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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE BIOLOGIA 

    PROGRAMA DE PÓS‐GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA 

    Padrões espaciais e de atividade da cuíca 

    d’água Chironectes

     

    minimus 

    em rios

     de

     Mata

     

    Atlântica no sudeste do Brasil 

    Melina de Souza Leite 

    Orientador: Fernando Antonio dos Santos Fernandez 

    Dissertação  apresentada  ao Programa  de  Pós‐Graduação em  Ecologia  da  Universidade Federal  do  Rio  de  Janeiro como requisito para obtenção do  título  de  Mestre  em Ecologia. 

    2009

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    BANCA EXAMINADORA 

     ________________________________ 

    Prof. Dr. Gonzalo Medina‐Vogel 

    (Universidad Andrés Bello) 

     ________________________________ 

    Prof. Dr. Marcus Vinícius Vieira 

    (Universidade Federal do Rio de Janeiro) 

     _______________________________ 

    Prof. Dr. Fernando A. S. Fernandez 

    (Universidade Federal do Rio de Janeiro) 

    Suplentes 

     _________________________________ 

    Profa. Dra. Rosana Gentile 

    (Fundação Oswaldo Cruz) 

     _________________________________ 

    Prof. Dr. Carlos Eduardo de Viveiros Grelle 

    (Universidade Federal do Rio de Janeiro) 

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    ii 

    FICHA CATALOGRÁFICA 

    Leite, M. S. 

    Padrões espaciais e de atividade da cuíca d’água Chironectes minimus em rios de Mata Atlântica 

    no sudeste do Brasil. 

    Rio de Janeiro, 2009 

    xi + 81 p. 

    Dissertação (Mestrado em Ecologia)  – Universidade Federal do Rio de Janeiro,Departamento de 

    Ecologia, 2009. 

    1. Marsupiais 

    2. Organização espacial 

    3. Sistema de acasalamento 

    4. Extensão de uso 

    5. Ritmos circadianos 

    I. Fernandez, F. A. S. (orient.) 

    II. Universidade Federal do Rio de Janeiro ‐ Departamento de Ecologia 

    III. Título 

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    AGRADECIMENTOS 

    À  minha  família  por  todo  apoio,  incentivo,  carinho  e  principalmente  amor  durante 

    todos os momentos da minha vida. A minha avó Julia por todo o amor e por suas histórias da 

    roça.  A  minha  mãe,  Elza,  por  acreditar  em  mim  mesmo  sem  saber  no  que  eu  realmente 

    trabalho  e  o  que  eu  tanto  faço  no  “mato”.  A  minha  irmã,  Juliana,  por  todas  as  referências 

    como bióloga e  irmã, de onde pude me espelhar e ser capaz de trilhar meus próprios passos. 

    Ao meu pai, Ary de Souza Leite, pelo amor que carrego comigo desde sua partida. Aos meus 

    irmãos  mais  velhos,  Ariany,  Allan,  Ary,  Augusto  e  Rodrigo  que  mesmo  de  longe  sempre 

    amaram e cuidaram da irmã caçula. 

    Ao meu orientador, um rodentia efetivo, Fernando por acreditar em meu potencial e 

    entregar‐me o desafio de estudar o mais maravilhoso mamífero do mundo. Por me apoiar em 

    cada  passo  importante,  me  ajudando  a  seguir  com  minhas  próprias  pernas  os  tortuosos 

    caminhos do conhecimento. 

    Aos meus amigos mais queridos que  já foram ou ainda são do Laboratório de Ecologia 

    e  Conservação  de  Populações,  Alexandra,  Bruno,  Camila,  Clarissa,  Daniela,  Leandro,  Maron, 

    Paula, Renato, Thiago, Verônica, por tudo que a gente fez, falou, trabalhou e curtiu dentro e 

    fora do laboratório. 

    Às  novas  paulistanas:  Camila,  pelas  revisões  de  texto,  caronas,  saídas,  fofocas  e 

    mostrar  que  garra  é  um  dos  requisitos  básicos  para  se  ser  ecólogo  no  Brasil;  e  Paula  pelas 

    dicas, projetos, revisões e por me ensinar o penoso ofício de fazer radiotelemetria no campo. 

    Ao  Maron  por  começar  toda  essa  aventura  junto  comigo  e  não  desistir  nunca,  não 

    desanimar e ir pra campo com toda empolgação e força sempre (He‐man!). Ao Thiago por ser 

    paciente, controlado, organizado e sistemático, sempre disposto a uma noite de rádio de puro 

    sufoco  aos  trancos  e  barrancos,  e  mesmo  sendo  ranzinza,  taciturno  e  sorumbático  eu  gosto 

    muito  da  sua  compania.  À  gauchinha  Daniela,  que  chegou  de  pára‐quedas  e  bombacha  na 

    capital  fluminense,  compartilhando  comigo  cada  momento  na  difícil   jornada  de  uma 

    mestranda  em  pleno  caos  carioca,  me  mostrando  o  lado  bom  das  coisas  (ou  menos  pior)  e 

    acreditando  que,  mesmo  não  sendo  nerd,  a  gente  é  boa  nisso  e  consegue  o  que  quer.  À 

    Cristina pela linda amizade, compartilhando também dos sofrimentos e alegrias da pesquisa no 

    Brasil, por me permitir usar a estufa do seu  laboratório e alugar um carro em seu nome para 

    eu ir a campo no desespero de uma Kombi quebrada. 

    À  Lelê,  por  ser  um  exemplo  de  pesquisadora  e  um  amor  de  pessoa,  por  ajudar  nos 

    projetinhos de curso de campo com idéias criativas. Toda vez que a Lelê fala eu tenho vontade 

    de ter um gravador à mão! Por ser o meu lema: “quando eu crescer, quero ser igual a você!”. 

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    Aos  amigos  que  desfrutaram  de  pelo  menos  uma  noite  de  radiotelemetria  buscando 

    bichos quase  imaginários, caminhando (ou nadando) cambaleante, porém sem desistir, sobre 

    pedras,  matacões,  cachoeiras  e  poços  fundos,  seguindo  uma  louca  correndo  de  vestes 

    estranhas e aparelho esquisito no pescoço e antena na mão: Maron, Thiago, Dane, Leandrão, 

    Bernardo  Papi,  Léo,  Ana  Fiorini,  Verônica,  Jerê,  Gordon,  Vinícius,  Lara,  Gabriel,  Jorge,  Jayme, 

    Renato, João, Igor, Bruno, Luiz Felipe e Pelotas. Aos muitos outros amigos que foram para uma 

    excursão  de  campo  ajudar  na  armadilhagem  e  triagem  dos  animais.  Por  compartilharem  das 

    aventuras e desaventuras, das conversas e  jogos em noites claras ou de chuva forte no campo. 

    Às  meninas  do  apertamento,  Cintia,  Janaína,  Gabriela  e  por  último,  mas  não  menos 

    importante, Natália, por compartilharem o mesmo teto por quase seis anos, limpando (ou não) 

    a  casa,  se  reunindo  pra  conversas  sérias,  conversas  fora,  festinhas  e   joguinhos.  Por  me 

    aturarem tanto em todos os momentos de perturbação, quando não estava no campo ou em 

    Tarituba.  Aos  amigos  da  vida  que  fazemos  entre  encontros  e  desencontros,  por  todo 

    aprendizado e carinho recebido. 

    Ao  Franklin  por  me  ensinar  o  mais  simples  e  puro  amor  que  se  pode  sentir.  Por 

    acreditar em mim em todos os momentos da carreira e da vida, aturando as crises de estresse 

    e TPM, os nervosismos de momentos decisivos e dando toda força e motivação pra seguir em 

    frente. Também por me ajudar a ser menos nerd, fazer esportes e curtir a vida! 

    Ao  pessoal  da  Fazenda  Reserva  Botânica  Águas  Claras,  França,  Silvino,  Dona  Maria, 

    Florentino,  Gunga,  Guila  e  muitos  outros,  por  todo  apoio,  conversas,  dicas  de  campo, 

    desatolamentos de Kombi e ajuda nos mais de 4 anos de convivência mensal. À proprietária da 

    Fazenda,  Cecília  Amorim,  e  sua  família  por  confiarem  em  nós  e  nos  acolherem  em  sua  casa, 

    nos dando todo suporte necessário e acreditar em nossos estudos. 

    À  querida  Gabriela  Labouriau  que  trouxe  com  todo  carinho  meus  colares  de  Nova 

    Iorque pro Rio de Janeiro. Meus sinceros agradecimentos à família Labouriau, tio Ivan, tia Lucy 

    e Luciana, que me acolheram no Rio da melhor maneira para que eu pudesse estudar. 

    Aos  órgãos  financiadores:  CNPq  pela  bolsa  de  iniciação  científica  (PIBIC)  e  de 

    mestrado;  CEPEF‐IC  por  dar  suporte  financeiro  nos  início  do  projeto;  Idea  Wild  por  financiar 

    colares radiotransmissores; e em especial à Fundação O Boticário de Proteção à Natureza por 

    acreditar  em  nossos  trabalhos  e  apoiar  por  quatro  anos  consecutivos  os  projetos 

    desenvolvidos  para  a  elaboração  desta  dissertação  e  de  muitos  outros  estudos  do  LECP.  À 

    Associação Mico‐Leão Dourado pelo apoio  logístico no  início do projeto e pela disposição em 

    sempre  poder  colaborar.  Ao  Peter  Laver  pela  ajuda  como  o  programa  ABODE,  criado  pelo 

    próprio, e pela ajuda nas análises dos dados de padrões espaciais. 

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    Ao  Programa  de  Pós‐Graduação  em  Ecologia,  seus  coordenadores,  professores  e 

    secretárias pela dedicação em fazer um dos melhores programas de pós‐graduação do Brasil, 

    do qual me orgulho de fazer parte. 

    Por  fim,  mas  não  menos  importante,  ao  mais  maravilhoso  e  único  marsupial  semi‐

    aquático  do  mundo,  ser  possuidor  de  adaptações  únicas  e  fantásticas,  capaz  de  motivar 

    pesquisadores  loucos por desafios e em busca das descobertas mais interessantes na ciência. 

    Quem será?? 

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    RESUMO 

    Os  padrões  espaciais  e  de  atividade  da  cuíca  d’água  Chironectes minimus  foram  estudados 

    usando radiotelemetria e  captura‐marcação‐recaptura, em rios de Mata Atlântica  do sudeste 

    do Brasil. Este estudo teve o objetivo de entender: (1) a organização espacial; (2) o sistema de 

    acasalamento;  (3)  os  padrões  de  atividade  diária  da  espécie  e  (4)  compará‐los  com  outros 

    marsupiais e com outros mamíferos semi‐aquáticos. Entre outubro de 2004 e outubro de 2008 

    foram  realizadas  45  sessões de  captura e  15  indivíduos foram monitorados com radiocolares 

    na  bacia  do  rio  Águas  Claras,  Silva  Jardim,  RJ.  A  razão  sexual  da  população  capturada  foi 

    fortemente desviada para machos. Machos foram cerca de 30% mais pesados e apresentaram 

    extensões de uso de rio cerca de três vezes maior (amplitude 2580  – 7700 m) do que fêmeas 

    (amplitude 870  – 2460 m).  Houve alta sobreposição de extensões de uso entre os  indivíduos 

    (mediana,  mínimo  ‐ máximo:  53,  8  –  100%),  com  exceção  das  fêmeas  que  apresentaram 

    extensões  de  uso  aparentemente  exclusivas  em  relação  a  outras  fêmeas.  Ambos  os  sexos 

    percorriam  cerca  de  30%  da  extensão  de  uso  por  noite.  Este  padrão  está  de  acordo  com  as 

    distâncias médias calculadas entre tocas  subseqüentes.  Em  geral, a  cuíca  d’água  apresentou 

    um padrão unimodal de atividade noturna, com um pico de atividade nas primeiras horas após 

    o  pôr  do  sol,  entretanto  houve  grande  variação  individual.  Machos  e  fêmeas  não  diferiram 

    quanto  à  duração  da  atividade  por  noite  (machos  299  ±  137  minutos;  fêmeas  232  ±  75,6 

    minutos). A duração da noite influenciou positivamente a duração da atividade dos animais. O 

    horário  de  início de atividade das  fêmeas foi positivamente correlacionado com o horário  de 

    pôr  do  sol,  o  mesmo  não  ocorreu  para  machos.  O  horário  de  fim  de  atividade  não  foi 

    correlacionado com o horário de nascer do sol para nenhum dos sexos. Os padrões espaciais 

    observados, o dimorfismo sexual e o desvio na razão sexual da população sugerem um sistema 

    de  acasalamento  poligínico  ou  promíscuo  para  a  cuíca  d’água.  As  diferenças  ecológicas  e 

    comportamentais  encontradas  entre  os  sexos,  tanto  no  que  diz  respeito  ao  uso  do  espaço 

    quanto do tempo, podem ser atribuídas às estratégias reprodutivas distintas para cada sexo. A 

    maioria dos marsupiais neotropicais previamente estudados apresenta padrões espaciais e de 

    atividade semelhantes aos resultados encontrados para a cuíca d’água. Sendo assim, conclui‐

    se  que  as  semelhanças  nos  padrões  espaciais  e  de  atividade  exibidos  pelos  marsupiais 

    neotropicais  provavelmente  ocorrem  devido  às  restrições  filogenéticas  moldadas  por  ritmos 

    endógenos. 

    PALAVRAS‐

    CHAVE: marsupiais, organização espacial, sistema de acasalamento, extensão de uso, horário de atividade. 

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    ABSTRACT 

    Spatial  and  activity  patterns  of   the  water  opossum  Chironectes minimus  were  studied  by 

    radiotracking and capture‐mark‐recapture, in Atlantic Forest streams, southeastern Brazil. This 

    study  aimed  to  understand:  (1)  the  species’  spatial  organization;  (2)  mating  system;  (3)  daily 

    activity  pattern  and  (4)  comparing  it  with  others  marsupials  and  semi‐aquatic  mammals. 

    Between  October  2004  and  October  2008,  45  capture  sessions  were  conducted  and  15 

    individuals  were  radiotracked  in  Águas  Claras  basin,  Silva  Jardim,  Rio  de  Janeiro  state. 

    Captured population sex ratio was strongly male biased. Males were 30% heavier and showed 

    home length about three times longer (2580‐7700 m) than females (870  – 2460 m). There was 

    high home length overlap between individuals (median, minimum  – maximum: 53, 8  – 100%), 

    with exception of  females that apparently showed exclusive home lengths in relation to other 

    females.  Both  sexes  traveled  about  30%  of   its  home  length  per  nigth,  and  it  was  consistent 

    with  the  mean  distance  between  adjacent  dens.  In  general,  the  water  opossum  showed  a 

    nocturnal  unimodal  activity  pattern,  with  an  activity  peak  in  the  first  hours  of   the  night, 

    however  there  were  high  individual  variation.  There  was  no  sexual  differences  as  to  the 

    activity length per night (males 299 ± 137 minutes; females 232 ± 75.6 minutes). Night length 

    positively  influenced  animals  activity  length.  Activity  beginning  for  females  was  positively 

    correlated  with  sunset,  unlike  males.  Activity  ending  was  not  correlated  with  sunrise  for 

    neither sexes.  Spatial patterns, sexual dimorphism  and biased sex  ratio suggest a  poliginic or 

    promiscuous mating system. Thus, ecological and behavioral differences found between sexes 

    in the use of  space and time can be attributed to distinct reproductive strategies by each sex. 

    The  most  of   neotropical  marsupial  every  studied  show  spatial  and  activity  pattern  similar  to 

    thw  water  opossum.  Thereby,  the  similarities  between  marsupials  ecology  probably  are 

    atributed to philogenetic constraints shaped by endogen rhytms. 

    KEYWORDS: marsupials, spatial organization, mating system, home length, activity rhytms. 

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    Í NDICE GERAL 

    AGRADECIMENTOS  iii

    RESUMO  vi

    ABSTRACT  vii

    Í NDICE DE TABELAS  ix

    Í NDICE DE FIGURAS  x

    INTRODUÇÃO GERAL  1

    ÁREA DE ESTUDO  5

    MÉTODOS GERAIS  7

     

    CAPÍTULO I  – Organização espacial e sistema de acasalamento da cuíca d’água Chironectes 

    minimus em rios de Mata Atlântica no sudeste do Brasil 

    1.1  – INTRODUÇÃO  11

      1.2  – MÉTODOS  14

      1.3  – RESULTADOS  20

      1.4  – DISCUSSÃO  29

     

    CAPÍTULO II  – Padrões de atividade da cuíca d’água Chironectes minimus em rios de Mata 

    Atlântica no sudeste do Brasil. 

    1.1  – INTRODUÇÃO  40

      1.2  – MÉTODOS  42

      1.3  – RESULTADOS  44

      1.4  – DISCUSSÃO  50

     

    CONSIDERAÇÕES FINAIS  56

    CONCLUSÕES  60

    REFERÊNCIAS  61

    ANEXOS  76

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    Í NDICE DE TABELAS 

    CAPÍTULO I 

    TABELA I.1  21 

    Resultados do monitoramento de nove cuícas d’água Chironectes minimus na bacia do rio Águas Claras, 

    Silva  Jardim,  RJ.  As  informações  fornecidas  são:  sexo,  massa  corporal,  período  de  monitoramento, 

    número de localizações consideradas para as análises, estimativas de extensão de uso por comprimento 

    total  entre  localizações  extremas  (CT)  e  kernel  unidimensional  (K‐UNI),  CT  por  noite,  proporção  do  CT 

    usada a cada noite, extensão núcleo e proporção do K‐UNI que a extensão‐núcleo representa. 

    TABELA I.2  26 

    A  ‐ Sobreposição  de  extensão  de  uso  (CT  e  K‐UNI)  e  extensão‐núcleo  (E‐NÚCLEO)  entre  pares  de 

    indivíduos da cuíca d’água Chironectes minimus

     monitorados num mesmo período na bacia do rio Águas 

    Claras,  Silva  Jardim,  RJ.  B  ‐ Mediana  (mínimo  –  máximo)  da  porcentagem  de  sobreposição  entre  um 

    indivíduo do sexo na linha com outro indivíduo do sexo na coluna. Letras diferentes apontam diferenças 

    significativas (P 

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    Í NDICE DE FIGURAS 

    ÁREA DE ESTUDO 

    FIGURA 1  3 

    A cuíca d’água Chironectes minimus na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ.  

    FIGURA 2  6 

    Localização da área de estudo no município de Silva Jardim, estado do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil. 

    Em destaque, porção média da bacia do rio Águas Claras mostrando os rios e alguns pequenos tributários 

    (linhas de menor espessura) utilizados pela cuíca d’água Chironectes minimus. Em negrito está a área de 

    cobertura  da  grade  de  armadilhagem.  A  área  hachurada  indica  um  pequeno  pântano.  As  setas  negras 

    indicam quedas d’água naturais de pelo menos 5 m de altura e a seta cinza indica uma represa desativada 

    de 3 m de altura. Coordenadas na projeção Universal Transverse Mercator (UTM). 

    CAPÍTULO I 

    FIGURA I.1  16 

    Método  de  delineamento  de  áreas  núcleo  segundo  Powell  (2000).  Áreas  núcleo  (linha  côncava)  são 

    delimitadas  quando  a  densidade  de  probabilidade  é  maior  do  que  esperado  para  uma  distribuição 

    aleatória (linha reta) ou uniforme (linha convexa). Modificado de Laver (2005b). 

    FIGURA I.2  22 

    Análise  das  assíntotas  utilizando os  estimadores  CT  (A) e  K‐UNI  (B)  e  o  número de  localizações  para  as 

    nove cuícas d’água Chironectes minimus monitoradas na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. CT  – 

    comprimento total entre localizações extremas. K‐UNI  – kernel unidimensional (ver métodos). Cada curva 

    refere=se a um  indivíduo monitorado, cujos nomes estão citados  na  legenda da  figura  A.  Os  indivíduos 

    Robin  e  Panqueca  estão  representados  por  duas  curvas,  cada  qual  referente  a  um  ano  de 

    monitoramento. 

    FIGURA I.3  24 

    Fidelidade à extensão de uso para dois indivíduos da cuíca d’água Chironectes minimus monitorados por 

    dois anos na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. As  linhas negras representam as sobreposições 

    entre os anos através das estimativas de CT. A  – Robin; os círculos contínuos representam as estimativas do  kernel  para  o  ano  de  2005  e  os  pontilhados  o  ano  de  2007.  B  –  Panqueca;  os  círculos  contínuos 

    representam as estimativas de kernel para o ano de 2006 e os pontilhados o ano de 2007. 

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    xi 

    CAPÍTULO II 

    FIGURA II.1  45 

    Correlação entre o horário de  início de atividade e o horário  de pôr do sol da cuíca d’água Chironectes 

    minimus  na  bacia  do  rio  Águas  Claras,  Silva  Jardim,  RJ.  Círculos  em  negrito  indicam  fêmeas  (n  =  13)  e 

    círculos em cinza indicam machos (n = 32). Linha contínua em negrito: reta de melhor ajuste para fêmeas 

    em ambas as estações (rs = 0,705 n =13 , P = 0,007). Linha pontilhada em negrito: reta de melhor ajuste 

    para machos apenas na estação chuvosa (rs = 0,664, n = 11, P = 0,025). A linha pontilhada cinza marca o 

    horário  do  pôr  do  sol;  pontos  acima  dela  indicam  início  de  atividade  após  do  pôr  do  sol.  Acima  estão 

    marcados os intervalos de horários de pôr do sol nas estações seca e chuvosa. 

    Figura II.2  46 

    Correlação  entre  o  horário  de  fim  de  atividade  e  o  horário  de  pôr  do  sol  da  cuíca  d’água Chironectes 

    minimus  na  bacia  do  rio  Águas  Claras,  Silva  Jardim,  RJ.  Círculos  em  negrito  indicam  fêmeas  (n  =  14)  e 

    círculos  em  cinza  indicam  machos  (n  =  17).  A  linha  pontilhada  cinza  marca  o  horário  do  nascer  do  sol, 

    pontos acima dela indicam fim de atividade após do nascer do sol. 

    Figura II.3  47 

    Proporção de localizações ativas em cada período da noite de seis indivíduos da cuíca d’água Chironectes 

    minimus na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. a ‐ c machos; d ‐ e fêmeas. 

    Figura II.4  48 

    Medianas das proporções de localizações ativas em cada período da noite entre machos (n=7) e fêmeas 

    (n=3)  da  cuíca  d’água  Chironectes minimus  na  bacia  do  rio  Águas  Claras,  Silva  Jardim,  RJ.  As  barras 

    representam o 3º quartil. As proporções de localizações ativas diferiram entre os sexos (G = 20,9, g.l. = 2, 

    P = 0,0001), mas somente na segunda parte da noite (U = 1,5, P = 0,04). 

    Figura II.5  49 

    Regressão  linear  parcial entre a duração da noite e a duração  da atividade da  cuíca d’água Chironectes 

    minimus na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. R²adj = 0,59, F2,8 = 7,495, P = 0,01. 

    ANEXOS 

    Anexo 1  75 

    Extensões  de  uso  por  CT  (linhas  em  negrito)  e  K‐UNI  (contorno  externo),  extensões‐núcleo  (contorno interno), e  locais de tocas (pontos brancos) de nove cuícas d’água Chironectes minimus monitoradas na 

    bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. 

    Anexo 2  80 

    Curvas  de  delineamento  da  área‐núcleo  para  nove  cuícas  d’água Chironectes minimus  monitoradas  na 

    bacia  do rio  Águas Claras, Silva Jardim, RJ.  Métodos segundo  Powell  (2000),  na  qual as  linhas côncavas 

    representam a relação entre a máxima probabilidade de uso da área de vida e a porcentagem da área de 

    vida.  As  áreas‐núcleo  são  delineadas  quando  a  curva  apresentar  um  coeficiente  angular  igual  a  ‐1  (ver 

    métodos do Capítulo I). 

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    INTRODUÇÃO GERAL 

    A  organização  dos  animais  no  espaço  e  no  tempo  tem  sido  uma  das  principais 

    preocupações  das  ciências  Ecologia,  Biologia  Evolutiva  e  mais  atualmente  da  Biologia  da 

    Conservação. Um dos aspectos de interesse é a área de vida, definida como a área usada por 

    um  organismo  durante  suas atividades normais,  como  forrageamento,  reprodução  e cuidado 

    com a prole (Burt 1943). O conhecimento do tamanho, forma e padrão de utilização da área de 

    vida  de  um  animal  é  particularmente  importante  para  estudos  relacionados  com  dinâmica 

    populacional,  sistema  de  acasalamento,  forrageamento,  seleção  de  habitat,  distribuição  de 

    recursos e interações ecológicas (Harris et  al. 1990, Kernohan et  al. 2001). Tal conhecimento é 

    também  uma  importante  ferramenta  para  o  manejo  e  conservação  das  espécies.  Apesar  da 

    natureza fundamental da área de vida para a biologia das espécies, determinar os aspectos de 

    seu tamanho e estrutura ainda é uma tarefa difícil para certos grupos animais, como é o caso 

    dos  mamíferos  semi‐aquáticos.  Para  estes  animais  de  difícil  captura  e  hábitos  discretos,  a 

    radiotelemetria  se  tornou  uma  ferramenta  muito  útil  para  coletar  dados  sistematicamente 

    sobre seu comportamento e características de seu uso do espaço e tempo. 

    O formato da área de vida de um animal é fortemente influenciado pelo tipo e forma 

    do  habitat,  como  também  pelo  comportamento  da  espécie  no  habitat.  De  acordo  com  estas 

    características,  um  animal  pode  possuir  uma  área  de  vida  relativamente  unidimensional, 

    quando  o  comprimento  do  habitat  é  bem  maior  do  que  a  largura,  bidimensional,  ou  até 

    mesmo  tridimensional,  quando  se  considera  a  estratificação  vertical  em  animais  voadores, 

    arborícolas, escansoriais ou aquáticos. A unidimensionalidade do habitat e, conseqüentemente 

    da área de vida, é particularmente  importante para as espécies de mamíferos semi‐aquáticos 

    que  vivem  em  rios,  costa  de  estuários  e  lagos.  Entretanto,  esta  conformação  relativamente 

    linear  da  área  de  vida  limita  o  número  de  técnicas  que  podem  ser  empregadas  para  as 

    estimativas  unidimensionais  de  área  de  vida  (extensão  de  uso),   já  que  quase  todos  os 

    estimadores até hoje propostos são bi‐dimensionais. 

    O  conhecimento  da  distribuição  espacial  dos  indivíduos  na  população,  o  grau  de 

    interação entre eles e a existência de territorialidade são  informações  imprescindíveis para o 

    entendimento  do  sistema  de  organização  social  e  acasalamento  de  uma  população  (Hixon 

    1987,  Ostfeld  1990,  Maher  &  Lott  1995).  Para  mamíferos,  as  relações  entre  os  padrões  de 

    organização espacial e social resultaram em modelos que predizem o sistema de acasalamento 

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    Introdução geral 

    de  acordo  com  as  diferenças  de  uso  do  espaço  entre  machos  e  fêmeas  na  população  (Hixon 

    1987, Ims 1987, Ostfeld 1985, 1990). Segundo Emlen & Oring (1977), dependendo do grau de 

    monopolização de parceiros sexuais, o sistema de acasalamento em uma população pode ser: 

    monogâmico,  quando  nenhum  dos  sexos  tem  oportunidade  de  monopolização  de  membros adicionais  do  sexo  oposto;  poligínico,  quando  machos  freqüentemente  controlam  ou  têm 

    acesso  a  múltiplas  fêmeas;  poliândrico,  quando  fêmeas  freqüentemente  controlam  ou  têm 

    acesso  a  múltiplos  machos;  e  promíscuo,  quando  ambos  os  sexos  têm  acesso  a  múltiplos 

    parceiros sexuais. 

    Assim  como  é  importante  saber  onde  o  animal  está  e  como  ele  se  relaciona  com  o 

    espaço,  não  se  pode  deixar  de  entender  uma  importante  dimensão  do  nicho  ecológico,  a 

    alocação  do  tempo  para  as  atividades  e  descanso.  Determinar  os  padrões  de  atividade  das 

    espécies  em  vida  livre  é  tão  importante  para  a  história  natural  das  espécies  como  para  o 

    manejo  e  desenvolvimento  de  projetos  de  pesquisas.  Tais  padrões  geralmente  seguem  uma 

    periodicidade circadiana nos mamíferos (Bartnes & Albers 2000) e claramente possuem valor 

    adaptativo  porque  eles  permitem  aos  organismos  antecipar  mudanças  periódicas  (Aschoff  

    1966, Enright 1970). Os ritmos de atividade resultam de complexos trade‐offs entre o tempo 

    de  forrageamento  ótimo,  a  ecologia  social,  as  interações  competitivas  e  de  predador‐presa, 

    restrições  ambientais  e  fisiológicas  e  requerimento  de  energia.  O  uso  da  radiotelemetria 

    também permitiu avanços nos estudos de padrões de atividade, principalmente para espécies 

    pequenas,  crípticas  e  noturnas.  Esse  é  o  caso  da  cuíca  d’água  Chironectes minimus,  onde 

    apenas recentemente aspectos de sua ecologia puderam ser estudados (Galliez et  al. 2009). 

    A cuíca d’água é o único marsupial semi‐aquático do mundo (Marshall 1978) (Fig. 1) e 

    habita  principalmente  rios  de  montanha  desde  o  norte  da  Argentina  até  o  sul  do  México 

    (Nowak  1991).  É  uma  espécie  noturna,  de  hábitos  discretos  e  com  diversas  adaptações  ao 

    modo  de  vida  anfíbio,  tais  como:  corpo  fusiforme,  patas  traseiras  com  grandes  membranas interdigitais,  pêlo  denso  e  impermeável  e  grande  quantidade  de  vibrissas  (Marshall  1978, 

    Nowak  1991,  Fernandez et  al. 2007).  A  cuíca  d’água parece  utilizar  principalmente rios  paras 

    suas  atividades  de  locomoção  e  alimentação  (Galliez  et   al.  2009).  Os  primeiros  dados 

    ecológicos consistentes sobre a espécie apontam para um sistema de acasalamento poligínico 

    ou promíscuo, pois há diferenças sexuais marcantes na forma de uso do espaço (Galliez et  al. 

    2009).  Fêmeas  aparentam ser territorialistas  com  áreas  de  vida pequenas,  enquanto  machos 

    possuem áreas de vida muito maiores  e não exclusivas (Galliez et  al. 2009). Quanto aos seus 

    padrões de atividade diária, a cuíca d’água parece concentrar suas atividades no início da noite 

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    Introdução geral 

    (Zetek  1930,  Mondolfi  &  Padilha  1958),  sendo  que  machos  estendem  suas  atividades  para  a 

    segunda  metade  da  noite  enquanto  fêmeas  restringem‐se  à  primeira  metade  (Galliez  et   al. 

    2009). 

    Figura 1. A cuíca d’água Chironectes minimus na bacia do rio Águas Claras, Silva Jardim, RJ. 

    Este estudo teve por objetivo compreender de maneira mais aprofundada os padrões 

    espaciais e temporais da cuíca d’água em rios de Mata Atlântica no sudeste do Brasil através 

    das  técnicas  de  radiotelemetria  e  de  captura‐marcação‐recaptura.  O  conhecimento  gerado 

    neste  estudo,  além  de  contribuir  para  a  história  natural,  é  particularmente  destinado  a 

    utilização para o manejo e conservação da espécie. A cuíca d’água é considerada rara ao longo 

    de  sua  distribuição  (Emmons  &  Feer  1997)  e  encontra‐se  em  diversas  listas  de  espécies 

    ameaçadas  no  Brasil  (SEMA  1998,  Bergallo  et   al.  2000,  Marques  et   al.  2002,  Fundação 

    Biodiversitas  2003,  Mikich  &  Bérnis  2004),  principalmente  por  falta de  dados  ou  ameaças  ao 

    habitat.  Segundo  Galliez et  al.  (2009),  as  principais  ameaças  à  espécie  são  a  degradação  dos 

    rios  e  matas  ciliares,  que  pode  impedir  a  dispersão  dos  indivíduos  e  o  fluxo  gênico  entre 

    populações,  acelerando  as  taxas  de  extinção,  assim  como  ocorre  com  a  fragmentação  de 

    ecossistemas terrestres. Outros riscos para a cuíca d’água são a poluição e a eutrofização dos 

    rios e a introdução de espécies exóticas, processos  já comuns no Brasil (Agostinho et  al. 2005). 

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    Introdução geral 

    Por  se  tratar  de  uma  espécie  semi‐aquática  restrita  a  rios,  os  padrões  espaciais  da 

    cuíca  d’água  foram  calculados  por  estimativas  unidimensionais  (extensão  de  uso)  a  fim  de 

    produzir estimativas mais acuradas e comparáveis entre estudos. Os ritmos de atividade foram 

    descritos  e  comparados  aos  padrões  unimodal,  uniforme  ou  arrítmico.  Devido  à  possível 

    existência  de  um  sistema  de  acasalamento  poligínico  ou  promíscuo  (Galliez  et  al.  2009),  os 

    sexos  foram  comparados  em  quase  todos  os  parâmetros  analisados,  a  fim  de  compreender 

    melhor as diferenças sexuais na organização espacial e temporal da espécie. Adicionalmente, 

    foram  descritos  aspectos  comportamentais  observados  oportunisticamente  durante  o 

    monitoramento  dos  animais.  Por  fim,  foram  feitas  comparações  dos  resultados  encontrados 

    com  outras  espécies  de  mamíferos  semi‐aquáticos  e  marsupiais  neotropicais.  Estas 

    comparações buscaram compreender a influência das convergências adaptativas ao ambiente 

    e das restrições filogenéticas moldando a ecologia da espécie. A cuíca d’água pode apresentar 

    padrões  espaciais  e  de  atividade  mais  semelhantes  aos  mamíferos  semi‐aquáticos, 

    independente  de  sua  ancestralidade  filogenética,  decorrentes  das  adaptações  ao  modo  de 

    vida.  Alternativamente,  a  cuíca  d’água  pode  apresentar  padrões  semelhantes  a  outros 

    marsupiais  neotropicais,  indicando  um  predomínio  das  restrições  filogenéticas  sobre  sua 

    ecologia. 

    A  presente  dissertação  encontra‐se  dividida  em  dois  capítulos,  cada  qual  abordando 

    subtemas  da  ecologia  da  espécie.  O  primeiro  capítulo  trata  da  organização  espacial  e  do 

    sistema  de  acasalamento  da  cuíca  d’água.  O  segundo  capítulo  discorre  sobre  os  padrões  de 

    atividade  da  espécie.  Por  fim,  encontram‐se  as  conclusões  sobre  os  aspectos  da  ecologia  da 

    espécie abordados nos dois capítulos. 

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    ÁREA DE ESTUDO 

    O  presente  estudo  foi  conduzido  na  bacia  do  rio  Águas  Claras  (22°  30’S;  42°  30’O), 

    situada no município de Silva Jardim, estado do Rio  de Janeiro, Brasil (Fig. 2).  A bacia  do rio 

    Águas  Claras  deságua  no  médio  curso  do  rio  São  João,  o  qual  se  caracteriza  por  ser  um  dos 

    principais  cursos  d’água  da  região  sudeste  do  estado  (Bidegain  &  Völcker  2003).  A  região  é 

    fortemente influenciada pelas cadeias de montanhas circundantes, as quais atingem elevação 

    máxima de cerca de  1000  m acima  do nível  do  mar  (Mantovani  1997).  O clima  é  classificado 

    como tropical úmido e quente. Entre 1968 e 2008, a média mensal da precipitação (± desvio 

    padrão) variou entre 104,2 ± 50,5 mm na estação seca (abril a setembro), e 272,6 ± 74,1 mm 

    na  estação  chuvosa  (outubro  a  março;  Fonte:  Agência  Nacional  das  Águas).  A  temperatura 

    média mensal varia entre  19°C no  inverno e 25°C no verão (Mantovani 1997). A vegetação é 

    classificada  como  floresta  ombrófila  densa  submontana,  e  atualmente  inclui  porções  de 

    vegetação secundária e remanescentes da floresta original (Mantovani 1997). 

    O  rio  Águas  Claras  nasce  no  Parque  Estadual  dos  Três  Picos  a  800  m  de  altitude, 

    percorrendo  uma  extensão  de  10,3  km  até  desembocar  no  rio  São  João  (Bidegain  &  Völcker 

    2003). Este rio possui oito tributários principais (Bidegain & Völcker 2003), dentre os quais os 

    rios  Floresta,  Dona  Rosa,  Maria  Antônia,  Jordão  e  Canoa  Podre.  Seu  curso  superior  e  médio 

    ainda  possui  condições  bem  conservadas,  com  substrato  pedregoso  e  a  presença  de 

    corredeiras, remansos e ocasionalmente poços profundos (Bidegain & Völcker 2003). Próximo 

    à  foz  do  rio  Dona  Rosa  existe  uma  represa  desativada  de  cerca  de  3  m  de  altura.  O  curso 

    inferior do rio Águas Claras, depois da confluência com o rio Floresta, flui através de campos 

    de  agricultura  e  pasto  e  sofreu  retificações  entre  as  décadas  de  1950  e  1980  (Bidegain  & 

    Völcker  2003).  Nesta  parte  do  rio  o  substrato  é  arenoso,  as  águas  são  calmas  e  rasas,  e  há 

    trechos  sem  mata  ciliar.  Atualmente  ainda  existe  extração  ilegal  de  areia  e  pedras  para 

    construção civil. O trecho estudado do rio Águas Claras  – final do curso superior, curso médio e 

    início do curso inferior  – possui largura média de 10 m e profundidade média de 0,4 m. 

    Os rios Floresta e Dona Rosa são tributários do trecho médio do rio Águas Claras e são 

    bem  preservados,  com  poucas  áreas  sem  mata  ciliar;  consistem  de  corredeiras  e  remansos 

    com substrato pedregoso. Ao longo do rio Floresta existe uma seqüência de três cachoeiras de 

    até 12 m de altura. O trecho estudado do rio Floresta  – curso médio e inferior  – possui largura 

    média de 7 m e profundidade média e 0,4 m. O curso médio e inferior do rio Dona Rosa possui

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    Área de estudo 

    largura  média  de  4  m  e  profundidade  média  de  0,3  m.  Os  rios  Maria  Antônia  e  Jordão  são 

    tributários do trecho superior do rio Águas Claras e possuem características bem conservadas 

    tanto no leito de substrato pedregoso quanto nas margens de mata ciliar. A largura média do 

    trecho  inferior  do  rio  Maria  Antônia  é  de  5,5  m  e  do  rio  Jordão  de  4,5  m,  sendo  as profundidades médias 0,4 e 0,3 m, respectivamente. O rio Canoa Podre desemboca no trecho 

    inferior  do  rio  Águas  Claras,  entre  campos  de  pastagem  e  agricultura.  Possui  substrato 

    pedregoso  com  áreas  de  remanso  e  corredeira  ao  longo  de  todo  seu  curso,  entretanto 

    apresenta trechos  da  margem sem  mata ciliar,  sua  profundidade  média  é de  0,3 m  e  largura 

    média de 4 m. Todos os rios da bacia são abastecidos por pequenos tributários permanentes e 

    sazonais de até 1,5 m de largura, e 0,2 m de profundidade, de substrato arenoso e pedregoso. 

    Figura 2. Localização da área de estudo no município de Silva Jardim, estado do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil. 

    Em destaque, porção média da bacia do rio Águas Claras mostrando os rios e alguns pequenos tributários (linhas de 

    menor espessura) utilizados pela cuíca d’água Chironectes minimus. Em negrito está a área de cobertura da grade 

    de armadilhagem. A área hachurada indica um pequeno pântano. As setas negras indicam quedas d’água naturais 

    de  pelo  menos  5  m  de  altura  e  a  seta  cinza  indica  uma  represa  desativada  de  3  m  de  altura.  Coordenadas  na 

    projeção Universal Transverse Mercator (UTM). 

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    MÉTODOS GERAIS 

    Métodos de captura  – Sessões de captura de cinco noites de duração foram realizadas 

    mensalmente  entre  outubro  de  2004  e  outubro  de  2008,  exceto  em  novembro  de  2004, 

    março, novembro e dezembro de 2006. As áreas amostradas incluíram um trecho do rio Águas 

    Claras e três pequenos tributários, um trecho do rio Floresta e dois pequenos tributários e um 

    trecho  do  rio  Dona  Rosa  (Fig.  1).  As  estações  de  armadilhagem  eram  posicionadas  em  locais 

    favoráveis  para  maximizar  o  sucesso  de  captura.  As  distâncias  entre  estações  consecutivas 

    variaram  entre  20  e  200  m.  Cada  estação  possuía  de  uma  a  três  armadilhas  dependendo  da 

    largura do rio. De acordo com o desenho amostral, foram posicionadas de 10 a 120 armadilhas 

    em diferentes trechos do rio em cada sessão de captura, totalizando 4.931 armadilhas x noite. 

    Seguindo o método desenvolvido por Bressiani & Graipel (2008), armadilhas de arame 

    de  captura  viva  de  dupla  entrada  (Gabrisa  Ltda.,  Cafelândia,  Brasil,  90,0  x  21,0  x  21,0  cm; 

    Tomahawk  Live  Trap  Co.,  Tomahawk,  Wisconsin,  EUA,  96,6  x  15,2  x  15,2  cm  e  81,3  x  22,9  x 

    22,9 cm) foram posicionadas sobre barreiras formadas por pedras e galhos dentro dos rios de 

    maneira que o pedal ficasse fora da água. A barreira era formada de modo a direcionar o fluxo 

    d’água através da armadilha, induzindo o animal a entrar na armadilha enquanto nadava. Após 

    cada  sessão  de  captura,  as  armadilhas  eram  removidas  e  as  barreiras  desmanchadas.  Até 

    março de 2006, não foram usadas iscas nas armadilhas. Em abril e maio de 2006, as armadilhas 

    foram  iscadas  com  bacon  e  frutas,  e  de  junho  de  2006  até  o  fim  do  estudo  foram  utilizados 

    camarões (Litopenaeus vannamei ) ou peixes (Engraulidae) como isca. 

    Animais  capturados  foram  marcados  individualmente  usando  brincos  numerados 

    (modelo  1005‐1,  National  Band  and  Tag  Co.,  Newport,  Kentucky,  EUA).  Para  cada  indivíduo 

    capturado,  foram  registradas  a  estação  de  captura,  sexo,  condição  reprodutiva  (filhotes  no 

    marsúpio  ou  tetas  inchadas  para  fêmeas,  posição  dos  testículos  para  machos),  medidas 

    corporais (massa e comprimento da cauda), e idade (seqüência de erupção dentária). Como o 

    padrão de erupção dentária para a cuíca d’água não é bem conhecido, a identificação da idade 

    dos animais baseou‐se na classificação proposta por Rocha (2000) para Didelphis e Philander , 

    dois gêneros filogeneticamente próximos a Chironectes (Jansa & Voss 2000). Após a triagem os 

    animais foram imediatamente soltos no mesmo local de captura. 

    Radiotelemetria 

    –  

    Indivíduos adultos capturados foram equipados com um radiocolar com sensor de atividade (SOM‐2380A, Wildlife Materials, Inc., Murphysboro,  Illinois, EUA; ou

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    Métodos gerais 

    TXE‐207C,  Telenax,  Playa  del  Carmen,  México).  Os  radiotransmissores  pesavam 

    aproximadamente  15  g,  correspondendo  a  até  5%  da  massa  do  animal,  como  recomendado 

    por Jacob & Rudran (2003). Não foram observados efeitos adversos óbvios do radiocolar nos 

    animais monitorados. 

    Os animais foram monitorados durante a noite, utilizando a técnica “homing‐in on the 

    animal” com um receptor TR‐4 e uma antena RA‐14k (Telonics, Inc., Mesa, Arizona, EUA). Esta 

    técnica consiste em seguir o sinal do transmissor até a obtenção de contato visual do animal 

    monitorado  (White  &  Garrot  1990),  ou  quando  é  possível  ouvir  o  sinal  do  radiocolar  com  a 

    antena  desconectada  do  receptor  (Lira  et   al.  2007).  Para  diminuir  os  problemas  de 

    autocorrelação dos dados, localizações sucessivas do mesmo indivíduo foram tiradas com pelo 

    menos 1 h de intervalo (Linders et  al. 2004, Endries & Adler 2005), o qual é considerado tempo 

    suficiente  para  um  indivíduo  atravessar  toda  a  extensão  de  sua  área  de  vida.  As  localizações 

    foram registradas com um aparelho de sistema de posicionamento global portátil (GPS Garmin 

    12;  Olathe,  Kansas,  EUA),  com  base  em  referências  geográficas  (coordenadas  na  projeção 

    Universal Transverse Mercator  – UTM). Os erros das localizações foram calculados através da 

    distância média à qual os  indivíduos  localizados eram avistados. Em 67 avistamentos durante 

    as sessões de monitoramento, o animal encontrava‐se a até 15 m de distância do observador. 

    Cada  sessão  de  monitoramento  iniciava‐se  quando  o  animal  deixava  a  toca, 

    normalmente depois do pôr do sol, e terminava apenas ao nascer do sol no dia seguinte, com 

    o  animal  já  de  volta  a  uma  toca.  Localizações  diurnas  foram  obtidas  para  verificar  possíveis 

    atividades diurnas e para localização de tocas. A atividade dos indivíduos foi detectada através 

    da  flutuação  da  intensidade  do  sinal  do  radiocolar.  Todo  o  protocolo  de  captura,  triagem  e 

    monitoramento  do  animal  foi  aprovado  pelo  Instituto  Brasileiro  de  Meio  Ambiente  e  dos 

    Recursos Naturais Renováveis (IBAMA‐SISBIO, processo número: 12425‐1). 

     Análise dos dados –  Todos os teste estatísticos seguiram Zar (1999) e foram calculados 

    utilizando  os  programas  BioEstat  5.0  (Ayres et  al.  2008)  e  Statistica  7.0  (StatSoft,  Inc.,  Tulsa, 

    Oklahoma, EUA). A normalidade dos dados foi testada com o teste de Shapiro‐Wilk e através 

    de  análises  gráficas  dos  resíduos  segundo  Gotelli  &  Ellison  (2004).  A  homogeneidade  das 

    variâncias  foi  testada  com  o  teste  de  Levene.  Os  resultados  dos  testes  paramétricos  são 

    apresentados  como  média  ±  desvio  padrão.  Para  os  dados  que  violaram  as  premissas  acima 

    descritas,  foram  utilizados  testes  não  paramétricos  e  os  resultados  são  apresentados  como 

    mediana,  valor  mínimo  –  valor  máximo.  Nos  testes  em  que  cada  indivíduo  monitorado  foi 

    considerado  uma  amostra,  a  mediana  dos  valores  foi  calculada  para  cada  indivíduo.  Esta 

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    Métodos gerais 

    medida foi tomada devido ao baixo tamanho amostral de alguns indivíduos e ao fato de que os 

    resultados  em  minutos  não  estão  estritamente  em  escala  contínua,  para  testes  analisando 

    duração  da  atividade.  O  nível  de  significância  considerado  foi  de  α =  0,05.  Os  valores  de  P 

    apresentados são bicaudais, exceto aqueles onde há uma predição direcional para comparação 

    dos grupos, por exemplo, em alguns testes comparando machos e fêmeas. 

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    CAPÍTULO I 

    ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E SISTEMA DE ACASALAMENTO 

    DA CUÍCA D’ÁGUA C HIRONECTES MINIMUS EM RIOS DE 

    MATA ATLÂNTICA NO SUDESTE DO BRASIL 

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    11 

    INTRODUÇÃO 

    A  organização  dos  animais  no  espaço  descreve  a  maneira  pela  qual  os  indivíduos 

    dentro  de  uma  população  se  distribuem  na  paisagem,  incluindo  a  manutenção  de  áreas‐

    núcleo,  áreas  de  vida  e  territórios  (Mares  &  Lacher  1987).  Tal  organização  é  resultado  de 

    táticas adotadas pelos  indivíduos para sobreviver e maximizar o sucesso reprodutivo (Sandell 

    1989 apud  Belcher & Darrant 2004). O uso de tocas é também um importante aspecto do uso 

    do  espaço  pelos  animais  e  pode  prover  informações  sobre  o  grau  de  sociabilidade  (Brock  & 

    Kelt  2004),  sistema  de  acasalamento  (Endries  &  Adler  2005)  e  preferências  de  habitat  da 

    espécie  (Shibata  et   al.  2004).  Tal  padrão  de  distribuição  espacial  fornece  informações 

    imprescindíveis para o entendimento do sistema de organização social e acasalamento de uma 

    população  (Hixon  1987,  Ostfeld  1990,  Maher  &  Lott  1995).  Dentre  os  mamíferos,  as  fêmeas 

    são  tipicamente  encarregadas  de  grande  parte  do  cuidado  parental,  o  que  resulta  no  uso 

    diferencial  do espaço  entre os sexos  (Trivers 1972, Emlen  &  Oring  1977, Clutton‐Brock 2007, 

    2009). 

    Os  modelos  para pequenos mamíferos que relacionam a  organização espacial com  a 

    social (Ostfeld 1985, Hixon 1987, Ims 1987, Ostfeld 1990) predizem que o uso do espaço por fêmeas reflete a abundância, distribuição, taxa de reposição dos recursos e proteção da prole 

    (Wolff   1993),  o  que  pode  levar  à  territorialidade  intrasexual  (Ostfeld  1990,  Wolff   1993).  Já  o 

    uso  do  espaço  por  machos  reflete  uma  estratégia  de  maximizar  o  acesso  às  fêmeas,  que  vai 

    depender  da  distribuição  e  uso  do  espaço  pelas  fêmeas  (Ostfeld  1990).  Machos  podem 

    apresentar  territorialidade  se  a  distribuição  de  fêmeas  é  agrupada,  ou  ausência  de 

    territorialidade  se  distribuição  de  fêmeas  é  uniforme  (territorial)  (Ostfeld  1990).  Portanto,  a 

    existência  ou  não  de  territorialidade  intrassexual  pode  permitir  entender  os  sistemas  de 

    organização social e, por conseguinte, o sistema de acasalamento da espécie. 

    Diversos  são  os  fatores  que  determinam  o  tamanho  da  área  de  vida  dos  animais 

    (Harestad  &  Bunnell  1979,  Damuth  1981,  Bergallo  1990,  Kelt  &  van  Vuren  2001),  tais  como: 

    tamanho  corporal,  taxas  metabólicas,  disponibilidade,  densidade  e  distribuição  de  recursos, 

    dieta, estrutura social e densidade populacional. A massa corporal tem sido considerada uma 

    das  principais  causas  de  variações  interespecíficas  no  tamanho  da  área  de  vida  entre 

    mamíferos  (McNab  1963,  Harestad  &  Bunnell  1979,  Swihart  et   al.  1988,  Kelt  &  van  vuren 

    2001).  Por  conseguinte,  diferenças  marcantes  de  tamanho  corporal  entre  machos  e  fêmeas 

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    Capítulo I ‐ Introdução 

    12 

    (dimorfismo sexual) podem atuar como fatores que diferenciam os padrões espaciais entre os 

    sexos de uma mesma espécie (Fisher & Owens 2000, Marcelli et  al. 2003). O dimorfismo sexual 

    é  supostamente  causado  pela  especialização  em  diferentes  presas  para  evitar  competição 

    intersexual  ou  por  diferenças  na  estratégia  reprodutiva  entre  os  sexos  (Erlinge  1979,  Moors 1980).  Em  mamíferos,  o  dimorfismo  sexual  desviado  para  machos  é  geralmente  associado  à 

    seleção  sexual  atuando  na  competição  por  fêmeas  em  sistemas  poligínicos  ou  promíscuos 

    (Wilson  &  Pianka  1963,  Erlinge  1979,  Moors  1980).  Dessa  forma,  em  espécies  onde  haja 

    dimorfismo  sexual  marcante,  os  sexos  devem  possuir  diferenças  na  forma  de  uso  do  espaço 

    não  só  devido  ao  sistema  de  acasalamento,  mas  também  devido  a  diferenças  ecológicas  e 

    comportamentais (Erlinge 1979, Moors 1980, Marcelli et  al. 2003 Isaac 2005). 

    Poucos estudos  já foram feitos com marsupiais neotropicais e seus padrões de uso do 

    espaço. O padrão geralmente encontrado prediz que machos se movimentam mais e possuem 

    áreas  de  vida  não  exclusivas  e  maiores  do  que  fêmeas,  enquanto  fêmeas  são  geralmente 

    territoriais  com  pequena  área  de  vida  (Lay  1942,  Fleming  1972, Gillette  1980,  Sunquist et  al. 

    1987,  Ryser  1992,  Grelle  1996,  Pires  &  Fernandez  1999,  Cáceres  &  Monteiro‐Filho  2001, 

    Cáceres  2003,  Moraes  Jr  &  Chiarello  2005,  Galliez  et  al.  2009).  Este  modelo  de  organização 

    espacial indica um sistema de acasalamento poligínico, no qual um macho tem acesso a várias 

    fêmeas,  ou  promíscuo,  no  qual  ambos  os  sexos  têm  acesso  a  mais  de  um  parceiro  sexual. 

    Entretanto, há  relatos na  literatura  de ausência de  territorialidade  em  marsupiais tanto  inter 

    quanto  intrasexualmente  (Holmes  &  Sanderson  1965,  Hunsaker  1977  apud   Cáceres  & 

    Monteiro‐Filho  2001,  Charles‐Domininque  1983,  Julien‐Laferrière  1995,  Gentile  et   al.  1997), 

    levando alguns autores a acreditarem que a ausência de territorialidade possa ser uma regra 

    em marsupiais neotropicais (Charles‐Dominique 1983, Julien‐Laferrière 1995). 

    O objetivo deste capítulo foi entender o padrão de organização espacial e o sistema de 

    acasalamento da cuíca d’água em rios de Mata Atlântica no sudeste do Brasil, com a utilização das  técnicas  de  radiotelemetria  e  de  captura‐marcação‐recaptura.  Baseado  no  escasso 

    conhecimento  ecológico  existente  para  a  espécie  (Mondolfi  &  Padilha  1958,  Marshall  1978, 

    Nowak  1991,  Galliez  et   al.  2009),  e  nos  modelos  de  organização  espacial  descritos  para 

    pequenos mamíferos (Ostfeld 1985, Hixon 1987, Ims 1987, Ostfeld 1990), testou‐se a hipótese 

    de um sistema de acasalamento poligínico ou promíscuo para a cuíca d’água formulando‐se as 

    seguintes predições.  (1)  Machos devem possuir  maior massa que fêmeas.  (2)  Machos  devem 

    possuir maiores extensões de uso do que fêmeas. (3) Fêmeas devem ser territoriais quanto à 

    presença  de  outras  fêmeas.  (4)  Deve  haver  uma  grande  sobreposição  espacial  entre  as 

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    Capítulo I ‐ Introdução 

    13 

    extensões  de  uso  de  machos.  (5)  Machos  devem  possuir  padrões  de  movimentação  diários 

    maiores do que fêmeas. (6) Fêmeas devem percorrer maiores proporções de sua extensão de 

    uso por noite para defesa de território. (7) Os sexos devem diferir quanto às suas preferências 

    de uso de habitats e de tocas. 

    Para testar as hipóteses formuladas foram selecionadas dois métodos diferentes para 

    as  estimativas  de  extensão  de  uso.  Os  estimadores  de  extensão  de  uso  foram  comparados 

    entre si e discutidos quanto às suas  implicações ecológicas e aplicabilidade para uma espécie 

    semi‐aquática.  Os  resultados  encontrados  foram  comparados  com  outras  espécies  de 

    marsupiais  neotropicais  e  mamíferos  semi‐aquáticos,  na  busca  de  melhor  compreensão  dos 

    mecanismos  evolutivos  e  adaptativos  que  atuam  na  manutenção  do  sistema  de  organização 

    social e de acasalamento da espécie. 

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    14 

    MÉTODOS 

    Parâmetros  populacionais

     –  

    A  razão  sexual  da  população  foi  analisada  a  partir  das 

    taxas  de  captura  e  recaptura  dos  indivíduos  adultos.  Esta  medida,  apesar  de  não  ser 

    exatamente  a  razão  sexual  operacional  (razão  entre  machos  e  fêmeas  prontos  para 

    reprodução, Kvarnemo & Ahnesjö 1996), pode ainda assim fornecer informações importantes 

    sobre o sistema de acasalamento da espécie. O dimorfismo sexual foi analisado apenas através 

    da massa corporal de machos e fêmeas adultos capturados. 

    Padrões espaciais –   Para  calcular  a  extensão  de  uso  da  cuíca  d’água,  as  localizações 

    obtidas para cada  indivíduo foram plotadas em um mapa georreferenciado contendo o curso 

    dos  rios,  utilizando  o  programa  ArcGIS  9.3  (Environmental  Systems  Research  Institute, 

    Redlands,  California).  Para  as  estimativas  de  uso  do  espaço,  foram  utilizadas  tanto  as 

    localizações obtidas por radiotelemetria quanto por captura. 

    O  primeiro  estimador  de  extensão  de  uso  escolhido  para  análises  foi  o  comprimento 

    total  de  rio  utilizado  entre  as  localizações  mais  extremas  (CT).  Esta  forma  de  estimar  a 

    extensão de uso é amplamente utilizada para mamíferos semi‐aquáticos por ser simples e de 

    fácil  aplicação  para  um  conjunto  de  dados  com  número  amostral  baixo  (Sauer  et   al.  1999, 

    Blundell et  al. 2001). Além disso, parece não ser afetado por dados autocorrelacionados (Garin 

    et  al. 2002). 

    Como o CT pode ser considerado pouco acurado e conservativo (Sauer et  al. 1999), a 

    extensão  de  uso  foi  também  calculada  através  do  comprimento  dos  rios  inseridos  no 

    delineamento de área produzido pelo método kernel (K‐UNI), como recomendado por Blundell 

    et  al.  (2001).  Este  método  já  se  mostrou  bastante  acurado  para  estimativas  unidimensionais 

    (Sauer et  al. 1999, Blundell et  al. 2000, 2001, Medina‐Vogel et  al. 2007). Foi utilizado o kernel 

    fixo com parâmetro de suavização de referência (href) para estimativas lineares dentro de 95% 

    do volume de contorno da área de vida (Blundel et  al. 2001). O href  é considerado adequado 

    quando  as  localizações  são  precisas  (Jacob  &  Rudran  2004)  e  é  menos  sensível  a  pequeno 

    tamanho  amostral  (Seaman  et   al.  1999,  Blundell  et   al.  2001).  Excluir  os  5%  do  volume  de 

    contorno  do  kernel  ou  localizações  é  um  método  padrão  para  correções  do  efeito  de 

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    27/93

    Capítulo I ‐ Métodos 

    15 

    localizações extremas em estimativas de área de vida (Jacob & Rudran 2004); tais localizações 

    podem representar excursões ocasionais para fora da área de vida do animal (“outliers”). 

    Área‐núcleo  é  considerada a  área  mais  freqüentemente  usada  por  um animal  dentro 

    de  sua  área  de  vida  (Samuel  et  al.  1985).  Nem  todos  os  animais  possuem  necessariamente 

    uma  área‐núcleo  (Powell  2000),  e  isso  pode  ocorrer  devido  a  padrões  de  uso  do  espaço 

    aleatórios  ou uniformes.  Para  testar  a  possível  existência  de  áreas‐núcleo (extensões‐núcleo) 

    dentro da extensão de uso da cuíca d’água, foi utilizada a análise proposta por Powell (2000) 

    (Fig.  I.1),  ao  invés  da  utilização  de  uma  porcentagem  já  estabelecida  como  área‐núcleo  (e.g. 

    50% do volume de contorno do kernel). Neste método, é observado para cada animal a curva 

    resultante da relação entre a porcentagem da área de vida e a máxima probabilidade de uso 

    da  área  de  vida.  Em  teoria,  o  uso  de  espaço  de  maneira  aleatória  produzirá  uma  reta  de 

    coeficiente angular igual a  ‐1. O uso uniforme resulta em uma curva convexa, enquanto o uso 

    agrupado  em  uma  curva  côncava.  A  área‐núcleo  é  então  delineada  dentro  de  uma 

    porcentagem do volume de contorno da área de vida. Esse delineamento ocorre no ponto em 

    que a curva côncava possui um coeficiente angular igual a ‐1, na qual o volume de contorno da 

    área‐núcleo  é  a  maior  distância  entre  a  curva  e  a  reta  de  distribuição  aleatória  (Fig.  I.1). 

    Entretanto,  este  modelo  pode  produzir  áreas‐núcleo  mesmo  para  distribuições  aleatórias  ou 

    uniformes, apenas porque a probabilidade de uso aumenta significativamente para dentro da 

    distribuição  (Laver  2005a).  A  decisão,  portanto,  baseia‐se  na  forma  das  curvas  apresentada 

    pelo gráfico para cada indivíduo (Laver 2005a), quanto mais côncava maior a probabilidade do 

    animal possuir uma área‐núcleo. Adicionalmente, um critério de seleção utilizado para decidir 

    se  um  indivíduo  possui  área‐núcleo  ou  não  foi  comparar  a  proporção  de  localizações  que 

    estavam  inseridas  nas  áreas‐núcleo.  Acima  de  90%  das  localizações  inseridas  na  área‐núcleo 

    podem indicar um uso não agrupado da área de vida, ou seja não há área‐núcleo, mesmo que 

    a curva resultante tenha sido côncava. 

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    Capítulo I ‐ Métodos 

    16 

    uniforme

    aleatório

    Máxima probabilidade de 

    uso (%)

          % 

          d    a      á    r    e    a      d    e    v

          i      d    a

    agrupado

     

    Figura  I.1.  Método  de  delineamento  de  áreas  núcleo  segundo  Powell  (2000).  Áreas  núcleo  (linha  côncava)  são 

    delimitadas quando a densidade de probabilidade é maior do que esperado para uma distribuição aleatória (linha 

    reta) ou uniforme (linha convexa). Modificado de Laver (2005b). 

    Para as análises de área‐núcleo foi utilizado o kernel fixo com parâmetro de suavização 

    por  validação  cruzada  dos  quadrados  mínimos  (LSCV,  Blundell  et   al.  2001).  O  volume  de 

    contorno  resultante  da  área‐núcleo  foi  utilizado  para  delimitar  a  extensão‐núcleo 

    (comprimento  de  rio  dentro  do  contorno  da  área‐núcleo).  As  extensões‐núcleo  calculadas 

    foram transformadas em porcentagens da extensão de uso e comparadas com a porcentagem 

    da  área‐núcleo  através  do  teste  de  Wilcoxon.  Este  teste  foi  feito  porque  a  relação 

    bidimensional  de  uma  área‐núcleo  dentro  de  uma  área  de  vida  pode  diferir  da  relação 

    unidimensional  da  extensão‐núcleo  dentro de uma extensão de uso.  Todas  as estimativas de 

    extensão  de  uso  e  análises  de  área  núcleo  foram  calculadas  utilizando  a  extensão  ABODE 

    (Laver  2005a)  no  programa  ArcGIS  9.3  (Environmental  Systems  Research  Institute,  Redlands, 

    California). 

    A  autocorrelação  entre  localizações  sucessivas  não  possui  efeito  aparente  nas 

    estimativas  de  extensão  de  uso  com  qualquer  método  kernel  (Blundell  et   al.  2001)  ou  CT 

    (Garin et  al. 2002). Desta forma, foi presumido que a autocorrelação não afetou as estimativas 

    de  tamanho  de  extensão  de  uso  (de  acordo  com  Swihart  &  Slade  1985,  Otis  &  White  1999, 

    Powell 2000). Entretanto, foi respeitado o intervalo de uma hora entre localizações sucessivas, 

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    Capítulo I ‐ Métodos 

    17 

    como explicado anteriormente. Este intervalo se mostrou suficiente para que um animal possa 

    se mover entre os extremos de sua área de vida/extensão de uso, como sugerido por Otis & 

    White (1999). 

    A estimativa do tamanho da área de vida de um animal é fortemente dependente do 

    número  de  localizações  obtidas  e  tende  a  aumentar  à  medida  que  aumenta  o  número  de 

    localizações,  até  atingir  uma  assíntota (Harris et  al. 1990). A sensibilidade das estimativas  de 

    tamanho de extensão de uso foi analisada para ambos estimadores de extensão de uso (CT e 

    K‐UNI)  através  da  construção  de  curvas  entre  o  número  de  localizações  e  o  tamanho 

    cumulativo da extensão de uso para cada indivíduo. As curvas foram construídas adicionando 

    as localizações de maneira aleatória, como recomendado por Harris et  al. (1990) para dados de 

    localizações  com  intervalos  irregulares.  Para  as  estimativas  de  K‐UNI  foram  utilizadas  as 

    assíntotas de área construídas a partir da área obtidas pelo kernel,  já que estas estimativas são 

    altamente  correlacionadas  e  provém  uma  boa  indicação  das  assíntotas  unidimensionais 

    (Blundell  et   al.  2001).  Para  o  estimador  K‐UNI  foram  feitas  20  reamostragens  para  cada 

    indivíduo,  sendo  a  curva  construída  a  partir  da  média  das  reamostragens  (Laver  2005b).  Os 

    resultados  plotados  no  gráfico  foram  inspecionados  visualmente  para  verificar  se  houve 

    suficiência  amostral  para  cada  indivíduo  combinando  os  resultados  para  CT  e  K‐UNI. 

    Adicionalmente, foram feitas correlações de Spearman (rs) entre o número de localizações e o 

    tamanho da extensão de uso para analisar se o esforço amostral foi suficiente. 

    Como a territorialidade possui diversas definições dependendo do táxon e do objetivo 

    do  estudo  (Maher  &  Lott  1995),  a  territorialidade  neste  estudo  será  definida  como  a  área 

    defendida  contra  indivíduos  da  mesma  espécie  e,  portanto,  exclusiva  para  um  indivíduo. 

    Entretanto, a defesa de território pode ser difícil de observar em espécies crípticas, como é o 

    caso  da  cuíca  d’água;  logo  o  grau  de  sobreposição  entre  extensões  de  uso  será  usado  como 

    uma evidência da territorialidade (Maher & Lott 1995). Para isso foi desenvolvida uma análise 

    de  interação  estática  entre  indivíduos  que  foram  monitorados  num  mesmo  período.  A 

    interação  estática  mede  a  quantidade  de  sobreposição  espacial  entre  dois  animais  sem 

    referência  ao  tempo  (White  &  Garrot  1990,  Kernohan  et  al.  2001).  As  sobreposições  foram 

    estimadas  pela  proporção  de  extensão  de  uso  do  indivíduo  A  que  se  sobrepõe  com  a  do 

    indivíduo  B,  e  pela  proporção  de  extensão  de  uso do  individuo  B  que  se  sobrepõe  com  a  do 

    indivíduo A (White & Garrot 1990, van der Ree & Bennett 2003). 

    O grau de sobreposição entre as áreas‐núcleo/extensões‐núcleo pode ser um descritor mais acurado da tolerância social do que sobreposições entre áreas de vida/extensões de uso. 

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    Capítulo I ‐ Métodos 

    18 

    Desta  forma,  calculou‐se também as  sobreposições  entre as extensões‐núcleo dos  indivíduos 

    da  mesma  maneira  descrita  acima.  É  importante  ressaltar  que  o  grau  de  sobreposição  é 

    específico de cada indivíduo (% sobreposição de A com B é diferente da % sobreposição de B 

    com A). Foram calculadas interações estáticas para pares definidos pelos sexos: macho‐macho 

    que  é  porcentagem  de  sobreposição  da  extensão  de  uso  de  um  macho  com  outro  macho; 

    fêmea‐macho,  a  porcentagem  de  sobreposição  da  extensão  de  uso  de  uma  fêmea  com  um 

    macho;  e  macho‐fêmea,  a  porcentagem  de  sobreposição  da  extensão  de  uso  de  um  macho 

    com  uma  fêmea.  A  ausência  de  fêmeas  monitoradas  num  mesmo  período  impossibilitou  os 

    cálculos de interação para a dupla fêmea‐fêmea. A fidelidade à extensão de uso foi calculada 

    apenas  para  indivíduos  com  mais  de  um  ano  de  monitoramento,  através  da  proporção  de 

    sobreposição  entre  as  estimativas  dos  anos  (Kernohan et  al.  2001).  Para  estes  indivíduos, foi 

    utilizada a média entre os anos das extensões de uso para as análises dos padrões espaciais. 

    Para entender melhor o uso de diferentes tipos de corpos d`água pela cuíca d’água, foi 

    feita  uma  comparação  entre  sexos  das  proporções  de  uso  de  pequenos  tributários  e  rios 

    principais, através do teste de Mann‐Whitney. Em cada ocasião na qual foi possível visualizar o 

    animal, foi anotada sua posição em relação ao rio: dentro do rio, na margem ou na mata ciliar 

    (≥1 m da calha do rio). 

    Padrões de movimentação  – A velocidade de  deslocamento  dos  indivíduos dentro do 

    rio foi calculada através das distâncias e do tempo entre localizações sucessivas do animal em 

    atividade.  Devido  à  possível  influência  da  correnteza  da  água,  foram  comparadas  as 

    velocidades de  deslocamento  dos  indivíduos a  favor  e contra o  fluxo  d’água através  do  teste 

    de  Wilcoxon.  Para  entender o padrão  de  movimentação  noturno dos  animais, as  estimativas 

    de  extensão  de  uso  (CT)  foram  calculadas  para  cada  noite  de  monitoramento.  Estas 

    estimativas  foram  transformadas  em  proporções  das  estimativas  totais  do  CT,  e  comparadas 

    entre os sexos através do teste t. O K‐UNI não foi utilizado para este cálculo devido ao baixo 

    número de localizações por noite. 

    Uso de tocas –  Os indivíduos monitorados tiveram suas tocas localizadas durante o dia, 

    quando  o  animal  se  encontrava  inativo  dentro  da  toca.  A  localização  precisa  da  entrada  da 

    toca  foi  feita  diretamente  através  do  avistamento  do  animal  saindo  da  toca  no  início  da 

    atividade  noturna,  ou  indiretamente  através  da  busca  de  aberturas  na  margem  dos  rios  de 

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    Capítulo I ‐ Métodos 

    19 

    acordo com  a  intensidade do sinal do  radiotransmissor.  O número de  tocas  por  indivíduo foi 

    calculado  e  comparado  entre  os  sexos  através  do  teste  de  Mann‐Whitney.  Para  entender  o 

    padrão  de  distribuição  das  tocas  dentro  da  extensão  de  uso  dos  animais,  foi  calculada  a 

    distância  entre  as  tocas  contíguas  para  cada  indivíduo.  A  partir  daí,  foi  calculada  para  cada 

    distância a porcentagem do CT que esta distância representa. Para cada indivíduo foi calculada 

    a  mediana  destas  porcentagens  de  distância  e  estas  medidas  comparadas  entre  machos  e 

    fêmeas através do testes de t. 

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    20 

    RESULTADOS 

    Foram  obtidas  108  capturas  de  37  indivíduos,  o  que  corresponde  a  um  sucesso  de 

    captura de aproximadamente 2,2%. Durante o estudo, a razão sexual foi fortemente desviada 

    para machos, havendo cerca de seis machos para cada fêmea na população. Das capturas, 93 

    foram de 32 machos e 15 de cinco fêmeas (indivíduos: χ ² com correção de Yates = 18,27 , g.l. = 

    1,  P 

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    Tabela  I.1. Resultados do  monitoramento de  nove  cuícas  d’água Chironectes minimus  na  bacia  do  rio  Águas  Claras, Silva  Jardim,  RJ. As  info

    período  de  monitoramento,  número  de  localizações  consideradas  para  as  análises,  estimativas  de  extensão  de  uso  por  comprimento  to

    unidimensional (K‐UNI), CT por noite, proporção do CT usada a cada noite, extensão‐núcleo, proporção do K‐UNI que a extensão‐núcleo repre

    extensão‐núcleo. 

    Indivíduo  Sexo Massa 

    (g) Período de

    monitoramento

    Número de localizações

    CT (m) 

    CT por noite (m) 

    Proporção do CT (CT por noite/CT) 

    K‐UNI (m) 

    Extensão‐núcleo (m) 

    Godofredo macho 380 jul-nov 05 60 3370  1180  0,35  3730  1520 

    Margarida fêmea 310  ago-set 05 16 870  140  0,16  900  380 

    Robin* macho 321ago 05‐fev 06 e ago 07‐nov 07 

    34 4140  580  0,22  4270  1980 

    Paçoca fêmea 235 mai 06-out 06 28 1250  310  0,25  1330  472 

    Panqueca* macho 390 abr 06-out 06 e jan 07-jul 07

    54 2390  310  0,13  2660  1230 

    Tonico macho 340   jan‐mar 07  17 3440  1930  0,56  2700  1980 

    Malandro macho 330  abr-jul 07 19 3620  1635  0,45  5220  3630 

    Florzinha fêmea 350 abr 07-abr 08 65 2330  580  0,26  2460  1240 

    Rivaldo macho 335 abr-jul 08 28 5860  2835  0,48  7700  2400 

    * indivíduos monitorados por mais de um ano; resultados apresentados como média entre os anos.2  1  

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    Capítulo I ‐ Resultados 

    22 

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    6000

    7000

    5 15 25 35 45 55 65

         C     T     (    m     )

    Número de localizações

    Rivaldo Robin2005 Robin2007

    Malandro Tonico Panqueca2006

    Godofredo Panqueca2007 Florzinha

    Paçoca Margarida

     

    B

    0,00

    0,50

    1,00

    1,50

    2,00

    2,50

    3,00

    3,50

    4,00

    5 15 25 35 45 55 65

          Á    r    e    a

         d    e    v

         i     d    a

         (     K    m

         ²     )

    Número de localizações 

    Figura  I.2. Análise das assíntotas utilizando os estimadores CT  (A) e K‐UNI (B) e o número de  localizações para as 

    nove  cuícas  d’água  Chironectes  minimus  monitoradas  na  bacia  do  rio  Águas  Claras,  Silva  Jardim,  RJ.  CT   – 

    comprimento total entre localizações extremas. K‐UNI  – kernel unidimensional (ver métodos). Cada curva refere=se 

    a  um  indivíduo  monitorado,  cujos  nomes  estão  citados  na  legenda  da  figura  A.  Os  indivíduos  Robin  e  Panqueca 

    estão representados por duas curvas, cada qual referente a um ano de monitoramento. 

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    Capítulo I ‐ Resultados 

    23 

    Padrões  espaciais  –  As  estimativas  de  CT  variaram  entre  870  e  5860  m  de  extensão  de  rio 

    utilizada para a cuíca d’água (Anexo 1). Machos apresentaram estimativas de CT cerca de três 

    vezes maiores do que fêmeas (machos: 3530, 2580  – 5860; fêmeas: 1250, 870  – 2330 m; U’ = 

    18, n1 =  n2 = 3, P = 0,02). Os resultados das estimativas de K‐UNI foram, em todos os casos 

    exceto por um, cerca de 15% maiores do que os resultados de CT (t8 = ‐1,86, n = 9, P = 0,049). 

    As estimativas de K‐UNI variaram entre 900 e 7700 m de extensão de rio (Anexo 1). Da mesma 

    forma, machos apresentaram estimativas de K‐UNI cerca de três vezes maiores do que fêmeas 

    (machos: 4475, 2700  – 7700 m; fêmeas: 1330, 900  – 2460 m; U’ = 18 n1 = 6, n2 = 3, P = 0,02). 

    Não  houve  correlação  entre  a  massa  corporal  e  o  tamanho  da  extensão  de  uso  dos  animais 

    monitorados (CT: rs = 0,15, n = 9, P = 0,70; K‐UNI: rs = 0,23, n = 9, P = 0,54). 

    De  acordo  com  o  modelo  proposto  por  Powell  (2000),  a  análise  das  curvas  entre  a 

    porcentagem da área de vida e a porcentagem da máxima probabilidade de uso  indicam que 

    quase  todos  os  indivíduos  apresentaram  localizações  agrupadas  formando  áreas‐núcleo 

    (Anexo 2). Apenas os  indivíduos Tonico e Malandro pareceram não possuir uma área núcleo. 

    Isso foi constatado pela observação da curva gerada, pelas maiores proporções de delimitação 

    da extensão‐núcleo e pela alta proporção das  localizações  inserida na área núcleo, chegando 

    até  a  100%  das  localizações  para  o  indivíduo  Malandro  (Tab.  I.1).  A  delimitação  das  áreas‐

    núcleo variou entre 51 e 66 % (n = 7) do volume da área de vida. Entretanto essa delimitação 

    representou  uma  variação  entre  31  e  50%  da  porcentagem  da  extensão  de  uso  (K‐UNI).  A 

    porcentagem  de  delimitação  para  as  áreas‐núcleo  foi  cerca  de  30%  maior  do  que  a 

    porcentagem  de  delimitação  para  as  extensões‐núcleo  (Wilcoxon:  Z  =  2,37,  n  =  7,  P  =  0,02), 

    sendo ambas as porcentagens não correlacionadas (rs = 0,30, n = 7, P = 0,50). Machos e fêmeas 

    não diferiram quanto à proporção da extensão de uso que formavam a extensão‐núcleo (U = 8, 

    n1 = 4, n2 = 3, P = 0,16). 

    As  extensões‐núcleo  variaram  entre  380  e  2400  m  de  comprimento  de  rio.  Machos 

    ti