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Os sete constituintesAntnio Francisco teixeira de melo(poeta)Manuel Nunes de Medeiros Neto (Ilustrador)
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OS SETE CONSTITUINTES
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Os sete constituintes:Quem j passou pelo serto e viu o solo rachado, a caatinga cor de cinza, duvido no ter parado, para ficar olhando o verde do juazeiro copado.E sair dali pensando, como pode a natureza, num clima to quente e seco, numa terra indefesa com tanta adversidade criar tamanha beleza.O juazeiro, seu moo, pra ns a resistncia, a fora, a garra e a saga, o grito de independncia, do sertanejo que luta na frente da emergncia.
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Nos seus galhos se agasalham do periquito ao canco hotel de retirante que anda de p no cho, o general da caatinga e o vigia do serto.E foi debaixo de um deles que vi um porco falando, um cachorro e uma cobra, e um burro reclamando, um rato e um morcego e uma vaca escutando.
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Isso j faz tanto tempo que nem me lembro mais se foi pra l Fortim se foi pra c de Cristais, eu s me lembro direito do que disse os animais.Eu vinha de Canind, com sono e muito cansado quando eu vi perto da estrada um juazeiro copado, subi armei minha rede e fiquei ali deitado. Como a noite estava linda, procurei ver o cruzeiro, mas cansado como estava, peguei no sono ligeiro, s acordei com os gritos debaixo do juazeiro.
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Quando olhei para cima, eu vi um porco falando, um cachorro e uma cobra, e um burro reclamando, um rato e um morcego e uma vaca escutando.
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O dizia assim:
Pelas barbas do capeta!!! Se ns ficarmos parados a coisa vai ficar preta ... Do jeito que o homem vaiVai acabar o planeta.
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J sujaram os sete maresDo Atlntico ao mar EgeuAs flores esto capengasOs rios da cor de breuE ainda por cima dizemQue o seboso sou eu.
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Os bichos bateram palmasO deu com a mo
O se levantou e disse:
Prestem atenoEu tambm j no suporto Ser chamado de ladro.
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O homem sim mente e roubaVende a honra e compra o nomeNs s pegamos a sobraDaquilo que ele come somente o necessrioPara saciar a nossa fome
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Palmas, gritos e assoviosEcoaram pela floresta
A se levantou E disse franzindo a testa:-Eu convivo com o homemMas sei que ele no presta.
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um mal agradecidoOrgulhoso e inconsciente doido e se faz de cegoNo sente o que a gente senteE quando nasce tomando A pulso o leite da gente.
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Entre aplausos e gritos
A se levantou
E ficou na ponta do rabo E disse: tambm eu sou Perseguida pelo homemPra todo canto que vou
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Pra vocs o homem ruimMas para ns ele cruelMata a cobra e tira o couroCome a carne e estoura o felDescarrega todo dioEm cima da cascavel
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certo, que eu tenho venenoMas nunca fiz um canhoE entre mim e o homemH uma contradioO meu veneno na presaE o dele no corao
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Entre os venenos do homemO meu se perde na sobra...Numa guerra o homem mataCentenas numa manobraInda tem cego que diz:Eu tenho medo de cobra.
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A ainda quis falar
Mas de repente um esturro que o pulando
Pisou no rabo do E o burro partiu para cima doPara dar-le um murro.
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Mas o notando
que ia acabar a paz
Pulou na frente do E disse: - calma rapaz!!...Baixe a guarda abra o cascoNo faa o que o homem faz
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O pediu desculpas
E disse: - muito obrigado Me perdoe se fui grosseiro que ando estressadoDe tanto apanhar do homemSem nunca ter revidado,
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O disse: - seu
Voc sofre porque querTem fora por quatro homensDa carroa choferSabe dar coice e morder S apanha se quiser
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O disse: - eu sei
Que sou melhor que eleMas se eu morder o homemOu se eu der um coice nele mesmo que estar trocandoO meu juzo no dele.
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Os bichos todos gritaram ... Muito bem!
O disse: - obrigado
Mas aqui ainda temO e o
Querem falar tambm
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O disse: - amigos
Todos vocs tm razo O homem um quase nada Rodando na contra moUm quebra-cabea humanoSem prumo e sem direo
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Eu nunca vou entenderPorque o homem assimSe odeiam, fazem guerraE tudo quanto ruimE a vacina da raiva Em vez deles, do em mim.
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Os bichos bateram palmasE gritaram: - v em frenteMas o parou
Disse: - obrigado gente
Mas falta ainda o Dizer o que sente.
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O abriu as asasDeu uma grande risadaE disse: eu sou o nicoQue no posso dizer nadaPorque o homem para nsTem sido at camarada
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Constri castelos enormesCom torres sino e badaloPe cermicas e azulejosE do pra gente morarE deixam milhares delesNas ruas sem ter um lar
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O bateu asas
Se perdeu na escurido
O pediu a vez
Mas no ouvi nada noPeguei no sono e perdiO fim da reunio
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Quando o dia amanheceuEu desci do meu poleiroProcurei os animaisNo vi nem o roteiroVi somente umas pegadasDebaixo do juazeiro
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Eu disse olhando asSe essa reunioTivesse sido por nsEstava coberto o choDe pibas de cigarrosGuardanapos e papelo
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Botei a maca nas costasE sa cortando o ventoTirei a viagem todaSem tirar do pensamentoOs sete bichos zombandoDo nosso comportamento.
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Hoje quando eu vejo na rua
Um morto no cho
Um mulo piadoUm homem com um facoAgredindo a naturezaEu tenho plena certezaOs bichos tinham razo.