Os Livros Poéticose os da Sabedoria

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OS LIVROS POÉTICOS E OS DA SABEDORIA Introdução Fundamental e Auxílios para a Interpretação - Indispensável para quem quer aprender e para quem vai ensinar sobre Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. - Esforço direcionado para esclarecer assuntos que exigem explicação para melhor compreensão. - Destaques para as questões da autoria e da crítica. - Abordagem de questões introdutórias específicas de cada um dos livros. Preço: R$ 18,90

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Copyright©2012 porAntônio Renato Gusso

Todos os direitos reservados por:A. D. Santos EditoraAl. Júlia da Costa, 21580410-070 - Curitiba - Paraná - Brasil+55(41)[email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Gusso, Antônio Renato.Os livros poéticos e sapienciais – Introdução fundamental e auxílios para a interpretação / Curitiba: A.D. SANTOS EDITORA, 2012. 128 p.ISBN – 978.85.7459-289-3CDD – 2211. O Antigo Testamento – História do Antigo Testamento.CDD – 2401. Preceitos Bíblicos; Casuística moral cristã.

1ª Edição: Setembro / 2012 – 2.000 exemplares.

Proibida a reprodução total ou parcial,por quaisquer meios a não ser em citações breves,

com indicação da fonte.

Edição e Distribuição:

Capa: Igor BragaDiagramação: Manoel MenezesAcompanhamento Editorial: Priscila LaranjeiraImpressão e acabamento: Gráfica Impressul

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Dedicatória

Este livro é fruto da graça e misericórdia de Deus, o Senhor da Palavra. Assim, acima de tudo e de todos é a Ele que o de-dico.

Também quero dedicá-lo a algumas das pessoas que mais amo: À minha esposa Sandra, exemplo de paciência, trabalho e bondade. Aos meus filhos Ana e Francisco, esperança de con-tinuidade; aos meus pais Francisco (em memória) e Lourdes, meus primeiros e melhores professores. Aos meus irmãos e ir-mãs Josélia, Luiz, Alberto, Laertes, Paulo e Clarice, unidos pelo sangue e pelo amor. Aos meus alunos da Faculdade Teológica Batista do Paraná e da Faculdade Batista Pioneira, que mesmo sem saber, muito me ajudaram na preparação por meio de suas perguntas e observações inteligentes feitas em sala de aula. Aos membros da igreja que pastoreio, Igreja Batista Ágape, um amor de igreja.

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A Sabedoria diz: “Eu amarei os que me amam, e os que me procuram me acharão. Riqueza e honra estão comigo; bem valoroso e justiça. O meu fruto é melhor do que o ouro, do que o ouro refinado, e o meu ren-dimento é melhor do que a prata escolhida. Eu ando no caminho da justiça, no meio das veredas do juízo, para dar propriedade àqueles que me amam, e encher os seus tesouros”.

(Provérbios 8.17-21)1

1 GUSSO, Antônio Renato. O Livro de Provérbios analítico e interlinear: curso prático para aprimorar o conhecimento do hebraico bíblico. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012.

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Sumário

INTRODUÇÃO .............................................................................1

1. INTRODUÇÃO GERAL AOS LIVROS POÉTICOS E SAPIENCIAIS ....................................3

1.1. Os Livros Identificados .......................................................3 1.2. Posição dos Livros nos Cânones Hebraico e Cristão ..........4 1.2.1. O Cânon Hebraico .....................................................4 1.2.2. O Cânon Helenístico (LXX) ......................................5 1.2.3. O Cânon Católico Romano .......................................5 1.2.4. O Cânon Protestante ou Evangélico .........................5 1.3. A Importância dos Livros Poéticos e

Sapienciais na Revelação Divina ........................................6 1.4. A Poesia Hebraica ...............................................................7 1.4.1. O vocabulário hebraico para a poesia ........................7 1.4.2. Características principais da poesia hebraica .............8 1.4.2.1. A rima .....................................................................8 1.4.2.2. A estrofe ..................................................................8 1.4.2.3. O paralelismo ........................................................13

2. A LITERATURA SAPIENCIAL ............................................17 2.1. Os Sábios de Israel ............................................................20 2.2. A Tradição Sapiencial .......................................................22 2.2.1. O conceito de sabedoria...........................................22 2.2.2. O caráter da literatura sapiencial .............................22

3. O LIVRO DE JÓ .....................................................................29 3.1. O Personagem Jó ...............................................................29 3.2. A Doença de Jó .................................................................30 3.3. A autoria e a Data do Livro de Jó .....................................32 3.4. O Tema Geral do Livro de Jó ............................................32 3.5. A Estrutura do Livro de Jó ................................................33 3.6. A Integridade, ou Unidade do Livro de Jó .......................34

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3.7. Destaques que Ajudam na Interpretação do Livro ..........36 3.8. Questões Baseadas no Livro de Jó ....................................43

4. O LIVRO DE SALMOS ..........................................................45 4.1. O Título do Livro de Salmos ............................................46 4.2. A Estrutura do Livro de Salmos........................................46 4.3. A Importância do Livro de Salmos ...................................47 4.4. O Propósito do Livro de Salmos .......................................47 4.5. Possíveis Classificações dos Salmos ...................................48 4.5.1. Classificação pelo gênero literário............................48 4.5.2. Classificação pelo contexto histórico .......................49 4.5.3. Classificação sociocultural .......................................49 4.5.4. Classificação por assunto .........................................50 4.5.5. Classificação por autores ..........................................50 4.6. As Imprecações no Livro de Salmos .................................51 4.7. Destaques que Ajudam na Interpretação do Livro ..........53

5. O LIVRO DE PROVÉRBIOS .................................................73 5.1. O Título do Livro de Provérbios .......................................75 5.2. A Estrutura do Livro de Provérbios ..................................76 5.3. A Autoria do Livro de Provérbios ....................................77 5.4. Conteúdo e Tema Geral do Livro de Provérbios ..............78 5.5. O Livro de Provérbios e o Novo Testamento ...................80 5.6. O Livro de Provérbios e o Escrito Egípcio de Amenemope ......................................................................80 5.7. A Utilização dos Provérbios no Ensino de Discípulos ......81 5.7.1. Provérbios que possuem membros semelhantes .......82 5.7.2. Exercícios baseados em Provérbios ..........................82 5.8. Destaques que Ajudam na Interpretação do Livro ..........88

6. O LIVRO DO ECLESIASTES ................................................93 6.1. O Título do Livro do Eclesiastes .......................................93 6.2. A Autoria e a Data do Livro do Eclesiastes ......................94 6.3. O Tema Geral do Livro do Eclesiastes ..............................96 6.4. O Propósito do Livro do Eclesiastes .................................97 6.5. O Esboço Geral do Livro do Eclesiastes ...........................97 6.6. Destaques que Ajudam na Interpretação do Livro ..........97

7. O LIVRO DO CÂNTICO DOS CÂNTICOS .....................105 7.1. O Título do Livro do Cântico dos Cânticos ...................105

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7.2. Informações Gerais do Livro do Cântico dos Cânticos ......................................................106

7.3. A Autoria do Livro do Cântico dos Cânticos .................107 7.4. Como o Livro do Cântico dos Cânticos

tem Sido Interpretado .....................................................107 7.4.1. A interpretação alegórica .......................................107 7.4.2. A interpretação tipológica .....................................108 7.4.3. A interpretação dramática .....................................109 7.4.4. A interpretação natural/literal ...............................109 7.5. Destaques que Ajudam na Interpretação do Livro ........111

Referências Bibliográficas ...........................................................115

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Introdução

Este é o meu terceiro livro que leva o subtítulo de “Introdu-ção fundamental e auxílios para a interpretação”. Ele não é o último. Além dele ainda há o quarto e o quinto, completando a abordagem a todos os livros do Cânon Evangélico do Antigo Testamento. Assim como os demais, também este é resultado do labor em sala de aulas desenvolvido por mais de vinte anos. Ele surgiu do esboço que foi trabalhado e retrabalhado durante todo esse tempo nos cursos de Bacharel em Teologia que tenho lecionado.

Como o título já diz: “Os Livros Poéticos e Sapienciais: Introdução fundamental e auxílios para a interpretação”, esta obra não é uma introdução completa, ou nos moldes tradicio-nais, nem um comentário, nos termos convencionais. Ela é o que seu título revela: uma introdução que se atém apenas aos itens, realmente, indispensáveis para o bom entendimento dos livros bíblicos focados, e um auxílio para a interpretação de textos que têm sido considerados difíceis por grande parte dos estudantes desta matéria.

Como é possível notar, pelo seu caráter, este não é um ma-terial para apenas ser lido. Ele é material de apoio para ser es-tudado e, mais do que isso, para ser estudado lado a lado com os livros bíblicos que trata. Então, antes de iniciar a “leitura”, providencie uma boa versão bíblica para que esteja à sua dispo-sição durante todo o processo. Por questões de padronização a versão utilizada, quando não for citada outra fonte, será sempre a Versão Almeida Século 21, mas isso não significa que ela seja fundamental, ou mais ainda, indispensável, para o estudo com este material. Qualquer outra boa versão pode ser utilizada.

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O conteúdo está distribuído em sete capítulos. Os dois pri-meiros tratam de assuntos gerais que podem ser úteis para a boa compreensão de todos os livros bíblicos do conjunto cha-mado Poéticos e Sapienciais, os demais são mais específicos e abordam cada um dos livros bíblicos desta coleção, seguindo a ordem em que aparecem no Cânon Evangélico. O esquema geral dos capítulos três a sete é sempre muito parecido, mas não necessariamente idêntico para todos eles, pois cada livro tem as suas particularidades. São vistas as questões introdutó-rias fundamentais, de acordo com cada livro, e, na sequência, apresentados auxílios informativos que ajudam na melhor in-terpretação de textos considerados como difíceis pela maioria dos leitores do Antigo Testamento.

O Livro de Lamentações, ainda que seja um livro poético, é tratado no quarto volume desta coleção e não aqui, como poderia se esperar. Isto acontece porque ele se encontra no Câ-non Evangélico entre os livros chamados de Profetas Maiores e não entre os Poéticos e Sapienciais.

Sem mais para o momento, vamos ao estudo!

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1.INTRODUÇÃO GERAL AOS LIVROS

POÉTICOS E SAPIENCIAIS

Assim como o título deste primeiro capítulo anuncia, nas próximas linhas é apresentada uma introdução geral aos Livros Poéticos e também aos Sapienciais. Os livros são identi-ficados, é mostrada a posição de cada um nos principais câno-nes, é feita uma breve resenha apresentando a importância de cada um e são apresentados alguns detalhes, com exemplos bí-blicos, a respeito da poesia hebraica, assunto muito importante para a literatura aqui abordada.

1.1. Os Livros Identificados

Fazem parte da literatura bíblica chamada “Poética e Sa-piencial” do Antigo Testamento os seguintes livros: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares e Lamentações. Alguns estu-diosos têm colocado todos estes livros sob o título de “Poéticos”. Outros dividem os livros em “Poéticos” (Salmos, Lamentações e Cantares) e livros “Sapienciais” (Jó, Provérbios e Eclesiastes). O título aqui empregado, “Poéticos e Sapienciais”, sem querer separar os livros dentro desta categoria, descreve razoavelmen-te o conteúdo da coleção, pois os elementos se misturam em vários dos livros. Por exemplo, este é o caso do Livro de Salmos. Ele pode ser classificado como “Poético”, porém, é de acordo geral que o seu cântico de introdução, o Salmo 1, também é

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literatura sapiencial. Além do Salmo 1 existem, ainda, outros salmos deste tipo. Então, pode-se classificar a coleção toda como “Poéticos e Sapienciais”.

Isto que foi dito acima não significa que diferenciar litera-tura poética do que é literatura sapiencial não tenha impor-tância. Isto significa, apenas, que os livros, como um todo, não comportam bem estas classificações. Contudo, a determinação específica dos tipos de literatura dentro dos livros é fundamen-tal para uma boa interpretação.

1.2. Posição dos Livros nos Cânones He-braico e Cristão

Os cânones não são todos iguais, existem diferenças de componentes assim como de ordem. Portanto, é importante conhecer as linhas gerais dos mais importantes para os estu-dantes brasileiros da Bíblia.

1.2.1. O Cânon Hebraico

Iniciemos com o Cânon Hebraico. Nele não existe uma di-visão chamada de Poéticos e Sapienciais. Sua divisão tríplice básica é a seguinte: Lei, Profetas e Escritos. Vários autores têm defendido que o grau de importância dos livros também tem seguido esta ordem, sendo a Lei a mais importante e os Escritos o menos relevante. Provavelmente a divisão segue os estágios naturais em que os livros foram sendo reconhecidos como Es-critura Sagrada.

Os Livros Poéticos e Sapienciais encontram-se, juntamente com outros, na terceira e última divisão do Cânon Hebraico, na parte chamada de “Escritos” (ketûbîm - µybiWtK]). Os “Escri-tos” estão na seguinte ordem: Salmos, Provérbios, Jó, Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas.2

2 Os sublinhados fazem parte do grupo conhecido como Poéticos e Sapienciais.

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O Códice de Leningrado3 apresenta os mesmos livros, mas em uma ordem diferente, como segue: Salmos, Jó, Provérbios, Rute, Cantares, Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Es-dras, Neemias e Crônicas.4

1.2.2. O Cânon Helenístico (LXX)

No Cânon Helenístico (grego) mais conhecido como Sep-tuaginta os Livros Poéticos e Sapienciais estão na divisão cha-mada “Poesia e Sabedoria”, entre os Livros Históricos e Proféti-cos. A ordem é a seguinte: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares. Como é possível notar, “Lamentações” não está rela-cionado com estes, mesmo sendo um livro poético, ele aparece juntamente com os “Profetas”, logo após o Livro de Jeremias.

1.2.3. O Cânon Católico Romano

No Cânon Católico Romano os livros aqui estudados apa-recem, principalmente, na divisão denominada “Livros Sapien-ciais.” Nesta divisão a ordem é esta: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares, Sabedoria e Eclesiástico. Como é possível notar, no Cânon Católico, nesta divisão, encontram-se dois li-vros a mais, Sabedoria e Eclesiástico, os quais não fazem parte do Cânon Hebraico. Também é possível notar que o Livro de Lamentações não faz parte da relação. Neste Cânon ele se en-contra como um acréscimo ao Livro de Jeremias, junto com outro acréscimo chamado de “Baruc”.

1.2.4. O Cânon Protestante ou Evangélico

Os livros de Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Canta-res se encontram nesta ordem entre os “Livros Históricos” e os “Proféticos”. O único livro da categoria aqui estudada que

3 O Códice de Leningrado é um texto do início do século XI e está reproduzido na Bíblia Hebraica Stuttgartensia.

4 ARCHER Jr., G. L. Merece confiança o Antigo Testamento?- Panorama de introdução. 4.ed. São Paulo: Vida Nova, 1986, p.70.

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não está neste conjunto é o de Lamentações. Ele foi colocado juntamente com os “Proféticos” entre Jeremias e Ezequiel. Isto, certamente, devido à tradicional atribuição da autoria ao pro-feta Jeremias.

1.3. A Importância dos Livros Poéticos e Sapienciais na Revelação Divina

Todos os livros da Bíblia são importantes, pois, como Pa-lavra de Deus, têm algo a revelar a todas as pessoas em todos os tempos e lugares. O que segue, sem entrar em detalhes, é uma orientação geral para que o estudante vá para os livros que serão estudados com uma orientação básica a respeito da importância de cada um deles no quadro total da revelação di-vina. Vejamos então, em poucas palavras, qual é a importância de cada um deles, como segue.

Jó – É importante por mostrar que o justo também pode sofrer.

Salmos – Nos Salmos, normalmente, não é Deus quem fala com as pessoas, mas, principalmente, as pessoas que falam com Deus. Mesmo assim, ele é uma grande fonte de revelação dos atributos de Deus, geralmente manifestado pelo reconheci-mento dos salmistas.

Ele também é importante por revelar facetas do Messias que haveria de vir, além de ser uma fonte inesgotável de con-solo ao povo de Deus.

Provérbios – Ensina como viver uma vida feliz. Esta felici-dade é alcançada pela prática diária da vontade de Deus, a qual é revelada por meio das observações dos sábios.

Eclesiastes – Mostra a incoerência de uma vida afastada de Deus. Como o autor incansavelmente destaca na obra: sem Deus tudo é ilusão.

Cantares – Mostra que o amor não tem preço. Ele é forte como a morte (Ct 8.6).

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Lamentações – Mostra as consequências da desobediência a Deus e preserva grande parte da história da destruição de Jerusalém e do Templo, pelos exércitos da Babilônia.

1.4. A Poesia Hebraica

O povo hebreu era muito hábil na arte da poesia, músi-ca e dança. Era um povo alegre e sua cultura demonstra bem isto. Assim, o Antigo Testamento, como parte do registro do cotidiano deste povo, também está repleto de sua poesia e de outras manifestações culturais. Na verdade, um terço (1/3) de todo o Antigo Testamento é poesia, o que bem mostra a impor-tância deste assunto para os estudantes da Bíblia.

Cobrindo um terço do Antigo Testamento, o estudante deve notar que a poesia no Antigo Testamento não está limita-da aos livros chamados “Poéticos”, ela se espalha por todo ele, como é possível notar, além de muitos outros, nestes textos que seguem, como exemplos:

Gn 49.2-7 A Bênção de Jacó Êx 15.1-19 Cântico de Moisés Nm 6.24-26 Bênção Araônica Dt 32.1-43 Cântico de Moisés 1Sm 2.1-10 Cântico de Ana 1Cr 16.7-36 Salmo de Davi Is 38.9-20 Cântico de Ezequias Jn 2.2-9 Oração de Jonas Hc 3.1-19 Oração de Habacuque

1.4.1. O vocabulário hebraico para a poesia

Cinco palavras principais descrevem tipos diferentes da po-esia hebraica. Elas aparecem diversas vezes na literatura. As-sim, é muito útil conhecê-las, bem como o significado básico de cada uma. Vejamos.

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a) Mizmôr (r/mz]mi) – Poesia que era cantada, exclusivamente, com o acompanhamento de instrumentos de corda.

b) Shîr (ryvi) – Qualquer tipo de canto não necessariamen-te acompanhado por instrumento. É o termo mais comum para canção.

c) Māshāl (lv;m;) – Vem de uma raiz que significa “ser como”; dai o sentido primário de comparação, provérbio. Também é considerado um cântico satírico.

d) Quînâ (hn;yqi) – Lamento, ou cântico fúnebre, expressando a dor causada pela morte.

e) Tehillâ (hL;hiT]) – Hino de louvor.

1.4.2. Características principais da poesia hebraica

Sem entrar em muitos detalhes, neste ponto, veremos as características principais da poesia hebraica que se espalha por todo o Antigo Testamento. Logo ficará claro que ela é muito diferente da poesia ocidental.

1.4.2.1. A rima

Ainda que alguns defendam que exista a rima na poesia hebraica, pode-se dizer que, no geral, não há, a não ser de ma-neira ocasional, como uma exceção e não como regra. Este, talvez, seja o caso de Sl 23.1-2 e a última parte do Cântico da Vinha, Isaías 5.7, como pode ser visto logo adiante no ponto a respeito da estrofe.

1.4.2.2. A estrofe

O que fica claro em algumas das poesias encontradas no Antigo Testamento, e que tem seu correspondente na poesia ocidental, é a existência da estrofe. Ela aparece de maneira li-vre dentro de algumas composições revelando-se por meio da forma ou do conteúdo.

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O mais perceptível dos indícios é o estribilho. Veja os exem-plos:

1) Salmo 42 e 43 – Mostra unidade na composição e, tam-bém, três partes desenvolvidas quase na mesma dimensão. Veja, a seguir, as estrofes marcadas pelo estribilho:

42 1 Assim como a corça anseia pelas águas correntes, tam-bém minha alma anseia por ti, ó Deus!

2 Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e verei a face de Deus?

3 Minhas lágrimas têm sido o meu alimento dia e noite, enquanto me dizem a toda hora: Onde está o teu Deus?

4 Derramo a minha alma dentro de mim, ao lembrar-me de como eu guiava a multidão em procissão à Casa de Deus, com gritos de alegria e louvor, multidão em festa.

5 Por que estás abatida, ó minha alma, por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, minha salvação e meu Deus.

6 Minha alma está perturbada dentro de mim; por isso me lembro de ti, nas terras do Jordão, no Hermom, e no monte Mizar.

7 Um abismo chama outro abismo ao ruído das tuas cacho-eiras; todas as tuas ondas e vagalhões têm passado sobre mim.

8 Contudo, durante o dia, o SENHOR me concede a sua bondade; durante a noite, seu cântico está comigo. Esta é a minha oração ao Deus da minha vida.

9 Digo a Deus, minha rocha: Por que te esqueceste de mim? Por que ando lamentando por causa da opressão do inimi-go?

10 Meus ossos se esmigalham quando meus adversários di-zem sem cessar: Onde está o teu Deus?

11 Por que estás abatida, ó minha alma; por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei,minha salvação e Deus meu.

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43 1 Ó Deus, faz-me justiça e defende a minha causa contra uma nação ímpia; livra-me do homem falso e perverso.

2 Pois tu és o Deus da minha fortaleza. Por que me rejeitas? Por que ando lamentando por causa da opressão do inimi-go?

3 Envia tua luz e tua verdade, para que me guiem e me le-vem ao teu santo monte e à tua habitação.

4 Então, irei ao altar de Deus, a Deus, que é minha grande alegria; e ao som da harpa te louvarei, ó Deus, meu Deus.

5 Por que estás abatida, ó minha alma? E por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, minha salvação e Deus meu.

2) O Salmo 46 também apresenta estrofes, ainda que irre-gulares, também destacadas por estribilho, veja como fica na versão Revista e Atualizada:

46 1 Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações.

2 Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares;

3 ainda que as águas tumultuem e espumem e na sua fúria os montes se estremeçam. 4 Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo. 5 Deus está no meio dela; jamais será abalada; Deus a ajudará desde antemanhã. 6 Bramam nações, reinos se abalam; Ele faz ouvir a sua voz, e a terra se dissolve. 7 O SENHOR dos Exércitos está conosco; O Deus de Jacó é o nosso refúgio. 8 Vinde, contemplai as obras do SENHOR, que assolações efetuou na terra. 9 Ele põe termo à guerra até os confins do mundo, quebra o arco e despedaça a lança; queima os carros no fogo.

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10 Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra. 11 O SENHOR dos Exércitos está conosco;

O Deus de Jacó é o nosso refúgio.

3) Salmo 107.8, 15, 21 e 31O Salmo 107 possui 43 versículos. Quatro destes versículos

repetem o estribilho e destacam suas estrofes. O estribilho é o seguinte: “Rendei graças ao SENHOR, por seu amor e por suas ma-

ravilhas para com os filhos dos homens!” (Verifique o texto todo em sua Bíblia).4) Outro indício de estrofe é a sucessão das letras iniciais

nos poemas alfabéticos, erroneamente chamados por alguns de acrósticos. Veja os exemplos:a) Salmo 119 – Cada estrofe é composta por oito versos que

começam com a mesma letra, na ordem do alfabeto hebrai-co (verificar a forma completa na Bíblia Hebraica). Lem-brando que a leitura do hebraico é feita da direita para a esquerda veja, na sequência, como fica a primeira estrofe, onde cada versículo começa com a letra hebraica a:

. hw;hy] træ/tB] µykil]hoh æËr,d;Aymeymit] yrev]aæ 1. WhWvr]d]yi bleAlk;B ] wyt;do[e yrex]no yrev]aæ 2

. Wkl;h; wyk;r;d]bi hl;w][æ Wl[Ä Wl[Äp;Aalo πaæ 3. daom] rmov]l i Úyd,Qupi ht;yWixi hT;aæ 4

. ÚyQ,ju rmov]li yk;r;d] WnKoyi ylæjÄaæ 5. Úyt,/x]miAlK;Ala, yfiyBihæB] v/baeAalo za; 6

. Úq,d]xi yfeP]v]mi ydim]l;B] bb;le rv,yoB] Úd]/a 7. daom]Ad[æ ynibez][æTæAlaæ rmov]a, ÚyQ,juAta, 8

b) Lamentações 3 – Cada estrofe é composta por três versos que começam com a mesma letra. Veja a amostra que se-gue, das duas primeiras estrofes que iniciam com as duas primeiras letras do Alfabeto Hebraico: a e b:

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. /tr;b][ , fb,veB] yni[’ ha;r; rb,G,h” ynia} 1. r/aA alow] Ëv,jo Ël”Yow» gh»n; yti/a 2

. µ/Yh» /dy; Ëpoh} bvuy; yBi Ëa» 3

. yt;/mx][“ rB”vi yri/[w] yric;b] hL;Bi 4. ha;l;t]W varo πQ»Y»w» yl»[; hn;B; 5

. µl;/[ ytemeK] ynib»yvi/h µyKiv»j}m»B] 6

6) Existem ainda indícios internos de estrofes destacados pela unidade e desenvolvimento relativamente completo do pensamento. Um bom exemplo pode ser encontrado em Isaías 5.1-7, o Cântico da Vinha, que de acordo com Ridderbos pode, inclusive, ter sido apresentado com acompanhamento musi-cal.5 Só devemos tomar cuidado de não esperar na poesia he-braica estrofes conforme o sistema ocidental. Veja no texto que segue, na versão Revista e Atualizada, com marcações, como as estrofes se destacam:

Introdução

Agora cantarei ao meu amado (lîdîdî – ydiydiyli)6, o cântico do meu amado (dôdî – ydi/D)7 a respeito da sua vinha. (v. 1a)

1ª. estrofe

O meu amado (lîdîdî – ydiydiyli) teve uma vinha num outei-ro fertilíssimo. Sachou-a, limpou-a das pedras, e a plantou de vides escolhidas; edificou no meio dela uma torre, e tam-bém abriu um lagar. Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas. (v.1b-2)

5 RIDDERBOS, J. Isaías: introdução e comentário. São Paulo: Edições Vida Nova, 1990, p.88.

6 Outra possibilidade de tradução é “amigo”.7 Outra possibilidade de tradução é “amigo”.

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2ª. estrofe

Agora, pois, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha. Que mais se podia fazer ainda à minha vinha, que eu não lhe tenha fei-to? E como, esperando eu que desse uvas boas veio a pro-duzir uvas bravas? (v. 3-4)

3ª. estrofe

Agora, pois, vos farei saber o que pretendo fazer à minha vinha: Tirarei a sua sebe, para que a vinha sirva de pasto; derribarei o seu muro, para que seja pisada; torná-la-ei em deserto. Não será podada nem sachada, mas crescerão nela espinheiros e abrolhos; às nuvens darei ordem que não der-ramem chuva sobre ela. (v.5-6)

Conclusão

Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do Senhor; este desejou que exercessem juízo (mishppāt - fP;v]mi), e eis aí quebranta-mento da lei (misppâ - hP;c]mi); justiça (tsedāqâ - hq;d;x]), e eis aí clamor (tse‘āqâ - hq;[;x]). (v.7

1.4.2.3. O paralelismo

De todas as características da poesia hebraica pode-se dizer que a principal é o paralelismo. Ele é uma espécie de rima de pensamentos, nunca de som. Ou seja, as ideias é que estão re-lacionadas umas com as outras e não o som. Isto tem a grande virtude de preservar a beleza da poesia hebraica mesmo que ela seja traduzida para qualquer outra língua. O paralelismo se divide em vários tipos, a nomenclatura muda de autor para autor, mas aqui serão vistos apenas os principais na nomencla-tura geral.

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1) Paralelismo Sinônimo

O Paralelismo Sinônimo pode ser idêntico ou semelhante, mas sempre a segunda linha do verso, em termos diferentes, repete o pensamento da primeira linha. Veja os exemplos que seguem:a) Salmo 24.1 – Paralelismo sinônimo idêntico

“Ao SENHOR pertencem a terra e tudo o que nela existe,o mundo e os que nele habitam.”

b) Salmo 19.2 – Paralelismo sinônimo semelhante“Um dia declara isso a outro dia,e uma noite revela conhecimento a outra noite.”

c) Outros exemplos de Paralelismo Sinônimo“Aquele que está sentado nos céus se ri;o SENHOR zomba deles” (Sl 2.4).“Meu Deus, livra-me dos meus inimigos;protege-me daqueles que se levantam contra mim” (Sl 59.1).“Meu filho, ouve a instrução de teu pai e não desprezes o ensino de tua mãe” (Pv 1.8).

2) Paralelismo Antitético

No Paralelismo Antitético a segunda linha apresenta um contraste em relação à primeira. Na tradução para o português a conjunção adversativa “mas”, ou outras com funções seme-lhantes, ajudam na identificação. Veja estes exemplos:a) Salmo 1.6

“Porque o SENHOR recompensa o caminho dos justos,mas o caminho dos ímpios traz destruição”.

b) Provérbios 10.1 “O filho sábio alegra seu pai;mas o insensato é a tristeza de sua mãe”.

c) Provérbios 10.5“Aquele que colhe no verão é um filho sensato,mas o que dorme na colheita é um filho que envergonha”.

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d) Provérbios 10.23“Praticar a maldade é diversão para o insensato mas a con-

duta sábia é o prazer do homem que tem entendimento”.

3) Paralelismo Sintético

No Paralelismo Sintético a segunda linha complementa a primeira. Seguem alguns exemplos:a) Provérbios 3.27

“Não negues o bem a quem tenha direito, se estiver em teu poder fazê-lo.”

b) Provérbios 26.4“Não respondas ao insensato de acordo com a sua insensatez,para que não sejas semelhante a ele”.

c) Salmo 55.6“Por isso, eu disse: Ah! Quem me dera ter asas como de pomba!Eu voaria e encontraria descanso”.

4) Paralelismo Climático

No Paralelismo Climático a segunda linha utiliza palavras da primeira e as completa. O Salmo 29 contém bons exemplos deste tipo de paralelismo. Perceba o que acontece em três par-tes de seu texto abaixo com algumas palavras sublinhadas.a) Salmo 29.1-2

“1Tributai ao SENHOR, filhos de Deus,tributai ao SENHOR glória e força.2 Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu nome,Adorai ao SENHOR na beleza da santidade” (ARA).

b) Salmo 29.4-5“4 A voz do SENHOR é poderosa;a voz do SENHOR é cheia de majestade.5 A voz do SENHOR quebra os cedros;sim, o SENHOR despedaça os cedros do Líbano.”

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c) Salmo 29.7-9“7 A voz do SENHOR lança chamas de fogo.8 A voz do SENHOR faz tremer o deserto;o SENHOR faz tremer o deserto de Cades.9 A voz do SENHOR derruba os carvalhos e desnuda asflorestas; e no seu templo todos dizem: Glória!”

5) Paralelismo Emblemático

No Paralelismo Emblemático a primeira linha serve de emblema para ilustrar a segunda. Ou seja, na primeira linha é apresentada uma figura de linguagem que ilustra a afirmação que vem na segunda. Observe que não há contraste neste tipo de paralelismo. Veja os exemplos:a) Provérbios 25.25

“Como água fresca para quem tem sede, assim são as boas notícias da terra distante.”

b) Provérbios 25.11“Como maçãs de ouro em salvas de prata,assim é a palavra dita na hora certa.”

c) Provérbios 26.20“Sem lenha, o fogo se apaga;e sem difamador, o conflito cessa.”

6) Quiasmo

Existe ainda uma forma de paralelismo mais complexa que segue um padrão chamado de Quiástico. Sua forma mais sim-ples é representada na literatura a respeito do assunto pelas letras A B B A – onde o primeiro A está em paralelo com o se-gundo e o elemento B com o outro B. Veja o exemplo de Zaca-rias 7.13 onde se destacam os pronomes – Eu – Eles – Eles – Eu

A – Visto que eu clamei,B – e eles não me ouviram,B – eles também clamaram,A – e eu não os ouvi, diz o SENHOR dos Exércitos (ARA).