Os processos formativos

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Nesse pequeno texto, Eduardo Passos nos apresenta as dimensões éticas estéticas e políticas dos processos formativos.

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    ENCONTRO NACIONAL DE DOCENTES DE TERAPIA OCUPACIONAL

    Paradigma tico, Esttico e Poltico como dispositivo no processo de formao do profissional de sade Eduardo Passos

    O processo de formao pode ser pensado do ponto de vista dos dispositivos que nele so postos a funcionar. H tecnologias de formao, mtodos, escolas. Para alm das diferenas entre as variedades de tcnicas de formao, pode-se avaliar os processos formativos a partir da operao de abertura e criao que seus dispositivos realizam. Formar dar uma forma realidade, criar. Nesse sentido, o conceito de transversalidade proposto por F. Guattari nos ajuda a pensar um paradigma tico-esttico-poltico de orientao dos processos formativos. A formao como operao de transversalizao se apresenta num duplo registro: (1) o que o processo de formao acolhe por um lado, um formando enquanto sujeito com sua histria, suas formas, suas verdades e memria e, por outro lado, um processo de subjetivao em curso que vai se realizando pelas frestas das formas. Neste sentido, h sempre um quantum de transversalizao com que se pode contar em toda realidade em formao j que a forma definitiva, o modelo, o sujeito formado apenas um ideal a ser alcanado, no possuindo realidade definitiva ou acabada; (2) a formao, por sua vez, um caso de transversalizao, isto , sua realizao se d justamente desta maneira. A formao deve ser entendida como uma operao de transversalizao que se realiza na zona de vizinhana ou de indefinio entre dois processos de subjetivao (a do formando e a do formador). Ao falarmos, portanto, de quanta ou coeficientes de transversalizao do processo de formao queremos ressaltar que se trata de intensificar/apostar nos devires que esto a sempre presentes em diferentes graus de abertura e com potncias variadas de criao. O devir sempre se realiza em bloco. Portanto, no podemos pensar os movimentos de devir experimentados nos processos de formao sem considerar a dissoluo dos termos ou sujeitos inicialmente postos na relao de devir. Se h na formao uma linha de devir que enlaa formador e

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    formando, essa relao no pode ser entendida como uma metamorfose. Pois, se na formao se realiza, por exemplo, um devir terapeuta ocupacional do formando, isso no se faz sem que se realize um devir outra coisa do formador. A pedagogia intrnseca ao processo de formao corre sempre o risco de tornar-se uma formatao, o que podemos conjurar ao intensificar os movimentos de devir presentes nesse processo e que alteram seja a posio de quem forma seja a de quem formado. Colocar em questo o devir no processo formativo considerar a experincia do tempo na formao, o que nos leva a assumir a dimenso poltica da formao. Poltica porque interveno sobre as formas, apostando nos processos de formao ou de produo. Poltica porque entendendo a produo como coletiva em detrimento de uma individualidade que se suporia como natureza indivisa. Poltica porque trata menos da realidade efetuada do que daquilo que insiste como fora de transformao. Poltica, por fim, porque os movimentos do devir so sempre minoritrios. Da poltica esttica no se trata de uma passagem difcil. Melhor seria dizer que no h entre poltica e esttica uma separao, embora no recusemos suas diferenas. Poltica e esttica no so dois domnios separados, mas antes, situam-se na passagem entre os domnios. Queremos dizer que no possvel pensar em poltica sem imediatamente pensar nesta ao que no tempo se faz como trans-formao, mudana. No se pode pensar em mudana sem que se experimente a criao. E a criao, onde ela se d? sempre na plis, na urbes, no socius, ou seja na existncia que a criao se efetiva. Todo ato poltico um ato esttico. Por fim, da esttica tica seguimos as consequncias do processo formativo como criao de si e do mundo. Agora trata-se de considerar o ethos da formao ou a direo tica desse processo de formao da realidade. O que nos dirige nesse processo? Qual o nosso norte? Formar no s transmisso de informao, no s aquisio de habilidade. Forma-se uma atitude frente ao mundo.