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OS PALACETES, ESPAÇO E IDENTIDADE EM SANTA INÊS/BA: AS APARÊNCIAS ENGANAM Josmar Rodrigues Barbosa 1 Carlos Magno 2 INTRODUÇÃO Na ribalta do semiárido da cidade de Santa Inês/BA, sob a vigília constante da sinuosidade do relevo das serras que a cercam, há dezenas de anos foram erguidos imponentes palacetes, traçados por uma estética colonialista (final do século XIX e início do século XX), em que a cultura do café era o carro chefe da economia brasileira: “Durante o Brasil colônia, a sociedade encontrava-se firmada sob uma estrutura produtiva escravocrata, onde a monocultura, o latifúndio, a figura do senhor de engenho e a do escravo constituíam a base da organização social”. (OLIVEIRA, Renata S., apud FERNANDES, 1964). De acordo com MORAES (2011), (...) o povoamento colonial (estrito senso) foi, na maior parte, um fluxo migratório forçado. Seja o servo sob contrato branco (aprisionado, comprado ou raptado na Europa), seja o escravo africano, seja ainda o índio (aldeado ou escravizado), todos pertencem a populações deslocadas compulsoriamente de seu hábitat original e submetidas a novo ordenamento social e espacial, que as requalifica por mecanismos de exclusão como os impedimentos raciais e a seletividade territorial. (MORAES, 2011, p. 273) Os palacetes figuram como frutos históricos de uma época em que a qualidade dos cafezais santineense, estava entre as melhores safras no ranking internacional. Segundo a Prof.ªDrª Simone Alves Silva 3 , Prof.ª da Universidade Federal da Bahia, a região de Santa Inês destacou-se por ser produtora de café. Nesse contexto, foram tramados, na sintonia do café, processos de urbanização, ou seja, o espaço urbano reproduziu-se, seguindo as disposições dos interesses econômicos. 1 Graduando do VII Semestre do Curso de Licenciatura em Geografia pelo IF - Baiano - Campus SantaInês/BA, e- mail: [email protected] 2 Professor de Filosofia pelo IF - Baiano – Campus Santa Inês/BA, email:[email protected] 3 Autora do artigo Cultura do Café. Disponível em: <http://www.culturasregionais.ufba.br/Apostila%20caf%C3%A9%20-%2035p..doc >. Acesso em: 16 de março de 2014.

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OS PALACETES, ESPAÇO E IDENTIDADE EM SANTA INÊS/BA: AS APARÊNCIAS ENGANAM

Josmar Rodrigues Barbosa1 Carlos Magno2

INTRODUÇÃO

Na ribalta do semiárido da cidade de Santa Inês/BA, sob a vigília constante da

sinuosidade do relevo das serras que a cercam, há dezenas de anos foram erguidos

imponentes palacetes, traçados por uma estética colonialista (final do século XIX e

início do século XX), em que a cultura do café era o carro chefe da economia brasileira:

“Durante o Brasil colônia, a sociedade encontrava-se firmada sob uma estrutura

produtiva escravocrata, onde a monocultura, o latifúndio, a figura do senhor de engenho

e a do escravo constituíam a base da organização social”. (OLIVEIRA, Renata S., apud

FERNANDES, 1964).

De acordo com MORAES (2011),

(...) o povoamento colonial (estrito senso) foi, na maior parte, um fluxo migratório forçado. Seja o servo sob contrato branco (aprisionado, comprado ou raptado na Europa), seja o escravo africano, seja ainda o índio (aldeado ou escravizado), todos pertencem a populações deslocadas compulsoriamente de seu hábitat original e submetidas a novo ordenamento social e espacial, que as requalifica por mecanismos de exclusão como os impedimentos raciais e a seletividade territorial. (MORAES, 2011, p. 273)

Os palacetes figuram como frutos históricos de uma época em que a qualidade

dos cafezais santineense, estava entre as melhores safras no ranking internacional.

Segundo a Prof.ªDrª Simone Alves Silva3, Prof.ª da Universidade Federal da Bahia, a

região de Santa Inês destacou-se por ser produtora de café. Nesse contexto, foram

tramados, na sintonia do café, processos de urbanização, ou seja, o espaço urbano

reproduziu-se, seguindo as disposições dos interesses econômicos.

1 Graduando do VII Semestre do Curso de Licenciatura em Geografia pelo IF - Baiano - Campus SantaInês/BA, e-mail: [email protected] 2 Professor de Filosofia pelo IF - Baiano – Campus Santa Inês/BA, email:[email protected] 3Autora do artigo Cultura do Café. Disponível em: <http://www.culturasregionais.ufba.br/Apostila%20caf%C3%A9%20-%2035p..doc>. Acesso em: 16 de março de 2014.

Realçadospor uma arquitetura européia, com reminiscências do estilo

Barroco entre o final do século XIX e início do século XX, os palacetes evoca nas

fachadas exagero ornamental, sugerindo a predominância da emoção em contraposição

à razão, marcas de uma época em que o homem contrapôs entre o divino e o

humano,lugares forjados de valores estéticos, espaços privilegiados para o convívio,

paisagens que ratificaram uma das caras da colonização européia, e que encontrou na

figura do afro descendente, sua forma mais cruel de se manifestar. De acordo com

MOURA (1994),

Houve um período no qual o negro não encontrava possibilidades de se integrar economicamente e encontrar a sua identidade étnica de forma não fragmentada e confusa. Daí uma fase onde ele, como elemento mais onerado no processo de passagem da escravidão para o trabalho livre, desarticulou-se social, psicológica e culturalmente. Mas sempre procurou, em nível organizacional, reencontrar-se. (MOURA, 1994, p. 211)

No entanto, pode-se considerar que com a recente lei 10.639/034, a legislação

brasileira tenha avançado, mesmo que a passos lentos, para uma concepção de

sociedade em que todos os brasileiros, independente de suas características físicas e

culturais, contribui na formação do espaço social.

Pressupõe-se que a correlação entre sociedade, trabalho e natureza, sugere uma

das definições do espaço geográfico, de maneira que esta seja marcada por um

conflituoso e contínuo processo de dominação, mas que encontra expressão numa

sociedade contraditória. Segundo CARLOS (2009),

As necessidades da sociedade estão relacionadas com a capacidade de produção da sociedade pois a relação que se estabelece entre o homem e o meio é mediada pelo processo de trabalho, através do qual a sociedade produz o espaço no momento em que produz sua própria existência. (CARLOS, 2009, p. 31)

Nesse contexto, esse trabalho recomenda as escolas públicas, sobretudo, a criar

estratégias pedagógicas para auxiliar a comunidade, reeducá-la quanto a sua história, e

em defesa de seu patrimônio cultural. Para SILVEIRA (2013): “Se o mundo necessita

4Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003: "Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e

particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10. 639. htm> Acesso em: 23/03/2014

de cidadãos, então a escola, o que é, a nosso ver, um dos principais ambientes de

difusão da educação, deve formar cidadãos”. Segundo PEREIRA (2012),

A idéia de patrimônio cultural remete à riqueza construída e transmitida, de geração para geração, como o legado que influencia a identidade dos indivíduos e grupos sociais, mas essa idéia pode ser proporcional à interpretação que se quer valorar. As definições podem partir de diferentes relações, por exemplo, a relação afetiva, a econômica, a ambiental, a cultural, entre outras. (PEREIRA, 2012, p. 7)

Acredita-se que uma cidade sem memória cultural desconhece a origem do seu

surgimento e, mantém estacionadas suas aptidões para o desenvolvimento, assemelha-se

a uma criança sem brinquedo, inevitavelmente a ver as horas tecendo o tempo.

IDENTIDADE

Santa Inês é um pequenomunicípio que está localizada no Território do Vale do

Jiquiriçá/BA, acredita-se que num passado recente teve sua economia em ascensão por

conta da cultura do café. Segundo as estimativas do IBGE (2010), o município de Santa

Inês, ocupa uma área de 315, 656 km, tem uma população de 10.363 (dez mil trezentos

e sessenta e três habitantes). Detendo 91,8% na população urbana e 8,2% na população

rural. Está localizado no sudoeste baiano e compõe o Território do Vale do Jiquiriçá

(mapa 01), foi criado pela Lei Estadual nº 1.714, de 22.07.1924, ocorrendo sua

instalação a 26 de outubro do mesmo ano.

Mapa 01 – Território do Vale do Jiquiriçá

Fonte: IBGE, 2010. Elaboração: Josmar R. Barbosa, 2012

Em Santa Inês, no início do século XX, con

conta da força do café, surgiu o trem, integrando

trabalho, as igrejas, as casas de moradias simples, as lojas em suas diversas categorias,

de vendas a varejo e atacado, as escolas, a eletricidade, o cinema, o jor

as praças e os jardins (ver imagem 01), todos, dividindo o espaço com os imponentes

palacetes. Segundo SANTOS (2008),

do espaço que se dê sem o trabalho. Viver, para o homem, é produzir espaço. Como o homem não vive sem trabalho, o processo de vida é um processo de criação do espaço geográfico. A forma de vicriação do espaço. Por isso a geografia estuda a ação do homem. (SANTOS, 2008, p. 96

Contudo, era por meio da extinta Estrada de Ferro Nazaré (EFN) que se dava o

escoamento da produção cafeeira

século XX, através da EFN, estava integrado ao sistema de transporte e comércio

direcionado à exportação, por conta de produtos como café, sisal, fumo, mais o

transporte de passageiros.

Imagem 01

Porém, a desativação da EFN interrompe drasticamente o desenvolvimento

econômico dos municípios localizados às margens da ferrovia, enquanto num apagar de

velas, os cafezais santineense adormeceram economicame

determinou o urbanicídio do sudoeste. Porque, sem a sua janela para o mundo, os jovens

fugiram para Salvador, para São Paulo e Rio de Janeiro, (...)” (SANTA INÊS, 1982, p.

30).

Em Santa Inês, no início do século XX, contribuindo para a sua expansão

conta da força do café, surgiu o trem, integrando-a com o mundo, surgiu o comércio e o

trabalho, as igrejas, as casas de moradias simples, as lojas em suas diversas categorias,

de vendas a varejo e atacado, as escolas, a eletricidade, o cinema, o jor

as praças e os jardins (ver imagem 01), todos, dividindo o espaço com os imponentes

Segundo SANTOS (2008),

Não há produção que não seja produção do espaço, não há produção do espaço que se dê sem o trabalho. Viver, para o homem, é produzir espaço. Como o homem não vive sem trabalho, o processo de vida é um processo de criação do espaço geográfico. A forma de vida do homem é o processo de criação do espaço. Por isso a geografia estuda a ação do homem. (SANTOS, 2008, p. 96-97).

ra por meio da extinta Estrada de Ferro Nazaré (EFN) que se dava o

produção cafeeira. Nesse sentido, o Vale do Jiquiriçá, no início do

século XX, através da EFN, estava integrado ao sistema de transporte e comércio

direcionado à exportação, por conta de produtos como café, sisal, fumo, mais o

Imagem 01 – Jardim na Praça Coronel Vieira Coelho

Foto: Rosalvo Aragão Santos Filho – 2013

desativação da EFN interrompe drasticamente o desenvolvimento

econômico dos municípios localizados às margens da ferrovia, enquanto num apagar de

velas, os cafezais santineense adormeceram economicamente. “(...) A morte do trem

determinou o urbanicídio do sudoeste. Porque, sem a sua janela para o mundo, os jovens

fugiram para Salvador, para São Paulo e Rio de Janeiro, (...)” (SANTA INÊS, 1982, p.

tribuindo para a sua expansão, por

a com o mundo, surgiu o comércio e o

trabalho, as igrejas, as casas de moradias simples, as lojas em suas diversas categorias,

de vendas a varejo e atacado, as escolas, a eletricidade, o cinema, o jornal, as fábricas,

as praças e os jardins (ver imagem 01), todos, dividindo o espaço com os imponentes

Não há produção que não seja produção do espaço, não há produção do espaço que se dê sem o trabalho. Viver, para o homem, é produzir espaço. Como o homem não vive sem trabalho, o processo de vida é um processo de

da do homem é o processo de criação do espaço. Por isso a geografia estuda a ação do homem. (SANTOS,

ra por meio da extinta Estrada de Ferro Nazaré (EFN) que se dava o

quiriçá, no início do

século XX, através da EFN, estava integrado ao sistema de transporte e comércio

direcionado à exportação, por conta de produtos como café, sisal, fumo, mais o

desativação da EFN interrompe drasticamente o desenvolvimento

econômico dos municípios localizados às margens da ferrovia, enquanto num apagar de

nte. “(...) A morte do trem

determinou o urbanicídio do sudoeste. Porque, sem a sua janela para o mundo, os jovens

fugiram para Salvador, para São Paulo e Rio de Janeiro, (...)” (SANTA INÊS, 1982, p.

Segundo SANTOS (2008): “Quando a ciência se deixa

uma tecnologia cujos objetivos são mais econômicos que sociais, ela se torna tributária

dos interesses da produção e dos produtores hegemônicos, e renuncia a toda vocação de

servir à sociedade” (p. 19). Portanto,

propósitos: a importância dos palacetes para reconhecer a participação de diferentes

grupos étnicos na construção do espaço social santineense.

METODOLOGIAS

Por conta da lamentável

por uma reflexão crítica, com o foco em alguns dos conhecimentos da ciência

geográfica. Aludimos ainda que os objetos que serviram de estudo foram construídos

provavelmente no primeiro quartel do século XX. Segundo STRAFORINI (2004), “A

Geografia, necessariamente, deve proporcionar a construção de conceitos que

possibilitem ao aluno compreender o seu presente e pensar o futuro com

responsabilidade, ou ainda, preocupar

presente.” (p. 51)

A escolha do objeto em estudo, explica

barroca, e pela funcionalidade que exercem na configuração do espaço urbano

santineense. De acordo com a memória popular, o palacete nº 01 (ver imagem 02)

pertenceu ao Coronel Luis Vie

município, também, em seu andar térreo, funcionou o primeiro Cartório de Registros.

Imagem 02 – Palacete nº 01

Segundo SANTOS (2008): “Quando a ciência se deixa claramente cooptar por

uma tecnologia cujos objetivos são mais econômicos que sociais, ela se torna tributária

dos interesses da produção e dos produtores hegemônicos, e renuncia a toda vocação de

servir à sociedade” (p. 19). Portanto, este trabalho ressalta um de seus principais

propósitos: a importância dos palacetes para reconhecer a participação de diferentes

grupos étnicos na construção do espaço social santineense.

Por conta da lamentável insuficiência de referências bibliográficas,

por uma reflexão crítica, com o foco em alguns dos conhecimentos da ciência

geográfica. Aludimos ainda que os objetos que serviram de estudo foram construídos

provavelmente no primeiro quartel do século XX. Segundo STRAFORINI (2004), “A

, necessariamente, deve proporcionar a construção de conceitos que

possibilitem ao aluno compreender o seu presente e pensar o futuro com

responsabilidade, ou ainda, preocupar-se com o futuro através do inconformismo com o

objeto em estudo, explica-se por sua estética oriunda da arte

barroca, e pela funcionalidade que exercem na configuração do espaço urbano

santineense. De acordo com a memória popular, o palacete nº 01 (ver imagem 02)

pertenceu ao Coronel Luis Vieira Coelho, outrora, primeiro intendente a governar o

município, também, em seu andar térreo, funcionou o primeiro Cartório de Registros.

Palacete nº 01 – Situado na Rua Barbosa de Souza, nº 172.

Foto: Leandro Santos Rodrigues –2014

claramente cooptar por

uma tecnologia cujos objetivos são mais econômicos que sociais, ela se torna tributária

dos interesses da produção e dos produtores hegemônicos, e renuncia a toda vocação de

ta um de seus principais

propósitos: a importância dos palacetes para reconhecer a participação de diferentes

insuficiência de referências bibliográficas, preterimos

por uma reflexão crítica, com o foco em alguns dos conhecimentos da ciência

geográfica. Aludimos ainda que os objetos que serviram de estudo foram construídos

provavelmente no primeiro quartel do século XX. Segundo STRAFORINI (2004), “A

, necessariamente, deve proporcionar a construção de conceitos que

possibilitem ao aluno compreender o seu presente e pensar o futuro com

se com o futuro através do inconformismo com o

se por sua estética oriunda da arte

barroca, e pela funcionalidade que exercem na configuração do espaço urbano

santineense. De acordo com a memória popular, o palacete nº 01 (ver imagem 02)

, outrora, primeiro intendente a governar o

município, também, em seu andar térreo, funcionou o primeiro Cartório de Registros.

Situado na Rua Barbosa de Souza, nº 172.

O palacete nº 02 (ver imagem 03)

Paulo Micheli, (em entrevista gravada concedida para este trabalho)

avô,comerciante, fazendeiro

Imagem 03 – Palacete n

O palacete nº 03 (ver

pertenceu ao imigrante português Coronel Florindo Car

Sr. Miguel Marques, ex-prefeito.

Imagem 04 – Palacete nº 03

O palacete nº 04 (ver imagem 05), outrora

pertenceu ao imigrante português Emíl

atualmente usufruído por seus herdeiros.

Imagem 05 – Palacete nº 04

02 (ver imagem 03), de acordo com o atual proprietário Sr. Ítalo

Paulo Micheli, (em entrevista gravada concedida para este trabalho) pertenceu ao

fazendeiro, construtor e imigrante italiano Humberto Micheli.

Palacete nº 02 – Situado na Av. Rui Barbosa, nº 11

Foto: Leandro Santos Rodrigues –2014

nº 03 (ver imagem 04), outrora, de acordo com a memória popular,

pertenceu ao imigrante português Coronel Florindo Cardoso, atualmente propriedade do

prefeito.

Palacete nº 03 - Situado na Av. Pedro Barbosa, nº 20.

Foto: Leandro Santos Rodrigues – 2014

palacete nº 04 (ver imagem 05), outrora, de acordo com a memória popular

u ao imigrante português Emílio Cardoso Filho, fazendeiro e político,

atualmente usufruído por seus herdeiros.

Palacete nº 04 - Situado na Av. Góes Calmon, nº 394

, de acordo com o atual proprietário Sr. Ítalo

pertenceu ao seu tio

e imigrante italiano Humberto Micheli.

Situado na Av. Rui Barbosa, nº 11.

imagem 04), outrora, de acordo com a memória popular,

oso, atualmente propriedade do

Situado na Av. Pedro Barbosa, nº 20.

, de acordo com a memória popular

Filho, fazendeiro e político,

Situado na Av. Góes Calmon, nº 394

Foto: Leandro Santos Rodrigues

Destaca-se que o

considerando a publicidade alcançada por alguns de seus moradores, e a possibilidade

de abranger seu estudo numa perspectiva didática, capaz de promover uma leitura que

não se restrinja à memória dos segme

contemplar os segmentos sociais menos favorecidos que se encontraram abduzidos no

processo de urbanização santineense. Segundo Karl Marx (1961): “Os homens fazem

sua própria história, mas não a fazem como querem; não a

sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas

pelo passado”. (Marx, 1961, p. 203).

Por fim, o palacete nº 05 (ver imagem 06), outrora, de acordo com a memória

popular, pertenceu ao Coron

Imagem 06 – Palacete 05 Situado na Av. Góes Calmon, nº 298

Foto: Leandro Santos Rodrigues – 2014

Foto: Leandro Santos Rodrigues – 2014

se que os palacetes foram selecionados por ordem numérica,

a publicidade alcançada por alguns de seus moradores, e a possibilidade

de abranger seu estudo numa perspectiva didática, capaz de promover uma leitura que

não se restrinja à memória dos segmentos sociais hegemônicos, mas também

contemplar os segmentos sociais menos favorecidos que se encontraram abduzidos no

processo de urbanização santineense. Segundo Karl Marx (1961): “Os homens fazem

sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de

sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas

Marx, 1961, p. 203).

Por fim, o palacete nº 05 (ver imagem 06), outrora, de acordo com a memória

popular, pertenceu ao Coronel Adauto Nogueira, comerciante e político.

Palacete 05 Situado na Av. Góes Calmon, nº 298

2014

s palacetes foram selecionados por ordem numérica,

a publicidade alcançada por alguns de seus moradores, e a possibilidade

de abranger seu estudo numa perspectiva didática, capaz de promover uma leitura que

ntos sociais hegemônicos, mas também

contemplar os segmentos sociais menos favorecidos que se encontraram abduzidos no

processo de urbanização santineense. Segundo Karl Marx (1961): “Os homens fazem

fazem sob circunstâncias de

sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas

Por fim, o palacete nº 05 (ver imagem 06), outrora, de acordo com a memória

.

Palacete 05 Situado na Av. Góes Calmon, nº 298.

Quanto ao entendimento dos palacetes como produto resultante da arte Barroca,

aludimos à necessidade de um prévio conhecimento das artes visuais, sobretudo por si

tratar de uma arte recheada de valores estéticos. Nesse sentido, os palacetes demandam

uma leitura mais apurada sobre a sua importância e/ou seu significado para a formação

do espaço social santineense. Segundo Josenilto Rodrigues Barbosa5(2013),morador de

Santa Inês,

Faz parte da nossa expêriencia com a arte um processo de desenvolvimento do juizo estético. E isso ocorre tanto numa relação com o todo da experiência com a arte, quanto no domínio específico de uma obra determinada: a percepção formada no primeiro contato direto com uma obra de arte é, na maioria das vezes, frágil e incerto, de modo que frequentemente somos obrigados a rever e substiuir nosso juízos iniciais por outros cuja durabilidade, ademais, tende a aumentar.

Acrescenta-se que entrelaçar a educação às construções materiais e imateriais do

passado de uma comunidade, significa também oportunizar seus indivíduos, a assumir e

valorizar a sua identidade perante o espaço social e perante a si mesmo.

Para esse trabalho foram utilizados recursos, tais como, dados bibliográficos

(oriundos da internet, de livros e publicações referentes ao objeto e a área de estudo),

material fotográfico e entrevistas gravadas com os moradores do município. Igualmente,

salientamos que os palacetes provavelmente foram construídos no primeiro quartel do

século XX, não havendo informação sobre o ano de construção e de seus construtores.

RESULTADOS PRELIMINARES

Ao longo de sua existência, a população de Santa Inês tem explorado em

diferentes formas seus recursos naturais. De modo que, a sociedade tem se integrado a

novos conceitos sócio-espaciais sem se desvencilhar das marcas materiais e imateriais

que resistiram às intempéries do tempo. Nesse sentido, segundo os Parâmetros

Curriculares Nacionais para a Geografia (1998),

(...) a percepção espacial de cada indivíduo ou sociedade é também marcada por laços afetivos e referências socioculturais. Nessa perspectiva, a historicidade enfoca o homem como sujeito produtor desse espaço, um homem social e cultural, situado além e mediante a perspectiva econômica e política, que imprime seus valores no processo de produção de seu espaço.

5 Josenilto Rodrigues Barbosa, em entrevista gravada concedida para este trabalho em 2013.

(BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: geografia /Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.p.27),

Entretanto, poucos moradores concebem os palacetes como instrumentos

educacionais, ou, como registro cultural de importantes significados. Para Lucinéia de

Jesus6 (2013), moradora da cidade: “É uma parte da história de Santa Inês, deveria ser

mais abordada né, porque eu tenho 32 anos, eu não tenho conhecimento, imagine meu

filho que tem 10 anos?”.

Assim, a questão não é tão somente compreender a indisposição de uma maior

parcela da sociedade em não se relacionar com as marcas que forjaram a sua história,

mas também de interrogá-la, na perspectiva de extrair novos significados de sua

realidade. De acordo com a Profª Denise PiniRosalem da Fonseca7, Profª do

Departamento de Serviço Social da PUC - Rio (2010),

As marcas são sinais deixados pelas vivências. Não haverá marcas onde não houver histórias a serem contadas. Por outro lado, as marcas lá permanecem para fazer lembrar os caminhos de regresso, para permitir o resgate do que ficou perdido ou para que evitemos percursos que já se mostraram inadequados ou perigosos. Falar de marcas é falar dos homens e das suas ações, pois elas são o registro do acontecer humano. (FONSECA, 2010, p.11-12)

Pressupondo que o espaço social é espaço geográfico, porque se torna

insatisfatório conceituar um espaço composto sem a interferência da sociedade, a

preservação dos palacetes, significa assegurar a memória dos primeiros desbravadores

iniciantes no processo de urbanização santineense, de modo a evitar a repetição de

equívocos e a construção de novos fracassos. Para SANTOS (2008),

O espaço é igual à paisagem mais a vida nela existente; é a sociedade encaixada na paisagem, a vida que palpita conjuntamente com a materialidade. A espacialidade seria um momento das relações sociais geografizadas, o momento da incidência da sociedade sobre um determinado arranjo espacial. A espacialização não é o resultado do movimento apenas da sociedade, porque depende do espaço para se realizar. (SANTOS, 2008, p. 80-81)

6 Lucinéia de Jesus, moradora de Santa Inês, em entrevista gravada concedida para este trabalho em 2013. 7 Autora do artigo: A marca do sagrado. Disponível em:<http://www.editora.vrc.puc-rio.br/docs/ebook_marcas_homem_na_floresta.pdf(2010, p.11-12)>. Acesso em 20 de maio de 2014.

Assim, conscientizar a preservação dos palacetes poderá promover ações para

seu tombamento, daí inibir o processo de descaracterização desses imóveis, por

ausência de amparo legal.

ABSTRAÇÕES GEOGRÁFICAS

Em Santa Inês/BA, na estação do calor, ao se erguer o olhar sob a trama da

sombra vespertina a esticar as formas das paisagens barrocas de seus palacetes,

forçando-as a escorregar pelos paralelepípedos da cidade, ver-se como a um filme: uma

dezena ou mais de trabalhadores, em sua maioria, afros descendentes, a transportarem

imensas e pesadas barra de tijolos para a construção dessas suntuosas moradias de

técnicas vindas de além-mar. Sendo mais atencioso, ouve-se bem próximo o apito do

trem a anunciar a sua partida, também o barulho causado por inúmeras sacas de café,

que são arremessadas em seus vagões por braços suados e, de melanina acentuada, que

sugerem o esforço do homem na luta por sua sobrevivência, ainda sendo mais perspicaz,

ouve-se, de dentro desses palacetes, vozes de comando a apressarem vozes

subordinadas, para que confirme com exatidão o envio da mercadoria, ainda para mais

além, ver-se a sair sutilmente pelas frestas das imensas janelas que compõe a estrutura

desses casarões, uma leve fumaça para em seguida sentir-se o cheiro de café feito na

hora, sendo servido em xícaras de porcelanas raras, emolduradas por ramos de flores

silvestres, a brindarem por seus proprietários o resultado de bons negócios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho traçou um breve estudo sobre as representações de alguns palacetes

santineense, na busca de compreender a suainfluência no processo de urbanização e

valorização da identidade cultural de sua comunidade.

Nesse aspecto, ao tempo em que convida para o tombamento dessas heranças

históricas, sugere seu estudo a partir do ensino/aprendizado da Geografia, também

elucida a participação do afro descendente na formação do espaço social da comunidade

santineense.

Nesse sentido, pressupõe-se que a Geografia sirva também para demonstrar que

as aparências enganam, de modo que o conhecimento de uma determinada paisagem,

proporcionado apenas pelo recurso da visão, desmorona, quando esta mesma paisagem

é analisada dentro deum contexto histórico sócio-espacial.

No entanto, os palacetes santineenses se constituem em espaços visíveis,

palpáveis, mensuráveis, capazes de interferir na projeção das futuras gerações, e

fortalecer a identidade cultural de sua comunidade.

Contudo, este trabalho ainda está em fase de conclusão, devendo alcançar novas

etapas no decorrer do Curso de Licenciatura em Geografia pelo IF-Baiano - Campus

Santa Inês/BA.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: geografia/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. (p.27-30). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/geografia.pdf>Acesso em 08 de fevereiro de 2014.

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IBGE - Cidades. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1Acesso em 12/03/2014.

MARX, Karl. (1961) O 18 Brumário de Luís Bonaparte. In: MARX, Karl & ENGELS, F. Obras escolhidas. 2a ed. Rio de Janeiro, Editorial Vitória.

MORAES, Antônio C R. Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no “longo” século XVI – Ed. Annablume. São Paulo, 2011.

MOURA, Clóvis. Dialética Radical do Brasil Negro. São Paulo: Anita, 1994.

OLIVEIRA, Renata S. - O negro na realidade socioeconômica brasileira: um estudo da participação do negro no mercado de trabalho – disponível em: http://jornalggn.com.br/sites/default/files/documentos/3.4.12.pdf> Acesso em 05/03/2014

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