Paisagem Incompleta [ síntese ]

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[ PAISAGEM ]NCOMPLETA [ ] Kublai Kan verificara que as cidades de Marco Polo eram todas parecidas, como se a paisagem de uma para a outra não implicasse uma viagem mas sim uma troca de elementos. Agora, de todas as cidades que Marco lhe descrevia, a mente do Grão Kan partia por sua conta e risco, e desmontada a cidade peça a peça, reconstruía-a de outro modo substítuindo ingredientes, deslocando-os, invertendo-os. - Não tem nome nem lugar. Repito-te a razão por que a descrevi: do número das cidades imagináveis temos de excluir aquelas cujos elementos se somam sem um fio condutor que os ligue, sem uma regra interna, uma perspectiva, um discurso. São cidades como sonhos: todo o imaginável pode ser sonhado mas também o sonho mais inesperado é um enigma que oculta um desejo, ou o seu contrário, um terror. As cidades como os sonhos são construídas de desejos e de medos, embora o fio do seu discurso seja secreto, as suas regras absurdas, as perspectivas enganosas, e todas as coisas escondam outra. - Eu não tenho desejos nem terrores - declarou o Kan, - e os meus sonhos são compostos ou pela mente ou pelo acaso. - Até as cidades julgam ser obra da mente ou do acaso, mas nem um nem o outro bastam para suster as suas muralhas. De uma cidade não disfrutas as sete ou as setenta e sete maravilhas, mas sim a resposta que dá a uma tua pergunta. / Cidades Invisíveis de Italo Calvino DA TERRA SURDA E DENSA SUBIMOS PARA A CIDADE ALTA. MAS A TERRA SURDA E DENSA / Mafalda Ivo Cruz SEATTLE / PROJECTO DE COMUNICAÇÃO paisagem. f. Extensão de território que se abrange de um só lance de vista, e que se considera pelo seu valor artístico, pelo seu pitoresco. // Género de pintura ou de literatura sujo fim é a representação ou a descrição do campo ou lugar. // Quadro que representa esses lugares.// fig. Aspecto; vista. incompleto. adj. Que não está completo; não terminado. // Defeituoso, imperfeito. // Vago, impreciso. Dicionário Enciclopédico, Publicações alfa, 1992 - Fala-se de cidade, da viagem de carro que a percorre por vias que rompem a grande velocidade o território físico, natural, que roubam a passagem por lugares deixados ao acaso para lá da linha imaginária que separa o centro urbano de tudo o resto que não se sabe bem o que é. A paisagem fragmenta-se e aquilo que julgávamos conhecer, esconde espaços descentralizados, esquecidos no horizonte. Subsistem ainda hoje bairros precários fruto de acções espontâneas de populações com carência a nível habitacional, concentrados nos arredores da cidade. Lugares construídos, muitas vezes de forma ilegal, que se agrupam num pequeno mundo àparte e sobrevivem das suas próprias vivências. Quem o olha, teme entrar e ter qualquer relação com aquele espaço de ar duvidoso seria pouco provável. Quem lá vive sente-o, vive-o e não o quer deixar. Há que procurar um modo de construir a cidade mais reflexivo, que possa responder eficazmente a dois direitos fundamentais: o direiro à cidade e o direito à habitação. Para lá do que é o direito do homem, há também a relação fisica e emocional que este estabelece com o local, com a comunidade que o rodeia. Há uma história por contar, uma história que precisa de ser ouvida, de forma a completarmos a paisagem que nos é apresentada. À margem da cidade a terra surda não se faz ouvir, e quem para ela olha não parece conseguir vê-la. Acordem-se os arredores adormecidos. 2680 - 000 THE MAIN PURPOSE OF DEVELOPMENT SHOULD BE QUALITY OF LIFE FOR THE LARGE MAJORITY OF PEOPLE. IF YOU DON´T HAVE A GENEROUS VIEW OF CITIES, THEN YOU DON´T HAVE A GENEROUS VIEW OF PEOPLE. JAIME LERNER, MAYOR OF CURITIBA, BRAZIL Cimêncio, Diogo Lopes e Nuno Cera, 2001 Design like you give a damn : architectural responses to humanitarian crises, Architecture for Humanity, New York, 2006

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Projecto [ Paisagem Incompleta ] Design de Comunicação V Fbaul / 2012

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Page 1: Paisagem Incompleta [ síntese ]

[ PAISAGEM ]NCOMPLETA

[ ]

Kublai Kan verificara que as cidades de Marco Polo eram todas parecidas, como se a paisagem de uma para a outra não implicasse uma viagem mas sim uma

troca de elementos. Agora, de todas as cidades que Marco lhe descrevia, a mente do Grão Kan partia por sua conta e risco, e desmontada a cidade peça a

peça, reconstruía-a de outro modo substítuindo ingredientes, deslocando-os, invertendo-os.

- Não tem nome nem lugar. Repito-te a razão por que a descrevi: do número das cidades imagináveis temos de excluir aquelas cujos elementos se somam

sem um fio condutor que os ligue, sem uma regra interna, uma perspectiva, um discurso. São cidades como sonhos: todo o imaginável pode ser sonhado

mas também o sonho mais inesperado é um enigma que oculta um desejo, ou o seu contrário, um terror. As cidades como os sonhos são construídas de

desejos e de medos, embora o fio do seu discurso seja secreto, as suas regras absurdas, as perspectivas enganosas, e todas as coisas escondam outra.

- Eu não tenho desejos nem terrores - declarou o Kan, - e os meus sonhos são compostos ou pela mente ou pelo acaso.

- Até as cidades julgam ser obra da mente ou do acaso, mas nem um nem o outro bastam para suster as suas muralhas. De uma cidade não disfrutas as sete

ou as setenta e sete maravilhas, mas sim a resposta que dá a uma tua pergunta.

/ Cidades Invisíveis de Italo Calvino

DA TERRA

SURDA E DENSA

SUBIMOS

PARA

A CIDADE

ALTA.

MAS

A TERRA

SURDA E DENSA

/ Mafalda Ivo Cruz

SEATTLE / PROJECTO DE COMUNICAÇÃO

paisagem. f. Extensão de território que se abrange de um só lance de vista, e que se considera pelo seu valor artístico, pelo seu pitoresco. // Género de pintura ou de literatura sujo fim é a representação ou a descrição do campo ou lugar. // Quadro que representa esses lugares.// fig. Aspecto; vista.

incompleto. adj. Que não está completo; não terminado. // Defeituoso, imperfeito. // Vago, impreciso.

Dicionário Enciclopédico, Publicações alfa, 1992

-

Fala-se de cidade, da viagem de carro que a percorre por vias que rompem a grande velocidade o território físico, natural, que roubam a passagem por lugares deixados ao acaso para lá da linha imaginária que separa o centro urbano de tudo o resto que não se sabe bem o que é. A paisagem fragmenta-se e aquilo que julgávamos conhecer, esconde espaços descentralizados, esquecidos no horizonte. Subsistem ainda hoje bairros precários fruto de acções espontâneas de populações com carência a nível habitacional, concentrados nos arredores da cidade. Lugares construídos, muitas vezes de forma ilegal, que se agrupam num pequeno mundo àparte e sobrevivem das suas próprias vivências. Quem o olha, teme entrar e ter qualquer relação com aquele espaço de ar duvidoso seria pouco provável. Quem lá vive sente-o, vive-o e não o quer deixar. Há que procurar um modo de construir a cidade mais reflexivo, que possa responder eficazmente a dois direitos fundamentais: o direiro à cidade e o direito à habitação. Para lá do que é o direito do homem, há também a relação fisica e emocional que este estabelece com o local, com a comunidade que o rodeia. Há uma história por contar, uma história que precisa de ser ouvida, de forma a completarmos a paisagem que nos é apresentada.

À margem da cidade a terra surda não se faz ouvir, e quem para ela olha não parece conseguir vê-la.

Acordem-se os arredores adormecidos.

2680 - 000

THE MAIN PURPOSE OF DEVELOPMENT SHOULD BE QUALITY OF LIFE FOR THE

LARGE MAJORITY OF PEOPLE.

IF YOU DON´T HAVE A GENEROUS VIEW OF CITIES, THEN YOU DON´T HAVE

A GENEROUS VIEW OF PEOPLE. JAIME LERNER, MAYOR OF CURITIBA, BRAZIL

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Design like you give a damn : architectural responses to humanitarian crises, Architecture for Humanity, New York, 2006

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BUCELAS // 33.99KM2 / 4810HAB.

UNHOS // 4.49KM2 / 10531HAB.

S. JULIÃO DO TOJAL // 13.52KM2 / 3600HAB.

STO ANTÃO DO TOJAL // 15.12KM2 / 4192HAB.

STO ANTÓNIO DOS CAV. // 3.62KM2 / 21947HAB.

FRIELAS // 5.6KM2 / 2676HAB.

APELAÇÃO // 1.42KM2 / 6043HAB.

S. JOÃO DA TALHA // 6.07KM2 / 17970HAB.

STA IRIA DE AZÓIA // 7.3KM2 / 17571HAB.

BOBADELA // 3.37KM2 / 8577HAB.

SACAVÉM // 3.8KM2 / 17659HAB.

PRIOR VELHO // 1.4KM2 / 6683HAB.

CAMARATE // 5.54KM2 / 18821HAB.

PORTELA // 0.95KM2 / 15441HAB.

MOSCAVIDE // 1.02KM2 / 12184HAB.

LOURES // 32.84KM2 / 24237HAB.

LOUSA // 16.54KM2 / 3419HAB.

FANHÕES // 11.6KM2 / 2698HAB.

[ http://paisagem-incompleta.tumblr.com/ ]

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE BELAS-ARTES

LICENCIATURA EM DESIGN DE COMUNICAÇÃO

ANO LECTIVO 2011/2012

DC5 // 3ºANO // MAIO 2012

ANA SANTOS // 5123

Robert Smithson

Isabel Brison

Luísa Ferreira

Nuno Cera

Diogo Lopes

Edward Burtynsky

Paulo Pimenta

Kevin Lynch

Italo Calvino

Bruce Mau

Nuno Portas

Luís F. Rodrigues

Álvaro Domingues

João Sarmento

Mafalda Ivo Cruz

Luís Gouveia Monteiro

Vasco Mendia

Sérgio Spencer

Teresa Alves

João Sousa Morais

Luís Balula

Manuel Graça Dias

José Carneiro

John B. Jackson

Antoni Remesar

João Pedro Costa

Carlos Céu e Silva

Ângelo de Sousa

Paulo Catrica

Ricardo Campos

Pedro Ruivo

André Guedes

Cláudia Taborda

Victor Beiramar Diniz

Delfim Sardo

Helen Lefkowitz Horowitz

Pedro Bandeira

Ken Taylor

Manuel Graça Dias

Marc Augé

Italo Calvino

Teresa Barata Salgueiro

Rui Catalão

Mónica de Miranda

Camilla Watson

George Simmel

[ SÍNTESE ]

NOME + LEMA DO PROJECTO

Paisagem Incompleta À margem da cidade a terra surda não se faz ouvir, e quem para ela olha não parece conseguir vê-la. Acordem-se os arredores adormecidos.

TEMÁTICA + PARCERIA INSTITUCIONAL

Um olhar sobre o espaço suburbano; contraste e degradação da paisagem.(a definir)

CARACTERIZAÇÃO GERAL DA PLATAFORMA

Estratégia de comunicação baseada numa relação próxima com o/s espaço/s à margem da cidade e seus habitantes, utilizando diferentes registos. Procura-se dar visibilidade à paisagem periférica relativa ao concelho de Loures e sensibilizar o restante território.

PORQUÊ? /OBJECTIVOS GERAIS DO PROJECTO

Perante um território alargado, onde os conceitos de urbano, de rural, de periférico ou suburbano se confundem, é necessário olharmos para lá do centro histórico da cidade e perceber o que a rodeia. A periferia não está no centro das nossas preocupações e muito menos no centro da aplicação do dinheiro público. É evidente que parte destes lugares não pode manter-se assim. Este projecto Paisagem Incompleta serve também para fixar alguns dos limites dessa mudança.

Antes era necessário cruzar estes lugares, dentro da cidade ou quando partíamos em viagem. Hoje, as circulares e os viadutos tornam necessária uma razão concreta para visitar qualquer lugar ou sítio, e estes não fazem parte de nenhum roteiro de “fuga”. Paulo Catrica

O objectivo primordial centra-se na construção de um percurso narrativo, que permita questionar a condição de degradação, abandono e o contraste com o restante territótio presente em alguns destes lugares desagregados que se espalham pelo horizonte urbano, tendo também a pretensão de que, tratando-se de uma plataforma de comunicação, consiga actuar para além dessa fronteira. Completar uma paisagem que é

por si incompleta, torná-la possível de ser vista e motivar a tal.

O QUÊ? /DESCRIÇÃO DOS OBJECTOS

Recolha documental (fotografia, entrevistas, registo audiovisual) + publicação em livro de conteúdo fotográfico e textual, com apresentação final de exposição que reúne fotografia + registos audiovisuais.

PARA QUEM?

Destina-se não só à população local, mas acima de tudo à restante população que não teve ainda acesso a esta outra paisagem ou, se a viu ao longe, não contactou realmente com ela, com o objectivo em vista de alcançar a possibilidade de mudança.

COMO? /ANTEVISÃO GRÁFICA DO PROJECTO (a definir)

ÉPOCA DE AVALIAÇÃO FINAL

Setembro 2012

Prio

r Vel

ho, L

oure

s

Quinta da Serra, Prior Velho, Loures