Os três dias

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OS TRÊS DIAS Onde esteve Jesus entre o tempo da sua morte na cruz e sua ressurreição? Jesus desceu ao inferno (hades) pregar aos mortos e tomar as chaves do diabo? De acordo com os partidários que propagam positivamente essa crença, afirmam eles que o espírito (ou a alma) de Jesus foi ao inferno, enquanto que seu corpo permanecia no túmulo aguardando sua ressurreição. Esses creem que Jesus logo após sua morte na cruz " [...],tinha descido as partes mais baixas da terra?" (Ef 4.9) e "... pregou aos espíritos em prisão,[...]" (1Pd 3.19) que estavam em um lugar de cativeiro temporário (uma espécie de divisão bem- aventurada no hades para os justos que haviam morrido antes da expiação de Cristo na cruz - cf. Lc. 16.19-31), nessa ocasião "[...], foi pregado o evangelho também aos mortos,[...] (1Pd 4.6), e assim Jesus preparou as condições de "levar cativo o cativeiro" (Ef 4.8), ou seja, levar esses justos para o céu. Nesse interim, Jesus teria adentrado também na parte injusta do hades e teria tomado as chaves do diabo, com isso teria finalizado sua obra de redenção completamente! (Ap1.18) Alguns citam também Hebreus 2.14 na tentativa de consubstanciar que o diabo, antes da cruz de Cristo, possuía certa legalidade para aprisionar os homens, um tipo de império da morte! Vale informar com mais detalhes que, segundo essa interpretação, havia dois compartimentos nesse primeiro inferno (do grego hades ou seu equivalente hebraico sheol), digo primeiro porque esse lugar é provisório e distinto do inferno eterno/definitivo, conhecido no original grego como geena, lago de fogo de Apocalipse 19.20; 20.13-15, descrito como decorrente do Juízo Final após o Milênio. Uma parte era para os justos (santos da Antiga Aliança/AT) e a outra para os ímpios, eles estavam separados por um grande abismo (Lc 16.26) que ninguém podia ultrapassar. A seção dos justos era conhecida como "seio de Abraão" e a dos ímpios como um "lugar de tormento" ( Lc. 16.23,24). Apesar de serem lugares distintos, era como que geograficamente linear, e um lado podia visualizar o outro. Quando Jesus, sendo as primícias da ressurreição (1Co. 15.20), ascendeu aos céus (At. 1.9), Ele levou consigo o lado justo pela primeira vez (como está supostamente descrito em Efésios 4.8,9). Portanto, essa é a famosa doutrina da "descida ao hades", ela está presente em credos cristãos antigos como o "Credo Apostólico" e no "Credo de Atanásio", assim como em algumas confissões denominacionais. Entretanto, segundo Waine Grudem a frase em voga "desceu ao inferno" não consta na versão mais primitiva do Credo Apostólico, ela foi acrescentada somente no IV século (Teologia Sistemática. SP: Vida Nova 1999. Pag. 996, 1038). Um tipo de ensino como esse que não está bem explicito na Bíblia e uma sequência interpretativa como essa, geralmente deixa margens para diversas questões conflituosas! Estaria correto este ponto de vista? A interpretação e posterior significado dos textos bíblicos apresentados são dignos de crédito? Existem outras implicações contrárias para esse tipo de entendimento dos fatos que teriam ocorrido entre a morte e a ressurreição do Senhor? E, talvez um dos questionamentos mais importantes; este tipo de ensino/doutrina dá margens para implicações heréticas, ou seja, afeta outros ensinos mais claros e fundamentais da Bíblia? É este um ensino fundamental? Tentaremos analisar essas dúvidas a partir de agora e explicar o porque essa crença é problemática. Antes de continuarmos, vamos entender o que é o sheol: De acordo com o volume 9 do "The Bible Treasury", de 1912:

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Estudo a respeito do que Jesus fez e onde esteve nos 3 dias entre Sua morte e ressurreição.

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Page 1: Os três dias

OS TRÊS DIAS

Onde esteve Jesus entre o tempo da sua morte na cruz e sua ressurreição? Jesus desceu ao

inferno (hades) pregar aos mortos e tomar as chaves do diabo?

De acordo com os partidários que propagam positivamente essa crença, afirmam eles que o

espírito (ou a alma) de Jesus foi ao inferno, enquanto que seu corpo permanecia no túmulo

aguardando sua ressurreição. Esses creem que Jesus logo após sua morte na cruz " [...],tinha

descido as partes mais baixas da terra?" (Ef 4.9) e "... pregou aos espíritos em prisão,[...]" (1Pd

3.19) que estavam em um lugar de cativeiro temporário (uma espécie de divisão bem-

aventurada no hades para os justos que haviam morrido antes da expiação de Cristo na cruz -

cf. Lc. 16.19-31), nessa ocasião "[...], foi pregado o evangelho também aos mortos,[...] (1Pd

4.6), e assim Jesus preparou as condições de "levar cativo o cativeiro" (Ef 4.8), ou seja, levar

esses justos para o céu. Nesse interim, Jesus teria adentrado também na parte injusta do

hades e teria tomado as chaves do diabo, com isso teria finalizado sua obra de redenção

completamente! (Ap1.18) Alguns citam também Hebreus 2.14 na tentativa de consubstanciar

que o diabo, antes da cruz de Cristo, possuía certa legalidade para aprisionar os homens, um

tipo de império da morte!

Vale informar com mais detalhes que, segundo essa interpretação, havia dois compartimentos

nesse primeiro inferno (do grego hades ou seu equivalente hebraico sheol), digo primeiro

porque esse lugar é provisório e distinto do inferno eterno/definitivo, conhecido no original

grego como geena, lago de fogo de Apocalipse 19.20; 20.13-15, descrito como decorrente do

Juízo Final após o Milênio. Uma parte era para os justos (santos da Antiga Aliança/AT) e a outra

para os ímpios, eles estavam separados por um grande abismo (Lc 16.26) que ninguém podia

ultrapassar. A seção dos justos era conhecida como "seio de Abraão" e a dos ímpios como um

"lugar de tormento" ( Lc. 16.23,24). Apesar de serem lugares distintos, era como que

geograficamente linear, e um lado podia visualizar o outro. Quando Jesus, sendo as primícias

da ressurreição (1Co. 15.20), ascendeu aos céus (At. 1.9), Ele levou consigo o lado justo pela

primeira vez (como está supostamente descrito em Efésios 4.8,9).

Portanto, essa é a famosa doutrina da "descida ao hades", ela está presente em credos

cristãos antigos como o "Credo Apostólico" e no "Credo de Atanásio", assim como em algumas

confissões denominacionais. Entretanto, segundo Waine Grudem a frase em voga "desceu ao

inferno" não consta na versão mais primitiva do Credo Apostólico, ela foi acrescentada

somente no IV século (Teologia Sistemática. SP: Vida Nova 1999. Pag. 996, 1038).

Um tipo de ensino como esse que não está bem explicito na Bíblia e uma sequência

interpretativa como essa, geralmente deixa margens para diversas questões conflituosas!

Estaria correto este ponto de vista? A interpretação e posterior significado dos textos bíblicos

apresentados são dignos de crédito? Existem outras implicações contrárias para esse tipo de

entendimento dos fatos que teriam ocorrido entre a morte e a ressurreição do Senhor? E,

talvez um dos questionamentos mais importantes; este tipo de ensino/doutrina dá margens

para implicações heréticas, ou seja, afeta outros ensinos mais claros e fundamentais da Bíblia?

É este um ensino fundamental? Tentaremos analisar essas dúvidas a partir de agora e explicar

o porque essa crença é problemática.

Antes de continuarmos, vamos entender o que é o sheol:

De acordo com o volume 9 do "The Bible Treasury", de 1912:

Page 2: Os três dias

No Antigo Testamento a palavra Sheol ocorre sessenta e cinco vezes e é traduzida na versão

inglesa da Bíblia trinta e uma vezes como "sepultura", três vezes como "abismo" e trinta e uma

vezes como "inferno", o que significa que os excelentes tradutores da versão inglesa de 1611

não consideraram a palavra como tendo um significado uniforme. Ela aparece na versão grega

sessenta e uma vezes como Hades, duas vezes (2 Sm 22:6 e Pv 23:14) como "morte"

(thanatos), enquanto em duas passagens (Jó 24:19 e Ez 32:21) não exista uma contrapartida

exata das referências hebraicas que esteja reproduzida na Septuaginta, e por isso não há uma

representação dessa palavra nestes casos.

Já nas passagens que se seguem (existem outras), como Gn 37:35; Gn 42:38; Gn 44:29, 31: Nm

16:30, 33; 1 Rs 2:6, 9; Sl 49:15; Sl 141:7, a palavra Sheol pode muito bem não significar nada

além de "túmulo" ou "sepultura", e é assim que aparece na Versão Autorizada (King James)

(exceto em Nm 16, onde aparece como "abismo"); enquanto nos demais lugares costuma ser

feita uma referência genérica como o lugar para onde vão os espíritos que partiram. A

sepultura recebe o corpo. Assim, no Antigo Testamento a palavra Sheol (ou Seol) é usada para

ambos receptáculos.

Todavia, quando vamos para o Novo Testamento essa indefinição desaparece, pois vida e

incorrupção são coisas que agora são desvendadas ao longo do evangelho. O Hades, uma

representação genérica da palavra Sheol (Seol) aparece no Novo Testamento restrito ao

mundo invisível dos espíritos separados, ou como "morte", ou como a sepultura, e aplica-se

(Ap 20) apenas ao corpo, e não à alma ou ao espírito. É o corpo que morre; enquanto o

espírito retorna para Deus que o deu. O espírito e a alma nunca deixam de existir, seja para o

bem, seja para o mal. Além disso, o Hades recebe apenas os ímpios; enquanto o crente,

quando chamado a morrer, não vai para o Hades, mas para o Paraíso.

Mesmo assim costuma-se pensar que tanto bons quanto maus poderiam ir para o Hades,

apesar dessas duas classes de pessoas serem separadas por um grande abismo; mas em

nenhum lugar as Escrituras falam dos bons no Hades, ao contrário, sempre aparecem bem

longe dos que estão ali. É claro que, se considerarmos o Salmo 16:10 (que é duas vezes citado

em Atos 2) como ensinando que nosso Senhor ao morrer foi para o Sheol (Seol), ou Hades,

havendo sua alma não permanecido ali - como sabemos Ele foi para o Paraíso (um jardim de

delícias, não de trevas), onde também o ladrão que morreu foi recebido - então devem ter

existido neste caso duas áreas, respectivamente para os maus e os bons. Mas este erro vêm de

uma tradução equivocada do Salmo na versão de 1611 (King James). O que o versículo

realmente diz é, "Não deixarás (abandonarás ou relegarás) minha alma para (e não "no") Sheol

(ver Revised Version), e esta forma é confirmada também pelo texto corrigido de Atos 2:27

(aceito pelos editores críticos Lachmann, Tischendorf, Tregelles, Westcott e Hort, e pelos

revisores - isto refere-se à mais recente edição na época do valioso trabalho de W. Kelly, "The

Preaching to the Spirits in Prison", 1910, pgs. 125, 133-139)

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Perguntas e respostas sobre o sheol:

1. Ao dizer que ficaria "o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra" (Mt 12.40), e

que o Senhor "tinha descido às partes mais baixas da terra" (Ef 4.9), poderia isso significar algo

além de, no primeiro caso, a sepultura, e no segundo, o pó da terra e a sepultura?

Entendemos "seio da terra" ou "partes mais baixas da terra" como a sepultura. O Senhor não

apenas morreu, mas foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia. Jonas era um sinal disso. O

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Salmo 139.15 pode nos ajudar a nos guardarmos de uma interpretação muito literal das

palavras "partes mais baixas da terra" que poderiam parecer indicar como algo fora de vista ou

um lugar escondido. O sepulcro existiu com certeza e foi fechado pela pedra (Mt 27.66). Assim

nenhum olho humano poderia perscrutar esses santos domínios onde o corpo de Jesus ficou.

2. Seria bíblico dizer que Sheol (Seol) ou Hades (inclusive o seio de Abraão e o Paraíso)

estariam sob a terra? E que o Senhor Jesus desceu ali e esvaziou um dos compartimentos

levando os salvos para as alturas? Ou o Paraíso ou seio de Abraão estiveram sempre no céu, e

nunca sob a terra, mesmo nos tempos do Antigo Testamento?

Antes da vinda do Salvador o seio de Abraão representava o ápice da bênção para o judeu

piedoso, considerando que Abraão foi chamado de amigo de Deus! Estar "com Cristo" é a

perspectiva de bênção que o cristão tem agora revelada para si. Isso ocorre no Paraíso de

Deus, nas alturas. O Paraíso não é o Hades, e tampouco Abraão esteve no Hades, mas é visto

"ao longe" das almas atormentadas que estão no Hades (Lc 16.23). É loucura alguém pensar

que o Senhor desceu ao Hades e libertou qualquer um que estivesse ali. O Senhor não foi ao

Hades, mas ao Paraíso. Tampouco as Escrituras dão qualquer ideia de que exista uma

libertação do Hades. Juízes 5.12; Salmos 68.18, Efésios 4.8 falam, não de ter libertado

prisioneiros, mas de ter levado cativo o cativeiro e os poderes opressores do mal, aqui

chamados de "cativeiro". Cristo derrotou as potestades e principados (maus) e os exibiu

publicamente ao triunfar sobre eles (Cl 2.15). Ele levou cativo o próprio cativeiro; não existe

qualquer menção de ter livrado cativos do inferno, como alguns querem entender.

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Em primeiro lugar essa crença de que Jesus tomou as chaves do diabo é infantil (para não dizer

mitológica) e desprovida de entendimento bíblico/teológico sensato. Jesus de forma alguma

precisaria tomar algo do diabo! Primeiro porque Ele já possuía, antes mesmo da cruz, "todo

poder no céu e na terra" (Mt. 6.13; 28.18). Apocalipse 1.18 diz somente que Jesus possui as

chaves, isto é, Jesus tem total autoridade de matar e condenar ao inferno, Ele é o Justo Juiz (Sl.

75.7; At. 17.31; Tg. 4.12; 1Jo. 2.1), e não que Ele precisou pegá la do diabo, pois sempre as

possuiu por direito divino. Não está escrito que Jesus tomou as chaves de alguém, mas que Ele

possui as chaves. O texto é claro!

Em segundo, o diabo nunca esteve no inferno, pois ele é 'o príncipe das potestades do ar' (Ef.

2.2). Ele nunca esteve dominando preso em um lugar específico, ele está solto por aí até

determinado dia e hora estipulado por Deus. Em Mateus 4, na ocasião que o diabo tentou

Jesus, o texto diz que o embate foi travado em um deserto (vs. 1), na cidade santa (vs. 5) e em

um alto monte (vs. 8) e não no inferno! Pedro ensina que "...o diabo, vosso adversário, anda

em derredor,[...], buscando a quem possa tragar." (1Pd. 5.8). O que nos mostra que o inferno

não é “um reino do diabo”, um lugar em que ele viva e reine, e que esteja lá. Ele está por aí,

onde quer que tenha pessoas ele se locomove livremente.

Ao contrário da crença popular, biblicamente possivelmente ele jamais irá para lá. Em

Apocalipse 20.1,2 e 3 ele é preso e lançado no abismo por mil anos, não no inferno. No vs. 10,

em sua derrota final, ele é lançado no lago de fogo e enxofre, mas esse lago não é o inferno.

Basta seguir a leitura bíblica até os versículos 12 a 15, nessa parte da narrativa, o inferno

também é lançado no lago de fogo e enxofre.

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Terceiro, em lugar nenhum a Bíblia ensina que o diabo possui essa autoridade toda que muitos

insistem em conceder a ele! Hebreus 2.14 não ensina que o diabo era o rei da morte antes da

obra de Cristo na cruz e possuía o poder de matar o pecador ou coisa parecida! Ele possuía (e

ainda possui) certo poder para certas atividades, mas não autoridade de tirar a vida de alguém,

essa autoridade é exclusiva de Deus! O AT, na dispensação antes da cruz de Cristo, assim já

ensinava: "O SENHOR é o que tira a vida e a dá;[...]" (1Sm 2.6). Em Jó 1.12; 2.6, outra época

antes da obra de Cristo na cruz, vemos o claro exemplo do limitado poder do diabo em relação

a vida humana. Deus é o Criador e o diabo é uma criatura e, em hipótese alguma, o diabo

sobrepõe a vontade permissiva de Deus em qualquer atividade; nem depois e nem mesmo

antes da cruz, e nem nunca!

Possivelmente hebreus 2.14 esteja querendo dizer em relação ao diabo que, ele, devido ao

pecado humano e posterior afastamento de Deus (isso depois da queda do primeiro casal no

jardim do Éden), o diabo como pioneiro em incitar o pecado (Gn 3.1) e grande incentivador da

inimizade com Deus, passou a ter certa influência (como ainda tem) em escravizar as pessoas

no pecado! Tendo Jesus quebrado essa dinâmica influência em sua obra na cruz! (1Jo 3.8).

Entretanto, é o pecado da pessoa que causa a morte determinada por Deus e não o limitado

diabo. Ele pode até influenciar, mas a responsabilidade final é do ser humano livre. Ele pagará

sua própria dívida pelo seu serviço ao mal, mas não levará a culpa que é do pecador. Talvez um

bom paralelo disso seja o próprio evangelho de Mateus cap. 4, especificamente nos versículo 8

e 9; o diabo ofereceu a Jesus um sistema iníquo de pecado do qual possuía acesso livre, mas

não o poder absoluto, do contrário, ninguém deixaria de sair de suas garras jamais. Hebreus 11

ensina que muitos justos antigos, antes mesmo de Cristo, não andavam com o diabo e sim com

Deus, entretanto, na qualidade de pecadores imperfeitos, estavam sujeitos a influência

demoníaca e do poder potencial da morte, mas isso não os deteve de ter comunhão salvífica

com Deus. O diabo é uma entidade com muitos poderes, mas nenhum absoluto.

Além do mais, esse tipo de doutrina tem alimentado a heresia unitarista (assim como diversas

aberrações doutrinais do movimento confissão positiva - ver "Cristianismo em Crise" de Hank

Henegraaff, RJ: CPAD 1996, a partir da pág. 175) que defende que Jesus desceu ao inferno para

pagar o preço de nossa remissão/redenção/salvação ao diabo e não ao Pai como ensina

Efésios 5.2!

Mas o Jesus da Bíblia satisfez a justiça de Deus Pai e completou esta exigência na cruz do

Calvário quando bradou "Está consumado" ( Is 53; Jo 3.16; Rm 3.24,25; 8.32), e tudo de uma só

vez, de uma vez por todas no episódio da cruz (Hb 9.11,28; 10:10-14). Não há dúvidas dessa

singularidade única da expiação sem nenhum posterior a mais.

Jesus não desceu, mas subiu!

Entretanto, existem seus problemas com a crença da descida ao hades, vejamos: A questão

principal é: Para onde foi Jesus após sua morte na cruz? O que parece mais claro foi que Jesus

afirmou que seu espírito estava indo diretamente para o céu quando afirmou "Pai nas tuas

mãos entrego meu espírito" (Lc 23.46). O espírito seria entregue aos cuidados da pessoa do

Pai, apesar de Onipresente, se entende que o Pai esteja acima - no céu, e não embaixo no

hades (Mt 3.17; 12.50). "Ele (Jesus) voltou em espírito para seu Pai no céu." (BEP. pág 1562)

Aqui já aparece o primeiro conflito de localização! Um pouco antes dessa invocação, Jesus

havia prometido ao ladrão arrependido que estava ao seu lado na crucificação que "Hoje

estarás comigo no paraíso" (Lc 23.43)! Assim, alguns adeptos da descida ao hades, irão replicar

em torno da localização deste lugar chamado "paraíso". Alguns pensadores desta doutrina

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chegam a admitir que se tratava de um sinônimo do seio de Abraão (a parte boa do hades)!

Entretanto, analisando o contexto imediato o que podemos perceber? O ladrão arrependido

diz a Jesus: "Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino." Jesus responde, como

descrito acima, que o levaria ao paraíso. No entendimento imediato percebe se que este

paraíso que Jesus cita é Seu reino, suplicado pelo ladrão.

Onde fica o reino de Jesus? Em João 18.36 o Mestre respondeu que "O meu reino não é deste

mundo". O ladrão arrependido suplica pelo Reino celestial do Senhor. (R N Champlim)

"(paraíso) é usado por Jesus, não para descrever um estado intermediário, mas para assegurar

ao penitente uma felicidade celestial." (O Novo Comentário da Bíblia. SP: Vida Nova 1997. pag

1056) Com certeza este ladrão devia ter ouvido anteriormente alguma pregação de Jesus

sobre este Reino.

Apesar de haver um extenso debate em torno da natureza do reino de Deus, onde muitos tem

chegado à conclusão que se trata de uma tensão entre o "aqui e o ainda não", depende do

texto para se definir a localização, também não temos certeza se o hades fica, ou o inferno

ficará, em baixo de nossa terra física propriamente dita, o termo paraíso é comumente usado

na cultura judaica para designar o Céu - a presença de Deus! O Céu e o Paraíso seriam

designações do mesmo lugar, foi assim que o apóstolo Paulo definiu o termo paraíso em

2Coríntios 12.2,4 - o terceiro Céu! (BEP. pág 1562) Sendo assim, foi para o céu que Jesus e o

ladrão arrependido foram depois de terrem morrido naquela fatídica sexta feira.

Jesus foi para o céu entregar o sacrifício ao Pai e não para o inferno tomar autoridade do

diabo. Entretanto, não é difícil aparecer um "esperto", replicando que, Jesus havia afirmado a

Maria Madalena em uma de suas aparições no pós ressurreição que, "Não me detenhas,

porque ainda não subi para meu Pai." ( Mc 16.9; Jo 22.11-18) Todavia, esse texto tem sido

melhor compreendido como uma referência de Jesus à sua ascenção ao céu de corpo

ressurreto/glorificado e não uma contradição de sua primeira ida em espírito, como aconteceu

no pós cruz, no qual Jesus entregou o seu sacrifício ao Pai. Jesus ainda não havia subido em

corpo e alma, mas já havia estado lá em espírito como ensina o evangelho de Lucas. A Revista

"Defesa da Fé" Junho 2002, respondendo exatamente a esta questão na seção icp responde,

traz boa explicação que diz que a ênfase maior dessa passagem não é exatamente a questão

de Jesus ter subido ou não, "pois Jesus como Deus sempre esteve junto ao Pai,..." (Op. Cit. pag

62), mas sim, a questão de que Maria ainda queria ter uma comunhão com Jesus aos moldes

terrestre, como tinham tido antes da crucificação, "...como que Maria desejasse nunca mais

perder Jesus de vista." (Ibdem). Sendo assim, Jesus a repreende para que a mesma não o

detenha, pois dali em diante, eles teriam uma comunhão muito mais gloriosa, a comunhão

espiritual! Portanto, as situações das narrativas de Lucas e João são distintas, com objetivos e

ênfases diferentes e não contradições de um mesmo evento.

Esclarecendo Efésios 4.8,9, 1Pedro 3.18,19; 4.6 e supostos paralelos

A expressão que aparece no texto de Efésios 4.9 "[...], tinha descido às partes mais baixas da

terra?", (vide tb. Sl 68.18) segundo os crentes da descida ao hades, ainda encontra paralelos

em Atos 2.27-31 e Romanos 10.7. Entretanto, não são fracas as vozes que levantam se para

afirmar que a referida expressão não se tratava de uma referência ao inferno temporário, mas

uma simples alusão a sepultura, pois "até mesmo o ventre de uma mulher é descrito como

sendo 'profundezas da terra' ". (Norman Geisler. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e

"Contradições" da Bíblia. SP: Mundo Cristão 1999. pág 484, vide Salmo 139.15,16) Essa é uma

expressão idiomática da cultura hebraica que significa cova, túmulo, lugares fechados da terra

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em oposição as partes mais altas como as montanhas! (Ibdem. Op. Cit. vd tb. Henegraaff, Op.

Cit. Pag. 178) Além do mais, o inferno não se encontra nas partes mais baixas da terra, mas

embaixo da terra segundo Filipenses 2.10

Ainda: o contraste da expressão "partes mais baixas da terra" é "acima de todos os céus" (vs

10), assim alguém pode alegar que não há comparação com as montanhas! Mas Charles Ryrie

resolve a suposta discrepância refutativa de Geisler em nota afirmando que "[...], a expressão

'terra' pode ser uma frase apositiva, indicando que, em sua encarnação, Cristo desceu às

regiões inferiores (do Universo), isto é, à Terra." (a Bíblia anotada: edição expandida. SP:

Mundo Cristão 2007. pag 1153) Portanto, não se trata da descida ao hades, mas da encarnação

do Verbo (Mt 1.18; Jo 1.14) - posição que o Novo Comentário da Bíblia acha a mais satisfatória!

(cf. Op. Cit. pag 1260)

Finalmente, quando Jesus "levou cativo o cativeiro", não estava levando os salvos antigos para

o céu, mas trazendo inimigos a uma prisão. Pode ser uma referência a sua vitória sobre as

hostes demoníacas, tomando os despojos da batalha pelo seu Todo poder e concedendo dons

aos crentes, esses, pelo uso desses dons, podem vencer esses inimigos até a consumação final.

Os salvos não são "cativos no céu", não são levados para lá contra sua livre vontade! (Mt

23.37) O assunto principal de Efésios 4 é o dom da graça de Deus e que esses carismas estão

associados com a ascenção de Jesus ao Céu - sua vitória.

O que dizer então do material petrino - 1Pedro 3.18,19; 4.6?

Para R N Champlim em sua "Enciplopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia" os textos de Pedro

comprovam claramente a descida e, quem se atrever a objetar, segundo esse doutor, não

passa de um picareta hermenêutico! Todavia, que o método do mesmo é limitado somente ao

texto petrino, ou seja, seus comentários sobre esse material não se abrem aos paralelos da

ideia e o mesmo não se preocupa com as implicações da doutrina (lembrando que uma

doutrina, para se comprovar bíblica deve estar em concordância com todo o restante das

Escrituras).

Se afirmarmos o que se presume de imediato, ou seja, que Jesus "...pregou aos espíritos em

prisão,[...]" ,e que "[...], por isso, foi pregado o evangelho também aos mortos,[...]", teremos

de reconhecer que os falecidos (justos ou injustos) têm/terão uma segunda chance de

salvação depois de morrerem! Mas isso vai de encontro ao ensino geral da Bíblia de que,

"[...]como o homem está destinado a morrer uma só vez, e depois disso enfrentar o juízo,[...]"

(Hb 9.27), e com ele o destino eterno das pessoas, sem qualquer mudança de estado (Lc

16.26). Pois o que vale para a definição do estado eterno do homem é sua vida aqui e agora (Ez

18; Lc 16.31). A expiação de Cristo foi em vida/na carne, logo a aceitação dessa pelo expiado

(quem crer e for batizado) é em vida/carne também necessariamente. Uma coisa implica na

outra sem dúvidas.

Sendo assim, o mais provável para explicar essas expressões da parte de Pedro é o contexto

bíblico imediato. Ou seja, que a primeira expressão "espíritos em prisão" refere-se a geração

desobediente dos dias de Noé, como está descrito no versículo seguinte do texto (vs 20, cf,. tb.

2Pd 2.4,5)! Jesus, pelo Espírito Santo, através de Noé ( 2Pd 1.20,21), proclamou mensagens de

advertência àquela geração corrupta, que agora está no hades esperando a ressurreição do

corpo para o Juízo Final ( Ap.20)! Se Jesus tivesse pregado no mundo dos espíritos, com certeza

Ele teria pregado a todas as gerações passadas e não somente às pessoas contemporâneas de

Noé, pois Deus não faz acepção de pessoas (At 10.34).

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Em relação a expressão de 1Pedro 4.6; temos que ter cuidado ao interpretar a Bíblia, ela não é

fácil em certas passagens e pode nos pregar peças no que concerne a cronologia dos fatos.

Segundo boa parte dos estudiosos Pedro escreveu sua primeira carta entre 60-63 dC e, assim,

segundo Ryrie, Pedro está se referindo aos irmãos cristãos que já haviam morrido

naturalmente ou martirizados até aquele momento. "O evangelho foi pregado àqueles

mártires agora mortos." (Op. Cit. Pag. 1224. Ver tb. nota da NVI SP: Vida 2003).

Sobre Atos 2.27-31 o texto tem como ponto central a ressurreição de Jesus (vs 32) e o hades

nesse verso refere se a sepultura comum (Ryrie). Romanos 10.7 é uma outra referência ao

túmulo onde o ponto central do texto é que, encontrar a justificação pela fé não é necessário

nem subir ao céu nem muito menos descer ao abismo, mas apenas crer no Senhor (vs 6,9).

A divisão do hades. Doutrina bíblica ou artimanha interpretativa?

A ideia do hades dividido vem do Talmude (comentários judaicos do AT). Parece que um

rabino antigo havia percebido que Jacó insinuou que poderia ir para o sheol (equivalente

hebraico de hades em muitas passagens da Bíblia, entretanto, é as vezes traduzido como

sepultura, cova, inferno, varia conforme contexto). De uma forma ou de outra, assim como os

credos em si, esse tipo de documento não é autoridade divina para nós e consequentemente

não serve de apoio doutrinário para um cristão.

No contexto de Jacó (Gn 44.29,31) há quem diga que o patriarca refere se a sepultura comum,

onde coloca se o corpo (assim como Davi viu ossos na porta da sepultura, Sl 141.7, aqui sheol).

"Cãs" nessa passagem refere se aos cabelos grisalhos do patriarca! Já no que diz respeito a

Gêneses 37.35 segundo Russell N Champlim a tradução de sheol no texto supracitado envolve

longa história do desenvolvimento teológico e não fica claro o que Jacó quis dizer, pois não se

sabe até que ponto havia evoluído a doutrina sheolísta nos dias de Jacó! Jacó parece não ter

dado a entender mais do que o fato de que algum dia, ao morrer, seguiria José à sepultura (o

que corresponde a nossa versão em língua portuguesa.

No contexto de Jacó (Gn 44.29,31) há quem diga que o patriarca refere se a sepultura comum,

onde coloca se o corpo (assim como Davi viu ossos na porta da sepultura, Sl 141.7, aqui sheol).

"Cãs" nessa passagem refere se aos cabelos grisalhos do patriarca! Já no que diz respeito a

Gêneses 37.35 segundo Russell N Champlim a tradução de sheol no texto supracitado envolve

longa história do desenvolvimento teológico e não fica claro o que Jacó quis dizer, pois não se

sabe até que ponto havia evoluído a doutrina sheolísta nos dias de Jacó! Jacó parece não ter

dado a entender mais do que o fato de que algum dia, ao morrer, seguiria José à sepultura (o

que corresponde a nossa versão em língua portuguesa).

Todavia, a quem replique contra tudo isso com persuasiva argumentação; Na Bíblia

Apologética (SP: ICP 2000. pág. 60) em nota deste verso de Gêneses 37.35 o comentário

defende que "Jacó não considera o sheol como simples sepultura", pois Jacó deseja ir

encontrar com seu filho no sheol, "embora o corpo de José, para Jacó, houvesse sido

devorado". Realmente pela dedução lógica da passagem o raciocínio imposto pelo ICP é

praticamente irrefutável, entretanto, talvez Jacó, devido a sua vida de autos e baixos, tinha em

mente sua indignidade de ir direto para o céu (cf.) e, diante também da grande tristeza em

perder o filho querido, desejou subjetiva-desesperadamente ir para tal lugar! Isso não quer

dizer que o fato de Jacó desejar ir para o sheol provasse que este lugar era dividido. Não seria

essa passagem simplesmente descritiva, diante da tristeza do patriarca, e não que o mesmo

estivesse estipulando uma informação da divisão do inferno pré cruz?

Page 8: Os três dias

Seguindo, a ideia da divisão do hades é vislumbrada mais claramente em Lucas 16.19-31.

Não entrando no mérito de se o texto lucano é uma parábola ou uma história real. Ainda que

seja um texto figurativo isso não significa que seja uma fábula! As parábolas são usadas como

símbolos de verdades espirituais, sombras projetadas das realidades (Lc 16.9, 23), fabulas são

fundadas em elementos fantasiosos, parábolas não. O que importa nesse texto é que Jesus nos

fornece claras lições do estado intermediário dos mortos, detonando com um só tiro as

heresias materialistas, do sono da alma, da reencarnação e do purgatório. Entretanto, em

relação a nossa discussão, algumas ponderações devem serem feitas em relação a literalidade

da divisão que é comumente crida:

Possivelmente Talvez o ponto central do ensino de Jesus não era que o local era dividido em

dois compartimentos; Primeiro porque o seio de Abraão pode muito bem estar se referindo ao

céu (Lc 16.23), pois em nenhuma parte é descrito como sendo no inferno. O lugar para onde

Abraão foi não é o Reino dos Céus (Mt 8.11)? Segundo porque o fato do texto descrever que o

rico avistou a Lázaro não significa que Lázaro se encontrava numa dimensão geográfica

linear/horizontal à do rico! O rico podia estar tendo uma visão vertical e estar vendo o Reino

dos céu, pois o mundo espiritual é um mistério geográfico e pelo que parece o fator espaço

não é o problema maior nessa dimensão da vida. O que Jesus queria nos ensinar mesmo era

que, o céu e o inferno são reais, que o destino dos homens está condicionado entre esses dois

únicos lugares, e que nosso destino no pós morte depende de nossa fé/relacionamento com

Ele! Nada mais importante do que essas coisas.

Devemos entender que Jesus não estava ensinando onde ou como era o paraíso ou o hades,

antes estava falando a respeito do destino eterno do homem.

Salvação na Antiga Aliança:

Possivelmente os santos do Antigo Pacto iam diretamente para o céu como nos casos mais

específicos de Enoque (Gn 5.24) e Elias (2Rs 2.1) Na ocasião da transfiguração de Jesus (Mt

17.3) foi do céu que Moisés e Elias vieram! Os santos do AT tiveram de esperar a ressurreição

de Cristo para que seus corpos fossem ressuscitados (Mt 29.53; 1Co 15.20), mas suas

almas/espíritos estavam no céu (Ec 12.7). Na Antiga Aliança, os sacrifícios exigidos pelo Senhor

para expiação do pecado eram de fato reconhecidos por Ele. Ele perdoava os antigos justos

obedientes ao seus mandamentos, assim como perdoa os cristãos. Cristo foi o Cordeiro de

Deus "morto desde a fundação do mundo" (Ap 13.8) e talvez, os antigos santos iam para o céu

pelos méritos de Cristo que Deus Pai sabia que Jesus cumpriria! A ideia de que não havia

salvação antes de Cristo é equivocada, ainda que a obra Messiânica tenha sido a mais

importante da história e destinada exatamente com este objetivo, isso não significa que os

justos pré cristãos não eram reconhecidos e perdoados por Deus, pois neste período vigorava

aquilo que é conhecido como a "dispensação da lei", quem cumpria recebia a vida eterna com

certeza! Jesus veio na plenitude dos tempos para cumprir todas as coisas, mas antes disso

Deus fazia justiça, principalmente com seus servos sinceros. (Is 65.17, 66.22; Hb 11.16, 26, 38).

Talvez isso também responda a questão daqueles que morrem sem ouvir falar no evangelho.

As pessoas em geral tem responsabilidades diante de Deus, mesmo sem conhecer a Palavra da

verdade, elas possuem as vontades básicas de Deus dentro de suas mentes/corações -

impregnadas em sua alma/espírito! (Rm 1. 20; 2.12-15) É o que convencionou se chamar de

"imago dei", ou imagem de Deus. (Gn 1.26) Deus colocou a eternidade no interior de todo ser

racional (Ec 3.11). Hebreus 1.1, Colossenses 1.23 e Atos 17.30,31 podem ajudar a entendermos

melhor essa suposta injustiça, "pois tendo Deus falado de muitas formas e de muitas

Page 9: Os três dias

maneiras...". Por acaso algum “analfabeto do evangelho” chegará inocente diante do Grande

Trono Branco? Deus fala de muitas maneiras, com toda certeza sua maneira mais eficaz é

através do evangelho, por isso o imperativo Ide de Jesus, entretanto, Deus também fala de

outras formas. Por exemplo, Deus fala pela cosmologia (Sl 19), pela percepção das pessoas

(Rm 1.19), pela consciência delas (Rm 2.14-16), pela falna e a flora (Jó 12.7,9; 38; Mt ), pela

subconsciência/sonhos (Jó 33.14-18), angelicamente (Ap 14.6), miraculosamente (Hb 2.4), etc!

Certamente que é muito difícil para as pessoas que desconhecem a vontade de Deus pela

Revelação Bíblica cumprir naturalmente essa vontade e se salvar por seus bons

procedimentos, mas com certeza haverá exceções baseadas na revelação Natural/Geral do

Senhor da Justiça! Não que isto seja a regra, mas Deus pela sua graça pode conceder salvação

para quem agiu bem e nunca tenha tido oportunidade de ouvir o evangelho! Segundo se

depreende de textos como (Rm 4.5,6; Hb 10.38; Jn 3.10) as pessoas que nunca tenham ouvido

falar de Cristo serão julgadas e avaliadas segundo suas obras. Com certeza era o que devia

acontecer no AT.

Exploremos mais algumas ideias:

Quem são os espíritos em prisão para os quais Jesus pregou, em I Pedro 3.18-21?

Alguns comentaristas bíblicos identificam a pregação aos “espíritos em prisão” mencionada

em I Pedro 3:19 como uma suposta pregação de Cristo, após a Sua morte e antes de Sua

ressurreição, aos espíritos desencarnados dos antediluvianos. Outros chegam a propor que

Cristo foi pregar, após Sua ressurreição, aos anjos maus que haviam sido desobedientes nos

dias de Noé.

A primeira dessas teorias é inaceitável, pois contraria o claro ensino bíblico de que “aos

homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo” (Hb 9.27). Seria,

portanto, completamente anti bíblico pretender que Cristo, enquanto morto para esse mundo

ou mesmo após Sua ressurreição, haja descido ao inferno para estender uma nova

oportunidade de salvação aos pretensos espíritos desencarnados dos antediluvianos.

Já a teoria de que Cristo pregou, após Sua ressurreição, aos anjos maus que haviam sido

desobedientes nos dias de Noé não consegue responder satisfatoriamente algumas questões

básicas: Que necessidade haveria de Cristo pregar aos anjos caídos, sendo que estes já não

tinham mais acesso à salvação (Jd 6)? Como conciliar o fato de I Pedro 3.20 qualificar esses

“espíritos em prisão” como havendo sido desobedientes “noutro tempo” com o conceito

bíblico de que os anjos maus continuam desobedientes até hoje (Ef 6.12; I Pe 5.8)?

Já os “espíritos em prisão” (verso 19), que foram o alvo da pregação de Cristo, são

identificados no verso 20 como sendo os “desobedientes” antediluvianos dos “dias de Noé”. O

termo “espírito” (grego pneuma) é usado neste texto, e em outras partes do Novo Testamento

(I Co 16.18 e Gl 6.18), como uma referência a pessoas vivas capazes de ouvirem e aceitarem o

convite da salvação. Por sua vez, a expressão “em prisão” refere se obviamente, não a uma

prisão literal, mas à prisão do pecado em que se encontra a natureza humana carnal não

regenerada (ver Rm 6.1-23; 7.7-25).

Diante disso, somos levados à evidente conclusão de que a pregação de Cristo aos

antediluvianos impertinentes foi efetivada através de Noé “divinamente instruído” por Deus

(Hb 11.7) e qualificado pelo próprio apóstolo Pedro como “pregador da justiça” para os seus

contemporâneos (II Pe 2.5).

Page 10: Os três dias

Pedro evoca, então, à lembrança a analogia de Cristo entre os “dias de Noé” e os últimos dias

(ver Mt 24.37-39). Assim como Noé e sua família foram salvos da morte “através da água” do

dilúvio pela arca (I Pe 3.20), os cristãos são salvos da morte espiritual “por meio da

ressurreição de Jesus Cristo” (verso 21; ver Rm 6.4-14). Portanto, esses são os vivos, que

previamente se arrependeram de seus pecados (At 2.38) e creram em Jesus Cristo (Mc 16.15-

16), assim como o são os que através da pregação anterior à obra de Cristo também creram.

Precisamos sempre ter em mente que, com a vinda de Jesus o que mudou foi a aliança de

Deus com os homens, o que foi criada, foi uma nova forma de relacionamento e que

anteriormente Deus tinha maneiras diferentes de tratar com a humanidade, mas que essas

maneiras (que mudaram diversas vezes ao longo do tempo) eram determinadas pelo próprio

Deus, portanto, para esse espaço de tempo em que vigoraram O satisfizeram, pois havia toda

uma conjuntura para que elas fossem válidas para tais épocas.

Podemos explorar também a possibilidade de que:

Em nenhum lugar na Bíblia nos diz que Jesus visitou o inferno. Atos 2.31 diz que Ele foi ao

hades (Edição Almeida, Revista e Atualizada), mas hades não é inferno. A palavra hades se

refere à esfera dos mortos, um lugar temporário onde eles aguardam a ressurreição.

No Novo Testamento, a palavra “espíritos” é usada para descrever anjos ou demônios, não

seres humanos, que são descritos como “almas”.

Segundo esse ponto de vista Nosso Senhor rendeu Seu Espírito ao Pai, morreu e em algum

momento entre morte e ressurreição visitou a esfera dos mortos onde Ele proclamou uma

mensagem aos seres espirituais (provavelmente anjos caídos; veja Judas 1.6) que de alguma

forma tinham relação com o período anterior ao dilúvio no tempo de Noé. O verso 20

esclarece esta questão. Pedro não nos diz o que Ele proclamou a estes espíritos encarcerados,

mas não poderia ser uma mensagem de redenção, uma vez que anjos não podem ser salvos

(Hebreus 2.16). Provavelmente foi uma declaração de vitória sobre satanás e suas potestades

(1 Pedro 3.22; Colossenses 2.15). Efésios 4.8-10 parece também indicar que Cristo foi ao

“paraíso” (Lucas 16.20; 23.43) e levou ao céu todos aqueles que tinham Nele crido antes de

Sua morte. A passagem não dá grandes detalhes sobre o que ocorreu, mas a maioria dos

estudiosos da Bíblia concorda que é isto que significa “levou cativo o cativeiro”.

CONCLUSÃO:

Tudo isso para chegarmos à conclusão de que a Bíblia não é totalmente clara sobre o que

exatamente Cristo fez durante os três dias entre Sua morte e ressurreição. O que podemos

saber ao certo é que Jesus não estava dando às pessoas uma segunda chance para salvação,

que Ele entregou Seu espírito (conforme já vimos acima) e que o ladrão – assim o cremos –

esteve no paraíso com Ele. Portanto Ele, Seu espírito subiu aos céus (vimos anteriormente que

Ele entrega Seu espírito ao Pai na cruz) enquanto Seu corpo permaneceu sepultado, que

biblicamente não existe a possibilidade de que Ele tenha descido ao inferno para pregar aos

mortos e que Ele jamais teve a necessidade de tomar as chaves da morte e do inferno das

mãos do diabo, sendo que Ele detém todo o poder. Portanto é um mito a “festa no inferno”

invadida por Jesus para essa finalidade – o mais correto aqui é acreditar que o diabo sabia que

sua autoridade sobre a humanidade seria destruída na cruz e que não desejava que isso

ocorresse, podemos basear essa ideia na já vista tentação de Jesus no deserto, onde o satanás

procura desviar Jesus de Seu caminho e que ele, o diabo, viu a obra vicária de Cristo ser

executada impotente para alterar os rumos da história.

Page 11: Os três dias

Podemos definir que “hades (sheol)”, “inferno (geena)”, “abismo” e “lago de fogo e enxofre”

são lugares distintos.

N’outras palavras, não sabemos exatamente o que Jesus fez nesses três dias, a Bíblia não nos

fornece informações suficientes para que falemos com precisão a respeito. O que entendemos

é que várias “teorias” foram criadas a respeito, algumas mais críveis do que outras. Porém a

Bíblia claramente nos mostra que muitas dessas teorias cridas como verdades absolutas por

diversas ramificações do cristianismo não passam de tradições que não podem ser sustentadas

após um profundo e sério estudo da Palavra.

Entendo que ao final desse, nossa conclusão possa vir a frustrar muitos daqueles que vierem a

ler o estudo, penso que muitos dos que se deram ao trabalho de uma leitura e estudo sérios,

com uma Bíblia aberta ao lado para a verificação dos versículos e passagens aqui apresentados

possam estar com uma sensação de que “faltou algo”. A vocês quero encerrar com uma

mensagem simples:

Mesmo que a Bíblia não nos forneça material necessário para definirmos exatamente o que

ocorreu nesses 3 dias, aqui, pudemos aprender um pouco mais, incluindo aí algumas das coisas

que NÃO aconteceram.

Portanto, dessa maneira estamos mais aptos a entender e viver conforme 1 Timóteo 1.3-7:

“Como te roguei, quando parti para a macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a

alguns, que não ensinem outra doutrina,

Nem se deem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que

edificação de Deus, que consiste na fé; assim o faço agora.

Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma

fé não fingida.

Do que, desviando se alguns, se entregaram a vãs contendas;

Querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam.”

E que:

“O que está oculto pertence ao Senhor, nosso Deus; o que foi revelado é para nós e para

nossos filhos, para sempre, a fim de que ponhamos em prática todas as palavras desta lei.”

Dt.29.29

“Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser

sabido.” Lc.12.2

“Portanto, não julguem nada antes da hora devida; esperem até que o Senhor venha. Ele trará

à luz o que está oculto nas trevas e manifestará as intenções dos corações. Nessa ocasião, cada

um receberá de Deus a sua aprovação.” 1Co.4.12

Portanto, saibamos esperar até o Grande Dia, no qual tudo será revelado, tendo sempre em

mente que:

“Ora, sem fé é impossível agradar lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de

Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” Hb.11.6.