OS RISCOS DO USO E DO DESCARTE INADEQUADO DE...

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PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 283 OS RISCOS DO USO E DO DESCARTE INADEQUADO DE MEDICAMENTOS VENCIDOS: método de análise alternativo para determinação de ácido salicílico em uma amostra de aspirina® vencida. Adriana Nascimento de Sousa 1,2 Eliane do Nascimento 2 Fernanda Boroni 1,2 Kyrlah Jerônimo 1,2 Resumo: Cresce no Brasil a discussão sobre qual destino dar aos medicamentos que não são usados pela população. Os usuários de medicamentos acabam fazendo o descarte destes de forma inadequada, os quais podem ter repercussões na saúde pública e ambiental. Neste trabalho, demonstrou-se que a Es- pectroscopia no ultravioleta-visível por derivadas, pode ser utilizada na determinação de ácido salicílico em comprimidos de ácido acetilsalicílico no produto comercial, Aspirina®. O método demonstrou ser de baixo custo, podendo ser uma alternativa viável em substituição à técnica farmacopéica. Com os resulta- dos obtidos demonstrou-se que o medicamento fora do prazo de validade possui alterações na sua composição e para que não haja riscos no seu descarte o correto seria a devolução para o fabricante, através de postos de coleta públicos e particulares. Palavras- chave: Espectroscopia UV-vis derivativa, ácido acetilsalicílico, medicamentos vencidos. INTRODUÇÃO Por desconhecimento ou falta de informação, grande par- te das pessoas acabam fazendo o descarte de medicamen- tos de forma inadequada, e esse despreparo na questão do manejo de resíduos químicos farmacêuticos em muitos lugares do mundo leva a graves danos a natureza, os quais podem ter repercussões à saúde pública e ambiental (GIL, 2005). Um estudo feito pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas e Bio- químicas, Oswaldo Cruz, entrevistou 1.009 pessoas na cidade de São Paulo e mostrou que apenas 2,7% dos entrevistados já haviam recebido alguma orientação sobre descarte de medica- mentos vencidos. O levantamento constatou que 75,32% das pessoas descartam a medicação no lixo doméstico e 6,34% jogam na pia ou no vaso sanitário. E mais, 92,5% nunca per- guntaram sobre a forma correta de fazê-lo (FENAFAR, 2011). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, entre 10 e 28 mil toneladas de medicamentos são jogadas fora pelos consumidores a cada ano. Esses medicamentos jogados no lixo ou no esgoto podem poluir o solo e a água e trazer riscos para o ambiente e para as pessoas. Os produtos químicos, como os medicamentos podem reagir de forma violenta com outra substância química, inclusive o oxigênio do ar ou com a água, produzindo fenômenos físicos tais como calor, com- bustão, ou então produzindo substância tóxica. Segundo Bila (2003) a presença desses fármacos na água pode causar efei- tos adversos à saúde, seja humana ou de outros organismos presentes nas águas, como os peixes. Outro problema relacionado a medicamentos vencidos é o uso destes por parte dos consumidores. Neste caso os danos causados podem ser ainda mais graves com ocorrência de in- toxicações, envenenamentos e até mesmo morte dos usuários (LAPORTE, 1989). Da “farmácia doméstica” decorrem inúmeros casos de medicamentos vencidos e de intoxicações medicamentosas (LAPORTE, 1989). Segundo os dados publicados pelo Siste- ma Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, os me- dicamentos ocupam a primeira posição entre os três principais agentes causadores de intoxicações em seres humanos desde 1996, sendo que em 2007 foram responsáveis por 30,3% dos casos registrados (SINITOX, 2009). Para que os medicamentos tenham sua plena ação, eles devem estar em condições adequadas de uso e dentro dos prazos de validade. Estes aspectos são importantes para a efi- cácia do tratamento e segurança do usuário. Após expirar o prazo de validade, os medicamentos vencidos devem ser inuti- lizados e descartados, para evitar problemas relacionados com os medicamentos como: intoxicações; uso sem necessidade ou sem indicação; falta de efetividade; reações adversas; entre outros (LAPORTE, 1989). Neste contexto, a Farmácia Escola do Centro Universitário

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PÓS EM REVISTA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA 1/2012 - EDIÇÃO 5 - ISSN 2176 7785 l 283

OS RISCOS DO USO E DO DESCARTE INADEQUADO DE MEDICAMENTOS VENCIDOS: método de análise alternativo para

determinação de ácido salicílico em uma amostra de aspirina® vencida.

Adriana Nascimento de Sousa1,2

Eliane do Nascimento2

Fernanda Boroni1,2

Kyrlah Jerônimo1,2

Resumo: Cresce no Brasil a discussão sobre qual destino dar aos medicamentos que não são usados pela população. Os usuários de medicamentos acabam

fazendo o descarte destes de forma inadequada, os quais podem ter repercussões na saúde pública e ambiental. Neste trabalho, demonstrou-se que a Es-

pectroscopia no ultravioleta-visível por derivadas, pode ser utilizada na determinação de ácido salicílico em comprimidos de ácido acetilsalicílico no produto

comercial, Aspirina®. O método demonstrou ser de baixo custo, podendo ser uma alternativa viável em substituição à técnica farmacopéica. Com os resulta-

dos obtidos demonstrou-se que o medicamento fora do prazo de validade possui alterações na sua composição e para que não haja riscos no seu descarte o

correto seria a devolução para o fabricante, através de postos de coleta públicos e particulares.

Palavras- chave: Espectroscopia UV-vis derivativa, ácido acetilsalicílico, medicamentos vencidos.

INTRODUÇÃO

Por desconhecimento ou falta de informação, grande par-

te das pessoas acabam fazendo o descarte de medicamen-

tos de forma inadequada, e esse despreparo na questão do

manejo de resíduos químicos farmacêuticos em muitos lugares

do mundo leva a graves danos a natureza, os quais podem

ter repercussões à saúde pública e ambiental (GIL, 2005). Um

estudo feito pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas e Bio-

químicas, Oswaldo Cruz, entrevistou 1.009 pessoas na cidade

de São Paulo e mostrou que apenas 2,7% dos entrevistados já

haviam recebido alguma orientação sobre descarte de medica-

mentos vencidos. O levantamento constatou que 75,32% das

pessoas descartam a medicação no lixo doméstico e 6,34%

jogam na pia ou no vaso sanitário. E mais, 92,5% nunca per-

guntaram sobre a forma correta de fazê-lo (FENAFAR, 2011).

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, entre

10 e 28 mil toneladas de medicamentos são jogadas fora pelos

consumidores a cada ano. Esses medicamentos jogados no

lixo ou no esgoto podem poluir o solo e a água e trazer riscos

para o ambiente e para as pessoas. Os produtos químicos,

como os medicamentos podem reagir de forma violenta com

outra substância química, inclusive o oxigênio do ar ou com

a água, produzindo fenômenos físicos tais como calor, com-

bustão, ou então produzindo substância tóxica. Segundo Bila

(2003) a presença desses fármacos na água pode causar efei-

tos adversos à saúde, seja humana ou de outros organismos

presentes nas águas, como os peixes.

Outro problema relacionado a medicamentos vencidos é o

uso destes por parte dos consumidores. Neste caso os danos

causados podem ser ainda mais graves com ocorrência de in-

toxicações, envenenamentos e até mesmo morte dos usuários

(LAPORTE, 1989).

Da “farmácia doméstica” decorrem inúmeros casos de

medicamentos vencidos e de intoxicações medicamentosas

(LAPORTE, 1989). Segundo os dados publicados pelo Siste-

ma Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, os me-

dicamentos ocupam a primeira posição entre os três principais

agentes causadores de intoxicações em seres humanos desde

1996, sendo que em 2007 foram responsáveis por 30,3% dos

casos registrados (SINITOX, 2009).

Para que os medicamentos tenham sua plena ação, eles

devem estar em condições adequadas de uso e dentro dos

prazos de validade. Estes aspectos são importantes para a efi-

cácia do tratamento e segurança do usuário. Após expirar o

prazo de validade, os medicamentos vencidos devem ser inuti-

lizados e descartados, para evitar problemas relacionados com

os medicamentos como: intoxicações; uso sem necessidade

ou sem indicação; falta de efetividade; reações adversas; entre

outros (LAPORTE, 1989).

Neste contexto, a Farmácia Escola do Centro Universitário

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Newton Paiva (FENP) como dispensadora de medicamentos, se

preocupa com o impacto social e ambiental que o descarte ina-

dequado de medicamentos vencidos ou não, podem ocasionar

ao meio ambiente e à sociedade, além dos vários problemas

que o uso de medicamentos vencidos pode ocasionar aos usu-

ários. Por isto a FENP com o intuito de informar e conscientizar

os usuários sobre o problema do descarte inadequado e o uso

de medicamentos fora do prazo de validade, propõe à verifica-

ção de produto de degradação gerado em uma amostra vencida

de Aspirina® comprimidos efervescentes cujo princípio ativo é o

ácido acetilsalicílico (AAS). A escolha deste produto se deve ao

fato de que o ácido acetilsalicílico é o analgésico mais consumi-

do e vendido no mundo.

A principal impureza presente no AAS é o ácido salicílico

(AS), que é um produto de degradação produzido pela hidróli-

se do ácido acetilsalicílico quando as condições de armazena-

mento não são adequadas como, por exemplo, em presença

de umidade, oxigênio atmosférico e luz, de acordo com o es-

quema 1 (ALLINGER, 1978; PAVIA, 1982).

Para avaliar a pureza do AAS, é mais comum determinar a

presença de AS do que medir o AAS presente. Isto é recomen-

dado na Farmacopéia Brasileira e na Farmacopeia Europeia, a

qual estabelece uma tolerância de 0,15% de AS em comprimi-

dos de AAS (EUROPEAN, 1997). O baixo limite tolerado deve-

se à irritação que o AS causa nas paredes do estomago, muito

maior que o AAS (ALLINGER, 1978).

De acordo com a Farmacopeia Brasileira (2010), determi-

na-se o teor de AS em comprimidos de AAS por uma análise

comparativa da amostra e um padrão contendo o máximo de

AS, que é permitido na amostra. Assim, neste trabalho, propõe-

se a aplicação de uma técnica de doseamento, do AS, alternati-

va à técnica farmacopéica, por meio da Espectroscopia UV-vis

derivativa. O uso desta técnica se justifica pelo impedimento

de aplicação da Espectroscopia direta (ordem zero) devido à

presença de grupos cromóforos semelhantes que absorvem

no mesmo comprimento de onda e, portanto não mostram se-

letividade na separação do AS e AAS (FERREIRA, 2003).

Na Espectroscopia derivativa obtêm-se o espectro funda-

mental (de ordem zero) da substância em análise e em segui-

da o próprio espectrofotômetro produz o espectro de primeira

e de segunda ordem (primeira e segunda derivada). O ponto

de anulação da primeira derivada (conhecido como zero cros-

sing) equivale ao comprimento de onda máximo do espectro

de ordem zero (normal). O comprimento de onda máximo no

espectro de segunda derivada equivale ao comprimento de

onda máximo do espectro de ordem zero. Os 2 pontos de anu-

lação do espectro de 2ª derivada equivalem aos comprimentos

de absorção máximo e mínimo da 1ª derivada (Figura 1). Assim

a quantidade do fármaco em uma amostra pode ser facilmente

determinada medindo-se a altura do pico no espectro de pri-

meira ou segunda derivada e interpolando-o em uma curva de

calibração previamente preparada com o padrão do fármaco

(O’HAVER, 1979).

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PARTE EXPERIMENTAL

DETERMINAÇÃO DE AS NO AAS DE ACORDO COM A FARMACOPEIA

BRASILEIRA 5ª ED.:

Pesou e pulverizou os comprimidos. Transferiu quantidade

de pó equivalente a 0,20 g de ácido acetilsalicílico para um balão

volumétrico de 100 mL. Adicionou 4 mL de etanol e agitou. Diluiu

para 100 mL com água resfriada, mantendo a temperatura infe-

rior a 10 °C. Filtrou imediatamente e transferiu 50 mL do filtrado

para tubo de Nessler. Preparou a solução de ácido salicílico pa-

drão a 0,01% (p/v). Transferiu 3 mL desta solução para um tubo

de Nessler, adicionou 2 mL de etanol e água em quantidade su-

ficiente para 50 mL. Adicionou 1 mL de sulfato férrico amoniacal

às soluções padrão e amostra. Comparar as duas soluções. A

cor violeta produzida com a solução amostra não deve ser mais

intensa que a obtida com a solução padrão.

PREPARO DA AMOSTRA DE ASPIRINA® COMPRIMIDO EFERVESCENTE

Pesou 20 comprimidos de Aspirina ® efervescentes e deter-

minou o peso médio. Retirou uma quantidade de pó contendo

cerca de 250 mg de Aspirina, transferiu para balão volumétrico

de 50 mL e dissolveu em etanol. Filtrou a solução e retirou 1 mL

do filtrado, transferiu para balão volumétrico de 25 mL e comple-

tou com etanol.

PREPARO DA SOLUÇÃO PADRÃO DE AS

Pesou cerca de 250 mg de AS padrão, diluiu em balão volu-

métrico de 50 mL e completou com etanol. A partir da solução

estoque, preparou a solução diluída de AS padrão na concentra-

ção 0,2 mg/mL em etanol. Realizou o espectro de varredura da

solução padrão de AS e obtiveram-se os espectros de UV-vis de

ordem zero, 1ª derivada e 2ª derivada.

Preparo da solução padrão de AAS

Pesou cerca de 250 mg de AAS padrão, diluiu em balão

volumétrico de 50 mL e completou com etanol. A partir da so-

lução estoque, preparou a solução diluída de AAS padrão na

concentração de 0,2 mg/mL em etanol. Realizou o espectro de

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varredura da solução padrão de AAS e obtiveram-se os espec-

tros de UV-vis de ordem zero, 1ª derivada e 2ª derivada.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A técnica farmacopéica para determinação do AS é uma

técnica semi-quantitativa onde uma solução padrão de AS con-

tendo o máximo de impureza que é permitido no AAS (cerca de

0,15 %) é comparado com a solução da amostra em análise.

Pode-se observar na figura 2, que a amostra de Aspirina ven-

cida apresenta quantidade de AS superior ao permitido, pois a

coloração desenvolvida na solução amostra foi muito superior à

desenvolvida no padrão.

* As soluções foram transferidas do tubo de Nessler para

o béquer para melhorar a visualização do resultado na foto.

Das soluções padrões diluídas de AS e AAS, foram obti-

dos os espectros de ordem zero, separadamente, e em se-

guida eles foram sobrepostos (Figuras 3, 4 e 5) para mostrar

a semelhança de absorção dos dois compostos. O espectro

padrão do AAS apresenta picos característicos em 210 nm e

em 235 nm. O espectro padrão do AS também apresenta os

mesmos picos característicos em 210 nm, 235 nm e ainda um

outro em 300 nm.

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Além dos espectros apresentados anteriormente, foi tam-

bém obtido o espectro da mistura das soluções de AS e AAS

(Figura 6), que revelou a presença de picos característicos

aos dois compostos (AS e AAS), confirmando a incapacidade

da técnica em analisar as duas substâncias seletivamente.

A figura 5 mostra que existe sobreposição de bandas de ab-

sorção do AS e AAS, impedindo que a Espectroscopia comum

(ordem zero) seja utilizada para determinação do AS em AAS. A

sobreposição das bandas (overlapping) de transição eletrônica

ou de transferência de carga em um mesmo solvente é um dos

problemas da Espectroscopia nas regiões do UV-vis de misturas

de substâncias com cromóforos semelhantes. Uma alternativa

eficiente é o uso da Espectroscopia de derivadas ou Espectros-

copia derivativa. A diferenciação do espectro de ordem zero

não aumenta as informações do espectro original, mas leva a

supressão das bandas largas, realça as bandas estreitas, e au-

menta a resolução de “ombro” para banda, etc., obedecendo,

ainda, a Lei de Beer-Lambert. Na sobreposição de espectros de

derivadas dos componentes de uma mistura, podem-se indivi-

dualizar melhor os constituintes e até eliminar a interferência de

um componente sobre o outro.

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Nos espectros sobrepostos de 1ª e 2ª derivadas (Figuras

7 e 10, respectivamente) pode-se observar que em certos com-

primentos de onda, apenas um dos fármacos absorve. Isto nos

fornece informações com seletividade e especificidade, possibi-

litando a determinação dos dois fármacos simultaneamente com

eficácia pela Espectroscopia derivativa. São também mostrados

os espectros individuais de 1ª e 2ª derivadas do AS e AAS nas

figuras 8,9 e 11,12, respectivamente.

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Observa-se nas figuras 7 e 10 que, em certos comprimentos

de onda (λ), ocorre a anulação do espectro de um componen-

te enquanto há absorção do outro. Deste modo, obtendo-se os

valores das amplitudes nos pontos de anulação (zero crossing),

é possível construir-se curvas de calibração, além de se eliminar

eletronicamente os erros sistemáticos provenientes de interferên-

cias (overlapping). Os espectrofotômetros que realizam varredura

de espectro apresentam no software opções para obtenção da

primeira até a quarta ou mais derivadas (SANTORO, 2005).

O espectro de UV-vis da solução amostra, Aspirina compri-

midos efervescentes, vencida a cerca de 1 ano, foi obtido nas

mesmas condições dos padrões de AS e AAS e é mostrado na

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figura 13. Pode-se observar neste espectro semelhanças com

o espectro da mistura dos padrões de AS e AAS (Figura 6), ou

seja, neste espectro observa-se picos referentes ao AAS, mas

também revela a presença de picos referentes ao AS.

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos mostram que o método de análise

por Espectroscopia no UV-vis (ordem zero) não é adequado

para diferenciar AS e AAS, pois ocorre sobreposição das ban-

das de absorção nos mesmos comprimentos de onda, tornando

este método não seletivo para as duas substancias. Já com a

Espectroscopia derivativa é possível determinar a impureza AS,

no AAS, pois quando se aplicam a 1ª e 2ª derivadas no espectro

de ordem zero ocorre diferenciação dos espectros de AS e AAS

tornando possível a determinação simultânea das duas substân-

cias na mesma análise.

A metodologia proposta neste trabalho configura-se, assim,

em alternativa extremamente vantajosa e viável para a solução

de problemas espectrais de sobreposição de mais de um com-

ponente. A grande vantagem da utilização da Espectroscopia de

derivadas está relacionada com a possibilidade de se minimizar

os problemas com interferentes, sem complicados procedimen-

tos de separação ou extração prévios, bem como não necessitar

de padrões ultrapuros exigidos na CLAE, além da grande pos-

sibilidade da validação do método no doseamento simultâneo,

aliada ao baixo preço. No entanto, para que os resultados obti-

dos neste trabalho possam ter aplicação quantitativa é necessá-

rio que seja feita a validação do método analítico.

Assim, ficou demonstrado que o medicamento fora do pra-

zo de validade possui alterações na sua composição, apresen-

tando produtos de degradação, o que justifica a sua inutilização.

E para não haver riscos no seu descarte, como por exemplo ser

tomado por catadores caso não seja devidamente segregado, o

correto seria a devolução para o fabricante, através da coleta por

postos de saúdes ou estabelecimentos particulares.

REFERÊNCIASALLINGER, N. L.; CAVA, M. P.; JONGH, D. G.; LEBEL, N. A.; STEVENS. Química Orgânic., Guanabara Dois, Rio de Janeiro, 2 ed., 961p, 1978.

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NOTAS DE RODAPÉ1 Farmacêuticos da Farmácia Universitária do Centro Universitário Newton Paiva. 2 Docentes do curso de Farmácia do Centro Universitário Newton Paiva.