Os Mandatos Criacionais

download Os Mandatos Criacionais

of 8

Transcript of Os Mandatos Criacionais

  • 8/10/2019 Os Mandatos Criacionais

    1/8

    OS MANDATOS CRIACIONAIS

    Rev. Joo Ricardo Ferreira de Frana.

    CENTRO DE ESTUDOS PRESBITERIANO19 de Janeiro de 2015.

    www.centrodeestudospresbiteriano.blogspot.com

    http://www.centrodeestudospresbiteriano.blogspot.com/http://www.centrodeestudospresbiteriano.blogspot.com/
  • 8/10/2019 Os Mandatos Criacionais

    2/8

  • 8/10/2019 Os Mandatos Criacionais

    3/8

    www.centrodeestudospresbiteriano.blogspot.com

    sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos cus e sobre todo animal que

    rasteja pela terra.

    A primeira frase deste texto sede fecundos, multiplicai-vos significa

    desenvolver o mundo social: formar famlias, igrejas, escolas, cidades, governos, leis. Asegunda frase - enchei a terra e sujeitai-a significa subordinar o mundo natural: fazer

    colheitas, construir pontes, projetar computadores, compor msicas. E se faz necessrio

    insistir que a passagem em foco chamada de o mandato cultural, porque nos fala que

    nosso propsito original era criar culturas, construir civilizaesnada mais3

    O mandato cultural implica na redeno de culturas inteiras. O vocbulo dominar,

    empregado aqui nesta passagem, indica a ideia de capacidade real e superviso. A palavra

    hebraica empregada (veiredu) que vem da raiz hdr(radar) que tem o sentido de

    governar, dominar e at subjulgar4. Sabemos que em Gnesis 1.26, 28, o verbo ocorre

    com um sentido positivo quando se declara que a humanidade, criada imagem de Deus,

    deve subjugar a terra e reinar sobre (rdh) todos os animais. espcie humana dada a

    responsabilidade sobre a criao de Deus, como fica evidente pelo fato de que esse

    comando parte da bno de Deus (1.28)5.

    Devemos ressaltar que o uso do verbo dominar aqui no consistia em uma licenapara a humanidade abusar das ordens da criao, mas pelo contrrio ele deveria ser

    apenas um vice-regente de Deus, e a ele, tinha de prestar contas.6O aspecto da Imago

    Dei a fora propulsora para o conceito do mandato cultural na esfera do domnio neste

    mundo.

    Ao estudarmos sobre este mandato aprendemos que o homem chamado para

    santificar e colocar cada esfera de sua vida, sua educao, seus recursos nas mos de Cristo;

    e, feito isso, saber administrar cada rea j mencionada para a glria de Deus neste mundo.Nancy Pearcey nos alerta: A lio do mandato cultural que nosso senso de cumprimento

    3PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta Libertando o Cristianismo de seu Cativeiro Cultural. Traduo:

    Luis Aron. Rio de Janeiro: CPAD, 2011, p.51.4KILPP, Nelson. Dicionrio Hebraico-Portugs e Aramaico-Portugus. So Leopoldo: Sinodal; Petrpolis:Editora Vozes, 1987, p.223.5 VANGEMEREN,Willem A.(org.) Novo Dicionrio Internacional de Teologia e Exegese do Antigo

    Testamento. Tradutor: Afonso Teixeira Filho e outros. So Paulo: Cultura Crist, 2011, p.1052.6KAISER JR., Walter C. O Plano da Promessa de Deus Teologia Bblica do Antigo e Novo Testamentos. Traduo: Gordon Chown, A.G. Mendes. So Paulo: Vida Nova, 2011, p.39.

  • 8/10/2019 Os Mandatos Criacionais

    4/8

    www.centrodeestudospresbiteriano.blogspot.com

    depende de nos dedicarmos ao trabalho criativo e construtivo.7A isso ns chamamos de

    redeno csmica. Deus nos deu este mandato para exercermos o domnio nas mais

    diversas reas do saber; e para o resgate das culturas para a glria dele somente.

    II

    O MANDATO SOCIAL

    O segundo mandato a ser considerado chamado de Mandato Social. Van

    Groningen vai dizer que este mandato pactual fala das relaes sociais8. Este mandato

    est fundamentado em Gnesis 2.21-24:

    Ento, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e esteadormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E acostela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher elha trouxe. E disse o homem: Esta, afinal, osso dos meus ossos e carne da

    minha carne; chamar-se- varoa, porquanto do varo foi tomada. Por isso, deixao homem pai e me e se une sua mulher, tornando-se os dois uma s carne.

    Temos a estrutura familiar estabelecida. A famlia ordenada em termos de um

    desapegar-se e unir-se a outrem. Embora, j tenhamos considerado que um dos aspectos

    do mandato cultural a criao familiar. Isto se torna evidente por causa da ordem divina

    de haver uma fecundao e multiplicaoem Gnesis 1.26-28; todavia, esta ordem da

    formulao familiar est pertinentemente estabelecida aqui neste trecho de Gnesis 2.21-24.

    A criao da mulher tem como objetivo evitar a solido de Ado. O princpio

    extrado aqui que o homem no uma ilha, isolada, sozinha sem relao com outros. O

    companheirismo algo que Deus prima em sua criao o casamento no deve ser uma

    priso para os solteiros, mas a liberdade da amizade e cumplicidade matrimonial.

    Longman III tem uma palavra muito significativa sobre esta realidade e declara que

    o casamento envolve umhomem e uma mulher deixarem os pais e constiturem uma nova

    unidade familiar.9Van Groningen novamente nos diz que este mandato pde ser dado

    porque Deus criou a humanidade sua imagem e semelhana e como macho e fmea. Orelacionamento tinha que ser visto como um de igualdade diante de Deus.10Aqui

    aprendemos que a organizao familiar exige uma relao heterossexual. Ado se une a sua

    7PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta Libertando o Cristianismo de seu Cativeiro Cultural . Traduo:Luis Aron. Rio de Janeiro: CPAD, 2011, p.538GRONINGEN, Gerard van. Revelao Messinica no Antigo Testamento. Traduo: Cludio Wagner.

    So Paulo: Cultura Crist, 2003, p.100.9

    LONGMAN III, Tremper. Como Ler Gnesis. Mrcio Loureno. So Paulo: Vida Nova, 2009, p.132.10 GRONINGEN, Gerard Van. Criao e Consumao O Reino, a Aliana e o Mediador. Traduo:Denise Meister. So Paulo: Cultura Crist, 2002, volume 1, p.91.

  • 8/10/2019 Os Mandatos Criacionais

    5/8

    www.centrodeestudospresbiteriano.blogspot.com

    mulher. E no a outro homem, nem mesmo uma mulher se une a outra. Mas o que est

    escrito que macho e fmea formam uma unidade neste mandato.

    Em Gnesis 1.28 temos a extenso deste mandato de forma interessante. A

    finalidade na gerao de filhos e filhas para cumprir este mandato pactual era de capitalimportncia. Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra. O verbo fecundar que

    aparece no texto no hebraico peru tem o sentido de frutificar. O mandato

    social estabelece uma necessidade que o homem tem constituir familias e sociedades para

    cumprir a ordem original de Deus dada raa humana. O homem deveria continuar sua

    posio de dominio social com a perpetuao de sua prole.

    III O MANDATO ESPIRITUAL.

    O terceiro aspecto a ser considerado o Mandato Espiritual. Envolvia comunho e

    obedincia a Deus. Esta comunho estava marcada pelo dia de adorao ao soberano de

    todas as coisas. Conforme vemos em Gnesis 2.1-4:

    Assim, pois, foram acabados os cus e a terra e todo o seu exrcito. E, havendoDeus terminado no dia stimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia detoda a sua obra que tinha feito. E abenoou Deus o dia stimo e o santificou;porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera. Esta a gnesedos cus e da terra quando foram criados, quando o SENHOR Deus os criou.

    O conceito embrionrio de um dia descanso esta alicerado nesta passagem que

    evoca a comunho primeva que o casal Ado e Eva desfrutavam com Deus. O shabbath de

    Deus entra em ao na narrativa bblica ao trazer o sbado existncia Deus

    estava condescendo ao homem para que este pudesse desfrutar de uma comunho intima e

    pessoal com Deus.

    Devemos lembrar que a guarda do sbado estava ligada aos dois mandatos pactuais

    anteriores:

    A convico que a guarda do sbado uma obrigao perptua se baseia emparte na instituio do sbado em Gnesis 2.1-3. Juntamente com o trabalho(Gn. 1.24; 2.15) e o casamento (Gn. 2.18-25), Deus instituiu o sbado paragovernar a vida de toda a humanidade. Assim como so permanentes asordenanas do trabalho e do casamento, assim a ordenana do sbado.

    11

    No mandato espiritual ou de comunho o homem criado para que possa deleitar-

    se no dia que Deus separou para ele. Esta comunho com Deus se dava no ambiente

    litrgico.

    11PIPA, Joseph. O Dia do Senhor. Traduo: Hope Gordon Silva. So Paulo: Os puritanos, 2000, p. 29.

  • 8/10/2019 Os Mandatos Criacionais

    6/8

    www.centrodeestudospresbiteriano.blogspot.com

    Ainda neste mandato estava envolvida a ideia de obedincia perene a Deus

    conforme vemos em Gnesis 2.16-17:

    E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda rvore do jardim comers livremente, mas da rvore do

    conhecimento do bem e do mal no comers; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrers.

    Aqui temos o homem sendo chamado a pactuar com Deus. Este pacto tem sido

    considerado como pacto das obras, e parece-nos, que alguns sugerem que Ado deveria

    obedecer este pacto para obter vida eterna. Todavia, alguns preferem chama-lo de pacto de

    vida; e por qu? A resposta simples aqui Deus no lhe promete a vida, mas lhe assegura

    da morte certa caso o desobedea.

    A vida marcada pela comunho com Deus e por uma espiritualidade autntica

    Ado deveria preservar essa comunho que implicava em vida; todavia, este homem

    deliberadamente decide violar o pacto, violar a comunho e em resposta a esta rebeldia ele

    recebe a morte.12

    Este mandato pactual implica numa vida de obedincia e adorao a Deus de forma

    inegocivel. O homem foi criado para glorificar a Deus e se deleitar nele, e isto feito

    mediante a obedincia irrestrita a Palavra de Deus bem como em celebrao litrgica a

    Deus.

    CONSIDERAES FINAIS:

    Na Teologia Reformada este tema dos Mandatos Criacionais amplamente

    desenvolvido, todavia, pouco aplicado e lecionado igreja de Cristo. Podemos, ver nesta

    breve introduo o quo so importantes para a vida e maturidade da igreja. Vimos neste

    estudo que a ordem para governar a terra tem sido negligenciada pela igreja de nossos dias;

    bem como a preservao de laes sociais hoje ameaado pela criao de leis contrrias a

    Palavra de Deus.

    No espectro espiritual podemos tirar como implicao o fato da fraqueza e letargia

    da igreja deve-se ao fato da negligncia profunda de uma comunho autntica com Deus

    no dia do Senhor (domingo ou sbado cristo); pois, a igreja de hoje est caminhando para

    o secularismo, individualismo e pragmatismoo divino no ocupa, mas a centralidade na

    vida das pessoas, a comunho virou apenas temas de sermes para o final, pois, cada qual

    12Cf. GRONINGEN, Gerard Van. Criao e ConsumaoO Reino, a Aliana e o Mediador. Traduo:Denise Meister. So Paulo: Cultura Crist, 2002, volume 1, p.92.

  • 8/10/2019 Os Mandatos Criacionais

    7/8

    www.centrodeestudospresbiteriano.blogspot.com

    vive no seu mundo sem viver a comunho dos santos e a igreja tem empregado esforos

    para que haja resultados imediatos negligenciando o crescimento saudvel da igreja por

    meio do culto corporativo no dia do Senhor.

    Devemos reconhecer que fomos e somos criados para a obedincia irrestrita a Deuse nos deleitarmos nele; devemos cumprir os nossos papis originais intencionados por Des

    para a nossa vida. Deus nos criou para que tivssemos o domnio sobre este mundo como

    vice-regentes, reconhecendo que cada espao na criao reclamado por Cristo como

    sendo de sua exclusiva propriedade.

    Neste processo devemos trazer mente e ao corao que as nossas famlias so

    tambm projetos de Deus para ns, constituir famlias est atrelado inteno original de

    Deus para a humanidade. A sociedade necessita de famlias equilibras e tementes a Deus ocasamento e a procriao de uma descendncia santa so alicerces fundamentais para a

    construo de uma sociedade justa.

    Por fim, devemos trazer ao corao que aquilo que confere sentido existncia

    eterno e imperecvel, por isso, devemos reservar um tempo para a contemplao e

    adorao ao Deus eterno que tudo criou. O encontro com Yahweh no seu dia de capital

    importncia para ns, pois, no culto onde a nossa alma alimentada e alentada pela

    Palavra imperecvel de Deus. O culto familiar, o culto individual e o pblico so

    oportunidades nicas de um deleitoso prazer em Deus.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

    1. GRONINGEN, Gerard Van. Criao e Consumao O Reino, a Aliana e o

    Mediador.Traduo: Denise Meister. So Paulo: Cultura Crist, 2002, volume 1.

    2. ____________________. Revelao Messinica no Antigo Testamento.

    Traduo: Cludio Wagner. So Paulo: Cultura Crist, 2003.3. KAISER JR., Walter C. O Plano da Promessa de Deus Teologia Bblica do

    Antigo e Novo Testamentos. Traduo: Gordon Chown, A.G. Mendes. So

    Paulo: Vida Nova, 2011.

    4. KILPP, Nelson. Dicionrio Hebraico-Portugs e Aramaico-Portugus. So

    Leopoldo: Sinodal; Petrpolis: Editora Vozes, 1987.

    5. LONGMAN III, Tremper. Como Ler Gnesis. Mrcio Loureno. So Paulo:

    Vida Nova, 2009.

  • 8/10/2019 Os Mandatos Criacionais

    8/8

    www.centrodeestudospresbiteriano.blogspot.com

    6. PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta Libertando o Cristianismo de seu

    Cativeiro Cultural. Traduo: Luis Aron. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

    7. PIPA, Joseph. O Dia do Senhor. Traduo: Hope Gordon Silva. So Paulo: Os

    puritanos, 2000.

    8. VANGEMEREN,Willem A.(org.) Novo Dicionrio Internacional de Teologia

    e Exegese do Antigo Testamento.Tradutor: Afonso Teixeira Filho e outros. So

    Paulo: Cultura Crist, 2011, p.1052.

    9. VOS, Geerhardus. Teologia Bblica Antigo e Novo Testamentos. Traduo:

    Alberto Almeida de Paula. So Paulo: Cultura Crist, 2010.