Pais Santos, Filhos Nem Tanto

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filhosnemtantoA TRAJETÓRIA DE UM PAISEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS

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CARLOS “CATITO” GRZYBOWSKIDAGMAR FUCHS GRZYBOWSKI

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filhosnemtantoA TRAJETÓRIA DE UM PAISEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS

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pais santos, filhos nem tantoCategoria: aconselhamento / Casamento e família / liderança

Copyright © 2012, Carlos “Catito” Grzybowski

Dagmar Fuchs Grzybowski

Primeira edição: Julho de 2012Coordenação editorial: Bernadete RibeiroPreparação e revisão: Bernadete Ribeiro e Mariana FurstDiagramação: Bruno MenezesCapa: Ale GustavoFoto da capa: bowdenimages

Publicado no brasil com autorização e com todos os direitos reservados

Editora Ultimato ltda

Caixa postal 4336570-000 Viçosa, mGtelefone: 31 3611-8500fax: 31 3891-1557www.ultimato.com.br

A marca FSC é a garantia de que a madeira utilizada na fabricação do papel deste livro provém de florestas que foram gerenciadas de maneira ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável, além de outras fontes de origem controlada.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Grzybowski, Carlos, 1960–

Pais santos, filhos nem tanto / Carlos “Catito” Grzybowski, Dagmar Fuchs Grzybowski . — Viçosa, MG : Editora Ultimato, 2012.

ISBN 978-85-7779-066-1

Bibliografia

1. Crianças - Criação 2. Educação de crianças 3. Família - Aspectos psicológicos 4. Pais efilhos 5. Paternidade 6. Relações familiares 7. Vida cristã I. Grzybowski, Dagmar Fuchs.II. Título.

Índices para catálogo sistemático:

1. Pais e filhos : Relações familiares : Vida cristã : Cristianismo 248.4

12-06881 CDD-248.4

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Aos meus primeiros netos, Clarice e Matias, marcos de renovação de vida no seio de nossa família e

que nasceram junto com a ideia e a elaboração deste livro.

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SumáRIO

APRESENTAÇÃO 9

1. SONS DA ANTIGUIDADE 13

2. OS COMPONENTES DA ORqUESTRA 19

3. TRIO DESAFINADO 29

4. O MAESTRO SURDO 39

5. TOCANDO FORA DO COMPASSO 45

6. SEGUINDO A PARTITURA 53

7. RéqUIEM 63

8. COMPOSIÇÃO DESASTROSA 71

NOTAS 83

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 85

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ApReSenTAçãO

A tarefa de cuidar dos filhos e de educá-los é, ao mesmo tempo, fascinante e terrificante. O fascínio vem do fato de

podermos observar, dia a dia, o desenvolvimento dos peque-nos, em metanoia constante, a qual fará deles adultos plenos em habilidades e capacidades. É também terrificante, pois nos sentimos, muitas vezes, inábeis diante de tão grande desafio e agimos por tentativa e erro, buscando adaptar as vozes externas e internas às demandas específicas deles.

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Sempre relutei em dar palestras ou escrever sobre educação de filhos. Primeiramente, porque sou pai e, como todo pai, co-meti erros e tive acertos no processo de cuidado e educação de meus filhos. Além disso, sempre temi que, buscando ensinar aos outros, eu mesmo viesse a ser desqualificado, principalmente se meus filhos se distanciassem dos valores do evangelho. Hoje meus dois filhos estão casados, são independentes e, pela graça de Deus, acima de tudo, seguem na vida cristã, integrados em uma comunidade de fé e afirmando os valores do evangelho como princípios de vida. Isso se deve, em grande parte, à ora-ção, e não a algum mérito ou habilidade pessoal que tenhamos. Quando ainda éramos noivos, minha esposa e eu fizemos o propósito de orar juntos todos os dias. Em nossas orações, jamais deixamos de incluir nossos filhos.

Minha esposa é uma excelente violoncelista e também pro-fessora deste instrumento. Como ela sempre admirou a música erudita, desde o tempo de nosso namoro aprendi a gostar deste estilo musical. Tive a oportunidade de assistir a excelentes músicos executando lindas obras. Entretanto, se um deles desa-finava em apenas um compasso da obra em execução, acabava desqualificando toda a peça. Como pais, devemos também estar atentos ao seguir a “partitura divina”, para não desviarmos nosso olhar dela e sermos igualmente desqualificados.

Este livro não é um manual sobre educação de filhos. Antes, analisa, a partir da descrição de uma família real, alguns elementos sobre os quais devemos nos debruçar para refletir sobre a tarefa parental — especificamente sobre a tarefa do pai no processo de cuidado e orientação dos filhos. Não é, também, um livro teológico, com uma exegese didática do texto bíblico. Trata-se do olhar de um casal de terapeutas

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11APRESENTAÇÃO

(minha esposa e eu), com uma experiência de trinta anos no atendimento de casais e famílias, sobre um texto bíblico que descreve uma família e suas dinâmicas internas. A partir desse texto, dialogamos com alguns pressupostos da terapia familiar sistêmica, a abordagem que adotamos em nossa prática profissional.

A família escolhida para análise é a do rei Davi. Detemo-nos nos episódios de 2 Samuel 13-18, que narram o incesto de Amnon, o fratricídio de Absalão, sua rebelião contra o pai e, finalmente, sua morte como resultante da revolta.

Embora Davi seja chamado na Bíblia de “o homem se-gundo o coração de Deus”, a narrativa bíblica mostra que isso não foi suficiente para garantir o sucesso dele como pai de família. Analisamos, nas páginas que se seguem, o porquê disto, aventurando-nos a mergulhar nas referências bíblicas que mencionam a constituição desta família, bem como as relações de parentesco e os fatores intervenientes que a leva-ram à desgraça.

O modelo de Davi nos alerta para o que podemos evitar como pais — principalmente para aqueles que também ocu-pam papéis de liderança em grupos, comunidades e igrejas. Certamente não é sem motivo que este imbróglio familiar está registrado no cânon bíblico. Deus quer nos ensinar algo com esta história e cabe a nós estarmos atentos, com ouvidos e co-ração abertos, para humildemente aprender com os equívocos de Davi. “Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2.7).

Curitiba, primavera de 2011.

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1.

SOnS dA AnTIGuIdAde

A Bíblia conta a história de muitas famílias. O Antigo Testamento inicia com a primeira delas, de Adão e Eva,

e passa pela de Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Noemi, Davi, Jó, entre outras. No Novo Testamento, temos as famílias que conviveram com Jesus, como a de Marta, Maria e Lázaro, e as que ajudaram os apóstolos na divulgação do evangelho no primeiro século, como as de Lídia, Áquila e Priscila, e tantas outras citadas nas cartas paulinas.

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Algumas famílias foram bem sucedidas; já outras, não. Porém, independentemente do sucesso ou do fracasso delas, Deus não deixa de agir nelas, o que nos anima, pois podemos confiar que ele quer atuar em nossas famílias também.

Convido você a analisar comigo a dinâmica da família de Davi. Desenvolvo esta análise a partir do enfoque sistêmico e, sobretudo, da terapia familiar sistêmica.

O enfoque sistêmico surge como um novo modelo de pen-samento científico e uma nova maneira de perceber o mundo e as relações que nele existem. Trata-se de um paradigma que representa uma ruptura com as formas anteriores de fazer ciência. Ele surge em contraposição ao enfoque cartesiano, do filósofo René Descartes, o qual propõe o método analítico como forma de chegar ao conhecimento e a relação causal linear como tentativa de compreensão da realidade.

O método analítico separa a realidade em partes cada vez menores e, ao chegar ao conhecimento da menor delas, busca compreender o todo. A relação causal linear propõe que para cada efeito existe uma causa — geralmente apenas uma — e, ao descobrirmos a causa, podemos controlar o efeito.

O pastor e terapeuta de casais Jorge Maldonado afirma:

O enfoque sistêmico da família diz não ao reducionismo. Resiste a perceber o ser humano como uma máquina, ou como um estômago, ou como uma função econômica, ou como uma alma desencarnada. É parte de uma busca uni-versal de interpretações mais amplas da realidade.1

Nesta perspectiva, a família é vista como um sistema. Mais que um ajuntamento de pessoas, ela é considerada um espaço onde, a partir das relações desenvolvidas entre os membros, se forjam as condições para a saúde ou enfermidade do lar. O enfoque

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sistêmico percebe o ser humano como parte integrante do meio e resiste a trabalhar de forma intrapsíquica. Ele insiste na dimensão relacional. Em outras palavras, o modelo sistêmico entende que a conduta humana é resultado de alguns fatores interligados em uma espécie de teia. Ao se tocar em uma parte da teia, o movimento é transmitido para todas as conexões e afeta os seus elementos, sendo a família um dos componentes mais relevantes da teia relacional.

Com efeito, uma das melhores formas de compreender as dimensões das relações familiares, incluindo a da espirituali-dade, é por meio da teoria dos sistemas.2

De acordo com Edwin Friedman,

o modelo sistêmico da família não apenas é capaz de potencializar os aspectos de nossa posição sanadora, mas também o faz sem violentar a metáfora religiosa [...]. De fato, o modelo sistêmico da família coloca o assessoramen-to pastoral a serviço da espiritualidade.3

O modelo sistêmico propõe uma compreensão da família em permanente movimento, relacional e circular, comparado ao de uma peça musical executada por uma orquestra sinfônica. Na peça, as diferentes notas se misturam para construir um acorde harmonioso. Convido você a “escutar” os elementos da sinfonia da família do rei Davi.

Trata-se de um dos personagens mais bem-sucedidos da história dos hebreus. Foi o rei que conseguiu estabelecer definitivamente o estado de Israel por meio de grandes estra-tégias militares e vitórias sobre os povos que habitavam a terra prometida por Deus a Abraão e sua descendência.

Davi era um jovem de pequena estatura, bela aparên-cia, ruivo, filho caçula de uma família de mais sete irmãos

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(1Sm 16.10-12). Cuidava das ovelhas do pai, Jessé (1Sm 17.15) — um trabalho não muito valorizado por este e pelos irmãos. Tinha habilidades musicais (1Sm 16.18), era arrojado, destemido e algumas vezes até inconsequente (1Sm 17.34-35). Entretanto, era obediente na execução das tarefas que lhe eram destinadas (1Sm 17.17-20). Além disso, Davi era um jovem um pouco petulante e ambicioso (1Sm 17.27-30).

Certo dia, ele foi chamado para voltar rapidamente para casa, pois o profeta Samuel estava lá e queria vê-lo. O profeta viera secretamente à casa de Jessé, por orientação de Deus, com o objetivo de ungir um rei para Israel, uma vez que Deus não se agradava de Saul e sua autossuficiência.

Quando Davi entra na casa, Samuel olha para ele e, movido pelo Espírito do Senhor, unge-o, diante do povo de Israel, como o sucessor de Saul (1Sm 16.13).

Provavelmente, naquele momento, nem Davi nem Jessé nem os irmãos se deram conta da dimensão daquele ato. Contudo, a história nos mostra que, passo a passo, Davi se aproxima do objetivo para o qual Deus o havia escolhido. Primeiramente, mora durante um certo tempo no palácio e, como músico, acalma os transtornos do rei Saul (1Sm 16.18). Depois, entra na batalha contra os filisteus e derrota o grande guerreiro Golias, adquirindo o direito de morar permanen-temente no palácio, ter uma isenção vitalícia dos impostos e desposar uma das filhas do rei (1Sm 17.25). A partir de então, Davi se torna um dos generais de Saul e passa a mostrar a habilidade guerreira que possuía, o que acaba lhe trazendo problemas (1Sm 18.5-9).

Esta habilidade volta-se contra o jovem, por despertar ciúmes no rei Saul, que passa a persegui-lo com desejo de

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tirar-lhe a vida. A virtude da obediência é manifesta nas vezes em que Davi tem a oportunidade de tomar o reino à força, matando Saul, mas não o faz. Antes, permanece firmado no caráter que tem e na relação de amizade com Jônatas (1Sm 20.17). A perseguição termina quando Saul e Jônatas são mortos em uma batalha e o povo consagra Davi como rei (1Sm 31.6; 2Sm 2.4).

Davi, como qualquer ser humano, possui qualidades (fide-lidade, obediência, coragem) e defeitos (petulância, ambição); tem talentos (músico, estrategista militar); mas, acima de tudo, é um homem que busca intensamente a Deus e realiza a vontade divina. Em Atos 13.36 ele é apresentado como alguém que serviu “ao propósito de Deus em sua geração”. Entretanto, isso não o isentou de ter outras dificuldades, principalmente no âmbito familiar.

Talvez você faça os mesmos questionamentos que fiz, como: por que um homem com tanta intimidade com Deus tem uma família tão desajustada? O que levou um dos filhos de Davi a estuprar a própria irmã? Será que ele não recebeu uma educação adequada por parte do pai? E o que fez outro filho, Absalão, matar o próprio irmão, Amnon, e ainda rebelar-se com tamanha violência contra o pai para matá-lo também? Podemos atribuir estes eventos a ações satânicas que buscavam afastar Davi de Deus (embora em nenhum momento a Bíblia mencione isso) ou pensar que havia algo na dinâmica familiar que proporcionou o desencadeamento destes acontecimentos.

Finalmente, como é propósito de Deus com as narrativas bíblicas, podemos procurar entender quais lições esta de-sarmonia familiar tem para nos ensinar, sobretudo àqueles

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que ocupam postos de liderança à frente do povo de Deus. É preciso olhar para o modelo familiar de Davi e, a partir dele, lançar luz sobre nossas estruturas e dinâmicas familiares, a fim de não incorrermos nos mesmos equívocos que levaram a família deste rei à desgraça e geraram completa desarmonia em todo o reino de Israel.