Os lusíadas luís vaz de camões fogo de santelmo tromba marítima

25
Os Lusíadas Luís Vaz de Camões Português 12º ano Episódio: Fogo de Santelmo e Tromba Marítima

Transcript of Os lusíadas luís vaz de camões fogo de santelmo tromba marítima

Os Lusíadas Luís Vaz de Camões

Português 12º ano

Episódio:

Fogo de Santelmo e

Tromba Marítima

Contextualização

O canto V, canto central do poema, é dedicado à narração da viagem

de Vasco da Gama.

O canto anterior terminou com o Velho do Restelo a amaldiçoar a

expansão para o Oriente, o que desde logo sugere que a viagem não

será fácil.

Vasco da Gama vai contar ao Rei de

Melinde como decorreu a sua viagem

desde as despedidas em Belém até

Melinde.

Durante a viagem os navegadores

enfrentam inúmeros perigos, que

reforçam a ousadia dos portugueses. Os

fenómenos atmosféricos como o Fogo

de Santelmo e a Tromba Marítima são

uns dos desafios que os portugueses

terão de ultrapassar.

As Cousas do Mar

Fogo de Santelmo – é um fenómeno

meteorológico que ocorre geralmente em

ocasiões de forte trovoada e que se

carateriza por pequenas descargas elétricas

nas pontas metálicas dos mastros dos

navios ou em torres metálicas devido à

concentração do campo elétrico. É muitas

vezes acompanhado de um zumbido.

A designação “Fogo” deve-se ao facto de o mastro parecer arder.

Como se trata de um fenómeno que surge no fim das tempestades, foi-

lhe atribuído o nome do Santo protetor dos navegadores – Santo Elmo,

pois os marinheiros associavam essa chama à melhoria das condições.

Tromba Marítima – é uma massa de vapor ou água, erguida em

coluna e animada de um movimento rápido, agitada por ventos

ciclónicos, podendo atingir cem metros de altura e cerca de dez metros

de diâmetro.

É geralmente acompanhada de

ventos fortes, de relâmpagos, de

chuva e de granizo, sendo muitas

vezes aliada a um movimento de

aspiração, que levanta, no mar,

uma coluna de água perigosa para

os navios, que se encontram na

sua passagem.

16

Contar-te longamente as perigosas

Cousas do mar, que os homens não entendem,

Súbitas trovoadas temerosas,

Relâmpados que o ar em fogo acendem,

Negros chuveiros, noites tenebrosas,

Bramidos de trovões que o mundo fendem,

Não menos é trabalho, que grande erro,

Ainda que tivesse a voz de ferro.

Canto V

17

Os casos vi, que os rudos marinheiros,

Que têm por mestra a longa experiência,

Contam por certos sempre e verdadeiros,

Julgando as cousas só pela aparência,

E que os que têm juízos mais inteiros,

Que só por puro engenho e por ciência

Vêm do mundo os segredos escondidos,

Julgam por falsos ou mal entendidos.

* Os casos – Os fenómenos

*Puro engenho – por simples inteligência das coisas, sem a experiência.

18

“Vi, claramente visto, o lume vivo

Que a marítima gente tem por santo,

Em tempo de tormenta e vento esquivo,

De tempestade escura e triste portanto.

Não menos foi a todos excessivo

Milagre, e cousa, certo, de alto espanto,

Ver as nuvens, do mar com largo cano,

Sorver as altas águas do Oceano.

*O lume vivo – Fogo de Santelmo.

*Esquivo – áspero e rebelde

*Largo cano – Tromba marítima

19

Eu o vi certamente (e não presumo

Que a vista me enganava): levantar-se

No ar um vaporzinho e subtil fumo

E, do vento trazido, rodear-se;

De aqui levado um cano ao Pólo sumo

Se via, tão delgado, que enxergar-se

Do olhos facilmente não podia;

Da matéria das nuvens parecia.

*Rodear-se – tornar-se redondo

*Pólo sumo – ao alto céu

*Enxergar-se – ver-se ao longe

20

Ia-se pouco e pouco acrescentando

E mais que um largo masto se engrossava;

Aqui se estreita, aqui se alarga, quando

Os golpes grandes de água em si chupava;

Estava-se co as ondas ondeando;

Em cima dele ûa nuvem se espessava,

Fazendo-se maior mais carregada,

Co cargo grande d’água em si tomada.

21

Qual roxa sangues[s]uga se veria

Nos beiços da alimária (que, imprudente,

Bebendo a recolheu na fonte fria)

Farpar co sangue alheio a sede ardente;

Chupando, mais e mais se engrossa e cria,

Ali se enche e se alarga grandemente:

Tal a grande coluna, enchendo, aumenta

A si e a nuvem negra que sustenta.

*Alimária – animal irracional

*Farpar – rasgar; romper

22

Mas, depois que de todo se fartou,

O pé que tem no mar a si recolhe

E pelo céu, chovendo, enfim voou,

Por que co a água a jacente água molhe;

Às ondas torna as ondas que tomou,

Mas o sabor do sal lhe tira e tolhe.

Vejam agora os sábios na escritura

Que segredos são estes de Natura!

23

Se os antigos Filósofos, que andaram

Tantas terras, por ver segredos delas,

As maravilhas que eu passei, passaram,

A tão diversos ventos dando as velas,

Que grandes escrituras que deixaram!

Que influïção de sinos e de estrelas!

Que estranhezas, que grandes qualidades!

E tudo, sem mentir, puras verdades.

*Os antigo Filósofos – filósofos gregos. Talvez alusão aos principais: Platão,

Aristóteles e Demócrito

*Grandes escrituras que deixaram – que livros teriam deixado (à posteridade)

*Estranhezas – conjunto de coisas raras

Grandes qualidades – estudo completo das propriedades das coisas

Análise do poema

Depois de ultrapassado o Equador, novos desafios são apresentados

aos portugueses. Têm contacto com novos fenómenos naturais que só

conheciam pelos livros e especulação (“Só por puro engenho e por

ciência/Vem do Mundo dos segredos escondidos”).

São fenómenos realmente vistos pelos marinheiros e que Vasco da

Gama descreve minuciosamente e realisticamente (“Vi, claramente

visto”).

As “cousas do mar”, como são descritas pelo narrador são o “fogo

de Santelmo” e “tromba marítima”.

O narrador insiste muito no verbo “ver”, para além de outros verbos,

comparações sugestivas e imagens, que valorizam a sua descrição

pormenorizada dos fenómenos naturais. A sua descrição termina com

dois versos que surgem como que um desafio aos homens da ciência

livresca (não experimental) a conhecer experimentalmente as

“maravilhas” da Natureza, para que só depois escrevam sobre elas.

“Vejam agora os sábios na escritura

Que segredos são estes n Natura!”

Camões define claramente o seu ponto de vista de que a experiência

proveniente da observação direta deverá constituir o ponto de partida

para a formulação das verdades cientificas. O saber teórico deverá ter

na sua base a observação e experimentação, a prática.

Era este também um ensinamento que os portugueses recebiam das

viagens e do contacto que elas permitiam com outras realidades, muito

diferentes das já conhecidas.

Localização na estrutura d’Os Lusíadas

O episódio “Fogo de Santelmo e Tromba marítima” pertence,

na estrutura interna, à Narração. Canto V.

É um episódio naturalista e faz parte do plano da viagem.

Estrutura externa

Este episódio apresenta oito estâncias, todas elas com

– oito versos (oitavas),

– todos os versos com dez sílabas métricas (versos decassílabos)

– e rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois

últimos.

18

“Vi /, cla/ra/men/te /vis/to, o/ lu/me/ vi/vo

Que a marítima gente tem por santo,

Em tempo de tormenta e vento esquivo,

De tempestade escura e triste portanto.

Não menos foi a todos excessivo

Milagre, e cousa, certo, de alto espanto,

Ver as nuvens, do mar com largo cano,

Sorver as altas águas do Oceano.

a

b

a

b

a

b

c

c

Cruzada

Emparelhada

Narrador

O narrador neste episódio é o próprio

herói da ação, Vasco da Gama, que narra

os perigos da sua viagem.

O narrador é autodiagético.

Análise Estilística

Pleonasmo

(“Vi claramente visto o lume vivo”)

Antítese

(“Aqui se estreita, aqui se alarga”)

Comparação

(“Ali se enche e se alarga grandemente:/Tal a grande coluna, enchendo, aumenta”)

(“Qual roxa sangues[s]uga se veria”)

Hipérbole

(“Farpar co sangue alheio a sede ardente;”)

Metáfora

Adjetivação

(“Súbitas trovoadas temerosas”)

Polissíndeto

(“mais e mais se engrossa e cria, /Ali se enche e se alarga grandemente”)

Sinestesia

Conclusões

O episódio “Fogo de Santelmo e Tromba marítima” para além de

um episódio naturalista (retrata fenómenos naturais) encerra também

uma oposição entre o saber empírico: baseado na experiência, na

captação da realidade através dos sentidos, nomeadamente da visão. E

o saber teórico: baseado em teorias expostas nos livros defendidas

pelos sábios. Camões evidencia a sua preferência

pelo saber baseado na experiência.

Bibliografia

• http://pt.forwallpaper.com/wallpaper/ghost-ship-sea-night-thunder-creepy-

nature-landscape-125539.html

Visitado dia 26/12/2014

• MARTINS, Filomena; MOURA, Graça (2013), Página Seguinte –

Português 12º Ano, 1ª edição, 2ª tiragem, Texto Editores, Lda., Lisboa,

página 141.

• PIMENTA , Hilário (2014), Preparação para o Exame Nacional 2015

Português 12 – 12º Ano, 1ª edição, Porto Editora, Porto, páginas 242, 243,

345-347.

• in Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [consult. 2014-12-26

10:44:58]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/$tromba-

maritima

• in Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [consult. 2014-12-26

10:48:14]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/$fogo-de-

santelmo?termo=fogo de Santelmo

• in Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [consult. 2014-12-26

10:50:32]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/$os-

lusiadas?termo=fogo de Santelmo