Página UM 94

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Coletivo de fotógrafos registra cenas mogianas Mesquita mogiana representa cultura muçulmana na região Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes ||| Produzido pelos alunos do 4º período ANO XVI ||| NÚMERO 94 ||| DISTRIBUIÇÃO GRATUITA ||| [email protected] Árabes, seus descendentes e novos converdos ao Islã se reúnem no templo às sextas-feiras. O sheik egípcio Hosni Abdelhamid Mohamed Youssef (foto) prega a tolerância como conduta. Página 15. Every Day Mogi, comandado por cinco fotógrafos mogianos, busca retratar a realidade do local em que vivem, e mostrar como enxergam a cidade. Página 8 Projeto atende superdotados e portadores de deficiências O preconceito tem que dançar MAGDA NATHIA Projeto Inerância, presente em Mogi, atende alunos com deficiências, transtornos globais de desenvolvimento (TGD) e altas habilidades ou superdotação. Página 5 Iniciava do Programa Saúde da Família (PSF) do Jardim Piatã, em Mogi, levou para as escolas equipe formada por ci- rurgião densta e auxiliar de saúde bucal. Página 3 Educação para a saúde bucal reduz cáries em alunos EWELIN ALVES TAMIRES VICHI Escola do MST em Guararema recebe alunos do exterior Casarão ataca conservadorismo com cultura, música e diversão Na Escola Nacional Florestan Fernandes, que recebe alunos de todo o país e até do exterior, os alunos têm salas limpas e bem equipadas, biblio- teca, laboratórios, horta, refeitórios e alojamentos. Já na rede pública, o go- verno do Estado ameaça alunos e professores com o fechamento de escolas. Página 14 Falta à dança o reconhecimento público para que ocupe o lugar que merece. Mas obter esse reconhecimento não é um caminho fácil, pois contra essa forma de arte ainda persiste um forte pre- conceito – principalmente contra o homem dançarino. Nas escolas, a dança é apresentada aos alunos apenas como avidade alternava, em datas fesvas, como festa junina e for- maturas. Uma enquete realizada pela reportagem do Página UM revela que a dança é vista como avidade predominantemente feminina, e que os homens não devem “sair por aí rebolando”. Leia mais na página 11. BEATRIZ ANION O Casarão da Mariquinha, em Mogi das Cruzes, já virou símbolo de cultura e de resistência ao conservadorismo. No Casarão, é possível se diverr e receber boa dose de cultura. Aos sábados, a progra- mação é dedicada à boa prosa e aos admiradores de saraus. Qualquer visitante pode subir ao palco e declamar poemas. A “roda de batuque de um- bigada”, que ocorre nos fins de semana, reúne frequentadores do local e moradores de rua. Página 4 DAIANE AQUINO Escritor leva projeto de leitura para escolas públicas Idealizador do projeto “Minha Literatura Minha Vida”, Ademiro Alves de Souza, o “Escritor Sacoli- nha”, desde 2008 apre- senta em escolas públicas palestras de incenvo à leitura. Página 8 LÍLIAN PEREIRA EVELIN KAMIMURA

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Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes. Produzido pelos alunos do 4º período do curso, sob supervisão dos professores.

Transcript of Página UM 94

Coletivo de fotógrafosregistra cenasmogianas

Mesquita mogiana representa cultura muçulmana na região

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes ||| Produzido pelos alunos do 4º períodoANO XVI ||| NÚMERO 94 ||| DISTRIBUIÇÃO GRATUITA ||| [email protected]

Árabes, seus descendentes e novos convertidos ao Islã se reúnem no templo às sextas-feiras.O sheik egípcio Hosni Abdelhamid Mohamed Youssef (foto) prega a tolerância como conduta. Página 15.

Every Day Mogi, comandado por cinco fotógrafos mogianos, busca retratar a realidade do local em que vivem, e mostrar como enxergam a cidade. Página 8

Projeto atende superdotados e portadores de deficiências

O preconceito tem que dançarMAGDA NATHIA

Projeto Itinerância, presente em Mogi, atende alunos com deficiências, transtornos globais de desenvolvimento (TGD) e altas habilidades ou superdotação. Página 5

Iniciativa do Programa Saúde da Família (PSF) do Jardim Piatã, em Mogi, levou para as escolas equipe formada por ci-rurgião dentista e auxiliar de saúde bucal. Página 3

Educação para a saúde bucal reduz cáries em alunos

EWELIN ALVES

TAMIRES VICHI

Escola do MST em Guararema recebe alunos do exterior

Casarão ataca conservadorismo com cultura, música e diversão

Na Escola Nacional Florestan Fernandes, que recebe alunos de todo o país e até do exterior, os alunos têm salas limpas e bem equipadas, biblio-teca, laboratórios, horta, refeitórios e alojamentos. Já na rede pública, o go-verno do Estado ameaça alunos e professores com o fechamento de escolas. Página 14

Falta à dança o reconhecimento público para que ocupe o lugar que merece. Mas obter esse reconhecimento não é um caminho fácil, pois contra essa forma de arte ainda persiste um forte pre-conceito – principalmente contra o homem dançarino.

Nas escolas, a dança é apresentada aos alunos apenas como atividade alternativa, em datas festivas, como festa junina e for-maturas.

Uma enquete realizada pela reportagem do Página UM revela que a dança é vista como atividade predominantemente feminina, e que os homens não devem “sair por aí rebolando”. Leia mais na página 11.

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O Casarão da Mariquinha, em Mogi das Cruzes, já virou símbolo de cultura e de resistência ao conservadorismo.

No Casarão, é possível se divertir e receber boa dose de cultura. Aos sábados, a progra-mação é dedicada à boa prosa e aos admiradores de saraus.Qualquer visitante pode subir ao palco e declamar poemas.

A “roda de batuque de um-bigada”, que ocorre nos fins de semana, reúne frequentadores do local e moradores de rua. Página 4

DAIANE AQUINO

Escritor leva projeto de leitura para escolas públicas

Idealizador do projeto “Minha Literatura Minha Vida”, Ademiro Alves de Souza, o “Escritor Sacoli-nha”, desde 2008 apre-senta em escolas públicas palestras de incentivo à leitura. Página 8

LÍLIAN PEREIRA

EVELIN KAM

IMU

RA

artigo

02 || opinião

Jornal-laboratório do Curso deJornalismo da Universidade de

Mogi das Cruzes

ANO XVI – Nº 94Fechamento:14/02/2016

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Avenida Doutor Cândido Xavier de Almeida Souza, 200 – CEP: 08780-

911 – Mogi das Cruzes – SPTel.: (11) 4798-7000

E-mail: [email protected]

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O jornal-laboratório Página UM é uma produção de alunos do curso

de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), em conformidade com o Projeto

Pedagógico do curso. Esta edição foi produzida pelos alunos do 4º

período.

Professores orientadores:Prof. Elizeu Silva – MTb 21.072-SP (Edição e Planejamento Gráfico);

Profa. Agnes Arruda (Textos); Prof. Sérsi Bardari (Textos).

Projeto gráfico:(Alunos do curso de Design Gráfico da UMC): Felipe Magno, Fernanda Roberti, Rafael Santana, Gabriel

Aparecido e Rian Martins.Orientador: Prof. Fábio Bortolotto

* * *

UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES – UMC

Chanceler:Prof. Manoel Bezerra de Melo

Reitora:Profª. Regina Coeli Bezerra de

MeloVice-Reitora:

Profª. Roseli dos SantosFerraz Veras

Pró-Reitor de Campus (sede):Prof. Claudio José Alves Brito

Pró-Reitor de Campus(fora da sede):

Prof. Antonio de Olival FernandesPró-reitor de Pesquisa, Pós-

graduação e ExtensãoProf. Miguel Luiz Batista Júnior

Diretor Administrativo:Luiz Carlos Jorge de Oliveira Leite

Coordenadora dos Cursos de Design Gráfico, Jornalismo e Publicidade e Propaganda:

Prof. Ms. Agnes Arruda

A crise da imprensa e aformação de novos jornalistas

editorial•DA COORDENAÇÃO•

Quando o TCC não é aúltima coisa a ser feita

Ano XVI / N 94 || 2015

AGNES ARRUDA*

Quando concluímos alguma etapa importante de nossas vidas, como os alunos que recentemente entregaram e apresentaram seus Trabalhos de Conclusão de Curso, a sensação de alívio pela missão cumprida é uma frequente. No caso do TCC é uma coisa louca. A gente não sabe se ri, se chora, se abraça a mãe, o pai, o namorado, o cachorro, os colegas de classe ou o professor da banca. Fica meio bobo por um tempo e publica com pressa na internet qualquer coisa – foto, selfie, textinho, textão, tanto faz – com #ACABOU. A ideia é oficializar logo aquele momento para que ele não escape.

Não é por menos. No último ano de seus cursos, esses estudantes se entregam de cabeça a seus projetos. Palavras como metodologia, funda-mentação teórica, orientador e ABNT fazem parte de suas rotinas tanto quanto a prática de ir a campo, interpretar a realidade sobre o recorte proposto e traduzi-la em um projeto que seja consistente o suficiente para os qualificar com PROFISSIONAIS. É de ficar aliviado mesmo.

Por outro lado – e sinto muito se o que vem a seguir destruirá sua feli-cidade –, contrariando o que muita gente pensa, entregar e apresentar o TCC não é ponto de chegada, mas sim de partida. Isso porque o trabalho não é construído somente nesse ano intenso que descrevi acima. Pelo menos não é o que se almeja para os alunos de Design Gráfico, Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UMC.

O Projeto Pedagógico dos nossos cursos foram construídos para que todos os períodos da graduação sejam aproveitados na construção não apenas de um projeto final, mas sim de um profissional apto para o mer-cado, prático ou acadêmico. Aliadas às bagagens dos próprios alunos, as competências e habilidades desenvolvidas nas mais diferentes disciplinas devem permitir reflexões sobre a atuação profissional ética, bem como sobre a importância social de suas atividades, dando então aos estudantes as ferramentas para, a partir de formados, seguirem seus próprios caminhos.

Dentro desse contexto, o Trabalho de Conclusão de Curso se torna, então, uma preparação para esses caminhos a serem trilhados; um ponto de partida para que esses antes alunos, agora profissionais, devidamente instrumentalizados, ocupem os escritórios, as agências e as redações da vida cientes de que a estrada percorrida até então foi um preparatório. A prova de fogo vem a seguir.

*Professora-coordenadora dos cursos de Design Gráfico, Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UMC. [email protected].

O delicado momento pelo qual passam jornais e revistas impressos, com expressiva perda de leitores, não configura uma crise restrita à conta-bilidade das empresas, mas há muito respinga nas redações e compromete a qualidade dos produtos oferecidos ao público.

Uma parcela da crise pode ser colocada na conta da Internet, com sua instantaneidade, sua variedade, e suas possibilidades multimidiáticas. Porém, uma parcela significativa deve ser creditada aos próprios veículos e aos erros editoriais por eles cometidos. A perda de credibilidade afasta os lei-tores, e a ausência de leitores afasta a Publicidade. Daí para adiante, a crise se instala.

Erros acontecem aos montes no Jornalismo – não é de hoje! Nada os justifica, mas quem já trabalhou em redação sabe que, por mais zelosa que seja a equipe, o mítico “Imponderável de Al-meida”, personagem criado por Nelson Rodrigues para explicar placares esportivos inexplicáveis, sempre acaba aprontando alguma. Só mesmo o Sr. Imponderável para explicar a manchete “Briga pela internet acaba em facadas”, publicada tempos atrás, em caixa alta, no Diário de Pernambuco.

Há outros erros, porém, que pela gravidade e consequências, não se limitam ao anedotário. Muitos deles, infelizmente, cometidos conscientemente por repórteres e suas chefias, em detrimento da confiança que os leitores depositam nos veículos. São notícias mal apuradas, embustes, calúnias, suspeições sem fundamento, lançadas diariamente sobre o público, sem qualquer consideração para com o código de ética da profissão ou com o compromisso do jorna-lismo com a democracia e a sociedade.

Difícil determinar se as dificuldades contábeis estão contaminando a qualidade editorial, ou se o despre-zo pela verdade está prejudicando a contabilidade. Possivelmente as causas se complementem, numa bola de neve que cresce a cada giro das rotativas.

Olhado na perspectiva do ensino de Jornalis-mo, esse ambiente de incertezas reafirma o papel dos jornais-laboratório como instrumentos de formação de profissionais pautados pela ética e pela verdade dos fatos. Esta é a missão do Página UM, o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes.

|| 032015 || N 94 / Ano XVI

educação e cultura

Ilha Marabá sedia curso de meditação Sahaja YogaAMANDA MANTOVANI

Quem busca a pacifi-cação interna pode fazer o curso Sahaja Yoga ofe-recido na Coordenadoria de Turismo de Mogi das Cruzes, localizada na Ilha Marabá. O curso promove o equilíbrio através da meditação e da busca pelo estado natural da consciência. O Sahaja Yoga foi desenvolvido por Shri Mataji Nirmala Devi, indiana afetuosamente chamada de Mãe. Ela revolucionou o Yoga ao oferecer o despertar da Kundalini, energia loca-lizada próximo à base da coluna e dos órgãos genitais. Para participar do curso é necessário aprender um protocolo totalmente criado pela Shri Mataji.

Quem ministra o curso é o médico Newton Za-netta, 63 anos. “Sahaja Yoga é um resgate ao eu, quando você começa a enxergar o início do ego dentro de você e o infinito super ego im-plantado pelos homens. A prática da meditação te faz enxergar esse ego e refletir. Nenhuma religião ou livro pode te ensinar a seguir esse caminho.

AMANDA MANTOVANI

O ser que medita não admite mais que a sua mente o engane. O curso é um aprendizado tanto para quem está partici-pando, quanto para mim, que estou instruindo”, explica.

Segundo a Coordena-doria de Turismo, o curso de meditação é oferecido em Mogi há 13 anos, com ótimos resultados para os participantes.

O curso é oferecido gratuitamente. As aulas acontecem às segundas--feiras a partir das 18h e, aos sábados, a partir das 10h. O Núcleo Ilha Marabá fica na rua Dr. Deodato Wetheimer, em Mogi das Cruzes.

Para participar, “basta a vontade de desfrutar dos benefícios da meditação”, afirma o instrutor.

Projeto no Jardim Piatã orienta alunos de escola municipal e de creche sobre escovação correta

Educação para a saúde bucal reduz 60% das cáries

EWELIN ALVES

A unidade do Programa de Saúde da Família (PSF) do bairro Jardim Piatã, em Mogi, desenvolveu em parceria com a escola Escola Municipal Profes-sora Cleonice Feliciano e a Creche Jornalista José de Moura Santos, um projeto de saúde bucal para atender as crianças das unidades educacionais.

O projeto existe desde 2012, e visa reduzir os índices de cáries entre as crianças do bairro. O cirurgião dentista Sérgio Gruppi, responsável pelo projeto, conta com a ajuda Ivone Gomes, auxiliar de saúde bucal, e mais seis agentes comunitários. A equipe leva palestras educativas aos alunos, explicando como escovar os dentes e alertando sobre a ingestão excessiva de doces.

Após as palestras, as crianças ganham uma escova e um tubo de pasta de dente e são levadas para a escovação monitorada. Em seguida o dentista faz a avaliação de cada criança, diagnos-ticando as que precisam de tratamento. O casos mais específicos são enca-minhados para a unidade de saúde.

A cada mês o programa alcança pelo menos duas salas. No período de um

ano, visita todas as salas da escola e da creche.

Suame Francielle, mãe de Cristoffer Oliveira, 6 anos, que precisou fazer tratamento dentário, fi-cou muito satisfeita com o projeto. “Meu filho hoje está livre de cárie e sabe cuidar dos dentes corretamente. Ele até ensina a irmã de 3 anos”.

Sérgio Gruppi acredita que o projeto está dan-do muito certo. “É um trabalho a longo prazo, de mudança de perfil das crianças. Buscamos melhor qualidade de vida”, afirma o dentista.

O trabalho vêm ga-rantindo a redução na incidência de cárie entre as crianças. A vice-diretora da Creche Jornalista José de Moura Santos, Marcia Rejane Rodrigues, acredita na força do projeto e afirma que os benefícios para as crianças são muitos. “O atendimento colabora com a saúde e educação das crianças, criando o hábito de cuidar dos dentes, já que nesta fase as crianças adoram comer doces”.

Cristiane Conceição do Carmo, vice-diretora da Escola Professora Cleonice Feliciano, também aprova o projeto. “É maravilhoso, pois é um trabalho pre-ventivo e uma parceria que deu certo. Vejo os resultados de perto. As crianças aprenderam a

cuidar dos dentes e pas-sam esse aprendizado para a família”.

Segundo o dentista, desde o início do projeto

FOTOS: EWELIN ALVES

já houve uma redução de cárie em 60% dos casos. São atendidos em torno de 700 alunos por ano, de 0 a 12 anos.

» Avaliação odontológica identifica alunos que devem ser encaminhados para tratamento. Na sala de aula (abaixo), instruções sobre escovação

» Newton Zanetta,médico

“Batuque de umbigada” do Casarão causa reclamação de moradoresANA ELÍDIA PINHEIRO

A Associação Casarão da Mariquinha, de Mogi das Cruzes, promove ati-vidades culturais dentro e no entorno do Casa-rão às sextas, sábados e domingos. O intuito do grupo é se tornar parte do patrimônio cultural da cidade, porém essa ideia não foi bem aceita por alguns moradores do entorno da sede.

Segundo Ligia de Marco, colaboradora da Associa-ção, as atividades variam entre os dias da semana e sábados. Acontecem festas, oficinas, palestras, entre outras atividades. Nos domingos, o Casarão costuma promover a fa-mosa “roda de batuque de umbigada”, atividade que envolve vários par-ticipantes, entre eles, moradores de rua.

Incomodado, um morador do entorno da praça, no dia 4 de novembro de 2015, es-creveu na sessão Carta ao Leitor de um jornal da região sobre as ati-vidades que ocorrem no local, ironizando as atividades, a associação e principalmente a roda

de batuque. No texto, ele alega que os eventos interferem na ordem e na paz da vizinhança.

O Página UM decidiu ouvir a opinião dos mo-radores do entorno, mas quase ninguém quis se manifestar. Apenas Mako-to Watanabe, que mora bem perto da praça onde ocorrem as atividades, declarou que a roda de batuque não atrapalha de forma alguma a or-dem, nem interfere na paz do ambiente. “As atividades ocorrem so-mente de manhã ou à tarde”, destaca. Segundo Watanabe, o autor da

carta foi preconceituoso e infeliz com as palavras. “Acho que o jornal devia se retratar”, afirma.

Diante da repercus-são da carta, o jornal a excluiu da sua versão na internet, mas não houve qualquer pronunciamento nem por parte do autor, nem do jornal.

Segundo Ligia de Mar-co, as rodas e demais atividades vão continuar ocorrendo normalmente.

O Casarão da Mari-quinha fica aberto todos os dias da semana, mas as principais atividades ocorrem nos fins de semana .

PEDRO CHAVEDAR

Casarão ataca conservadorismo com cultura e diversãoEspaço independente valoriza patrimônio artístico da cidade com literatura, cinema e música

DAIANE AQUINO

Aberto a menos de um ano, o Casarão da Mariquinha já é tido como símbolo de cultura e resistência ao conser-vadorismo de Mogi das Cruzes. O espaço tem como objetivo fomentar ações voltadas para a população, sobretudo valorizando o patrimônio material e imaterial.

O Casarão oferece lazer acompanhado de boa dose de cultura. Aos sábados, a programação é dedicada à boa prosa e aos admiradores de saraus. Qualquer visitante pode subir ao palco e declamar poemas. Após as recitações, o pessoal abre uma roda de bate papo, em que se discute desde melancolias até temas políticos.

Para quem ama bons filmes, o Casarão oferece uma série de longas todas as segundas-feiras. Como sempre, após a exibição ocorre um debate – que é a parte mais esperada pelo público.

No programação mu-sical, o show fica por conta de “As meninas do maracatu”, que se apre-sentam nas quintas-feiras. O coletivo Jabuticaqui--Suburbaque Maracatu, grupo residente no espaço, apresenta danças vindas das raízes africanas, com instrumentos artesanais. É um verdadeiro culto à cultura, valorizando o ritmo e a resistência religiosa dos negros.

O local também agrada aos boêmios do samba e aos amantes do forró, daqueles que arrasta os

pés e esquenta o corpo. A programação também reserva espaço para o jazz melancólico e para o som inquestionável do blues e do rock.

José Luís da Silva, o “Rabicho”, gestor do espaço, acha que falta à cidade uma política pública de cultura que propicie acesso irrestrito da população às várias manifestações artísticas. “A cidade é formada a partir de um olhar muito conservador, privilegiando as camadas mais abas-tadas da sociedade”, declara. Na opinião de Rabicho, o Casarão visa, justamente, alterar essa realidade.

O Casarão fica na rua Alfredo Cardoso, 2, no largo do Bom Jesus, em Mogi Das Cruzes.

DAIANE AQUINO

04 ||Ano XVI / N 94 || 2015

educação e cultura

» Noite de forró no Casarão da Mariquinha

» Moradores de rua nos batuques de domingo

Merenda escolar de Mogi está entre as melhores do EstadoBRUNA FERREIRA

Em 2015, o governo federal investiu R$ 318 milhões em merenda escolar destinada aos alunos da educação básica . Segundo o Programa Na-cional de Alimentação Escolar (PNAE), mais de 42 milhões de estudantes já foram beneficiados. Em Mogi das Cruzes, segundo informações publicadas no site da prefeitura, o custo diário da merenda para cada aluno é de R$ 2,47 para o ensino fundamental, dos quais R$ 1,00 é recebido do governo federal.

O Departamento de Alimentação Escolar de Mogi (DAE) informa que atende mais de 51 mil alunos das unidades esco-lares municipais. Contudo, mais de 50% das crianças não se alimentam com a merenda oferecida na escola. Muitos preferem trazer o lanche de casa, ou comprar nas cantinas. Na hora do recreio, o que mais se vê são bolachas, salgadinhos e refrigerantes.

Para a nutricionista Eliza Rocha, falta orienta-ção sobre a importância

da alimentação correta, que deveria ser passada pelos pais, em casa. “A educação alimentar não começa na escola, mas sim dentro de casa, ou seja, com os pais”, diz.

Maria Inês, mãe de Julia, de oito anos, diz que a filha sempre come da merenda servida na escola. “A Julia tem hábitos alimentares saudáveis, que aprendeu dentro de casa. Ensino a ela a maneira certa de se ali-mentar desde que era pequena”, afirma.

Em 2010, Mogi das Cruzes recebeu o Prê-mio Gestor da Merenda Escolar, concedido pela ONG Ação Fome Zero, por ter a melhor merenda do estado de São Paulo.

Produtos como ca-qui, cogumelos, alface e outras hortaliças foram adicionados no cardá-pio, trazendo um ganho significativo na qualidade da alimentação oferecida aos estudantes, além de criar um novo vínculo com a produção agrícola local.

O PNAE atende alunos matriculados nos ciclos básicos de ensino, e tem como objetivo contribuir para o crescimento, apren-dizagem, rendimento escolar e educação ali-mentar das crianças. A verba do governo federal é repassada aos estados e municípios, com base no censo escolar realizado no ano anterior ao do atendimento.

Alunos questionam ensino focado em resultado do ENEMObjetivo das escolas seria altos índices de aprovação, e não formação adequada do estudante

CAROLINA KIUCHI

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), obrigatório para alunos concluintes do Ensino Médio, não avalia apenas os alunos, mas também as escolas. Por isso, muitas delas pressionam os alunos para que estes obtenham notas altas no exame, sobrecarregando ainda mais essa etapa crítica da vida escolar. Além disso, como a nota também pode ser utilizada para facilitar o ingresso no ensino superior, algumas escolas acabam ignorando conhecimentos que não caem nos vestibulares. Ao invés da transmissão de conteúdos, as aulas se transformam em trei-namento para o ENEM.

O problema principal não é o treinamento em si, mas focar apenas em boas notas e deixar de lecionar conteúdos úteis para a vida adulta.

De acordo com a estu-dante de Administração, Keila Haseyama, da USP, os treinamentos pesados acabam sendo inúteis na faculdade e mesmo no mercado de trabalho. “Acho que tanto o cur-sinho, como o colegial, foram psicologicamente cansativos e maçantes. Tudo isso acaba esgotando o aluno. Apesar disso, acho que a repetição

excessiva acaba ajudando na hora da prova”.

Para alguns, o ENEM acaba sendo muito mais uma prova de resistência do que de conhecimentos . É o caso de Rodrigo Nauata, que espera conseguir boa nota para entrar numa universidade pública. “Não acho certo esse sistema de seleção com foco nas provas”, diz.

Muita gente acha que, depois de passar três anos sendo preparado para a prova do vestibular, a capacidade de pensar “fora da caixinha” fica enferrujada. Mas há quem discorde: Thiago Miyake, aluno da Faculdade de Medicina de Sorocaba, ligada à PUC de São Paulo, acredita que as escolas

preparatórias têm a in-tenção de combater a alienação dos estudantes e construir um pensamento crítico. “Contudo, isso não depende tanto da escola, mas principalmente das cargas culturais e de conhecimento do aluno”, completa.

De modo geral, as es-colas de Mogi das Cruzes têm boa classificação no ranking nacional e do Alto Tietê. Os resultados comprovam que os treina-mentos são efetivos, mas a função original deveria ser fornecer uma base para a vida dos estudantes. O atual sistema de ensino brasileiro está criando profissionais especializa-dos despreparados para a vida fora da escola.

RODRIGO NAUATA

|| 052015 || N 94 / Ano XVI

educação e cultura

» Em época de provas os estudos são dobrados

Premiação do FESTEMC incentiva iniciação ao teatroFestival de Teatro Estudantil de Mogi das Cruzes promove a cultura entre estudantes

YASMIN CASTRO

Em meio a aplausos e festejos, em setembro de 2015 foi encerrada a segunda edição do Festival de Teatro Estudantil de Mogi das Cruzes (FESTEMC). O evento é realizado no Theatro Municipal Vas-ques, e busca incentivar a manifestação artística e cultural de estudantes adolescentes do Alto Tietê.

Idealizado pelo Teatro Experimental Mogiano (TEM) na década de 90, a competição atualmente é organizada pela Secretaria de Cultura de Mogi das Cruzes, e consiste em uma série de apresentações teatrais realizadas por estudantes que estejam cursando até o 3º ano do Ensino Médio. Os es-petáculos são avaliados por jurados, resultando em premiação para treze categorias.

Na edição de 2015, o FESTEMC contou com a apresentação de 18

espetáculos, entre eles, “Filosofia da Revolução”, do escritor Marcelo Ro-magnoli, encenado pelo Grupo Teatral Canalhas, da Escola Estadual Isabel Ferreira da Silva. O grupo, que venceu as edições de 2012 e 2013, surgiu após os alunos participarem de um projeto teatral da Diretoria de Ensino do município.

Com apoio do profes-sor e diretor do grupo, Diego Pedro Faria, os alunos viram no festi-val a oportunidade para mostrar seus trabalhos. “O festival ajuda a dar visibilidade às produções feitas na escola”, afirma o diretor. Para Diego, o FESTEMC é como uma formatura para as peças, que passam boa parte do ano em processo de ensaio e amadurecimen-to. “Sem a competição, nunca ganhariam tama-nha repercussão. Seriam boas peças de teatro, mas que sempre estariam

escondidas nos pátios da escola”.

A produção teatral também ajuda a impulsio-nar a carreiras dos jovens atores, como é o caso da Nathalia Guimarães,19, que iniciou a carreira com os Canalhas, e que acaba de ser aprovada no vestibular de artes cênicas. “O festival foi importante na constru-ção de amizades, e de tudo que sou hoje. Ele me ensinou muito”. A atriz concluiu que sem-pre teve dificuldade em encontrar uma carreira, mas que com o teatro, ela descobriu que pode ser tudo o que quiser.

As inscrições para o FESTEMC são realizadas no mês de julho através do portal do evento http://www.cultura.pmmc.com.br/festemc/, e são gratui-tas. A entrada do público também é franca, sendo necessário apenas retirar os ingressos com uma hora de antecedência.

YASMIN CASTRO

Teatro da Neura estreia peça religiosaEspetáculo “O Menino Gigante” é fruto da Festa de Yemanjá, realizada em Salvador

LETÍCIA SANTIAGO

A imersão na cultura religiosa da comunida-de que reside no Morro da Sereia, em Salvador, Bahia, foi essencial para que o dramaturgo e di-retor Antônio Nicodemo escrevesse o espetáculo “O Menino Gigante – Um Ensaio Para o Sábado de Aleluia”, que está em processo de produção pelo Teatro da Neura, de Suzano, com estreia prevista para 2016.

Para compor a peça, o dramaturgo, passou 11 dias vivenciando a rotina dos moradores locais nos preparativos para a Festa de Yemanjá, realizada no dia 2 de fevereiro.

O espetáculo aborda a religiosidade do Nor-

deste brasileiro. “Fui para Salvador com algumas ideias, que ganharam formato de espetáculo através dessa experiência. A Festa de Yemanjá foi o pontapé inicial para a criação do texto, mas a peça aborda diversos ritos religiosos de vá-rias regiões do Brasil”, explica.

A região Norte também está representada com o Sírio de Nazaré, que ocorre em Belém, Pará.

A peça, assim como outros trabalhos do Tea-tro da Neura, conta com elementos do realismo fantástico e faz parte de do universo alegórico. Trata-se de um espetáculo anexo, que faz parte da da Trilogia dos Sacros Dias, que teve início em

2013, com “O Velório”. A produção levou, em 2012, o primeiro Programa de Ação Cultural (ProAC) do Alto Tietê, na categoria Produção e Circulação de Espetáculo para Cidades com menos de 500 mil habitantes.

“O Menino Gigante - Um Ensaio Para o Sábado de Aleluia” conta com elenco composto por artistas de diversas linguagens, que terão de doar o seu histórico pessoal para que o espetáculo aconteça. O envolvimento do elenco sempre ocorre durante todas as etapas de um espetáculo. Entretanto, no caso dessa peça, terá de ser ainda mais, porque o projeto pede por algo mais intenso”, finaliza Antônio.

DIVULGAÇÃO: LETHICIA GALO

06 ||Ano XVI / N 94 || 2015

educação e cultura

» Grupo Teatral Canalhas, que obteve o terceiro lugar no FESTEMC com a peça “Filosofia da Revolução”

» Ensaio da peça que estreia em 2016

Alta escolaridade não garante empregoCAUÊ MARTINELLI

Em setembro de 2015, a taxa de desemprego no Brasil atingiu o maior patamar desde 2009, chegando a 7,6%. Tra-balhadores com maior qualificação profissional correspondem a pouco mais da metade dos de-sempregados. Um dos motivos apontados é a dificuldade do mercado em contratar recém-formados. A indústria já reduziu em 6,3% o número de funcionários.

Para o economista Wiliam Rematiro, o de-semprego está relacionado à tentativa de controlar a inflação. “A elevação da taxa básica de juros faz com que os juros bancários subam, inibindo a oferta de crédito e fazendo com que os consumidores reduzam o consumo. Isso desacelera a atividade das empresas, e essas, para se adequar aos custos, optam por demitir”.

O número de traba-lhadores desempregados com 11 anos ou mais de estudo aumentou 61% em relação ao ano passado. Victor Soares, 22, formado em Desen-volvimento e Análises de Sistemas, ainda não

conseguiu trabalho. “Estou tentando há um ano”, afirma. Segundo Soares, a falta de experiência reduz suas chances.

Em dez anos houve aumento significativo no número de jovens formados, passando de 528 mil para 830 mil. Porém o mercado não consegue absorver estes jovens, conforme explica o economista “Está mais concorrido, principalmente pela elevação do acesso ao ensino superior por meio de políticas públicas como o FIES, o PROUNI e o PRONATEC. Há maior oferta de mão-de-obra qualificada, elevando a concorrência entre os novos graduados e técnicos”.

Design Gráfico aparece como uma das áreas com mais alta taxa de desem-prego, alcançando 11,8%,

abaixo apenas do curso de Cinema. O designer Henrique Castelo diz que estar na faculdade e já trabalhar na área facilita abrir espaço no merca-do de trabalho. “Eu me formei há 6 meses, mas trabalho na área desde o início da graduação. As vagas são limitadas e se cobra muita experiência”.

Bruno Gonzales, 19, ainda é estudante de De-sign Gráfico e se preocupa com o futuro profissional. A saída , segundo ele, será montar um negó-cio próprio. “A profissão de designer não exige diploma, então muitas pessoas fazem cursos de curta duração para poder entrar mais rápido na área, o que dificulta para nós que vamos nos formar”, afirma.

Projeto oferece qualificação e crescimento pessoalEntre os cursos oferecidos no CRESCER, estão Informática, Hotelaria, Comércio e Beleza

LEONARDO CARLOS

Criado em dezembro de 2011, o Crescer (Cen-tro Municipal de Apoio à Educação de Jovens e Adultos) de Mogi das Cruzes contribui para a evolução pessoal e profis-sional através de cursos gratuitos oferecidos na Vila Natal, em Braz Cubas, na Vila Brasileira e no Centro.

Os candidatos têm acesso a cursos de Informática Básica e Avançada, Turismo

e Hospitalidade, Saúde, Gestão, Comércio, Beleza e Moda, e Artes. Segundo a coordenadora Juliana Melo, os cursos garantem formação diferenciada. “É uma oportunidade de aprendizagem, socia-lização e de inserção no mercado de trabalho”.

Desempregada, Laura Alves, 26, se matriculou no curso de Informática Básica. “É uma boa opor-tunidade para ter mais chances no mercado de trabalho”, afirma.

As vagas para 2016 serão distribuídas da seguinte forma: 1º Bloco: janeiro; 2º Bloco: maio; 3º Bloco: agosto. Para a inscrição é preciso apresentar o RG ou outro documento de identidade. Em alguns casos, é necessário apresentar cópia da declaração de escolaridade em nível de Ensino Fundamental. Para as capacitações em nível avançado, o candidato deve levar a cópia do certificado de conclusão do curso básico.

LEONARDO CARLOS

FOTOSPUBLICAS.COM/CAMILA DOMINGUES

|| 072015 || N 94 / Ano XVI

educação e cultura

» CRESCER do centro de Mogi das Cruzes foi a unidade que mais recebeu alunos em 2015

» Mais pessoas estão conseguindo curso superior

Coletivo Everyday Mogi registra o cotidiano da cidade em fotografias

EVELIN KAMIMURA

Retratar momentos e deixá-los eternizados na história. É o que um grupo de fotógrafos mogianos faz pela cidade por meio do Coletivo Fotográfico Everyday Mogi, fundado em agosto de 2014.

A ideia foi do fotó-grafo Pedro Chavedar, depois de participar de um workshop sobre o con-ceito everyday. O coletivo mogiano é comandado por Alex Tavares, Warley Leite, Pedro Chavedar, Nicholas Modesto e Gui-lherme Silva.

A ideia é retratar a realidade do local em que vivem, e mostrar a

maneira como enxergam os detalhes da cidade. Cenas muitas vezes des-percebidas pela maioria das pessoas são captadas pelo olhar aguçado dos fotógrafos e, desta forma, eternizadas.

Algumas imagens al-cançaram reconhecimento nunca imaginado pelos autores. É o caso da fo-tografia de um trem em movimento, tirada por Alex Tavares e vendida no México. O retrato de uma criança, exposto em São Paulo, acabou adquirido pela Canon.

Segundo os fotógrafos, reconhecimentos como esses impulsionam o tra-balho do grupo e os fazem

querer melhorar a cada dia. “Ficamos animados e felizes demais quando isso acontece. Mostra que nosso trabalho está sendo valorizado, que as pessoas estão gostando, e que temos que continu-ar”, diz Pedro Chavedar.

Eles tem consciência de estar contribuindo para a história da cidade e construindo parte da imagem que as pessoas terão de Mogi no futuro.

Nas lentes dos integran-tes do Everyday Mogi, a cidade é um palco e todo o elenco é importante – independentemente de serem pessoas bem vestidas ou moradores de rua.

ARQUIVO EVERYDAY MOGI

Escritor leva projeto de leitura para escolas públicasProposta inicial divulgar livros, mas se transformou em palestras de incentivo à leitura

GUSTAVO SILVA

Ademiro Alves de Souza, conhecido como “Escritor Sacolinha”, desenvolve palestras de incentivo à leitura em escolas públicas desde 2008, como parte do projeto independente Minha Literatura Minha Vida. Aos 32 anos, ele tem seis livros publica-dos, dentre eles “Estação Terminal” e “85 Letras e Um Disparo”. O escritor, palestrante e agitador cultural é formado em Letras pela Universidade de Mogi das Cruzes.

O projeto surgiu com a necessidade de Sacolinha divulgar seu trabalho. Como seus livros apresentavam baixa vendagem, ele decidiu divulgá-los para os jovens nas escolas. Porém, logo percebeu que os alunos não demonstravam interesse nos livros, o que o levou a mudar a estratégia. “Antes de divulgar meus livros era preciso apresentar a leitura”, relata.

Sacolinha começou, então, a ministrar palestras incentivando o interesse pela leitura. Inspirado no programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, Sacolinha estru-turou o projeto Minha Literatura Minha Vida em escolas públicas.

Metade dos livros do escritor foi lançada com dinheiro de editais públicos,

ou seja, o escritor recebeu verba do governo federal e do governo do estado para escrever e publicar os livros. Por isso, ele não cobra cachê pelas palestras nas escolas públicas, mas pede que sejam adquiridos pelo menos 15 exemplares de seus livros, que, para as escolas custam metade do preço.

Sobre o projeto, o es-critor explica que foi uma maneira que encontrou para, ao mesmo tempo, fomentar a leitura e divulgar seu trabalho. “Em cada palestra, pelo menos 15 exemplares dos meus livros ficam na escola. É um meio de apresentar a leitura a esses adolescentes. É in-justo o aluno ouvir minha palestra, se interessar em ler um livro e encontrar

apenas Machado de Assis e outros textos complexos para ler”, afirma.

Sacolinha defende que é mais fácil para o jovem começar a ler um livro que retrate a realidade dele, que tenha a linguagem do seu dia-a-dia, para depois partir para outras leituras. “Mais amadurecido, lerá inclusive Machado de Assis”, garante.

Escritor quer ser lem-brado como alguém que fez algo por outras pes-soas, que ajudou a salvar vidas e a mudar pensa-mentos. Na opinião dele, os jovens precisam ser “metralhados com boa leitura” e por isso não dá para descansar, pois “o traficante, o policial corrupto, e o político ladrão não descansam”.

Aos 32 anos, além de escritor, Sacolinha é agitador cultural e palestrante

DIVULGAÇÃO/IRINEU JUNIOR

08 ||Ano XVI / N 94 || 2015

educação e cultura

» Escritor Sacolinha é agitador cultural e palestrante

» A partir da esquerda, Alex Tavares, Warley Leite, Pedro Chavedar, Nicholas Modesto e Guilherme Silva

Escola de Artes fomenta educação, cultura e cidadaniaLocalizada em César de Souza, a escola oferece aulas gratuitas para crianças e jovens

GUSTAVO PEREIRA

A Escola de Artes da Associação de Morado-res do Jardim Juliana, Vila Pauliceia e Vila Nova Suíssa (AJPS), localizada em César de Souza, em Mogi das Cruzes, atua no distrito desde 1995. Sem fins lucrativos, ela desenvolve um trabalho de educação cultural que atrai diversos jovens. O que antes era apenas uma associação de bairro passou a ser conhecida como Escola de Artes. Atualmente, são oferecidas aulas gratuitas de canto, dança de rua, acrobacias, circo, ballet e violão.

Em 2001, uma parceria com a prefeitura resultou no projeto “Agente Jovem”, que visava a reintegração de estudantes com idade entre 15 a 17 anos às

escolas. Rita Bonfim, 47, coordenadora da AJPS, conta que quando a prefeitura suspendeu o programa, os alunos não quiseram parar as atividades. “Eles nos pediram qualquer coisa que envolvesse educação e cultura”. Começaram, dessa forma, as aulas de dança de rua três vezes por semana.

“O grupo se firmou e começou a fazer apre-sentações em escolas, e aberturas de jogos e campeonatos”, afirma a coordenadora. Diante dos resultados, a Associação abriu também os cursos de ballet, de teatro e de acrobacias. “De repente havia aulas todos os dias da semana”, conta.

Em 2009 a AJPS foi escolhida como Ponto de Cultura, em edital promo-vido pela Secretaria de

Cultura do Estado, o que lhe rendeu um contrato de três anos. “A verba nos capacitou bastante e aperfeiçoou o nosso trabalho”. O contrato expirou, e atualmente a Escola de Artes sobrevive com apoio de algumas empresas. “Tem sido um gesto de resistência para gente e hoje o projeto está ameaçado por falta de apoio”, afirma.

Kelvin Lucas da Sil-va, 18, quer ser músico instrumental. Aprovado recentemente no proces-so seletivo da Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP), Kelvin conta que tudo começou com as aulas de violão na AJPS, quando tinha 15 anos. “A AJPS foi uma casa para mim”. Agora, ele próprio leciona violão na Associação.

GUSTAVO PEREIRA

Programa Escola da Família permite uso de escolas pela comunidade nos fins de semanaJULIANA ALMEIDA

Duas escolas públicas de Jundiapeba participam do programa Escola da Família, promovido pela Secretaria de Estado da Educação.

As escolas Professor Cid Boucault e Professor Paulo Ferrari Massaro, permane-cem abertas nos fins de semana, com programa-

ção esportiva e cultural. Na escola Cid Boucault, a maior dificuldade é a falta de voluntários. É o que diz Paulo Fukugawa, coordenador da escola. “Nós dependemos do pro-grama de voluntariado e as oficinas precisam de gente da comunidade”, afirma. Atualmente, são oferecidas oficinas de tricô e crochê, tênis de mesa, maquiagem,

pintura a dedo, futsal e aulas de reforço em matemática e português.

Estudantes podem se candidatar como volun-tários do programa, em troca de bolsa integral para o ensino superior. Para isso, é necessário se inscrever no programa Bolsa Universidade, da Secretaria de Estado da Educação.

LUCAS CAMARGO

Em Guararema um novo modo de promo-ver o conhecimento foi adotado pelas secretarias de Educação e de Cultura do município. O projeto consiste em levar alunos dos ciclos Fundamental e Médio para aulas no trem Maria-Fumaça rei-naugurado recentemente. Brevemente os alunos das creches e pré-escolas municipais também par-ticiparão do projeto.

O objetivo é estimu-lar o conhecimento dos alunos da rede pública de ensino durante os 7 quilômetros do trajeto turístico entre a sede do município e o distrito de Luís Carlos.

Clarice Corbani, as-sistente da Secretaria de Cultura, atua como monitora nos passeios e conta aos alunos detalhes sobre a fabricação do trem, sobre o percurso e a antiga linha férrea Central do Brasil. O tour é encerrado numa exposi-ção sobre o tema em Luís Carlos, onde os alunos

têm contato com diversos registros históricos.

Na opinião da operadora de caixa Mônica Ohara, mãe de Hideki, de apenas 9 anos, o passeio é importante para aprimorar o conhecimento das crianças e adolescentes. “Meu filho ficou muito impressionado com as pinturas da exposição em Luís Carlos”, afirma.

Educação entra nos trilhos em GuararemaDIVULGAÇÃO/PMG

|| 092015 || N 94 / Ano XVI

educação e cultura

» Aula na Escola de Artes da AJPS

» Clarice Corbani ao lado do maquinista Felipe, do chefe da estação Benny e de colaboradores

Docência sofre com perda de prestígio e baixo salárioCada vez menos jovens optam pela Pedagogia e pelas Licenciaturas como caminho profissional

JENNIFER OLIVEIRA

JENNIFER OLIVEIRA

Quase ninguém, atualmente, quer ser professor. A profissão foi perdendo prestígio ao longo dos anos por diversos fatores, entre os quais as condições precárias de trabalho e os baixos salários. Esta realidade não se limita às escolas públicas, mas sem dúvida neste setor a desvalorização é mais perceptível.

Poucos estudantes concluintes do Ensino Médio têm interesse no curso superior de Pe-dagogia ou mesmo nas Licenciaturas. De acordo com dados da Fundação Carlos Chagas (FCC), de um total de 1.501 jovens pesquisados, apenas 2% demonstrou desejo de frequentar cursos que formam educadores.

Segundo Luciano Nunes Sanchez Cores, doutor em Sociologia da Educação e professor da Universi-dade de Mogi das Cruzes (UMC), o magistério é a profissão em que se exige formação superior com remuneração mais baixa. “Para ganhar um salário razoável, o docen-te precisa se entregar a uma carga horária mais extensa que outros pro-fissionais”, revela. Mas os problemas não param aí. “Também há a questão

da formação”, destaca. Segundo o professor, “o curso de Pedagogia e as Licenciaturas têm se tornado curtos, com duração de 3 a 4 anos, o que é muito pouco para a formação de um professor”. Nesse tempo não dá para ter muito contato com a prática, o que prejudica a preparação dos futuros professores.

Cores também des-taca que geralmente os professores não têm autonomia para gerir a própria carreira e nem poder para influenciar o currículo das escolas. “Isso também é um fator de desânimo”, revela.

Como resultado desses fatores, a desistência da carreira docente é cada

vez maior. A Secretaria da Educação do Estado divulgou recentemente uma redução, em 2015, de 6% no quadro de pro-fessores concursados e de 16% dos não efetivos – a maior saída de docentes desde 1999.

Nas escolas particulares também há dificuldades. Bruna Napolitano, professora do Ensino Fundamental I da rede pública, afirma que já trabalhou em ins-tituições privadas e não tem muita saudade. “Ao contrário do que pensam, nas escolas particulares os professores também são muito desvalorizados. A carga horária, por exemplo, é superior à exigida nas escolas públicas. Acredito que para melhorar a situa-

ção dos educadores e dos alunos, como um todo, é necessário valorizar os profissionais de ensino, com remuneração justa, melhores ferramentas de trabalho e salas com menos alunos. Só assim é possível alcançar todos os alunos e, no fim do dia, ir para casa com a sensação de dever cumprido”, afirma.

Na opinião de Luciano Cores, para que a profissão volte a ser valorizada é necessário que as esferas federal, estadual e municipal promovam ações efetivas neste sentido. “Houve algumas melhorias no âmbito do governo fede-ral, mas é necessário que haja muito mais interesse no desenvolvimento da carreira docente”.

Professores buscam valorização no mercadoTHAÍS SERPA

Professores da rede pública de ensino sofrem cada vez mais com a des-valorização da profissão e buscam novas alternativas para se sustentar.

Em um estudo da Pes-quisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem, da Organização para a Cooperação e Desen-volvimento Econômico (OCDE), que ouviu cerca de 100 mil professores e diretores escolares em 34 países, foi constatado que 90% dos professores brasileiros acham que sua profissão é desvalorizada pela sociedade. Outros problemas apontados na pesquisa são baixos salários, desrespeito por parte dos alunos e vio-lência nas salas de aula.

As dificuldades para quem deseja lecionar são muitas. Em São Paulo, professores em início de carreira precisam esperar muitos meses até que apareçam vagas para atribuição. Quando aparecem, o contrato de trabalho é temporário. Outro problema tem di-ficultado ainda mais a vida dos professores: no

final do segundo contrato consecutivo, os profes-sores ficam impedidos de dar aulas e assinar novo contrato por 200 dias letivos, ficando um ano inteiro sem trabalhar.

Muitos professores com dificuldade de atuar na área de formação acabam buscando outras formas de trabalho. Dão aulas particulares e até vão atuar em outras áreas completamente diferentes da desejada.

É o caso do professor do Matemática Raimundo Santos, que ainda não conseguiu ser efetivar em nenhuma escola. Para sobreviver, ele já pegou aulas até em escolas de outro Estado. Quando não consegue nenhum contrato, acaba traba-lhando como pedreiro “Sinto dificuldade para viver como professor e vejo colegas em início de carreira na mesma situa-ção. Muitos até mudam de profissão”.

Mesmo assim, a procura por cursos de graduação em licenciatura no Brasil teve crescimento de 55% segundo pesquisa feita no ultimo Censo da Educação Superior de 2013.

10 ||Ano XVI / N 94 || 2015

educação e cultura

» Luciano Cores: “Magistério é a profissão com remuneração mais baixa entre as que exigem formação superior”

O preconceito tem que dançarHomens ainda demonstram muita resistência à dança Rede pode virar fonte de renda

BEAT

RIZ

ANIO

N JEFERSON VERAS

A dança talvez seja a expressão artística mais discriminada no Brasil. Considerada por muitos como cultura menor restrita às mulheres, falta à dança o reconhecimento para que ocupe o lugar que merece.

Um dos maiores preconceitos a ser superado atualmente é con-tra o homem dançarino. Com isso em mente, decidi descobrir o

que algumas pessoas do Alto Tietê pensam sobre homens que dançam. Para isso, escolhi aleatoriamente dez homens com ida-

des entre 22 e 40 anos e lhes perguntei: “O que você acha do homem que dança?” Dos dez, oito disserem que imaginam a dança como atividade feminina. Antônio Marques, 32 anos, empresário do ramo imobiliário, diz que homem de verdade não dança por prazer. “Quando dança, é para fazer sucesso com as mulheres.” O estudante Mateus Cardoso, 22 anos, é enfático ao dizer que “jamais sairia por aí rebolando”.

A segunda pergunta que fiz foi: “Se algum parente próximo, como pai, irmão ou filho, decidisse praticar dança, como você reagiria?” Novamente, o resultado não surpreendeu. Apenas dois garantiram apoio, en-quanto os demais, em meio a gaguejos e respostas sem nexo, afirmaram que não apoiariam.

Em 2013, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 7032/10 que estabelece a dança como disciplina obrigatória da educação básica. Para virar lei, a proposta precisa obter votação favorável no plenário. Enquanto isso não acontece, a dança é adotada nas escolas apenas como atividade alternativa e acaba sendo apresen-tada aos alunos somente em datas festivas, como festa junina e formaturas. Sônia Arantes, 29 anos, professora de Educação Física numa escola pública de Suzano, afirma que tentou por alguns anos incluir a dança nas aulas, mas acabou desistindo por falta

de apoio. “Os alunos não aceitam. Os meninos têm preconceito, e as meninas ficam com vergonha”.

O estudante e dançarino Lucas Santarelli, 19 anos, de Poá, sente a discriminação na pele. Para ele, não há

preconceito contra a dança, mas falta de conhecimento. “As pessoas acham que conhecem dança pelo que veem na

mídia, mas a dança de verdade quase nunca é mostrada. Elas não conseguem perceber a arte se manifestando através do

corpo em dança.” Para ele, não há homofobia, mas ignorância. “Na dança não existe divisão por sexos, pois o que dança é a

alma”. Para quem ainda tem preconceito contra a dança, ele dá um conselho: “Procure se informar”.

MARIA NASCIMENTO

Érica Ferreira é you-tuber e produtora de conteúdo para internet. Aos 17 anos, e com mais de 2.800 inscritos na rede, Érica Ferreira, mantém no Youtube o canal Eri Xpitando. A vlogueira adota um estilo despo-jado e jovial para falar de suas vivências. Ela faz parte do famoso time das ‘youtubers’.

No seu canal, a jovem que sonha em se tornar atriz, grava vídeos mos-trando desde pontos de vista até aventuras com amigos pela cidade de Guararema, onde mora. Como ela mesma gosta de dizer, seu canal “é um espaço de tudo e nada, onde podemos discutir vários assuntos e darmos risadas ou chorar”.

Assim como youtuber, Érica sonha em ganhar dinheiro com a internet. “É uma nova profissão. Muitas pessoas apos-tam em carreiras sólidas, como engenharia, outras sonham em ser youtuber. Quero cursar Artes Cêni-

cas, mas paralelamente vou consolidar minha carreira virtual”, afirma.

Como as pessoas estão cada vez menos dispostas a ficar sentadas em frente à TV e consumindo mais vídeos no YouTube, Érica aposta nesse nicho para criar um vínculo com o público.

Vitória Domingos, 18, acompanha vários ca-nais no Youtube, e gosta da empatia entre quem produz conteúdos e o público. “Uma das coisas mais legais dos youtubers é a semelhança da vida deles com a nossa. Eles gravam nos cômodos de casa e usam uma lingua-gem muito fácil, o que os aproxima da gente”, afirma.

“Tiro muitas ideias de youtubers e vloguei-ros famosos. O Youtu-be permite que eu faça comentários e até faça alguns vídeos, trocando o papel de quem assiste pelo de quem emite o conteúdo. A facilidade é muito grande”, afirma Vitória, que sonhar em virar youtuber.

REPRODUÇÃO

Youtuber de Guararema fala de vivências e sonha em ser atriz

|| 112015 || N 94 / Ano XVI

educação e cultura

» Dançarino Lucas Santarelli, 19 anos

Produção musical do Alto Tietê enfrenta desafiosBandas da região sofrem com falta de patrocínio e dificuldades para divulgar trabalhos

LETICIA RIENTE

A internet tem facilitado o surgimento de muitas bandas com som próprio pela facilidade de divulga-ção que a rede propicia. Contudo, no Alto Tietê, a falta de apoio e a escassez de oportunidades ainda são gritantes.

Os custos de gravação são altos e a maioria das bandas é obrigada a bancar a produção do próprio bolso. A solução, muitas vezes, é optar pela produção caseira. A au-sência de apoio na região faz com que as bandas procurem alternativas em outros lugares.

Para Fernando Lopes, do site especializado em música “Floga-se”, o maior desafio que os artistas iniciantes encontram é

justamente o dinheiro, já que mídia e espaço para divulgar o trabalho custam caro. “Apesar das facilidades para gravar e lançar trabalhos, ainda é difícil atingir o público, porque as pessoas recor-rem a filtros para saber em quais artistas vale a pena investir tempo para conhecer”.

Vinicius Alarcon, voca-lista da banda ferrazen-se “Zonamüs”, diz que conseguir uma casa de shows para se apresentar não resolve tudo, pois a negociação com as casas costuma ser bem difícil. “Elas estipulam um nú-mero de ingressos e se não vendermos tudo, não tocamos. Se vendemos acima do proposto, metade do lucro fica com a casa e a outra metade tem que

ser dividida com todos da banda. Isso dificulta um pouco o trabalho”, afirma.

Felizmente as dificul-dades não impedem que os grupos continuem em atividade, seja como co-vers ou com composições próprias.

Felipe Noleto, guitar-rista da banda “Apollo”, também de Ferraz, conta que se espelha em bandas famosas para produzir o repertório da “Apollo”. “Ouvimos as músicas que nos agradam e de-batemos sobre o que podemos fazer, juntando as referências de cada integrante. Tentamos tirar algo no violão, e se todos estiverem de acordo, trabalhamos em cima. Em relação às letras, escrevemos mais sobre situações do cotidiano”.

LETICIA RIENTE

VITORIA SAMPAIO

O Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (SEBRAE) de Poá organizou o primeiro encontro ‘’Receita de Sucesso’’ na cidade.

O evento teve como objetivo promover a pro-fissionalização e quali-ficação de empresários do segmento alimentício e seus colaboradores, visando a concretização do Roteiro Gastronômico no município.

Ao todo, foram 22 encontros, nos quais fo-ram abordados desde Planejamento, Marketing e Gestão de Pessoas, até a prospecção de novos negócios.

Segundo o Secretário de Turismo de Poá, Edvaldo Gonçalves, a consolidação do roteiro gastronômico

deve contribuir para a identificação do prato típico da cidade.

Para integrar o Roteiro, o comerciante deve se cadastrar e estar disposto a participar ativamente do projeto.

Segundo Marcos Alves, consultor do SEBRAE, o objetivo da instituição no projeto é capacitar o empresário do setor alimentício nas áreas gerencial e operacional. “Em muitos casos falta planejamento e profis-sionalismo na abertura e continuidade no comércio, ”, afirma o consultor. Por meio da participação nos encontros o comerciante pode adquirir uma visão mais ampla para a con-dução do negócio.

Francisco Quintino, presidente da Associação Comercial de Poá, espera

que a adesão dos comer-ciantes ao programa de qualificação do SEBRAE ajude o cumprimento das exigências do Conselho Municipal de Turismo.

Para José Luís, Admi-nistrador da Fonte Áurea de Poá – o maior e mais antigo ícone de turismo da cidade e do Alto Tietê –, as ações que fortalecem o turismo beneficiam a cidade, o comércio local e a Fonte. Ele acredita que o comércio ligado ao turismo deve ter um atendimento diferenciado. “Desde a seleção do que é serviço na mesa até o modo de atender o clien-te, tudo deve estar sob controle do comerciante. O programa Receita de Sucesso é uma opor-tunidade ímpar para o desenvolvimento turístico da cidade”.

Evento em Poá promove qualificação de empresários do setor alimentício

VITORIA SAMPAIO

12 ||Ano XVI / N 94 || 2015

educação e cultura

» Grupos não têm lugares suficientes para mostrar trabalhos » Evento foi realizado na Casa do Artesão, em Poá

Projeto Itinerância promove inclusão de alunos especiaisSuporte pedagógico visa atender alunos superdotados e portadores de deficiências diversas

MAGDA NATHIA

Em funcionamento desde novembro de 2014, a resolução SE 61 insti-tuiu o Projeto Itinerância voltado para a educação especial nas escolas esta-duais de São Paulo. Pelo projeto, são atendidos alunos com deficiências, transtornos globais de desenvolvimento (TGD) e altas habilidades ou superdotação.

O projeto procura suprir necessidades e auxiliar no desenvolvi-mento e inclusão dessas crianças e adolescentes no ambiente escolar. As salas têm cerca de cinco alunos diagnosticados por psiquiatras ou neu-rologistas. Alguns alunos são encaminhados dire-tamente pelas escolas

após a identificação da necessidade.

Na escola Lucinda Bas-tos, as atividades são realizadas com turmas dos ciclos Fundamental e Médio. Todos os pro-fessores são especialistas em ensino especial.

A professora Valéria Cristina atua numa turma de cinco alunos, com idade média de 16 anos. São quatro meninas e um menino, que duas vezes por semana se reúnem por cerca de três horas. Com atividades simples, como associação de ima-gens e palavras, os alunos desenvolvem leituras e cálculos básicos. Alguns não são alfabetizados.

A aluna V, 16, lembra sua aula favorita: “Gos-tei da aula de salada de frutas e café da manhã”.

Ela se refere à aula sobre alimentação, na qual, como atividade prática, os alunos prepararam um café da manhã supervi-sionados pela professora.

O histórico familiar é fator importante para a identificação do pro-blema. “Alguns pais já foram internados devido a problemas psicológicos, e entender esse histórico é primordial para o trata-mento das crianças”, afirma Valéria. A participação e engajamento dos familia-res é indispensável para a evolução dos alunos.

Apesar do empenho dos professores de ensino especial, há pequenos obs-táculos a serem superados para que os objetivos de desenvolvimento e inte-gração dos alunos espe-ciais sejam alcançados. Os

professores do currículo obrigatório, por exemplo, contribuiriam mais se de-senvolvessem atividades especiais para que estes alunos continuassem em suas turmas interagindo com os demais alunos, pois o Itinerância pretende auxiliar o desenvolvimento e inserção destes alunos e não separá-los de suas turmas. No entanto, nem todos os professores adap-tam as atividades, o que gera um conflito com os alunos que não conseguem acompanhar os colegas de classe. “Como não enten-do, não faço” – justifica W, 16, que não realiza as atividades fora do pro-jeto, pois os professores do currículo obrigatório não produzem material especifico.

A deficiência intelectual, que por muitos é vista com preconceito, começou a ser desmistificada na escola, e os alunos que antes eram excluídos pelos colegas, hoje co-meçam a conquistar um espaço junto aos demais estudantes. “Duas alunas especiais se apresentaram no Concurso de Talentos da escola. Elas dançaram, e V. participou recentemente de um sarau”, afirma, orgulhosa, a professora. Por meio do projeto, eles estão alcançando novos patamares e interagindo com os outros alunos.

MAGDA NATHIA

Feira do livro de Suzano não supre necessidades das escolas

LANNA MESQUITA

A Secretaria de Cultura de Suzano, em parceria com a empresa “Livros na Cidade”, realizou nos meses de novembro e dezembro de 2015 uma feira de livros na praça João Pessoa, centro da cidade. Segundo Matheus Garcia, representante da empresa, a feira é uma forma de oferecer livros de diversos gêneros para todas as idades, a preços populares. “Nossa ativi-dade promove o hábito de leitura e o acesso a livros bons e baratos”, afirma.

Apesar da boa intenção, a iniciativa não agradou a todos. Elaine Ferreira de Matos dos Santos, 38, que há 15 anos leciona Língua Portuguesa na rede pública estadual e municipal, revela que nas escolas, onde deveria

haver livros em variedade e quantidade suficientes, eles são escassos e inade-quados. “Quando quero trabalhar algum livro com meus 40 alunos, tenho que pagar do bolso as cópias. Isso dá cerca de R$ 300,00, que nunca são ressarcidos. Os raros livros que chegam são sempre insuficientes”, reclama.

Ainda segundo a pro-fessores, alguns dos livros fornecidos são inade-quados e acabam não interessando aos alunos e nem aos professores. “Eles compram os livros mais baratos, e não os solicitados”, denuncia.

A reportagem do Página UM entrou em contato com as secretarias de Cultura e de Educação do município em busca de mais esclarecimentos sobre o evento, mas não obteve resposta.

LANNA MESQUITA

|| 132015 || N 94 / Ano XVI

educação e cultura

» Atividades lúdicas favorecem a assimilação dos conteúdos

» Barraca da Editora tinha apoio da Secretaria de Cultura do município

Escola do MST em Guararema oferece ensino de qualidadeFundada há 10 anos, escola Florestan Fernandes recebe alunos do Brasil todo e do exterior

TAMIRES VICHI

Uma escola com salas bem equipadas, espaços para convivência, biblioteca, horta, jardim, refeitório grande e alojamentos, construída há 10 anos com ajuda de persona-lidades como Sebastião Salgado, José Saramago e Chico Buarque. Nessas instalações, são oferecidos cursos de Agroeconomia, Educação, Direitos Huma-nos, Movimentos Sociais, Questão Agrária, América Latina, Arte e Cultura e Economia, sem cobrança de mensalidade.

Parece um sonho,

mas é realidade. A Es-cola Nacional Florestan Fernandes, localizada em Guararema, recebe alunos do país inteiro e de mais 40 nacionalidades, inte-ressados nos cursos cujas aulas incluem debates e seminários. Os estudantes estrangeiros são auxiliados por tradutores que falam através de pontos.

Curioso existir uma escola com proposta tão singular e não ser bem conhecida. Talvez a razão esteja no fato da ENFF ser um projeto do Movi-mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um dos mais conhecidos

grupos de mobilização camponesa na luta pela reforma agrária.

Rosana Sebali, coorde-nadora da ENFF e militante do MST, explica que a escola não tem interesse em divulgação. “Nossa proposta é de uma forma-

ção político-ideológica e não visamos a sociedade como um todo. Temos um público específico que vem estudar aqui, que é articulado através da própria estrutura do MST”, explica.

Nas páginas de internet

da escola as informações são gerais. “Temos muitos inimigos”, revela a coorde-nadora, “entre os quais a grande imprensa”. Temendo a divulgação negativa, a escola prefere não apostar nos meios tradicionais de comunicação.

Charlie Bernardes, 25 anos, é um dos alunos do curso de América Latina. Ele veio de um movimento social do México, que também luta por moradia e causas ambientais. De acordo com ele, a ENFF é uma escola referência no mundo inteiro. “É um privilégio estar nesta es-cola. Sonho em ter algo parecido no México”. Ele fala com entusiasmo sobre o que aprende da luta do MST no Brasil e revela o desejo de fomentar algo parecido em seu país.

FOTOS: TAMIRES VICHI

THIAGO CAETANOLUCAS DE ALMEIDA

A proposta de reor-ganização escolar da Secretaria da Educação do Estado atingiria 28 es-colas de Mogi das Cruzes e uma de Suzano. Pela proposta, em Mogi 12 escolas passariam a ter ciclo único, e outras 11 receberiam mais alunos. Ao todo, 64 das 261 es-colas estaduais do Alto Tietê, seriam afetadas

O professor William Guimarães, da escola Firmino, é contra. “Não concordo. É uma ma-nobra do governo para conter gastos”, afirma. Rosania Morales Morroni, da Delegacia Regional de Ensino, rebate dizendo que o foco é o estudante. “Nós trabalhamos sempre objetivando a melhoria da qualidade de ensino.”

As mudanças geraram revolta nos pais de alunos e estudantes, que no es-tado inteiro ocuparam 70 das 94 escolas afetadas. A forte pressão popular fez o governador Geraldo Alckmin (PSDB) suspender os fechamentos.

64 escolas do AT estavam na mira da reorganização escolar

14 ||Ano XVI / N 94 || 2015

educação e cultura

» Espaço de convivência da Escola

» Rosana Sebali, coordenarora político-pedagógica da Escola

» Charlie Bernardes, do México, alunodo curso de América Latina

Mesquita representa cultura muçulmana em MogiÁrabes, seus descendentes e novos convertidos ao Islã se reúnem no templo às sextas-feiras

LÍLIAN PEREIRA

Em 6 de novembro, uma sexta-feira, tive a oportunidade de viver um dia como mulçumana na mesquita de Mogi das Cruzes, onde conheci um pouco do islamismo e da cultura árabe.

Ao contrário do que muitos pensam, o objetivo do Islam – que na língua árabe significa submissão –, assim como das outras religiões, é promover a paz. Infelizmente, a ação de minorias extremistas e a divulgação de notí-cias descontextualizadas acaba dando origem a preconceitos contra os muçulmanos.

O Islamismo foi fundado por Maomé, profeta que unificou diversos povos por meio da religião. O encontro de civilizações fez com que a cultura crescesse de forma a abranger não só o Orien-te Médio, mas também outras partes do mun-do. Atualmente, é uma das religiões com maior número de seguidores, representando um quarto da população mundial.

É dever do mulçumano rezar cinco vezes ao dia voltado em direção a Meca, a cidade sagrada muçulmana. Sexta-feira é um dia sagrado, conhecido como Yum Al-Guwah, o Dia de Reunião, quando

todos se reúnem nas mesquitas.

Munida dessas infor-mações, decidi visitar a mesquita de Mogi das Cruzes. O prédio só foi concluído há cerca de 15 anos, após 30 anos de construção. Para entrar no templo foi preciso usar vestes como as das mulheres mulçumanas, compostas de um véu que esconde comple-tamente os cabelos e uma saia que vai até os pés – estes ficam livres por causa do calçado. Apenas o rosto pode ser visto.

A primeira impressão foi de deslumbramento. As paredes do templo são todas decoradas com motivos árabes desde o chão até o teto. No chão, um lindo tapete forra todo o ambiente, e na cúpula central vê--se pinturas e alguns lustres. Não há imagens nem esculturas, apenas algumas inscrições em árabe. Perguntei o que significavam e fui in-formada de que era a palavra Allah, que signi-fica Deus. Nas paredes, há prateleiras em que ficam exemplares do

Alcorão, o livro sagrado muçulmano no qual está registrada a mensagem de Deus revelada ao profeta Maomé.

Durante as preces, que duram mais ou menos uma hora, homens e mulheres ficam em locais distintos. Sentados no tapete, es-cutam trechos do Alcorão recitados pelo dirigente, que repete Allahu Akbar, ou seja, Deus é maior. Também são recitados trechos sobre as respon-sabilidades dos homens e das mulheres, e sobre pecados e virtudes.

Depois das recitações,

o sheik, líder da religião, recita em árabe a men-sagem do dia. Não en-tendi nada, mas depois perguntei ao sheik e ele me explicou: “Falei sobre quando alguém é injusto com o outro, que quem sofre a ofensa não deve ficar bravo porque Deus sempre fica ao lado dos justos”. O sheik Hosni Abdelhamid Mohamed Youssef é egípcio e vive em Mogi das Cruzes há cerca de 14 anos.

Não são só árabes e descendentes que fre-quentam a mesquita. Há diversas pessoas que se converteram ao isla-mismo. Este é o caso de Alberto Ali, que adotou o segundo nome por causa do profeta Mohamed. Ele conheceu o islamismo através de um amigo e há seis meses se tornou mulçumano. “O Islã é

complexo e quem não conhece pensa coisas erradas. Muita gente acha que somos terroristas. Eu ando na rua e sinto preconceito, mas não dou atenção porque sei que Allah está vendo minhas boas ações e esforços”. Alberto lê o Alcorão todos os dias e aprendeu um pouco de árabe, mas ainda está estudando. Ele é o único mulçumano da família. Na opinião do jovem, a maior diferença entre a cultura brasileira e a islâ-mica é a vestimenta das mulheres. “As mulheres não mulçumanas usam roupas normais, enquanto as mulçumanas se guar-dam. Algumas mostram apenas os olhos”.

Segundo o sheik Hosni, para começar a frequentar a religião não é necessá-rio nada em especial. “O mais importante é ter fé e acreditar no Deus único. Acreditar nos pro-fetas, acreditar no Antigo Testamento, no Novo Testamento, no Alcorão Sagrado e acreditar em Jesus como profeta”.

Hichai, 9 anos, fre-quenta a mesquita desde quando nasceu e gosta muito. Tímido, recitou um trecho do Alcorão: “Ele é Allah, Único. Allah é o Solicitado. Não gerou e nem foi gerado. E não há ninguém igual a Ele”.

FOTOS: LÍLIAN PEREIRA

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educação e cultura

» Interior da mesquita, sheik Hosni Abdelhamid Mohamed Youseff (dir.), cúpula decorada e Hichai, 9 anos, descendente de muçulmanos (embaixo)

ARTE: THAYANNE MATSUDA FERREIRAALUNA DO 4º PERÍODO DE PUBLICIDADE

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16 ||Ano XVI / N 94 || 2015

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