OUÇA VANGELIS, DE ORGELS VAN NETTIE CLIQUE NA … · 3 Não é de estranhar, portanto, que no...

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OUÇA VANGELIS, DE ORGELS VAN NETTIE CLIQUE NA HARPA

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  • OUA VANGELIS, DE ORGELS VAN NETTIE

    CLIQUE NA HARPA

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    SSoo FFrraanncciissccoo ddee AAssssiiss eeoo CCnnttiiccoo ddaass CCrriiaattuurraass

    Pedro Garcez Ghirardi(Livre-Docente FFLCHUSP)

    Laudato sie, mi Signore, cum tucte le tue criature (So Francisco de Assis)

    As reflexes aqui apresentadas destinam-se a uma palestra comjovens universitrios. e nada mais pretendem que ser um convite leitura do Cantico delle Creature (Cntico das Criaturas). Textoliterrio que, expressando a experincia espiritual de SoFrancisco de Assis, o primeiro grande exemplo da poesia italiana.

    Falar deste Cntico (tambm conhecido como Cntico do IrmoSol ou, em latim, como Laudes criaturarum) falar da poesia queFrancisco criou no final da vida, provavelmente em 1224, isto ,dois anos antes de morrer. O perodo dos mais duros. Franciscose acha enfraquecido pela doena e quase cego. Est afastado dadireo da comunidade que fundara e j pressente os conflitos quenela surgiro aps sua morte. nestes anos de despedida que eled incio a uma tradio querida at nossos dias: a representaodo nascimento de Cristo. Perto de Assis, na pequena aldeia deGreccio, surge o primeiro prespio, com a participao das famliasde camponeses. tambm nestes ltimos anos, na solido do monteAlverne, que Francisco passa pela experincia mstica que lhe deixaos estigmas, sinais de sua conformidade com o Crucificado.

    Ainda nesses ltimos anos que Francisco, mais uma vez, sevolta para a poesia. Mais uma vez, porque ele desde jovem gostavade recitar e cantar os poemas dos rimadores provenais, cujalngua bem conhecia. E sua grande fonte de inspirao, durante avida toda, foram as poesias da Escritura Sagrada, sobretudo ossalmos e o Cntico dos Cnticos. Seu amor poesia que o tornouconhecido como jogral de Deus, giullare di Dio.

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    No de estranhar, portanto, que no momento em que sepreparava para partir, Francisco voltasse a buscar na poesia aexpresso de toda a sua experincia espiritual. Nascem, assim, osversos do Cntico das Criaturas. Vale a pena reproduzi-los:

    Altissimo, onnipotente, bon Signore,

    tue so' le laude, la gloria e l' honore et onne benedictione.

    Ad te solo , Altissimo, se confano

    e nullu homo ne dignu te mentovare.

    Laudato sie, mi' Signore, cum tucte le tue criature,

    spetialmente messer lo frate sole,

    lo qual' iorno, et allumini noi per lui

    Et ellu bellu e radiante cum grande splendore:

    de te, Altissimo, porta significatione.

    Laudato si', mi' Signore, per sora luna e le stelle:

    in celu l' i formate clarite e pretiose e belle.

    Laudato si', mi' Signore, per frate vento

    e per aere nubilo e sereno et onne tempo,

    per lo quale a le tue creature di sostentamento.

    Laudato si', mi' Signore, per sor' acqua,

    la quale molto utile et humile et pretiosa et casta.

    Laudato si', mi' Signore, per frate focu,

    per lo quale ennallumini la nocte:

    et ello bello et iocondo e robustoso e forte.

    Laudato si', mi' Signore, per sora nostra madre terra,

    la quale ne sustenta et governa,

    e produce diversi frutti con coloriti fiori et herba.

    Laudato si', mi' Signore, per quelli ke perdonano per lo tuo amore

    e sostengono infirmitate e tribulatione.

    Beati quelli ke'l sosterranno in pace

    ca da te, Altissimo, sirano incoronati.

    Laudato si', mi' Signore, per sora nostra morte corporale

    da la quale nullu homo vivente po' scappare:

    guai a quelli ke morrano ne le peccata mortali;

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    beati quelli ke trovar ne le tue sanctissime voluntati,

    ca la morte secunda no 'l far male.

    Laudate et benedicete mi' Signore et rengratiate

    e serviateli cum grande humilitate.

    Estes versos de Francisco so a primeira grande expressopotica de uma lngua ainda sem nome, pois estava nascendo. Eraconhecida como lngua vulgar, isto , lngua do povo, emcontraposio ao latim dos eruditos e dos telogos. Franciscoeleva seu Cntico na mesma lngua em que falava e rezava o povosimples de Assis e de Greccio, na mesma lngua quotidiana dacomunidade de irms que o hospedava. Sim, pois o Cntico deFrancisco foi composto numa cabana prxima do conventinho deSo Damio, onde moravam Clara de Assis e as primeiras seguidorasdo ideal franciscano. na lngua dos pobres e das mulheres quenasce a poesia franciscana. Estavam abertos os caminhos daquelaque, um sculo mais tarde, seria a lngua de Dante. E na DivinaComdia a figura de Francisco haveria de inspirar um dos cantosmais belos do Paraso.

    Muito haveria que dizer sobre este Cntico das Criaturas. Aqui,porm, no possvel ir alm de um breve convite leitura de umapoesia que expresso maior da experincia mstica do poetaFrancisco de Assis.

    Altissimo, onnipotente: com estas palavras, que manifestamtoda a grandeza da divindade, abre-se o Cntico do poeta. O Senhor altssimo e onipotente, eptetos que enchem de temor reverencialperante o "solus Sanctus" da liturgia crist e que parecemantecipar o "temor e tremor", de que fala Kierkegaard. Mas o poetalogo acrescenta que o Senhor bon. sobretudo a bondade doCriador que se vai manifestar ao longo da poesia de Francisco, pois sobretudo a bondade o que fala ao corao dos pobres e dospequenos. Para descrever a grandeza divina o poeta empregaadjetivos longos, solenes, tirados do latim litrgico e dalinguagem teolgica erudita: altissimo, onnipotente. Mas paradescrever a divina benevolncia, o poeta usa um adjetivo breve,coloquial, familiar, o mesmo que se usa para falar do po saborosoou do tempo sereno: bon. este o adjetivo que Francisco pe maisperto do nome do Senhor.

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    Tue so' le laude, la gloria e l' honore et onne benedictione. /Ad te solo, altissimo, se confano et nullu homo ne dignu tementovare: na viso do poeta-mstico, s o Senhor absolutamentebom. Tudo o que se possa dizer de bom deve ser-lhe referido. Todo obem lhe pertence, todo o bem leva a ele. Todo o louvor lhe devidoe o homem nem sequer digno de o mencionar. Nullu home ne dignutue mentovare: note-se a fora desta expresso. Nenhum homem digno de mencionar o Senhor: assim exclama o poeta quando o nomede Deus era pronunciado para incitar s armas, como nas Cruzadas."Deus o quer", era o brado guerreiro dos cristos, enquanto asdisputas sobre a natureza divina se multiplicavam nos grandescentros universitrios. O poeta usa a palavra mentovare, queetimologicamente mais do que hoje se entende por mencionar.Mentovare deriva de "mente": como se ningum fosse digno sequerde elevar o pensamento ao Senhor. "Os meus pensamentos no soos vossos", diz o Senhor na Sagrada Escritura (Is. 55, 8). E, paraFrancisco, o caminho principal do encontro com Deus no ser aespeculao intelectual, mas o amor. Ningum digno de mencionaro Senhor, a inteligncia humana no o alcana, mas a graa do amordivino oferecida a todos. Por isso que o poeta encerra seuslouvores bendizendo ao Senhor por aqueles que perdoam por seuamor: Laudato sie mi Signore per quelli ke perdonano per lo tuoamore. Note-se: per lo tuo amore: amor que dom divino, que graa e que por isso inspira o louvor do poeta. A experincia msticade Francisco, tal como toda a escola mstica franciscana, serantes amorosa que especulativa. No por outra razo queFrancisco e seus filhos foram comparados no aos espritos quemelhor conhecem a Deus, os querubins, mas foram comparados aosserafins, os mais abrasados pelo amor divino.

    Laudato sie, mi Signore, cum tucte le tue criature: este verso,que d incio srie de louvores do Cntico, talvez a expressomais acabada da espiritualidade de Francisco. Para louvar oSenhor, o poeta evoca todas as suas criaturas. Todas, semexcluso. Todas devem entrar no louvor divino. So essascriaturas que nos revelam a face do bon Signor, pois toda criao boa: "E Deus viu que tudo era bom", dizem as Escrituras (Gn. I, 31).Longe das tendncias pessimistas de algumas correntes ascticas,Francisco no foge da criao para buscar a divindade. Pelocontrrio: faz da criao o caminho para o canto jubiloso do

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    encontro com o divino. E o texto original tem uma fora particular.Isto porque em italiano antigo, como ainda no italiano de hoje,criature palavra que tem significado filial. Significa no scriaturas, em geral, mas significa tambm filhos, crianas. Ao falarem criaturas, o poeta eleva um canto divindade como fonte devida. Por isso o louvor deste Cntico das criaturas um louvorfilial de toda a natureza a quem, sendo imensamente poderoso esublime, principalmente bondade que cria a vida: altissimo,onnipotente, bon Signor.

    Laudato sie, mi Signore, cum tucte le tue criature. Todas socriaturas do Senhor e o Senhor deve ser louvado com e por todas,sem exceo de nenhuma. importante notar este possessivo, tuecriature. As criaturas pertencem ao Senhor. Do reconhecimento deque ao Senhor e a ningum mais tudo pertence que nasce o amorde Francisco pela pobreza. Querer apropriar-se de qualquercriatura querer usurpar o que pertence s ao bon Signor, violentar a dignidade da natureza e dos seres humanos, para osinstrumentalizar e escravizar. Esta profanao, contraposta ssanctissime voluntati do bon Signor, o que Francisco, nasestrofes finais, chamar de peccata mortali. Para o poeta, afraternidade que deve unir as criaturas. Fraternidade, pois assanctissime voluntati do bom Senhor levam todas mesma vidafilial: Laudato sie mi Signore, cum tucte le tue criature. Eis por queo poeta ver irmos e irms em tudo o que existe: frate sole, soraluna, frate focu, sora terra. Fraternidade que no exclui orespeito: pelo contrrio, o poeta reverencia de modo especial o"senhor irmo sol" (messer lo frate sole) e "nossa irm a meterra" (sora nostra madre terra). Mas o que a fraternidade exclui o domnio ambicioso, a posse egosta.

    Mas ao abraar a fraterna pobreza de quem reconhece quenada possui, que tudo do Senhor, Francisco descobre um tesouroque o deixa inesperadamente rico, pois o bon Signor tambm "meuSenhor", mi' Signore. "Solo Dios basta", exclamar mais tarde emuma de suas poesias a grande Santa Teresa. "Meu Deus e meu tudo"repetia Francisco, poeta e santo. Deus meus et omnia ainda hoje olema da famlia franciscana.

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    Fiquemos ainda um pouco neste verso admirvel: Laudato sie, miSignore, cum tucte le tue criature. Todas as criaturas, que em suadiversidade, revelam as inmeras faces do poder divino. A comearpela diversidade do sexo. "Deus criou o homem sua imagem; imagem de Deus Ele os criou; varo e mulher Ele os criou" (Gn., I,27). Masculino e feminino convivem no Cntico de Francisco, que,com finura potica, alterna os gneros da linguagem para convidarao louvor criaturas personificadas como femininas e masculinas. Acoexistncia do masculino e do feminino, longe de uma visomaniquesta, vista como beleza e convite ao louvor. Nos ltimosanos de sua vida, quando muitos cristos e crists se dispunham arenunciar ao casamento para seguir o ideal franciscano, Francisco mesmo quem lhes diz que este ideal pode e deve ser vividono s no celibato, mas no casamento: assim que surge, como sesabe, a chamada Ordem Terceira, isto , os franciscanos seculares.E j foi dito que este Cntico nasce perto do conventinho de SoDamio, onde moravam Clara e suas irms. No difcil supor quetero sido elas as inspiradoras da evocao da sora luna e lestelle... clarite e pretiose e belle.

    Laudato sie, mi Signore, cum tucte le tue criature: todas ascriaturas, sem excluso daquelas que nos trazem infirmitate etribulatione, sem mesmo excluir sora nostra morte corporale. Ascriaturas que levam o ser humano mais radical das pobrezas: perda dos bens mais preciosos, a sade, a prpria vida. O cntico delouvor se ergue mesmo quando o a pobreza extrema, quando odespojamento radical. Os estigmas no poderiam estar ausentesda poesia de Francisco. "Quem ama sua vida perd-la-..." "Felizes osque choram...": assumindo em cheio a loucura das bem-aventuranas evanglicas que o poeta nos surpreende. Destaloucura que nasce o louvor deste Cntico. Dela nascer tambma poesia sublime de outro grande mstico franciscano, o bem-aventurado Jacopone, poeta admirvel, que ficou conhecido comoo "louco de Deus".

    Laudato sie, mi Signore, cum tucte le tue criature: o Cnticono exclui sequer aqueles e aquelas que fazem sofrer seus irmose irms. Laudato sie, mi Signore, per quelli ke perdonano per lo tuoamore. So chamadas ao louvor mesmo as criaturas que falham eque necessitam de perdo, ou seja, todas as criaturas humanas.

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    Tambm estas criaturas merecem outra oportunidade, ou melhor,merecem as setenta vezes sete oportunidades de que fala oEvangelho. Somente assim percebero o que significa ser criaturade um Senhor que , acima de tudo, bon.

    Mas se a experincia mstica de Francisco o leva a louvar miSignore, cum tucte le tue criature, preciso lembrar algo que deveaqui receber especial ateno: este um canto de louvor, louvorque se manifesta em poesia. Francisco no somente mstico, tambm poeta. Na beleza da palavra potica encontra um caminhopara o bon Signor. Sim, porque, para Francisco de Assis, a belezadas criaturas grande manifestao da beleza divina.

    Isto o que se nota logo no incio dos louvores, com a imagemdo irmo sol. Diz o poeta: ...messer lo frate sole, / lo quale iorno,et allumini noi per lui // Et ellu bellu e radiante cum grandesplendore / da te, altissimo, porta significatione. O irmo sol, quenos ilumina, sem excluir ningum, sinal do bon Signor, que manda"sol e chuva sobre bons e maus justos e injustos" (Mt., 5,45). Mas osol no somente sinal de bondade: o sol belo, esplndidamentebelo: Et ellu bellu e radiante cum grande splendore / da te,altissimo, porta significatione. A criatura que porta significationedo Criador sinal divino no s pela bondade, mas pela beleza. Obon Signor belo, como a luz do sol, que o significa. A beleza sinal privilegiado do Senhor: da te, altissimo, porta significatione.Cantar a beleza das criaturas cantar o Criador. Eis importnciada arte, da poesia para o mstico-poeta que Francisco. Este umaspecto fundamental da poesia franciscana: no a intelignciaque explora os mistrios divinos o modo privilegiado de chegar aDeus: nullu omo ne dignu te mentovare. A bondade e a belezadespertam amor; a bondade e a beleza de tucte le tue criature queconduzem a lo tuo amore, ao amor de Deus.

    E da beleza o poeta continua a falar na estrofe seguinte:Laudato sie, mi Signore, per sora luna e le stelle, / in celu l' iformate clarite e pretiose e belle. Se no sol o poeta v a belezacomo servio indispensvel sobrevivncia de todos: allumini noiper lui, na lua e nas estrelas surge a beleza aparentemente semproveito, a beleza que no serve seno de fonte de prazer, a belezagratuita: in celu l'i formate clarite pretiose e belle. Esta beleza

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    da arte, a beleza da poesia, que aparentemente no servem paranada, mas que expressam, como neste Cntico, o sentido mais altoda existncia humana.

    Outra vez, nesta beleza de sora luna e le stelle, como na belezada poesia, se manifesta a presena feminina. Sora luna, stelle...: osastros vistos como belas figuras femininas, formadas no cu peloSenhor. Estamos no mundo da beleza feminina, como caminho para obon Signor. O bon Signor que fonte do sol e da lua, do fogo e dagua, do masculino e do feminino: todo o Cntico do poeta de Assis um hino convivncia do masculino e do feminino, igualmentebelos - bellu o irmo sol, bello o irmo fogo, belle a irm lua e asestrelas - igualmente belos porque igualmente criados peloaltissimo, onnipotente, bon Signor. E bela, pode-se acrescentar, tambm a irm poesia: tambm ela, com sua beleza, da te, altissimo,porta significatione.

    A contemplao da beleza das criaturas, dos irmos e irms,como manifestao do Criador o que leva Francisco a expressarem poesia sua grande experincia mstica. A expresso potica torna-se inseparvel dessa experincia. E o poeta Francisco no hesita embuscar a beleza de suas estrofes e de seus versos, como artistacuidadoso. Uma anlise minuciosa desses versos seria fascinante,mas iria alm dos limites destas reflexes. Basta lembrar que j sefalou, por exemplo, na personificao do sol, da lua e das estrelas,e assim tambm da gua, do fogo, do vento, da terra, da criaotoda, que se humaniza no universo potico de Francisco. Convmtalvez acrescentar que o poeta-jogral, poeta-msico que cantanestes versos, cuida com esmero da sonoridade dos versos. Vejam-se as rimas: Signore/honore (rima interna), stelle/belle,vento/sostentamento, rengratiate/humilitate. Notem-se asinmeras assonncias, entre as quais: sole/splendore,acqua/casta, terra/governa /herba. Oberve-se o efeito dainsistncia em algumas tnicas como na descrio de fratefOcu...iocOndo, robustOso e fOrte... Nesse adjetivo iocondo, quefala de servio e de alegria (iuvare, iucundus, diziam os latinos),transborda a "perfetta letizia" dos Fioretti franciscanos e de todoeste Cntico de louvor... Observe-se o contraste das tnicas - deum lado, U, O (que em italiano arcaico freqentemente seconfundem) e, de outro, A - como expresso da modstia servial e

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    da pureza cristalina da irm gua: Utile, Umile, pretiOsa e cAsta...Nem se pode esquecer a musicalidade que deriva da anforaconstante: Laudato sii.. laudato sii... Lembrem-se tambm as imagensplsticas, como as que evocam a variedade das frutas, diversifrutti, ou o colorido das flores e dos prados: coloriti fiori etherba...

    Mas falar da arte do poeta Francisco nos levaria longe e preciso concluir. Vale ento lembrar algumas palavras de umartista contemporneo, que, como Francisco, foi tambm poeta ehomem de orao. Falo de David Maria Turoldo (1916-1992). Em umde seus ltimos escritos, sobre a poesia e a f, dizia ele (voutraduzindo do italiano):

    "No h nada de mais gratuito que a poesia. A poesia no temmais finalidade que cantar. [...] Este o estado de graa deFrancisco e dele que brotou o famoso 'Cntico das criaturas'.[...]. Cantar somente a beleza: ousar compor continuamente seupoema, sem que ningum tenha a iluso de o ter conseguido. A ltimaexpresso do mundo e da linguagem a beleza e a criao suaepifania No h criatura que no esconda um raio da BelezaSuprema" ("Poesia e poesia religiosa" in Arte e Fede Cristiana,nmero temtico de Credereoggi, 36/1986, p. 27-30).

    Turoldo morreu exatamente h dez anos e encerrar estasreflexes com suas palavras trazer lembrana algum quem foi,como Francisco, um "jogral de Deus".

    (http://www.hottopos.com/seminario/sem2/pedro.htm)

    FRANCISCO morreu em Assis, serenamente, ao pr do sol do dia4 de outubro de 1226, com 44 anos de idade.

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    oo CCnnttiiccoo ddaass CCrriiaattuurraass

    Altssimo, onipotente, bom Senhor

    Teus so o louvor, a glria, a honra

    E toda a beno.

    S a ti, Altssimo, so devidos;

    E homem algum digno

    De te mencionar.

    Louvado sejas, meu Senhor

    Com todas as tuas criaturas,

    Especialmente o senhor irmo Sol,

    Que clareia o dia

    E com sua luz nos alumia.

    E ele belo e radiante

    Com grande esplendor:

    De ti, Altssimo, a imagem.

    Louvado sejas, meu Senhor,

    Pela irm Lua e as Estrelas,

    Que no cu formaste-as claras

    E preciosas e belas.

    Louvado sejas, meu Senhor,

    Pelo irmo Vento,

    Pelo ar, ou nublado

    Ou sereno, e todo o tempo,

    Pelo qual s tuas criaturas ds sustento.

    Louvado sejas, meu Senhor

    Pela irm gua,

    Que muito til e humilde

    E preciosa e casta.

    Louvado sejas, meu Senhor,

    Pelo irmo Fogo

    Pelo qual iluminas a noite,

    E ele belo e jucundo

    E vigoroso e forte.

    Louvado sejas, meu Senhor,

    Por nossa irm a me Terra,

    Que nos sustenta e governa

    E produz frutos diversos

    E coloridas flores e ervas.

    Louvado sejas, meu Senhor,

    Pelos que perdoam por teu amor,

    E suportam enfermidades e tribulaes.

    Bem-aventurados os que as sustentam em paz,

    Que por Ti, Altssimo, sero coroados.

    Louvado sejas, meu Senhor,

    Por nossa irm a Morte corporal,

    Da qual homem algum pode escapar.

    Ai dos que morrerem em pecado mortal!

    Felizes os que ela achar

    Conformes tua santssima vontade,

    Porque a morte segunda no lhes far mal!

    Louvai e bendizei ao meu Senhor,

    E dai-lhe graas,

    E servi-O com grande humildade.

    a b

    c d