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BOLETIM INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO DOS PROFESSORES INATIVOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE N otícias SETEMBRO 2013 ANO XIX N o 8 “A Primavera chegou no Inverno” Nélia Bastos Professora aposentada do Dep. de Línguas Estrangeiras Modernas. Membro da Equipe de Redação do ASPI-UFF Notícias. REMETENTE: ASPI-UFF Rua Passo da Pátria 19 São Domingos 24210-240 – Niterói, RJ Uso exclusivo dos Correios Data da reintegração Ausente Falecido Recusado Mudou-se Endereço insuficiente Não existe o n o . indicado Rubrica do carteiro Desconhecido Outros (especificar) ____________ N otícias A primavera chegará, mesmo que ninguém saiba mais seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. (Cecília Meirelles) – Que nome dar à esperança? – No entanto, não é para o amanhã. A esperança é o instante – sobretudo, a espera. A esperança é o já: – Em junho, já havia um prenúncio inesperado e fresco da primavera. – No Brasil, ninguém pode dizer, com plena certe- za, a data exata da chegada da primavera. – Chegou adiantada nas flores apressadas dos ipês cor-de-rosa, nas folhas amareladas espalhadas pelo calçadão. – Renovação? Milagre das coisas suaves, feitas para viver a vida com respeito e alegria? * * * Li, recentemente, o artigo do historiador Daniel Aarão Reis, que dá título a este texto. Resolvi reler o poema de T. S. Eliot “Little Gidding” (1943) – nome de uma al- deia localizada na Inglaterra, destruída em 1647 pelas forças de Cromwell e restaurada no século XIX –, que se inicia: “A primavera em pleno inverno é por si própria uma estação”. Um incidente climático muito pouco comum na Europa: sobre uma estação que irrompe dentro da outra. Poderia também referir-se à primavera de Praga, de Paris, e a de Woodstock, nos anos sessenta. No século XXI, à enigmática primavera árabe. Na concepção de Octavio Paz, o poeta é um historiador que imagina o que acontece e a poesia é a capacidade de se confirmar a humanidade do homem. Um reforço, uma concentração sobre a realidade, e sua função como síntese e projeção da experiência humana. Assim, podemos imaginar ou acreditar na hipótese da relação entre a His- tória e o texto. Entre o fato e as versões, em épocas variadas. Ironicamente ou não. Considerando-se que a História não é uma narrativa linear no tempo. E a noção de progresso é aparente e ideológica? * * * Diz Eliot: Não podemos reviver velhas tendências/ Não podemos restaurar velhas políticas./ Ou dar ouvido a um tambor extinto./ A História pode ser escravidão/ A História pode ser liberdade./ Um povo sem História não está redimido no tempo, pois a História é o modelo dos instantes sem tempo./A poeira do ar suspensa determina/ o sítio onde uma história teve fim/ (...). A linguagem do ano findo e as palavras/Do ano próximo outra voz aguardam/. * * * Diz Aarão Reis: No começo, eram pouco mais de cinco mil, coordenados por gente desconhecida do MPL (Movimento do Passe Livre). Uma ideia singela e viável. Convocada para o dia 13/06, em São Paulo: parecia o bater de asas de uma borboleta inconsequente (...). Provocou, porém, um terremoto, cujas ondas ainda se propagam. A repressão demencial da polícia (Continua na p. 2)

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ssetembro 2013 Ano XIX no 8

“A Primavera chegou no Inverno”Nélia Bastos

Professora aposentada do Dep. de Línguas Estrangeiras Modernas. Membro da Equipe de Redação do ASPI-UFF Notícias.

remetente: AsPI-UFFrua Passo da Pátria 19 são Domingos24210-240 – niterói, rJ

Uso exclusivo dos Correios Data da reintegração

Ausente Falecido Recusado Mudou-se Endereço insuficiente Não existe o no. indicado Rubrica do carteiroDesconhecido Outros (especificar) ____________

Notíc

ias

A primavera chegará, mesmo que ninguém saiba mais seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. (Cecília Meirelles)

– Que nome dar à esperança? – No entanto, não é para o amanhã. A esperança é o instante – sobretudo, a espera. A esperança é o já: – Em junho, já havia um prenúncio inesperado e fresco da primavera. – No Brasil, ninguém pode dizer, com plena certe-za, a data exata da chegada da primavera. – Chegou adiantada nas flores apressadas dos ipês cor-de-rosa, nas folhas amareladas espalhadas pelo calçadão. – Renovação? Milagre das coisas suaves, feitas para viver a vida com respeito e alegria?

* * *

Li, recentemente, o artigo do historiador Daniel Aarão Reis, que dá título a este texto. Resolvi reler o poema de T. S. Eliot “Little Gidding” (1943) – nome de uma al-deia localizada na Inglaterra, destruída em 1647 pelas forças de Cromwell e restaurada no século XIX –, que se inicia: “A primavera em pleno inverno é por si própria uma estação”. Um incidente climático muito pouco comum na Europa: sobre uma estação que irrompe dentro da outra. Poderia também referir-se à primavera de Praga, de Paris, e a de Woodstock, nos anos sessenta. No século XXI, à enigmática primavera árabe.

Na concepção de Octavio Paz, o poeta é um historiador que imagina o que acontece e a poesia é a capacidade de se confirmar a humanidade do homem. Um reforço, uma concentração sobre a realidade, e sua função como síntese e projeção da experiência humana. Assim, podemos imaginar ou acreditar na hipótese da relação entre a His-tória e o texto. Entre o fato e as versões, em épocas variadas. Ironicamente ou não.Considerando-se que a História não é uma narrativa linear no tempo. E a noção de progresso é aparente e ideológica?

* * *Diz Eliot:

Não podemos reviver velhas tendências/ Não podemos restaurar velhas políticas./ Ou dar ouvido a um tambor extinto./ A História pode ser escravidão/ A História pode ser liberdade./ Um povo sem História não está redimido no tempo, pois a História é o modelo dos instantes sem tempo./A poeira do ar suspensa determina/ o sítio onde uma história teve fim/ (...). A linguagem do ano findo e as palavras/Do ano próximo outra voz aguardam/.

* * *Diz Aarão Reis:

No começo, eram pouco mais de cinco mil, coordenados por gente desconhecida do MPL (Movimento do Passe Livre). Uma ideia singela e viável. Convocada para o dia 13/06, em São Paulo: parecia o bater de asas de uma borboleta inconsequente (...). Provocou, porém, um terremoto, cujas ondas ainda se propagam. A repressão demencial da polícia

(Continua na p. 2)

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setembro 2013 – Ano XIX – no 8EditorialEntramos no mês das flores: a Primavera! Frutos e flores em abundância, numa lição com que a Natureza nos

brinda, sempre, motivando-nos a buscar o lado belo e bom da vida, a ter-mos atitudes corajosas e otimistas e não nos deixarmos levar ou influenciar pelos desânimos e problemas que “fazem parte” também de nossa vida. Coragem e entusiasmo eis a lição maior!

Aliás, entusiasmo é o que não falta aos aspianos que frequentam a ASPI. Em nossa sede – e também no ASPI-UFF Notícias – o trabalho se multiplica, com várias frentes sendo atendidas: eventos diversos – palestras (este mês, teremos duas, uma ligada à saúde, com o Dr. Ciro Herdy e outra versando sobre a violência, assunto preocupante do nosso dia a dia), Chá em homenagem às Secretárias aposentadas de nossa Casa-mãe: a UFF. E, para coroar o mês, nada como o II Encontro de Corais da ASPI-UFF, que vem sendo preparado para superar o sucesso do Encontro anterior – todos abertos à comunidade, democratizando a cultura. Isso sem falar de ativida-des como as reuniões dos Conselhos Deliberativo e Fiscal, as da Comissão de Apoio a Assuntos Políticos (CAAP), que trata de assuntos de cidadania, as gravações do programa ASPI-UFF em Ação, que vai ao ar pelo Canal Universitário 17 (SIM TV). Chega?! Não! Ainda tem os cursos que são oferecidos em nossa Associação. Um universo de possibilidades... Assim é a ASPI: qualidade de vida e defesa de direitos dos aspianos!

Publicação da Coordenadoria de Comunicação e Marketing da

Associação dos Professores Inativos da Universidade Federal Fluminense

Jornalista responsável: Neusa Pinto – Reg. MTPS nº. 12.255

Equipe de redação: Ana Maria dos Santos,

Nélia Bastos e Neusa PintoData de fundação da ASPI–UFF:

14 de julho de 1992.Sede:

Rua Passo da Pátria 19 – São DomingosCEP 24210–240 – Niterói – RJ

Tel.: 2622–9199 e 2622–1675 (telefax)E–mails: [email protected]

ou [email protected] Site: www.aspiuff.org.br

“A Primavera chegou...” (Continuação)

Aspianos e pensionistas: ao aniversariar, faça seu recadastramento: qualquer agência do Banco do Brasil, Banco de Brasília ou Caixa Econômica Federal,

com CPF e documento oficial de identificação com foto.

Diretoria Biênio 2013/2015Presidente: Aidyl de

Carvalho Preis1º Vice–Presidente:

Maria Felisberta Baptista da Trindade2º Vice–Presidente:

Lúcia Molina Trajano da CostaSecretária Geral:

Magaly Lucinda Belchior da MotaSecretária Adjunto:

Nilza SimãoTesoureira Geral:

Dalva Regina dos Prazeres GonçalvesTesoureira Adjunto: Léa Souza Della Nina

Conselho Deliberativo (membros efetivos):

Acyr de Paula Lobo (Pres.)Antonio Puhl

Cecília Corrêa de MedeirosDarcira Motta Monteiro

Delba Guarini LemosIlka Dias de Castro

Isar Trajano da CostaJoão José Bosco Quadros Barros

Maria Candida de Assumpção Domingues Sheilah Rubino de Oliveira Kellner

Sílvio Eduardo Gonçalves Gomes

Conselho Fiscal (membros efetivos):Antonia Vasconcelos Dias de Azevedo

Luiz Olympio Vasconcelos (Pres.)Maria Bernadete Santana de SouzaMaria Helena de Lacerda Nogueira

Nésio Brasil Alcântara

Coordenadoria de Assuntos Acadêmicos: Tânia Gonçalves de Araújo

Coordenadoria de Comunicação e Marketing:

Antônio Puhl Coordenadoria de Defesa de Direitos:

Darcira Motta MonteiroCoordenadoria de Integração

Comunitária: Márcia Japor de Oliveira Garcia

Coordenadoria de Lazer: Liliana Hochman Weller

Coordenadoria de Saúde: Magaly Lucinda Belchior da Mota

Gestora de Programas e Projetos Especiais: Cecília Corrêa de Medeiros

Comissão de Acompanhamento de Assuntos Políticos (CAAP):

Acyr de Paula Lobo

Projeto Gráfico:Cecília Jucá de Hollanda

Revisão:Damião NascimentoServiços Gráficos:

Gráfica Falcão

ajudou, vertendo gasolina naquele fogo. A PM brasileira o faz desde que foi criada no século XIX. A República a manteve, para dar pancada em cidadãos de segunda e terceira classes (...) Suscita escândalo quando bate também nos de primeira. Desde os anos 60, evidenciam dificuldades em representar a sociedade. Em escala planetária, veio em 1968, ano quente de questionamentos, quando os partidos foram surpreendidos, a reboque dos acontecimentos, catando cavacos atrás das passeatas. (...) De lá para cá, em quase todas as convulsões da história contemporânea, da queda das ditaduras à dissociação do socialismo, passando pelas primaveras que se têm sucedido pelo mundo afora, os partidos têm tido participação discreta ou nula. Se o terremoto atual se prolongar na forma de um ciclo longo de manifestações (...) se êxito houver nesta aventura, a primavera que chegou no inverno atravessará ainda muitos verões – continua o historiador.

* * *Diz o poeta:

... a palavra, sem pompa ou timidez/ Um natural intercâmbio do antigo e do novo. (...) O que chamamos princípio é quase sempre um fim/ E alcançar um fim é alcançar um princípio.

Em suma: a natureza é um reino cheio de surpresas – A reinvenção da vida na primavera traz esperanças...

Fontes: O Globo, junho 2013; T. S. Eliot (1888-1965). Little Gidding (1943). In: Four quartet.

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Ruth AlaizAspiana, professora aposentada do Departamento de Saúde

da Comunidade e colaboradora do ASPI-UFF-Notícias

O Encanto de cada idade (filosofando...)

Qual é a idade melhor?Penso que é aquela em que vivemos, pois cada uma tem suas

coisas boas e ruins. Se estamos saudáveis, pensemos naqueles que precisam de uma mão amiga (“uma mão” não ficou bonito!).

Se somos crianças, não pensamos em doenças e morte. À medida que crescemos e amadurecemos compreendemos que a vida não é um mar de rosas.

Vamos curtir todos os nossos momentos: brincar, estu-dar, trabalhar, conforme a época. E na 3ª idade? Usar o que acumulamos durante a vida: se ninguém quiser ouvir nossas experiências, não fiquemos tristes, pois elas são valorosas para nós mesmos: nos ensinam a viver e tolerar os percalços que surgem inevitavelmente.

Tive uma experiência com uma das minhas sobrinhas que, por volta dos 7 ou 8 anos, entrou em depressão, acompanhada de síndrome do pânico (pensam que são quadros de idosos? Estão muito enganados: não há idade). Com o tratamento melhorou, mas o pânico continuou a se manifestar em eventos que são próprios da vida estudantil: provas.

Devido a morarem longe, fiquei pensando como poderia ajudar. Então escrevi uma pequena história, em que havia

uma menina da idade dela e com os mesmos problemas. Aí ela descobriu que foi uma criança muito desejada pelos pais, que o nascimento dela representou uma grande alegria para a família toda. Quando foi para a escola, ninguém se importava se as notas eram ou não muito boas. Também descobriu que a natureza oferecia muita coisa bonita para se admirar: flores, matas, animais, rios e mares... Foi ficando cada vez melhor, menos preocupada e se tornou uma criança alegre. Acho que a menina imaginada serviu para alguma coisa, pois hoje em dia minha sobrinha é uma adolescente risonha, mostrando sempre as duas belas covinhas com que a Mãe Natureza a contemplou.

Penso que a história pode ser aplicada a nós, da 3ª idade: sempre há algo de belo em volta: o sorriso de uma criança, as belezas da natureza, o fato de termos amigos, podermos nos reunir na ASPI e, quando a saúde permite, passear; se não for possível tudo, pelo menos temos um cantinho aonde ir para um almoço, um bate-papo, um evento cultural...

Assim, com todos os problemas e tristezas que a vida traz, ainda podemos encontrar felicidade. O grande segredo é nos conformarmos com tudo o que a vida nos apresenta.

Estava ali, sentada na extremidade do banco de uma igreja, linda por sinal, sob o olhar da Virgem Maria, no alto do altar, envolta em seu manto protetor.

Era u´a manhã de domingo, muito fria do mês de agosto, e concentrei-me para rezar, envolta que estava em minhas inten-ções e preocupações.

Em meio ao frio que sentia, de repente um calor, que che-gava a ser doce, tomou conta de mim, trazendo-me um incrível bem-estar. Olhei-me: estava coberta de luz e, surpresa, olhei para a pessoa que estava à minha direita e notei que a parte do seu corpo que estava junto a mim, também estava iluminada.

Como uma criança no colo de mãe, dei-me conta de que você, raio de sol, ultrapassando o belo e colorido vitral da lateral esquerda da igreja, que retratava uma cena da Via-Sacra, entrou, sem pedir licença, e pousou em mim, inundando-me de luz e acariciando-me com seu calor, como num convite à reflexão. Você ficou por pouco tempo e se foi. Caprichos da terra, ciran-dando com o sol, eu entendo. Poderia ter demorado mais. Estava tão bom. Fiquei pensando: Deus se utiliza das coisas simples e pequenas para se mostrar em sua grandeza e nos despertar.

Agucei minha sensibilidade e descobri que uma resposta à minha inquietação estava se delineando a partir daquele momento: reciclada com a visita do Papa Francisco ao Brasil, estava motivada para prestar novos serviços. Mas a quem? Onde? Como? Com que nome?

Você, raio de sol, chegou e tudo se iluminou e pareceu se associar: julho mês dos avós; agosto, mês dos pais, aqueles

que geram e iluminam o caminho dos filhos com seu amor; e setembro, primavera, eflorescência, estação adequada para germinar esta semente. Penso que Deus, na sua generosidade e bondade infinitas, quis mostrar-me o caminho, com sua brin-cadeira, raio de sol.

No dia seguinte, voltei à igreja para observar qual cena da Via-Sacra você usara para brincar comigo. Era a que retratava Cristo, sofridamente carregando sua cruz. Lembrei-me do que disse Francisco, o Papa, referindo-se à cruz de Cristo: “quan-do se olha para a cruz de Cristo, nela deixamos algo de nós e conosco levamos algo dela”.

Estou certa de que nela deixei o medo de iniciar algo novo e trouxe comigo a coragem de persistir na minha ideia de brincar com você, leitor, a exemplo do raio de sol. Quanto às nossas cruzes e às cruzes aspianas fica o conselho de Francisco: encará--las com tranquilidade e equilíbrio para suavizar o seu peso.

A ASPI, que assim sempre o fez, agora na sua maioridade, saberá fazê-lo ainda melhor, principalmente sabendo que so-mos muitos e que Deus, aspiano também, estará sempre nos protegendo e velando por nós.

Quem decide servir sem medo, precisa ter certos cuidados: o de iluminar, sem ofuscar o brilho de ninguém. Todos temos nossa luz e se as usarmos com propriedade, poderemos iluminar muitos caminhos e oferecer nosso calor a tantos.

Cada um poderá me aproveitar de acordo com suas necessi-dades: posso não deixar você me pegar, como fazem as crianças, até arrancar-lhe um belo sorriso; insistir, (Continua na p.6)

Ir sem medo de servir

Artigo ArtigoArtigo

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AGEnDA DE EVEnTOS DO MêS5 (quinta-feira), às 14h30min – Palestra “Problemas Circu-

latórios na 3ª Idade”, com o Dr. Ciro Herdy. Na ASPI.

10 (terça-feira), às 14h30min – Palestra “Violência, suas Manifestações e Superações”, com o Prof. Jailson Silva, e Tarde de Autógrafos de “O novo carioca”.

12 (quinta–feira), às 12h – Almoço da Primavera, com ho-menagem aos aniversariantes do mês e saudação aos novos aspianos. Na ASPI.

19 (quinta-feira), às 14h30min – Chá Vespertino, dedicado às Secretárias aposentadas da UFF, com apresentação do Prof. Antônio Pantaleão ao piano. Na ASPI.

26 a 27 (quinta e sexta-feira), às 17h - II Encontro de Corais da ASPI-UFF, no Auditório do 3º andar da UNILASALLE: Rua Gastão Gonçalves 79 – Pé Pequeno, Niterói.

IMPORTAnTE: Participe das oficinas (pintura e conversação em alemão) e cursos (inglês, espanhol, italiano, informática, dança de salão, cultura musical, canto, piano e teclado), ofe-recidos na ASPI. Informações: (21) 2622-1675 e 2622-9199.

Notas e Comentários

Acompanhe os programas de TV da ASPI-UFF.

Acesse www.aspiuff.org.br, clique em vídeos e, depois, em aspiuff-uff em ação. Ou assista pelo UFFtube: http://ufftube.uff.br. Já se encontra disponível o programa de número 25, com a entrevista do criador da disciplina de Arte da UFF, o professor e artista plástico Israel Pedrosa. E, se você for aspiano, ou uffiano, aguardamos seu contato, com críticas ou sugestões de temas que gostaria de ver tratados nos próximos programas. Que tal procurar a equipe de produção ou nos enviar sua proposta para [email protected] Desde já agradecemos.

Almoço em Homenagem aos Pais

No dia 8 de agosto celebramos o “Dia dos Pais”. O almoço de adesão, como sempre, foi um sucesso, a começar pela entrada com salgadinhos especiais e coquetéis maravilhosos. Na oportunidade, pais e aniversariantes receberam um “mimo”, como lembrança.

Enviamos, daqui, aos caros pais, o nosso abraço afetuoso.

Sarau da Lusofonia traz vice-cônsul de Portugal à ASPI

No dia 18 de julho passado, a ASPI esteve, mais uma vez, em festa: com uma programação ímpar – Uma tarde em Portugal, apresentada

pelo Conjunto SerEstar (Sonia Acioli e Graça Moraes, o maestro Wagner Leão, Saulo Battesini e Daniel Ansor), e participação especial do Grupo Amantes da Música, enriquecendo a platéia com a beleza da música portuguesa, além de vídeos...

O evento, que a todos emocionou pela qualidade, repertório e, sobretudo, animação, teve, na plateia, ainda, o cônsul honorário de Portugal, sr. Lúcio Azevedo e o Dr. Fernando Guedes de Azevedo, vice-presidente do Clube Português de Niterói.

novo associado

É sempre gratificante saber que “nossa família” receberá um novo membro. Assim, estamos felizes com o ingresso do professor Enri-que Jorge Michelli netto dos Reys, que nos chega da Engenharia Mecânica.

Bem-vindo, professor!

Memória: tema de palestra

Com o salão nobre da ASPI lotado, foi proferida esta interessante palestra pela Drª Ariana K. Menezes, no dia 17 de julho último.

A riqueza de detalhes prolongou a apresentação até mais tarde, sendo muito apreciada pelos presentes. Assim que recebermos um resumo, o publicaremos.

Sessão Solene Comemorativa dos 21 anos da ASPI-UFF

A Sessão Solene de aniversário de nossa Associação, transferida para o dia 31 de julho, foi presidida pela professora Aidyl de Carvalho Preis que, em retrospectiva, lembrou a época crítica para as univer-sidades e seus professores, provocando a aposentadoria precoce e o consequente afastamento dos docentes e esvaziamento das Unidades de Ensino da UFF. Ressaltou ainda ter sido um momento de muita angústia, e que, por inspiração do professor Maximiano de Carvalho e Silva, surgiu a ideia de uma Associação que, não só permitisse a união de todos, mas também mantivesse os vínculos com a UFF: “Da inspiração a um movimento concreto, que culminou com a criação da ASPI-UFF, foi um passo, apoiado pelo Magnífico reitor, o professor José Raymundo Martins Romêo”.

Registrou, ainda, a presidente da ASPI a “trajetória de lutas e momentos felizes” por que a Associação passou, até a chegada da maioridade, em 14 de julho, “sempre buscando cumprir sua missão em defesa de direitos e qualidade de vida de seus associados”.

Na oportunidade, estiveram presentes e se pronunciaram o profes-sor Wainer da Silveira e Silva, pró-reitor de Extensão, representando o Magnífico reitor, Roberto Salles, e a aspiana Sônia Maria da Silva, representando a ADUFFSSind. Foram homenageadas ainda a profes-sora Magaly Lucinda Belchior da Mota, que deu os primeiros passos para a criação da ASPI, e Luilce Cabral, secretária do Gabinete do Reitor à época de sua fundação.

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Notas e Comentários Notas e ComentáriosUm dos momentos mais emocionantes foi a apresentação do

Coral “Cantar é Viver”, que lançou seu primeiro CD, distribuído aos presentes, seguido de um coquetel de confraternização.

A ASPI engalanou-se para receber seus associados e convidados, recepcionando-os com uma série de fotos e pôsteres, que contavam a história de seus 21 anos dedicados aos seus associados...

Saúde Bucal

Este, o tema da palestra da Drª. Marta Sadownik Rosenberg, cirurgiã-dentista, vice-presidente da Uniodonto, empresa conveniada da ASPI, que tratou da “Odontogeriatria – atendimento à terceira idade”, no dia 7 de agosto passado, na ASPI.

Numa rápida entrevista, a Dra. Marta contou que mora em Itai-puaçu, município de Maricá, onde tem consultório, além do de Icaraí, tem três filhas e cinco netos, e seu lazer são filmes e jardinagem; na TV, só “assiste filmes e noticiários”, nunca novelas...

Com uma exposição extremamente didática e elucidativa, a pales-trante apontou as diversas causas que podem afetar a saúde, ressaltando a importância do cuidado, não só dos dentes, como de toda a boca. A seguir, um resumo de sua palestra, que foi gravada e cuja íntegra se encontra à disposição dos aspianos.

Odontogeriatria – atendimento à terceira idade

“É importante a consulta ao dentista de 6 em 6 meses, pelo menos, para fazer: avaliação da saúde oral; identificação de processos pato-lógicos em dentes, periodonto, mucosa bucal, palato, língua, lábios, glândulas salivares; avaliação de próteses; contribuição para qualidade de vida do idoso; capacidade de mastigação e deglutição.

Os problemas mais comuns na saúde bucal são: gengivite; periodon-tite; sensibilidade dentinária; problemas na ATM (ausência de prótese).

É importante ressaltar os fatores que afetam o consumo de nu-trientes em idosos: – Alterações na capacidade mastigatória do idoso devidas ao aparecimento frequente de cáries e doenças periodontais; – Próteses totais ou parciais inadaptadas e ausência de dentes (Próteses mal adaptadas podem causar lesões pré-cancerígenas); – Pessoas que usam próteses totais mastigam 75 a 85% menos eficientemente que aquelas com dentes naturais, o que leva à diminuição do consumo de grãos, cereais, frutas e vegetais frescos; – Alimentos macios, facilmente mastigáveis, são pobres em fibras, vitaminas e minerais, o que pode ocasionar consumo inadequado de energia, ferro e vitaminas.”

Ao final da exposição, a Dra. Marta colocou-se à disposição dos presentes, para atender a questionamentos. Foi muito objetiva e instrutiva!

ADUFF-SSind e ASPI-UFF promovem Encontro

Em estreita sintonia, as duas associações realizaram, no dia 30 de julho p.p., na sede da ADUFF, o primeiro “Encontro de Assuntos de Aposentadoria”.

Ao discutir e aprofundar o tema, o evento objetivava, ainda, “aler-tar os docentes – aposentados e ativos – sobre a criação de Projetos de Lei danosos aos servidores públicos por parte do governo federal” e “fortalecer o GT de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria (GTSSA) nacional e local”, de forma a “incentivar os aposentados da UFF a se mobilizarem e intervirem politicamente na luta pela manu-tenção de direitos e pela isonomia entre os docentes”.

Abriram o evento as presidentes da ADUFF, professora Eblin Farage, que agradeceu a presença dos convidados e ressaltou a impor-tante parceria com a ASPI-UFF, e nossa presidente, a professora Aidyl de Carvalho Preis, que ratificou o significante “caminhar juntos” de ambas as instituições, traçando a trajetória de lutas que a ASPI, em seus 21 anos de existência, tem percorrido. A seguir, a professora Cleusa Santos, da Escola de Serviço Social da UFRJ e o Dr. Carlos Boechat, assessor jurídico da ADUFF, participaram da Mesa “Direito à Aposentadoria, tempo livre e vida com sentido fora do trabalho”. Na oportunidade, o Dr. Boechat também dirimiu dúvidas acerca da Previdência Social. A seguir, um cafezinho, e o lançamento de um vídeo produzido pela ADUFF. Fechando o evento, a professora Sara Granemann, também da Escola de Serviço Social da UFRJ, proferiu a palestra “Direito à Aposentadoria e o FUNPRESP em questão”, sendo bastante aplaudida.

Parabéns às organizadoras do evento. O Encontro foi muito frutificante!

Recadinhos...

“O grande aliado do depressivo é o interior do lar; por isso, ele deve ser levado a uma vida social”. Drª Vilma Câmara.

“O cérebro desocupado é oficina de um alemão que se chama Alzheimer”. Prof. Robert Preis.

... Dois excelentes motivos para vir para a ASPI.

Correios lança selos especiais

A Jornada Mundial da Juventude e a visita do Papa Francisco ao Brasil inspirrou duas emissões especiais de selos dos Correios: um, no valor de R$1,20, com o símbolo da JMJ Rio2013, e outro, no valor de R$1,80, onde se destaca o rosto sorridente do carismático Sumo Pontífice. Ambos podem ser adquiridos na loja virtual dos Correios: www.correios.com.br/correiosonline ou na Agência de Vendas a Distância: Av. Presidente Vargas 3.077 – 23º andar, no centro do Rio de Janeiro. E-mail: [email protected].

Cartas...

Ainda pela visita do Papa Francisco e Jornada Mundial da Juven-tude – JMJ recebemos por e-mail a seguinte contribuição do professor Antonio Puhl:

FRASES-CHAVE DO PAPA FRANCISCO:

“Não tenho ouro, nem prata, mas trago o que de mais precioso recebi: Jesus Cristo.”

“Aprendi que, para ter acesso ao povo brasileiro, é preciso in-gressar pelo portal de seu imenso coração. Por isso, permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a essa porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês.”

“Cristo bota fé nos jovens e lhes confia o futuro de sua própria causa. Também os jovens botam fé em Cristo.”

“Corremos o risco de criar uma geração que nunca terá trabalhado. A crise mundial não está tratando bem os jovens.”

“Sei bem que, quando alguém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode colocar mais água no feijão! E vocês fazem isso com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração.”

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Nosso entrevistado, falando par lui-même, é o professor Luiz Ferreira da Silva.

Conversinhas...

Notas e Comentários“Nenhum esforço de pacificação será duradouro numa sociedade

que deixa à margem, que abandona na periferia, parte de si mesma.”“O sentido ético aparece nos nossos dias como desafio histórico

sem precedentes.”“Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção

sempre possível: o diálogo.”

Outra correspondência chegou-nos da professora Sonia P. Altenburg, em 31/07/13:

“À ASPI e, especialmente, à Profª. Aidyl, pelo seu espírito pioneiro na fundação dessa Associação emoldurado pela ética, carinho e gene-rosidade com que sempre recebeu seus colegas e amigos aposentados, assim como os demais professores da UFF.

‘Tudo que sei, sei porque amo’. (L. Tolstoi)

• É nosso associado desde: 2000• Origem: Dep. de S. Social• Coisas boas da vida: gerar felicidade e superar obstáculos • Estação do ano: Primavera• Litoral ou serra? Serra• Bebida: água• Time de futebol: Botafogo• Livro de cabeceira: “Amor ao Conhecimento”• Perfume: 212 MEN• Flor: orquídea• Comida favorita: Lacto Vegetariana• Sobremesa: pudim• Novela\cinema ou teatro: teatro • Ator/atriz: Fernanda Montenegro• Viagem inesquecível: Capitais imperiais• Novela/Peça/filme: O Violinista no telhado• Arrependimento: nenhum • Clássico ou popular: ambos• Ciúme: controlado• Cantor(a): Milton Nascimento• Compositor: Wagner• Fidelidade: Cláusula pactuada que vem do Coração• Mulher marcante: Aquela que, dia a dia, ajuda a perceber as expressões da vida.

• Homem marcante: Meu pai• Primeira professora: D. Juraci• Homem/mulher bonito(a): Juliana Paes• Paixão: Não é uma manifestação saudável• Vício: nenhum• Superstição: não tenho• Maior qualidade: aspirar à felicidade autêntica para todos os seres

do Universo• Maior defeito: Não ser, ainda, um doador de virtudes, plenamente• Sonho: Paz Universal• Fobia: não tenho.• Sentimento: Compaixão• Símbolo do Brasil: Bandeira• Personagem histórica: Nelson Mandela• Escola de samba: Viradouro• Qualidade do Ser humano: Amor• Lembrança mais forte: Transição política – 64.• Partido: Socialista• Coisas abomináveis: Violência• Alegria: O ciclo da vida• Presente que gostaria de ganhar: Sabedoria• Recado: “Na calma abertura do nosso ser interior, é possível cotatar uma voz positiva que nos fala diretamente”.

Parabéns ASPI!”Siga os exemplos, leitor(a): fale conosco!

CAAP discute projeto de revitalização do centro de niterói

Esteve em visita à ASPI, no dia 5 de agosto, a arquiteta, professora da UFF e diretora do Núcleo de Estudos do Patrimônio de Habitação e Urbanismo (NEPHU) Regina Bienestein. Veio apresentar, na Co-missão de Apoio a Assuntos Políticos (CAAP), o polêmico projeto ‘OUC – Operação Urbana Consorciada’, do poder público municipal, atualmente na Câmara de Vereadores de Niterói, que visa à revitalização do centro de Niterói.

No próximo Boletim traremos detalhes.

com meu calor, até você se incomodar e mover-se, sair do lugar, como fazem os jovens; ou ser uma companhia adulta e equilibrada trazendo-lhe bem-estar; ou posso ainda, como um idoso experiente, trazer-lhe minha luz para ajudá-lo, iluminan-do suas ideias, na busca da solução tão desejada.

Vim para servir, com muito amor. Venha comigo. Há muito para iluminar e aquecer e, quem sabe, juntos, poderemos levar muitas alegrias aos corações aspianos.

Saí da igreja decidida: serei raio de sol, por um ano neste boletim, com o objetivo de, através de minhas palavras, brin-

car com você, leitor, iluminando e aquecendo a quem de mim precisar. A proposta é a seguinte: você terá um ano para tentar descobrir quem sou. Se o conseguir, receberá um prêmio, no aniversário da ASPI, em 2014. Se você aceitar a brincadeira, boa sorte.

Saiba que, enquanto houver um raio de sol e alguém disposto a descobrir a sua própria luz e colocá-la a serviço do próximo, teremos a certeza de que, sempre, a vida valerá a pena ser vivida.

Até a próxima. Raio de sol

Ir sem medo de servir (Continuação)

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Artigo Artigo Artigo

Plataformas... que lugar mágico esse que sufocava e acalentava num emaranhado os diversos sentimentos como esperanças, desalentos, alegrias, expectativas,

tristezas e todos esses bons e maus conflitos. Boas lembranças, é certo, ficaram em mim, guarnecidas e bem acomodadas na memória, mas ao duro preço de algumas inevitáveis más lem-branças, embora menores e esvaziadas pelas forças instintivas de meu querer.

Essas viagens ao Sul, inicialmente feitas de ônibus, eram um pouco mais rápidas, porém tinham muitos inconvenientes, como a poeira, pois boa parte das estradas não era asfaltada e a terra finíssima entrava pelas janelas, ou qualquer outra brecha, a partir das cidades paulistas, já nas proximidades dos limites com o Paraná. A opção de fechar as janelas era quase inviável, pois era verão e os coletivos eram os “quentões”: não havia ar-refrigerado e, se abríssemos as janelas, entrava uma poeira avermelhada que penetrava em tudo: nas roupas, cabelos, po-ros, até dentro das malas fechadas! Então, as opções eram: ou uma sauna móvel, sem chuveiradas, ou um mundo de brumas avermelhadas, que impregnavam tudo em volta. Não havia melhor, tudo era meio sofrido e ficou ainda pior com a chega-da dos imigrantes, que me fizeram ser apresentado, de corpo presente, a talvez maior e mais injusta das mazelas da vida: a miséria. A meio caminho, quando eles embarcavam ali pelo interior paulista, a coisa ficava preta, ou melhor, ficava imunda e fedorenta: o odor azedo, liberado por aqueles pobres infelizes, era sufocante, quase insuportável. Esclareço que, ao me referir ao cheiro das pessoas, estou me reportando às condições de transporte e locomoção a que eram submetidos estes sofridos imigrantes nordestinos, que vinham lá daquelas lonjuras em busca da “serra pelada” do momento, a descoberta e exploração da chamada “terra roxa” dos plantios (que nem roxa era e sim de um vermelho amarronzado, mas assim conhecida em parte do interior paulista, e principalmente em toda região do norte paranaense), um solo propício às plantações em geral, mas, especialmente, à cultura do café e, posteriormente, de soja. A mão de obra local, no entanto, era carente de braços para incre-mentar essas lavouras, sendo necessário aos proprietários das terras o recurso do envio de agenciadores – em geral, homens desprovidos de qualquer escrúpulo nas suas atribuições, mais conhecidos como “gatos” –, que rumavam lá para os sertões e agrestes nordestinos para arregimentar homens para este trabalho. Aquele pessoal necessitado, diante das promessas, largava o pouco que tinha e vinha tentar o “Eldorado” no Sul, baseados nas palavras desses pastores de almas, “os gatos”, que utilizavam para transportá-los os recursos mais abusivos e menos dispendiosos possíveis, fazendo-os passar por longas caminhadas até juntá-los num povoado mais conveniente para serem conduzidos como gado em caminhões “paus de arara,” ônibus irregulares e adaptados, até chegar às estações ferrovi-árias e rodoviárias do interior de São Paulo, onde eram despe-jados. Essas famílias eram compostas em geral por um casal com filhos e afins; outros grupamentos traziam ainda sobrinhos e numerosos agregados que se vinham incorporando ao longo

dos caminhos, afinal estavam indo para a “terra prometida” em direção ao sonho de ter o que comer, beber, chuvas frequentes e um solo fértil para trabalhar e ainda poder ganhar um dinhei-rinho... Traziam o que tinham: suas “posses”, atulhadas em malas de papelão estropiadas, soltando os pedaços, algumas bolsas e sacolas de pano imundas contendo as mais variadas tralhas e alguns objetos e volumes aparentemente imprestáveis a qualquer fim a que se imaginasse – estavam ali simplesmente porque faziam parte de suas “coisas” e então eram trazidas.

Contado assim, de forma crua, fica mais fácil me absolver e entender a imagem deplorável dessas pessoas, depois de vários dias de arrastados deslocamentos, sem ter, ao menos, as mínimas condições de higiene corporal e troca de roupas. Ao final, eram como se fosse uma tropa de zumbis: tudo e todos na mesma tonalidade de cor, incluindo aí as malas, sacolas, chapéus de palha, sandálias. Uma massa amorfa e desfocada. Não se percebia nem mesmo suas expressões fisionômicas escondidas pelas camadas sobrepostas de poeira e sujeiras em geral. As crianças, em andrajos ou seminuas, passavam o tempo a catar coisas pelo chão das rodoviárias; outras mantinham-se imóveis, inanimadas, a um canto. Outros desses grupos, talvez já descartados lá na origem pelos “gatos”, pelas suas supostas maiores fragilidades, arriscavam-se e vinham por conta própria pousar nas rodoviárias, viajando e usando como locomoção... imagine-se que meios... Pelo aspecto físico geral que aparen-tavam, pareciam ter vindo a pé! Chegavam e se juntavam a um canto amontoados e ali se estabeleciam por conta do destino, na vaga esperança de que alguém os levasse, ou melhor, os resgatasse para alguma roça ou abrigo qualquer. São imagens inesquecíveis de homens sentados ou acocorados no chão ou em cima de algum volume, como figuras extraídas de um trabalho de Portinari: chapéu de palha enterrado na cabeça, abatidos, ossudos, dedos das mãos entrelaçados, braços apoiados nos joelhos, olhos fixos no chão, procurando provavelmente escon-der o desânimo, a desesperança, ou a vergonha... Sentimento característico e inato do povo sertanejo.

Diante dessas visões surrealistas, e outras intercorrências ainda mais fortes, das quais vou poupá-los da narração, volta-mos a viajar de trem em que, mesmo com os pobres coitados por ali, pelo menos poderíamos manter as janelas abertas pro-movendo sobre os trilhos uma saudável troca de ares e livres da maldita poeira vermelha penetrante das estradas, boa parte delas ainda sem asfalto.

Esse movimento migratório perdurou por muitos anos, como pude saber por informações e também nas ocasionais viagens que fiz já adulto. O que me causa estranheza é que nunca tenha visto ou sabido posteriormente de alguma informação sobre esse volumoso movimento migratório. Nunca vi nada a respeito, ne-nhum levantamento de dados, livros, estudo sociológico, teses... Não é curioso? O que foi feito dessas pessoas que se deslocaram ininterruptamente por vários anos? Será que se adaptaram à nova vida? Qual terá sido seu futuro: continuaram na mesma ou melhoraram de situação?... E os seus descendentes?... O que resultou disto tudo?

Aspiano, Farmacêutico bioquímico, oriundo da Faculdade de Medicina, Dep. de Patologia.

A PLATAFORMA E OS IMIGRAnTES Parte 2 Sidney Gomes

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Aniversariantes Setembro

Acyr de Paula LoboAspiano oriundo da Faculdade de Direito,

é membro do Conselho Deliberativo da ASPI-UFF

DebateO CRISTÃO nO MUnDO ATUAL – Parte 1

1 Bernardino Alves de Souza Netto2 Maria Felisberta Baptista da Trindade5 Carlina Cabral Relvas Maria Augusta Barbosa Machado Kátia Gimenez Leite Bomfim6 Maria Lúcia Fiori Bakr Alves Pereira8 José Antônio Andrade de Araújo9 Márcia Simão Linhares Barreto10 Vânia Lúcia Belmont Elmo Rampini de Souza Vilma Sant’Anna Areas Nilda Guimarães Alves11 Walmírio Eronides de Macedo Suely Gomes Costa12 Celso de Araújo

14 Altair de Oliveira Lessa Suely Coutinho de Barros15 Jamile Esper Saud de O. Francisco17 Nórdia de Luna Freire18 Ramil Sinder19 Maria Elisa Knust Silveira Maria Lídia Souza da Silveira20 Maria Lúcia Vilella Tavares Otto Almeida de Oliveira21 Teresinha Pinheiro Lacerda Vera Regina Ayrosa de Magalhães Sonia Kelly de Mattos22 Emília de Jesus Ferreiro Fernando Barreto Geraldo Merçon

23 Eneida Fortuna Barros Isar Trajano da Costa Gylce de Lourdes de A. Santiago24 Terezinha Abud26 Nelza Oliveira de Araújo Alayde Vieira de Saldanha Campos Maria Helena Bittencourt Sampaio Lecy Maria Caldas Torres27 Aidée Barcellos Freire28 Alda Teresa Torres Teixeira Pinto29 Miguel Ongarato Nadine Harchambois de Mello30 Luiz José Martins Romêo Filho Helter Jeronymo Luiz Barcellos

Felicidade, Amizade e Paz, acima de tudo...!

Fato inegável tem sido o avanço científico e tec-nológico nos últimos 50 anos, acompanhado de expressiva explosão demográfica. Tal situação

deveria colaborar para a existência de um mundo melhor, não apenas materialmente, mas um mundo mais justo e solidário, bem menos sujeito a conflitos. Infelizmente, não é isso o que temos assistido e vivenciado. Já não há valores eternos, incontestáveis, pois tudo agora é relativo. Até a verdade é questionada. Afinal, qual é a verdade? A tua ou a minha? Mesmo os não saudosis-tas reconhecem que as concepções axiológicas estão sofrendo profundas alterações, em certo sentido para pior. Cortesia, reverências, respeito, todas são palavras que estão perdendo paulatinamente o sentido prático. No nosso dia a dia isso é bem visível, até no recôndito do lar. Tampouco se pode ignorar que a concepção de democracia – o governo do povo, para o povo e pelo povo –, mensurável através da manifestação da vontade da maioria, vem sendo deturpada pela imposição dos interesses de grupos minoritários. Confunde-se respeito às minorias com prevalência de suas demandas. O des-viante deixa de existir e seus interesses e atitudes são tão sagrados quanto os do não desviante. O criminoso passa a ser equiparado à vítima e, pior, muitas vezes, privilegia-se àquele em detrimento desta.

Mas, afinal, nas escolas não aprendemos que o estado democrático é aquele que atende à vontade da maioria de seus cidadãos? Não é assim que funciona no dia da eleição? Por que inverter isso? É óbvio que não estamos nos referindo às minorias involuntárias, como é o caso

dos deficientes, cadeiran-tes etc. Estamos falando daqueles que optaram em ficar à margem da maioria social. Exemplos típicos: descriminalização das dro-gas, fim do agravamento da sanção penal nos casos de reincidência, inimputabilidade do menor infrator e otras cositas más. Enfim, marchamos para o desconhecido, pelo menos nós, que integramos a chamada civilização ocidental. E muitos se admiram, se chocam, se surpre-endem com a crise do Cristianismo. Tanto católicos, quando evangélicos e até judeus se preocupam com o esvaziamento de igrejas e sinagogas e, concomitan-temente, se assustam com o avanço do Islã. Ora, em religião é perigoso ser moderno.

Atos litúrgicos podem ser modificados, modernizados, mas a chamada modernidade é incompatível com matéria doutrinária.

É comum se ouvir um católico ou um protestante dizer que frequenta a Igreja, mas discorda de muitas posições dela. Se isso ocorre em matéria de liturgia ainda se aceita, mas se a discordância é em questão de doutrina, o errado é ele. Por exemplo, o católico pode discordar do celibato de padre, pois em nenhum trecho da Bíblia está dito que ministro de Deus não pode casar. Mas, o católico não pode dizer que o adultério é aceitá-vel, pois tal opinião se choca com a posição doutrinária do Cristianismo. (Continua no próximo Boletim)