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Science Fiction Novel Perry Rhodanciclo-01

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  • Levitan, O Traidor

    Autor:KURT BRAND

    Traduo: RICHARD PAUL NETO

    Digitalizao:DENIZE BARTOLO

    Reviso:DROMO

    (P-034)

  • Um saltador pousa em Terrnia e transforma-se na figuraprincipal do grande blefe...

    Conflitos na Terra, invases vindas do espao, batalhas csmicas,combates travados em planetas distantes, tudo isso na Terceira Potnciade Perry Rhodan, instalada com o auxlio da antiqissima tcnicaarcnida, venceu galhardamente em sua curta existncia.

    Mas os saltadores, uma raa descendente dos arcnidas, que hoito milnios detm o monoplio incontestado do comrcio galtico,reprimindo implacavelmente qualquer concorrncia que se esboce, re-presentam um perigo muito mais srio.

    Perry Rhodan fez tudo para evitar que os saltadorestransformassem a Terra numa colnia. Seus cruzadores espaciaisrealizam ataques simulados contra a frota dos saltadores, enquanto elemesmo se dirige, a bordo da Stardust-III, ao planeta do imortal, a fim deobter uma nova arma que possa ser empregada contra os saltadores. Opoderio dos saltadores tremendo. Muito embora diante da nova armatenham batido em retirada, ainda de se recear que prosseguiroinexoravelmente na execuo dos planos de conquista da Terra. Ummercador galtico, que conhece esses planos, mostra-se disposto avend-los por um preo adequado. Trata-se de Levtan, o Traidor...

    = = = = = = = Personagens Principais: = = = = = = =

    Perry Rhodan Chefe da Terceira Potncia.

    Reginald Bell Amigo ntimo e representante de Perry Rhodan.

    Levtan Um indivduo expulso da comunidade dos saltadores porsua conduta fraudulenta.

    John Marshall Um telepata.

    Tako Kakuta Cuja especialidade a teleportao.

    Kitai Ishibashi Cujos dons se situam na rea da sugesto.

    Tama Yokida Que domina a telecinsia.

    Etztak Goszul Patriarcas dos saltadores.

  • 1Na altura da rbita de Pluto, a Terra e a Solar System, cruzadores da TerceiraPotncia, emergiram do hiperespao para retornar ao cosmos normal. Mantendo umadistncia de 40.000 quilmetros, os dois veculos espaciais atravessaram vertiginosamenteo sistema solar, em direo Terra.

    O choque da transio, um acompanhante desagradvel de todo salto pelohiperespao, j estava superado. Perry Rhodan, que se encontrava a bordo do cruzadorpesado Terra, juntamente com Reginald Bell.

    Bell e alguns elementos de seu Exrcito de Mutantes, cumprimentou MacClears, ocomandante da nave, com um ligeiro aceno de cabea, e lanou um olhar convidativo aBell, aps o que se dirigiu ao seu camarote, em companhia do mesmo.

    Ainda no consigo compreender, Perry principiou Reginald Bell,impressionado pelo silncio de Rhodan.

    Perry esboou um sorriso amargo, mas ainda no disse nada.Bell estourou. Aqui, a ss com Perry Rhodan, chefe da Terceira Potncia, podia dar-

    se ao luxo de falar com este de amigo para amigo. Foram os primeiros homens que haviamatingido a Lua a bordo da Stardust, e continuavam amigos enquanto Perry Rhodan sepreparava para conquistar a galxia, incorporando-a aos domnios do planeta Terra.

    Perry, Aquilo ou Ele permitiu-se uma piada de mau gosto. Por que no aceitoutudo na esportiva, insistindo, sem esmorecer, em chegar ao Peregrino?

    Perry lanou um olhar pensativo para o amigo. Aquilo pode ter feito uma piada, mas nunca uma piada de mau gosto.Bell, engrenado, no permitiu que Rhodan terminasse. Ora, Perry! disse em tom insistente. Afinal, no fomos ao Peregrino para

    fazer turismo, mas porque os mercadores galcticos nos colocaram em situaoextremamente difcil. Se eles resolverem lanar seus couraados num ataque concentradocontra ns, podemos fazer nosso testamento. E foi numa situao destas que Ele ou Aquilohouve por bem no permitir nosso ingresso no Peregrino. Voc realmente acha que issono uma piada de mau gosto?

    Um Perry Rhodan totalmente diferente daquele que os homens conheciam, umhomem profundamente decepcionado e abatido, que ainda no via qualquer meio deescapar ao perigo que os mercadores galcticos representavam para a Terra, deixou queseus olhos vagassem ao lado de Bell, que o fitava numa ansiosa expectativa. Sabia que afala irreverente de Bell apenas tinha por fim dissimular a decepo e encobrir a situaodesesperanada.

    Santo Deus, Perry! exclamou Bell. Nunca o vi do jeito que o vejo agora.Perry no reagiu observao. Disse simplesmente: Ele confia mais em nossa capacidade que ns mesmos. S pode ser isso, Bell.

    Lembre-se de como ele nos tornou difcil a busca do caminho que conduz ao seu planeta,ao Peregrino. Tanto voc como eu ainda temos de aprender a compreender seu senso dehumor. Foi por isso que desta vez ele no nos deixou entrar, nem tomou conhecimento danossa presena. Nem pensa em entregar-nos outros transmissores fictcios. Devemosdefender-nos dos mercadores com os recursos de que dispomos.

    Se isso senso de humor, perdi toda capacidade de apreciar uma boa piada

  • respondeu Bell em tom sarcstico. A Stardust possui exatamente dois transmissoresfictcios. Isso mesmo: dois. O que acontecer com ela se os mercadores chamarem seusamigos, os superpesados, para que estes lancem um ataque concentrado contra nossocouraado? Nesse caso a Stardust j era; e dos cruzadores Terra e Solar System nem sefala. Quanto Terra, ser escravizada e transformada numa colnia dos mercadores.

    Subitamente Bell viu um brilho nos olhos do amigo. E, como depois disso um sorrisoamargo brincasse em torno dos lbios de Perry e este se espreguiasse vigorosamente,Reginald Bell j se sentiu um tanto aliviado.

    Voc tem razo confirmou Perry Rhodan. Se os saltadores voltarem com ossuperpesados e lanarem um ataque concentrado contra ns, tudo estar perdido. Voc noacha engraado que ele confie tanto em nossa capacidade que acredita que possamosenfrentar os mercadores galcticos e os superpesados?

    Decepcionado, Bell reclinou-se na poltrona. s o que voc tem a dizer, Perry? perguntou estupefato. No momento, sim. Voc um sujeito formidvel. Deu-me uma sacudidela no

    momento exato. Quem? Eu? Mas como? fez uma cara to tola que Perry lhe disse com um

    sorriso: Neste momento voc no parece muito inteligente. Seria capaz de pagar alguma coisa por uma dica de como poderemos enfrentar o

    perigo que nos ameaa resmungou Reginald Bell em tom sarcstico. Depois dissomanteve-se em silncio.

    * * *

    Terrnia chamou. Era a capital da Terceira Potncia, situada no deserto de Gobi.Desde aquele 25 de novembro servia de sede ao Governo Universal da Terra.

    A aproximao dos cruzadores Terra e Solar System j fora detectada. Logo aps oabalo estrutural provocado pelo salto atravs do hiperespao, as naves entraram em contatocom as estaes da Terra, que lhes forneceram as horas em que poderiam pousar sementrar em choque com o campo energtico invencvel que se estendia por cima deTerrnia.

    Taciturno, Perry Rhodan saiu da Terra. Sua aparncia no revelava nada quandoretribua os cumprimentos ou falava com uma ou outra pessoa, mas seu amigo Bell no sedeixaria enganar pelas aparncias.

    Nunca a Terra se defrontara com um perigo tamanho como o que a ameaava, agoraque fora descoberta pelos mercadores galcticos. Membros do imprio arcnida, que seencontrava num processo de esfacelamento progressivo, os mercadores viviam divididosem cls que passavam seus dias em gigantescas naves, negociando com qualquer planetaque lhes parecesse lucrativo. No eram amigos ou inimigos de qualquer raa. Mantinham-se neutros na guerra e vendiam com um lucro adequado a qualquer das partes que seencontrassem em luta. Mas os saltadores, como tambm eram conhecidos, no podiam serconsiderados um grupo de inofensivos ciganos espaciais. Qualquer intruso que tentassepenetrar em seus domnios era destrudo sem a menor contemplao. Sempre que osrecursos de que dispunham no eram suficientes para isso, recorriam aos superpesados.Estes tambm descendiam dos arcnidas, mas eram indivduos de peso inacreditvel e, oque os tornava ainda mais perigosos, possuam gigantescos couraados espaciais.

    Perry Rhodan rechaara os mercadores e os superpesados, mas no lhes inoculara de

  • forma indelvel a idia de que deviam tirar as mos da Terra, por representar ela um perigomortal. Naquele momento Perry Rhodan estava explicando ao seu estado-maior que a frotados mercadores, reunida aos superpesados, representava o perigo mais grave com que aTerra jamais se defrontara, e que no tinham com que se defender do mesmo.

    Amanh o cruzador pesado Centauro ser batizado e entrar em servio interveio Nyssen, comandante da Solar System.

    Perry Rhodan exibiu um sorriso condescendente. O que significa isso, cavalheiros? Nada! Trata-se duma nave com cerca de duzentos metros de dimetro. Juntamente

    com a Centauro, disporemos de trs naves desse tipo. Isso no representa coisa algumaface ao poderio macio do inimigo.

    Prometo-lhes um reino por uma boa idia, e, alm disso, lhes ficarei eternamentegrato.

    Passou os olhos pelo grupo. Fitou Bell, MacClears e Nyssen, os comandantes doscruzadores, o major Deringhouse, os mutantes e finalmente Crest e Thora, os arcnidas.

    Onde seu olhar demorou mais foi na orgulhosa arcnida. Nos ltimos anos haviam seaproximado progressivamente sob o aspecto humano, mas nunca a aproximao fora togrande que um terceiro pudesse esperar que esses belos exemplares se transformassemnum par.

    * * *

    Foi Thora, a arcnida, quem batizou a nave Centauro.Atrs dela estava o major Deringhouse. Seu rosto manteve-se impassvel, mas no

    pde reprimir o brilho dos olhos, atravs do qual exprimiu a alegria de ser comandante danave.

    Perry Rhodan, chefe da Terceira Potncia, Bell e Crest, o arcnida, mantinham-seligeiramente de lado. Enquanto Thora pronunciava, em voz firme, a costumeira frmula debatismo, Crest cochichou para Perry Rhodan:

    Ser que h alguns anos, quando tivemos nosso primeiro encontro, comonufragos presos superfcie lunar, o senhor poderia imaginar que um dia, comoadministrador do Governo Universal da Terra, tivesse que defender o planeta contra umgrupo de invasores do espao?

    Seus olhares encontraram-se. De um lado estava o arcnida, com o saber concentradoduma cultura antiqssima, e de outro lado Perry Rhodan, prottipo do homem terreno,inteligente, audacioso e confiante. Era o herdeiro do saber dos arcnidas e, juntamentecom Reginald Bell, fora o nico ao qual tinha sido conferido o dom de no envelhecer nosprximos seis decnios.

    Perry ia responder pergunta de Crest, quando Bell lhe tocou o brao e apontou paraa tela.

    Quando a imagem se firmou, a tela mostrou o rosto do coronel Freyt. O que houve? perguntou Perry Rhodan laconicamente, sem elevar a voz.Preferia que o batismo do cruzador Centauro no sofresse qualquer perturbao.

    Freyt entendeu a fala contida de Rhodan. Tambm dominou suas cordas vocais: Chefe, os rastreadores estruturais instalados em Marte e numa das luas de Saturno

    detectaram alguma coisa.Uma idia passou pela mente de Perry Rhodan.So os mercadores!, pensou. Levaram trs meses para preparar o ataque

  • Terra. E agora esto chegando. Coronel Freyt disse queira fornecer...Mas Freyt interrompeu-o em tom nervoso: Nova deteco, chefe. Mais um abalo estrutural. Foi a mesma nave que

    abandonou o sistema solar. Alarma nmero um disse Rhodan em tom decidido, lanando um olhar

    pensativo para o novo cruzador pesado da frota terrena, que acabara de ser batizado porThora, a arcnida.

    Os contornos do rosto do coronel Freyt desfizeram-se. A tela voltou ao cinza. Bellmastigou o lbio inferior. Crest parecia um homem que contm a respirao.

    O alarma nmero um foi desencadeado, e no pegou a cidade de Terrniadesprevenida. O supercouraado Stardust-III, o mximo da engenharia arcnida,conquistado por Perry Rhodan e seus mutantes no mundo dos ferrnios, estava pronto paradecolar. Tambm os cruzadores Terra e Solar System e alguns grupos de destrieresestavam preparados, enquanto outros, que cruzavam entre os planetas, mantinham avigilncia do sistema.

    O alarma nmero um foi mantido quando Rhodan convocou seus colaboradores maischegados para uma conferncia.

    A interpretao dos dados confirmara o fato de que uma nave desconhecida, vinda dohiperespao, efetuou uma transio que a levou para o interior do sistema solar, realizandopoucos segundos depois novo salto, que a levou de volta ao hiperespao.

    Reginald Bell irradiava otimismo. Ser que um embaixador dos saltadores?John Marshall, um homem alto de cabelos escuros, no alterou as feies de seu rosto

    estreito e duro. Ningum desconfiaria de que fosse um telepata. Quando Rhodan lhelanou um olhar indagador, disse:

    Conheo os mercadores galcticos, e por isso sei que essa nave que apareceu paradesaparecer imediatamente no dos saltadores. Estes esto incubando um plano parasubjugar-nos de um golpe.

    Ser que foi um salto mal sucedido? disse Bell, pensando em voz alta.Estremeceu quando Crest, o arcnida, respondeu: Os mercadores galcticos so descendentes de nossa raa, Bell... Infelizmente respondeu em tom spero Bell, que logo recuperara o controle.

    lamentvel. Se no fossem eles, os filhos de sua raa no nos dariam tantosaborrecimentos.

    Crest estacou um momento, mas logo compreendeu como deviam ser interpretadas aspalavras de Bell. Mas estas ficaram atravessadas na garganta de Thora.

    Seus olhos chisparam de raiva quando chiou para Bell: O senhor no tem o menor motivo para fazer pouco caso de nossa raa. Todo

    saber de que dispe provm dela...Estacou em meio frase. No poderia deixar de perceber o riso que Perry Rhodan

    procurava reprimir. S agora a arcnida percebeu que mais uma vez se tornara vtima dasbrincadeiras de Bell.

    Vamos aguardar disse Rhodan, encerrando a conferncia. Para osdestrieres que se encontram no sistema solar continua a vigorar o alarma nmero um. anica coisa que podemos fazer no momento.

  • 2O comandante Deringhouse podia ser encontrado em qualquer lugar dentro de suanave. Como um sonmbulo, caminhava de um lado para outro na gigantesca nave esfricade duzentos metros de dimetro.

    Dentro de uma hora, a Centauro decolaria para o vo inaugural. Pela primeira vez ocolosso se ergueria do solo, para penetrar no seu espao vital, o cosmos mortal, masadmirvel.

    Verificou pessoalmente os controles finais. Controle de armamentos!A lngua falada por todos parecia conhecer apenas esta expresso: Em ordem.Os gonimetros, as instalaes de rdio, a comunicao com a sala de mquinas, com

    os conversores, tudo em ordem...Finalmente veio o aviso definitivo de que a nave estava em ordem, e Deringhouse

    respirou aliviado.Nem se lembrou do alarma nmero um, que continuava a vigorar.Um tanto admirado, Perry Rhodan viu entrar Crest e Thora.John Marshall pretendia despedir-se. Sua capacidade teleptica, aperfeioada atravs

    dum treinamento hipntico, fizera-o perceber que os arcnidas desejavam falar a ss comPerry Rhodan.

    Quando j se dispunha a sair, Rhodan deteve-o. Fique aqui, Marshall disse em tom amvel, enquanto cumprimentava os

    arcnidas com um aceno de cabea.A testa de Thora enrugou-se ligeiramente. Sempre que alguma coisa no corresse

    conforme previra, revelava sua qualidade de arcnida sensvel. Crest, um indivduo alto emagro pertencente elite cientfica do Imprio de rcon, exibia a tranqilidade esclarecidaque se harmonizava com seu saber.

    Diante do olhar sempre amvel de Perry, a testa de Thora desanuviou-se. Sempreocupar-se com a presena de Marshall, comeou a falar.

    O tempo urge, Perry Rhodan. E o tempo trabalha a favor dos mercadoresgalcticos e contra a Terra, ou melhor, contra ns, inclusive contra rcon. A Centauro estpreparada para o vo inaugural. Permita que Crest e eu viajemos para rcon. No formuloa proposta para aproveitar as circunstncias e obter o cumprimento duma promessa, maspelo simples fato de estar preocupada com o destino da Terra, com o nosso destino...

    O rosto de Perry Rhodan assumiu uma expresso dura. Lanou um olhar perscrutadorpara Thora e Crest. Podia confiar irrestritamente no cientista, mas no era impossvel que amulher impulsiva que tinha diante de si ainda mantivesse reservas mentais.

    John Marshall estava de p atrs dos arcnidas. Reunindo suas foras telepticas,conseguia penetrar na barreira que cercava o crebro dos arcnidas, desvendando seuspensamentos.

    Quando fitou Perry Rhodan, este compreendeu a linguagem de seus olhos. Sei perfeitamente respondeu este, depois que a informao de Marshall o

    tranqilizara que ainda lhes estou devendo o cumprimento duma promessa... No disso que se trata interrompeu Thora, exaltada. Queremos buscar

    auxlio, Perry Rhodan. Aquilo, o ser que habita Peregrino, o planeta invisvel, acaba de lhe

  • recusar esse auxlio. Meu povo, os arcnidas, no o recusaro. Sem o auxlio do poderio denossa raa o senhor no conseguir manter-se contra os saltadores e os superpesados.

    O ataque pode ser lanado a qualquer momento disse Rhodan, tentando fugir deciso, embora vrias vezes j tivesse dito a si mesmo que chegara o momento em que oauxlio de fora se tornava imprescindvel.

    Mas no era apenas um homem dotado dum raciocnio e dum senso ttico frio;tambm possua o dom da intuio e da adivinhao. Uma premonio indefinvel dizia-lhe que conseguiria defender-se dos saltadores sem auxlio de fora.

    Perry Rhodan! disse Crest, dirigindo-se a ele. Seus olhares encontraram-se. Rhodan, o senhor me decepciona. Procura fugir ao problema. No adianta inventardesculpas para escapar ao destino. Thora e eu temos que ir a rcon. E temos que irimediatamente. A Centauro est pronta para decolar. Permita que viajemos nela. Ser queno confia mais em ns?

    Foi uma pergunta dura.Afinal, Perry Rhodan devia a esses dois seres todo o saber e todo o poder de que

    dispunha.Sua resposta franca e terminante impressionou os arcnidas: Nunca desconfiei dos senhores, mas prefiro adiar a viagem para rcon. Esperava

    encontrar um meio de rechaar os saltadores com meus prprios meios. Mas reconheoque isso no possvel.

    Marshall interrompeu-o: Chefe, h uma mensagem. O que ? soou a voz rangedora de Rhodan, enquanto este girava o boto da

    tela. Os traos ordenaram-se, retratando o rosto do coronel Freyt. Chefe disse Freyt em tom nervoso a estao de rdio principal, instalada na

    Lua, acaba de captar uma mensagem vinda do mesmo setor em que ontem foramconstatados os dois abalos estruturais...

    Qual o teor da mensagem? pediu Perry Rhodan.Freyt transmitiu apressadamente o contedo da mensagem: Levtan solicita permisso de aterissagem a Rhodan, chefe da Terceira Potncia.

    Peo que a resposta seja transmitida pela mesma onda. Levtan. Obrigado, coronel Freyt exclamou Perry. Freyt no compreendeu por que uma mensagem desse tipo poderia provocar tamanha

    alegria no chefe, pois subitamente o rosto do mesmo irradiou alegria. Quer dizer que no vamos a rcon? adivinhou Crest, antes que Perry Rhodan

    voltasse a dirigir a palavra aos arcnidas. Ainda no, Crest! dirigindo-se a John Marshall, disse: O senhor ouviu tudo.

    Pea a Bell que cuide da interpretao da mensagem. Voltou a dirigir-se aos arcnidas: Um momento!

    Enquanto ainda era um jovem cadete da Fora Espacial dos Estados Unidos, PerryRhodan j era considerado um reator psquico instantneo. Depois desenvolvera essafaculdade. Usando o sistema de comunicao audiovisual, mobilizou atravs de ordenslacnicas todos os postos de alarma. Suas instrues estenderam-se bem alm da rbita dePluto, onde um destrier exercia o servio de vigilncia.

    Reginald Bell, amigo e representante de Perry Rhodan, deixou cair sua figuraatarracada na poltrona, empurrou para o lado a pilha com as interpretaes da mensagem esorriu para Kitai Ishibashi, um mdico e psiclogo japons.

    Daqui a pouco o senhor ter trabalho, Ishibashi. Estamos esperando visita.

  • Algum quer falar com o chefe, o senhor da Terra. Este algum perguntou... Ser que um saltador? perguntou Kitai Ishibashi. Seus olhos em forma de

    amndoa iluminaram-se. Talvez seja um saltador. mesmo provvel que seja. O fato que no sabemos.

    Mas quando a nave dele pousar, sua hora ter chegado. Mantenha-se preparado. Acreditoque sua arte representar o fiel da balana...

    Farei o possvel asseverou Kitai Ishibashi.Bell seguiu-o com um olhar pensativo.A idia de receber uma visita dos saltadores no o deixava muito satisfeito. Havia

    algo de errado nessa histria, mas nem mesmo Perry Rhodan sabia onde estava o erro.Foi por isso que chamou Kitai Ishibashi, o sugestor, cujas energias mentais lhe

    permitiam impor a qualquer indivduo sua prpria vontade de forma to terminante que oindivduo atingido pela operao mental se convencia de que estava agindo por sua livre eespontnea vontade, no em virtude da influncia de outrem.

    Bell examinou as interpretaes.A mensagem vinda do setor em que se registraram os dois abalos estruturais era um

    fenmeno nico. A coisa no poderia ser mais demorada resmungou, enquanto calculou que a

    mensagem devia ter levado pelo menos 24 horas para chegar Lua. Hum... e isto?Leu as medies do ngulo em que a mensagem chegara estao da Lua. Ao lado

    delas estavam os clculos do crebro positrnico. Os mesmos confirmavam que amensagem redigida em linguagem no codificada deviam provir da nave que 24 horasantes provocara dois abalos estruturais.

    Talvez isso ainda fique bastante divertido... resmungou Bell, tendo em simesmo seu nico interlocutor. Talvez no fique...

    O comandante Deringhouse pretendia anunciar que tudo estava em ordem com oscontroles da Centauro, quando o sinal de rigorosa prontido soou pela nave.Imediatamente a voz tranqila de Perry Rhodan soou nos alto-falantes. Pouco depois seurosto surgiu nas telas.

    Ao comandante. Decolagem de emergncia. Transio de curta distncia emdireo rbita de Pluto. Misso de combate. Tentaremos localizar a nave desconhecidaque ontem executou dois saltos. Os dados do crebro positrnico para a decolagem e aamplitude do salto seguem imediatamente. Repita, comandante Deringhouse.

    Este repetiu toda a srie de comandos, sem parar para refletir.As comportas da Centauro fecharam-se. A tripulao e os robs corriam

    apressadamente pelos conveses da nave. De todos os lados vinham os avisos de que tudoestava em ordem. A tenso estalava em todos os cantos do cruzador.

    Com um som uivante a Centauro disparou em direo ao cu. A imensa esfera foidiminuindo at desaparecer em meio aos reflexos solares. Quando atingiu a altura de vintequilmetros, transmitiu a primeira mensagem para Terrnia.

    Dali a uma hora veio a segunda mensagem: Tudo preparado para a transio a curta distncia. Deringhouse.Todos os rastreadores do sistema solar registraram o abalo provocado pela Centauro,

    quando esta penetrou no hiperespao para executar o salto em direo rbita de Pluto.O coronel Freyt virou-se rapidamente ao notar que duas pessoas entravam na sala. No

    mesmo instante esqueceu a presena de Perry Rhodan e de Crest. H trs minutos houve novo abalo estrutural.A informao no poderia ser mais lacnica. Mas para Perry Rhodan foi suficiente.

  • Nem notou o olhar de admirao de Crest. A capacidade de extrair o mais importante dascoisas importantes, uma constante em Rhodan, nunca deixava de impressionar o arcnida.Acabara de receber outra prova disso.

    a mesma nave, Freyt? O crebro positrnico ainda est calculando. Ah, o resultado acaba de chegar,

    chefe.Leram ao mesmo tempo a interpretao do crebro positrnico: Existe uma probabilidade de 98,3 por cento de que se trate da mesma nave que

    ontem executou duas transies nas proximidades da rbita de Pluto. E a interpretao do rastreador? indagou Rhodan.O coronel Freyt j tinha a resposta preparada: Nave aproxima-se a uma velocidade que fica 0,9 por cento abaixo da da luz, vinda

    do espao interestelar e dirigindo-se ao sistema solar.O hipercomunicador chamou. A Centauro respondeu. Nave desconhecida localizada. Coordenadas conhecidas. Aproximao imediata.

    Deringhouse.

    * * *

    Os rastreadores estruturais da Centauro registraram a transio dum veculo espacial,que devia ter ocorrido nas imediaes do ponto em que se encontrava.

    O comandante Deringhouse lanou um olhar ligeiro para o telegrafista. Hipercomunicao para Terrnia ordenou e transmitiu a informao, sem

    desconfiar de que Perry Rhodan a estivesse ouvindo.A Centauro acelerou. Atrs dela foi desaparecendo o relampejar frio dos planetas

    solares. O planeta Pluto, condenado a descrever sua rbita em torno do Sol numaescurido eterna, encontrava-se em oposio.

    O comandante Deringhouse sentia-se no seu elemento. Tranqilo, estava reclinado nasua poltrona. Passou os olhos pelas telas, quadros de controle e painis; vez por outrafitava seus oficiais e tinha a impresso de encontrar-se com a melhor tripulao no melhorcruzador pesado do sistema solar.

    A posio da nave desconhecida! ordenou em tom enrgico.O dispositivo automtico instalado junto mesa de instrumentos deu um clique. O

    crebro positrnico do cruzador forneceu os dados solicitados por Deringhouse.Um oficial transmitiu os mesmos em palavras lacnicas e precisas. Acelerar dez por cento.No mesmo instante o veculo espacial deu um salto para o espao, mas no interior da

    nave a presso da acelerao no foi sentida.A Centauro precipitou-se para a nave desconhecida. As torres de armas estavam

    ocupadas, aguardando a ordem de fogo. Distncia um minuto-luz.Deringhouse confirmou com um aceno de cabea.A Centauro continuou a penetrar no espao, em direo ao desconhecido. Todas as

    faixas de ondas estavam ligadas. A qualquer instante poderia surgir um chamado da navedesconhecida.

    Distncia de dez segundos-luz. Deringhouse reduziu a velocidade da nave metade. Quando se encontrasse no limite de segurana, no queria realizar nenhumamanobra de frenagem.

  • Distncia de quinhentos mil quilmetros.A ordem de Deringhouse foi transmitida apressadamente s posies de combate. Retirar as capas dos canhes.As indicaes de distncia vinham a curtos intervalos. Quarenta mil quilmetros

    ainda os separavam do inimigo. Malditos saltadores... disse um dos homens que se encontravam na sala de

    comando. Deringhouse franziu a testa mas no disse nada, pois acabara de pensarexatamente a mesma coisa.

    Os mercadores galcticos estendiam seus tentculos em direo ao dbil planetaTerra. Descobriram-no num dos setores laterais da galxia e acreditaram que com elepoderiam fazer seus negcios pela forma que costumavam fazer com muitos mundoshabitados da Via Lctea.

    Corriam em direo a uma dessas naves dos mercadores dos inimigos mortais daTerra.

    Mensagem do desconhecido gritou o telegrafista, e Deringhouse descontraiu-seum pouco. Um certo Levtan pede permisso para vir a bordo.

    Deringhouse inclinou-se ligeiramente para a frente para aproximar-se do microfone. Ateno, postos de combate. Ao menor movimento suspeito, atirem

    imediatamente com todas as peas, sem aguardar ordem de fogo da sala de comando.Sabia que poderia confiar em seus homens. Hipercomunicador. Mensagem ao chefe disse Deringhouse com a voz

    tranqila. Nave desconhecida pede permisso para mandar um certo Levtan para bordoda Centauro. Darei a permisso. Nossas coordenadas so as seguintes...

    A estao de Terrnia limitou-se a confirmar o recebimento da mensagem. Nave desconhecida aproxima-se. Distncia de oito mil quilmetros assim foi

    anunciado o resultado da medio da distncia. O limite da segurana j fora ultrapassado. Deixe que se aproxime disse Deringhouse e acendeu um cigarro.

    * * *

    Ao lado da gigantesca Stardust-III, o couraado de Rhodan com oitocentos metros dedimetro, os cruzadores pesados Terra e Solar System estavam prontos para decolar.

    As autoridades de Terrnia haviam ordenado prontido rigorosa para as tripulaes,mas nem Perry Rhodan, nem Reginald Bell, nem qualquer dos arcnidas se encontrava abordo dos veculos espaciais.

    Por que estamos esperando por aqui? perguntou Thora, impaciente. No seiqual a graa! gritou para o amigo de Perry Rhodan, que continuava tranqilamente emsua poltrona, sorrindo por todo o rosto.

    A graa que a senhora est to nervosa, Thora respondeu Bell. Vejo nissoum trao muito humano. No chegou a dizer que os habitantes da Terra so brbaros?

    Thora e Bell no se suportavam. No podiam passar um pelo outro sem soltar umaindireta.

    Por que Deringhouse no d mais nenhum sinal de vida? perguntou Crest,encerrando a discusso. uma leviandade permitir a esse Levtan que venha a bordo daCentauro...

    Leviano? Logo Deringhouse? Perry sorriu. bem verdade que j poderiater chamado.

    Por que no o chamamos pelo hipercomunicador? insistiu Thora.

  • As comunicaes radiofnicas foram suspensas para todos os destrieres. Noposso abrir nenhuma exceo, Thora.

    Ser que o chefe da Terceira Potncia no ocupa uma posio especial? perguntou com uma ponta de ironia.

    Perry esteve a ponto de responder com uma observao mordaz, mas viu o olhar deadvertncia de Crest. Por isso limitou-se a dizer:

    A grandeza revela-se atravs do autodomnio nas pequenas coisas, Thora. E naTerra a curiosidade considerada um mal.

    Atirando a cabea orgulhosamente para trs, Thora retirou-se. Crest procuroudesculpar seu comportamento:

    a decepo de mais uma vez ver frustradas suas esperanas de ir para rcon, dever adiada a volta para seu mundo. Afinal, uma mulher, Perry Rhodan.

    Est bem, Crest Perry demonstrou pressa em mudar de assunto. Neste ponto,relacionado com a volta dos arcnidas, no tinha a conscincia muito tranqila. Por queser que a Centauro no entra em contato conosco? Rhodan lanou o olhar pela janela,contemplando seus veculos espaciais. Essas naves representavam muito pouco face aopoder dos mercadores galcticos e dos superpesados. Daria um reino por uma boa idia.

    Ele mesmo, Perry Rhodan, era o mais preocupado, o mais nervoso dos trs homensque se encontravam na sala, mas continuou a fazer o papel de plo inabalvel datranqilidade.

    Por que ser que Deringhouse no entra em contato conosco? voltou aperguntar de si para si.

    O hipercomunicador continuava em silncio.

    * * *

    Deringhouse gritou para dentro do microfone: Torre nmero dois, coloque um tiro na frente da proa!Na grande tela de viso global da sala de comando surgiu um lampejo ofuscante. Pela

    primeira vez a Centauro deu uma demonstrao de fora. A uma distncia de 3.000quilmetros quase arranca a proa da nave desconhecida.

    Paramos! foi a mensagem radiofnica em texto no codificado recebida naCentauro. Viemos para negociar, no para atacar.

    Deringhouse lanou um olhar mais prolongado que de costume para seu telegrafista.Alguma coisa no estava certa nessa mensagem expedida pela nave dos saltadores. Na suaopinio, as intenes pacficas eram pronunciadas demais.

    Comandante para os postos de combate voltou a chamar as torres de canhes. Disparem imediatamente se dentro de um minuto o mercador no estiver parado desligou e chamou o telegrafista: Mande-lhe isto.

    Tudo? perguntou o telegrafista. Sim, tudo. Quero que saibam o que podem esperar de ns.A tenso cresceu na sala de comando. Deringhouse no tirava os olhos da tela de

    viso global. A voz metlica do crebro positrnico indicava as modificaes de distncia.A mensagem destinada ao mercador Levtan havia sido expedida.

    A nave est parada referia-se ao veculo espacial desconhecido.A Centauro desenvolvia pouca velocidade. Numa curva suave, o cruzador pesado

    passou pela outra nave a uma distncia de trs mil duzentos e oito quilmetros. A nave contnua parada.

  • O prprio Deringhouse no compreendia o motivo de tamanha cautela. Tinha umasuperioridade imensa sobre o mercador, mas agia como se fosse o mais fraco.

    Estaria impressionado com aquilo que Crest lhe contara sobre os cls dos mercadorese seus patriarcas? Ou seria porque era difcil aceitar a idia de que um mercador poderiaaparecer nas imediaes do sistema solar para negociar? Bastaria que os mercadoresestendessem a mo para estrangular a Terra.

    Naquele instante Deringhouse voltou a transformar-se no piloto do caa tripulado porum homem.

    A Centauro correu velozmente em direo outra nave. O ponto reluzente da telaaumentava rapidamente.

    um saltador disse algum na sala de comando. Meu Deus! exclamou Deringhouse perplexo. Esse calhambeque est

    totalmente enferrujado. Quem ser esse sujeito que os saltadores nos mandaram?No mesmo instante James Hugh gritou: Localizao, comandante. Um objeto estranho aproxima-se a uma velocidade

    setenta e seis por cento inferior da luz. Vem de Pi 3,65 Teta 56,19 graus.O crebro positrnico interpretou esses dados e logo os transmitiu s torres de

    canhes.Ento era isso! Tratava-se dum estratagema primrio dos mercadores to primrio

    que por pouco no cai nele. Mas a indicao de distncia? A que distncia se encontrava aoutra nave?

    Descrevendo um salto tremendo, produzindo por uma quantidade inacreditvel deenergia, a Centauro passou rente nave enferrujada, descreveu uma curva arriscada eprecipitou-se na direo indicada.

    E a distncia? perguntou Deringhouse com a voz fria. Hugh, por que aindano me forneceram a distncia?

    A positrnica forneceu dois valores respondeu Hugh com a voz tmida.Deringhouse quase chegou a saltar da poltrona.

    porque so duas naves dos saltadores. Quero ambas as distncias. Vamos logo,Hugh!

    Quatro vrgula trs oito e quatro vrgula sete um segundos-luz gaguejou Hugh.A Centauro j estava acelerando a 10.000 quilmetros por segundo. Vamos estragar o prazer deles de uma vez para todas disse Deringhouse com

    uma perigosa suavidade. Depois cuidaremos do Levtan, esse perigoso anjinho da paz.

    * * *

    Contrariado, Perry Rhodan ergueu os olhos. O que houve? perguntou em tom ainda mais contrariado, mas no mesmo

    momento fez um gesto de mo para entender que a qualquer momento estaria disposto afalar com John Marshall.

    Um enviado da Federao Asitica solicita uma audincia. Pea-lhe que fale com Bell disse Perry laconicamente. No momento no podia

    perder tempo ouvindo as ciumeiras dos blocos de potncias da Terra. Acontece que o enviado faz questo absoluta de falar com o chefe da Terceira

    Potncia. No quer ir embora. Pois eu o mando embora. Diga-lhe isto em termos um pouco mais corteses.Para Rhodan a interrupo havia chegado ao fim. Entrou em contato com a

  • gigantesca estao de rdio da gigantesca metrpole de dois milhes de habitantes,enquanto John Marshall, o telepata, se dispunha a sair.

    Ainda no chegou nada? perguntou Rhodan em tom impaciente. No soou a voz metlica da membrana.Imediatamente Rhodan entrou em contato com os dois cruzadores pesados. A Terra e a Solar System decolaro imediatamente. Entrem em posio para uma

    transio a curta distncia em direo rbita de Pluto. As ordens para o salto serodadas separadamente.

    No mesmo instante o uivo potente provocado pela decolagem das naves de duzentosmetros irrompeu na sala, apesar do isolamento acstico. Girou o boto e viu que oscruzadores pesados, acelerando cada vez mais, corriam em direo camada de nuvensaltas e desapareceram na mesma.

    Sua respirao era nervosa e pesada.O que teria acontecido com a Centauro para l da rbita de Pluto? O que estariam

    tramando os mercadores?Ser que ele e toda a Terra teriam se deixado envolver numa trama dos saltadores?Ainda no teria percebido a cilada?Mais uma indagao dirigida estao de rdio.Nada.O cruzador pesado Centauro, comandado por Deringhouse, ainda no enviara

    nenhuma mensagem.

    * * *

    So dois meteoros! exclamou Deringhouse bastante contrariado. Por quetinham que existir esses blocos de metal, e por que tinham que possuir camposmagnticos? Vamos voltar ao calhambeque enferrujado.

    Perdera um tempo precioso. A Centauro teria que mostrar do que era capaz.O comandante olhou para o relgio. Assustou-se ao ver que j era to tarde. Refletiu

    ligeiramente se convinha avisar Terrnia. Resolveu ficar quieto. No havia nenhumanovidade.

    Os localizadores captaram a nave enferrujada. Continuava no mesmo lugar.Parecia que a Centauro iria abalroar o outro veculo a toda velocidade. Os oficiais

    foram olhando para Deringhouse. Nos olhares de todos havia a mesma pergunta: No vaifrear?

    Deringhouse pilotava a gigantesca esfera como se fosse uma nave de um tripulante.Subitamente as foras de frenagem rugiram na nave. Mos titnicas reduziram a

    velocidade do cruzador. Os valores g subiram vertiginosamente, mas os neutralizadoresno permitiram que fosse ultrapassado o valor g 1. Nenhum dos tripulantes sentiu apresso gigantesca produzida pela desacelerao.

    Medonha e ameaadora, fantasmagrica e silenciosa, a Centauro voltou a aproximar-se da popa da nave dos saltadores, chegando quase a toc-la com seus campos energticos.

    Levtan pode vir a bordo disse Deringhouse ao telegrafista. No quero quevenha numa nave; apenas num traje espacial. Diga-lhe que providenciaremos umtransporte seguro. Enfatize a palavra seguro.

    A mensagem foi irradiada. A confirmao do saltador no se fez esperar. Logo agrande tela de viso global mostrou que a pequena comporta da nave enferrujada se abriu,deixando sair um homem que, envergando um traje arcnida e empurrando-se, deslocou-se

  • no rumo exato da Centauro.Foi quando o telegrafista anunciou a chegada de outra mensagem. A Terra e a Solar System acabam de irradiar o sinal de chegada para Terrnia a

    partir do ponto de salto da transio de curta distncia em direo rbita de Pluto.Naquele instante um imenso raio magntico expelido pela Centauro apanhou o

    desconhecido e os imensos campos energticos da nave abriram-se por um instante paraque o mercador pudesse vir a bordo so e salvo.

    Ainda no tenho nenhuma informao para Rhodan, pensou Deringhouse, mas nopde livrar-se da impresso de que aps o pouso levaria uma tremenda bronca do chefe.

    Da pequena comporta veio o aviso: Homem a bordo. Foi revistado. No tem armas.Deringhouse respondeu: Traga-o sala de comando, acompanhado de quatro homens e dois robs de

    combate. Ento realmente veio para negociar disse James Hugh. Percebia-se pelo tom da sua voz que continuava desconfiado, sem acreditar no que

    acabara de dizer.Deringhouse tambm estava desconfiado.

  • 3A nave cilndrica de Levtan, que media cento e cinqenta metros de comprimento,estava pousada ao lado da Centauro. A Terra e a Solar System encontravam-se nos seuspontos de decolagem, como duas naves que nunca estiveram no espao. Nada indicava quesuas armas fulminantes estavam apontadas para a Lev-XIV. Ultimamente Perry Rhodanno costumava demonstrar interesse em pr Terrnia em perigo atravs da utilizao dosrecursos mais radicais de que dispunha. A conferncia acabara de ser concluda.

    Bell lanou um olhar insatisfeito para a nave dos mercadores, pessimamenteconservada.

    A impresso que Levtan me causou quando apareceu na tela foi igual a essa nave.Nunca vi um sujeito to antiptico disse.

    Foi por isso que nosso vo para rcon foi adiado disse Thora em tomagressivo, sem dar ateno ao olhar repreensivo de Crest. Num gesto de desprezo, atirou oslbios para a frente. A Lev-XIV no e nunca foi uma nave dos saltadores.

    Logo saberemos que tipo de nave a Lev-XIV e quem nos mandou Levtan interveio Perry Rhodan.

    Estas palavras puseram fim discusso.Deringhouse surgiu na porta acompanhado de dois robs de combate e entregou o

    forasteiro.Um homem de baixa estatura com traos monglicos entesou o corpo quando viu os

    robs desaparecerem. Com um sorriso autoconfiante, inclinou-se diante do grupo dehomens.

    Parecia desleixado como sua nave. E a Lev-XIV no estava apenas enferrujada; fediade tanta sujeira.

    Thora torceu o nariz e recuou. Crest fitou o mercador, demonstrando um certointeresse cientfico. O rosto largo de Bell revelou tudo aquilo que um diplomata nuncadeve revelar. Apenas Perry continuou o mesmo. Dominava a situao. Ainda no semostrava disposto a proferir seu julgamento, pois no sabia o que trouxera Levtan Terra.

    Mas logo ficou sabendo. No era toa que os melhores dentre os seus mutantes seencontravam nos fundos da sala. John Marshall j estava lendo os pensamentos de Levtan.

    Crest dirigiu a palavra ao saltador: Levtan, o senhor no um mercador. J foi, mas agora apenas um pria, um

    elemento proscrito.Um brilho traioeiro passou pelos olhos oblquos de Levtan. Olhando de baixo,

    examinou a figura alta do arcnida. O senhor de rcon? perguntou em tom atrevido, em vez de responder

    observao de Crest. O senhor um pria disse Crest, enfatizando a afirmativa anterior, enquanto

    admitiu ser um arcnida. Perry Rhodan recebeu a informao cochichada que JohnMarshall lhe transmitiu.

    Levtan um traidor, um desesperado e um elemento proscrito. Suas idias estodominadas pela torpeza, pela traio e pela inteno de praticar chantagem.

    Neste momento est refletindo sobre a maneira de lograr-nos.Perry Rhodan adiantou-se ligeiramente. Deu seu nome a Levtan.

  • Perry Rhodan... repetiu o saltador proscrito e envolveu o chefe da TerceiraPotncia com um olhar. Onde est a outra nave arcnida que o senhor possui, Rhodan?Nunca acreditei nesse blefe. Sabia perfeitamente que at hoje o Imprio s perdeu umanave desse tipo. Mas no se preocupe; saberei guardar seus segredos, desde queconsigamos entender-nos no terreno dos negcios.

    Perry no se alterou. Continuou a fitar Levtan com uma expresso fria. No tenho necessidade de blefar.O atrevimento daquele saltador desleixado era espantoso. Em tom petulante

    interrompeu Rhodan. Tambm eu no confessarei logo todas as mentiras que soltar diante do senhor.

    Sua sorte, Rhodan, que os cls ainda acreditam que o senhor dispe de duas naves daclasse da Stardust. Bem, deixemos isto de lado...

    John Marshall avanou, vindo dos fundos da sala. Passou pelo chefe e s parouquando estava quase pisando nos ps de Levtan.

    Perry Rhodan achava que ainda era cedo para ensinar boas maneiras a Levtan.Cochichou para Marshall, ordenando-lhe que se limitasse a chocar o saltador com um fato.

    John Marshall reagiu imediatamente, embora j tivesse outra frase na ponta dalngua.

    Levtan, o senhor seria capaz de repetir a safadeza com o cl de Gaxtek que osenhor praticou na estrela Caster?

    Todos ouviram a respirao pesada de Levtan, que logo soltou um gemidoburborejante e se abaixou como um cachorro que acaba de levar um pontap. Um olhar defalsidade atingiu Marshall. Em tom odiento perguntou:

    Como soube disso? Vamos ao que importa, Levtan interveio Perry Rhodan. O tom de sua voz no

    admitia rplica. Por que no nos chamou pelo hipercomunicador? Por que usou aquelaonda-tartaruga?

    Agira propositadamente ao dar essa formulao pergunta. Era necessrio robustecerpor um curto lapso de tempo a autoconfiana de Levtan. Os mutantes telepatas ainda notinham conseguido extrair todas as informaes de sua mente.

    Com um sorriso arrogante Levtan respondeu: No sou um idiota para chamar a ateno dos saltadores por meio duma

    mensagem pelo telecomunicador. Por causa do senhor em toda nave dos saltadores hconstantemente algum ocupado com o gonimetro. Bem, vamos ao que importa. Querovender uma informao, mas antes de entreter a idia de fazer este negcio com o senhor,tomei minhas precaues. No sou o nico elemento proscrito de minha raa. Dois amigosque tambm sabem do blefe a respeito da Stardust aguardam meu regresso apenas porvinte e quatro horas terrenas. Se no voltar, agiro. Ento, Rhodan, vamos fazer umnegcio?

    Marshall cochichou ao ouvido de Rhodan: Levtan est blefando. Pensa ininterruptamente nos mercadores e vez por outra

    lembra-se duma conferncia muito importante.A palavra conferncia produziu um choque em Perry Rhodan. Tire tudo disse a Marshall, enquanto Bell se dirigia a Levtan: Nossos conversores so to grandes que podem acolher o senhor com todo o cl

    dos ciganos espaciais. Por enquanto nossas intenes so pacficas, saltador. Mas no mevenha mais com esses dois amigos que no existem. Vamos...

    Levtan no se deixou intimidar. A ameaa do conversor no o impressionou. Com

  • um olhar matreiro contemplou a figura baixa de Bell. Ontem saltei duas vezes e hoje uma vez. Os mercadores galcticos no esto

    dormindo. Se tiverem medido o abalo estrutural, a esta hora podem encontrar-se a caminhocom uma pequena frota dos superpesados...

    Foi quando interveio Tama Yokida, o telecineta que, pela simples fora de suavontade, podia transportar objetos pesados a qualquer lugar.

    Queria que Levtan se aproximasse do teto.Subitamente o pria, cujo rosto retratava o pavor, comeou a debater-se

    desesperadamente em busca dum apoio, enquanto subia lenta e inexoravelmente emdireo ao teto.

    Devamos deixar que morresse de fome l em cima disse Bell em tomcontrariado, fitando-o prolongadamente. Levtan, diga logo o que tem a nos oferecer,seno vamos trat-lo pela forma como os mercadores costumam tratar seus prisioneiros.

    Tama Yokida, um japons de estatura mdia que estudava astronomia at que PerryRhodan teve conhecimento de suas qualidades de mutante e o incorporou ao seu exrcito,manteve-se imvel nos fundos da sala e sustentava o pria Levtan no teto.

    Marshall transmitiu esta informao ao chefe: Est amolecendo; j no pensa em truques. J no tem certeza se sua informao

    vale alguma coisa para ns. Em algum lugar da galxia est havendo uma reunioextraordinria dos mercadores.

    Perry Rhodan percebeu a oportunidade. Assumiu o comando das negociaes com opria dos saltadores. Por intermdio de Marshall ordenou a Yokida, o telecineta, quefizesse Levtan descer ao cho.

    O mercador, apavorado, desceu devagar, que nem um balo. Quando se viunovamente de p, passou a mo pela calva suarenta, enxugou a mo na barba rala e soltouum forte gemido.

    Levtan principiou Rhodan em tom calmo o senhor est precisando deauxlio. Dar-lhe-emos todos os recursos de que sua nave est precisando. Em compensaoo senhor nos dar todas as informaes sobre a reunio dos mercadores galcticos.

    Era uma atitude tpica de Perry Rhodan. Dava a impresso de ter jogado o melhortrunfo, quando na verdade apenas acabara de apresentar a carta mais baixa.

    Preciso de armas rangeu a voz de Levtan, enquanto seus olhos brilhavam numaexpresso gananciosa.

    No mesmo instante soltou um grito de pavor e recuou at a porta. Um homem se fezdiante dele. Um homem pequeno e franzino com rosto de criana surgiu do nada.

    Esse homem, que era japons como Yokida, seguiu Levtan de perto. As armas no so o que mais preciso retificou o pria apressadamente. Ao que

    tudo indicava, no estava disposto a arriscar um contato mais estreito com aquele homemfranzino. Com todos os patriarcas, isso uma coisa horrvel...

    Ainda no est sendo bem sincero, chefe cochichou John Marshall ao ouvidode Perry Rhodan.

    Faa Ras Tshubai entrar em ao ordenou Rhodan.O pavor de Levtan subiu ao infinito. No instante em que o homem franzino dava o

    ltimo passo em sua direo, um homem alto e esbelto, de tez escura, fez-se do nada. Meu nome Ras Tshubai, Levtan. Quer que lhe apresente meus amigos? Est maduro, chefe anunciou Marshall. Levtan disse Rhodan num tom que revelava a maior indiferena. Dou-lhe

    um minuto para oferecer sua mercadoria. Se no me oferecer tudo, mas apenas uma parte,

  • farei com que os mercadores saibam do nosso encontro.Foi quando John Marshall interveio bastante nervoso: Chefe, na reunio dos mercadores galcticos o patriarca Etztak apresentar um

    relatrio sobre o senhor.Perry Rhodan, o reator psquico instantneo, ainda acrescentou o seguinte s

    palavras destinadas a Levtan: Acho que Etztak ficaria muito satisfeito em tirar o senhor da Lev-XIV. No da

    mesma opinio?O pria quase desmoronou. Teve que reunir todas as foras para manter-se de p.

    Estava satisfeito em ver que o negro e o homem franzino o seguravam de um lado e deoutro, mas quando quis apoiar-se nos mesmos, pegou no vazio e viu-se s.

    Logo viu os dois homens, que num pestanejar saram de junto dele, dissolvendo-seno nada, parados junto janela, atrs do extenso grupo que ali se encontrava.

    Eu... eu... fungou, cambaleando e comprimindo as tmporas direi tudo. Noquero negociar.

    Vamos logo! disse Perry Rhodan laconicamente, lanando-lhe um olharenrgico.

    * * *

    Em Terrnia surgiu uma nova Lev-XIV.Perry Rhodan colocara mais de trezentos robs sobre a nave arruinada. Mostrava-se

    to generoso para com Levtan, o pria, que at Bell se espantou e chegou a resmungar: No precisa dar um presente de milhes a esse traidor.Rhodan lanou um olhar pensativo para o amigo. Voc ainda se lembra de que eu estava disposto a dar um reino por uma boa idia? E da? No venha me dizer que esse cigano das estrelas lhe trouxe uma boa idia

    com sua traio. Ser que pretende conquistar o planeta em que os patriarcas voconferenciar sobre nossa destruio?

    Isso mesmo. Dou um reino por uma cadeira fungou Bell, lanando os olhos em torno sem

    encontr-la. Perry, a piada que voc acaba de fazer to infame como a que Aquilo ouEle fez conosco, ao bancar o frio e no permitir que atravessssemos os camposenergticos do Peregrino. Quer conquistar um planeta? Com qu? Com nossa frotaliliputiana? Acha que com ela poder enfrentar os mercadores?

    Talvez possamos conquistar um planeta com outros meios que no sejam umafrota espacial respondeu Perry sem abalar-se. Sorriu para Reginald Bell e virou-se paracumprimentar Kitai Ishibashi.

    Perplexo, Bell seguiu o amigo com os olhos. Um reino por uma boa idia. verdade, era o que Perry estava disposto a dar. E

    agora d um presente de milhes a esse cigano. Um reino uma coisa muito cara. Mas,caramba, como ser que Perry pretende agarrar os patriarcas sem lanar mo da frota?

    Viu Perry ao lado de Kitai Ishibashi, o sugestor, a falar com o mesmo. Mas no sedeu conta do ovo de Colombo.

    * * *

  • O alarma foi suspenso.Os amigos mais chegados de Rhodan imploraram para que no se arriscasse a tanto.Perry mantinha-se calado, mesmo diante de Bell. Mas Reginald Bell conhecia o

    amigo; sabia que o mesmo obrigava uma idia a adquirir forma definitiva.Depois de algum tempo, Rhodan procurou Crest, o arcnida. Conversou com ele. O

    chefe da Terceira Potncia fez de conta que o perigo que os mercadores galcticosrepresentavam nem existia.

    Quando Rhodan despediu-se de Crest, este pensou que tivesse tido um dos raros bate-papos com o mesmo.

    Enquanto se dirigia ao Dr. Frank Haggard, o descobridor do soro anti-leucmico quesalvara a vida de Crest depois do malogrado pouso da nave arcnida na Lua, Rhodanencontrou-se com Bell.

    Aonde vai, Perry? Vou falar com o Dr. Haggard. E onde esteve? Acabo de falar com Crest. Est com pressa, Perry? Tambm estou.Com um sorriso, Perry viu o amigo baixote afastar-se. Sabia o que estava afligindo

    Bell: procurava adivinhar o plano que ele, Rhodan, concebera para afastar o perigo queameaava a Terra. E Reginald iria procurar Crest, para ver se conseguia extrair algumainformao do mesmo.

    Tambm o Dr. Frank Haggard surpreendeu-se em ver Perry Rhodan to loquaz. Enem desconfiou quando, pouco depois, Reginald Bell apareceu e procurou saber sobre oque haviam conversado. Disps-se logo a dar a informao.

    Mal-humorado, Bell foi ao seu escritrio. No conseguira descobrir nada de concreto.No atribuiu maior importncia conferncia dos mutantes com o chefe.

    Deve ser um encontro de rotina, pensou.Acontece que, no curso dessa conferncia, o plano de Perry Rhodan assumiu forma

    definida.Com um gesto disfarado, Kitai Ishibashi enxugou o suor da testa. O sugestor

    japons, um homem alto e magro, parecia totalmente esgotado. Tivera uma tarefa imensadiante de si. E agora j a deixara para trs.

    Acabara de impor sua vontade aos quarenta indivduos que compunham a tripulaoda Lev-XIV a tal ponto que todos, inclusive o sagaz Levtan, acreditavam que cada ato,cada pensamento, cada palavra seria produto de sua vontade espontnea.

    Sugerira-lhes uma quantidade imensa de dados, implantados na mente de cada um,como se fossem uma engrenagem complicada. Perry Rhodan acabara de realizar, em suapresena, o ensaio geral com Levtan.

    Tudo correra conforme fora previsto. Obrigado, Ishibashi disse Perry Rhodan em tom cordial, apertando-lhe a mo.

    Acontece que o senhor tem outras tarefas diante de si...O plano genial, que passaria histria da humanidade com o nome de Lance

    Galtico, ainda estava sendo aperfeioado nos seus detalhes.

    * * *

    Com a preciso dum rastreador estrutural, os fatos se foram conjugando. De repenteBell notou a falta de Tako Kakuta, o teleportador. Antes que pudesse formular uma

  • pergunta a respeito, deu-se conta de que fazia vrios dias que no via John Marshall eTama Yokida.

    Onde esto eles? gritou pelo intercomunicador. Ser que entendi bem?Kakuta, Marshall e Yokida foram internados na clnica, no setor particular de Haggard?

    Realmente estavam internados na clnica. Reginald Bell pegou um carro e foi at l.Em companhia do Dr. Haggard viu-se diante de trs camas, estacou, lanou mais um

    olhar e resmungou em voz baixa para o mdico: Pedi para ver nossos mutantes, no esses ciganos das estrelas. Acontece que so nossos mutantes afirmou o Dr. Haggard com a maior

    tranqilidade.Bell no estava num dia de bom humor. Dr. Haggard disse em tom spero.No mesmo instante o paciente desapareceu de uma das camas, enquanto o doente

    surgiu do nada diante de Reginald Bell. Bell nem chegou a engolir em seco. Kakuta! berrou, e suas mos volumosas estavam a ponto de agarrar o japons

    franzino, que parecia ser um dos ciganos estelares da nave de Levtan.Mas suas mos agarraram o vazio. Num segundo pulinho, Tako Kakuta teleportara-se

    de volta para a cama. Estou doente! gritou Kakuta, sorrindo. Aquele homenzinho, que j se permitira vrias brincadeiras com Bell, sabia ser

    prudente. Conhecia o temperamento do outro. Ainda lhe toro o pescoo gritou Bell. Com um olhar pouco gentil para o

    Dr.Haggard, saiu ruidosamente.Aos poucos uma luz foi surgindo em seu esprito.Comeou a compreender o plano de Rhodan, mas no acreditava muito no mesmo.

    Uma vez no corredor, disse de si para si: o gesto desesperado do homem que procura agarrar-se numa palha para no

    morrer afogado.

    * * *

    Reginald Bell foi a Pequim na qualidade de representante de Perry Rhodan. AFederao Asitica acreditava ter motivos de queixa por causa das violaes cometidaspelo Bloco Ocidental.

    Consumira trs dias nas negociaes e conferncias da Federao Asitica. Durantetrs dias aborrecera-se com as ninharias, que no guardavam a menor proporo com operigo que ameaava a Terra. O Bloco Ocidental tivera sua parcela de culpa nacontrariedade manifestada pela Federao Asitica.

    Bell falara com lngua de anjo. Mas ao anoitecer do terceiro dia de confernciasinterminveis, quando percebeu que no avanara um passo, sua pacincia chegou ao fim.

    Perry Rhodan no poderia ter enviado a Pequim um representante menos diplomataque Reginald Bell.

    De qualquer maneira, o mtodo de Bell foi coroado de xito. Quando, na sala deconferncias, entrou em contato com Washington, para onde tambm transmitiu uma sriede observaes nada amveis, pde ir cama pela meia-noite, dizendo: Finalmente!

    Voltou para Terrnia num destrier.Pilotou-o pessoalmente. Nunca se privava desse prazer. O comandante estava sentado

  • na poltrona do co-piloto.Bell estava muito bem-humorado.O suor brotava de todos os poros do comandante do destrier, que quase no

    conseguia respirar. Na sua imaginao j se via estatelado no cho juntamente com seudestrier.

    Numa velocidade incrvel, Bell realizou uma descida ngreme junto ao campo depouso.

    Senhor... O que houve desta vez? disse Bell com um sorriso que cobria toda a largura de

    seu rosto, olhando para o co-piloto.As energias tremendas da frenagem seguraram o destrier, levando-o imobilidade.

    Bell colocou a nave na horizontal. Com um solavanco quase imperceptvel a mesmapousou.

    Finalmente estamos em casa disse Bell, contemplando o espaoporto. J seesquecera de que com seu pouso prenunciador de catstrofe pregara um susto mortal aocomandante.

    Inclinou-se precipitadamente para a frente e fitou a rea de pouso do couraado.A Stardust-III havia desaparecido. No conseguiu descobrir o veculo esfrico de

    oitocentos metros de dimetro, o couraado de Perry. Onde est Rhodan? berrou para dentro do microfone. Em Vnus soou a resposta vinda do alto-falante.

    * * *

    S havia um meio de realizar o plano de Perry Rhodan com alguma chance desucesso: atravs do crebro positrnico instalado em Vnus.

    O crebro positrnico fora instalado h muitos milnios pelos arcnidas no interiorduma montanha rochosa. Esquecido por essa raa, foi redescoberto por Rhodan, que vriasvezes o utilizara.

    Mais uma vez viu-se diante do mesmo. Sozinho diante do gigantesco painel,introduziu uma seqncia quase infinita de dados no crebro-mamute.

    Durante o vo para Vnus conversara horas a fio com Crest. Falavam exclusivamentenos mercadores galcticos, seus cls e suas leis.

    O crebro positrnico informou-o de que dentro de vinte e quatro horas poderia obtera resposta.

    Aguardou pacientemente que esse prazo se esgotasse.Mais uma vez viu-se sozinho diante do crebro positrnico, calmo e descontrado.

    Pensava nos mercadores, que representavam o maior perigo que a Terra j enfrentara.Eram uma raa to antiga como a dos arcnidas. Mas nos espaos interestelares

    passaram a constituir uma raa distinta, criando leis destinadas a evitar a ruptura dos elosfracos que os uniam.

    Uma lei antiqssima determinava que um indivduo proscrito s poderia serreadmitido nos cls dos mercadores, se realizasse algo de extraordinrio, que trouxesseuma vantagem considervel para toda a raa dos mercadores.

    O crebro forneceu a soluo do problema.As mos de Perry no tremiam enquanto lia os clculos precisos e reconhecia os

    problemas que ainda teria de solucionar.Dali a uma hora a Stardust-III iniciou sua viagem de volta Terra.

  • Chegou a Terrnia meia hora depois do regresso de Bell.

    * * *

    Kitai Ishibashi, o sugestor, batizara seu mtodo de processos por camadas. PerryRhodan interrompeu-o.

    Ishibashi, no podemos assumir o menor risco. O que est em jogo muitovalioso. Desta vez confio exclusivamente na sua capacidade. A sugesto profunda deveatingir no apenas Levtan, mas todos os tripulantes de sua nave. Entendido?

    Entendido. Pois venha comigo. Levtan est esperando por mim na sala ao lado. Pedi que

    comparecesse para uma troca de idias.

    * * *

    A fora sugestiva de Kitai Ishibashi foi penetrando cada vez mais profundamente namente de Levtan.

    Rhodan observava os dois.O sugestor impunha a vontade estranha mente do mercador proscrito por camadas

    sucessivas. Acabara de falar com Perry Rhodan a respeito de transplantes maisprecisamente, do transplante duma faixa de pele sadia sobre uma grande rea queimada docorpo.

    A vontade e a fora de representao de Ishibashi transformaram-se na mente, numsaber por ele mesmo assimilado e experimentado. Perdeu o carter estranho, identificando-se com o pria.

    Levtan viu o centro de armamentos de Perry Rhodan, situado em Vnus. Eramgigantescas cavernas escondidas sob a rocha, que se estendiam por centenas dequilmetros, e abrigavam um enorme estaleiro espacial, de cujas fitas de montagem saa acada hora uma imensidade de robs e de armamentos.

    E a vontade de Kitai Ishibashi apresentou-lhe quadros imaginrios dum espaoportosituado em Vnus, instalado abaixo do solo e protegido por campos energticos, enormescomportas e quilmetros de rocha. Viu mais de cem cruzadores do tipo da Terra e da SolarSystem e vinte e duas naves do tipo da Stardust-III.

    Perry lanou um olhar insistente para Kitai Ishibashi. O japons parecia dormir.Ligeiramente inclinado na poltrona, estava com as mos entrelaadas e os olhos fechados.Nenhum movimento do rosto traa os esforos imensos que pesavam sobre ele.

    De repente Ishibashi abriu os olhos e informou Rhodan de que ele, o chefe daTerceira Potncia, teria que encarregar-se de Levtan.

    Perry olhou para o relgio.Um minuto se passara desde o instante em que Ishibashi iniciara o tratamento do

    pria. Este despertou da sugesto e respondeu pergunta de Rhodan, que foi a nica coisaque ouviu antes do tratamento.

    Est certo respondeu o chefe da Terceira Potncia com a voz tranqila. Pode decolar dentro de trs dias, Levtan. Acho que fez um bom negcio, no fez?

    Sabia perfeitamente o que Levtan estava pensando. O saltador proscrito via em suamente a base fictcia de Vnus. A frota de mais de cem cruzadores pesados e vinte e duasnaves de oitocentos metros de dimetro. Era uma armada de supercouraados.

    Comparou esse poderio com o valor da notcia com que trara sua raa e no pde

  • deixar de responder afirmativamente pergunta de Rhodan. Mas logo seu cartertraioeiro veio tona:

    ...mas o senhor tambm teve seu lucro, Rhodan. Seus robs examinaram todos oscantos de minha nave. Aposto que encontraram muita coisa que o senhor ainda noconhecia. Como...?

    Tenho a impresso de que o senhor ainda faz um juzo muito elevado a seurespeito, Levtan. Afinal, um proscrito. A presuno o ltimo dos passos que conduzemao abismo...

    O senhor com suas vinte e duas naves do tipo da Stardust pode falar grosso disse Levtan em tom odiento. O tom de sua voz revelava a mais pura inveja. Mas nomesmo instante voltou-se no mercador hbil e experimentado. De qualquer maneira,por enquanto me livrei do aperto. Quer dizer que dentro de trs dias poderei decolar.

    O senhor ter que decolar, Levtan avisou Rhodan, levantando-se. Hoje osquatro tripulantes de sua nave que adoeceram recebero alta.

    Amanh interrompeu Kitai Ishibashi, que se sentia to exausto que hojepreferia no realizar mais que uma sesso.

    Sabia que com isso poderia subverter o cronograma de Perry Rhodan. Engoliu osuspiro de alvio que esteve para soltar quando este retificou suas palavras.

    Compreendo respondeu Levtan com um olhar traioeiro. Somos expulsos.Da Terra no esperava mesmo um tratamento diferente.

    * * *

    O Dr. Frank Haggard convocou toda a tripulao da Lev-XIV para comparecer clnica. S Levtan foi dispensado; j havia sido submetido ao tratamento.

    Para que tanta vacina? resmungou um dos saltadores. Afinal, para que serveisso?

    Haggard fez uma ligeira exposio.Cada vacina demorava um minuto. Era o tempo suficiente para que Kitai Ishibashi

    aplicasse a cada tripulante seu tratamento por camadas.Ele mesmo era o ltimo paciente.Ainda no tinha o aspecto dum cigano estelar.Deitou calmamente na mesa de operaes e entregou-se arte mdica arcnida do

    Dr. Haggard. Tinha certeza de que nenhum dos tripulantes da Lev-XIV ficaria desconfiadopelo fato de que um dos quatro doentes da nave sara da clnica um dia depois dos outros.

    A ltima coisa que Kitai Ishibashi sentiu quando foi envolvido pela anestesia foi amsica vinda dum mundo irreal.

  • 4Vinte dias depois de ter pousado em Terrnia, a Lev-XIV decolou do espaoporto esubiu lentamente ao cu lmpido do deserto de Gobi.

    Levtan, o saltador, que fora expulso da comunho dos cls dos mercadores, deixava aTerra com sua tripulao, aumentada de quatro elementos, a fim de trair Perry Rhodan.

    Era este o grande lance galtico.

    * * *

    O campo energtico protetor voltara a fechar-se sobre a metrpole de dois milhes dequilmetros enquanto a Lev-XIV ia diminuindo. Nada indicava o estado de alarma.

    Este foi proclamado pelo prprio Rhodan.As salas de comando das quatro naves de grande porte de sua frota receberam as

    horas de decolagem.Decolagem dentro de duas horas.Nunca a curiosidade quanto ao destino duma viagem fora tamanha. Avanar at a rbita de Pluto velocidade da luz ordenou Rhodan.Era o rumo que a nave de Levtan acabara de tomar. Ser que Perry Rhodan pretendia

    seguir o pria a uma distncia segura, a fim de descobrir para onde o mesmo iria? Ser queno confiava nas informaes que seus telepatas haviam extrado da massa cinzenta deLevtan? No estaria acreditando na grande conferncia dos patriarcas no sistema 221-Tatlira?

    221-Tatlira. Os gigantescos mapas estelares da Stardust-III no registravam nenhum sistema com

    esse nome. Mas descobriram os dados no catlogo da Lev-XIV.A hora da decolagem chegou.Mais uma vez Rhodan pilotou a Stardust-III. As naves Centauro, Terra e Solar

    System seguiram na sua esteira.Desenvolveram velocidade inferior da luz at atingirem a rbita de Pluto.A tenso parecia estalar no interior de cada nave. Nenhum dos homens estava

    acostumado a essa viagem em velocidade de tartaruga.Notou-se a falta de quatro membros do Exrcito de Mutantes: John Marshall, o

    telepata, Tako Kakuta, o teleportador, Kitai Ishibashi, o sugestor, e Tama Yokida, umindivduo muito retrado, no qual ningum desconfiaria um telecineta de potnciaextraordinria.

    Perry Rhodan no permitiu que lhe formulassem perguntas.Mais uma vez transformara-se no plo que irradiava tranqilidade em todas as

    direes. Apenas uma pessoa no acreditava nessa tranqilidade aparente: era ReginaldBell. Mas este manteve-se calado.

    Por dentro, Perry Rhodan ardia como um vulco no momento da irrupo.O chefe da Terceira Potncia envolvera-se na maior e mais perigosa das aventuras de

    sua vida. Durante toda a existncia da Terra, a existncia da mesma nunca estivera por umfio to delgado como naqueles dias e nos que se seguiriam.

    Os postos de observao da Stardust-III no perdiam o controle sobre a nave dos

  • mercadores.Ao atingirem a rbita de Pluto, as quatro naves pararam e mantiveram-se imveis no

    espao. Vamos esperar aqui disse Rhodan laconicamente.Encontrava-se diante do grande crebro positrnico. Vez por outra lanava um olhar

    pensativo para o gigantesco painel.Todos procuravam manter-se afastados do chefe, inclusive Bell.Havia uma coisa muito importante no ar.Teria Perry Rhodan aguardado a transio da nave dos saltadores?Os rastreadores estruturais acabaram de medir um salto. Rhodan ordenou em voz

    alta: Tragam-me todos os dados.Os dados chegaram, e Rhodan introduziu-os no crebro positrnico.Bell e as outras pessoas que se encontravam presentes observavam-no. No

    entendiam a finalidade do trabalho apressado, mas preciso de Rhodan.Este moveu outra chave.O crebro positrnico da Stardust-III estava acoplado aos crebros dos trs

    cruzadores.O resultado chegou, e chegou simultaneamente na Terra, na Solar System e na

    Centauro. Saltaremos dentro de trs segundos gritou Rhodan para dentro do microfone.A contagem automtica de tempo foi iniciada simultaneamente nas trs naves.O resultado fornecido pelo crebro positrnico dera origem a milhares de ligaes em

    cada uma das naves.E as quatro naves saltaram ao mesmo tempo atravs do hiperespao.Por meio dum desempenho energtico inconcebvel, as gigantescas esferas foram

    retiradas do universo normal e trasladadas para o hiperespao, que continuava a ser ummistrio inacessvel mente humana. Dessa forma eram atiradas, no chamado tempo zero,por distncias enormes, para voltarem ao ser no fluido espacial com que estavamfamiliarizadas.

    Como sempre, Perry Rhodan foi o primeiro a despertar do estado de semiconscincia.Recuperando-se imediatamente do choque provocado pela transio, tinha concludo oexame dos instrumentos mais importantes quando os outros retornavam lentamente aomundo da realidade.

    Um sistema semelhante ao sistema solar. Distncia da Terra, mil e doze anos-luz.Sete planetas. Um deles, o segundo, figura no catlogo dos saltadores como o planeta deGoszul Perry Rhodan apontou para a tela de viso global da Stardust-III, onde o brilhode uma estrela de primeira grandeza superava o de todos os sis.

    Notou o olhar indagador de Bell. Localizao gritou nesse instante uma voz spera.Rhodan voltou-se tranqilamente para o oficial que servia o instrumento de

    observao: Se for apenas um objeto, deve ser a Lev-XIV. Levtan, o pria, est a caminho do

    planeta de Goszul, a fim de revelar aos patriarcas dos saltadores o poderio de nossa frota. apenas um objeto?

    Apenas um gaguejou o homem, perplexo diante da segurana de Rhodan. Desloca-se velocidade de duzentos e cinqenta mil quilmetros por segundo em direoao segundo planeta, mas...

  • Mas o qu? perguntou Rhodan laconicamente. E o nosso salto? Os rastreadores estruturais dos mercadores devem ter registrado o

    abalo espacial.Perry Rhodan foi para junto dele e colocou-lhe a mo sobre o ombro. Com uma

    insistncia quase hipntica disse: A Lev-XIV teve que realizar dois saltos para vencer uma distncia superior a mil

    anos-luz. O segundo salto da Lev-XIV coincidiu com nosso salto. Se tivemos sorte, osmercadores constataram apenas uma transio nas imediaes. Depois disso s falta quedescubram o pria, para que saibam quem deu o pulo.

    Tiveram sorte.

  • 5Levtan torceu-se depois de vencer o choque da segunda transio, quando viu na telaa estrela fulgurante e percebeu que se tratava da 221-Tatlira.

    Sentiu-se tomado de pnico, de medo dos patriarcas dos mercadores galcticos, queh anos o expulsaram das suas fileiras porque viam nele um elemento desonesto.

    Fez com que a Lev-XIV se deslocasse em direo ao segundo planeta a oitenta porcento da velocidade da luz. No ouvia o que os membros do cl lhe diziam. Olhavaconstantemente para o aparelho de observao. Tinha o rosto desfigurado. No sabia seestava voando para a morte, ou se voltaria a ser admitido na comunidade dos mercadores.

    Deixe-me em paz! berrou para seu sobrinho, que se encontrava no assento doco-piloto. Quem est pilotando esta nave sou eu. A nave minha, e eu sou ocomandante.

    Seus berros foram ouvidos trs cabines adiante. Logo atrs da sala de comando setehomens estavam sentados num pequeno recinto, que graas generosidade de Rhodan forainstalado luxuosamente e oferecia todas as comodidades.

    Estava sendo ocupado pelos mutantes de Rhodan. Kitai Ishibashi no teve a menordificuldade em sugerir aos prias que lhes oferecessem esse recinto.

    Olhavam-se disfaradamente. O velho est enlouquecendo disse John Marshall em tom indiferente, lidando

    na regulagem de preciso de seu agregado audiovisual. Tomara que isso d certo cochichou Kakuta e estava falando srio. Descobrira

    em sua tela alguns pontos que um segundo antes no estavam l. Esto chegando! berrou Levtan na pequena sala de comando. So seis disse Tako Kakuta tranqilamente.Ningum respondeu. Mas Levtan voltou a gritar na sala de comando: Um couraado espacial! Um couraado espacial!Os receptores da Lev-XIV estavam ligados a todo volume. A mensagem do

    couraado foi ouvida at a popa da nave dos prias: Nave que se aproxima, qual o nmero de registro? Qual o cl? Queira fornecer

    o cdigo.Mais uma vez Levtan sentiu-se tomado de pnico. Em vez de responder, de fornecer

    qualquer explicao, modificou o curso da nave, acelerou ao mximo e fez uma curva parabombordo.

    Um raio ofuscante saiu das profundezas do espao e procurou atingir a Lev-XIV.Uma boa estrela estava protegendo o pria. Foi s graas repentina mudana de rota

    que no se transformou numa nuvem de gs juntamente com a Lev-XIV.O tiro seguinte do couraado tambm no acertou no alvo.Levtan quase chegou a colocar a nave de cabea para baixo. Na cabine situada junto

    sala de comando sete homens engoliam em seco. Viam o sol 221-Tatlira correrloucamente pela tela e desaparecer na margem superior da mesma.

    Os reatores da nave zumbiram, da sala de mquinas veio um som agudo, ospropulsores funcionaram ao mximo de sua capacidade e aceleraram a nave quase at olimite da velocidade da luz.

    Quero ver se l fora est caindo neve disse Marshall e levantou-se.

  • No se esquea de levar um agasalho gritou Dorget, um dos membros do cl. Vou com voc disse Kitai Ishibashi, fez uma volta em torno de dois homens e,

    uma vez no corredor, acompanhou Marshall.Limitaram-se a trocar um olhar.Ningum contara com o incidente. Nem mesmo Perry Rhodan.Os campos energticos da Lev-XIV deviam ter sido atingidos por um dos raios

    disparados pelo couraado espacial. Por um instante no houve energia para osneutralizadores gravitacionais da nave. Todos os ocupantes da nave tiveram a impresso deque iriam arrebentar sob o impacto das foras tremendas que subitamente desabaram sobreeles.

    O perigo passou, mas dois dos trs campos energticos da nave mercante ainda nohaviam sido restaurados.

    Na sala de mquinas ouviu-se gente praguejando. Levtan est louco de medo. No sabe o que est fazendo disse Marshall,

    dirigindo-se ao sugestor. Logo voltou a concentrar-se sobre os pensamentos do pria.Kitai Ishibashi sobressaltou-se. Teria cometido um erro? Ser que o tempo de

    sugesto no fora suficiente? Tenho que entrar na sala de comando cochichou Marshall para o companheiro,

    desviando-se do sobrinho de Levtan, que saiu praguejando da sala de comando e correupara a sala de mquinas.

    A escotilha que fechava a sala de comando continuava na mesma posio quandoMarshall entrou.

    Ningum lhe deu ateno. Todos estavam de olhos na tela. Alm de Levtan haviaquatro pessoas na sala.

    No crebro do comandante dos prias, Marshall s leu o pnico e alguns fragmentosde pensamentos confusos.

    Se Kitai Ishibashi no interviesse com suas foras mentais, dentro de um minuto elese a Lev-XIV se teriam transformado numa nuvem de gases.

    Trs relampejos simultneos surgiram na tela. Os destrieres dos mercadoresestavam intervindo na luta. Tinham uma superioridade total sobre a nave mercante.

    Naquele instante um dos parentes mais prximos de Levtan saltou para a frente,quase arrancou o comandante do assento e gritou para o rosto desfigurado do mesmo:

    Seu covarde! Diga-lhes por que viemos. Vamos logo, seu idiota! Quer quesejamos transformados num sol?

    John Marshall no viu mais nada.Uma luz diablica sara da tela, um raio disparado nas proximidades. Felizmente no

    acertou. Fale logo! gritaram para Levtan. Duas mos seguraram sua cabea e

    empurraram-na em direo ao microfone de hipercomunicao. Vamos, diga agora.O nome de Perry Rhodan foi mencionado. Mais uma vez. Aludiu-se a uma base

    instalada em Vnus, a uma frota imensa de cruzadores e a vinte e duas naves do tipo daStardust-III.

    L fora, Kitai Ishibashi parecia sonhar diante da escotilha da sala de comando. Nohavia o menor movimento em seu rosto que revelasse que estava intervindo na luta, umaluta que a qualquer segundo poderia significar a morte.

    Sua energia sugestiva venceu uma distncia de quarenta mil quilmetros, rompeu oscampos energticos dum couraado espacial e penetrou no crebro do comandante.

    Kitai Ishibashi no tinha a menor idia de que naquele instante o nome de Perry

  • Rhodan caiu pela primeira vez em meio s palavras balbuciadas por Levtan. Admirou-secom a facilidade com que esse comandante podia ser influenciado. Chegou quase a sentirfisicamente o desmoronamento das defesas espirituais e a absoro vida de suas forassugestivas.

    Procurou ininterruptamente inocular no crebro do comandante do couraado a idiade que devia instruir os destrieres a no lanar novos ataques.

    Mais uma vez Kitai Ishibashi recorreu ao mtodo de sugestionamento por camadas.Esse mtodo era mais demorado, mas quando havia algumas camadas homogneassuperpostas, estas deixavam de ser um corpo estranho na mente do indivduo. Ocomandante da nave dos mercadores estava convencido de que agia por livre vontadequando transmitiu pelo telecomunicador a instruo destinada aos destrieres:

    Suspender os ataques! Escoltar o pria Levtan. Aguardar licena de pouso para aLev-XIV.

    O grito que Levtan soltou na sala de comando despertou Kitai Ishibashi dos seussonhos. Respirou profundamente por algumas vezes, passou as mos pelos olhos e,encurvado, dirigiu-se sua cabine.

    Ento? cumprimentou-o o teleportador com um sorriso. L fora ainda estcaindo neve?

    Com a voz indiferente, como se apenas tivesse olhado o tempo, Kitai Ishibashirespondeu:

    J parou. Mas logo vai comear de novo.

    * * *

    Longe da Stardust-III e dos trs cruzadores, as naves dos mercadores caavam a Lev-XIV.

    A gigantesca tela de viso global da Stardust-III no mostrava nada. A distncia eramuito grande. Mas os instrumentos ultra-sensveis reagiam fortemente. Toda vez que osponteiros disparavam escala acima, um raio desintegrador havia sido disparado em direo Lev-XIV.

    Na sala de comando da Stardust reinava um silncio mortal.Rijo como uma esttua, Perry Rhodan mantinha-se diante do grande painel,

    observando os instrumentos. Por que ser que Kitai Ishibashi no intervm? perguntou bastante nervoso. Como pde acontecer um imprevisto desses? Quem havia de dizer que Levtan

    seria estpido a ponto de no responder ao chamado da grande nave dos mercadores?O hipercomunicador captou a mensagem.Ouviram-se palavras balbuciadas, mas o tom de voz de Levtan era inconfundvel. Que covarde miservel! praguejou Bell.A covardia do pria poderia representar o fim do lance galtico de Perry Rhodan e de

    quatro dos seus melhores mutantes.Mais cinco raios de desintegrador estenderam-se em direo Lev-XIV.

    Instintivamente Perry conteve a respirao. Fitou trs instrumentos prximos.Quando chegaria outro movimento do ponteiro, o maior de todos, indicando que a

    Lev-XIV se transformara numa nuvem de gases?Mais uma vez o receptor de hipercomunicao voltou a soar. Suspender os ataques! rangeu a voz no alto-falante. Escoltar o pria Levtan.

    Aguardar licena de pouso da Lev-XIV.

  • Uma das pessoas que se encontravam na sala de comando respirou ruidosamente. Depois do pouso nossos mutantes sero desmontados...Perry Rhodan virou-se abruptamente para a pessoa que acabara de pronunciar estas

    palavras.O jovem oficial-telegrafista que soltara a observao enrubesceu e inclinou o rosto

    sobre o quadro de instrumentos.Perry Rhodan deu-se conta do fato de que nem Bell estava informado sobre seu

    plano. Nossos mutantes no sero desmontados declarou com a voz calma, enquanto

    seus olhos cinzentos pareciam expedir um ligeiro sorriso. Os tripulantes da Levencontram-se sob influncia sugestiva e no sabem que trazem mais quatro pessoas abordo. E posso assegurar-lhes que nossos homens tm o aspecto de genunos ciganosespaciais.

    Nesse instante o operador do aparelho de observao disse: A formao segue com a Lev-XIV em direo ao segundo planeta.Com isso a tenso que vinha consumindo os nervos dos ocupantes da Stardust deixou

    de existir.Perry Rhodan pde lanar mais uma parcela a crdito da conta da Humanidade.

    Crest, o arcnida, que se mantinha discretamente nos fundos, sabia que o homem queacabara de ocupar o assento de piloto da Stardust Perry Rhodan era o herdeiro doUniverso.

    * * *

    Em velocidade bastante reduzida, o grupo de destrieres, com a Lev-XIV no centro,passou a baixa altura sobre o planeta de Goszul.

    O astro recebera esse nome em homenagem a Goszul, um mercador que o descobrirae dele tomara posse.

    Os mutantes ficaram espantados quando a tela lhes mostrou no apenas umapaisagem encantadora, mas tambm um grande centro industrial. Nem mesmo osverdadeiros membros do cl ocultavam o espanto.

    Ento aqui que ficam os estaleiros dos mercadores disse Dorget em tompreocupado, coando o crnio meio tosado.

    John Marshall parecia contemplar seu prprio interior de to ausente que parecia. Naverdade, empenhava todas as energias mentais para captar os pensamentos dos prias.

    Mas seu conhecimento do planeta de Goszul no passava daquilo que chegara a elesatravs de boatos. Fazia muitos anos que Levtan fora expulso da comunidade dossaltadores, e naquela poca o planeta ainda levava uma vida pacata.

    Descrevendo uma grande curva, retornaram ao formidvel centro industrial, sempreacompanhados pelos destrieres. Ao que parecia, a Lev-XIV recebera permisso parapousar.

    Mal tocou o solo, a ordem de Levtan foi ouvida em todos os cantos: Preparem-se para abandonar a nave.Os mutantes deixaram que os trs membros verdadeiros do cl seguissem sua

    frente. Hesitavam em sair dali. Seremos presos informou Marshall.Ningum se abalou, pois j contavam com essa possibilidade.Tama Yokida, um telecineta de estatura mediana, olhou para o lugar em que os robs

    haviam escondido algumas armas manuais bastante eficientes.

  • O rosto estreito de John Marshall empalideceu mais um pouco. Mais uma vez estavacaptando o pensamento alheio. Retornou realidade.

    No podemos levar nada disse em tom decidido. Todas as pessoas que saemdesta nave sero rigorosamente revistadas...

    Mesmo com...?Marshall entendera o pensamento de Ishibashi. Sim, tambm com isso. Por enquanto dispensaro apenas a lavagem cerebral. Os

    saltadores no confiam em Levtan. Ningum lhes pode levar a mal. Vamos embora. Somosos ltimos.

    * * *

    Goszul, descobridor do sistema 221-Tatlira e conquistador do segundo planeta oumelhor, o patriarca Goszul ainda gozava duma sade excelente. Naquele momentoouvia as notcias sobre o pouso da Lev-XIV.

    Mais trs patriarcas, sentados em poltronas confortveis em torno duma mesaredonda, ouviam atentamente as notcias. O nome Perry Rhodan foi mencionado vriasvezes, e sempre que isso acontecia um dos patriarcas dava uma expresso de dio ao rostoe respirava pesadamente.

    Goszul, um homem velho, baixo e calvo, notou a respirao pesada de Etztak. Est contrariado com o pouso de Levtan? perguntou. Ou ser que o nome de

    Rhodan lhe d tamanha raiva?Os olhos penetrantes do sagaz Goszul fitaram o amigo, que chegara a acreditar que

    conseguiria destruir Perry Rhodan, mas deu-se por satisfeito por ter escapado, emborafosse o nico.

    No gosto nem de uma coisa nem de outra, Goszul respondeu Etztak com umacalma surpreendente. Conheo Levtan. um covarde e um criminoso traioeiro.

    E Perry Rhodan? Por que no fala a respeito dele? Estou muito interessado emouvir sua opinio, Etztak.

    Etztak lanou um olhar desconfiado para Goszul. Os outros patriarcas sentiram adiscusso aproximar-se.

    Um deles interveio apressadamente. Vamos aguardar o resultado do interrogatrio de Levtan. Depois disso ainda

    poderemos conversar sobre o tal do Perry Rhodan.Etztak chiou indignado: No o tal do Perry Rhodan, mas o Perry Rhodan, que encontrou o mundo da

    imortalidade e sabe onde encontr-lo de novo. Um ser desse tipo no pode ser designadocom a expresso depreciativa o tal do.

    O patriarca Goszul esboou um sorriso matreiro. Voc fala conforme lhe d na veneta, Etztak. Quanto a mim, nunca acreditei na

    lenda do mundo da vida eterna. Mas chega de palavras vazias. No temos muito tempo.Dentro de duas horas comear a reunio na qual ser elaborado o programa da grandeconferncia.

    * * *

    Parados na grande comporta da Lev-XIV, os mutantes de Perry Rhodan viram comoos tripulantes foram recebidos um por um pelos mercadores, sendo obrigados a entrar numveculo fortemente vigiado, depois de terem sido revistados.

  • Parece que as coisas no esto boas para ns constatou Tako Kakuta.Nesse instante um dos mercadores gritou para eles: Vocs querem um convite especial?Kitai Ishibashi saiu andando. Com toda calma deixou que o revistassem. Caminhou

    tranqilamente entre dois mercadores armados at os dentes e entrou num veculo que logoo levaria dali.

    Se fizer qualquer movimento estranho, atiraremos preveniram seusacompanhantes.

    Kitai tomou conhecimento da advertncia sem responder nada. Acontece que, umavez sentado ao lado das sentinelas, o veculo continuou parado.

    Por que no vai embora? berrou a sentinela, sua direita, para o condutor doveculo, que no moveu um dedo para colocar a chave na posio de movimento.

    Devo esperar pelos ltimos trs respondeu tranqilamente o mercador, e no seespantou com a resposta do indivduo que acabara de berrar:

    verdade, temos que esperar por esses traidores.Kitai Ishibashi riu para dentro. Estava satisfeito com o servicinho que acabara de

    realizar. J era algum consolo saber que os amigos estariam ao seu lado.

    * * *

    Etztak teve uma conferncia com os membros de seu cl. Fiquem de olhos abertos amanh, quando Levtan for interrogado diante da grande

    assemblia. No se esqueam de que por pouco Rhodan no nos destri. Ainda noconsegui convencer Goszul de que Rhodan um elemento extremamente perigoso.

    Seu filho interrompeu-o. Com isso cometeu uma violao grave dos costumes, masEtztak deixou-a passar.

    Sempre que voc alude a Levtan est pensando em Rhodan? Ser que ainda no me expliquei? gritou o patriarca para seu filho. Levtan

    diz que fugiu do centro de armamentos de Rhodan. Acontece que eu sei como difcilescapar dessa criatura. No acredito em Levtan. Sempre andou mentindo para entregar-nosa Rhodan.

    Quer dizer que voc no acredita nos vinte e dois supercouraados que, segundoafirma Levtan...

    Se voc me interromper mais uma vez, ter que limpar o campo nmero trs gritou Etztak para o filho. No, para prevenir qualquer pergunta tola, no acredito nasinformaes de Levtan. Rhodan possui duas naves de grande porte, no vinte e duas. Etambm no verdade que tenha cem cruzadores. O pria se vendeu a Rhodan, que porintermdio dele quer descobrir o que pretendemos fazer. Sabe que fraco...

    O filho no pde deixar de interromp-lo mais uma vez, embora se arriscasse alimpar com as prprias mos o grande depsito da nave:

    to fraco que destruiu nossa frota. Pai, ser que isso fraqueza?O velho Etztak estava fervendo por dentro, mas a inteligncia conseguiu vencer a

    clera. O filho acabara de lembrar um acontecimento que nos ltimos quatro meses surgiramuitas vezes em seus sonhos, fazendo-o despertar banhado em suor.

    Bastante contrariado, respondeu: Voltei a dizer a Goszul que Perry Rhodan esteve no mundo da vida eterna. De l

    trouxe aquela arma medonha, que faz com que as naves desapaream sem mais aquela.Acontece que Goszul no acredita nisso. Para ele essas histrias no passam de lendas.

  • Ou ento no quer confessar que Perry Rhodan representa uma ameaa para ele interveio o filho mais uma vez. Acho que Goszul nunca teve que saborear uma derrota.

    Todos se surpreenderam quando Etztak respondeu com um gesto amvel: C para mim, desejei muitas vezes que ele tivesse um encontro com Rhodan. Um

    nico encontro far com que pense e fale de maneira muito diferente. Vocs disse,apontando para trs homens participaro na qualidade de observadores da confernciaque ser realizada amanh. Abram os olhos quando Levtan for chamado a prestardepoimento e apresentar provas das suas declaraes. Lembrem-se de que esteve comRhodan, e nunca se esqueam do que este fez com as nossas naves.