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1 México e Brasil nos relatos de um exilado político (1969-1979) Pablo F. de A. Porfírio * Em 1969, Francisco Julião publicou seus primeiros artigos na revista mexicana Siempre!. A partir de 1972, passou a escrever textos semanais. Até 1979, foram cerca de 250, que circularam nas edições da Siempre!, em uma coluna que por vezes trazia o título de América Latina, hoy. Nas quintas-feiras, a revista era posta nas ruas e consumida por um público cativo de intelectuais, artistas, estudantes e pessoas interessadas em ler, principalmente, as opiniões do time de colunistas sobre a política no México e na Latinoamérica. José Pagés Llergo, amigo de Francisco Julião e do presidente do Chile, Salvador Allende, era o diretor da revista. Ele tinha uma relação de amizade também com Luis Echeverría, presidente do México entre 1970 e 1976, a quem chamara de “Querido Luis” em uma carta 1 . Existia um bom convívio entre o presidente e a publicação, na qual circulavam alguns textos favoráveis ao governo. Essa condição de proximidade não anulava totalmente uma atitude crítica e de independência por parte da direção. Quando Julio Scherer foi golpeado pela repressão governamental e expulso com sua equipe da redação do jornal Excélsior, Pagés Llergo o ajudou, disponibilizando as páginas de sua revista e sua maquinaria. Nas oficinas de Siempre! nasceu a primeira publicação de Proceso 2 , novo empreendimento de Scherer. José Pagés Llergo adotava uma posição de cautela. Apesar da liberdade que os articulistas tinham para suas publicações, havia limites bem estabelecidos pelo diretor, que costumava fazer o seguinte alerta: “Recordem que há três tabus: o Presidente da República, o exército mexicano e a virgem de Guadalupe. Anotem isso e vamos seguir tranquilos” 3 . Francisco Julião chegou ao México no último dia do ano de 1965, como exilado político da ditadura brasileira iniciada no ano anterior. Passou a ser mais conhecido no México pela publicação dos seus artigos durante quase toda a década de 1970. Rodrigo Moya, fotógrafo que trabalhou, entre outras, para a Siempre!, nos anos 1960, cobriu - * Bolsista de Pós-doutorado Júnior do CNPQ/UFPE. 1 Carta reproduzida em MUNGUÍA, Jacinto Rodríguez. La outra guerra secreta: los archivos prohibidos de la prensa y el poder. Debolsillo: México, 2010. p. 230 2 Proceso é atualmente a principal revista semanal de oposição aos governos do Partido Acción Nacional – PAN e do Partido Revolucionário Institucional – PRI. 3 MUNGUÍA, Jacinto Rodríguez. La outra guerra secreta: los archivos prohibidos de la prensa y el poder. Op. Cit. p. 232

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México e Brasil nos relatos de um exilado político (1969-1979)

Pablo F. de A. Porfírio∗∗∗∗

Em 1969, Francisco Julião publicou seus primeiros artigos na revista mexicana

Siempre!. A partir de 1972, passou a escrever textos semanais. Até 1979, foram cerca de

250, que circularam nas edições da Siempre!, em uma coluna que por vezes trazia o

título de América Latina, hoy. Nas quintas-feiras, a revista era posta nas ruas e

consumida por um público cativo de intelectuais, artistas, estudantes e pessoas

interessadas em ler, principalmente, as opiniões do time de colunistas sobre a política no

México e na Latinoamérica.

José Pagés Llergo, amigo de Francisco Julião e do presidente do Chile, Salvador

Allende, era o diretor da revista. Ele tinha uma relação de amizade também com Luis

Echeverría, presidente do México entre 1970 e 1976, a quem chamara de “Querido

Luis” em uma carta1. Existia um bom convívio entre o presidente e a publicação, na

qual circulavam alguns textos favoráveis ao governo.

Essa condição de proximidade não anulava totalmente uma atitude crítica e de

independência por parte da direção. Quando Julio Scherer foi golpeado pela repressão

governamental e expulso com sua equipe da redação do jornal Excélsior, Pagés Llergo o

ajudou, disponibilizando as páginas de sua revista e sua maquinaria. Nas oficinas de

Siempre! nasceu a primeira publicação de Proceso2, novo empreendimento de Scherer.

José Pagés Llergo adotava uma posição de cautela. Apesar da liberdade que os

articulistas tinham para suas publicações, havia limites bem estabelecidos pelo diretor,

que costumava fazer o seguinte alerta: “Recordem que há três tabus: o Presidente da

República, o exército mexicano e a virgem de Guadalupe. Anotem isso e vamos seguir

tranquilos”3.

Francisco Julião chegou ao México no último dia do ano de 1965, como exilado

político da ditadura brasileira iniciada no ano anterior. Passou a ser mais conhecido no

México pela publicação dos seus artigos durante quase toda a década de 1970. Rodrigo

Moya, fotógrafo que trabalhou, entre outras, para a Siempre!, nos anos 1960, cobriu - ∗ Bolsista de Pós-doutorado Júnior do CNPQ/UFPE. 1Carta reproduzida em MUNGUÍA, Jacinto Rodríguez. La outra guerra secreta: los archivos prohibidos de la prensa y el poder. Debolsillo: México, 2010. p. 230 2Proceso é atualmente a principal revista semanal de oposição aos governos do Partido Acción Nacional –

PAN e do Partido Revolucionário Institucional – PRI. 3MUNGUÍA, Jacinto Rodríguez. La outra guerra secreta: los archivos prohibidos de la prensa y el poder. Op. Cit. p. 232

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em conjunto com um dos seus jornalistas, como Luis Suárez - a invasão das tropas dos

Estados Unidos a cidade de Santo Domingo em 19654, recorda que o exilado brasileiro

era uma leitura obrigatória para as esquerdas do México naqueles anos5. Moya não

conheceu pessoalmente a Julião, mas Luis Suárez esteve no Brasil, em 1962, e visitou a

Associação de Imprensa de Pernambuco, em Recife, onde estabeleceu contato com o

então deputado socialista e advogado dos camponeses6, de quem se tornou amigo nos

anos do exílio. O fotógrafo, que esteve junto com o jornalista Mario Menéndez entre

guerrilheiros na Venezuela e na Guatemala, em 1966, registrando parte do seu cotidiano

e de suas ações7, ainda lembra de Francisco Julião como um respeitado líder de

esquerda da América Latina8.

Quando lia os artigos semanais do brasileiro, Rodrigo Moya encontrava várias

análises sobre os processos considerados revolucionários na América Latina, alguns dos

quais registrados pelo fotógrafo9. Na quinta-feira, 20 de junho de 1973, a Siempre!

publicava a seguinte análise do exilado político:

[…] Enquanto a sombra de Che caminha pelos Andes como a de Bolívar, Fidel retorna ao continente, mais seguro de si mesmo, para aprender com Chile e com Peru, segundo ele mesmo confessa, com a humildade de um verdadeiro líder, que uma revolução nacionalista, popular e democrática, tanto pode sair da boca de um fuzil, como na Sierra Maestra ou das entranhas de uma urna, quando se trata do Chile […]10.

Francisco Julião, em alguns dos seus discursos antes de 1964, no Brasil,

afirmava não acreditar nas urnas como um meio para a redenção do povo e a revolução,

apesar de ter sido eleito em todos os pleitos nos quais foi candidato entre 1954 e 1962.

Na década de 1970, ampliou o seu leque conceitual sobre a revolução. Agora, ela

poderia ser realizada por meio das urnas, além do já conhecido uso das armas. O que

4CASTILLO TRONCOSO, Alberto del. Rodrigo Moya: una mirada documental. Ediciones El Milagro: México, 2011. p. 121-125. Além da Siempre!, também foram publicadas algumas das fotografias de Rodrigo Moya em reportagens da Revista Sucesos. 5 Conversa com Rodrigo Moya em Cuernavaca, México, 02 jun. 2012. 6 A informação sobre a visita está em CASTELLANOS, Diana G. Hidalgo. Um olhar na vida de exílio de

Francisco Julião. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. p. 65. 7CASTILLO TRONCOSO, Alberto del. Rodrigo Moya: una mirada documental. Op. Cit. p. 125-153. As reportagens sobre essas guerrilhas circularam nas páginas da Revista Sucesos. 8 Conversa com Rodrigo Moya em Cuernavaca, México, 02 jun. 2012. 9 Em 1964, Rodrigo Moya passou um mês em Cuba fotografando diversos aspectos da Revolução. 10 Revista Siempre! 20 de junho de 1973. p. 31. Hemeroteca Nacional, UNAM, D.F., México.

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importava é que se apresentasse como um movimento nacionalista, popular e

democrático, como se dizia ocorrer no México.

Deve-se atentar para a seleção produzida pelo articulista nesse pequeno trecho.

Referia-se a três países latino-americanos, sendo dois da América do Sul e um desses –

Chile – considerado fiel parceiro político do governo de Luís Echeverría. Cita Fidel

Castro, “um verdadeiro líder”, com quem o presidente mexicano havia produzido uma

visível reaproximação11, além dos nomes de lideranças políticas classificadas como

mártires revolucionários, “Che e Bolívar”.

Os temas presentes nesse texto, como em outros durante a década de 1970,

dialogavam com as ideias desenvolvidas e defendidas pelo governo de Luís Echeverría

tanto para a política interna, quanto para a externa. Os escritos de Francisco Julião na

Siempre! estariam dentro da ordem de discursos e práticas implantada no México, que

se desejava apresentar como revolucionário. Ademais, a imagem de um líder de

esquerda da América Latina, como lembrava Rodrigo Moya, poderia contribuir na

produção desse efeito.

Por esse caminho o exilado transitou e obteve reconhecimento político e

intelectual. Viajou ao Chile, Portugal e Argélia. Neste último foi recebido como o

representante do Comité de Solidaridad Latinoamericano12, integrado, entre outros, por

Pablo González Casanova, Mário Guzmán - o mesmo que havia escrito o artigo sobre

“Até quarta, Isabela” no jornal El Día - e Gabriel Garcia Márquez, com quem viajou a

Cuba, em janeiro de 1979, convidados por Fidel Castro, para participarem das

comemorações do XX aniversário da revolução. Esta foi a única visita de Julião a Ilha

em todo o período do exílio13.

Em 1978, junto com o ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, foi

convidado pela direção do PRI para participar das comemorações do cinquentenário do

partido, na cidade de Querétaro14. O trânsito de Francisco Julião por setores da elite

intelectual e política do México ajudava-o a compreender as regras daquela sociedade e,

ao mesmo tempo, possibilitava-o produzir uma inserção para si.

11 A revista Siempre! publicava algumas fotografias onde apareciam Fidel Castro e Luis Echeverría em ações informais, como passeios de barco e pesca. Desejava-se publicitar o laço de amizade entre os dois. 12 Francisco Julião representou o Comitê de Solidariedade na Conferência Internacional sobre o Imperialismo Cultural. Revista Siempre!, 16 de novembro de 1977. p. 46. Biblioteca Rubén Bonifaz, UNAM, D.F., México. 13 O relato dessa viagem a Cuba está no artigo Passaporte a Cuba: un breve viaje a la esperanza. Revista Siempre! 31 de janeiro de 1979. p. 42-43. Biblioteca Rubén Bonifaz, UNAM, D.F., México. 14 Divisão de Segurança e Informação – Ministério da Justiça / DSI-MJ. Caixa 3413. Doc. n° 100562 de 08 maio 1979. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro.

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Em julho de 1973, uma representação dessa elite encontrava-se na casa de José

Pagés Llergo. Estava ocorrendo um café da manhã, com enchiladas e tamales,15

comemorativo dos 20 anos de fundação da Revista Siempre! e se fizeram presentes

jornalistas, o Arcebispo de Cuernavaca e o presidente Luis Echeverría.

Fig. 07 –Desayuno (café da manhã) em comemoração aos 20 anos de fundação da Revista Siempre!. 18 jul. 1973.

15 Comidas tradicionais mexicanas.

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Fig. 08 –Desayuno em comemoração aos 20 anos de fundação da Revista Siempre!. 18 jul. 1973.

Das fotografias e seus usos podem ser destacadas duas intencionalidades. Uma

referia-se a representação de um Presidente democrático, que oferecia a possibilidade de

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um diálogo direto e franco com a imprensa. Assim pontuava a reportagem de Carlo

Cacciolo, participante do encontro, cujo título era: “Presença da grandeza em um

encontro: Echeverría – Siempre!. O mais alto nível de simplicidade, franqueza e

respeito”. O jornalista destacava a impressionante fala natural, limpa e sem enganações

do Presidente16.

Ainda no decorrer do texto, Cacciolo contava que havia sido questionado por

José Pagés Llergo sobre o que escreveria para a matéria, respondendo-lhe: “ao observar

de perto a Luis Echeverría um tem desejos de proclamar sem pudor que, apesar da

amplitude dramática, e talvez sem remédio, dos problemas que lhe e nos acossam é uma

charmosa aventura viver no país por ele governado”17. Havia uma aclamação ao líder.

A outra intencionalidade, presente nas legendas das imagens, seria a de produzir

a ideia de união, como peça chave para enfrentar os problemas do país e conduzi-lo

adiante. Nesse sentido, haveria três personagens de destaque, que ocupariam o centro

das fotografias e da narrativa que lhe conferem sentido: Luis Echeverría, presidente,

José Pagés Llergo, jornalista, e Don Sérgio Méndez Arceo, Arcebispo de Cuernavaca. O

Estado, a Igreja Católica e a imprensa estavam harmoniosamente no mesmo quadro

fotográfico e político.

No mesmo dia em que circulou a matéria com as fotos do desayuno

comemorativo foi publicado um artigo de Francisco Julião, cujo título era: “México e

Brasil, as linhas divergentes: o enorme abismo que separa a liberdade da escravidão”. O

texto apresentava uma integração com alguns dos elementos editoriais elencados no já

referido artigo de Carlo Caciollo.

Dizia em um dos trechos:

Essa abertura para fora [do México] perderia seu sentido, sua efetividade, seu realismo, se não encontrasse seu equivalente dentro das fronteiras geográficas, políticas, ideológicas do país. Aqueles que negam, de pés juntos, a existência de uma abertura interna, cometem, a nosso ver, um erro que somente o sectarismo pode explicar. […] Pois bem, no momento em que México se abre em busca de novos horizontes e se incorpora aos governos que na América Latina já sustentam, abertamente, o firme propósito de resistir às agressões imperialistas, Brasil se instrumentaliza para marchar em sentido oposto. Na sua viagem de retorno, a ditadura militar abastece os tanques com as sobras da desnacionalização acelerada e com esses mesmos tanques esmaga as liberdades. […] Enquanto México

16 Revista Siempre!, 18 de julho de 1973. p. 10. Biblioteca Rubén Bonifaz, UNAM, D.F., México. 17 Revista Siempre!, 18 de julho de 1973. p. 85. Op. Cit.

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dialoga, Brasil monologa. Assim, entre México e Brasil as linhas divergentes são bem nítidas18.

As diferenças entre o Brasil ditatorial e o México democrático estavam

demarcadas no texto e Francisco Julião teria autoridade para falar sobre isso. Foi

obrigado a sair do seu país, após passar mais de um ano preso, por questões políticas,

pelo governo militar. Recebido pelo México, apresentava-se com liberdade de escrever

e publicar as suas ideias. Esse era um enunciado possível e necessário. As advertências

da Secretaria de Gobernación e as perseguições da Dirección Federal de Seguridad não

deveriam ser lembradas.

O artigo informava aquilo que deveria ser identificado nas fotografias do café da

manhã comemorativo: “México dialoga”, era uma democracia. Existia “abertura” para

isso. Quando se produziu este enunciado, estava-se afirmando que Luis Echeverría

dialogava. Essa personificação era reforçada nas imagens publicadas na parte superior

das duas páginas ocupadas pelo texto, onde aparece de um lado a foto do presidente do

México e do outro, o seu oposto, Emílio Garrastazu Médici, ditador do Brasil.

Não se pode afirmar sobre o nível de proximidade entre Francisco Julião e Luis

Echeverría. Na entrevista publicada pelo jornal O Pasquim, em 1979, há um breve

comentário sobre a ligação entre o exilado e os filhos do presidente. Mais uma vez não

se pode precisar qual a intensidade desse contato, nem se ele já existia em 1973, nas

comemorações do XX aniversário de Siempre!19.

De volta ao artigo, pode-se ainda identificar que Julião criticava o governo

ditatorial do Brasil por promover uma desnacionalização e esmagar as liberdades. Se na

lógica proposta para o texto os dois países em questão seguiam caminhos opostos, a

denúncia sobre o Brasil reforçava a produção da legitimidade democrática para o

México, que seria nacionalista e livre.

Essa edição festiva da Revista dá forma então a um discurso visual20, constituído

pelas fotografias e pela estratégia narrativa, as quais informavam ao leitor a ideia de

liberdade, do respeito às instituições, da democracia e dos seus praticantes.

Dentre as três personalidades consideradas centrais, falta apresentar Sérgio

Méndez Arceo, arcebispo de Cuernavaca, que, assim como Pagés Llerg, era um amigo

18 Revista Siempre!, 18 de julho de 1973. p. 31. Op. Cit. 19 Jornal O Pasquim. 19 de Janeiro, 1979. p. 15. Fundação Biblioteca Nacional. 20 CASTILLO TRONCOSO, Alberto del. Ensayo sobre el movimiento estudiantil de 1968: la fotografía y la construcción de un imaginario. México: Instituto Mora: IISUE, 2012. p. 17.

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em comum entre Francisco Julião e Salvador Allende. Desde o final dos anos 1950, o

religioso já tinha iniciado mudanças litúrgicas em sua diocese, que proporcionavam

uma aproximação maior da Igreja Católica com os movimentos seculares, como: Acción

Católica Mexicana (ACM) e o Secretariado Social Mexicano (SSM). Nos anos

posteriores percebeu-se um aprofundamento dessa prática, principalmente, com a

realização do Concílio Vaticano II, que direcionou setores da Igreja Católica a debater e

se fazer mais atuante em questões sociais e políticas. Ao final de 1965, “a Igreja

mexicana não era nem a tradicionalista ultraconservadora nem a reformista radical,

ainda que alguns bispos se inclinassem por estas tendências. […] A Igreja mexicana

estava, em geral, mais aberta ao mundo secular”21.

O Arcebispo de Cuernavaca, já na década de 1970, continuava apoiando grupos

seculares, inclusive os compostos por pessoas formadas na Igreja Católica, mas que

depois a deixaram, como Ivan Illich, diretor do Centro Intercultural de Documentación -

CIDOC, onde Julião ministrava cursos e que se situava em Cuernavaca. Atuava “no

limite da permissividade do Vaticano”. Mesmo sem realizar uma crítica aberta à Igreja

de Roma, por meio de algumas de suas ações era possível identificar que o Arcebispo

estava em desacordo com várias normatizações oriundas das hierarquias superiores22.

Sérgio Méndez Arceo comandava, na Catedral de Cuernavaca, uma celebração

dominical iniciada às 11 horas da manhã. Nas suas homilias, o arcebispo

frequentemente abordava questões políticas e sociais do México e também da América

Latina. Tratou, entre outros, da censura ao filme Canoa, que relatava a prática criminosa

do anticomunismo, da vitória e depois da queda de Salvador Allende e do triunfo do

sandinismo. Revistas como Siempre! e Proceso, por vezes, reproduziam em suas

páginas parte dessas homilias, bem como realizavam e publicavam entrevistas com o

religioso. Luis Suarez, integrante da equipe de Pagés Llergo, foi um dos jornalistas que

o entrevistou várias vezes23.

Francisco Julião construiu uma relação de amizade com Sérgio Méndez Arceo.

Os dois se encontravam, conversavam e trocavam ideias seja no CIDOC, seja depois

das celebrações de domingo, das quais o asilado político sempre procurava estar

21BLANCARTE, Roberto J. Religiosidad, creencias e Iglesia em la época de la transición democrática. In: BIZBERG, Ilán & MEYER, Lorenzo (Org.). Uma história contemporânea de México. Actores. Tomo 2. El Colégio de México. Ed. Oceno. 2005. p. 236. 22BLANCARTE, Roberto J. Religiosidad, creencias e Iglesia em la época de la transición democrática. Op. Cit. p 239. 23VIDELA, Gabriela. Sergio Méndez Arcel, um Señor Obispo. Juan Pablo Editor: México, 2010. p. 107-112.

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presente. Em meados da década de 1970, ele era visto em companhia de sua nova

esposa, a mexicana Marta Rosas24. É plausível que o contato profissional com a Revista

Siempre!, que resultou em anos de publicação, tenha sido proporcionado por Méndez

Arceo, que dispunha de acesso direto a seu diretor e a diversos dos seus jornalistas,

incluindo um dos principais, Luis Suárez, que, como me referi antes, havia conhecido o

exilado brasileiro ainda quando ele era o famoso dirigente das Ligas Camponesas do

Nordeste do Brasil, entre 1955 e 1964.

Ainda quero retomar as fotografias para uma última análise acerca da presença

do exilado. Ela indica que Francisco Julião havia atendido às exigências do grupo

político ali representado e possuía as qualificações necessárias para integrá-lo. Foi

aceito naquela ordem de práticas e discursos, na qual se operava com signos e

representações de esquerda e se produzia uma legitimidade para o sistema político, que

reprimia manifestações estudantis e camponesas e, ao mesmo tempo, apresentava-se

democrático e apoiava governos proclamados revolucionários, como Chile e Cuba.

O articulista da coluna América Latina, hoy dominava os enunciados que

deveriam circular dentro do jogo político e social mexicano. Usava da sua qualificação

de líder de esquerda e a memória do ex-dirigente de um movimento camponês no

Brasil. Sua condição de exilado político era utilizada para promover uma diferenciação

entre Brasil e México, situá-los em oposição, útil na tarefa de construção de uma

legitimidade revolucionária e democrática para os governos do PRI na década de 1970.

Entre os últimos meses de 1969 e o final do ano de 1970, a embaixada do Brasil

no México exerceu novas interpelações a Secretaria de Relaciones Exteriores. O

objetivo era conseguir uma censura aos textos de Francisco Julião, que começavam a

circular em um novo espaço, a revista Siempre!. Houve reuniões e trocas de ofícios

sobre essa questão.

As petições referiam-se aos dois primeiros artigos divulgados no periódico.

Intitulados “Brasil vive a hora mais sombria de sua História e As lições de um

24 Essas informações estão presentes em alguns pequenos trechos das falas de Jean Robert, que entrevistei em Cuernavaca, agosto de 2010, e de Antólio Julião, filho de Francisco Julião, entrevistado em Recife, no dia 23 de maio de 2011. Nas duas vezes que estive no México, em agosto de 2010 e depois entre fevereiro e junho de 2012, quando realizei um doutorado sanduíche, tentei contato com a última esposa de Francisco Julião, Marta Rosas, que teria ficado com um acervo do marido composto por correspondências, fotos, escritos e outros. Nesse material devem estar mais informações sobre as ações de Julião, principalmente em Cuernavaca. Por meio de alguns padres que conhecem a Marta busquei marcar um encontro com ela. Não foi possível. Ela afirmava que não aceitaria conversar, sequer por telefone. Logo não tive acesso a documentos, caso existam, que ofereceriam elementos sobre essa amizade entre Francisco Julião e Sérgio Méndez Arceo.

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seqüestro: Brasil como ponto chave”, os textos produziam duras críticas ao governo

brasileiro. O primeiro, de 9 de julho de 1969, ocupava quatro páginas inteiras e

construía uma história da ditadura militar iniciada em 1964, ressaltando a existência de

um processo de desnacionalização do país, promovido por uma política de entreguismo

aos Estados Unidos. Ademais, caracterizava o Exército como um partido armado que

havia tomado de assalto o poder e, por sua vez, as massas sacrificadas sentiam a

necessidade de buscar o caminho revolucionário para acabar com a ditadura25.

Dias depois dessa publicação, o então embaixador do Brasil, Frank Moscoso, se

reuniu com o Diretor da Primeira Subsecretaria da Secretaria de Relaciones Exteriores,

Alfonso de Rosenzweig Díaz, e lhe expressou todo o desagrado sentido ao ler aquele

artigo. Considerou ser uma clara incitação à violência, com o objetivo de derrotar pela

força o governo do Brasil. Mesmo reconhecendo a existência da liberdade de expressão

para os asilados políticos, alertou que caso Francisco Julião continuasse escrevendo

artigos dessa índole, atingir-se-ia a situação de propaganda sistemática26.

Frank Moscoso retornou ao Brasil dias depois dessa reunião. Em seu lugar foi

nomeado João Baptista Pinheiro. Entre a saída de um e a chegada do outro, o

embaixador Alfonso Rosenzweig Díaz recebeu, em 20 de agosto de 1969, o

Encarregado de Negócios da embaixada do Brasil, Gilberto Martins. Dessa vez, a

reunião tratou das declarações de Francisco Julião ao jornal Novedades, nas quais dizia

estar “conspirando eternamente” contra a ditadura militar brasileira. Mais uma vez foi

reafirmada a liberdade de expressão garantida aos asilados políticos e as afirmações de

Julião foram classificadas pelo embaixador mexicano como “simples fanfarronadas”27.

Talvez Alfonso Rosenzweig não simpatizasse com o asilado político ou arrumou uma

expressão de efeito para desmobilizar mais uma petição do Brasil em pouco mais de um

mês.

Quando João Baptista Pinheiro foi entregar, em agosto de 1969, suas cartas de

apresentação ao chanceler Antonio Carrillo Flôres, estava ciente desses problemas.

Deveria tentar uma maior aproximação diplomática e um maior controle sobre os

exilados. Em grande parte, o trabalho do novo embaixador foi bem sucedido. Afinal, ele

25

Revista Siempre! 09 de Julho de 1969. p. 32-33. Hemeroteca Nacional, UNAM, D.F., México. 26 Memoradum de conversación de 09 de julho de 1969. Pasta Asilo Político en la Embajada de México em Brasil - III 5714-11. Arquivo Histórico Genaro Estrada – Secretaria de Relaciones Exteriores - SRE. México, D.F. 27 Memoradum de conversación de 20 de agosto de 1969. Pasta Asilo Político en la Embajada de México em Brasil - III 5714-11. Op. Cit.

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conseguiu administrar a questão dos presos políticos brasileiros, aceitos como asilados

no México, depois de libertados pelo governo militar em troca do final do sequestro do

diplomata norte-americano Charles Elbrick. Controlados pelos órgãos de vigilância e

segurança, eles ficaram impossibilitados de qualquer tipo de articulação política, como

desejava o governo do Brasil28.

Em relação a Francisco Julião, exilado desde 1965, o novo embaixador agiu em

outubro de 1969, em consequência da publicação do seu segundo artigo na revista

Siempre!. Referindo-se ao sequestro de Charles Elbrick como um “ato revolucionário”,

o articulista afirmou que os militares foram surpreendidos, especialmente porque depois

do AI-5 acreditaram ter o controle total do país. Sugere que esse episódio não deveria

ficar isolado e por isso os “patriotas” necessitavam ganhar apoio e organização para dar

continuidade à luta29.

João Baptista Pinheiro foi tratar do artigo com Alfonso Rosenzweig Díaz,

questionando-lhe acerca das medidas a serem adotadas, pois, no seu entendimento, se

tratava de propaganda subversiva encaminhada para derrotar o governo do Brasil. Após

escutar atentamente, o embaixador mexicano lamentou a situação envolvendo as duas

nações amigas e retomou o argumento da ampla liberdade de expressão existente no

México. Ao final, considerou que poderia ser o caso de os países envolvidos estarem

interpretando de maneira distinta a Convenção de Caracas.

No segundo semestre de 1969, seguiu uma troca de informações entre o governo

do Brasil e sua embaixada no México. Havia praticamente um consenso de que

Francisco Julião estaria promovendo atividades conspiratórias, fomentando a subversão

da ordem não só no Brasil, mas também na América Latina e assim realizando uma

flagrante violação do direito de asilo30.

Parecia não se entender a posição do governo do México, que, segundo a

embaixada do Brasil, havia cooperado no caso do recebimento e da vigilância aos

presos políticos, mas resistia em adotar qualquer atitude restritiva em relação a

Francisco Julião.

Mas, o próprio João Baptista Pinheiro, em telegrama “confidencial-urgente”

enviado ao Brasil, datado de 24 de outubro de 1969, no qual resumiu e analisou a última

conversa com Rosenzweig Díaz, ofereceu indícios para a resolução dessa questão. 28 Ofício Secreto nº 1.089 de 26 de dezembro de 1969. Op. Cit. 29 Revista Siempre! 22 de outubro de 1969. p. 26-27. Hemeroteca Nacional, UNAM, D.F., México. 30 Ver pasta de documentos confidenciais sobre Francisco Julião arquivados na Coordenação-Geral de Documentação Diplomática – CDO. Itamaraty. Ministério de Relações Exteriores

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Ponderou que o México permitia “manifestações públicas de nítido cunho esquerdista

[…] como maneira de comprovar sua imparcialidade e não sufocar, inteiramente, a

pregação das correntes esquerdistas mexicanas, o que, se ocorresse, lhe causaria sérios

problemas e reduziria a sua área de ação para manter a estabilidade interna do país”31.

No decorrer dos anos 1970, os documentos com interpelações do governo do

Brasil deixaram de existir. Novas dinâmicas políticas, como a mobilização do discurso

de direitos humanos realizada por intelectuais e setores da imprensa dos Estados Unidos

contra as torturas praticadas pelo regime militar, talvez tenham contribuído para uma

mudança no foco de ação da diplomacia. No início do governo Geisel, o Brasil foi

condenado na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos

Estados Americanos 32.

Entretanto, a análise de João Baptista Pinheiro apontava a existência de outro

fator. Francisco Julião havia se tornado uma peça da configuração política promotora da

estabilidade interna do México. Integrava essa maquinaria e, apesar de todas as

acusações e petições do Brasil, publicou mais de duas centenas de artigos até 1979,

vários deles críticos à ditadura militar. Pode-se dizer que a estratégia desenvolvida pela

diplomacia brasileira junto aos órgãos de segurança do México para transformar

Francisco Julião em um “inimigo comum” havia fracassado. Ele produziu e garantiu um

novo lugar de ação, pelo menos até o final dos anos 1970, operando com seu passado de

líder de esquerda e ex-dirigente das Ligas Camponesas.

O exílio, segundo Denise Rollemberg, foi uma ruptura com a conjuntura de

intensa mobilização política vivenciada pelas gerações 1964 e 1968, quando muitos dos

seus representantes estavam no centro dos acontecimentos. O desenraizamento deste

universo que oferecia sentido à luta e a derrota de projetos políticos e pessoais, ainda de

acordo com a historiadora, subverteram a imagem que os exilados tinham de si e

promoveram crises de identidade33.

No caso de Francisco Julião, um dos mais conhecidos da geração 1964, o exílio

também promoveu deslocamentos e ressignificações. Ele deixou de ser o deputado

31 Telegrama da Embaixada do Brasil no México. Confidencial n° 501.31 de 24 de outubro de 1969. Coordenação-Geral de Documentação Diplomática – CDO. Itamaraty. Ministério de Relações Exteriores. 32 O historiador James Green aponta em seu livro para a existência de uma oposição à ditadura militar praticada por intelectuais nos Estados Unidos, os chamados Brasilianistas, pouco conhecida no Brasil devido a censura e a postura nacionalista, anti-imperialista e marxista do meio acadêmico entre os anos 1950 e 1970. GREEN, James. Apesar de vocês. Oposição à ditadura brasileira nos Estados Unidos, 1964-1985. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. Para a discussão sobre a condenação na CIDH, ver páginas 302 a 306. 33

ROLLEMBERG, Denise. Exílio: entre raízes e radares. Rio de Janeiro: Record, 1999. p. 132.

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socialista e advogado dos camponeses. Não existiam mais as Ligas e ele estava

impedido de exercer sua profissão, devido à condição de exilado. A luta pela reforma

agrária na lei ou na marra não poderia ser praticada no México. Mas, o uso das

memórias que estavam relacionadas a esse cenário passado de luta tornou-se possível.

Para Julião, além das redefinições e reconstruções, comuns a maioria da sua geração, o

exílio foi a escolha de uma identidade e a produção de uma continuidade, a do líder de

esquerda das Ligas Camponesas do Brasil.

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