OS REFRIGERANTES COMO TEMA GERADOR EM AULAS … · Em geral, o refrigerante tem em sua composição...

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OS REFRIGERANTES COMO TEMA GERADOR EM AULAS DE

QUÍMICA

Margred Drehmer1

Elisa Aguayo da Rosa2

Resumo: No presente trabalho, o tema “Refrigerante” foi introduzido nas aulas de química, com o

objetivo de contribuir na discussão sobre a relevância de introduzir assuntos do cotidiano, atividade

experimental, diálogo e problematização para promover a aprendizagem do aluno. O trabalho foi

desenvolvido no primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Tancredo Neves em São João-

PR, por meio de questionamento, pesquisa, experimentação e incentivo à leitura de textos e produção

própria. Os resultados obtidos apontam que houve motivação para a aprendizagem de química,

integração dos alunos e maior compreensão sobre o refrigerante e a importância do consumo

moderado dessa bebida.

Palavras-chave: Experimentação. Refrigerantes. Laboratório.

Justificativa

Por vezes informativas, por outras apelativas, as propagandas de jornais,

panfletos e televisão deixam em evidência as novidades do mercado, o que está na

moda e o que deve ser apreciado e, se possível, consumido por todos. Incluindo as

inovações tecnológicas e científicas, bem como os avanços das indústrias em

diversos setores, torna-se crescente a necessidade da sociedade de superar a

simples informação e buscar um conhecimento mais amplo dos fatos e fenômenos,

a fim de saber explicá-los, ou também, discerni-los como bons ou ruins.

Nesse sentido, a escola passa a ser um espaço transformador de saberes,

auxiliando os estudantes na compreensão de mundo e tomadas de decisões; sendo

que professores e alunos devem interagir constantemente para estabelecer as

relações entre os diversos aspectos como os científicos, sociais, políticos,

econômicos e ambientais de um conteúdo disciplinar. 1Especialização Química. Professora PDE Química – Colégio Estadual Tancredo Neves. São João-PR.2Doutora em Ciências. Professora Departamento de Química – UNICENTRO. Guarapuava-PR

Esse trabalho insere o tema “Refrigerante” nas aulas de química, teóricas e

experimentais, com o objetivo de enriquecer o processo ensino-aprendizagem de

química, por meio de recursos de ensino variados e de modo a provocar

modificações; ou seja, sensibilizar o estudante da importância de questionar as

informações veiculadas e se posicionar diante dos fatos; e, de certa maneira,

sensibilizar também o docente a ensinar promovendo diálogos e problematizações.

A proposta está baseada em relatos da literatura, como o de Lima e Afonso

(2009), que consideram o tema “Refrigerante” apropriado para o ensino de Química

por ser um produto em evidência, apreciado e que desperta a curiosidade dos

estudantes Ainda tem como base as Diretrizes Curriculares de Química para o

Ensino Médio, que incentiva a disseminação da química do cotidiano, a abordagem

experimental e a busca por um processo de ensino e de aprendizagem mais eficaz.

Nesse trabalho também são apresentadas as atividades desenvolvidas sobre

os refrigerantes e que oportunizou aos alunos conhecer a composição,

propriedades, processo industrial, bem como as questões socioeconômicas e os

riscos-malefícios associados a essa bebida.

Introdução Teórica

Considerando as reflexões sobre o ensino de Química, as Diretrizes

Curriculares da Educação Básica-DCE (Paraná, 2008), por meio de seus

fundamentos, propõe uma abordagem conceitual que possibilite aos estudantes

refletir e transformar a realidade social, econômica e política de seu tempo.

Nesse processo, a atividade experimental pode ser introduzida, já que é

concebida como um dos meios que favorecem a reflexão dos conceitos químicos,

estimulando o aluno a argumentar e explicar o que observa. Sobre a

experimentação, consta que:

(....) os aprendizes são levados a desenvolver uma explicação provável que se aproximada dos conceitos e teorias científicas pelos docentes, permite uma melhor compreensão da cultura e prática científica na reflexão de como são construídos e validados os conceitos cientificamente aceitos. Isso possibilita aos alunos uma participação mais efetiva no processo de sua aprendizagem, rompendo com a ideia tradicional dos procedimentos experimentais como receitas que devem ser seguidas e que não admitem o improviso, a modificação e as explicações prováveis do fenômeno estudado (Paraná, 2008, p.53

Adicionalmente, enfatizando que o conteúdo precisa fazer algum sentido para

o aluno, Ausubel et al. (1978, apud Moreira, s.d.) explica que o aprendizado só

acontece quando a nova informação vem assimilar conceitos relevantes já

existentes na construção cognitiva do indivíduo; e, assim sendo, entende-se que é

recomendável valorizar os conhecimentos prévios dos alunos.

De mesmo modo, o aluno também pode ser visto como sujeito que utiliza sua

experiência e conhecimento para resolver problemas. Para Mercado (1999) o

problema determina os conteúdos a serem trabalhados, permitindo aos alunos a

escolha de suas próprias estratégias, de maneira que consigam operá-las,

estabelecer novas relações e formular explicações sobre os fenômenos, superando

a fragmentação ou o saber já existente.

A resolução de problemas também é relevada por Fagundes et al.,1999:

"Quando o aprendiz é desafiado a questionar, quando ele se perturba e necessita pensar para expressar suas dúvidas, quando lhe é permitido formular questões que tenham significação para ele, emergindo de sua história de vida, de seus interesses, seus valores e condições pessoais, passa a desenvolver a competência para formular e equacionar problemas. Quem consegue formular com clareza um problema, a ser resolvido, começa a aprender a definir as direções de sua atividade." (Fagundes et al., 1999, p.16)

No entanto, a abordagem metodológica aplicada em aula deve estar coerente

com esses pressupostos e, assim, o professor deve priorizar o caráter investigativo e

a contextualização dos conteúdos, e saber selecioná-los, para dar significação aos

conceitos químicos.

Nessa perspectiva, por estar inserido no cotidiano do aluno, um tema de

elevada relevância para explorar no processo de ensino e aprendizagem em química

é o “Refrigerante”.

Segundo Lima e Afonso (2009), os refrigerantes surgiram no Brasil por volta

de 1906 e a primeira fábrica foi instalada no Rio de Janeiro em 1942. Atualmente, é

comum a bebida fazer parte da alimentação dos estudantes (Estima et al., 2011),

sendo que o consumo per capita no país é da ordem de 69 L/habitante por ano

(Lima e Afonso, 2009).

Em geral, o refrigerante tem em sua composição água, sulfatos, cloretos,

cloro, fenóis, metais, açúcar, acidulante, ácido cítrico, ácido fosfórico e ácido

tartárico, antioxidante, conservante, edulcorante, dióxido de carbono e concentrados

que conferem o sabor à bebida (Lima e Afonso, 2009). No entanto, a Associação

Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas não Alcóolicas (ABIR, s.d.)

informa que: “uma lata de refrigerante do tipo cola contém cerca de sete a nove

colheres de sopa de açúcar”, o que é indicativo do alto valor calórico e pouco valor

nutritivo da bebida (Estima et al., 2011; Oliveira et al., 2011).

Nessa perspectiva, o presente trabalho apresenta um relato de experiência

em sala de aula e laboratório de Química, com alunos do ensino médio, a partir do

tema gerador “Refrigerantes”.

Metodologia

O projeto foi implementado em uma turma da primeira série, turma B, do

Ensino Médio, do Colégio Estadual Tancredo Neves, da cidade de São João-PR; no

início do ano letivo de 2013, durante 18 semanas consecutivas, sendo que 12 delas

ocorreram em horário extraclasse, ou seja, no contra turno.

Com o intuito de motivar o interesse dos alunos pelo tema “Química dos

Refrigerantes”, e introduzir as primeiras reflexões sobre saúde, consumismo e

influência das propagandas comerciais no dia-a-dia dos cidadãos, foi apresentado

em sala de aula um vídeo, sobre “Anúncio de Refrigerante”, disponível no site http://

youtu.be/za PMp V5AdEO, do grupo musical Capital Inicial, que resumidamente

relata os interesses, problemas, e modo de vida da juventude. Também, com o

mesmo intuito, foi introduzida a seguinte questão para discussão: “Há muito tempo

atrás, os primeiros refrigerantes eram vendidos em farmácias; enquanto que nos

dias de hoje os refrigerantes são encontrados em estabelecimentos diversos, porém

há muitos profissionais da saúde e da alimentação que recomendam beber

refrigerantes com moderação. Por quê?”.

As perguntas levantadas pelos alunos após esse questionamento foram

aproveitadas para, na seqüência, tecer alguns comentários iniciais e já introduzir

aspectos da história dos refrigerantes e dados sobre o consumo dessa bebida nas

famílias. Essa etapa foi baseada no texto “Refrigerantes: é isso aí” (Miranda e

Giassetti, 2006) que foi distribuído aos alunos para leitura e comentários, além de

incentivar reflexões sobre a influência das propagandas comerciais no dia-a-dia

Em continuidade ao diálogo em sala de aula, os alunos foram questionados

sobre como imaginavam ser a produção dos refrigerantes nas fábricas, a fim de

proporcionar uma visão geral de como são obtidos e quais tecnologias fazem parte

do processo. Por indicação de um aluno, foi assistido e comentado um vídeo sobre

uma fábrica de um refrigerante (http:/ http://youtu.be/xlffs1ijtic/).

Posteriormente, como atividade extraclasse, questões sobre o consumo de

refrigerantes foram elaboradas pelos próprios alunos, a partir do texto “O impacto do

consumo de refrigerantes na saúde de escolares do Colégio Gissoni” (Oliveira et al.

2011). Entre as várias questões propostas, quatro foram selecionadas para,

conforme sugerido pelos alunos, aplicar aos demais estudantes do colégio nos três

turnos do colégio e, também, aos professores e funcionários. Essa ação foi motivada

por oportunizar aos alunos a realização de uma pesquisa, com levantamento de

dados.

Numa etapa seguinte, em horário extraclasse, o laboratório de Química foi

organizado, com participação dos alunos, e todos foram orientados sobre a as

normas de utilização do laboratório. Nesse espaço, foram realizadas quatro

atividades experimentais, baseadas no texto de apoio intitulado “Explorando a

química do refrigerante” (Lima e Afonso, 2009). No desenvolvimento dessa

atividade, os alunos organizaram-se em grupos e tiveram autonomia para escolher o

experimento que gostariam de realizar, dentre eles: 1) Estudar o efeito do gás no

refrigerante; 2) Reação do ferro metálico com o refrigerante; 3) Dissolução do

bicarbonato de sódio no refrigerante; 4) Quantidade de gás carbônico existente em

um refrigerante. Em seguida, fizeram a leitura da atividade, providenciaram os

materiais necessários e a executaram, interpretando dos resultados observados,

primeiramente entre os integrantes do grupo e a professora, para, posteriormente,

demonstrem e explicarem aos demais colegas o fenômeno ocorrido.

Ademais, a produção de refrigerante caseiro (www.segredosdavovo.com.br e

www.tudogostoso.uol.com.br) também foi realizada pelos alunos, após solicitação de

pesquisa sobre atividades experimentais possíveis de serem realizadas com

refrigerantes. O objetivo dessa etapa foi motivar o aluno a buscar um procedimento

de interesse. Ao finalizar essa atividade, os alunos resolveram exercícios,

selecionados pela professora, que envolviam a prática experimental e os conteúdos

apresentados, a fim de organizar as ideias ou sanar as dúvidas remanescentes.

Na sequência, as informações nutricionais dos refrigerantes foram reveladas,

com base na fonte intitulada “Explorando aspectos sobre Nutrição”, (Oliveira, et al.

2011). O texto foi lido pelos alunos no laboratório de informática sendo que, nessa

aula, os alunos também trouxeram os rótulos de nove refrigerantes para discussão

de conceitos como transformação química, gases, temperatura, solubilidade,

processo endotérmico e, também, cálculos envolvendo a unidade caloria. Um

segundo vídeo ainda foi explorado, por tratar do consumo de água e refrigerantes

(http://youtu.be/z4I50nAtuvA). Como tarefa de pesquisa, os alunos exploraram o site

www.mundodaquimica.com.br sobre a composição do refrigerante e como o corpo

reage à sua ingestão. Uma palestra, realizada no auditório da escola, finalizou essa

etapa, com um profissional da área, Dra. Mônica Barancelli. A nutricionista abordou

questões relacionadas à saúde dos adolescentes, consumo e qualidade de

refeições, consumo de alimentos vegetais e naturais livres de agrotóxicos,

compulsão alimentar, prática de dietas e consumo de refrigerantes e água,

conscientizando sobre a importância da alimentação saudável aliada a exercícios

físicos.

Em contra turno, ainda foi instalado um júri simulado, para incentivar o debate

sobre refrigerantes, considerando as opiniões do grupo do consumidor, do produtor

e do vendedor. As defesas foram produzidas pelos alunos em forma de texto

resumido, anteriormente apreciado e com considerações propostas pela professora.

Nesse momento, a questão problema foi retomada para verificação da ocorrência ou

não de novos argumentos.

Adicionalmente, para concretizar e sociabilizar o conhecimento adquirido, os

alunos confeccionaram painéis informativos sobre os refrigerantes e, ainda, na

disciplina de arte, a fim de desenvolver o lúdico, confeccionaram materiais artísticos

a partir de garrafa PET, como brinquedos, maquetes, cadeiras, pufes, enfeites

natalinos e sacolas.

Ainda em interação com a professora da disciplina de arte, Rosemeri Boff, foi

incentivada, em grupos de quatro alunos, a produção de um trabalho cultural, com

apresentação de paródia, vídeo e teatro, sobre o tema “refrigerantes”. Essas

atividades foram apresentadas para outras turmas do Ensino Médio e Fundamental,

no colégio, em dias e horários organizados pela equipe pedagógica, sendo duas

apresentações por turno, reunindo três turmas em cada apresentação.

Uma Mostra de todos os trabalhos produzidos foi realizada no saguão da

escola, onde os alunos também distribuíram refrigerantes caseiros para os colegas

nos turnos matutino e vespertino.

Resultados e Discussões

O vídeo “Anúncio de Refrigerante”, de imediato, foi bem aceito pelos alunos,

provocando risos e comentários que evidenciaram a identificação da realidade vivida

por eles com algumas passagens do vídeo, como: “as inúmeras situações de risco; a

ilusão das propagandas que retrata uma cultura de bem com a vida, onde não há

problemas sociais; além do capitalismo e as políticas de consumo e do poder”.

Desse modo, a letra e a música possibilitaram, além da apreciação do ritmo e estilo,

chamar a atenção dos alunos para os produtos industrializados e os interesses que

existem “por traz de um rótulo”.

Expondo, em seguida, a questão problema, os alunos expressaram

comentários, como:

“Por que falam tão mal dos refrigerantes? Se eles fizessem mal pra saúde,

não estariam sendo comercializados”. (Aluno 1)

“Vamos verificar e tirar o açúcar do refrigerante”. (Aluno 2)

“Vamos ter que estudar tudo aquilo que tem nos rótulos dos refrigerantes?

Tem que decorar fórmulas?”. (Aluno 3)

“Tomo refrigerante diet todos os dias e não sabia que contém sal (...) mas

não tem médico que recomenda?”. (Aluno 4)

“Muitas pessoas tomam refrigerantes há muito tempo, e não tiveram

problemas de saúde, porque eu tenho que me cuidar se todo mundo sempre tomou

e não aconteceu nada”. (Aluno 5)

As respostas acima evidenciaram que, em um primeiro momento, o tema foi

propício para iniciar a exposição das idéias dos alunos em sala de aula. Ao mesmo

tempo em que surgiram idéias pouco amplas sobre os efeitos da bebida na saúde,

como a do aluno 5, ou ainda preocupação maior com as fórmulas da química, como

o comentário do aluno 3, o aluno 2 já propôs eliminar o açúcar do refrigerante,

sugerindo certa preocupação com quantidade da substância na bebida e, talvez,

algum indicativo de interesse pelas aulas experimentais, já que todos tinham ciência

que usariam o laboratório em algum momento. De modo geral, pôde-se perceber

que há certo grau de interesse, duvidas e até desinformação sobre o tema.

Em meio à discussão, também surgiram curiosidades como, por exemplo:

“Por que alguns refrigerantes têm mais “bolinhas” (gás) que outros? Isso altera a

qualidade? Os corantes presentes nos refrigerantes são muito fortes, deixando a

língua colorida, isso faz mal à saúde? E beber refrigerante todo dia, faz mal? Existe

diferença de qualidade nos refrigerantes quando estão embalados em lata, vidro ou

PET? Tem muito açúcar nos refrigerantes? Qual é a diferença dos refrigerantes,

será que o diet é melhor à saúde?”.

As perguntas acima registradas demonstraram que os alunos têm curiosidade

maior sobre a qualidade do refrigerante e o impacto desse produto na saúde, sendo

que o termo “bolinhas” pode ser indicativo de que o termo “gás” e/ou “estado

gasoso” ainda não está consolidado para certos alunos. Esse conceito só foi

utilizado mais adequadamente quando uma das atividades experimentais foi

realizada.

Já a história do refrigerante e os dados sobre o consumo do refrigerante,

discutidos com os alunos na aula sequencial, resultaram num momento de bastante

discussão e interação entre os alunos, que revelaram forte indicativo sobre o

consumo de refrigerantes nas próprias famílias; e, também, dúvida sobre quais

seriam os melhores e os piores refrigerantes para se consumir, considerando a

presença dos corantes e suas implicações na saúde humana.

Por sua vez, o vídeo sobre a fábrica de refrigerante, despertou um interesse

maior sobre as garrafas e o processo de reutilizar e reciclar. De qualquer modo,

forneceu subsídios para o entendimento de custos e dos impactos ambientais, bem

como todo processo de industrialização do refrigerante.

Uma das ações mais integradora foi a produção do questionário sobre o

consumo dos refrigerantes e que foi aplicado a 389 alunos do Ensino Fundamental,

345 alunos do Ensino Médio e Magistério e 63 profissionais da escola, incluindo

funcionários e docentes. As questões elaboradas foram:

1. Você consome refrigerante diariamente? ( ) Sim ( ) Não

2. Quantos copos, aproximadamente, você toma por semana? ( ) 1 a 2 copos

( ) 3 ou mais copos

3. Qual é o sabor de refrigerante preferido?( ) do tipo “cola” ( ) de guaraná ( )

de uva ( ) de limão ( ) de laranja ( ) Outro.

4. Você consome suco natural e artificial? ( ) Suco Natural ( ) Suco Artificial

( ) Suco Natural e Artificial.

Desse modo, para a questão 1, o resultado encontrado foi:

Figura 1: Você consome refrigerante diariamente?

Fonte Dados própria pesquisadora

Segundo a Figura 1, ficou evidente que a maioria dos alunos tem costume de

consumir diariamente refrigerante, indicando a elevada apreciação pelo produto.

Inclusive, Estima et al. (2011) comenta que o local onde os alunos mais consomem

refrigerante é em casa, lanchonete e casa de amigos, sendo que o principal motivo

para o consumo é o sabor, a sede e a disponibilidade em casa.

Os resultados da questão 2 estão de acordo com esse panorama, conforme

Figura 2 abaixo:

Figura 2: Quantos semanalmente?

Fonte: Dados própria pesquisadora

Assim, nota-se que a ingestão de refrigerantes é significativamente maior

pelos alunos do Ensino Médio o que sugere ser propícia a implementação deste

projeto em todas as turmas de Ensino Médio do Colégio, contemplando o plano de

trabalho docente-PTD.

Já com o intuito de sanar a curiosidade dos alunos, já que se mantinha a

discussão entre eles se existia a preferência para o refrigerante “tipo cola” em

relação aos demais refrigerantes, a questão 3 foi elaborada. Os resultados seguem

apresentados na Figura 3.

Figura 3:Qual é o sabor preferido de refrigerante?

Fonte: Dados própria pesquisadora

Assim sendo, ficou evidente que a bebida mais consumida pelos alunos do

Colégio Estadual Tancredo Neves é o refrigerante a base de cola seguido do

refrigerante da fruta guaraná. Isso pode significar que os adolescentes são

facilmente influenciados pela mídia, considerando as técnicas de persuasão e

convencimento dos comerciais; já que coincidentemente, as propagandas dos

refrigerantes em maior evidência na mídia são os sabores preferidos dos alunos. A

questão 4, porém, confirmou que os alunos também consomem outros líquidos com

maior valor nutricional, como suco naturais e/ou artificiais, além dos refrigerantes

(Figura 4).

Figura 4: Você consome suco natural ou artificial?

Fonte: Dados própria pesquisadora

De maneira geral, essa atividade despertou nos alunos elevada cooperação,

reflexão e parceria entre os alunos. Esse fator, inclusive, tornou-se visível para toda

a comunidade escolar, que pôde acompanhar o desenvolvimento do projeto. Além

do mais, com a produção, a coleta de dados e posterior organização e análise dos

dados obtidos, os alunos puderam vivenciar o que é fazer pesquisa, executando

toda uma metodologia por eles planejada.

Já com relação à atividade experimental, o desafio inicial se deu por conta da

ausência de reagentes, motivando o uso de material alternativo, sendo que alguns

experimentos propostos pelos alunos não puderam ser executados, causando-lhes

certa frustração. Porém, por meio dos procedimentos desenvolvidos os alunos

puderam compreender, por exemplo, o que é pH e como se faz a medida de acidez;

as evidências de uma reação química, como liberação de gás ou precipitação; a

influencia da temperatura na solubilidade de um gás em solução, além dos conceitos

de dissolução e solubilidade. Inicialmente, na execução dos experimentos, foi

observado que os alunos tinham falta de conhecimento e, também, insegurança com

relação à manipulação das vidrarias e dos reagentes. Porém, com a orientação

oferecida e maior frequência de uso do espaço, esse fator foi minimizado, sendo que

o interesse e a autonomia desenvolvida pelos alunos ficaram explícitos quando um

grupo de alunos propôs comparar a acidez em outros refrigerantes e, ainda, eliminar

o corante de algumas das bebidas.

A apresentação dos resultados pelos grupos, analogamente, foi produtiva e

entrosada, já que os alunos não demonstraram dificuldade em interpretar e explicar

os dados aos colegas. Consequentemente, foi evidenciada uma melhor

compreensão nos conteúdos de química, quanto ao comportamento dos gases e as

transformações químicas.

Figura 5: Imagem da organização dos experimentos pelos alunos,

para apresentação dos resultados obtidos.

Já a leitura sobre as informações nutricionais, aliada à palestra da

nutricionista, permitiu aos alunos fazer a relação do tema com a obesidade, assunto

esse bastante difundido na mídia. A palestra os auxiliou a entender que no dia-a-dia

não é necessário “pular refeições” ou apenas ingerir líquido um dia inteiro para

desintoxicar o organismo e perder peso; ou ainda, que não é necessária a inclusão

de alimentos e refrigerantes diet e light na alimentação diária, mas sim a ingestão de

alimentos naturais como cereais, frutas, vegetais e verduras, além do consumo de

água potável. Os alunos que se expressaram durante a palestra confirmaram que é

usual trocar as refeições tradicionais por lanches, porém se renderam ao concordar

que apreciam o refrigerante e tem consciência de que a bebida em demasia pode

ser prejudicial à saúde, considerando-a um vício. De qualquer forma, nas cantinas

das escolas do Paraná, já não é permitida a comercialização de refrigerantes, devido

à lei Nº 14.423/2004 que dispõe sobre os serviços de lanches nas unidades

educacionais públicas e privadas que atendam a educação básica: “É vedada a

comercialização de alimentos e refrigerantes que contenham em suas composições

químicas, nutrientes que sejam comprovadamente prejudiciais à saúde”.

Sobre os vídeos explorados, de maneira geral, mostraram-se um excelente

recurso para induzir questionamentos e levantar as opiniões dos estudantes. Em

especial o vídeo da “fábrica de refrigerante”, os alunos ficaram impressionados com

a quantidade de máquinas, esteiras e robôs envolvidos no processo de fabricação

das embalagens de plástico, garrafas de vidro e latas de alumínio, sendo que não

deixaram de comentar sobre a substituição do homem pela máquina. Outra questão

que ficou melhor compreendida, na opinião dos alunos, foi sobre a energia

necessária para a confecção dos moldes e garrafas, a diferença de reutilizar e

reciclar, além dos custos e impacto ambiental dos processos. Já o vídeo sobre o

consumo de água trouxe aos alunos esclarecimentos sobre a composição química

do corpo e a relação entre o consumo de água e de refrigerante, a diferença de pH

de ambos os líquidos, entre outros itens como a ação oxidante ou antioxidante das

substâncias, a condutibilidade da água e sua tensão superficial. Os alunos

comentaram que é comum substituírem a água por refrigerante e sugeriram que este

vídeo deveria ser apresentado para todo colégio, pois julgaram ter informações

relevantes para o conhecimento de todos.

Ademais, os painéis produzidos pelos alunos resultaram nos seguintes títulos

e conteúdos: 1) “Composição química dos refrigerantes”: este painel continha os

ingredientes que compunham a maioria dos refrigerantes; e suas finalidades

específicas; 2) “Como seu corpo reage aos refrigerantes?”: apresentava o que

acontecia ao organismo com o passar do tempo a cada dez minutos; 3) “Rótulos de

diversos refrigerantes”: este painel mostrava rótulos de refrigerantes e dados sobre

os mais consumidos, além da observação sobre a quantidade de sódio no

refrigerante normal e diet.; 4) Gráficos e resultado da pesquisa sobre os

refrigerantes: continha os resultados do questionário aplicado pelos alunos aos

professores, funcionários e alunos do colégio.

Os painéis chamaram bastante a atenção das demais turmas de alunos,

principalmente o painel que mostrava como o corpo reage após a ingestão de

refrigerante e o do resultado da pesquisa realizado no colégio. De maneira geral,

essa etapa foi de grande valia, pois promoveu o diálogo entre os alunos que

participaram do projeto e os demais estudantes; e oportunizou a sociabilização do

conhecimento de modo diferenciado aos das costumeiras aulas em sala.

Analogamente, a produção da atividade cultural foi eficaz por aproximar as

áreas do conhecimento, química e arte, apesar da maioria dos alunos demonstrar

bastante inibição e dificuldade de expressão. Nesse contexto, foi refletida a

possibilidade de superação desse fator no futuro, com a promoção de mais espaço

para atividades desse gênero. No entanto, criativamente, foi produzido um vídeo em

que os alunos descrevem e representam o consumo exagerado de refrigerantes,

tratando da obesidade, diabetes e hipertensão. A paródia apresentada abaixo,

intitulada Gela Goela, é um outro exemplo de produção dos alunos.

Refrigerante Gela Goela é o melhor para você

É bom para a saúde só não ajuda a emagrecer

Aquela historinha de que ele estraga os dentes

É pura mentirinha de gente não inteligente

A gente só não garante que você não vai engordar

Eu conheço sua gula você pode exagerar

É Gela Goela pra lá. É Gela Goela pra cá

Volte agora comigo vamos juntos tomar

Vamos ver agora, o depoimento dessa gente

Que tomou o Gela Goela de maneira indecente

Eu continuo bem magrinha

Esbelta pra valer, mas fiquei com diabetes

E agora vou dizer

Vamos combinar refrigerante é muito bom

Basta tomar cuidado e beber com moderação

No teatro, representado por dez alunos, foi ressaltada a influencia das

propagandas na vida dos cidadãos Na cena foi simulada uma loja comercial, sendo

que cada aluno representava um refrigerante que estava à venda e que fazia crítica

à bebida concorrente. Desse modo, o público foi motivado a refletir sobre a

influência da propaganda e os efeitos relacionados ao consumo exagerado dos

refrigerantes. E de maneira divertida, já que algumas cenas resultaram em muitos

risos. Nessa etapa também houve o comentário sobre a continuidade do projeto,

pois os alunos manifestaram ter aprendido “coisas” novas. Destacaram, ainda, a

importância da parceria com a professora de arte, pois tiveram a oportunidade de

aprender a reutilizar e reciclar, sendo que os ensaios do teatro e da paródia foram

citados por eles como momentos de grande integração e fortalecimento dos laços de

amizade.

Figura 6: Imagens da Mostra de Painéis Teatro e Refrigerante

Caseiro produzidos pelos alunos.

Fonte: Própria pesquisadora

Por sua vez, o júri concretizou as ideias em um debate. O grupo dos

produtores expressou a importância e a qualidade dos alimentos. Os vendedores

destacaram a diversidade de refrigerantes no mercado, o diferencial de preço dos

produtos e a conquista de novos clientes, destacando a importância da propaganda.

Já o grupo dos consumidores destacou a acessibilidade ao produto e preocupação

com a qualidade nutricional da bebida. Nesse momento, com a questão problema

sendo retomada, foi percebido real amadurecimento no entendimento do tema.

Os exercícios propostos também resultaram apropriados para

desenvolvimento da linguagem química e organização de certos conceitos como

densidade, solubilidade, misturas, transformações químicas, gases, fatores que

interferem nas transformações químicas, solubilidade de sais e gases, acidez-pH,

propriedades e características da água e preparo de soluções, bem como os

conceitos de antioxidante, conservante e edulcorante. A representação de fórmulas

químicas foi a maior dificuldade demonstrada pelos alunos, porém a maioria

conseguiu solucionar os exercícios propostos.

De maneira geral, houve melhor desempenho dos alunos, observado inclusive

nas avaliações escritas, principalmente em comparação com outras turmas que não

foram inclusas no projeto.

Considerações Finais

Os resultados obtidos nesse trabalho apontaram progresso no processo de

ensino-aprendizagem dos alunos envolvidos, à medida que eles apreciaram o tema

“Refrigerantes” e a abordagem seguida, conheceram novos conceitos químicos e se

envolveram efetivamente nas atividades propostas. Houve exposição de ideias,

sugestões, promoção de diálogo e de produção escrita e oral, evidenciando que é

recomendável fazer uso de recursos de ensino variados e atrativos para provocar

modificações no dia-a-dia em sala de aula.

Os estudantes se sensibilizaram com o assunto e com toda discussão

direcionada à saúde e a política de venda, de consumo e de divulgação na mídia

referente às bebidas, o que reitera a validade da integração de diferentes áreas do

conhecimento e dos recursos de ensino variados para ampliação da aprendizagem

dos alunos.

A organização do laboratório de Química, por sua vez, implicou em trabalho

árduo, devido à situação de desorganização e abandono na qual se encontrava.

Porém, após a reativação do local e desenvolvimento dos experimentos, houve um

encantamento dos alunos pelo espaço e por realizar experiências. De qualquer

forma, devido à falta de reagentes, ainda é percebida a necessidade de maiores

investimentos direcionados aos laboratórios das escolas. De mesmo modo, torna-se

necessário que o professor tenha maior interesse pelo espaço e o use com maior

frequência como meio de promover a compreensão de seus alunos pelos

fenômenos da ciência.

De qualquer maneira, como esse projeto necessitou de horas de trabalho

extraclasse para ser contemplado, há de se refletir em como agregar essas tarefas

nas atividades diárias docentes, sem ultrapassar o regime de trabalho atribuído ao

professor; a fim de viabilizar a execução de muitos outros projetos promissores

voltados ao progresso do ensino-aprendizagem.

Em especial, recomenda-se a aplicação de júri simulado em sala de aula, pois

por meio dessa metodologia ficou evidenciado como os alunos precisam de suporte

para organizar ideias, explicitar opiniões e argumentá-las. Acredita-se que o uso

frequente, orientado e em grau de complexidade crescente dessa atividade pode

suprimir tal dificuldade ou inibição. O mesmo se aplica para as atividades culturais.

De qualquer forma, envolver os alunos no gerenciamento de certas tarefas,

como na organização do laboratório ou mostra de painéis, incrementa o aprendizado

e dá início ao desenvolvimento de autonomia no aluno, afinal o inclui na tarefa de

fazer e de aprender, principalmente quando surgem situações inesperadas e que

exigem solução a ser tomada.

Todos os questionamentos que surgiram sobre os refrigerantes e saúde,

principalmente após a situação problema exposta, bem como a palestra, o vídeo e

os textos explorados, também sugerem que mais ações educacionais envolvendo

nutrição devem ser priorizadas, inclusive com o intuito de estimular o consumo de

alimentos mais saudáveis.

Assim, espera-se que esse trabalho seja útil para os professores em atuação

reavaliarem suas práticas e para ampliação das discussões sobre o tema proposto

nos cursos de formação docente.

Referências

ABIR - Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas não

Alcóolicas, [s.d.]. Disponível em: <http://abir.org.br/>. Acesso em 22 de novembro de

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