Os7constituintes audio

of 32 /32
Os sete cOnstituintes Os sete cOnstituintes AntôniO FrAnciscO teixeirA de melO(pOetA) AntôniO FrAnciscO teixeirA de melO(pOetA) mAnuel nunes de medeirOs netO (ilustrAdOr) mAnuel nunes de medeirOs netO (ilustrAdOr)

Embed Size (px)

Transcript of Os7constituintes audio

  • Os sete constituintesAntnio Francisco teixeira de melo(poeta)Manuel Nunes de Medeiros Neto (Ilustrador)

  • OS SETE CONSTITUINTES

  • Os sete constituintes:Quem j passou pelo serto e viu o solo rachado, a caatinga cor de cinza, duvido no ter parado, para ficar olhando o verde do juazeiro copado.E sair dali pensando, como pode a natureza, num clima to quente e seco, numa terra indefesa com tanta adversidade criar tamanha beleza.O juazeiro, seu moo, pra ns a resistncia, a fora, a garra e a saga, o grito de independncia, do sertanejo que luta na frente da emergncia.

  • Nos seus galhos se agasalham do periquito ao canco hotel de retirante que anda de p no cho, o general da caatinga e o vigia do serto.E foi debaixo de um deles que vi um porco falando, um cachorro e uma cobra, e um burro reclamando, um rato e um morcego e uma vaca escutando.

  • Isso j faz tanto tempo que nem me lembro mais se foi pra l Fortim se foi pra c de Cristais, eu s me lembro direito do que disse os animais.Eu vinha de Canind, com sono e muito cansado quando eu vi perto da estrada um juazeiro copado, subi armei minha rede e fiquei ali deitado. Como a noite estava linda, procurei ver o cruzeiro, mas cansado como estava, peguei no sono ligeiro, s acordei com os gritos debaixo do juazeiro.

  • Quando olhei para cima, eu vi um porco falando, um cachorro e uma cobra, e um burro reclamando, um rato e um morcego e uma vaca escutando.

  • O dizia assim:

    Pelas barbas do capeta!!! Se ns ficarmos parados a coisa vai ficar preta ... Do jeito que o homem vaiVai acabar o planeta.

  • J sujaram os sete maresDo Atlntico ao mar EgeuAs flores esto capengasOs rios da cor de breuE ainda por cima dizemQue o seboso sou eu.

  • Os bichos bateram palmasO deu com a mo

    O se levantou e disse:

    Prestem atenoEu tambm j no suporto Ser chamado de ladro.

  • O homem sim mente e roubaVende a honra e compra o nomeNs s pegamos a sobraDaquilo que ele come somente o necessrioPara saciar a nossa fome

  • Palmas, gritos e assoviosEcoaram pela floresta

    A se levantou E disse franzindo a testa:-Eu convivo com o homemMas sei que ele no presta.

  • um mal agradecidoOrgulhoso e inconsciente doido e se faz de cegoNo sente o que a gente senteE quando nasce tomando A pulso o leite da gente.

  • Entre aplausos e gritos

    A se levantou

    E ficou na ponta do rabo E disse: tambm eu sou Perseguida pelo homemPra todo canto que vou

  • Pra vocs o homem ruimMas para ns ele cruelMata a cobra e tira o couroCome a carne e estoura o felDescarrega todo dioEm cima da cascavel

  • certo, que eu tenho venenoMas nunca fiz um canhoE entre mim e o homemH uma contradioO meu veneno na presaE o dele no corao

  • Entre os venenos do homemO meu se perde na sobra...Numa guerra o homem mataCentenas numa manobraInda tem cego que diz:Eu tenho medo de cobra.

  • A ainda quis falar

    Mas de repente um esturro que o pulando

    Pisou no rabo do E o burro partiu para cima doPara dar-le um murro.

  • Mas o notando

    que ia acabar a paz

    Pulou na frente do E disse: - calma rapaz!!...Baixe a guarda abra o cascoNo faa o que o homem faz

  • O pediu desculpas

    E disse: - muito obrigado Me perdoe se fui grosseiro que ando estressadoDe tanto apanhar do homemSem nunca ter revidado,

  • O disse: - seu

    Voc sofre porque querTem fora por quatro homensDa carroa choferSabe dar coice e morder S apanha se quiser

  • O disse: - eu sei

    Que sou melhor que eleMas se eu morder o homemOu se eu der um coice nele mesmo que estar trocandoO meu juzo no dele.

  • Os bichos todos gritaram ... Muito bem!

    O disse: - obrigado

    Mas aqui ainda temO e o

    Querem falar tambm

  • O disse: - amigos

    Todos vocs tm razo O homem um quase nada Rodando na contra moUm quebra-cabea humanoSem prumo e sem direo

  • Eu nunca vou entenderPorque o homem assimSe odeiam, fazem guerraE tudo quanto ruimE a vacina da raiva Em vez deles, do em mim.

  • Os bichos bateram palmasE gritaram: - v em frenteMas o parou

    Disse: - obrigado gente

    Mas falta ainda o Dizer o que sente.

  • O abriu as asasDeu uma grande risadaE disse: eu sou o nicoQue no posso dizer nadaPorque o homem para nsTem sido at camarada

  • Constri castelos enormesCom torres sino e badaloPe cermicas e azulejosE do pra gente morarE deixam milhares delesNas ruas sem ter um lar

  • O bateu asas

    Se perdeu na escurido

    O pediu a vez

    Mas no ouvi nada noPeguei no sono e perdiO fim da reunio

  • Quando o dia amanheceuEu desci do meu poleiroProcurei os animaisNo vi nem o roteiroVi somente umas pegadasDebaixo do juazeiro

  • Eu disse olhando asSe essa reunioTivesse sido por nsEstava coberto o choDe pibas de cigarrosGuardanapos e papelo

  • Botei a maca nas costasE sa cortando o ventoTirei a viagem todaSem tirar do pensamentoOs sete bichos zombandoDo nosso comportamento.

  • Hoje quando eu vejo na rua

    Um morto no cho

    Um mulo piadoUm homem com um facoAgredindo a naturezaEu tenho plena certezaOs bichos tinham razo.