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Pode um documentário sobre vacas mudar os nossos hábitos?

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Trabalho desenvolvido por Ana Margarida no âmbito da disciplina de Semiologia Tipográfica do mestrado em design da Universidade de Aveiro –2014/15, de redesenho para suporte papel do jornal P3.

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Pode um documentário sobre vacas mudar os nossos hábitos?

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Se bebes três a quatro cafés por dia, esta boa notícia é para ti

Uma primavera inesquecível

Será que um dia vamos deixar de largar balões?

Ideias inovadoras de arquitectura e design postas à prova

“Ganhem Vergonha” quer passar as denúncias para livro e criou campanha de crowdfunding

Áurea mata o cancro a sorrir: "Vai doer mas vai passar"

Albert Rivera, o jovem político “cool” que até já posou nu

A crise qualquer dia acaba-se

Está aí a primeira Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa

Morreu Sá Carneiro, e então?

O que dizem os mercados?

"Recicla o café" quer reduzir desperdícios e repovoar cidades

O Primavera Sound de Barcelona faz 15 anos e este é o cartaz

A Cidade Murada é uma cidade fora-da-lei

Eles ilustraram o NOS Primavera Sound a preto e branco

Vendedores de sonhos

Pode um documentário sobre vacas mudar os nossos hábitos?

NOS Primavera Sound 2015: ao quarto ano, o festival é para todos

Faz o check-in e leva um cão contigo

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Se bebes três a quatro caféspor dia, esta boa notícia é para ti

Um estudo do Samsung Hospital Kangbuk, na Coreia do Sul, realizado com mais de 25 mil funcionários concluiu que tomar três a quatro cafés por dia limpa as artérias e, assim, diminui o risco de doenças cardíacas. Os exames de saúde de rotina foram feitos a homens e mulheres, com idade média de 41 anos, e permitiram observar que esta bebida evita o entupimento das artérias, um conhecido factor de risco para doenças cardíacas, con�irmaram cientistas sul-coreanos.

Como o café é uma bebida que gera muita polémica devido aos verdadeiros efeitos que tem sobre a saúde do coração, o debate deve ser reaberto após a apresentação dos resultados do estudo na especializada revista cientí�ica"Heart".

No entanto, Victoria Taylor investigador da British Heart Foundation, revela que as ilações retiradas desta larga amostra não garantem que o café tenha o mesmo efeito em toda a população. O café contém cafeína, estimulante, e outros compostos que podem ter efeitos nocivos em alguns indivíduos, pelo que Victoria Taylor a�irma que é um risco qualquer generalização na sequência das conclusões do estudo sul-coreano.

Este estudo destaca a eventual ligação do consumo de café e o menor risco de obstrução das artérias: a ingestão de café diminui a probabilidade de os consumidores acumularem depósitos de cálcio nas artérias coronárias e, por conseguinte, e reduz o risco de aterosclerose coronariana, uma causa de morte.

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Francisco Pio CorreiaÉ licenciado em comunicação e

escreve torto por linhas direitas.

E sem nos darmos conta… passou. Pode dizer-se que é um sentimento profundo e nostálgico aquele que circunda. Fica uma impressão de que o tempo passou demasiado rápido, que se viveu num piscar de olhos, tudo porque foram horas incrivelmente bem gastas. Um festival que, no fundo, é uma experiência. É uma experiência onde os dias parecem mais curtos, não só porque realmente acordamos à uma da tarde, mas porque a música também os encurta, faz-nos pensar mais rápido e dar saltos no tempo.

Jeff Mangum, aquando do concerto dos Neutral Milk Hotel, invocou que o que presenciávamos naquela altura devia ser guardado no coração e na memória. E tenho a certeza que foi o que as quase 70 mil pessoas que passaram no NOS Primavera Sound �izeram. A verdade é que de 5 a 7 de Junho o meu coração aumentou e os meus dias só tiveram oito horas. E quando achei que tudo aquilo passava, e me fugia por entre os dedos, toquei a minha guitarra �ictícia e �iz força para nunca mais o esquecer.

Pode parecer uma análise vaga e distorcida do que se passou. Mas é a minha e é verdadeira, tal e qual quando gostamos de alguém e é di�ícil escrever ou dizê-lo. A verdade é que me senti mais leve, não só por causa dos quilos que perdi recentemente, mas porque me tirou um peso que tinha em cima, não me perguntem qual. É aí que a minha ingenuidade musical dá os seus frutos, pois não se prende com aspectos espaciais da música, mas sim com os emocionais. É isso, este festival emocionou-me. E se é esta emoção que me está destinada, que venham mais. Que venham muitos.

Para acabar este raciocínio, resta-me falar das pessoas. São o mais importante a seguir à música. E embora seja apologista da independência musical de cada um, é tudo criado para que se viva em conjunto. Com quem não conheces, com quem conheces ou até mesmo com quem acabaste de conhecer. E neste ponto tenho de admitir que fui contra tudo aquilo que a minha avó me ensinou. E nunca me soube tão bem.

“Podemos festejar com balões, mas não os podemos largar.” É com este anúncio, no “site” da Clean Virginia Waterways, que se lança a discussão. Segundo os seus responsáveis, depois de serem lançados, os balões transformam-se em lixo e as preocupações ambientais crescem a cada ano que passa.

Através da investigação ambiental, o problema passou para o foro político – com sucesso, devido aos cidadãos e ambientalistas preocupados. Segundo o site Jornalíssimo, em causa está a ideia apresentada por Jeff McWaters, um deputado republicano que quer impedir o lançamento de balões naquele estado. Segundo ele, estamos "apenas a tentar educar as pessoas”.

Mais de 50 dá multa

Na realidade, já existem cinco estados americanos onde é proibido lançar mais de 50 balões no espaço de uma hora. No entanto, são precisas mais medidas para combater os efeitos negativos desta prática.

Para tal, um projecto para reduzir o impacto dos balões está a ser conduzido pelo departamento ambiental da Virgínia através de marketing social, prevenção e educação dos cidadãos de modo a entenderem os riscos ambientais desta prática comum.

Há outras entidades envolvidas, como a Clean Virginia Waterways, em parceria com a Virginia Aquarium and Marine Research Center, que estão a estudar os impactos ambientais e soluções para esta questão. Apelam aos moradores para, caso encontrem um balão, tirarem uma fotogra�ia e indicarem o sítio onde o encontraram. Alertam, ainda, para o facto de se poder encontrar plásticos, elásticos e materiais como metal ou algodão dentro do balão. Cabe à pessoa deitar o balão ao lixo e reportar a situação no site.

No entanto, a proposta não foi aprovada pelo Senado da Virgínia que indicava que as coimas aplicadas poderiam reverter a favor de campanhas de reciclagem. Por cada balão a penalização seria de cinco dólares. Mas o alerta foi lançado.

Está cienti�icamente provado, como dizem os investigadores do Aquário de Virgínia, que muitos animais, tanto em terra como no mar, acabam por morrer por causa dos balões.

Ed Clark, do Centro da Vida Selvagem da Virgínia, constatou que os animais que mais sofrem com este problema são as tartarugas marinhas que acabam por confundir o objecto com uma alforreca e comem-nos, o que leva à morte. E não só. O perigo também existe para outros animais marinhos como gol�inhos, tartarugas e baleias que já foram encontradas com balões alojados no estômago. Já os pássaros, por exemplo, �icam presos nos �ios de “nylon” ou plástico.

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de largar balões?

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Ideias inovadoras de arquitectura e design postas à provaCosentino Group, uma marca relacionada com design e arquitectura, vai organizar a nona edição de um concurso direcionado para jovens que querem desenvolver projectos relacionados com estas temáticas. Procura-se trabalho de pesquisa, re�lexão e criatividade. O grupo incentiva, também, o respeito pelo ambiente através da reutilização de materiais, sempre que seja possível.

Vão ser atribuidos três primeiros prémios de primeiro lugar, cada

prémio terá um valor de 1000 euros.Os trabalhos dos estudantes vão ser acompanhados de modo a se ambientarem com o mundo do design e da arquitectura e vão ter a oportunidade de conhecer as tendências e a forma de trabalho de estudantes de outros países o que, segundo a empresa, “é de grande importância numa sociedade onde a competição e actividade pro�issional têm um foco cada vez mais internacional”.

Em edições passadas houve temas como “design de uma cozinha outdoor”, “uma casa para um astrónomo” e uma “nova casa-de-banho para a escola de arquitectura de Madrid”.

O Ténico de Lisboa está a colaborar com o projecto que foi apresentado dia 9 de Março. A ideia conta com o apoio de várias entidades de Espanha, EUA e Austrália. A competição fecha dia 1 de Junho e nesse mês é conhecida a decisão do júri na internet.

Mais de 4.800 assinaturas em petição

Parte importante do “Ganhem Vergonha” é a petição pública pela regulação dos anúncios de oferta de emprego, que já conta com mais de 4.800 assinaturas e que foi, no fundo, o grande motor do projecto. O facto de Portugal ter “um sistema de procura e oferta de emprego desregulado e obsoleto”, como é apelidado no texto introdutório da petição, faz com que os candidatos não estejam protegidos. “Nada impede que quem quiser roubar portefólios ou construir base de dados à custa de anúncios falsos o faça”, aponta Francisco, o que torna as pessoas vulneráveis.

Ofertas de estágios não remunerados com duração de muitos meses, pagamento de refeições em jeito de salário e estágios curriculares assim rotulados erradamente são apenas algumas das denúncias que a plataforma “Ganhem Vergonha” torna públicas desde Março de 2013. Não faltam anúncios que pedem, grosso modo, que os candidatos aceitem trabalhar de graça — ou com remunerações que roçam o ridículo. Em dois anos, a plataforma já recebeu mais de 2.000 denúncias e apresentou mais de 170 casos. Está na hora, diz Francisco Fernandes Ferreira ao P3, de passar para outro nível e editar um livro que reúna todos estes exemplos.

Se no início era o jovem de 32 anos quem recolhia os casos publicados, entre amigos e conhecidos, hoje são as pessoas que lhe fazem chegar denúncias. Umas mais concretas do que outras, com ou sem provas: Francisco tem “uns 200 e-mails por ler” e pouco tempo para actualizar o site, que lhe ocupa as horas em que não está a trabalhar. “Sinto que há uma pressão, por parte de quem acompanha o projecto, para que surjam mais conteúdos”, confessa ao P3.

Foi também a pensar nas mais de 23 mil pessoas que seguem o “Ganhem Vergonha” — entre utilizadores registados no blogue, fãs nas redes sociais e subscritores — que Francisco resolveu tentar editar um livro com o carimbo da plataforma, uma compilação em formato �ísico do que tem sido partilhado na Internet. A campanha de crowdfunding está online até 12 de Maio, no site português PPL, e o valor pedido é de 3.950 euros. Qualquer pessoa pode contribuir a partir dos três euros e as recompensas passam por agradecimentos no livro, versões em PDF ou em papel do mesmo e “merchandising”.

Paradas existem várias denúncias, por falta de provas. Para um testemunho ser publicado é preciso que o “Ganhem Vergonha” tenha meios e tempo para investigar. “O trabalho feito tenta seguir, ao máximo, a deontologia jornalística”, garante Francisco. Ainda assim, os e-mails das empresas mencionadas não deixam de chegar à caixa de correio do blogue, chegando até a insultar a escolha do próprio nome. “Sei que o nome é bastante pan�letário — e se fosse hoje talvez até desse outro —, mas acho que ninguém tem a noção de como eu poderia ser mais populista do que sou.”

quer passar as denúncias para livro e criou campanha

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Áurea mata o cancro a sorrir: "Vai doer mas vai passar" Tantos sorrisos espalhou nos

últimos dois anos, enquanto combatia um cancro da mama, que, a dada altura, as amigas obrigaram-na a ir a um psicólogo: "Elas achavam que estava a reagir bem demais." Áurea Ferreira dá a cara pela doença e fá-lo sempre com um sorriso. É optimista por natureza. Por isso, quando descobriu um nódulo na mama direita e con�irmou, pouco tempo depois, que a doença a tinha apanhado — como antes havia feito com a mãe e também com o pai — não caiu. Pelo menos, psicologicamente. A dor �ísica foi diferente. "Cada pessoa reage de uma maneira. Para mim, a quimio foi indiscritível... Mas pensava sempre: 'Vai doer mas vai passar', 'vai doer mas vai passar'."

Enfermeira no Hospital de São João, no Porto, Áurea, agora com 39 anos, emociona-se, durante a entrevista, por uma única vez. Quando fala daquele que considera o pior momento de todo o processo: "Contar aos meus pais foi o mais di�ícil de tudo." "Foi um dia ao jantar", recorda. "A minha mãe chorou, a minha irmã chorou, o meu pai engoliu tudo." Mas o cancro não é uma barreira na vida dela, não há um "antes de" e um "depois de". Foi uma fase. Ponto. E foi para partilhar esta maneira de conviver com a doença, nunca deixando de "acreditar" e de "lutar", que decidiu participar numa campanha fotográ�ica com doentes oncológicos, chamada "Despir o Preconceito".

Por dia, morrem em Portugal 70 pessoas vítimas de tumores malignos, avançou no segundo semestre de 2014 o Instituto Nacional de Estatística, acrescentando que apesar de este ser o número mais elevado de sempre, as perspectivas são de um aumento ainda mais signi�icativo nos próximos anos. O cancro é a segunda causa de morte em Portugal, depois das doenças cerebro-cardiovasculares, e estima-se que, por ano, vitime 20 a 25 mil pessoas. Neste Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, 4 de Fevereiro, �ica aqui um testemunho na primeira pessoa, escrito a partir de uma entrevista:

"Nunca pensei na morte. Para mim, estava fora de questão. E nunca tive medo. Sempre pensei em ir em frente, acontecesse o que acontecesse. Os outros, o medo deles, foi o que mais me incomodou. A minha mãe teve cancro da mama, o meu pai teve cancro da bexiga. Quem sofre é quem está do outro lado. Quando se está dentro pode lutar-se. A doença muda algumas coisas em nós, mas para mim não há um antes do cancro e um depois do cancro. O que mudei foi passar a viver mais para mim. E deixei de esperar o que quer que seja. Tudo o que vier é bom, mas não tenho expectativas. Não vejo isto como uma fase negativa da minha vida, vejo como uma fase. Ponto. Aconteceu-me a mim como podia ter acontecido a qualquer pessoa. Porque não eu? Há quem pergunte “Porquê eu?”. Mas porque não pensar ao contrário? Ao �im e ao cabo isto não pode ser nenhum castigo divino, porque se fosse não havia crianças doentes nunca, não é? Sempre fui uma pessoa positiva e continuo a dizer que temos de ver o lado bom das coisas más — isso ajuda muito.

Há uma coisa muito engraçada nesta doença: a gente decora datas, são como se fossem aniversários. No dia 19 de Dezembro de 2012, estava em casa a decorar bolachas de Natal para os meus primitos, e deu-me uma comichão na mama. Cocei e senti um nódulo. Tinha feito uma ecogra�ia meses antes, mas com a história anterior da minha mãe na cabeça, liguei logo a uma amiga minha do hospital para desabafar. Disse-lhe que queria ir no dia seguinte fazer uma biópsia. O facto de ser enfermeira e conhecer bem os processos facilita as coisas. Fui ao serviço de oncologia no São João e �iz a biópsia. Passei o Natal sem contar a ninguém e só recebi os resultados no dia 26 de Dezembro. Estava a trabalhar. A médica liga-me e diz: 'Áurea...' E eu respondi logo: 'Não precisas de dizer mais nada, eu já desço.' A médica deu-me a notícia e as lágrimas caíram-me pela cara abaixo. Foram uns minutos. Depois disse: 'O que vamos fazer?'. Fui almoçar fora nesse dia, com uma amiga. Pensei e decidi logo que não queria ser operada no meu serviço, no meu hospital. Queria o meu momento, a minha privacidade. Contactei uma médica que tinha passado no São João e que dava consultas na Trindade. Marcamos logo a cirurgia. Ela deu-me todas as opções e eu decidi. Fui sempre eu a decidir. Não quis fazer mastectomia. Tirei o tumor e �iz pesquisa do gânglio sentinela para saber se tinha de fazer esvaziamento axilar. O meu maior medo era ter de o fazer. O braço �ica muitas vezes com edema e era o direito, muito importante para o meu trabalho como enfermeira.

Depois da operação há um tempo de espera dos resultados para ver se a quimio é precisa ou não. Já sabia que tinha de fazer radioterapia, mas quimioterapia tinha de esperar. O resultado era muito 'borderline', tinham dúvidas se era preciso fazer ou não quimioterapia. A única hipótese que tinha era fazer um exame chamado 'mammaprint', que se faz a toda a gente nos EUA, mas cá não. Claro que se pensa que pode não haver necessidade de fazer quimio... mas também se pensa que são 3700 euros por um exame. Decidi pagar — era o dinheiro que andava a juntar para fazer a minha viagem de sonho, a Buenos Aires. Foi tudo para Amesterdão, onde fazem esse exame. O resultado veio e concluiu que tinha de fazer quimio e mais sessões do que aquelas que teria feito sem saber dos resultados. Foi a parte mais dolorosa de todas em termos �ísicos. Quando tento explicar o que senti digo às pessoas que se estivesse em cima da ponte naquele momento eu atirava-me. Isto é metafórico, atenção. Eu nunca pensei nisso, nem sequer pensei algum dia na morte. Nunca. Cada pessoa reage de uma maneira. Para mim a quimio foi indiscritível... Mas pensava sempre 'vai doer mas vai passar', 'vai doer mas vai passar'. A gente tem de acreditar em algo e eu sempre acreditei que ia correr bem. Em termos �ísicos abalei, mas em termos psicológicos não.

À terceira semana de quimio caiu-me logo o cabelo. Mas essa questão nunca me incomodou. Eu tinha um cabelo muito comprido e adorava o meu cabelo. Nunca gostei de cabelos curtos. Mas sabia que não havia volta a dar. Então rapei, assim sem meios cortes. Comprei uma peruca, mas já tinha decidido optar pelos lenços. Com as pestanas e as sobrancelhas foi diferente. A nossa expressão muda muito e isso custava-me. Mas fui fazendo uma colecção de pestanas postiças e pintava sobrancelhas. Não saía de casa sem me maquilhar. Crie a minha forma de lidar com a doença. Fui ao psicólogo uma só vez, as minhas amigas achavam que eu estava a reagir bem demais. O psicólogo disse que realmente fazia uma gestão das minhas necessidades muito boa. Eu afastei amigas próximas no primeiro impacto, sabia que não era bom para mim. Tinha de as consolar a elas às vezes. Desliguei muitos telefonemas. Sei que as pessoas choravam sem ser à minha beira. Afastei-me disso tudo.

O mais di�ícil de tudo foi contar aos meus pais. Foi um dia ao jantar. A minha mãe chorou, a minha irmã chorou, o meu pai engoliu tudo. A família foi muito importante. Os amigos também. Tinha 38 anos quando isto aconteceu, Na altura falaram-me da possibilidade de fazer preservação de ovócitos porque não tinha �ilhos ainda. Ponderei durante um tempo, mas eu tinha um tumor hormonal e ia injectar-me de hormonas. Depois, quando acabasse o tratamento, ia ser mãe aos 45. Podia estar a querer ter um �ilho à custa da minha saúde. Pensei que se a questão se pusesse mais tarde eu teria outras alternativas para ser mãe e decidi não o fazer.

Participei numa campanha, em 2013, o 'Despir o Preconceito', porque acho que ele ainda existe e muito. As pessoas ainda têm muito a coisa do "coitadinha". Não fazem por mal, mas os portugueses são muito melodramáticos e põem muito negativismo nas coisas. Decidi participar nessa campanha para tentar combater essas ideias. Muita gente começou a acrescentar-me no Facebook e fazer-me perguntas. Era quase um consultório. O que digo sempre a quem está a passar por isto é: acreditem e lutem. É preciso acreditar todos os dias que o seguinte virá. E depois, muito importante, nunca nos desvalorizarmos. Continuo a dizer que tenho saudades minhas, é verdade. Tenho saudades do que conseguia fazer antes da doença. Ainda não recuperei toda a força dos braços, já parti colecções inteiras de louça, no meu trabalho tenho limitações. Ainda tenho de tomar uma pastilha todos os dias e vou a imensas consultas. Um dia de cada vez, sempre. Aos poucos chegarei lá."

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Quando questionado sobre possíveis coligações, antes ou depois de eleições, Rivera tem algumas condições, como as que apontou numa entrevista televisiva analisada pelo “El Periódico”. “Não podemos fazer parte de uma coligação com quem não tenha feito limpeza no seu próprio partido e governo”, assegurou, realçando uma vez mais aquele que diz ser o seu principal cavalo de batalha — a luta contra a corrupção. E a menos que o Podemos altere o programa eleitoral apresentado, “será di�ícil” chegar a acordo sobre uma eventual aliança. “Com esse programa regressaríamos à peseta”, critica.

Reestruturação nos tipos de IVA, diminuição do número de câmaras municipais (de 8.000 para 1.000) e incentivos para “trabalhadores mais pobres” são algumas das ideias que Rivera partilhou na mesma entrevista. No caso do acesso a cuidados de saúde públicos, defendeu que estes devem existir para quem tenha “autorização de residência ou sejam cidadãos espanhóis” — o que exclui os imigrantes ilegais, à semelhança do que acontece, por exemplo, na Alemanha.

Seguido por milhares online

É na Internet que o C’s tem a sua maior ferramenta de propaganda — como Rivera a�irma no vídeo ao lado — e os números das redes sociais re�lectem a importância que conferem à rede “sem a qual o Cidadãos não existia”. No Facebook, Rivera tem mais de 127 mil seguidores; no Twitter, o número já ultrapassa os 200 mil. Praticamente todos os dias actualiza os dois per�is, respondendo a muitos dos comentários e partilhando fotogra�ias. No Instagram aposta, sobretudo, em “sel�ies” e já vai em mais de 7 mil seguidores. Pela transparência que apregoa, Rivera faz questão de partilhar a sua agenda pro�issional, disponível online, bem como entrevistas e outros vídeos da página de YouTube do Cidadãos. Há ainda uma “playlist” no Spotify com a sua identi�icação, para que eleitores e potenciais simpatizantes possam saber que tipo de música ouve.

Em 2006, Rivera, então com 27 anos, posou nu para a campanha do C’s, aquando das eleições catalãs, naquilo que o “El País” chamou de “apelativo cartaz eleitoral”. Nesse mesmo ano, o partido conseguiu três deputados na assembleia da Catalunha, número que triplicou em 2012. O jovem é deputado ao parlamento catalão desde esse ano, bem como líder do C’s, cargo ao qual chegou por ter um nome começado pela primeira letra do alfabeto (foi esta a forma que o partido encontrou para eleger o seu presidente).

Política à parte, muito se tem escrito sobre Rivera na imprensa espanhola. Desde artigos em que o advogado conta que investe em fatos Hugo Boss e tem um gosto particular por sapatos, até entrevistas nas quais fala (sempre pouco) da �ilha de quatro anos, Daniela, este é o novo político “cool” de Espanha, com um visual e uma atitude bem diferente de Pablo Iglesias. “Alguns dos jornalistas que seguem Rivera desde o início destacam o seu estilo e chamam-lhe o candidato ‘cool’, partilham as suas fotogra�ias nas redes sociais e mostram como as mulheres seguem atentamente o que faz", escreve Silvia Taulés em “Albert Rivera: o candidato casadouro já tem namorada”, no “El Mundo”. Antigo campeão de natação e pólo aquático, não nega que a imagem é importante — “e não só na política”.

Albert Rivera,o jovem político “cool” que até já posou nuAlbert Rivera é de Barcelona mas não quer ver a Catalunha independente — e esta foi uma das razões que aproximou o advogado de 35 anos da política espanhola. À frente do Cidadãos (Ciutadans — Partit de la Ciutadania, no original catalão) há quase nove anos, tem ganho particular notoriedade e presença mediática nos últimos meses. É jovem, “não parece um político” e esta parece ser a sua hora: resultados surpreendentes nas últimas sondagens da Metroscopia (publicadas no “El País”) mostram que o presidente do C’s, partido percepcionado como de centro direita, é o político mais valorizado pelos eleitores espanhóis. À sua frente só está o rei Filipe VI.

É presença frequente em programas de televisão e tertúlias políticas, tem uma imagem cuidada e saltou do domínio catalão para o nacional, passando para a frente do também jovem Pablo Iglesias, do Podemos, em termos de notoriedade e popularidade. Quando comparado com o líder do partido que vai à frente nas sondagens (27,7% dos espanhóis inquiridos manifestam intenção em votar no Podemos), Rivera admite que ambos fazem “nova política” e que se identi�ica em termos de geração. “Mas ele [Iglesias] faz [política] com ideias velhas, como intervencionismo”, critica, em entrevista ao “El Mundo”.

As mesmas sondagens, publicadas no início de Fevereiro pelo diário “El País”, revelam que as intenções de voto no Cidadãos (12,2%) e no Podemos (27,7%) combinadas são superiores à soma das percentagens do Partido Popular, PP (20,9%), no poder, e do Partido Socialista Operário Espanhol, PSOE (18,3%). Há cada vez mais espanhóis à procura de alternativas às forças há muito estabelecidos, no poder rotativamente. “Há muita gente em Espanha que quer uma mudança (…), mas sensata”, resume em entrevista ao “El Mundo”. O PP critica o C’s, reforçando a ideia de que se trata de um partido catalão ao qual os dirigentes políticos se devem referir como “Ciutadans” e não como “Ciudadanos”, sublinha o “El País”. Depois de centrarem os ataques no Podemos, de Pablo Iglesias, “os populares estão preocupados com o crescimento do Ciudadanos, que se move no seu campo e com os seus eleitores”.

O partido que Albert Rivera Díaz lidera não defende a independência da Catalunha, antes uma Espanha unida — ainda que em diferentes moldes daqueles que hoje se veri�icam. A prioridade do C’s é pôr �im à corrupção, sublinha sempre, através da “regeneração democrática”. No per�il de Twitter, apresenta-se com uma frase que não deixa dúvidas sobre o seu posicionamento — e do seu partido, fundado em 2005. “A Catalunha é a minha terra, a Espanha é o meu país e a União Europeia é o nosso futuro. Melhor juntos”. No próximo mês de Maio, o Cidadãos vai concorrer às eleições autárquicas em 500 localidades de toda a Espanha, extravasando os limites da fronteira da Catalunha. Rivera não avança, contudo, pelo menos para já, se será candidato às legislativas, previstas para o Outono, ou até à presidência da Catalunha: decisões só depois das primárias.

“A Catalunha é a minha terra, a Espanha é o meu país e a União Europeia é o nosso futuro. Melhor juntos”

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Está aí a primeira Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa

A Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa é a primeira escola virtual do género e foi criada pela Associação de Surdos do Porto (ASP). O site está aberto a toda a gente e o registo na plataforma é gratuito. Após a autenticação, os conteúdos e os testes �icam acessíveis ao público e não é necessária qualquer quali�icação especí�ica para começar o curso de língua gestual.

O curso tem seis módulos que abordam temáticas como dactilologia, numerais, saudações, graus de parentesco, entre outras. O curso é gratuito e pode ser feito quantas vezes o utilizador entender, sem limites de tempo, pois as respostas dadas aos testes são guardadas e o aluno pode retomar o curso a qualquer altura.

Projeto quer continuar a crescer

Armando Baltazar, do Departamento de Formação da ASP, explica que o projecto surgiu “para eliminar a barreira de comunicação entre os mundos surdo e ouvinte”. A Escola Virtual é, desta forma, um espaço comum às “duas comunidades que, vivendo, trabalhando, frequentando juntas no mesmo espaço estão tão ‘distantes’ e se encontram [na plataforma]”.

O projecto foi criado com o apoio do BPI, através do prémio BPI Capacitar, e depende de apoios �inanceiros para continuar a evoluir. Armando Baltazar clari�ica que, “nesta fase, os conteúdos são mínimos e a intenção é ir aumentando gradualmente até se atingir um nível que permita a qualquer utilizador uma �luência linguística boa”.

A adesão à Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa tem superado as expectativas da ASP e promete continuar a crescer devido à facilidade e �lexibilidade que o site oferece ao utilizador que se inscreve para frequentar o curso.

A cris

e qu

alque

r dia

acab

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É mais velha do que tu, do que os teus pais, do que os teus avós. Já foi das reservas do petróleo, do ‘crash’ bolsista, do bolha imobiliária. As justi�icações são cada vez mais esotéricas: o crédito malparado, os juros do dívida, o mercado de futuros, a gripe aviária, o pulgão dos mirtilos... ‘whatever’ é o que vocês quiserem, o que eu sei é que é visita velha, com diferentes nomes e explicações diversas (cada vez mais complexas) mas com os resultados de sempre junto ao chão.

Houve um tempo em que foi acontecimento, já passou por ser facto, depois mais parecia moda, mas por agora acho que já percebemos todos que é constante, permanência, modo de produção, ideologia. Vá lá, menos �ita! O nosso capitalismo liberal é só escolhas e liberdade, não gostas de Coca-Cola, ‘consome’ antes Pepsi. Pior estava a minha avó que dividia o burro com o vizinho!

Tens o ordenado congelado desde que começaste a trabalhar: não te metas é no sindicato que isso é coisa ultrapassada, do antigamente. O contrato a prazo nunca mais dá à luz um sem termo: venera antes o Porsche Cayenne do ‘criador de emprego’. Saltitas de estágio em estágio em estágio em estágio sem nunca pousares: mete na Etv que os feiosos explicam-te como a ‘�lexibilização’ é linda e necessária. A senhora do centro de emprego encolhe a frustração e os ombros: concentra-te antes nos lindos olhos do Mota Soares e em como o Primeiro fugir ao �isco é culpa do �isco. Uma chefe-de-serviço da Inspeção-Geral das Finanças tem 2,5 milhões de dólares na Suíça: ahh isso é lá da vida privada dela diz-nos a amiga do Schauble. O gestor de conta já desistiu de te impingir cartões e já só te quer ‘consolidar’ a dívida: isso é capaz de ser falta de empreendedorismo da tua parte, vai mas é ao ‘Shark Tank’. O BES evaporou-se-te com as poupanças: queixa-te do governo, do Banco de Portugal e de Bruxelas, mas nunca (mas mesmo nunca) menciones o Ricardo. Ai achas indecente os rapazes da Assembleia fazerem os negócios de manhã e as leis que �iscalizam os negócios à tarde: tu queres é ‘gulag’ e Coreia do Norte. Andas fodido e mal pago e ainda por cima a rádio só dá dos The Gift para baixo, não stresses que qualquer dia o telhado do Conservatório abate e vacina-se logo a música para a próxima geração. Para os ricos ajudas e para o povinho valentes surras: ‘investe’ mas é no Euromilhões e na raspadinha que se tudo o mais falhar vale-nos a Cristina (de manhã), a Sô Dona Fátima (à tarde) e o professor Marcelo (domingo à noite).

O avô passava fome: ó �ilho é a crise! O pai ia descalço para o fabrico: o raça do diabo da crise! O �ilho não tem emprego a não ser a falsos recibos verdes: ó porra da crise! A ver se a puta da crise chega ao tempo da neta, para a garota não perder a oportunidade de participar nesta velha tradição.

Não fos amos os salários ‘competitivos’ e o desemprego no nível ‘necessário’? A rapaziada na ordem e os gregos no lugar deles, lá em baixo, caladinhos e agradecidos por não lhes privatizarmos as ilhas boas de praia todas e não os entregarmos ao partido nazi (em 67 não fomos tão meigos).

Vá, bolinha baixa que no fundo no fundo a crise é linda. Vá lá, repitam comigo ‘‘guerra é paz! liberdade é escravatura! ignorância é força! obrigado senhor doutor!’’. Deus e os Nossos Senhores nos livrem do dia em que se acabe a crise!

Tiago Matos Silva é antropólogo, doutorando

e investigador

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Morre

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Carn

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tão?

Joana Costa, jornalista "in between jobs” e autora do blogue Caramelo Repetido

O dia era de chuva, cenário mais que provável no início de Dezembro. Dormira repleta de ansiedade, iria fazer a primeira ecogra�ia para ver o seu “rapaz grande”, assim descrito pelo médico. No entanto, como sempre, o destino trocou-lhe os planos. Com as águas rebentadas durante a madrugada só teve tempo de voar para a maternidade da sua terra.

Deitada numa cama há várias horas, entre dores intermitentes e estranhas quando comparadas com o seu primeiro parto, testemunha um hospital em alvoroço, colado à rádio e ao arcaico aparelho de televisão. “Sá Carneiro morreu, mulher”, esclareceu alguém que em resposta teve um gemido em jeito de “e? Estou aqui cheia de dores em alegado trabalho de parto”.

Dois dias depois, todas as personagens estavam bem mais calmas, mas as dúvidas dos dois lados permaneceram. A�inal foi acidente ou atentado? E o “bebé grande, nasce ou nem por isso?”. Eis que eu �inalmente tive coragem e mergulhei neste mundo de parto normal, sem ouvir um único “ai” da minha mãe coragem. No imediato foi-lhe dito que a�inal era uma menina pequenina e que havia outra lá dentro, “atravessada”.

“Não deixe morrer”, a resposta pronta de uma verdadeira mãe que entre dores, dúvidas, estranheza, pensou, apenas e só, na sua cria.

Foram precisos quase 20 dias para termos alta, porque, à la lebre, quem vem à frente nem sempre vence. Precisei de incubar. Ainda hoje incubo sonhos, ideias e dúvidas. As mesmas que permanecem nos outros personagens desta história com 34 anos.

À falta de condições hospitalares rumámos todos de imediato de S. João da Madeira ao Porto. Eu, minúscula, ao colo do bombeiro, a minha mãe e irmã em grande perigo de vida. Ali a ignorância teve o papel principal. Três horas depois do meu nascimento e a mais de 30 kms, estava a minha mãe preparada para um cesariana quando a minha gémea sai de pés. “Sinal de felicidade” rematou de imediato uma enfermeira aliviada pelo �inal feliz.

Carla Prino é antiga operadora de “call center” e activista dos

Precários In�lexíveis

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os?

Há já quem diga que a crise não é mais do que uma vingança dos mercados contra o Direito do Trabalho, ou seja, que o Direito foi longe demais na protecção de direitos e é um empecilho no caminho do capitalismo e das políticas neo-liberais. Assim se justi�icam as medidas de �lexi-segurança adoptadas desde o início da crise, em especial a reforma laboral introduzida em 2012; a qual contribuiu para a desconsideração da pessoa do trabalhador, do valor do tempo de trabalho e de vida, como defende o professor Jorge Leite, especialista em Direito do Trabalho.

A juntar às regressões da Lei do Trabalho, uma novilíngua tem-se imiscuído no cenário laboral. Novilíngua que Orwell referia como linguagem criada para restringir e condicionar o pensamento, subvertendo, invertendo ou rede�inindo a realidade; de modo a manipular as massas, com o objectivo de as convencer à subjugação. Que é como quem diz: controlar, mantendo toda a gente na linha de interesse de quem aplica essa tal novilíngua.

A novilíngua da moda é concebida pelos próprios mercados. Enquanto trabalhador é-te exigido pro�issionalismo, quando não te dão as condições para tal. Fazem-te crer que se falhas é por culpa tua, porque te falta o tal talento e não estás a dar o teu melhor. Chamam-lhe inadaptação e podem despedir-te por isso, graças à reforma laboral de 2012 (�lexi-segurança, dizem).

E mais, se quiseres defender-te, não podes, pois a ideia de defenderes os teus direitos e entrares em con�lito com a che�ia é-te sempre negada e pode ser interpretada como ingratidão ou falta de educação. Gostar de ser bem tratado é visto como sinal de comunismo e não queres levar com esse rótulo no trabalho, pois não? És só mais um a produzir a riqueza de outros e há mais na �ila, se não quiseres.

Fora do mercado laboral, a novilíngua dos mercados também tem dado o ar da sua graça. As empresas e corporações arranjaram um bela forma de “responder” à crise. Usam as redes sociais como meio de difusão e publicidade e querem ensinar-te a “lidar com o desemprego”; como se a culpa da crise fosse tua ou como se se tratasse de um problema psicológico. Inventam esquemas como: DESEMPREGO - D de determinação, porque há que acreditar sempre(!); E de entusiasmo, porque é uma oportunidade de mudança; S de sorte, porque também é um factor e tens de te manter atento a todos os sinais que evidenciem uma oportunidade; E de experiência, e esta não se percebe; M de mobilização, porque tens mesmo é que te mexer; P de paciência, pois claro; R de rigor, porque deves empenhar-te na tarefa da procura; E de ensinamentos, porque a situação de desemprego te dará grandes lições de vida; G de gestão, porque tens de te tornar um verdadeiro gestor, já que estás com o orçamento limitado e com “demasiado” tempo livre; e, por �im, O de orientação, porque tens de te orientar e se vires que não consegues, ou procuras ajuda psicológica ou uma empresa que te consiga orientar, como uma ETT. Que conveniente.

Os mercados têm-se empenhado em atribuír todas as culpas ao

indivíduo. Também a crise. Mas de onde vem mesmo

a crise, a�inal?

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O Primavera Soundde Barcelona faz 15 anos e este é o cartazFoi preciso descarregar uma aplicação e jogar um jogo. Um nome do cartaz é revelado a cada personagem que se combate. Não fomos longe no jogo mas descobrimos o cartaz da 15ª edição do Primavera Sound de Barcelona, que acontece de 28 a 30 de Maio. Black Keys, Belle and Sebastian, Sleater-Kinney, Run the Jewels e Interpol são alguns dos nomes con�irmados.

Não será de estranhar que alguns dos nomes anunciados nesta quarta-feira passem depois pelo Porto para a edição portuguesa do festival, como já vem sendo habitual. O cartaz para o NOS Primavera Sound, que acontece no Porto de 4 a 6 de Junho, é anunciado em Fevereiro. Con�irmado está já o regresso de Patti Smith que, quase quatro décadas depois, interpretará o álbum de culto "Horses", além de uma segunda actuação em formato acústico e "spoken word". Os britânicos Ride já estavam igualmente con�irmados.

Além destes, já se sabia que também os Strokes tinham viagem marcada para Barcelona. O que não se sabia ainda era que a banda norte-americana se vai desdobrar igualmente em actuações em nome próprio, nomeadamente a de Albert Hammond Jr. e a de Julian Casablancas com os The Voidz.

A estes nomes juntam-se bandas como Black Keys, Belle and Sebastian, Sleater-Kinney, Run the Jewels, Interpol, Foxygen, The Replacements, the New Pornographers, alt-J ou Death From Above 1979.

Destaque ainda para Antony Hegarty que apresentará canções novas, assim como para James Blake, que também dará a conhecer material novo. E depois há ainda: Panda Bear, DIIV, the Julie Ruin, Unknown Mortal Orchestra, Spiritualized, tUnE-yArDs, Twin Shadow, Perfume Genius, Mac DeMarco, Swans, Iceage, Jose Gonzalez, Dan Deacon, Sun Kil Moon, Fucked Up, Kelela, Ariel Pink, Mikal Cronin, Tyler, the Creator, Shabazz Palaces, Jon Hopkins, Caribou e Ex Hex, entre muitos outros.

Não faltam os habituais, aqueles que não falham uma edição, entenda-se os Thee Oh Sees e os Shellac. De regresso estará também Thurston Moore e a sua banda.

Acreditámos que o futuro das cidades passa pela criação de sistemas mais sustentáveis e alguns autores têm defendido que também a agricultura passa pelas cidades.

"Recicla o café" quer reduzir desperdícios e repovoar cidades

A ideia de transformar borras de café em cogumelos não é nova. O que distingue o "Recicla o Café", esclarece o arquitecto, é a "adaptação da ideia ao território nacional" e a "dimensão cidade". "Não é só um projecto que aborda a questão do desperdício, é um projecto que tem a ver com a economia das cidades, que quer combater o esvaziamento das funções das cidades, repovoá-las e reduzir gastos energéticos".

Têm o café como ponto de partida e o repovoamento das cidades como chegada. Pode parecer estranho à primeira leitura, mas rapidamente se entranha. Pedro Marques Alves e Bojan Balen trabalham na área de planeamento urbano na Holanda e, por lá, perceberam há muito que é nas cidades que se vai desenhar o futuro da produção agrícola, usando o desperdício do consumo alimentar como base para novas produções. Quando pensaram em criar um projecto a partir de desperdícios alimentares para ser implementado em Portugal foi fácil chegar ao produto sob o qual poderiam trabalhar: o café, bebida que se consome no país a um ritmo de 47 milhões de quilos por ano, e cujas borras são um substrato rico em nutrientes.

O "Recicla o Café" quer aproveitar o desperdício associado a esta bebida e produzir cogumelos a partir dele. No processo de passar água quente por café torrado e moído, 99% do café é desperdiçado e as borras acabam quase sempre no lixo. A ideia de Pedro e Bojan, desenvolvida com a bióloga Patrícia Santos, passa por aproveitar este substracto, muito presente em meios urbanos.

"Este projecto tem muito a ver com aquilo que é a nossa visão de cidade. Acreditámos que o futuro das cidades passa pela criação de sistemas mais sustentáveis e alguns autores têm defendido que também a agricultura passa pelas cidades. Que urbanidade e ruralidade vão conviver no mesmo território", disse ao P3 o arquitecto Pedro Marques Alves.

O "Reciclar o Café" pretende ainda delinear parcerias com restaurantes e cafés, já que 80% do café consumido em Portugal é bebido fora de casa. "Queremos que sejam nossos parceiros neste projecto. Para a maioria deles, as borras de café são lixo ao �im do dia, mas vamos mostrar que podem ter um valor no futuro. A ideia é que os parceiros sejam bene�iciados, ou podendo revender os cogumelos ou através de publicidade."

Um protótipo e um laboratórioO trio quer levar a produção agrícola para dentro das cidades e criar um protótipo e um laboratório de pesquisa para o desenvolvimento de outras formas de transformação de desperdícios alimentares. "Queremos ter um edi�ício com características quase laboratoriais para que a produção seja feita com 100% de colheita garantida", revelou Pedro Marques Alves, destacando que este espaço seria também uma forma de "promover emprego quali�icado".

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Em 1986/87 deu início o processo de evacuação e realojamento de toda a população e em 1994, �inalmente, a cidade foi demolida, dando lugar ao Parque de Kowloon. "Acho que o que nos motivou foi em grande parte um interesse em apresentar a Cidade Murada como uma comunidade extraordinária que funcionava dentro desta fenomenal estrutura, mais do que apresentá-la como um bairro de lata, como era maioritariamente descrita. Quanto mais tempo uma pessoa passava lá mais se apercebia de que o local era um exemplo de uma comunidade dentro de uma espécie de "edi�ício vivo" que era capaz de dar resposta às necessidades dos seus habitantes. habitantes de Hong Kong nunca esteve presente.

A primeira edição do livro foi lançada em 1993 e por se ter tornado popular entre estudantes de arquitectura foi reeditado em 1999. "Ao longo dos anos, a 'Walled City' in�luenciou, contra todas as expectativas, realizadores, arquitectos, urbanistas, designers de jogos de vídeo entre outros, inspirados na sua atmosfera e na ideia de uma cidade sem planeamento e sem o contributo de arquitectos ou urbanistas. Com o apoio de uma campanha [de crowdfunding] no Kickstarter, eu e o Ian pudemos revisitar o nosso arquivo fotográ�ico e contar com a colaboração de escritores e outros artistas inspirados pela Cidade Murada e publicar uma versão mais completa e actualizada do livro "City of Darkness Revisited".

Em grande parte, esta capacidade de adaptação era o resultado das invulgares circunstâncias históricas da Cidade Murada: �icou fora da jurisdição da lei de Hong Kong e embora tecnicamente fosse uma parte da China sob controlo inglês, na realidade não era governada por ninguém." Hoje em dia, a "Walled City" é vista como um ícone, apesar de no passado ter sido um local desaconselhado e onde a maioria dos

O livro "City of Darkness Revisited" retrata um microcosmo da cidade-estado de Hong Kong chamado "Kowloon Walled City" ("Cidade Murada de Kowloon"), demolido em 1994. O autor Greg Girard, em colaboração com Ian Lambot, fotografou entre 1987 e 1990 a cidade de 30 mil habitantes, considerando o ambiente "hostil para com pessoas de fora, especialmente com aqueles que tentavam fotografar". "Os moradores compreenderam que era importante documentar os últimos dias e tornou-se mais fácil trabalhar."

A Cidade Murada tinha a particularidade de viver na ausência de um sistema legal formal; entre 1949 e 1974, a acção policial era praticamente nula e o crime imperava: trá�ico de droga, prostituição, jogo e actividade económica ilícita. Gangs disputavam território, bordéis e casas de ópio e eram frequentes os homicídios resultantes de duelos com navalhas. Um dos moradores comentou que "se não acontecesse nas ruas principais, ninguém se importava." A toxicodependência era um grave �lagelo e os consumidores de ópio e de heroína que sucumbiam a doses mais pesadas eram depositados pelas famílias nas casas de banho públicas da Cidade Murada e mais tarde recolhidos pela 'Associação de Moradores de Kowloon'. O crime baixou após o ano de 74 devido à criação da 'Comissão Independente Contra a Corrupção'.

A Cidade Murada é uma cidade

fora-da-lei

Por volta dos anos 60, a população começou a aumentar e a construção em altura começou a fazer-se notar: a população construía andares no topo dos edi�ícios pré-existentes, colocando em risco o acesso de aviões ao Aeroporto Internacional Kai Tak. Apenas dois edi�ícios tinham elevador, em toda a cidade, embora as construções não apresentassem, após estabilização, menos de catorze andares. Dentro da sobrepopulada urbe a actividade económica era abundante; podiam encontrar-se fábricas de plásticos, metais e têxteis, mercearias, confeitarias, talhos, lojas de roupa e de conveniência, clínicas médicas e dentárias de baixo custo - com serviços practicados por pessoas sem licença de actividade e que não conseguiam exercer a pro�issão noutro local.

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Eles ilustraram o NOS Primavera Sounda preto e brancoCoube novamente ao Canal 180 a responsabilidade de produzir o vídeo o�icial do cartaz do NOS Primavera Sound, que esta sexta-feira foi exibido durante a conferência de imprensa de apresentação do "line-up" realizada na Câmara Municipal do Porto. E, este ano, decidiram-se por uma abordagem 2D — convidaram dez ilustradores do Porto que, os últimos dez dias, trabalharam sem cessar para nos trazerem, a preto e branco, Antony Hegarty, FKA Twigs, Mac DeMarco, entre outros. São eles João Moreira, Leonor Cunha, Mário Meira, Cristiana Gouveia, Lourenço Providência, Nuno Kercadio Sarmento, José Guilherme Marques, Nuno Pinto, Maria Mónica e Inês Pinto. O vídeo completo, realizado por João Diogo Marques, está aqui.

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Ricardo Alves Lopes é licenciado em Marketing, apaixonado pela escrita e enamorado pela vida

Como tudo se alterou em quinze ou vinte anos. Sou um miúdo, com os meus vinte e sete anos, mas tenho a noção disso.

Há duas décadas, editar um livro ou um disco era um privilégio apenas reservado, sobremaneira, aos predestinados, ou, por outro lado, aos que muito se entregavam a uma paixão. Porventura, aos dois casos em apenas um.

Entrega a uma paixão é trabalho. Trabalho árduo, onde se está disposto a abdicar do prazer por si, para ter horas de tormenta a aperfeiçoar algo que deveria sair de forma inata. O prazer de ouvir boa música ou ler grandes autores, con�luindo em horas e horas de arranjos nos acordes ou na narrativa, para �indarem em tentativa falhadas. Falhadas, não desperdiçadas, porque esses erros, a percepção deles e as opiniões e conselhos alheios, são o que fundamenta o aperfeiçoamento que vai encaminhando para o tal patamar de excelência, que era merecedor de publicação.

Hoje, as coisas tornam-se substancialmente diferentes. A edição de livros ou álbuns democratizou-se, mas num sentido nem sempre positivo. A diminuição dos custos associados à edição, seja de música ou livros, abriu uma caixa de pandora para muitos que, não tendo essa capacidade de sacri�ício, têm um sonho. E aí surgem as vendedoras de sonhos, que para efeitos legais têm o nome de editoras. Na música como na literatura, existem as empresas, com o foco absoluto no ganho, que dispensaram a parte cultural, a que despoleta o raciocínio e encaminha para obras maiores, para fazerem desta área uma simples área de negócio, onde o lucro se encontra apenas associado ao lucro, sem nenhum tipo de preocupação artística.

Os escaparates estão sobrecarregados de música e livros totalmente vazios, que oferecem o entretenimento por si, sem nada mais que se possa de lá retirar. Em grande medida, isso transporta-se para outras áreas da nossa sociedade. Porém, existe algo de mais gravoso nesta situação, que é o aproveitamento dos sonhos alheios, para proveito próprio. Re�iro-me, claro, às recentes editoras que surgiram para sugar o dinheiro das pessoas, através da fomentação da ideia que os jovens autores, pouco experimentados na área da escrita e da música, já se encontram no patamar ideal de publicação. Existem casos em que isso é verdade, mas, nesses casos, não seria necessário às editoras solicitarem aos autores que pagassem a sua publicação, pois elas próprias, experimentadas na área, saberiam que o retorno surgiria de forma natural. Há autores que existem para vender, outros que exigem para prestigiar o catálogo da marca. Em ambos os casos, é rentável, seja pelo lucro ou pela notoriedade. De outro modo, é apenas um aproveitamento.

O melhor que se pode fazer pelo sonho de um jovem, com aspirações musicais ou literárias, é ser-se sincero. Dizer que ainda não é momento, ou que, para sê-lo, é necessário aperfeiçoar detalhes. De outro modo, estarão apenas a lucrar dinheiro com um sonho, sabendo que os livros ou discos não venderão. Ou vender-se-ão pelo mesmo fenómeno que vende o José Rodrigues dos Santos e os cantores que saem das casas dos segredos: a fama.

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Pode um documentário sobre vacas mudar os nossos hábitos?Não tem (muitas) imagens que impressionam, ao contrário do que acontece com outros documentários que alertam para a realidade da criação de animais para consumo. São os números, apresentados em hora e meia, que mais chocam quem assiste a “Cowspiracy — A Sustainability Secret”. Entre tentativas falhadas de chegar à fala com associações de defesa do ambiente, entrevistados que evitam questões incómodas e especialistas que sublinham o impacto altamente nocivo da exploração pecuária intensiva para a saúde da Terra, Kip Andersen e Keegan Kuhn criaram um documentário “que incentiva as pessoas a agir, sem ser impositivo”.

Má distribuição dos alimentos produzidos

“Não seria necessário todos deixarmos de comer carne. Seria, isso sim, que todos deixássemos de comer tanta carne”, defende a jovem que vive no Porto. Opinião similar tem o presidente da Quercus, Nuno Sequeira, que acrescenta outros dados à discussão. A média anual de consumo de carne está, actualmente, nos 40 quilogramas por pessoa; na década de 60 do século XX, �icava-se pelos 25. “Mais do que discutir se devemos optar por um regime exclusivamente vegetariano ou não, o documentário reitera que todos temos que fazer um esforço para alterar a nossa dieta alimentar”, acredita.

Podem 51% das emissões globais de gases com efeitos de estufa ter origem na pecuária e em todos os seus produtos derivados, um valor muito superior àquele da responsabilidade de todos os transportes combinados (13%)? Segundo dados da associação World Watch, sim. Mas para a FAO, a percentagem desce para os 18%. A discrepância pode explicar-se, sugere o presidente da Quercus, pelo facto de nas contas da FAO estar apenas considerada a produção e não o transporte, por exemplo.

Há estimativas da Organização da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO) que vão ao encontro desta ideia: é produzida uma quantidade su�iciente de alimentos, a nível mundial, para alimentar de forma satisfatória toda a população terrestre. São é mal distribuídos — há 1.500 milhões de pessoas com excesso de alimentos.

Ao P3, o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) observou ser “fácil concordar” com a redução de ingestão de proteínas de origem animal, mas que esta implicaria “enormes desa�ios”. “Será, sem dúvida, uma revolução global inevitável para a civilização humana, tal como a conhecemos, poder sobreviver", remata. Até porque, de acordo com o �ilme, uma dieta vegetariana re�lecte-se numa diminuição de 50% da pegada de carbono de cada um na Terra.

Sheila Teodoro foi uma das espectadoras no cinema do Saldanha Residence. Já tinha ouvido falar do �ilme, mas não sabia propriamente o que esperar. Como veterinária, a jovem tinha noção de algumas das consequências ambientais da agro-pecuária mas não estava preparada para os números“Depois de ver os factos foi fácil mudar”. Sheila, que não come carne há perto de 20 anos, abandonou de vez os derivados de origem animal e o peixe. Sente-se bem com esta mudança alimentar “hoje em dia é tão mais fácil ser-se vegano do que era há 20 anos”, consequência assumida dos factos revelados por Kip e Keegan. “Para mim, faz todo o sentido, sobretudo depois de saber a percentagem de emissão de gases, o gasto de água na produção de lacticínios e o impacto nos oceanos”, enumera.

A análise é de Rita Silva, presidente da Animal há já 11 anos. “Tenho recebido dezenas de e-mails de pessoas, que me conhecem ou não, que depois de verem o �ilme �icaram mesmo mudadas, tiveram um clique”, diz em entrevista ao P3. No início de Janeiro, “Cowspiracy” foi exibido num cinema de Lisboa, com sessão dupla. A iniciativa partiu de Rita e do apresentador de televisão João Manzarra. A primeira é amiga de um dos realizadores do �ilme e desde que ouviu falar dele que o queria passar em Portugal. O segundo reconheceu o impacto que ver o documentário teve na sua vida: perante milhares de seguidores nas redes sociais, Manzarra assumiu uma nova dieta baseada em produtos de origem vegetal e vendeu a participação numa petisqueira da qual era sócio, por uma questão de consciência.

“Não seria necessário todos deixarmos de comer carne. Seria,

isso sim, que todos deixássemos de comer tanta carne”

Portugal com elevada pegada hídrica

A dupla de realizadores norte-americanos centrou-se, sobretudo, na realidade do seu país. Mas, e em Portugal? “A nossa realidade é comparável numa outra dimensão”, alega Rita Silva, concepção que o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, partilha. “A forma de alimentação dominante nos EUA é uma aberração em termos de carga calórica e de quantidade, levando aos graves problemas de obesidade que todos conhecem. Um exemplo: num restaurante americano serve-se uma costeleta com 700 gramas, o que é impensável em Portugal”, a�irmou, remetendo para as declarações ao “Expresso”. Portugal é dos países europeus com maior pegada hídrica, aponta Nuno Sequeiro: 80% da água consumida é para efeitos de agricultura. A nível mundial, de acordo com o documentário, um terço da água doce da Terra é gasta na indústria da carne e dos lacticínios; o valor médio da União Europeia é ainda mais elevado, chegando aos 46%. Na introdução do �ilme, Kip conta como “Uma Verdade Inconveniente” (2006), do antigo vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, teve um impacto impressionante na sua vida. Os dados que o Prémio Nobel da Paz de 2007 revelou �izeram com que Kip se tornasse “obcecado pelo ambiente”: passou a reciclar absolutamente tudo, a usar a bicicleta como principal transporte, a tomar duches mais curtos e a fechar a torneira na hora de lavar os dentes.

Achava que estava a fazer tudo que podia para “mudar o mundo” — a�inal, parece que não. Estes gestos ajudam, claro, considera Raquel. Mas, tal como o realizador de “Cowspiracy”, também a jovem se apercebeu que um banho mais curto “representava uma coisa mínima”. “Isso foi mesmo o choque maior”, confessa, porque “não tinha noção dos números”: 2500 litros de água são su�icientes para dois meses de banhos de chuveiro, mas apenas chegam para a produção de um hambúrguer. Ao não mencionar o impacto da pecuária nas alterações climáticas, Al Gore deixou Kip “desiludido”, que juntamente com Keegan trabalhou durante meses para perceber como o assunto está a ser tratado. Associações de defesa do ambiente de nível global recusaram-se a prestar esclarecimentos ou sequer a recebê-los. A Greenpeace — provavelmente a mais conhecida e mediática — foi uma das que declinou. Raquel sentiu-se “muito enganada”. “Tu achas que são elas que têm um papel importante em tentar mudar algumas coisas e estão é a encobrir dados, a varrer para debaixo do tapete.”

7 mil milhões humanos habitam a Terra

70 mil milhões animais de

quinta criados

50 %

dieta vegetariana reduz

a pegada de carbono na Terra

2500 lprodução de 1 hamburguer

2 meses de duches

água necessária

51% das emissões de gases com efeito de estufa têm origem na pecuáriae seus derivados

13 %

impacto dos transportes

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NOS Primavera Sound 2015: ao quarto ano, o festival é para todosAs contas de cabeça começaram há semanas, quando foi conhecido o cartaz do Primavera Sound de Barcelona. Pois bem, esses dias terminaram. O cartaz da quarta edição do NOS Primavera Sound, que se realiza no Porto de 4 a 6 de Junho, foi conhecido esta sexta-feira 13 (que de 13 terá muito pouco) e inclui Interpol, The Replacements, Antony and The Johnsons, Belle & Sebastian, Underworld, Run The Jewels, FKA Twigs e muito mais. Vejamos.

A Patti Smith e Ride, artistas já anunciados o�icialmente, juntam-se assim o barítono Paul Banks e os seus Interpol, que, depois de umas aventuras a solo, regressaram aos discos no ano passado com "El Pintor". Teremos lições de história com os lendários The Replacements, arquitectos da ponte que fundou o indie rock da década de 90 ("sem eles, a música em 2015 poderia ser muito diferente", escreve-se no blog do "NME"), agora a arriscarem uma nova vida, e os Underworld, que nos levam numa visita de estudo a "dubnobasswithmyheadman", álbum lançado há 20 anos e que eliminou fronteiras na música electrónica (uma lição de história de techno ao vivo, portanto).

Con�irmados ainda o inconfundível Antony Hegarty, que se apresenta com os seus Johnsons para apontar canções certeiras ao coração (vai apresentar material novo em Barcelona), e os sempre ansiados Belle & Sebastian, acabadinhos de lançar o nono álbum de estúdio, "Girls in Peacetime Want to Dance". E mais regressos a caminho: o das aguerridas Babes in Toyland, que depois de um silêncio de vinte anos — actuaram no Imperial ao Vivo, em Gaia, em 1997 — prometem partir a loiça toda, e o de Mary Timony, ex-Helium, ex-Wild Flag, que está de volta, mais leve, com as Ex Hex.

Também marcam presença os mestres do experimentalismo rock Einstürzende Neubauten, que em "Lament", lançado em Novembro, reproduzem a banda sonora da Primeira Guerra Mundial. E, claro, não poderia faltar a banda fetiche do festival, os Shellac de Steve Albini. Thurston Moore está de regresso com a sua banda, depois de ter passado por Portugal no Verão, tal como Sun Kil Moon, projecto do ex-Red House Painter Mark Kozelek.

De Dan Deacon a Ariel Pink (e Manel Cruz)

Está ainda prometida uma viagem pelo que de melhor se fez na música nos últimos tempos. O hip-hop do "power duo" Killer Mike e El P, isto é, Run The Jewels e a pop futurista da menina-ovni FKA Twigs, que assinaram dois dos grandes marcos de 2014. O excêntrico Ariel Pink, super estrela independente, chega sem os seus Haunted Graf�iti (assinou o primeiro trabalho a solo no ano passado com "Pom Pom") e o mestre da electrónica Dan Snaith, aqui Caribou, regressa a Portugal com o seu aclamado "Our Love". Mais boas notícias: teremos por cá novamente o "enfant-terrible" canadiano Mac DeMarco, a sensação soul Jungle, as canções orelhudas de Mikal Cronin, o noise visceral dos Health. E, na prata da casa, Manel Cruz, num concerto especial, em que passa em revista os vários projectos em que já esteve envolvido, o multi-instrumentista Bruno Pernadas e a Banda do Mar, do trio Fred Ferreira, Marcelo Camelo e Mallu Magalhães, a traçar um vaivém musical entre Portugal e Brasil.

Já sabemos, pela amostra de 2013, que é obrigatório ver Dan Deacon ao vivo e, em 2015, teremos uma nova oportunidade de estar numa festa de electrónica alucinada no Primavera — ainda para mais, o desconcertante músico lança um novo álbum, "Gliss Riffer", este mês. E, nesta sexta-feira 13, uma prenda para quem em 2012 lamentou o cancelamento dos Death Cab For Cutie: os norte-americanos também têm viagem marcada para o Porto. Ah, mais uma: os californianos Foxygen, que no ano passado desmarcaram as datas europeias. Damien Rice e José González trazem o seu folk intimista, enquanto que, noutro universo, os veteranos do doom Electric Wizard, os fúnebres Pallbearer e os apocalípticos Pharmakon prometer puxar o volume ao máximo. E ainda o super-grupo indie The New Pornographers e os Spiritualized de Jason Pierce.

O cartaz �ica completo com os Giant Sand de Howe Gelb, o produtor Juan MacLean em formato "live", os efervescentes Viet Cong, e ainda Baxter Dury, Kevin Morby, The KVB, Marc Piñol, Movement, Ought, Roman Flügel, Twerps, Xylouris White, Yasmin Hamdan e Younghusband. O di�ícil será escolher, mas esses cálculos �icarão para depois, quando forem conhecidos os horários.

Mais do que um festival do 8 aos 80

Na conferência de imprensa, que teve lugar na Câmara Municipal do Porto num evento que foi aberto ao público e onde o cartaz foi revelado através de um vídeo ilustrado soube-se ainda que ao quarto ano o NOS Primavera Sound abre-se ainda mais a novos públicos. "Não é um festival dos 8 aos 80, é mais do que isso", nas palavras do presidente da câmara, Rui Moreira.

Este ano, duas semanas antes do festival, o Parque da Cidade recebe o NOS Mini Primavera Sound, uma espécie de Primavera em "versão para crianças", perfeito para famílias. A ideia é manter a mesma "lógica musical", mas para os "mais pequenos", explicou Pedro Moreira da Silva, da NOS. E, à semelhança do ano passado, o Passeio das Virtudes acolhe os festivaleiros no Primavera nas Virtudes, de entrada livre. Os alinhamentos para ambos serão conhecidos em breve. Traçando um balanço da edição anterior, o director do festival, José Barreiro, foi peremptório: "Conseguimos fazer deste festival um marco da cidade."

A quarta edição do NOS Primavera Sound realiza-se de 4 a 6 de Junho no Parque da Cidade, Porto. Os passes gerais, à venda nos locais habituais e no site o�icial, podem ser adquiridos pelo preço promocional de 90 euros até 25 de Fevereiro, passando depois para 105 euros.

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Faz o check-ine leva um cão contigoUm hotel americano teve a ideia de dar um novo lar a cães que foram abandonados: os hóspedes podem adoptá-los, sem qualquer custo. O conceito surgiu numa viagem de avião – uma das voluntárias de uma associação de resgate de animais da cidade sentou-se ao lado de um dos empregados do hotel e falaram sobre as di�iculdades de adopção destes animais. Foi aí que surgiu a ideia de os levar a passear no hotel, que sempre permitiu que os turistas pudessem levar os seus próprios animais de estimação.

O processo é muito simples. Quando o cliente chega à recepção, vê um cão que está vestido com um casaco que diz “Adopta-me”. No Aloft, nome do hotel, existem mesmo espaços reservados para os cães, como a recepção e o telhado. Caso um hóspede queira levá-lo a passear pelo hotel, também o pode fazer.

Se houver interesse na adopção, o hóspede tem de entrar em contacto com a Charlie’s Angels Animal Rescue, onde serão entrevistados para se perceber se estão aptos para cuidar do animal.

A ideia foi desenvolvida em parceria do hotel com a organização de resgate de animais e desde Julho do ano passado já conseguiram arranjar casa para mais de 20 cães.

O programa de adopção de cães abandonados espera que a ideia se repita noutras cidades. Aliás, a associação que trabalha com este hotel já recebeu dezenas de chamadas de outros hotéis americanos para poderem pôr em prática a ideia.

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