Páginas Amarelas - Cacá Lopes

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uando se fala em superação podemos descrever a carreira de Cacá Lopes. Vencendo limi- tações físicas, ele toca seu vio- lão com apenas a mão direita. Além da música, o artista escreve cordéis que são utilizados nas escolas como materiais didáticos e contribui para a realização do seu projeto social que realiza com crianças carentes. Tra- zendo um pouco da cultura nordestina ele explica a proximidade da música com o cordel. Morador da zona leste de São Paulo, em Guaianazes, seu ta- lento já o levou em diversos programas de televisão alcançando um publico mais amplo, no entanto ele atribui seu sucesso não só por causa da qualidade de sua música, ele diz: “Eu fui em 71 programas de TV que se não fosse eu tocar dessa maneira eu não iria”. As pessoas que estão as- sistindo seus shows, elas percebem que você tem uma limitação física. O que você fez para vencer essa limitação física e isso atrapalha você na hora de tocar? Costumo falar que eu me superei porque Tive um atrofiamento no braço esquerdo aos quase dois anos de idade. Aos sete comecei a tocar realejo na gaita de boca, aos 10 para 11 anos eu comecei a tocar violão sozinho em casa e descobri que era possível superar e conseguir através de uma afinação especial. Isso chama muito a atenção é uma técnica incomum, existem poucas pessoas no mundo tocando dessa forma. Até para servir de espelho para a criançada que às vezes tem algum problema físico e Também se isola. Acho que não é problema nenhum falar que eu me considero um vencedor por ter con- seguido superar esse problema físico, tocar violão, fazer outras atividades usando apenas a mão direita. Entrevista Cacá Lopes Dener Dias Sabino e Rildo De Santana Jr Uma vida em cordel O músico e escritor pernambucano afirma que busca projeção nacional e conta sobre as dificuldades que enfrenta para conseguir realizar seu sonho. veja/universidade cruzeiro do sul I 28 DE MAIO, 2011 I 17 Q Eu comecei a tocar violão sozinho em casa e descobri que era possível superarFoto: Dener Dias Sabino

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uando se fala em superação podemos descrever a carreira de Cacá Lopes. Vencendo limi- tações físicas, ele toca seu vio-lão com apenas a mão direita. Além da música, o artista escreve cordéis que são utilizados nas escolas como materiais didáticos e contribui para a realização do seu projeto social que realiza com crianças carentes. Tra-zendo um pouco da cultura nordestina ele explica a proximidade da música com o cordel. Morador da zona leste de São Paulo, em Guaianazes, seu ta-lento já o levou em diversos programas de televisão alcançando um publico mais amplo, no entanto ele atribui seu sucesso não só por causa da qualidade de sua música, ele diz: “Eu fui em 71 programas de TV que se não fosse eu tocar dessa maneira eu não iria”.

As pessoas que estão as-sistindo seus shows, elas percebem que você tem uma limitação física. O que você fez para vencer essa limitação física e isso atrapalha você na hora de tocar? Costumo falar que eu me superei porque Tive um atrofiamento no braço esquerdo aos quase dois anos de idade. Aos sete comecei a tocar realejo na gaita de boca, aos 10 para 11 anos eu comecei a tocar violão sozinho em casa e descobri que era possível superar e conseguir através de uma afinação especial. Isso chama muito a atenção é uma técnica incomum, existem poucas pessoas no mundo tocando dessa forma. Até para servir de espelho para a criançada que às vezes tem algum problema físico e Também se isola. Acho que não é problema nenhum falar que eu me considero um vencedor por ter con-seguido superar esse problema físico, tocar violão, fazer outras atividades usando apenas a mão direita.

Entrevista Cacá LopesDener Dias Sabino e Rildo De Santana Jr

Uma vida em cordelO músico e escritor pernambucano afirma que busca projeção nacional e conta sobre as dificuldades que enfrenta para conseguir realizar seu sonho.

veja/universidade cruzeiro do sul I 28 DE MAIO, 2011 I 17

Q

“Eu comecei a tocar violão

sozinho em casa e descobri que

era possível superar”

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“ O sonho é sempre levar

nossa mensagem pro maior número de pessoas e de repente ter uma música sendo

regravada por um artista de nome

para ter projeção nacional”

Quando foi e qual foi seu primeiro contato com a mú-sica? O meu primeiro contato com a música foi mais ou menos aos sete anos de idade quando meu pai com-prava para mim e para o meu irmão os primeiros realejos, gaitas de boca, e também através dos Berimbaus que meu pai confeccionava artesanalmen-te, ele fazia Berimbaus e tocava para gente. Esse foi meu primeiro contato com a música.

Quais foram suas principais influências na música? Eu costumo falar que Luis Gonzaga me influenciou muito, assim como influenciou muitos artistas nordesti-nos. Luis Gonzaga o “Rei do Baião” foi minha maior influência. Também quando criança ouvi Trio Nordesti-no, Jax do Pandeiro, Raul Seixas, se ouvia Raul Seixas também no sertão, muito pouco, mas se ouvia... Essas são minhas principais influências na música

Qual sua origem, qual sua cidade natal? Eu venho lá do sertão de Pernambuco da Chapada Nacional do Araripe, nasci em um lu-gar chamado lagoa da onça, 16 km de Araripina, Essa cidade hoje está com 100 mil habitantes. Então a minha origem é lá do sertão de Pernambu-co, perto da cidade onde nasceu Luis Gonzaga.

Na sua carreira musical, em que momento você se tornou mais objetivo, mais profissional? Na música, eu con-sidero a partir de 1983 e 1984 quando eu vim para São Paulo gravei meu 1° disco, um compacto com 8 músicas, a música “Brilhas” e a música “Você que sonha”, produzido pelo grupo “Folhas” que era uma referência na música, faziam “couver” dos Beatles e meu disco foi produzido pelo Helio Santos Estevam que era tecladista do grupo Folhas.

Já aconteceu de alguém querer que você ensine a tocar com essa sua técni-

ca? Com certeza, eles pedem pra você dar aula e eu não posso dar aula porque a técnica é só minha e é espe-cial, a afinação é diferente, então não dá para dar aula para outra criança, então eles pedem e a gente procura indicar alguma escola, algum amigo que toca, professores.

Qual era a sua profissão antes de ser músico? Antes da música eu comecei no rádio, como ra-dialista Em Araripina na rádio grande serra. Até minha carteira profissional foi assinada como radialista, minha primeira profissão foi como locutor de rádio, radialista.

Quando foi que você de-cidiu deixar a carreira de radialista e ser músico? Eu observei que a música era mais forte na minha vida e eu optei pela música vindo para São Paulo para gravar meu 1° disco. Fiquei 10 meses aqui depois voltei para o sertão para terminar a faculdade, depois é que voltei defini-tivo.

Hoje você tem quantos álbuns gravados e quando gravou o primeiro álbum? Eu tenho cinco CDs gravados, algumas

coletâneas, três Coletâneas. Sou do tempo do vinil, O primeiro disco foi vinil gravado lá em Recife 1989, século passado (risos). E esse ano pretendo fazer um cd com músicas inéditas, mas oficialmente eu tenho cinco CDs na linha independente, na linha alternativa. Não adianta ir nas lojas que não vai achar, tem que adquirir através da internet. Alguns estão Esgotados, não têm mais Origi-nais pra vender só copias.

Como faz para adquirir seus CDs e seus cordéis fora internet? Fora internet a melhor maneira é indo aos eventos que a gen-te faz, só procurar na minha agenda no meu site e nos eventos temos o bauzinho com CDs e cordéis autogra-fados.

Em um dos seus álbuns, um dos mais recentes, “Muti-rão dos Sonhos” tem uma música chamada “Sonhos e Mitos”... Eu cito 28 pessoas, eu considero um dos meus melhores trabalhos autorais, tem repercutido bastante a letra.

E pra Cacá Lopes quem é um mito? Eu não citaria apenas um, eu admiro muito o trabalho pedagógico do Paulo Freire. Quando a gente cita um nome a gente aca-ba esquecendo. Na música eu cito Cazuza, John Lennon e cito Gandhi, Mandela, Charles Chaplin. Então são vários mitos.

Um sonho ainda não reali-zado? O sonho é sempre levar nossa mensagem pro maior número de pessoas e de repente ter uma música sendo regravada por um artista de nome para ter projeção nacional. A gente luta pra isso são 25 anos de carreira. Pela minha técnica de tocar violão chama muita atenção, eu fui em 71 programas de TV que se não fosse eu tocar dessa maneira eu não iria em todos esses programas. Alguns também na internet... Ou À cabo. Meu sonho é projetar ainda mais minha carreira a nível nacional.

Qual o seu àlbum de estú-dio que você mais se iden-tifica? Eu me identifico muito com “Mutirão de Sonhos” porque Foi feito por mutirão mesmo e a capa é de Nerival Rodrigues, pintor que gosto muito.

Além de músico você tam-bém é escritor e tem alguns trabalhos em cordéis, cite alguns? Eu já estava com 15 anos na música, mas visitei várias vezes a casa do Patativa de Assaré, virei amigo do Patativa e ele muito me in-fluenciou a também escrever literatura de cordel ou cordéis. Em São Paulo também tive uma parceria com o Costa Senna e a gente montou alguns projetos de cordéis nas universidades, acabei virando também cordelista. Eu lancei vários trabalhos entre eles “A aventura do matuto Zé Ruela” que é de humor, “A invasão do estrangei-rismo” Muito usado nas escolas, “A Historia de Guaianazes em Cordel” preservando a historia do lugar onde eu moro, “Cordel do Trava-língua” esse é campeão até o Einstein travou e “A Associação dos Voluntários do Brasil” da qual eu faço parte e de-senvolvo atividades na periferia com crianças. E ta saindo esse ano o cordel do bullying.

O que é um cordel e qual a origem do cordel? É um tipo de literatura com a poesia rimada e me-trificada e impressa. Geralmente com a xilogravura na capa. Qualquer tema pode se fazer cordel, antes era canta-do. O cordel é brasileiro, é nordestino, nasceu na Paraíba e cresceu em Reci-fe. O pai do cordel se chama Leandro Gomes de Barros que é paraibano.

Mas qual a sua formação acadêmica? Minha formação foi em letras na FAFOPA, faculdade de Araripinas, faculdade de formação de professores de Araripinas em Pernam-buco.

A sua formação foi para ajudar no seu trabalho ou

foi por algum outro motivo pessoal? Lá só tinham três cursos, então optei por letras porque gosto também de fazer redação. Então foi bem uma opção Que segui porque tem tudo a ver com a música, também tem a ver com a arte.

Qual a relação entre o cordel e a música? Muitos artistas famosos bebem do cordel para compor e escrever suas obras é o caso do Ednaldo, o próprio Raul Seixas... Zé Ramalho era repentista...

Quais foram suas maiores dificuldades como escritor e músico? A dificuldade é sem-pre conseguir espaço nas gravadoras para lançar seus trabalhos, eu tenho mais de 16 anos na poesia e agora que está saindo meu primeiro livro, livro mesmo fora os cordéis, que é o conto literário que eu adaptei “Cinderela” que vai sair em cordel, é uma Cinde-rela nordestina. Divulgar o material você tem dificuldade, De locomoção também já tive bastante, já pensou você enfrentar um trem lotado com violão e tudo, mochila cheia de CDs, no começo da carreira tive tudo isso, mas agora graças a deus a gente superou.

Qual foi sua maior influên-cia como escritor e corde-lista? Patativa foi quem mais me influenciou. Na convivência também quem me influenciou foi Costa Senna que estudamos juntos, por isso cito também.

Qual é seu principal obje-tivo com o trabalho social que você desenvolve com as crianças? Eu levo através do cordel que é uma ferramenta pedagógica para as escolas, para que os estudantes tenham mais conheci-mentos sobre as questões ecológicas, sustentabilidade. A minha preocupa-ção é também com a música que essa molecada escuta hoje em dia que eu acho de de muito mal gosto, de péssi-ma qualidade. A gente tenta dar nossa contribuição eu sei que é pequena, é uma gotinha no oceano. A gente busca mostrar que é possível um outro tipo de leitura.

O que mais te atrai na peri-feria paulistana e no bairro onde você reside? Meus tios foram embora para São Paulo e a gente acompanhou eles na década de 70, muitos imigrantes vieram para essa metrópole, devido meu tio ter escolhido Guaianazes meu pai tam-bém escolheu. Eu admiro porque tem gente que mora no Jardins e não pode Deixar o portão aberto e a gente aqui tem essa liberdade.

Quais os seus projetos futuros? Vamos lançar este ano vários cordéis e um CD Cacá Lopes canta Vavá Dias. E o cordel bullying nas escolas que é um assunto que dá o que falar.

Quem é Vavá Dias? É um compositor que desistiu da carreira e passou a “bola” para mim, “ó você vai ter que realizar os sonhos meu e seu”.

Seu trabalho está gerando frutos? Pois é! Minha filha Rafaela já canta comigo, ela tem sete anos e já sobe nos palcos.

Entrevista Cacá Lopes

“A dificuldade é sempre

conseguir espaço nas gravadoras para lançar seus

trabalhos, eu tenho mais de 16 anos na poesia

e agora que está saindo meu primeiro livro”

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