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Page 1: Palavras-Chave: Educação para o Pensar, Filosofia para ... · PDF fileAlém das novelas, Lipman preparou também, junto com sua equipe, manuais para que o professor possa melhor

“Existência e Arte”- Revista Eletrônica do Grupo PET - Ciências Humanas, Estética e Artes da Universidade Federal de São João Del -Rei - Ano I - Número I – janeiro a dezembro de 2005

PROJETO DE EXTENSÃO LITERATURA INFANTIL: UM CAMINHO PARA O PENSAR Bolsista: Mayara da Silva Chenedezi - UFSJ/COFIL Laboratório de Educação em Filosofia – LAFIL/DFIME Coordenadora: Profª Ms. Maria José Netto Andr ade/UFSJ/DFIME Vice-Coordenador: Prof. Dr. Ignácio César de B ulhões/UFSJ/DFIME Outras acadêmicas envolvidas: Lívia Carvalho Menighin, Amanda Cristina Pinheiro e Fernanda Conceição Costa – UFSJ/COFIL

Resumo: O presente projeto de extensão, através de materiais literários infantis, pretende dese n-

volver nas crianças as habilidades e disposições ne cessárias à construção de significados, para pensarem

melhor e por si mesmas, transformando a sala de aula numa comunidade investigativa. Destina -se às crian-

ças que estão cursando terceira e quarta séries do Ensino Fundamental na Escola Estadual Dr. Garcia de

Lima.

Palavras-Chave: Educação para o Pensar, Filosofia para crianças, Literatura Infantil.

1. Apresentação:

Laboratório de Educação em Filosofia - LAFIL tem como um de seus objetivos

desenvolver projetos de extensão capazes de levar à comunidade escolar da rede

pública da nossa região os benefícios de uma ed ucação para o pensar.

Educar para o pensar tem sido uma constante indicação nos documentos oficiais que orie n-

tam os projetos pedagógicos das escolas de Ensino Básico, assim como enfat izam o papel das

Licenciaturas enquanto formadoras de professores da Escola Básica. Desse modo, somos solic i-

tados a ultrapassar os muros da Academia, cumprindo o no sso papel social de inserção efetiva na

comunidade. Os benefícios alcançados são compartilhados entre a comunidade que recebe o

trabalho e os alunos da Universidade, que, ao vivenciarem o cotidiano das escolas, aprimoram a

sua formação enquanto professores.

No caso específico da Filosofia, é importante ressaltar que, desde a infância, o pensar me-

lhor deve ser encorajado. Adultos mais reflexivos, críticos, criativos e cuidadosos com o pensar

são o resultado de um trabalho que deve iniciar -se bem cedo na vida das pessoas. Ainda mais

quando se considera que o pensar melhor deve levar a um agir m elhor.

O presente projeto, através de materiais literários infantis, pretende desenvolver nas cria n-

ças as habilidades e disposições necessárias à construção de significados, para pensarem melhor

e por si mesmas, transformando a sala de aula numa comunidade investigativa. Ressalta -se que

as crianças, ao contrário do que alguns pensam, são capazes de indagar, realizar operações int e-

lectuais e lidar com problemas referentes ao conhecimento a partir de contextos considerados

significativos. O trabalho, portanto, será desenvolvido com base no programa Filosofia para Crian-

ças – Educação para o Pensar , proposto pelo filósofo e educador americano Matthew Lipman, que

acredita no interesse e na capacidade filosófica de cr ianças e jovens.

O

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CHENEDEZI, Mayara da Silva

“Existência e Arte”- Revista Eletrônica do Grupo PET - Ciências Humanas, Estética e Artes da Universidade Federal de São João Del-Rei - Ano I - Número I – janeiro a dezembro de 2005

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De acordo com Jean Piaget, as crianças pequenas não são capazes de lidar com o pens a-

mento abstrato e menos ainda de pensar filosoficamente. Contrapondo -se a essa idéia, Matthew

Lipman criou, no final da década de 60, o Programa Filosofia para Crianças. Ao identificar o pen-

samento abstrato com o pensamento conceitual e fundamentá -lo nas vivências infantis, Lipman

justifica a capacidade das crianças de realizá -lo.

O programa que ele propõe para trabalhar a filosofia com crianças apresenta com o objetivo

geral o desenvolvimento das habilidades cognitivas: habilidades de investig ação, habilidades de

pensamento lógico e raciocínio, habil idades de formação de conceitos, habilidades de tradução.

Através da discussão de temas filosóficos presentes na s novelas, o pensar bem pode ser desen-

volvido.

Na concepção de Lipman "o que os filósofos e as crianças têm em comum é a capacidade

de maravilhar-se com o mundo". As crianças estão cercadas por um universo pr oblemático, um

universo que estimula o pensamento e provoca o encantamento, que as convida à investigação e

ao questionamento reflexivo.

Essa curiosidade própria da infância pode ser parcia lmente atendida através de explicações

de ordem científica, que partem dos fatos e das causas. No entanto, normalme nte elas são mais

exigentes e não se contentam com interpretações literais, mas querem interpretações simból icas.

“Para isso voltam-se para a fantasia, para os jogos, para os contos de fadas, para o folclore – para

os inúmeros níveis da invenção artística. (...) O conto de fadas é cativante e sedutor. Ele fascina

os ouvintes e encanta desde as primeiras palavras ‘Era uma vez’” (Lipman, A filosofia na sala de

aula, 1994, p. 59-60).

Mas, além de interpretações simbólicas, a criança também é capaz de levantar questões de

ordem filosófica, principalmente aquelas consideradas metafísicas, lógicas e éticas. Essa propri e-

dade de levantar questões pode levá -las ao desenvolvimento da capacidade de investigar filosof i-

camente. A inter-relação entre a necessidade simból ica e a filosófica justifica o uso das histórias

ou narrativas como veículos capazes de deslanchar um processo investigativo na infância.

Matthew Lipman ao propor sua Filosofia para Crianças pensou numa forma mais adequada

de desenvolver esse trabalho criando histórias especializadas, as chamadas novelas filosóficas,

construindo com elas um currículo adequado à sua proposta.

Nessas novelas, os personagens vivem situações e se encontram diante de problemas que

possibilitam a investigação, por exemplo, nas áreas da Teoria do Conhecimento, da Lógica e da

Ética. Elas reconstroem, na forma de diálogo, os problemas filosóficos e algumas das mais impo r-

tantes posições dos filósofos através da história.

Além das novelas, Lipman preparou também, junto com sua equipe, manuais para que o

professor possa melhor coordenar o seu trabalho. Estes manuais têm por objetivo apresentar s u-

gestões de exercícios, atividades e planos de discussão sobre diversos temas e habilidades pr e-

sentes ou sugeridas nas novelas.

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PROJETO DE EXTENSÃO LITERATURA INFANTIL: UM CAMINHO PARA O PENSAR

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3No entanto, sua metodologia não impede o uso da literatura comum para estimular e inve s-

tigar o filosofar com crianças. Aliás, a abundância desses materiais, que vão das histórias infantis

aos clássicos da literatura, permite ao professor com visão filosófica promover uma eficiente in-

vestigação a partir do uso criterioso dos mesmos. Nesse sentido, o uso desses materiais com o

intuito de explorar as suas dimensões filosóficas deve ser incentivado. Não se trata de explorar

esses recursos literários analisando suas formas e o desenvolvimento de seus personagens, obje-

to propriamente de uma aula de literatura, mas de perceber as idéias que estão sob a superfície

da história. O sucesso desse trabalho investigativo requer um profissional consciente e uma esc o-

lha adequada da narrativa.

Ann Margaret Sharp, colaboradora de Lipman, em seu livro Uma nova educação: a comuni-

dade de investigação na sala de aula , assim resume o papel das histórias no desenvolvimento da

Filosofia para crianças:

As histórias em Filosofia para crianças funcion am como trampolins apropriados para a investigação po r-

que (i) expõem emoções e sentimentos corriqueiros ao exame sem colocar crianças reais e seus probl e-

mas “no centro das atenções”; (ii) junto com seu valor como arte, elas mostram a prática filosófica com o

uma técnica que pode ser ensinada e aprendida; e (iii) apresentam conceitos, procedimentos e situações

filosóficos em contextos da vida real que são prontamente transferíveis (1999, p. 63).

O que importa, a princípio, é achar uma história fácil de ser g ostada, que provoque o inte-

resse da criança e que lhe traga benefícios. Entretanto, o texto literário não deve substituir si m-

plesmente o texto filosófico como forma de agradar às crianças, mas deve fornecer elementos

capazes de desenvolver um pensar melhor . Nesse sentido, a história deve propiciar a interação

entre o pensar crítico e o pensar criativo. Segundo Lipman, a narrativa deve apresentar pelo m e-

nos 3 características para levar a um bom resultado i nvestigativo:

1) Aceitabilidade literária: deve ter qua lidade literária sati sfatória.

2) Aceitabilidade psicológica: devem ser adequados à idade das crianças a que se destinam, mas não

devem ser condescendentes do ponto de vista intele ctual.

3) Aceitabilidade intelectual: deve apresentar problemas dotados de signifi cado na história como um todo

e na própria essência da narrativa, o texto deve ser dialógico, apresentar ambigüidades, insinuações, ir o-

nias... (2001, p. 314).

Uma boa investigação filosófica busca o entendimento de algo considerado problemático p e-

la comunidade, desse modo, envolve o esforço na resolução de problemas, o e mpenho em dar

respostas às perguntas, a tarefa de esmiuçar significados.

O desenvolvimento de atividades, numa comunidade investigativa, aliando histórias infantis

e filosofia pode contribuir em muito, desde a infância, para uma educação que se propõe a dese n-

volver um pensar qualitativamente superior, isto é, crítico, reflexivo, criativo e cuidadoso.

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2. Justificativa

As escolas públicas da região ainda não realizam um trabalho de investiga ção filosófica efe-

tivo com crianças e jovens no Ensino Fundamental, o que já se encontra basta nte difundido nas

escolas da rede particular. Esse fato deixa o nosso ensino público em débito com a sua clientela,

pois alimenta uma forma de exclusão social das mais sérias, já que priva seus alunos dos benef í-

cios cognitivos e éticos de uma educação filosófica.

No entanto, temos uma Universidade pública na região, a UFSJ, possuidora de várias lice n-

ciaturas, inclusive a de Filosofia. Enquanto Licenciatura de Filos ofia, o nosso campo de trabalho

ainda se restringe oficialmente ao Ensino Médio. No entanto, nem sempre conseguimos desenvo l-

ver um trabalho satisfatório nesse nível de ensino, pois const atamos o desinteresse dos alunos

por um trabalho mais reflexivo e investigativo. Acreditamos que investir no pensar melhor desde a

infância, como propõe Lipman, pode ajudar a desencadear um processo educativo de qualidade, o

que se refletirá nas séries subseqüentes.

Além do mais, o projeto propiciará aos alunos envolvidos uma vivência mais rica da realida-

de das nossas escolas, o que é fundamental para a sua formação enquanto profissional da ed u-

cação.

3. Objetivos

Gerais:

• Desenvolver nas crianças um pensar mais interrogativo, reflexivo e investigativo, o pensar

bem, usando a literatura infantil como contexto significativo.

• Desenvolver nas crianças competências filosóficas, cognitivas e dialógicas através da exper i-

ência de uma comunidade de investigação em sala de aula.

Específicos:

• Utilizar a literatura infantil como instrumento para estimular a investigação filosófica.

• Demonstrar, através de contextos literários, a capacidade da criança de fazer perguntas filos ó-

ficas (metafísicas, lógicas e éticas).

• Desenvolver as habilidades cognitivas (de investigação, raciocínio, formaç ão de conceitos e

tradução) e o pensar bem através do uso da literatura infantil e atividades l údicas.

4. Metodologia

Leitura de histórias infantis para serem problematizadas e discutidas na comunidade de i n-

vestigação, seguindo a metodologia proposta por Matthew Lipman: leitura do texto, problematiz a-

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5ção, classificação e escolha da pergunta para discussão, discussão filosófica, avaliação da se s-

são. Serão também desenvolvidas atividades lúdicas e artísticas para o encerramento do trabalho

com cada história trabalhada.

Sempre que possível, o trabalho deverá ser desenvolvido em parceria com a Professora da

turma, que deverá explorar de outras maneiras a história selecionada, inclusive, solicitando prod u-

ções de textos dos alunos.

5. Público Alvo

O projeto destina-se aos alunos das terceiras e quartas séries do Ensino Fundamental

da Escola Estadual Dr. Garcia de Lima .

Referências bibliográficas Literatura Infantil ALVES, Rubem. A porquinha de rabo esticadinho . São Paulo: Edições Loyola, 1997. CAMOSSA, Sílvia. Idéias que contam histórias: histórias das idé ias do Zé. São Paulo: Callis, 2001. CASCUDO, Luís da Câmara. Contos Tradicionais do Brasil para crianças. São Paulo: Global, 2003. (Col e-ção Literatura em minha casa, v. 5.). FALCÃO, Adriana. Mania de explicação. São Paulo: Moderna, 2001. FAULKNER, Keith. Drácula: um livro abra -a-aba de arrepiar . São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1997. MARIJANOVIC, Stanislav . Pequeno manual de monstros caseiros . São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2001. ROCHA, Ruth; ORTHOF, S ylvia. Contos para rir e sonhar . São Paulo: Salamandra, 2003. (Coleção Literat u-ra em minha casa, v. 2). SÁTIRO, Angélica. Brincar de pensar com as hi stórias infantis. SCIESZKA, Jon. A verdadeira história dos três porquinhos! São Paulo: Companhia das Letri nhas, 2001. SOUZA, Flávio de . Que história é essa? Novas histórias e adivinhações com personagens de contos ant i-gos. 8ª ed. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2001. STAHEL, Mônica. Quatro Mitos Brasileiros . São Paulo: Martins Fontes, 2003. (Coleção Litera tura em minha casa, v. 5. Tradição Popular). TELLES, Lygia Fagundes et all. Contos da Escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. (Coleção Literatura em minha casa, v. 2). Fundamentação teórica e prática escolar: ALMEIDA, Nondeilde Ferraz; SANTOS, Raquel. Filosofia para crianças: um caminho . Belo Horizonte: Cult u-ra, 1998. KOHAN, Walter Omar (org.); WAKSMAN, Vera (org.). Filosofia para crianças na prática escolar. 2a ed. Pe-trópolis: Vozes, 1998. LIPMAN, Matthew. O pensar na educação. 3a ed. Petrópolis: Vozes, 2001. LIPMAN, Matthew; SHARP, Ann Margaret; OSCANYAN, Frederick S. A filosofia na sala de aula. São Paulo: Nova Alexandria, 1994. LORIERI, Marcos Antônio. A educação para o pensar e a comun idade de investigação. In: Reflexões sobre uma educação para o pensar . São Paulo: CBFC, 1996. p.15 -9. MATTHEWS, Gareth B. A filosofia e a criança . São Paulo: Martins Fontes, 2001. SHARP, Ann Margaret; SPLITTER, Laurence J. Uma nova educação: a comunidade de investigação na sala de aula. São Paulo: Nova Al exandria, 1999.