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  • 7/25/2019 Palanganas y El Candomble

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    ENSAIOS

    QUENTES

    CHARLES ODEVAN XAVIER

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    Dedicado Odete Xavier

    E aos anarco-punks dos squatts do Cear, Rio Grande do Norte, Rio de

    Janeiro e Rio Grande do Sul

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    Agradecimentos:

    A Ana Durcia! "ea "aci#ncia e "eos su"ortes $inanceiros%A &aria de '(tima )erado So*rin+o "eo su"orte $inanceiro%A Rosangea ,arroso Oi-eira "ea $or.a e "eos to/ues%Ao Ae0andre 12ango! 3iane e 4o5o 'ei"e "eo com"an+ia nos momentos deangustia%

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    CHARLES ODEVAN XAVIER

    Nasceu em 'ortae6a 7 Cear( e mora no su*8r*io da ca"ita cearense%9 graduado em Letras "ea U'C e $oi matricuado no &estrado em Literatura,rasieira "ea U'C! o /ua a*andonou "or n5o conseguir *osa da CAESnem da 'UNCA! "ro-ando /ue a Uni-ersidade 8*ica ainda ; "ara os"oderososro$essor desem"regado! "re$ere ministrar O$icinas de Video2"oesia ou deA$ro2reigiosidade em comunidades carentes e "ro terceiro setor! desde /uen5o ten+a de cum"rir er? /uer -i-er de

    Literatura ou ensa=smo cutura%ossui "(gina de curtas2metragens no @@@%outu*e%comBc+aresode-anE "ossui dois sites de cr=tica cutura e cria.5o "o;tica:@@@%$or$utura%

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    NDICEDedicatria

    AgradecimentosDados do AutorNordeste DesF$iguradoNordestinos ta+ados em madeira e *arro'otogra$ias do NordesteA Arte s2modernaO Cinema Aucinado de )au*er Roc+a

    ,i*ioteca e CGnone de Um*andaConce".5o de Deus em Di-ersos ontos de Vista 'ios$icos

    Dori-a Cammi e a a$ro2reigiosidadeOs Vissungos! Cementina de 4esus e um "ouco de 'ioogia NegraO sam*a mac+o2man de Ro*erto Si-aA Carta do o-o de Terreiros J Dima CandidataO ro*ema do Destino na Ci#ncia! na Cutura Ioru*( e na AstroogiaEtnogra$ia da Saa de ,ate2"a"o de Candom*;O ro*ema Queer! O 'im do Sistema de )#neros! Se0uaidades'igura.5o e identidades "s2modernas no Estorvode C+ico ,uar/ueNo-os "roet(rios! Tootismo e Re*ei5oA Re-ota Luddita

    Ata -otagem =rica de 4o5o )i*erto NoDossi# )u De*ordEtnogra$ia de um Dis/ue Ami6ade )LSHomenagem &a 'eita a Tom 3;Cr=tica ao KM Sa5o de A*ri no Termina do Si/ueiraA adaria Es"iritua Segundo )eudson assos1ar &ar0: Do*radi.a! Es/ui6o$renia ou oi$oniaO Ocutismo segundo 'ernando essoaEscrita de Cu+es: uma iteratura ma educadaO cor"o grita e "usa: a o*ra da coregra$a S=-ia &ourarocura da oesia: uma anti2receita de $a6er "oemaO Sert5o oi$Pnico de Eucides da Cun+aContratos de LeituraA Literatura 'uturistaO C+o/ue Cutura em O !andari" de E.a de Queirs&o*iidade e Identidade em O Corti#oO &eta"oema em Drummond

    Lu6ia2+omem: A*ordagem de )#neroro-;r*ios do In$erno: A "er-ers5o em iiam ,a>ea8ismo! Homoerotismo e &etate0tuaidade em S(2Carneiro

    Estrat;gias de Legitima.5o em Li-ros de Um*anda5

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    ,i*iogra$ia

    NORDESTE DESF'I)URADOEste texto pretende analisar a Exposio "Nordeste: Fronteiras, fluxos e personas"

    em cartaz no Centro Cultural Banco do Nordeste de 03 de Fevereiro a ! de aro

    de #00!$

    % exposio tem curadoria de &uiza 'nterlen()i, re*ne tra+al)os em desen)o,foto(rafia, tmpera, o+-eto, xilo(ravura, instalao e multim.dia e artistas como:/osana /icalde, artin)o atr.cio, &eonilson, %ntonio 1ias, 2ilal ami 2ilal, 4il

    5icente, 6os7 /ufino, 4rupo /asura, Nazareno, Euz7+io loco8ic9, Caetano 1ias, &uiz2ermano, arcone oreira, un(a e ransio &istrada$ara efetuarmos a nossa investi(ao, nos valemos das le(endas expostas ao ladodos tra+al)os apresentados e da +reve sinopse acerca da exposio presente nofolder "%(enda Cultural" do ms de Fevereiro do corrente ano$Foi interessante perce+er nesta exposio, uma necessidade ;ue os museus e(alerias de e;uipamentos p*+licos como o Banco do Nordeste tm de explicar aop*+lico as o+ras de expostos$ %s instituinea,emorial da Cultura Cearense etc$? utilizam uma (ama de recursos para, noentender deles, tornar os tra+al)os mais "di(er.veis" pelo p*+lico$ 1este modo,temos nossa contemplao e fruio da o+ra interrompida por monitores c)atos;ue "iro explicar" =sim, 7 esse o ver+o utilizado? a o+ra contemplada@ como se no+astasse, as le(endas impressas ;ue es(otam as o+ras ;ue comentam ao seu lado$Au se-a, o p*+lico contri+uinte, ;ue financia estes eventos com seus impostos, 7+urro$Esta constatao serve de mote para entender a arte contempor>nea e a exposiocitada propriamente dita$A mote da exposio, ;ue &uiza 'nterlen()i fez curadoria, 7 a ausncia de mote daarte contempor>nea$ %inda ;ue as prol.ficas le(endas e sinopses asse(urem de umainteno enunciativa ou de uma unidade discursiva comum aos tra+al)osapresentados@ o folder fala em "mapeamento do modo como os fluxos culturais

    ;uestionam limites territoriais e re*ne o+ras de artistas, com passa(em peloNordeste, ;ue transitam ou se fixaram em diferentes estados: CE, E, B, %&, %,E, /6 e "$Au se-a, o ;ue se intui de uma varredura 7 a prpria perplexidade do artistacontempor>neo, se-a nordestino ou no$Esta perplexidade se traduz pictoricamente em desespero, cinismo e )umor$ %ssim,no v.deo "uimera" =#00D? de un(a realizado em super , temos o lado maissom+rio da exposio@ em ;ue ima(ens desconexas, fra(mentadas, desfocadas de(atos "p7duro" =ou "viralatas" no dizer do leitor do udeste? sem valor,superpostas ou -ustapostas G ima(em de um rosto masculino fazendo a +ar+a,

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    em+alados numa tril)asonora an(ustiante de ru.dos captados em ruas de cidade(rande, rosnar de (atos, +erim+aus, escola de sam+a, automveis, fraseados deteclado psicod7licos etc$ No vemos o )omem ;ue faz a +ar+a por inteiro =no )Hplano americano?, o mesmo comparece no v.deo em closes la+ir.nticos, fiaposfurtivos e so+reposineo sem corpo, sem identidade, sem propsito, sem utopia, perdidonum tumulto de est.mulos visuais e sonoros fu(azes e poluidores das (randesmetrpoles$Entretanto, eu sei disso por;ue fi;uei at7 o final dos minutos da pro-eo,en;uanto o p*+lico ansioso e impaciente no se permitia a ficar trs minutos nasala$ A ;ue sinaliza o espectador fr.volo da psmodernidade: superficial e dese-antede ima(ens cada vez mais fren7ticas, ;ue na expectativa de consumir o mHximo deima(ens poss.veis aca+a sendo consumido por elas, como diria 4uI 1e+ord =%ociedade do EspetHculo?$Contudo, se a inteno de un(a 7 an(ustiar, o mesmo no ocorre com o v.deo

    instalao do (rupo "ransio &istrada"@ em ;ue vemos monitores de 5 colocadosso+re escadascavaletes, exi+indo um v.deo feito pelo (rupo ;ue consiste empe;uenas se;Jncias de mem+ros ;ue c)e(am em diversos muros da cidade com aescada de+aixo do +rao, a+remna e so+em nela para ver o ;ue )H do outro ladodo muro$K medida ;ue o tempo passa, a mesma "cena" se repete diversas vezes, mudandoos "atores" e os "cenHrios" filmados "ad nauseam"$A minimalismo permutacional do empreendimento dos rapazes faz lem+rar ocinzento "LoIani$;aa$tsi", ;ue o minimalista )illip 4lass musicou na d7cada de M0,mas o tom 7 outro: 7 leve e en(raado, at7 pela ausncia de Hudio$ &H pelas tantas

    perce+emos ;ue as escadas do v.deo so as mesmas ;ue sustentam os monitoresde 5$ Confi(urando um divertido -o(o meton.mico autoreferencial$%ssim como os persona(ens ;ue so+em na escada para ver o ;ue )H do outro ladodo muro, so interceptados por uma nova se;Jncia@ o espectador de artecontempor>nea tam+7m no conse(ue fec)ar as in*meras "(estalts" a+ertas por

    -ornais, revistas e outdoors lidos a esmo no verti(inoso ")a+itat" ur+ano$1a leve esterilidade do v.deoinstalao do "ransio &istrada", vamos para ov.deoinstalao "i;ueni;ue" do (rupo /asura$ Nela um am+iente simula umpi;ueni;ue no meio do mato$ Em cima de uma toal)a +ranca 7 pro-etado umrecipiente "tupper8eare" de comida ;ue vai desaparecendo$ % o+ra pretende

    evocar "o tradicional encontro de farofeiros", esp7cimes ;ue vem desaparecendocom o crescimento ur+ano e a eventual su+stituio pelas praas de alimentaodos s)oppin(s$ das o+ras apresentadas: a mais explicitamente en(a-ada$ En(a-amento entendidono sentido das "micropol.ticas" do cotidiano de F7lix 4uatarri e ic)el Foucault$Hrio de %ndrade =A Baile das ;uatro artes? diz ;ue o artista tem de ser, antes detudo, um arteso$ %ssim, vemos en(en)o t7cnico na o+ra "em t.tulo" =#00D? de2ilal ami 2ilal ;ue pe(ou uma c)apa de co+re tra+al)ado com verniz e Hcido,compondo um delicado e rendil)ado ara+esco metHlico suspenso no ar, a desafiar alei da (ravidade$ A efeito icOnico 7 maravil)oso$

    am+7m vale G pena conferir o virtuosismo t7cnico das min*sculas cadeiras e7

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    o+-etos de prata de Nazareno@ assim como, as mandalas (i(antes, coloridas evi+rantes de plHstico e arame de &uiz 2ermano$

    % plasticidade folclrica t.pica do Nordeste 7 retomada e su+vertida nas (arrafin)aspermutacionais de areia colorida de /osana /icalde ou nos pendurical)os armoriais

    das "&edas" de arin)o atr.cio$

    A pro+lema colocado na e pela exposio 7, como diz 4il 5icente "/emonta(em daEscultura" =PM? " nan;uim so+re papel, o "em+aral)amento" discursivo, aar+itrariedade da arte contempor>nea e sua crise de representao@ cu-ointerseccionismo plHstico " as monotipias de 6os7 /ufino ;ue de lon(e lem+ramradio(rafias de sistemas san(u.neos ou nervosos e de perto su(erem esfin(es " 7puro sintoma$A artista contempor>neo 7 o+ri(ado a representar, a fazer uma mimese naturalistapelo p*+lico comum, presente na exposio, o ;ual se ;ueixava de nada "entender"$

    Como se tivesse a o+ri(ao de fi(urar tudo claramente e sem li;uidar a lin(ua(em,;uando este mesmo p*+lico c)e(a em casa e assiste a uma li;uidao da lin(ua(emdiHria em ro(ramas como Bi( Brot)er, /atin)o, sem nada reclamar$o ascontradi

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    oda cr.tica de arte pressupnone e a tradio acadmica ou popular tomadaem ;uesto$

    % exposio 7 de artesanato e no do ;ue a academia c)amou de +elas artes$ortanto, 7 dentro desse territrio epistemol(ico, ;ue o mercado editorial de artesconvencionou c)amar de artes aplicadas = ar;uitetura, "desi(n", mo+iliHrio,vestuHrio, decorao, (astronomia etc$? ;ue devemos considerar as realizamica ;ue possuemadornos de pal)a e pena de capote encontrados no munturo do ;uintal$

    % exposio apresenta duas cate(orias de artistas populares: os consa(rados e osanOnimos$

    1este modo, vemos uma intencionalidade racionada no ri(or (eom7tricoconstrutivista das esculturas do cearense Xenon Barreto, feitas com materiaisordinHrios do cotidiano sertane-o: os estri+os pretos oxidados e imprestHveis para acavalaria, precisamente montados, formando composi

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    menino 6esus com um martelo na mo e traos europeus$ A pane-amento dasroupas medievais, a preciso dos traos e a cor marrom fazem a o+ra parecer demadeira$

    am+7m no "o Francisco" em +arro cozido do pernam+ucano 4eminHrio %ndr7 da

    ilva, em ;ue o pane-amento do manto e a (raciosiade dos pom+os so+re seu corpodo a iluso da o+ra tam+7m ter sido feita em madeira$

    %ssim como o "antuHrio" em madeira serrada feito pelos artesos cearenses da%ssociao adre C.cero ;ue dosa uma urdidura mourisca, a imponncia (tica desuas torres apontadas para o c7u e o excesso +arrOco do seu verniz$ Au ainda asurpreendente "Nossa en)ora Corao de aria" esculpida em madeira pelocearense Expedito B$ $, ;ue pintou a santa de uma forma patinada ;ue lem+ra o+ronze$

    Entretanto, os artistas populares dentro da diversidade 7tnica da cultura nordestina,podem mostrar ol)ares menos devotos so+re os temas e fi(uras caros aocristianismo medieval dos santin)os expeditos distri+u.dos nas novenas feitos em(rHficas rHpidas ou "lan )ouses", em sua feio i+7rica@ como uma "santa ceia"esculpida em relvo na madeira, cu-o os rostos dos apstolos evocam mHscarasafricanas = a o+ra no tin)a le(enda, por isso no posso informar ao leitor dadoscomo o t.tulo, o autor nem a procedncia?$ Au os simpHticos "%n-os Can(aceiros"feitos em +arro cozido pelo pernam+ucano 6os7 do Carmo$ Nos ;uais vemos uman-o com ata+a;ue, um Corisco alado com viola e um 5ir(ulino alado com acordeode oito +aixos$

    Autro percurso temHtico da exposio, no dizer da semitica (reimasiana, 7 o dosof.cios populares$ 1esde o caador sertane-o esculpido em madeira pelo ala(oanoestre Camilo$ A ;ual apresenta um vestuHrio t.pico com c)ap7u e c)inelos decouro, pitando um ci(arro de pal)a, com uma espin(arda do lado e um "veado"morto empendurrado no om+ro@ tem traos ca+oclos =mestio de amer.ndio ecaucasiano?@ a;uele cansao e desolamento caracter.stico do sol do semiHrido ;ueenvel)ece os tra+al)adores rurais antes do tempo$

    % "Florista" feita em estOpa pela parai+ana Espedita da Costa edeiros@ o "ocador

    de flauta" feito em cer>mica por um arteso cearense descon)ecido ou a "/endeira"vel)a fumando cac)im+o e sentada com uma almofada de +ilro feita em +arrocozido por um arteso descon)ecido do /io 4rande do Norte e a diversidade demateriais e t7cnicas empre(ados su(ere Gs autoridades competentes das in*meraspossi+ilidades de (erao de empre(o e renda, num contexto (eo(rHfico marcadopela sazonalidade das c)uvas, por t7cnicas a(ropecuHrias predatrias e peloadvento da lucrativa ind*stria do lazer e do entretenimento vide 2ollI8ood naera da 'nformao$

    e os or(os (overnamentais de economia mista e a iniciativa privada se

    -untassem e discutissem com seriedade e responsa+ilidade p*+lica@ cenas esculpidas10

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    em +arro cru pelo ser(ipano 6os7 Freitas ="/etirantes"? onde meninos ne(ros,+uc)udos, ra;u.ticos e de p7sdescalos carre(am +alaios, cestos de pal)a, len)a epotes desfi(urados =p7s e mos enormes e (rotescas?pelo cansao e fome, seriamapenas uma deformao est7tica de fundo estil.stico e no o ;ue so na durarealidade nordestina: um caso de pol.cia$

    % ;uantidade de vezes em ;ue intrumentos musicais so apresentados na exposiodas mais diversas formas matracas de madeira do maran)ense edro iau.@ a+anda ca+aal tal)ada em madeira colorida pelo cearense 1iomar da %ssociaoadre C.cero su(erem ;ue essa poderia ser a sa.da para a (erao de empre(o nare(io, atrav7s do incentivo Gs +andas e fanfarras municipais, no aperfeioamentode maestros e re(entes mais experientes e a formao continuada de m*sicosaprendizes$ eria muito +om ;ue as pol.ticas p*+licas de cultura contassem com aparceria da milionHria ind*stria fono(rHfica$

    e vivssemos num pa.s s7rio, artistas como a ala(oana /ita %parecida /osendopoderia continuar tal)ando em madeira seus (atos do mato ;ue de to +em feitos s faltam avanar na -u(ular de ;uem se a+aixa para vlos na vitrine$ Ela rece+eriauma +olsa de al(um C1& para aperfeioar e ensinar o ;ue sa+e para os adolescentesdo seu ;uarteiro no ateli comprado pelas milionHrias e predatrias madeireiras doarH$

    A terceiro milnio apresenta um desafio para as universidades p*+licas ouparticulares: como aproveitar o tempo livre compulsrio do desempre(o estruturale os )umores incostantes da economia informal e do su+empre(oW

    'OTO)RA'IAS DO NORDESTE

    Este estudo pretende analisar a exposio "o7ticas Tr+anas", ;ue estH em cartaz

    no Centro Cultural Banco do Nordeste de Fortaleza, do dia ## de aro ao dia Y de

    aio de #00!$

    % exposio tem curadoria de olon /i+eiro e tem como artistas participantes:/o+erto 4alvo, Hrcio &ima e iciano onteiro$ /e*ne foto(rafias e pro-e

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    para a identificao do leitor$% o+ra comea na parede externa, em ;ue vemos uma se;Jncia de foto(rafiasmarin)as, provavelmente tiradas na raia do Futuro$ Tm mar re+elde e selva(em=diferente da raia do ucuripe: c)eia de +arcos, sinaleiros, "containers" si(nos dapresena )umana? em fotos -ustapostas do mesmo cenHrio matizado em azul e

    verde$ % cena pode ser um aman)ecer ou um crep*sculo desolado e +elo$Nas paredes internas da (aleria, /o+erto 4alvo distri+uiu pares de foto(rafias de)a+itamicas c)eias de um (rafismoconcreto e minimalista$Como s.la+as icOnicas de uma (ramHtica visual, vemos "palimpsestos" de cartazesdo "C)ito de Baturit7", arrancados de muros e so+repostos por placas de an*nciode cartomante, ao lado de detal)es de edif.cios luxuosos da capital cearense$ %impresso ;ue temos 7 a de ;ue /o+erto 4alvo intentou revelar os contrastessociais de Fortaleza, nos seus pares de fotos -ustapostas$ %ssim, temos de um lado asu-eira dos res.duos de propa(anda pol.tica, de todo tipo de poluio visual@ as

    taipas e papel

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    % cena com+ina lirismo e melancolia, auxiliada por um Hudio ;ue captou toda aventania do lu(ar$ No )H como no pensar na parH+ola do "ol)ai os l.rios docampo" das escrituras, pelo despo-amento da situao$ Tm )omem solitHrio dentrode um ;uarto sem paredes, numa la(oa deserta a su(erir um -o(o utpico dereconciliao com a natureza, rompendo com a id7ia de propriedade privada$ %

    sensao causada no espectador 7, simultaneamente, de mal " estar e li+erdade,por esse )omem ;ue, tal feito uma ave a;uHtica, conse(ue viver e dormir num lu(ar;ue no interessa a especulao imo+iliHria$% exposio "o7ticas ur+anas" revela ol)ares m*ltiplos so+re a paisa(em cearensee nordestina$ uma oportunidade de rever a;uilo ;ue nos rodeia e no nos damosconta$A ARTE S2&ODERNA

    Este texto tem como mote a composio "Bienal" de Xeca Baleiro do Cd "5O 'm+olH"=X%?$Nela o compositor maran)ense disserta com ironia e +om )umor so+re atemHtica da #3R Bienal 'nternacional das %rtes lHsticas de o aulo =PP?:"1esmaterializao da o+ra de arte no fim do milnio"$ Au se-a, em ;ue medida o;uadro contempor>neo transcende a limitao da moldura$ Au o ;ue sinaliza acr.tica ao suporte tradicional$ %ssim, a pintura pode sair da tela eUou o espectador 7convidado a entrar na escultura$% arte moderna tendia G milit>ncia pol.tica$ rocurava cantar as (lrias datecnocincia como no caso do Futurismo 'taliano, ou, pelo contrHrio, procuravadenunciar o cenHrio catico da modernidade ur+ana do capitalismo industrial, como

    nas cores fortes do cu+ismo e do fauvismo ou na cinzenta deformao da realidadedo expressionismo alemo$% arte ps moderna " c)amada, acertadamente, por al(uns tericos de "arte ps van(uarda" renuncia a ;ual;uer messianismo$ No ;uer salvar a raa )umana docolapso da modernizao como disse /o+ert Lurz ou propor ;ual;uer utopia capazde suplantar a +ar+Hrie resultante desse colapso$ 1esse modo, o artista ps moderno vse num pndulo entre o niilismo sinistro da morte de 1eus e onarcisismo )edonista e c.nico da apolo(ia do consumo$ 'sso se traduzpictoricamente em ne(ativos foto(rHficos corro.dos por Hcido -ustapostos na paredeou nas latas de sopa Camp+ells de %ndI Qa)rol$% arte ps moderna aponta para um impasse do )omem ps moderno: ;uecamin)o iremos tomar da;ui para frenteW Num contexto em ;ue cada vez maispessoas se tornam coisas e coisas se tornam pessoas, como arx previa na suacr.tica ao fetic)ismo da mercadoria, o ;ue propor para raa )umanaW erH ;ue aindaexistem propostas plaus.veis ou viHveisW % impresso ;ue se tem ao visitar asexposinea do Centro 1ra(o do ar =Fortaleza Brasil? 7 de ;ue o )omem no tem mais nen)um pro-eto a(lutinante e de ;ue a arteatual 7, ou seria, a prpria cele+rao desse atomismo$2H um aspecto, entretanto, ;ue tem de ser evidenciado na arte contempor>nea esua tendncia G ruptura com o suporte$ eria o carHter no comercial desta arte$ual +ur(us irH comprar as espon-as de ao enferru-adas da artista plHstica

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    (a*c)a Elida esslerW E isso 7 muito +om, numa 7poca em ;ue os executivosamericanos dizem tudo estar G venda, inclusive, a di(nidade )umana$ortanto, perce+o um potencial su+versivo na arte atual$ ue 7 o de revelar ainsustenta+ilidade do pro-eto civilizatrio moderno$ Ne(ando a sociedade produtorade mercadorias e sua socia+ilidade viciada ;uando produz "tram+ol)os" ;ue no

    podem ser empendurados na parede ou ;ue su-ariam as estantes dos apartamentos+ur(ueses$

    O CINE&A ALUCINADO DE )LAU,ER ROCHA

    ara escrever esse estudo da o+ra de 4lau+er /oc)a, eu li Dicionrio Terico e Critico de

    Cinemade 6ac;ues %umont e ic)el arie@ O Cinema brasileiro modernode 'smail Savier e

    Brasil em Tempo de Cinema: ensaios sobre o cinema brasileiro de 1958 a 1966de 6ean

    Claude Bernardet$

    %pesar de falar da o+ra de 4lau+er /oc)a, na verdade este estudo foca o filme Drago da

    Maldade contra o santo gerreirotransmitido recentemente na pro(ramao domin(ueira

    da 5 EN%1A, no ms de %(osto de #0, na c)amada &ostra )au*er Roc+a$

    No sou um profundo con)ecedor da o+ra de 4lau+er /oc)a$ No vi seu filme de estreia=Barra!entode P#?, vi apenas o comeo de Des e Diabo na Terra do "ol de PD, no vi ocomentadoTerra em Transe de PY citado com louvor por Caetano 5eloso no seu#erdade Tropicale nem vi o ultimo filme$ idade da terrade PM0$

    as como fi;uei impactado pelo colorido de Drago da Maldade, resolvi escrever so+re ocinema de 4lau+er /oc)a a partir deste filme$

    Drago da Maldadee um filme no linear, descontinuo, modernista, +rasilianista$ Nele umenredo m.nimo revela toda a ao focada na invaso de um (rupo de camponeses e decan(aceiros a um povoado do serto nordestino$

    A latifundiHrio do lu(ar e o dele(ado local conversam so+re a necessidade de um -a(unopara matar Coirama, o l.der dos can(aceiros$ Contratase o pistoleiro %ntOnio das ortes=auricio do 5ale? para fazer o servio su-o sem c)amar a ateno da imprensa e da policia$

    Namise%en%sc&nedo conflito entre o can(aceiro e o pistoleiro, 4lau+er /oc)a cria um tomde farsa e reisado, onde Coirama e %ntOnio das ortes duelam com fac

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    A persona(em do professor vivido por At)on Bastos 7 extremamente interessante nadie(ese do filme$ 'nicialmente 7 um intelectual vindo da cidade (rande ;ue rece+e salarioatrasado e se em+e+eda no +ar, com tiradas c.nicas e risadas c)eias de sarcasmo ao lon(odas cenas aparenta estar ao lado dos poderosos, como em suas conversas com o corruptodele(ado local$

    %ntOnio das ortes, o pistoleiro, tam+7m 7 um persona(em forte e marcante$ 'nterpretadopelo excelente auricio do 5ale, o pistoleiro estran)a ainda existir can(aceiros para matare prximo do final do filme, ao ver uma fi(urante do reisado de camponeses, lem+ra de umanti(o amor$

    % fi(urante, ;ue ele c)ama de santa, mas ;ue a meu ver esta vestida de orixH, dialo(a com%ntOnio das ortes e este pede perdo pela morte dos ancestrais da "santa"$

    Este se sentindo culpado vai G i(re-a, conversa com o padre e pede para ;ue este c)ame odele(ado$

    A dele(ado vem e o pistoleiro pede para ;ue o dele(ado convena ao coronellatifundiHriode ceder parte de suas terras para o (rupo de camponeses$ Nesse momento, o espectadorcomea a perce+er ;ue o pistoleiro mudou de lado: passou para o lado dos po+res, dosvencidos da 2istoria$

    A dele(ado, ;ue tem um caso com a mul)er do latifundiHrio, tenta convencer o pistoleiropara este matar o latifundiHrio e como recompensa l)e darH uma fazendin)a lon(e dali$

    A dele(ado vai ate a casa do latifundiHrio$ rama a morte do mesmo com a esposa deste$as no tem cora(em de executar o coronellatifundiHrio$

    Autras cenas de conversa entre o pistoleiro e a "santa"$$$

    ara no ficar apenas ao n.vel do enredo, ca+e a(ora analisar os elementos f.lmicosutilizados por 4lau+er /oc)a neste filme$

    A estilo (lau+eriano -H foi c)amado de est;tica da $omee em parte )a razo nestarotulao$ No Drago da Maldadee no Des e o Diabo na Terra do "ol pelo menos ateonde puder ver, -H ;ue a copia ;ue a 5 EN%1A exi+iu, tin)a terr.veis pro+lemas no Hudio,por isso no assisti ao se(undo todo o universo do autor de erra em ranse comparececom paisa(ens Hridas do serto nordestino, caatin(a, camponeses, can(aceiros, animais

    es;uHlidos pastando e tudo o ;ue se pode representar como a zona rural da %m7rica &atinae do erceiro undo$

    Des e o Diabo na Terra do "ol pareceume um filme muito duro de ver: preto e +ranco,lon(os silncios$$$ E com certeza o Hudio pre-udicou a min)a audincia$ 6H Drago daMaldade, colorido e com um timo Hudio, revelou um 4lau+er /oc)a mais se(uro comocineasta, por se tratar de seu ;uarto filme$

    % utilizao da musica no filme e surpreendente$ C)amoume ateno a maneira como ofolclore +aiano aparece no filme$ As camponeses cantando seus reisados e o professorrindo alucinado foi um contraponto plasticamente +em resolvido$

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    Nas cenas em ;ue o corpo do dele(ado e arrastado pela catin(a, 4lau+er escol)eu cantol.rico atonal, criando uma atmosfera pertur+adora$

    am+7m (osto das pontuanciacamponesa$ A pistoleiro inicial vira o defensor dos camponeses$ %t7 o padre, ;ue apareceao lon(o do filme su+serviente e +a-ulador do latifundiHrio e ao poder local do povoado, nofinal do filme adere ao "+andoleirismo revolucionHrio"$

    % despeito de Bernardet ter c)amado o ciclo do cinema do can(ao de verso +rasileira do'estern americano, o filme de 4lau+er /oc)a exi+e uma violncia surreal: o can(aceiro, porexemplo, esfa;ueado no comeo do filme, no morre e aparece monolo(ando at7 ;uase o

    final, onde finalmente "morre"@ nos tiroteios entre os -a(unos do coronellatifundiHrio e oprofessor e o %ntOnio das ortes, em+ora os -a(unos este-am em maioria, todos morreme o professor e o pistoleiro no levam nen)um tiro$ Este ar farsesco, cria no espectador umclima de irracionalismo e inverossimil)ana$

    %t7 a;uela cena -H relatada do duelo entre Coirama e %ntOnio das ortes, o (nero8estern e su+vertido, pois no faroeste americano -amais dois duelantes iriam disputar afaca, cantando versos de cordel$

    4lau+er /oc)a +e+eu no cordel nordestino, nos sam+asderoda, nos reisados, noatonalismo, no dodecafonismo, viu Eisenstein, Bunuel, /osselini, 4odard, leu arx para

    produzir o seu cinema controvertido e complexo$ E eu perce+i acentos (lau+erianos noCorisco e Dadado cearense /osem+er( Cariri$

    Este +reve estudo no pretende es(otar o 1ra(o da aldade, mas ser um convite ao leitorpara ver esta o+ra criativa e seminal$ alvez na internet o leitor consi(a dar o do8nload dofilme e se no conse(uilo inteiro, talvez consi(a ver fra(mentos no Zoutu+e$com$

    ,I,LIOTECA E CNONE DA U&,ANDA

    Este estudo pretende analisar o acervo da Bi+lioteca da Ca+ana &uz do Con(o situada na /ua 4onalves &edo, YYP no +airro iedade em Fortaleza no sentido de+uscar sa+er ;uais so os livros canOnicos e ;uais seriam os livros proscritos daTm+anda, se 7 ;ue eles existem$

    AB/E A %CE/5A

    A acervo da Ca+ana &uz do Con(o foi or(anizado pelo pai de anto da casa,Francisco %ntonio dos antos =pai 1idi?, )o-e falecido, no ano de PM$ arte doacervo foi comprado e outra parte foi doada ao lon(o dos anos, se(undo informou ofil)o, 6ulio Francisco dos antos, responsHvel pelo esplio do pai e pelaadministrao executiva e financeira do Centro$

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    eu 6*lio informou ;ue no )H uma estat.stica de ;uantos pessoas utilizaram ouutilizam o acervo ao lon(o dos anos, ;ue este tipo de informao se perdeu com amorte do pai$ A ;ue ele sa+e informar com a+soluta certeza, 7 de ;ue o acervo atraimais a ateno de pes;uisadores das Tniversidades, do ;ue propriamente aos

    fre;uentadores e diri(entes da casa$ Este dado 7 (rave, ;uando pensamos no perfilscioeconOmico dos fre;uentadores e diri(entes da casa: pessoas escolarizadas daclasse m7dia, funcionHrios p*+licos, profissionais li+erais, comerciantes eempresHrios$ Au se-a, os um+andistas cearenses no (ostam de ler, pelo menos, namaioria dos casos$

    1iante desse dado per(untei ;ual era a funo de uma +i+lioteca ;ue no despertainteresse$ eu 6*lio respondeu ;ue a inteno do seu pai ao comprar do prprio+olso, reunir e or(anizar o acervo, era a de difundir uma um+anda esot7ricainiciHtica em Fortaleza corrente da ;ual a Ca+ana &uz do Con(o 7 o *nico lu(ar na

    capital cearense, ;ue professa este tipo de um+anda$

    A acervo se divide por assuntos, sendo eles: Tm+anda, uim+anda, Lardecismo,Esoterismo, /acionalismo Cristo, ietro T+aldo, Budismo, 2istria, /osa Cruz,Filosofia, C)ama a(rada, Zo(a, 1iversos e duas prateleiras c)eias de livrosprotestantes e catlicos$

    interessante perce+er a presena de livros do c>none protestante e catlico numacasa de Tm+anda$ ude conferir nas duas prateleiras o+ras evan(7licas da Bible"tdents $ssociation, dos 4ir

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    afirmaram certas autoridades do espiritismo 9ardecista, a Tm+anda seria ummediunismo sem doutrina$

    %nalisando o acervo da Ca+ana &uz do Con(o, podemos responder parte dasper(untas feitas por leitores ;ue nunca leram livros de Tm+anda$

    Na o+ra$ Cartil(a de )mbandade Candido Emanuel Felix,pu+licada no /io de6aneiro em P! pela editora Eco, temos per(untas do tipo: o ;ue 7 um+andaWodese aceitar Tm+anda como reli(ioW Como definir o m7dium de incorporaoWComo pode o m7dium tra+al)ar numa tendaW Entre outras$ 1este modo, um livro deum+anda serve para divul(ar aspectos doutrinHrios e no apenas limitarse acon-untos de descrimica de uma tradio oralmulticultural$ % enorme e contraditria +i+lio(rafia de escritores um+andistasapenas atesta a impossi+ilidade de transformar esse universo m*ltiplo, emal(o un.voco estritamente do(mHtico e doutrinHrio$]

    A leitor mais atento perce+erH o carHter mestio da, vamos c)amar, doutrinaum+andista, ao reunir influncias afrodescendentes, ind.(enas, catlicas, -udaicas,isl>micas, 9ardecistas, rosacruzes, maOnicas e da eosofia de adame Blavats9I$

    ois como o culto, a doutrina um+andista 7 uma esp7cie de s.ntese reli(iosa detodos os povos ;ue existem na terra$ E por ser s.ntese, ela 7 complexa e profunda$al fato talvez afastem os leitores um+andistas, ;ue receosos de nada entenderemou aca+arem confusos com esse cipoal de referncias, aca+am no lendo as o+ras;ue com tanto esforo atta e ilva e seus disc.pulos sistematizaram$

    ES'E T C^NANE TB%N1'%W

    4eralmente ;uando se pensa em livros da tradio crist a noo de c>none podevir G +aila$ ois se sa+e ;ue os livros canOnicos seriam a;ueles aceitos e

    recon)ecidos pelas altas )ierar;uias da '(re-a Crist$ 6H os apcrifos ou proscritos18

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    seriam a;ueles livros ;ue circularam na 7poca de Cristo e foram parte deles desco+ertos nas cavernas sal(adas de umram no ar orto em PDM$ Estes livrosforam e so mal vistos pela '(re-a Crist por revelarem dados e narrativasinconvenientes, como a suposta personalidade travessa e malvada da inf>ncia de6esus Cristo ou o seu suposto casamento c)eio de fil)os com aria adalena$

    Entretanto, )o-e parte da '(re-a -H sa+e conviver com os conte*dos estran)os eextrava(antes desses livros$ anto ;ue -H 7 poss.vel encontrHlos nas livrariascatlicas$

    Em se tratando da Tm+anda, a noo de c>none teria mais um fundo literHrio do;ue propriamente teol(ico, pois ao contrHrio da '(re-a Crist, a Tm+anda nodisp

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    1ET NA E_A 6T1%'CAC/'`A

    A Conceito de 1eus a;ui 7 pessoal$ 1eus seria uma pessoa ;ue teria os atri+utos deonipotncia =todo poderoso?, oniscincia =sa+e tudo e sonda todos os cora

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    1ET NA BT1'A

    A Budismo 7 uma reli(io at7ia$ reli(io apenas no sentido )orizontal: reli(ar os )omens eno no sentido vertical: reli(ar o )omem a 1eus ser este ;ue para o Budismo oriental no

    existe$As Budistas so reli(iosos no sentido ;ue cultuam valores 7ticos como: compaixo,+ondade, no matar nen)um ser vivo, no rou+ar e no usar dro(as ou su+st>ncias ;ueem+otem a mente$

    1ET E '4TN1 F/ET1

    A Criador da sicanHlise a+orda o fenOmeno reli(ioso em vHrias de suas o+ras$ Freud era-udeu, por7m no reli(ioso$Em O .tro de ma ilsoele conce+e 1eus como uma iluso,fruto do dese-o infantil do ser )umano de ver na natureza a pro-eo de um pai$ Na >nsia dese ver desamparado e desprote(ido o ser )umano teria criado 1eus para reconfortHlo nas)oras de peri(o e tri+ulao$

    1ET NA %E_A 1E 'L2%'& B%LTN'N

    A anar;uista russo na sua o+ra Des e o /stado extremamente iconoclasta conce+e 1euscomo um tirano, opressor, ;ue se existisse precisaria ser a+olido$

    1ET E '/CE% E&'%1E

    Na o+ra do )istoriador romeno ircea Eliade a /eli(io aparece como o numinoso$ Auniverso seria numinoso ou sa(rado$E se(undo ele, o espiritualista tende a sacralizar ouniverso, en;uanto o materialista tende a profanHlo$ A filsofo francs ic)el AnfraI em

    seu Tratado de $teologiafornece um es;uema interessante para entender a ;uesto$e(undo ele, o materialista afirma: sou feito de Htomos, en;uanto o espiritualista afirma: sou feito de alma

    1ET E /'C2%/1 1%QL'N

    /ic)ard 1a89ins, o ilustre +ilo(o evolucionista, 7 tido pela cr.tica como l.der domovimento neoate.sta e 7 autor da o+ra Des0 m Del-rio raduo de Fernanda/ava(nani o aulo: Compan)ia das &etras, #00Y$ Na o+ra de !#0 pH(inas, 1a89insafirma cate(oricamente ;ue al7m de 1eus no existir, a reli(io 7 nociva G )umanidade, porser (eradora de (uerras, ata;ues terroristas e outras insustenta+ilidades$e(undo ele,

    nin(u7m precisa de 1eus para ter princ.pios morais, para fazer o +em, para apreciar anatureza$A livro prop

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    a espiritualidade naturalizada de /o+ert C$ olomon no seu Espiritualidade para C7ticos:aixo, verdade csmica e racionalidade no s7culo SS' raduo aria &uiza S$ %$ Bor(es /io de 6aneiro: Civilizao Brasileira, #003$uem sou eu para provar ;ue 1eus existe ou deixa de existirW ue cada um faa suaspes;uisas e tire suas conclus

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    em PY# a cano em sua )omena(em: Ora+o de Me Meninin(a(ravado por (randesnomes como 4al Costa e aria Bet)>nia$

    Nas composi

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    Na composio$ enda do $baeto cantor e compositor +aiano fala de um lu(arassom+rado:

    \No Abaet tem uma lagoa escura

    Arrodeada de areia branca de areia branca de areia brancaDe manh cedoSe uma lavadeiraVai lavar roupa no AbaetVai se benzendoPorque diz que ouveOuve a zoadaDo batucajO pescador

    Deixa que seu filhinhoTome jangadaFaa o que quisMas d pancada se o seu filhinho brincaPerto da Lagoa do AbaetDo AbaetA noite t que um diaDiz algum olhando a luaPela praia as criancinhasBrincam luz do luarO luar prateia tudoCoqueiral, areia e marA gente imagina quanta a lagoa linda A lua se enamorandoNas guas do AbaetCredo, CruzTe desconjuroQuem falou de AbaetNo Abaet tem uma lagoa escura

    A Batuca-e e uma referencia ao candom+le, ;ue se acreditava ter no fundo da la(oa$

    Na composio Dois de .e!ereiroCaImmi deixa patente sua filiao reli(iosa ao candom+l7+aiano:

    \Dia dois de fevereiroDia de festa no marEu quero ser o primeiroA saudar IemanjDia dois de fevereiroDia de festa no marEu quero ser o primeiro

    A saudar Iemanj24

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    Escrevi um bilhete a ela Pedindo pra ela me ajudarEla ento me respondeuQue eu tivesse pacincia de esperarO presente que eu mandei pra elaDe cravos e rosas vingou

    Chegou, chegou, chegouAfinal que o dia dela chegouChegou, chegou, chegouAfinal que o dia dela chegou

    Nesta composio CaImmi, assim como +oa parte do fervoroso povo +aiano, demonstrasua confiana na /ain)a do mar$

    E na composio 4ain(a do Mar CaImmi revela o ;ue pensa e sa+e so+re Zeman-H:

    \Minha sereia rainha do mar

    Minha sereia rainha do marO canto dela faz admirarO canto dela faz admirarMinha sereia a moa bonitaMinha sereia a moa bonitaNas ondas do mar aonde ela habitaNas ondas do mar aonde ela habitaAi, tem d de ver o meu penarAi, tem d de ver o meu penar

    E sempre )H um sentimento de ro(ar um pedido a deidade a;uHtica, mostrando como o

    povo ne(ro e po+re 7 carente no campo material, no tendo muito para ;uem apelar$

    CaImmi tam+7m falou das +aianas na sua o+ra, como se v na composio 3o tableiro dabaiana:

    \No tabuleiro da Baiana temVatap, Carur, Mungunz tem Ungu pra io ioSe eu pedir voc me dao seu corao,seu amor de ia iaNo corao da Baiana tambm tem

    Seduo, canger, iluso, candomblPra vocJuro por Deus,pelo senhor do Bonfimquero voc Baianinha inteirinha pra mimE depois o que ser de ns dois?Seu amor to Fulgs enganadorTudo j fiz, fui at no canjerPra ser feliz, meus trapinhos juntar com vocE depois vai ser mais uma ilusono amor que governa o corao

    ostrando a preferncia do compositor pela (ente simples da Ba)ia$

    25

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    CaImmi tam+7m cantou com perfeio a +eleza da mul)er ne(ra, na composio$ retado $cara:

    \Dez horas da noiteNa rua deserta

    A preta mercandoParece um lamento o abarNa sua gamelaTem molho e cheirosoPimenta da costaTem acaraj acaraj cor la l ioVem benzerT quentinho

    Todo mundo gosta de acarajO trabalho que d pra fazer que Todo mundo gosta de acarajTodo mundo gosta de abarNingum quer saber o trabalho que dTodo mundo gosta de acarajO trabalho que d pra fazer que Todo mundo gosta de acarajTodo mundo gosta de abarNingum quer saber o trabalho que dTodo mundo gosta de abarTodo mundo gosta de acarajDez horas da noiteNa rua desertaQuanto mais distanteMais triste o lamento o abar

    % li(ao de CaImmi com os cultos afros 7 realada nas composi

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    Bota castanha de cajuUm bocadinho maisPimenta malaguetaUm bocadinho maisBota castanha de caju

    Um bocadinho maisPimenta malaguetaUm bocadinho maisAmendoim, camaro, rala um cocoNa hora de machucarSal com gengibre e cebola, iaiNa hora de temperarNo para de mexer, Que pra no embolarPanela no fogoNo deixa queimar

    Com qualquer dez mil ris e uma nga Se faz um vatapSe faz um vatapQue bom vatapBota castanha de cajuUm bocadinho maisPimenta malaguetaUm bocadinho maisBota castanha de cajuUm bocadinho maisPimenta malagueta

    Um bocadinho maisAmendoim, camaro, rala um cocoNa hora de machucarSal com gengibre e cebola

    Au em$ca+:

    \%caH de mil)o +emfeitoE o -eitoWE o modo dela mercarWorrindo com dentes alvos

    % +ata caindo do om+roCaindo pro peito%caH de mil)o +emfeitoE o -eitoWE o modo dela mercarWBemfeito 7 o acaH de leiteBemfeito 7 o acaHBemfeito 7 o corpin)o delaBemfeito como acaH]

    %s duas composi

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    ;uando na verdade revelam todo o fundamento do rito dos orixHs$CaImmi falou do c7u na perspectiva da um+anda em $randa de 4eraldo 5andr7 e Carlos&Ira:

    \Vai, vai, vai pra Aruanda

    Vem, vem, vem de LuandaDeixa tudo o que tristeVai, vai, vai, vai pra AruandaL no tem mais tristezaVai que tudo belezaOuve essa voz que te chamaVai, vai, vai

    CaImmi definiu a capital da Ba)ia em "o "al!ador:

    \So Salvador, Bahia de So Salvador

    A terra de Nosso SenhorPedao de terra que meuSo Salvador, Bahia de So SalvadorA terra do branco mulatoA terra do preto doutorSo Salvador, Bahia de So SalvadorA terra do Nosso SenhorDo Nosso Senhor do BonfimOh Bahia, Bahia cidade de So SalvadorBahia oh, Bahia, Bahia cidade de So Salvador

    A en)or do Bonfim citado na m*sica representa o curioso sincretismo do povo +aiano, poiso povo entra na '(re-a catlica pensando ;ue estH lidando com Cristo, en;uanto nosterreiros do oferendas para o orixH AxalH, o ancio da cultura ioru+H$

    E na composio Ora+o a Me Meninin(aCaImmi referese a sua filiao ao ax do4antois:

    \Ai! Minha meMinha me MenininhaAi! Minha me

    Menininha do GantoiseA estrela mais linda, heinT no gantoiseE o sol mais brilhante, heinT no gantoiseA beleza do mundo, heinT no gantoiseE a mo da doura, heinT no gantoiseO consolo da gente, aiT no gantoise

    E a Oxum mais bonita hein28

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    T no gantoiseOlorum quem mandou essa filha de OxumTomar conta da gente e de tudo cuidarOlorum quem mandou e ora i i

    CAN'1E/%E F'N%'

    Este estudo 7 um convite para ;ue os leitores con)eam a o+ra de 1orival CaImmi$Tmao+ra marcada pelo suor dos pescadores +aianos e pelos aromas apetitosos da ne(ras+aianas$

    OS VISSUN)OS! CLE&ENTINA DE 4ESUS E U& OUCO DE 'ILOLO)IANE)RA

    Este estudo visa analisar o (nero musical vissun(og e sua relao com a o+ra da sam+ista

    carioca Clementina de 6esus$ara tanto nos +aseamos no uplemento &iterHrio de inas4erais \Cantos %frodescendentes: 5issun(os] pu+licado em BE&A 2A/'XANE, ATTB/A1E #00M$ E1'`A EEC'%&$ EC/E%/'% 1E E%1A 1E CT&T/% 1E 'N% 4E/%'$

    am+7m pes;uisamos o ver+ete Clementina de 6esusg no site Qi9ip7dia, como tam+7mconsultamos os sites: \am+a h C)oro] e \Brazilianmusic$com]$

    1EF'N'`A 1E 5'TN4A

    Os !issngos esto 2ase desaparecendo /sto morrendo os pocos 2e sabiam Os mo+os 2e aprenderampor necessidade o por criosidade !o se es2ecendo E assim nos alerta!a $ires da Mata Mac(ado .il(o0por !olta de 19F80 2ando termina!a o manscrito de se estdo intitlado G O negro e o garimpo em Minas

    eraisH

    Camila DiniA

    As 5issun(os so se(undo a poeta e pes;uisadora Onia ueiroz:

    \=$$$?canti(as em l.n(ua africana ouvidas outrora nos servios de minerao], foramidentificados pelo pes;uisador %ires da ata ac)ado Fil)o em P#M nos povoados deo 6oo da C)apada e uartel do 'ndaiH, no munic.pio de 1iamantina, em inas 4erais$]

    E aprofunda a definio:

    \Entre P3P e PD0, %ires pu+licou em cap.tulos, na importante /evista do %r;uivounicipal, de o aulo, o resultado de sua pes;uisa so+re esses cantos de tradio+anto: ! canti(as, com \letra, m*sica e traduo, ou antes fundamentog], al7m dedois (lossHrios da \l.n(ua +an(uela] um deles extra.do dos cantos e o outro, do lin(ua-arlocal@ e ainda M cap.tulos de estudo so+re a cultura afro+rasileira no contexto dotra+al)o da minerao de diamantes$ % primeira edio em livro saiu em PD3 pela 6os7AlImpio, na coleo 1ocumentos Brasileiros, ao lado de t.tulos da maior relev>ncia,como os clHssicos /a.zes do Brasil, de 7r(io Buar;ue de 2olanda, e Casa (rande e

    senzala, de 4il+erto FreIre$ Autra marca do prest.(io dessa edio: conforme notano verso da fol)a de rosto, \foram tirados, fora do com7rcio, vinte exemplares empapel 5er(7, numerados e assinados pelo autor]$ % se(unda edio foi pu+licada pela

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    tam+7m presti(iosa Civilizao Brasileira, em PD$ Em PM!, a 'tatiaia, a mais anti(aeditora mineira, pu+licou com a edusp, na coleo /econ;uista do Brasil, uma edio;ue =a(ora sem a parceria da edusp? ainda se encontra no mercado$]

    E como o fillo(o %ires da ata ac)ado Fil)o classificava os 5issun(osW

    \e(undo %ires da ata ac)ado Fil)o, \dividemse os vissun(os em +oiado, ;ue 7o solo, tirado pelo mestre sem acompan)amento nen)um, e o do+rado, ;ue 7 a respostados outros em coro, Gs vezes com acompan)amento de ru.dos feitos com os prpriosinstrumentos usados na tarefa]$ No cap.tulo P, os vissun(os foram a(rupados em:padrenossos, cantos da man) =ou: ao nascer do dia?, canto do meiodia, canti(as demulta, canti(as de camin)o, canti(as de rede e de camin)o, pedindo licena para cantar,(a+ando ;ualidades =talvez e;uivalente

    +anto do ori9i da tradio ioru+H?, cantos de ne(ro enfeitiado, canti(a de ninar,canto do compan)eiro man)oso e, ainda, um (rupo de canti(as diversas$]

    2H uma conotao reli(iosa nos 5issun(osW

    \%l(uns vissun(os \parecem cantos reli(iosos adaptados G ocasio], talvez peloes;uecimento de seu si(nificado ori(inal, o+serva o pes;uisador$ as outrosconservam seu sentido m.sticoreli(ioso: \2H canti(as especiais para conduzirdefuntos a cemit7rios distantes] =das ;uais ele recol)eu trs exemplos? e )H canti(as,como os padrenossos, usadas na minerao e tam+7m nas cerimOnias de

    levantamento do mastro, nas festas reli(iosas$]

    um vissun(o mineiro uma forma de 8or9 son(g parecida com o spiritualsg e o +lues ne(roamericanoW 1e uma certa maneira sim, como podemos ver no estudo da poeta e

    pes;uisadora Onia ueiroz:

    \No cap.tulo M, dedicado ao estudo das canti(as, %ires ressalta \a necessidadeuniversal de tra+al)ar cantando]$ E associa G prHtica dos ne(ros de o 6oo da C)apadae uartel do 'ndaiH os cantos das col)eitas de uvas em ortu(al, das fiandeiras, doscapinadores de roa e dos mutirncio e

    o poeta e m*sico /icardo %leixo inclu.ram um desses catorze vissun(os no

    espetHculo e C1 uilom+os ur+anos: uri;uin)o pi;uinino, o canto # do livro de

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    %ires$ am+7m na releitura dos uilom+os ur+anos, os tam+ores no c)oram como pede ocoro, mas se aceleram num ritmo ;ue desH(ua no carnavalesco de aracan(al)a, cano;ue se se(ue ao vissun(o, em potpourri, na mesma faixa do C1$]

    %trav7s da ar(umentao de Onia ueiroz perce+emos o ;uanto 7 dif.cil res(atar (neros

    musicais ;uase es;uecidos$

    E atualmente )H al(um (rupo musical ;ue tra+al)e parte desse repertrio cultural emusicalW

    \%o final da d7cada de P0, a %ssociao Cultural Cac)uera (ravou, na voz de 'voilv7rio da /oc)a, contramestre do Catop de il)o 5erde =distrito do erro?, trs\cantos para carre(ar defuntos em redes], ;ue constituem a primeira faixa do C1Con(ado ineiro, lanado pela 'ta* Cultural, na s7rie 1ocumentos onoros Brasileiros$6untamente com as (ravancia do catop do il)o 5erdeW

    \1entre os mem+ros do catop de il)o 5erde, a pes;uisadora &*cia 5al7riaNascimento, ;ue investi(ou a so+revivncia dos vissun(os na re(io de 1iamantina eerrro no in.cio do s7culo SS', identificou, al7m do contramestre, outro cantadorproficiente: %ntOnio Crispim 5er.sssimo, ;ue demonstrava ainda al(um con)ecimentoativo da \l.n(ua +an(uela] ou \l.n(ua dg%n(ola], como a desi(navam os falantes G7poca dos re(istros feitos por %ires da ata ac)ado Fil)o$ notHvel a fora do

    canto e da dana na preservao do patrimOnio lin(J.stico e cultural$ Em outras palavras:desaparecido o ritual dos funerais feitos a p7 e o tra+al)o coletivo, as festas

    reli(iosas de crono(rama fixo especialmente a festa de N$ $ do /osHrio? passam adesempen)ar um papel essencial na preservao dos cantos de tradio africana eminas$]

    E )H al(um interesse atual na preservao desse patrimOnio )istricoW

    \A interesse na preservao desse patrimOnio )istrico e cultural +rasileiro e orecon)ecimento do papel relevante da %rte nesse processo tm levado al(uns artistas epes;uisadores a desenvolver estrat7(ias de valorizao e revitalizao das l.n(uas e

    culturas africanas ;ue foram vivas em inas no per.odo da minerao, reduzindose avest.(ios esparsos a partir so+retudo do s7culo SS$ A Festival de 'nverno da TF4 tem seconstitu.do num espao de experincias po7ticas transculturais ;ue contemplam a culturaafro+rasileira: em #00#, reuniramse em 1iamantina os dois cantadores devissun(os do erro e o (rupo am+olel, de Belo 2orizonte constitu.do por m*sicosne(ros ;ue tra+al)am com a po7tica afro+rasileira numa proposta de criao coletivainte(rando tradio e experimentao, ;ue resultou no espetHculo acuco Canen(ue,apresentado no adro da i(re-a do /osHrio, em 1iamantina@ e no documentHrio demesmo t.tulo, produzido pelo antroplo(o e videoma9er edro 4uimares, e mostradoao (rande p*+lico em Belo 2orizonte, no Centro Cultural am+olel e na sala2um+erto auro, no alHcio das %rtes, e no lar(o da i(re-a do /osHrio, no

    encerramento do Dj Encontro Cultural de il)o 5erde, distrito do erro@ em #00D,

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    foi realizada uma oficina de transcriao de vissun(os, articulada a outra, deEtnomusicolo(ia, com a participao dos dois cantadores de il)o 5erde e deestudantes an(olanos falantes de ;uim+undo e um+undo l.n(uas +anto faladas em%n(ola ;ue esto na +ase desses cantos afro+rasileiros@ em #00M, nos D0 anos doFestival de 'nverno da TF4, os vissun(os foram tema da instalao montada pelo N*cleo

    %vanado de Criao 'ntermidiHtico, ;ue reuniu profissionais das cinco artesenvolvidas$]

    % 1'EN`A &'N4T_'C% 1A 5'TN4A

    As 5issun(os so c>nticos filiados a tradio lin(J.stica +antfone$E so+re essa tradio aetnolin(Jista Zeda essoa de Castro diz:

    \Nos anos Y0, por7m, iniciase uma nova fase nos estudos afro+rasileiros com aredesco+erta da import>ncia do mundo +anto e de suas recriam+io com a Tniversidade Nacional do Xaire,inau(ura o ensino de l.n(uas do (rupo +anto no Brasil com o curso de ;uicon(oministrado pelo professor con(ols Nlandu Ntotila$ Em PM0, e por dez anos, esse

    curso ficou so+ a responsa+ilidade docente de um de seus alunos, ata /aimundoires, ;ue era mem+ro da comunidade reli(iosa de tradio con(oan(ola$ %tualmenteesse curso 7 oferecido pelo %CB%NT, entidade afro+aiana dedicada aos estudos dastradi

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    atam+a, em %n(ola atual$]

    % tradio +antfone influenciou de al(uma maneira a cultura +rasileiraW

    \% anti(Jidade dessa presena favorecida pelo n*mero superior do elemento +anto

    na composio demo(rHfica do Brasil colonial, tanto ;uanto por sua concentrao emzonas rurais, isoladas e naturalmente conservadoras, onde o recurso de li+erdade era afu(a para os ;uilom+os, foram importantes fatores de ordem scio)istrica ;ue tornarama participao +anto to extensa e penetrante na confi(urao da cultura e da l.n(uarepresentativas do Brasil ;ue aportes de matriz +anto, como o sam+a e a capoeira,terminaram inte(rados ao patrimOnio nacional como s.m+olos de +rasilidade$]

    E ;uais seriam os exemplos de so+revivncia +antfone na nossa culturaW

    \%inda )o-e )H re(istro de falares isolados em comunidades rurais, provavelmentevest.(ios de anti(os ;uilom+os, ;ue preservam um sistema lexical +anto, a exemplo da

    lin(ua(em do Cafund em o aulo =cf$ 5o(t e FrI, PP?, do ne(ro da costa ema+atin(a, inas 4erais =cf$ ueiroz, PPM? e nos vissun(os recol)idos por %ires da ataac)ado Fil)o em o 6oo da C)apada e mais recentemente por &*cia Nascimento nomunic.pio de erro, tam+7m em inas 4erais =cf$ ac)ado Fil)o, PD@ Nascimento,#00#?$ 'mportante notar ;ue se trata de falares de +ase portu(uesa lexicalizados porl.n(uas do (rupo +anto, assinalandose, no entanto, a evidncia de lexemas da zonalin(J.stica /, na classificao de 4ut)rie, onde o um+undo, falado em Ben(uela, no Centroul de %n(ola, 7 ma-oritHrio$]

    E para a etnolin(uista Zeda essoa de Castro o ;ue representa os vissun(osW

    \os vissun(os so identificados pelos seus falantes como l.n(ua +an(uela$ Em seuvoca+ulHrio predominam su+stantivos prefixados pela vo(al o, um anti(odemonstrativo ;ue os +antu.stas c)amam de aumento, entre eles, o um+undo on-o,casa, mas ;ue ocorre com o termo ;uim+undo n-o na con)ecida +rincadeira infantil+rasileira dos escravos de - =os escravos dom7sticos? ;ue -o(avam caxan(H =cf$essoa de Castro, #00Y?$ % prpria denominao vissun(o corresponde ao su+stantivoum+undo ovisun(o, plural de ocisun(o, ;ue si(nifica louvores e ocorre (eralmente na

    expresso im+a ovisun(o, cantar, louvar, exaltar =cf$ 1aniel, #00#, sUv$?$]

    E como a etnolin(uista entende o processo de influncia dos falares africanos na l.n(uaportu(uesaW

    \uanto ao influxo de l.n(uas africanas no portu(us do Brasil, sem d*vida, a partedos falares de +ase +anto foi a mais si(nificativa no processo de confi(urao dasdiferenas ;ue afastaram o portu(us do Brasil da sua matriz falada em ortu(al$ Kmedida ;ue a profundeza sincrOnica revela uma anti(uidade diacrOnica, essa influnciatornase mais evidente pelo (rande n*mero de palavras do +anto completamenteinte(radas ao sistema lin(J.stico do portu(us e de derivados portu(ueses formados deuma mesma raiz +anto por meio de prefixos ou sufixos, tais como em nlee9e, menino,

    -ovem, ;ue derivou em mole;ue,e depois amolecar, mole;uin)o, molecote$ Emoutros casos, o lexema +anto c)e(a a su+stituir completamente a palavra

    portu(uesa

    e;uivalente, como caula por +en-amim,corcunda por (i+a, morin(a por +il)a,

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    marim+ondo por vespa, coc)ilar por dormitar, +unda por traseiro$]

    E como ela v o processo de \ioru+acentrizao] dos estudos ne(ros +rasileirosW

    \endo assim, em+ora se-a verdadeiro ;ue esse processo de africanizao se deva

    em (rande parte G extenso e ocupao territorial, densidade demo(rHfica eanti(uidade do povo +anto em territrio colonial +rasileiro, no se deve c)e(ar ao extremode ;uerer \+antuizar] o Brasil como forma de contrapor o \ioru+acentrismo] ;ue temprevalecido nos estudos afro+rasileiros$ Tma correta interpretao das culturas ne(roafricanas, de seus cdi(os, seu conse;Jente res(ate do >m+ito meramente folclrico oul*dico, sua valorizao e ade;uada difuso permitiro ;ue o avano do entendimento daparte do le(ado +anto para a formao e sentido do Brasil passe a ser vis.vel e expl.cito,revertendo os esteretipos vi(entes em nossa academia$ %l7m do mais, o estudo

    lin(J.stico desses falares afro+rasileiros, apoiado pelas informantico, trazem su+s.dios importantes paraa confi(urao do mapa etnolin(J.stico africano do Brasil$ %;ui estH a prova do ;ue

    nos dizem os vissun(os so+re a presena dos ovim+undos, povo ori(inHrio deterritrios do anti(o reino de Ben(uela, em terras de inas 4erais$]

    B/E5E %NA/%% 1% AB/% 1E C&EEN'N% 1E 6ET

    % sam+ista carioca Clementina de 6esus nasceu em 5alena em Y de Feveiro de P0 emorreu em /io de 6aneiro em PMY aos M anos$am+7m era con)ecida como ina ouuel7$

    Nascida na comunidade do Caram+ita, +airro da periferia de 5alena, no sul do /io de6aneiro, mudouse com a fam.lia para a capital aos oito anos de idade, radicandose no

    +airro de Asvaldo Cruz$ &H acompan)ou de perto o sur(imento e desenvolvimento da escolade sam+a ortela, fre;uentando desde cedo as rodas de sam+a da re(io$ Em PD0 casouse e mudou para a an(ueira$ ra+al)ou como dom7stica por mais de #0 anos, at7 ser"desco+erta" pelo compositor 2erm.nio Bello de Carval)o em P3, ;ue a levou paraparticipar do s)o8 4osa de Oro, ;ue rodou al(umas das capitais mais importantes do Brasile virou disco pela Adeon, incluindo, entre outros, o -on(o BengelI$ 1evota da '(re-a deNossa en)ora da 4lria do Auteiro, participava de festas das i(re-as da en)a e de o6or(e, cantando can0 artido Clementina de >ess, em PYY, deautoria do compositor da ortela Candeia$

    %l7m deste (nero (ravou corimHs, -on(os, cantos de tra+al)o etc$, recuperando a memriada conexo afro+rasileira$ Em PM, com a produo de 2erm.nio Bello de Carval)o,re(istrou o )istrico & ente da $ntigaao lado de ixin(uin)a e 6oo da Baiana$ 4ravoucinco discos solo =dois com o t.tulo Clementina de >ess,Clementina0 CadI #ocI@eMarin(eiro "? e fez diversas participa$ Em PM3 foi )omena(eada por um espetHculo no eatrounicipal do /io de 6aneiro, com a participao de aulin)o da 5iola, 6oo No(ueira, Elizet)Cardoso e outros nomes do sam+a$

    /ain)a 4in(a$ uel7$ 1uas maneiras de c)amar Clementina de 6esus, com a imponncia do

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    t.tulo de realeza e com a corruptela carin)osa de seu nome$ Clementina evocava taissentimentos aparentemente contraditrios$ % ternura e o profundo respeito$

    % ternura de ne(ra vel)a sorridente$ odos com ;uem se envolvia tin)am a compulso dec)amHla e, como a c)amavam os m*sicos do musical /osa de Auro$ Tma pessoa capaz

    de interromper um depoimento dado G televiso para discutir so+re o caf7 com a moa ;ueo servia$ Tm +ril)o especial nos ol)os ;ue cativou desde os mais )umildes ao imperador2aile elassi7$ alvez por ter tra+al)ado tantos anos como empre(ada dom7stica e tercomeado a carreira art.stica aos 3 anos, desco+erta pelo poeta 2erm.nio Bello deCarval)o, nunca tratava de forma diferente devido G posio social$

    A respeito ao peso ancestral de sua voz: uma [frica ;ue estava dilu.da em nossa cultura 7evocada su+itamente na voz e nos c>nticos ;ue Clementina aprendeu com sua me, fil)a deescravos$ Clementina sur(iu como o elo perdido entre a moderna cultura ne(ra +rasileira ea [frica e$

    Clementina causou uma fascinao em +oa parte da B$ %rtistas to diferentes como 6ooBosco, ilton Nascimento e %lceu 5alena fizeram ;uesto de re(istrar sua voz em seusHl+uns$ %pesar disso Clementina nunca foi um (rande sucesso em venda(em de discos$alvez por ter (ravado ;uase ;ue somente temas folclricos, ou por sua voz no o+edeceraos padr

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    CAN'1E/%E F'N%'

    No foi o+-etivo deste estudo su+stituir a consulta G o+ra do fillo(o %ires da ataac)ado Fil)o \A Ne(ro e o (arimpo em inas 4erais] nem su+stituir a escuta do C1 \A

    Canto dos Escravos] de Clementina de 6esus, 1oca e 4eraldo Filme da 4ravadoraEldorado$as ser um convite para ;ue o leitor con)ea essas o+ras e mer(ul)e na ri;uezada contri+uio musical e lin(uistica do povo ne(ro +rasileiro$

    O SA&,A &ACHO2&AN DE RO,ERTO SILVA

    Este estudo 7 uma anHlise da o+ra do sam+ista carioca /o+erto ilva$ E foi inteiramente

    +aseado numa colet>nea se(mentada lanada pela 4ravadora E', cu-o t.tulo 7 \/a.zes do

    am+a /o+erto ilva]$

    al pro-eto de colet>nea foi coordenada por onia %ntunes e aur.cio 1ias$ E o repertrio

    foi uma seleo de Carlos avalla$

    /o+erto ilva no 7 compositor, mas int7rprete de sam+as ur+anos$ elo menos se compOs

    al(o na vida, Carlos avalla deixou de fora da colet>nea ou talvez se ;uer foi (ravado no seu

    potente vozeiro$

    /o+erto ilva 7 um sam+ista nona(enHrio da vel)a (uarda e ;ue na capa da colet>nea

    revela como seu ima(inHrio estH li(ado G +omia carioca, -H ;ue na capa o sam+ista aparece

    numa foto vestido socialmente =como diziam os mais anti(os : vestido decentemente?$ Na

    foto tirada provavelmente na meia idade ;uem sa+e at7 mais moo, o pro+lema 7 ;ue

    esses )omens de anti(amente se vestiam com tanta formalidade e solenidade, ;ue a roupa

    aca+ava os envel)ecendo nas fotos /o+erto ilva posa tendo o +onde e o %rco da &apa

    por trHs$

    A sam+ista de 4isoleta=/aul ar;uesUoacIr Bernardino? comeou a (ravar na d7cada de

    0 e a maioria dos sam+as da colet>nea citada so setentistas$as mesmo tendo (ravado

    nos anos 0, o sam+a de /o+erto ilva tem um sa+or nostHl(ico e um c)eiro li(eiramente

    envel)ecido$alvez isso se d pelo fato do int7rprete ter escol)ido compositores das d7cadainiciais do s7culo SS$Au por uma certa fixao nos anos D0 e !0$poca em ;ue a m*sica

    popular +rasileira 7 con)ecida pelo povo como \m*sica de dor de cotovelo], ou, mais

    pe-orativamente, o povo se refere a esse per.odo musical como \m*sica de corno]$

    uais so as temHticas cantadas pelo sam+ista cariocaW /o+erto ilva escol)eu cantar os

    males e dores do amor$ Nelas )H muito espao para desilus

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    com um ;uesito peculiar ;ue o diferencia de um Nelson 4onalves ou um Francisco %lves: o

    fato de ser um ne(ro po+re e tra+al)ador, lidando com ne(ras ou mulatas malvadas $

    Ml(er 2e e gosto=Ciro de ouzaUQilson Batista? e a endia+rada /isoleta$

    /o+erto ilva em sua 7poca foi um dos poucos ne(ros ;ue conse(uiu atin(ir o p*+lico

    +ranco pelo enorme potencial de sua voz$ E tam+7m por;ue cantava a;uilo ;ue os mac)

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    \1esde o dia ;ue passeiUnuma es;uinaUe pisei num despac)oUentro no sam+aUmeu

    corpo tH duroU+em ;ue procuro a cadnciaUe no ac)oUmeu sam+a e meu versoUno

    fazem sucessoU)H sempre um por7m com a (afieiraUfico a noite inteiraU no fim no

    dou sorte com nin(u7mUmas eu vou num cantoUvou num pai de santoUpedir

    ;ual;uer diaU;ue me d uns passesUuns +an)os de ervasUe uma (uiaUestH a;ui um

    endereoUum sen)or ;ue eu con)eoUme deu )H trs diasUo mais vel)o 7 +atataU diz

    tudo nas atasU 7 uma casa em Caxias]

    Na composio ;ue no 7 de /o+erto ilva, no se sa+e claramente ;ue tipo de culto o

    persona(em vai se consultar$ No conse(uimos sa+er textualmente se estH falando da

    um+anda, da ;uim+anda ou do candom+l7$as como se trata do /io de 6aneiro )H uma

    (rande pro+a+ilidade ;ue os compositores este-am se referindo a uma casa de um+anda,

    ;ue 7 um culto tipicamente carioca ;ue se espal)ou para o resto do pa.s e sofrendo

    adaptaaneiro #R edio

    /io de 6aneiro: ecretaria unicipal de Cultura, 1ep$ 4eral de 1oc$ e 'nf$ Cultural, 1iviso

    de Editorao, PP! 7 um excelente roteiro para se entender como se deu o sur(imento

    da um+anda carioca no contato com +a+alorixHs e IalorixHs vindas da diHspora +aiana$ 5ale

    a pena ser lida, pois 7 uma o+ra ;ue esmi*a +em os aspectos reli(iosos,

    pol.ticos,antropol(icos e musicais da;uele per.odo$

    as e ;uanto ao sam+a \isei num 1espac)o]W Bem$ 1espac)o 7 um termo muito prprio

    da um+anda ou macum+a carioca pr7um+andista =No podemos es;uecer ;ue a um+anda

    sur(iu somente nos anos 0 do s7culo SS?$ %nteriormente a isso os descendentes de

    escravos cariocas -H se reuniam su+terr>nea e mar(inalmente num culto mH(ico con)ecido

    como macum+a$ e os compositores fossem li(ados ao candom+l7 teriam usado o termo

    e+, o ;ue aca+a automaticamente filiando a cano ao ima(inHrio mesmo da

    um+anda$Nela se cruzam dois universos: o secular, o profano=fre;Jentar ca+ar7s e

    (afieiras? e o sa(rado =fre;Jentar pai de santo?, como 7 t.pico das popula

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    as para dizer mais coisas eu deveria ser carioca, afinal tendo ido ao /io de 6aneiro uma

    *nica vez na vida, no dH para analisar com propriedade se essa faixa revela mesmo um

    -eito carioca de ser ou se fal)a em al(uma coisa$ % min)a suposio 7 de isei nm

    Despac(ono s define +em essa \cario;uicidade] ;ue eu con)eo na prHtica

    superficialmente ;uando fui no /io fi;uei apenas 0 dias lH e muito dentro de onde estava

    sendo realizado um evento estudantil universitHrio, eu por exemplo no con)eci a \noite

    +omia] carioca mas define muito +em a c)amada +rasilidade$ E a peculiaridade do

    c)amado \-eitin)o +rasileiro] tem muito a ver com essa constante sensao de viver na

    corda +am+a ou no fio da naval)a$ois o Brasil 7 um pa.s po+re em termos de distri+uio

    de renda e ri;u.ssimo em termos de renda concentrada$%ssim, a experincia de ser

    +rasileiro passa ;uase sempre pela escassez material e pela enorme criatividade espiritual$

    ;uando se faz perce+er um Estado ausente no atendimento da pen*ria dos mais po+res e

    presente apenas na criminalizao de ;uando esses mais po+res se or(anizam e tam+7m

    numa iniciativa privada mes;uin)a e elitista, ;ue define o -eito +rasileiro de ser e pertencer$

    /o+erto ilva representa muito +em o ima(inHrio masculino, ne(ro e po+re do Brasil de

    uma certa 7poca, ;ue talvez ainda so+reviva com fora na roda de conversas de vel)os

    aposentados -o(ando cartas, domin e \porrin)a]$ A tra+al)o do sam+ista merece ser

    ouvido, a voz dele 7 potente, os arran-os so interessantes e so uma forma de mer(ul)ar

    na )istria ne(ra +rasileira$

    A CARTA DO OVO DE TERREIROS W DIL&A CANDIDATA

    "e apetece ao TLter poderHTom em >ardim da ol-ticaH no ano de 1985

    Este texto pretende analisar a Carta do ovo radicional de erreiros endereada a aindacandidata 1ilma /usseff, datada de M de Autu+ro de #00, Bras.lia$

    No comeo da carta o enunciador avisa ;ue a carta 7 fruto de consulta a lideranasnacionais do ovo radicional de erreiros e ;ue o o+-etivo da mesma 7 expressar osentimento dominante do ovo radicional de erreiro, ainda ;ue o enunciador recon)ea;ue a mesma no se-a um consenso$

    A enunciador diz:

    \'ne(avelmente sua candidatura G presidncia da /ep*+lica 7 o ;ue)H de mais se(uro para o ovo radicional de erreiro$]

    Em+ora o texto no cite, talvez o enunciador estivesse se referindo indiretamente Gcandidatura da evan(7lica arina ilva$

    No terceiro parH(rafo o enunciador situa o ovo radicional de erreiro em relao G

    candidatura de 1ilma /usseff:

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    \Nosso ovo de erreiro efetivamente se movimentou no primeiro turno a seufavor, mas sem rece+er nen)um apio oficial dos comits responsHveis por sua campan)a@em poucas cidades especialmente nas capitais, esse processo se deu de formadiferenciada, mas o ;ue predominou foram situao como a de anaus, o material de

    divul(ao voltado a opulao Ne(ra s c)e(ou as mos das lideranas de erreirotrs dias antes da votao, um completo e total descaso para conosco$]

    E a partir da alfinetada nos or(anizadores da campan)a da ento candidata do artido dosra+al)adores, o enunciador revela a +aixa autoestima )istrica da populao ne(ra doBrasil$

    A enunciador compara o uso midiHtico ;ue a campan)a fez -unto ao se(mento catlico eevan(7lico e ao se(mento do ovo radicional de erreiros:

    \5imos com muita preocupao ;ue nos *ltimos dias um esforo concentrado de

    sua coordenao de campan)a, em mudar a ima(em ne(ativa for-ada -unto aoscristos catlicos e, principalmente, evan(7licos$ am+7m o+servamos com pesar ;uedurante toda a campan)a do primeiro turno os seus encontros com as comunidadesevan(7licas e catlicas (an)aram (rande espao -unto G m.dia$

    e o mesmo tipo de encontro se deu -unto ao ovo de erreiro no primeiro turnoou a(ora no se(undo, isso se fez de forma muito t.mida, sem nen)uma divul(ao oudesta;ue$ corrente o pensamento de ;ue um encontro da sen)ora conosco l)e tirariavotos de evan(7licos radicais$]

    A enunciador emite o seu parecer so+re um encontro apenas com lideranas evan(7licas da

    ento candidata:

    \A seu recente encontro com pastores evan(7licos no nosso entendimento foi uminfeliz episdio$ Com toda a certeza seu compromisso com o (rupo l)e renderHvotos, mas com toda a certeza l)e fez perder muitos votos do ovo radicional deerreiro, do ovimento &4B catlicos e a sociedade em (eral por conta de ter sido umencontro com apenas e to somente com evan(7licos$]

    %ssim, o Enunciador situa o ovo radicional de erreiros com outro se(mento populacionaltam+7m discriminado na nossa cultura: os &4B =&7s+icas, 4aIs, Bissexuais e rans(neros?$

    E o enunciador conclui o resultado l(ico de tal estrat7(ia da direo da campan)a dacandidata 1ilma /usseff:

    \A resultado de tal iniciativa foi um si(nificativo e crescente n*mero demanifesta

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    demanda social$]

    A enunciador emite o seu parecer so+re a inclinao de 1ilma a ceder so+ a presso dossetores evan(7licos em relao G ;uesto do %+orto e da arceria Civil entre pessoas domesmo sexo:

    \% partir do momento em ;ue a candidata assinalou pactuar com o pensamentodos pastores evan(7licos, em ;uest

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    radicional de erreiros$E o ;ue 7 pior atri+ui ao Estado G culpa por essa po+reza pol.tica nosentido ;ue fala a o+ra de edro 1emo$

    A enunciador emite o seu parecer so+re um poss.vel impasse eleitoral para o ovoradicional de erreiros:

    \odo esse ;uadro acima descrito aumentou nossa apreenso e dificultou a +uscade votos no meio do ovo radicional de erreiro, temos ouvido ar(umentos de ;ueem sendo a sen)ora eleita, isso decerto, alavancarH o prest.(io dos evan(7licos -unto apopulao +em como -unto ao prprio (overno$ A ;ue para as demais reli(incia vi(ente no pa.s$

    2H poucos dias da eleio entendemos ;ue seria dif.cil articular uma *nica reunioda en)ora com lideranas reli(iosas nacionais do ovo radicional de erreiro@entendemos ;ue nesse momento precisamos l)e +lindar$ ual;uer movimentopoderH ser mal interpretado$]

    A enunciador faz um +alano da c)amada \Era ] para a populao ne(ra +rasileira:

    \Nosso apio a sua candidatura 7 fato concreto, acreditamos ;ue a en)ora 7 amel)or opo de continuidade das ancia/eli(iosa

    ! % continuidade, ampliao e Efetivao do mapeamento do ovo radicional de

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    erreiro no >m+ito dos Estados, de forma censitHria, identificando as matrizes culturais$

    % reviso do Estatuto da '(ualdade /acial onde se-a ouvida a opulao Ne(ra esuas demandas$]

    Nessa altura da anHlise comeamos a perce+er o ;ue 7 valorizado pelo ovo radicional deerreiros a sa+er: interreli(iosidade, laicidade, e;uanimidade reli(iosa e com+ate aintoler>ncia reli(iosa, ou se-a, tudo a;uilo ;ue o astor ilas alafaia odeia$ %l7m disso ossi(natHrios da carta parecem no terem receio pol.tico nen)um do povo ne(ro ser mapeadoe rastreado pelo Estado$

    % carta teve vHrios si(natHrios$Entre eles citar.amos o primeiro ;ue deve ser do culto danao 1-ed-e: 1r$ %l+erto 6or(e /odri(ues da ilva 5odunsi /e /o)sovi ue 7 responsHvelpela Coordenao %mazOnica da /eli(io de atriz %fricana e %mer.ndia Carma e tam+7mrepresentante da Federao Nacional da /eli(io de atriz %fro+rasileira FEN%/E%$

    as tam+7m no poder.amos deixar de destacar ;ue, entre n*meros representantes dediversos se(mentos afro+rasileiros, a carta contou com o apoio do indicato dos siclo(osdo %mazonas e da Federao Nacional dos siclo(os =entidade filiada G CT?$endo assimtal apoio funciona como uma esp7cie de le(itimao cient.fica aos credos afro+rasileiros,al(o como dissesse ;ue ir para macum+a faz +em a mente$

    uais so os pro+lemas ;ue identificamos nessa cartaW 5amos a eles$A ;ue fica patente 7;ue o ovo radicional de erreiros sempre foi su+serviente G ol.tica, ao Estado +ur(us$E+asta lem+rar nos tempos da ditadura militar no CearH, a relao prom.scua de pais desanto um+andistas com a &uiza Hvora=do finado 1? uma relao de su+servicia pol.ticasem d*vida$Como se o povo de santo no pudesse camin)ar com as prprias pernas e

    precisasse dos favores clientelistas dos pol.ticos, criando uma relao de dependnciatotalmente nociva$

    e o povo de santo fosse realmente or(anizado deveria lutar no por se inte(rar a l(ica damH;uina (overnamental, mas de prescindir da mesma$

    \ovo or(anizado, luta sem partido e vive sem estado]

    Diz a palavra de ordem anarquista.E eu concordo com isso.

    Como esperar um verdadeiro protagonismo poltico enquanto se espera por tutelasgovernamentais? Ser a populao negra to eternamente coitadinha e vitimizada a

    depender sempre dos favores do sistema governamental? No poder nunca essamesma populao lutar com suas prprias foras?

    Entretanto, reconheo que se vivemos num sistema capitalista mediado por taxas epagamentos de impostos compulsrios, temos de saber o que acontece com o erriopblico. E saber que esse errio pode parar nas mos da mfia evanglica realmentepreocupante.E nisso me solidarizo com os signatrios da carta.

    Mas extremamente incmoda essa grau de expectativa e ansiedade em relao aoPT.E eu vou explicar por que, embora eu seja um pouco suspeito porque eu j fuifiliado a esse partido e fiz parte do grupo poltico Democracia Socialista, da qual a

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    Prefeita de Fortaleza Luiziane Lins fez ou faz parte (digo isso porque como me afasteidesse grupo, no sei dizer se o mesmo ainda existe com esse nome e seguindo oparadigma do mandelismo ou se o grupo se reconfigurou politicamente ou se fundiu aoutras correntes do PT, realmente no sei informar isso).O que sei informar que jem 2000 rompi com o PT porque queria algo mais radical e fui parar no campo da

    chamada esquerda no-oficial.Se o meu nome ainda estiver oficialmente nos arquivosdo partido no sei dizer, j que no me importei nem em rasgar a ficha de filiaopartidria.Simplesmente me afastei e pronto.

    Ns anarquistas temos um parecer contrrio Poltica institucional, pois como diziamos ativistas da Internacional Situacionista no Maio Francs: Poltica subalternidade.Escolher poltica estupidez!. Desse modo, o anarquista livre parano comparecer no dia da eleio ou votar nulo. Mas pode dependendo da conjunturaescolher votar num candidato menos ruim e vou explicar quando isso aconteceu e omotivo.

    Num dos pleitos eleitorais franceses, havia uma grande probabilidade de ser eleito orepresentante da extrema direita, Jospein. Assim, alguns anarquistas franceses que jconheciam os horrores das prises francesas , resolveram votar no candidato daesquerda burguesa da poca.

    Sendo assim, devo confessar que depois que me tornei anarquista nunca mais fizcampanha para nenhum candidato, mas s votei nulo no primeiro turno da primeiraeleio vitoriosa de Lula.De l para c tem sempre havido no pleito presidencial ou nopleito municipal uma polarizao entre a extrema direita e a esquerda burguesa.Comotenho receio de um facho (fascista) no poder, seja ele Geraldo Alckmin ou MoroniTorgan, acabo mesmo sem fazer campanha, votando na candidatura da esquerda

    burguesa.Desse modo, em 2004 eu votei em Luiziane Lins e voltei a votar nelanovamente em 2008.Pois temia ver a cidade governada por um xerife evanglico ehomofbico, que tem na fetichizao da questo da segurana pblica o seu carrochefe ideolgico-partidrio.

    Em 2010, eu votei mas no fiz campanha para Dilma Rosseff e cheguei at a falarnisso para os meus decepcionados amigos anarco-punks.No me agradava de jeitonenhum ver um Jos Serra, ligado aos setores mais conservadores e reacionrios domomento, governando o pas e prendendo ou criminalizando barbaramente ativistasanarquistas.Ainda que essas criminalizaes tambm ocorram dentro da denominadaEra PT s que sem a mesma intensidade.Alm disso, o tal do Jos Serra contou como apoio do mega empresrio evanglico, Silas Malafaia.Sim, o conhecido Malafaiaque gosta de humilhar homossexuais e outras minorias sexuais identitrias nas suaspregaes miditicas com tom zangado e histrico.

    No posso exigir do Povo Tradicional de Terreiros uma guinada anti-estatista ouanticapitalista radical. J que a maioria dos lderes desse segmento populacional sevem como prestadores de servios religiosos e no como lideranas comunitrias.Sehouvesse uma conscincia da inegvel dimenso poltica de um Il, de um Nzo ou deum Terreiro eu poderia esperar mais coisa, mas como essas pessoas se vm apenascomo empresas concorrentes no nem sempre civilizado mercado religioso (conferir aobra do socilogo Reginaldo Prandi), de se esperar isso mesmo: uma vontade danada

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    de ser tutelado seja l por quem for, seja um governo de direita ou de esquerda.

    Embora os signatrios da carta usem a categoria empoderamento, o que menosacontece na prtica isso.Ocorre justamente o contrrio: cada vez mais a sociedadecivil desempoderada e o Estado e as instituies burguesas cada vez mais poderosas.

    Eu poderia aprofundar um pouco mais o que penso da chamada Era PT iniciada em2002 e continuada em 2011 por Dilma Russeff.Mas vou s dar umaspinceladas.Desde 2002 que no espero muito coisa do Partido dos Trabalhadores eisso ficou muito claro quando o Lula fez aliana com Edir Macedo e sua empresaUniversal e teve como vice um burgus da marca do Jos Alencar.Naquele momentopara mim ficou selado os rumos burgueses do PT, que como diz a msica do Tom Zsempre quis poder seja ao lado de quem fosse.

    O PT no poder beneficiou os banqueiros e penalizou o funcionalismo pblico federal.O PT no poder tem o T de Transgnico, j que o paradigma agrcola do Partido a

    segurana alimentar a qualquer custo, ainda que signifique um custo ambiental.O PTno poder no combateu o agro-business e nem a prtica da monocultura visivelmente responsveis pelo envenenamento e empobrecimento dos solos.O PT nopoder tem uma enorme simpatia por mega-projetos estruturantes que podem penalizarvilas de pescadores, aldeias quilombolas, povos indgenas, comunidades ribeirinhascomo a Transposio do Rio So Francisco, as Hidrovias, as Hidroeltricas, asSiderrgicas, as Refinarias e principalmente o poluidor Pr-Sal, a menina dos olhosdo governo Dilma Russeff.

    Eu poderia continuar a lista, mas a fugiria um pouco do tema e cansaria o leitor quej entendeu claramente onde quero chegar

    O RO,LE&A DO DESTINO NA CINCIA! NA CULTURA IORU,Y E NAASTROLO)IA

    \1E'NA =(r$ _&'%&'5/@ lat$ Fatum@ in$ 1estinI,fr$ 1estin@ ai$ 4esc)ic9, c)ic9sal@ it$ 1estino?$%o necessitante ;ue a ordem do mundoexerce so+re cada um de seus seres sin(ulares$Na sua formulao tradicional, esse conceitoimplica: 'R necessidade, ;uase sempre descon)ecidae por isso ce(a, ;ue domina cadaindiv.duo do mundo en;uanto parte da ordem

    total@ #R adaptao perfeita de cada indiv.duoao seu lu(ar, ao seu papel ou G suafuno no mundo, visto ;ue, como en(rena(emda ordem total, cada ser efeito para a;uilo;ue faz$0 conceito de 1$ 7 anti;u.ssimo e +astantedifundido, por;ue compartil)ado por todas asfilosofias ;ue, de al(um modo, admitem umaordem necessHria do mundo$ %;ui s faremosaluso Gs ;ue desi(nam explicitamente essaordem com o termo em ;uesto$ A 1$ 7 noodominante na filosofia estica$ Crisipo, osidOnio,Xeno, Boeto o recon)eceram como a"causa necessHria" de tudo ou a "razo" pela

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    ;ual o mundo 7 diri(ido$ 'dentificavamno coma providncia =1i4$ &$, 5'', DP?$ As esticoslatinos retomam essa noo e apontam seus reflexosmorais =qNEC%, Natur$ ;uaest$, '', 3, D!@%/CA %T/&'A, emrias, 'S, !?$ e(undolotino, ao 1$ ;ue domina todas as coisas exterioress escapa a alma ;ue toma como (uia"a razo pura e impass.vel ;ue l)e pertence depleno direito", ;ue )aure em si, e no no exterior,o princ.pio de sua prpria ao =Enn$, ''',,P?$ ara lotino, a providncia 7 uma s: nascoisas inferiores c)amase 1$@ nas superiores,providncia i+id$, ''', 3, !?$ 1e modo anHlo(o,para Bo7cio =;ue com a Consolao da filosofiatransmitia esses pro+lemas G EscolHstica latina?,1$ e providncia s se distin(uem por;uea providncia 7 a ordem do mundo vista pelainteli(ncia divina e o 1$ 7 essa mesma ordemdesdo+rada no tempo$ as no fundo a ordemdo 1$ depende da providncia =)il$ cons$, '5,

    ,0?$ A livrear+.trio )umano su+traise da providnciae do 1$ s por;ue as a

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    interpreta a necessidade do devir csmicocomo vontade de reafirmao: desde a eternidadeo mundo aceitase e ;uerse a si mesmo,por isso repetese eternamente$ as o )omemdeve fazer al(o mais ;ue aceitar esse pensamento:deve ele prprio prometerse ao aneldos an7is: " preciso fazer o voto do retorno desi mesmo com o anel da eterna +no de si eda eterna afirmao de si@ 7 preciso atin(ir avontade de ;uerer retrospectivamente tudoo ;ue aconteceu, de ;uerer para a frente tudoo ;ue acontecerH" =Qille zurac)t, ed$ P0, 3M!?$ Esse 7 o amorfati, no ;ual Nietzsc)e va "frmula da (randeza do )omem"$ 2eide((erno fez seno exprimir o mesmo conceito aofalar do 1$ como deciso autntica do )omem$1$ 7 a deciso de retornar a si mesmo, de transmitirse a si mesmo e de assumir a )erana daspossi+ilidades passadas$ "% repetio 7 a transmissoexpl.cita, ou se-a, o retorno a possi+ilidades

    do sera. ;ue -H foram" =e.n und Xeit, YD?$ Nesse sentido, o 1$ 7 "a )istoricidadeautntica": consiste em escol)er o ;ue -H foiescol)ido, em pro-etar o ;ue -H foi pro-etado,em reapresentar para o futuro possi+ilidades;ue -H foram apresentadas$ , em outros termos,a vontade da repetio, o recon)ecimentoe a aceitao da necessidade$ Esse conceitovolta em 6aspers, ;ue, no entanto, expressaocom referncia G identidade esta+elecida entreo eu e sua situao no mundo$ A 1$ 7 a aceitaodessa identidade: "%moo como me amopor;ue s nele estou cOnscio de meu existir"$%;ui tam+7m o 1$ nada mais 7 ;ue a aceitao

    e o recon)ecimento da prpria natureza danecessidade, ;ue, para 6aspers, 7 a identidade do)omem com sua situao =)il, '', p$ #M ss$?$Essa *ltima noo de 1$ exprime +em certastendncias da filosofia contempor>nea$ Na ori(emde sua lon(a tradio, essa noo implicava:lP uma ordem total ;ue a(e so+re o indiv.duo,determinandoo@ # o indiv.duo no seaperce+e necessariamente da ordem total nemde sua fora necessitante: o 1$ 7 ce(o$ A conceitocontempor>neo eliminou am+as as caracter.sticas$ara ele: ls a determinao necessitanteno 7 a de uma ordem =nem mesmo

    para Nietzsc)e?, mas a de uma situao, a repetio@e # o 1$ no 7 ce(o por;ue 7 o recon)ecimentoe a aceitao deli+erada da situaonecessitante$]

    %BB%4N%NA, Nicola$ 1icionHrio de Filosofia$ !R edio raduo: 'vone Castil)o Benedetti o aulo:artins Fontes, #00Y$

    Este estudo 7 muito complexo por;ue pretende dar conta do pro+lema conceitual do1estinog nas cincias, na Filosofia, na sa+edoria dos povos ioru+anos da [frica e nasa+edoria dos in*meros povos ;ue desenvolveram a %strolo(ia =dos mesopot>micos aos

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    (re(os em particular?$ E isso pode tornar o texto extremamente denso ao tentar articularconceitua

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    %naximandro e seus compan)eiros ima(inavam o universo como ;ue dividido, dentro deum plano (eral, em prov.ncias compartimentadas ou esferas de poder$ A universo eraori(inalmente uma massa primHria e indiferenciada@ ;uando os ;uatro elementos sur(irameles rece+eram seu ;uin)o no de uma deusa personificada, mas do eterno movimento no

    interior do cosmo, o ;ue era considerado no menos divino$

    % psicolo(ia inventou tam+7m uma terminolo(ia mais atraente para lidar com a ;uesto do1estino$ Ela fala da predisposio )ereditHria, de padr

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    vivem o presente$

    Ento ;ual o fundamento de se procurar um +a+alaO e consultar o -o(o de +*ziosW e(undo/onilda Za9emi /i+eiro em seu \%lma %fricana no Brasil: os ioru+as] o aulo: EditoraAdudu8a, PP$ Cada ser criado escol)e livremente o \Ari] e o \Adu] si(no re(ente de

    seu destino$ 1esse modo, o +a+alaO, o ol)ador do +*zio, poderH dizer ;ual o odu doindiv.duo ;ue estH consultando$

    % narrativa m.tica diz ;ue AxalH e %-alH so entidades modeladoras dos orisg$ '-alH, em+oranotHvel em sua )a+ilidade, no 7 muito responsHvel, e por isso, muitas vezes modelaca+eas defeituosas: pode es;uecer de colocar al(uns aca+amentos ou detal)esnecessHrios, como pode, ao levHlas ao forno para ;ueimar, deixHlas por tempo demasiadoou insuficiente$ ais ca+eas tornamse assim potencialmente fracas, incapazes deempreender a lon(a -ornada para a terra, sem pre-u.zos$ e, desafortunadamente, um)omem escol)e uma dessas ca+eas mal modeladas, estarH destinado a fracassar na vida$1urante sua -ornada para a terra, a ca+ea ;ue permaneceu por tempo insuficiente ou

    demasiado no forno, poderH no resistir G ao de uma c)uva forte e c)e(arH maisdanificada ainda$ odo o esforo empreendido para o+ter sucesso na vida terrena terH(rande parte de seus efeitos desviada para reparar tais estra(os$ elo contrHrio, um )omemtem a sorte de escol)er uma das ca+eas realmente +oas, tornarseH prspero e +emsucedido na terra, uma vez ;ue sua ca+ea c)e(a intacta e seus esforos redundam emconstruo real de tudo a;uilo ;ue se propon)a a realizar$

    %ssim a consulta aos +*zios 7 +asicamente para sa+er so+re nossa ca+ea =ori? ou a ca+eade outrem$ ode um )omem con)ecer as potencialidades da prpria ca+ea ou de outremW% resposta do livro de /onilda Za9emi /i+eiro vem em forma de outra narrativa m.tica$ %oatravessar o portal ;ue conduz do c7u a terra, o porteiro do c7u = Ani+ode Arun? pede ao

    )omem ;ue declare seu destino$ Este 7 ento selado e, em+ora a lem+rana disso no)omem se apa(ue, Ari ret7m inte(ralmente a memria de tudo$ Baseado nessecon)ecimento (uia seus passos na terra$ e(undo o mito, a *nica testemun)a desseencontro entre Ani+ode Arun e Ari 7 ArumilH, uma das divindades primordiais$ or issoArumilH con)ece todos os destinos )umanos e procura a-udar os )omens a tril)ar seusverdadeiros camin)os$ Nos momentos de crise, a consulta ao orHculo de 'fH permite acessoa instru

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    ;uatro partes, do opele, de areia, H(ua, +*zios, i9in, etc$ %o ser feita a consulta ao orHculode 'fH, a ;ueda dos dezesseis frutos de palmeira c)amados i9in ou do opele, a correntedivinatria, define determinada confi(urao$ 1e fi(uras +Hsicas e #! derivadasc)amadas Adu, decorrem D0P variantes poss.veis, cada ;ual com seu nome$ % cadaconfi(urao corresponde uma s7rie de parH+olas, si(nificativamente coincidentes

    =sincrOnicas? com a circunst>ncia existencial do consulente$ % conduta do=s? )eri=s? daparH+ola su(ere o procedimento ade;uado para a superao da crise e realizao doprprio destino$

    /e(inaldo randi, no seu \e(redos 4uardados: orixHs na alma +rasileira] o aulo:Compan)ia das &etras, #00! nos informa ;ue Na [frica radicional 'oru+H, dias depois donascimento da criana ioru+H, ocorre a cerimOnia na ;ual se dH o nome ao nascido, ;uandoo +a+alaO consulta o orHculo para desvendar a ori(em da criana$ ;uando se desco+re,por exemplo, se ela 7 um ente ;uerido renascido$ As nomes ioru+as sempre desi(nam aori(em m.tica da pessoa, ;ue pode se referir ao orixH pessoal, (eralmente o da fam.lia,determinado patrilinearmente, ou G condio em ;ue se deu o nascimento, tipo de

    (estao e parto, sua posio na se;uncia dos irmos, ;uando se trata, por exemplo,da;uele ;ue nasce depois dos (meos, a prpria condio de a+icug e assim por diante$ %partir do momento em ;ue se dH um nome G criana, desencadeiase uma sucesso de ritosde passa(em associados no s aos pap7is sociais, como a entrada na idade adulta e ocasamento, mas tam+7m G prpria construo da pessoa, ;ue se dH atrav7s da inte(rao,em diversos momentos da vida, dos m*ltiplos componentes do esp.rito$ Com a morte, osritos so refeitos, a(ora com inteno de li+erar essas unidades espirituais, de modo a levarcada uma ao destino certo, restituindo, assim, o e;uil.+rio rompido com a morte$

    A 1E'NA N% %/A&A4'% E N% %/ANA'%

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    Desse modo, o astrnomo responsvel pela Coordenao de Cincias Espaciais eAtmosfricas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais inicia o seu DossiAstronomia versus Astrologia.

    Astronomia e astrologia so palavras derivadas do grego. Nessa lngua, astronsi(nifica

    estrelag e o sufixo nomos =escrito, em portu(us, como nomiag?, re(rag ou leig$ %astronomia 7 a cincia ;ue trata da constituio, posio relativa, movimento e, maisrecentemente, dos processos f.sicos ;ue ocorrem nos astros =neste *ltimo caso, sendodenominada astrof.sica, cu-o nascimento se deu no s7culo P?$ or sua vez, a astrolo(iaa(lutina astrone logos=em portu(us, lo(iag?, ;ue si(nifica palavrag e ;ue pode serentendido como estudog ou disciplinag$ 1e forma (eral, a astrolo(ia trata do estudo dainfluncia dos astros, especialmente dos si(nos do zod.aco, no destino e no comportamento)umano$ As fundamentos da astrolo(ia foram esta+elecidos pelos +a+ilOnios, por volta de!00 a$C$ % ori(em comum da astronomia e da astrolo(ia remonta a essa 7poca e, apesarde am+as se +asearem no estudo dos astros, suas vers

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    % o+servao e nomenclatura dos c7us, adotadas at7 )o-e pela civilizao ocidental,remontam aos +a+ilOnios, e(.pcios, (re(os e romanos$ odese dizer ;ue a primeira (randesistematizao do estudo dos c7us com fins astrol(icos estH em etra+i+los, texto escritopelo astrOnomo (recoe(.pcio Claudius tolomeu, ;ue viveu no s7culo # a$C$$ Essa o+ra,dividida em ;uatro livros, sistematiza e prop

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    o mundo, todos os dias

    Estavam errados os )orscopos feitos antes das desco+ertas de Trano, Netuno e luto,ocorridas em YM, MD e P30, respectivamenteW 1ever.amos refazer esses )orscoposW%l7m disso, existe uma associao entre nomes de planetas, personalidades mitol(icas e

    caracter.sticas astrol(icas, portanto )H ;ue se pensar a(ora como nomear e incluir ainfluncia dos mais de 300 planetas extrassolares desco+ertos desde PP!$

    E ;uais o+-etos celestes devem ou no ser inclu.dos nas previsncia de am+os nas previs

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    ;uesto do ;ue 7 cincia e como definila$ Entretanto, vale a pena discutir por;ue devemosnos preocupar com as pseudocincias$

    1iversas formas de pseudocincia nasceram de supersti

  • 7/25/2019 Palanganas y El Candomble

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    aconteceu, foi o oposto$ A primeiro poeta reli(ioso da 4r7cia, 2es.odo, dizsimplesmente ;ue o curso da Natureza no 7 seno indiferente ao certo e ao

    errado$