palavra do bispo Dom Esmeraldo

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Paróquias & CASAS RELIGIOSAS 14 www.revistaparoquias.com.br | março-abril 2010 palavradobispo “É digna de fé esta palavra: Se já morremos com ele, também com ele viveremos; se resisti- mos com ele, também com ele reinaremos; se o negarmos, ele também nos negará; se lhe somos infi- éis, ele, no entanto, permanece fiel, pois não pode negar-se a sim mesmo” (2Tm 2,11-13). EXEMPLO A missão que Paulo recebe de Deus marca de tal forma sua vida que tudo o que proclama, tudo o que vive e o modo como vive, nasce e se enraíza na profun- da comunhão com Jesus Cristo. Ele mesmo expressa essa experiência quan- do afirma: “Por causa dele, perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ga- nhar Cristo e ser encontrado unido a ele (...). É assim que eu conheço Cristo, a força da sua ressurreição e a comunhão com os seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na sua morte, para ver se chego até a Ressurreição dentre os mortos” (Fl 3, 8; 9; 10-11). Mergulhado no Mistério da Encar- nação e da Páscoa, Paulo procura se- guir Jesus Cristo. Nesse mistério, está a fonte para a vivência da Missão, que tem como marcas fundamentais: dei- xar-se conduzir pelo Espírito de Deus; ser discípulo missionário de Jesus Cristo; acolher o ministério como dom de Deus; proclamar a Palavra de Deus; formar comunidades com a pluralida- de de dons e ministérios à imagem do Corpo cuja cabeça é Cristo. Nessa fonte, ele encontra o sentido e a força para a entrega de sua vida, pois ele vive a experiência da presença Daquele que o amou e se entregou por ele (cf. Gl 2, 20). Diante das muitas di- ficuldades e sofrimentos que enfren- tou, como por exemplo em Corinto, Paulo faz a experiência da presença ativa de Deus que lhe diz: “Não tenhas medo; continua a falar e não te cales, porque eu estou contigo. (...) Nesta ci- dade há um povo numeroso que me pertence” (At 18, 9-10). Aí, permane- cesse mais um ano e meio, dedicando- se inteiramente à Palavra e testemu- nhando diante dos judeus que Jesus era o Cristo (cf. At 18,5.11). A MISSÃO Obediente à graça do Espírito San- to, Paulo é o missionário que não se cansa de ir ao encontro das pessoas, das comunidades que vão sendo for- madas, animando-as no seguimento a Jesus Cristo. O que ensina é sempre testemunho do que vivencia: “eu vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso verdadeiro culto” (Rm 12, 1). Levando em conta a luta constante que enfrenta, Paulo tem consciência de que faz parte da missão recebida animar os cristãos a perseverarem na fidelidade MINISTÉRIO EXCLUSIVO Permaneça fiel ao chamado do Senhor POR DOM ESMERALDO BARRETO DE FARIAS

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Permaneça fiel ao chamado do Senhor

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Paróquias & CASAS RELIGIOSAS 14 www.revistaparoquias.com.br | março-abril 2010

palavradobispo

“É digna de fé esta palavra: Se já morremos com ele, também com ele viveremos; se resisti-mos com ele, também

com ele reinaremos; se o negarmos, ele também nos negará; se lhe somos infi-éis, ele, no entanto, permanece fiel, pois não pode negar-se a sim mesmo” (2Tm 2,11-13).

EXEMPLOA missão que Paulo recebe de Deus

marca de tal forma  sua vida que tudo o que proclama, tudo o que vive e o modo como vive, nasce e se enraíza na profun-da comunhão com Jesus Cristo. Ele mesmo expressa essa experiência quan-do afirma: “Por causa dele, perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ga-nhar Cristo e ser encontrado unido a ele (...). É assim que eu conheço Cristo, a força da sua ressurreição e a comunhão com os seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na sua morte, para ver se chego até a Ressurreição dentre os mortos” (Fl 3, 8; 9; 10-11).

Mergulhado no Mistério da Encar-nação e da Páscoa, Paulo procura se-guir Jesus Cristo. Nesse mistério, está a fonte para a vivência da Missão, que tem como marcas fundamentais: dei-xar-se conduzir pelo Espírito de Deus; ser discípulo missionário de Jesus Cristo; acolher o ministério como dom de Deus; proclamar a Palavra de Deus; formar comunidades com a pluralida-de de dons e ministérios à imagem do Corpo cuja cabeça é Cristo.

Nessa fonte, ele encontra o sentido e a força para a entrega de sua vida, pois ele vive a experiência da presença Daquele que o amou e se entregou por ele (cf. Gl 2, 20). Diante das muitas di-ficuldades e sofrimentos que enfren-tou, como por exemplo em Corinto, Paulo faz a experiência da presença ativa de Deus que lhe diz: “Não tenhas medo; continua a falar e não te cales, porque eu estou contigo. (...) Nesta ci-dade há um povo numeroso que me pertence” (At 18, 9-10). Aí, permane-cesse mais um ano e meio, dedicando-se inteiramente à Palavra e testemu-nhando diante dos judeus que Jesus era o Cristo (cf. At 18,5.11).

A MISSÃOObediente à graça do Espírito San-

to, Paulo é o missionário que não se cansa de ir ao encontro das pessoas, das comunidades que vão sendo for-madas, animando-as no seguimento a Jesus Cristo. O que ensina é sempre testemunho do que vivencia: “eu vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso verdadeiro culto” (Rm 12, 1).

Levando em conta a luta constante que enfrenta, Paulo tem consciência de que faz parte da missão recebida animar os cristãos a perseverarem na fidelidade

MINISTÉRIO EXCLUSIVOPermaneça fiel ao chamado do SenhorPOR DOM ESMERALDO BARRETO DE FARIAS

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a Jesus Cristo que é sempre fiel. Por isso, proclama: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovan-do vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que  é perfeito” (Rm 12,2). E mostra como viver essa transformação: assumir o amor fraterno, não considerar-se superior aos outros, estar atento às necessidades dos irmãos, ser solidário com os mais humildes, não ter preten-sões de grandeza (cf. Rm 12,9-16). Paulo sabia que a busca de ostentação e gran-deza  pode levar as pessoas à curiosidade, mas não ao encontro com Jesus Cristo, o rico que se fez pobre para nos enriquecer com sua pobreza” (cf. 2Cor 8, 9). 

Preocupado com a formação pes-soal e comunitária dos Ministros res-ponsáveis pelas comunidades que vão sendo formadas, para que não percam o sentido eclesial da missão que rece-bem, Paulo afirma: “cuidai de vós mes-mos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos estabeleceu como guardiões, como pastores da Igreja de Deus que ele adquiriu com seu  san-gue” (At 20,28).

MAS, O QUE ESSAS INDICAÇÕES TÊM COM O ANO SACERDOTAL?

Creio que a vida e a missão do após-tolo Paulo são um belo e profundo exem-plo de como viver o ministério ordenado. Por isso, destaco alguns pontos:

Como discípulo missionário de Je-sus, o presbítero, necessita percorrer o mesmo caminho do Mestre: deixar-se guiar pelo Espírito Santo, despojar-se de si mesmo e oferecer sua vida como sacrifício vivo ao Senhor para a edifi-cação do seu povo.

É Deus quem guia o povo e também a nossa vida. Por isso, o presbítero neces-sita discernir, a cada momento, o que é realmente vontade de Deus para que possa ser perseverante e fiel ao Se-nhor que o consagra para a missão. A fonte é sempre a Palavra de Deus medita-da, as orientações da Igre-ja e os sinais do Espírito de Deus por meio da vida do povo.

O ministério é graça, é um dom de Deus e não um direito que adquiro e diante do qual vou fazer as “justas” rei-vindicações.

O ser missionário pede sair conti-nuamente de si mesmo para estar sem-pre disponível para assumir, na fé, a missão que lhe é indicada, mesmo que seja desafiante. É na Igreja particular que o presbítero manifesta esse amor de Deus por seu povo; ou ali onde a Igreja Particular o envia.

O sentido colegial do ministério faz com que o presbítero se sinta profun-damente ligado ao presbitério com o seu bispo, pois, por meio dele, recebe a missão que vem de Deus. Vivemos em um mundo onde é muito forte o indi-vidualismo. Precisamos fundamentar e acolher ainda mais o sentido eclesial e colegial do ser presbítero.

Expressar o amor pelos pobres, a partir de seu modo de ser, de viver e não somente por meio de discurso que não é confirmado pelo testemunho de vida.

Caminhar na obediência a Jesus Cristo, à Igreja, ao povo de Deus.

Oferecer,  a cada dia,   sua vida, jun-tamente com a vida do povo, das co-munidades, especialmente, quando preside a Santa Eucaristia.

A espiritualidade deita sua raiz na vida e missão de Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, o Missionário, guiado pelo

Espírito Santo, para rea-lizar a vontade do Pai. O presbítero não é consa-grado para exercer algu-mas atividades “profis-sionais”, mas para ser testemunha de Jesus Cristo, com quem ele

está configurado, tornando-se dele si-nal, como o mesmo Cristo indica: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). “Há que rejeitar a tentação de uma espiri-tualidade intimista e individualista, que dificilmente se coaduna com as exigências da caridade, com a lógica da encarnação e, em última análise, com a própria tensão escatológica do cristianismo” (NMI 52).

Fidelidade de Cristo, fidelidade do presbítero. “Ele permanece fiel” e nos concede a graça para que não estejamos iludidos com a exterioridade. O nosso olhar e o nosso coração necessitam estar voltados sempre para Jesus Cristo, o bom Pastor, o Missionário, que salva o mundo pela entrega de sua vida.

Que a oportunidade deste Ano Sa-cerdotal proclamado pelo Papa Bento XVI, no ensejo da celebração dos 150 anos do falecimento de S. João Maria Batista Vianney, possa reavivar, espe-cialmente nos presbíteros, a identidade missionária que nasce da sua configu-ração sacramental com Cristo Cabeça e Pastor que permanece sempre fiel.

Dom Esmeraldo Barreto de Farias  é Bispo Diocesano de Santarém/PA, Presidente da Co-missão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada.

“Creio que a vida e a missão do apóstolo Paulo são um belo e profundo exemplo de como viver o ministério ordenado”