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    OSTRABALHOSEOSDIAS

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    Dados internacionais de catalogao na publicao

    Bibliotecria responsvel: MARAREJANEVICENTETEIXEIRA

    Hesodo. Os trabalhos e os dias / Hesodo ; edio, traduo, introduo e notas : Alessandro Rolim de Moura. -

    Curitiba, PR : Segesta, 2012. 152 p. ; 21 cm. - ( Razes do pensamento econmico ; 2)

    Texto em grego com traduo paralela em portugus. Inclui bibliografa.

    1. Economia Obras anteriores a 1800. I. Moura,

    Alessandro Rolim de. II. Ttulo. III. Srie.

    CDD (22 ed.)

    330

    ISBN 978-85-89075-13-8

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    Hesodo

    Os trabalhose os dias

    Curitiba2012

    Edio, traduo, introduo e notas deALESSANDROROLIMDEMOURA

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    Rua Desembargador Westphalen, 15, Conj. 1705

    Curitiba / PR

    80010-903

    Tel.: (41) 3233 8783

    www.segestaeditora.com.br

    e-mail: [email protected]

    Ttulo original:EA KAI HMEAI

    H

    Ttulo traduzido: O

    A R M

    Capa e ilustraes (pastel seco e nanquim):D V

    Capa:Ilustrao a partir de cermica grega ateniense, assinada por Nikosthenes,550-500 a.C., Berlim, Antikensammlung, Schloss Charlottenburg, F1806.

    Pgina 57: Ilustrao a partir de cermica grega ateniense, atribuda ao pintor deAntimenes, 550-500 a.C., Museu Britnico, Londres, 1837.6-9.42.

    Finalizao:B H S

    Editorao eletrnica:G M S

    Reviso do texto em portugus:S S

    Reviso do texto em grego:P I J.

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    AGRADECIMENTOS

    Muitos colegas e amigos me ajudaram neste projeto.Agradeo especialmente a Sandra Rocha e Sandra Bianchet,

    que me enviaram material bibliogrco; a Roosevelt de ArajoRocha Jr., que leu e fez anotaes a um dos primeiros esboos datraduo; a Christos Simelidis, que discutiu comigo passagensespeccas do texto grego e questes de editorao; ao Dr. MartinL. West, que viu o trabalho em sua fase nal e me enviou impor-tantes sugestes sobre as siglas e o aparato crtico, alm de ter mechamado a ateno para o tratamento problemtico que eu vinhadando a uma questo gramatical; a Pedro Ipiranga Jr., que revi-sou minuciosamente o texto grego e a introduo e me salvou dediversos equvocos; nalmente, a toda a equipe da Editora Segesta,pela conana e pacincia, bem como por sucessivas leituras quesempre vinham acompanhadas de sugestes. Quaisquer erros quetenham permanecido sero de minha inteira responsabilidade.

    Este livro dedicado memria de Marzia Terenzi Vicentini.

    A. R. M.

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    SUMRIO

    INTRODUO................................................................ 11

    I Proposta deste livro......................................................... 11II Quem Hesodo? ........................................................... 17

    III O texto dosErga............................................................ 36

    IV Siglas dos testemunhos citados no aparato crticoe outras convenes utilizadas ....................................... 42

    V Bibliograa ..................................................................... 48

    EA KAI HMEAI.......................................................... 60

    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS............................................. 61

    APNDICE........................................................................... 145

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    INTRODUO

    I PROPOSTADESTELIVRO

    Esta edio tem como objetivo servir, a um s tempo, a

    pblicos diversos. Como o plano de fazer uma nova traduo de

    Os trabalhos e os dias (Erga kai hemerai)1de Hesodo surgiu

    no contexto da coleo Razes do Pensamento Econmico, um

    primeiro horizonte de leitores o dos economistas e demais

    pessoas interessadas na histria das ideias econmicas. Para

    estes, fazia-se necessrio um texto portugus completo, numalinguagem que, antes de procurar reproduzir os efeitos poticos do

    original, deixasse to clara quanto possvel a viso de mundo de

    Hesodo naquilo que ela tem de relevante para a rea da economia,

    sem criar diculdades excessivas para um pblico que no est

    necessariamente habituado leitura da poesia antiga. Da uma

    das razes de termos optado por uma traduo que se aproxima

    da prosa contempornea, sem as restries que a escolha de ummetro especco acabaria por impor. Por outro lado, traduzir a

    poesia de Hesodo sem atentar em nada para a arte dos versos

    gregos e para as obscuridades do autor seria impossvel, e todo o

    tempo acompanhou-nos a preocupao de evitar formulaes que

    1 Em latim, Opera et dies, abreviado Op.

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    INTRODUO

    banalizassem o original. OsErga nunca foram simplesmente um

    texto tcnico de agricultura ou um manual de economia. A obra

    constitui um desao para os intrpretes e uma constante fonte de

    surpresas com seu amlgama de crtica social, sabedoria milenar,

    narrativa mtica, discurso indignado, religiosidade e observao do

    cotidiano e da natureza, amlgama este vazado num estilo s vezes

    enigmtico e profundamente marcado pela tradio da poesia oral

    da Grcia arcaica. Assim, se muitas vezes nosso texto em portugus

    soar antiquado e misterioso, ou distante da linguagem de hoje,

    isso corresponde a um respeito mnimo pela lngua hesidica.

    Se, alm disso, conseguirmos oferecer aos leitores uma traduo

    que lhes parea escrita numa prosa razovel, ainda que muita vez

    spera, teremos prestado uma pequena homenagem difcil beleza

    do poema grego.

    Igualmente no sentido de facilitar a consulta da traduo,

    acrescentamos alguns subttulos em itlico separando o poema em

    sees. Que isso no gere, todavia, a impresso de que o texto de

    Hesodo progride segundo um plano absolutamente lgico. Muitas

    vezes alguns temas se repetem em partes diferentes, digresses

    inesperadas interrompem o argumento e conceitos sem relao

    aparente entre si se justapem em conexes desconcertantes. Isso

    tudo provavelmente o resultado de uma obra composta, ao menos

    em parte, segundo princpios de improvisao tpicos da poesia

    oral, que nem sempre obedecem ordem de uma exposio me-

    tdica. Analogias sugeridas pela dimenso imagtica ou emotiva

    de uma determinada passagem vo frequentemente se sobrepor

    s exigncias do didatismo.2

    2 O elo que conecta Hesodo a uma poesia de tradio oral bem demonstradopor Edwards, 1971 (ver tambm Pavese e Venti, 2000). Possveis

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    O segundo grupo de leitores que temos em mente bastante

    diferente do primeiro. Pensamos que a edio poderia ser til

    tambem aos estudantes de grego. Para tanto, resolvemos fornecer

    tambm o texto original. Nossa traduo tende ao literal e procura

    seguir de perto a ordem do grego, de modo que cada linha em

    portugus corresponde quase exatamente aos contedos do verso

    grego de mesmo nmero. Portanto, mais do que se arrogar o sta-

    tusde obra literriaperse, a traduo visa tambm ajudar a ler o

    original. Dessa forma, aqueles que tm uma instruo mnima na

    lngua grega, podero perceber no grego o trabalho artstico de

    Hesodo. Com esses dois grupos de leitores em mente concebemos

    tambm a introduo, que no se pretende um estudo da obra de

    Hesodo, mas uma apresentao para um pblico menos especia-

    lizado, ao qual se oferecem tambm indicaes bibliogrcas para

    quem desejar um maior aprofundamento.

    Tambm com o m de prestar um servio aos estudantes deLetras Clssicas, fornecemos um aparato crtico resumido, que

    apresenta aquelas variantes da tradio manuscrita que julgamos

    mais pertinentes, bem como algumas intervenes de llogos ante-

    riores. Nenhuma obra antiga est desprovida de problemas textuais

    (exemplo famoso o da prpria Bblia, cujo texto constitudo

    diferentemente por diferentes editores a partir de milhares de ma-

    nuscritos, dos quais no temos nem sequer dois que coincidem emtudo). Acreditamos que imprimir um texto grego ou latino sem dar

    indicaes bsicas sobre isso privar o pblico leitor de informaes

    de suma importncia, e pode gerar a falsa impresso de que existe

    um texto nico de Hesodo, Sfocles ou Ccero. Para voltarmos ao

    consequncias disso para a composio de Os trabalhos e os dias sodiscutidas por West, 1978, p. 41-59.

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    INTRODUO

    caso presente, os mais de 260 manuscritos deOs trabalhos e os

    diasapresentam inmeras diferenas entre si. Traduzir o poema

    necessariamente traduzir uma dessas verses, ou uma nova verso

    que incorpore aspectos diversos dos diferentes testemunhos que

    conservam a obra. Da a necessidade de mostrar, de forma expl-

    cita e sinttica, quais so as variantes, ao menos as mais decisivas.

    Estas s vezes correspondem ausncia de um determinado verso

    na maior parte dos testemunhos, ordenao distinta dos versos em

    diferentes manuscritos, troca de uma palavra por outra, a diferenas

    nos tempos verbais, etc. Se escolhemos uma variante especca para

    servir de base traduo, o trabalho ca mais completo se damos

    ao leitor condies de perceber que o texto grego daquela passagem

    no o nico possvel e de julgar por si mesmo qual variante a

    mais satisfatria.

    Para esse m, no estritamente necessrio consultar todos

    os manuscritos existentes. Esse trabalho j foi feito, em grandeparte, por llogos extremamente competentes e dedicados que

    colacionaram dezenas de cdices medievais, papiros, citaes

    de outros autores gregos, e o resultado dessa investigao est

    disponvel nas grandes edies crticas (e.g. Rzach, Wilamowitz,

    West, Solmsen). Embora muitos cdices, principalmente os mais

    recentes, ainda no tenham sido analisados a fundo, certamente

    aqueles mais antigos e que se pde at o momento identicar comoos principais foram objeto de colaes relativamente exaustivas.

    Nosso trabalho, a esta altura da histria da lologia, nas nossas

    condies de pesquisa e numa edio com ns didticos e de

    divulgao, simplesmente apresentar, num livro brasileiro de

    fcil acesso, os elementos principais dessa tradio textual.

    Teremos tambm a oportunidade de levar em conta as lies de

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    papiros trazidos luz aps as edies de West e Solmsen (como

    o P. Schyen MS 5068, provavelmente o mais antigo papiro

    hesidico j descoberto): destes, que colacionamos por meio de

    fotograas, nosso aparato crtico reporta todas as variantes de

    importncia que possvel ler com certeza. Desejamos que esse

    aparato crtico, complementado pelas notas lolgicas em portugus

    que acompanham a traduo e por algumas informaes que

    forneceremos no material introdutrio e no apndice, possa ajudar

    a familiarizar os estudantes com a linguagem da crtica textual

    e incentivar a produo de edies dos clssicos cada vez mais

    completas do ponto de vista lolgico. Mesmo o pblico leigo

    vai se beneciar de edies com tal preocupao, pois ter ao seu

    dispor textos mais conveis e que retratam mais corretamente as

    transformaes histricas pelas quais esses textos passaram. Embora

    nosso trabalho no seja propriamente uma edio crtica, mas apenas

    uma edio bilngue com notas crticas mnimas, acreditamos

    que se pode aguar a conscincia dos estudiosos brasileiros para

    essas questes, e que perfeitamente possvel, mesmo com as

    limitaes de nossas bibliotecas, realizar trabalhos mais conscientes

    dos problemas de estabelecimento de texto presentes na literatura

    clssica. O ambiente universitrio atual, ademais, permite mais

    viagens a grandes centros, e as novas tecnologias do a pblico

    cada vez mais imagens digitalizadas de manuscritos. Esse contexto

    faz pensar que, mesmo a curto prazo, llogos brasileiros podero

    realizar projetos mais ambiciosos nesse campo.

    Quando comeamos a caminhar com base nesses princpios,

    o contato com detalhes do texto e com as diferentes interpretaes

    provenientes das variantes textuais torna a traduo de cada pas-

    sagem um dilema ainda maior do que faria supor a ateno s j

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    INTRODUO

    complexas virtualidades artsticas e semnticas de uma frase grega

    num livro didtico de lngua ou numa edio que ignorasse de

    todo os problemas textuais. Por mais modestos que sejam nossos

    objetivos, inevitvel, vez por outra, que uma certa liberdade de

    pensamento nos leve a discordar das propostas de llogos ante-

    riores. Da o fato de esta edio fornecer um texto grego que no

    exatamente igual a nenhuma edio anterior, e de nosso aparato

    crtico ser redigido tambm de acordo com determinadas escolhas

    individuais. Teria sido com certeza mais fcil utilizar o fac-smilede uma edio autorizada. Mas ler os aparatos crticos das edies

    anteriores nos torna mais crticos. Seria despropositado, claro,

    modicar o texto de acordo com a mera pretenso de ser um editor

    original. Como a edio de West sem dvida a mais completa que

    j foi feita e o seu conhecimento da lngua grega e da sua poesia

    a um s tempo muito vasto e preciso, evitamos (com exceo de

    pouqussimos casos) discordar dele em questes menores, comoa pontuao e a acentuao, e todas as diferenas entre este texto

    grego e o de West so listadas no apndice ao nal do volume.

    Para o estudante mdio de nossas universidades, edies crticas

    to pormenorizadas como a de West podero talvez intimidar uma

    leitura mais profunda, e o aparato ao p da pgina parecer por

    vezes indecifrvel. Nosso aparato mais simples, a comear, por

    levar em conta um menor nmero de testemunhos (unicamenteaqueles que consideramos imprescindveis), e tambm por usar

    uma linguagem menos abreviada. Est, todavia, ainda redigido em

    latim, conforme a melhor tradio. Apenas se acostumando com

    o aparato em latim o estudante vai se tornar capaz de lidar com as

    edies mais completas, pois quase todas adotam esse princpio.

    uma diculdade da linguagem desse campo de estudos, a qual

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    tem suas razes prticas e histricas. No recomendvel proteger

    nossos estudantes desse percalo. Por outro lado, os llogos de

    vocao aos poucos aprendero o prazer de interpretar e manusear

    a lngua do seu campo do saber.

    Passemos agora a uma apresentao do autor e da obra, bem

    como a uma explicao concisa da histria do texto de Hesodo,

    seguida de uma lista didtica das siglas e abreviaturas usadas no

    aparato crtico e dos sinais crticos utilizados nesta edio.

    II QUEMHESODO?

    Diferentemente do que ocorre com Homero, Hesodo ainda

    tratado pelos estudiosos contemporneos como gura histrica

    de existncia quase indubitvel, algum de carne e osso, passvel

    inclusive de uma abordagem biogrca. Essa atitude da crtica

    estimulada pelo prprio texto hesidico, que, em diversas oportuni-dades da Teogoniae de Os trabalhos e os dias,apresenta uma voz

    autoral que fala de si mesma explicitamente. Isto , embora Homero

    contenha passagens em que o ofcio do aedo descrito, em pratica-

    mente nenhuma delas vemos o poeta daIladae da Odisseia(se

    que se trata de apenas um poeta) emergir com clareza e falar de si

    mesmo utilizando a primeira pessoa. Em Hesodo, no s vemos

    claramente armado o carter potico do texto que est sendoenunciado, mas tambm o sujeito por trs desse texto coloca-se

    orgulhosamente como um prossional nessa arte.3No texto hom-

    rico, a referncia ao eu narrativo-potico ocorre, quando menos

    indiretamente, nas invocaes e em certos trechos em que a voz que

    3 Havelock, 1996 [1963], p. 116-117.

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    INTRODUO

    narra compara os heris da epopeia aos homens de hoje.4Essas

    referncias, ainda que nos faam entrever mais concretamente um

    poeta que um dia comps aqueles versos, so muito fugidias se

    comparadas ao que vemos em Hesodo, o primeiro poeta ocidental

    a falar em seu prprio nome e dar indicaes mais precisas sobre

    sua vida pessoal.5Na Teogonia 22-33, o poeta nos conta como um

    dia, quando apascentava suas ovelhas no monte Hlicon, as Musas

    dirigiram-se a ele e o tornaram poeta. J nos Trabalhos, versos

    27-41, Hesodo comenta os desentendimentos sobre a partilha da

    herana paterna que ele tem com seu irmo Perses. Mais adiante,

    em 633-640, lemos que o pai do autor costumava apelar a viagens

    martimas para escapar pobreza. Foi fugindo desta ltima que

    ele abandonou Cime, na sia Menor, e se estabeleceu em Ascra,

    perto do Hlicon. Alguns versos depois (646-662), continuando

    o tema da navegao, Hesodo comenta que ele prprio nunca se

    aventurou no mar, exceto quando uma vez foi a Eubeia participar

    dos jogos em honra de Andamante, nos quais obteve uma vitria

    com um hino. Essa foi a sua nica experincia com barcos, mas

    mesmo assim, diz ele, tratar desse assunto, pois as Musas, que

    o introduziram no caminho da poesia, ensinaram-no a cantar um

    canto extraordinrio.

    4 Note-se, no entanto, que a viso de um narrador homrico absolutamenteobjetivo tem cada vez menos credibilidade na crtica, principalmente a

    partir da aplicao mais sistemtica da narratologia anlise dos poemas(ver e.g. de Jong, 1987, 1997 e 2004, p. 13, 14-18).

    5 Barron e Easterling, 1985, p. 92. pela Teogonia22 que camos conhe-cendo o nome Hesodo, para cuja discutida etimologia (possivelmenteaquele que tem prazer com o caminho ou aquele que emite canto, ouainda aquele que percorre a via do canto) ver Most, 2006, p. xiv-xvi, eErcolani, 2010, p. 51, n. 1.

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    Poderamos talvez ver nessa diferena entre a postura ho-

    mrica e essa guinada autobiogrca de Hesodo o sinal de uma

    evoluo, da passagem de um estgio em que o poeta se v como

    um discreto intermedirio das Musas para uma potica em que o

    artista est mais consciente de seus meios e apresenta uma indi-

    vidualidade mais delimitada.6Mas nada impede que as diferenas

    apontadas acima sejam imputveis tambm distino entre os

    gneros literrios envolvidos. Se pensamos na literatura sapien-

    cial antiga tal como caracterizada por West, veremos que nela

    comum que os ensinamentos sejam proferidos pela voz de uma

    gura que se apresenta como pessoa experiente, cuja existncia

    explica, justica e d autoridade a sua opo pelo discurso did-

    tico. A vinculao de Hesodo a esse tipo de literatura tambm

    vericvel por outras razes (como o emprego da fbula), o que

    nos leva a crer que muito mais a forma literria posta em ao

    que faz a personalidade do poeta vir tona.7

    6 Assim apresentam o problema, por exemplo, de Romilly, 1973, p. 158-159;Krausz, 2007, p. 111-115. Note-se a viso do desenvolvimento histricodos gneros literrios gregos em Snell, 2001 [1955], p. 55-56.

    7 Ver West, 1978, p. 3-25; Nagy, 1990, p. 48, 54, 71-72. muito debatida aligao de Hesodo com a literatura de outros povos da Antiguidade, princi-

    palmente em funo dos marcantes paralelos entre, de um lado, a Teogoniae Os trabalhos e os dias, e, de outro, certos textos do Oriente prximo (ver,

    por exemplo, a semelhana entre o mito das raas em Hesodo e as quatro

    eras associadas a quatro diferentes metais em antigos escritos persas, comorelata West, 1978, p. 174-175; cf. Barron e Easterling, 1985, p. 101). Semdescartar a possibilidade de que certas histrias e formas literrias circu-lassem entre povos de diferentes lnguas na poca de Hesodo, ou tivessemsido transmitidas Grcia antes da poca deste e conservadas na tradiodos aedos, h que se observar tambm que muitos aspectos da literaturasapiencial que se repetem em obras de pocas e povos diferentes podemter se desenvolvido independentemente, dadas certas tendncias e sugestescriadas pelo prprio tema e pelo recorte da realidade que este impe. Por

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    INTRODUO

    O quanto da personalidade e dos acontecimentos expostos nos

    poemas baseia-se na prpria vida do poeta incerto. A tentativa de

    reconstruir a biograa do autor com base no que ele diz de si mesmo

    nos poemas8esbarra em basicamente duas diculdades: em primeiro

    lugar, o discurso autobiogrco de Hesodo no sucientemente

    claro e livre de contradies; alm disso, no sabemos o que ali no

    fruto de uma elaborao potico-ccional que obedece s exigncias

    criativas do gnero literrio e de cada obra especca. Negar totalmente,

    porm, a veracidade do que os poemas expem sobre a vida de seu

    autor, com base na ideia de que temos ali pura e simplesmente uma

    construo literria, no se oferece como uma postura equilibrada.9Por

    mais que Hesodo tenha optado por apresentar uma gura ccional

    como porta-voz de seus versos, a imagem da existncia humana que

    o leitor encontra ali deve ter se inspirado na observao de uma vida

    real ou de vidas reais. Sua imagem do mundo campons, se fosse

    outro lado, apesar de os Trabalhosserem um obra praticamente nica naliteratura grega, o poema tem uma estreita ligao com gneros fortementeestabelecidos em solo helnico, que se manifestam na mesma poca ou um

    pouco depois, nomeadamente o eposhomrico (tanto aIladae a Odisseiaquanto os hinos) e a elegia moralizante de um Tegnis. E por mais que en-contremos semelhanas entre Hesodo e a literatura de outros povos (quer aliteratura sapiencial, quer a de outros gneros), no h que se perder de vistaa especicidade da criao do poeta grego (note-se que nenhum mito orientalsobre a sucesso de geraes ou reinos exatamente igual ao de Hesodo).

    Ver tambm Detienne, 1963, p. 10-12; Walcot, 1966a; Jimnez e Dez, 1978,p. 30-41; Burkert, 1987; Lesky, 1995 [1971], p. 118-120; Pereira, 1993,p. 159-162; West, 1997, p. 276-333; Rutherford, 2009.

    8 Para a interpretao dosErgacomo um poema de ocasio, que reete umadisputa judicial verdadeira ocorrida entre Hesodo e seu irmo Perses, ver acrtica de Jaeger, 1989 [1933], p. 63. Para Snell, 2001 [1955], p. 66, os versos deHesodo so uma arma numa contenda judiciria. Cf. Walcot, 1966a, p. 106.

    9 Essa viso j se encontra discretamente em Murray, 1947 [1897], p. 77, e levada ao extremo, com referncia aosErga, por Nisbet, 2004.

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    totalmente sem relao com o que se via na Grcia arcaica, no

    teria nenhuma verossimilhana. Que esse fundo emprico da

    percepo de Hesodo se fundamente ao menos em parte na viso

    que ele tinha de sua prpria existncia, no h razo bastante para

    duvidar. Da que a pergunta sobre o estatuto verdico ou no desse

    eu hesidico no propriamente a questo mais interessante.

    Tem maior relevncia a constatao de que o poeta se preocupa

    em apresentar uma individualidade assim denida e a investigao

    de como essa vida imaginada e representada poeticamente.

    Stoddard faz uma reviso da fortuna crtica de Hesodo,

    opondo as leituras biograstas quelas preocupadas com os poe-

    mas enquanto construes literrias, e separa de modo excessiva-

    mente simplista aqueles que encontram um fundo verdico nesse

    elemento biogrco e, segundo a autora, veem Hesodo como um

    pastor rude, cuja poesia sem sosticao traduz essa origem humil-

    de, daqueles que acreditam que a ideia de um Hesodo campons

    apenas uma co potica e tentam interpret-la em funo do

    texto em si.10Mas a presena de uma base autobiogrca pode

    conviver perfeitamente com a escolha de uma forma literria

    que indique ao poeta uma maneira especca de trabalhar com

    suas experincias pessoais. A histria da literatura est repleta de

    exemplos de escritores cuja vida conhecemos e que tematizaram

    sua trajetria existencial sem deixar de observ-la e ltr-la da

    perspectiva de uma criao artstica que tem leis especcas. O fato

    de no conhecermos documentos sobre a vida do autor no nos

    deve obrigar a partir do pressuposto de que ccional absoluta-

    mente tudo o que ele diz sobre seu eu. Pelo contrrio, o nus da

    10 Stoddard, 2004, p. 1-33, esp. 14-15.

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    INTRODUO

    prova recai sobre aqueles que negam a veracidade das armaes

    do poeta. De fato, a anlise de Stoddard se enraza em diversas

    concepes problemticas. Uma delas a categoria de um texto

    em si desvinculado da realidade, como se a nossa capacidade de

    tornar signicativo um texto fosse independente de conhecimentos

    sobre coisas exteriores ao texto (mesmo as interpretaes mais

    radicalmente antibiograstas citadas pela autora se fundamentam

    num entendimento da cultura grega que obtido fora do texto).

    Outro pressuposto questionvel, que Stoddard compartilha com

    parte da crtica biograsta e a impede de vislumbrar uma postura

    mais exvel, aquele que vincula a poesia de algum ligado a

    um ambiente rural e semiletrado a uma imagem de falta de rena-

    mento e tcnica literria, como se um poeta enraizado em tradies

    populares no pudesse ter conscincia de seus meios artsticos e

    produzir um texto sutil e arquitetonicamente elaborado.

    Tido por alguns como mais antigo que a obra de Homero,11

    o corpushesidico congrega, alm de Os trabalhos e os diase da

    Teogonia,12outros textos de autoria mais duvidosa. Eles incluem

    oEscudo de Hracles(quase com certeza esprio) e o Catlogo

    das mulheres(mais provavelmente do prprio Hesodo),13alm

    de diversas outras obras que s chegaram aos dias de hoje por

    meio de fragmentos pouco extensos. Entre esses poemas perdidos

    11Para a controvrsia antiga sobre a antiguidade de Hesodo em relao aHomero, ver os testemunhos coletados por Most, 2006, p. 162-175 (esp.T10-14, para a ideia de que os dois poetas eram contemporneos, e T15-16,

    para a opinio de que Hesodo veio antes).12A autenticidade da prpria Teogoniatambm j foi posta em dvida (ver

    Pausnias 9.31.4).

    13 O Catlogo considerado obra de Hesodo por Arrighetti, 2008, p. 26(contra West, 1985, esp. p. 127-128).

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    encontravam-se, por exemplo, os Grandes trabalhos, obra prova-

    velmente ligada a Os trabalhos e os diaspela temtica.

    Embora Herdoto diga em 2.53.2 que Homero e Hesodo

    viveram aproximadamente 400 anos antes dele prprio, data que

    casa com o terminus post quem estabelecido pela coincidncia en-

    tre os dados astronmicos que se deduzem de Hesodo e a suposta

    posio dos astros em 850 a.C.,14a obra hesidica ter sido mais

    provavelmente composta na segunda metade do sculo VIII antes

    da nossa era, quem sabe mais para o nal desse perodo do que no

    seu incio. Isso combina com o que se supe da histria da intro-

    duo do alfabeto na Grcia.15Alm disso, a partir de meados

    do sculo VIII que assistimos ao incio da colonizao helnica da

    Itlia e da Siclia (processo que condiz com a histria da viagem

    do pai de Hesodo).16Ora, o problema da data nos conduz a uma

    reexo importante para a questo da especicidade de Hesodo

    na histria da economia, e por isso devemos nos deter um pouco

    mais nesse ponto. Alguns autores17chegam a dar como quase certa

    a datao do ltimo tero do sculo VIII, com base em achados

    arqueolgicos que situariam a Guerra Lelantina um pouco antes do

    ano 700 (nessa data, a plancie Lelantina, que vinha sendo habitada

    ininterruptamente desde a Era de Bronze, foi destruda e abando-

    nada). Como Hesodo relata ter vencido um concurso de poesia

    num festival em homenagem a Andamante (Op. 650-659), um

    14 Edwards, 1971, p. 7, n. 34; Jimnez e Dez, 1978, p. 11.

    15 Nagy, 1990, p. 38; Healey, 1996, p. 281-286. A introduo do alfabeto se-ria do sc. IX; as primeiras inscries conservadas, do sc. VIII. SegundoSarian, 1998/1999, p. 164, na segunda metade deste ltimo que se d aapropriao da escrita pela poesia.

    16 Ver Walcot, 1966a, p. 108-109.

    17 Barron e Easterling, 1985, p. 93; Pereira, 1993, p. 155, n. 1.

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    INTRODUO

    heri que teria perecido numa batalha naval durante essa guerra,

    teramos a uma indicao da poca em que o poeta estava ativo.

    Mesmo esses dados, no entanto, so incertos,18e temerrio

    construir um panorama detalhado do momento histrico de Heso-

    do em bases to disputadas. Alm de dados arqueolgicos sempre

    passveis de interpretaes diferentes, no possumos outras fontes

    de informao sobre o perodo que no sejam os prprios poe-

    mas homricos e hesidicos. Assim como em relao biograa

    do autor, o contexto socioeconmico da obra ser sempre uma

    reconstruo hipottica.19 Portanto, a realidade econmica que

    aparece nos Trabalhos, que certamente desejaramos conhecer com

    maior preciso, no pode ser relacionada com segurana a nenhum

    processo poltico ou transformao social claramente documen-

    tados. Mais do que um testemunho de uma poca que possamos

    descrever com solidez, o poema traz reexes de carter geral

    sobre a vida do pequeno agricultor, relaes sociais e comerciais,

    a administrao do trabalho agrcola, a maneira como o trabalho

    se liga ao funcionamento da natureza, entre outros temas ans.

    Esses pensamentos, ainda que sem dvida baseados na realidade

    que Hesodo ter vivido em Ascra em algum momento de sua exis-

    tncia, tm um interesse que transcende os limites desse passado.

    18 Mazon, 1926, p. 78, observa que a identidade do Andamante citado porHesodo no pode ser conhecida com certeza. Para Most, 2006, p. xxv,n. 8, a data, a durao e mesmo a realidade histrica da Guerra Lelantinaso matrias discutveis. Ver Janko, 1982, p. 94-98, que tambm discuteas possveis citaes de Hesodo em Semnides de Amorgos (que poderiarepresentar o terminus ante quem de Hesodo). Janko tende a datar Hesodoentre o nal do sc. VIII e meados do VII. Cf. Walcot, 1966a, p. 118-119;Ercolani, 2010, p. 16.

    19 Essa cautela expressa tambm por Tandy e Neale, 1996, p. 4-5.

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    Qualquer que fosse a situao exata dos campesinos gregos

    naquela poca, chama a ateno o simples fato de que os prota-

    gonistas dos Ergaso homens que precisam do trabalho dirio

    para viver. Eles vivem da terra (secundariamente, da navegao

    comercial) e dependem do esforo dos prprios braos para que

    a terra produza. No podem contar com a ajuda de muitos escra-

    vos ou serviais (Tandy e Neale estimam que, entre familiares,

    escravos e trabalhadores assalariados, a propriedade de Hesodo

    contava com algo entre 7 e 12 pessoas).20Esse retrato contrasta

    profundamente com o que vemos nos poemas homricos. L o

    foco principal da ateno so nobres guerreiros cuja relao com

    a dureza do trabalho agrcola est muito mediada. Certamente as

    comparaes picas trazem por vezes cenas de trabalho no campo,

    mas isso parece ocorrer numa realidade paralela da Guerra de

    Troia e das aventuras de Ulisses. O pai deste, Laertes, aparece no

    nal da Odisseiacurvado sob o peso do trabalho na terra, mas

    isso serve ao propsito de mostrar justamente o heri degradado,

    dando a entender que ele foi reduzido a essa atividade por causa

    da ausncia do lho e dos desmandos dos pretendentes de Pen-

    lope. Assim, Jaeger v em Hesodo a expresso da mundividncia de

    uma classe social diferente daquela cantada em Homero, mas que, tal

    como aquela, tem seu valor para a constituio da cultura grega como

    um todo.21Como coloca Herdoto em 7.102.1, pela voz de Demareto,

    [o]s gregos tm sido criados na escola da pobreza, e a virtude a ela se

    20 Tandy e Neale, 1996, p. 29. Os mesmos autores chegam a deduzir do poemauma estimativa da quantidade de gros necessrios para alimentar todasessas pessoas, e da o tamanho da propriedade de Hesodo (p. 27-31). Aconcluso a que chegam de que ela era de pequena a mdia, medindo de15 a 30 acres, aproximadamente.

    21 Jaeger, 1989 [1933], p. 59-72; ver tambem Schler, 1985, p. 28.

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    INTRODUO

    junta, lha da temperana e das leis estveis, dando-nos armas contra a

    pobreza e a tirania.22No h em Hesodo, contudo, uma glorica-

    o do trabalho como atividade que seria por si s enobrecedora.23

    O trabalho , antes de mais nada, uma necessidade. Os deuses

    colocaram-no no caminho da prosperidade; ele o resultado da

    separao entre deuses e homens narrada no mito de Prometeu e

    Pandora, e por isso se reveste em parte de uma aura de punio.

    Trabalhar no , contudo, vergonhoso. parte da sabedoria de

    Hesodo reconhecer que trabalhar preciso e que s trabalhando

    possvel ter uma boa vida. A possvel alegria do trabalho a da

    percepo de que se est realizando com eccia a atividade de

    que depende a nossa sobrevivncia (ver 476, 481).

    comum encontrar entre os estudiosos a noo de que

    Hesodo um pessimista.24Seus conselhos podem dar a entender

    que convivia com uma impresso de risco iminente, com a amea

    da fome e das dvidas sempre espreita. quase desnecessrio

    lembrar que, no mito das raas, Hesodo coloca a sua poca como

    a pior, representando um imenso declnio em relao aos primeiros

    tempos da humanidade.25 Podemos relacionar essa leitura com

    22 Trad. de J. Brito Broca (Herdoto,Histria. Rio de Janeiro: W. M. Jackson,1953), com adaptaes. Jaeger, 1989 [1933], cita essa mesma passagem (p. 59).

    23 Como parecem sugerir Trd-Boulmer e Sad, 1992, p. 31. Cf. Verdenius,1985, ad 289, 303, 311.

    24 Por exemplo, Aubreton, 1956, p. 47; Clay, 2003, p. 46-48. Cf. Hamilton,1989, e.g. p. 72, 75-76; Nagy, 1990, p. 65-67.

    25 Vemos com certa desconana a ideia de que para Hesodo essas raas nocorrespondem propriamente a uma sucesso cronolgica linear, mas cclica,como coloca Vernant, 1983 [1965], p. 24-25. O trecho em que o poeta dizque gostaria de ter morrido antes ou nascido depois da raa de ferro (Op.175) no indica necessariamente que teremos uma repetio dessas mesmasfases, mas pode ser simplesmente uma expresso (alis, muito eciente do

    ponto de vista retrico) de desespero. certamente possvel atribuir ao poeta

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    alguma hiptese sobre a situao econmica da poca? Segundo

    Tandy e Neale, pode-se deduzir das tabuinhas em linear B que a

    sociedade micnica estava organizada segundo um sistema em

    que as pessoas contribuam com parte de sua produo para um

    poder central, que em troca proporcionava determinados bens

    e servios. Esse esquema provavelmente continuou durante a

    Idade das Trevas (aprox. 1000-800 a.C.), mas numa escala

    menor, pois nessa poca houve um decrscimo populacional

    e menos trocas entre as cidades. Com a criao de novas rotas

    comerciais no sculo VIII, ligando desde o norte da Sria at

    as colnias gregas do Mediterrneo ocidental, apenas os chefes

    comunitrios que centralizavam a produo e distribuio dos

    bens (os reis de Hesodo) teriam tido condies de se beneciar

    do incremento das trocas. Pequenos proprietrios como Hesodo

    teriam pouca infraestrutura para atuar bem nesse cenrio ampliado

    (note-se a desconana com que o poeta trata a navegao, que se

    apresenta praticamente como um ltimo recurso para quem no

    consegue combater a pobreza trabalhando apenas na terra). Ao

    uma concepo da temporalidade que no coincide com uma viso histricaracionalista. Parece-nos mesmo muito convincente a exposio de Torrano,1992,passim(esp. p. 91-92), que mostra, em sua introduo Teogonia, queno pensamento arcaico hesidico a genealogia dos deuses no se d comum esquema de anterioridades e posterioridades temporais, em que cada

    estgio anula e substitui os anteriores e os relega a um passado inalcanvel.Hesodo faz que os seres divinos apaream agindo quase simultaneamente,cada um em sua esfera de poder, ainda que organizados distintamente segundodiferentes fases. Isso no quer dizer, contudo, que o poeta no tivesse a noode anterioridade e posterioridade no plano humano, e que no pudesse ver suapoca como pior que as anteriores. Por mais que os homens da raa de ouro,

    por exemplo, ainda existam como divindades guardis (122-127), o fato que a terra os encobriu (121), e os homens de hoje vivem num contexto que,segundo Hesodo, s tende a piorar. Ver Detienne, 1963, p. 18-19.

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    INTRODUO

    mesmo tempo, a dependncia dos reis em relao aos pequenos

    proprietrios diminui medida que o grande comrcio extrapola

    as trocas locais. Esse contexto levaria fragilizao do trabalho

    e a uma reduo da prosperidade de guras como a que Hesodo

    desenha para si no poema. Da adviria a insegurana que o texto

    sugere, o que parece se expressar no conselho de limitar a prole

    a apenas um lho (376-377). Ao mesmo tempo, Hesodo parece

    continuar levando em conta a possibilidade de trocas no mbito

    local: note-se como as relaes com os vizinhos so enfatizadas

    nos versos 342-351. E a perspectiva de um excedente (380) a ser

    vendido em lugares distantes no est excluda, como deixa claro

    a passagem sobre a navegao.26

    Explicaes desse tipo devem ser lidas com cuidado. Mas

    interessante o exerccio intelectual necessrio para sua elabo-

    rao, que estimula a imaginao do leitor com curiosidade por

    questes de histria econmica. Apesar de todas as diculdades,

    o poeta considera plausvel a aspirao riqueza (21-24, 381),

    chegando mesmo a vislumbrar a chance de comprar mais terra

    (341). O progresso, no entanto, sempre colocado na dependn-

    cia da dedicao ao trabalho (e.g. 495) e do favor dos deuses,

    que precisam ser propiciados (336-340). O ganho fcil, obtido

    por meios desonestos, levar ao desastre (352). De qualquer

    forma, essas e outras partes do poema levam-nos a relativizar a

    imagem de pessimismo associada a Hesodo. sintomtico das

    diculdades oferecidas pela interpretao da realidade econmi-

    ca de Hesodo o fato de que Jimnez e Dez fazem uma leitura

    que pouco tem em comum com a exposta acima. Para eles, a

    26 Ver Tandy e Neale, 1996, p. 15, 22, 35-37.

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    voz que fala nos poemas hesidicos representa uma burgue-

    sia em ascenso, que na verdade se benecia enormemente

    do desenvolvimento mercantil trazido pelas colonizaes e, ao

    adquirir maior riqueza, passa a questionar o poder poltico dos

    aristocratas.27 Essa interpretao parece-nos menos provvel

    que a de Tandy e Neale, mas tem a virtude de enfatizar um

    Hesodo que, longe de ser apenas a vtima de transformaes

    sociais, coloca-se criticamente. Para Detienne, entretanto, o

    poema de Hesodo testemunho de uma crise agrria na qual o

    empobrecimento dos pequenos proprietrios os leva a depender

    mais dos grandes produtores e para estes perder suas terras.28O

    autor adverte para o perigo de projetarmos no poema categorias

    econmicas desenvolvidas depois do advento do capitalismo,

    ou ideias caractersticas da ideologia burguesa, como a que ele

    resume com a expresso enrichissons-nous.29

    Isso nos conduz ao debate sobre a aplicabilidade do termo

    campons quando se fala de Hesodo. A. T. Edwards30critica

    os vrios estudos que assimilam o mundo sugerido pelo poema ao

    modelo antropolgico da sociedade campesina,31que segundo o

    autor essencialmente uma comunidade rural subordinada a um

    27 Jimnez e Dez, 1978, p. 16-30. Uma interpretao semelhante em Pucci,1977, p. 128.

    28 Detienne, 1963, p. 22-27. Cf. Trever, 1924, p. 160-161, 165.

    29 Isto , enriqueamos. Ver Detienne, 1963, p. 49, 52. Walcot, 1966b, p.172, porm, pensa que Detienne erra ao negar a atitude de exortao aoenriquecimento em Hesodo.

    30 Edwards, 2004.

    31 Entre os autores que se associam ideia criticada por Edwards, 2004, estoTrever, 1924; Detienne, 1963; Tandy e Neale, 1996.

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    INTRODUO

    poder externo, normalmente urbano.32Nesse modelo, Ascra seria o

    vilarejo campons, Tspias a cidade que o domina e onde vivem os

    reis. Edwards, porm, sustenta que os conitos mais importantes

    do poema so internos ao vilarejo, e que em Ascra, que conserva

    sua autonomia em relao a Tspias, que se desenha a oposio

    entre o pobre e o prspero, to central no texto. Haveria um risco

    de anacronismo na aproximao entre a sociedade hesidica e o

    que por vezes se entende por campesinato.

    Como observa Vernant, nem mesmo a noo de trabalho

    em Hesodo pode ser confundida com o que hoje entendemos

    com esse termo. A palavra grega ergadesigna acima de tudo os

    trabalhos agrcolas, e no havia nenhum termo na lngua antiga

    que traduzisse a noo abstrata de trabalho presente no mundo

    contemporneo, em que o vocbulo se aplica indiferentemente s

    diversas atividades humanas vistas sob a tica do que produzem

    para a sociedade, do valor que tm enquanto atividades a serem

    pagas e da identidade que podem criar para determinados grupos

    (como a classe trabalhadora).33

    A essa discusso se relaciona a polmica (hoje quem sabe j

    um pouco ultrapassada) sobre a possibilidade de enxergarmos He-

    sodo como um revolucionrio, a que se oporia o entendimento

    de sua postura como eminentemente reacionria.34 certo que sua

    viso negativa da mulherpor exemplo, no mito de Pandora e nos

    conselhos sobre o casamento em 695-705, sua nfase no cuidado

    32 Ver Goldey, 1982, p. 539-546, que trabalha com esta e outras deniesde campons, utilizando dados de diversas culturas.

    33 Vernant, 1983 [1965, de um artigo originalmente publicado em 1955],p. 252-274.

    34 Ver Detienne, 1963, p. 9 (com n. 1); p. 11, n. 8; p. 28 (com n. 2).

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    com o que est em casa, em detrimento do que est fora (364-367),

    assim como seu conselho sobre arranjar um trabalhador sem casa

    e uma empregada sem lhos (602-603), se por um lado contm al-

    guns elementos de uma sabedoria impiedosa, traduzem igualmente

    um esprito conservador e temeroso. Mesmo assim, o campons

    de Hesodo no assume uma postura absolutamente conformista.

    Sem deixar de reconhecer com humildade o lugar do homem na

    difcil ordem das coisas, Hesodo fala contra os reis devoradores

    de presentes, dando vazo portanto a suas insatisfaes com uma

    aristocracia que, concentrando em suas mos o poder dos tribunais,

    fazia dele mau uso. Da vem o tema da justia, que depois far muitas

    outras aparies importantes na literatura grega e constitui uma das

    principais temticas dosErga. O trabalho, sugere Hesodo, s tem

    sua correta compensao se a justia administrada sem distores.

    Tambm para iluminar o tema da justia Hesodo utiliza uma

    narrativa consagrada: o j referido mito das raas. Nele, como em ou-

    tras passagens, o poeta revela sua capacidade de contar histrias de

    forma concisa e poderosa, restringindo-se aos elementos essenciais.

    notvel a diferena em relao ao estilo homrico. Um exemplo

    o emprego do discurso direto. Mais da metade do corpusformado

    pelaIladae pela Odisseia corresponde a falas das personagens.

    Com isso Homero dramatiza ao mximo as situaes, e no sem

    motivo que Aristteles dele se lembra ao exemplicar o estilo da

    poesia em que o poeta mistura a voz do narrador com uma imitao

    anloga do teatro, ao assumir as vozes das personagens.35Hesodo

    muito parcimonioso no uso do discurso direto, e mesmo o discurso

    indireto no est nele presente com muito destaque. Leclerc mostra,

    35Potica 1448a19-24 (cf. 1460a5-11).

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    INTRODUO

    no entanto, que os curtos discursos das personagens hesidicas

    (quase sempre so os deuses que recebem esse privilgio da fala) so

    extremamente densos do ponto de vista dos sentidos trabalhados na

    narrativa, pois normalmente resumem em si ou preguram alguns

    dos mais importantes desenvolvimentos do texto.36

    A presena dos deuses nas narrativas sobre Pandora e sobre a

    sucesso das raas humanas, bem como o papel central das Musas

    e da gura de Zeus nos Trabalhos(e na Teogonia) e as frequen-

    tes menes deusa Demter, entre outros aspectos, mostram a

    importncia da religiosidade no poema. A Justia uma deusa, e,

    tal como ela, so personicadas vrias outras ideias presentes na

    obra (e.g. o Juramento). No h como tomar os conselhos sobre o

    trabalho agrcola expressos no texto e entend-los desvinculados

    dessa viso religiosa, como se Hesodo tivesse uma concepo

    racionalista da vida cotidiana e da natureza e as menes aos

    deuses fossem meros ornamentos poticos. A sacralidade do

    mundo natural pontua constantemente o poema, misturando-se

    s instrues prticas e s recomendaes ticas, como no trecho

    em que a Justia denuncia a Zeus as malvadezas praticadas na

    cidade, ou na passagem em que Hesodo sugere que se ore a Zeus

    e Demter no incio da semeadura (versos 465-467), ou ainda num

    trecho como 483-484, em que, no contexto da discusso sobre o

    adiamento do trabalho de arar a terra, o sucesso dessa atividade

    colocado na dependncia da mente de Zeus porta-gide. O

    trecho dosDias, no nal do poema (765 et sqq.), tal como o ca-

    lendrio agrcola de 383-617, contm indicaes sobre tempos

    propcios ou no para certas atividades, mas dessa vez o poeta foca

    36 Leclerc, 1993, p. 81-107. Uma anlise do estilo hesidico encontra-se emWaltz, 1906, p. 139-207.

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    sua ateno nos dias do ms. Considerado por alguns como um

    repertrio de supersties que contrastaria com a visada racional

    do resto da obra, o trecho mesmo excludo da obra por certos

    estudiosos (notadamente, Wilamowitz), como se no fosse do

    prprio Hesodo.37Mas a diferena entre os conceitos de religio

    e superstio depender muito da religio em que fomos criados,

    e o pensamento mgico dosDiaspoderia estar muito vontade no

    contexto da religiosidade da poca. No h que se exigir do poeta

    o mesmo tipo de racionalidade construdo pela cincia moderna.

    Essas crenas de Hesdo no impedem, entretanto, que ele tenha

    tambm a capacidade, por exemplo, de observar a natureza com

    uma visada objetiva (como ao perceber a passagem do tempo pelo

    comportamento dos animais) e reconhecer a importncia de usar

    certos equipamentos feitos pelo homem segundo certas tcnicas

    (como o caso do arado, cuja feitura descrita detalhadamente

    em 427-437, ou das roupas para o inverno, em 536-546). Religio-

    sidade e razo no se excluem mutuamente.38

    De fato, os importantes temas do trabalho e da justia39

    ligam-se tambm por meio da viso religiosa do poema. Hesodo

    diz que frequentemente uma cidade inteira sofre por causa dos

    crimes de um s homem, qualquer que seja (240-241): em resposta

    s maldades deste, Zeus manda fome e peste, e o povo perece

    37Wilamowitz nem sequer imprime 765 et sqq. em sua edio (ver a explicaoem Wilamowitz, 1928, p. 8; cf. Frnkel, 1975 [1962], p. 129).

    38 Ver Rowe, 1983, p. 126. Para um Hesodo que a um s tempo pensadore poeta tradicional, ver Havelock, 1996 [1982], p. 219-232. Para Hesodocomo precursor do pensamento losco, ver, por exemplo, Snell, 2001[1955], p. 46-52. Cf. Detienne, 1981 [1967], p. 18-19, n. 9.

    39 O foco nesses dois temas uma constante na crtica (ver e.g. Nicolai, 1964,p. 161-162).

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    34

    INTRODUO

    (243). Mas esse homem que Hesodo tem em mente, cujos atos

    afetam a comunidade inteira, parece estar muito mais prximo

    daqueles que ele chama reis. Imediatamente aps as imagens dos

    desastres que acometem a cidade que habita o homem mau, o poeta

    se dirige aos reis, mencionando mais de uma vez na passagem seus

    desmandos no exerccio do papel de juzes. Os homens que do

    sentenas retas, ao contrrio, so beneciados por Zeus e repartem

    em festins o fruto do seu trabalho (231). Sua cidade prospera (227).

    Se o poder divino perpassa toda a realidade e guardio da justia,

    isso no implica que em Hesodo o ser humano seja passivo. Ao

    homem hesidico cabem escolhas morais e delas resulta o tipo

    de relao que ter com os outros homens e com o divino. Assim

    como sociedade, ele tambm observa o mundo natural, repleto de

    deuses, e nesse panorama sabe reconhecer os sinais que orientam

    seu trabalho. Em tal contexto, o planejamento e a organizao so

    essenciais (471-472, 502-503).

    Hesodo tradicionalmente ligado ao que costumamos

    chamar poesia didtica. Embora no houvesse, no universo do

    epos grego arcaico, uma distino clara entre poesia heroica e

    poesia didtica,40a recepo de Hesodo se encarregou de op-lo

    a Homero como representante de um tipo diferente de arte.41A

    40 Ercolani, 2010, p. 26.

    41 Contriburam para isso diversos momentos dessa recepo. o caso doCertame entre Homero e Hesodo (como observado por Hunter, 2009, esp.

    p. 262-268). Note-se tambm o poeta helenstico Arato, que mostra ter He-sodo em mente na sua obra Fenmenos (a vinculao entre os dois autores reconhecida por CalmacoEp. 27.1), alm, claro, de Virglio, que nasGergicas2.176 chama seu poema um Ascraeum [] carmen. Parte dacrtica moderna (ver e.g. Paley, 1883, ad 28, p. 175; Van Groningen, 1958,

    p. 257-258; Pucci, 1977, p. 1, 4; Verdenius, 1977, p. 234-235; Bowie, 1993,p. 20-23; Brando, 2000, p. 8, 19; cf. West, 1966, ad 26-28, p. 161-162), ao

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    35

    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    Antiguidade acabou por encontrar at mesmo uma terminologia

    para expressar esse gnero literrio especco em que se situariam

    Os trabalhos e os dias: Proclo (ap. Scholia ueterap. 230 Pertusi),

    citando Plutarco, diz que este rejeitou as linhas 757-759 dos

    Ergacomo vis e indignas da Musa da educao (

    ), enquanto o gramtico latino Diomedes, num trecho

    preocupado com classificao literria, refere-se species

    didascalice (GrammaticiLatini1, 483 Keil).

    Dada essa conexo com a poesia didtica, alguns crticos

    se perguntaram se Ostrabalhos e os diasde fato ensinam alguma

    coisa, j que vrios conselhos sobre o cultivo da terra parecem

    demasiado vagos ou incompletos, ou, ao contrrio, bvios demais,

    para que o texto funcionasse como real instruo para os agriculto-

    res daquela poca (ou de qualquer poca).42Os ns do poema no

    seriam outros? Apesar de esse questionamento no deixar de ter

    seu interesse, preciso considerar que se Hesodo descrevesse com

    todos os detalhes tcnicos cada fase do trabalho no campo, seria

    muito mais difcil sustentar uniformemente a qualidade potica do

    texto. Que ele capaz de dar instrues pormenorizadas, os trechos

    sobre o corte da madeira (420-429) e a rao do trabalhador (442)

    provam-no sem margem de dvida. Mas Hesodo procura alternar

    interpretar os versos 27-28 da Teogoniacomo uma crtica do prprio Hes-

    odo poesia homrica e uma tentativa de diferenciar-se dela, associa a obrahesidica ao propsito de transmitir verdades (supostamente em oposios ces, mentiras ou concepes incorretas de Homero). A crtica queenfatiza a ligao entre osErgae a poesia sapiencial de outros povos (veracima) colabora, igualmente, para reforar essa recepo.

    42 Ver e.g. Heath, 1984; Thalmann, 1984, p. 58; Hamilton, 1989, p. 84; Nelson,1996. Luciano, noDilogo com Hesodo (esp. na seo 7), j sugere que questionvel a utilidade da obra para os agricultores, que j conheceriammuito bem o que o poema se prope a ensinar.

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    36

    INTRODUO

    passagens assim com indicaes mais gerais e com os aspectos

    ticos, psicolgicos e sociais do trabalho. prazeroso ler uma

    descrio minuciosa em verso, mas ela se torna mais interessante

    se introduzida no momento certo, cuidadosamente pensada como

    o contraponto de uma reexo moral, de um olhar para os espaos

    em que se realiza o trabalho e a distribuio deste no tempo, ou

    uma sugesto sobre os sentimentos dos atores (humanos, divinos

    e animais) que habitam o universo do trabalho. Mais do que uma

    instruo tcnica, Ostrabalhos so uma potica e uma losoa do

    trabalho. Se assim entendida, a obra conserva seu estatuto didtico

    sem perder seu carter esttico.

    Enm, Ostrabalhos e os dias, pelas razes expostas aci-

    ma e ainda outras (que as limitaes de espao desta edio nos

    impedem de discutir), nos ensinam muito sobre o tempo em que

    foram escritos, mas mantm uma enorme atualidade.

    III O TEXTODOSERGA

    Um dos maiores responsveis pelos desenvolvimentos da

    crtica textual hesidica no sculo XX foi Rzach, que estabele-

    ceu a teoria de que os manuscritos medievais do poeta podem

    ser divididos em trs famlias, s quais ele se refere com as trs

    maisculas gregas , e ,43que encontramos em praticamente

    todas as edies posteriores. Em cada uma dessas famlias Rzach

    encontra um manuscrito mais antigo e de maior importncia, que

    representa de maneira mais el as caractersticas bsicas de sua

    43Ver Rzach, 1913, p. iii-iv;RE 8.1230.56-1231.32 s.v.Hesiodos.

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    famlia. So os manuscritos C (sigla para o manuscrito grego de

    Paris nmero 2771, do nal do sculo X) na famlia ; D (ma-

    nuscrito da biblioteca Laurenziana nmero 31.39, do sculo XII)

    na famlia ; e nalmente E (datado do nal do sculo XII ou do

    incio do XIII, o manuscrito 11 dofondoantico da Universidade

    de Messina) na famlia , que representaria, segundo Rzach, a

    recenso de um gramtico bizantino annimo. Essas trs famlias

    remontariam a um arqutipo da poca de Fcio, isto , do sculo

    IX,44perodo em que se inicia a passagem da escrita maiscula

    grega para a minscula. possvel que, para cada autor, apenas

    uns poucos manuscritos em maisculas (em alguns casos, qui

    apenas um) tenham servido como exemplares para as primeiras

    cpias em minsculas, os demais manuscritos antigos ou tardo-

    -antigos tendo sido descartados. Isso fez que a tradio passasse

    por uma espcie de funil nessa poca (os ltimos manuscritos

    em maisculas datam em geral do nal do sculo X): o que

    deve ter acontecido tambm com Hesodo e justica a teoria do

    arqutipo do sculo IX. Solmsen, entretanto, expressa (com razo)

    suas dvidas em relao tese de que nas mos dos bizantinos dos

    sculos IX-X teria havido apenas um cdice j com lies diversas,

    pois s vezes encontramos um consenso entre os papiros e parte

    dos cdices na transmisso de um determinado erro, o que pode

    sugerir que os manuscritos medievais que o contm obtiveram-

    -no de uma tradio mais ou menos homognea que remonta

    Antiguidade e independente do arqutipo de , e .45

    A partir das primeiras cpias em minsculas, a que se ligam

    mais diretamente C, D e E, foram produzidos os outros manuscritos

    44 Colonna, 1959, p. 13; Edwards, 1971, p. 11.

    45 Solmsen, 1990, p. xiii-xiv. Ver tambm West, 1974, p. 182.

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    38

    INTRODUO

    pertencentes s famlias citadas acima. Eles so referidos por

    West com as minsculas gregas , e seguidas de nmeros que

    identicam cada um dos cdices especcos, como, por exemplo, 2

    (manuscrito grego do Vaticano nmero 904, de cerca de 1250-1275),

    4(= S em Solmsen; oLaurentianus 32.16, do ano de 1280) e

    3(VaticanusGraecus2383, H em Solmsen, de 1287).

    Por a j se v que os mais antigos documentos que preser-

    vam osErgana ntegra, como costuma acontecer com a literatura

    antiga em geral, foram escritos muito tempo depois da obra: no

    nosso caso, os manuscritos mais completos so mais de um mi-

    lnio e meio mais recentes do que o poema. Mesmo o arqutipo,

    ou seja, o manuscrito reconstrudo hipoteticamente que teria sido

    a fonte direta ou indireta de todas as cpias posteriores, estaria

    mais prximo de ns do que de Hesodo.

    Quando recorremos aos fragmentos em papiros, restos de

    livros que chegaram at ns diretamente da Antiguidade, o mais

    antigo do sculo II antes da nossa era, o que quer dizer algo em

    torno de 500 anos depois do poeta. Mas os papiros constituem uma

    fonte independente com a qual podemos checar a validade dos ma-

    nuscritos medievais: muito mais antigos, eles correspondem a um

    outro estgio da transmisso, um momento em que provavelmente

    ainda no tinham se rmado as tendncias que se conguram nas

    famlias de cdices medievais. De fato, s vezes os papiros conser-

    vam lies nicas, que continuam a vir luz conforme novos papiros

    so descobertos, identicados e editados. No caso que nos ocupa,

    h alguns papiros que foram incorporados ao nosso repertrio h

    pouco tempo, depois dos trabalhos de West e Solmsen. So eles: os

    Papiros de Oxirrinco 4648 (sc. III, texto astronmico que cita Op.

    383-384, 567), 4651 (sc. III, um texto em prosa citando Op. 219-

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    223), 4659 (sc. II, contendo Op. 8, 17-27), 4660 (sc. I a.C. ou

    I d.C., preservando Op. 57-63(?), 91-106), 4661 (sc. III, contendo

    Op. 563-567), 4662 (nal do sc. II, atestado para Op. 771(?)-776) e

    4663 (sc. II, trazendo o ttulo do poema); o Papiro da Coleo Schyen

    1.7, nmero de inventrio MS 5068, do sc. II ou I a.C. (conservaOp.

    360-366, 378-384); o Papiro de Antinopolis 3.118 (sc. III, com Op.

    484-492, 524-532) e um papiro da Bodleian Library, o MS Gr. Class. c.

    237 (P) frr. B + C (datado do nal do sc. VI, incio do VII, contm Op.

    765-767, 769/70(?)-774, 803-806, 808-812). Esses novos testemunhos

    reforam algumas variantes j identicadas, por exemplo, nos cdices

    medievais, alm de trazerem lies antes desconhecidas.

    No se pode desprezar, contudo, um outro campo de investi-

    gao textual, aquele representado pela chamada tradio indireta:

    podemos utilizar as citaes de Hesodo em outros autores gregos e

    latinos. Essas citaes, como esto inseridas numa tradio manuscrita

    diferente, podem vir a conservar uma lio que, na tradio especcade Hesodo, deixou de ser copiada. No interior dessa tradio indireta,

    podemos identicar um ramo mais especco representado pelos

    comentadores antigos (por exemplo, Plutarco e Proclo, o pensador

    neoplatnico do sculo V da nossa era) e bizantinos (como Tzetzes e

    Moscopulo), que preservamos com diferentes graus de delidade nos

    esclios (as anotaes marginais dos manuscritos da Idade Mdia).

    Trata-se a no de autores que citam Hesodo ocasionalmente, mas delsofos ou crticos que se debruaram sobre a obra e tentaram esmiu-

    ar tambm questes de estabelecimento de texto. Os esclios, seja

    nos lemmata(os trechos do poema escritos margem para introduzir a

    nota), seja nos comentrios propriamente ditos, preservam e dissertam

    sobre leituras divergentes que so frequentemente valiosas. Um outro

    conjunto de testemunhos a ser considerado parte, segundo West, o

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    40

    INTRODUO

    das citaes de Hesodo presentes nos manuscritos dosEtymologica

    bizantinos, que preservam, entre outras coisas, excertos dosErga.No

    menos que 150 versos citados nosEtymologicaremontariam a um

    manuscrito de Hesodo do sculo X ou mesmo anterior, independente

    do arqutipo que teria dado origem a C, D e E.46

    Para West, E e H ainda tm a primazia entre os manuscritos

    como representantes de duas tendncias divergentes que ele

    identica nesse grupo (a e b). Na famlia que Rzach chamou ,

    West separa D dos demais como o nico desse grupo que remonta

    linearmente ao mesmo exemplar de que provm , famlia em que

    C sem dvida o mais convel, no s por ser o mais antigo mas

    tambm por possuir sinais de ter sido copiado cuidadosamente,

    num contexto de estudo mais aprofundado: o manuscrito distingue

    entre os esclios antigos annimos () e os comentrios de Proclo

    (que aparecem misturados em quase todos os outros casos), utiliza

    uma ortograa mais criteriosa e traz uma srie de sinais crticos

    nas margens. As famlias e ,mais o manuscrito D, viriam da

    mesma linhagem, qual se liga tambm o texto que teria sido

    usado por Proclo. A teria havido um arqutipo, que West chama

    . Os outros manuscritos da famlia , junto com as lies dos

    Etymologica, sugerem uma outra tradio.47

    Como possvel perceber, construir uma genealogia dessas

    diferentes fontes no simples (ver a complicada tentativa de stem-

    ma codicum na p. 85 da edio de West), principalmente porque as

    diferentes famlias no oferecem um retrato puro e inalterado de

    suas caractersticas, devido ao fato de muitos manuscritos terem

    sido copiados no de um s exemplar, repetindo automaticamente

    46West, 1974, p. 162-163; 1978, p. 79.

    47West, 1974, p. 164-165, 170, 178, 181-182.

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    todas as suas lies, mas terem levado em conta outros testemu-

    nhos de que o copista dispunha no momento de seu trabalho. Isso

    levava o escriba a colacionar verses distintas e a frequentemente

    incorporar sua cpia leituras provenientes de manuscritos ligados

    a famlias diferentes daquela a que pertencia o seu exemplar de

    referncia. Essa mistura entre linhas diferentes da transmisso

    o que os llogos chamam contaminatio.48

    Esse universo de dadosquer pela enorme quantidade de

    informaes textuais que abarca, quer pelo tempo e espao que

    separam o autor das diversas cpias que se produziram de seu tra-

    balho, e essas mesmas cpias entre si justamente o que impe

    que tomemos uma postura crtica. Uma edio no deve, contudo,

    necessariamente visar reconstruo do texto original do autor,

    haja vista que a prpria existncia desse original pode ser ques-

    tionada: nada nos garante que um texto antigo no contivesse uma

    certa instabilidade j na poca de sua composio. De fato, muitas

    variantes textuais podem remontar a diferentes verses produzidas

    pelo mesmo autor ou mesmo a erros que ele tenha cometido. No

    caso de um poema como osErga, que est ligado a uma tradio

    oral, possvel que muitas variantes tenham origem em verses

    diferentes recitadas em ocasies diferentes, por Hesodo ou outros

    aedos e rapsodos. Se essa possibilidade pe em xeque a noo de

    uma autoria nica e, em consequncia, as tentativas de separar

    trechos autnticos de passagens esprias, temos a, por outro lado,

    uma razo a mais para registrar as variantes, j que aquelas que

    por acaso remontarem ao perodo de transmisso oral tero todas

    igual direito de pertencer a um texto que era visto como sempre

    48Ver e.g. West, 1974, p. 166.

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    INTRODUO

    aberto a reelaboraes e de autoria, por assim dizer, coletiva.49O

    que uma edio crtica objetiva mostrar a existncia das variantes

    e atest-las em documentos, dentro do possvel, historicamente

    localizados. Essas variantes sero, na pior das hipteses, erros; na

    melhor, vestgios de diferentes momentos do processo de criao

    da obra ou indcios das diferentes interpretaes pelas quais o texto

    passou. O ideal a que aspira uma edio desse tipo fornecer a

    base para quaisquer interpretaes do texto que levem em conta

    essas variantes e seu signicado. Como dissemos anteriormente,

    nossa edio no pretende ser completa. Para uma viso mais

    profunda das variantes existentes e dos testemunhos em que es-

    to atestadas, indispensvel a consulta s edies crticas que

    arrolamos na bibliograa.

    IV SIGLASDOSTESTEMUNHOSCITADOSNOAPARATOCRTICO

    EOUTRASCONVENESUTILIZADAS

    Para no sobrecarregar o aparato crtico e reduzi-lo ao

    mnimo essencial, resolvemos, no que concerne aos manuscritos

    medievais, atestar as variantes que decidimos relatar apenas com

    os principais representantes da tradio tal como escolhidos por

    Solmsen, isto , C para a famlia , D para a famlia e E e H para

    a famlia . Os outros cdices so citados apenas eventualmente,quando conservam alguma lio particular de relevncia. Isso no

    contradiz os resultados da investigao de West.

    49 Para aprofundar essa discusso sobre tradio oral e estabelecimento dotexto, ver e.g. Van Groningen, 1958, p. 269-270, 275, 279; Kirk, 1962, passim,esp. p. 68; Edwards, 1971, p. 197-199; Nagy, 1990, p. 38-42, 78-80; Pellizer,1996, p. 236-238.

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    Os cdices so citados com as siglas de Solmsen, reser-

    vando-se as de West queles que aparecem apenas na edio do

    llogo ingls (em alguns casos rarssimos, quando nenhuma

    dessas edies deniu uma sigla especca para um manuscrito

    pouco citado, ele referido com o nome que aparece no catlogo

    da biblioteca em que est conservado).

    Quando envolvidos nos trechos das variantes relatadas, os

    papiros so sempre citados, utilizando as mesmas siglas que em

    West e Solmsen (8,

    38, etc.), exceto para aqueles que apareceram

    depois dessas edies, que so citados com siglas que ns lhes

    atribumos, seguindo os princpios das edies anteriores (e.g. 53

    ).

    Fomos bastante econmicos na citao das fontes indiretas

    e dos llogos modernos, frequentemente contentando-nos com

    a referncia a apenas um, seguida s vezes de al. (e outros).

    So especialmente signicativas as lies de Proclo, dos esclios

    antigos e dosEtymologica

    .

    Embora fosse possvel, nesta seo, dar ao iniciante orienta-

    es mais extensas sobre como interpretar o latim do aparato, isso

    tomaria muito espao. Damos apenas algumas breves indicaes

    e sugerimos a leitura de West, M. L. Crtica textual e tcnica edi-

    torial aplicvel a textos gregos e latinos. Trad. A. M. R. Rebelo.

    Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 2002.

    SIGLA

    C Parisinus Gr. 2771 (nal do sc. X)

    2 Vaticanus Gr. 904 (aprox. 1250-1275)

    D Laurentianus 31.39 (sc. XII)

    S Laurentianus 32.16 (1280) = 4 na edio de West

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    44

    INTRODUO

    3

    Vaticanus Barb. Gr. 4 (segunda metade do sc. XIII)

    6 Ambrosianus C 222 inf. (sc. XIII-XIV)

    7Vaticanus Gr. 915 (anterior a 1311)

    9 Athous Iviron 209 (aprox. 1300)

    10

    Parisinus Gr. 2707 (1301)

    12

    Laurentianus 32.2 (aprox. 1310)

    13 Vaticanus Gr. 57 (primeira metade do sc. XIV)

    15

    Laurentianus conv. soppr. 158 (sc. XIV)

    E Messanae bibl. Univ. F.A. 11 (nal do sc. XII)H Vaticanus Gr. 2383 (1287) = 3na edio de West

    N Ambrosianus J 15 sup. (sc. XIV)

    4 Cantabrigiensis Coll. Trin. O. 9.27 (nal do sc. XIII)

    5 Yale 254 (Phillipps 3875) (1301)

    9 Vaticanus Gr. 44 (meados dos sc. XIV)

    11

    Vaticanus Gr. 1332 (sc. XIV)

    o consenso entre C, D, E e H (exceto quando falta algumdeles no passo em questo)

    t conjunto dos autores antigos que citam Hes. no passoem questo

    esclios antigos

    e manuscrito hipottico de que proviriam as citaesdosEtymologica

    5 P. Vindob. G 19815 (sc. IV)

    8 P. Genav. 94 (incio do sc. V)

    9 P. Berol. 7784 (sc. V-VI)

    10 P. Oxy. 1090 (nal do sc. I)

    11 P. Oxy. 2091 (sc. III)

    19 P. Michigan 6828 (sc. I)

    33 P. Michigan 5138 (sc. I-II)

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    45

    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    38 P. Berol. 21107 (sc. I-II)

    39 P. Oxy. 3220 (sc. II)

    40 P. Strasb. 2684 (incio do sc. II)

    41 P. Oxy. 3221 (sc. II-III)

    43 P. Oxy. 3223 (incio do sc. II)

    45 P. Oxy. 3225 (meados do sc. II)

    48 P. Oxy. 3228 (sc. I-II)

    49 P. Oxy. 3229 (sc. II)

    52 P. Oxy. 3231 (sc. II-III)53

    P. Oxy. 4659 (sc. II)

    54

    P. Oxy. 4660 (sc. I a.C.-I d.C.)

    55

    P. Oxy. 4651 (sc. III)

    56

    P. Schyen 1.7 (sc. II-I a.C.)

    57

    P. Oxy. 4648 (sc. III)

    58

    P. Ant. 3.118 (sc. III)

    59 P. Oxy. 4661 (sc. III)60

    Bodl. MS Gr. Class. c. 237 (P) frr. B + C(nal do sc. VI-incio do VII)

    61

    P. Oxy. 4662 (nal do sc. II)

    OBSERVEM-SETAMBMOSSEGUINTESSINAISCRTICOS:

    { } indicam texto que se considera suspeito< > indicam texto no atestado em manuscritos, mas

    acrescentado pelo editor[ ] indicam texto perdido no manuscrito; reconstruo

    hipottica todo texto que estiver entre colchetes ouna direo do qual se abrir um colchete

    indicam letras perdidas num papiro mas conservadasnum outro manuscrito que contm a mesmapassagem

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    46

    INTRODUO

    indica trecho que se considera corrompido e que

    no foi possvel corrigir por conjectura|| separa passagens diferentes no mesmo versodiscutidas no aparato

    : separa lies diferentes para uma mesma passagem o ponto subscrito indica qua a letra de leitura incertaStobaeus

    SMletras subscritas apostas a uma fonte indicam quea lio encontra-se apenas nos manuscritos dessafonte designados com essas siglas

    NOTE-SEOUSODESINAISELEVADOSAPOSTOSSSIGLAS:

    C1, C2, etc. indicam primeira mo, segunda mo, etc.,quando um manuscrito contm lies produzidaspor diferentes copistas

    ac antes da correo

    pc depois da correo indica que a variante descrita como tal na fonteem questo por meio da expresso (pl.), est escrito (sc. numa outra fonteconsultada)

    lio encontrada nos lemmata dos escliosmg na margemras correo escrita sobre algo apagado

    rec indica uma mo mais recente do que a primeirasl variante ou correo escrita sobre a linhauv ao que parecevl indica que a fonte citada traz a lio em questo

    como uma variante, isto , junto com outra(s)leitura(s)

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    ALGUMASOUTRASEXPRESSESLATINASDOAPARATO:

    ath. atetizou / atetizaram (refere-se prtica demarcar passagens suspeitas)

    ci. conjecturoucorr. corrigiudeest / desunt falta / faltamdel. apagou / apagaram (expresso usada para

    rejeio de passagens por parte de editores)

    hab. possui / possuemom. omite / omitemsuppl. completou

    A sintaxe bsica normalmente utilizada num aparato crtico

    bastante simples. Um padro tpico o seguinte: primeiro vm

    o nmero do verso em questo e a variante, seguida da(s) fonte(s)

    em que est atestada, frequentemente sem espao entre as siglas(e.g. EH, Tzetzes, etc.), ou de um verbo (muitas vezes abreviado)

    que tem como objeto essa variante (e.g. del.) e do sujeito desse

    verbo (e.g. Rzach). Os dois pontos (:) podem vir em seguida para

    introduzir outra variante. Quando logo aps o nmero do verso no

    est citada nenhuma palavra grega, as informaes que se seguem

    dizem respeito ao verso como um todo. Naturalmente h variaes

    em relao a esse padro, mas a prtica faz que em pouco tempoa linguagem elptica do aparato se torne transparente.

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    INTRODUO

    V BIBLIOGRAFIA

    Longe de ser exaustiva, esta lista contm apenas os livros,

    captulo de livros e artigos que mais utilizamos e trazem as

    informaes bsicas que nos ajudaram a compor este trabalho.

    Demos certa nfase a ttulos disponveis em portugus. Outras

    referncias podem ser facilmente obtidas nas obras que citamos

    aqui, em particular nas mais recentes.

    V.1 Edies crticas

    Colonna, A.Hesiodi Opera et dies.Milano; Varese: Istituto Editoriale Cisalpino, 1959.

    Mazon, P.Hsiode: Thogonie Les Travaux et les jours Le Bouclier. Paris:Les Belles Lettres, 1928 (aparato crtico muito reduzido; hoje bastantedesatualizada; com traduo).

    Rzach, A.Hesiodus, Carmina. 3. ed.Leipzig: Teubner, 1913 (a ltima fase dotrabalho do autor).

    Sinclair, T. A.Hesiod, Works and Days.London: Macmillan, 1932 (com comentrio).

    Solmsen, F.; Merkelbach, R.; West, M. L.Hesiodi Theogonia, Opera et dies,Scutum, Fragmenta selecta. 3. ed. Oxford: Oxford University Press, 1990.

    von Wilamowitz-Moellendorff, U.Hesiodos, Erga. Berlin: Weidmann, 1928(com comentrio).

    West, M. L. Hesiod, Theogony. Oxford: Oxford University Press, 1966

    (com comentrio).West, M. L.Hesiod, Works & Days. Oxford: Oxford University Press, 1978

    (com comentrio).

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    V.2 Comentrios e edies de esclios

    Cassanmagnano, C.Esiodo, Tutte le opere e i frammenti con la prima traduzionedegli scolii. Milano: Bompiani, 2009.

    Ercolani, A. Esiodo, Opere e giorni: introduzione, traduzione e commento.Roma: Carocci, 2010.

    Gaisford, T.Poetae minores Graeci,vol. 2 (Scholia ad Hesiodum).Leipzig:Kuehn, 1823.

    Mazon, P.Hsiode, Les Travaux et les jours. Paris: Hachette, 1914.

    Paley, F. A. The Epics of Hesiod. 2. ed. rev. London: Whitaker and Co.; GeorgeBell and Sons, 1883.

    Pertusi, A. Scholia uetera in Hesiodi Opera et dies.Milano: Vita e Pensiero, 1955.

    Tandy, D. W.; Neale, W. C.Hesiod's Works and Days. A Translation and Com-mentary for the Social Sciences.Berkeley; Los Angeles; London:Universityof California Press, 1996.

    Verdenius, W. J.A Commentary on Hesiod, Works and Days, vv. 1-382.Leiden:E. J. Brill, 1985.

    West, 1966: vide supra V.1.

    West, 1978: vide supra V.1.

    Wilamowitz, 1928: vide supra V.1.

    V.3 Tradues

    Amzalak, M. B. Hesodo e o seu poema Os trabalhos e os dias. Lisboa:Academia das Cincias de Lisboa, 1947 (contm introduo que abordaquestes de economia).

    Cerqueira, A. L. S.; Lyra, M. T. A. Teogonia, Hesodo. Niteri: EditoraUniversitria UFF, 1986.

    Evelyn-White, H. G. Hesiod, The Homeric Hymns and Homerica, with anEnglish translation. Cambridge, Mass.: Harvard University Press; London:Heinemann, 1914.

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    50

    INTRODUO

    Eyth, E. Hesiods Werke. In: Langenscheidtsche Bibliothek smtlichergriechischen und rmischen Klassiker. Berlin; Stuttgart: Langen-

    scheidtsche Verlagsbuchhandlung, 1855-1906, 2. Band (sop. Hesiod.Quintus),p. i-96.

    Jimnez, A. P.; Dez, A. M. Hesodo, Obras y fragmentos. Madrid: Gredos,1978 (com boas notas).

    Lafer, M. de C. N.Hesodo, Os trabalhos e os dias (primeira parte). So Paulo:Iluminuras, 1991.

    Mantovaneli, L. O. Os trabalhos e os dias, Hesodo. So Paulo: Odysseus, 2011.

    Most, G. W. Hesiod: The Shield, Catalogue of Women, Other Fragments.Cambridge, Mass.; London: Harvard University Press, 2007.

    Most, G. W. Hesiod:Theogony, Works and Days, Testimonia. Cambridge,Mass.; London: Harvard University Press, 2006 (traduo precisa comalgumas notas crticas).

    Pereira, J. F.As obras e os dias: apreciao destepoema de Hesiodo, comolivro de agricultura, com a trad. dos versos que se referem a esta sciencia.Lisboa: Typ. do jornal O Paiz, 1876.

    Pinheiro, A. E.; Ferreira, J. R.Hesodo,Teogonia; Trabalhos e dias. Lisboa:Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005 (com apndices e notas teis e

    prefcio de M. H. da R. Pereira, p. 7-17).

    Regino, S. M. de. Teogonia; Trabalhos e dias / Hesodo. So Paulo: MartinClaret, 2010 (no recomendvel).

    , . , , , ,. : , 1993.

    Torrano, J. Hesodo, Teogonia: a origem dos Deuses. 2. ed. So Paulo:

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    Wender, D. Hesiod, Theogony and Works and Days; Theognis, Elegies.Middlesex: Penguin, 1973.

    West, M. L.Hesiod, Theogony and Works and Days.Oxford: Oxford UniversityPress, 1988.

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    V.4 Estudos (livros, artigos, captulos de livros)

    Arrighetti, G. Il Catalogo esiodeo: un genere letterario? In: Bastianini,G.; Casanova, A. (ed.). Esiodo, centanni di papiri: Atti del convegnointernazionale di studi (Firenze, 7-8 giugno 2007). Firenze: IstitutoPapirologico G. Vitelli, 2008,p. 11-27.

    Aubreton, R.Introduo a Hesodo. So Paulo: [s.n.], 1956.

    Barron, J. P.; Easterling, P. E. Hesiod. In: Easterling, P. E.; Knox, B. (ed.). TheCambridge History of Classical Literature I: Greek Literature. Cambridge:Cambridge University Press, 1985, p. 92-105.

    Beall, E. F. Notes on Hesiods Works and Days, 383-828.American Journal ofPhilology 122 (2001), p. 155-171.

    Bowie, E. L. Lies, Fiction and Slander in Early Greek Poetry. In: Gill, C.; Wise-man, T. P. (ed.).Lies and Fiction in the Ancient World. Austin: University ofTexas Press, 1993, p. 1-37.

    Brando, J. L. As musas ensinam a mentir (Hesodo, Teogonia, 27-28).gora.Estudos Clssicos em Debate 2 (2000), p. 7-20.

    Burkert, W. Oriental and Greek Mythology: The Meeting of Parallels. In: Brem-mer, J. (ed.).Interpretations of Greek Mythology. London; Sidney: CroomHelm, 1987, p. 10-40.

    Clay, J. S.Hesiods Cosmos. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

    de Jong, I. Homer and Narratology. In: Morris, I.; Powell, B. (ed.).A NewCompanion to Homer. Leiden; New York; Kln: Brill, 1997, p. 305-325.

    de Jong, I.Narrators and Focalizers: The Presentation of the Story in the Iliad.2. ed. London: Duckworth, 2004 [primeira edio 1987].

    de Romilly, J. Gorgias et le pouvoir de la posie. The Journal of Hellenic Studies93 (1973), p. 155-162.

    Detienne, M. Crise agraire et attitude religieuse chez Hsiode. Bruxelles-Berchem: Collection Latomus LXVIII, 1963.

    Detienne, M.Los maestros de verdad en la Grecia arcaica. Trad. J. J. Herrera.Madrid: Taurus, 1981 [1967].

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    52

    INTRODUO

    Edwards, A. T.Hesiods Ascra. Berkeley; Los Angeles; London: University ofCalifornia Press, 2004.

    Edwards, G. P. The Language of Hesiod in its Traditional Context. Oxford:Basil Blackwell, 1971.

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    Goldey, P. Emigrantes e camponeses: uma anlise da literatura sociolgica.Anlise Social 18 (1982), p. 533-553.

    Hamilton, R. The Architecture of Hesiodic Poetry. Baltimore; London: The

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    Hunter, R. Hesiods Style: Towards an Ancient Analysis. In: Montanari, F.;Rengakos, A.; Tsagalis, C. (ed.). Brills Companion to Hesiod. Leiden;Boston: Brill, 2009, p. 253-269.

    Jaeger, W.Paidia: a formao do homem grego. Trad. A. M. Parreira. 2. ed. SoPaulo: Martins Fontes, 1989 [1933], p. 59-72 (cap. Hesodo e a vida do campo).

    Janko, R. Homer, Hesiod and the Hymns: Diachronic Development in EpicDiction. Cambridge: Cambridge University Press, 1982.

    Kirk, G. S. The Structure and Aim of the Theogony. In: von Fritz, K. et al.(ed.).Hsiode et son inuence: six exposs et discussions. Genve: Fon-dation Hardt, 1962, p. 61-95 (considerar a discusso que vem em seguida).

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    HESODOOSTRABALHOSEOSDIAS

    Krausz, L. S. O pastor e as deusas: a iniciao de Hesodo. In: _____. As Musas:poesia e divindade na Grcia arcaica.So Paulo: Editora da Universidade

    de So Paulo, 2007, p. 95-122.

    Leclerc, M.-C.La Parole chez Hsiode: la recherche de l'harmonie perdue.Paris: Les Belles Lettres, 1993.

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    Livrea, E. I versi vaganti nel logos esiodeo delle razze (Erga173 a-eWest).In: Bastianini, G.; Casanova, A. (ed.). Esiodo, centanni di papiri: Atti delconvegno internazionale di studi (Firenze, 7-8 giugno 2007). Firenze: Istituto

    Papirologico G. Vitelli, 2008, p. 43-53.

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    Maehler, H. Neue Fragmente eines Hesiodpapyrus in West-Berlin.Zeitschriftfr Papyrologie und Epigraphik15 (1974), p. 195-207 (sobre P. Berol. 21107;para foto do fragmento que contm Op. 173a-c, verZeitschrift fr Papyrologieund Epigraphik 4 (1969), Tafel Vb).

    Meliad, C.Pant III 118: un nuovo testimone esiodeo.Zeitschrift fr Papyro-logie und Epigraphik142 (2003), p. 19-20.

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    Nisbet, G. Works and Days: A Didaxis of Deconstruction? Greece & Rome51 (2004), p. 147-163.

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    INTRODUO

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    Pereira, M. H. da R. Estudos de histria da cultura clssica, vol. I: culturagrega. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1993, p. 155-168.

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    Sarian, H. A escrita alfabtica grega: uma inveno daplis? A contribuioda arqueologia. Classica 11/12 (1998/1999), p. 159-177.

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    HESODO

    OS TRABALHOS E OS DIAS

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