Os Varios Fins da Humanidade
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Os Vários Fins da Humanidade
1. Finisterra 2. Horizonte
3. Fim do Mundo 4. Fim de Hollywood
5. Minerall 6. Fim de Tudo
7. Teste e Reprovação 8. Reprovação
9. Teste 10. Depois do Teste
Vitória, segunda-feira, 04 de maio de 2009. José Augusto Gava.
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Capítulo 1 Finisterra
O fim-da-terra era em Portugal: era onde a
Europa terminava antes do desconhecido mar aberto. AS COSTAS DE PORTUGAL (foi de onde partiram os portugueses para as Grandes Descobertas)
Finisterra Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O termo Finisterra deriva da expressão latina Finis terrae, isto é "fim das terras", e pode referir-se a: • Finisterra (revista)
• Finisterra (A Ver-o-Mar) • Fisterra ou Finisterre, município da província da Corunha, Espanha.
• Cabo Fisterra ou Finisterre, Espanha. • Finistère, departamento francês, às vezes aportuguesado para Finisterra
FINISTERRA O C A B O D O F I M D O M U N D O O N D E A T E R R A A C A B A E
O M A R C O M E Ç A
Portugal em 2100
Portugal deverá preocupar-se particularmente com os efeitos das alterações climáticas. Até 2100 está prevista a subida do nível médio do mar nas costas
portuguesas, estimada entre 25 cm e 110 cm, pondo em risco de perda de terreno cerca de 67% das zonas costeiras.
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Não obstante, aquele anúncio se revelou vazio, pois existia muita coisa além (o que a gente do além já sabia) das costas.
TUDO QUE VEIO DEPOIS DO FIM DA EUROPA EM 1500
• as Américas antes e depois de 1500:
(coloquei esta data porque é a oficial do Descobrimento do Brasil e porque tem dois zeros; como se sabe a data das descobertas de Colombo foi 1492; tudo já era assim, só que os europeus de 1499 não sabiam)
• a África antes e depois de 1500:
• a Ásia antes e depois de 1500:
• a Oceania antes e depois de 1500:
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• a Antártica antes e depois de 1500:
• o Ártico antes e depois de 1500:
Vários fins anteriores deveriam ter acontecido e
não aconteceram; a cada vez que houve um anúncio, ele não se mostrou indicador de realidade (em UM MOMENTO isso acontecerá).
Agora é a vez do aquecimento global (acoplado ao esquecimento global): os gelos vão desaparecer, as espécies vão desaparecer, parte dos continentes vai desaparecer, etc. Tudo porque a humanidade é pequena e as grandes tensões cósmicas, galácticas, constelares, solares e geológicas não comportam atenção especial para nós. E daí? Nossa vida é curta mesmo, resta vivê-la plenamente.
AQUECIMENTO GLOBAL (uma grande manta posta sobre a Terra) – o efeito “estafa”: isso esgota a gente.
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O que vai acontecer? Uma série de eventos e depois deles outros
estarão lá. São problemas, claro, mas vivemos de resolver problemas. Não que as pessoas não devessem ter tido cuidado, mas agora que está assim ficar chorando não leva a nada.
Capítulo 2 Horizonte
HORIZONTE DA TERRA É OUTRO LIMITE (mas limite é só para quem não tem Conhecimento: mágico-artístico, teológico-religioso, filosófico-ideológico, científico-técnico e matemático) – para o primeiro humano ter visto a Terra como um limitada ele precisou estar além do horizonte. Foi Yuri Gagarin.
Além da Terra, a Lua.
Além da Lua, a Terra.
Além da Terra-Lua o sistema solar.
Além do SS a constelação.
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Além da constelação a Galáxia.
Além da Galáxia muita coisa mais.
As pessoas foram falando do fim da Terra e a cada fim da Terra ou da humanidade sempre se chegava a algo novo. É porque fim-começo ou, melhor ainda, fim e não-fim formam um par polar oposto-complementar: toda vez que se chegar a um fim teremos logo depois um começo. É como norte e sul: para acima do norte há outro norte além do qual o norte anterior é sul, e assim por diante até chegar no extremo-norte ou norte absoluto; e do outro lado o extremo-sul ou sul absoluto.
O ESPAÇOTEMPO PROFUNDO
ESPAÇO
(houve um salto formidável em apenas 500 anos)
TEMPO ANTIGO ATUAL ANTIGO ATUAL
o do Velho mundo
13 bilhões de anos-luz de
raio
segundo a Bíblia começava em 4004 a.C.
13 bilhões de anos
Veja só como as fronteiras aumentaram! A cada vez que se diz que o mundo vai acabar ele
volta a aumentar. Cada vez que cancelam a existência humana ela é prorrogada de novo.
Capítulo 3 Fim do Mundo
Com o mundo já acabaram várias vezes. ANÚNCIOS DE FIM DO MUNDO
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Os brasileiros são tão irreverentes que se
anunciarem o fim do mundo no Brasil as pessoas vão estar lá na aglomeração para vender picolés, creme de bronzeamento, óculos de sol, churrasquinho, cerveja em lata e assim por diante.
Tudo é muito intempestivo, por conta dos anúncios apocalípticos de São João no Novo Testamento e em razão da tendência humana ao melodramático, frente a nossa necessidade de sofrer e desvirtuamentos desse tipo.
De vez em quando anunciam em letras garrafais (do tamanho de garrafas, era o sentido original) nos jornais o “fim do mundo”: o mundo-universo não vai acabar, no máximo acabaria a Terra; dificilmente a Terra acabaria, a humanidade é que findaria seus dias. Mesmo a humanidade inteira, colocada agora em todo o planeta, tem uma resistência incrível.
De modo que está tudo mal posto.
Capítulo 4 Fim de Hollywood
Hollywood também vai acabar, um dia, mas antes
disso já terá acabado com muita coisa boa. FILMES DE CATÁSTROFES (derrubando tantas coisas o lugar enriqueceu, no processo pervertendo muitos valores) – Hollywood acabou também com a moral (bebedeiras, drogas, homossexualismo, perversões, idéias de assassinatos e roubos, tudo foi difundido por lá)
Neste um meteorito gigante atinge a Terra.
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Aqui a Terra congela.
Segundo este a Terra seria queimada até 1,6 km de profundidade.
Este fala de três anos adiante.
Seria interessante ver quantos tipos de fim foram imaginados por Hollywood e suas similares através do tempo. Há uma propagação do terror e da iminência do terror conjuntamente a partir de várias fontes, com Hollywood na frente do alastramento da histeria.
Mesmo se algo disso fosse verdadeiro, tudo seria fase, muitos morreriam, alguns sobreviveriam.
Capítulo 5 Minerall
A EXTINÇÃO MINERAL DA HUMANIDADE
MINERAL
(um quadro superinteressante da revista Superinteressante edição 264 abril 2009, p. 30/31; contando de 2009, em anos)
CONSUMO CRESCENTE
DEPOIS DE 2009
MORATÓRIA DO CONSUMO
índio 4 2013 13 chumbo 8 2017 42
9
prata 9 2018 29 antimônio 13 2022 36 estanho 17 2026 40 urânio 20 2029 59 cobre 20 2029 61
tantálio 20 2029 116 ouro 36 2045 45
platina 42 2051 360 lítio 46 2055 133 níquel 57 2066 90
Muitas pessoas hoje estariam vivas em 2066, pela expectativa ou esperança média atual de vida: quem nascesse neste ano estaria com 57 anos e todos os minerais mais importantes estariam acabados, seguindo o ritmo crescente de consumo (claro que haverá contração com a presente crise). Acontece que ninguém fez as contas de quantas vezes qualquer mineral “já acabou”, isto é, quantas vezes em cada caso anunciaram o fim das reservas.
O BANCO DOS RESERVAS
Anúncio feito na década dos 1960.
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Pois, como se sabe, cada reserva diz respeito à frente de ondas tecnocientífica hodierna, aquela que produzimos neste instante: se alienígenas muito mais evoluídos chegassem agora - com tecnociências 500 anos avante das nossas - as reservas que se mostrariam para eles seriam enormemente avantajadas das nossas.
As reservas minerais são RESERVAS DA FRENTE T/C: novos conhecimentos incrementam-nas muito. Por exemplo, o fato de a PETROBRAS ser capaz de perfurar o pré-sal elevou as reservas brasileiras de 8 para 80 bilhões de barris (e não pára de crescer). Segundo a frente T/C anterior tais reservas de 72 bilhões de barris NÃO EXISTIAM - assim como várias que estão lá continuam sem existir para nossos conhecimentos atuais.
Capítulo 6 Fim de Tudo
OUROBOROS, A COBRA QUE COME O PRÓPRIO RABO (no fim ela se torna um ponto e depois desaparece) – os boatos, a maledicência, o infernal compromisso com o niilismo são espécies de cobras assim.
O fim de tudo, tudo mesmo, só acontecerá com o
fim do universo, o que nem sabemos se é possível; esse é o único ouroboros real, que engole a si mesmo.
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TUDO MAIS É CICLO
A humanidade precisa parar de se dar tanta
importância, pois ela é ponte, assim como tudo mais: a) a ponte entre a natureza zero e a segunda
natureza (entre a físico-química e a psicologia-p.2) é a biologia-p.3;
b) a ponte entre a primeira e a a terceira naturezas (da biologia-p.2 à informática-p.4) é a psicologia-p.3;
c) a ponte para o espalhamento da racionalidade pela Galáxia (não “espalhamento do verde” como Freeman Dyson disse, mas espalhamento do cinza, da massa cinzenta cerebral e da inteligência) é a racionalidade humana;
d) outras pontes. O “fim de tudo”, no final das contas, é não
deixar o fim chegar; mas, ao cabo de zilhões de anos o fim do multiverso chegará, só para depois de outros zilhões de anos recomeçar.
Capítulo 7 Teste e Reprovação
A NATUREZA FAZ REPRESAR (se vazões pequenas não são inventadas pelas pessoas mais sábias a
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pressão acumula até romper o dique, derramando destruição no ambiente – são os conflitos e guerras) Como não pode vazar da Terra, sempre acumula o
lado ruim do dicionário; passa de indivíduo a indivíduo e vai acumulando nas PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e nos AMBIENTES (cidades-municípios, estados, nações, mundos) como coisas malfeitas, descaso, abandono, ódio, irreverência, indecência e todo tipo de traço ruim. Tudo isso fica nas pessoas e nos ambientes como baixo rendimento psicológico geral.
A Natureza nos reprova dessa forma direta, sem equívocos; por ser irracional, a Natureza não pondera, ela apenas acumula automaticamente. Deus ponderaria, somaria o lado bom com o lado ruim numa balança das almas, porém a Natureza é mecânica, totalmente mecânica até a física-química; e é parcialmente mecânica na biologia-p.2 e na psicologia-p.3.
Vão se acumulando as imperfeições, as ferrugens da máquina e ela promete enguiçar; de tempos em tempos psicológicos o nome desse enguiço é GUERRA, desde as de pequenas até aquelas de grandes proporções.
Capítulo 8 Reprovação
CENÁRIOS DE GUERRA
GUERRAS
(geo-história das guerras: alguém precisa fazer esses mapas)
DEVASTAÇÕES Antiguidade
represamento psicológico
dique das repressões
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Idade Média
Idade Moderna
Idade Contemporânea
Idade Pós-Contemporânea
GEOGRAFIA DAS GUERRAS
HISTÓRIA DAS GUERRAS
Cada vez que há um conflito ou combate
interpessoal ou interambiental pagamos o preço de nossas imprudências, até mesmo quando não sabemos delas, até
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mesmo se nos recusamos a notá-las e a raciocinar sobre elas.
De fato, a humanidade está sempre acabando. Há fins parciais, que são muitos, e um só fim
absoluto, quando não houver mais nenhum ser humano. Afinal de contas, o universo vai acabar, o Sol vai acabar, tudo vai acabar e com isso a humanidade também.
Que vamos acabar, vamos mesmo, só resta saber quando. Passado é anúncio de fim, presente é predisposição de fim, futuro é possibilidade de fim. O fim está presente em nossas vidas, pois tudo que é deixará um dia de ser, menos Natureza-Deus, que não é no mesmo sentido nosso.
1. fim fictício (como o dos falsos profetas); DOIS TIPOS DE FIM
2. fim real ou verdadeiro. Por exemplo, em ficção, a Terra e a humanidade
já “terminaram” muitas e muitas vezes; isso também deve ser analisado, pois tais proposições ficcionais falam das orientações morais dos autores, da facilidade com que eles condenam bilhões ao desaparecimento. Fora isso, os fins ficcionais não nos interessam.
Quanto aos fins verdadeiros, eles é que podem ser parciais e total. O total não nos importa, pois não estaríamos aqui para ver. Os parciais, esses sim, devemos investigar.
REALIDADES PERDIDAS OS FINS PARCIAIS
POTENCIALIDADES PERDIDAS 1. objetos; 2. máquinas; 3. aparelhos;
4. instrumentos; 5. programas;
6. gente (dor e morte); 7. fungos, plantas,
animais, primatas; 8. ar, água, terra-solo,
fogo-energia; 9. outras.
1. das figuras; POTENCIALIDADES PSICOLÓGICAS-P.3
2. de objetivos; 3. das economias:
3.1. agropecuário-extrativistas; 3.2. industriais; 3.3. comerciais; 3.4. de serviços; 3.5. bancárias;
4. de organizações; 5. geo-históricas.
Várias linhas geo-históricas, talvez de algum proveito, foram irremediavelmente perdidas. Quanto ADRN com boas perspectivas se degradou? Geniais pesquisadores, santos fundamentais, excelentes governantes, poderosos esportistas.
Capítulo 9 Teste
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Na realidade, a Natureza está sempre nos
testando, acabando conosco. CADA DIA é dia de teste. Como inventamos isso de ano, nosso “ano” termina após 365,25 dias duma posição fixa relativa aos movimentos celestiais; no entanto, como já demonstrei, não existem passado ou futuro, só o presente, que é linha finíssima.
Com isso CADA DIA é fim do ano anterior e começo do novo. Por exemplo, hoje é sábado, 23 de maio de 2009 e não transcorreram 143 dias do começo do ano: transcorreram da 143 desde o zero da nossa convenção, que nos faz acreditar que há um começo. Não há, não existiu nenhum ontem – foi sempre um hoje. O ano do universo está começando neste mesmo microssegundo. Há um ano real-virtual para trás, há um ano virtual-virtual para frente e centro no dia há um ano metade de cada coisa.
Não estaremos sobrevivendo no futuro e não estivemos sobrevivendo no passado: ESTAMOS SOBREVIVENDO NO AGORAQUI, neste pontinstante, neste espaçotempo, neste tempolugar.
A cada microssegundo estamos sendo testados. A cada microssegundo a Natureza nos avalia. Ela nos pesa. COLOCANDO-NOS NA BALANÇA
Mora Na Filosofia
(Monsueto / Arnaldo Passos)
Eu vou te dar a decisão Botei na balança E você não pesou Botei na peneira
E você não passou Mora na filosofia
Pra que rimar amor e dor Se seu corpo ficasse marcado Por lábios ou mãos carinhosas
Eu saberia, ora vai mulher, A quantos você pertencia
Não vou me preocupar em ver Seu caso não é de ver pra crer
Tá na cara Nós não temos de sobreviver daqui a 300 dias ou
cinco bilhões de anos: temos de sobre-viver hoje, porque se não o fizermos não estaremos aqui daqui a 300 anos ou cinco bilhões de anos.
Já há uma carga muito pesada de problemas a resolver diariamente, para ainda por cima nos colocarem novas preocupações imaginárias, como o fim do mundo, o
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efeito estufa, meteoritos, o fim do Sol e o resto da tralha toda.
Guerras e conflitos, todas as nossas disputas são notícias de que não procedemos bem; elas nos dizem que o mecanismo emperrou, que não soubemos lubrificá-lo bem e a tempo, que fomos incompetentes.
Capítulo 10 Depois do Teste
Depois de cada teste, tão simples quanto isso, há
sobreviventes ou não. Várias civilizações acharam que estavam garantidas e uma após a outra foram morrendo. Milênio após milênio, século após século, dia após dia a Natureza vem testando fungos, plantas, animais, primatas, seres humanos (e, destes, PESSOAS e AMBIENTES).
JOGO DE OBSTÁCULOS NA CORRIDA DA INTELIGÊNCIA
É uma corrida de obstáculos.
Quem está vivo veio de quem mostrou as soluções de um jeito ou de outro, honestamente ou não (a diferença é que os honestos carregam-se a si mesmos e carregam os desonestos nas costas; estes vão ao futuro tentar ser pesados para os honestos, impedindo-os de avançar).
Então, para resumir, em cada microssegundo somos ponte do passado para o futuro; na realidade só existe mesmo a ponto, o presente, não há nenhum passado ou futuro. O fim que resume todos os fins da humanidade é sobre-viver, é viver sobre a finíssima lâmina do presente.
Não é ficar resmungando e chorando a todo instante, é projetar o viver-além.
Vitória, sábado, 23 de maio de 2009. José Augusto Gava.
ANEXOS Capítulo 1
AS AMÉRICAS ANTES DE 1500
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Os vikings chegaram antes Publicada em: 24/11/2008
Mapa que mostra as viagens de Eric, o Ruivo e Leif Ericsson, que levaram os
vikings a encontrar a América Todos nós crescemos ouvindo que a América foi descoberta por Cristóvão
Colombo, em 1492, mas essa não é bem a verdade, pois há registros que os vikings estiveram na costa do atual Canadá por volta do ano 1.000, portanto, quase 500 anos antes de Cristóvão Colombo! Quer dizer então que a maioria
dos professores e livros de História está errada? Não é bem assim, pois realmente foram os vikings os primeiros europeus a chegarem à América. No entanto, foi Cristóvão Colombo que deu início ao processo de colonização do continente americano e assim deu início às modificações que transformaram o
nosso continente e deram a ele suas características atuais. Vamos agora conhecer melhor sobre a passagem dos vikings pela América.
Primeiro devemos relembrar quem são os vikings. Viking é o nome pelo qual
os povos que habitavam originalmente a Península da Escandinávia eram conhecidos na Idade Média. Esses povos, que apesar de não serem
totalmente unificados, possuíam laços culturais, lingüísticos e políticos comuns e empreenderam uma série de ataques ao continente europeu com o objetivo de saquear e conquistar terras. Esses ataques vikings foram muito freqüentes na Europa Medieval, tanto que as invasões vikings são consideradas um dos fatores que levaram ao desenvolvimento do feudalismo na Europa. Mas não
devemos considerar os vikings apenas como guerreiros dispostos a saquear e conquistar terras alheias, eles também eram grandes comerciantes e
navegadores, e foi justamente por conhecerem tão bem as técnicas de navegação que eles chegaram à América.
A história da chegada dos vikings na América do Norte nos foi apresentada
através de duas sagas escritas nos séculos XIII e XIV, e que relatam a passagem dos navegadores Eric, o Ruivo (ou Eric, o Vermelho) e seu filho Leif
Ericsson pela Groenlândia e pela região que hoje conhecemos como Terra Nova, no Canadá.
Eric, o Ruivo, era um norueguês que se envolvia com facilidade em problemas. Migrou para a Islândia após ser expulso da Noruega por matar um
homem. Depois foi novamente expulso da Islândia por matar outro homem. Sem destino, Eric, o Ruivo, foi para a Groenlândia com o propósito de fundar
seu próprio reino, independente da Noruega.
Representação de navios vikings, utilizados para as longas travessias
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marítimas realizadas por esse povo Leif Ericsson era filho de Eric, e estava acostumado a ajudar o pai tanto na
navegação quanto no estabelecimento de novas colônias. Entusiasmado por histórias que diziam haver terras além da Groenlândia, Leif parte rumo ao sul em busca de terras férteis e de um clima mais ameno que o groenlandês. É
nessa viagem que ele encontra a costa canadense e estabelece uma colônia na terra que batizou de Vinland.
Navio viking em um selo postal da Dinamarca
Vinland significa “terra das vinhas” e recebeu esse nome de Leif para atrair colonos cansados do clima glacial e das terras de difícil cultivo que a Groenlândia oferecia. No entanto, essa terra que parecia ideal para o
estabelecimento da nova colônia mostrou que também possuía obstáculos que impediriam a prosperidade dos colonos vikings.
Os colonizadores escandinavos encontraram em Vinland povos agressivos, que não estavam dispostos a aceitar a presença viking em suas terras. Os vikings não viam com bons olhos os habitantes da terra que encontraram,
tanto que entre eles esses povos eram conhecidos como skraelingar, palavra que na sua língua possui diversos significados, como estrangeiro, ou pessoa feia, miserável ou doentia. Não sabemos que povos são esses, mas sim que
eles combateram os vikings até que eles desistissem da colonização na América do Norte. Estava terminado o sonho de Leif Ericsson de estabelecer
uma colônia em uma terra de clima mais ameno que a Groenlândia de seu pai. Acredita-se que a aventura viking na América do Norte durou pouco mais de
10 anos. Sobre essa história, que conhecemos através das sagas vikings, até bem pouco tempo atrás não sabíamos se eram verdadeiras ou se eram apenas
lendas. No entanto, arqueólogos descobriram na década de 1960, no Canadá, vestígios arqueológicos que constatam a presença viking na América do Norte, em torno do ano 1000. Portanto, as sagas vikings estavam certas, e realmente
foram esses os primeiros europeus a chegarem à América! A América pré-colombiana
Prof.º Leonardo Castro Os habitantes da América pré-colombiana não são naturais do continente, são alóctones. O provável
caminho percorrido por esses homens, originários da Ásia, em direção à América foi o que passa pelo estreito de Bering. Mas há outras possibilidades, como a travessia do Pacífico usando-se as ilhas
existentes entre a Ásia e a América do Sul.
Na época da descoberta da América, existiam sociedades complexas divididas em classes sociais com
um Estado estruturado e dominador, que impunha tributos. Na América Central, destacaram-se as civilizações Maia e Asteca e na região andina, os Incas.
A Civilização Inca
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A civilização Inca surgiu no século XII, quando houve uma reunião de povos sob o comando do grupo quíchua ou inca, na região peruana de Cuzco. Estabeleceu-se um poder político em que o imperador
investiu-se de autoridade religiosa, sendo visto como um semideus pelos seus súditos. A sociedade era hierárquica, tendo no topo da escala o soberano inca, depois seus parentes, os funcionários e os
sacerdotes, formando a elite. Abaixo estavam os camponeses.
O Império Inca (Tawantinsuyu em quíchua; na realidade inca era apenas o imperador) foi um estado-nação que existiu na América do Sul de cerca de 1200 até à invasão dos conquistadores espanhóis e a
execução do imperador Atahualpa em 1533. O império incluía regiões como o Equador e o sul da Colômbia, todo o Peru e a Bolívia, até o noroeste
da Argentina e o norte do Chile. A capital do império era a atual cidade de Cuzco (em quíchua, “Umbigo do Mundo”). O império abrangia diversas nações e mais de 700 idiomas diferentes, sendo o mais falado
o quíchua. A população vivia em pequenas comunidades agropastoris, localizadas em aldeias, formadas por
famílias, os Ayllus, sob a chefia de um Kuraka (cacique).
Machu Pichu, no Peru, pertenceu ao Império Inca.
A sociedade inca era uma sociedade de servidão coletiva, que se dava principalmente mediante a mita, o trabalho forçado dos aldeões na realização das obras públicas e outros serviços.
Texto e Contexto A Mita
“Inspecionamos em Chinchao [no atual Peru] 33 índios que estavam encarregados das folhas de coca; eles chegam aqui vindos de todas as colônias...” (Ortiz de Zuñiga. Visita de La Província de Huánaco,
Peru, 1562.) Os mitaios eram também os responsáveis pelo trabalho nas terras cultiváveis, na expansão imperial,
construindo terraços agrícolas e canais de irrigação. Também construíam os caminhos públicos, pontes, edifícios, templos, etc. As mulheres trabalhavam na tecelagem e os homens no exército, como militares.
A Religião Inca A religião era dualista, constituída de forças do bem e do mal. O bem era representado por tudo aquilo que era importante para o homem como a chuva e a luz do Sol, e o mal, por forças negativas, como a
seca e a guerra.
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Cena de Sacrificio da sociedade Inca. Códice de Magliabechiano. Séc. XVI.
Os incas ofereciam sacrifícios tanto humanos como de animais nas ocasiões mais importantes, maioria das vezes em rituais ao nascer do sol. Grandes ocasiões, como nas sucessões imperiais, exigiam grandes sacrifícios que poderiam incluir até duzentas crianças. Não raro as mulheres a serviço dos templos eram
sacrificadas, mas a maioria das vezes os sacrifícios humanos eram impostos a grupos recentemente conquistados ou derrotados em guerra, como tributo à dominação.
Os incas acreditavam na reencarnação. Aqueles que obedeciam à regra, ama sua, ama llulla, ama chella (não roube, não minta e não seja preguiçoso), quando morressem iriam viver ao calor do sol enquanto os
desobedientes passariam os dias eternamente na terra fria. Os incas também praticavam o processo de mumificação, especialmente das pessoas falecidas mais proeminentes. Junto às múmias era enterrado uma grande quantidade de objetos do morto. De suas sepulturas, acreditavam, as múmias mallqui poderiam conversar com ancestrais ou outros espíritos.
A Civilização Maia
A civilização maia, ocupando uma vasta região da América Central, atingiu seu apogeu entre os séculos
III e XI, organizando-se em cidades-estados.
Pirâmides de Comalcalco, sul do México.
A civilização maia foi uma cultura mesoamericana pré-colombiana, com uma história de 3000 anos. Contrariando a crença popular, o povo maia nunca “desapareceu”, pois milhões ainda vivem na mesma
região e falam alguns dialetos da língua original. O predomínio social cabia a uma elite militar e sacerdotal, de caráter hereditário, comandada pelo Halach Uinic, responsável pela administração e cobrança de impostos. Nos arredores das cidades
ficavam as aldeias de camponeses submetidos à servidão coletiva. Os Maias construíram enormes pirâmides nas grandes plataformas onde se realizavam cerimônias públicas e ritos religiosos. Sendo grandes construtores, os Maias construíram também os palácios, geralmente muito decorados, próximos do centro das cidades e hospedavam a elite da população.
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Os Maias desenvolveram um sistema de escrita (chamada hieroglífica por sua semelhança com a escrita do antigo Egito, com o qual não se relaciona) que era uma combinação de símbolos fonéticos e
ideogramas. É o único sistema de escrita do novo mundo pré-colombiano que podia representar o idioma falado no mesmo grau de eficiência que o idioma escrito.
A Civilização Asteca
A civilização asteca (1325 até 1521) foi uma civilização mesoamericana, pré-colombiana, que reuniu um
império que se estendia desde o México até o sul da Guatemala, com uma população de 12 milhões de pessoas. A capital era Mexihco-Tenochtitlán (hoje Cidade do México).
Os astecas eram um povo indígena da América do Norte, pertencente ao grupo nahua. Os astecas também chamados de mexicas (daí México) migraram para o vale do México (ou Anahuác) no século
XIII. A estrutura política era centralizada, sendo o imperador a maior autoridade asteca. O imperador dirigia a casta sacerdotal e as atividades religiosas, políticas e militares, o que se denomina de império teocrático
de regadio.
Piramide de la Luna, Cidade asteca de Teotihuacan.
A sociedade era dividida em camadas rígidas, sem mobilidade social, tendo no topo os nobres e sacerdotes, seguidos pelos comerciantes (os pochtecas), e na base os grupos populares e escravos
(prisioneiros de guerra). Texto e Contexto
“Dois principales [caciques] em cada calpulli convocam o povo a providenciar o pagamento do tributo ou a obedecer ao que o governante tenha ordenado...” (Alonso de Zorita. Breve y Sumaria Relación,
1536.) A posse da terra era comunal, cabendo às aldeias coletivas, chamadas de calpulli
Outros elementos de grande importância na economia asteca do México antigo eram as praças de mercado e o comércio praticado pelos pochtecas, ou comerciantes. Os pochtecas, que faziam parte do
(“Grande casa”), o direito de uso da terra para o cultivo. Parte da produção servia para a sobrevivência das aldeias e o restante para pagar tributos ao Estado, sustentando os governantes. Era o predomínio da servidão
coletiva. A soma dos membros do calpulli (urbano e rural) formava o grupo social dos macehualtin. Em sua
maioria, a forma de vida envolvia uma economia de auto-subsistência dentro de cada calpulli e obediência total a suas autoridades. Além disso, os aldeões tinham que pagar os tributos, servir ao
exército e executar outros serviços ao Estado. Na agricultura, as sociedades mesoamericanas praticavam o cultivo sazonal (por estações do ano),
empregavam fertilizantes em suas plantações e tinham sistemas de irrigação (rega artificial). Os astecas também criaram os chinampas, um tipo de canteiro flutuante, que eram estruturas artificiais de junco, cobertas com terra fértil, fundeadas no leito dos lagos por meio de estacas de madeira. Nos
chinampas, os mexicas cultivavam flores e legumes frescos.
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calpulli, eram organizados em associações de comerciantes que possuíam, cada uma, seu diretor, chamado de pochtecatloque (“chefe dos pochtecas”).
Os mesoamericanos produziam objetos de pedra, como martelos, machados, facas. A madeira era utilizada para fazer furadores, flechas, dardos, clavas e a coa, ou vara de cavar usada na agricultura.
O ouro, a prata, o cobre e o chumbo, além de pedras semipreciosas, eram os metais conhecidos pelos mesoamericanos.
A religião era politeísta, havendo uma variedade de deuses, com práticas que envolviam toda a população, sendo comum o sacrifício humano. A religião demandava sacrifícios humanos em larga
escala, particularmente ao deus da guerra, Huitzilopochtli. Apesar de sacrifícios humanos serem uma prática constante e muito antiga na Mesoamérica, os astecas
se destacaram por fazer deles um pilar de sua sociedade e religião. Segundo mitos astecas, sangue humano era necessário ao sol, como alimento, para que o astro pudesse nascer a cada dia. Sacrifícios
humanos eram realizados em grande escala; algumas centenas em um dia só não era incomum. Os corações eram arrancados de vítimas vivas, e levantados ao céu em honra aos deuses. Os sacrifícios eram
conduzidos do alto de pirâmides para estar perto dos deuses e o sangue escorria pelos degraus. Os sacrifícios humanos eram realizados principalmente com escravos capturados em guerra. Para os
astecas, a guerra era sagrada, pois por meio dela se obtinham os cativos para o sacrifício humano, elemento de ligação entre a comunidade e o Estado. De fato, o sacrifício humano cerimonial e a guerra para prear cativos para os ritos sacrificiais eram as atividades centrais da sociedade mexica, o próprio
ponto central de sua vida social, religiosa, política e militar. Texto Complementar
O Sol e o Sacr ifício Huitzilopochtli (divindade asteca) é ao mesmo tempo o deus da guerra e uma manifestação do Sol,
senhor do mundo. (...) O Sol tem fome e sede. Só a carne dos inimigos o nutre, só o sangue dos inimigos mitiga sua sede; para saciá-lo é preciso oferecer-lhe regularmente vítimas sacrificiais escolhidas entre os prisioneiros. Assim se explica por que a história dos Astecas é uma longa enumeração de guerras: era-
lhes necessário renovar incessantemente seu estoque de cativos.
LEHMANN, Henri. As Civilizações pré-colombianas. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1965. O Inca
O Inca, soberano supremo, é ao mesmo tempo uma divindade e transmite poder a seus filhos. Na presença dele humilham-se até os mais altos e nobres dignitários. Os direitos de vida e morte sobre seus
súditos são absolutos, qualquer que seja o nível social deles. Religião, mitos, lendas e história foram deliberadamente fabricados por especialistas, visando a divinizar o Inca, fazendo com que sua vontade e
seus excessos aparecessem como vontades de um deus. POMMER, Leon. Os Incas.
A ÁFRICA ANTES DE 1500
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História da África Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ir para: navegação, pesquisa A África é o território terrestre habitado há mais tempo, e supõe-se que foi neste
continente que a espécie humana surgiu a partir de subespécies proto-negróides(não confundir com os negróides atuais, frutos de complexas hibridizações com outras
subespécies oriundas da Eurásia; exceto os da África Ocidental, que se biopreservaram melhor), embora a teoria multi-regional (outra hipótese para explicar a origem do
homem) reúna o extremo sudoeste da Ásia e o extremo nordeste da África como uma só entidade morfológica. Os mais antigos fósseis de hominídeos encontrados na
África(Tanzânia e Quênia) têm cerca de cinco milhões de anos. O Egito foi provavelmente o primeiro estado a constituir-se na África, há cerca de 5000
anos, mas muitos outros reinos ou cidades-estados se foram sucedendo neste continente, ao longo dos séculos. Para além disso, a África foi, desde a antiguidade, procurada por povos doutros continentes, que buscavam as suas riquezas, por vezes ocupando partes do “Continente Negro” por largos períodos. A estrutura actual de
África, no entanto, é muito recente – meados do século XX – e resultou da colonização europeia.
De acordo com as descobertas mais recentes de Proto-história de África
fósseis de hominídeos, a parte oriental e austral da África parecem ter sido o suposto “berço único da humanidade”, não só
onde, pela primeira vez, apareceu a espécie Homo sapiens, mas também grande parte dos seus antepassados, os Australopithecus (que significa “macacos do sul”), os
Pithecanthropus (que significa “macaco-homem”) e, finalmente, o género Homo (ver Swartkrans, por exemplo).
Pré-história Norte de África
No deserto da Líbia encontraram-se gravações em rochas (ou "petroglifos") do período Neolítico, e megalitos, que atestam da existência duma cultura de caçadores-
recolectores nas savanas secas desta região, durante a última glaciação. O atual deserto do Saara foi um dos primeiros locais onde se praticou a agricultura na África (cultura
da cerâmica de linhas onduladas). Outros achados arqueológicos demonstram que, depois da desertificação do Saara, as populações do Norte de África passaram a concentrar-se no vale do rio Nilo: os “nomas”, cuja cultura ainda não conhecia a
escrita, e que, por volta de 6000 a.C., já tinha uma agricultura organizada.
África subsaariana
A África subsariana (português europeu) ou subsaariana (português brasileiro) corresponde à região do continente africano a sul do Deserto do Saara, ou seja, aos
países que não fazem parte do Norte de África. A palavra subsariana deriva da convenção geográfica eurocentrista, segundo a qual o
Norte estaria acima e o Sul abaixo (daí o prefixo latino sub). Efetivamente, o Deserto do Saara, com os seus cerca de 9 milhões de quilômetros
quadrados, forma uma espécie de barreira natural que divide o continente africano em duas partes muito distintas quanto ao quadro humano e econômico. Ao norte
encontramos uma organização sócio-econômica muito semelhante à do Oriente Médio, formando um mundo islamizado. Ao sul temos a chamada África Negra, assim
denominada pela predominância nessa região de povos de pele escura.
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Antiguidade
Mapa das civilizações africanas antes da colonizção europeia.
Pode dizer-se que a história recente ou “moderna” da África, no sentido do seu registro escrito, começou quando povos de outros continentes começaram a registrar o seu
conhecimento sobre os povos africanos – com excepção do Egito e provavelmente dos antigos reinos de Axum e Meroe, que tiveram fortes relações com o Egito.
Assim, aparentemente, a história da África oriental começa a ser conhecida a partir do século X, quando um estudioso viajante árabe, Al-Masudi, descreveu uma importante atividade comercial entre as nações da região do Golfo Pérsico e os "Zanj" ou negros africanos. No entanto, outras partes do continente já tinham tido início a islamização,
que trouxe a estes povos a língua árabe e a sua escrita, a partir do século VII. As línguas bantu só começaram a ter a sua escrita própria, quando os missionários
europeus decidiram publicar a Bíblia e outros documentos religiosos naquelas línguas, ou seja, durante a colonização do continente, pelo menos, da sua parte subsaariana.
As primeiras civilizações surgiram na África na Antigüidade: • História do Egipto • História da Etiópia
• Fenícia • Axum • Meroe
• Grande Zimbabwe • Paisagem Cultural de Mapungubwe
• África Subsaariana
Pode dizer-se que a história recente ou “moderna” de África, no sentido do seu registo História recente de África
escrito, começou quando povos de outros continentes começaram a registar o seu conhecimento sobre os povos africanos – com excepção do Egipto e dos antigos reinos de Axum e Meroe, que tiveram fortes relações com o Egipto e já tinham a sua escrita
própria. Assim, aparentemente, a história da África oriental começa a ser conhecida a partir do século X, quando um estudioso viajante árabe, Al-Masudi, descreveu uma importante actividade comercial entre as nações da região do Golfo Pérsico e os "Zanj" ou negros africanos. No entanto, noutras partes do continente já tinha tido início a islamização,
que trouxe a estes povos a língua árabe e a sua escrita, a partir do século VII. As línguas bantu só começaram a ter a sua escrita própria, quando os missionários
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europeus decidiram publicar a Bíblia e outros documentos religiosos naquelas línguas, ou seja, durante a colonização do continente, pelo menos, da sua parte subsaariana.
Colonização europeia
Mapa de África Colonial em 1913.
██ Bélgica ██ França
██ Alemanha ██ Grã-Bretanha
██ Itália ██ Portugal ██ Espanha
██ Estados independentes (Libéria e Etiópia) No período da expansão marítima européia, no século XV, os portugueses tentavam
contornar a costa africana para chegar nas Índias em busca de especiarias. Muitas áreas da costa africana foram conquistadas e o comércio europeu foi estendido para essas
áreas. Na África existiam muitas tribos primitivas (segundo a visão etnocentrista européia)
que viviam em contato com a natureza e não tinham tecnologia avançada. Havia guerras entre tribos diferentes, a tribo derrotada na guerra se tornava escrava da tribo
vencedora. No período de Colonização da América, ocorria o tráfico negreiro, em que eram
buscados negros da África para trabalhar como escravos nas colônias como mão-de-obra, principalmente nas plantações. Os escravos eram conseguidos pelos europeus por negociações com as tribos vencedoras, trocando os escravos por mercadorias de pouco
valor na Europa, como tabaco e aguardente, e levados para América como peças (mercadorias valiosas).
Após a Revolução Industrial e a independência das colônias do continente americano, no século XVIII, as potências européias começaram a dominar administrativamente várias áreas da África e da Ásia para expandir o comércio, buscar matérias-primas e
mercado consumidor, e deslocar a mão-de-obra desempregada da Europa. Na colonização, a África foi dividida de acordo com os interesses europeus, que culminou com a partilha do continente pelos estados europeus na Conferência de Berlim, em 1885. Tribos aliadas foram separadas e tribos inimigas unidas. Após a
Segunda Guerra Mundial, as colônias na África começaram a conquistar a independência, formando os atuais países africanos.
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Descolonização de África
Mapa de África com as várias datas de independência
As duas grandes guerras que fustigaram a Europa durante a primeira metade do século XX deixaram aqueles países sem condições para manterem um domínio econômico e
militar nas suas colônias. Estes problemas, associados a um movimento independentista que tomou uma forma mais organizada na Conferência de Bandung,
levou as antigas potências coloniais a negociarem a independência das colônias, iniciando-se a descolonização.
Este processo foi geralmente antecedido por um conflito entre as “forças vivas” da colónia e a administração colonial, que pode tomar a forma duma guerra de libertação (como foi o caso de algumas colónias portuguesas e da Argélia). No entanto, houve
casos em que a potência colonial, quer por pressões internas ou internacionais, quer por verificar que a manutenção de colónias lhe traz mais prejuízos que benefícios, decide
por sua iniciativa conceder a independência às suas colónias, como aconteceu com várias das ex-colónias francesas e britânicas. Nestes casos, foi frequente o
estabelecimento de acordos em que a potência colonial tem privilégios no comércio e noutros aspectos da economia e política.
• WALDMAN, Maurício ; SERRANO, Carlos. Memória D'África - A Temática Africana em Sala de Aula. 1ª. ed. São Paulo, SP: Cortez Editora, 2007. v. 01.
327 p.
Bibliografia
A ÁSIA ANTES DE 1500 OS PORTUGUESES E A ÁSIA MARÍTIMA, C. 1500 - C. 1640: CONTRIBUTO PARA UMA LEITURA GLOBAL DA PRIMEIRA EXPANSÃO EUROPEIA NO
ORIENTE. 1ª PARTE: OS MARES DA ÁSIA NO INÍCIO DO SÉCULO XVI Francisco Roque de Oliveira
Universidad Autónoma de Barcelona [email protected]
Na transição de 1497 para 1498 os navios de Vasco da Gama consumaram a passagem do Atlântico ao Índico, iniciando o reconhecimento dos “civilizados” mares orientais.
Estava aberto o caminho à primeira expansão europeia na área e, em simultâneo, àquele processo de implicações geo-políticas globais que o historiador Pierre Chaunu
apelidou de “désenclavement du monde”. Nesta primeira parte do nosso artigo
Os Portugueses e a Ásia Marítima, c. 1500 - c. 1640: contributo para uma leitura global da primeira expansão europeia no Oriente. 1ª Parte: os Mares da Ásia no
início do século XVI (Resumo)
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caracterizaremos os principais aspectos das sociedades litorais e dos mais importantes circuitos de trato estabelecidos entre diferentes portos dos Mares da Ásia tal qual foram
encontrados pelos portugueses nessa época. Do Índico Ocidental aos Estreitos de Malaca, do Arquipélago Indonésio ao Mar do Japão, observaremos os fluxos
comerciais e as especializações produtivas, os quadros genéricos da vida material e política das diversas entidades maiores que aí jogavam o seu protagonismo, assim
como o papel desempenhado pelas mais relevantes comunidades mercantis. Veremos que a súbita entrada em cena dos ocidentais modificou algumas das tendências de
recomposição em curso no preexistente sistema de navegação e comércio asiático. No entanto, veremos também que foram sobretudo as condições e as relações de força
encontradas no terreno que condicionaram as opções estratégicas dos recém-chegados. Palavras-chave: portugueses, Estado Português da Índia, expansão marítima europeia,
Mares da Ásia, séculos XVI e XVII.
The Portuguese and the Asian Seas, c. 1500 - c. 1640: remarks for a global review of the first European expansion in the East. Part I: The Asian Seas in the
beginning of the sixteenth century (Abstract) Between the end of 1497 and the beginning of 1498 Vasco da Gama’s ships crossed
from the Atlantic to the Indian Ocean and begun the enquire of the “civilized” Eastern Seas. At the same time they paved the way to the first European expansion in the area,
they also started the process full of global geopolitical implications defined by the historian Pierre Chaunu as the “désenclavement du monde”. In this first part of our
article we will identify the main aspects of local societies and the most important trade routes established between different Asian seaports as the Portuguese found them at
that time. From the Western Indian Ocean to the Straits of Malacca, from the Indonesian Archipelago to the Sea of Japan, we will review the productive
specializations and trading networks, the main features of political and material reality concerning the major local entities, as well as the role performed by the most powerful merchant communities. We will see that the sudden coming up of the western people
affected some of the changes going on in the Asian previous navigation and trade system. Nevertheless, we will also stress that the local realities and forces affected in a
far larger way the strategic options taken by the newcomers. Key Words: Portuguese, Portuguese Estado da Índia, European overseas expansion,
Asian Seas, 16th-17th centuries. Acerto de conceitos
Elegemos para objecto histórico deste texto o conjunto imenso dos Mares da ÁsiaO horizonte geográfico
[1] . É certo que este está longe de conseguir a consistência orgânica de um modelo “à
Braudel”, onde o Mediterrêneo oferece a situação paradigmática de um “mundo” em que estruturas físicas reais sustentam de forma coerente o palco das actividades sociais, económicas, políticas e culturais as quais, por sua vez, batem de acordo com um ritmo temporal invariável[2]: entre a costa oriental de África e os “Estreitos”, entre estes e o
Mar Amarelo ou deste ao Mar do Japão a diversidade é enorme e as situações encontradas caracterizam-se muitas vezes mais pelos contrastes do que por nos darem
um quadro de unidade. É igualmente certo que os Mares da Ásia da transição do século XV para o século XVI, assim como no decorrer de todo este último, se encontram em
profunda mutação, estando longe de representar uma entidade estável. Como verificaremos em pormenor, a entrada da Europa pela mão dos portugueses neste universo de cidades mercantis e de sociedades organizadas, de redes e de rotas de
comércio, inaugurando a “Idade da Colaboração”[3] que se estenderia até aos finais do
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século XVIII, não só não perturbou a arquitectura do conjunto ao ponto de ter imposto rupturas decisivas com o passado — o que só sucederia no dealbar de Oitocentos,
quando a dominação imperial subalterniza, em definitivo, as realidades locais —, como foi concorrente com fenómenos de mudança, caso do que ainda decorria por efeito do
declínio da influência chinesa no Oceano Índico oriental ou, sobretudo, o que protagoniza o bem mais poderoso segundo fôlego do Islão[4]. Não obstante, a vida de
relação que esteve na base da maioria dos contactos europeus da época apenas se explica em função do todo que eles abarcam, pelo que uma percepção mais exacta do
mesmo apenas se consegue considerando a soma de condições globais e circunstâncias verificadas num ou noutro momento neste ou naquele dos seus “pequenos mares”.
Para esta escolha de um espaço para análise, logo para a estrutura que implicitamente consideramos contida dentro das suas dimensões, temos presente que tanto contribui o real como a imagem que fazemos do mesmo: uma imagem do espaço físico “assente
num processo dialéctico de reconhecimento das ideias de fractura e continuidade, contiguidade, proximidade e limite”[5]. A despeito da presumível redundância da
precisão, não há, porém, por que lhe passar ao lado. Além deste, impõe-se um outro esclarecimento de importância mais do que académica. Trata-se de prevenir a
sobreposição pura e simples entre aqueles que dizemos como Mares da Ásia e o conceito ou conceitos mais ou menos latos de Oceano Índico. Aqui, e logo à partida, a acepção generalizada de Índico, balizado pela costa oriental africana, numa margem, e pelo Estreito de Malaca ou os mares do arquipélago indonésio, na outra, faz-nos recuar
diante de uma eventual assimilação pura e simples de terminologias. Duas acepções intermédias e igualmente praticadas resultam no mesmo: a de quem exclui o Extremo Oriente ou a equivalente Ásia Oriental (i.e. tudo o que se estende
para Leste do Estreito de Singapura[6]) de um enquadramento daquele oceano, inviabilizando de imediato que venha a coincidir com a noção abrangente de Mares da
Ásia; ou a daqueles que, apesar da observação pertinente que fazem a respeito da dificuldade ou, mesmo, da irrelevância histórica que é posta em prática quando se
estabelece para o período que analisamos uma linha de fronteira entre o Pacífico e os arquipélagos situados a Sul do Extremo Oriente por se tratar, todo ele, de um espaço de
forte identidade — o “Mediterrâneo Sudeste-Asiático”, como já foi designada a Insulíndia[7] —, não nos solucionam o problema ainda quando prolongam este espaço
específico de forma a englobar o Mar da China. Apesar de tudo isto, existe sempre a proposta que Kirti N. Chaudhuri apresenta no seu ensaio sobre uma história comparativo-estrutural do Índico, ocasião em que explora ao
limite a interacção histórica entre unidades de espaço e sociedade: depois de uma reinterpretação de Braudel, de uma bricolage de abstracções (a palavra é do próprio) que o leva, entre outros passos, da lógica cognitiva de Michel Foucault à teoria dos conjuntos cantoriana, daqui à lógica linguística de Wittgenstein ou à semiologia de Ferdinand de Saussure e de Roman Jakobson, por exemplo, acaba manobrando três
instrumentos analíticos que, para si, se revelarão essenciais, os conceitos de topologia, de ordem e metamorfose[8]. O resultado é um Oceano Índico identificado de modo
imperceptível com a Ásia das quatro civilizações distintas mas supostamente comparáveis, a islâmica, a indiana sanscrítica, a chinesa e a Sudeste-asiática.
Segundo o autor, a diversidade de formas patente no seio do conjunto não anula a revelação de continuidade estrutural, verificando-se uma correspondência entre os
símbolos físicos do espaço que constituem as costas do Índico e as terras que estão de permeio e a sua representação mental enquanto agregado. A ponte entre uns e outros, explicita, acontece por intermédio da verificação de conceitos teóricos que traduzem
uma imutabilidade partilhada de quotidianos ou uma sua mutação de acordo com
29
ritmos todos eles muito lentos. Entre outros aspectos, cuja leitura nem sempre é demasiado palpável, tratar-se-á de uma realidade expressa pelos contornos históricos
dos principais géneros cultivados e pelos que são reconhecidos como base da alimentação, pela organização das actividades agrícolas, pelas modalidades de
dependência que vigoram entre a produção de excedentes destas actividades e os rendimentos do Estado, pelo sistema jurídico, pelo conceito de propriedade, pela
arquitectura do poder ou pelos modelos de urbanização, pelas soluções aplicadas para a medida das distâncias por parte dos mercadores, pela preferência por um certo tipo de
vida marítima sobre outras possibilidades de transporte, ou, ainda, pelo domínio da variabilidade das condições estacionais da superfície do mar de que as comunidades
aqui inseridas mostram ter sido ser capazes. As técnicas de construção naval, a determinação dos tempos de viagem, o ritmo da produção industrial induzido por este
mesmo género de comércio marítimo ou a definição dos mecanismos de protecção legal ao capital comercial investido que aí se observa que aconteciam, constituirão
outras tantas expressões de afinidade[9]. É muito razoável pensar que assim fosse e, mais, que o conjunto se constatasse
enquanto tal: entre as quatro grandes civilizações do Índico (ou dos Mares da Índia, expressão esta mais natural ou mais própria de algumas das línguas locais), os
sentimentos das respectivas especificidades não seriam suficientes para anular uma modalidade de reconhecimento a um tempo simples e complexa que fazia com que cada um se visse em todos os momentos como parte de um todo. Porém, que isto funcione para os povos do Islão, da Índia sanscrítica, do Sudeste asiático ou do
Extremo Oriente, como se disse, não chega para contrabalançar a circunstância de termos que a leitura que identifica um espaço geográfico como sendo asiático expresse
sobretudo um sistema classificativo ou uma construção mental desfasados, pelo essencial, de um nome ou de um conceito verificável com a experiência, ou tangível
pelo facto de estar ligado a um conjunto particular de significados[10]. De resto, e como bem o nota Chaudhuri, um conceito como o de Ásia ocorre em larga medida por via de uma transferência inconsciente de um padrão de identidade distinto, o europeu: em boa parte, a Ásia geográfica configura-se como a imagem dialéctica ou especular da Europa. Fundado na observação de uma coerência religiosa, de uma cor
de pele, de hábitos comuns e de uma expressão artística que facilmente reconhece como seus e aos quais atribui uma correspondência continental, o europeu transfere-os, a todos eles, para um termo em cujo campo semântico não tem lugar a identificação da identidade das suas distintas populações, tal como as demais divisões práticas ou falta
de coesão interna que caracterizam a Ásia de modo essencial. Esta lógica, típica das tautologias, que leva a imaginar um continente asiático por
oposição a um espaço de referência, pode ser temperada pelo próprio entendimento que cada uma das sociedades asiáticas manifesta no momento em evidência das
implicações históricas que decorrem da chegada dos portugueses, holandeses e ingleses ao Oceano Índico — apesar de todas as diferenças que se observam entre si, não foram
apenas as comunidades africanas, hindus e muçulmanas da África Oriental, da Índia litoral, da Arábia e da Pérsia a terem a percepção das consequências dessa novidade,
porque o mesmo sucedeu com os malaios, os javaneses, os birmaneses, os tailandeses, os chineses e os japoneses[11]. Ainda assim, a que prevalece é a primeira imagem[12].
Com ela e por acréscimo, dilui-se em demasia a predominância da perspectiva marítima, com toda a sua sorte de circunstâncias de relação, aquela que foi a
balaustrada de quem aí chegou vindo da Europa depois de Vasco da Gama lhe ter aberto o caminho. Então, como segui-la se por força implica perder a hipótese de
sublinhar, quando necessário, o relevo muito próprio que adquirem “pequenos mares”
30
como o Mar de Ceilão, o Estreito de Malaca, o “Boqueirão de Sunda” (o termo encontrado nas fontes portuguesas para o estreito que separa as ilhas de Samatra e
Java), a boca do Ganges ou o delta do rio das Pérolas?[13] Com ela, também, não se encontra lugar para a África oriental, apesar dos estreitos laços que mantém com o
mundo islâmico: ainda na ideia de Chaudhuri, as sociedades indígenas africanas ter-se-ão estruturado conforme uma lógica histórica separada e independente do resto do Índico[14]. Não se discute aqui mais este argumento, apenas que o resultado possa
servir para o quadro que analisamos. Dinâmicas da vida material
Reconhecidos o horizonte cronológico e os limites físicos do espaço considerado relevante para a leitura que desencadearemos, falta abordar a forçosa selecção de
conteúdos que se reserva para o retrato dos Mares da Ásia. Sobre isto, estamos em crer que entre leituras demasiado abrangentes, mais conformes com modelos “macro” como o que dá a perspectiva dos sistemas universais sugerida por Immanuel Wallerstein[15]
e seu inverso, é preferível um meio termo quando se trata de retratar o que de mais pertinente ocorre num quadro de relacionamento económico, político e cultural que funciona de modo articulado. Nem o extremo de uma leitura que toma o Ocidente
como o locus absoluto da iniciativa histórica, nem o seu reverso a nível “micro”, o que esmiuça em excesso o papel de actores marginais ou a configuração de entidades
regionais específicas, muitas das quais sobretudo válidas como legado colonial e menos como realidade compaginável com o nosso tempo de inquérito, demasiado particulares e susceptíveis ao anacronismo de discursos nacionais ou locais, portanto: os da “Índia”
ou do “Islão”, por exemplo[16]. Michael N. Pearson vislumbrou que será a natureza pontual dessas interacções
culturais, económicas e políticas o que define em cada momento as fronteiras de uma entidade como o Oceano Índico, e não o contrário. Apercebendo-se de uma “unidade considerável ao nível de monções, portos, navios e marinheiros”, regista ainda como factor de unidade de uma área que, entre 1500 e 1800, terá como respectivo limite a
Leste o Estreito de Malaca, uma “ampla distribuição de certos produtos de áreas particulares”[17]
Sem reformular substancialmente o registo geográfico adoptado por Pearson, Kenneth McPherson acaba por actualizar os princípios da abordagem, quer quando considera
que a “unidade essencial do mundo do Oceano Índico” até ao século XVIII era “determinada pelos ritmos de comércio marítimo de longa distância”, quer quando
defende que ocorrem aí, em simultâneo, “certas partilhas de traços culturais comuns” que são de forma a permitir situar os povos do mesmo mundo “à parte dos povos de
mundos contíguos, como o Mediterrâneo e a Ásia oriental”
— sem ir mais longe, os algodões indianos do Guzerate, Coromandel ou Bengala que foram aí de emprego corrente no vestuário entre o século XVI e o
século XVIII. Num plano paralelo, é também enunciado o contributo do hajj muçulmano para a estruturação no mesmo espaço e entre o período pré-moderno e início do período moderno de uma rede cultural e comercial tão complexa quanto
crucial.
[18]. Para J de V. Allen é a tríplice influência de factores raciais estabelecidos pelos padrões migratórios, de
factores culturais (estes por efeito da ascendência da Índia neste plano), e, por fim, de factores religiosos (aqui por intermédio da expansão do Islão), o que faculta o cimento agregador da diversidade do Índico[19]. Ninguém nega que o espaço considerado nas teses de Allen e McPherson, como antes na de Pearson, continue a situar-se aquém do dos Mares da Ásia que adoptamos, mas também é certo que qualquer das perspectivas enunciadas favorece em muito a visão de uma vasta orla marítima ajustável à nossa em
que é praticável uma proximidade económica e cultural.
31
Precioso para o que pretendemos é a conclusão a que chega Rajat Kanta Ray num seu recente trabalho segundo a qual a cadeia de comércio e finança indiana e chinesa que se estendia de Zanzibar a Singapura constituiu “um sistema internacional distinto que nunca perdeu a sua identidade no mais amplo sistema mundial do Ocidente”[20]. Ray centra a sua análise no Índico do século XIX e reconhece a emergência durante esse
período de uma fórmula económica pan-asiática representada pelo termo bazar, expressão de um mercado de dinheiro indígena, intermédio entre o capital europeu e o
nível dos mercados locais, o qual financia o comércio por atacado por meio da manipulação de múltiplos instrumentos de negociação (notas promissórias, letras de
câmbio, entre outros). É imediato que este constitui um excelente indicador do tipo de laços que permitiam à nossa área adquirir um perfil próprio. No período anterior, os
fluxos especializados de capital e mão-de-obra, mas ainda de arte e serviços, ideias ou cultura, cumpriam em mais do que em certa medida esse mesmo papel, ainda que
estejamos avisados sobre todos os cuidados que há que ter para evitar deixar a ideia — errada — de “continuidade” pura e simples entre a era pré-colonial e a era colonial[21].
Se a viabilidade e a precisão do conceito de Mares da Ásia estará, se possível, mais afirmada depois de tudo isto, subsiste um derradeiro nível de risco, o do mesmo
conceito nos obrigar ainda a uma mais do que certa exaustividade enciclopédica se o adoptarmos como nosso com todas as suas consequências. É claro que aqui se impõe
de novo uma selecção muito pragmática dos dados de prova. Em primeiro lugar, abster-nos-emos de nova pesquisa primária, bastando-nos aquela que já nos oferecem os estudos a que recorreremos. Depois, cingir-nos-emos àquelas evidências empíricas
que intuirmos como mais relevantes para o enquadramento das sucessivas experiências europeias na área ao longo do período considerado, ainda que sabendo que muitos mais
factos pertinentes se perdem por serem elusivos e não se encontrarem registados. Também, se a unidade da vida material de toda esta área só pode ser reencontrada pela
recuperação cuidada dos quadros de poder aí vigentes, do pleno da estrutura económica, de toda a gama de aspectos que permite observar no espaço afinidades
perduráveis de natureza social, ou, ainda, por intermédio de signos tão eficientes como o urbano, a opção deliberada volta a recair numa apresentação que privilegia os termos genéricos daquela realidade política e económica que interpelou mais directamente os
europeus à sua chegada. Sacrifica-se um pouco de tudo: muitas das tipologias produtivas, muitos dos aspectos relacionados com as trocas, a monetarização da economia, a capacidade de acesso ao
crédito ou a capitais complementares, a propriedade e usos da terra, grupos económicos envolvidos, mecanismos de protecção concedidos a alguns deles, o grau de autonomia
que outros garantem em relação ao Estado ou ao poder burocrático, modalidades espontâneas ou forçadas de especialização, grupos de pressão, por exemplo; no plano específico e mencionado da vida urbana, a leitura das suas tipologias, da influência da religião sobre os modelos presentes, das dimensões políticas, económicas, temporais e
sociais da hierarquia e da história urbanas, ainda por exemplo[22]. O que, digamos, sobrevive desta opção é uma nota, necessariamente condensada, sobre a hegemonia de algumas das suas regiões costeiras e de algumas das respectivas comunidades, numa abordagem em que, uma vez mais, é patente o favor prestado às condições da vida
económica, às cidades e entrepostos portuários que constituem pontos nodais de troca e interacção. Poderá sobressair daqui a imagem de um mundo de mercadores, por vezes
também o das castas de serviço, das comunidades estrangeiras residentes, de navegadores e de piratas. Porém, relembramos que o eixo de leitura é dado pelos
termos da expansão e da presença europeia neste universo[23]. Os Mares da Ásia no início do século XVI
32
Excepto o Japão, que apenas é visitado cerca de 1543, as restantes costas dos Mares da Ásia foram reconhecidas pelos portugueses, os protagonistas da primeira expansão
europeia por essas águas, no intervalo muito breve de quinze anos: entre 1500 e 1509, a exploração centra-se no Índico ocidental, até Ceilão; o último destes anos coincidiu
com a chegada a Malaca da esquadra do futuro governador Diogo Lopes de Sequeira, abrindo-se então a via dos “Mares do Sul”, um processo que está praticamente
concluído entre o segundo e o terceiro ano posteriores à conquista da mesma cidade (1511). É a partir de Malaca, assim revelada ponto de apoio de inestimável
importância, que se exploram de modo sistemático o Índico oriental, os mares da China e do Arquipélago. Pela ordem com que foram reconhecidos: os portos do Golfo de
Bengala (1511-1514); os portos do Sião (1511); as ilhas de Maluco (Maluku ou ilhas Molucas) e Banda (1512); e a China (1513). A exploração prévia do Atlântico tardara três quartos de século. A rapidez com que se avança a Oriente explica-se em boa parte pelo aproveitamento que os recém-chegados revelam saber fazer da experiência das
rotas, portos e monções que a navegação comercial asiática praticava aí com regularidade, sobretudo aquela de longo curso, liderada pelos muçulmanos
Introdução
[24]. Obviamente existente, porém de importância mínima, senão nula, para o mundo de
relação em que os europeus depressa se integram, é o quadro da vida material das terras do interior, aldeias e espaços rurais, cujos produtos não assomam aos portos e não se encaminham para as linhas de comércio marítimo. Tal como dissemos, é no retrato
deste último que nos fixaremos, feito da sobreposição entre circuitos internos de produtos básicos (arroz, tecidos, por exemplo) e circuitos externos de produtos de luxo, que se dirigem em larga medida para os mercados do Ocidente e do Extremo Oriente.
Como cedo o reconheceram os portugueses, uma elaborada especialização produtiva de cada uma das suas regiões permitia que estes mares constituíssem um todo auto-
suficiente, pelo que aquilo que na maior parte das vezes puderam fazer foi inserir-se nas rotas de comércio já abertas e não tanto consumar uma ruptura absoluta em relação
a estas[25]. Esta sobreposição entre tratos de longa distância e o comércio regional obriga ainda a
que se faça um outro esclarecimento prévio. As actividades que os mercadores asiáticos e europeus passam a partilhar na série de mares, baías, ilhas e mercados
costeiros que se sucedem de modo integrado da costa oriental africana à costa ocidental da Malásia e de Samatra (Çamatra; Sumatera/Sumatra), da costa do Sul da China (incluindo a Formosa, as Filipinas e o arquipélago indonésio) à contracosta das
referidas Malásia e Samatra, não podiam estar apenas condicionadas ao ritmo semestral e muito regular das monções de Sudoeste e de Nordeste, correspondentes ao tempo de Verão que favorece a navegação e ao de Inverno que a proíbe. Este regime condiciona em absoluto as travessias oceânicas, isto é, a mar largo, mas não determina a cadência da circulação conjunta do Índico: a cabotagem e as viagens mais curtas prosseguem ao longo do ano em várias áreas, favorecidas por condições específicas de ventos e marés,
as ditas “monções locais”, para além de poderem ser protegidas por baixios ou por contornos resguardados de costa. Como referido, às primeiras cabe acima de tudo o “grande comércio”, o dos bens de luxo cujas rotas de circulação cumprem longas
distâncias; entre as segundas aparece com maior frequência o comércio de bens de primeira necessidade, o qual representava em muitas paragens uma apetecível
actividade complementar. Nos limites que são os de todas as sínteses, e a despeito do lugar de privilégio que ocupam os circuitos externos de navegação, tentaremos não
perder de vista esta realidade[26]. Movimentos de longa e média duração
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Com mais de um século de distância em relação ao momento áureo do ensaio de unificação que os mongóis haviam tentado concretizar em função da região dos
desfiladeiros, a pujança comercial e urbana que o conjunto dos litorais dos Mares da Ásia oferece no início do século XVI é ainda, em grande parte, o produto desse
projecto a que vieram pôr cobro a turbulência das confederações turcas, os fiascos de Tamerlão, o corte dos contactos directos com o Ocidente cristão e, depois disso, o
advento da China Ming (1368) ou as autonomizações de Bengala (1338) e do Guzerate/Guzarate/Gujerat (1401). Enquanto o “sistema mongol” pressiona a partir da Ásia central, uma das respostas mais visíveis que os interesses comerciais souberam
dar consistiu na retoma da rota marítima e no alargamento dos trajectos tradicionais de longo curso entre a Índia e a China, que antes seguiam pelo Estreito de Malaca a
Cantão por Tiumen (Tumen), pela costa do Champá e a ilha de Hainão, e que se fez com que passem a integrar em pleno a Insulíndia: impulsionada pelos mercadores do Fujian, abre-se uma rota da China a Lução, a qual depressa faz despontar, mais a Sul,
as feitorias do Norte de Bornéu, Celebes (Sulawesi) e, sobretudo, das Molucas. Potentados do Sul, como Srî Vijaya e Angkor, forçam-se ao sistema tributário,
recolhendo e expedindo as respectivas produções para satisfazer o súbito afluxo de navios privados que começou por ser estimulado pela dinastia Song do Sul (1127-
1279) e prosseguiu com a dinastia Mongol (1276-1368). Por volta de 1300, sobre o que resta do Império Birmane de Pagan (dissolvido em 1287) e dos ditos “impérios”
Angkor khmer e Srî Vijaya malaio já os thais tinham edificado uma série de pequenos reinos, com o que vinham confirmar a alteração da ordem dos Estados clássicos hindu-
budistas construtores de templos. Se a expansão mongol tem relativamente menos sucesso com as invasões do Vietname e Champá, em Java oriental o fim do reino Singasari e o consequente aparecimento de uma nova entidade junto à boca do rio Brantas — a monarquia agrária, mas também talassocrática, do reino de Mojopahit (Majapahit), que dominará boa parte das ilhas de Java e de Samatra e exercerá uma
vaga suserania sobre todo o Arquipélago — é, em muito, imputável ao desembarque da esquadra sino-mongol que para aí fora enviada em 1292[27].
No mesmo conjunto de mares, outro traço decisivo é a autonomia substancial de que desfrutam a maioria dos seus portos em relação aos reinos agrários do interior,
privilégio notado no poder que muitos têm de cunhar moeda ou de gerir a política externa. A fachada marítima que observamos não é tanto a de Estados continentais ou de Impérios — Otomano, o Império persa sefévida, o Império hindu de Vijayanagar (Bisnaga), o Império Mogol ou Mogor, o dos Ming, na China, o Império muçulmano
de Mataram, que reunificaria Java a partir de 1588 — mas a de uma sucessão de metrópoles nas quais o grau de manobra varia entre a que se concede a comunidades de mercadores que operam de modo independente no domínio económico e oceânico —
casos da Índia ou de certos reinos malaios — e aquela de que usufruem sultanatos independentes, como Quíloa (Kilwa), na África oriental, Ormuz ou Malaca, no último caso um verdadeiro “Estado mercantil”. Beneficiários da migração inter-regional de
elites e contaminados pela difusão de técnicas desenvolvidas na esfera comercial, generalizar-se-á a muitos Estados asiáticos, nos primeiros anos após 1500, a
familiaridade com o espírito mercantilista que até aí contribuía para essa dicotomia entre os dois tipos, mas de momento esta é ainda válida e penaliza as unidades políticas
de maiores dimensões[28]. Por outro lado, as comunidades muçulmanas de mercadores, hegemónicas em relação a quaisquer comunidades autóctones, indianas ou malaias, suplantaram também, quer os grupos provenientes do Mediterrâneo e da Pérsia, quer os próprios árabes, se bem que
estes conservassem uma importância relativa na metade Ocidental do Índico. O
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islamismo que prevalece no comércio marítimo da Ásia das Monções é, no essencial, o de muçulmanos indianos originários do Guzerate, além do Malabar, do Coromandel e
de Bengala. Organizadas em tarekat ou confrarias místicas, as redes islamizadas multiplicam-se entre os séculos XV e XVI, de Ormuz a Cantão, e entre as prerrogativas que lhes são cedidas pelos reis e sultões de que dependem encontra-se a possibilidade de declarar guerra naval para defesa dos seus interesses próprios ou cobrar tributos a
populações isoladas e distantes[29]. Além do esbatimento do protagonismo que tinham adquirido durante a época medieval judeus, cristãos do Quêrala (Kerala, Malabar), jains e mesmo quelins ou Klings (a forma pela qual os portugueses designavam os
mercadores tâmiles hindus de Kalinga e do Coromandel, então ainda activos no comércio têxtil indiano com Malaca), ou de episódios como o da desorganização, no início da terceira década do século XV, da guilda árabe dos Kârimî, sob cujo controlo estivera o Oceano Ocidental desde a época Fatímida (séculos X-XI) e que levara ao
respectivo reagrupamento na Índia, em especial em Calecute/Calecut/Calicut (o sultão mameluco Barsbây nacionalizou o trato da especiaria no Mar Vermelho em 1429 e as incursões do rei yenemita al-Nâçir Ahmad no Hejaz tinham feito o resto), não deixem
de somar-se às condições que favoreceram esta prosperidade islâmica o espaço deixado vazio pela retirada chinesa dos “Mares do Sul” (Nanyang), ordenada nos primeiros anos da terceira década do século XV e consumada em finais desse século quando
desaparece o que restava da respectiva rede[30]. Ajustando o condicionalismo das monções à especialização produtiva, facilidades de
armazenagem, preços, reservas, prestação de serviços bancários ou de despacho marítimo de cada porto oceânico e cidade de caravanas, as economias locais e o
comércio transcontinental do arco índico funcionam em três segmentos complementares. A Índia, centro vital do Oceano por ser o cruzamento das duas
monções contrárias que permitem a confluência das embarcações provenientes de África, do Médio Oriente e do Mar da China, é a referência do primeiro, que engloba o Mar Vermelho, o Golfo Pérsico, a costa ocidental da mesma Índia e a África oriental.
Um segundo segmento inclui ainda a Índia, Java, Samatra, a Birmânia, a Tailândia e os antigos reinos do Mecão (Mecom/Mekong/Lan-ts’ang Chiang/Daz Chu). O terceiro abarca a China, o Japão e o Sudeste asiático continental e insular. Da combinação de
todos os factores referidos, se bem que o regime de ventos condicionasse sobremaneira as respectivas localizações, resulta aparecerem na intercepção de cada sector os mais
importantes entrepostos: por exemplo, nas águas abrigadas do Mar Andaman, do Golfo da Tailândia, do Mar de Java e, mais do que em qualquer destas, nas dos estreitos de
Malaca. Uma divisão como esta revê-se em boa linha na que oferecem as divisões naturais que constituem o Mar Arábico, o Golfo de Bengala e o Mar do Sul da China. Igualmente sem perda do efeito do conjunto ficará quem perspective a Ásia marítima como um extenso eixo orientado no sentido Noroeste-Sudeste, do Mar Vermelho e do Golfo
Pérsico às Molucas e às ilhas de Banda, visão que favorece a centralidade de Malaca, de resto merecida: desta cidade divergem três rotas, uma para Oeste, que continua para
lá do Cabo Comorim, a segunda para Este, em direcção ao Arquipélago e ao Mar da China e, por fim, a que serve o Golfo de Bengala. Malaca representava também com
maior probabilidade o primeiro dos empórios de todo este espaço, depois de ter ocupado durante o curso do século XV a liderança como centro internacional de troca e
ponto de encontro de mercadores do Oriente e do Ocidente. No entanto, o que esta última perspectiva não pode iludir é que o eixo descrito se encontra irremediavelmente fraccionado por efeito da retirada chinesa e árabe do comércio de longa distância: os
chineses não navegam para Leste de Malaca e o mesmo acontece com os árabes, persas
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ou com os turcos, limitados à travessia do Mar Arábico para Cambaia/Calecute. Aqueles que eram destacados portos de escala na longa rota entre o Médio Oriente e a
China tinham passado à condição de portos terminais[31]. De Mogadíscio a Ormuz
Olhando-o conforme o percurso de reconhecimento europeu, o giro costeiro começa pelo litoral de Mogadíscio a Zanzibar, pontuado por pequenos sultanatos de que Quíloa
se destaca e onde se vêem também como importantes Mombaça, Melinde e Pate. Colonizadas na origem por mercadores árabes ou persas, o grau de islamização destas cidades-estado suaílis é variável, sendo mais relevante referir-se a elevada influência
africanizante a que estão sujeitas. Servem para o escoamento de ouro, marfim, escravos e peles de animais obtidos junto dos bantos ou cafres, produtos que trocam por contas, têxteis ou porcelanas que os comerciantes árabes e guzerates aí desembarcam, trazidos do Golfo Pérsico, do Mar Vermelho, da Índia e do Extremo Oriente. Um pouco mais a Norte, descontamos desde já a presença do reino cristão copta da Abissínia, assediado
pela guerra santa dos seus vizinhos islâmicos e que se esforçava, com resultados apenas temporários, em garantir uma via de acesso ao mar.
Até que se concretize a presença portuguesa e que a expansão dos turcos otomanos cubra, para além da Síria, o Egipto mameluco, a cosmopolita Adém mantém sob
vigilância o tráfego das especiarias que abastecem a Europa. O seu porto, tal como os de Zafar (Sappar/Saphar) e as-Shir (Ash Shiír), possibilita a escala na costa arábica aos navios vindos da Índia e da Ásia do Sudeste. Para além de supervisionar este tráfego, reparte os seus interesses pelo comércio do ouro e escravos que recebe das cidades
marítimas do Corno de África, e pelo do incenso e da mirra que os beduínos transportavam por junto com os cavalos de raça para os dois referidos portos do Hadramault, Zafar e as-Shir. Para dentro, como dito, o Império mameluco, que compreende o Egipto, a Síria e o Hejaz, gere a tributação das rotas terrestres da
especiaria, tanto a do Golfo Pérsico via Alepo-Alexandreta, como a do Mar Vermelho via Suez-Cairo-Alexandria. À entrada do Golfo Pérsico, estendendo uma autoridade relativa à costa persa que tinha em face e de onde partiam as pistas para Ispahan e
Shiraz que alcançam, a Norte, a rota da seda, a Ormuz insular distribui a maior parte dos seus importantes interesses pela intercepção que consegue de grande porção do trato entre a Índia e a Pérsia: sedas, pérolas, víveres do Barém (Bahrein/Bahrayn),
moeda de troca do arroz, dos tecidos de algodão, das especiarias e dos cavalos persas[32].
Portos da Índia e Ceilão Os portos do Ocidente indiano eram os maiores beneficiários do assentamento político em curso no interior do subcontinente, reflexo a longo prazo das invasões turco-afegãs
da primeira metade do século XIV. Se os descendentes destes não haviam ainda transposto o Hindu Kursh (Hindukoh) para ocuparem as planícies do Indostão, quase
todo o Norte estava em mãos muçulmanas e o momento era o de um reagrupamento em sultanatos como os do Guzerate e Bengala, que desafiavam o poder de Deli. O
sultanato dos Bahmânidas, que existira no Norte do Decão entre meados do século XIV e os fins do século XV, cuja matriz administrativa tinha sido a das instituições do
sultanato de Deli, de que fora progénie, e cujo acesso à costa oriental (à parte Norte do Coromandel) fora sempre precário[33], desagregava-se em cinco sultanatos rivais entre
si: os de Bijapur (na posse do florescente porto de Goa) e Ahmadnagar a Oeste, Golconda a Leste, Berar e Bidar no centro. Em conjunto, mantinham ainda uma guerra prolongada com o Vijayanagar, o grande reino hindu da península, fundado como esse sultanato original em meados do século XIV e com um poder que se estendia por todo o interior do Decão a Sul do rio Krishna, para além do que conseguia exercer ao longo
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da costa do Coromandel até ao Cabo Comorim e pela costa de Canará (Kanara, de Goa a Mangalor)[34]. As dificuldades de uma ligação directa com o mar pelo Ocidente
faziam dele cliente certo dos mercados de cavalos persas e árabes dos portos do Oeste, indispensáveis para a resistência às ofensivas constantes dos muçulmanos[35]. Neste
quadro, apenas os reinos costeiros de Canará e do Malabar, a Sul de Goa, separados do interior pela cordilheira dos Gates Ocidentais, ofereciam aos seus rajás hindus uma
independência relativa. Calecute representava aqui o porto mais importante. No Guzerate, dominado pelo porto de Cambaia e pelos de Diu, Rander e Surrate
(Surat/Çurrate), a exportação principal representada pelos algodões indianos chegados das cidades do interior tinha como destino os mercados do Mar Vermelho, do Golfo
Pérsico e Malaca. Era acompanhada da de trigo, de anil do próprio Guzerate e do ópio vindo da Índia Central através do comércio terrestre, este destinado ao Malabar. O trato
atingia também os portos da costa ocidental de África, os da península malaia e do Pegu, sendo na sua maior parte muçulmanos os armadores das rotas marítimas com
esta procedência, enquanto o comércio em terra era repartido pelos mercadores residentes nos diversos portos, uns pertencentes às comunidades de vainas (tanto
hindus como jainas), outros às comunidades muçulmanas, se bem que o financiamento do comércio organizado em todas estas cidades marítimas fosse maioritariamente
hindu[36]. Mais para Sul, o tráfego oceânico servia-se sobretudo dos cavalos que recebiam Chaul, Dabhol, Goa, Bhatkal e Honavar e, em plena costa do Malabar, da oferta de pimenta e gengibre de Cranganor, Cochim (que beneficiava do declínio desta última), Cananor,
Coulão (Kollam) e da preponderante Calecute, seguindo estas especiarias para os mercados da Índia, da Pérsia e para os países sob domínio Otomano. O Malabar constituía ainda escala da navegação que se dirigia do Mar Vermelho e do Golfo
Pérsico para Malaca, uma vez mais por via da estreita articulação que mantém com a rede comercial guzerate. Tudo somado, resulta no grande entreposto comercial que
referimos e que o regime estacional assegura (toda a navegação encaminhada do Médio Oriente para lá da costa ocidental da Índia é forçada a esperar aqui a estação seguinte),
onde se cruzam os produtos europeus e do Levante destinados à Insulíndia e ao Extremo Oriente com o cravo, a noz-moscada, as sedas e as porcelanas com esta
origem e destinadas ao Próximo Oriente e ao Mediterrâneo. A par, processa-se também o comércio de pequeno e médio curso que depois distribuía a partir destes portos a
canela, os elefantes e as pedras preciosas de Ceilão, o cairo das Maldivas e o arroz do Canará e do Coromandel. À semelhança de muitas outras cidades da costa ocidental,
Cananor, Cochim e Coulão praticam ainda um significativo comércio de cabotagem de bens alimentares e produtos locais de uso corrente[37].
Em Ceilão, povoado sobretudo por cingaleses budistas, a maior parcela do trato oceânico faz-se a partir da costa Sudoeste, ou seja, das cidades marítimas situadas a Sul de Colombo, que se integravam no reino de Kotte. No interior montanhoso mantinha-se o reino de Cândi (Kandy), enquanto que o reino tâmil hindu de Jaffna, no Norte da ilha, permanecia sob tutela política e cultural do Império de Vijayanagar. A prosperidade da rede portuária do Sul conhece-se desde os primeiros tempos da era cristã, se bem que a organização do respectivo trato tenha sofrido desde então uma mudança estrutural que
contribui para a aproximar da generalidade das demais realidades do Índico: os mercadores locais foram-se tornando progressivamente marginais, primeiro face ao predomínio dos árabes, e agora, quer diante da concorrência guzerate, quer diante da
talvez ainda mais importante concorrência dos Mappilla do Malabar (os mouros indígenas) que os substituíam no trato local. De novo favorecidos pelo regime de ventos, as correntes e os métodos de navegação, os portos desse litoral Sudoeste
37
ofereciam o indispensável ponto de apoio ao comércio entre as duas metades do Índico, permitindo a aguada aos navios vindos da China, de Malaca ou do Golfo de Bengala. No entanto, para Colombo e demais portos satélites sobrepõe-se à importância deste o comércio com destino aos potentados económicos do Índico ocidental: Adém, Ormuz,
Cambaia e, sobretudo, os portos do Quêrala[38]. Daqui saía a canela para todo o Índico, em especial para o Mar Vermelho, o Golfo
Pérsico (muitas vezes com uma escala não despiciente no Guzerate, que serve para que aqui cheguem também os elefantes, além de cocos e da areca) e o Malabar. Este recebe
grande parte das exportações da ilha — a referida canela, assim como as pedras preciosas, elefantes (que, como os cavalos, Vijayanagar paga a qualquer preço) e o peixe atingem Cananor, Calecute, Cochim e Coulão. Para o Coromandel, Pegu e
Marbatão envia-se areca. Através do Mar de Ceilão, entre o extremo Sudeste da Índia e a fachada interior da ilha — entre os portos do Kaveri, Colombo e pequenos portos
como Manar, Kalpitiya, Puttalam, Chilaw e Negombo — desenvolve-se um importante volume de trocas de pequeno curso, centrado no comércio de alimentos: o arroz e os
tecidos do Coromandel, os tecidos de Cambaia (maioritários em relação aos primeiros), o arroz e o açúcar de Bengala são recebidos por essa via.
À parte estes fluxos, ocorre através das águas do Canal de Ceilão o trânsito que ficou indiciado entre os portos do delta do Ganges, do Coromandel, da Costa da Pescaria e os mercados do Malabar, constituído no essencial pelos mesmos produtos e a cujos lucros a ilha não é insensível: o arroz de que o Quêrala necessita e que o Coromandel favorece
com baixos preços domina este tráfego, seguido da manteiga, das carnes e ainda dos panos da mesma região; na volta, carrega-se a pimenta, assim como mercadorias de Cambaia, os cavalos de Ormuz e da Arábia e produtos do Ocidente, como o cobre, o
azougue e o vermelhão; os escravos traficam-se do Coromandel em direcção ao Quêrala quando sucedem maus anos agrícolas naquela costa. Por último, outro, tal
como muito deste comércio, está também disponível em pleno Mar do Ceilão — em Kunjimedu, Kilakkarai, no delta do Tambraparni. Em Kunjimedu existe ainda madeira e ferro, sendo certa a actividade da indústria metalúrgica na costa oposta, em Jaffna. As
pérolas pescam-se a pensar nos bons preços oferecidos no Malabar[39]. Coromandel, Bengala, Pegu e Sião
No Coromandel de c. 1500 Paleacate (Pulicate/Pulicat) era o porto mais importante, impondo-se pelas relações comerciais que mantinha com Malaca, Pegu (a parte Sul da
actual Birmânia), Tanaçarim (Tenasserim) e outros portos do litoral do Golfo de Bengala, para onde exportava, acima de qualquer outro produto, os tecidos de algodão. Portos de menor importância, em especial aqueles localizados no delta do reino Kaveri,
a Sul, especializavam-se na exportação de arroz, areca e outros produtos vegetais (menos significativa é aqui a exportação de manufactura têxtil) que integravam o
comércio costeiro de grande volume que acabamos de mencionar, pondo em contacto os portos de Bengala, Orixá e Coromandel com os do Ceilão e a parte austral da costa do Malabar. No Norte do Golfo de Bengala, as cidades portuárias de Satigão (Satgaon) e Chatigão (Chittagong), que no início do século XVI regressam à soberania do reino muçulmano de Bengala depois de, ao longo de um século, terem sido sucessivamente ocupadas pelo reino birmano, budista, do Arracão (Arakan), anexadas pelo sultão de
Bengala e disputadas pelos rajás de Tripura (Tiperath), davam continuidade a este registo de intercâmbio marítimo, atingindo os portos distribuidores de arroz, benjoim e
laca do Pegu e os da costa Norte da ilha de Samatra (Pedir e, sobretudo, Pacém), exportadores de pimenta e seda bruta[40].
A Sul do reino budista do Pegu, no Sião ou reino de Ayudhya (Ayuthia/Aiutia), o exercício do monopólio régio sobre o comércio internacional ditava o
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desfavorecimento dos mercadores locais contra a prosperidade dos estrangeiros, persas, quelins, bengalas, mouros e, sobretudo, chineses. Estado agrário produtor do arroz que
a posse da planície do Menão (Menan Chai Phya) assegura, exportava-o desde logo para Malaca, participando ainda no tráfego que cruzava o Golfo de Bengala por via das
drogas da região e das sedas chinesas que passavam pelos seus portos. A política expansionista que o leva a controlar o reino de Sukhotai, a Norte, a apoderar-se de
Angkor, a Leste, e a dominar, a Sul, diversos principados malaios, oferece-lhe também o controlo de portos como Tanaçarim e Tavoy na costa Oeste da península indochinesa,
o primeiro dos quais situado nas proximidades de boa oferta de benjoim e lenho aloés[41]. Na ilha de Phuket extraía-se estanho, e as exportações somavam, para além disso, pimenta de Quedá, marfim, couros de veado, fios e tecidos de ouro, lacre e prata de Chiang Mai, rubis e outras pedras preciosas da Birmânia. Este tipo característico de
trato tinha como contrapartida importações de grandes quantidades de tecidos de algodão indiano, musselinas, sândalo branco, vermelhão, especiarias e demais
mercadorias de luxo como as sedas e as porcelanas chinesas. Patane, Cambodja e Vietname
Dominado pelos interesses comerciais e não pelas possibilidades da actividade agrícola, que se ofereciam reduzidas, era por isso relativamente diverso o
funcionamento de Patane (Patani), um dos reinos malaios vassalos do Sião, situado na costa oriental da respectiva península. Terminus alternativo a Malaca para muitos dos juncos chineses que para aí transportavam as sedas e porcelanas, recebia de diversos
portos da Ásia do Sudeste com os quais mantinha relações a pimenta com que satisfazia a procura chinesa. Esta, assim como os mais diversos mantimentos
originários de Ayudhya que abasteciam a navegação que partia daqui para cruzar o Golfo do Sião e o Mar da China, trocavam-se também na cidade capital do pequeno
reino com tecidos de algodão indianos. Manter-se-ia como importante alfobre de “piratas” chineses nos anos seguintes, se bem que apenas conseguindo superar a partir
da década de 1560 as rivalidades constantes com o porto siamês de Lugor (Ligor/Nakhom Sitthammarat) e com Pahang (Pão ou Pam, reino mantido na órbita do sultanato de Malaca e situado a Sul de Patane, na mesma costa da península malaia), uma posição que sustenta até meados do século XVII, quando a instabilidade interna fizer drenar o seu comércio para Joore (Johor/Jor/Ujantana) malaio e para a Malaca
holandesa[42]. Na outra margem do golfo, a capital Chaturmukha (lugar da moderna Phnom Pehn) de um Cambodja que se mantinha na defensiva face ao expansionismo do Sião transferira-se, não por acaso, de Angkor para aí cerca de 1434[43]. Zona fértil e próxima do mar, situada na confluência das principais vias fluviais, os rios Tonlé Sap, Bassac e Mecão,
a sua posição relativamente periférica face às grandes linhas de comércio asiático privava-a da notoriedade de outros centros, se bem que não fosse de todo
negligenciável como base para mercadores envolvidos no comércio com a China e o Japão. Sem ter adoptado a imagem política e a fórmula económica do típico Estado
sultanesco que se generalizava no Sudeste asiático, não só era nítida, desde esse tempo de meados do século XV, a abertura ao mar e ao comércio, como estava reservado para o monarca o papel principal entre os mercadores do reino. Da sua condição distanciada
do mar, o Laos que se confunde com a principalidade thai que aparece em Luang Prabang, no alto Mecão, como consequência do declínio do Império Angkor no século
XIV, dá a ver a mesma mudança característica da era comercial asiática de Quatrocentos: a capital acabaria por se transferir para Vientiane no decorrer do século
XVI, onde era favorecida pelas planícies que a circundam e pela navegabilidade de curso intermédio do Mecão, de que se torna centro, vindo a alcançar durante quase todo
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o século seguinte um estatuto invejável como medianeira no tráfego entre a China, o Vietname, o Cambodja e o Sião[44].
Resistente, pelo geral, a esta tipologia que faz notar a ascensão de novas capitalidades mercantis e cosmopolitas sobre antigas manifestações de poder de base agrária, é o
caso do Vietname. A matriz confucionista que moldara a reorganização do Estado ao longo do século XV depois de duas décadas de domínio chinês (1407-1428)
desencorajara o comércio, por contrapartida com um ensimesmamento agrícola. Sob o reinado de Lê Thanh Tong — o segundo e principal monarca da segunda dinastia Lê (r. 1460-1497) —, enquanto a agricultura era apoiada com o cultivo de terras virgens e a
fundação de colónias militares, reduziam-se drasticamente exportações como a da cerâmica e inviabilizava-se o estabelecimento de mercadores estrangeiros. Thanglong (Hanói) conservar-se-á como a única capital da área cujo progresso durante o período
não deve a sua maior quota aos rendimentos retirados das actividades mercantes. Entretanto, a interferência secular no Champá passara de infiltração pacífica à
anexação quase completa que se concretiza em 1417, quando se reduz o território deste reino, que fora entre os séculos VII e X uma escala de comércio entre a China e o Ocidente (Índia e Império Abássico), à magra região de Kauthara e Panduranga.
Apesar do domínio burocrático, agrícola e fechado que permanece a Norte, feito feudo por uma das duas famílias que repartem o país cerca de 1545, a porta marítima
mantém-se entreaberta a Sul, no domínio dos Nguyen, o Vietname a Sul do paralelo 14° Norte, que correspondia ao que então se reconhecia como “Cochinchina”[45].
Na parte setentrional de Samatra, pequenos principados islamizados como Pedir, Pacém (Pasai/Samuda-Pasai) ou Pirada faziam fortuna com a exportação da pimenta,
moeda de troca para o arroz de Bengala e do Pegu e para as sedas e porcelanas da China que aí afluíam depois de escalarem Malaca (o sultanato do Achém/Aceh/Atjeh,
no topo Nordeste da ilha, beneficiava por enquanto mais das razias e da guerra de corso com que vitimava Pedir)
Samatra e Malaca
[46]. Esta produção própria — a que se junta o ouro, estanho, ferro, algum cobre, salitre, enxofre, canela e a seda — seria em breve procurada pelos
muçulmanos, que tentarão contornar a vigilância e o bloqueio das armadas portuguesas nas rotas tradicionais de escoamento para o Mar Vermelho seguindo para o efeito rotas alternativas em direcção ao “Estreito de Meca” como a das Maldivas, uma das poucas que lhes garante o abastecimento da especiaria a Veneza. Nessa conjuntura de pleno século XVI, em que os percursos caravaneiros através da península malaia ou o que atravessa o Estreito de Sunda depois de baixar a costa ocidental de Samatra evitam Malaca, esta e Pacém vêem fugir-lhes a preponderância, o que permite assistir a um
processo de homogeneização relativa entre entrepostos novos ou ressurgidos: Achém, Tanaçarim (na costa ocidental do Sião), Ayudhya, Patane, Pahang, Joore e Bintão
(Bintan), ambos no extremo da referida península. Antes disso, porém, são a fundação e a liderança de Malaca como primeiro entreposto no comércio entre o Índico ocidental
e o Golfo de Bengala, por um lado, e entre o arquipélago da Indonésia e o Mar da China, por outro, que contribuem para o progresso e a redefinição dos papéis de Pedir ou Pacém, permitindo-lhes designadamente que, como seus fornecedores de pimenta e
arroz, adquiram uma importância relativa dentro do conjunto[47]. Sobre a primazia comercial de Malaca na Ásia do Sudeste já se deixaram os elementos
essenciais. Homólogo de Ormuz como plataforma asiática para a recolha e a distribuição de bens de luxo e como cidade desprovida de hinterland, o sultanato regia-se como um mercado livre com uma economia monetária, o modelo que, mais do que para qualquer outro local, se exportava daqui para o arquipélago indonésio, onde os antigos reinos agrários medievais, de cultura hindu, dentro em breve dariam lugar à
40
ideologia islâmica — antes de todos, o Império de Mojopahit, que entre 1330 e 1400 influenciara grande parte do Arquipélago (ainda que controlo efectivo dentro dessa área talvez até então apenas o exercesse sobre duas terças partes de Java, Samatra,
Madura e Bali[48]), e que no presente recuara já para posições ao centro e a Oriente de Java, sendo claro que não resistira ao ascendente de Mataram. Cedo declarada vassalo do Celeste Império, o que lhe garantia independência face ao Sião, se era obrigada a importar a quase totalidade dos bens de primeira necessidade, como o arroz (visto
afluir vindo do Sião, do Pegu e também descarregado de Java), Malaca retirava o seu poder do papel intermediário que exercia entre a Insulíndia produtora de matérias-
primas e de bens equatoriais, de um lado, e a Índia e a China, do outro, produtores de sedas, algodões, cerâmicas e demais produtos fabricados. À parte o seu pequeno
território próprio, alargava-se como um império de reduzidas proporções, controlando boa parte da península malaia e da costa de Samatra que tinha defronte. A sua rede comercial estendia-se da China — mantendo um entreposto comercial na ilha de
Tumon — às Molucas, cobrindo, assim, toda a Ínsulíndia, ao mesmo tempo que se prolongava para Oeste, em direcção aos portos de Cambaia, onde acertava os seus
interesses com o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico. Depois da dos guzerates do Coromandel, as comunidades estrangeiras residentes de
Malaca mostravam três outras colónias principais: a dos quelins ou tâmiles do Coromandel, a dos javaneses (a comunidade mais numerosa, constituída por pequenos comerciantes, artífices, vendedores ambulantes, pescadores, marinheiros, artilheiros, fora os muitos que eram escravos do sultão ou criados de bordo), e a dos chineses. Cada uma delas resguardava-se sob a autoridade de um xabandar (termo de origem
persa sinónimo de “chefe” ou de “rei do porto”, e que também passa ao malaio como syahbandar), responsável pela recepção dos mercadores da sua nação ou de nação
vizinha e ainda com incumbências laterais de ordem militar. O xabandar guzerate acolhia os mercadores vindos de além-Ceilão, especializando-se
esta comunidade no trato das drogas, especiarias e madeiras da Insulíndia com o Próximo Oriente e o Egipto mameluco, de cuja escalas em Adém e Ormuz recebia o
ópio, águas de rosas, armas, tecidos de lã e tintas. O xabandar dos quelins estava encarregue dos navios vindos de todos os limites do Golfo de Bengala, de Ceilão a Malaca. Do Coromendel transportavam os algodões indianos que lhes serviam para
trocar pelas especiarias da Insulíndia. Quanto ao xabandar da colónia jau — dividida, na prática, entre os originários do Leste de Java, por um lado, e os de Tubão (Tubon) e Japará (Japara), de Sunda e do país Lampund, por outro, este por certo o grupo mais próspero —, supervisionava todos os navios provenientes da Insulíndia, de Palimbão (Palembang) às Molucas e a Manila, especializando-se a comunidade em causa no
comércio de arroz e outros víveres, que fazia com viagens de pequeno e médio curso. O xabandar chinês exercia autoridade sobre os mercadores que vinham do Champá e
de Cauchi (Cochinchina ou Tonquim/Tongking), das ilhas Léquias (escala nas viagens para o Japão) e de Chinchéu (Zhangzhou, no Fujian). Para além destes quatro grupos, notava-se ainda uma pequena e próspera comunidade de luções (tagalogs islamizados) ligada ao comércio do Mar da China, um numeroso contingente de bengalas pobres,
alfaiates, pescadores ou operários, e um número apreciável de marinheiros pegus[49]. Insulíndia
O novo estímulo da vida de relação das margens da Ásia do Sudeste que as sucessivas missões diplomáticas e comerciais enviadas pelos primeiros imperadores Ming
provocara no início do século XV fora, como noutros locais, capitalizada em zonas costeiras da ilha de Java, onde o clientelismo próprio das crescentes redes de comércio havia suscitado o aparecimento de Estados portuários depressa liderantes em relação
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aos centros hindus e budistas do interior: Gresik (Geresek/Agracim), Surabaia (Surabaya) e Demak são disso exemplo.
Nesta, como noutras regiões passadas em revista, o modelo estatal é embrionário e o poder raramente resiste à circunstância de uma chefia carismática. Contudo, isso não impediu que o mencionado recuo de Mojopahit fosse acontecendo sem apelo e que a
supremacia comercial e tecnológica do Norte muçulmano se estendesse durante o século XVI. Primeiro emancipa-se Demak, exportadora de arroz, seguindo-se Japará,
rica como essa nesse produto. Até ao início do século XVI encontra-se islamizado todo o terço central do Pasisir, da fronteira de Sunda à região de Surabaia, acontecendo a
reunificação definitiva apenas a partir de 1588, num curioso processo que faz com que o embrião seja uma monarquia agrária que recupera o nome de um antigo Estado hindu e não um principado costeiro (Demak, por exemplo, tentara essa hegemonia por breve tempo; na ponta Noroeste de Java, Bantão/Banten/Bantam estabelece-se como porto
muçulmano na década de 1520, contribui com as suas forças para derrotar o reino sundanês hindu de Pajajaran ou de Dajeuth — com domínio sobre Kalapa, o grande
porto da região antes de declinar a favor de Bantão e que transaccionava os escravos e o arroz das Maldivas e tinha carreiras estabelecidas com o Sião, o Sudeste e o Ocidente
de Samatra e o Bornéu — e chegará a controlar o Sul pimenteiro de Samatra, onde a javanização decorria há muito). A ideologia que serve de fundo é um sincretismo
cultural hindu-javanês-muçulmano e não um islamismo ortodoxo, o que lembra ainda a circunstância deste não ter sido introduzido na Insulíndia directamente da Arábia, mas pelo Guzerate, Bengala e até por intermédio da China. A Leste da ilha, manter-se-ão
bolsas residuais de poder hindu, à semelhança do que sucede em Bali e na costa ocidental de Lombok[50].
Portugueses e muçulmanos competiriam lado a lado ao longo do século XVI pela primazia religiosa sobre Macáçar (Makassar/Ujung Pandang), o Estado inscrito no extremo Sudoeste da ilha de Celebes cujo crescimento e relevância na verdade se
adquirem por então. Tal estatuto consolidar-se-á no início de Seiscentos quando Gowa, o seu núcleo original, vier a constituir o principal sultanato da Insulíndia, depois de ter estendido o seu domínio sobre o Estado portuário de Siang, a Norte, e sobre o vizinho Tallo, também vocacionado para o comércio marítimo. Fornecedor de arroz, Macáçar concorre com a oferta Java no escoamento desse produto para o comércio regional,
bem como com a de especiarias das ilhas de Amboino (Ambon), Banda e Molucas, a de sândalo de Sumba e a de escravos de várias paragens próximas[51].
Nas ilhas do arquipélago de Solor, o sândalo de Timor e, ainda, o de Solor propriamente dita satisfazem a procura dos mercados chineses, motivo pelo qual cedo se integram na rota de Malaca[52]. Uma das rotas tradicionais utilizada pelos mouros
desde o século XV entre Malaca e as Molucas incluía Java, Sumbaia (Sumbawa) e tinha Banda como penúltima escala. Aqui, são os grandes mercadores javaneses e
malaios quem monopoliza o negócio de cravo e da noz no início do século XVI e não volta a ser casual que o Islão e os rudimentos de uma organização estatal centralizada apareçam de par com o ascendente de uma oligarquia comercial local que subordina o
poder real por conta dos seus interesses com a exportação de noz[53]. Nas Molucas produtoras de cravo, o sultanado muçulmano da ilha de Ternate preponderava sobre os
demais três e, em conjunto com o de Tidore, disputa várias das ilhas adjacentes, das Celebes à Nova Guiné[54].
Apesar do seu porto ser bem mais antigo do que Malaca, a cidade de Brunei, principal porto de Bornéu e dos poucos recantos civilizados da ilha, não beneficiaria como esta
ou Ayudhya da reanimação chinesa de inícios do século XV. A cânfora dera-a a conhecer às redes de comércio asiático do Índico Ocidental e do Extremo Oriente,
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servindo este e os outros portos da ilha como escalas utilizadas pelos mercadores malaios de Java e de Samatra, que ligavam o Império de Srî Vijaya com a China. Nos
primeiros anos do século IX, esta estabelece em Brunei uma importante colónia mercante, um tipo de entendimento que bem mais recentes demonstrações de adesão ao sistema tributário do Império do Meio de certo modo confirmam. Mas nem isso, nem
os laços comerciais estabelecidos com Malaca, evitam que sejam os portugueses a reabrir c. 1525 a antiga rota dos mercadores asiáticos ao preferirem durante alguns anos rumar das Molucas em direcção a Malaca contornando o Bornéu pelo Norte e fazendo
escala em Brunei em vez de se aventurarem pelo percurso dos estreitos de Banda e Palimbão (canal entre a costa setentrional das ilhas de Samatra e Banka), a Sul.
Quanto a Manila, que na origem se pensa que também estivesse integrada na área de influência comercial de Srî Vijaya e que bem mais tarde foi islamizada a partir da rota
do Mar da China que tocava Brunei vinda de Malaca — o sultanato de Sulu e as comunidades muçulmanas de Mindanau aparecem islamizados por contágio das
Molucas —, depois de ter perdido o trato com a China, por volta de 1430, compensa-se a si própria quando, por junto com o Brunei, reorienta o seu comércio desprovido de especiarias ou de madeiras aromáticas em direcção a Malaca: ao mesmo tempo que o
trato entre ambas as ilhas vizinhas se aprofunda, Manila recupera o mercado chinês por intermédio do sultanato malaio[55].
China e Extremo Oriente insular Dominada pelos juncos chineses e centrada no Sul da China, a área que se estende da margem ocidental do mar com o mesmo nome ao Japão encerra o conjunto de espaços que percorremos. Estado tributário dos Ming, Malaca garante à China a via de acesso ao Índico, mas está longe de sustentar, por si só, a conservação dos interesses desta no comércio marítimo quando cessam de modo abrupto os contactos oficiais que haviam levado as esquadras do imperador Yongle (r. 1403-1424) e do seu almirante Zheng He (1405-1433) tão longe quanto Bengala, o Malabar e Mogadíscio: como em Angkor no
século XIII ou em Ayudhya e Gresik no século XIV, as “comunidades” chinesas já redistribuem entre si esse papel um pouco por toda a Ásia do Sudeste, ensaiando a
prática de um modelo privado mais liberal, alternativo ao sistema estatal[56]. Como começámos por dizer, a China estimulara o comércio directo com as Molucas exportadoras de noz-moscada e de cravo-da-Índia ou com paragens mais meridionais quando o interesse é o sândalo — casos de Timor e Sumba —, contornando com esta
“rota oriental” o declínio da antiga, periclitante durante o século XV por efeito da emancipação do Vietname e pela guerra que Thanglong move no Champá e que
desmantela a rede cham. Pela altura em que os portugueses a tocam, a China é o grande importador mundial de prata, absorve 3/4 da pimenta do Sudeste asiático e 1/4 da malabar e evidencia-se pela seda, porcelana, ouro e “caixas” de cobre a que temos
reiterado referências[57]. Sintetizada assim a situação de chegada, convirá desenvolver alguns dos antecedentes mais imediatos deste estado de coisas, em particular os que
respeitam à abertura Ming. Tendo recebido um Império arruinado pela exploração e pelos vícios feudais dos
mongóis, pelas guerras e pelas fragilidades nas ligações entre as metades Norte e Sul — a inflação e o descalabro económico dos últimos tempos dos Yuan (1276-1368) devem muito ao estrangulamento da colocação de arroz da China do Sul e da China central na área metropolitana do Norte[58] —, desde a primeira hora que esta nova
dinastia nacional (1368-1644) se entregara dentro de fronteiras a uma obra de centralização do poder político, a qual depressa oferecerá um carácter autoritário e
despótico que se não reconhecera em tempos anteriores, fosse sob os Tang (618-906), quando o poder se encontrava repartido entre grandes famílias aristocráticas, fosse sob
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os Song (960-1279), quando era partilhado entre organismos políticos poderosos e uma administração forte. As tarefas prioritárias passaram por uma reflorestação em larga
escala e o repovoamento de áreas devastadas, pela revalorização das terras, a regularização de cursos de água, a irrigação, por recensear as populações e estabelecer
um novo cadastro. Nos primeiros tempos, a China é submersa por um pesadíssimo corpo legislativo que tenta instituir uma ordem social ideal, vê recuperada a marca de país agrícola e não lhe escapa, promovido pela ortodoxia “neo-confucionista”, o tão característico recrudescimento dos sentimentos xenófobos. Por outro lado, existia a realidade pujante do comércio e da vida intelectual do baixo Yangtze, em relação à
qual o divórcio do poder imperial se acentua. Por volta de 1450, quando se concluir a transferência da capital de Nanquim para Pequim, o fosso entre essas duas realidades
será maior do que nunca[59]. Em relação ao comércio externo privado e às actividades marítimas em geral, a atitude oficial tem de ser contraditória. Hongwu, o primeiro imperador (r. 1368-1398), proíbe
que qualquer chinês siga para o mar. O édito não tem efeitos práticos, como o demonstram os posteriores decretos de 1381 e 1398, iguais no conteúdo, portanto
iguais na ineficácia. Tal política é continuada pelos seus sucessores até 1567, quando se opta pela abolição das respectivas medidas. As duas superintendências de comércio
marítimo instituídas em Taicang e Hangzhou, na província de Jiangsu, foram desarticuladas em 1370, numa altura em que se reabriram três portos mais antigos: Ningbo (para o trato com o Japão), Quanzhou (para o trato com as ilhas Riu-Kiu) e Cantão (para o trato com o Sul). No início do século XV criar-se-iam duas novas
superintendências, uma em Tonquim, outra na província de Yunnan (ambas para o trato com a “Índia Longínqua”), mas as directrizes do Tribunal dos Ritos bloqueiam a
possibilidade destas interferirem nas actividades dos mercadores e dos navios estrangeiros de visita aos portos chineses, actividades entretanto tomadas em mãos por
diferentes autoridades provinciais (governadores-gerais, chefes de serviço civil provinciais, juizes provinciais e directores de assuntos provinciais): evoca-se que tal
não estaria definido nas ordens ou mandados imperiais, pelo que as Superintendências viam as suas funções limitadas a assuntos relacionados com tributos[60].
Na verdade, o comércio privado, repartido entre a cabotagem e o longo curso, não só continuaria activo, como depressa se desenvolveria de par com um crescente
contrabando, logo que das interdições resultou o decréscimo da soma das importações e das exportações para níveis inferiores aos da última fase Yuan e que a pressão da
procura chinesa sobre a oferta de bens “marítimos” produzidos no Ocidente ou no Sul e Sudeste da Ásia desse numa inevitável alta de preços. Nesta área, a corrupção toca por
igual mercadores privados, muitos dos citados e outros tantos funcionários alfandegários e de patrulhamento costeiro das províncias de Zhejiang, Fujian e Guangdong. Repetem-se as associações com piratas e, em alguns casos, dá-se a
emigração desses mercadores para a Ásia do Sudeste. Quanto à outra faceta do relacionamento externo, encontramo-la no mencionado
expansionismo marítimo que o imperador Yongle desencadeia a partir de 1405 em direcção ao Sudeste asiático e ao Oceano Índico. A pensar, mais do que noutro
objectivo, no prestígio político da dinastia — não visando, portanto, compensar o comércio privado com a navegação oficial —, propõe-se acima de tudo trocar ofertas,
informar os “bárbaros” da autoridade universal do Celeste Império, recolher saber geográfico, curiosidades científicas ou homenagens e salvaguardar a imposição do
pagamento de tributos às populações ribeirinhas que se visitassem. Uma vez mais, a estratégia tinha os seus antecedentes: desde o início que a dinastia procurara recuperar
o relacionamento diplomático com todos aqueles ligados por tradição à China, pelo que
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lhes havia endereçado uma série de embaixadas entre 1369 e 1370. A reciprocidade funcionara prontamente pois Nanquim recebe enviados do Champá, do Vietname, do
Japão no primeiro desses anos. Em 1371 apresentam as suas credenciais o Cambodja e o Sião. Em qualquer destes momentos, permitia-se que a submissão de tributos
acontecesse em simultâneo com algum dito “comércio suplementar”, salvaguardados que estavam o tipo de produtos admitidos e a escolha do reduzido número de portos
por onde as entradas se podiam processar sob o olhar atento dos delegados governamentais[61].
O visado pelas expedições do almirante Zheng He é vasto e acontece num momento em que o novo imperador, depois de prosseguir os avanços em direcção à Mongólia e ao vale do Amour que lhe permitem recuperar para a China as fronteiras que esta tinha
tido no período dos Yuan, as estende ao Vietname entre 1406 e 1427. Por mar, as frotas chinesas atingirão as costas do Sudeste do Vietname, Java, as ilhas de Riu Kiu, Bornéu,
Samatra, a Malásia, Ceilão (onde os soldados chineses protagonizam um ataque espectacular em 1411), reconhecem as Maldivas, o Golfo de Bengala, Cochim,
Calecute, Ormuz, Adém, Djeddah (o porto que serve Meca), descem a Mogadíscio e à costa Norte de Mombaça (Melinde) e não está desmentida a hipótese de que tenham explorado a região do Cabo e as partes mais a Sul do Oceano Atlântico. Na Ásia do
Sudeste, a iniciativa oficial ter-se-á limitado à área ocidental das ilhas Sulu e das Celebes, conservando-se sob alçada de privados ou das comunidades ilegais
estabelecidas na costa Norte de Java ou em Samatra o comércio com as ilhas das Especiarias e outras partes do arquipélago da Indonésia[62]. Seguindo as rotas do trato
árabe e chinês, se este expansionismo não ambiciona a colonização directa, no que representa um dos seus traços mais característicos, a supremacia naval chinesa
constitui, ainda assim, uma ameaça indiscutível nas águas situadas a Leste de Calecute e é decisiva no Sudeste asiático — já quanto à suserania formal sobre portos como os do Mar Arábico, tal como reclamada pela mesma ordem cosmológica do mundo[63], supõe-se que não se dispusesse de força suficiente para que fosse levada a sério pelos
poderes locais. Fazendo fé nas fontes oficiais, durante os reinados de Yongle e Xuande (r. 1426-1435)
os resultados das expedições concebidas pela Corte imperial saldaram-se pela visita mais ou menos regular de missões tributárias oriundas de cerca de sessenta países da
Ásia do Sudeste, do Sul e do Ocidente. Tendo aprendido a experiência do antigo Império de Srivijaya/Palembang, que soubera impor a partir do século VII o seu
ascendente sobre as costas de Samatra, a península malaia, o Ocidente de Java, Sunda e os estreitos de Malaca, sustentado no aproveitamento da passagem do tráfego marítimo internacional por essa área, a Malaca malaia prontificava-se a reatar o tipo de aliança preferencial com a China que fora também essencial para esse potentado pretérito no
instante imediato ao da passagem de Zheng He por aí, em 1405. A armada Ming passa a assegurar a protecção a este porto estratégico que se convertera, senão no primeiro empório do Arquipélago ou de toda a Ásia, pelo menos no mais importante para o
comércio que atravessava o respectivo estreito. Uma protecção como esta leva também a que muitos dos comerciantes chineses, ou
outros que antes operavam nas ligações entre o Sul da China e os portos do arquipélago da Indonésia, se tenham desviado para a “rota comercial principal” que unia por essa
via o Oriente ao Índico[64]. A par de Malaca, Calecute franqueava à China as portas do Médio Oriente. As Maldivas e o Ceilão contavam para a rota directa entre a Ásia do
Sudeste e o Noroeste da Índia, o Médio Oriente e África. Ormuz e Adém equivaliam às entradas no Golfo Pérsico e no Mar Vermelho, enquanto Mogadíscio jogava a sua função de porto fundamental para todo o comércio realizado em ambos os sentidos
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entre o Médio Oriente e o Sudeste de África. A Leste de Malaca, os portos javaneses, Palembang, Champá e o Sião anuíam igualmente às regras tributárias e à parceria nos
negócios que a China lhes impunha. Tanto o Brunei como os ilhas Sulu, que controlavam a rota Norte para as Molucas, eram outras duas soberanias a aceitar o
pagamento de tributos. Como se vê, à margem colocam-se os lugares situados a Sul de Moçambique, tal como as áreas que os continuam na costa oriental africana até tão
longe como o Congo: não oferecendo quaisquer produtos relevantes ou, sobretudo, não exibindo um mínimo de formalização do poder político que lhes permitisse o enquadramento na categoria de “país”, tal como prescrito pela burocracia que coordenava as relações exteriores da China, inviabilizavam, à partida, que a
reciprocidade tributária pudesse funcionar[65]. Sobre o fim oficial das expedições marítimas que acontece em 1433 (em 1449 e 1452 novos éditos decretarão o mesmo), sobre a proposta de destruição dos correspondentes registos levada cerca de 1479 em memorial à Corte pelo vice-presidente do Ministério da Guerra Liu Daxia sob pretexto de mau exemplo de dispêndio de homens, material e de apenas terem trazido de volta artigos luxuosos inúteis, ou, ainda, sobre o acentuar
das restrições ao comércio internacional que se dá daí para a frente, a literatura deverá ter esgotado todas as conjecturas possíveis. Se resta um travo de enigma na quase
unanimidade delas, os factos apurados talvez não ofereçam razões demasiadas para isso, sendo antes mais transparentes do que se quer fazer crer apesar dos Mares da Ásia
parecerem pacificados e de falhar, assim, a observação de um inimigo externo que pudesse ter ameaçado de modo evidente o comércio governamental Ming. Veja-se que os vietnamitas expulsavam o exército ocupante em 1427 e os custos desta intervenção
tanto são elevados pelo que há a pagar, como pesam duas vezes quando a China tem de reconhecer o Vietname como um Estado tributário independente em 1428. Em meados
deste século, as tribos mongóis reiniciam a recuperação de posições perdidas na Mongólia e penetram no Norte do Shanxi na sequência das restrições que os Ming
tinham imposto às suas trocas comerciais com o Império, enquanto não se atreviam a atacá-las. Entre 1540 e a década seguinte esta pressão estará ao rubro e o esforço
militar para a conter irá requerer largos meios, sendo que as anteriores imagens da Grande Muralha e da transferência da capital constituem já testemunhos acabados de
uma estratégia incapaz de outra solução que não passasse pela defesa e pela prioridade concedida às regiões setentrionais.
Sensivelmente na mesma altura em que se legisla sobre a “Grande Retirada”, a pirataria japonesa dos wâko (wokou, i.e. ladrões ou piratas anões), alimentada pelas disposições
administrativas anti-contrabando e anti-deterioração social, fustiga com especial intensidade as costas entre Shangdong e a ilha de Hainão e prejudica a economia do baixo Yangtze e do Norte do Zhejiang — na verdade, muitos dos contingentes são
mistos, por vezes mesmo com predomínio ou orientação do grupo chinês, se bem que baseados no Japão, de onde provinha o adestramento e o equipamento militar[66]. De modo a esvaziar estes interesses, a China reage uma outra vez pela defensiva: restringe a construção naval a embarcações de menor porte ou àquelas que não tenham mais de
um mastro, ordena a queima de grandes juncos, a reconversão de outros ao tráfego fluvial, chegando a não autorizar a pesca (e, apesar dos sucessivos pedidos da província
do Fujian no sentido de que se aligeirassem as imposições à vida marítima, a Corte apenas as vai levantar no referido ano de 1567 após uma série de expedições punitivas que sugerem ter terminado com as remanescentes bolsas de pirataria costeira). Mais do que antes, o próprio mecanismo do sistema tributário, já de si menos ou nada agressivo,
é utilizado como manobra de diversão para permitir tráfegos tão básicos como o da importação de arroz do Sião em que estavam envolvidos mercadores chineses e
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siameses. Quando uma drástica depreciação fizer baixar a cotação do papel-moeda para 0,1% do seu valor facial, percepciona-se que um comércio marítimo de largo espectro
mas deficitário só poderia ser continuado com recurso à exploração de ouro e prata[67]. As últimas embaixadas tributárias de alguns dos seus “vassalos” davam entrada na
Corte: a última embaixada de Ormuz chega em 1411, a última de Ceilão em 1459 (o último dos pesados tributos impostos é-lhe cobrado em 1465)[68], se bem que
entidades mais próximas como Malaca, Java ou o Champá tenham enviado as suas até ao termo do século XV e início do século XVI. O influente confucionismo dos
funcionários-eruditos ia fazendo ver que o modelo de auto-suficiência agrícola, sobre o qual se reorganizara o Estado e que a construção do Grande Canal reforçara[69],
permitia manter com apreciáveis vantagens certos equilíbrios, exactamente os que estavam inscritos numa filosofia e numa prática de serviço civil que amadurecera ao
longo de um século. Com um novo ensimesmamento, a imagem oposta do comércio e do contacto externo, poupar-se-ia o regime ao desgaste e à crise fiscal de que eram
responsáveis, alegava, o protagonismo no mar e em terra. Contudo, os argumentos de estilo filosófico que se colam à rivalidade crescente entre
esta nova classe de letrados e os todo-poderosos eunucos, não chegam para aqui. Certo, o uso da força repugna à face dos valores de moderação, serenidade, realização
literária, persuasão moral e destreza subtil tornados dogma; e, para ser devidamente realizada, a unidade estrutural do governo da China passa por uma ênfase na coesão
ideológica que não é possível consumar de outro modo que não a expensas de lógicas como a das forças armadas, da propensão desta para privilegiar as acções drásticas e,
claro, letais, das suas opções selectivas e circunscritas a pontos vitais, ou da sua fanfarra, fatal em caso de vitória[70]. Mas o fundo tem sobretudo a ver com uma pura e dura e muito pragmática disputa entre facções, da qual os termos demagógicos em que a intriga palaciana coloca as questões são apenas a face visível. Dito isto, é patente que
os vencedores foram aqui aqueles que conseguiram passar a mensagem de que a virtude saía manchada quando se enfrentavam a céu aberto os wakô de Yamaguchi,
Bungo, Ozumi, Satsuma, da Baía de Hakata ou das ilhas de Tsushima e Gotto. Aqueles que souberam argumentar que nada do que se alcançava valia se se negligenciasse por
isso a construção de diques ou as obras para a navegabilidade interior. Que nada se ganhava resgatando-se avestruzes, leões, elefantes, zebras ou girafas das poeiras de
África[71]. No Mar do Sul da China o único trânsito observado a partir de agora será o das missões
tributárias e o de comerciantes privados ilegais para quem outras oportunidades se abriam depois de um período em que não está esclarecido o grau de colaboração
mantido entre as comunidades chinesas da diáspora e os mercadores oficiais dos Ming. Desvendar esta incógnita permitiria resolver a hipótese aventada por alguns de que em
vez de “recuo” chinês se deveria antes falar em passagem reflectida e acompanhada pela Corte de um sistema comercial de Estado ao sistema liberal que os particulares
tinham instalado para serviço próprio, uma inovação mais arrojada que a da dependência estatal que encontramos nos sistemas posteriores do Estado Português da
Índia ou, mesmo, no das companhias inglesas, holandesas ou francesas[72]. Não provada esta eventualidade, é contudo pacífico que os contingentes chineses no exterior
são reforçados e que chegara a hora de Malaca, porto promovido ao estatuto de terminal das grandes rotas de comércio intercontinental, enquanto sobrava para a rota
Malaca-China (Cantão) uma ligação de carácter regional. O porto malaio continuava a aprender a lição dos rajás de Srivijaya, cujo poder, depois dos seis séculos em que dominara os contactos entre a Índia e a China, havia desabado por não ter encontrado alternativas ao declínio do comércio externo chinês no século
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XII. Malaca, pelo contrário, diversifica no imediato as suas parcerias: com os mercadores indianos, antigos conhecedores dos portos setentrionais de Samatra; e com
os mercadores muçulmanos de Java, a razão pela qual troca a antiga fé budista pelo Islão. Assegurava com isto uma prosperidade sem precedentes. Por seu lado, e na outra
extremidade desse segmento marítimo, a China tardaria uma década a abrandar as rigorosas proibições a qualquer comércio externo, começando por consentir um
número de cinquenta viagens ao Sudeste asiático por volta de 1567 e, em poucos anos, a sua multiplicação por dois ou três. Como o Japão vai continuar interdito, algo que será agravado pelo conflito entre os exércitos de Toyotomi Hideyoshi e os Ming que acontece na década de 1590 na sequência da invasão japonesa da Coreia, virá daí a concorrência que pouco depois se estabeleceu visando o acesso aos produtos que os
chineses colocavam Sudeste asiático entre daimyos (os membros da grande nobreza) e mercadores japoneses, por um lado, e portugueses e holandeses, por outro.
Perdidos de vista os refugiados chineses que, oriundos na sua maioria do Guangdong e do Fujian, se estabelecem em Java tão cedo quanto o século X, os mercadores levados
pelos tráfegos marítimos da era dos Song para a Ásia do Sudeste, Ceilão ou para as costas do Malabar, ou importantes colónias posteriores como a que se conhece ter existido em Tamasik em meados do século XIV e as que se sabem, ou supõem, um
pouco antes, pela mesma altura ou um pouco depois no Vietname, Japão, Cambodja ou no Norte da península malaia, as armadas Ming haviam sido surpreendidas por
instalações consideráveis de nacionais seus nos portos setentrionais de Java — Gresik, Tuban e Mojopahit —, tal como enfrentam o reduto de piratas que outros engrossavam
em Palembang. As cheias, a fome, as perseguições ou, sob os mongóis, os acampamentos militares e um acelerar das colonizações chinesas de cariz mercantil da
época Song, tinham determinado muitas destas situações, mas nem alguns desses motivos se mantêm fulcrais para explicar o êxodo que ocorre a partir de meados do
século XV, nem valores decorrentes daqui como o das dezenas de milhares de chineses em Lução nos finais do século XVI podem ser comparados com essas realidades
anteriores. Em boa parte graças a esta instalação continuada na peugada das megalomanias de Yongle e que amplia as correntes tradicionais dos tráfegos e da
emigração chinesa, a presença, a influência e o prestígio da China manter-se-iam entre os reinos da Ásia do Sudeste, designadamente na costa Norte de Java, em Malaca e
Palembang. Longe destas paragens, restaria o prestígio[73]. Sínteses
No dealbar do século XVI a Insulíndia oriental conserva, pois, uma actividade plena, completando ainda o padrão económico mais geral que dá uma complementaridade
entre regiões próximas do equador, exportadoras de produtos vegetais das florestas e plantações, e regiões mais setentrionais, especializadas na exportação de produtos
transformados, sobretudo os têxteis — os tecidos de algodão do Guzerate, Bengala e do Decão, as cerâmicas e as sedas da China e, já nos séculos XIV e XV, também as
cerâmicas do Vietname e do Sião; em menor escala, os produtos manufacturados do Mediterrâneo e do Médio Oriente (armas e armaduras, espelhos, jóias de coral, água de
rosas, por exemplo). O trato alimentar em que o arroz desde sempre predomina, integrando as exportações chinesas, de Quíloa, mas sobretudo do Vijayanagar,
Bengala, Pegu e Java, perderá com o tempo em favor do crescimento do comércio das especiarias das Molucas e da pimenta, este, por seu turno, com um progressivo
ascendente sobre o de produções tradicionais da floresta com uso preferencial pela farmacopeia — incenso arábico, o aloés de Socotorá, o tamarino e o gengibre do
Malabar, a canela do Ceilão, a cânfora e o benjoim de Samatra, o musgo e o ruibarbo da China[74].
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Outro elemento de carácter estrutural merece destaque: produtos como a pimenta ou o ópio, se bem que este com menor importância relativa do que aquela, vão ocupando zonas de produção que se deslocam do Ocidente para Oriente: a pimenta que Marco Polo notou no século XIII no Malabar, regista-se no século XV no Norte de Samatra,
para pouco depois ser vista na costa ocidental desta ilha e em Bantão; o cultivo do ópio transfere-se da região de Tebas, no alto Egipto, primeiro para o Guzerate e, logo, para Bengala. As pedras e os metais preciosos preenchem o que resta de mais apetecível no
todo deste trato: cornalinas de Cambaia, pérolas de Manar (Mannar), safiras e esmeraldas do Ceilão, diamantes do Vijayanagar, rubis de Ava (território feito
tributário do Império que o Pegu consegue construir depois de 1538: o “II Império Birmane”), ouro do Monomotapa (África oriental) e de Samatra ou a prata do Sião[75].
Com a rede de fortalezas e feitorias que instalam a breve trecho, os portugueses procurarão assegurar para a sua Coroa o monopólio das especiarias. O estabelecimento
adquire um carácter formal em Malaca, em Ternate (onde fundam uma fortaleza em 1522, depois das pretensões espanholas sobre o cravo de Tidore a isso os obrigarem),
em Amboino, Tidore (para onde vão depois de expulsos de Ternate durante a década de setenta do século XVI) e em Macau (aqui a partir de 1557). Nas duas décadas que
precederam a fundação deste último entreposto, bem como durante a década de sessenta, portos da costa da China como Liampó e Chinchéu, ambos no Fujian, e,
depois, em Cantão (ilhas de Coloane, do Pinhal e de Lampacau) serviram a mercadores privados e a aventureiros portugueses para lançarem as bases do comércio sino-
nipónico que Macau articulará daí em diante por efeito da proibição Ming que incide sobre todo o comércio externo com o Japão.
Longe das grandes rotas de comércio asiático, onde os interesses oficiais são menores ou onde não existe a possibilidade da Coroa executar a cobrança de direitos sobre o pleno do tráfico marítimo, multiplicam-se as presenças informais, de forma alguma irrelevantes face ao conjunto: se bem que a ambição de controlar o escoamento da
pimenta de Samatra e Java ou o comércio das especiarias das Molucas nunca tenha sido concretizada na íntegra porque os mercadores javaneses, indianos ou outros
encontrarão sempre forma de se abastecerem nas ilhas das Especiarias, ou porque um dos efeitos mais directos da chegada dos portugueses ao Sudeste asiático foi a ascensão
de Achém ao estatuto de principal poder económico e político do Arquipélago, o envolvimento de funcionários e mercadores lusos no transporte destes produtos era
profundo[76]. Comércio de cabotagem, integrado nas redes locais, deve-se-lhe, por exemplo, a
continuidade da presença no Sião depois de esmorecido o entusiasmo que rodeara as primeiras embaixadas oficiais enviadas na sequência da conquista de Malaca. É
também à iniciativa de mercadores particulares, ou à junção dos esforços destes com os de missionários, que há sobretudo que atribuir as presenças que se consolidam com o
tempo no Pegu, em Patane, no Cambodja, Champá, Cochinchina, em Panaruca, Balambuão (ambos em Java), na ilha de Bali, em Japará, Timor, Solor, Macáçar, no Bornéu e Celebes, não sendo estranho ao incremento de algumas delas o fluxo que
acontece na sequência da perda de Malaca para os holandeses, em 1641. A dispersão é a primeira evidência, mas, porventura, mais sintomático será notar que num ano como 1540 os portugueses repartidos entre as posições da África oriental e a
China não ultrapassariam os seis a sete mil, sempre brutalmente penalizados pelo clima e as doenças, pela guerra e pelas condições precárias das viagens (o processo não é
nunca cumulativo e é mínima a percentagem de regressos)[77]. Conforme os mesmos cálculos, oscilando a população do Portugal metropolitano, por volta de 1527, entre
1.000.000 e 1.400.000 de habitantes, o ritmo de uma emigração cujo destino era a Índia
49
e o Extremo Oriente rondaria ao longo de todo o século XVI as 3500 pessoas/ano[78], defendendo outros que este total se aproximasse das 2400 pessoas/ano[79] (Espanha,
com uma população avaliada entre sete ou oito milhões, apenas enviara para a América, até 1570, cerca de 60.000 pessoas)[80]. Seja como for, e por último, nos
noventa anos que decorrem entre 1550 e 1640 e que foram aqueles durante os quais parte do contingente português disseminado pelos Mares da Ásia dominou o comércio
regular sino-nipónico, esse número de portugueses ultramarinos foi ainda suficiente para ditar a viabilidade de Nagasáqui — cidade que a tutela jesuíta, é certo, faz com
que seja mais cosmopolita do que exactamente portuguesa[81]. Notas
[1] O presente artigo retoma o material de alguns dos capítulos introdutórios da Tese de Doutoramento que realizámos sob a direcção do Prof. Horacio Capel Sáez e intitulada A construção do conhecimento europeu sobre a China, c. 1500 – c. 1630. Impressos e manuscritos que revelaram o mundo chinês à Europa culta (Universitat Autònoma de
Barcelona, Julho de 2003). [2] Chaudhuri, 1994, p. XV-XVII; Bose, 1998, p. 29.
[3] Blair B. King e Michael N. Pearson. The Age of Partnership: Europeans in Asia before Domination. Honolulu, The University Press of Hawaii, 1979; cit. in Flores,
1991, p. 10. [4] Cf. Bouchon, 1990a, p. 24; Flores, 1991, p. 10 e 12.
[5] Chaudhuri, 1994, p. 332. [6] Ver Loureiro, 1997, p. 354.G
[7] Nas palavras de Denys Lombard, que assim designou a Insulíndia: “les mers qui semblent séparer rapprochent, également; les liens économiques et culturels se sont souvent établis d’une côte à l’autre, plutôt qu’entre les régions d’une même île” —
Denys Lombard. Le carrefour javanais. Essai d’histoire globale. Paris, EHESS, 1990, vol. 1, p. 15; cit. in Flores, 1998, p. 207, n. 1. Cf. Flores, 1991, p. 10.
[8] Ver Chaudhuri, 1994, p. XXI-XXIV; Bose, 1998, p. 29. [9] Ver Chaudhuri, 1994, p. 240-242 e 246.
[10] Chaudhuri, 1994, p. 231-233. [11] Cf. Chaudhuri, 1998a, p. 167.
[12] Chaudhuri, 1994, p. 233-234 e 245-247. [13] Cf. Flores, 1991, p. 10.
[14] Chaudhuri, 1994, p. 246. [15] Wallerstein, 1974; Wallerstein, 1987, p. 222-253.
[16] Cf. Bose, 1998, p. 28. [17] Cf. Ashin Das Gupta e Michael N. Pearson (eds.). India and the Indian Ocean,
1500-1800. Calcuta, 1987, p. 11 e 17; cits. in Bose, 1998, p. 29. [18] Kenneth McPherson. The Indian Ocean: A History of People and the Sea. New
Delhi, Oxford University Press, 1993, p. 3-4; cit. in Bose, 1998, p. 29. [19] J. de V. Allen. A Proposal for Indian Studies. In Historical Relations across the
Indian Ocean. Paris, 1980, p. 137-151; ref. in Bose, 1998, p. 29. [20] Rajat Kanta Ray, Asian Capital in the Age of European Expansion: the Rise of the Bazaar, 1800-1914. Modern Asia Studies, 29 (3), 1995, p. 553-554; cit. in Bose, 1998,
p. 29. [21] Cf. Ray, 1995, p. 452 e 554; cit. in Bose, 1998 p. 30; Bose, 1998, p. 29-30.
[22] Cf. Chaudhuri, 1994, p. 191-225, 285-307 e 334-343. [23] Cf. Bouchon, 1990a, p. 24-25.
[24] Ver Thomaz, 1994a, p. 522; Barata, 2002, p. 117-133. [25] Ver Sanjay Subrahmanyam, A presença portuguesa e o comércio do Coromandel
50
(sécs. XVI-XVII). Memórias da Academia de Marinha, Lisboa, 17, 1988, 23 p.; Michael N. Pearson. India and the Indian Ocean in the sixteenth century. In Ashin Das Gupta e Michael N. Pearson (eds.). India and the Indian Ocean, 1500-1800. Calcuta, 1987, p. 72; refs. in Flores, 1998, p. 58; Nunes, 1994, p. 526; Costa, 1997, p. 9-10.
[26] Nunes, 1994, p. 526. Cf. Flores, 1998, p. 31-34 e 57-58. [27] Ver Lombard, 1998, p. 125-127; Reid, 1993, p. 203; Thomaz, 1994d, p. 543-544;
Guedes, 1994, p. 874; Villiers, 1980, p. 121-126 e 153-156. [28] Lombard, 1998, p. 131; Bouchon, 1990b, p. 72; Subrahmanyam, 1993, p. 11-13 e
274-276. [29] Bouchon, 1990b, p. 75.
[30] Lombard, 1998, p. 126 e 131; Bouchon, 1990b, p. 75-76; Nunes, 1994, p. 526-527; Boxer, 1992, p. 60; Thomaz, 1998, p. 52-53.
[31] Bouchon, 1990b, p. 71, 153 e 168-169; Subrahmanyam, 1994a, p. 14; Reid, 1993, p. 65; Prakash, 1991, p. 131-132.
[32] Bouchon, 1990b, p. 72-73; Boxer, 1992, p. 56-57; Subrahmanyam, 1993, p. 13-14. Ver também: Serjeant, 2000, p. 53-69; Aubin, 2000, p. 79-86.
[33] Subrahmanyam, 1994b, p. 339-340. [34] Junqueiro, 1994, p. 133. [35] Lombard, 1998, p. 129.
[36] Bouchon, 1990b, p. 73-74; Subrahmanyam, 1994c, p. 480-481. [37] Bouchon, 1990b, p. 74; Flores, 1994a, p. 653; Barendse, 1991, p. 105-106.
[38] Boxer, 1992, p. 57; Flores, 1998, p. 58-60. [39] Flores, 1994b, p. 228-229; Flores, 1998, p. 59-66 e 68-69. Ver também: Goody,
1996, p. 87-91; Bouchon, 1999a, p. 79-92. [40] Subrahmanyam, 1994d, p. 293-294; Thomaz, 1994c, p. 239-240; Bouchon, 1990b,
p. 74. Ver também: Guedes, 1994, p. 874; Duteil, 1997, p. 94; S. Stephen, 1997, p. 133-173.
[41] Ver Villiers, 1980, p. 161-165. [42] Reid, 1993, p. 211-212; Subrahmanyam, 1993, p. 15 e 20-21; M. C. Flores, 1994a,
p. 985-987; M. C. Flores, 1994b, p. 865-866. [43] Ver Villiers, 1980, p. 188-193.
[44] Reid, 1993, p. 62 e 210; Alves, 1994c, p. 175-177. Ver também: Villiers, 1980, p. 156-158.
[45] Villiers, 1980, p. 209-211; Reid, 1993, p. 63-64, 204 e 210-211; Thomaz, 1994f, p. 237-238; Thomaz, 1994g, p. 254-256. Ver também: Martínez Shaw, 1996, p. 56 e
59-61. [46] Alves, 1994a, p. 10-11.
[47] Bourdon, 1990b, p. 74; Reid, 1993, p. 65; Subrahmanyam, 1994e, p. 870-871; Correia, 1994, p. 964-965.
[48] Ver Villiers, 1980, p. 90-95; Sellier e Sellier, 1997, p. 103. [49] Boxer, 1992, p. 58; Bouchon, 1990b, p. 74-75; Thomaz, 1994b, p. 513-525;
Thomaz, 1994h, p. 659-661. Cf. Bouchon e Thomaz, 1988, p. 31-42; Reid, 1993, p. 115-116. Ver também: Lobato, 1999, p. 36-42.
[50] Reid, 1993, p. 62-63, 202, 207 e 212-213; Thomaz, 1994d, p. 541-545; Subrahmanyam, 1994f, p. 1008-1009.
[51] Reid, 1993, p. 213; Barata, 1994, p. 631-632. [52] Boxer, 1992, p. 58; Lobato, 1994, p. 1034.
[53] Reid, 1993, p. 208; Figueiroa Rêgo, 1994a, p. 112-113. [54] No extremo oriental do arquipélago da Insulíndia e ao longo da costa ocidental de
Halmahera (Halmeira, a Geilolo ou Batochina do Moro das crónicas portuguesas de
51
Quinhentos), as ilhas Molucas compreendiam as cinco ilhotas de Ternate, Tidore, Maquieu (Maquiem/Machian), Motir (ou Mutiel) e Bachão (Bachan). Este conceito era
por vezes complicado com referências sobrepostas a Moro, Amboino, às Celebes, à Nova Guiné e até a Banda, uma indefinição inicial a que não seria por certo estranho o
referido controlo que alguns dos sultanatos maluquenhos exerciam sobre suas periferias: Ternate controlava desde o centro e o Nordeste das Celebes até às ilhas menores de Sonda e a parte setentrional de Halmahera; Tidore controlava a parte
meridional de Halmahera e franjas costeiras da Nova Guiné. Só Sumba e Timor são claramente excluídas desde o início do mesmo conceito de Maluco. Albuquerque,
1994, p. 755-756; Reid, 1993, p. 208; Boxer, 1992, p. 58-59; Martins, 1997, p. 389; Rodao, 1989, p. 246. Ver também: Díaz-Trechuelo, 2001, p. 25-34; Lobato, 2002, p. 6-
19. [55] Boxer, 1992, p. 59; Reid, 1993, p. 206; Alves, 1994b, p. 139-140; Figueiroa Rêgo,
1994b, p. 425-428. Ver também: Villiers, 1980, p. 219-221. [56] Cf. Souza, 1991, p. 14-15; Lombard, 1998, p. 126-127.
[57] Ver Godinho, 1985, p. 32-38; Godinho, 1990, p. 408. Ver também: Seabra, 1991a, p. 37-44; Seabra, 1991b, p. 27-38. [58] Cf. Serruys, 1980, p. 24-29.
[59] Costa, 1994, p. 246; Fairbank, 1996, p. 165; Gernet, 1998, p. 191-192. [60] Blussé e Guotu, p. 140-141; T. Chang, 1997, p. 33-37.
[61] Foccardi, 1986, p. 17-21; Ptak, 1991, p. 22-24; Seabra, 1996, p. 97-98; Amaro, 1998, p. 279.
[62] Ver, inter alia, Yi Hua, 1988, p. 159-161. [63] Ver Ptak, 1991, p. 24.
[64] Ver Ptak, 1987, p. 37; Lewis, 1995, p. 4-6. [65] K. Chang, 1971, p. 42; Borges e Oleiro, 1988, p. 116; Ptak, 1991, p. 24-26; Blussé e Guotu, 1991, p. 140; Costa, 1995, p. 84-55; Fairbank, 1996, p. 175; Gernet, 1998, p.
192. Ver também: Leonard, 1984, p. 47-54. [66] Ver Gernet, 1998, p. 192; Ptak, 1994, p. 284-285; Ptak, 1999, p. 20; Arimizu,
1994, p. 264-265. [67] Boorstin, 1997, p. 345-347.
[68] Braga, 1955, p. 10. [69] Cf. Cremer, 1987, p. 25-26. [70] Huang, 1997, p. 407-411.
[71] Blussé e Guotu, 1991, p. 141 e p. 148, n. 6; Ptak, 1991, p. 28-29; Costa, 1995, p. 84-85; Fairbank, 1996, p. 176-177. Cf. Yi Hua, 1988, p. 161-168. Ver também:
Landes, 1999, p. 93-98. [72] Ptak, 1991, p. 25; Lombard, 1998, p. 126-127; Ptak, 1999, p. 19.
[73] Cf. Levathes, 1996, p. 184-185; Gernet, 1990, p. 330-332 e 351; Gernet, 1998, p. 218.
[74] Lombard, 1998, p. 127-128. Ver também: Bouchon, 1999b, p. 203-214. [75] Lombard, 1998, p. 128-130.
[76] Chaudhuri, 1998a, p. 181; Chaudhuri, 1998b, p. 492. [77] Godinho, 1968, p. 9-10; Godinho, 1978, p. 9; Miranda e Serafim, 1998, p. 183-
184. [78] Godinho, 1978, p. 8. [79] Boxer, 1992, p. 66.
[80] Boxer, 1992, p. 66. Cf. Russell-Wood, 1998, p. 229. Outros dados confirmam o quadro: se o contingente branco na América espanhola em 1570 ascendia a 118.000
pessoas e passava para as 655.000 em 1650, na Ásia portuguesa o contingente
52
homólogo oscilaria entre as 5500 e as 6000 pessoas em 1600, para se cifrar em apenas cerca de 6700 pessoas em 1635, entre as quais menos de 5000 seriam não religiosos.
Os números não dizem obviamente tudo, desde logo porque nos núcleos de residentes não eclesiásticos abrangidos pela designação de casados — termo aplicado para o
grupo preponderante nos territórios e estabelecimentos sob controlo da Coroa e que, se em princípio designa uma maioria de desposados com mulheres nativas, quer na
realidade significar todos aqueles que adquirem uma residência permanente aí — para além dos portugueses reinóis, há que contar com a respectiva descendência luso-
asiática ou de mestiços. Ainda assim, nada, pensamos, que ponha em causa a ideia geral antes exposta, a qual, em rigor, deve também sujeitar-se a considerar efectivos
menores, como o dos soldados, o dos oficiais vindos do reino para comissões trienais, e os mercadores itinerantes, não recenseados em estabelecimento algum e designados, sobretudo em Macau, por solteiros. Cf. Subrahmanyam, 1993, p. 216-224; Miranda e
Serafim, 1998, p. 185. [81] Cf. Miranda e Serafim, 1998, p. 187-204.
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© Copyright Scripta Nova, 2003 Ficha bibliográfica:
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VII, núm. 151. <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-151.htm> [ISSN: 1138-9788] DEPOIS DO FIM DA EUROPA COMEÇOU UM NOVO MUNDO
Você sabe de onde saíram os desbravadores portugueses que “descobriram” o Brasil há 509 anos atrás?
APR23 Hoje eu passei o dia pensando nessa data: 22 de abril. Há exatos 509 anos, o Brasil foi “descoberto” pela embarcação perdida pelo mar de Pedro Álvares
Cabral. Acho que muita gente esqueceu, pelo menos no trabalho e entre amigos, o
comentário sempre partiu de mim. Poucas notícias na mídia, jornais noturnos falando muito pouco e no final, quem acabou falando mais foi o Programa do
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Jô (sim, eu vejo às quartas, porque tem as super inteligentes jornalistas, historiadoras e analistas políticas), onde uma das jornalistas estava justamente em frente ao ponto de saída da quadrilha embarcação de Pedro Álvares Cabral,
na Torre de Belém. Bom, eu não sou um historiador, e nem esse blog é sobre história, e sim sobre
viagens, então fica as dicas do lugar se você quiser conhecer esse lugar que marca parte da nossa história e mudou em definitivo nosso curso como país.
Tenho minha teoria que teria sido melhor se fossemos ”descobertos” por ingleses, e poderíamos ser a parte de Miami, mas em uma versão continental (mas será que isso seria bom? fica aí mais essa reflexão para você. como seria
nosso país se fossemos “descobertos” pelos ingleses? ou ainda pelos franceses?) A Torre de Belém, monumento que marca o local de onde saíram os trezes
navios de Cabral, fica onde o nome já fala, em Belém. É de lá também que são os famosos Pastéis de Belém, e fica o tradicional restaurante Pastéis de Belém, claro, onde dizem que o tal pastel foi inventado. O local em si é ultra turístico,
mas vale muito a visita pela decoração histórica, que conta um pouco da história ali da cidade de Belém, com vários documentos daquela época, e um
monte de outras coisas bem oldies que certamente farão você viajar um pouco na história de Portugal e na nossa própria história. Os famosos pastéis, custam
incríveis e absurdos 3 euros, mas lá você também encontra de tudo, sanduíches, sobremesas, massas, etc.
Uma das relíquias que você pode encontrar dentro do Pastéis de Belém. Foto:
camis O Pastéis de Belém (o restaurante) também é muito inusitado. Ele vive lotado e
um dos garçons vai te levando cada vez mais pra dentro! O lugar é enorme! Tem vários salões que vão se abrindo, portas e divisórias que se movem e
abrem novos salões. É gigante mesmo e mesmo assim, pouco depois que eu e uma amigas chegamos lá, tinha uma enorme fila de espera, não só de turistas,
mas de portugueses também. Por isso, eu acho que vale a pena a visita lá. É um mix muito bom de portugueses e viajantes curiosos, como nós.
Uma dica importante para Portugal em geral, é que aqui no Brasil, estamos razoavelmente acostumados em sermos bem tratados (claro, existem exceções), por lá, você é tratado de uma forma que consideramos mais rude, mais áspera. Eu acredito que isso é só cultural e não há pretexto nenhum para eles tratarem a gente assim. Então, você pode esperar que, sej você não estiver consumindo
nada, você vai ser convidado a se retirar e vão começar a limpar tudo com você ainda sentado, já com outras pessoas do lado dele. Um “convite” a se retirar com um leve toque de obrigação. Será que tá certo? Deixo mais essa reflexão
para você. Voltando à Torre de Belém, do outro lado da rua, você pode encontrar o
Mosteiro de Belém, onde foi celebrada a missa antes da partida de Cabral. Se você quiser entrar para conhecer é possível, mas não pode fazer barulho
absolutamente nenhum. Tive a sensação que também não podia tirar fotos por
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lá, já que um raparigo pediu que eu desligasse a câmera. Os restos mortais de Luís Vaz de Camões, autor de Os Lusíadas, repousam no Mosteiro, e
também o grande descobridor Vasco da Gama. Ela é bem bonita mesmo, vale a visita também.
Mosteiro de Belém, ao anoitecer. Onde foi rezada a missa para a saída de
Cabral, que caiu no Brasil. Foto: camis Ao lado da Torre de Belém, fica o Monumento aos Descobrimentos, uma
escultura de pedra de lioz gigantesca, representando todos os grandes desbravadores do mar portugueses. A enorme escultura fica voltada para o rio
Tejo, com todos com todos os corpos dos desbravadores representados inclinados para frente, dentro de uma embarcação. Fizemos uma pequena
estripulia e sentamos na escultura para algumas fotos, mas eu não te recomendaria a fazer isso. Desconfio que se a polícia pegar, você pode ter sérios
problemas. Pelo menos alguns aborrecimentos e uma advertência nada amistosa (lembra do jeito “rude” dos portugueses?).
Atrás da escultura dos desbravadores, existe uma rosa dos ventos, onde é possível ver quando cada país foi “descoberto” por Portugal. Neste enorme chão
pintado de 50 metros de diâmetro é possível ver até mesmo a conquista individual de cidades, tem várias brasileiras por lá. Não deixe de conferir. Esta obra foi um presente da África do Sul em 1960 e mostra também todas as rotas
feitas com setas. Nessa mesma área, você pode andar por uma ciclovia que te leva a uns
restaurantes (que desconfio serem bem caros), a um incrível estacionamento de motohomes (um dos meus sonhos de consumo não realizados), e algumas
placas engraçadas, como você vai poder ver mais abaixo.
O 'Elétricos de Lisboa', os trens que te levam aos principais distritos de Lisboa,
e inclusive Belém. Foto: Claudio Martins Ah, como você pode chegar em Belém? A forma mais gostosa é pegar o Elétrico,
um trem, elétrico (claro! dãn!), na Praça do Comércio. A linha é a 15E, no sentido Algés. A passagem custa em torno 2 euros e você paga dentro do
Elétrico mesmo. Não vai ter ninguém para te cobrar, você paga na maquininha. Não vale dar calote não, hein! A penas são severas para estes pequenos delitos e
a multa pode chegar até 300 euros ou detenção, e eu tenho certeza que você não vai querer passar seus momentos em Lisboa dentro de uma cadeia.
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Neste momento que escrevo este texto, parece que houveram algumas
mudanças no trânsito no entorno da Praça do Comércio, e o ponto desta linha passou para a Rua da Alfândega. Esta informação eu obtive aqui. Então, você
deve ficar sempre verificando o site da Carris para verificar mudanças no trajeto.
Bom, encerro por aqui essa lembrança do nosso “descobrimento” tão esquecida na data de hoje, de uma forma tão generalizada, e deixo você com algumas
fotos dos lugares que falei acima, abaixo. E não deixe de me falar o que você pensa disso tudo. Vamos conversar.
Uma das placas da ciclovia no entorno do Monumento aos Descobrimentos. Se você seguir, seu carro vai cair! Sim, não existe proteção, nenhuma mureta. Se
você seguir dirigindo, seu carro vai cair. Foto: camis
Algumas das chegadas ao Brasil pelos navios portugueses. Foto: camis
Torre de Belém ao entardecer, de onde partiram as embarcações, que
chegaram perdidas ao Brasil, ao invés de chegar nos portos da Índia. Foto: camis
Um incrível anoitecer ao lado do Monumento aos Descobrimentos, em Belém.
Céu lindo. Foto: camis
Porque não pescar no Rio Tejo? Calma, paz, serenidade. Uma vista também de
como é uma parte do calçadão. Foto: camis
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Capítulo 5 Mineração – Cenário Mundial e estratégia nacional
Maio de 2005 Avaliação da reservas minerais mundiais
Os minérios são estratégicos para a produção industrial e são fator de segurança econômica para as nações.
O mundo não enfrentará escassez de minerais não combustíveis, num futuro próximo. Mesmo assim, o crescimento populacional e o aumento do consumo tornam vitais informações confiáveis sobre reservas
minerais que poderão ser exploradas. A expansão da economia mundial e a demanda da China por minérios mudaram o cenário no setor de mineração, com aumento de preços e
reativação de minas. Num mundo economicamente globalizado a segurança econômica das nações depende do acesso
adequado a reservas locais e internacionais de minerais, informa o escritório Geological Survey, dos Estados Unidos, incumbido de produzir um levantamento, em cooperação com outros países, para avaliar
as reservas ainda não utilizadas de minerais não combustíveis. O levantamento, liderado pelo US Geological Survey, foi iniciado em 2002 e continua até 2010. Nestes
oito anos, oito tipos de minérios foram selecionados: cobre, ouro, chumbo, níquel, grupo platina, zinco, fosfato e
potássio. O cobre foi selecionado por sua aplicação industrial e na indústria eletrônica. As reservas de cobre estão bem dimensionadas.
A platina foi selecionada por sua aplicação como catalisador para a indústria química e petroquímica e nos combustíveis para automóveis. É um mineral com reservas limitadas, com um processo de extração
dispendioso. O potássio foi selecionado por ser um dos três elementos (NPK –natrium,
potassium e kalium) indispensáveis para produção de fertilizantes necessários para a expansão da produção de alimentos.
O mapa produzido para orientar o levantamento internacional aponta a América Latina e o Brasil como regiões de destaque nas reservas dos minérios selecionados.
América Latina atrai capital internacional para a mineração A América Latina continua sendo o primeiro destino dos fundos pra a
exploração mineral mundial. Em 2004, US$ 773,5 milhões, mais de 20% do total dos fluxos dos recursos internacionais destinados a esta atividade,
tiveram como destino os países da América Latina. O Peru foi o país latino-americano que recebeu a maior parte dos recursos (US$ 195,7 milhões) seguida do México (US$ 153,5 milhões, Brasil (US$ 131,3 milhões, Chile (US$108,8 milhões e Argentina (US$ 53,4 milhões).
A informação consta do estudo “Condições e Características de Operação da Indústria da Mineração na América Latina no Biênio 2004-2005”, realizado pelo especialista Eduardo Chaparro, da CEPAL
(Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe). O estudo será apresentado na Conferência de Ministros de Mineração das Américas que começou dia 10/05/2005 em Pilar, na Argentina.
O Canadá continua sendo o país que sozinho lidera o ranking mundial de investimentos em mineração, recebendo, em 2004, investimentos no valor de US$ 697,1 milhões (com
19,7% do total). A Austrália ocupa o segundo lugar com US$ 524,1 milhões (14,7%) , em terceiro lugar está os Estados Unidos com US$ 283 milhões (7,9 %).
O estudo apresenta um cenário totalmente diferente do comportamento modesto dos anos 90, a indústria da mineração registra resultados econômicos favoráveis, com aumento
nas vendas e nos preços em função do baixo nível dos estoque minerais internacionais e pela forte demanda por minérios da China.
O estudo destaca que o aumento do consumo provoca mais investimentos em exploração mineral e promove a reativação de minas que haviam fechado em função dos baixos preços dos minérios.
O Peru e o México representam 45,1% do total dos recursos investimentos na região e, pela primeira vez em muitos anos não é o Chile o principal destino dos investimentos em mineração no continente. Segundo o autor do estudo, esta ocorrência não representa a perda da importância do Chile como produtor mineral, mas, sinaliza a tendência das empresas em diversificar seus portfólios de investimentos para países onde
ainda há muitos sítios geológicos a descobrir. Em 2004, todos os minerais apresentaram aumento de investimentos na sua
exploração e produção,em comparação com 2003. Os investimentos em cobre aumentaram 69,9 %; em ouro aumentaram 67,8%; níquel mais 52,4%; diamantes mais 47,3% e zinco mais 35,4%.
Das 31 principais empresas mineradoras em operação na região, somente três delas tem origem local:
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CVRD – Brasil – investimentos = US$ 647,8 milhões; Grupo México – investimentos = US$ 423,3 milhões;
Codelco – Chile – investimentos = US$ 300,7 milhões. As quatro maiores empresas internacionais realizáramos seguintes
investimentos em exploração mineral, entre 1989 e 2004 : Rio Tinto Group – investimentos de US$ 2.793,3 milhões;
BHP Biliton - investimentos de US$2.556,4 milhões; Newmont Mining Group - investimentos de US$2.119,1 milhões;
Barrick Gold - investimentos de US$1.879,8 milhões. No capítulo dedicado a mudanças e tendência da legislação, o estudo da Cepal destaca que uma das
principais reivindicações do empresários na última década foi a manutenção das regras e das Leis, no entanto, estes mesmos empresários se esforçam pela flexibilização da legislação trabalhista. A principal tendência legislativa é na direção de um maior compromisso ambiental e participação das comunidades
na formulação de compensações para projetos de mineração nas diversas localidades, com participação de ONGs e outras formas de organização da população.
Brasil mineral A Ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff em apresentação realizada para investidores internacionais , em maio de 2005, mostrou o Brasil ativo
participante no mercado internacional de minérios. A produção brasileira influencia preços internacionais, em função da sua
produção, nos minérios de: ferro, manganês, bauxita, nióbio grafita e tântalo. O país é exportador de : níquel, magnésio, caulim, vermiculita, cromo e mica.
É auto-suficiente na produção de: calcário (cimento), diamante industrial, titânio, ouro, tungstênio, talco e cobre (em 2007).
Embora produtor, ainda importa os minérios de: fosfato, zirconita, zinco, diatomito e potássio.
O Brasil importa minérios de: enxofre, carvão metalúrgico e terras raras. Produção Mineral Brasileira
A produção mineral brasileira vem se beneficiando da expansão da economia mundial. Em 2004, o valor da produção mineral foi estimada em cerca de US$ 12 bilhões.
O território brasileiro é formado por terrenos mais antigos, ou pré-cambrianos, que correspondem a cerca de 42% do território nacional, têm grande potencialidade para a ocorrência de jazidas de minerais
metálicos, entre os quais se destacam ferro, manganês, estanho, níquel, cobre, platinóides, cromo, cobalto, chumbo, zinco, e, em especial, ouro, além de gemas e diversos minerais industriais. Essas áreas têm
potencial para investimentos e parcerias com empresas internacionais. Fonte: MME
Investimentos até 2010 A Ministra Dilma Rousseff avalia que os investimentos no período 2005 a 2010 representem US$ 30,2 bilhões, sendo deste total US$12,6 bilhões na
siderurgia e US$ 8,5 bilhões na mineração, sendo US$ 600 milhões na pesquisa mineral.
Política Mineral Brasileira A política mineral brasileira, orientada pelo Plano Plurianual 2004 – 2007, estabelece como prioridade a localização de novas áreas para exploração,
reduzindo o risco do investimento. A meta é a cobertura de 30% do território brasileiro por mapeamento geológico, com 77% das áreas com embasamento cobertas por levantamento aerogeofísico.
A estratégia para o setor mineral é: aumentar o conhecimento geológico e geofísico no território nacional; diversificar e expandir a produção mineral;
adicionar valor agregado aos produtos minerais; estimular investimentos em infra-estrutura e desenvolver a indústria de equipamentos nacionais e
a cadeia de serviços. A política mineral brasileira está centrada na atração dos investimentos das
empresas internacionais. Os investimentos nos levantamentos aerogeofísicos tem o objetivo de cumprir o papel do Governo em aumentar as informações para diminuir os riscos e atrair investidores.
Integram essas ações de atração de investidores os investimentos do Ministério das Minas e Energia na migração dos procedimentos para sistemas apoiados pela Tecnologia da Informação, com as documentações para concessões de lavras processadas através de coordenadas geo-referenciadas. As vantagens são a simplicidade, eficiência e transparência no sistema de outorga, identificação do requerimento em um sistema universal de coordenadas, possibilitando a outorga em
tempo real com a eliminação ou redução de conflitos administrativos e judiciais.
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A decisão de aumentar o conhecimento geológico brasileiro vai ao encontro do desejo do escritório de Geological Survey dos Estados Unidos, já que se trata de uma agenda técnica de cooperação
internacional. A meta de diversificar e expandir a produção mineral e adicionar valor agregado aos produtos minerais atende a política econômica no item da
contribuição ao equilíbrio das contas externas. Balança comercial mineral
O setor de mineração brasileiro exportou, em 2004, US$ 18,5 blhões, principalmente em minérios de ferro, bauxita, sílica, rochas ornamentais, ouro e nióbio. Importou US$ 8,2
bilhões, principalmente em carvão metalúrgico, fosfato, potássio, níquel e titânio e cobre. Produziu um saldo positivo de US$ 10,3 bilhões. Um valor relevante para compensar o pagamento do principal e juros
da dívida externa brasileira. Levantamentos aerogeofísicos
Os levantamento aerogeofísicos serão desenvolvidos em Rondônia, Mato Grosso e Amapá.
A Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral (SGM) do Ministério de Minas e Energia e o Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), abriram, em maio,
licitação para dois projetos de aerogeofísica. O recebimento e a abertura das propostas será feita às 9h do dia 8 de junho. Os editais foram publicados hoje no Diário Oficial da União. Os projetos em licitação serão desenvolvidos em Rondônia, Mato Grosso e
Amapá. O Projeto Aerogeofísico Sudeste de Rondônia (RO/MT) prevê sobrevôos de uma área de 43.146 quilômetros quadrados e o Projeto
Aerogeofísico Amapá (AP), de 50.557 quilômetros quadrados. Os levantamentos fazem parte do Programa Geologia do Brasil, executado pelo Serviço Geológico do Brasil e direcionado à investigação de áreas do
território brasileiro com grande apelo prospectivo. Esses levantamentos não eram realizados de forma sistemática há 20 anos. Em 2004, ano de lançamento do Programa, foram
concluídos levantamentos aerogeofísicos em uma área correspondente a 146 mil quilômetros quadrados, mais da metade da área sobrevoada nos últimos 15 anos pelo Governo Federal.
O setor de mineração e a política Com eleições para presidente em 2006, os empresários do setor de mineração, voltam a se preocupar com
a baixa prioridade que o setor mineral mereceu, na eleição passada, dos candidatos a presidente da República. Provavelmente, a existência de empresas de grande porte como a Companhia Vale do Rio Doce e outras gigantes internacionais (Alcan, Brascan, BHPBilinton, Anglo American, Rio Tinto),
responsáveis pela quase totalidade das exportações minerais brasileiras, criaram nos líderes políticos a percepção de que o setor sabe se cuidar.
As décadas de 1980 e 1990 representaram estagnação e declínio no valor da produção mineral brasileiro, reflexo da crise da economia internacional e das dificuldades atravessadas pela economia brasileira. O momento atual anuncia um ciclo de expansão da economia mundial, impulsionada pela China e pelos
EUA, apesar de desempenhos modestos da Europa e do Japão. Esse aquecimento econômico já promoveu o aumento da demanda pelo minério de ferro e seu aumento de preços nos contratos de longo prazo
firmados pela CVRD com seus principais clientes. A Vale tem um programa de investimentos vigoroso, com a captação de
recursos externos ligados ao desempenho dos seus recebíveis internacionais. A ampliação da influência da Vale na área de logística e transporte ferroviário criou arestas com outros segmentos e chamou a
atenção da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Governo Federal que investiga as condições de livre concorrência entre os agentes produtores.
Na área política, a globalização da economia mudou o tratamento dado aos recursos minerais. O conceito de commodities substituiu o de materiais
estratégicos. O Estado Brasileiro restringe sua ação à formulação e acompanhamento de políticas públicas, deixando para a iniciativa privada as atividades tipicamente
empresariais. A união destas duas forças, pública e privada, poderá promover um novo ciclo de desenvolvimento da mineração.
Projeções para o futuro mineral brasileiro O Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) projeta algumas metas de
produção mineral, até o ano 2.010. Levando em consideração a demanda por minerais e o cenário atual, foi identificada a necessidade de investimentos da ordem de US$ 4,0 bilhões, em prospecção e pesquisa
mineral, para a geração de reservas que atendam ao consumo projetado, e ainda outros US$ 31 bilhões na geração de produção adicional.
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Substância Quantidade demandada ALUMÍNIO 3,2 milhões de t
AMIANTO 569,7 mil t BARITA 73,3 mil t
CARVÃO 39,1 milhões de t CAULIM 2,0 milhões de t
CHUMBO 240,2 mil t de metal CIMENTO
(CALCÁRIO) 54,1 milhões de t
COBRE 839,8 mil t de metal CROMO 201,4 mil t de óxido ENXOFRE 3,8 milhões de t
ESTANHO 81,0 mil t de metal FELDSPATO 296,2 mil t
FERRO 391,3 milhões de t FOSFATO 10,7 milhões de t
FLUORITA 117,6 mil t GRAFITA 137,1 mil t
NIÓBIO 80,5 mil t de óxido contido NÍQUEL 58,1 mil t de metal TITÂNIO 703,4 t de ilmenita
TUNGSTÊNIO 2,6 mil t de metal VERMICULITA 41,8 mil t ZINCO 480,4 mil t de metal
ZIRCÔNIO 54,1 mil t de óxido Fonte: Ibram - Demanda para o ano de 2010
Carência mineral brasileira Levantamento do DNPM chama atenção para os minérios dos quais o Brasil é carente, por ter produção
insuficiente: carvão metalúrgico, fosfato, potássio, enxofre, chumbo, fluorita, tungstênio e prata. Demanda Mineral per-cápita
A demanda per capita do brasileiro equivalente a 264 kg de minério de ferro; 56 kg de aço; 2,68 kg de alumínio; 166 kg de cimento; 1,29 kg de cobre, 37 kg de fertilizantes (fosfato, enxofre e potássio); e mais
cerca de 22 kg de outros metais, além de de brita, areia, argila, etc. Tais valores, comparados com os de países desenvolvidos, estão defasados,
em média, na proporção de 1 para 10. Apenas a título de exemplo, só o consumo anual de aço per capita nos EUA é da ordem de 440 kg; para o
cobre, este valor é de 11, 5 kg. E cada habitante dos Estados Unidos consome anualmente 301,5 kg de minerais usados em fertilizantes (fosfato, enxofre e potássio) – isto é, 714 % a mais do que o consumo
médio brasileiro. Biblioteca
Documentos disponíveis para consulta em PDF 1) Setor Mineral – Estratégia Brasileira
BNDES 1997 2) Grandes Corporação de Mineração
BNDES 2001 3) Balanço Mineral Brasileiro
DNPM 2001 4) Sugestões para o Desenvolvimento da Mineração Brasileira
IBRAM 2003 5) Global Mineral Assessment US Geological Survey 2003
6) Informe Mineral DNPM 2004
7) Anuário Estatístico – Setor Metalúrgico Secretaria de Minas e Metalurgia – MME - 2004
8) Informe Estatístico - Setor Metalúrgico Secretaria de Minas e Metalurgia – MME - 2005
American BHP Rio Tinto
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Billiton CVRD Total % Min. Industriais
4,6 - 2,2 - - 6,8
Aço - 4,6 - 1,2 0,6 6,4 Carvão 1,0 1,7 1,7 0,9 - 5,3 Alumínio - - 1,8 2,1 0, 6 4,5
Metais
Base2
1,2 1,5 1,5 0,4 - 4,6 Minério de Ferro - 0,9 1,4 - 2,1 4,4
Ouro 2,3 - 0,8 - 0,2 3,3 Petróleo - 3,0 - - - 3,0
Ferro Ligas 1,4 - - 0,9 0,3 2,6 Platinados 2,5 - - - - 2,5
Sub total 1 13,0 11,7 9,4 5,5 3,9 43,5 Indústrias 4,1 - - - - 4,1
Florestais 3,3 - - - 0,4 3,7 Demais3 0,2 0,7 0,5 - 1,0 2,4
Sub total 2 7,6 0,7 0,5 0,0 1,4 10,2 Fonte: UBS Warburg / Nota: 1Minerais Industriais: titânio, boro, platinados,
diamante, sal, talco etc.; 2 Metais base: cobre, níquel, zinco, chumbo, prata, estanho etc.; e 3 Demais inclui vendas oriundas de serviços, logística, explorações minerais
menos relevantes. 08 abr
As reservas de minérios vão acabar. Mas quando?
Aproveitando a bola levantada pela Miriam Salles com material da SuperInteressante, resolvi dar uma olhada nas reservas mundiais de minérios. Lá no blog da Miriam dá para ver o que a Super publicou. Os números da revista são alarmantes, mas pouco confiáveis. Por exemplo: as reservas de prata vão acabar
em nove anos a partir da próxima década. Será?
A informação mais precisa que encontrei em português é do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral). Eles publicaram um livro (em PDF) em 2006 que traz a tabela com as reservas estimadas de minerais selecionados. Segundo esta tabela as reservas minerais irão se exaurir dentro dos seguintes
prazos caso a produção aumente 5% ao ano (imagino eu que a partir de 2006, mas isso não está muito claro lá no livro):
Alumínio (Al): 444 anos Cobre (Cu): 313 anos
Chumbo (Pb): 261 anos Estanho (Sn): 322 anos
Ferro (Fe): 373 anos Níquel (Ni): 229 anos Prata (Ag): 311 anos Zinco (Zn): 329 anos.
As letras entre parênteses são os símbolos do elemento químico de cada mineral. O livro também traz previsões para o esgotamento das jazidas com manutenção do padrão de consumo
atual (crescimento de 0%) e com crescimento da produção de 2%. As diferenças no prazo de exaustão são bem grandes, em qualquer um dos casos o prazo é maior do que o dobro. Para citar apenas um exemplo, o
Alumínio duraria mais 1.065 anos. Outras informações interessantes do livro. Os países da OCDE firmaram acordo para reduzir em 10 vezes
a intensidade de uso de recursos minerais até 2040. Mas a intensidade de uso mundial deve aumentar devido ao processo de industrialização, desenvolvimento e urbanização dos países em desenvolvimento.
Para se ter uma idéia da evolução do consumo nos últimos 30 anos, a produção de ferro aumentou em média 0,5% entre 1975 e 1999. A taxa de evolução anual da produção para os demais minerais neste
período foi a seguinte: Alumínio: 2,9%
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Cobre: 3,4% Chumbo: -0,5% Estanho: -0,5%
Ferro: 0,5% Níquel: 1,6%
Prata: 3% Zinco: 1,9%
Há duas ótimas fontes de dados para quem precisa de mais informações sobre o assunto. A indispensável é o US Geological Survey (link para página sobre produtos minerais), o serviço geológico dos Estados
Unidos. Lá é possível obter gratuitamente dados (em inglês) sobre reservas, produção e principais mercados para cada mineral, entre outros.
Outra fonte interessante é a Wikipedia, verbetes em inglês (links abaixo): Alumínio
Cobre Chumbo Estanho
Ferro Níquel Prata Zinco
Embora seja inexorável que as reservas de minérios terminem vale lembrar o grande Lavoisier: “na natureza ocorrem apenas mudanças ou modificações: nada se cria, nada se perde. O princípio a ser
formulado é que : em todo o processo há uma quantidade igual de matéria antes e depois da reação; e a qualidade e a quantidade dos princípio serão os mesmos”.
Principais argumentos contra a venda da Vale Confira os principais argumentos contra a venda da Vale do Rio Doce, nos quais a
desembargadora federal Selene Maria de Almeida se baseou
Confira os principais argumentos contra a venda da Companhia Vale do Rio Doce, nos quais a desembargadora federal Selene Maria de Almeida se baseou para redigir o voto acolhido pelos colegas do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Com a decisão, retomou-se o andamento de 69 ações populares que pedem a nulidade da privatização da Vale e sua
exclusão do Programa Nacional de Desestatização. 1) O "sumiço" de 9,688 bilhões de toneladas em reservas de minério de ferro
Conforme relatório técnico da Coordenação de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), em maio de 1995, a Vale informou à
Securities and Exchange Commission - SEC, órgão responsável pela fiscalização do mercado de ações norte-americano - que suas reservas de minério de ferro nas minas do Sistema Sul,
todas localizadas em Minas Gerais, totalizavam 7,918 bilhões de toneladas. No edital de venda da empresa (item 6.5.1), o Sistema Sul aparece com apenas 1,4 bilhão de
toneladas, ou seja, 6,518 bilhões de toneladas a menos. A Vale informou à SEC que as reservas minerais do complexo de Carajás, situado no Pará, eram de 4,970 bilhões de toneladas. No edital, as reservas de Carajás foram estimadas em
1,8 bilhão de toneladas - 3,170 bilhões de toneladas a menos. Quantificar o valor financeiro das reservas subavaliadas é tarefa bastante complicada. Tudo
depende, afinal, da situação em que elas se encontravam à época da privatização. Os preços médios praticados no mercado eram de US$ 14 a tonelada (hoje, ficam entre US$ 22 e US$ 23) para o minério in natura. Mas tais valores certamente não poderiam ser o parâmetro para nenhum cálculo, já que incorporam o custo total de produção da tonelada, incluindo gastos
administrativos, tributos e o transporte até o local da entrega do minério exportado. Assim, ficariam duas referências: o valor do minério de ferro dentro da mina, estimado pela Coppe em dez centavos de dólar por tonelada, e o seu preço "na boca da mina", isto é, já
extraído. Nesse caso, o valor à época da privatização, de acordo com a Coppe, corresponderia a US$ 8 a tonelada.
Portanto, as reservas excluídas da avaliação representariam, em termos financeiros, entre R$ 1,094 bilhão e R$ 87,579 bilhões.
2) Critério de avaliação subestimou valor financeiro das reservas Além da subavaliação física das reservas de minério, a Mineral Resources Development Inc. (MRDI) - subcontratada do consórcio liderado pela Merril Lynch e Bradesco S/A para avaliar o
patrimônio da Vale - ignorou todas as reservas cujo produto já estivesse na boca da mina,
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concluiu a Coppe. Desse modo, mesmo as reservas indicadas na avaliação teriam sido financeiramente
subavaliadas, já que seu valor foi calculado como se todo o produto estivesse in situ, ou seja, dentro da mina. Como não se determinou o montante das reservas "na boca da mina", faltam
elementos para mostrar o impacto financeiro da subavaliação. 3) Subavaliação das reservas de manganês
A Vale informou ainda à SEC, em maio de 1995, que suas reservas lavráveis, provadas e prováveis, de manganês eram de 65 milhões de toneladas.
Em 28 de junho de 1996, depois de iniciado o processo de privatização, a MRDI avaliou as mesmas reservas em 26 milhões de toneladas. São 31 milhões de toneladas a menos.
Somente em duas reservas de manganês, Mina Azul e Urucum, a Coppe constatou uma diferença de 9 milhões de toneladas a menos.
Assim como ocorreu com as reservas de minério de ferro, a MRDI avaliou as reservas de manganês como se todo o produto estivesse in situ, ou seja, dentro da mina. O minério
situado dentro da mina era cotado, em média, a US$ 0,5/tonelada, enquanto a cotação do minério mine gate (na boca da mina) subia para US$ 20/tonelada.
4) Subavaliação das reservas de ouro: diferença de pelo menos R$ 406,4 milhões Segundo a Vale informou à SEC, em maio de 1995, suas reservas de ouro somavam 113,2
toneladas. Mas o edital de venda da empresa (item 6.5.3) indicou reservas de 106,4 toneladas. Uma diferença de 6,8 toneladas de ouro a menos.
Todas as reservas de ouro foram avaliadas como se o produto estivesse todo dentro da mina. Os técnicos da Coppe confrontaram os números obtidos na avaliação oficial e calcularam
possíveis prejuízos com as reservas de ouro. A conclusão é que eles totalizaram, a preços da época, pelo menos R$ 406,4 milhões.
5) Subavaliação das reservas de bauxita O relatório da Coppe, ao analisar as reservas de bauxita da mina de Trombetas (PA), aponta uma subavaliação de 192 milhões de toneladas. Tomando por base o valor unitário in situ de
US$ 0,25/t, chega-se a um prejuízo estimado de US$ 48 milhões, ou R$ 54,24 milhões à época da privatização.
Atualmente, estima-se que a Vale detenha 11% das reservas mundiais de bauxita. No ano passado, a empresa investiu US$ 1,2 bilhão nas atividades de alumínio e bauxita, que já são
sua segunda maior fonte de receita. 6) Minerais que não foram avaliados
As reservas minerais de titânio, nióbio, calcário, dolomito, fosfato, estanho/cassiterita, granito, zinco e grafita não foram avaliadas pela MRDI e, por isso, não entraram no edital como parte
do patrimônio da Vale. No entanto, conforme documento enviado em abril de 1997 pelo Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia, a CVRD detinha reservas provadas e prováveis de titânio de 92,5 milhões de toneladas.
O mesmo ofício do DNPM aponta reservas de nióbio de 69,1 milhões de toneladas. O Brasil detém mais de 62% das reservas mundiais de titânio, e 79% dessas reservas
pertencem à Vale. O titânio é um mineral estratégico para as indústrias químicas, nucleares, naval, aeroespaciais e outras.
Quanto ao nióbio, o Brasil possui 88% das reservas mundiais do minério, que é utilizado para a fabricação de aços de alta resistência, como os usados em naves espaciais. Os reatores
nucleares também dependem do nióbio para fusão em altas temperaturas. 7) Subavaliação do setor de florestas, celuloses e papel
Em março de 1997, na época da avaliação, estimava-se que a Vale dispunha de 5.800 km2 de florestas replantadas. Nessa área, equivalente à da cidade de Brasília, extraía-se matéria-
prima para a produção de 400 mil toneladas por ano de celulose. O relatório da Coppe mostra que houve discrepância na avaliação das atividades da Vale
nessa área, na qual a empresa atuava por meio da Bahia Sul Celulose S/A. Foram feitas duas avaliações, absolutamente divergentes (R$ 262 milhões e R$ 207 milhões), prevalecendo a mais baixa. Uma diferença de R$ 55 milhões. Para o Ministério Público Federal, deveria ter
sido feita uma terceira avaliação da Bahia Sul. 8) Valor zero dos direitos de lavra
Antes da privatização, a Vale recebeu concessões, por tempo indeterminado, para realizar pesquisas de lavra em cerca de 23 milhões de hectares do território brasileiro, área
equivalente aos estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Paraíba e Rio Grande do Norte juntos. Essas concessões de lavra passaram à propriedade da Vale privatizada com "valor
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zero" - sem avaliação, na qualidade de meras "expectativas de direitos". Os engenheiros da Coppe estimam que 104 jazidas minerais ficaram de fora da avaliação do
patrimônio da Vale, o que reduziu o valor contabilizado das reservas da empresa em mais US$ 114,5 milhões (R$ 129,38 milhões, pela cotação da época).
Em 31 de março de 1997, pouco mais de um mês antes do leilão de privatização, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) e a Vale firmaram um contrato de risco para estabelecer uma cota de participação do banco nos eventuais lucros da Vale com
as novas jazidas, ainda não exploradas comercialmente. Ficou definido que cada parte investiria US$ 110 milhões, para custear as pesquisas de lavra, acertando-se que os lucros seriam divididos igualmente entre o banco e a CVRD. A respeito
desse contrato, a assessoria de imprensa do BNDES informou que ele ainda está em vigência e que a União, representada pelo banco, detém 50% de lucro sobre as novas jazidas que a
Vale descobrir e vier a explorar. 9) Transferência ilegal dos minerais nucleares
Segundo informações da própria Vale do Rio Doce, constantes de um documento da Comissão Nacional de Energia Nuclear de março de 1997 e do relatório da Coppe, confirmou-se a presença de urânio - mineral nuclear de uso estratégico - nas áreas denominadas Corpo
Alemão e Corpo Salobo 3 Alpha (na área da Salobo Metais, subsidiária da Vale em funcionamento no Pará). Também verificou-se a ocorrência em Corpo Salobo 3 Alpha de tório, outro mineral radioativo. Na época, estimava-se que a Vale detinha 1,8 milhões de toneladas
de urânio Ocorre que de acordo com o artigo 21 da Constituição Federal, a exploração de minerais
nucleares é monopólio da União Federal, incluindo direitos sobre pesquisa, lavra, enriquecimento e reprocessamento, industrialização e comércio desses minerais. Reforçando a exclusividade, a Emenda Constitucional 9/95 acrescentou que a pesquisa desses minerais
não pode ser objeto de transferência por meio de contrato a empresas privadas. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), toda iniciativa de atividade nuclear está sob
controle do Congresso Nacional, nos termos do artigo 49 da Constituição. Mas, com a privatização, a Vale levou consigo os trabalhos de pesquisa de minerais radioativos em seus
campos de prospecção. 10) A ligação entre a Merril Lynch e a Anglo American
Ao longo dos trabalhos de avaliação do patrimônio da Vale, veio à tona a informação de que a empresa Merril Lynch, líder do consórcio contratado para realizar o serviço, adquirira, em 1995, a empresa Smith
New Court, controladora de outra corretora, a Smith Borkum Hare (SBH). O problema é que a SBH atuava como corretora da Anglo American, concorrente internacional da Vale e potencial compradora da
empresa. A Anglo American participou do leilão de privatização, consorciada com o grupo Votorantim. Na visão do
Tribunal Regional Federal da 1ª Região, os vínculos entre a Merril Lynch e a Anglo American comprometeram a imparcialidade do leilão. Na época, a relação especial entre as empresas foi denunciada pela Comissão Externa da Câmara dos Deputados, mas o BNDES amenizou o fato, argumentando que a ligação entre a SBH e a Anglo American era "puramente administrativa".
O ex-deputado federal e advogado Marcello Cerqueira, membro das reuniões técnicas do grupo de trabalho da Comissão Externa da Câmara, chegou a receber pelo correio a cópia de um fax emitido em 13 de março de 1997, por um executivo da Merril Lynch no Brasil e endereçado ao vice-presidente do BNDES, dizendo estar enviando o material preparado "pelo nosso pessoal em Nova York" para uso
pessoal dele. Em anexo, estava um texto escrito em inglês com tópicos que orientavam a resposta que viria a ser dada pelo presidente do BNDES em entrevista coletiva no dia seguinte, 14 de março. Esse
documento foi usado em notificação judicial ao BNDES, que se explicou respondendo que se tratava de rotina do banco.
Sobre o fato, no acórdão do TRF, a juíza Selene assinala: "Essa circunstância específica objetivamente exige, até prova em contrário, que se analise com prudência a avaliação procedida pela Merril Lynch".
11) Não avaliação da propriedade do Complexo de Carajás Em 1986, por meio da resolução 331/86, o Senado autorizou a União a ceder, gratuitamente, à Companhia Vale do
Rio Doce, o direito de uso sobre o imóvel de sua propriedade. No entanto, a cessão só foi efetivada mais de dez anos depois, com a edição de um decreto no dia 6 de março de 1997, depois de terminada a avaliação do patrimônio da Vale. Dessa forma, a propriedade de 4.119,48 km2 - equivalente a três vezes o tamanho da cidade de São Paulo -
ficou de fora do edital de venda da empresa e, portanto, não entrou na avaliação do patrimônio. ATUALIZADA EM:13/04/2006 Copyright 2004. Congresso em Foco. Todos os direitos reservados.
Capítulo 6 DO MAIS DISTANTE AO MAIS PRÓXIMO (de mil modos a
humanidade pode acabar) o Grande Esmigalhamento
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(não se sabe quantos bilhões de anos)
(1/1) Etcetra: O universo, que teria surgido a partir de uma descomunal explosão, o Big Bang, pode vir a se contrair até
voltar ao estado primordial, comprimindo toda a matéria existente em um único ponto, cuja estrutura e funcionamento escapam à compreensão humana. Para confirma esta hipótese apocalíptica, a ciência
precisa determinar a natureza da chamada matéria escura, que, supõe-se constitui 90 por cento do espaço e ainda permanece um mistério insondável, absoluto.
O megatelescópio espacial Hubble vem captando imagens inéditas e fundamentais que revelam à ciência novas pistas sobre a natureza do universo. Surgiram, por exemplo, os mais fortes indícios de existência
de buracos negros e a primeira visão de um berçário de estrelas em galáxias distantes. O fantástico poder de alcance do telescópio, entretanto, ainda não é suficiente para que o homem tenha em mãos todos os
dados necessários para escrever um livro com a história do universo, desde seus primórdios até seu eventual fim.
Apesar de munidos com os mais avançados aparatos tecnológicos, os cosmólogos conseguem enxergar tanto quanto um incauto que observa o céu à noite. Ao menos em relação à misteriosa matéria escura
(que não emite radiação e, portanto, é invisível), a comparação é válida. A substância que constituí 90 por cento de toda a matéria extraterrestre é vislumbrada apenas teoricamente; sem ela, considerando as leis naturais conhecidas, o espaço não poderia se comportar da forma observada. O destino do cosmo
depende da quantidade e da natureza da matéria escura. Gravitação Quântica
Acredita-se que o universo teria surgido a partir de uma explosão inicial, o Big Bang. Antes dele havia o nada. O tempo, o espaço e matéria simplesmente não existiam. O universo que surgiu com a expansão era
um inferno radioativo quente demais para qualquer molécula sobreviver. Nos primeiros minutos ele se resfriou o suficiente para que o núcleo dos elementos mais leves se formasse. Somente cem mil anos
mais tarde a temperatura permitiu o surgimento de átomos inteiros, logo seguido de moléculas simples. Mais um bilhão de anos e a matéria se condensou em estrelas e galáxias. Numa viagem imaginária ao
passado, a física moderna consegue explicar o que teria acontecido instantes após a explosão. Para regredir ainda mais seria preciso uma teoria que ainda não foi elaborada, mas já foi batizada de
Gravitação Quântica. Etcetra:
Desde a explosão primordial, o universo continua se expandindo como um balão de aniversário pontilhado de galáxia quer giram num lento bailado. Até o início do século nenhum filósofo ou cientista discordava de que o universo era uniforme e estacionário, cenário imutável da ação dos corpos celestes.
A partir de especulações decorrentes da Teoria da Relatividade, de Einstein, e das observações do astrônomo americano Edwin Hubble, é que a idéia de um universo em expansão ganhou força.
Analisando a forma como a luz proveniente de estrelas e galáxias distantes da Via Láctea chegava à Terra, ele constatou que essas galáxias estavam se afastando progressivamente. Ora, se há uma expansão,
ela deve ter começado em algum ponto comum, onde toda a matéria, hoje dispersa, estaria aglutinada, num estado de temperatura e densidade infinitas.
A hipótese do Big Bang se apóia nos seguintes fatores: a expansão do universo, a abundancia de elementos químicos no espaço e a radiação cósmica de fundo — uma radiação uniforme que existe em
todo o universo, descoberta em 1964 pelos americanos Arno Penzias e Robert Wilson. A prova material de como se constituíram as primeiras estruturas cósmicas — que consolidou ainda mais a hipótese — foi a conseguida pelo satélite COBE, lançadoem 1989. Mas será que a expansão perdurará para sempre? Ou
será que o universo pode se contrair até voltar ao estado inicial, provocando então o fenômeno denominado Big Crunch? Novamente, depende.
Nosso universo, que parece se expandir infinitamente, na verdade, é finito; ou seja, tem uma massa incomensurável, porém, finita. Dez por cento dessa massa é formada de matéria luminosa, visível
(nêutrons e elétrons), enquanto que os 90 por cento restantes seriam de matéria escura. Há fortes indícios de que a matéria escura existe por causa das curvas de rotação das galáxias. Dependendo de como se
comporta a rotação de uma galáxia com relação a distância do centro, é possível inferir como a matéria está distribuída. Por exemplo, no sistema solar, quanto maior a distância dos planetas em relação ao Sol, menor a velocidade de rotação ao redor da estrela. Com as galáxias isto não acontece. A velocidade de rotação ao redor do centro permanece constante, independentemente da distância. Logo, a matéria não
estaria aglutinada no centro. “A existência de matéria escura explica a rotação das galáxias, pois a quantidade de matéria visível que as compõe não é suficiente para manter as galáxias n movimento
observado”, explica o astrofísico José Lemos, do Observatório Nacional. Etcetra:
Mas o que isso tem a ver com o Big Crunch, o grande esmagamento? Usemos uma imagem. Quando um
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projétil é atirado para o alto, ele retorna, atraído pela força da gravidade da Terra. Quanto mais velocidade dada ao objeto em movimento, mais alto ele irá antes de cair. Se esta velocidade for igual ou superior a 11 quilômetros por segundo, o projétil vencerá a gravidade e escapará da atração exercida pela Terra. Esta velocidade crítica é chamada velocidade de escape. O mesmo raciocínio se aplica a qualquer sistema de matéria em explosão ou expansão, cujo movimento seja retardado pela força de gravidade. Se
a energia do movimento para fora exceder a que estiver sendo criada pela atração gravitacional para dentro, a matéria ultrapassará se a velocidade de escape e continuará se expandindo. Entretanto, se a
força maior for a de atração exercida pela gravidade, os objetos em expansão acabam por recomeçar a se juntar, exatamente como fazem a Terra e o tal projétil do exemplo acima. Assim é com o universo em
expansão. Existe uma velocidade crítica de lançamento no início da expansão. Se os corpos que compõem este universo forem mais velozes do que isso, a atração gravitacional de toda a matéria existente em tal
universo jamais conseguirá interromper a expansão. Por outro lado, se a velocidade de lançamento for menor que o valor crítico, a expansão cessa e o movimento se reverte. Se a velocidade de expansão for exatamente igual à de lançamento, a expansão continuará infinitamente. Um dos grandes mistérios do
universo é que ele está se expandindo assustadoramente próximo desta condição crítica. Tão próximo que não é possível ainda dizer, com certeza que lado da linha divisória ele está.
A intensidade da força de atração entre os corpos está diretamente ligada a sua massa. No caso do universo em expansão, o resultado da competição entre as forças de expansão e atração depende da massa total do universo cuja determinação, por sua vez, depende da matéria escura. Se a massa total (matéria escura e matéria visível) for menor ou igual á massa crítica do universo, ele se expandirá
infinitamente. A força gravitacional não será suficiente pra sobrepor a força que leva o universo a se expandir. Se a massa total for superiro à massa crítica, a força gravitacional levará o universo ao colapso,
ou seja, ele há de se esmagar em si mesmo. Etcetra:
E se isto vier a acontecer, num futuro longínquo? Será o fim? Chegará o universo a um estado de estabilidade no qual permanecerá imerso durante toda a eternidade? Mais uma vez, depende. Ao retornar ao estágio anterior à grande explosão, um novo Big Bang poderia acontecer. A história do universo seria, então uma sucessão de explosões criadores e colapsos fatais, Big Bang e Big Curnchs. E a humanidade
estaria imersa num processo em que o universo expande e contrai como uma bola de chiclete na boca de um deus brincalhão.
Podem ver sobre o tema em: http://www.enigmasonline.com/htm2/passado261203.htm
http://www.correiodabahia.com.br/2002/01/12/noticia.asp?link=not000044070.xml http://www.imagick.org.br/pagmag/Mystery/myst32.html
http://planeta.terra.com.br/arte/sfv/JohnDee.html http://www.dominiosfantasticos.hpg.ig.com.br/id136.htm
o Sol se expande (5,0 bilhões de anos)
12/03/2008 A terra será engolida pelo sol em 7.590 milhões de anos
Coroa solar - Ejeção da corôa solar observada pelo satélite Soho em 2002.
Al final, no quedarán ni los trozos. Si la naturaleza sigue su curso, dentro de unos 7.590 millones de años la Tierra será sacada de su órbita por el Sol, rojo
La Tierra será tragada por el Sol en 7.590 millones de años DENNIS OVERBYE (NYT) - Nueva York - El País
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e hinchado, y caerá hacia una rápida y vaporosa destrucción en una trayectoria espiral. Ésta es la previsión que indican los nuevos cálculos hechos
por los astrónomos Klaus-Peter Schröder, de la Universidad de Guanajuato (México), y Robert Connon Smith, de la Universidad de Sussex (Reino Unido).
quedas de meteoritos
270 milhões de anos (99 % de extinções; mas o 1 % que ficou levou a tudo depois)
65 milhões de anos (Iucatã, México, 70 % de extinções)
A Maior Cratera do Planeta
15 de Dezembro de 2006 às 16:10 · admin · Arquivado sob MEIO AMBIENTE
Encontrado sob as geleiras da Antártica o buraco que engoliu a maior parte das espécies há 250 milhões de anos
A descoberta de uma cratera com cerca de 460 quilômetros de diâmetro (duas vezes as dimensões da Suíça e mais que a distância
Por Luciana Sgarbi
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entre São Paulo e Rio de Janeiro) e quase dois quilômetros de profundidade sob as geleiras da Antártica abriu um novo capítulo na
história da vida na Terra.
Até hoje os especialistas acreditavam que 90% das espécies, entre
elas os dinossauros, tinham sido exterminadas devido à queda de um meteoro gigante em Chicxulub, na península mexicana de Yucatán, há 65 milhões de anos – com o impacto abriu-se uma cratera de 90
quilômetros de diâmetro que “engolira” as espécies. Na semana passada, pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio,
nos EUA, localizaram outra cratera que é cinco vezes maior que a mexicana. Coberta de gelo, ela está na região antártica conhecida como Terra de Wilkes, a leste do continente, próximo à Austrália.
Os pesquisadores acreditam que a cratera tenha se formado com o impacto na Terra de um cometa de 45 quilômetros de diâmetro, há 250 milhões de anos, período geológico conhecido como Permiano-
Triássico. O cataclismo teve proporções tão gigantescas que provocou o
deslocamento da superfície terrestre. Segundo o cientista Ralph von Frese, responsável pela pesquisa, o choque teria partido ao meio um
gigantesco continente conhecido como Gonduana, que reunia as terras atuais do Hemisfério Sul (África, América do Sul e Austrália). “O abalo sísmico teria empurrado o continente australiano para o
norte”, diz ele. Tamanho estrago deixa para trás o impacto do meteoro que caiu no México no final do período Cretáceo, dizimando
os dinossauros. É justamente aí que reside a grande importância da nova descoberta porque obriga os pesquisadores a considerar um extermínio anterior
a 65 milhões de anos. E essa nova perspectiva abre caminho para uma série de novas teorias evolucionistas.
“Enxergar” a cratera debaixo de uma geleira só foi possível graças à dupla de satélites espaciais americanos Grace. Embora eles tenham sensibilidade para detectar o menor movimento realizado por uma
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poeira cósmica, só focam suas “lentes” para a Terra se a força gravitacional de um objeto na superfície for suficientemente forte
para atraí-las. Quanto maior a massa dos objetos, maior sua força gravitacional e, conseqüentemente, maiores as chances de ser flagrados. É por isso
que a cratera só foi descoberta agora. Formações geológicas maiores, como as próprias geleiras vizinhas à região da Terra de Wilkes,
acabavam desviando a atenção dos satélites lançados pela Nasa. Utilizando os “olhos” dos satélites Grace, que fazem uma minuciosa “tomografia” da geografia terrestre, os cientistas detectaram uma
anormalidade no relevo encoberto por gelo. Ali, há uma “bolha” rochosa cobrindo uma área equivalente à do Estado americano de Ohio e sua configuração demonstra que o
terreno está se recuperando de um choque de proporções astronômicas.
“Na Lua existem pelo menos 20 crateras se recuperando de colisões com outros astros”, diz Von Frese. “Quanto à Terra, mais um rastro da
evolução da vida veio à tona.”
mudança do eixo magnético
mudança no norte
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inversão dos pólos 2012: Não haverá inversão dos pólos magnéticos da Terra
Tendo em vista os diversos alertas e notícias falsas sobre tragédias a ocorrer no ano de 2012 alegando o suposto ‘fim do calendário Maia‘,
estamos postando uma série de artigos para desmistificar esses cenários apocalípticos impossíveis. Esse é o quinto artigo que fala
sobre a suposta inversão dos pólos magnéticos da Terra prevista pelos profetas do apocalipse a acontecer em 2012.
2012: No Geomagnetic Reversal (2012: Não Haverá Inversão Geomagnética)
Tradução do artigo escrito por Ian O’Neill na Universe Today em 3 de outubro de 2008
2012: Não haverá inversão geomagnética na Terra!
Aparentemente, em 21 de dezembro de 2012, nosso planeta experimentará um poderoso evento. Desta vez não estamos falando
do Planeta X, Nibiru ou uma tempestade solar “assassina”, este evento terá suas origens nas profundezas do núcleo do nosso planeta, forçando uma mudança catastrófica em nosso campo magnético protetor. Não apenas notaremos uma rápida redução na força do campo magnético como também nós veremos como os pólos irão
reverter rapidamente sua polaridade, isto é, o pólo norte magnético se deslocará para o pólo sul geográfico e vice-versa. Então, o que tal
significa para nós? Se nós acreditarmos nos profetas do apocalipse, estaremos então expostos a vastas quantidades de radiação emitida
pelo Sol.
Raios Cósmicos - Crédito: Simon Swordy (U. Chicago), NASA
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Com uma inversão do campo magnético terrestre virá também um enfraquecimento na capacidade da Terra em desviar os raios cósmicos. Nossa armada de satélites de comunicação e militares sofrerá queda em
suas órbitas, adicionando caos ao cenário. Haverá distúrbios sociais, guerras, fome e um colapso econômico. Sem GPS, nossas linhas aéreas
também se arrebentarão contra o solo… Usando as Profecias Maias como desculpa para criar novas e explosivas
formas nas que nosso planeta poderá ser destruído em 2012, os profetas do apocalipse usam a teoria do deslocamento geomagnético como se a mesma fosse uma verdade absoluta e inquestionável. Essa
atitude é simplesmente devida ao fato que os cientistas estimaram que mudanças na polarização magnética terrestre talvez pudessem
acontecer dentro de milhares de anos. Para os profetas, todavia, tal parece evidência suficiente de que ocorrerá nos próximos quatro anos.
Desgraçadamente, embora a teoria das migrações nos pólos magnéticos tenha algum respaldo científico, como veremos mais a
frente aqui, não há nenhuma forma com que alguém possa afirmar que uma inversão geomagnética terá lugar nos próximos dias ou nos
próximos milhões de anosPrimeiro, devemos diferenciar os conceitos de “
… inversão geomagnética”
e “mudança polar”. A “inversão geomagnética” é uma mudança no campo magnético da Terra que se dá quando o pólo norte magnético
desloca-se para o pólo sul geográfico e vice-versa. Quando tal processo se completar as nossas bússolas passariam a apontar para
Antártida, no pólo-sul geográfico, como o sendo o pólo norte ao invés do nordeste do Canadá. As “mudanças polares” são eventos bem menos
freqüentes, que provavelmente ocorreram raríssimas vezes dentro escala de tempo do Sistema Solar (cerca de 4,55 bilhões de anos). Há exemplos de planetas que sofreram uma mudança polar catastrófica: Vênus (que gira na direção oposta do resto dos planetas por ter sido golpeado por um evento descomunal, tal como uma colisão com um planeta errante) e Urano (o qual gira de lado, com seu eixo deslocado por um impacto, ou algum efeito gravitacional causado por Júpiter e
Saturno). Muitos autores (incluindo os próprios profetas do apocalipse) citam freqüentemente esses dois cenários notadamente distintos,
inversão geomagnética e mudança polar, como sendo a mesma coisa, o que está totalmente errado. Tendo esclarecido esse ponto, vamos então
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tratar a seguir do cenário: “inversão geomagnética“. Qual é a freqüência das ocorrências do fenômeno da inversão
geomagnética? Vejamos a seguir…
O interior da Terra (Universidade de Chicago)
As razões inerentes à inversão dos pólos magnéticos são fracamente entendidas, mas esse cenário se relaciona tão somente à dinâmica
interna do planeta Terra. Conforme nosso planeta gira, o núcleo interior de ferro fundido flui livremente, forçando os elétrons livres a
acompanhar sua movimentação. Este movimento convectivo de partículas carregadas cria um campo magnético que tem seus pólos
situados nas regiões polares norte e sul (um dipolo). Isto é conhecido como o efeito dínamo. O campo magnético resultante se comporta aproximadamente como um ímã, permitindo que o campo recubra
nosso planeta. Este campo magnético passa através do núcleo até a crosta terrestre e
segue até o espaço formando a magnetosfera, uma bolha protetora que é constantemente assolada pelo vento solar. Uma vez que as partículas
de vento solar são iônicas (carregadas eletricamente), a potente magnetosfera da Terra desvia essas partículas, só permitindo sua
chegada nas cúspides polares, onde as linhas do campo magnético se “abrem”. Nessas regiões as partículas energéticas tem sua entrada
permitida e brilham formando as auroras. Normalmente esta situação pode durar por éons (o campo magnético
estável entrelaçado através das regiões polares norte e sul), mas sabemos que ocasionalmente o campo magnético terrestre se inverte e
altera sua intensidade.
Por que ocorre a inversão geomagnética?
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Gráfico que mostra as inversões de polaridade da Terra ao longo dos últimos 160 milhões de anos. Negro = polaridade normal, branco =
polaridade invertida. Fonte: Lowrie (1997) Simplesmente nós não conhecemos as causas reais. O que sabemos é que estas mudanças de pólos magnéticos têm ocorrido algumas vezes nos últimos milhões de anos. A última reversão teve lugar há 780.000
anos, de acordo com as evidências mostradas nos sedimentos ferromagnéticos. Alguns artigos alarmistas têm dito que as inversões geomagnéticas ocorrem com uma “regularidade de um relógio” - isto simplesmente é mentira. Como se pode ver no diagrama (acima), as inversões magnéticas têm acontecido de forma bastante caótica nos
últimos 160 milhões de anos. Os dados de longo prazo sugerem que o período mais longo de estabilidade entre inversões magnéticas durou quase 40 milhões de anos (durante o período Cretáceo que tem cerca de 65 milhões de anos) e o mais curto demorou algumas centenas de
anos. Algumas teorias do apocalipse em 2012 sugerem que a inversão
geomagnética da Terra está conectada com o ciclo solar natural do Sol de 11 anos. De novo, não existe nenhuma evidência científica que apóie
esta afirmação. Não há nenhuma informação disponível que associa alguma ligação da mudança de polaridade magnética da Terra com o
Sol. Assim, novas versões das teorias do apocalipse já estão falando que as
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inversões geomagnéticas não acontecem com a “regularidade de um relógio”, e não existe conexão com a dinâmica solar. Na verdade, não se espera uma inversão magnética dado que não podemos predizer
quando se produzirá a próxima, as inversões magnéticas têm lugar em pontos aparentemente aleatórios de nossa história, conforme os registros históricos de levantamentos geológicos dos sedimentos
ferromagnéticos. O que causa a inversão geomagnética?
A Terra modelada: podemos simular em laboratório o campo magnético
terrestre? (Flora Lichtman, NPR) A pesquisa para tentar compreender a dinâmica de nosso planeta
continua em andamento. Conforme a Terra gira, o ferro fundido de seu interior é agitado e flui de forma estável durante milênios. Por alguma razão durante uma inversão magnética, algumas instabilidades causam
uma interrupção da geração estável do campo magnético global, provocando uma mudança de pólos.
Em um artigo anterior na Universe Today, discutimos os esforços do geofísico Dan Lathrop por criar o seu próprio “Modelo da Terra“,
configurando uma bola de 26 toneladas (que continha um elemento análogo do ferro fundido, o sódio) que girava para se ver se o
movimento do fluido interno poderia gerar um campo magnético. Este enorme experimento de laboratório é o testamento dos esforços postos na compreensão de como a Terra gera seu campo magnético além da
razão do mesmo se inverter aleatoriamente. Uma visão minoritária (a qual, novamente, tem sido usada pelos
profetas do apocalipse para vincular as inversões geomagnéticas com o Planeta X) é que pode haver algumas influências externas que causem as inversões. Você verá com freqüência associações destas afirmações com a suposta existência do Planeta X/Nibiru, de forma que quando este misterioso objeto se encontrar dentro o Sistema Solar interior
durante sua órbita altamente elíptica, a perturbação do campo
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magnético poderia alterar a dinâmica interna da Terra (e do Sol, gerando possivelmente a tempestade solar “assassina”). Esta teoria é uma fraca vontade de vincular os cenários dos profetas do apocalipse
com um precursor comum do Juízo Final (quero dizer, o Planeta X). Não há razão para pensar que o potente campo magnético da Terra possa
ser influenciado por qualquer força externa, muito menos por um planeta inexistente (mas não era uma anã marrom?).
A força do campo magnético cresce e decresce…
As variações no campo geomagnético no oeste dos Estados Unidos
desde a última inversão. A linha pontilhada vertical indica o valor crítico de intensidade baixo abaixo do qual Guyodo e Valet (1999) estimam ter
ocorrido diversas mudanças direcionais. Publicou-se recentemente um artigo contendo novas investigações
sobre o campo magnético da Terra, no exemplar de 26 de setembro da revista Science, sugerindo que o campo magnético da Terra não é tão
simples como se acreditava. Além do dipolo norte-sul, existe um campo magnético mais débil e disperso por todo o planeta,
provavelmente gerado no núcleo externo da Terra. Têm-se medido variações de força no campo magnético da Terra e é bem conhecido o fato de que a força do campo magnético atual está passando por uma fase com tendência de redução. O novo artigo de
pesquisa, co-escrito pelo geocronólogo Brad Singer da Universidade de Wisconsin, sugere que um campo magnético mais débil é crítico para a inversão geomagnética. Se o dipolo mais potente (norte-sul) tem sua
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força de campo magnético reduzida para um nível inferior de intensidade, comparada com a do campo magnético distribuído,
normalmente mais débil, a inversão geomagnética torna-se viável. “O campo nem sempre é estável, a convecção e a natureza do fluxo se alteram, e isto pode provocar que o dipolo gerado aumente ou diminua de intensidade e força”, disse Singer. “Quando o campo magnético se
torna fraco, este fica menos capaz de alcançar a superfície da Terra e o que começamos a ver surgindo é este dipolo não axial, a parte mais fraca do campo magnético”. O grupo de pesquisa de Singer analisou amostras antigas de lava de vulcões no Taiti e Alemanha originadas
entre 500.000 até 700.000 anos atrás. Observando um mineral rico em ferro presente nessa lava, denominado magnetita, os investigadores
foram capazes de deduzir a direção do campo magnético. O giro dos elétrons na magnetita é governado pelo campo magnético
predominante na ocasião que a lava foi produzida pelos vulcões. Durante as épocas em que o potente campo dipolar domina, estes elétrons apontam na direção do pólo norte magnético. Durante as
épocas em que o campo dipolar se enfraquece, os elétrons apontam para onde estiver o campo dominante, neste caso o campo magnético
distribuído. Os cientistas acreditam que quando a intensidade do campo magnético dipolar debilitado cai abaixo de certa faixa de
valores, o campo magnético distribuído empurra o campo dipolar para fora do seu eixo original, provocando uma inversão geomagnética.
“O campo magnético é uma das características mais fundamentais da Terra”, disse Singer. “Mas ainda é um dos maiores enigmas da ciência. A razão disso acontecer [a inversão geomagnética] é algo que a gente
tem questionado durante mais de cem anos”. Os errantes pólos magnéticos
O movimento do pólo norte magnético terrestre através do ártico no
81
Canadá, de 1831 a 2001 (Geological Survey of Canadá) Embora pareça haver uma tendência atual para uma diminuição da
força do campo magnético, a intensidade corrente do campo magnético tem sido considerada acima da média quando a comparamos com as
variações medidas na história recente. De acordo com os pesquisadores na Scripps Institution of Oceanography
As posições dos pólos magnéticos, como sabemos, estão dando voltas sobre as localidades no
, São Diego, se o campo magnético continuar na sua tendência de queda atual, o campo dipolar será efetivamente zerado em cerca de 500 anos. Não obstante, é mais provável que a força do campo magnético simplesmente se reinicie e
aumente sua intensidade como tem sido usual nos últimos milhares de anos, continuando com suas flutuações naturais.
Ártico e na Antártida. Tomando o pólo norte magnético, por exemplo, (no desenho da esquerda) vê-se que a
posição do pólo tem se descolado de forma acelerada sobre as planícies do norte de Canadá com velocidade variando de 10 quilômetros por
ano no século XX até 40 quilômetros por ano em medições mais recentes. Pensa-se que se esta tendência persistir o eixo norte irá deixar a América do Norte e penetrar na Sibéria dentro de algumas
décadas. Este, todavia, não é um fenômeno novo. Desde a descoberta de James Clark Ross da posição efetiva do pólo norte magnético em
1831, sua posição tem vagado por centenas de quilômetros (embora as médias atuais tenham mostrado alguma aceleração adicional).
As inversões geomagnéticas são uma área fascinante da pesquisa geofísica que continuará ocupando os físicos e geólogos durante
muitos anos à frente. Embora a dinâmica por trás deste evento não seja entendida por completo,
Então, haverá ou não o Juízo final?
não há absolutamente nenhuma evidência científica que apóie a afirmação de que poderia haver uma inversão
geomagnética em torno de 21 de dezembro de 2012. Além disso, os efeitos de tais inversões têm sido totalmente super enfatizados. Se por acaso venhamos a experimentar uma inversão geomagnética ao longo de nossas vidas (o que possivelmente não
acontecerá), é improvável que sejamos assados vivos pelo vento solar ou aniquilados pelos raios cósmicos. É improvável que soframos
qualquer evento de extinção massiva (afinal, o homem primitivo, o homo erectus, sobreviveu à última inversão geomagnética,
aparentemente sem sofrer danos). Provavelmente iremos experimentar
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a visão de auroras em todas as latitudes, enquanto o campo magnético dipolar se assenta em seu novo estado invertido, e poderá haver um
pequeno incremento no bombardeio das partículas energéticas espaciais, os raios cósmicos (lembre-se que o simples enfraquecimento
da magnetosfera, não implicará que não iremos mais ter a proteção magnética). Fora isso, nós estaremos (muito bem) protegidos pela
nossa espessa atmosfera.
Os satélites poderão até passar por falhas e os pássaros migratórios ficarão confusos, mas prever a ocorrência de um colapso mundial é
uma história difícil de engolir.
• As inversões geomagnéticas são de natureza caótica. Não há forma de prevê-las com antecedência.
Conclusão:
• Simplesmente porque o campo magnético da Terra se enfraquece tal não significa que estamos perto do momento de um colapso.
O valor da intensidade do campo geomagnético da Terra está “acima da média” se comparamos as medidas atuais com as dos
últimos milhões de anos. • Os pólos magnéticos não estão fixos em umas posições
geográficas, os pólos se movem (em velocidades variáveis) e tal movimento têm acontecido desde que se iniciaram as medidas de
seus comportamentos. • Não existem provas que apontem para uma força externa afetando a dinâmica geomagnética interna da Terra. Assim, não
há nenhuma prova de uma conexão das inversões geomagnéticas com as do ciclo solar. E não venham falar do Planeta X também…
Considerando tudo isso, podemos acreditar que haverá um evento de inversão geomagnética em 2012? Eu julgo que não.
De novo vemos como outro cenário apocalíptico de 2012 fala de muitas formas. Não há dúvida que as inversões geomagnéticas terão lugar algum dia no futuro da Terra, mas estamos falando de escalas de
tempo variando de otimistas 500 anos (improvável) até milhões de anos e certamente não nos próximos quatro anos…
Fontes e referências:
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US News - Environment: Why Earth’s Magnetic Field Flip-Flops [A new hypothesis on the origins of Earth's magnetic field could shed light on
the reason it flip-flops] porGEOMAGNETISM -
Clara Moskowitz, LiveScience How Are Geomagnetic Reversals Related to Field
Intensity? Por Kenneth A. Hoffman, Physics Department, California Polytechnic State University, San Luis Obispo
Science.NASA.gov: Earth’s Inconstant Magnetic Field [Our planet's magnetic field is in a constant state of change, say researchers who are
beginning to understand how it behaves and why] supervulcões
Bem isso depende, actualmente conhece-se pouco sobre o interior da terra para afirmar com toda a certeza que isso pode acontecer, mas
o tamanha da caldeira do vulcão de Yellowstone assusta....
A verde são os limites do parque de Yellowstone, a vermelho os
limites da caldeira. Aqui podemos ver a evolução do ponto quente onde hoje fica
Yellowstone a medida que a placa tectónica da América do norte se desloca:
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Há uns poucos pontos quentes pelo globo, so conhecemos três que
ficam debaixo de placas continentais. Sim, mais próximo temos o monte de Stª Helena que fez o estrago
que conhecemos em 1980.
Está seria a área de influencia directa da erupção, (sem falar nas
cinzas e nos gazes resultantes da erupção), reparem onde está São Francisco que fica localizada por cima da falha de Santo André.
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bola de gelo Terra terá sido uma bola de gelo no seu passado longínquo
:: 2006-11-02 O campo magnético da
Terra permanece inalterado há mais de dois mil milhões de anos, o que parece
confirmar a hipótese de que o planeta foi num passado longínquo uma
gigantesca "bola de neve", revela hoje a
revista "Nature".
De acordo com um estudo divulgado por
esta revista científica, o geólogo norte-
americano David Evans, da Universidade Yale,
em New Haven (Connecticut), recolheu inúmeros dados globais sobre o geomagnetismo das rochas evaporíticas (
salinas) "descendo" até ao período Proterozóico (era que precede o aparecimento de formas de vida complexas sobre Terra).
Uma visão da evolução da Terra (imagem U. Bristol)
guerras termo-nucleares devastadoras
DEFCON - Guerra Termonuclear Global Postado por Quase-Físico em Maio - 10 - 2007
Quem nunca chegou em casa puto de vida, depois de um dia extremamente difícil, se perguntando: Cadê as guerras nucleares quando se precisa delas?
DEFCON é baseado no filme WarGames, Jogos de Guerra aqui no Brasil, da década de 80. No filme um garoto entra sem querer
Bem, talvez esse jogo seja a resposta para pelo menos parte da pergunta.
[1] no sistema de Defesa dos EUA e fica passeando por lá até encontrar o
seguinte “joguinho”: GLOBAL THERMONUCLEAR WAR. Com esse nome tão interessante até os mais desligados em jogos iam querer jogor. No final das
contas o garoto esta conectado com um “super” computador, WORP - War Operation Plan Response,
que está no controle de todo o arsenal Norte-americano. Então, por ter iniciado o suposto jogo, o
garoto está praticamente controlando todos os procedimentos para se iniciar uma guerra, acionando bases, silos nucleares e aeronaves. Não lembro como, mas o maldito garoto
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descobre que se trata de uma coisa real e vai atrás dos militares para “puxar o WORP da tomada”, mas como não é possível fazer isso, dão um jeito do WORP jogar com ele mesmo, enganando o sistema e evitando a Terceira Guerra Mundial. WORP fica jogando
várias e várias vezes e acaba concluindo que a melhor jogada seria não jogar. O filme é muito bom, até onde consigo lembrar.
Bom, agora vou falar um pouco sobre o jogo. Como o WORP concluiu, a melhor jogada é não jogar, mas como assim não tem
graça, vamos apertar o botão ué! Nesse jogo os alvos civis são os mais importantes e que valem mais pontos(na verdade acho que são os únicos alvos que dão pontos), só é interessante atacar instalações militares para poder acertar mais alvos civis depois, sem se preocupar com contra-ataques ou
mesmo de interceptarem suas ogivas. E é assim que funciona, quanto mais você arrasar o outro pais, melhor! Jogando, você acaba percebendo que é extremamente difícil ganhar sem perder alguns
milhões de almas civis, na verdade o próprio fabricante do jogo diz:
Os gráficos são bem simples, visando parecer as telas computadores do
filme, como da imagem ao lado. Se você está procurando por gráficos
Nesse jogo ninguém ganha, mas talvez você possa perder por último.
incríveis e explosões nucleares realistas, pode esquecer, por que em
DEFCON as explosões são circulos brancos!
O jogo é meio parado, mas não se pode esperar algo tão dinâmico de
um jogo puramente de estratégia. Falar não funciona muito nessa área, o legal mesmo é ver o jogo,
portanto ai vão alguns screenshots:
Brasil com Armas Nucleares!
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BigWorld. Nesse modo de jogo a coisa é mais complicada, você tem
muitas unidades para administrar - cada pontinho é um caça ou bombardeiro.
Não gostaria de estar na Europa nesse dia.
Como físico fico triste de ver as ogivas indo pelos caminhos mais longos, como por exemplo quando você dispara dos EUA e quer
atacar a Mãe Rússia, as ogivas vão pela horizontal, ou seja, passam por todo a atlantico, por toda a europa até chegar na Rússia. Na realidade é só disparar para o Norte que elas chegam muito mais rápido por fazerem um caminho menor (dá para se perceber que
fazem isso na imagem do filme). Gostei muito do jogo e sempre acabo brincando um pouco com ele para relaxar depois de um belo
http://www.everybody-dies.com/
dia de aulas. Quem se interessar, pode baixar a versão demo do jogo em:
Notas do autor:
[1] Não lembro se foi sem querer, mas cá entre nós… querendo já é difícil, imagina sem querer.