Os Lusíadas
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Transcript of Os Lusíadas
«Ao empreender a elaboração da sua epopeia, conhecia
já Camões, por experiência própria, a grave crise moral,
social e política que afectava profundamente o corpo e a
alma da Nação Portuguesa. Respondendo às expectativas
que a consciência nacional portuguesa viera desenvolvendo
ao longo de mais de um século e que a teoria poética do
Renascimento arvorara em requisito indispensável para a
equiparação das literaturas modernas ao nível de qualidade
das antigas, Camões decide celebrar na “tuba canora e
belicosa” da epopeia “as armas e os barões assinalados”
que, durante séculos, haviam construído a colectividade
portuguesa; ao mesmo tempo, porém, não podia fechar os
olhos à desoladora realidade que em cada dia lhe mostrava
a pátria “metida/ No gosto da cobiça e na rudeza/ Duma
austera, apagada e vil tristeza”.»
Aníbal de Castro em Biblos-Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,E não de agreste avena ou frauta ruda,Mas de tuba canora e belicosa,Que o peito acende e a cor ao gesto muda;Dai-me igual canto aos feitos da famosaGente vossa, que a Marte tanto ajuda;Que se espalhe e se cante no Universo,Se tão sublime preço cabe em verso.
Canto I
Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenhoDestemperada e a voz enrouquecida,E não do canto, mas de ver que venhoCantar a gente surda e endurecida.O favor com que mais se acende o engenhoNão no dá a pátria, não, que está metidaNo gosto da cobiça e na rudezaDuma austera, apagada e vil tristeza.
Canto X