANPOCS, Revista de Ciências Sociais Hoje, SP, Vértice/Ed.Revista dos Tribunais, 2008.

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DINÂMICA DOS AMBIENTES NATURAIS

A formação e evolução dos ambientes naturais terrestres têm uma longa história geológica, durante a qual, a instabilidade tem sido um marco de mudanças físicas e de manifestação da vida. Como parte do grande geossistema solar, a Terra tem passado por vários momentos de transformação física, transição geológica e mudanças nas feições geomorfológicas. Nada é definitivo na superfície do Planeta, mesmo porque se trata de um corpo cósmico vivo, dinâmico tanto internamente como externamente. O equilíbrio das forças que o mantém atuante, se alterou em longos períodos, provocando mudanças na paisagem e no comportamento das formas vivas e mesmo no desaparecimento e surgimento de novas. As mudanças que hoje observamos e tememos são naturais, pois já se passaram muitos milênios desde a última grande glaciação terrestre. Contudo, não podemos menosprezar os fortes impactos produzidos pela civilização em sua ânsia de desenvolvimento ou na irracionalidade dos usos de recursos naturais e, ainda, na reprodução muitas vezes irresponsável dos seres humanos. Esse último fator coloca, atualmente, uma situação inconteste. A Terra tem uma população acima da capacidade de fornecer recursos à sobrevivência humana; os limites da capacidade de autorregeneração se esgotam rapidamente. Para uma população ideal de 03 bilhões de pessoas temos, atualmente, cerca de 07 bilhões, o que projeta para os próximos decênios uma situação insustentável. A evolução dos ambientes naturais é lenta, ainda que em determinados momentos os eventos telúricos se façam sentir com extrema violência. Mas a recomposição dos ambientes atingidos leva muitos anos para regeneração ou, o que é mais comum, iniciar um novo ciclo ecossistêmico. Essa assertiva é válida tanto para os ambientes regidos por forças físico-químicas como no processo de desencadeamento de ciclos de vida. Dependendo das novas condições físicas, as manifestações biológicas, por adaptação ou surgimento de novas espécies, têm um longo percurso de aperfeiçoamento das defesas contra as adversidades naturais. Na natureza há uma complexidade sistêmica que, como afirma Tricart et Cailleux (1965, p.8) “formam uma combinação em proporções variáveis ao mesmo tempo que oposição, ou adaptação, ação ao mesmo tempo que reação, ou seja: unidade dialética”. Assim, a cada grande transformação na superfície terrestre, quer de origem interna ou por ação das forças externas, há sempre adaptação no sentido evolutivo. Ao longo de milhões de anos o planeta foi adquirindo conformações variadas em sua superfície, definindo cadeias de montanhas, vales, rios, mares e oceanos profundos. O movimento interno das placas da crosta terrestre é contínuo, alterando no tempo geológico, a modelagem de continentes e ilhas. Manifestações magmáticas e outros fenômenos de ordem geológica determinaram, em cada época, configurações que alteraram a conformação da superfície. Concomitantemente, forças de potenciais erosivos, lenta e permanentemente, iniciaram o processo de mudança, de novas configurações físicas, de combinações químicas capazes de favorecer o desenvolvimento biológico.

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A história da Terra, como dos demais corpos cósmicos, é marcada pela mudança, pela transformação contínua, pela geoquímica que determina as condições de formação de cada ecossistema. Nada é permanente, tudo está em transição, das formas físicas às manifestações biológicas. O sistema Terra é parte do sistema solar, dele dependente nas alterações geofísicas, na intensidade das radiações, nas emanações eletromagnéticas e no equilíbrio das órbitas. Na Terra nada constitui um fenômeno isolado; todos os fenômenos são interconectados em jogos de forças que mantém um equilíbrio no tempo-espaço suscetível de instabilidade sempre que uma ou mais forças do sistema se alterar. No tempo geológico ocorreram várias instabilidades no complexo de forças do sistema Terra. Isso ocorre também em nossos dias. Thornbury (1960, p.17) afirma que “os mesmos processos e leis físicas que atuam hoje em dia atuaram em todo tempo geológico, ainda que não necessariamente com a mesmo intensidade”. Sempre há um fator determinante, para a maior ou menor intensidade da ocorrência de um fenômeno natural, formas tectônicas, formas de erosão, formas litológicas, conforme Derruau (1965, p.14). Em relação às mudanças climáticas, Termier, H. et Termier G. (1960,10) destacam a importância das modificações do campo magnético terrestre, cujas causas podem estar associadas aos movimentos das grandes placas internas da crosta. Atualmente há uma justificada preocupação com o clima da Terra e pelos efeitos que poderão advir à manutenção da vida. Não há dúvida sobre o grande impacto que o homem vem causando na natureza. A consciência ecológica é um fato relativamente recente, mesmo assim coloca-se mais no plano retórico do que em iniciativas práticas. A destruição acelerada da floresta amazônica é um símbolo da degradação ambiental cujas repercussões ninguém ignora. A condição dos ambientes terrestres é uma conformação espaço-tempo que corresponde perfeitamente à afirmação de Leibniz (17l5, p. 413): o espaço é uma ordem de coexistências e o tempo uma ordem de sucessões. Na Terra, como no cosmos, as formas físicas e energéticas coexistem e se sucedem no tempo. É um permanente evoluir. Precisamente, é o que acontece com os ecossistemas terrestres, cuja evolução segue padrões naturais de equilíbrio, preservação e mudanças. Por longos períodos de tempo há uma estabilidade das forças naturais, ainda que ocorram manifestações vulcânicas e terremotos com alguma frequência. Isso é sinal que o planeta está vivo. As forças sobre o planeta em equilíbrio determinam o equilíbrio dos ecossistemas. A existência viva pode se desenvolver, evoluir e garantir uma de suas qualidades mais notáveis que é a replicação. Isso representa, também, o processo de evolução das espécies, ou seja, qualificação e diversidade. A condição climática é outro fator importante. A distribuição das temperaturas e da umidade na superfície está associada diretamente a fatores como a distribuição da radiação solar no planeta e as conexões com os fatos da superfície. Péguy (1961, p, 17) já chamava a atenção para o fato do clima se situar, quanto a suas manifestações mais imediatas, ao nível do solo, ou seja, aos processos morfológicos, hidrológicos, pedológicos, à vegetação e aos organismos vivos. Os presentes desequilíbrios climáticos estão, verdadeiramente, ligados a problemas de desmatamento em larga escala, poluição das fontes hídricas e da atmosfera, erosão

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dos solos que levam à desertificação, à criação artificial de grandes superfícies líquidas barradas e ao excesso de população, concentrada nas cidades, o que gera uma grande quantidade de dejetos poluidores. A estrutura física em vários locais da superfície terrestre vem sendo alterada: a retirada incontrolada de água de grandes reservatórios naturais; o desvio de cursos de rios; o deslocamento de alinhamento de dunas litorâneas; a ocupação de morros com a destruição da cobertura vegetal; o vossorocamento pelo esgotamento da camada fértil dos solos; e a destruição das matas ciliares responsável pelo assoreamento dos rios são todos fatores que lentamente, ao longo dos anos vão repercutindo no equilíbrio sistêmico formado pela natureza. A diversidade de vida é um fenômeno da natureza, manifestada em ambientes específicos. O equilíbrio é dado pela cadeia trófica num movimento dialético de consumo e reposição. A espécie humana, pelo grau de evolução que adquiriu, quebrou o ritmo da replicação de várias espécies, não só por disputa de espaço, pelo lazer da destruição e, principalmente, pela utilização dos recursos renováveis, como no caso das espécies marinhas. A destruição, extinção e uso incontrolado de recursos vivos afetam determinados ambientes, sítios produtores de oxigênio e absorsores de CO2. Todas essas variáveis podem ser consideradas quando, por exemplo, se analisa o comportamento climático no extremo sul do Brasil. O vasto campo energético oceânico, o deslocamento de massas aéreas dos anticiclones repercute em vasta área do território brasileiro, de acordo com a estrutura física de cada região. A planície costeira do Rio Grande do Sul, conforme Vieira & Rangel (1988, p. 82), está sob a influência de dois grandes centros de ação atmosférica: o anticiclone do Atlântico e o Anticiclone móvel polar que condicionam diretamente as manifestações do clima em todo sul do continente. As alterações que possam ocorrer nesses sistemas de forças atmosféricas irão, certamente, repercutir no grau de estabilidade dinâmica da área e em desdobramentos espaciais mais amplos.

Todos os fenômenos naturais estão indissociavelmente ligados, ou seja, funcionam em forma sistêmica. Assim, os ecossistemas representam o conjunto de relações que se dinamizam nos ambientes naturais. O equilíbrio das forças que nele atuam assegura sua perenidade e evolução natural. Dependendo da escala, cada ecossistema pode ser dividido em vários subsistemas, por exemplo, o grande ecossistema amazônico. Se tomarmos um conjunto de ecossistemas interligados pode-se estabelecer a taxonomia de geossistema. O Planeta Terra como um todo é um grande geossistema. A margem continental sul brasileira, em menor escala, é um geossistema formado pelos ecossistemas estuarino, marinho costeiro, planiciário e o de circulação atmosférica. Todos com fatores de interconexão. Os ambientes naturais em cada temporalidade geológica e geomorfológica, descartando a intervenção humana, mantêm-se estáveis em longa duração. Trata-se de estabilidade dinâmica, evolutiva, transitiva, mas adequando as forças dos ecossistemas formados às variações do próprio dinamismo das entidades vivas, físicas ou biológicas. A estabilidade de longa duração é fundamental para o desenvolvimento da vida. O fenômeno da vida está indissoluvelmente ligado ao meio ambiente. Cada ambiente

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natural desenvolve suas formas de vida, a condicionar costumes, formas de sobrevivência, perenidade e compatibilidade. Mesmo com o avanço científico e tecnológico, a espécie humana não foge à regra, pois sua perenidade depende das condições ambientais favoráveis do geossistema planetário.

As relações de interdependência entre os componentes dos ecossistemas são, verdadeiramente, as responsáveis pela estabilidade dinâmica desses meios naturais onde se desenrola o fenômeno da biodiversidade. Toda a interdependência é de natureza sistêmica, decorrendo daí a necessidade de se estudar a funcionalidade e a estabilidade geradas pelas forças que atuam nos ecossistemas. A interferência antrópica, pela irracionalidade com que é praticada, é, quase sempre, a responsável pelo início do processo de desestabilidade e caos nos ambientes naturais.

Referência Bibliográfica Dinâmica dos Ambientes Naturais. Disponível em: <http://www.ihgrgs.org.br> Acesso em 12 janeiro 2012.

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AMBIENTES NATURAIS E A CIVILIZAÇÃO

A conscientização coletiva seria um marco decisivo para se manter o equilíbrio

ambiental, ainda que com as sequelas irreversíveis já diagnosticadas. Há uma produção do desequilíbrio em razão do crescimento da população, suas demandas sociais, as formas de organização da produção, as tecnologias industriais de alta concentração e emissão de poluentes e, finalmente, a fúria humana, sem controle e responsabilidade, em agressões diretas aos ambientes naturais. O avanço da conscientização coletiva cresce em contingentes da população sem poder de decisão sobre políticas públicas e interesses produtivos. Cientistas e especialista em meio ambiente têm alertado continuamente, nas últimas décadas, para os desequilíbrios ecossistêmicos o que, em momentos de alerta críticos, tem motivado reuniões em escala global. Porém, as medidas tomadas não correspondem à escala de grandeza do problema ambiental. Não há como negar as dificuldades de serem alterados os padrões de produção, mesmo os mais poluentes, pois, deles se sustentam algumas das economias mais fortes do mundo.

O crescimento da emissão de CO2 - aumento da população, da frota de veículos automotores, muitas tipologias industriais - quando correlacionada à devastação e poluição das fontes de renovação de oxigênio, coloca um dado básico de desequilíbrio. A estabilidade do geossistema terrestre começa a se comprometer, com sintomas mais evidentes no aquecimento da temperatura média e na eclosão de eventos climáticos fora dos padrões normais. A evidência de degelo nos polos indica, claramente, mudança climática, cuja repercussão se dá em escala mundial. Para os especialistas da ONU, encarregados de monitorar o meio ambiente, em 1941 a população mundial era de 2,32 bilhões; a emissão de CO2 de 1 bilhão de toneladas; a frota de carros de 27 milhões de unidades. Em 2006 a população pulou para 6,5 bilhões; a emissão de CO2 para 7,3 bilhões de toneladas; a frotas de carros para 725 milhões. O resultado foi, em pouco mais de 60 anos, o crescimento da temperatura média da Terra: de 14,01 para 14,63 graus.

A conscientização coletiva se dá, fundamentalmente, por meio da educação. Programas de educação ambiental para crianças e jovens produzem resultados no consciente coletivo. A principal repercussão é a mudança de hábitos das novas gerações no trato e no entendimento do meio ambiente. Saber que todos os seres são dependentes dos ecossistemas aos quais estão vinculados e que o homem, em todos os meios naturais, sobrevive a partir dos recursos naturais, é um avanço notável em relação à desconexão cognitiva da indissociabilidade entre as entidades vivas e a natureza. A vida, como fenômeno da natureza, só se sustenta nessa relação de indissociabilidade, se forem mantidas as condições de estabilidade dos meios naturais, formados, lenta e progressivamente aos longos dos milênios.

Os governos nacionais e a governança global vêm desenvolvendo políticas de diminuição dos efeitos poluidores e de desequilíbrios ambientais. Contudo, como foi salientado antes, há muitos e poderosos interesses econômicos em jogo, barrando uma mudança mais forte nos modelos de produção industrial vigentes, ainda, e de elevado padrão poluidor. As políticas de conciliação ambiental vêm sendo implantadas, com

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exigências de licenciamento às novas unidades de produção. A formação técnica especializada para atuar no planejamento e na gestão ambiental tem mobilizado órgãos, educadores e jovens. Mas, inegavelmente, algumas importantes causas do desequilíbrio ambiental continuam presentes, como a devastação de áreas florestais, poluição dos mares com impacto nas formações coralíneas, e a excessiva emissão de CO2.

É significativo considerar que o aumento da população mundial e o desenvolvimento em níveis elevados de países anteriormente classificados como de baixo consumo, passa a se constituir em nova variável na análise da sustentabilidade do meio ambiente. O aumento do consumo aumenta a demanda por recursos naturais, não só os não renováveis como os renováveis. Os sistemas agrícolas tradicionais são rapidamente transformados em amplos espaços de monoculturas, empobrecendo os solos e dinamizando a fronteira agrícola em direção às áreas florestadas.

O desenvolvimento econômico impôs modificações no equilíbrio dinâmico em que se encontravam muitos ecossistemas agrícolas, com o fim de aumentar a produtividade e a produção. É o que vem ocorrendo, particularmente, com o cultivo da soja que alargou a área de plantio dos campos argentino à fronteira com a floresta amazônica. Mas não se deteve; juntamente com a pecuária extensiva avança sobre a floresta, desnudando solos frágeis que se tornam presas fácil à erosão. Outra cultura que pode ampliar sua área, em detrimento da policultura, é a cana de açúcar como fonte primária para produção de combustível. Todo ecossistema do vasto centro-oeste brasileiro vem passando por transformações que modificam o equilíbrio dinâmico de longa duração por outro de dinamismo rápido, impulsionado por componentes químicos que afetam a estabilidade e evolução natural dos solos. Há, portanto, alterações externas, derrubada de matas e devastação florestal, como internas, expondo os solos ao radicalismo produtivo.

Como todos os ecossistemas estão interligados, os enlaces de alterações se propagam afetando solos, rios, matas, florestas e suas interconexões com a biosfera, circulação e a distribuição de umidade e calor nas camadas mais baixas da atmosfera. Se somados ao desequilíbrio dos agrossistemas os sistemas industriais e urbanos têm-se, claramente, uma razão de insustentabilidade ambiental bem caracterizada. Compatibilizar, conciliar as necessidades sociais e do desenvolvimento econômico com a sustentabilidade ambiental é uma tarefa gigante, de ação pragmática, fora do discurso enganoso proporcionado pela retórica ambiental.

Uma ideia muitas vezes apregoada é a de que as políticas ambientais impedem ou prejudicam o crescimento econômico, desestimulando a implantação de indústrias ou impedindo a derrubada de florestas para abrir espaço para a agropecuária. Estudos recentes, porém, revelam que não há uma relação estatística entre o desmatamento e indicadores econômicos, e que a industrialização no país, fortemente apoiada em setores de elevado potencial poluidor, não proporcionou um crescimento sustentado, que trouxesse benefícios para toda a população.

O desenvolvimento econômico tem consistido, para a cultura ocidental, na aplicação direta de toda a tecnologia gerada pelo homem no sentido de criar formas de substituir o que é oferecido pela natureza, com vista, no meio das vezes, à obtenção de

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lucro em forma de dinheiro; e ter mais dinheiro é, muitas vezes, confundido com melhor ou pior qualidade de vida.

Todas as formas de progresso possuem um preço, pois da forma como vem sendo explorada a natureza, há uma destruição do meio ambiente, e consequentemente do planeta Terra.

Desse modo, o homem em sua visão antropocêntrica, busca numa sociedade que considera o dinheiro/poder um de seus maiores valores uma melhor condição de conforto, mas esse conforto não é sinônimo de uma excelente qualidade de vida, sem a preservação da natureza, o patrimônio da humanidade, não se poderá usufruir os benéficos que o poder pode teoricamente proporcionar.

Urge, verificar que a degradação ambiental surge do crescimento desordenado e da globalização da economia, originando uma crise de civilização que questiona a racionalidade dos sistemas sociais, os modos de produção, os valores e os conhecimentos que o sustenta.

É importante que se tenha uma consciência ambiental, por todos os ramos que compõem a sociedade, buscando a preservação do patrimônio ambiental global, isto é, põe-se, a questão de compatibilizar o crescimento econômico e uma melhor qualidade de vida, assim, pode-se orientar o desenvolvimento de maneira a que o mesmo não continue destruindo a biodiversidade natural.

Assim, a preservação e o progresso não são somente ideias que podem harmonizar-se, as mesmas podem ser perfeitamente conciliáveis à medida que tomamos consciência de nosso lugar no planeta e que em tese busquemos um desenvolvimento sustentável.

Referências Bibliográficas Ambientes Naturais e a Civilização. Disponível em: <http://www.ihgrgs.org.br> Acesso em 12 janeiro 2012. Desenvolvimento e Meio Ambiente uma Falsa Incompatibilidade. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/gema/dcie_publicacoes.php > Acesso em 12 janeiro 2012.

Desenvolvimento e Meio Ambiente: Suas Interfaces Econômicas, Sociais, Éticas, Ambientais e Jurídicas. Disponível em: <http://jusvi.com/pecas/20635> Acesso em 12 janeiro 2012.

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A AMEAÇA DA CRISE DOS ALIMENTOS

Carnes, laticínios e produtos industrializados, até então inacessíveis, começam a

reforçar a dieta de parcela numerosa das classes emergentes nos países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia. Neste mesmo momento, um olhar mais apurado revela evidências de uma nova era de falta global de alimentos, com consequências dramáticas para as camadas mais pobres da população mundial.

São muitas as razões para o alerta. Uma primeira abordagem é matemática: enquanto cresce aceleradamente a demanda por alimentos, a produção agrícola tem sua expansão limitada por vários fatores - problemas climáticos, dificuldades para a irrigação, monopólio comercial por parte de uma empresa. Na maior parte da última década, a produção dos quatro alimentos que formam a base da ingestão de calorias humanas no planeta - o arroz, o trigo, o milho e a soja - cresceu menos do que a demanda mundial.

A consequência imediata desse descompasso é o aumento no preço dos alimentos, que afeta de maneira diferenciada os países ricos e pobres. A alimentação consome 10% da renda de norte-americanos ou 20% da renda de brasileiros, e, por isso, embora incomode e eleve a inflação, a alta do preço não produz fome nessas populações. Mas, nas nações mais pobres do planeta, como as da África Subsaariana, o gasto familiar com comida pode chegar a 70% dos rendimentos, e os governos auxiliam parte da população miserável com programas de ajuda alimentar. Como esse auxílio, em geral, é financeiro e vem de fora dos países, preço mais alto dos alimentos significa menos comida. Essa foi a base para boa parte das revoltas da fome que atingiram o mundo há três anos. Mais bocas para alimentar

Nos últimos 40 anos, a população mundial quase dobrou. A cada ano, há um acréscimo de 80 milhões de pessoas ao conjunto da humanidade. Se o crescimento se mantiver constante, a Terra terá cerca de 9 bilhões de habitantes por volta de 2045. Uma ínfima parte dessa expansão acontecerá nos países desenvolvidos. Para se ter uma ideia, dos 158 habitantes que o planeta ganha a cada minuto hoje em dia, 154 nascem nos países pobres ou em desenvolvimento, onde as condições de alimentação são piores.

A demanda por alimentos aumenta também pelo fato de que boa parte da população dos países emergentes amplia seu acesso a diferentes produtos para a alimentação, com destaque para os dois países superpopulosos, China e Índia. Quando cresce o consumo de carne, por exemplo, aumenta em proporção ainda maior o consumo de grãos, já que, para cada quilo de carne bovina, há um gasto de 6 quilos de grãos para alimentar o gado até o abate. Em todo o mundo, 35% dos grãos são utilizados para alimentar animais de criação.

Mesmo com o crescimento da riqueza material e da produção de alimentos, parte da humanidade ainda passa fome. Há no mundo 925 milhões de famintos, um em cada sete habitantes do planeta, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Se o número ainda é alto, a incidência da fome na população global vem sendo reduzida continuamente. Há 40 anos, quando a população era de 3,5 bilhões de pessoas, quase 900 milhões passavam fome. A proporção dos famintos tem sido reduzida em

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razão de o alimento ter ficado mais acessível aos pobres, com a forte expansão da produção agrícola nesse período. O impacto do clima

Um dos principais fatores que têm desestabilizado a produção alimentar em nível mundial são as mudanças climáticas. O aquecimento global, que os cientistas têm detectado nos últimos anos, desregula o clima global. Um aspecto visível disso, segundo os pesquisadores, são as fortes ondas de calor ou inundações, com reflexo direto na redução de safras agrícolas nos últimos anos.

Cientistas começam a registrar evidências de que o impacto da elevação da temperatura no planeta sobre a produção agrícola poderá ser mais grave e ocorrerá mais cedo do que havia sido previsto. Estudos anteriores mostravam que o aumento da liberação de CO2 na atmosfera, pela queima de combustíveis fósseis, contribuiria para o crescimento das plantas, produzindo um efeito colateral benéfico pelo seu papel fertilizador sobre a agricultura. Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU, indicava que, embora o aquecimento global pudesse trazer danos à agricultura nos trópicos, poderia beneficiar culturas agrícolas em regiões mais frias do Hemisfério Norte, pela ação do dióxido de carbono.

Pesquisas mais recente comprovam que esse efeito foi superdimensionado. Na prática, o aumento de produtividade é menor do que se estimava, e, em certas culturas agrícolas, uma ligeira elevação da temperatura acima de determinado patamar tem trazido perdas consideráveis às colheitas.

Ambientalistas e cientistas ligados ao meio ambiente trabalham com a seguinte equação: cada 1°C de aumento da temperatura em relação ao patamar adequado para o período de crescimento das culturas representa uma quebra de cerca de 10% no rendimento das colheitas de grãos. Em 2010, essa relação pode ser testada na prática com a ocorrência de uma onda de calor que atingiu a Rússia: houve redução de quase 40% da safra de grãos do país.

Outra questão crucial para a produção de alimentos tem a ver com a irrigação, pois a atividade agrícola consome 70% da água disponível para uso humano, muito mais do que as demais atividades - indústria e uso doméstico. Relatório da FAO de 2011 alerta para a necessidade de articulação entre as políticas agrícolas e as de recursos hídricos, sob pena de assistirmos à redução dos suprimentos de água a um nível alarmante em partes do mundo. Segundo a FAO, 40% da produção de alimentos hoje vêm de terras irrigadas. Isso se deve em boa parte aos métodos de agricultura intensiva implantados pela Revolução Verde nos países em desenvolvimento. A Revolução Verde ocorreu na segunda metade do século XX, com a contribuição da ciência - descoberta de variedades de sementes híbridas, fertilizantes e novas técnicas de cultivo - e financiamentos públicos. Essa combinação deu base para o surgimento da moderna agroindústria. Graças às novas técnicas, foi possível ampliar a produção de alimentos a um ritmo superior ao do crescimento populacional. Mas esses sistemas agrícolas, após terem atingido seu pico, começam a ter sua produção limitada, entre outros motivos, pela redução da água em lençóis freáticos e aquíferos, por causa do bombeamento em volume superior ao que a

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natureza consegue repor. O Oriente Médio é a primeira região a apresentar evidências de redução na produção de alimentos por esgotamento das reservas subterrâneas. Alimentos versus biocombustíveis

Entre as pressões que afetam a disponibilidade e o preço dos alimentos no mundo está, cada vez mais, a cotação dos combustíveis. Isso vem acontecendo pela recente valorização dos biocombustíveis, ou seja, dos combustíveis produzidos com produtos agrícolas. O petróleo, que moveu a economia mundial no século XX, tem contra si a perspectiva de esgotamento futuro das reservas (fonte não renovável), além do que seu uso emite gases poluentes, que reforçam o efeito estufa e o aquecimento global. Os biocombustíveis são renováveis, ou seja, seu estoque pode ser sempre reposto. Além disso, são muito menos poluentes.

Assim, o uso das terras para produzir alimentos compete com a utilização das terras para o mercado de combustíveis. Do ponto de vista do produtor, tudo depende de qual cultura vai render mais. Para Lester R. Brown, diretor da revista norte-americana Foreign Policy, com o aumento da demanda por energias renováveis, o preço da comida começa a ser atrelado ao da cotação do petróleo. Pelo raciocínio de Brown, sempre que a cotação do petróleo sobe, o preço dos grãos tende a se elevar, uma vez que se torna mais lucrativo usar os grãos para substituir o petróleo.

Entretanto, isso não acontece da mesma forma em todos os países. Pode-se dizer que há uma relação estreita no caso dos Estados Unidos, que produz etanol com base no milho, um dos mais importantes alimentos de sua população. Quando vai para o tanque, sai do prato. O biodiesel europeu também sofre desse problema, pois usa grãos como o trigo - ou seja, estamos falando de pão e macarrão.

No caso do Brasil, há uma relação, mas estamos numa situação mais confortável, pois nosso etanol é feito de cana – alimento também, mas de menor impacto. Claro que há a pressão para o uso da terra, mas o mesmo ocorre no caso das monoculturas de exportação, como a soja e o café, além da cana. É uma pressão indireta, relacionada, no fundo, ao próprio modelo agrícola nacional: quais medidas se adotam para garantir a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, permitir o crescimento do agronegócio exportador? Alta dos preços

O aumento da demanda por alimentos combinado com as dificuldades para a expansão equivalente da produção agrícola resultou numa alta significativa no preço da comida. Entre 2007 e 2008, esse problema tomou grandes proporções, no que ficou conhecido como a primeira "crise dos alimentos" na era globalizada. Essa crise foi caracterizada por estoques baixos e alta generalizada no preço dos produtos agrícolas básicos no mundo todo.

A situação tornou-se tão grave e generalizada que, nos primeiros meses de 2008, rebeliões ou protestos por falta de comida chegaram a atingir mais de 30 países, quase todos com boa parte da população subnutrida. Na maioria, estavam localizados na África (Camarões, Moçambique, Egito), mas os protestos atingiram também o sul da Ásia (Índia,

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Indonésia) e a América Latina (Argentina, Peru, Haiti). Boas safras em 2009 aliviaram a pressão sobre os preços e propiciaram um período de estabilidade.

No entanto, em meados de 2011, os índices dos preços agrícolas já alcançam níveis superiores aos do auge da crise anterior, apontando para a possibilidade de um novo cenário global de falta de alimentos. O índice de preços calculado pela FAO – baseado em uma cesta contendo arroz, milho, trigo, sementes oleaginosas, açúcar, laticínios e carnes –, em junho de 2011, é de 233,5 pontos, bem acima do índice de 2008, que era de 199,6. Um componente que traz maior preocupação são os estoques de grãos: no fim de 2010, eles eram suficientes para 70 dias de consumo, aproximando-se dos níveis que precederam a alta de preços de 2008. Geopolítica da escassez

Isoladamente, é possível compreender a evolução do preço de cada uma das principais matérias-primas (commodities) agrícolas e buscar soluções específicas. Mas a situação exige um olhar abrangente sobre todos os fatores que concorrem para a falta de alimentos. De acordo com Brown, "o mundo precisa se concentrar hoje não só na política agrícola, mas numa estrutura que integre a produção agrícola com políticas para energia, água e população, tudo que afeta diretamente a segurança alimentar".

Do ponto de vista do governo de cada país, há dificuldades para conter a disparada dos preços por causa da grande concentração das multinacionais no setor de alimentos. Apenas dez empresas dominam o mercado mundial de alimentos, concentrando 67% das marcas de sementes e 89% dos agroquímicos necessários para a produção agrícola, segundo o ETC Group, instituição especializada em desenvolvimento sustentável.

Para a FAO, a concentração empresarial reduz a margem de ação dos governos, mas não é o principal fator que determina a alta dos preços. A organização afirma que, para conter a alta, o essencial é aumentar a produção e investir fortemente em tecnologia e inovação.

Nos idos da década de 1960, durante a Revolução Verde, os investimentos em tecnologia foram responsáveis por uma expansão sem precedentes da produção agrícola. O desafio é muito maior agora, pois será necessário, no mínimo, duplicar a produção de alimentos nas próximas décadas, apesar das diversas limitações colocadas. E mais: há que se produzir sem prejudicar o meio ambiente, pois é na fertilidade dos solos e na disponibilidade de água que repousam as esperanças dos 10 bilhões de habitantes que, ao que se prevê, estarão vivendo em nosso planeta no fim deste século. Referência Bibliográfica A Ameaça da Crise dos Alimentos. Atualidades Vestibular. São Paulo: Abril, 2011.

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O PROGRESSO (Roberto Carlos)

Eu queria poder afagar uma fera terrível

Eu queria poder transformar tanta coisa impossível

Eu queria dizer tanta coisa

Que pudesse fazer eu ficar bem comigo

Eu queria poder abraçar meu maior inimigo

Eu queria não ver tantas nuvens escuras nos ares

Navegar sem achar tantas manchas de óleo nos mares

E as baleias desaparecendo

Por falta de escrúpulos comercias

Eu queria ser civilizado como os animais

Eu queria ser civilizado como os animais

Eu queria não ver todo o verde da terra morrendo

E das águas dos rios os peixes desaparecendo

Eu queria gritar que esse tal de ouro negro

Não passa de um negro veneno

E sabemos que por tudo isso vivemos bem menos

Eu não posso aceitar certas coisas que eu não entendo

O comércio das armas de guerra da morte vivendo

Eu queria falar de alegria

Ao invés de tristeza mas não sou capaz

Eu queria ser civilizado como os animais

Eu queria ser civilizado como os animais

Eu queria ser civilizado como os animais

Não sou contra o progresso

Mas apelo pro bom senso

Um erro não conserta o outro

Isso é o que eu penso

Eu não sou contra o progresso

Mas apelo pro bom senso

Um erro não conserta o outro

Isso é o que eu penso