Paleoetnobotânica do povoado romano da Terronha de ... · João Pedro Vicente Tereso...
Transcript of Paleoetnobotânica do povoado romano da Terronha de ... · João Pedro Vicente Tereso...
João Pedro Vicente Tereso
Paleoetnobotânica do povoado romano da Terronha de Pinhovelo
(NE transmontano)
DEPARTAMENTO DE BOTÂNICA
2007
2
João Pedro Vicente Tereso
Paleoetnobotânica
do povoado romano da Terronha de Pinhovelo
(NE transmontano)
Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto,
para a obtenção do grau de mestre em Ecologia da Paisagem e Conservação da
Natureza.
Orientadora: Paula Fernanda Ribeiro Queiroz, Cientista Convidada do
IGESPAR
Co-orientador: José Joaquim Saraiva Pissarra, Professor Associado do
Departamento de Botânica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
2007
3
4
“Era uma vez…
- Um rei! – dirão logo os meus pequenos
leitores.
Não, meus rapazes, estão enganados.
Era uma vez um pedaço de madeira.
Não era madeira nobre, mas sim um
simples pedaço de madeira para
queimar, daqueles que, no Inverno, se
colocam nos fogões e nas lareiras para
acender o lume e aquecer os quartos.
Carlo Collodi, As Aventuras de Pinóquio
5
6
Resumo
A Terronha de Pinhovelo é uma elevação sobranceira à aldeia de Pinhovelo, no centro
do Nordeste transmontano, habitada pelo menos desde a Idade do Ferro até ao século V
d.C. A análise dos macro-restos vegetais decorreu em articulação com os trabalhos
arqueológicos aí realizados, resultando na obtenção de dados importantes para a
compreensão da jazida assim como das paleo-comunidades que aí habitaram. O presente
estudo incide sobre as fases III e IV do Sector B, cronologicamente enquadradas nos
séculos IV-V d.C.
Entre os frutos e sementes são mais abundantes as espécies cultivadas, em especial
os cereais. Triticum aestivum/durum, T. compactum , T. spelta e Hordeum vulgare são as
espécies mais comuns, seguidos de T. dicoccum e raros T. monococcum, Panicum
miliaceum e Setaria italica. A única leguminosa identificada no estudo carpológico foi Vicia
faba var. minor que, embora seja abundante, está associada quase exclusivamente a uma
área de combustão. A presença de fava é utilizada como um indício de possíveis práticas de
alternância de cultivos.
Foi possível obter alguns dados acerca das estratégias de recolha de combustível
através das análises antracológicas de diversos contextos, cuja composição florística
espelha distintos padrões de selecção de lenha e diferentes áreas de recolha. Os tipos
xilotómicos presentes num maior número de amostras são Pinus pinaster, Quercus
pyrenaica, Q. faginea, Q. suber, Arbutus unedo e Fraxinus angustifolia. As formações
arbustivas encontram-se representadas por Cistus sp., Leguminosae e Erica spp.
O estudo dos diferentes macro-restos vegetais (carvões, sementes e frutos) permitiu
encetar um estudo de índole paleoetnobotânica que contribuiu de forma decisiva para a
melhor compreensão do sítio arqueológico. Consequentemente foram realizadas
aproximações a determinados aspectos da vida quotidiana das populações que habitaram
esta povoação, nomeadamente no que respeita às práticas agrícolas, processamento de
alimentos e vivência do espaço.
7
Abstract
Terronha de Pinhovelo is a small elevation near the village of Pinhovelo, in the centre
of northeast Trás-os-Montes. It was inhabited since the Iron Age till the 5th century A.D. The
study of plant macrofossils recovered during the archaeological excavations reveals new
aspects of the site’s occupation and its community’s daily life. This study is centred in Sector
B, namely the Phases III and IV, from the 4th or the 5th century A.D.
The cereals are the most frequent group of plants represented in the fruit and seed
assemblages. Triticum aestivum/durum, T. compactum , T. spelta and Hordeum vulgare are
the dominant crops, followed by T. dicoccum and some rare T. monococcum, Panicum
miliaceum and Setaria italica. Vicia faba var. minor was the only pulse identified, almost
exclusive from one fire structure. The presence of horsbean could possibly be related to
field-crop rotation practices.
The analysis of the charred wood fragments, from the excavated fire places, was used
to infer the community’s strategies for collecting fire-wood, related to wood selection patterns
or different gathering areas. The main xylomorphic types recovered were Pinus pinaster,
Quercus pyrenaica, Q. faginea, Q. suber, Arbutus unedo and Fraxinus angustifolia. The
scrubs are represented by Cistus sp., Leguminosae and Erica spp.
This palaeoethnobotanic study of wood charcoal, seeds and fruits contributed strongly
to a better understanding of this settlement, allowing some insights to certain aspects of its
population daily life, namely the agricultural practises and food processing techniques.
8
Agradecimentos
Os agradecimentos são sempre uma parte ingrata de qualquer estudo desta
natureza. As pessoas e entidades às quais eu dirijo estes agradecimentos são aquelas que
contribuíram de forma directa para a concretização desta tese, mas também aquelas que
ajudaram de forma indirecta, através de contributos para a minha formação enquanto
profissional e investigador e até como pessoa. Parece-me, agora, discutível qual destas
componentes terá maior relevância num capítulo de agradecimentos de uma tese de
mestrado..
Agradeço, então, à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e, em especial,
a toda a organização do mestrado em Ecologia da Paisagem e Conservação da Natureza,
encabeçada pelo Professor Doutor Barreto Caldas e Prof. Dr. João Honrado, que me
acolheram e me formaram, durante o ano lectivo de 2005-2006.
Ao Instituto Português de Arqueologia, em especial ao Laboratório de Paleoecologia
e Arqueobotânica (Programa CIPA), representados pelos Prof. Dr. José Mateus e Prof. Dra.
Paula Queiroz, que me aceitaram como colaborador e aprendiz.
À Associação Terras Quentes – Associação de Defesa do Património Arqueológico
do Concelho de Macedo de Cavaleiros, em especial ao seu presidente, o meu colega
Mestre Carlos Mendes, pelo apoio e pela oportunidade de encetar este projecto numa jazida
arqueológica do referido concelho.
À Paula Queiroz, orientadora deste trabalho bem como de quase toda a minha
formação em Paleobotânica. Agradeço a paciência e a disponibilidade demonstradas
durante o longo tempo de laboratório desta tese, sempre superiores ao que me parecia licito
exigir.
Ao Prof. Dr. José Pissarra, co-orientador deste estudo, pelo apoio que sempre
disponibilizou, pelas soluções que forneceu e a pertinência dos conselhos que deu.
Um agradecimento especial também para o José Mateus, que, com a Paula Queiroz,
me recebeu de braços abertos no laboratório disponibilizando-se sempre a ajudar, a
aconselhar ou, simplesmente a trocar ideias – conversas que tanto acrescentaram à minha
formação nesta área tão específica que é a Paleobotânica.
À Dra. Cristiana Vieira, pela preciosa e inestimável ajuda disponibilizada para a
elaboração do estudo estatístico apresentado neste trabalho.
Ao Prof. Dr. João Honrado pelo apoio e incentivo na fase final da tese, e pelo ânimo
que me conseguiu incutir para que no futuro prossiga com este tipo de estudos.
9
À Prof. Dra Stefanie Jacomet e à Prof. Dra. Isabel Figueiral que, em vários contactos
via Internet não se coibiram a responder às minhas dúvidas e ajudar sempre que
necessário.
De igual modo, agradeço ao Prof. Dr. Carlos Fabião pela sua constante
disponibilidade, úteis conselhos e bibliografia; e também, ao Prof. Dr. Amílcar Guerra, por
uma conversa muito esclarecedora. Acabaram por me esclarecer muitas dúvidas,
permitindo-me poupar algum tempo precioso.
À Dra. Helena Barranhão pelo apoio, amizade e companheirismo dos últimos quatro
anos, espelhado perfeitamente no nosso trabalho de campo em conjunto no Sector B da
Terronha de Pinhovelo; pela forma como pacientemente suportou o meu constante
entusiasmo pelo trabalho desta tese.
À Dra. Lúcia Miguel, pela amizade que começou há muitos anos, pelo
companheirismo revelado no trabalho da Terronha de Pinhovelo e pelo entusiasmo
contagiante face à proto-história e mundo castrejo, que aguçaram o meu interesse pelo
trabalho que tínhamos em conjunto.
A todos os elementos do CIPA, pelo seu espírito de interdisciplinariedade, e em
especial ao Dr. José António, meu colega no laboratório, pessoa sempre disponível para
sugestões e esclarecer dúvidas.
A todos os colegas de mestrado pelo companheirismo e pelo apoio mútuo que se
gerou durante o ano curricular.
Um agradecimento especial ao Dr. Miguel Abrantes, meu colega neste mestrado,
com quem tive conversas muito formadoras e com quem partilhei dúvidas, sempre com um
importante feedback.
A todos os colegas de trabalho da Associação Terras Quentes com quem durante
catorze meses partilhei um espaço e muitas ideias.
À minha família, aos meus pais, meu irmão e sua família, aos meus avós (um beijo
com muitas saudades para o Avô Vicente, tristemente falecido durante este mestrado). E
dificilmente se explica uma dedicatória ou agradecimento à família em poucas linhas, pelo
que me vou coibir de fazê-lo. Todos certamente sabem o que penso deles.
À minha outra família, o Sr. Alexandre Gaspar, a Sra. Leonor Gaspar e à Ana
Gaspar, que durante tantos meses me acolheram em sua casa e me ajudaram de todas as
formas que sabiam e podiam. Pelos serões a conversar, pela óptima comida e pela calorosa
e muito paciente forma como me receberam, um agradecimento muito especial.
10
No final agradeço à pessoa sem a qual eu não estaria, certamente, a apresentar este
estudo. Agradeço a paciência e compreensão, o apoio constante, a motivação, a partilha, os
conselhos e a sua presença nos tempos mais complicados. Para além de agradecer,
dedico-lhe esta tese que tem tanto dela. À Rita Gaspar, por tudo.
11
12
ÍNDICE
I. INTRODUÇÃO 17
II. ENQUADRAMENTOS 18
1. Paleoetnobotânica: conceitos de base 18
1.1. A conservação de macrorrestos 19
1.1.1. A combustão 20
1.1.1.1. Efeitos sobre as estruturas vegetais 20
1.1.2. Fenómenos pós-deposicionais 22
1.2. Antracologia e Carpologia como Paleoetnobotânica 22
1.2.1. Antracologia 22
1.2.2. Potencial e limitações: entre a Paleoecologia e a Paleoetnobotânica 23
1.2.3. Carpologia 28
2. Enquadramento do Nordeste transmontano nos estudos paleobotânicos do Noroeste
peninsular 31
2.1. Antracologia e carpologia no Nordeste transmontano 33
3. O período romano no Nordeste transmontano 35
3.1. Território rural e agricultura 37
3.2. Terronha de Pinhovelo: historial de investigação 39
III. OBJECTIVOS E MÉTODOS 41
1. Objectivos 41
2. Métodos 43
2.1. A intervenção arqueológica 43 2.2. O estudo paleoetnobotânico 44
2.2.1. Amostragem e recuperação de fitoclastos 44
2.2.2. Metodologia laboratorial e análise de dados 47
2.2.3. Nomenclatura e descrições 49
2.2.4. Descrição dos tipos xilotómicos 51
2.2.5. Descrição dos frutos e sementes 58
2.2.5.1. Espécies selvagens e leguminosas cultivadas 58
2.2.5.2. Milhos 60
2.2.5.3. Trigos 61
13
2.2.5.4 Cevadas 64
2.3. Recolha de dados etnobotânicos e ecológicos 65
2.4. Arqueologia Espacial e análise eco-territorial 66
IV. RESULTADOS 69
1. A Terronha de Pinhovelo 69
1.1. Contexto biogeográfico, paisagístico e geológico 69
1.1.1. O território imediato 71
1.2 Implantação da jazida: aspectos estratégicos 77
1.3. Intervenções arqueológicas programadas 80
1.3.1. Sector B 81
1.3.2. Sector A 86
1.3.3. Outras áreas 87
1.3.4. Enquadramento cronológico 88
2. Estudo paleobotânico 90
2.1. Os contextos amostrados 90
2.2. Antracologia: análise de dados 97
2.2.1. Amostras de flutuação - LAB. 98
2.2.2. As recolhas manuais – RM 104
2.3. Carpologia: análise de dados 105
2.3.1. Espécies silvestres 105
2.3.1.1. Distribuição pelas amostras 105
2.3.2. Favas 107
2.3.3. Milhos 107
2.3.4. Trigos e cevada 108 2.3.4.1. Distribuição das cariopses pelas amostras 108
2.3.4.2. Biometria de cariopses 117
2.3.4.3. Distribuição de espiguetas pelas amostras 135
2.3.4.4. Biometria de espiguetas 135
2.4. Etnobotânica da Terronha de Pinhovelo 138
2.4.1. Cereais: usos e costumes 141
2.4.2. As favas 146
14
V. DISCUSSÃO 147
1. Aspectos de natureza morfo-tipológica 147
2. Distribuição de macro-restos vegetais no Sector B 153
3. Estratégias de recolha de combustível 157
4. Estruturas arqueológicas: possibilidades interpretativas 160
5. As práticas de produção agrícola: uma aproximação 164
6. O território antigo 166
7. A Terronha de Pinhovelo nos estudos regionais de paleobotânica 171
8. Fronteiras interpretativas dos estudos paleoetnobotânicos 173
VI. CONCLUSÃO 175 VII. BIBLIOGRAFIA 177 ANEXOS I. Cariopses de cereais: dados biométricos
1.1. Triticum aestivum 1.2. Triticum compactum 1.3. Triticum dicoccum 1.4. Triticum spelta 1.5. Triticum monococcum
II. Espiguetas de cereais: dados quantitativos
2.1. Amostra V3 2.2. Amostra IV20 2.3. Amostra IV21 2.4. Amostra IV24 2.5. Amostra IV50 2.6. Amostra IV63 2.7. Amostra IV65 2.8. Amostra IV66 2.9. Amostra IV70 2.10. Amostra III71
15
2.11. Amostra III95 III. Espiguetas de cereais: largura de base de glumas
3.1. Triticum spelta 3.2. Triticum dicoccum 3.3. Triticum monococcum
IV. Log de PCA e RDA
4.1. Dados das PCA das figuras 4.8. e 4.9. 4.2. Dados das RDA das figuras 4.10. e 4.11. 4.3. Dados das PCA das figuras 4.12. e 4.13. 4.4. Dados das PCA das figuras 4.18. e 4.19. 4.5. Dados das PCA das figuras 4.21. e 4.22.
V. Antracologia: ilustração de tipos xilotómicos VI. Frutos e sementes: ilustração de tipos morfológicos VII. Antracologia: ecologia das espécies VIII. Carpologia: ecologia das espécies IX. Dados etnobotânicos
9.1. Uso medicinal e veterinário 9.2. Uso alimentar 9.3. Propriedades e uso de madeiras 9.4. Uso como combustível
X. Terronha de Pinhovelo: planta do Sector B
16
I. INTRODUÇÃO
A presente dissertação de mestrado, corresponde ao estudo especializado em
paleobotânica enquadrado no programa de pesquisa arqueológica que o autor tem vindo a
desenvolver desde o ano de 2004, ano em que se iniciaram as intervenções arqueológicas
programadas na Terronha de Pinhovelo.
O projecto de paleobotânica iniciou-se na segunda das três campanhas que
decorreram na jazida, quando foi possível delinear uma estratégia de estudo que implicou a
aquisição de equipamento básico para a recolha dos dados. Desde o início que este estudo
contou com o apoio do Laboratório de Paleoecologia e Arqueobotânica do Instituto
Português de Arqueologia para o tratamento laboratorial dos materiais, graças à
disponibilidade demonstrada pelos seus responsáveis (Paula Queiroz e José Mateus).
A escavação arqueológica na Terronha de Pinhovelo, em especial do Sector B,
afigurou-se como o local ideal para encetar o estudo paleobotânico, que se desejava
principiar com a fase da recolha de macro-restos vegetais em contexto de escavação. Isto
porque o autor assumia um papel de direcção científica dos trabalhos, em conjunto com
outros colegas, podendo assim adequar os trabalhos de escavação às tarefas de recolha de
amostras e macro-restos especificamente direccionadas para o estudo em vista. Felizmente,
a jazida respondeu favoravelmente, fornecendo contextos arqueológicos adequados e de
significativo interesse.
Desde cedo que um estudo desta natureza assumia uma urgência evidente face às
características do próprio sítio arqueológico. De facto, um povoado localizado em pleno
mundo rural romano só se poderá compreender verdadeiramente com, pelo menos, um
vislumbre da sua componente económica primordial, a agricultura e a pastorícia. Os estudos
arqueozoológicos escapam, porém, ao âmbito deste trabalho.
Era claro, também, logo nas fases de preparação deste estudo, que diversas
adversidades iriam surgir, não só em termos logísticos como também científicos.
Dificuldades inerentes a Trás-os-Montes, região rural na qual são muito recentes e esparsos
os investimentos na área da investigação científico-cultural. A falta de conhecimentos
prévios acerca das realidades locais e regionais assumiu-se como um problema muito
importante e difícil de contornar, revelando-se ao nível dos estudos arqueológicos e
agudizando-se no que aos estudos paleobotânicos dizia respeito.
Perante este enquadramento pareceu-nos mais sensato definir como objectivo
primordial a compreensão do povoado em questão e a forma como as comunidades que
nele habitaram se relacionavam com o meio que as envolvia.
17
II. ENQUADRAMENTOS 1. Paleoetnobotânica: conceitos de base
Paleobotânica, Arqueobotânica, Paleoetnobotânica e Paleoecologia são
designações distintas com significados diversos, embora inúmeras vezes usadas como
sinónimos. Deste modo, e na medida que se afirma a realização de um estudo numa destas
áreas, reveste-se de particular interesse a sua definição.
Jane Renfrew (1973, p.1) definiu Paleoetnobotânica como “the study of the remains
of plants cultivated or utilized by man in ancient times, which have survived in archaeological
contexts”. Coloca assim a ênfase nas relações entre os seres humanos e os vestígios de
origem vegetal enquanto subprodutos das suas actividades num determinado local e num
dado momento. Assume-se, assim, que a presença dos mesmos num contexto arqueológico
é passível de ser explicada por aspectos sócio-culturais e funcionais (Espino, 2004). Alguns
autores partem da assunção de que o termo Paleoetnobotânica corresponde unicamente ao
estudo de frutos e sementes arqueológicas (Marinval, 1999). Compreendendo-se esta
posição no contexto da generalização do termo, após a utilização do mesmo por J. Renfrew
(1973) na sua obra centrada exclusivamente em sementes e frutos, a verdade é que nem a
definição da autora (vide supra) nem a etimologia da palavra apontam nesse sentido. Uma
visão mais lata deste conceito inclui outro tipo de restos, nomeadamente os tecidos
lenhosos, e em última análise qualquer tipo de restos botânicos. É este o termo de
abordagem e os seus pressupostos teóricos seguidos no estudo aqui apresentado.
O termo “Arqueobotânica” é frequentemente entendido, numa posição de base
etimológica, como o estudo dos vestígios vegetais recolhidos em escavações arqueológicas.
Esta postura quase inócua surge amiúde independente de uma posição teórica face ao
tratamento dos dados a obter nesse mesmo estudo, assumindo assim escasso valor
epistemológico. De facto, dadas as limitações a nível interpretativo potenciadas pelo tipo e
local de recolha, a Arqueobotânica, como definida acima, confunde-se repetidas vezes com
a própria Paleoetnobotânica (Mateus, 1996). Outros autores, porém, assumem uma
perspectiva mais aglutinadora e arrojada do conceito “Arqueobotânica” enveredando por
aproximações às transformações da envolvente dos locais de habitação das comunidades
humanas em análise, ou seja, a reconstituição dos paleo-ambientes locais e dos processos
que lhes são inerentes (Badal et al., 2003; Espino, 2004). Parece, contudo, que esta
abordagem conceptual se integra mais no domínio da Paleoecologia, disciplina que atenta à
compreensão e reconstituição imagética de paisagens e territórios antigos entendidos numa
perspectiva dinâmica e alargada. Não obstante, o material de origem arqueológica não se
assume nesta disciplina como único, nem primordial, objecto de estudo (Mateus, 1996).
18
Já o termo “Paleobotânica” poderá (e será, no presente estudo) ser entendido de
forma igualmente inócua, mas globalizante ao ponto de extravasar a realidade arqueológica,
de modo a incluir os três conceitos aqui discutidos.
O estudo Paleoetnobotânico aqui apresentado centra-se na análise dos macro-
restos (ou macro-fosseis) vegetais (fitoclastos e fitodiásporas) encontrados num contexto
arqueológico e sedimentar que não potencia a conservação de materiais botânicos sem a
sujeição destes a uma combustão incompleta (vide infra).
Será demonstrada a inevitabilidade de assumir aqui a realização de um estudo de
índole Paleoetnobotânica, dada a natureza particular dos contextos de estudo.
1.1. A conservação de macrorrestos
São várias as formas de conservação de tecidos lenhosos e carporrestos e de
preservação dos seus vestígios em sítios arqueológicos, das quais salientamos, na
bibliografia existente (Buxo, 1997 e 1990; Marinval, 1999; Piqué, 2006), os seguintes:
- Carbonização, ou seja, a substituição dos elementos orgânicos por carbono
(fossilização) e o consequente afastamento dos mesmos dos ciclos de degradação
biológica (não mecânica).
- Existência de condições anaeróbicas, o que acontece em meios saturados
de água, naturais ou artificialmente criados (por vezes dentro dos locais de
ocupação humana).
- Existência de condições extremas, de aridez, frio ou gelo.
- Contacto com elementos químicos inibidores da actividade bacteriana, por
exemplo, alguns metais (Piqué, 2006).
- Mineralização dos carporestos Através da formação de depósitos de sílica
que, após a morte e decomposição da planta, se conservam enquanto esqueletos
de sílica, replicando a morfologia das superfícies vegetais (Buxo, 1997; 1990).
Contudo, nem todas as espécies possuem capacidade de mineralização (Marinval,
1999).
- Impressão de sementes, folhas e ramos em argilas (e.g. de recipientes ou
barro de revestimento).
No caso da Terronha de Pinhovelo, nosso caso de estudo, como na maioria das
jazidas arqueológicas em locais secos de clima mediterrânico, caracterizados por ambientes
sedimentares oxigenados, as únicas evidências paleobotânicas conservadas e passíveis de
identificação encontravam-se carbonizadas. De facto, as escassas impressões vegetais
19
identificadas em argilas cozidas, constituídas somente por marcas de ramagens, não
permitiam qualquer identificação taxonómica.
1.1.1. A combustão
A combustão é uma reacção química que exige a presença de combustível e
oxigénio e pode ocorrer de forma natural ou artificial. Processa-se em quatro principais fases
que se sucedem de acordo com o aumento da temperatura (Chabal, et al., 1999; Badal et al,
2003; Allué, 2002):
1. Desidratação – até aos170ºC
2. Torrefacção – até aos 270ºC
3. Carbonização ou pirólise (inicio da fase exotérmica) – até aos 500ºC
4. Combustão completa
Nas duas primeiras fases, o material vegetal seca e dá-se uma perda de 35% do
peso, em forma de vapor de água, gás carbónico e outros componentes orgânicos. É
entendido que, se a combustão for interrompida na torrefacção, os frutos e sementes
conservarão a sua morfologia externa, possibilitando, assim, a sua identificação botânica
(Badal et al, 2003).
Num sentido estrito, a combustão compreende somente as duas fases finais. A
carbonização (pirólise) é uma reacção térmica que conduz à formação de brasas,
implicando a degradação química da celulose e da lignina, enquanto que a fase seguinte
corresponde a uma reacção oxidante que conduz à formação de cinzas e poderá acontecer
sem a presença de chamas. A interrupção da combustão no final da terceira fase, seja por
cessar a alimentação de oxigénio ou pela perda de temperatura, conduz à formação de
carvões (por calcinação) que, desta forma, mantêm a estrutura anatómica e morfologia
básica do material vegetal original (Chabal, et al., 1999; Badal et al, 2003; Allué, 2002).
1.1.1.1. Efeitos sobre as estruturas vegetais
Embora tanto a torrefacção como a carbonização dos restos vegetais não
impossibilite a sua identificação taxonómica, a verdade é que algumas alterações são
produzidas quer nos frutos e sementes quer nos tecidos lenhosos.
20
No caso das madeiras as deformações são tanto macro como microscópicas e
dependerão da temperatura a que os tecidos lenhosos foram submetidos, das
características da madeira e do seu estado de conservação (Allué, 2002). De acordo com
Schweingruber (apud Piquet, 1999), a carbonização de madeiras implica uma perda de 70 a
80% de substância, provocando assim uma contracção de 7 a 13% longitudinalmente e de
12 a 25% radial ou tangencialmente. Às paredes celulares resta somente 1/5 a 1/4 da
espessura inicial.
Com a carbonização é normal surgirem, de igual modo, fissuras e deformações nos
tecidos. Verifica-se também a contracção ou colapso das células (em especial se a madeira
se encontrasse seca aquando da carbonização), a redução da massa e fragmentação, e o
arredondamento. As fissuras, normalmente desenvolvidas no plano transversal a partir dos
poros e raios, são causadas nas primeiras fases da combustão, quando gazes e vapor de
água se volatilizam de forma repentina. Este factor poderá funcionar de forma mais marcada
em determinadas espécies (Allué, 2002).
Experiências realizadas por Bazile-Robert e também por Rossen e Olson (citadas
por Piquet, 1999) com diversas espécies de madeiras demonstraram a existência de
distintos comportamentos com carácter específico durante a combustão. Esses traduzem-se
em diferentes perdas de massa que poderão, de forma significativa, conduzir à
sobrerepresentação ou subrepresentação de tipos xilotómicos nos espectros antracológicos.
As alterações da combustão sobre os carporestos foram também alvo de alguns
estudos centrados, principalmente, nas transformações provocadas sobre as dimensões nos
cereais. Desta forma, é incontestável que as dimensões e peso de cereais carbonizados não
são passíveis, de uma forma linear, de serem comparados com cereais frescos (Ferrioa, et
al., 2004).
Tendencialmente, a combustão parcial provoca a diminuição do peso e do
comprimento dos grãos e o aumento relativo da largura e espessura (o efeito nesta medida
não é, contudo, consensual entre várias experiências). Além disso, as alterações
provocadas variam nas diferentes espécies e também consoante a intensidade e o tipo de
fogo a que são sujeitos os cereais.
Numa experiência com fogo real, Ferrioa et al. (2004) concluíram que a diminuição
do peso é pouco significativa quando as temperaturas a que os grãos são sujeitos não
ultrapassam os 200º C. Porém, o peso reduz drasticamente quando submetidos a
temperaturas de 250º C. Por outro lado, a mesma experiência demonstrou que as alterações
são mais marcadas nos grãos de trigo do que nos de cevada.
Tellez e Ciferri (1954), numa experiência em estufa, demonstraram também a
existência de alterações discordantes ao nível da espessura entre distintas espécies do
21
género Triticum. Do mesmo modo, concluem que os grãos assumem formas
tendencialmente mais arredondadas que a original e o sulco ventral perde profundidade.
1.1.2. Fenómenos pós-deposicionais
Um dos principais fenómenos pós-deposicionais que condiciona a conservação
(potenciando-a) dos tecidos lenhosos é a própria combustão. Havendo já explorado o tema
resta perceber como após essa combustão parcial as estruturas vegetais já fossilizadas
poderão sofrer novos processos de desgaste.
Vários agentes físico-químicos e mecânicos agem de forma complementar sobre
os restos vegetais integrados nos sedimentos. Destes salientamos o pisoteio, a pressão do
peso do próprio peso do sedimento, as grandes alterações de temperaturas atmosféricas e
ao nível do solo e processos de pedogénese como a carbonatação (Allué, 2002).
Acrescente-se, embora seja difícil a sua detecção, o efeito dos agentes sedimentares na
remobilização dos restos vegetais.
Por fim, outro factor determinante poderá ser a afectação directa por acções
perturbadoras sobre o solo, tanto antrópicas como animais. Entre as acções do Homem
inclui-se a escavação arqueológica, a recolha de amostras e a flutuação ou crivagem dos
sedimentos.
1.2. Antracologia e Carpologia como Paleoetnobotânica
1.2.1. Antracologia
O estudo de madeiras carbonizadas – antracologia – consiste na identificação
botânica dos fitoclastos através do reconhecimento das suas características anatómicas a
um nível microscópico. A identificação dos taxa realiza-se com base em comparações com
colecções de referência e atlas de anatomia (Schweingruber, 1990a, 1990b; Vernet, et al.,
2001). A consulta de estudos detalhados sobre a xilotomia de grupos taxonómicos
particulares, onde o valor de diagnóstico de características xilomorfológicas é avaliado
constituiu também um precioso auxiliar na identificação.
Na sua fase inicial de desenvolvimento, na primeira metade do Século XX, a
morosidade dos processos inerentes ao estudo microscópio dos tecidos lenhosos
carbonizados (devido ao uso de microscopia óptica de transmissão e necessidade de
22
realização de cortes finos em material previamente impregnado) dificultou a afirmação da
antracologia enquanto prática científica na área da Paleobotânica. A proliferação destes
estudos, a partir da década de 70 do século passado, operou-se com a generalização de
processos analíticos mais simples que passavam pela fragmentação manual dos fitoclastos
e a sua observação ao microscópio óptico de luz reflectida. Estes procedimentos
permanecem repletos de actualidade, apesar de, hoje, também se utilizarem
complementarmente diversas outras metodologias e equipamentos de microscopia
(Figueiral, Mosbrugger, 2000).
Ainda que o incremento dos estudos antracológicos se tenha verificado pela sua
associação a investigações de índole arqueológica, estes não se encontram limitados à
recolha e análise de materiais provenientes de sítios arqueológicos. Pesquisas de âmbito
antracológico têm-se centrado também em contextos de fogos, de origem natural ou
antrópica, detectados em paleosolos ou perfis de solo – Pedo-antracologia – nem sempre
associados directamente a níveis de ocupação humana (Uzquiano, 1997; Figueiral e
Mosbrugger, 2000). Estas estão, contudo, fora do âmbito do presente estudo.
1.2.2. Potencial e limitações: entre a Paleoecologia e a Paleoetnobotânica
Os já mencionados avanços metodológicos alcançados nos estudos
antracológicos, em especial no Sul da Europa, nas décadas de 60 e 70 visaram vários
aspectos, incluindo a recolha de amostras nos trabalhos de campo. Na realidade, o uso de
amostragens de maior dimensão e a optimização de métodos de recolha sistemática, como
a flutuação de sedimentos, hoje extravasam os limites das estruturas arqueológicas, nas
quais a presença de fitoclastos sendo mais evidente era, anteriormente, mais valorizada.
No plano teórico-metodológico coexistem abordagens distintas, com diferentes
objectivos e níveis de abrangência, pretendendo definir as capacidades e limitações dos
estudos antracológicos. Duas posições opõem-se com a principal divergência na atribuição
de diferentes valências dos contextos de estudo ao nível da reconstrução das paisagens e
fitocenoses antigas. A principal questão consiste na avaliação e quantificação dos vectores
de dispersão, transporte e deposição responsáveis pela presença dos macrorrestos vegetais
nos sítios arqueológicos, salientando-se ou menosprezando-se a selecção antrópica como
factor enviesante do panorama obtido pela análise quantitativa dos macrorrestos. Não
obstante, mantém-se o principio segundo o qual a ecologia das espécies manteve-se
inalterada desde tempos antigos até à actualidade e que, nessa base, é possível o
estabelecimento de comparações entre ambas as realidades (presente e passado).
Não escamoteando a existência de um potencial paleoecológico na análise de
carvões recolhidos em sítios arqueológicos, parece claro, porém, que este é
23
recorrentemente exacerbado de forma errónea. A posição mais usualmente adoptada apoia-
se na distinção entre carvões concentrados em estruturas ou derrubes e aqueles dispersos
nos sedimentos arqueológicos. Os primeiros devem traduzir um único momento de selecção
de combustível/material de construção, tratando-se assim de uma amostra não aleatória da
vegetação lenhosa presente, limitando-se a interpretação paleoecológica à constatação da
presença de determinados elementos florísticos e adequando-se, assim, a interpretações
paleoetnográficas, para as quais a sincronia dos macrorrestos recolhidos demonstra ser
uma valência (Figueiral, 1994).
Por seu turno, os materiais dispersos deveriam supostamente fornecer espectros
mais completos da paleovegetação envolvente da jazida arqueológica. Estes
corresponderiam a acumulações de vários (potencialmente muitos) momentos singulares,
espelhando diversos momentos de recolha de combustível e limpeza da área de habitação.
Segundo alguns autores a recolha sucessiva de madeira atenuaria o factor selecção
aumentando a possibilidade de, entre os carvões dispersos, se encontrarem representadas
todas as espécies lenhosas da envolvência do habitat e nas proporções directas, ou não –
aqui variam as interpretações – face à composição paisagística (Chabal, et al., 1999;
Figueiral, 1994). Refira-se a este propósito que em termos estatísticos uma amostra
composta por uma sucessão de gestos selectivos não passa a ser uma amostra aleatória,
por maior que seja a acumulação de gestos incluídos, pelo que a assumpção de que todas
as espécies lenhosas da flora regional estariam representadas numa amostra resultante
dum acumular de gestos de recolha de combustível e de limpeza da área não tem qualquer
sustentabilidade estatística.
Diversos autores sustentam que a obtenção de material lenhoso para alimentar
estruturas de combustão seguiria o princípio do mínimo esforço segundo o qual, de forma
aleatória e não selectiva, seriam recolhidos ramos caídos, secos, privilegiando-se os
materiais mais próximos do povoado, independentemente das suas características
específicas. Desta forma, todas as espécies lenhosas seriam recolhidas na medida da sua
abundância (apud Allué, 2002; Espino, 2004 e Piqué, 2006). Do mesmo modo que
entendem o universalismo da recolha de madeira morta, independentemente da espécie,
pressupõem também que a exploração da madeira far-se-ia em meios associados a outras
actividades como a agricultura e a pastorícia, por uma questão de poupança de tempo e
esforço o que supostamente deveria garantir um reflexo fiel do território de exploração
(Chabal, et al, 1999).
Deste modo, segundo os autores já referidos, para se obter material adequado a
uma reconstituição paleoambiental bastaria realizar uma correcta amostragem e recolha no
campo. Esta pressupõe o conhecimento das condições de deposição, a distinção clara entre
24
material disperso e concentrado e a recolha manual e separada de fragmentos de maiores
dimensões (Chabal, et al., 1999; Figueiral, 1994; Vernet, 1999).
Assume-se com este tipo de abordagem que é possível obter uma imagem de um
fácies local da paleovegetação – o território de exploração de madeira de um habitat antigo
– revestindo-se esta de um carácter complementar face às séries regionais resultantes de
estudos polínicos (Figueiral, 1994).
A contestação a esta visão optimista do potencial paleoecológico da antracologia
arqueológica passa pela negação dos princípios que a fundamentam.
O primeiro ponto fundamental centra-se no factor humano que antecede a
presença das espécies vegetais no registo antracológico. Estudos etnográficos demonstram
que as comunidades rurais têm sólidos conhecimentos de base empírica acerca das
propriedades das madeiras enquanto material de construção e combustível. A escolha de
materiais lenhosos poderia depender dessas propriedades, tal como da articulação entre
necessidades da comunidade, disponibilidade no meio e ainda de factores de ordem
cultural. Deste modo, a sua presença na jazida dificilmente seria correlacionável quantitativa
e estruturalmente, de forma directa, com a biomassa existente (Piqué, 2006; Allué, 2002;
Mateus et al., 2003). De igual modo, a ausência de um elemento no registo antracológico
nunca poderá significar a sua inexistência na paisagem envolvente do povoado.
Saliente-se que a imagem paleopaisagística poderá ser deturpada pela maior
representatividade dos elementos de mais fácil recolecção, segundo o já referido princípio
do mínimo esforço.. De facto, é possível questionar até que medida os elementos de mais
fácil recolha são sempre aqueles que existem em maior abundância na paisagem e a melhor
caracterizam. A recolha poderá privilegiar a madeira morta e a vegetação arbustiva pelas
suas propriedades combustíveis, porém, nada garante que nesses elementos estejam
incluídos, de forma proporcional face à sua abundância e papel na paisagem, todos os
componentes relevantes da mesma.
De acordo com Vernet (1999), uma das limitações da antracologia é o facto de
representar uma abordagem essencialmente diacrónica. Na verdade, o espectro
representado pelos fitoclastos dispersos não pode correctamente ser posicionado num
momento bem delimitado, antes num intervalo de tempo correntemente inquantificável. Ao
mesmo tempo nem sempre são perceptíveis os processos de transporte de deposição
responsáveis pela incorporação dos carvões nos depósitos arqueológicos. Deste modo, os
carvões, ou parte destes, poderão não ser sincrónicos dos momentos de ocupação
identificados na jazida e até resultar de incêndios regionais e, assim, respeitar a outra lógica
interpretativa (Mateus, et al., 2003).
Ao mesmo tempo que é difícil conhecer o período de formação do conjunto
antracológico, é impossível quantificar as alterações paisagísticas ocorridas durante o
25
período de formação do depósito em questão (por exemplo, uma fase de ocupação humana
de várias décadas). Na verdade, os fitoclastos que surgem no referido depósito teriam uma
representatividade (face a essa paisagem) distinta em cada uma das diferentes fases de
alteração dessa mesma paisagem, todas elas contemporâneas da formação do depósito.
Considera-se, assim, que as proporções que Chabal et al. (1999) dizem identificar
frequentemente no registo antracológico - 20% das espécies representam 80% da biomassa
à semelhança dos padrões ecológicos actuais - poderão estar truncadas à partida. Essa
ideia sai realçada quando Vernet (1999) acrescenta que esses números poderão não se
verificar em ecossistemas desequilibrados. Como tal, parece-nos ser estranho identificar
essas proporções no registo antracológico em determinados contextos cronológicos e
culturais que implicam a existência de uma paisagem bastante antropizada. Saliente-se que,
segundo o princípio do menor esforço, acima mencionado, o território primordial de
exploração para obtenção de combustível relaciona-se com as demais actividades de
subsistência da comunidade, num espaço de efectiva proximidade face ao povoado. Esse
espaço é exactamente o mais perturbado e afastado das proporções naturais que os
autores sustentam ser passíveis de identificar através da análise dos tecidos lenhosos.
Em suma, é falacioso afirmar que os carvões dispersos representam um panorama
temporal mais alargado (ainda por mais difícil de quantificar) e depois proceder à sua
análise como se de um momento único se tratasse. Parece claro que, embora faça sentido a
nível metodológico e mesmo interpretativo a distinção entre carvões dispersos e
concentrados, a selecção antrópica encontra-se inerente a ambos, devendo incluir-se na
sua interpretação (Uzquiano, 1997). Dada a natureza dos factores que condicionam o
registo antracológico, a percepção do seu significado passa primordialmente pela
compreensão da jazida e da sua envolvência (idem, 1997).
Por fim, os processos a que são sujeitas as estruturas vegetais até se tornarem
parte do registo arqueológico poderão igualmente condicionar a sua interpretação,
condicionando a já problemática correlação entre a quantidade de material carbonizado e o
número de indivíduos representados. O processo de fragmentação depende de factores que
não são controláveis, tais como as propriedades de cada espécie, as condições em que
ocorreu a sua carbonização e ainda diversos processos pós-deposicionais. (Allué, 2002).
Mesmo Chabal, et al. (1999) referem que a redução da massa com o fogo poderá não ser
proporcional em todas as espécies. De facto, como já fizemos notar (vide supra), essas
diferenças poderão afectar de forma muito significativa os espectros antracológicos.
26
Os estudos antracológicos nos sítios arqueológicos, no entanto e apesar dos
argumentos acima expostos, são de grande importância e constituem fonte de informação
com muitas possibilidades interpretativas.
Ao nível das interpretações etnográficas são diversas as linhas de investigação.
Partindo do princípio que existe uma selecção humana das madeiras de acordo com os fins
a que se destinam, o que pressupõe um conhecimento profundo das matérias-primas, torna-
se determinante tentar aceder ao processo inerente a essa escolha.
As madeiras seriam escolhidas de acordo com determinadas propriedades, tais
como a rigidez, elasticidade e plasticidade (Chabal, et al., 1999). Naturalmente seria distinto
o esforço despendido na obtenção de matérias-primas para construção ou para mero
combustível para alimentar estruturas de combustão de âmbito doméstico se bem que não
seriam de desprezar as propriedades calóricas dos diferentes tipos de lenha. No entanto, a
compreensão do processo de escolha está condicionada, à partida, pelas limitações quanto
à definição dos espectros locais e regionais da vegetação. Ou seja, não se acedendo de
forma mais completa aos padrões paisagísticos da envolvência dos povoamentos humanos
só de forma esboçada se poderá compreender as contingências da escolha de matérias-
primas nesse contexto assim como a gestão do meio.
Independentemente desta limitação, é possível associar espécies a actividades e a
capacidades tecnológicas. Tal define o enquadramento dos carvões no campo dos
artefactos antrópicos e, como tal, passíveis de interpretações eminentemente arqueológicas
(Mateus et al., 2003).
Não obstante, existe um potencial paleoecológico nas análises antracológicas que
começa pela simples nomeação da sua presença na paisagem ou região envolvente. Afinal
os fitoclastos relacionam-se com a vegetação mas não de forma directa e a sua análise
deve realizar-se com muitas precauções. Assim, é possível reconhecer componentes de
unidades de vegetação embora sem perceber o seu peso na constituição da paisagem. É
neste ponto que divergem as abordagens paleoetnobotânicas e arqueobotânicas
tradicionais (Piquet, 1999). Nas primeiras, e embora se assuma que a disponibilidade no
meio ambiente condiciona de forma marcante a escolha de combustíveis, não se entendem
as frequências relativas de um conjunto de carvões enquanto reflexo das proporções
encontradas nas paleopaisagens. Pressupõe-se a existência de uma escolha antrópica
consciente assim como de vários outros factores enviesantes.
Contudo, sendo a escolha de materiais lenhosos condicionada por factores de
ordem sócio-económica, em conjunto com a disponibilidade no meio, a dimensão
etnográfica condiciona, à partida, a interpretação paleoecológica. Como P. Uzquiano (1997,
p. 152) refere, será principio basilar que “el estudio de las relaciones hombre-medio debe
27
preceder a la Discusión Paleoecológica, de cara a evaluar mejor las aportaciones de la
Antracología en el terreno de la Paleoecología”.
1.2.3. Carpologia
Apesar de existirem (escassos) estudos anteriores, remontam aos anos 40 os
trabalhos do Eng. Pinto da Silva, ainda hoje uma referência nesta área, que constituíram o
verdadeiro debutar da investigação na área da Carpologia em Portugal (Mateus e Queiroz,
1993). Nas décadas seguintes este investigador assumiria um papel preponderante
multiplicando estudos e as espécies identificadas (ver síntese em Silva, 1988). Porém, o
forte incremento que esta disciplina sofreu na década de 90 e até à actualidade no
Mediterrâneo Ocidental, nomeadamente em Espanha e França, não foi convenientemente
acompanhado pela formação de novos investigadores dessas áreas em Portugal.
As análises carpológicas, aqui entendidas num âmbito alargado, incidem sobre
diferentes tipos de estruturas vegetais, nomeadamente, frutos e infrutescências, sementes,
tegumentos, pedúnculos, espigas, espiguetas, glumas e segmentos de raquis (Marinval,
1999; Buxo, 1997). A carpologia em sítios arqueológicos é entendida como um estudo
paleoetnobotânico por excelência. Tal deve-se, especialmente a duas razões. Por um lado,
a detecção desses macrorrestos está intimamente relacionada com os modos de confecção
e estratégias de armazenagem que lhes são inerentes. Por outro, a presença dos indícios
carpológicos numa jazida resulta de uma recolha que, claramente, não se processa de
forma aleatória, pressupondo uma forte selecção e frequentemente implicando o seu cultivo
e gestão prévios.
A recolha de frutos e sementes por parte de comunidades antigas cumpria
objectivos específicos: a alimentação, a preparação de fármacos e drogas, a produção têxtil
e artesanal, a obtenção de combustível (e.g. o azeite), a ornamentação, a realização de
rituais e a troca/comércio. Não obstante, é frequente a presença de sementes de espécies
daninhas que acompanham os cultivos, assim como de espécies existentes na envolvência
das habitações ou recolhidas como combustível.
Numa análise mais imediata, é possível estabelecer algumas linhas de
investigação para além da óbvia tentativa de compreender qual a utilização dada a cada
componente botânico encontrado em escavação, bem como os processos de escolha,
tratamento e valorização desses produtos pelas sociedades antigas (ver Marinval, 1999 e
Buxo, 1997):
- Compreensão da selecção, consumo e modo de preparação de alimentos
vegetais, selvagens e cultivados, e assim deduzir diversos aspectos das paleo-
28
dietas em articulação com os demais dados arqueológicos (zooarqueológicos,
análises de fitolitos, entre outros),.
- Aproximação às diferentes fases e gestos relacionados com as actividades
agrícolas, partindo do pressuposto que determinado tipo de evidência, como as
cariópses de cereais, implica um determinado conjunto de actividades que,
relacionando-se com as capacidades tecnológicas de cada comunidade de um
determinado espaço e tempo (implicando um conhecimento arqueológico e
histórico de base), permite uma recriação imagética de gestos.
- Conhecimento dos modos de gestão dos territórios e ecossitemas
envolventes de cada paleoocupação humana, de acordo com modelos de
organização e hierarquização do território, teóricos e predefinidos (Mateus, 1990),
e implicando conhecimentos de base ecológica e etnográfica. Em última análise,
poder-se-á, esboçar a localização de campos de cultivo e relacionar grupos
floristicos diferentes com a geomorfologia da zona de estudo (Buxo, 1997).
- Estudo de determinados aspectos relacionados com práticas cultuais,
relacionados com oferendas e depósitos funerários.
Num âmbito mais alargado, que extravasa cada sítio arqueológico, os estudos
carpológicos foram extremamente relevantes para a percepção, em diversas áreas
geográficas, do processo de domesticação de espécies ou da recepção de influências,
tecnologias e conhecimentos exógenos que lograram modificar as comunidades humanas,
assim como a paisagem, de forma marcante. Por outro lado, têm sido obtidas informações
acerca da própria evolução das espécies vegetais, em função da sua selecção e cultivo (os
cereais são o caso mais marcante).
Por fim, e apesar de também as interpretações carpológicas serem fortemente
tributárias do contexto arqueológico (Marinval, 1999) não se pode deixar de salientar que a
carpologia poderá ter um papel relevante ao nível das interpretações paleoecológicas,
sempre como complemento qualitativo (Buxo, 1997), e sempre na estreita relação com o
contexto arqueológico em questão, isto é, o seu território de exploração. É referente a este
espaço, em especial na sua componente mais imediata (os espaços “adjacente” e “próximo”
do modelo de Mateus, 1990), que se obtêm informações relativas a parte da composição
florística que acompanha os campos de cultivo (daninhas de culturas) e estruturas rurais
(comunidades ruderais).
A articulação desta disciplina com sistemas de informação geográfica, dados
etnográficos, ecológicos e paleoecológicos, poderá propiciar ao nível de uma reconstrução
imagética, informações referentes aos territórios de exploração e paisagem
agrícola/humanizada, informações essas de índole marcadamente paleoecológica na
29
medida em que contribuem para a compreensão das paisagens antigas como complexos
mosaicos onde factores antrópicos e naturais se articulam.
É necessário, contudo, prudência no que respeita à interpretação de dados
referentes a estes vestígios botânicos. Contingências de natureza arqueológica prendem-se
com as especificidades de cada contexto escavado e a relatividade da sua expressão ao
nível da compreensão da jazida no seu todo (raramente totalmente escavada). Outras
limitações devem-se à selectividade do processo de conservação desses mesmos vestígios,
a carbonização. Uma conservação diferencial de macrorrestos carbonizados privilegia as
sementes maiores e as que dispõem de pericarpos lenhosos (Buxo, 1997).
Por outro lado, e sendo talvez o aspecto mais relevante, a conservação dependerá
igualmente das distintas manipulações culinárias de cada fruto ou semente, potenciando
desproporcionalidades (e ausências por não conservação) na listagem carpológica (idem,
1997). Outras desproporcionalidades poderão advir de diferenças biológicas entre espécies.
Assim, numa interpretação carpológica é determinante conhecer a biologia de cada espécie,
em especial a sua diasporologia, e incluir esses dados na análise de valores numéricos, na
medida que poderão existir grandes discrepâncias na quantidade de sementes produzidas
pelas espécies identificadas no contexto arqueológico (Badal, et al., 2003).
30
2. Enquadramento do Nordeste transmontano nos estudos paleobotânicos do Noroeste peninsular
Apesar de os primeiros estudos paleoecológicos realizados em Portugal datarem já
de há algumas décadas, a verdade é que esta temática tem tido uma evolução lenta no
nosso país. Como consequência deste facto, não existem séries orgânicas estudadas no
Nordeste Transmontano. Deste modo, a única forma de compreender, ainda que de forma
sucinta, a evolução do coberto vegetal desta região ao longo do Holocénico, é recorrer aos
abundantes contextos galegos já conhecidos. Trata-se, porém, de um tema que não será
aqui abordado de forma sistemática.
Um modelo baseado em estudos de macro-restos vegetais provenientes de
contextos arqueológicos transmontanos foi apresentado por Isabel Figueiral e M. Jesus
Sanches (1998-1999 e 2003) com vista à compreensão da evolução da paisagem durante a
Pré-história, até à Idade do Ferro. Embora consideremos abusiva a interpretação linear
realizada sobre a evidência arqueobotânica em questão, o facto de incidir essencialmente
sobre contextos anteriores ao período cronológico que se encontra no âmbito deste estudo
torna inapropriada, aqui, uma crítica mais aprofundada.
Interessa, porém, reter uma conclusão remetida pelas autoras: aquando da
chegada dos romanos à região, esta já esta se encontrava grandemente privada das suas
florestas. Ou seja, a paisagem encontrava-se fortemente antropizada em virtude das
pressões verificadas a partir da pré-história recente (Figueiral e Sanches, 2003).
De facto, as séries polínicas do noroeste peninsular colocam no Neolítico o início
da capacidade de alteração de ecossistemas por parte do Homem. Embora se denote uma
crescente visibilidade das actividades de desflorestação desde tempos mais antigos, em
especial as Idades do Bronze e Ferro, o período onde estas foram mais marcantes terá
correspondido à fase de ocupação romana (Muñoz Sobrino, et al, 2005; Desprat, et al.,
2003).
Desprat e colaboradores (2003) sustentam que durante a Segunda Idade do Ferro
o impacto humano sobre a paisagem terá sido pouco visível pelo que os momentos
anteriores à presença romana deverão ter sido caracterizados por alternantes fases de
desflorestação e recuperação que tendencialmente despiram vastas áreas florestais,
deixando outras quase intactas (Muñoz Sobrino, et al, 2005, 2004, 1997).
Sustentando esta possibilidade, nas montanhas de Ancares, na zona central da
Galiza, quando surgem os primeiros indícios de agricultura na região (pólen de cereal) em
31
5320±60 BP (4325-4286 BC)1 não se verificam alterações nas percentagens de pólen
arbóreo (AP) (Muñoz Sobrino, et al., 1997).
Será, no entanto, a partir de 3500 BP (cerca de 1870 BC – Idade do Bronze) que
verificar-se-á em Ancares uma diminuição genérica da vegetação arbórea, acompanhada de
um aumento muito significativo da representação de pólen de cereal. Contudo, se tal
comportamento dos valores de AP se traduziu numa redução do pólen de Quercus, a
verdade é que se regista uma expansão dos valores de Betula que atingem mesmo o auge
da sua representatividade. Este dado foi interpretado como uma evidência do bom estado
das florestas de montanha aquando do forte declínio dos carvalhais, resultante da
antropização das suas áreas bio-climáticas mais favoráveis (Muñoz Sobrino, et al., 1997).
Por outro lado, no Lago de Sanabria, os dados polínicos demonstram que a partir
de 3050±79BP (1491-1479 BC) o aumento de representatividade do pólen de cereal é
acompanhado de uma diminuição de Betula e do tipo Pinus sylvestris, e do acréscimo dos
valores do tipo Quercus robur (Muñoz Sobrino et al., 2004). A sua associação a um
acréscimo muito significativo da presença de carvão indicia a abertura de pastagens de
montanha.
Verificam-se, deste modo, distintos comportamentos regionais, traduzíveis em
diferentes registos polínicos. De facto, mesmo no último terço do Holocénico, período que
nos interessa particularmente para perceber o enquadramento paisagístico encontrado
pelos romanos aquando da conquista do território, identificaram-se regionalmente diferentes
níveis de antropização da paisagem. Estas diferenças articulam-se com os padrões
clisseriais, tal como foi verificado nas montanhas de Ancares (Muñoz Sobrino, et al., 1997)
onde foi detectada uma fase de diminuição nos valores de AP entre 3090±35BP (1432-1288
Cal BC) e 2070±25BP (171-37 Cal BC).
Este último intervalo de tempo marca o início de uma fase que se prolonga até
1250±50 BP (668-884 Cal AD), sendo transversal a todo o período da presença romana, na
qual se verifica uma alternância entre momentos de recuperação e recuo das florestas, na
qual a Betula apresenta valores altos (Muñoz Sobrino, et al., 1997). Não obstante, desta
fase resultam alterações paisagísticas sem precedentes, com um marcado declínio da
vegetação de porte arbóreo em virtude do incremento das práticas agro-pastoris (Muñoz
Sobrino, et al, 2005).
Sendo perceptível que a desflorestação não foi um processo contínuo, dever-se-á
ter em conta que as oscilações na constituição da paisagem articulam-se igualmente com
factores climáticos. Para um período que coincidiu sensivelmente com a Idade do Ferro
existem dados que permitem supor a existência de uma fase de arrefecimento, conhecida
como “Iron Age Cold Epoch” (975-250 Cal BC). Seguindo-se a esta dever-se-á ter verificado
1 As datações encontram.se calibradas a 2 sigma, recorrendo ao programa Calib501.
32
um momento de melhoramento das condições climáticas, o “Roman Warm Period” (250 Cal
BC – 450 Cal AD). Este terá sido seguido de mais um período de agravamento climático na
Alta Idade Média (500-1000 AD) (Muñoz Sobrino, et al, 2005). No entanto, nem sempre é
perceptível o papel dos factores climáticos nas alterações paisagísticas, face à visibilidade
da pressão antrópica em tempos proto-históricos e romanos.
Em suma, é evidente a falta de uma série temporal mais fina que permita perceber
a evolução do coberto vegetal ao longo da extensa ocupação romana do NW peninsular. É
claro, porém, que a paisagem se encontrava profundamente antropizada aquando da
chegada dos exércitos à região, denotando-se ainda assim evidências geográfica e
topograficamente heterógeneas.
2.1. Antracologia e carpologia no Nordeste transmontano
Embora sejam relativamente abundantes as recolhas paleobotânicas efectuadas em
jazidas pré-históricas o mesmo não acontece com o período cronológico aqui em estudo – a
época romana. Para este ponto, serão tidos em conta unicamente os dados referentes à
Idade do Ferro e período romano.
O único contexto da Idade do Ferro com dados arqueobotânicos publicados é o
povoado do Crasto de Palheiros, Murça. Trata-se de um povoado calcolítico rodeado de
estruturas monumentais, nomeadamente taludes pétreos que, após uma longa fase de
abandono, terá sido reocupado durante a Idade do Ferro, isto é, no 1º milénio a.C. Deste
período foram escavadas diversas estruturas correspondendo a duas fases de ocupação
(Figueiral, Sanches, 2003):
C. Palheiros – Fase III.1:
Cereais
- Identificaram-se grãos de Panicum miliaceum e de Hordeum vulgare
var. vulgare.
C. Palheiros – Fase III.2: Abundantes quantidades de macro-restos foram preservadas
por um incêndio que terá condenado o sítio.
Cereais
- São frequentes os grãos de Triticum dicoccum e Hordeum vulgare var.
vulgare, predominando os primeiros. São escassos os fragmentos de
espiguetas, bases de glumas e ráquis.
33
- Presença abundante de Panicum miliaceum testemunhando a
armazenagem das cariopses em espigas.
Legumes
- Sementes de Vicia faba var. minor são muito abundantes.
Frutos
- Fragmentos de medronho (Arbutus unedo), de Pinus pinea.
Espécies silvestres
- Silene, Bromus, Galium e Cistaceae.
No que respeita aos dados antracológicos, foram identificadas nas duas fases da
Idade do Ferro tipos xilotómicos como Quercus perenifolia, Quercus caducifolia, Quercus
suber, Arbutus unedo, Pinus pinaster/pinea, Rosaceae Maloidea, Rhamnus
alaternus/Phillyrea e Pistacia (só na fase III.1). Encontram-se, assim, representadas
espécies das florestas e matos mediterrânicos, ainda hoje comuns na região.
De igual modo, surgiram espécies e tipos xilotómicos característicos de etapas de
sucessão ecológicas pouco desenvolvidas, tais como Leguminosae, Erica e Cistaceae, e
ainda, embora só na fase III.2, Daphne gnidium e Labiataea tipo Thymus. Por outro lado
contam-se entre as espécies ripícolas, Alnus glutinosa, Fraxinus angustifolia e Sambucus,
identificados exclusivamente em níveis da fase III.2.
O único contexto devidamente divulgado com vestígios paleobotânicos de cronologia
romana é o de Casinhas de Nª Senhora, Passos-Mirandela (Figueiral, Sanches, 1998-
1999). Trata-se de um conjunto de abrigos com pintura esquemática pré-histórica, junto dos
quais foram identificados macro-restos que, após a realização de uma datação absoluta, se
concluiu serem do período romano, não se excluindo, contudo a possibilidade de serem um
pouco mais antigos (séculos IV a.C. – II d.C.). Trata-se, assim, de um contexto de difícil
interpretação e por isso, de fraca relevância e, mesmo, fiabilidade.
Para além de uma semente de Triticum aestivum globiforme (Triticum compactum)
identificaram-se carvões de Arbutus unedo, Erica sp. e Erica arborea e Leguminosae. Em
menores quantidades contaram-se fragmentos de Quercus caducifolia, Quercus suber,
Quercus perenifolia, Quercus sp, Hedera helix, Rosaceae Maloidea, Fraxinus angustifolia,
Pinus pinaster, Pinus pinaster/pinea, Pinus sylvestris, Juniperus sp e Cistus sp.
34
3. O período romano no Nordeste transmontano
A conquista do Norte da Península Ibérica só se verificou com as incursões de
Augusto em cerca 27-25 a.C. (Redendor, 2002). A região aqui em estudo terá sido
enquadrada na Civitas Zoelarum, do Conventus Asturum. A elevação deste populus a civitas
ter-se-á verificado, possivelmente, por volta de 73-74 d.C. aquando da concessão do ius
Latii aos populi do Noroeste (Alarcão, 2003), não existindo concordância no que respeita à
categoria administrativa que era detida anteriormente pelos Zoelae – gentilitas ou gens (vide
Lemos, 1993 e Alarcão, 2003).
Segundo F. Sande Lemos a primeira importante fase de romanização data da dinastia
Júlio-Claudiana, de que se salienta o início da construção da Via XVII entre Bracara Augusta
e Asturica Augusta (que passa no extremo Norte do actual concelho de Macedo de
Cavaleiros) durante o reinado de Augusto (Lemos, 1993). Contudo, como se percebe na
generalidade da bibliografia, terá sido com os Flávios que se aprofundou a integração da
região no império, nomeadamente pela via económica, traduzida por exemplo pela presença
muito abundante de Terra Sigillata.
No entanto, dada a escassez de trabalhos arqueológicos na região em questão, pouco
se sabe acerca dos Zoelae. Crê-se que a sede da Civitas localizava-se na Torre Velha de
Castro de Avelãs, elevação sobranceira à depressão de Bragança, visto aí ter sido recolhida
uma inscrição dedicada ao deus Aernus pela Ordo zoelarum. Em torno, da sede, ou seja ao
longo da depressão de Bragança multiplicam-se os povoados e estabelecimentos rurais,
essencialmente de pequenas dimensões, só tendo sido identificadas três villae em todo o
Trás-os-Montes Oriental (Lemos, 1993).
De igual modo, existem modelos teóricos que delimitam as fronteiras do território deste
povo, salientando os de Jorge Alarcão (1988) e F. Sande Lemos (1993), este último revendo
com poucas alterações o modelo anterior. Não interessando aqui centrarmo-nos nesta
questão, refira-se somente que o núcleo do território posicionar-se-ia entre as cadeias
montanhosas de Montesinho, Nogueira e Bornes. Esta última serra deverá ter constituído,
segundo os dois investigadores, o limite Sul do território Zoelae.
É, no entanto, ao nível da caracterização da economia e subsistência que se denota
de forma mais marcada a escassez de informações. Para além de genéricos apontamentos
de autores latinos acerca dos “povos das montanhas”, existem abundantes conjuntos de
dados arqueológicos referentes ao Noroeste Peninsular, porém essencialmente para a
Galiza e Minho, zonas cultural e biogeograficamente distintas do Nordeste transmontano, e
onde houve maior investimento a nível de investigação.
A referência mais clara, por parte de um autor latino, acerca dos Zoelae é a de Plínio,
o Velho. Este autor refere que o linho dos Zoelae era exportado para a Península Itálica
35
onde era utilizado para o fabrico de redes de caça (Guerra, 1995). Já Estrabão (III, 3, 7),
refere que “en los dos tercios del año, los montañeses se nutren de bellotas, que secan y
pelan moliéndolas luego para hacer pan, que guardan para consumirlo en lo sucesivo”
(Garcia-Bellido, 1993). A afirmação de Estrabão deverá ser entendida à luz do tempo em
que foi escrita, isto é, durante a fase de consolidação da conquista do território, quando o
autor pretendia enaltecer o papel civilizador dos romanos (Fabião, 1992). Não obstante, as
inúmeras intervenções realizadas em castros na Galiza demonstraram que as bolotas eram
efectivamente um recurso muito utilizado em tempos pré-romanos e que continuaram a sê-lo
após a conquista, não se revestindo, contudo, de um papel basilar para a subsistência
destas comunidades (Ramil-Rego, et al., 1996; Rodriguez Lopez, et al., 1993; Ramil-Rego,
1993).
Efectivamente, diversos estudos carpológicos e arqueozoológicos têm demonstrado o
carácter eminentemente agro-pastoril da economia proto-histórica e romana do Noroeste
peninsular, na qual a produção cerealífera apresentava particular relevância, em especial o
trigo. É apontado um predomínio de Triticum aestivum, Triticum compactum e Triticum
dicoccum. O Panicum miliaceum, Setaria italica, Avena sativa e Hordeum vulgare seriam
cultivos secundários. É ainda apontada a presença de leguminosas, em especial Vicia faba
e em menor medida Pisum sativum, Brassica sp. e Sinapis (Ramil-Rego et al., 1996;
Rodriguez Lopez, et al. 1993). No que respeita à produção de castanha, apesar de ser
conhecido o incremento que esta cultura teve em época romana, este amplo conhecimento,
que advém dos dados polínicos, não é acompanhado por um registo paleocarpológico em
jazidas arqueológicas que o possa documentar de forma mais pormenorizada.
É presumível que a nova ordem económica romana no Noroeste peninsular tenha
conduzido a significativas alterações no que respeita aos volumes e mesmo propósitos de
produção, entrando esta região numa economia cada vez mais mercantil, na qual o
abastecimento de mercados regionais teria especial relevância. Ao mesmo tempo, um
aumento de produções seria necessário para pagar o devido tributo ao Estado romano.
Saliente-se, a este respeito, que noutras áreas geográficas se encontram bem
documentadas evidentes alterações no sistema agrícola. Menciona-se a título de exemplo a
área carpetana onde desde a época de Augusto, e pelo menos até ao século III, houve um
incremento no cultivo da vinha, a tal ponto que no ano 92 d.C. o imperador Domiciano terá
proibido, possivelmente com pouco efeito, o cultivo da vinha em terrenos de cereal,
decretando mesmo o seu arranque parcial (Hurtado Aguña, 2001). Nas regiões peninsulares
mais meridionais, nomeadamente a Bética, as alterações terão sido mais profundas, de
modo a fomentar um acréscimo de produções de cereal e vinho com vista à sua exportação.
No que respeita à exploração de gado, existem marcadas diferenças entre as
realidades pré-romanas e romanas no registo arqueológico do Noroeste peninsular,
36
nomeadamente nos contextos galegos. Em todas as fases crono-culturais o gado mais
importante é o vacum, sendo que o esforço de romanização conduziu à afirmação do gado
porcino face ao ovi-caprino enquanto segunda preferência. Denota-se, porém, que em
épocas de crise, como o Baixo-Império, há um retorno ao gado ovi-caprino e uma
diminuição da frequência de gado porcino (Fernández Rodriguez, 2003).
Por outro lado, os conjuntos arqueozoológicos documentam um aumento muito
significativo na dimensão dos animais. De facto, a altura dos animais de criação doméstica
aumenta claramente, como sinal da importação de animais, possivelmente directamente da
zona central da Península Itálica. Trata-se porém, de uma realidade mais visível nos meios
urbanos e nas grandes villae.
A introdução de animais com fins alimentares e outros encontra-se bem documentada
também pela recolha em jazidas arqueológicas de vestígios osteológicos de gansos, gatos,
cães de pequenas dimensões (animais de companhia) e até dromedários. A continuação da
presença de animais selvagens inclusive em contextos urbanos testemunha a persistência
das actividades de caça, embora cada vez menos para suprir necessidades básicas
(Fernández Rodriguez, 2003).
No entanto, particular ênfase deve ser dado à exploração mineira que terá constituído
a actividade económica de maior interesse para os romanos no NW peninsular. De facto, a
riqueza em diversos metais, dos quais salientamos o estanho, o ouro, a prata, o chumbo e o
ferro terá moldado a paisagem em diversos sentidos, condicionando de forma significativa a
distribuição do povoamento e da rede viária e ainda motivando intensas actividades de
desflorestação (Lemos, 1993).
3.1. Território rural e agricultura
Não é expectável encontrar no Nordeste Transmontano a dicotomia cidade-villae
característica do mundo romanizado. De facto, sabemos hoje que a ocupação do território
não seguiu um modelo único na totalidade do império, verificando-se assim uma certa
heterogeneidade de acordo com diferentes variáveis, tais como a morfologia e ecologia, o
fundo indígena de cada região, os estímulos recebidos e a intervenção estatal (Carvalho,
2006). De facto, à semelhança de outras áreas rurais montanhosas (vide o exemplo da
Cova da Beira em Carvalho, 2006) não existiria no território transmontano uma estruturação
de tipo centuriatio, esperando-se uma repartição territorial mais desordenada, adaptando-se
à topografia e aos traçados pré-existentes. Certo é que, embora não haja centuriação, a
existência de novos tipos de habitat rural em época romana indica que algumas terras foram
seccionadas alterando-se os modelos de organização da paisagem (Lemos, 1993).
37
Deste modo, apesar de o sistema de organização do espaço rural ter sofrido
importantes modificações com a conquista romana, afasta-se um pouco do ideal latino
segundo o qual grandes e luxuosas explorações agrícolas abastecedoras de amplos centros
urbanos (e dependentes destes) estruturavam as paisagens. De facto, somente três villae
são mencionadas para todo Trás-os-Montes Oriental (Lemos, 1993).
Não obstante, um conceito é generalizado: as pequenas unidades uni-familiares
(Casais rurais) localizadas perto de férteis terrenos agrícolas. Estes casais seriam muito
abundantes em todo o Nordeste Transmontano, conjuntamente com outros
estabelecimentos de maior dimensão (Povoados Romanos) também de fundação romana2.
Saliente-se que prospecções arqueológicas realizadas em torno da sede da Civitas
Zoelarum permitiram identificar uma importante concentração destes estabelecimentos
rurais (Lemos, 1993).
Ao mesmo tempo subsistiam inúmeros povoados fortificados e outros aglomerados
indígenas, sendo ainda pouco claro o modo como se enquadravam no modelo económico e
social do império. Tal deve-se, em parte, à concentração dos esforços interpretativos acerca
do mundo rural romano nos estabelecimentos de carácter uni-familiar. Estes, em especial
nestas áreas montanhosas, interiores e com pouco estimulo urbano orientariam as
produções essencialmente para a sua própria subsistência e algum, escasso, comércio
(Carvalho, 2006).
Mais difícil é pensar no papel desempenhado pelos povoados indígenas romanizados,
fortificados ou não. Acreditamos, contudo, que também estes destinariam a maior parte das
suas produções agrícolas ao consumo e troca no próprio povoado, prolongando assim os
modelos de auto-suficiência proto-históricos. Efectivamente, a escolha do local de
implantação do povoado obedeceria a critérios que assegurariam o acesso a uma grande
variedade de recursos (Fernández-Posse e Sánchez-Palencia, 1998). Deste modo, parece
justificável que, como sustenta F. S. Lemos (1993), no território dos Zoelae em época
romana os aglomerados indígenas controlassem os melhores solos agrícolas.
Tal não impediria, bem pelo contrário, a existência de relações comerciais com outros
estabelecimentos, inclusive com as recém criadas unidades uni-familiares, numa óptica de
abertura e de algum dinamismo e complementaridade económica mais característicos do
mundo romano. Realmente, a integração nas rotas comerciais proporcionada pela rede
viária e pela paz romana facilitaria a troca e venda de bens, tanto produtos agrícolas
(produções para venda ou meros excedentes) como artesanato e utensílios de diversas
ordens.
2 A designação “Casal rural” é entendida aqui como sinónimo de “Quinta”, outro terno comum na bibliografia. Para considerações mais aprofundadas acerca destas nomenclaturas deve ser consultada a obra de F. S. Lemos (1993), aqui seguida.
38
3.2. Terronha de Pinhovelo: historial de investigação
A primeira intervenção arqueológica na Terronha de Pinhovelo data de 1997. Até
então, a jazida encontrava-se mencionada em inúmeras obras, referências essas
sintetizadas por F. Sande Lemos (1993). Salientamos, contudo, a primeira menção à
existência de uma povoação romana no local denominado de Terronha de Pinhovelo, que se
encontra na célebre obra do Abade de Baçal, Francisco Manuel Alves (1934). Este autor
centra-se no estudo das epígrafes que diz aí terem sido recolhidas assinalando também a
presença de materiais arqueológicos à superfície entre os quais uma moeda de Sexto
Pompeio.
A intervenção de 1997 deu-se num contexto de arqueologia preventiva pois
encontrava-se projectada a edificação no local de um troço do Itinerário Principal 2, que
implicaria a destruição de grande parte da elevação e, consequentemente, do sítio
arqueológico. Os resultados da escavação ditaram o desvio da via e a salvaguarda da
jazida. Incidindo no flanco oriental da elevação, a intervenção decorreu sob a direcção do
Mestre Pedro Sobral de Carvalho, permitindo a detecção de inúmeras estruturas e
artefactos arqueológicos de significativo valor patrimonial (Carvalho et al., 1997).
Dos vestígios encontrados destaca-se um talude pétreo cuja cronologia é, segundo os
autores, pouco clara. Esta estrutura monumental apresenta 9m de largura máxima e terá,
possivelmente, detido funções defensivas. Adoçadas ao talude definiram-se vários
compartimentos de cariz doméstico.
Entre as diversas habitações visíveis no local assumem-se como particularmente
relevantes um compartimento com evidências estruturais e faunísticas que conduziram à
sua interpretação enquanto espaço de abate e desmanche de animais; e um outro
compartimento que terá sido utilizado enquanto área de moagem, tendo aí sido recolhidos
dois elementos de mó circular intactos.
As escavações permitiram ainda a recolha de inúmeros pesos de tear e moedas assim
como abundante cerâmica importada, nomeadamente Terra Sigillata. Estas evidências
permitiram posicionar a ocupação romana do local entre os séculos I e IV/V d.C. (Carvalho
et al., 1997).
Já os vestígios pré-romanos são escassos e de difícil interpretação, a descrição dos
mesmos parece apontar para a possibilidade da presença romana no local ter sido
responsável pela destruição de grande parte das evidências de ocupações anteriores. A
inserção cronológica das mesmas foi então considerada problemática, enquadrando-se na
Idade do Ferro ou do Bronze. Ao nível artefactual salienta-se a descoberta de um vaso
quase intacto, de filiação castreja, assim como cerâmicas não decoradas, de pastas
grosseiras e com coloração negra. Por fim, a presença de frequentes carvões conduziu
39
mesmo à identificação de um possível episódio violento conectado com o abandono do
local. É sobre estes vestígios que assenta a ocupação romana (Carvalho et al., 1997).
Saliente-se que perante estes resultados, os investigadores responsáveis pela primeira
intervenção na Terronha de Pinhovelo consideraram a jazida, ao contrário de F. Sande
Lemos (1993), um castro da Idade do Ferro romanizado. Sande Lemos, embora baseado
em meras prospecções de superfície, havia denominado o sítio de Povoado Romano, isto é,
um povoado aberto de fundação romana3, explicitamente não considerando-o um castro e
não colocando a hipótese de uma pré-existência proto-histórica.
Com o início do Projecto Terras Quentes, promovido pela associação epónima, esta
jazida foi novamente intervencionada, desta vez dentro de uma estratégia de valorização e
continuidade. Três campanhas foram realizadas nos verões de 2004, 2005 e 2006 cujos
resultados serão descritos adiante (Capítulo IV).
3 O autor considera, contudo, a possibilidade de atribuir a denominação Povoado Romano a locais habitados em tempos pré-romanos desde que esse fundo indígena não tenha tido influência ao nível da estruturação do povoado após a conquista do mesmo.
40
III. OBJECTIVOS E MÉTODOS
1. Objectivos
As escavações arqueológicas realizadas na Terronha de Pinhovelo enquadraram-se
num projecto de investigação vasto e ambicioso que impunha uma abordagem lata a todo o
concelho de Macedo de Cavaleiros, nomeadamente no que às antigas ocupações humanas
dizia respeito. A primeira fase do Projecto Terras Quentes, promovido pela Associação
Terras Quentes teve a duração de quatro anos e decorreu entre os anos de 2003 e 2006.
Neste projecto, para além da Terronha de Pinhovelo, foram intervencionadas várias jazidas
abrangendo um lato espectro temporal.
A intervenção na Terronha de Pinhovelo inseria-se num objectivo mais vasto de
compreender a evolução dos modelos de ocupação do espaço na região desde a Pré-
história aos nossos dias, com principal ênfase para o período romano. Desta época
pretendia-se uma mais fiel caracterização das paleo-comunidades da região, a
compreensão das formas de povoamento e as continuidades e rupturas com as fases proto-
históricas.
Por outro lado, no caso específico da Terronha de Pinhovelo existia, em acréscimo, um
objectivo premente de valorização museológica da jazida e dos conjuntos artefactuais nela
encontrados.
Objectivos mais concretos e específicos existiam no projecto de investigação do sítio
Terronha do Pinhovelo. Partindo do princípio que estávamos perante uma comunidade rural
de um fundo eminentemente indígena, embora romanizada, com o decorrer dos trabalhos
assumiu-se a vontade de compreendê-la do ponto de vista territorial-agrícola e
paleoetnográfico. Para tal afigurava-se como determinante perceber que plantas eram
consumidas e colocar possibilidades interpretativas acerca do seu tratamento pela paleo-
comunidade (cultivo, colheita, confecção), as escolhas de combustível, os ritmos da vida
anual destas comunidades, a articulação com o seu território físico envolvente e a
identificação de elementos e unidades de vegetação da envolvência do povoado (dados
paleoecológicos). Tornava-se necessária a realização de um estudo paleoetnobotânico,
onde se almejava uma melhor compreensão da jazida, esclarecendo a funcionalidade de
determinadas estruturas e averiguando o seu conteúdo de origem vegetal. Ao mesmo tempo
pretendia-se compreender de forma mais adequada as comunidades que a habitaram
tentando aceder ao seu quotidiano, os seus ciclos, a sua alimentação e mesmo a sua
economia.
41
Por fim, desejava-se realizar uma primeira abordagem experimental à recolha de
materiais vegetais carbonizados na jazida e também, numa perspectiva teórico-prática,
compreender melhor as possibilidades e limitações de um estudo desta natureza.
42
2. Métodos
A primeira fase de aquisição de dados passou necessariamente pela realização de
uma escavação arqueológica.
Para alcançar os objectivos propostos havia que incorporar nas metodologias
arqueológicas modelos de recolhas de macro-fosseis vegetais. Estes seriam alvo de
estudos específicos, desde a sua identificação à contabilização de unidades e análises
globais. Desta forma, o conjunto de metodologias específicas a seguir podem dividir-se nos
seguintes parâmetros:
1) Estudo arqueológico: escavação em área;
2) Estudo arqueobotânico: recolha de campo, análise laboratorial (identificação e
biometria), análise de dados;
3) Estudo paleoetnobotânico e paleoecológico: pesquisas de dados ecológicos,
etnobotânicos e eco-territoriais;
4) Análise espacial e eco-territorial
2.1. A intervenção arqueológica
Os trabalhos arqueológicos seguiram os pressupostos metodológicos definidos por
Edward Harris (1991). Deste modo, a Unidade Estratigráfica (U.E.) constituiu-se como a
unidades básica de registo, traduzindo-se em depósitos, estruturas negativas ou positivas e
interfaces. As U.E. foram removidas pela ordem inversa à da sua deposição, tendo sido
delimitadas todas as interfaces identificadas.
O registo das U.E. incluiu a descrição das suas características e inter-relações físicas
bem como a representação gráfica e fotográfica dos seus interfaces em planos individuais
ou de conjunto. Desta forma, a análise estratigráfica conduziu à elaboração de uma matriz
de Harris.
Cada área de escavação deteve a sua própria sequência numérica de U.E., iniciando-
se todas na [1]. Em texto distinguem-se pela referência ao respectivo sector (e.g. B[1], A[1]).
As interfaces de destruição das estruturas positivas obtiveram o mesmo número de U.E. que
a própria estrutura a que se referem seguido da letra a (e.g. à estrutura B[10] corresponde a
interface de destruição B[10a]).
Como o estudo paleoetnobotânico se centra somente no Sector B, na análise dos
macro-restos vegetais as referências às amostras far-se-ão com a referência à fase de
ocupação. Assim, a titulo de exemplo, as amostras da U.E. B[65] são referidas como IV65,
as da B[71] como III71.
43
2.2. O estudo paleoetnobotânico
2.2.1. Amostragem e recuperação de fitoclastos
Numa escavação arqueológica a recolha de carvões e sementes deve ser encarada
como um processo rotineiro, a par da recolha de outros artefactos. No entanto, as suas
singularidades exigem estratégias distintas (Martínez, et al., 2003).
Estão longamente descritas na bibliografia as correctas metodologias de campo que
visam a recolha de macro-restos vegetais (veja-se, em especial, Martínez, et al., 2003;
Badal et al.. 2003; Buxo, 1997 e 1990) Esta recolha deverá constituir uma amostragem com
valor representativo para o tipo de estudo que se almeja realizar. Como Badal et al. (2003)
referem, os vestígios arqueológicos são sempre parciais pois representam somente uma
parte do que foi utilizado. Dessa parte só se conservaram os mais resistentes ou os que
foram depositados num contexto que facilitou a sua conservação. Da parte conservada nem
sempre se escava tudo. Por isso, a parte recolhida e a porção estudada – caso seja
impossível o seu estudo integral – devem ser representativas do conjunto.
Para além da recolha fortuita ou pontual existem métodos sistemáticos dos quais se
salientam:
- Recolha integral do depósito
- Recolha localizada
- Amostragem intervalada
- Amostragem em coluna estratigráfica
- Amostragem probabilística ou aleatória
- Amostras de volumes constantes por estrato
- Amostragem por estimativa
Martínez, et al. (2003) aconselham a articulação de uma amostragem por estimativa
com a recolha integral do sedimento de alguns contextos. A amostragem por estimativa
pressupõe a recolha e flutuação inicial de um volume constante de terra, como teste,
dependendo a continuação da recolha da riqueza em macro-fosseis verificada.
Contudo, como salientam os autores, a aplicação deste modelo implica a presença de
uma pessoa que se dedique ao tratamento e recolha de amostras, e ainda infra-estruturas
que garantam a execução da tarefa. O volume de sedimento que deve ser analisado é
demasiado elevado e só uma máquina de flutuação permite o tratamento das amostras em
tempo útil do decorrer dos restantes trabalhos de campo.
Na impossibilidade de criar estas condições, o critério mínimo passa pela recolha de
amostras de forma sistemática em todos os estratos que visivelmente apresentem macro-
restos vegetais (Martínez, et al., 2003).
44
Na Terronha de Pinhovelo desde o início da intervenção arqueológica houve a
preocupação de assimilar os ecofactos aos artefactos arqueológicos “comuns”. Como tal
recolheram-se manualmente os carvões e sementes visíveis em plenos trabalhos de campo,
recolhendo-se inclusive amostras de sedimento das estruturas identificadas. Porém,
somente a partir da segunda campanha de trabalhos se esboçou um projecto que integrava
a amostragem sistemática de contextos sedimentares com vista à obtenção de dados
paleobotânicos.
Diversos factores condicionaram este projecto, destacando-se a inexistência de infra-
estruturas básicas para a sua execução (colunas de crivos adequadas e material de
laboratório) e o facto de o responsável pelo mesmo, o signatário, se encontrar
impossibilitado de se dedicar de forma constante ao mesmo, visto acumular funções de
direcção técnica e científica dos trabalhos, participando nestes de forma activa e com
diversas tarefas.
Desta forma, optou-se pela continuação da recolha manual dos materiais visíveis,
encontrados de forma isolada e dispersa nos depósitos. Ao mesmo tempo, aproximando-nos
dos modelos acima descritos, realizaram-se recolhas integrais do sedimento de estruturas
de combustão e a amostragem pontual em estratos com significativa presença de macro-
fosseis.
Foram também realizadas amostragens por estimativa em determinados contextos, a
partir da terceira campanha quando já se dispunha de uma coluna de crivos. Contudo, a
morosidade do sistema e o facto de este não se encontrar no local de escavação
impossibilitou a generalização desta abordagem.
Naturalmente, a estratégia passou por uma distinção clara entre carvões
concentrados, em estruturas ou depósitos, e carvões dispersos.
Por fim, é possível afirmar que na fase actual dos trabalhos da Terronha de Pinhovelo
não se dispõe de uma superfície de escavação suficientemente grande (proporcionalmente
à dimensão da jazida e face ao tipo e cronologia do povoado) para conseguir uma
amostragem notável. Assim, salientam-se as possibilidades abertas pelo estudo das áreas
de combustão nomeadamente nos seus aspectos etnobotânicos.
A recuperação de macro-restos vegetais aquando das intervenções arqueológicas na
Terronha de Pinhovelo procedeu-se de três formas:
- Recolha manual dos fitoclastos visíveis em escavação
- Crivagem a seco da totalidade dos sedimentos no campo, durante os trabalhos,
recolhendo-se manualmente os macro-fosseis
- Flutuação de sedimentos (amostragem por estimativa, amostragem pontual, e
recolha integral de determinados contextos)
45
Os materiais paleobotânicos recolhidos pelos dois primeiros métodos são identificados
como Recolhas Manuais (RM), traduzindo-se a nível de inventário da seguinte forma:
TP.RM.0000.
De entre os processos de recuperação de fitoclastos, a flutuação de sedimentos surge,
de forma inequívoca em toda a bibliografia arqueobotânica, como aquele que permite uma
mais eficaz recolha de ecofactos. Na Terronha de Pinhovelo, não dispondo de um mais
sofisticado sistema de flutuação que permitisse, de forma mais célere, tratar grandes
quantidades de sedimentos (como descrito por R. Buxo), optou-se por um sistema manual
bastante eficaz, a “flutuação manual simples” (Buxo, 1997).
Este procedimento consiste em depositar o sedimento num recipiente que, de seguida,
é cheio de água. Ao mesmo tempo procede-se à agitação manual do sedimento, de forma a
desagregar torrões de terra e desprender os macro-fosseis de menor densidade permitindo
que surjam à superfície. Decanta-se, então, o liquido para uma coluna de quatro crivos, com
malhas de 2mm, 1mm, 0.5mm e 0.25mm. Este procedimento repete-se sucessivamente até
não se verificar a deposição de qualquer macro-resto nas malhas das peneiras.
Dada a grande abundância de amostras recolhidas no campo e a lentidão do
processo, bem como o escasso tempo disponível para o seu tratamento laboratorial,
procedeu-se a uma sub-amostragem. Desta forma, cada amostra recolhida em sacos de
plástico pesaria em média cerca de 10KG. De cada uma destas realizaram-se, para a
flutuação, sub-amostragens de 1Kg ou 2Kg, dependendo da riqueza em fitoclastos de cada
contexto. Procurou-se sempre garantir uma boa representatividade das mesmas. No quadro
3.1 encontram-se expostos os valores percentuais e totais de cada amostra e sub-amostra.
O restante sedimento de cada amostra quedou-se armazenado para estudos
posteriores ou para confirmação de dados, caso seja necessário. Após a flutuação, o refugo
da mesma foi recolhido e guardado de modo a permitir, através da sua triagem,
averiguações acerca da eficácia do processo.
O conteúdo de cada malha dos crivos foi recolhido em separado de forma a facilitar os
trabalhos laboratoriais. A sua inventariação seguiu a seguinte denominação: TP.Lab.0000.
46
U.E. Peso Amostra
Sub-amostra
Percentagem sub-amostra
V3 59,61 9 15,10V4 6,19 1 16,16V9 5,13 1 19,49
IV11 8,94 2 22,37IV20 49,21 10 20,32IV21 10,9 4 36,70IV22 7,98 2 25,06IV24 1,57 1 63,69IV50 12,23 2 16,35IV63 9,1 2 21,98IV65 84,52 12 14,20IV66 66,29 6 9,05IV70 22,56 6 26,60III71 4,95 2 40,40III82 3,41 1 29,33III95 13,99 3 21,44
Quadro 3.1 – Peso (em Kg) das amostras e sub-amostras e percentagem de sedimento estudada
2.2.2. Metodologia laboratorial e análise de dados
A observação de sementes e demais carporrestos foi realizada à lupa binocular e o
diagnóstico efectuou-se por comparação morfológica com elementos actuais, com recurso à
carpoteca em montagem no Laboratório de Paleoecologia e Arqueobotânica do IPA e a atlas
da especialidade (Berggren, 1981).
Para a identificação de grãos e espiguetas de cereais foi utilizado o guia de S. Jacomet
e colaboradores (2006) e ainda as obras generalistas de R. Buxo (1997) e J. Renfrew (1973)
nas quais se definem os parâmetros descritivos genéricos. Foi contabilizada a totalidade dos
exemplares intactos e aqueles de maiores dimensões da totalidade das amostras
estudadas. Os fragmentos de dimensões muito reduzidas, que somente se podiam
pressupor pertencer a sementes não foram contabilizados.
Para a classificação e tratamento estatístico de dados biométricos dos grãos,
espiguetas e glumas de cereais foram tidos em conta diversos parâmetros métricos. Deste
modo, para as sementes calculou-se o comprimento (C), largura (L), espessura (E), e ainda
os índices C/L, C/E, L/E, L/C*100 e E/L*100. Desta forma pretendia-se apreender as
variabilidades existentes aos nível das proporções dos grãos em cada realidade
arqueológica bem identificada assim como na totalidade do conjunto arqueobotânico e
comparar com as chaves já existentes na bibliografia.
No que respeita aos elementos das espiguetas foram seguidos, com valor
diagnosticante os parâmetros de S. Jacomet (2006) completados por descrições de obras
47
especificas direccionadas para estudos em jazidas arqueológicas (Murphy, 1989; Van der
Veen, 1987). Sempre que possível foi calculada a largura da base das glumas para
comparações biométricas. Limitamo-nos a este parâmetro por ser o único que se conseguiu
obter de forma sistemática entre as diferentes espécies identificadas.
Para a realização do estudo antracológico, os fragmentos de carvão de dimensões
superiores a 2mm foram seccionados manualmente segundo as três secções de
diagnóstico: transversal, radial e tangencial. A observação foi realizada com recurso ao
microscópio óptico de luz reflectida.
As imagens SEM (microscopia electrónica de varrimento), do tipo Fieldemission, foram
realizadas no Centro de Materiais da Universidade do Porto (CEMUP), com recurso a um
equipamento FEI, Quarta 400F.
A identificação taxonómica foi realizada com recurso aos atlas anatómicos de F.
Schweingruber (1990a; 1990b) e Vernet et al. (2001) tendo-se recorrido ainda a estudos
específicos para a identificação de fragmentos de género Quercus (Van Leeuwaarden, in
prep.) e Erica (Queiroz, Van der Burgh, 1989) e à colecção de referência de cortes
histológicos em montagem no Laboratório de Paleoecologia e Arqueobotânica do IPA.
Quanto à unidade de medida, distinguem-se as abordagens da carpologia e da
antracologia. No primeiro caso, o indivíduo é a unidade fundamental para contabilização,
distinguindo-se claramente os elementos intactos ou aproximadamente intactos daqueles
fragmentados. No caso especifico da espécie Vicia faba var. minor foi calculado o numero
mínimo de sementes com base na identificação do hilo.
Para as análises antracológicas optou-se, neste estudo, pela utilização do nº de
fragmentos como unidade de medida. Esta opção partiu de pesquisas a várias abordagens
metodológicas descritas na bibliografia, e não de qualquer experimentação concreta.
Estudos comparativos têm demonstrado que o uso da massa, peso ou do nº de fragmentos
oferecem resultados equivalentes (Uzquiano, 1997; Badal et al., 2003). Acrescente-se que o
último apresenta uma maior rapidez de análise, sendo assim mais vantajoso para estudos
desta natureza. De qualquer modo, as limitações que se considera existir na análise
numérica linear dos tecidos lenhosos carbonizados (vide supra) relativiza a escolha da
unidade de medida, evidenciando o enfoque em aspectos qualitativos para os quais é mais
significativa a indicação de presença de cada taxon.
Seguindo este princípio a análise estatística realizada sobre os vestígios
antracológicos fez-se segundo factores de presença-ausência nas amostras, sem incluir
comparações da frequência de fragmentos. Este tipo de análise encontra inúmeros
problemas, como se encontra bem exposto por Raquel Piqué i Huerta (1999), sendo claro
48
que se apresenta mais eficaz para a comparação de contextos recolhidos integralmente,
sendo dúbia no que respeita a contextos parcamente amostrados. Porém, parece evidente
que o estudo estatístico recorrendo ao número de carvões identificado, de cada espécie,
apresenta também essa mesma condicionante, entre outras mais.
As análises estatísticas foram efectuadas somente sobre recolhas de referência Lab.,
tendo-se cingido, no caso dos materiais carpológicos, aos diversos tipos morfológicos de
cereais, excluindo as espécies silvestres.
Para a obtenção de gráficos de medidas de dispersão, em especial no estudo de
cariopses e glumas de cereais, foram utilizados os programas SPSS 12.0 e o Excel
(Windows XP, 2002). Optou-se por soluções gráficas de tipo Boxplot, histogramas, gráficos
circulares (pie-charts) e quadros (com Média, Desvio-padrão, Mínimo e Máximo).
A análise multivariada dos parâmetros Ecologia, Porte, Frequência de espécies e
Biometria foi realizada com recurso ao programa CANOCO 4.52 (ter Braak & Šmilauer,
2003). Como tal, foram efectuadas análises indirectas de gradiente (PCA - Principal
Component Analysis) de forma a perceber a distribuição das espécies através da análise da
sua quantidade nas amostras (no caso dos cereais), ou da sua presença ou ausência nestas
(no caso dos carvões) e averiguar a possível existência de padrões de semelhança e
dissemelhança entre amostras, apontando os factores que mais contribuem para esse
efeito. Através do mesmo tipo de análise indirecta de gradiente testaram-se ainda as
classificações taxonómicas de cariopses através dos dados biométricos disponíveis.
Foram também realizadas análises directas de gradiente (RDA – Redundancy
Analysis) com recurso ao mesmo programa, CANOCO 4.52, de modo a averiguar os
padrões de distribuição das amostras segregadas pelas variáveis explicativas, como sejam
a ecologia e o porte.
2.2.3. Nomenclatura e descrições A nomenclatura das espécies identificadas segue a proposta da Flora Ibérica.
Contudo, no que respeita às espécies de cereais cultivados, por omissão na Flora Ibérica da
grande parte dos cultivos que nos interessavam, segue-se a proposta de Zohary e Hopf
(2000). Esta opção por uma obra específica da área da paleobotânica e não da sistemática
botânica convencional poderá parecer discutível. Contudo, deve-se fazer notar que esta
área científica, em articulação com estudos genéticos, tem sido responsável pela revisão e
sistematização de conhecimentos referentes às espécies e variantes cultivadas do género
Triticum através do estudo da sua origem e evolução. A obra já clássica de Zohary e Hopf
49
faz na sua terceira edição, de 2000, uma revisão acerca deste tema. De qualquer forma, a
menção a espécies de cereais far-se-á sempre de forma abreviada.
No que respeita à descrição de sementes e folhas foram seguidas obras genéricas de
anatomia botânica, guias florísticos e ainda bibliografia específica de Arqueobotânica. Deste
modo, para a descrição das sementes e folhas de espécies selvagens foi de particular
utilidade o atlas anatómico de sementes e frutos, de Berggren (1981). Recorreu-se ainda a
diversos volumes da Flora Ibérica (Castroviejo, et al., 1990, e outras) e a Flora Europaea
(Tutin et al., 1976), Nova Flora de Portugal (Franco, 1984) e Flora de Portugal (Coutinho,
1939). As medidas apresentadas são de exemplares não carbonizados.
A descrição das cariopses e espiguetas de cereais realizou-se com o auxílio de obras
específicas dessa área da arqueobotânica, salientando-se as obras de S. Jacomet (2006),
R. Buxo (1997) e J. Renfrew (1973) e diversos estudos de jazidas (Murphy, 1989; Van der
Veen, 1987). As medidas apresentadas correspondem a exemplares carbonizados.
De forma a garantir uma descrição mais adequada recorreu-se igualmente a
dicionários e glossários tais como os de Font Quer (1985) e Harris e Harris (2004).
Os termos utilizados na descrição dos tipos xilotómicos seguem a terminologia do
Committee on Nomenclature da International Association of Wood Anatomists (1964), na
sua tradução portuguesa de M. Ferreirinha (1958)4. Contudo, nos termos que definem o tipo
de porosidade é utilizada a proposta de A. Carvalho (1954-55)5.
Acrescente-se ainda que o uso do termo “poros agrupados” surge de forma a englobar
ambos os conceitos de “poros múltiplos” e “poros em cadeia”, frequentemente associados
nas mesmas espécies.
De resto, as descrições apresentadas efectuaram-se com base nos atlas anatómicos
utilizados para o diagnóstico dos exemplares em estudo, assim como na observação da
colecção de referência do Laboratório de Paleoecologia e Arqueobotânica do Instituto
Português de Arqueologia.
4 As diferenças entre os dois volumes são subtis, apresentando-se a publicação oficial do comité com uma tradução portuguesa da responsabilidade de investigadores brasileiros. Por exemplo, essa versão propõe a utilização do termo “poro solitário”, invés de “poro isolado” de Ferreirinha (1958) e Albino Carvalho (1954-55), para além de óbvias diferenças de acentuação. 5 Esta opção traduz-se unicamente na substituição dos termos porosidade “anelar” e “subanelar” por “em anel” e “semi-difusa”.
50
2.2.4. Descrição dos tipos xilotómicos
T- Secção transversal
Tn – Secção tangencial
R – Secção radial
Hedera helix L. ARALIACEAE
T: Porosidade semi-difusa. Poros múltiplos (também poros em cadeia) maioritariamente em
fiadas tangenciais.
Tn: Raios com 4 a 8 células de largura, raramente mais estreitos; raios altos (com até 5mm
de altura).
R: Raios homogéneos (raramente heterogéneos). Perfurações simples. Pontuações
radiovasculares grandes.
Alnus glutinosa (L.) Gaertn. BETULACEAE
T: Porosidade semi-difusa. Poros isolados ou em múltiplos de 2 a 8 (principalmente 3-4),
dispostos em fiadas radiais.
Tn: Raios unisseriados (raramente bisseriados) compridos. Raios agregados. Pontuações
intervasculares bem visíveis e abundantes.
R: Raios homogéneos, raramente heterogéneos. Placas de perfuração escalariformes.
Corylus avelana L. BETULACEAE
T: Porosidade difusa a semi-difusa. Poros isolados ou agrupados (com predomínio de poros
múltiplos) em fiadas radiais. Raios agregados visíveis.
Tn: Raios uniseriados (raramente bi- e trisseriados) com 10 a 25 células de altura.
R: Raios maioritariamente heterogéneos, raramente homogéneos. Vasos com
espessamentos espiralados finos. Placas de perfuração escalariformes com 5 a 10
barras.
Cistus sp. CISTACEAE
T: Porosidade semi-difusa. Poros pequenos e frequentes, maioritariamente isolados.
Tn: Raios uni- e bisseriados (raramente trisseriados). Espessamentos espiralados visíveis e
frequentes. Pontuações intervasculares frequentes.
R: Raios heterogéneos. Perfurações simples.
51
Arbutus unedo L. ERICACEAE
T: Porosidade semi-difusa, com inicio de anel de crescimento visível. Poros isolados ou em
grupos de 2 a 6, dispostos em fiadas radiais.
Tn: Raios com 1 a 4 células de largura. Espessamentos espiralados muito abundantes e
espessos.
R: Raios heterogéneos. Perfurações simples, raramente escalariformes.
Erica arborea L. ERICACEAE
T: Porosidade difusa. Poros com um diâmetro máximo de 80µm, isolados ou em raros
múltiplos radiais ou tangenciais. Tn: Raios unisseriados com até 11 células de altura. Raios bisseriados frequentes. Raios
multisseriados com até 8 células de largura e 40 células de altura.
R: Raios heterogéneos. Placas de perfuração simples. Pontuações intervasculares muito
pequenas e abundantes.
Erica australis L. ERICACEAE
T: Porosidade difusa. Poros com um diâmetro máximo de 50µm, isolados ou em raros
múltiplos (pares) radiais ou tangenciais. Tn: Raios unisseriados com até 8 células de altura. Raios multisseriados com até 8 células
de largura (raios com menos de 3 células de largura raros) e 35 células de altura. R: Raios heterogéneos. Placas de perfuração simples. Nota: A separação entre os tipos xilomórficos Erica australis e E. arborea é bastante ténue.
A dimensão máxima dos poros e a abundância de raios bisseriados são os principais
critérios de diagnóstico utilizados na distinção entre os dois tipos.
Erica scoparia L. ERICACEAE
T: Porosidade difusa. Poros com um diâmetro máximo de 60µm, isolados ou em raros
múltiplos (pares) radiais ou tangenciais. Tn: Raios unisseriados com até 10 células de altura (usualmente 3-4 células de altura).
Raios multisseriados com até 4 células de largura e 20 células de altura. R: Raios heterogéneos. Placas de perfuração simples.
52
Erica umbellata L. ERICACEAE
T: Porosidade difusa. Poros com um diâmetro máximo de 45µm, maioritariamente isolados. Tn: Raios unisseriados com até 4 células de altura. Raios bi- e trisseriados (raramente
tetrasseriados), com até 20 células de altura. R: Raios heterogéneos. Placas de perfuração simples. Nota: A distinção entre os tipos Erica umbellata e E. scoparia é difícil. E. umbellata
apresenta poros menores e raios geralmente mais estreitos, com 2 ou 3 células de
largura (em E. scoparia são frequentes os raios com 4 células de largura).
Quercus coccifera tipo FAGACEAE T: Porosidade difusa. Poros pouco frequentes, isolados dispostos em longas fiadas radiais.
Raios multisseriados pouco frequentes.
Tn: Raios unisseriados abundantes. Raios multisseriados muito largos.
R: Raios homogéneos, formados por células prostradas. Pontuações intervasculares e
radiovasculares grandes. Perfurações simples.
Nota: A distinção entre os tipos xilomórficos Q. coccifera e Q. suber é difícil, particularmente
em fragmentos de pequena dimensão nos quais não é visível uma potencial zona de
porosidade semi-difusa, característica do Q. suber.
Quercus ilex tipo FAGACEAE
T: Porosidade difusa. Poros abundantes, isolados, dispostos radialmente em fiadas largas.
Raios multisseriados muito grandes frequentes.
Tn: Raios unisseriados abundantes. Raios multisseriados muito largos.
R: Raios homogéneos, formados por células prostradas. Pontuações intervasculares e
radiovasculares grandes. Perfurações simples.
Nota: A distinção entre Q. ilex e os restantes Quercus de folha perene é difícil em
fragmentos de pequenas dimensões. Os poros em Q. ilex apresentam-se tipicamente
em fiadas radiais largas, sem zonas de porosidade semi-difusa. A presença ocasional
de zonas de porosidade semi-difusa em indivíduos atípicos, tal como observado em
alguns exemplares da xiloteca do LPA, torna impossível a separação destes casos do
tipo Q. suber.
53
Quercus faginea tipo FAGACEAE T: Porosidade semi-difusa ou em anel. Poros. Concentração de poros grandes no início da
camada de crescimento, formando um anel descontínuo e distribuindo-se em
conjuntos com disposição aproximadamente triangular. Poros diminuindo de dimensão
ao longo da camada de crescimento.
Tn: Raios unisseriados abundantes. Raios multisseriados muito largos.
R: Raios homogéneos, formados por células prostradas. Pontuações intervasculares e
radiovasculares grandes. Perfurações simples. Nota: A distinção entre os tipos Q. faginea e Q. pyrenaica é particularmente difícil. Apenas
os Q. pyrenaica mais característicos, com uma única fiada de poros de Primavera, são
claramente diferenciados do Q. faginea que apresenta tipicamente uma transição
menos abrupta para o lenho de Verão, com prolongamentos de poros de dimensãos
considerável. O tipo xilomórfico Q. faginea deverá, assim, incluir exemplares Q.
pyrenaica menos característicos.
Quercus pyrenaica tipo FAGACEAE T: Porosidade em anel, com uma (mais raramente duas) fiadas de poros grandes no inicio
da camada de crescimento. Poros de Verão pouco ou moderadamente frequentes.
Raios multisseriados muito largos frequentes.
Tn: Raios unisseriados abundantes. Raios multisseriados muito largos.
R: Raios homogéneos, formados por células prostradas. Pontuações intervasculares e
radiovasculares grandes. Perfurações simples. Nota: A distinção entre os tipos Q. pyrenaica e Q. robur foi já tentada por outros autores
(Vernet, et al., 2001), mas as características anatómicas em que se baseia a distinção
proposta no trabalho referido são insuficientes, dada a variabilidade existente entre as
duas espécies, para permitir uma diferenciação credível. A separação entre estas duas
espécies, com base na anatomia das suas madeiras não é, por ora, atingível pelo que
o tipo xilotómico Q. pyrenaica aqui considerado inclui ambas. Deverá incluir ainda
certamente Q. faginea menos característicos.
Quercus suber tipo FAGACEAE
T: Porosidade difusa ou semi-difusa. Anéis de crescimento pouco visíveis. Poros dispostos
em longas fiadas radiais, com dois a quatro poros maiores no inicio do anel de
crescimento. Poros diminuindo gradualmente de dimensão ao longo do lenho tardio
(diminuição por vezes difícil de visualizar).
54
Tn: Raios unisseriados abundantes. Raios multisseriados muito largos.
R: Raios homogéneos, formados por células prostradas. Pontuações intervasculares e
radiovasculares grandes. Perfurações simples.
Nota: A distinção entre os tipos Q. suber e Q. coccifera não é simples e inequívoca e faz-se
essencialmente pela existência em Q. suber de uma zona semi-difusa, por vezes
pouco evidente, com 2-3 poros de maiores dimensões nas fiadas radiais de poros e
uma zona sem poros no final da camada de crescimento. Estas mesmas
características permitem distinguir também os tipos Q. suber e Q. ilex, este último
apresentando fiadas radiais de poros mais largas. A variabilidade da largura das fiadas
radiais e disposição dos poros de maiores dimensões em ambas as espécies torna
difícil, por vezes, a sua distinção, pelo que o tipo Q. suber deverá incluir exemplares
atípicos de Q. ilex.
Quercus perenifolia FAGACEAE Este grupo xilotómico inclui fragmentos que apresentam uma porosidade difusa, com os
quais não foi possível efectuar uma identificação mais detalhada. Inclui Q. coccifera, Q.
ilex e Q. suber.
Quercus subgenus Quercus Oersted FAGACEAE Este grupo xilotómico inclui fragmentos que apresentam uma porosidade em anel, com os
quais não foi possível efectuar uma identificação mais detalhada. Inclui Q. faginea, Q.
pyrenaica e Q. robur.
Juglans regia L. JUGLANDACEAE
T: Porosidade difusa. Poros maioritariamente isolados ou em grupos radiais de 2 a 4 poros.
Tn: Raios com 1 a 6 células de largura (frequentemente 3 a 4) e 15 a 30 células de altura.
R: Raios homogéneos e heterogéneos. Perfurações simples.
Cytisus/Genista/Ulex LEGUMINOSAE
T: Porosidade difusa ou semi-difusa. Grupos de 2 a 10 poros com orientação tangencial ou
oblíqua, alternando com bandas de tecido de suporte com fibras espessas.
Parênquima paratraqueal abundante. Raios largos.
55
Tn: Raios com 1 a 10 células de largura (principalmente 3 a 5). Raios multisseriados muito
altos, até 600µm de altura. Espessamentos espiralados espessos muito frequentes.
R: Raios homogéneos ou ligeiramente heterogéneos. Perfurações simples.
Nota: Este tipo xilotómico abrange um grande número de espécies, incluídas em pelo
menos três géneros de leguminosas. A grande variabilidade morfológica patenteada
não permite uma identificação ao nível da espécie.
Fraxinus angustifolia Valh OLEACEAE
T: Porosidade em anel. Poros de Verão isolados ou em pares radiais, mais raramente em
conjuntos de três poros. Parênquima paratraqueal vasicêntrico (nem sempre
claramente visível). Parênquima apotraqueal em bandas (frequentemente difícil de ver)
no lenho tardio.
Tn: Raios com 1 a 4 células de largura (maioritariamente 2 a 3), curtos (com 10 a 15 células
de altura), normalmente fusiformes.
R: Raios homogéneos, raramente heterogéneos. Pontuações abundantes. Perfurações
simples.
Pinus pinaster Aiton PINACEAE
T: Madeira sem vasos. Presença de canais de resina. Anéis de crescimento visíveis.
Transição mais ou menos abrupta entre o lenho inicial e o lenho tardio.
Tn: Raios curtos, com até 10 células de altura. Raios com canais resiníferos presentes.
R: Raios heterocelulares. Células marginais dos raios com paredes finas e fortemente
denteadas. Campos de cruzamento radiovascular com cerca de 3 a 4 perfurações
pequenas, aproximadamente circulares, simples, de tipo pinóide. Traqueídos com
grandes pontuações intervasculares circulares e areoladas, unisseriadas.
Sorbus sp. ROSACEAE, MALOIDEAE R: Porosidade difusa. Poros com até 60µm de diâmetro, abundantes e isolados, por vezes
múltiplos (com até 5 poros).
Tn: Raios bisseriados, frequentemente também unisseriados (raros trisseriados).
Espessamentos espiralados finos e raros.
T: Raios homogéneos e heterogéneos.
56
Prunus spinosa L. ROSACEAE, PRUNOIDEAE
R: Porosidade difusa a semi-difusa. Poros pouco frequentes, até 50µm de diâmetro, em
múltiplos radiais (com até 6 poros), alguns múltiplos tangenciais no início da camada
de crescimento (2 a 3 poros). Raios largos.
Tn: Raios multisseriados com até 8 células de largura (principalmente 4 a 6), com até
550µm de altura. Raios unisseriados curtos e pouco frequentes. Espessamento
espiralado frequente e bem visível.
T: Raios heterogéneos. Perfurações simples.
Nota: Tipo morfológico difícil de distinguir de Prunus mahaleb, P. lusitanica (ambos com
raios mais estreitos e curtos) e P. domestica (com poros mais abundantes e múltiplos
radiais com menos poros).
Rosa sp. ROSACEAE, SPIRAEOIDEAE
T: Porosidade em anel. Poros abundantes, isolados ou agrupados tangencialmente.
Transição entre lenho inicial e lenho tardio abrupta. Raios largos.
Tn: Raios unisseriados e raios multisseriados com 5 a 20 células de largura. Raios altos, até
10mm. Espessamentos espiralados finos.
R: Raios heterogéneos. Perfurações simples.
Ulmus minor Miller ULMACEAE
T: Porosidade em anel. Lenho inicial com uma a três fiadas de poros. No lenho tardio os
poros surgem em grupos dispostos de forma tangencial a oblíqua, em bandas de 2 a 4
poros rodeados de células de parênquima paratraqueal alternadas com bandas de
tecido de suporte.
Tn: Raios multisseriados, com 3 a 6 células de largura (raramente menores ou maiores).
Altura dos raios entre 30 a 50 células. Vasos com espessamento espiralado
conspícuo.
R: Raios homogéneos ou ligeiramente heterogéneos. Perfurações simples.
57
2.2.5. Descrição dos frutos e sementes
2.2.5.1. Espécies selvagens e leguminosas cultivadas
cf. Aquilegia sp. RANUNCULACEAE
Semente (descrição de Aquilegia vulgaris): oboval; vista transversal sub-quadrangular; faces
laterais convexas. Margem adaxial com quilha mais larga na base da semente;
margem abaxial arredondada. Comprimento: 2,1-2,8mm; largura: 1,1-1,6mm;
espessura: 1-1,3mm.
Anthemis cotula L. COMPOSITAE
Cipsela: turbinado, ligeiramente contraídas no ápice. Dimensão: (1-) 1,3-1,8mm. Com 8 a 11
costas tuberculadas ou verruculosas; sem papilho.
Brassica sp. CRUCIFERAE Semente: esferoidal. Hilo circular a elíptico. Comprimento: 1-3,1mm; largura: 1-2,8mm.
Cerastium sp. CARYOPHYLLACEAE
Semente: género com sementes de grande variabilidade formal. Podem apresentar uma
forma quase circular, oval, obovada e até triangular, variando o grau de assimetria.
Comprimento: 0,35-1,6mm; largura: 0,3-1,7mm; espessura: 0,3-0,9mm. Testa com
ornamentação papilosa bem visível e saliente.
Cistus sp. CISTACEAE
Semente: Globoso-poliédrica. Cerca de 1-2mm de diâmetro. Rugosa.
Erica sp. (exclui E. scoparia) ERICACEAE Folha: inteira, de margens revolutas cobrindo a totalidade da página inferior. Secção: página
superior côncava. Comprimento: 1,3-9mm; largura: 0,3-0,8mm.
58
Erica scoparia L. ERICACEAE
Folha: inteira, de margens revolutas cobrindo apenas 2/3 da página inferior. Secção: página
superior bicôncava. Comprimento: 3,5-10mm; largura: 0,6-1,1mm.
Euphorbia helioscopia tipo EUPHORBIACEAE
Semente: Sub-oval. Comprimento: 1,5-2,3mm; largura: 1,2-1,7mm. Ornamentação
alveolada-reticulada.
Nota: Tipo pouco caracterizado. Na colecção de referência do LPA só Euphorbia pterococca
Brot. e Mercurialis annua L. se assemelham com o tipo aqui descrito. Apresentam,
contudo, diferenças tanto ao nível da dimensão como da ornamentação. E.
amygdaloydes , muito comum no PNM-N, contém sementes lisas, por isso distintas da
aqui apresentada.
Gramineae Indeterminada - Lolium sp. GRAMINEAE
Cariopse: oblonga, canaliculada, com extremidade inferior arredondada ou ligeiramente
apontada, e extremidade superior truncada. Comprimento: 2,36-3,04mm; largura: 0,95-
1,25mm. Encontrada com vestígios da lema e pálea.
Polygonum aviculare L. POLYGONACEAE
Aquénio: Oval (a losângico) com ápice triangular e ângulos obtusos. Trigonal. Comprimento:
1,2-2,7mm; largura: 0,8-1,6mm; espessura: 0,6-1,3mm. Costa estreita mas saliente.
Polygonum sp. lenticular POLYGONACEAE
Aquénio: Oval ou elíptico, curta, com ápice curto e apontado. Bifacetado. Comprimento: 1,7-
3mm; largura: 1,5-3mm; espessura: 0,5-1,5mm.
Nota: Na área do PNM-N encontram-se, com sementes desta morfologia, as espécies
Polygonum lapathifolium e P. persicaria.
Portulaca oleracea L. PORTULACACEAE
Semente. Sub-circular a oval. Comprimento: 0,6-1,2mm; largura até 1,1mm; espessura:
cerca de 0,6mm. Testa ornamentada com tubérculos ou papilas, especialmente
visíveis nas faces laterais.
59
Quercus sp. FAGACEAE
Glande: Oval a elíptico, por vezes apontada no ápice. Comprimento: 15-30mm; largura: 10-
20mm. Testa rugosa com nervuras longitudinais por vezes profundas. Surge quase
sempre fragmentado longitudinal e lateralmente.
Rumex crispus tipo POLYGONACEAE
Aquénio: Oval ou oval-losângica, com ápice curto e apontado. Trifacetada com lados planos
ou ligeiramente convexos. Com costa quase linear ou ligeiramente mais larga no
centro. Comprimento: 1,3-2,7mm; largura: 0,8-1,7mm.
Nota: Na área do PNM-N encontram-se, inseridos neste grupo morfológico: Rumex crispus
L., R. acetosa L., R. bucephalophorus L., R. conglomeratus Murray, R. obtusifolius L. e
R. pulcher L. Estas espécies incluem-se no que Berggren (1981) denomina de Rumex
subgenus Lapathum, com excepção de R. bucephalphorus, não descrito pela autora, e
R. acetosa, espécie epónima de um subgenus que julgamos ser de difícil distinção
face ao aqui descrito.
Sambucus ebulus L. CAPRIFOLIACEAE
Semente: oval. Comprimento até 3mm, largura até 2,1mm, espessura até 1,2mm. Testa
rugosa.
Vicia faba var. minor LEGUMINOSAE Semente: oblonga a sub-arredondada, com formas muito variáveis. Secção arredondada.
Hilo lanceolado, de dimensões variáveis. Comprimento: 6-13mm; largura: até 6mm.
2.2.5.2. Milhos Panicum miliaceum L. Cariopse: oval. Dimensão de grão carbonizado: 1,3-2,2mm. Escutelo largo atingindo, no
máximo, metade do comprimento do grão.
60
Setaria italica (L.) P. Beauv. Cariopse: arredondada. Dimensão de grão carbonizado: 1,1-1,7mm. Escutelo estreito
atingindo 2/3 do comprimento do grão.
2.2.5.3. Trigos
Triticum aestivum (Triticum aestivum/durum) Tipo morfológico que inclui: Triticum aestivum subsp. vulgare (Vill) Mackey/ Triticum
turgidum conv. durum (Desf.) Mackey/ Triticum turgidum conv. turgidum (L.) Mackey
CARIOPSE
Forma (plano dorsal): oval. Extremidades arredondadas a aplanadas (extremidade superior
raramente apontada). Área do embrião é profunda.
Perfil: Linha dorsal arredondada de forma aproximadamente simétrica; por vezes com uma
saliência convexa. Linha ventral convexa, por vezes plana. Máxima espessura
aproximadamente na zona central.
Secção: Simetricamente arredondada. Sulco ventral largo e profundo.
É consensual a impossibilidade da distinção entre as diferentes espécies de trigo nu
englobadas neste tipo morfológico (Buxo, 1997; Buxo et al., 1997; Jacomet, 2006; Zohary e
Hopf, 2000). Na bibliografia surgem várias designações, tendo-se generalizado nos estudos
peninsulares a designação Triticum aestivum/durum de R. Buxo (1997).
A fim de facilitar a sua leitura, no presente trabalho usaremos Triticum aestivum como
uma abreviatura de Triticum aestivum/durum ou Triticum aestivum/turgidum (outra
designação possível).
Triticum compactum
Triticum aestivum subsp. compactum (Host) Mackey
CARIOPSE
Forma (plano dorsal): arredondado ou ligeiramente oval. Extremidades arredondadas a
aplanadas. Área do embrião profunda.
Perfil: Linha dorsal arredondada de forma aproximadamente simétrica. Linha ventral
convexa, por vezes plana. Máxima espessura aproximadamente na zona central.
Secção: Simetricamente arredondada. Sulco ventral largo e profundo.
61
Triticum dicoccum
Triticum turgidum L. subsp. dicoccum (Schrank) Thell.
CARIOPSE
Forma (plano dorsal): Frequentemente estreito; extremidade superior ligeiramente apontada,
mas também por vezes arredondada. Extremidade inferior (onde está o embrião)
quase sempre apontada.
Perfil: Linha dorsal convexa, por vezes fortemente marcada. Linha ventral ligeiramente
côncava ou plana. Parte mais espessa perto do embrião ou a meio do grão. Cavidade
do embrião frequentemente assimétrica.
Secção: Arredondada, por vezes um pouco angulosa. Sulco ventral estreito e profundo.
ESPIGUETA
Gluma aproximadamente recta, com um ângulo na base. Entrenó estreito em relação à
largura da espigueta. Ângulo entre as glumas muito aberto. Secção da gluma (antes da
base): maciça, rectangular (menos espessa que T. monococcum mas mais maciça que
T. spelta). Quilha primária visível. Quilha secundária visível. Com nervuras
longitudinais visíveis.
Largura da base da gluma: 0,7-(0,92)-1,1mm
Triticum monococcum
Triticum monococcum L. subsp. monococcum
CARIOPSE
Forma (plano dorsal): estreito, apontado nas extremidades.
Perfil: Com curvatura marcadamente convexa, semelhante em ambas as faces. Parte mais
espessa do grão normalmente ao centro.
Secção: Angulosa. Parte dorsal de aspecto apontado mas com parte mais alta arredondada.
Sulco ventral estreito e profundo.
ESPIGUETA
Gluma com curvatura marcada. Entrenó largo em relação à largura da espigueta. Ângulo
entre as glumas fechado (menos de 90º). Secção da gluma (antes da base): muito
maciça, arredondada (mais espessa que T. dicoccum e T. spelta). Quilha primária
muito visível. Quilha secundária muito visível. Normalmente sem nervuras longitudinais
visíveis.
Largura da base da gluma: 0,45-(0,65)-0,9
62
Triticum spelta
Triticum aestivum subsp. spelta (L.) Thell.
CARIOPSE
Forma (plano dorsal): Oval frequentemente com lados quase paralelos. Extremidade
superior arredondada a aplanada. Extremidade inferior aplanada, frequentemente
apontada.
Perfil: Linha dorsal simetricamente arredondada mas muito aplanada; linha ventral muito
aplanada.
Secção: Simetricamente arredondado. Sulco ventral estreito e profundo.
ESPIGUETA
Gluma com curvatura marcada. Entrenó um pouco largo em relação à largura da espigueta.
Ângulo entre as glumas variável. Secção da gluma (antes da base): pouco maciça,
arredondada a aproximadamente rectangular (menos espessa mas normalmente mais
larga que T. monococcum e T. dicoccum). Quilha primária visível a pouco visível.
Quilha secundária muito pouco visível. Com nervuras longitudinais muito visíveis e
profundas.
Largura da base da gluma: 1,1-(1,28)-1,4mm (medidas de S. Jacomet, 2006).
Os valores da largura da base da gluma, acima apresentados, nem sempre são confirmados
em diversos contextos, onde as medidas testemunham uma maior variabilidade deste
parâmetro. Esta variabilidade é mencionada por Van der Veen (1987) que apresenta
diferentes valores de distintas jazidas arqueológicas do Centro e Norte da Europa:
0,45- (0,95) -1,44mm; 0,95- (1,06) -1,44mm; 0,57- (1,0) -1,17mm.
Triticum monococcum Triticum dicoccum Triticum spelta Triticum aestivum Triticum compactum
C 4,5 - 7,1 3,5 - 6,1 4,7 - 8,4 3,4 - 7,0
L 1,0 - 3,0 (raramente > 2,5)
1,8 - 3,2 (raramente >3)
2,0 - 4,1 2,2 - 4,7
E 1,6 - 3,1 (raramente < 2,3)
1,5 - 3,4 1,7 - 3,3 2,0 - 4,0
C/L 1,6 - 2,58 (raramente < 2)
1,57 - 2,04 (principalmente ± 2)
1,5 - 2,45 1,07 - 1,73 (T. compactum <1,5)
C/E 1,77 - 2,5 (raramente < 2)
1,57 - 2,5 (principalmente 2 - 2,3)
2,1 - 3,09 (tipicos >2,5)
1,1 - 2,1
L/E 0,69 - 1,2 (principalmente < 1)
1 - 1,5 1 - 1,5 1,1 - 1,3
L/C*100 37,8 - 46,2 (<50)
48,33 - 60,38 (normalmente ± 54)
48,33 - 60,38 54,4 - 89,3 (T. compactum >65-70)
Quadro 3.2. – Parâmetros biométricos de cariopses de Triticum spp. segundo S. Jacomet e
colaboradores (2006).
63
2.2.5.4 Cevadas
Hordeum vulgare
Hordeum vulgare L. subsp. vulgare
CARIOPSE
Forma (plano dorsal): semi-oval, com extremidades aplanadas.
Perfil: semi-oval a ligeiramente aplanado. Ponto mais largo aproximadamente ao centro.
Visíveis vestígios de lema e pálea.
Secção: Angulosa, com laterais achatadas ou pouco arredondadas. Sulco ventral largo a
muito largo e profundo.
Jacomet e colaboradores (2006) propõem alguns elementos para a distinção entre
cevada de seis carreiras e cevada de quatro carreiras a partir da morfologia da cariopse,
contudo durante o presente estudo não foram considerados critérios suficientes para um
diagnóstico seguro:
Hordeum hexastichum L. (cevada de seis carreiras)
Grão mais arredondado: curto e largo.
Índice Comprimento/Largura: menor que 1,8.
Hordeum tetrastichum Körn (cevada de quatro carreiras)
Grão estreito e mais oval.
Índice Comprimento/Largura: maior que 1,8.
A distinção entre estas duas cevadas pode ser conseguida através das lemas e do
ráquis (Jacomet, 2006; Buxo, 1997).
Também se assume que não é possível uma distinção entre Hordeum vulgare L.
subsp. vulgare (cevada de seis ou quatro carreiras) e Hordeum distichum (cevada de duas
carreiras ) com base na morfologia da cariopse, apesar de R. Buxo (1997) apresentar a
assimetria ou simetria do sulco central como elemento diagnosticante. Para o referido autor,
em H. vulgare o sulco ventral encontrar-se-ia desviado do eixo central conferindo um
aspecto mais assimétrico ao grão, enquanto que em H. distichum seria recto. Contudo,
como referem Jacomet (2006) e Hubbard (1992), embora em H. distichum só existem grãos
simétricos, em H. vulgare verifica-se uma proporção de dois grãos assimétricos para cada
grão simétrico. Tal impossibilita o uso deste critério morfológico como elemento de distinção
entre as cevadas em questão, permitindo apenas identificar os grãos assimétricos como H.
vulgare.
Em amostras de dimensão significativa a contabilização dos diferentes tipos
morfológicos de cariopses existentes poderá determinar uma probabilidade estatística da
64
presença de uma ou outra espécie. Desta forma, se existir uma quantidade de grãos
simétricos superior aos assimétricos é provável que a amostra inclua grãos de H. distichum.
2.3. Recolha de dados etnobotânicos e ecológicos
A pesquisa de dados etnobotânicos referentes às espécies identificadas no estudo
carpológico e antracológico foi realizada na bibliografia da especialidade. Privilegiou-se, não
obstante, as referências centradas na região em questão e áreas limítrofes, isto é, Trás-os-
Montes e Alto Douro, tais como os trabalhos de Ana Carvalho (2005), José Ribeiro (2003),
Ribeiro, Monteiro e Silva (2000) e as várias referências da obra organizada por Frazão-
Moreira e Fernandes (2005). Acrescente-se algumas obras genéricas acerca de plantas
medicinais e aromáticas (Juscafresa, 1995; Vasconcellos, 1949) e ainda uma referência
específica de uma região bem distinta da transmontana, o Alentejo (Salgueiro, 2005), cuja
inclusão foi assumida como a demonstração de um conhecimento geral das propriedades de
diversas plantas em distintas regiões.
A pesquisa respeitante às práticas agrícolas tradicionais privilegiou as referências
bibliográficas, tanto de arqueologia como de antropologia.
Esporadicamente foram acrescentadas informações relevantes através do contacto
directo com as comunidades de agricultores locais actuais. Esse contacto visava a obtenção
de informações respeitantes à gestão do território agrícola e o seu relacionamento e
distanciamento face ao núcleo urbano, no entanto não se puderam ignorar dados referentes
tanto aos gestos inerentes às práticas agrícolas como às propriedades específicas de
algumas espécies e a sua adequabilidade para determinadas funções. Não se tratando de
estudos executados de forma sistemática, estes dados não estão incluídos nos respectivos
quadros mas somente no texto.
Os dados ecológicos referentes às espécies identificadas no estudo arqueobotânico
foram recolhidos em obras da especialidade, das quais salientamos a tese de doutoramento
de Carlos Aguiar, centrada no Parque Natural das Serras de Montesinho e Nogueira (PNM-
N). Apesar do PNM-N se tratar de uma área geográfica e ecologicamente um pouco distinta
da envolvência da Terronha de Pinhovelo, a obra de C. Aguiar é o estudo ecológico e
fitossociológico mais aprofundado acerca de uma área próxima ao local aqui em estudo e,
naturalmente, uma obra de referência. Sempre que foi considerado necessário
complementar as informações obtidas foram consultadas outras obras de referência
(nomeadamente a Flora Ibérica editada por Castroviejo et al.).
65
2.4. Arqueologia Espacial e análise eco-territorial
Trata-se de um procedimento comum e, a nosso ver erróneo, encarar cada jazida
arqueológica como uma entidade científica sem uma prévia existência à sua descoberta.
Qualquer sítio arqueológico deve ser estudado enquanto um espaço de vivências reais
e não meramente como um objecto científico quase desumano, culturalmente e socialmente
descontextualizado. O local que actualmente designamos por Terronha de Pinhovelo antes
de se tornar num elemento patrimonial de valor científico e cultural, isto é, um sítio
arqueológico, foi uma povoação. Como tal, detinha um ambiente quotidiano próprio e era
habitado por pessoas reais.
Este local de habitação estava ainda incluído num território paisagístico particular que,
embora hoje obedeça a ritmos e pressões distintos, no passado era frequentado e explorado
pelos membros da comunidade da Terronha de Pinhovelo. Tentar compreender essa
comunidade estudando exclusivamente o local onde esta habitava e exercia alguns ofícios
é, por certo, limitador. Tal limitação torna-se mais evidente quando se trata de uma
comunidade que, à partida, deduzimos ser eminentemente rural, praticando uma economia
de subsistência e conectada com actividades agro-pastoris.
Compreender hoje esse espaço do passado é tarefa difícil e deve passar por
diferentes fases. Em primeiro lugar deve-se delimitar (teoricamente) o espaço da
comunidade e devem ser identificadas as suas principais e actuais características (entre
outras, a geologia, ecologia e a actual utilização dos recursos disponíveis). Em seguida, e
na falta de sequências polínicas que providenciassem paleo-imagens regionais, devem ser
analisadas as evidências dessa paisagem recolhidas no local de habitação a ser
intervencionado. Naturalmente que compreender o território antigo não implica,
necessariamente, caracterizá-lo por completo.
De facto, os dados que detemos são usualmente fragmentários e limitados mas
fornecem uma base de estudo que pode ser completada com outros meios, nomeadamente
as abordagens de índole etnográfica. Os dados assim obtidos visam uma abordagem
centrada na apropriação do espaço pelas comunidades humanas.
No âmbito da Arqueologia Espacial, a tentativa de percepção do espaço explorado
pela comunidade da Terronha de Pinhovelo em época romana foi realizada através da
Análise de Territórios de Exploração, procurando-se deduzir quais as distâncias que cada
comunidade está disposta a percorrer para adquirir os seus bens essenciais. Parte-se do
princípio (difícil de comprovar), de que uma povoação localiza-se num local sensivelmente
central face aos recursos que necessita para a sua subsistência (Vilaça, 1995; Fernandez
Martinez, Ruiz Zapatero, 1984).
66
Segundo a bibliografia, para as comunidades de agricultores deduz-se que a área 1km
em redor da povoação deveria ser alvo de uma exploração intensiva. Essa exploração e
consequente alteração paisagística deveriam diminuir de forma aproximadamente
concêntrica face ao centro habitacional (Fernandez Martinez, Ruiz Zapatero, 1984).
Contudo, o tempo de percurso ganha uma maior preponderância do que a distância
geográfica (1km em terreno montanhoso pode traduzir-se numa distância impraticável para
a manutenção e rentabilização de campos a agrícolas e respectivas produções). Como tal,
foram elaborados cálculos que permitissem ultrapassar essa questão.
Segundo a fórmula de Naismith, calculando que em terreno plano 10km correspondem
a 2 horas de marcha acrescenta-se 30 minutos extra por cada variação de altitude de 300m.
Em termos práticos numa carta militar 1:25 000 1cm corresponde a 3 minutos e cada curva
de nível de 50m equivale a um extra de 5 minutos (Davidson, Bailey, 1984).
Naturalmente, este é um modelo teórico e susceptível de inúmeras críticas (veja-se, a
titulo de exemplo Fernandez Martinez, Ruiz Zapatero, 1984). Contudo, deve ser encarado
unicamente como uma ferramenta de trabalho que permite uma aproximação à realidade já
de si demasiado complexa para ser perceptível unicamente através dos vestígios
arqueológicos recolhidos em escavação.
De modo a complementar estas possibilidades foi realizada uma pesquisa etnográfica
com entrevistas nas aldeias em redor da jazida arqueológica e, potencialmente, na área de
captação de recursos da antiga povoação romana.
As entrevistas realizadas a habitantes das aldeias mais próximas do sítio arqueológico
para além de terem proporcionado uma melhor percepção do potencial agrícola dos terrenos
da região permitiram também perceber alguns aspectos da organização dos trabalhos
agrícolas por parte das sociedades rurais tradicionais.
Desta forma, foi possível chegar à possibilidade de os terrenos agrícolas se
localizarem a uma distância preferencial de 30-40 minutos face à povoação, e a uma
distância máxima de uma hora.
Estes conceitos já generalizados na bibliografia arqueológica devem, quanto a nós, ser
conectados com um modelo que traduz de forma aproximada a complexidade desta
organização concêntrica da envolvência das povoações rurais. Desenvolvido por José
Mateus (Mateus, 1990 e 2004; Mateus et al., 2003) este modelo de zonação eco-territorial
identifica cinco unidades, os territórios Doméstico, Adjacente, Próximo, Periférico e Remoto.
Trata-se de um modelo ecológico onde o grau de eco-artefactualização do território é ditado
essencialmente pela recorrência cíclica (de diferentes comprimentos de onda) de gestos de
afeiçoamento de maior ou menor irreversibilidade na sucessão ecológica. Estas cinco
67
unidades desenvolvem-se de forma centrípeta e correspondem a uma decrescente
afectação e artefactualização da paisagem por parte das comunidades humanas:
- Doméstico (casa): zona de eco-artefactualização profunda, de acesso e
utilização diária. Captura da natureza, tanto de animais e plantas como dos
próprios recursos hídricos.
- Adjacente (horta): zona de eco-artefactualização intensiva, de acesso e uso
semanal onde dominam as biocenoses culturais, em solos alterados e
trabalhados. A paisagem encontra-se repartida e moldada em tesselas por
sebes e muros.
-Próximo (campo): zona de eco-artefactualização extensiva, de acesso e uso
mensal, onde se verificam sistemas de pousio, queimada e estrumação. A
paisagem encontra-se repartida e a propriedade delimitada de forma menos
marcante. O ambiente físico sofre escassa modelação.
- Periférico (charneca): zona de eco-artefactualização limitada, de acesso e uso
sazonal. Área de carácter semi-natural, onde são geridas e favorecidas
determinadas populações. Zona de pastoreio e caça.
- Remoto (mata natural): zona sem eco-artefactualização (ou onde esta é quase
nula), de acesso e utilização esporádica e efémera. Área de carácter
natural.
De qualquer forma, as três primeiras áreas, Doméstica, Adjacente e Próxima serão
privilegiadas nesta abordagem, dado serem com maior probabilidade as que se encontram
mais fortemente representadas nos vestígios paleobotânicos em análise. Por outro lado,
visto ser claro que as povoações antigas não viviam isoladas, devemos considerar que os
territórios Periféricos de umas poderiam ser os territórios Próximos de outras comunidades,
de outras povoações o que exige um estudo arqueológico regional mais aprofundado.
68
IV. RESULTADOS 1. A Terronha de Pinhovelo
1.1. Contexto biogeográfico, paisagístico e geológico
Administrativamente, a pequena elevação conhecida na bibliografia como Terronha de
Pinhovelo e, localmente, também como Terronho ou Terronho de Pinhovelo localiza-se no
distrito de Bragança, concelho de Macedo de Cavaleiros, junto ao limite Sul da freguesia de
Amendoeira. Deve parte do seu nome à aldeia de Pinhovelo, antiga vila que se encontra no
pequeno vale a Oeste e que é facilmente observada na íntegra a partir da jazida
arqueológica. Corresponde às seguintes coordenadas geográficas:
Latitude: 41º 32’ 31’’
Longitude: 02º 08’ 33’’ W Greenwich
Alt.: 693m
A inexistência da respectiva folha da Carta Geológica de Portugal dificulta seriamente
a caracterização da zona em estudo. Existem, contudo, alguns estudos que focaram
contextos mais abrangentes ou zonas próximas àquela aqui estudada.
Num destes estudos, Quadrado, et al. (1964) inserem esta região no que denominam
de série transmontana. Esta série caracteriza-se pela presença de xisto epidótico,
associando-se-lhe quartzo, clorite, moscovite e calcite. O quartzo apresenta-se “em
lentículas mais ou menos estiradas, de textura engrenada” exibindo “fenómenos de
tectonização” (Quadrado, e tal, 1964).
Já Maria Ribeiro (1991) refere a confluência na região de uma “Unidade dos Xistos
Verdes e quartzo-filádicos” e um “Complexo Vulcano-Silicioso” onde para além das
formações vulcânicas, contam-se formações constituídas por material sedimentar.
A região transmontana é usualmente subdividida, do ponto de vista bioclimático em
cinco regiões: Terra Fria de Alta Montanha, Terra Fria de Montanha, Terra Fria de Planalto,
Terra de Transição e Terra Quente. Do mesmo modo, a região divide-se em cinco domínios
fitogeográficos: o sub-atlântico, oro-atlântico, pirenaico-cantábrico ou leonês, ibero-
mediterrâneo e sub-mediterrâneo. Só os últimos três estão presentes no Nordeste
transmontano (Agroconsultores e Coba, 1991).
A povoação romana da Terronha de Pinhovelo localiza-se numa zona de contacto
entre as regiões naturais de Bragança e Bornes-Sabor, isto é, entre a Terra de Transição
(entre 400/500m e 600/700m) e a Terra Fria de Planalto (entre 600/700m e 900/1000m).
69
Figura 4.1. – Localização da Terronha de Pinhovelo na CMP (folhas 63, 64, 77, 78) e delimitação do
território teórico de 30 minutos
70
A jazida arqueológica encontra-se a uma cota máxima de 693m, sendo sombreada a
Norte pelo alto das Raposeiras com altitude de 726m e dominada a SW, depois do vale da
aldeia de Pinhovelo, pela Serra de Pinhovelo, ou de Palas, a 775m.
A Região de Bornes-Sabor é domínio do carvalho-negral (Quercus pyrenaica), do
carvalho-cerquinho (Quercus faginea) e da azinheira (Quercus ilex subsp. ballota). Conta
também com a presença de zimbros (Juniperus oxicedrus) e com frequentes povoamentos
de sobreiros. Os matos são dominados por esteva (Cistus ladanifer), rosmaninho (Lavandula
pedunculata), tomilho (Thymus mastichina), trovisco (Daphne gnidium) e menos
frequentemente por urzes (Erica australis) e carqueja (Chamaespartium tridentatum). A
agricultura é dominada pelo olival, o centeio e o trigo, o milho e a batata. Contam-se ainda
os soutos, pomares (macieiras e cerejeiras) e vinha.
A Região de Bragança é domínio dos carvalhais de carvalho-negral, e do castanheiro
(Castanea sativa). São abundantes os povoamentos de pinheiros (Pinus pinaster) e
vidoeiros (Betula celtiberica). Na zona Oriental, fora da área de estudo, a azinheira é muito
abundante. Os matos são dominados pelas urzes (Erica australis e Erica tetralix),
Chamaespartium tridentatum, Halimium allyssoides, Calluna vulgaris, Rosa canina, Rosa
micrantha, giestas (Cytisus spp. e Genista spp.) e tojos (Ulex spp.) Predomina a agricultura
do centeio e trigo.
A Terronha de Pinhovelo encontra-se numa região com os seguintes dados climáticos
(valores de 1951-1980) (Agroconsultores e Coba, 1991):
- Temperatura média anual de 12 a 14ºC;
- Temperatura máxima média anual de 18ºC
- Temperatura mínima média anual de 7ºC
- Precipitação média anual de 600mm
- Classificação climática de Thornthwaite: moderadamente húmido
1.1.1. O território imediato
A escolha do território ao alcance de trinta minutos como base de estudo segue as
propostas existentes na bibliografia da especialidade, já mencionada anteriormente.
Considera-se aqui que os trinta minutos de caminhada definiriam o território mais
comummente explorado e, por isso, provavelmente mais representado nas amostras de
macro-restos recolhidas em escavação. Não obstante, parece-nos claro que a comunidade
que habitava na Terronha de Pinhovelo de modo algum circunscrevia as suas actividades
produtivas e mesmo de lazer ao território aqui definido.
71
De modo a averiguar a validade dos modelos de arqueologia espacial foram realizadas
entrevistas nas aldeias da proximidade. A generalidade das pessoas entrevistadas referiu
que os terrenos cultivados se localizavam, na sua maioria, a uma distância não superior a
trinta minutos de caminhada. Contudo, embora sejam casos raros, havia também quem
tivesse terrenos mais distantes, a quarenta minutos e até a uma hora de caminhada.
Também a delimitação dos próprios territórios foi testada, tendo-se efectuado dois
percursos de meia hora a partir do povoado. Estes privilegiaram a utilização de caminhos e
trilhos, invés de percursos em linha recta, partindo do pressuposto que em tempos antigos a
circulação também seria efectuada desta forma (embora certamente não por estes
caminhos), contornando campos cultivados e outros obstáculos. Os percursos, para
Noroeste e Sul permitiram ultrapassar o território teórico apresentado neste estudo em
menos de 500m, pelo que não se considera suficiente para inviabilizar a proposta aqui
apresentada. Saliente-se, mais uma vez, que não se pretende delimitar territórios concretos
de cariz administrativo mas somente áreas de exploração preferencial.
O território de meia hora de caminhada da Terronha de Pinhovelo caracteriza-se por
ser bastante acidentado (ver figura 4.1.). A Norte surge imponente a elevação das
Raposeiras, seguida de uma zona aplanada e depois de um vale profundo que delimita o
território de 30 minutos, aí e a Nordeste e Este (na verdade o cálculo coloca o limite
imediatamente na outra margem da Ribeira de Travanca).
A Oeste e Noroeste e Sudoeste a Serra de Pinhovelo ou Serra das Palas, mais
elevada que a TP quebra-lhe a visibilidade e constitui-se como um limite físico transponível
mas que exige esforço e tempo. Antecede-lhe o fértil vale onde se localiza a actual aldeia de
Pinhovelo. Este vale prolonga-se para Norte, permitindo contornar a elevação referida, em
direcção à aldeia de Vale Pradinhos.
É a Sul e Sudeste de TP que são encontradas as principais aberturas deste território
para a região. A Sul contorna-se facilmente a elevação das Fragas do Ginso, entre estas e a
serra do Facho, até ao vale da ribeira de Travanca e à depressão de Macedo. A Sudeste,
antes da referida elevação, uma zona de fácil circulação através do actual bairro de
Travanca permite chegar às zonas mais planas que caracterizam a depressão de Macedo.
Os limites do território de 30 minutos fazem-se na ribeira de Travanca, a Sudeste, e junto às
Fragas do Ginso e início da serra do Facho, a Sul.
A região sumariamente descrita acima encontra-se, hoje em dia, visivelmente
antropizada. De facto, não foram encontradas áreas onde a acção do Homem não tivesse
alterado significativamente a paisagem. A forma como as comunidades mais recentes têm
utilizado estes terrenos aparece caracterizada no mapa da figura 4.2.
72
73
74
Neste mapa, as cores traduzem a presente ocupação dos solos, seja com formações
naturais ou cultivos, cuja descrição muito breve se encontra na legenda. As letras
correspondem a espécies que são encontradas em zonas cuja representação em cor não
traduz a sua presença. Por exemplo, terá um significado ecológico diferente que uma área
representada com a cor amarela (campos de cereais abandonados) esteja rodeada de
carvalhos-negrais ou de sobreiros e azinheiras. Os números representam outras formações
de pequena extensão e sem representatividade em mapa, como bordas de caminho ou
galerias ripícolas.
Dominam claramente os terrenos abandonados onde ervedos secos e charnecas
crescem, seguido dos sobreirais, olivais e soutos de castanheiros. São também abundantes
as áreas de giestais. É, assim, fácil perceber que nas últimas décadas os trabalhos
agrícolas tornaram-se mais raros e os campos foram sendo abandonados devido quer à
emigração e migração que roubaram mão-de-obra e conduziram a um nítido envelhecimento
na classe de agricultores da região, quer ainda à falta de rentabilidade para os pequenos
produtores, dado o preço da mão-de-obra e o preço de escoamento dos produtos. Como
consequência, são muito raros os campos de cereal ainda semeados na zona.
Mas há cerca de cinco décadas as coisas eram bastante diferentes. As informação
adquiridas entre os habitantes locais permitem perceber que a área envolvente da aldeia de
Pinhovelo possui terrenos muito férteis e de elevada produtividade. Em tempos antigos a
economia da terra era baseada essencialmente no cultivo do cereal, principalmente o trigo.
Cultivava-se cereal em quase todas as terras: junto ao rio, em zonas aplanadas, nas
encostas, no topo das elevações, e até entre os sobreiros dos montados da serra que
sombreia a aldeia a Oeste.
O trigo era o cereal mais cultivado, seguido do centeio. A cevada era plantada
ocasionalmente. Desta forma, os melhores terrenos eram para o trigo. O centeio, menos
exigente, era plantado no topo das encostas. De qualquer forma, foi-me referido que os
terrenos suportavam os dois cereais. Nos anos de pousio plantava-se a batata.
O olival ocupava uma área diminuta dos terrenos disponíveis mas os subsídios
atribuídos ao plantio da oliveira vieram mudar bastante a paisagem transmontana. De facto,
os entrevistados foram unânimes a referir que os terrenos de olival de hoje eram quase na
sua totalidade campos de cereal.
Actualmente, os sobreiros são uma fonte de rendimento muito importante. Foi me dito
na aldeia que a cortiça, retirada em cada nove anos, consiste no produto mais rentável para
os agricultores e silvicultores de Pinhovelo.
75
Por entre o complexo mosaico resultante de trabalhos agrícolas passados e presentes
é possível vislumbrar alguns dados relevantes no que respeita à distribuição da vegetação
natural na paisagem. Com alguma frequência os únicos dados foram adquiridos nas
margens de caminhos ou ribeiras, limites de propriedades e zonas possivelmente
abandonadas há mais tempo.
Parte da própria elevação da TP, em especial a actual plataforma principal onde
decorreram os trabalhos arqueológicos, foi outrora um campo de cereal, estando dominado
por um pequeno prado. Na sua borda abundam as estevas e as giestas-brancas e giestas-
amarelas, as espécies de giestas mais frequentes em toda a região. Nas zonas onde o
terreno se encontra coberto de pedras, não sendo apto para o cultivo, dominam o carvalho-
cerquinho, e a azinheira, contando-se também o freixo, raros pilriteiros, e um único
castanheiro.
A Norte, a elevação das Raposeiras é dominada por um amplo giestal. Entre este,
ocorrem frequentes carvalhos-cerquinho, em especial na vertente Sul e no topo da
elevação. Na plataforma Norte deste monte surgem alguns carvalhos-negral, rareando os
anteriores enquanto que na encosta Oeste e Sudoeste encontra-se um amplo campo
abandonado. No limite Nordeste das Raposeiras e além desta elevação, junto ao vale,
continuam os campos abandonados, surgindo também a maior área de pinhal deste
território.
Nos fundos e partes mais baixas das encostas do quadrante Noroeste dominam as
charnecas, identificando-se frequentes freixos, sobreiros, azinheiras, carvalhos-cerquinho e
giestas (que aqui não se constituem como formações extensas mas estão também nos
limites de propriedades dominadas por gramíneas). Foi nesta zona que se identificaram as
últimas searas ainda em exploração.
Junto a Pinhovelo localizam-se, como é natural, as hortas, mas também os antigos
campos de cereal, olivais e pomares onde domina a cerejeira, sendo mais rara a nogueira.
A serra de Pinhovelo ou de Palas domina toda a área Oeste do território de trinta
minutos de TP. O sobreiral é, aqui, a formação predominante. O sobreiro encontra-se em
quase todos os pontos da encosta, tendo sido, inclusive, a única árvore a subsistir nas áreas
dos soutos, certamente devido à sua importância económica.
O Quercus pyrenaica surge sub-representado na paisagem actual desta região e tal é
particularmente notório na serra de Palas. Quase no topo, o carvalho-negral surge
sombreado pelo sobreiral de altitude como uma espécie minoritária, frequentemente num
estado arbustivo ou como pequena árvore. Por outro lado, na formação arbustiva
identificada no mapa pela cor azul-clara, o Q. pyrenaica surge entre giestas, estevas,
pinheiros bravos, azinheiras e carvalhos-cerquinho, mas naturalmente só na metade
superior da encosta.
76
Na parte Sul do território predominam os campos abandonados, com ervedos e
charnecas, os olivais e um mato baixo de giestas e rosmaninho com ocasionais sobreiros e
azinheiras. Este último, assim como os olivais, prolongam-se para Este, para o termo de
Travanca. De resto, a zona Este é dominada por uma ampla área pouco arborizada, onde
pequenos sobreiros, azinheiras, carvalhos-cerquinho e freixos coexistem com giestas,
estevas e rosmaninho.
Embora não tenham sido detectadas zonas de medronhais, esta espécie foi
identificada, entre azinheiras, nas encostas Oeste e Sul do próprio sítio arqueológico.
Por fim, no que à vegetação ribeirinha diz respeito, o freixo é claramente a espécie
dominante. É acompanhada, nas galerias ripícolas, pelo ulmeiro e, em menor medida, pelo
choupo-negro. Com o freixo surgem frequentemente os sobreiros e carvalhos-cerquinho que
aí se refugiam, nos limites dos lameiros.
Por fim, refira-se que existem, no território de trinta minutos, abundantes fontes de
abastecimento de água. Para além das frequentes linhas de água da região, algumas
sazonais, regista-se uma bica de água entre o sopé NE da Terronha e o sopé de
Raposeiras, ou seja, a cerca de cinco minutos do centro do povoado. Acrescenta-se ainda
que elementos da população local mencionaram a existência de uma fonte no próprio
cabeço da Terronha, junto ao actual Sector A. Esta estaria já destruída e soterrada pelo que
não é possível comprovar a sua presença. Porém, as constantes diferenças da vegetação
do local durante o período de Verão parecem confirmar a informação.
1.2. Implantação da jazida: aspectos estratégicos
A escolha da elevação actualmente conhecida como Terronha de Pinhovelo para o
estabelecimento de uma povoação em tempos, pelo menos, proto-históricos ter-se-á devido
à possibilidade de satisfação, a partir deste local, de exigências respeitantes a duas
condições básicas de existência: defesa e subsistência. Uma estratégica posição de
domínio paisagístico e facilidade de defesa aliava-se à existência de água e de terrenos
férteis em extensão suficiente para permitir a auto-suficiência da comunidade.
De um ponto de vista geo-estratégico o posicionamento desta ocupação humana neste
local permitia um controlo visual significativo sobre a depressão de Macedo. Este vale,
localizado a Este da Terronha de Pinhovelo, é parte integrante da grande falha Manteigas-
Vilariça-Sanábria, importante acidente tectónico que marca bem a paisagem. Esta terá
constituído uma parcela particularmente fértil assim como um corredor de circulação
privilegiado de orientação aproximada Sul-Norte que atravessa grande parte do centro-
77
interior do país (a Beira Alta) e toda a região de Trás-os-Montes Oriental. Na zona de
estudo, este vale é ladeado a Este pela Serra de Bornes e a Oeste por um conjunto de
pequenas elevações que se posicionam ligeiramente a Sul da Serra da Nogueira. Uma
destas elevações é a Terronha de Pinhovelo.
De facto, em frente da Terronha de Pinhovelo, do outro lado do grande vale, a Serra
de Bornes domina, de forma indiscutível, a paisagem. Neste acidente orográfico localiza-se
o povoado da Fraga dos Corvos onde foi identificada uma estrutura interpretada como
muralha. Tal estrutura foi enquadrada, pelos investigadores responsáveis, num momento da
Idade do Ferro e/ou Bronze final, visto que as escavações arqueológicas que aí decorrem
desde 2003 para além de materiais destes períodos, descontextualizados por acções
destrutivas no povoado, somente colocaram a descoberto ocupações do Bronze Pleno. Por
ora não se considera a possibilidade de a construção da dita estrutura defensiva se integrar
nessa fase mais antiga de ocupação da elevação (Senna-Martinez, et al., 2006 e 2005).
Por outro lado, mais a Norte, mas também no extremo Este da depressão de Macedo
encontra-se o Castro de S. Marcos. Este pequeno cabeço nunca foi alvo de qualquer
intervenção arqueológica para além de prospecção de superfície. Pressupõe-se tratar-se de
um povoado da Idade do Ferro (Mendes, 2005). A relevância desta referência deve-se ao
facto de este povoado se posicionar já além do limite Norte da Serra de Bornes, no ponto
onde um vale se abre para Este, atravessando o limite desta serra e abrindo o vale de
Macedo à região Oriental do concelho de Macedo de Cavaleiros. Nesta zona, a par de
vestígios históricos mais recentes, como a aldeia de Chacim, encontram-se diversos
vestígios da ocupação romana e pré-romana do território dos Zoelae (Barranhão, Tereso,
2006; Mendes, 2005).
Ao conjunto destes três povoados, Fraga dos Corvos, Castro de S. Marcos e Terronha
de Pinhovelo, juntam-se referências da tradição oral que apontam para a existência de
ocupações pré-romanas noutros cabeços da região envolvente da Terronha e da depressão
de Macedo.
Desta forma, pode-se pressupor a existência de uma organização, de natureza ainda
desconhecida, de vários povoados em torno deste vale, em época proto-histórica. Tal
articula-se com a possibilidade apontada por quase todos os autores, que se focaram no
estudo das fronteiras territoriais e étnicas dos povos pré-romanos, de a serra de Bornes
constituir o limite Sul do território dos Zoelae (vide supra). A confirmar-se esta possibilidade,
a depressão de Macedo seria um ponto de entrada privilegiado para o mesmo, permitindo
contornar a serra de Bornes para depois, através dos diversos vales laterais, se poder
aceder ao restante território.
Tal como o Castro de S. Marcos controla uma dessas passagens laterais, para Este, a
Terronha de Pinhovelo posiciona-se junto a dois pequenos vales que deveriam constituir
78
zonas de passagem para as regiões a Noroeste. Esta elevação proporciona igualmente um
amplo domínio visual sobre o vale de Macedo constituindo-se, a par com a Fraga dos
Corvos, como o povoado fortificado mais meridional do povo em questão.
Apesar de a investigação arqueológica ser ainda incipiente, é possível, perante estas
evidências arriscar a existência de uma organização de cariz defensivo a um nível regional.
E é também (ainda que não apenas) neste prisma que se pode compreender a escolha da
Terronha de Pinhovelo para o estabelecimento de uma comunidade humana.
Também como estratégia defensiva, mas neste caso, especifica à própria povoação,
terá contribuído para a escolha da Terronha de Pinhovelo como local de habitação não só o
facto de apresentar uma plataforma sensivelmente regular e alongada mas, principalmente,
as suas condições naturais de defesa.
A elevação apresenta a Oeste, orientadas para o vale da aldeia de Pinhovelo,
escarpas abruptas que tornam muito difícil o acesso ao povoado através desse ponto.
A Sul, a Norte e a Este o acesso encontrar-se-ia facilitado pelo carácter mais ou
menos suave do declive. Deste modo, é possível que se tenha verificado a construção de
estruturas muralhadas a Norte, exactamente onde o declive é mais suave. No terreno, e
através de fotografias aéreas é possível verificar a existência de dois alinhamentos pétreos
alongados e significativamente largos, de orientação aproximadamente Este-oeste
interpretados como derrubes de duas linhas de muralhas (Barranhão, Tereso, 2006). Estes
terão sido reutilizados já em tempos recentes como local de despejo de pedras de limpeza
dos terrenos para o seu uso agrícola. Até ao momento foi detectada em dois troços do
primeiro alinhameto a face Norte de uma estrutura6. Entre as duas possíveis linhas de
muralha verificam-se inúmeras evidências de utilização do espaço por estas paleo-
comunidades.
De resto, uma estrutura que acreditamos ter detido várias funções, entre as quais uma
função defensiva, contorna o povoado a Sul e a Este. Trata-se de um talude pétreo. Este foi
já intervencionado em duas áreas de escavação, uma em cada flanco (Carvalho et al., 1997;
Barranhão, Tereso, 2006). Porém, é no espaço entre as já referidas linhas de muralha que
este talude terá criado um maior desnível, de cerca de 5 metros. Nesse mesmo sítio, o
resvalar de pedras, ou uma intervenção clandestina antiga terão exposto um pequeno troço
da estrutura pétrea defensiva.
Se todos estes dados sustentam a escolha desta elevação para o estabelecimento de
uma povoação em época proto-histórica, não são totalmente aplicáveis na explicação da
continuação da ocupação em época romana, quando grande parte dos povoados fortificados 6 Um dos troços foi, infelizmente, exposto primeiramente no Inverno de 2006/2007 como consequência de um acto de vandalismo, nomeadamente a abertura de uma cavidade no amontoado pétreo. No entanto, a sua interpretação enquanto muralha necessita de confirmação através de futuras escavações arqueológicas programadas.
79
da região são abandonados. Nessa altura, outros argumentos terão ditado essa
continuidade. Se não podemos aceder a aspectos históricos muito específicos do processo
de conquista que poderiam explicar parcialmente este facto, podemos pressupor que
factores económicos, nomeadamente os terrenos férteis que rodeiam o povoado, poderão
ter tido, também, um papel importante na determinação da continuidade de ocupação do
local.
1.3. Intervenções arqueológicas programadas
As intervenções na Terronha de Pinhovelo, alvo deste estudo, decorreram em três
campanhas de Verão nos anos de 2004, 2005 e 2006. Estas tiveram a duração de 5, 6 e 3
semanas respectivamente.
Os trabalhos de campo decorreram com a direcção técnico-cientifica do signatário, da
Dra. Helena Barranhão, Dra. Lúcia Miguel e Mestre Carlos Mendes. As equipas de campo
foram constituídas por inúmeros voluntários, na sua maioria estudantes universitários mas
também estudantes das escolas locais e outras pessoas interessadas.
Visto existirem já quatro publicações visando esta jazida, para além de três relatórios
técnicos, a descrição dos contextos arqueológicos efectuar-se-á de forma sumária e
orientada para a natureza do estudo aqui apresentado.
A escolha das áreas intervencionadas na Terronha de Pinhovelo seguiu distintos
critérios, intentando cumprir um único objectivo: a compreensão da jazida através de uma
abordagem sumária a diversos pontos específicos desta.
Deste modo, o Sector A foi implantado no extremo Sul da plataforma principal do
povoado, no início do desnível mencionado supra, de forma a compreender essa zona de
transição na qual se colocava, de imediato, a possibilidade de serem detectadas estruturas
defensivas semelhantes às que haviam sido encontradas nas escavações de emergência
realizadas em 1997 por Pedro Sobral e colaboradores no flanco Este do povoado (Carvalho,
et al., 1997).
Com o Sector B, no topo da plataforma principal, perto das escarpas e do que se cria
ser uma linha de muralha, pretendia-se encetar uma abordagem àquela que se julgava ser a
principal área do povoado, ao mesmo tempo que se pretendia compreender a relação desta
com a muralha e a escarpa. De igual modo, seria possível avaliar o grau da destruição que
os trabalhos agrícolas haviam provocado sobre os vestígios arqueológicos, visto serem
abundantes as pedras facetadas à superfície.
80
O sector C localiza-se perto do ponto mais elevado do cabeço e a sua implantação
deveu-se à presença de evidências que apontavam para a existência de uma estrutura
negativa de consideráveis dimensões. Esta era tida na região como um forno de cozedura
de cerâmica, o que parecia comprovado pela existência de inúmeros vestígios superficiais.
Foram ainda realizadas as Sondagens 1 e 2, posicionadas numa área a Norte que
julgamos exterior ao povoado, com o intuito de libertar uma área para a construção de um
futuro parqueamento de modo a dinamizar e divulgar a jazida.
Embora durante a primeira campanha (2004) se tenha optado por esta estratégia de
dispersão de esforços, em 2005 só os sectores A e B foram intervencionados. Em 2006
apenas se investiu no Sector B, com novos alargamentos.
1.3.1. Sector B
No sector B foram identificadas seis fases de ocupação, todas elas romanas. Dado o
estado inicial da investigação algumas destas fases estão mal caracterizadas e a sua
identificação enquanto momentos distintos da utilização deste espaço corresponde a uma
interpretação que poderá ser revista com a continuação dos trabalhos de campo.
Para facilitar a compreensão dos contextos, a leitura destas descrições deverá ser
acompanhada pela observação da planta arqueológica do Anexo X. O Sector encontra-se,
para fins descritivos, dividido em Núcleo, Zona Este e Zona Norte.
Fase I Zona Este: aquela que se supõe ser a fase de ocupação mais antiga do sector B
corresponde à edificação de um compartimento de planta circular na zona Sudeste. A base
deste era constituída pelo afloramento de xisto regularizado (encontrava-se visivelmente
picado em considerável profundidade) e cortado neste registou-se um buraco de poste
rectangular.
O compartimento encontra-se cortado por estruturas rectilíneas posteriores e terá sido
coberto, já quando também essas paredes mais recentes não se encontravam em uso, por
um sedimento argiloso que regularizou a zona e permitiu, segundo cremos, a reutilização do
local para outros fins. Este sedimento assentava directamente no afloramento/base da
estrutura.
O posicionamento desta estrutura na sequência de ocupação da área é, assim,
meramente conjectural visto não se encontrar associada a qualquer pacote sedimentar
relacionado com a sua fase de utilização, o que limita o estabelecimento de inter-relações
81
estratigráficas e não permite a associação a conjuntos artefactuais que possibilitem a
atribuição de cronologias.
Fase II Núcleo: construção de uma parede (U.E. B[16]) aproximadamente no centro da área.
Embora seja mais antiga que as restantes construções que a envolvem, a sua identificação
enquanto fase isolada é problemática. Só a continuação dos trabalhos permitirá o
esclarecimento desta questão.
Fase III Núcleo: aproveitando a parede B[16] enquanto limite Norte, foi construído um
compartimento rectangular de consideráveis dimensões o Ambiente II, utilizando
afloramentos como alicerces. Encostada ao afloramento que delimita parcialmente este
compartimento a Este registou-se uma estrutura de combustão. Esta é constituída por uma
camada de argila cozida muito plana, sobre uma base de pequenas lajes de xisto, ladeada a
Norte por pequenos e alongados elementos da mesma matéria-prima. Cobrindo
parcialmente a camada de argila cozida, e entre esta e o canto de afloramento a SE, foi
escavado um pequeno depósito, a U.E. B[71], com abundantes carvões e também algumas
sementes. Contudo, é possível que a construção do Ambiente I não tenha inutilizado esta
estrutura e o depósito [71] pertença à fase seguinte.
[71] [72]
Figura 4.3. – Sector B: área de combustão no Ambiente II, vista geral e pormenor (visto de
Noroeste e Norte, respectivamente)
Zona Este: é possível que, a Este do Ambiente II, esta fase se encontre traduzida na
construção das paredes B[104] e B[107] que cortam a casa circular da Fase I formando um
canto de outra área edificada. Trata-se somente de uma hipótese visto não existirem, por
82
ora, relações estratigráficas que permitam mais fielmente reconstruir a sequência de
ocupação.
Zona Norte: já a Norte, e também numa base hipotética, ter-se-á construído um
compartimento (Ambiente V) e, no seu interior, nomeadamente no canto Noroeste, uma
estrutura de armazenagem rectangular com base de opus signinum e revestimento argiloso
(Ambiente IV). Perto desta estrutura, no lado contrário da parede B[39] encontra-se um
lajeado7.
Fase IV
Núcleo: cobrindo directamente parte da estrutura de combustão de argila
anteriormente descrita, durante a Fase IV ter-se-á edificado um novo compartimento (o
Ambiente I) no interior do Ambiente II, sem que se tenha verificado, no entanto, qualquer
aproveitamento das suas paredes que permaneceriam intactas. Note-se que, à semelhança
do Ambiente II, também este novo compartimento é aberto para Oeste, não se verificando aí
qualquer parede8. Neste foram registadas três estruturas de combustão:
A primeira estrutura, a partir de Este, é constituída por um pequeno murete onde se
encontra apoiado um empedrado quadrangular, regular, de xisto e quartzo (alguns dos quais
queimados) com argila cozida. Junto a esta um pequeno depósito escuro, a U.E. B[63], foi
removido.
Pouco mais a Oeste definiram-se dois alinhamentos pétreos. Entre ambos encontrava-
se a segunda área de combustão, evidenciada pelo depósito B[65], repleto de carvões e
sementes carbonizadas. A base da estrutura é constituída por um depósito esbranquiçado
circunscrito a esta estrutura.
O segundo alinhamento pétreo constitui o limite Oeste desta área de combustão e o
limite Este de uma terceira estrutura constituída por uma cama de pedras, de xisto e
quartzo, alongada e muito irregular que forma mesmo uma depressão na sua extremidade
Sul no contacto com o afloramento. Cobrindo esta estrutura encontrava-se o depósito B[66],
de coloração escura e repleto de carvões e sementes.
Note-se que nestas três áreas de combustão foram muito escassos os restos
faunísticos recolhidos, todos eles de muito pequenas dimensões.
7 Á semelhança da parede B[16], é difícil a integração da parede B[39] na sequência de ocupação do Sector B, embora se perceba, de forma clara que esta, aparentemente com um forte papel estruturante na zona, é mais antiga que todas as construções circundantes. Neste momento é tentador colocar a parede B[39] na Fase II, com a B[16], mas as relações não são tão claras. Mais uma vez esbarramos com a natural escassez de dados resultante do pouco desenvolvimento dos trabalhos no local. 8 É provável que o Ambiente II tenha sido, na sua primeira fase de utilização, um compartimento fechado. A presença de elementos pétreos de um possível fecho a Oeste, parcialmente postas a descoberto no final da 3ª campanha, aparentam apontar nesse sentido.
83
[25] [65] [66]
Figura 4.4. – Sector B: vista geral de Ambiente I, com três áreas de combustão (vista de Oeste)
Zona Este: nesta área construiu-se uma estrutura de difícil interpretação. Trata-se de
uma área com inúmeros elementos pétreos, maioritariamente de xisto, fincados no solo.
Muitas dessas pedras apresentavam uma característica cor rosada que evidenciava terem
sido sujeitas a fogo.
Também nesta fase, tal como foi anteriormente descrito, o compartimento que detinha
as paredes B[104] e B[107] encontrava-se destruído e foi, conjuntamente com o que restava
da casa circular, coberto por um sedimento argiloso alaranjado (B[46]), possivelmente um
piso no qual se abriu uma vala. Esta encontrava-se cheia por um depósito muito escuro,
U.E. B[11], e poderá ter sido utilizada enquanto área de combustão.
Zona Norte: o lajeado anteriormente descrito encontrava-se inutilizado. Nas
proximidades, e sobre derrubes de uma fase anterior, foi edificado um lajeado constituído
por lajes de xisto de grandes dimensões. Os ambientes IV e V mantinham-se em utilização9.
9 Este dado parece claro, embora uma outra possibilidade possa ser colocada: a estrutura de armazenagem denominada de Ambiente IV poderia ter sido construída nesta Fase IV, sendo o compartimento no qual se encerra, o Ambiente V mais antigo. De facto, a estrutura de armazenagem aparenta cortar o piso de ocupação de terra batida, o que pressupõe a existência de dois momentos de construção distintos.
84
[95] [91] [11] [46] [10] [6]
Figura 4.5. – Sector B: fase IV na metade Sul da
Zona Este (visto de Oeste).
Figura 4.6. – Sector B: estrutura de
armazenagem (Amb. IV) com derrube [82]
no interior (visto de Sul).
Fase V
Todas as estruturas encontravam-se destruídas e cobertas por sedimentos que se
depositaram naturalmente (U.E. B[3] e B[4]). No canto Nordeste da zona Este uma estrutura
negativa cortava o depósito [4] e encontrava-se cheia por um sedimento escuro a U.E. B[9].
Contudo, a exiguidade da área deste contexto até agora escavada não permite avançar
qualquer interpretação.
Fase VI Utilização recente da área para trabalhos agrícolas que terão perturbado alguns
contextos arqueológicos.
85
1.3.2. Sector A
Foram identificadas sete fases de ocupação/abandono na área do Sector A. Algumas
permanecem, porém, apenas parcamente conhecidas.
Fase I O primeiro momento de ocupação identificado até ao momento nesta área
corresponde à edificação de dois taludes pétreos (Talude Norte e Talude Sul). Estas
estruturas maioritariamente constituídas por blocos e calhaus de xisto, apresentam uma
orientação Oeste-Este. Actualmente num avançado estado de ruína, desconhece-se a
cronologia da sua construção visto no presente momento dos trabalhos de campo não terem
sido intervencionados depósitos associados à fase de construção destas estruturas.
Fase II Nesta fase deu-se uma reestruturação do espaço entre os dois taludes supra
mencionados implicando a construção de uma estrutura negativa, semi-circular, em
materiais perecíveis, com cerca de 2m de diâmetro. No seu interior encontrava-se o
depósito A[34], visivelmente repleto de macro-fosseis vegetais e com um conjunto
artefactual integrável na Idade do Ferro.
Fase III Sobre os derrubes da fase anterior formaram-se depósitos com conjuntos artefactuais
possivelmente integrados na Idade do Ferro.
Fase IV
Trata-se da primeira fase de ocupação romana. Surge representada na plataforma
superior, criada com a construção do Talude Norte. Esta fase foi exposta com a remoção
dos contextos da fase seguinte mas não foi ainda alvo de intervenções pelo que pouco se
conhece da mesma. São visíveis paredes de um compartimento, assim como diversos
níveis de derrube.
Fase V
Também os mais significativos vestígios desta fase encontram-se por escavar,
nomeadamente estruturas negativas interpretadas como áreas de combustão.
86
Fase VI Após a utilização e inutilização das estruturas de combustão da fase anterior ter-se-á
procedido ao entulhamento da plataforma superior. Neste depósito de entulho foram
escavadas seis estruturas negativas com formas e profundidades variáveis. Estas
encontravam-se repletas de sedimento de coloração escura e carvões, enquanto que
algumas ainda continham abundante fauna mamalógica, o que conduziu à sua interpretação
enquanto estruturas de combustão.
Fase VII Abandono do sítio enquanto povoado e afectação por trabalhos agrícolas recentes.
Traduzido nas camadas superficiais.
Figura 4.7. – Sector A: dois taludes (visto de Sul)
1.3.3. Outras áreas
ara além dos sectores anteriormente descritos foram abertos mais um sector e duas
sond
or C, localizado a Norte do Sector B, não forneceu até ao momento níveis
arque
nas proximidades de uma estrutura de consideráveis dimensões.
P
agens.
O Sect
ológicos estruturalmente relevantes. Um derrube com diversos níveis distintos foi
detectado sendo que a grande dimensão dos elementos pétreos parece indicar a existência
87
De igual modo, a recolha de abundantes fragmentos de telhas deformadas,
característicos casos de acidentes de cozedura, indicia a presença próxima de uma
estru
evação adjacente à Terronha de Pinhovelo, na área a Norte do povoado,
foram abertas duas sondagens. As sondagens 1 e 2 posicionam-se numa zona que se crê
exter
os quais um fragmento de Terra
Sigill
1.3.4. Enquadramento cronológico
dos conhecimentos, estabelecer uma correlação
entre as fases de ocupação identificadas nos distintos sectores. É claro, porém, que a fase
mais
ridos taludes, de uma estrutura semi-circular em materiais perecíveis. A
integ
de Terra Sigillata Itálica (TSI) recolhidos no Sector A. Tratam-se de dois bordos
de pr
tura de forno.
No sopé da el
ior ao povoado, mas na sua imediata proximidade.
Enquanto que a Sond. 2 não forneceu quaisquer vestígios arqueológicos, na Sond. 1
detectou-se a presença de escassos artefactos, entre
ata.
Não é possível, no actual estado
antiga até agora identificada em escavação corresponde à construção dos taludes do
Sector A, um momento de monumentalização do espaço e possivelmente de preparação
para defesa do espaço. Este momento não se encontra ainda enquadrado
cronologicamente.
Os níveis da Idade do Ferro estão representados pela edificação, sobre pedras
derrubadas dos refe
ração na Idade do Ferro foi realizada com base em estudos tipológicos do material
cerâmico associado. Efectivamente, a quase totalidade dos recipientes apresentam fabricos
manuais, sendo mais abundantes os potes de perfil em S de dimensões variadas, e ainda
grandes recipientes de armazenagem de perfil recto. São mais frequentes os bordos
esvasados e os lábios rectos, enquanto que as superfícies são cuidadas, frequentemente
brunidas, por vezes com engobes de tom bege. Dois fragmentos apresentam incisões
lineares10.
No que respeita aos níveis romanos, as mais antigas evidências correspondem a dois
fragmentos
atos. Segundo Ana Silva (2007), um apresenta caneluras com decoração em guilhoché
e um golfinho na parede externa, correspondendo à forma IX de Atlante ou forma 21 de
Conspectus; o outro bordo de prato apresenta decoração em barbotina composta por uma
dupla espiral (forma X, variante 24, de Atlante ou forma 20 de Conspectus). A inserção
10 O estudo dos contextos e materiais arqueológicos da Idade do Ferro foram da responsabilidade da Dra. Lúcia Miguel, responsável técnico-científico das intervenções realizadas no Sector A.
88
cronológica destes fragmentos não é unívoca enquadrando-se entre o ano 10 a.C. e
meados do século II d.C.
Contudo, estes artefactos foram recolhidos em níveis de revolvimentos antigos, os já
menc
o Sector A, desta feita de Terra Sigillata
Hispâ
logrou atingir níveis
muito
o deixa de ser interessante notar que no Sector A a cerâmica TSHT é quase
inexis
nha de Pinhovelo,
no se
ionados entulhamentos de estruturas romanas da fase VI do Sector A, sendo assim de
pouca utilidade para a compreensão da jazida.
Um outro conjunto cerâmico também d
nica proveniente de Tritium Magallum, testemunha uma fase posicionada entre a
segunda metade do século I e finais de II ou inícios de III (Silva, 2007).
Por outro lado, na área até agora escavada no Sector B não se
profundos pelo que só estão documentados contextos das fases de ocupação mais
recentes, já do Baixo-Império. Apesar de a produção de alguns fabricos cerâmicos aqui
detectados poder remontar ao século III, a verdade é que usualmente perduram para fases
posteriores. A maioria das produções de Terra Sigillata, nomeadamente de Terra Sigillata
Hispânica Tardia (TSHT) enquadra-se mesmo nos séculos IV e V d.C, dominando as formas
Ritt. 8, Drag. 35, Drag. 15/17, Hisp. 5, Palol 9/11, Hisp. 83, Hisp. 7, Palol 4 e principalmente
Drag. 37 (Silva, 2007). Todos os fragmentos decorados recolhidos inserem-se nesta última
forma.
Nã
tente, enquanto que no Sector B assume praticamente a exclusividade entre a
cerâmica fina importada (à excepção de escassos fragmentos de TSH). Trabalhos futuros
deverão esclarecer as diferenças entre as duas áreas de escavação permitindo um mais
preciso enquadramento cronológico das fases identificadas nos mesmos.
Por fim, relembramos que a primeira intervenção realizada na Terro
u flanco Este, havia exposto fases de ocupação enquadradas num espaço de tempo
entre os séculos I e IV/V d.C. (Carvalho, et al., 1997).
89
2. Estudo paleobotânico 2.1. Os contextos amostrados
Descrevem-se em seguida as unidades estratigráficas amostradas para estudo
paleobotânico:
TP.Lab. - Amostras resultantes da flutuação dos sedimentos:
[3] Depósito argilo-arenoso, moderadamente duro, castanho amarelado/alaranjado claro; com
xisto sub-anguloso e arredondado, até 20cm, ocasional; alguns nódulos de argila cozida,
raízes ocasionais.
As amostras tratadas foram recolhidas aquando da definição da área de combustão
caracterizada pelo depósito [66], estando associados a este. A restante, ampla, extensão do
depósito não foi amostrada.
TSHT: séculos III-IV e IV-V.
Fase: V.
[4] Depósito arenoso, moderadamente duro/duro, castanho médio/escuro, com xisto anguloso e
sub-rolado, até 20cm, frequente; com abundantes materiais arqueológicos; com raízes
frequentes.
A amostra foi recolhida na definição de uma estrutura composta por pedras fincadas, muitas
delas queimadas (U.E.[93]) na área Este do Sector B. A restante, ampla, extensão do
depósito não foi amostrada.
TSHT: séculos IV-V
Fase: V.
[9] Depósito castanho acinzentado muito escuro, areno-argiloso e duro, com xisto menor que
10cm, abundante; com raízes frequentes.
Localizado na área Este do Sector B, mais precisamente no canto NE. Encontra-se
parcialmente definido, correspondendo-lhe ainda uma área definida muito diminuta. Deverá
90
encontrar-se a encher uma estrutura negativa que, nos trabalhos de campo julgou-se ser
uma estrutura de combustão.
Fase: V.
[11] Depósito castanho acinzentado muito escuro, areno-argiloso, moderadamente duro, com
abundantes elementos pétreos, xisto, até 30cm; com raízes frequentes.
Localizado no canto SE da área de escavação este depósito enche uma estrutura negativa.
Trata-se de um contexto que não está completamente definido mas que poderá
corresponder a uma estrutura de combustão.
Fase: IV.
[20] Derrube pétreo envolto num depósito castanho alaranjado, areno-argiloso, moderadamente
duro, com frequentes nódulos de argila, com xisto sub-anguloso até 15cm, com raízes
ocasionais.
Depósito localizado no interior do Ambiente I. Trata-se do derrube das paredes do mesmo,
em conjunto com parte dos depósitos por este perturbados. As amostras tratadas foram
recolhidas aquando da definição do depósito [65], sedimento de uma estrutura de
combustão.
TSHT: séculos III-V
Fase: IV.
[21] Depósito castanho alaranjado, argilo-arenoso, moderadamente duro, com xisto anguloso,
até 10cm, escasso; com raízes escassas.
Localizado no canto SE do Ambiente II, abaixo do derrube pétreo do mesmo. Havia carvões
concentrados na parede Sul, junto ao canto, e também carvões dispersos pela pequena
extensão deste confinado depósito.
Fase: IV.
91
[22] Depósito castanho alaranjado escuro, argilo-arenoso, moderadamente duro, com abundante
fauna mamalógica (algumas porções de grande dimensão); com xisto anguloso até 10cm,
escasso.
Nível de abandono, provavelmente associado ao derrube [23] e à estrutura de combustão
representada pelo depósito [71], no interior do Ambiente II. Depósito muito circunscrito.
Fase: IV.
[24] Depósito castanho amarelado/alaranjado claro, argilo-arenoso, moderadamente duro e cuja
definição foi muito difícil de conseguir dada as grandes semelhanças com a UE [70].
Depósito localizado no interior do Ambiente II, possivelmente um nível de ocupação. Não é
clara a associação à estrutura de combustão [71] mas é possivelmente contemporâneo de
uma fase da sua utilização.
Fase: IV.
[50] Depósito castanho acinzentado claro, areno-argiloso, muito duro, com xisto anguloso até
5cm, frequente e quartzo sub-anguloso até 5cm, ocasional; com raízes ocasionais.
Localizado no exterior mas junto ao limite Oeste do Ambiente II, prolongando-se para o
Ambiente I, corresponde à regularização da zona para se constituir como piso. As amostras
foram recolhidas a Oeste do Ambiente II.
Fase: IV.
[63] Depósito castanho médio-escuro, areno-argiloso, moderadamente duro.
Pequeno depósito muito circunscrito, localizado perto da estrutura de combustão [25], no
Ambiente I. Recolhido integralmente.
Fase: IV.
[65] Depósito castanho acizentado médio com tonalidade por vezes amarelada, areno-argiloso,
moderadamente duro, com pequenos nódulos de argila cozida, com raízes ocasionais.
92
Ladeado por dois alinhamentos pétreos, trata-se de uma das três áreas de combustão do
Ambiente I (a do meio). Recolhido integralmente, bem como as terras da sua definição que
ainda pertenciam ao depósito [20].
Fase: IV.
[66] Depósito castanho médio, por vezes castanho escuro, areno-argiloso, moderadamente duro,
com alguns nódulos de argila cozida, com escasso cascalho de xisto até 5cm, com raízes
ocasionais.
Cobrindo uma base de lareira (um empedrado tosco) no limite Oeste do Ambiente I, trata-se
do sedimento de uma estrutura de combustão. Recolhido integralmente, bem como as terras
da sua definição que ainda pertenciam ao depósito [3].
Fase: IV.
[70] Depósito castanho alaranjado médio a escuro, areno-argiloso, moderadamente duro, com
xisto angulosos e sub-anguloso menor que 10cm, frequente; com raízes ocasionais e alguns
fragmentos de telha no topo.
Estendendo-se em grande parte do interior do Ambiente II é duvidoso se se trata de um
nível de ocupação, sendo provável que seja o último nível de derrube deste compartimento.
De qualquer forma, caracteriza-se pela presença de algumas concentrações de carvões e
também pela existência de carvões dispersos pelo depósito. Foram recolhidas amostras
pontuais que atestaram a riqueza em fitoclastos e permitiram a caracterização do depósito.
Fase: IV.
[71] Depósito castanho acinzentado médio, areno-argiloso, moderadamente duro.
Localizado parcialmente sobre a base de argila [72] da estrutura de combustão do Ambiente
II e entre esta e o afloramento a Este. Trata-se de um depósito diminuto com cerca de 4kg
de sedimento que resulta da última utilização da referida estrutura. A amostra constitui uma
recolha integral.
Fase: III.
93
[82] Depósito castanho acinzentado médio-escuro, areno-argiloso, solto, com xisto anguloso até
20cm, frequente; com raízes frequentes.
Derrube ou entulhamento propositado do Ambiente IV, estrutura de armazenagem
rectangular localizada no canto NW do compartimento/Ambiente V. Recolha pontual para
verificar a riqueza em macro-restos.
Fase: III.
[95] Depósito castanho médio, por vezes castanho escuro, areno-argiloso, moderadamente duro,
com xisto sub-anguloso menor que 20cm, escasso; com raízes ocasionais.
Localizado a Este da estrutura circular, encostando a esta. Recolhas para averiguar a
riqueza em macro-restos dispersos e recolha no interior de recipiente muito aberto, aí
descoberto em bom estado de conservação.
Fase: III.
TP.RM. - Amostras correspondentes a recolhas manuais:
[5] Nível de derrube com sedimento castanho escuro, arenoso (a Norte) e alaranjado vivo,
argilo-arenoso (a Sul). A zona de contacto não é muito perceptível. Com xisto abundante,
por vezes maior que 15cm, com raízes ocasionais.
Localizado no interior do Ambiente II, a zona Sul deverá ser derrube do muro [14] (parede
Norte do Ambiente I que tombou para o interior do compartimento que o ladeava), a área a
Norte deverá ser derrube do muro [16] (parede Norte do Ambiente II).
TSHT: séculos III- início de IV
Fase: IV.
[6] Derrube envolto num depósito castanho alaranjado, argilo-arenoso, moderadamente duro a
solto, com xisto sub-anguloso e anguloso abundante, maior que 15cm; com raízes
abundantes.
94
Localizado no espaço constrito do canto SE do Ambiente II, é a continuação do derrube [5]
com o qual se estabeleceu uma relação de equivalência. Trata-se de um derrube pétreo
com sedimento semelhante ao ligante de parede [12] (parede do Ambiente I) e a depósito
[21] que se encontra coberto por [6].
Fase: IV.
[23] Derrube envolto num depósito castanho médio, areno-argiloso, moderadamente duro, com
fauna mamalógica abundante; com xisto anguloso até 25cm abundante; com raízes
escassas.
Localizado no interior do Ambiente II, trata-se de um nível de derrube das paredes deste
mesmo compartimento. É um segundo nível do mesmo derrube definido pela U.E.[5],
distinguido pela posição enganadoramente mais horizontal de alguns blocos pétreos.
TSHT: século III- início de IV
Fase: IV.
[43] Derrube envolto num depósito castanho alaranjado, argilo-arenoso, duro; com xisto
anguloso e sub-anguloso, por vezes maior que 15cm, frequente; com raízes frequentes.
Localizado na zona Norte do Sector B, entre o muro central e o corte Oeste, trata-se de um
derrube pétreo.
Fase: IV.
[46] Depósito castanho amarelado e alaranjado, claro, areno-argiloso, moderadamente duro,
com xisto sub-anguloso até 10cm, escasso; com raízes ocasionais.
Coberto por [3] encontrava-se no interior do que restava do compartimento de planta
circular, um possível nível de regularização para criai piso de ocupação (cobria o buraco de
poste da cabana).
Fase: III.
[47] Depósito castanho amarelado, areno-argiloso, moderadamente duro a solto, com xisto
anguloso até 40cm, muito abundante; com raízes de grandes dimensões muito abundantes.
95
Nível de derrube do Ambiente V.
TSHT: séculos III-IV, III-V e IV-V.
Fase: IV.
[49] Depósito castanho alaranjado, argilo-arenoso, duro, com abundante cerâmica de
construção; com xisto anguloso até 15cm, escasso; com raízes ocasionais.
Localizado na zona Norte do Sector B, entre o muro central e o corte Oeste, trata-se de um
derrube de telhado.
Fase: III.
[53] Derrube envolto em depósito castanho médio com pequenos nódulos amarelados, argilo-
arenoso, duro, com xisto anguloso até 25cm, frequente; com raízes abundantes.
Derrube pétreo localizado no Ambiente V, coberto por [47].
TSHT: séculos III-IV e IV-V.
Fase: III.
[68] Depósito castanho alaranjado escuro, argilo-arenoso, moderadamente duro, com xisto sub-
anguloso até 15cm, escasso.
Depósito muito circunscrito, semelhante a [22] mas sem contacto físico directo, poderá ser
parte do derrube localizado no interior do Ambiente II.
Fase: IV.
[86] Depósito castanho rosado/alaranjado claro, areno-argiloso, duro, com escassa potência
sedimentar, com xisto anguloso por vezes maior que 20cm, escasso; com raízes ocasionais.
Localizado no interior de Ambiente V, possível nível de base de derrube.
Fase: III.
96
2.2. Antracologia: análise de dados
Os resultados do estudo antracológico encontram-se representados nos quadros 4.1 e
4.2, para as recolhas de flutuação e recolhas manuais, respectivamente.
uadro 4.1. – Antracologia: resultados das recolhas de flutuação (Lab.)
Espécie V3 V9 IV11 IV20 IV21 IV22 IV24 IV50 IV63 IV65 IV66 IV70 III71 III82 III95 TotalAlnus glutinosa 1 1Arbutus unedo 3 1 8 16 15 2 1 24 3 73cf. Arbutus unedo 1 1 2Cistus sp. 2 3 2 14 2 6 29cf. Cistus sp. 2 13 2 3 4 1 7 8 6 46Corylus avelana 1 1Cytisus/Genista/Ulex 1 4 1 2 8Erica arborea 2 1 3Erica arborea/australis/scoparia 1 2 3Erica australis/arborea 2 2Erica australis 2 1 3Erica scoparia 1 1Erica umbellata 2 1 1 4Erica cf. umbellata 1 1Erica scoparia/umbellata 1 3 4Erica sp. 1 1 2cf. Erica sp. 1 1 1 3cf. Erica arborea 8 8Fraxinus angustifolia 1 1 3 1 1 2 11 1 21cf. Fraxinus angustifolia 1 1 1 2 5Juglans regia 1 1Pinus pinaster 9 1 2 13 31 3 4 3 12 18 37 13 2 1 149Pinus sp. 3 3 1 7 2 1 17Quercus coccifera 2 2Quercus cf. coccifera 1 1 3 5Quercus ilex 8 3 1 2 14Quercus cf. ilex 2 2Quercus faginea 1 6 2 15 2 2 1 9 2 40Quercus cf. faginea 2 3 1 1 7Quercus pyrenaica (tipo) 7 7 11 14 2 29 5 1 17 1 94Quercus perenifolia 2 1 9 6 5 5 2 1 5 12 1 4 53Quercus suber 2 1 7 5 8 5 1 1 24 3 3 5 65Quercus suber/coccifera 5 1 3 2 2 4 1 2 2 1 5 1 29Quercus subgenus Quercus 1 5 13 20 4 1 1 27 6 6 3 1 88Quercus sp. 20 3 10 24 18 12 4 6 43 10 14 3 4 1 172cf. Quercus sp. 1 1Sorbus sp. 1 1Ulmus minor 2 2 4Casca 2 2 1 5Angiospermica 3 1 2 5 3 1 1 2 1 19Indeterminado 8 11 5 17 1 4 3 1 10 17 7 16 10 110
Total 70 7 84 110 191 33 10 25 17 166 80 142 99 50 14 1098
Q
97
Espécie IV5 IV6 IV11 IV22 IV23 IV43 IV47 IV68 III46 III49 III53 III82 III86 III95 TotalAlnus glutinosa 1 1Arbutus unedo 10 1 2 1 20 1 5 5 1 46Cistus sp. 1 2 1 2 2 5 2 6 2 23cf. Cistus sp. 1 1 1 3Erica australis/arborea 3 3Erica australis 4 1 1 1 7Erica umbellata 1 2 3Erica scoparia 1 1 3 1 1 7Erica scoparia/umbellata 1 1Erica scoparia/australis 1 1cf. Erica sp. 2 2 4cf. Erica arborea 2 4 6Fraxinus angustifolia 2 2 5 14 7 4 34cf. Fraxinus angustifolia 1 1Hedera helix 1 1Leguminosae 1 1Pinus pinaster 10 4 20 32 1 4 2 9 1 6 89Pinus sp. 1 2 3Prunus spinosa 1 1Quercus coccifera 1 1Quercus ilex 1 6 1 1 1 1 11Quercus faginea 6 3 8 21 3 3 3 3 2 1 53Quercus pyrenaica (tipo) 2 2 12 7 2 2 1 3 1 5 1 8 46Quercus perenifolia 1 1 1 1 1 5Quercus suber 7 2 19 3 15 3 12 2 12 23 10 1 4 113Quercus suber/coccifera 2 1 1 4Quercus subgenus Quercus 2 7 3 2 2 3 2 3 24Quercus sp. 5 2 5 1 2 1 1 1 1 19Rosa sp. 1 1Sorbus sp. 2 2Angiospermica 6 4 1 11Indeterminado 1 2 4 2 1 5 1 16
Total 24 30 73 27 76 25 97 16 34 53 52 14 6 14 541
Quadro 4.2. – Antracologia: resultados das recolhas manuais (RM)
2.2.1. Amostras de flutuação - LAB.
A análise de dados foi realizada segundo critérios de presença/ausência. É sabido que
a interpretação dos resultados de análises de material lenhoso disperso deverá ser realizada
com bastante cautela, não conduzindo a interpretações ecológicas lineares. Assim, a
ausência ou presença de espécies numa amostra não implicam um reflexo inequívoco da
paisagem mas sim o resultado de opções humanas espelhadas em determinados depósitos
de determinados contextos. As interpretações derivadas das análises estatísticas deverão
ser preferencialmente culturais e funcionais.
Um conjunto de PCA e RDA foram obtidos de forma a detectar diferenças entre U.E. e
identificar eventuais padrões na distribuição das espécies, ilustrativos da sua ecologia e
porte. Desta forma, o RDA, que inclui os factores descritivos das espécies, não contemplou
os tipos xilotómicos de identificação mais duvidosa11.
11 Refere-se “tipos xilotómicos” e não “espécies” pois alguns tipos xilotómicos não definem mais do que um género mas devem ser incluídos na análise de modo a conferir alguma leitura ao gráfico e garantir a representatividade de determinadas U.E.
98
Os resultados da análise multivariada encontram-se expressos nos gráficos das figuras
4.8 a 4.11. Nestes gráficos as amostras estão representadas por um código indicando a
Fase e a unidade estratigráfica (ex. IV65); as espécies estão referidas pelos códigos
indicados no quadro 4.5 e as variáveis externas (ecologia e porte) pelos códigos referidos
nos quadros 4.3 e 4.4.
Os PCA das figuras 4.8 e 4.9 salientam a existência de três principais grupos de
amostras (U.E.):
1. A amostra IV11, que deve a sua originalidade aos tipos xilotómicos Esu, Euc, Qc e
Cy, ou seja tipos pouco frequentes na totalidade das amostras mas que se concentram
nesta em particular.
2. As amostras V9, IV24, IV50, IV63, e III95, constituem-se como amostras com pouca
variabilidade específica, ou seja, com poucos tipos xilotómicos (as únicas com menos de
dez). Na verdade o que serve de base a este grupo homogéneo é exactamente o facto de
se estabelecer uma correlação negativa com a generalidade dos tipos xilotómicos.
Salienta-se ainda a U.E. [63], cuja originalidade se deve à presença do único
fragmento de Sorbus sp. de todas as amostragens de flutuação (Lab.). Deve ser referido,
contudo, que entre as amostras de IV11, de recolha manual (RM) da unidade estratigráfica
IV11 (não incluídas na análise numérica), foi identificado este mesmo tipo xilotómico.
3. O último grupo inclui as restantes amostras, exactamente aquelas que detêm a
maior quantidade de tipos xilotómicos identificados. A distinção de dois sub-grupos
encontra-se determinada pela associação ao conjunto de V3, IV20, IV65, IV70 e III71 de
tipos pouco comuns como Qcc, Ca, Um, Ag e cAu.
É perceptível que as U.E. que têm menos variabilidade de espécies são aquelas que
mais se destacam, agrupando-se no conjunto 2, acima mencionado. Ou seja, quanto maior
for a quantidade de tipos xilotómicos que detêm, menor é a originalidade das U.E. A única
excepção é exactamente a amostra com mais tipos xilotómicos, a IV11, devido às razões
acima expostas.
Por outro lado, os tipos Eas, Qp e Qsc, seguidos de Fa e Qf são elementos
determinantes para a distinção e distribuição das amostras. A presença ou ausência nas
U.E. dos elementos em questão apresenta-se como principal factor de
semelhança/dissemelhança ao nível da composição florística das amostras.
Por sua vez, os RDA das figuras 4.10. e 4.11. demonstram a existência de dois grupos
de difícil distinção, isto é, com muitas semelhanças ao nível ecológico e de porte:
99
1. Um conjunto de U.E. encontra-se relacionado com o factor ecológico Bper (Bosques
de perenifólias). Tal deve-se em parte à abundância de amostras com Quercus ilex e
Quercus perenifolia e também a uma correlação negativa com a ecologia Rip (Vegetação
ripícola). De facto, algumas U.E. das presentes neste grupo, [9], [24], [50], [63], [66], [82] e
[95], são os únicos contextos nos quais não se verifica a presença de Fraxinus angustifolia,
a espécie ripícola representada em mais amostras.
2. Algumas amostras, nomeadamente V3, IV20, IV22 e IV70, apresentam-se
conectadas com espécies de porte B (pequenas arvores a arbustos) e A (arbóreo) e também
a formações de Bcad (Bosques de cadicifólias). Este carácter deve-se à sua associação a
espécies como a azinheira, carvalho-cerquinho e Quercus perenifolia (tipos morfológicos
associados ao porte A e B) e Carvalho-negral e Quercus subgenus Quercus (de formações
Bcad).
Este grupo 2 apresenta uma correlação negativa com os giestais, estevais e urzais de
Erica scoparia, Erica umbellata e Erica australis, ou seja, com formações arbustivas.
Uma breve análise quantitativa (RDA da figura 4.11.) demonstra que o Pinheiro bravo
é a espécie presente num maior número de amostras. Na verdade, só se encontra ausente
da amostra IV63. Como tal, Pinus pinaster surge associado a todos os tipos xilotómicos
identificados, com excepção de Sorbus sp., a única espécie exclusiva de IV63. Contudo,
como foi já referido, nas recolhas manuais (RM) surgem também fragmentos desta
Rosaceae, nomeadamente em amostras da U.E. [11], aí associados a Pinus pinaster.
É também evidente que as espécies arbustivas surgem em poucas amostras. Porém,
poder-se-á supor que o facto deste RDA incluir maioritariamente casos de identificação
específica terá conduzido a uma sub-representação das urzes, as quais, em fragmentos de
carvão de pequena dimensão é difícil de ir além de grupos xilotómicos mais amplos. A
simples observação do quadro 4.1. demonstra que a inclusão dos tipos morfológicos mais
amplos iria alterar pouco as leituras aqui expostas.
Por fim deve ser referido que os tipos xilotómicos Quercus ilex e Quercus perenifolia
surgem associados usualmente a amostras onde dominam as espécies arbóreas (ver
também quadro 4.3 onde após leitura atentada, este facto torna-se visível).
100
-1.0 1.0
-1.0
1.2
V3
V9
IV11
IV20
IV21
IV22
IV24
IV63
IV65
IV66
IV70
III71
III82
III95
IV50
-1.0 0.6
-0.6
1.0
Ag
Au
cAu
Ci
cCi
Ca
Cy
Ear
Eas
Eaa
Ea
EsEu
EucEsu
Er
cEr
cEar
Fa
cFa
Jr
Pp
Pi
Qc
Qcc
Qi
QicQf
Qfc
Qp
Qpe Qs
Qsc
So
Um
V3
V9
IV11
IV20
IV21
IV22
IV24IV50
IV63
IV65
IV66
IV70
III71
III82
III95
Figuras 4.8. – Antracologia: PCA com diferentes amostras e tipos morfológicos·
Figura 4.9. – Antracologia: quantidades de tipos morfológicos por amostra (ver Quadros 4.4. e 4.5 para legenda)
101
-0.8 1.0
-0.8
0.8
V3
V9
IV11
IV20
IV21
IV22
IV24
IV50IV63
IV65
IV66
IV70
III71
III82
III95
Arb
Bcad
Bper
Pin
Rip
AB
G
Ag
Au
Ci
Ca
Cy
Ear
Ea
Es
Eu
Fa
Jr
Pp
Qc
Qi
Qf
Qp
Qpe
Qs
SoUm
-0.8 1.0
-0.7
0.8
V3
V9
IV11
IV20
IV21
IV22
IV24
IV50IV63
IV65
IV66
IV70
III71
III82
III95
Arb
Bcad
Bper
Pin
Rip
AB
G
Ag
AuCi
Ca
Cy
Ear
Ea
Es
Eu
FaJr
Qc
Qi
Qf
Qp
Qpe
Qs
So
Um
Pp
Figura 4.10. – Antracologia: RDA com amostras, tipos morfológicos e variáveis explicativas
Figura 4.11. – Antracologia: RDA com quantidade de amostras nas quais se encontra cada tipo morfológico
102
Código Porte
A ArbóreoB Pequenas árvores (a arbustos)G Arbustivo
Código EcologiaArb Formações arbustivas
Bcad Bosques de caducifóliasBper Bosques de perenifóliasPin PinhalRip Bosques/Galerias rípicolas
Quadro 4.3. – Antracologia: variável Ecologia (legenda)
Quadro 4.4. – Antracologia: variável Porte (legenda)
Arb Bcad Bper Pin Rip A B GAlnus glutinosa Ag 0 0 0 0 1 1 0Arbutus unedo Au 0 0 1 0 0 1 1Cistus sp. Ci 1 0 0 0 0 0 0Corylus avelana Ca 0 0 0 0 1 1 0Cytisus/Genista/Ulex Cy 1 0 0 0 0 0 0Erica arborea Ear 1 1 0 0 1 0 0Erica australis Ea 1 0 0 0 0 0 0Erica scoparia Es 1 1 1 0 0 0 0Erica umbellata Eu 1 0 0 0 0 0 0Fraxinus angustifolia Fa 0 0 0 0 1 1 0Juglans regia Jr 0 0 0 0 1 1 0Pinus pinaster Pp 0 1 0 1 0 1 0Quercus coccifera Qc 1 0 1 0 0 1 0Quercus ilex Qi 1 0 1 0 0 1 1Quercus faginea Qf 1 1 1 0 0 1 1Quercus pyrenaica (tipo) Qp 0 1 0 0 0 1 0Quercus perenifolia Qpe 1 0 1 0 0 1 1Quercus suber Qs 0 0 1 0 0 1 0Quercus subgenus Quercus QQ 0 1 0 0 0 1 1Sorbus sp. So 0 1 0 0 1 0 0Ulmus minor Um 0 0 0 0 1 1 0
Ecologia PorteEspécie Codigo
001011111000000000010
Quadro 4.5. (1) – Antracologia: código de tipos morfológicos e atribuição de Ecologia e Porte Grupos xilotómicos Código
cf. Arbutus unedo cAucf. Cistus sp. cCiErica arborea/australis/scoparia EasErica australis/arborea EaaErica cf. umbellata EucErica scoparia/umbellata Esu Erica sp. Ercf. Erica sp. cErcf. Erica arborea cEarcf. Fraxinus angustifolia cFaPinus sp. PiQuercus cf. coccifera QccQuercus cf. ilex QicQuercus cf. faginea QfcQuercus suber/coccifera QscQuercus sp. Qucf. Quercus sp. cQu
Quadro 4.5. (2) – Antracologia: código de tipos morfológicos
103
2.2.2. As recolhas manuais - RM
Entre as inúmeras recolhas manuais efectuadas durante os trabalhos arqueológicos do
Sector B da Terronha de Pinhovelo foram seleccionadas algumas para análise neste estudo.
Os critérios de selecção prenderam-se com as seguintes motivações:
- Acrescentar dados complementares para U.E. que forneceram poucos carvões nas
amostras tratadas por flutuação e ao mesmo tempo comparar a eficácia dos diferentes tipos
de recolha.
- Averiguar realidades consideradas relevantes que não foram amostradas de forma
sistemática para flutuação.
Como é visível, comparando os quadros 4.1. e 4.2., as U.E. [11], [22], [82] e [95],
forneceram de um modo geral menos tipos xilotómicos que as amostragens de flutuação
das mesmas realidades. O caso mais evidente é a U.E. [82].
De resto, as recolhas manuais de macro-restos vegetais forneceram somente três
novos tipos xilotómicos face às recolhas por flutuação. Tratam-se de., Prunus spinosa,
Hedera helix e Rosa sp e, com excepção deste último detectado na U.E. [95], foram
recolhidos em contextos que não foram alvo de flutuações de sedimentos.
Os derrubes do Compartimento/Ambiente II, U.E. [5], [6] e [23], são muito semelhantes
entre si, apesar de a primeira apresentar algumas especificidades (Arbutus unedo, Cistus sp
e Prunus spinosa).
Foram estudadas as amostras IV43] e III49, cujas posições estratigráficas se definem
pelas suas relações físicas directas da seguinte forma na matriz de Harris:
43
49
Apesar de se verificarem algumas semelhanças entre os dois contextos, existem
também significativas diferenças, nomeadamente a presença de medronheiro e freixo na
mais recente, e a identificação na mais antiga, o derrube [49], de Alnus glutinosa, Erica
australis, Pinus pinaster, Q. coccifera e Q. ilex.
Já as relações físicas directas das U.E. [47], [53] e [86] representam-se em matriz da
seguinte forma: 47
53
86
104
As duas realidades mais recentes são quase iguais ao nível da composição florística.
No que respeita ao depósito mais antigo, a U.E. [86], o facto de ter fornecido poucos
carvões impossibilita comparações fiáveis.
2.3. Carpologia: análise de dados
2.3.1. Espécies silvestres
2.3.1.1. Distribuição pelas amostras
V3 V9 IV11 IV20 IV21 IV22 IV50 IV63 IV65 IV66 IV70 III71 III82 III95
Anthemis cotula 1
cf. Aquilegia sp. 1
Brassica sp. 1
cf. Cerastium sp. 1
Cistus sp. 1Erica scoparia -
folhas 3
Erica sp. Folhas 2Euphorbia
helioscopia tipo 1
Polygonum aviculare 2 1 1
Polygonum bifacetado 1
Portulaca oleraceae 8 6 4 3 1
Quercus sp. - frag 5 1 1
Rumex crispus tipo 1
Sambucus cf. ebulus
1
Graminea cf.Lolium 1 1 1 1 4 1 1
Graminea cf. Lolium - frag 2 4
Graminea - ind. 1 3
Indeterminados 1 1 1Fruto
indeterminado 1
Indeterminados frags 1 3 5 2 1 4
1
1
Quadro 4.6. – Carpologia: espécies silvestres encontradas em Lab.
105
Como é possível ver no Quadro 4.6, várias espécies silvestres só se encontram
representadas num contexto e, ainda assim, em pequenas quantidades. A U.E. [70] foi o
contexto que mais espécies silvestres forneceu no Sector B da Terronha de Pinhovelo,
seguido de [3]. Estes dois contextos apenas têm em comum Portulaca oleraceae e Cf.
Lolium.
As duas espécies acima mencionadas, são exactamente aquelas que se encontram
representadas num maior número de contextos, incluindo estruturas de combustão e
depósitos dispersos. De igual modo, são as espécies das quais foram encontradas mais
sementes, salientando-se as 22 sementes de beldroega.
Salienta-se uma diferença importante entre as duas lareiras do Ambiente I (U.E. [65] e
[66]), a ausência, na primeira, de qualquer gramínea selvagem. Embora as beldroegas
sejam mais frequentes em contextos ruderais e hortícolas (ver quadro em Anexo VIII),
Polygonum aviculare e Lolium sp. poderão resultar de contaminações durante a colheita
cerealífera, visto ocorrerem frequentemente como infestantes desses contextos.
No que respeita à lareira do Ambiente II (U.E. [71]), forneceu, a nível de espécies
silvestres, um único fragmento identificável - parte de uma bolota. Entendendo que o
depósito [22] se encontra associado a [71], cobrindo-a parcialmente torna-se relevante notar
aí uma grande presença de glandes de Quercus sp (ver recolhas manuais, Quadro 4.7.).
Nenhuma bolota foi recuperada no Ambiente I, circunscrevendo-se mesmo a sua
ocorrência, entre as amostras provenientes de flutuação (Lab.), a contextos do Ambiente II.
As recolhas manuais confirmam este predomínio (ver Quadro 4.7.), embora testemunhem
também a presença destes futos em outras áreas do povoado.
U.E. Vicia faba inteira
Vicia faba fragmentos
Vicia faba TOTAL
Quercus sp. fragmentos
Quercus sp. metades
IV6 1IV11 1 1IV22 32 2IV23 4 1III46 1 1III46 1 1 1III49 1 0
T 3 5 4 34 2
Quadro 4.7. – Carpologia: recolhas manuais de favas e bolotas
106
2.3.2. Favas É evidente pela leitura do quadro 4.8 que as favas não se encontram
homogeneamente distribuídas pelas amostras e pela área de escavação. De facto, das 60
sementes recolhidas por flutuação, 47 foram recolhidas na área de combustão [65] e outras
8 são provenientes de amostras do depósito [20]. Se tivermos em conta que as amostras
recolhidas neste depósito correspondem a níveis de definição do depósito [65] então
podemos assumir que todas as 55 sementes (91,7% do total de favas) pertencem a um
mesmo contexto, uma estrutura de combustão do Ambiente I.
Deve-se ainda referir que tendo em conta que só foi sub-amostrado 14,2% do
sedimento da U.E. [65], esta contaria, potencialmente, com um total de 331 favas.
De resto, é relevante notar que a estrutura de combustão [66] que ladeia a [65] não
forneceu qualquer semente inteira. De facto, este contexto forneceu unicamente fragmentos
de fava muito pequenos que, por nenhum apresentar o hilo, não foram considerados uma
unidade. Esta diferença entre as duas estruturas é muito relevante e deverá ser passível de
interpretações conjuntas com os dados das restantes espécies.
As recolhas manuais estudadas permitiram a detecção de 4 favas, distribuídas pelas
U.E. [11], [23], e duas em [46].
U.E. Frags. Inteiras u. frag. TotalV3 4 1 0 1
IV20 60 1 7 8IV21 6 0 2 2IV65 284 9 38 47IV66 18 0 0 0IV70 10 0 1 1III95 1 0 1 1
T 383 11 49 60
Quadro 4.8. – Carpologia: Vicia faba em amostras de flutuação (Lab.). Consideram-se unidades fragmentadas todos os fragmentos com hilo, entendidos, assim, como uma unidade efectiva
2.3.3. Milhos
Foram recuperadas algumas cariopses de milho nos contextos arqueológicos de TP.
Enquanto que somente um grão foi identificado como Setaria italica, treze foram
classificados como Panicum miliaceum. Estes são, contudo, sempre minoritários face às
outras espécies de cereal identificadas.
Apenas os contextos das Fases III e IV forneceram grãos de milho, e se, por um lado,
é possível deduzir a existência de uma certa concentração destes nos Ambientes I e II, por
107
outro, a maior concentração do esforço de amostragem na área dos referidos
compartimentos poderá ter enviesado de forma marcada esta distribuição. De resto, foi
identificada uma cariopse de milho-miúdo no interior de um recipiente na U.E. [95], e outras
duas na estrutura de armazenagem (Ambiente IV), localizadas na parte Este e Norte do
Sector respectivamente.
Somente no interior da estrutura de armazenagem, na U.E. [82], o milho se encontra
em quantidades semelhantes às dos restantes cereais (2 grãos), mas a diminuta quantidade
de sementes aí recolhida não permite qualquer conclusão mais arrojada.
De resto, todas as áreas de combustão dos compartimentos em questão forneceram
grãos de milho, mas em percentagens muito pequenas face aos restantes cereais (4%). No
cômputo geral das amostras o milho completa somente 2% do total dos cereais
encontrados.
U.E.Setaria italica
Panicum miliaceum
Panicum /Setaria
IV21 1 1/IV22 1IV24 2IV65 1IV66 1 1IV70 2III71 2III82 2III95 1
T 1 13 0
2
Quadro 4.9. – Carpologia: milho em amostras de flutuação (Lab.)
2.3.4. Trigos e cevada
2.3.4.1. Distribuição das cariopses pelas amostras
A quantidade de grãos de cereal encontrados nas amostras estudadas é visível no
quadro 4.10. Contudo, o facto de cada contexto ter sido amostrado e sub-amostrado de
forma desigual condiciona a leitura desse mesmo quadro. Deste modo, a partir do peso total
dos sedimentos de cada U.E. recolhidos no campo e da percentagem da sub-amostragem
sobre a qual incidiu este estudo arqueobotânico (ver quadro 3.1) foi efectuado um cálculo de
forma a perceber quais as potenciais quantidades de cereais presentes nos sedimentos
recolhidos (ver total no quadro 4.11). O estudo estatístico da distribuição das cariopses
pelas amostras foi realizado sobre os valores deste quadro e excluiu as três amostras que
108
forneceram menos de uma dezena de sementes nas sub-amostras estudadas (V4, IV22 e
III82).
Ainda assim é necessário ter em conta que, se no caso das áreas de combustão [65],
[66] e [71] foi recolhido em escavação a totalidade do sedimento para sub-amostragem em
laboratório e, por isso, o cálculo fornecerá um numero potencial de cariopses de todo o
depósito, o mesmo não acontece com os restantes sedimentos. O número obtido nestes
através do cálculo referido demonstrará somente a riqueza das amostras recolhidas no
campo que, por sua vez, são só uma parte da totalidade (não quantificada) do sedimento
escavado.
V3 V4 IV20 IV21 IV22 IV24 IV50 IV65 IV66 IV70 III71 III82 III95 TotalT. monococcum 0 0 0 0 2 0 0 0 1 0 0 0 0 3T. dicoccum 28 0 17 8 0 3 0 31 25 8 2 0 2 124T. cf. dicoccum 1 0 0 0 0 0 0 6 2 0 1 0 0 10T. dicoccum/aestivum 1 0 0 0 0 0 1 4 6 0 0 1 0 13T. dicoccum/spelta 1 0 0 1 0 0 0 0 4 0 0 0 0 6T. spelta 1 0 2 0 0 1 0 4 4 3 1 0 1 17T. cf. spelta 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1T. aestivum 24 0 10 1 1 2 0 24 20 7 1 0 0 90T. cf. aestivum 1 0 1 0 0 0 0 1 3 1 0 0 0 7T. aestivum/compactum 0 1 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 3T. compactum 14 0 6 8 0 0 0 16 10 6 1 0 1 62T. cf. compactum 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 2Triticum sp. 57 0 14 2 0 5 4 21 55 15 4 2 5 184H. vulgare 14 0 19 22 3 2 4 44 8 26 4 2 2 150Hordeum sp. 0 0 0 1 0 0 2 0 1 0 0 0 2 6Indeterminado 0 0 0 0 0 0 0 2 1 0 0 0 0 3
Total 142 1 69 43 6 13 11 157 141 66 14 5 13 681
Quadro 4.10. – Carpologia: cariopses de cereal em amostras de flutuação (Lab.). Número de cariopses contadas em cada amostra.
V3 V4 IV20 IV21 IV22 IV24 IV50 IV65 IV66 IV70 III71 III82 III95 TotalT. monococcum 0 0 0 0 8 0 0 0 11 0 0 0 0 1T. dicoccum 185 0 84 22 0 5 0 218 276 30 5 0 9 83T. cf. dicoccum 7 0 0 0 0 0 0 42 22 0 2 0 0 7T. dicoccum/aestivum 7 0 0 0 0 0 6 28 66 0 0 3 0 11T. dicoccum/spelta 7 0 0 3 0 0 0 0 44 0 0 0 0 5T. spelta 7 0 10 0 0 2 0 28 44 11 2 0 5 10T. cf. spelta 0 0 0 0 0 0 0 7 0 0 0 0 0T. aestivum 159 0 49 3 4 3 0 169 221 26 2 0 0 63T. cf. aestivum 7 0 5 0 0 0 0 7 33 4 0 0 0 5T. aestivum/compactum 0 6 0 0 0 0 0 14 0 0 0 0 0 2T. compactum 93 0 30 22 0 0 0 113 110 23 2 0 5 39T. cf. compactum 0 0 0 0 0 0 0 7 11 0 0 0 0 1Triticum sp. 378 0 69 5 0 8 24 148 608 56 10 7 23 1336H. vulgare 93 0 93 60 12 3 24 310 88 98 10 7 9 808Hordeum sp. 0 0 0 3 0 0 12 0 11 0 0 0 9 3Indeterminado 0 0 0 0 0 0 0 14 11 0 0 0 0 2
Total 941 6 340 117 24 20 67 1106 1558 248 35 17 61 4539
953149775078
55
Quadro 4.11. – Carpologia: potenciais quantidades de cariopses de contextos amostrados por flutuação (Lab.). Quantidades inferidas para cada amostra (número de grãos na totalidade da amostra recolhida).
A principal diferença entre as diversas amostras no que respeita à presença de cereais
é ao mesmo tempo a mais importante condicionante dos resultados da PCA da figura 4.12:
109
a grande diferença na quantidade total de grãos que faz salientar as amostras V3, IV65 e
IV65. Na verdade, o facto de as três U.E. em questão apresentarem bastante mais grãos
que as restantes, origina uma PCA fortemente condicionada por este aspecto, com uma
leitura difícil. A existência de uma correlação negativa de todas as outras amostras com
todas as espécies deve-se a este factor.
Denota-se, contudo, a existência de uma proximidade no conteúdo das U.E. [3] e [66].
Estas distinguem-se da U.E. [65] principalmente pela presença de T. dicoccum/spelta e T.
monococcum, assim como de Hordeum sp. Por sua vez, IV65 deve a sua originalidade aos
valores de T. cf. spelta , T. compactum/aestivum e Hordeum vulgare. Torna-se evidente que
algumas das principais diferenças destes contextos residem principalmente nas cariopses
para as quais houve significativos problemas em almejar uma identificação específica.
A observação do gráfico da figura 4.14 permite perceber que a principal diferença entre
as duas áreas de combustão, [65] e [66], encontra-se na grande abundância de grãos de
cevada da amostra IV65 e na presença em IV66 de T. monococcum (ainda que em pequena
quantidade) assim como de grãos de trigo cuja identificação não ultrapassou o género, dado
o seu o mau estado de conservação. As restantes diferenças são de pequena importância e
prendem-se, essencialmente, com a diferença na quantidade de grãos recolhidos nos dois
contextos.
Há também, como é possível ler na figura 4.16, uma ligeira diferença entre a
frequência de cariopses de trigo de semente nua ou semente vestida. Porém, não é muito
significativa.
110
Figura 4.12. – Carpologia: PCA com diferentes amostras e tipos morfológicos·de
-0.6 1.0-0
.80.
9
Td
Tdc
Tda
Tde
Ts
Ta
Tac
Tc
T
Hv
H
IV_20
IV_21
IV_24
IV_50
IV_70
III_71
III_95
-0.4 1.2
-0.6
1.0
Tm
Td
Tdc
Tda
Tde
Ts
Tsc
Ta
Tac
Tca
Tc
Tcc
T
Hv
H
V_3
IV_20
IV_21
IV_24
IV_50
IV_65
IV_66
IV_70
III_71III_95
cariopses
Figura 4.13 – Carpologia: PCA excluindo amostras com maior quantidade de
cariopses
111
0
100
200
300
400
500
600
700
Tm Td Tdc Tda Tde Ts Tsc Ta Tac Tca Tc Tcc T Hv H I
Tipo morfológico
Qua
ntid
ade
IV_65IV_66
Figura 4.14. – Carpologia: comparação entre frequência de cariopses de IV65 e IV66
112
No quadro 4.12. apresentam-se os códigos pelos quais se nomeiam os tipos
morfológicos neste estudo.
Tipo morfológico Código
T. monococcum TmT. dicoccum TdT. cf. dicoccum TdcT. dicoccum/aestivum TdaT. dicoccum/spelta TdeT. spelta TsT. cf. spelta TscT. aestivum TaT. cf. aestivum TacT. aestivum/compactum TcaT. compactum TcT. cf. compactum TccTriticum sp. TH. vulgare HvHordeum sp. HIndeterminado I
Quadro 4.12. – Carpologia: códigos de tipos morfológicos
de cereais
De forma a permitir uma melhor representação das restantes realidades, realizou-se
uma PCA sem as três amostras com mais cariopses (figura 4.13). Contudo, o que ressalta
de forma evidente é a inoperacionalidade e escassa utilidade do tratamento estatístico de
amostras que, para além do escasso número de sementes, se caracterizam pela presença
de demasiadas cariopses em mau estado de conservação, sem uma classificação
específica.
De qualquer modo, de forma sumária, é possível apontar a evidência de três principais
grupos de amostras.
O primeiro é constituído pela amostra IV20, cuja maior diferença face às restantes U.E.
aparenta ser a quantidade de cariopses identificadas.
O segundo grupo é constituído por IV21 e IV70, amostras do Ambiente II,
apresentando Triticum dicoccum/spelta (presente em IV21) e a cevada (muito abundante em
IV70) como principais elementos discriminantes. Na verdade, como é possível perceber na
figura 4.15, a cevada apresenta nestas U.E. níveis percentuais mais significativos que nas
restantes amostras analisadas, assumindo-se como uma característica do grupo em
questão.
No último conjunto de dados, as amostras III71, III95 e IV24 apresentam uma
correlação negativa com a cevada, espécie pouco representada nas últimas duas amostras,
enquanto que a U.E. [50] caracteriza-se pela correlação negativa com Triticum spp. Este
113
facto é, contudo artificial, já que é fruto de não se ter logrado a identificação ao nível da
espécie de qualquer cariopse de trigo desta amostra.
Em suma, as únicas linhas de análise passíveis de seguir com os dados em questão
são a comparação entre duas estruturas de combustão do Ambiente I e a distinção e
caracterização do Ambiente II, cuja interpretação é ainda uma incógnita.
Recolhas manuais
Foram recolhidas cariopses de cereal em algumas das amostras de recolha manual
(Quadro 4.13). Destas salienta-se a U.E. [46], possível nível de piso que reaproveita o que
restava das paredes de uma construção de planta circular. Neste depósito, possivelmente
associado à U.E. [11] foram identificadas sementes de cevada e trigo (maioritariamente
identificadas apenas ao nível genérico).
Por outro lado, a U.E. [11] cujas amostras tratadas por flutuação não forneceram
qualquer cariopse intacta, conta em RM com escassas sementes, em especial de cevada.
U.E. Nº Espécie L B H L/B L/H B/H B/L*100 H/B*1OO1 T. dicoccum 4,7 2,7 2,1 1,74 2,24 1,29 57,45 77,782 H. vulgare 5,9 2,9 2,5 2,03 2,36 1,16 49,15 86,213 H. vulgare 4,9 3,1 2,4 1,58 2,04 1,29 63,27 77,424 H. vulgare
1 T. aestivum 5,1 3,2 2,5 1,59 2,04 1,28 62,75 78,132 Triticum sp.
1 T. aestivum 5 3,2 2,7 1,56 1,85 1,19 64,00 84,382 T. aestivum 5,2 3,3 2,9 1,58 1,79 1,14 63,46 87,883 T. compactum 5 3,5 3 1,43 1,67 1,17 70,00 85,714 T. compactum 4,8 3,5 2,6 1,37 1,85 1,35 72,92 74,295 T. dicoccum 5,7 3 2,6 1,90 2,19 1,15 52,63 86,676 Triticum sp.7 Triticum sp.8 Triticum sp.9 Triticum sp.
10 Triticum sp.11 H. vulgare 5 2,3 1,8 2,17 2,78 1,28 46,00 78,2612 H. vulgare 5,5 3,2 2,1 1,72 2,62 1,52 58,18 65,6313 H. vulgare 5,7 2,9 2,3 1,97 2,48 1,26 50,88 79,3114 H. vulgare15 H. vulgare16 H. vulgare17 H. vulgare
III49 1 T. compactum 5,1 3,4 2,8 1,50 1,82 1,21 66,67 82,35
IV11
IV23
III46
Quadro 4.13. – Carpologia: quantidade e biometria de cereais de recolhas manuais
114
Figura 4.15. – Carpologia: quantidade relativa de trigo e cevada de amostras com mais cariopses
115
Figura 4.16. – Carpologia: proporções de trigos vestidos e nus das amostras com mais cariopses
116
2.3.4.2. Biometria de cariopses
A classificação das cariopses de género Triticcum foi realizada de acordo com
características morfológicas externas mas também seguindo os parâmetros biométricos de
S. Jacomet (2006). Como tal, os gráficos apresentados servem objectivos descritivos (de
tipos morfológicos e de U.E.) e, ao mesmo tempo, de averiguação da uniformidade dos
parâmetros utilizados e confirmação da existência de diferentes tipos morfológicos.
Deste modo, ainda que se tenha partido de um preconceito (a identificação já realizada)
o tratamento estatístico foi particularmente útil para a compreensão dos diferentes contextos
e tipos morfológicos.
Triticum spp.: distinção entre várias espécies através das cariopses
Os boxplot da figura 4.17 (1 a 8) representam a comparação das diferentes espécies de
Triticum no que respeita a cada um dos parâmetros biométricos considerados. Se da leitura
destes gráficos se torna evidente o elevado nível de sobreposição apresentado pelos
parâmetros métricos simples (comprimento, largura e espessura), conferindo-lhes baixo valor
discriminatório, já os índices biométricos usados apresentam menor sobreposição, o que
reforça o seu uso no diagnóstico taxonómico das cariópses. Por outro lado, se observarmos
os resultados da PCA realizada com os parâmetros biométricos das cerca de três centenas
de trigos identificados na jazida (figuras 4.18 e 4.19, ver também o anexo I) onde a totalidade
dos parâmetros é utilizada de forma multivariada na ordenação, verificamos uma dispersão
sequencial das diferentes espécies de trigos, com os eixos de maior variância
correspondentes precisamente aos índices C/L, L/C*100 e C/E, apresentando zonas de
sobreposição mínimas (cf. figura 4.19), o que parece confirmar a atribuição específica
realizada e o valor diagnosticante dos parâmetros usados. Note-se no entanto que a
dispersão da totalidade dos espécimens de trigo se representa de forma contínua,
sucedendo-se os diferentes tipos morfológicos ao longo dos eixos de variância, sem a
formação de clusters morfológicos claramente individualizados – ocorre uma única mancha
de dispersão total, se omitirmos a atribuição específica preconcebida. Este aspecto prende-
se certamente com a própria transição gradual da morfologia carpológica patenteada pelas
próprias espécies de trigo.
Os resultados expostos permitem-nos constatar a presença em Terronha de Pinhovelo
de distintas espécies de trigo.
As cariopses de T. monococcum distinguem-se das restantes (com excepção de T.
spelta) por serem mais compridas. São normalmente mais espessas e menos largas que as
de T. spelta. Tal diferença traduz-se, inclusive em índices distintos de C/L, L/E, L.C*100 e
117
E/L*100. T. monococcum caracteriza-se, assim, pelas suas proporções entre largura e
comprimento, sendo a cariopse estreita face ao comprimento apresentado.
Na bibliografia a distinção entre T. spelta e T. dicoccum surge como uma tarefa
complicada. S. Jacomet (2006) refere mesmo que, quando os grãos de T. spelta são
carbonizados na espiga ou na espigueta não se distinguem dos de T. dicoccum. Foi possível,
mesmo assim, classificar alguns grãos de T. spelta, quando os valores métricos se
enquadravam nos valores típicos desta espécie, afastando-se dos de T. dicoccum (ou seja
os grãos eram mais compridos, largos e, principalmente, apresentavam índices de C/L e C/E
mais elevados). A leitura das PCAs confirma que o Comprimento dos grãos e a relação C/E
são os argumentos biométricos que distinguem os dois tipos morfológicos definidos pelo
método de classificação, existindo ainda assim um elevado nível de sobreposição (esse nível
de sobreposição está sobrevalorizado na PCA da figura 4.19 devido à classificação como T.
dicoccum de uma cariopse muito duvidosa (visível na figura 4.18, e apresentado como outlier
no boxplot da figura 4.17 (5), com C/E muito elevado (2,81) mas demasiado curta e espessa.
Em suma, a distinção entre as cariopses das duas espécies em questão é difícil, podendo
somente ser feita ao nível dos grãos típicos.
As cariopses de T. aestivum apresentam muitas semelhanças com as de T. dicoccum e
T. compactum. Do ponto de vista da morfologia externa as cariopses são muito semelhantes.
Embora se entenda que as extremidades dos grãos, assim como o perfil dorsal e ventral
apresentam características próprias, a verdade é que estas são pouco variáveis.
Contudo, o modelo de classificação de S. Jacomet (2006) baseia-se na relação entre
características morfológicas e biométricas. A autora consegue esbater os níveis de
sobreposição através do uso de diversas relações e índices métricos. Embora se admita a
existência de uma certa artificialidade neste método, a verdade é que este representa
tendências gerais relacionáveis com determinadas espécies identificadas pela morfologia
externa da sua cariopse. Nas amostras aqui em estudo, estes parâmetros métricos
evidenciam a existência de espécies distintas. A PCA demonstra que a Largura e o índice
L/C*100, ambos com valores mais elevados para T. aestivum, e os índices C/L e C/E, com
valores mais elevados para T. dicoccum são os elementos biométricos que melhor
caracterizam as diferenças entre estes tipos morfológicos. Nos boxplot referentes a estes
parâmetros é bem evidente que, embora haja um curto grau de sobreposição, são definidos
dois grupos distintos (particularmente visível em C/L e L/C*100). No que respeita a T.
compactum, as cariopses apresentam um plano esferoidal, mercê da sua relação entre
Comprimento e Largura. São, assim, cariopses curtas face à largura que apresentam (esta
largura é muito semelhante a T. aestivum). Deste modo, os parâmetros mais eficazes para a
sua distinção são L/C*100 e obviamente C/L.
118
T. aestivum T. compactum T. dicoccum T. spelta Hordeum vulgare
Comprimento 4,8 ± 0,45 (3,6-6,3) 4,4 ± 0,58 (1,8-5,5) 5 ± 0,52 (3,6-6) 5,6 ± 0,43 (5-6,3) 5,1 ± 0,58 (3,7-6,4)Largura 3 ± 0,28 (2,2-3,9) 3,2 ± 0,43 (1,3-4,2) 2,7 ± 0,29 (2-3,4) 2,9 ± 0,42 (2,1-3,7) 3 ± 0,41 (2-3,9)
Espessura 2,6 ± 0,27 (1,9-3,3) 2,6 ± 0,32 (1,1-3,2) 2,3 ± 0,29 (1,5-3,2) 2,2 ± 0,22 (2-2,7) 2,3 ± 0,38 (1,5-3,3)C/L 1,6 ± 0,05 (1,52-1,71) 1,4 ± 0,08 (1,15-1,54) 1,8 ± 0,09 (1,67-2,05) 2 ± 0,17 (1,7-2,38) 1,7 ± 0,22 (1,22-2,62)C/E 1,9 ± 0,16 (1,48-2,23) 1,7 ± 0,13 (1,44-1,69) 2,1 ± 0,18 (1,71-2,81) 2,6 ± 0,1 (2,33-2,71) 2,3 ± 0,34 (1,63-3,67)L/E 1,2 ± 0,1 (0,97-1,4) 1,2 ± 0,09 (1-1,4) 1,2 ± 0,1 (0,96-1,5) 1,3 ± 0,09 (1,05-1,44) 1,3 ± 0,11 (1,04-1,55)
L/C*100 62,3 ± 1,92 (58,5-66) 71,3 ± 4,44 (65,1-86,8) 54,8 ± 2,77 (48,8-66,7) 51,5 ± 4,33 (42-58,73) 59 ± 7,22 (38,2-64,5)E/L*100 85,3 ± 7 (71,4-103,6) 83,4 ± 6,43 (71,4-100) 86,2 ± 7,4 (66,7-103,9) 76,5 ± 6,23 (69,4-95,2) 76,2 ± 6,38 (64,5-96,6)
Quadro 4.14. – Carpologia: síntese de dados biométricos de cariopses de cereais
119
TsTmTdTcTa
Espécie
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
Com
prim
ento
V3
IV70IV66
V3
TsTmTdTcTa
Espécie
4,0
3,0
2,0
1,0
Larg
ura
IV65V3
V3
V3
IV70
V3
Figura 4.17 (1 e 2) – Carpologia: dados biométricos, comparação entre espécies
120
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
IV24
IV66
IV65
IV20V3
IV66IV65
V3
Espe
ssur
a
V3
TsTmTdTcTa
Espécie
Figura 4.17 (3 e 4) – Carpologia: dados biométricos, comparação entre espécies
TsTmTdTcTa
Espécie
2,50
2,25
2,00
1,75
1,50
1,25
1,00
IV65
IV65
C/L
121
Figura 4.17 (5 e 6) – Carpologia: dados biométricos, comparação entre espécies
3,00
2,80
2,60
2,40
2,20
2,00
1,80
1,60
1,40
IV65
IV66
IV65
C/E
TsTmTdTcTa
Espécie
TsTmTdTcTa
Espécie
1,50
1,40
1,30
1,20
1,10
1,00
0,90
IV65
IV65
L/E
122
pécies
TsTmTdTcTa
Espécie
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
40,00
L/C
*100
IV65
IV65
IV66
Figura 4.17 (7 e 8) – Carpologia: dados biométricos, comparação entre es
TsTmTdTcTa
Espécie
110,00
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
IV65
IV65
E/L*
1OO
123
Figura 4.19. – Carpologia: PCA combiometria de trigos
gia: PCA com biometria de trigos
Legenda; T. spelta (
-1.0 1.0
-1.0
1.0
C
L
E
C/L
C/E
L/E
L/C*100E/L*1OO
-1.0 1.0
-1.0
1.0
C
L
E
C/L
C/E
L/E
L/C*100E/L*1OO
TmTs
Td
TaTc
Figura 4.18. – Carpolo
■) ○); ◄); ; T. dicoccum (+); T. monococcum ( T. aestivum ( T. compactum
124
Triticum spp: biometria de cariopses, comparação entre as diferentes U.E.
Uma série de oito boxplot (figura 4.20) foram produzidos de forma a detectar diferentes
biometrias de cada tipo morfológico nas diferentes U.E. O resultado evidente é que não se
encontraram diferenças significativas entre os contextos de escavação.
Assinala-se uma diferença significativa respeitante à largura dos grãos de T. aestivum
nas estruturas de combustão [65] e [66]. Embora dentro da margem de sobreposição a
análise dos 50% de cada amostra demonstra uma clara diferença: a maioria das cariopses
de T. aestivum de IV66 são maiores que as de IV65. Um comportamento que se verifica
também nos parâmetros Comprimento, Largura e Espessura, embora de forma menos
acentuada. No entanto, o facto de tal não se traduzir em diferenças significativas nas
relações e índices calculados, ou seja, nas proporções do grão, certifica que se trata do
mesmo grupo morfológico.
Os valores que a amostra IV21 apresenta, por vezes um pouco distintos das restantes,
não são aqui considerados relevantes, dado nos encontrarmos perante uma amostra com
uma pequena quantidade de cariopses, tornando-se pouco relevante a sua comparação
com as áreas de combustão acima mencionadas.
Figura 4.20 (1) – Carpologia: dados biométricos, comparação entre amostras
TdTcTa
Espécie
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
Com
prim
ento
V3IV70IV66IV65IV21IV20
U.E.
125
TdTcTa
Espécie
4,0
3,0
2,0
1,0
Larg
ura
V3IV70IV66IV65IV21IV20
U.E.
TdTcTa
Espécie
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
Espe
ssur
a
V3IV70IV66IV65IV21IV20
U.E.
Figura 4.20 (2 e 3) – Carpologia: dados biométricos, comparação entre amostras
126
TdTcTa
Espécie
2,50
2,25
2,00
1,75
1,50
1,25
1,00
C/L
V3
IV20U.E.
IV70IV66IV65IV21
113
105
Figura 4.20 (4 e 5) – Carpo
Figura 4.20 (4 e 5) – Carpologia: dados biométricos, comparação entre amostras
l
TdTcTa
Espécie
3,00
2,80
2,60
2,40
2,20
2,00
1,80
1,60
1,40
V3IV70IV66IV65IV21IV20
U.E.
C/E
127
TdTcTa
Espécie
1,50
1,40
1,30
1,20
1,10
1,00
0,90
L/E
V3IV70IV66IV65IV21IV20
U.E.
TdTcTa
Espécie
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
L/C
*100
V3IV70IV66IV65IV21IV20
U.E.
Figura 4.20 (6 e 7) – Carpologia: dados biométricos, comparação entre amostras
128
Figura 4.20 (8) – Carpologia: dados biométricos, comparação entre amostras Hordeum vulgare: biometria das cariopses e comparação entre as diferentes U.E.
A distinção de grupos morfológicos distintos de cevada foi tentada na PCA da figura
4.21. Porém, a dispersão dos resultados não parece indicar qualquer diferença ou
agrupamento de dados.
À semelhança dos trigos, também para as cevadas foram realizados boxplot com vista
à detecção, entre as várias U.E., de diferenças na biometria das cariopses (figura 4.23). Tal
informação foi complementada por um novo gráfico da PCA (figura 4.22).
No caso concreto de Hordeum vulgare não foram detectadas padrões significativos
que distinguissem as diferentes realidades arqueológicas deste ponto de vista. Denota-se
unicamente que a U.E. [65] é aquela que apresenta uma maior heterogeneidade entre as
cariopses. Esta heterogeneidade traduz-se na maior amplitude dos valores biométricos das
cariopses visíveis na generalidade dos boxplot, e também na representação da PCA da
figura 4.22. Porém, deve-se salientar que trata-se do contexto arqueológico com maior
quantidade de cereais mensuráveis, existindo uma significativa diferença quantitativa face
às restantes amostras.
TdTcTa
Espécie
100,00
90,00
80,00
70,00
V3IV70IV66IV65IV21IV20
U.E.
E/L*
1OO
129
Figura 4.21. – Carpolo
gia: PCA com biometria de cereais e amostras
gia: PCA com biometria de cevadas
Figura 4.22. – Carpolo
-1.0
-1.0
1.0
1.0
C
L
E
C/L
/E
L/E
L/C*100
E/L*1OO
C
-1.0 1.0
-1.0
1.0
C
L
E
C/L
C/E
L/E
L/C*100
E/L*1OO
Legenda: IV21 (●); IV65 (+); IV66 (◄); IV70 (■)
130
6,5
6,0
5,5
5,0
4,5
4,0
Com
prim
ento
131
rpologia: biometria de cevadas, comparação de amostras
Figura 4.23. (1 e 2) – Ca
IV70IV66IV65IV21
U.E.
4,0
3,5
3,0
Larg
2,5
2,0
IV70IV66IV65IV21
U.E.
ura
Figura 4.23. (3 e 4) – Carpologia: biometria de cevadas, comparação de amostras
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
IV70IV66IV65IV21
50
53
Espe
ssur
a
U.E.
IV70IV66IV65IV21
U.E.
2,70
2,40
2,10
1,80
1,50
1,20
C/L
39
14
53
29
132
IV70IV66IV65IV21
U.E.
1,60
1,50
1,40
1,30
1,20
1,10
1,00
L/E
Figura 4.23. (5 e 6) – Carpologia: biometria de cevadas, comparação de amostras
IV70IV66IV65IV21
U.E.
4,00
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
52
2053
29
C/E
133
IV70IV66IV65IV21
U.E.
100,00
80,00
60,00
40,00
20,00
L/C
*100
52
53
39
14
29
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
16
E/L*
1OO
IV70IV66IV65IV21
U.E.
Figura 4.23. (7 e 8) – Carpologia: biometria de cevadas, comparação de amostras
134
2.3.4.3. Distribuição de espiguetas pelas amostras
De entre os fragmentos de espiguetas, as glumas são os elementos mais comuns no
registo arqueobotânico mas surgem também quantidades significativas de bases de
espiguetas. O domínio de T. spelta é evidente na generalidade das amostras, assim como a
z de T. monococcum. T. dicoccum surge em menores quantidades que
tendo sido detectado na quase totalidade dos contextos estudados.
As amostras que apresentam maior quantidade de fragmentos de espiguetas,
acordo com os quadros no Anexo II são V3, IV20, IV21, IV65, IV66 e IV70.
A presença das espiguetas nas U.E. [21] e [70] ([24], embora com menor quantidade)
poderá ser um dado importante para a interpretação da funcionalidade do Ambi
Deve-se acrescentar que os sedimentos que foram alvo de flutuação nestes cont
uma pequena parte (percentualmente não quantificada) da totalidade daqueles q
escavados, tratando-se de depósitos que cobriam quase toda a área do compartimento e
questão. Salienta-se a presença entre estas amostras de uma única base de
atribuída a T. monococcum com reserva.
Ainda no Ambiente II, a estrutura de combustão representada pelo depósito [
escasse T. spelta
de
ente II.
extos são
ue foram
m
espigueta
71]
IV.2.1
forneceu escassos elementos de espiguetas.
As áreas de combustão [65] e [66] do Ambiente I contam com significativas
quantidades de espiguetas, com um evidente domínio de T. spelta. Ainda assim, a U.E. [66]
apresenta claramente maior número destes elementos de espiguetas. Esse número é tanto
maior quanto se se tiver em consideração que a sub-amostragem realizada sobre esta U.E.
é menor que a realizada sobre a área de combustão [65] (ver quadro 3.1).
A interpretação das U.E. [3] e [20] só poderá ser realizada tendo em conta a
especificidade das suas áreas amostradas, tema que surge evidenciado no capitulo .
rão ser
das
encontram-se descritos no capítulo III.2.2.5.3
As diferentes quantidades das espiguetas recolhidas em ambos os depósitos pode
interpretadas exactamente pelas já referidas conexões com as áreas de combustão do
Ambiente I, acima descritas.
2.3.4.4. Biometria de espiguetas
É usualmente admitido que o estudo das espiguetas é mais fiável do que o
cariopses para distinção entre as várias espécies de cereais. Os parâmetros morfológicos
.
135
O estudo biométrico das espiguetas encontradas na Terronha de Pinhovelo incidiu
s
s serve
fins prin cientes
s de
T. dico o, como
T.
ias que
detêm.
unicamente sobre a largura da base das glumas visto ser o único parâmetro que foi possível
calcular de forma sistemática e em quantidades significativas nas amostras.
Ainda assim, como tivemos já oportunidade de perceber, são escassos os elemento
pertencentes a T. monococcum, e a sua disposição nos boxplot abaixo apresentado
cipalmente descritivos. Na verdade, T. spelta é a única espécie com sufi
quantidades de glumas para permitir a averiguação de diferenças entre as U.E.
A figura 4.24 demonstra uma sobreposição significativa entre a largura das gluma
ccum e T. monococcum. Por outro lado, a maioria das glumas de T. spelta sã
se esperava, mais largas que as restantes. Contudo, o grau de sobreposição face a
dicoccum é mais significativo do que o indicado por S. Jacomet (2006), o que foi
compensado pela observação da secção das glumas e pelas características das estr
Figura 4.24. – Carpologia: largura de base de glumas de espécies de trigo
Triticum monococcum Triticum dicoccum Triticum spelta0,83 ± 0,12 (0,75 - 1) 0,86 ± 0,11 (0,75 - 1,05) 1,09 ± 0,17 (0,8 - 1,6)
Quadro 4.16. – Carpologia: síntese de dados biométricos de largura de glumas
TsTmTd
Código
1,60
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
Triticum spelta
Larg
ura
136
No que respeita a T. spelta, é difícil estabelecer comparações entre contextos com
números muito díspares de fragmentos de espiguetas, pelo que nos iremos cingir a V3,
IV20,
rea considerável,
que
Figura 4.25. – Carpologia: largura de base de glumas de T. spelta em diversos contextos
IV65 e IV66, amostras onde os fragmentos de espiguetas são mais frequentes.
Entre estas amostras salienta-se IV66 por apresentar glumas maioritariamente mais
robustas, as restantes três assemelham-se bastante entre si. As semelhanças entre IV20 e
IV65 deve-se, certamente, ao facto de as amostras recolhidas na primeira U.E.
corresponderem a níveis de definição da segunda.
Por outro lado, apesar de as amostras da U.E [3] terem sido recolhidas aquando da
definição de [66], o depósito em questão encontra-se disperso por uma á
inclui inclusive a definição da extremidade Noroeste de [65], talvez explicando desta
forma as semelhanças com este contexto.
V3IV70IV66IV65IV24IV21IV20
1,60
1,40
1,20
1,00
0,80
Larg
ura
U.E.
137
2.4.
rsas utilizações
dada
m exercício
arrisc
o
.1
pretende evidenciar a existência de um potencial medicinal e veterinário muito significativo
na envolvência do povoado. Esse potencial seria certamente mais elevado dado certamente
não se encontrarem representados no registo arqueobotânico a totalidade das espécies
existentes no meio.
Note-se que existem contradições entre as diversas referências bibliográf
consultadas. Os casos mais notórios são Sambucus ebulus e Hedera helix, ora
considerados venenosos ora medicinais. Na verdade, a fronteira entre estas duas
denom o da planta em
questão. No caso específico da hera, existem até referências do mundo clássico que
apontam o carácter psico-activo desta planta que conduziu, inclusive, à sua utilização em
cerimónias ligadas ao culto dionisíaco (Ruck, 1995).
O potencial alimentar de determinadas plantas surge referido no quadro do Anexo
IX.9.2 que exclui as espécies inequivocamente cultivadas, como a faveira e os cereais.
Etnobotânica da Terronha de Pinhovelo
A leitura dos quadros do Anexo IX permite perceber quais as dive
s pelas comunidades rurais recentes às diferentes espécies encontradas. Os dados em
questão foram adquiridos na bibliografia actualmente disponível e remontam a várias
gerações de conhecimentos acumulados, pelo que remeter esses conhecimentos para
tempos tão antigos é sempre problemático. Efectivamente, trata-se de u
ado e até desnecessário pois acaba por ser impraticável assegurar a sua
demonstração.
Não é conhecido com rigor o nível de cognição que as comunidades indígenas de
época romana teriam do meio que os envolvia, nomeadamente dos recursos vegetais.
Como tal, não é possível saber se estavam conscientes das propriedades das plantas, ou
algumas partes destas, disponíveis na envolvência do seu habitat. Deduzimos, porém, que
tal como nas sociedades rurais de tempos mais recentes, a estreita ligação que teriam com
o meio envolvente assim como a sua dependência face a este, deveriam implicar um íntimo
relacionamento com o mesmo e um conhecimento detalhado das diferentes propriedades e
características de todos os recursos disponíveis. Desta forma, um estudo etnobotânico
apresenta-se com diversas valências para a interpretação dos resultados arqueobotânicos.
No que respeita aos conhecimentos do potencial medicinal das plantas detectadas n
estudo arqueobotânico, embora não se saiba que uso foi dado às espécies estudadas, para
além da sua utilização como combustível, é possível que pelo menos parte das
propriedades das espécies em questão fossem conhecidas. Contudo, como foi já
mencionado, trata-se de uma possibilidade indemonstrável. O quadro do Anexo IX.9
icas
inações é ténue e dependente do efeito desejado com a aplicaçã
138
Distinguem-se, na alimentação humana, o consumo de frutos (consumo directo ou
transformado em aguardentes ou compotas) de árvores ou arbustos, ou de folhas de
herbáceas consumidas em saladas ou sopas. Sendo indubitável o potencial alimentar de
deter
eferências a diversos arbustos, folhas,
pequ
ldroega, a azeda e a labaça-obtusa. Acrescente-
se ainda a bolota. Esta duplicidade deve-se essencialmente ao facto de nas sociedades
recentes, questionadas nos estudos etnobotânicos, o consumo dos referidos alimentos
encontrar-se associado a épocas de carestia nas quais a sua escolha era movida pela
necessidade (Carvalho, Lousada, Rodrigues, 2001; Salgueiro, 2005).
As comunidades rurais actuais demonstram um pleno conhecimento acerca das
propriedades da madeira das diversas espécies existentes na envolvência das suas
habitações. Esse conhecimento traduz-se numa escolha discriminada quando é necessária
matéria-prima para distintos fins. Tal facto foi comprovado nas entrevistas que efectuámos
junto a Pinhovelo. O Sr. Amândio, pastor, agricultor e habitante do termo de Macedo de
Cavaleiros para a Amendoeira, menciona claramente a escolha da madeira de freixo ou
castanheiro para os cabos de ferramentas. A madeira de carvalho, não sendo considerada
totalmente inapropriada era preterida por rachar mais facilmente.
Nas escavações arqueológicas que decorreram na Terronha de Pinhovelo as madeiras
carbonizadas recolhidas não se encontram associadas a níveis de incêndio de construções
mas sim a estruturas de combustão, pelo que o quadro do Anexo IX.9.3 é unicamente
indicativo de características reconhecidas actualmente para o uso das madeiras para
diversos fins. É, assim, um indicativo de disponibilidade.
m caso mais problemático e particularmente relevante para o presente estudo é a
a para as
espécies silvestres encontradas na Terronha de Pinhovelo.
Os estudos de etnobotânica, dos quais salientamos a tese de doutoramento de Ana
Carvalho (2005) centrada no Parque Natural de Montesinho, mencionam claramente uma
escolha consciente do combustível mediante as suas propriedades e os fins a que se
destinam. A autora em questão salienta, de entre as espécies detectadas em carvões na
minadas espécies silvestres, seria provável a sua comum utilização pela população
romana de Terronha de Pinhovelo. Um caso paradigmático da utilização alimentar de
plantas silvestres é a beldroega, da qual existem variantes cultivadas.
No que respeita à alimentação animal há r
enos ramos e até frutos (ver quadro do Anexo IX.9.2).
Salienta-se que algumas espécies são referenciadas tanto para alimentação humana
como para forragem para animais. São elas algumas das espécies consumidas em saladas
e sopas pelo Homem, nomeadamente a be
U
escolha de combustível (a lenha). Trata-se da única funcionalidade comprovad
139
Terronha de Pinhovelo, o uso preferencial da esteva, giestas, urzes (especialmente Erica
australis, preterindo algumas ericaceas), freixo, azinheira e carvalho-negral.
encher carroças com os carvalhos pequenos e raízes. Estas últimas eram
partic
.
Salie
Para o mesmo fim, o Sr. Amândio, para além das estevas, acrescenta
as gi
mportamento descrito, isto é, a procura
de carvalhos novos e raízes, característicos de fases de escassez, é ainda assim selectivo.
vões
Na aldeia de Pinhovelo, a Sra. Iria Diamantina, habitante local, afirma que no passado
a recolha de lenha realizava-se nas imediações da habitação, na encosta da serra de
Pinhovelo. Privilegiava-se a madeira originária da limpeza das árvores, isto é, de práticas
silvícolas, assim como as giestas e o carvalho. A falta de combustível disponível conduzia a
que se cavasse as terras em busca de raízes de carvalhos e carvalhos novos.
O Sr. Amândio, já mencionado acima, descreve uma situação semelhante, afirmando
que chegavam a
ularmente apreciadas. Para o efeito era explorada uma mancha de carvalhal existente
a uma distância significativa (não explicitada) do núcleo habitacional. Este informante
menciona a escolha preferencial de freixo e carrasco (azinheira), para além, obviamente, do
carvalho.
Também o Sr. Orlando Pinheiro, da Amendoeira, menciona estas três espécies,
salientando o freixo. Acrescenta ainda as giestas e o produto da limpeza dos sobreiros, à
semelhança da informante de Pinhovelo.
Por oposição, entre as espécies pouco apreciadas para lenha salientam-se, na
bibliografia, algumas urzes, o amieiro, a aveleira e o pinheiro-bravo (Carvalho, 2005)
nta-se, contudo, a abundância de carvão de Pinus pinaster entre as amostras
estudadas. Parece que o facto de se tratar de uma madeira que produz demasiado fumo
não impediu a sua escolha para os contextos analisados.
Parece claro, através da leitura do quadro do Anexo IX.9.4 que existe nas
comunidades rurais uma clara consciência das propriedades e potencialidades de cada
espécie enquanto combustível. Essas propriedades condicionam a sua escolha mediante os
fins a que se destinam: fornos, forjas e lareiras normais. De igual modo, a Sra. Iria
Diamantina menciona a escolha de estevas e carvalho mais miúdo para cozer o pão, por
arderem lentamente.
estas, por ambas fazerem boa brasa.
Ana Carvalho (2005) menciona mesmo que determinadas comunidades no PNM
realizavam uma gestão do corte das giestas (Genista florida) de forma a assegurar o
abastecimento de combustível.
Porém, nem sempre se procedia a uma selecção criteriosa da lenha. Um dos
informantes, o Sr. Amândio, afirma que em épocas de escassez de lenha não havia
selecção durante a recolha. De qualquer forma, o co
Contudo, não se pode caracterizar a priori a disponibilidade de combustível no meio
envolvente da Terronha de Pinhovelo. Assim, mesmo pressupondo que os car
140
dispe
o, claramente, os cereais mais
cultiv
ográficos. Secundário
porque pouco cultivado e porque a sua produção na actualidade é destinada essencialmente
à ali
a em cultura (a folha do
pão)
ementeira
rsos nos sedimentos arqueológicos são o produto de escolhas efectuadas ao longo de
períodos de tempo de longa duração, essa escolha terá sido condicionada não só pela
disponibilidade no meio mas também por aspectos sócio-económicos.
2.4.1. Cereais: usos e costumes
Na região de Trás-os-Montes o centeio e o trigo sã
ados. Contudo, o predomínio do trigo deve ser recente (Pereira, 1996; Júnior, 1977).
Vários autores mencionam que as melhores terras eram usualmente guardadas para o trigo,
considerado um cereal mais exigente (Oliveira et al., 1976; Dias, 1953). O centeio, cultura
não representada nas amostras da TP, era cultivado nas encostas mais altas e topos de
elevações.
No conjunto bibliográfico consultado surge referido de forma clara que a cevada é um
cereal secundário na generalidade dos contextos alvo de estudos etn
mentação do gado. Como tal, as referências respeitantes à faina dos cereais
usualmente centram-se exclusivamente no trigo e no centeio. Deste modo, não tendo sido
obtidos dados suficientes em relação às particularidades do processo de trabalho da
cevada, cingimo-nos ao trigo. Seguem-se as descrições de J. Santos Júnior (1977), E. Veiga
de Oliveira e colaboradores (1976), J. Dias (1953), B. Pereira (1996) e L. Peña-Chocarro
(1999).
O cultivo de cereais faz-se usualmente em regime extensivo, com um sistema de
afolhamentos. A terra para lavoura divide-se em duas folhas, um
e a outra em pousio (a contrafolha). Na sua maioria estes são bienais (os solos
descansam um ano) mas podem ser de dois ou até cinco anos, dependendo das
características dos solos e das necessidades a suprir (Oliveira, et al., 1976). Com o
surgimento da batata, esta veio a alternar com os cereais num regime de rotação (Pereira,
1996).
S
A sementeira realiza-se, normalmente no final de Setembro ou início de Outubro. É
precedida pela lavra e pela estrumação. Esta última pode ocorrer no próprio dia da
sementeira (Pereira, 1996) ou até um mês antes (Peña-Chocarro, 1999). A lavra pode ser
precedida de uma gradagem.
O lançamento da semente deve ser feito de modo a cobrir ampla e homogeneamente
o terreno.
141
A esta actividade sucede-se uma outra lavra que cobre a semente. Invés de uma lavra
pode ser preferida uma gradagem para cobrir a semente e ao mesmo tempo desterroar as
leivas (Peña-Chocarro, 1999).
Até à segada
Entre a sementeira e a segada existem várias actividades indispensáveis a uma boa
colheita. Assim, logo em Janeiro-Março há uma lavra, a decrua ou relvar, que tem de ser
funda (Júnior, 1977).
A lavra seguinte, a vima ou bima, realiza-se em Abril ou Maio e é feita de forma obliqua
face à anterior. É acompanhada de uma gradagem do terreno que quebra os torrões.
Ainda no mês de Maio faz-se a monda. Esta actividade consiste na limpeza do terreno
e arranque das ervas daninhas. É feita à mão e usualmente por mulheres (Júnior, 1977).
Porém, pode ser antecedida por duas fases de monda à enxada, antes do crescimento do
cereal, a primeira em Fevereiro-Março e a segunda no final de Março-início de Abril (Peña-
Chocarro, 1999).
Segada
Por fim, a segada realiza-se em Junho (Júnior, 1977; Oliveira et al., 1976). Contudo,
Peña-Chocarro (1999), no estudo do cultivo de Triticum dicoccum e T. spelta nas Astúrias,
aponta como datas para a sua ceifa, o final de Agosto e início de Setembro.
A segada na região transmontana era feita tradicionalmente com foice. Trata-se de um
trabalho moroso e particularmente duro. As técnicas inerentes ao mesmo não são aqui
aprofundadas, podendo ser consultadas na bibliografia.
O colmo com as espigas era junto em molhos e o seu transporte era feito em carroças,
directamente por burros ou mulas, ou mesmo pelos próprios segadores.
Debulha
Não menos duro era o trabalho que se seguia à ceifa, a debulha. Para a região estão
documentadas três técnicas principais para a debulha dos cereais: a malhada, o trilho e a
debulha a pé de gado, todas realizadas numa eira de terra batida (Júnior, 1977).
A malhada era realizada com recurso ao malho ou mangual, utensílio que consiste
num
o regularmente, o que era normalmente feito por mulheres.
cabo comprido no topo do qual uma corda curta, ou couro, prendem uma outra haste
de madeira menor. O malho era elevado e descido ritmicamente, batendo com força sobre o
cereal. O cereal tem de ser virad
O trilho era um tabuleiro relativamente grande, com proa levantada, puxada por
animais, presos a um tirante. A face inferior do trilho era cravejada por lascas de quartzo ou
sílex, ou ainda por lâminas de ferro. Ao passar sobre o cereal vai cortando e triturando a
palha e as espigas (Júnior, 1977).
142
A debulha a pé de gado consistia somente no pisoteio dos cereais pelo gado,
normalmente cavalar (Pereira, 1996; Peña-Chocarro, 1999). O cereal tem de ser virado
regularmente.
Limpeza do trigo
inda na eira com as pás, em dia de vento, o colmo e o cereal eram lançados ao ar
sse a palha cair afastada do grão que, mais pesado
caía directamente na eira. Era um trabalho masculino. Os pedaços de espiga ou palha mais
pesa
tido
ña-Chocarro (1999) problematiza de forma aprofundada esta questão, em especial
para
ente os processos inerentes a uma planta usada para forragem são mais simples.
Contudo, a autora menciona haver ainda memória, na região andaluza, do seu consumo
pelo
T. spelta são normalmente cultivados juntos, sendo também
comu
orma estas duas espécies têm processos de cultivo semelhantes aos descritos
anteriormente, com a excepção de não serem estrumados. Tal deve-se ao facto de
A
(padejar), de modo a que o vento fize
dos que caíam com o grão eram removidos de imediato pelas mulheres. Por vezes
havia que esperar pacientemente pelo dia adequado para o processo.
De seguida, o grão era crivado e limpo, ficando preparado para o armazenamento
(Júnior, 1977).
O trigo ves
O processamento dos trigos vestidos implica, usualmente, outras actividades para
além das acima descritas, após a sua colheita, em especial no que respeita à separação
entre o grão, espiga e espiguetas. Este ponto apresenta-se como sendo especialmente
relevante, não só devido ao peso que estas espécies têm no conjunto carpológico da TP,
mas também por descrever actividades que poderão implicar o uso de fogo, e que têm sido
utilizadas como justificação para o surgimento de macro-restos carbonizados nas jazidas
arqueológicas.
Pe
o T. dicoccum e T. spelta, com uma investigação etnográfica realizada nas Astúrias, o
único local ibérico onde estas espécies são ainda cultivadas de forma tradicional. Na
exposição seguinte segue-se de perto este estudo.
A autora estuda também T. monococcum, porém, a sua investigação etnográfica
acerca do processamento desta espécie não permitiu uma descrição pormenorizada das
suas especificidades por não ser, actualmente, utilizada para consumo humano.
Naturalm
Homem, mas somente em tempos de carestia. Nesse tempo, as espiguetas eram
maceradas e depois crivadas para separar os fragmentos destas.
Os trigos T. dicoccum e
ns os processos inerentes ao seu cultivo e preparação posterior a este.
Por n
143
cresc
realizada em Novembro, invés de
Setem eados com espigueta pois a remoção desta poderá afectar o embrião
inibin
ereais nas Astúrias é realizada sem recurso à foice. São utilizadas as
meso
paus,
abrin
opção cultural, mais do que a uma inerência das espécies em questão.
é depois cortada com uma gadanha.
do por cima do
fogo,
libertar o grão. Em
suma as espigas ao fogo permite que estas, bem como as espiguetas, sejam mais
facilm
de para a
desc
grãos
raficamente noutros locais. A secagem do grão é outra
dessas actividades sendo necessária para a sua farinação. Esta necessidade advém,
forçosamente, do seu prévio contacto com a água. Esse contacto poder-se-á dever a
erem demasiado e terem assim tendência a dobrar até ao chão, por causa da chuva e
vento primaveris.
Nas Astúrias a sementeira destes cereais é
bro. São sem
do a germinação. Estas espiguetas são escolhidas após a ceifa anterior,
seleccionando-se as maiores.
A ceifa destes c
rias, dois paus de 50cm, de secção circular, juntos por uma pequena corda ou couro.
O trabalho é realizado por homens que seguram com uma mão cada um dos dois
do-os sobre um conjunto de pés, fechando-os com força e estendendo-os até à base
das espigas, arrancando-as do colmo. As mulheres e crianças apanham as espigas que
caem no chão e arrancam as que restam no colmo. Em campos pequenos, as espigas
podem ser arrancadas totalmente à mão. Porém, julgamos que a escolha desta técnica
dever-se-á a uma
A palha
Nas Astúrias os agricultores queimam as espigas com a intenção de remover as
aristas. A colheita é empilhada, fazendo-se uma fogueira perto desta pilha. Com uma
forquilha ou instrumento semelhante pega-se em várias espigas e abanan
deixa-se cair as espigas para serem queimadas. As aristas queimam-se rapidamente e
as glumas ficam parcialmente queimadas. Existem possibilidades de erro neste processo,
porém a perda de grãos é diminuta.
Os agricultores afirmam que este procedimento ajuda ao processo que se realiza de
seguida, a maceração em almofariz ou pios de piar para descorticar e
, sujeitar
ente quebradas. Não é, contudo, uma actividade indispensável para este efeito. Na
verdade, vários autores (veja-se Nesbitt e Samuel, 1995) demonstraram através de
arqueologia experimental que a passagem pelo fogo não tem grande utilida
orticação do grão, bastando para o efeito a maceração em almofariz.
Peña-Chocarro descreve ainda uma prática com algumas semelhanças documentada
para o século XVII na Escócia. O graddaning consistia em segurar as espigas pelo colmo,
numa mão, e atear-lhes fogo. Logo de seguida batia-se-lhes com um pau, o que libertava os
das espigas e queimava as espiguetas. O grão ficava já seco e parcialmente tostado,
sendo depois padejado e moído.
Contudo, o contacto do grão com o fogo poderá acontecer noutras fases do tratamento
dos cereais, documentados etnog
144
prátic
eita em fornos ou por contacto directo com o fogo
e Samuel (1995) mencionam estas práticas e consideram que seria
nesta
ies de cereal vestido
tamb
do. Na Turquia é consumida também a farinha de grão tostado.
pão destes cereais é muito apreciado nas Astúrias. Contudo, o pão de T. dicoccum é
de T. spelta por crescer menos e ser mais escuro. Já o remanescente da
debulha é utilizado para a alimentação de animais, como combustível e para o enchimento
de co
e produção que lhe são inerentes.
à base de cevada, acompanhada por
milho
ntana, para tempos mais
antigos (Aguiar, 2001). Santos Júnior (1977) refere o cultivo minoritário de milho burreiro,
deno
ssas. R. Buxo
(1997
as de lavagem por sistema de flutuação, ou mesmo às práticas de maceração
mencionadas acima. A secagem é feita ao sol mas em áreas geográficas húmidas poderá
por vezes ser f
Também Nesbitt
fase que se verificaria a perda por carbonização dos grãos. A água era adicionada no
almofariz de modo a amolecer as espiguetas e facilitar a descorticação da cariopse.
Por fim, os grãos poderão ter contacto com fogo já em fases de confecção. De facto,
apesar de nas Astúrias estes cereais serem sempre consumidos em forma de farinha, o
mesmo não acontece na Turquia e na Alemanha, onde estas espéc
ém são consumidas em grão inteiro, seja tostado, no primeiro caso, ou sob a forma de
sopas, no segun
O
preterido face ao
lchões.
A cevada
Como foi já referido, actualmente e há já várias décadas, o cultivo da cevada é tido
como secundário na região em questão, não existindo, por isso, descrições pormenorizadas
dos processos d
Para além do seu uso para a produção de bebidas alcoólicas, a utilização de cevada
para a confecção de papas na antiguidade surge documentada por Plínio (Renfrew, 1973).
A mesma autora menciona o uso da cevada para a produção de pão, embora fosse
preterida face ao trigo. Também a Pollenta é feita
-miúdo e milho-painço e, segundo, R. Buxo (2005), constituiu a base alimentar das
classes mais pobres.
Os milhos
No que respeita ao milho-painço (Setaria italica) e milho-miúdo ou milho-alvo (Panicum
miliaceum) tratam-se de espécies referidas para a região transmo
minação regional para o milho-miúdo ou painço, tidas pelo autor como a mesma
espécie. Contudo as menções ao processamento dos mesmos são esca
) refere que a sementeira realiza-se na Primavera, e exige que as terras estejam
145
lavradas com uma textura fina. Ao mesmo tempo têm o inconveniente de esgotarem
demasiado o solo.
2.4.2
lomentum), obtida por maceração em almofariz (apud
Renf
Acrescente-se que como o grão é muito frágil, todos os processos que sucedem à
colheita devem ser realizados com muita cautela (Buxo, 1997). Os dois milhos podem ser
cultivados em conjunto e confeccionados isoladamente ou em mistura com farinha de trigos
(Marinval, 1992).
O uso de milho-miúdo (Panicum miliaceum) para a confecção de papas surge
documentado por Plínio, estando testemunhada a perduração deste prática até aos tempos
actuais no leste da Europa (antiga União Soviética). O mesmo autor clássico menciona o
seu uso para fazer levedura para a confecção de bebidas (apud Renfrew, 1973).
É também Plínio quem menciona o uso de milho-painço (Setaria italica) para o fabrico
de pão, assim como de papas (apud Renfrew, 1973).
. As favas
O cultivo das favas exige a presença de água em relativa abundância, sendo cultivada,
geralmente, em conjunto com outras espécies hortícolas.
Para além do uso da semente inteira em guisados e sopas, outros tipos de consumos
surgem testemunhados pelos autores clássicos. Deste modo, vários usos são mencionados
por Plínio, para a farinha de fava (
rew, 1973). Essa farinha era acrescentada à farinha de trigo ou milho-painço para
aumentar o peso dos pães para venda; era também utilizada para a confecção de papas
utilizadas em sacrifícios aos deuses; e era ainda usada para fazer um puré especial, uma
mistura de farinha de fava com peixe e especiarias.
A produção de pão com farinha de leguminosas, incluindo farinha de fava, encontra-se
atestada desde o Norte de África até à Índia.
146
V. DISCUSSÃO
1. As
ser um
espa
spp., assim
como
adeiras em Quercus spp.
pectos de natureza morfo-tipológica
Um estudo desta natureza, inserido num projecto académico, deve também
ço de reflexão acerca das questões metodológicas que o tutelaram e condicionaram.
Algumas considerações devem ser feitas acerca da morfologia de determinados tipos
xilotómicos e carpológicos, na esperança de contribuir, assim, para uma maior compreensão
do significado e abrangência taxonómica que lhes é atribuído neste trabalho. Salientam-se
as questões referentes à anatomia das madeiras de Quercus spp. e de Erica
às sementes do género Triticum.
Anatomia de m
Foram distinguidos vários tipos xilotómicos de género Quercus: Q. coccifera, Q. ilex, Q.
faginea, Q. pyrenaica, Q. suber, Q. perenifolia e Quercus subgenus Quercus.
pra, ponto III.2.2.4). Note-se, no
entan
e
supra
- Corresponder a descrições mais detalhadas que permitam ir além da distinção
ntre porosidade em anel e porosidade difusa.
- Restringir o leque de espécies botânicas provavelmente incluídas em cada tipo
Indo além das classificações que distinguem apenas dois grupos - espécies de folha
caduca e espécies de folha perene, optámos pela definição de tipos morfológicos com base
na distribuição dos poros no corte transversal (vide su
to, que a correspondência entre tipo morfológico e espécie botânica não é unívoca,
variando o número de espécies incluídas em cada tipo xilomorfológico (mais uma vez vid
, ponto III.2.2.4).
É discutível a utilidade do uso destes morfotipos quando estes incluem características
anatómicas de mais que uma espécie do mesmo género. Procuramos, porém, cumprir dois
propósitos:
e
xilotómico considerado. Este princípio torna-se válido na medida em que se
assume que os padrões de distribuição de poros que caracterizam cada tipo são
característicos, principalmente, da espécie que lhe dá o nome. Este trabalho
segue uma proposta de classificação xilo-morfológica em elaboração por Wim
van Leeuwaarden, à qual se juntou a consulta da bibliografia da especialidade.
Refira-se, no entanto, que a questão da identificação das espécies de Quercus
com base na anatomia da madeira é ainda uma questão em aberto, que terá no
147
futuro de contar com a realização de uma pesquisa mais detalhada sobre a
morfologia da madeira do género, onde se defina com rigor qual o valor
os tipos morfológicos referidos acima (Q. perenifolia e Quercus subgenus
Quer
o Q. suber.
No e
Q. suber e a densidade de raios
multisseriados nem sempre são possíveis de observar em fragmentos de carvão de muito
duzidas dimensões. No caso da Terronha de Pinhovelo, a ausência do carrasco nas
de Trás-os-Montes poderá, embora com algumas reservas, sugerir a sua
exclusão do conjunto antracológico em questão. Foram, no entanto, classificados alguns
pequ
e às reduzidas dimensões dos
fragm
poros em Q. ilex, embora não seja
frequ
erístico deste tipo xilotómico.
Não obstante a provável inclusão no conjunto de restos identificados como sobreiro de
fragmentos atípicos de azinheira, é possível afirmar que o tipo xilotómico Q. suber deverá
incluir, principalmente, fragmentos de carvão de madeira de sobreiro. Esta caracteriza-se
por apresentar porosidade difusa a semi-difusa, normalmente com uma pequena zona
desprovida de poros no final da camada de crescimento, e com alguns poros de maior
dimensão no início do lenho de Primavera. Estes não existem, de forma tão evidente, na
madeira de azinheira e carrasco. Por outro lado, na madeira de azinheira os poros são mais
frequentes (vide supra, ponto III.2.2.4).
No que se refere às espécies de folha caduca e marcescente distinguiram-se dois tipos
xilotómicos, Q. pyrenaica e Q. faginea. A existirem exemplares de Q. robur nos conjuntos
diagnosticante de cada carácter morfológico na discriminação das diferentes
espécies.
Os dois últim
cus) correspondem a tipos xilotómicos de âmbito mais lato, onde se incluíram os
fragmentos de Quercus menos característicos, que não puderam ser integrados nos tipos
descritos de âmbito taxonómico mais restrito.
De entre as espécies de folha perene é usual, na bibliografia, distinguir o tip
ntanto, este tipo xilotómico é, com alguma frequência, difícil de distinguir de Q.
coccifera pois o carácter semi-difuso do lenho de
re
paisagens actuais
enos fragmentos de carvão como Q. coccifera, já que as características morfológicas
observadas correspondiam à descrição do tipo. Fac
entos, a atendendo ao comentário exposto anteriormente, a probabilidade de se tratar
de madeira de sobreiro não é de se excluir, pelo que não fica provada a presença de
carrasco no território de Terronha de Pinhovelo durante a época romana.
A observação na colecção de cortes histológicos do Laboratório de Paleoecologia e
Arqueobotânica de vários espécimes de Q. suber e Q. ilex permitiu também perceber a
dificuldade existente na distinção entre estas duas espécies, em especial por poderem
existir zonas semi-difusas em algumas fiadas de
ente. De igual forma, a madeira de sobreiro apresenta, por vezes, um maior número de
poros do que aqueles que se considera caract
148
antracológicos estudados, estes não se reconheceram morfologicamente e estariam
incluídos em ambos os tipos aqui descritos, apesar de supostamente dever existir uma
diferença significativa entre a dimensão dos poros do lenho de Primavera do carvalho-
l., 2001).
característica que mais facilmente distingue o tipo Q. pyrenaica é o carácter muito
abrup
o, e também pela existência de prolongamentos
dendríticos dos poros de Primavera. Várias ilustrações de Q. pyrenaica presentes nos atlas
anatómicos (por exemplo Schweingruber, 1990) apresentam estas mesmas características
ipo Q. faginea incluir exemplares daquela espécie.
mbora caracteristicamente os dois tipos xilotómicos apresentem claras diferenças ao
nível
oderá incluir
exem
istribuição de poros provocadas por diferentes factores: o local da
árvor
tempo de vida (veja-se o caso específico do efeito de condições de secura em
exemplare
pyrenaica
Conc
probabilida
significativ
de análise
cerquinho e os do carvalho-alvarinho (Vernet et a
A
to da transição do lenho inicial para o lenho tardio, ou seja, nota-se a presença de um
anel com uma fiada (por vezes duas) de poros grandes sem prolongamentos dendríticos de
poros de dimensões intermédias face aos pequenos poros do lenho final. Verificam-se
frequentemente poros de dimensões intermédias mas apenas inseridos nas fiadas do anel
inicial.
O tipo xilotómico Q. faginea caracteriza-se por apresentar poros iniciais menores do
que os do tipo anteriormente descrit
pelo que se assume a probabilidade do t
E
da distribuição de poros no corte transversal, e a identificação de exemplares típicos
não seja problemática, a constatação de que cada tipo morfológico p
plares de mais do que uma espécie só testemunha a grande variabilidade morfológica
que caracteriza as madeiras deste género, tornando muito difícil, quiçá impossível, a
identificação de espécimes menos típicos. Refira-se mais uma vez a importância da
realização de um estudo detalhado sobre esta questão.
A acentuar esta dificuldade, vários estudos demonstram a existência de variações ao
nível da dimensão e d
e (tronco, pequenos ramos, raízes) de onde é extraída a madeira (veja-se o exemplo
de Q. robur em Gasson, 1987); e as condições ambientais às quais o indivíduo foi sujeito ao
longo do seu
s de Q. ilex em Corcuera et al., 2004, de Q. suber em Leal, et al., 2007 e de Q.
em Corcuera et al., 2006).
luindo, a definição de tipos xilotómicos serve como base de dedução da maior
de de representação de cada espécie pela identificação de características com
o valor diagnosticante. Não exclui a possibilidade de erro mas permite uma base
mais eficaz.
149
Anatomia de madeira em Erica spp.
ntificação de espécies do género Erica através das características da sua
A ide
madeira demonstrou ser também uma tarefa difícil apesar de existir já um estudo anatómico
profundado (Queiroz e Van der Burgh, 1989). A dificuldade prende-se com o facto de
algum
ara a distinção de espécies deste género a
largu
nte no facto de a
segu
ntos de carvão.
ómica: E. umbellata/scoparia e E. arborea/australis.
Esta
a
as características diagnosticantes não serem observáveis em madeiras carbonizadas
e outras só serem verdadeiramente perceptíveis em fragmentos de dimensões
consideráveis.
Assume-se como elemento primordial p
ra dos raios plurisseriados e a altura dos raios unisseriados. Em menor medida, e de
forma complementar, poderá ser utilizado o diâmetro máximo dos poros no corte
transversal.
Vários fragmentos estudados, no entanto, não se enquadram facilmente num dos
quatro tipos morfológicos identificados (Erica umbellata, E. scoparia, E. arborea e E.
australis) apresentando características que somente excluem duas, ou uma das espécies
mencionadas. O resultado é um conjunto pouco operacional de grupos xilotómicos. A
principal causa é a dimensão dos fragmentos em questão que, na maioria dos casos, não
permite observar de forma fiável os padrões referentes à dimensão dos raios no corte
tangencial.
Existe assim alguma fragilidade nos critérios usados na distinção dos tipos xilotómicos.
De facto, a diferença entre E. umbellata e E. scoparia reside principalme
nda apresentar raios com quatro células de largura máxima, enquanto que os raios da
primeira não apresentam mais do que três células de largura. Acrescente-se que os raios
unisseriados de ambos possuem alturas distintas e os poros, em corte transversal,
apresentam uma ligeira diferença ao nível do seu diâmetro máximo (vide supra, ponto
III.2.2.4). Porém, denota-se, em ambos os casos, um grande nível de sobreposição nas
características avaliadas, tornando difícil a identificação de inúmeros fragme
Existem também dificuldades para a distinção entre E. arborea e E. australis. Ambas
as espécies apresentam raios mais largos que as restantes urzes presentes nas amostras
estudadas. A distinção entre si faz-se principalmente pelo facto de os raios bisseriados
serem frequentes em E. arborea e raros em E. australis. O diâmetro máximo dos poros é
ligeiramente superior na primeira espécie. No entanto, tal como nos casos anteriores, o grau
de sobreposição das características anatómicas é bastante grande.
Uma proposta para a solução desta questão seria a constituição de dois grupos
xilotómicos de maior abrangência taxon
possibilidade deverá ser testada em futuros estudos, ou na continuação deste,
envolvendo necessariamente um maior número de fragmentos de carvão.
150
Anatomia carpológica em Triticum spp.
Os dados expostos no capítulo IV.2.3.4. demonstram um predomínio, entre os trigos
vestid
do por S. Jacomet (2006). A autora salienta que quando as cariopses de T. spelta
são s
estud
riópses, baseada em características morfológicas
corre
l destas poderão esclarecer esta
uestão.
Uma situação semelhante foi detectada na jazida de Cortaillod/Sur les Rochettes-est,
a Suiça, onde foi estudada maior quantidade de material (Akeret, 2005). Assim, à
emelhança do que se verificou nessa jazida, e partindo do pressuposto assumido em
os, de cariopses de T. dicoccum face a T. spelta e T. monococcum. As características
morfológicas, traduzidas em determinados parâmetros biométricos, foram a base deste
estudo. Contudo, como foi já referido, a distinção entre as diversas espécies não se fez sem
dificuldades.
O grau de sobreposição biométrica entre as cariopses de T. dicoccum e T. spelta é
assinala
ubmetidas ao fogo ainda na espigueta ou na espiga, a sua forma torna-se diferente da
dos grãos típicos, aproximando-se muito da morfologia e dos parâmetros biométricos de T.
dicoccum.
No caso dos macro-fosseis vegetais da Terronha de Pinhovelo, deve-se salientar a
existência de uma forte discrepância entre os dados fornecidos pelas cariopses e os do
o das espiguetas. Os fragmentos de glumas e bases de espiguetas classificados como
T. spelta são bastante mais abundantes que os de T. dicoccum. Tomando o exemplo dos
contextos mais circunscritos, isto é, as áreas de combustão, nos quais a comparação entre
proporções de grãos e espiguetas será mais fiável, esse facto torna-se evidente (ver figuras
4.14. e Anexo II). Há, entre as cariopses, um domínio evidente de T. dicoccum sobre T.
spelta, tanto em IV65 como em IV66, domínio que se inverte ao considerarmos as
espiguetas.
A própria quantidade, muito significativa, de fragmentos de espiguetas, assim como o
registo de grãos ainda no interior das respectivas espiguetas sugere que muitas cariopses
tenham sido submetidas a fogo antes da descorticação o que tem, como vimos, fortes
implicações na sua morfologia.
Deste modo, consideramos muito provável que nos resultados apresentados haja uma
sobrevalorização da presença de grãos de T. dicoccum face aos de T. spelta, provocada por
uma identificação errónea de ca
spondentes à franja de sobreposição entre as espécies, especialmente quando em
presença de grãos de morfologia alterada pelo fogo. Essa sobrevalorização poderá
conduzir a conclusões erróneas e só estudos mais aprofundados acerca da morfologia das
cariopses e os efeitos provocados pela combustão parcia
q
n
s
151
diversos estudos carpológicos (Jacomet, 2006; Buxo, 1997) de que os fragmentos de
espiguetas são elementos mais fiáveis para a classificação de cereais, assume-se que T.
spelt
imilares a T. dicoccum em jazidas do leste da Europa e Próximo-Oriente
(Krol
diferença significativa na espessura, mas sim noutros aspectos morfológicos.
a seria, entre os trigos vestidos presentes na Terronha de Pinhovelo, o cereal mais
representado.
Também entre T. dicoccum e T. monococcum estão documentadas dificuldades de
distinção ao nível das cariopses. A identificação de cariopses de “two-seeded” T.
monococcum s
l, 1992) poderá constituir uma base para dúvidas nas classificações. No estudo da
jazida Feudvar, nos Balcãs, Helmut Kroll (1992) conseguiu no entanto estabelecer uma
distinção entre as duas espécies não com base em parâmetros métricos, apesar de se
verificar uma
No caso da Terronha de Pinhovelo, as poucas cariopses de T. monococcum
encontradas enquadram-se nos grãos típicos desta espécie e a escassez de fragmentos de
espiguetas inseridos neste tipo morfológico parece confirmar os dados obtidos no estudo
das cariopses.
152
2. Distribuição de macro-restos vegetais no Sector B
tendendo ao facto de as amostras recolhidas não se distribuírem de forma
equip
com evidentes marcas de fogo, e [65] cobrir um depósito esbranquiçado de
orige
elo que não se encontra ainda plenamente compreendida.
ria dos quais presente nas três estruturas (ver Quadro 4.1).
Conf
m, e não sendo os elencos florísticos muito diferentes entre as estruturas de
comb
A
arável pelas diversas fases de ocupação romana do Sector B da Terronha de
Pinhovelo não se poderá de forma apropriada estabelecer uma comparação entre as fases
representadas. Na verdade, como foi já referido, os dados disponíveis só permitem
comparar as diferentes áreas de combustão (ver os pontos 4.2.2. e 4.2.3).
A comparação entre as áreas de combustão serve propósitos eminentemente
etnobotânicos. As áreas de combustão representadas pelos depósitos [65] e [66]
encontram-se lado-a-lado, separadas por um pequeno murete, e correspondem a estruturas
com algumas semelhanças entre si. Distinguem-se por [66] cobrir um pequeno e irregular
empedrado
m antrópica, circunscrito à zona da estrutura. O depósito [71] salienta-se por cobrir uma
estrutura de combustão diferente, ou apenas melhor conservada que as anteriores: uma
base de argila compacta e fina. Distingue-se também pela diferença de volume face aos
outros dois depósitos. Tendo a U.E. [71] um volume muito menor que as restantes (ver
Quadro III.3.1). Os três depósitos foram recolhidos integralmente.
Dar-se-á particular atenção à comparação entre estes três contextos, remetendo-se
para segundo plano a área de combustão U.E. [11], pois esta última, ao contrário das
anteriores, não foi recolhida integralmente, prolongando-se, inclusive, para fora da área de
escavação p
Globalmente as três áreas de combustão não são muito diferentes do ponto de vista
do seu conteúdo antracológico e caracterizam-se pela presença predominante de madeira
de Quercus spp., pinheiro, medronheiro e esteva, e pela ocorrência minoritária ou pontual de
outros tipos xilotómicos, a maio
orme foi já referido, a exploração interpretativa das diferenças entre a quantidade de
fragmentos de cada tipo identificada em cada contexto é sempre possível em termos
estatísticos mas apresenta, na maioria das vezes, reduzido valor científico, quer na
reconstituição vegetacional quer etnobotânica, dados os diferentes factores enviesantes já
anteriormente comentados. Por outro lado, e também como já explicado, a constatação de
ausências de tipos em determinados contextos se assume como factor de pouco significado
interpretativo.
Assi
ustão consideradas, a sua comparação será baseada em alguns aspectos, que
passaremos a descrever, cujo significado, no entanto, se assume como de reduzido valor
interpretativo.
153
O quadro 5.1. representa os resultados obtidos para as áreas de combustão referidas
no que respeita à presença/ausência de taxa na análise antracológica.
Quadro 5.1. – Antracologia: comparação entre áreas de combustão. Os valores indicados correspondem a presença (1) ou ausência (0) dos tipos referidos, independentemente do número de fragmentos identificados.
Refira-se em primeiro lugar a ausência, nas áreas de combustão, de várias espécies
(células a cinzento claro no quadro 5.1), das quais de salientam o tipo Cytisus e várias
urzes, algo frequentes noutros contextos (ver Quadros 4.1 e 4.2). A inexistência de espécies
como Alnus glutinosa, Corylus avelana, Juglans regia e Sorbus sp. será porventura menos
significativa visto todas estas terem sido recolhidas apenas pontualmente e em escassas
amostras (no máximo duas), em todo o estudo realizado.
Entre as três áreas de combustão as principais diferenças ( algumas assinaladas no
quadro 5.1 a cinzento escuro) apresentam-se de seguida (ver também os Quadros 4.1 e
4.2):
- IV65: presença maioritária de madeira de Quercus, salientando-se os tipos
decíduo/marcescentes; ausência de fragmentos claramente identificados como
Espécie IV65 IV66 III71Alnus glutinosa 0 0 0
Quercus faginea 1 1 0Quercus cf. faginea 1 1 0Quercus pyrenaica (tipo) 1 1 1Quercus perenifolia 1 1 0Quercus suber 0 1 1Quercus suber/coccifera 1 1 1Quercus subgenus Quercus 1 1 1Sorbus sp. 0 0 0Ulmus minor 0 0 1
Arbutus unedo 1 1 1Cistus sp. 1 1 1Corylus avelana 0 0 0Cytisus/Genista 0 0 0Erica arborea 0 0 0Erica arborea/australis/scoparia 1 0 0Erica australis 0 0 0Erica scoparia 0 0 0Erica umbellata 1 1 0Fraxinus angustifolia 1 0 1cf. Fraxinus angustifolia 0 1 0Juglans regia 0 0 0Pinus pinaster 1 1 1Quercus cf. coccifera 1 1 0Quercus ilex 0 0 0Quercus cf. ilex 0 1 0
154
sobreiro, embora nesta amostra ocorra um grande número de fragmentos de
Quercus de tipo específico não determinado.
de cevada; apresenta
as di
recolhidos restos de infestantes, tendo apenas ocorrido bolotas, sendo,
aliás,
- IV66: maior quantidade de madeira de pinheiro; ausência de fragmentos
claramente identificados como freixo, embora ocorram fragmentos assim
identificados com reserva.
- III71: ausência de qualquer espécie de urzes, ausência de carvalho-
cerquinho; registo único de Ulmus minor.
Já nos dados carpológicos se denotam divergências mais relevantes entre as duas
estruturas de combustão [65] e [66]. As sementes mais abundantes nos três contextos
pertencem a cereais. Apresentam-se as principais diferenças:
- IV66: tem, no seu total bastantes mais sementes; tem um maior
número de cariopses de trigo em mau estado de conservação, identificadas
apenas ai nível genérico; é o único destes contextos com cariopses de T.
monococcum; conta com poucas cariopses de cevada; não contém unidades
de favas (apenas ocorrem alguns pequenos fragmentos sem hilo); contém
gramíneas silvestres.
- IV65: tem quantidades muito significativas
grandes quantidades de favas; não conta com gramíneas silvestres.
A estrutura de combustão III71, por seu lado, é muito diferente, apresentando um
número muito mais reduzido de sementes (Quadro 4.11.). No que diz respeito aos cereais,
ferenças mais significativas entre IV66 e IV65 consistem numa maior frequência de
cevada em IV65 e na ocorrência exclusiva de T. monococcum em IV66.
Porém, as diferenças entre as duas áreas de combustão do Ambiente I ([65] e [66])
tornam-se mais evidentes no que concerne à presença de favas. De facto, como foi já
mencionado antes, quase todas as favas recolhidas neste estudo encontram-se associadas
à área de combustão [65]. III71 não continha qualquer exemplar ou fragmento de fava,
enquanto que IV66 forneceu somente alguns fragmentos de fava sem hilo, ou seja, não foi
contabilizada qualquer unidade.
No que respeita às espécies silvestres, IV66 e IV65 contam com a presença de plantas
ruderais, sendo IV65 o único destes contextos que apresenta Lolium sp., Por outro lado, em
III71 não foram
a única área de combustão com glandes de Quercus sp.
Deste modo, enquanto que IV66 e IV65 poderão incluir espécies infestantes de
campos agrícolas e ruderais, III71 parece associar-se a meios distintos, traduzindo,
155
poss
uitas outras espécies silvestres ocorrem nas outras amostras e não são encontradas
nas áreas de combustão. Porém, a sua presença é sempre minoritária nos restantes
contextos (usualmente uma só semente num só contexto) pelo que este facto acaba por não
ser muito relevante.
e resto, os restantes contextos contêm bastante menos espécies cultivadas do que
as estruturas de combustão, facto resultante da diferente natureza dos mesmos.
ivelmente funcionalidades distintas para esta área de combustão (pelo menos na sua
ultima utilização).
M
D
156
3. Estraté
A análise e
esclareced
composiçã ssim compreender alguns aspectos das estratégias de
recolha de comb
Num ar que não há padrões que distingam
claramente contextos de derrube, depósitos ou mesmo áreas de combustão.
cionados em especial pela
presença de Querc
únicos contex
nestes contex
IV65, como já
As U.E.
caducifólias (principalmente pela presença de Quercus pyrenaica e Quercus subgenus
Quercus), e por o
arbustivas, no
visível que as espécies arbustivas surgem em poucas amostras, sendo mais notável
a esc
o do contexto IV11,
que é
das U.E. foram alvo de recolhas de sedimento cuja
repre
recolhido, são as áreas de
comb
gias de recolha de combustível
statística dos dados antracológicos apesar de não ter sido particularmente
ora visto os diferentes contextos assemelharem-se bastante ao nível de
o florística, permitiu ainda a
ustível, inerentes a cada contexto.
primeiro nível de análise é possível afirm
Alguns contextos arqueológicos evidenciam escolhas distintas de combustível. As U.E.
[9], [24], [50], [63], [66], [82] e [95], já mencionadas anteriormente, assemelham-se pela sua
associação maioritária aos bosques de perenifolias (condi
us perenifolia e Quercus ilex) e, principalmente, pelo facto de serem os
tos sem Fraxinus angustifolia ou qualquer espécie ripícola. Repare-se que
tos inclui-se uma área de combustão, a IV66 (apesar de não se mencionar
se fez notar acima, a distinção entre ambas não é muito significativa).
[3], [20], [22] e [70] encontram-se associadas principalmente a bosques de
posição, apresentam uma correlação negativa com as formações
meadamente com os giestais, estevais e urzais.
É
assez de leguminosas e a preferência por estevas e urzes. A espécie presente em
mais amostras é o pinheiro bravo, associando-se a todos os outros tipos xilotómicos
identificados, sugerindo a sua presença nos diversos trajectos de recolha de combustível.
Por fim, refira-se que apesar de as PCA sugerirem a individualizaçã
também um contexto único do ponto de vista estrutural, essa distinção é artificial dado
a principal discriminação se referir a grupos e tipos xilotómicos dúbios, nomeadamente Erica
spp. e Quercus coccifera).
Contudo, a interpretação dos dados deve ser feita com as devidas cautelas. Com
algumas excepções, a maioria
sentatividade face à totalidade do depósito é desconhecida. Ao mesmo tempo, o
significado destes últimos contextos é distinto daqueles que proporcionam carvões
concentrados visto resultarem da repetição de gestos.
As excepções, as U.E. cujo sedimento foi integralmente
ustão e sedimentos próximos (nos quais de incluem [63]). Também a recolha de [22]
foi quase integral.
157
Sabendo que as comunidades humanas conhecem aprofundadamente os recursos de
que dispõem, as diferenças patenteadas pelos vários contextos poderão representar
diferentes selecções de matéria lenhosa para distintos fins. A escassez de estruturas
esca
ntão a realidade identificada na Terronha de Pinhovelo poderia traduzir
esse
os espaços
mais antropizados relacionados com a actividade agrícola, estando os espectros
antracológicos dominados por espécies arbóreas (carvalho, sobreiro, azinheira, pinheiro,
freixo) que habitavam certamente as parcelas da paisagem de maior estabilidade ecológica,
os territórios remotos e periféricos, mais afastadas das acções quotidianas da comunidade
rural. Parece-nos assim evidente que a recolha de madeira para combustível constituía uma
necessidade que transcendia em muito a recolha de troncos secos “mais à mão” durante os
percursos realizados para outras tarefas.
Se, como parece provável, a lenha disponível na área frequentada aquando dos
trabalhos quotidianos não fosse suficiente, seria necessário recorrer a locais onde esta
fosse mais abundante, o que implicaria um maior afastamento do núcleo habitacional. Essa
deslocação propositada para a obtenção de combustível implicaria a recolha e corte
intencional de recursos lenhosos, acentuando-se, assim, a componente de selecção da
actividade visto, como ficou demonstrado, existir um claro conhecimento das propriedades
de cada madeira.
O esforço de obtenção de material lenhoso seria tanto mais considerável quanto mais
dura fosse a tarefa. Se as zonas mais florestadas fossem, como até recentemente, os
montes mais elevados, a selecção seria uma forma de optimizar o esforço despendido.
O recurso às zonas mais elevadas como locais de obtenção de materiais lenhosos
registava-se até recentemente nas aldeias de Travanca e Pinhovelo, nas imediações da
jazida arqueológica. Actualmente esses locais coincidem com as zonas preferenciais do
pinheiro bravo (sub-espontâneo) e do carvalho-negral, espécies presentes na maioria das
amostras estudadas.
Parece-nos que os territórios preferenciais para a obtenção de combustível seriam o
Periférico e o Remoto, visto o material lenhoso certamente escassear nos territórios
Adjacente e Próximo. No século IV d.C. o grau de ocupação e utilização do solo seria
bastante elevado, e depressa o território Periférico de uma povoação coincidiria com o
território Periférico ou até Próximo de outra. Francisco Sande Lemos (1993) coloca a
hipótese de estes terrenos de exploração comum serem a principal fonte de conflitos
vadas não permite aprofundar melhor esta possibilidade interpretativa.
Explorando a possibilidade da recolha de combustível encontrar-se associada aos
trajectos percorridos e espaços frequentados no decorrer das tarefas diárias, em especial os
trabalhos agrícolas, e
s diferentes trajectos. Note-se, no entanto, a relativa escassez em tipos xilomórficos
associados a espécies arbustivas que provavelmente ocorreriam precisamente n
158
durante a Idade do Ferro, até serem ocupados por unidades uni-familiares e novas
povoações durante a paz romana.
Natural de Montesinho, neste caso
verifi
Desta forma, de modo a assegurar o aprovisionamento de material lenhoso é possível
que houvesse uma gestão dos locais de obtenção de combustível no território Periférico.
Essa gestão poderia mesmo incidir especialmente sobre determinadas espécies, tal como
foi detectado por A. Carvalho (2005) no Parque
cando-se a gestão de matos de Genista florida (Carvalho, 2005).
159
4. Es
gem, estruturas
de c
ervação do seu conteúdo. Contudo, com os dados
dispo
l uma melhor interpretação deste contexto que não foi ainda totalmente
delim
estru
parcialmente algumas pedras do limite Sudoeste desta estrutura.
Tend
truturas arqueológicas: possibilidades interpretativas
Foram detectadas várias estruturas com materiais de origem vegetal durante os
trabalhos arqueológicos. Entre elas contam-se uma estrutura de armazena
ombustão de diversas tipologias e ainda compartimentos. Procura-se precisar a
funcionalidade de cada estrutura recorrendo ao seu conteúdo de macro-restos vegetais.
A estrutura de armazenagem, o Ambiente IV, forneceu escassos materiais de origem
vegetal. Foram recolhidas amostras da U.E. [82], o primeiro depósito encontrado no interior
da estrutura e aquele que mais a preenchia, que continha poucas cariopses de cereais,
entre as quais duas de Panicum miliaceum e alguns carvões que parecem evidenciar um
incêndio. Porém o facto de se tratar de um nível de derrube ou de selagem intencional que
poderá ter sido levada a cabo com sedimentos de outra origem, não permite com segurança
afirmar que os materiais carbonizados eram mesmo provenientes da estrutura
O facto de este Ambiente IV se encontrar escavado no piso de um compartimento,
apresentando o fundo revestido a opus signinum e as paredes de xisto revestidas a argila
demonstra um grande esforço para a cons
níveis não é possível deduzir o que era armazenado na referida estrutura.
A estrutura negativa cheia pelo depósito [11] deverá tratar-se de uma área de
combustão. Foi alvo de amostras tratadas por flutuação que forneceram inúmeros macro-
restos vegetais, em especial carvões. De facto, foram escassas as sementes detectadas
neste depósito, sendo as únicas cariopses de cereal provenientes de recolhas manuais.
Não é possíve
itado em escavação e que se prolonga para lá da área de intervenção marcada.
Parece pouco provável, porém, o seu relacionamento com o processamento de cereais.
No Ambiente I foram definidas, sem margem para dúvidas, três áreas de combustão
turadas. A primeira delas não tem qualquer depósito com macro-restos vegetais
directamente associado. Trata-se de um empedrado de xisto e quartzo (U.E. [25]) de forma
aproximadamente quadrangular, com um murete associado, no limite Este da estrutura (ver
planta do Anexo X). Um pequeno depósito de coloração escura, U.E. [63], surgia nas suas
imediações, cobrindo
o sido integralmente recolhido, forneceu muito poucos macro-fosseis e nenhuma
cariopse de cereal. Caso se tratasse de um depósito de limpeza da estrutura, testemunharia
uma actividade que ou não se relacionou com o tratamento de cereais ou decorreu sem
conduzir à perda de qualquer grão.
A segunda estrutura de combustão encontrava-se entre dois alinhamentos pétreos (um
a Este e outro a Oeste). O depósito que constituía os vestígios da sua utilização foi
160
denominado de U.E. [65] e cobria uma base de terra dura e esbranquiçada, a U.E. [74] (ver
planta do Anexo X).
A terceira estrutura era limitada a Este pelo alinhamento de pedras [90], o mesmo que
limita a estrutura anteriormente descrita. Um depósito escuro com abundantes carvões e
sementes, a U.E. [66], cobria um empedrado irregular e grosseiro, a U.E. [87].
Foram já estabelecidas comparações entre a composição de cada estrutura no que
respeita a carvões e sementes, verificando-se as diferenças mais relevantes ao nível dos
carporestos recolhidos. Parece claro que a função destas áreas de combustão, pelo menos
no que respeita à sua última utilização, centrava-se no processamento de alimentos, em
especial cereais e favas.
Assim, perceber qual a funcionalidade das estruturas em questão implica compreender
as actividades que pressupõem o contacto destes alimentos com o fogo (ver capítulo
IV.2.4.1.).
Embora não se exclua a possibilidade de as referidas estruturas terem sido utilizadas
para a confecção de alimentos, a presença frequente de fragmentos de espiguetas parece
apontar noutro sentido. Pressupõe-se que, na fase de confecção para alimentação, os grãos
estejam já limpos e, embora seja possível algum erro na descorticação, dificilmente se
encontrariam tantas espiguetas no momento de preparação do alimento.
Coloca-se em alternativa a possibilidade de se tratarem de estruturas de apoio às
fases iniciais do processamento dos cereais, como descritas por Peña-Chocarro (1999).
Chamuscar as espiguetas directamente ao fogo, embora seja considerado por vários
autores como uma prática de pouca utilidade para a descorticação dos grãos, está
documentada na Galiza, na actualidade (Peña-Chocarro, 1999). A sua prática, não sendo
inteiramente explicada por questões funcionais, poderá talvez ser explicada por factores
culturais específicos que, no momento, não nos é possível compreender com mais detalhe.
De igual forma, as estruturas poderiam ter sido utilizadas como áreas de secagem de
espiguetas e grãos após serem macerados em almofariz, prática que deveria ser habitual no
processamento de trigos vestidos e que implicaria o uso de fogo. No entanto, esta
explicação não encontra sentido no facto de cerca de metade dos grãos de trigo
encontrados em cada estrutura pertencerem a T. aestivum e T. compactum, isto é, trigos de
grão nu, para os quais os gestos descritos não fariam muito sentido. De igual modo, o facto
de terem sido recolhidas abundantes favas (Vicia faba var. minor) numa das estruturas, no
depósito [65], parece de difícil compreensão. No contexto referido a fava é mesmo o macro-
resto vegetal mais abundante, pelo que compreender a funcionalidade desta estrutura
implica saber que tipo de actividade poderá ser comum às várias espécies.
As práticas de farinação do trigo podem incluir uma prévia e ligeira torrefacção do
grão. Como foi já mencionado, é consumida farinha de grão tostado na Turquia. Por outro
161
lado, podemos pressupor ser necessário secar as favas antes da sua trituração para
obtenção de farinha (lomentum), utilizada para o fabrico de pão e sopas. De facto, o elevado
grau
locando-se a
hipót
er depósito,
pressupondo que tenha sido sucessivamente limpa após as últimas utilizações. Alguns
dess
ção
em a
armazenagem.
de humidade desta leguminosa deveria prejudicar a sua transformação em farinha.
Contudo, embora possam ser obtidas papas e até pão de mistura com as duas farinhas,
seria provável que a farinação dos grãos de trigo e das favas fosse realizada em separado e
quando os trigos vestidos tivessem já sido descorticados.
Deste modo, nenhuma actividade que pressuponha o contacto com o fogo do grão e
espiguetas de trigo, assim como das favas, parece explicar com clareza a realidade
detectada nas duas áreas de combustão estudadas no Ambiente I.
Porém, é possível que esta dificuldade interpretativa se deva a um erro de análise
prévio à leitura dos conteúdos paleobotânicos de cada estrutura. O facto de cada um dos
depósitos, U.E. [65] e [66], se encontrar associado a uma estrutura de combustão foi sempre
interpretado como o resultado de uma ultima utilização das mesmas. Co
ese de estarmos perante evidências de mais do que uma actividade, qualquer uma dos
gestos acima descritos poderá ter-se verificado no local em momentos diferentes.
Salientamos que a estrutura de combustão mais bem construída e delimitada, o
empedrado quadrangular [25], não se encontra totalmente coberta por qualqu
es detritos poderão ter sido colocados sobre as restantes estruturas localizadas nesse
mesmo compartimento, tendo o abandono da povoação ditado a conservação de uma
imagem conjunta de vários momentos, possivelmente realizados num curto espaço de
tempo, talvez realizados com a consciência da proximidade do abandono.
Em suma, várias actividades poder-se-ão ter realizado nas estruturas de combustão do
Ambiente I, das quais salientamos:
- Descorticação dos cereais vestidos. A descorticação realizar-se-ía por macera
lmofariz e, de modo a facilitar esta actividade, as espiguetas com grão poderiam ser
sujeitas a fogo (originando assim algumas perdas de grão e a carbonização das espiguetas)
ou mergulhadas em água. A secagem de espiguetas e grãos, antes de serem peneirados ou
padejados, poderia ser feita ao sol ou, quando as condições climatéricas ou a urgência da
necessidade não o permitissem, com recurso ao fogo.
- Secagem ou torragem. É uma actividade que poderá ser comum a grãos de cereal e
às favas. Apesar de considerarmos que a secagem deveria facilitar a farinação da fava, a
torrefacção dos grãos de cereal era uma actividade opcional, ainda que actualmente
documentada para o fabrico de farinha e ainda para consumo directo. Poderia estar
relacionada também com práticas de
162
Assim, as actividades que poderão ter sido realizadas no Ambiente I encontram-se
relacionadas, maioritariamente, com o processamento de cereais e favas, possivelmente
numa
o constituída
por
listagem de espécies é demasiado heterogénea para permitir
cons
de glandes e nenhum de cúpulas. O facto das duas partes do fruto
apres
pode ser utilizada
como
,
o Am
fase prévia à da sua confecção para alimentação humana.
No compartimento que ladeia este Ambiente I, nomeadamente o Ambiente II, foi
escavado um pequeno depósito, U.E. [71], sobre uma estrutura de combustã
uma base de argila sobre um empedrado de xisto. Nessa estrutura não foram
encontradas escassas cariopses, pressupondo uma funcionalidade distinta, pelo menos na
sua utilização final. Tal é também sugerido pela detecção de bolotas no depósito [22],
contexto relacionado com a mesma estrutura. Contudo, a quantidade de macro-restos é
pouco significativa e a
iderações mais aprofundadas.
No que respeita aos fragmentos de bolotas (Quercus sp.), foram recolhidos somente
fragmentos
entarem um comportamento semelhante face à combustão, poderá ser utilizado, à
semelhança do que acontece em outros estudos, como uma demonstração da utilização das
bolotas para consumo humano pois o seu uso como forragem não implicaria a remoção
intencional das cúpulas (Ramil-Rego, et al., 1996). A presença das bolotas entre os
carporestos da Terronha de Pinhovelo, pela sua relativa escassez, não
uma evidência clara de práticas silvícolas sendo natural que resulte apenas de
práticas de recolecção.
Todo o Ambiente II, em especial os depósitos [70] e [21] que traduzem a sua ultima
utilização, forneceu quantidades significativas de cariopses de cereal, embora bastante
menos que as estruturas de combustão do Ambiente I. Esta diferença é perfeitamente
justificada pela natureza dos contextos, ainda que seja discutível considerar as U.E. [21] e
[70] depósitos dispersos visto encontrarem-se circunscritos ao interior de um compartimento
biente II. Este facto poderá explicar inclusive a evidente maior diversidade de espécies
silvestres do Ambiente II. Os dois compartimentos são indissociáveis visto que, para além
de se ladearem, ambos são abertos para Oeste, isto é, não apresentam qualquer parede
nesse lado (ver planta no Anexo X). Deste modo, aparentam, em planta, ser parte de uma
mesma realidade que, no estado actual dos trabalhos arqueológicos, não é possível
interpretar de forma mais precisa. Os dados arqueobotânicos não confirmam mas permitem
colocar essa possibilidade, embora haja diferenças consideráveis entre os dois contextos.
163
5. As práticas de produção agrícola: uma aproximação
Paradoxalmente, ainda que as práticas de monocultura se tenham generalizado e
assumido um importante papel para impulsionar a economia agrícola, vários estudos
apontam que uma das principais inovações da agricultura romana foi a diversificação de
cultivos (Buxo, 2005; Prevosti e Guitart, 2005). Contudo, nas amostras da Terronha de
Pinho
ulgare. Em menores
quan
sular que
estes
idos em conjunto
pois
cínio, poderemos pressupor que as variedades vestidas
e nua
ue permitia manter a fertilidade dos
solos
velo até agora estudadas as únicas culturas das quais restaram vestígios carpológicos
foram os cereais e as favas (Vicia faba var. minor). Entre os cereais destacam-se Triticum
aestivum, T. spelta, T. compactum, T. dicoccum e Hordeum v
tidades detectaram-se T. monococcum, Panicum miliaceum e Setaria italica.
Há que salientar que, sendo evidente a presença e importância do trigo, faltam dois
elementos da tríade mediterrânica característica do mundo romano e identificada noutras
regiões peninsulares (Prevosti e Guitart, 2005): a vinha e a oliveira. Apesar da
especificidade dos contextos da Terronha de Pinhovelo aqui estudados poderem ter um
papel importante nestes dados, é evidente nos estudos carpológicos do NW penin
dois elementos não são particularmente abundantes nesta área geográfica (Ramil-
Rego et al., 1996), o que poderá testemunhar não só diferenças culturais significativas como
também diferentes níveis de romanização e integração no império.
O cultivo de diferentes espécies em conjunto nos mesmos terrenos poderia ser uma
prática comum, tal como aparece atestada mais recentemente. Por outro lado, práticas de
alternância seriam certamente uma opção estratégica para assegurar a qualidade dos solos.
De facto, os diversos trigos vestidos podem ser plantados e até colh
os processos que se seguem à segada são semelhantes para todos (Peña-Chocarro,
1999). Seguindo esta linha de racio
s de trigo seriam cultivadas em separado. Acrescente-se ainda que, segundo Marinval
(1992), também as duas espécies de milho poderiam ser cultivadas juntas.
Por outro lado, o registo das diferentes espécies de cereais e mesmo da fava sugere a
existência de uma alternância de cultivos. Buxo e colaboradores (1995) colocam a
possibilidade de ter existido em épocas proto-históricas, na Catalunha, a um sistema de
cultivo trienal, à base de trigo, cevada e leguminosas, q
. A verificar-se uma situação semelhante em época romana na região da Terronha de
Pinhovelo, a leguminosa que participaria nesta rotatividade deveria ser a fava.
A alternância entre cereais e outras espécies como estratégia de cultivo não constitui
um comportamento estranho na região. Na região de Macedo de Cavaleiros, na qual se
164
inclui
onjunto carpológico, é um
aspe
horta de um espaço muito importante no território
Adjac
cie daninha em campos de cultivo, hortas ou espaços ruderais.
a jazida arqueológica aqui em estudo, até recentemente a cultura dos cereais
alternava com a da batata (Taborda, 1932)12.
A recolha de cariopses de milho, apesar de minoritárias no c
cto importante para a compreensão das estratégias agrícolas das populações que
habitaram esta povoação durante o século IV. De facto, a importância da presença dos
milhos reside no facto de, enquanto cereais de Primavera, o seu cultivo permitir compensar
as más colheitas de Inverno (de trigo). Esta complementaridade entre cultivos é essencial
para as comunidades camponesas e pressupõe a existência de uma grande variabilidade de
cultivos (Fernandez-Posse e Sánchez-Palencia, 1998).
Por fim, devem ser feitas algumas observações acerca da presença de sementes de
Portulaca oleracea. Tratando-se a
ente, não se deve excluir a possibilidade de ter existido uma gestão hortícola da
beldroega, espécie ruderal da qual existem variedades cultivadas. Note-se porém que a
beldroega consiste numa planta nitrófila que cresce espontânea e abundantemente nos
espaços ruderalizados, pelo que, mesmo o seu consumo pela comunidade não implica o
seu cultivo directo, podendo corresponder apenas a recolecção. As mesmas considerações
poderão ser feitas acerca das espécies de Polygonum encontradas. As sementes de
Portulaca surgem, para além de outros locais, nas áreas de combustão do Ambiente I, no
entanto não é possível perceber se tal se deve a razões de índole culinária ou meramente à
sua presença como espé
De resto, o registo antracológico forneceu evidências da existência na paisagem de
outras espécies que poderão ter sido alvo de uma exploração para fins alimentares,
nomeadamente Arbutus unedo, Corylus avellana, Prunus spinosa, Sorbus sp. e Juglans
regia (esta última provavelmente cultivada no território explorado pela comunidade).
Contudo, os vestígios detectados (a madeira carbonizada) não permitem certificar a recolha
dos seus frutos. Seria ingénuo pensar que não existia uma exploração desses recursos em
época romana, pois alguns dos frutos em questão apresentam elevado valor proteico e
calórico. É, no entanto, impossível saber se essa exploração implicou uma gestão efectiva
das comunidades vegetais existentes na paisagem ou se se realizaram meras práticas de
recolecção.
12 Esta situação foi confirmada nas inquirições realizadas à população residente nas aldeias próximas da Terronha de Pinhovelo.
165
6. O território antigo
Como foi mencionado nos capítulos introdutórios deste estudo, a mais imediata
inferência paleoecológica fornecida pelo estudo dos macro-restos vegetais é a presença na
envolvência do sítio arqueológico dos taxa identificados. Se, a sua maioria é originária de
esforços quotidianos, pressupõe-se que não provêm de pontos muito distantes do povoado.
Ainda assim, e apesar de se estabelecer como base de estudo um território teórico de 30
minutos, é inegável que a exploração territorial dos habitantes da Terronha de Pinhovelo,
seria mais ampla. Ou seja, não é claro que os territórios Próximo e Periférico se limitassem
ao território teórico de 30 minutos, embora acreditemos que pouco extravasasse esta
realid
da Nogueira (PNM-N),
tento
trans
stifolia. Não
se d
carvão ou semente, tais como a Erica arborea, Prunus spinosa, Sorbus sp. e Polygonum sp.
(de aquénio lenticular).
ade, em especial pelas características geomorfológicas dos limites Norte e Oeste.
Foram identificados diversos tipos morfológicos com base no estudo dos carvões,
sementes e folhas, recolhidas em escavação no Sector B. Os quadros dos Anexos VII e VIII
listam esses tipos morfológicos e a sua possível correspondência com as espécies
botânicas. Se para muitos casos essa correspondência é imediata, em outros os macro-
restos só permitiram uma identificação ao nível do género, ou até em grupos mais latos (por
exemplo Cytisus/Genista/Ulex). Através da comparação com a realidade identificada por
Carlos Aguiar (2001) no Parque Natural de Montesinho e Serra
u-se perceber quais as espécies presentes na região e qual a sua ecologia. Embora a
realidade aqui analisada se encontre a Sul da área de estudo de C. Aguiar, a sua
dissertação é o único estudo aprofundado de toda a metade Norte do Nordeste
montano.
Como é prática em qualquer estudo paleobotânico, analisa-se a realidade do passado
por comparação com a ecologia que as espécies apresentam na actualidade, pressupondo-
se que o comportamento dessas espécies, assim como a sua anatomia, permanece
inalterado.
Os referidos quadros permitem, assim, perceber que ecologias presentes nas
imediações do povoado foram exploradas pelas comunidades em época romana,
nomeadamente no século IV d.C., sem, no entanto, ser possível inferir qualquer indicação
da extensão da sua presença no território.
Os carvões estudados testemunham a presença de bosques ou galerias ripícolas
compostas por Alnus glutinosa, Corylus avelana, Ulmus minor e Fraxinus angu
escarta, obviamente, a possibilidade de outras espécies estarem incluídas nesta
realidade, algumas delas não representadas neste estudo e ainda outras detectadas em
166
Na actualidade, as margens de ribeiras ou baixios húmidos da zona envolvente do
povoado e de toda a região são claramente dominadas pelo freixo. Atendendo ao facto de
Fraxi
conservação dos bosques ripícolas,
parec
enco
ansição testemunha a convergência de duas realidades bioclimáticas distintas
com disponibilidades de recursos diferentes. No entanto, face ao nível de antropização da
paisagem na actualidade, que parece ter conduzido, por exemplo à sub-representatividade
de Q. pyrenaica, não é possível fazer uma analogia muito directa para tempos passados. Só
é possível afirmar a presença de formações perenifólias e caducifólias na paisagem
envolvente da Terronha de Pinhovelo no período romano.
Nas amostras estudadas Pinus pinaster surge associado a todas as espécies e
nus angustifolia ser de forma muito evidente a espécie ripícola que surge no maior
número de amostras, ou seja, aquela que mais vezes se encontra representada sincrónica e
diacronicamente na Matriz da jazida, é bastante provável que esta fosse a espécie
dominante entre a vegetação ripícola em época romana, mesmo pesando o facto de ser
entendida pelas comunidades rurais actuais como uma madeira de recolha preferencial para
lume.
Embora não seja possível perceber qual o nível de
e pouco plausível que não tenha havido uma exploração intensa dos férteis solos que
existem junto às pequenas linhas de água que ladeiam a elevação da Terronha.
A presença recorrente de Quercus pyrenaica, Quercus subgenus Quercus e Q. faginea
poderá indicar a presença de bosques de caducifólias, ou seja, carvalhais dominados pelas
espécies mencionadas. Porém, não é possível afirmar que estes se encontravam bem
conservados, sendo até um pouco descabido, perante os dados paleoecológicos existentes
para o NW peninsular, pressupor a existência de carvalhais extensos nas imediações de um
povoado romano em pleno século IV d.C. É mais plausível que várias manchas de
vegetação se tenham mantido, tal como hoje, nos locais não cultivados e nos limites de
terrenos.
Com um enquadramento semelhante, mas ocupando posições diferentes, se
ntrariam manchas de sobreirais e azinhais (possivelmente mistos), com medronheiros.
Quercus suber é mesmo um dos tipos xilotómicos representado em mais amostras.
A distribuição da vegetação actual permite distinguir duas realidades com algumas
diferenças importantes. No topo das elevações e metade superior das encostas encontram-
se Quercus pyrenaica, Q. faginea acompanhados por Pinus pinaster (sub-espontâneo) e Q.
suber, para além da presença minoritária de Q. ilex. Nas encostas mais baixas e nas
posições edafo-xerófilas, dominam os sobreiros e azinheiras. Os medronheiros só são
encontrados nas encostas Sul e Sudoeste da própria elevação da Terronha de Pinhovelo.
O facto de, segundo modelos actuais, neste local se delimitarem as Terras Frias e as
Terras de Tr
somente está ausente de uma U.E. Trata-se de um dado que sugere a sua presença
167
constante ao longo das fases III e IV da ocupação do povoado. Ainda que seja hoje claro
que esta espécie é efectivamente autóctone do território português, e era-o certamente em
Terro
da
paisa
sim como de infestantes de culturas, e as próprias culturas cerealíferas
docu
er a importância que até há cerca de 40 anos a produção cerealífera, em
espe
quirições à população, que era perceber quais os
terren
nha de Pinhovelo no período romano, não é possível perceber que preponderância
teria na paisagem neste local e nesta época. As pequenas áreas de pinhal actualmente
detectadas na zona são na sua totalidade plantações recentes. De resto, o pinheiro bravo
surge amiúde de forma sub-espontânea na encosta e topo da serra de Pinhovelo, entre
carvalhos-negral e carvalhos-cerquinho.
As formações arbustivas que surgem representadas num maior número de amostras
são os estevais (Cistus sp.) e os urzais (Erica spp.). As giestas (Cytisus/Genista/Ulex)
encontram-se representadas em menor quantidade de amostras. Tal contrasta com a
realidade actual. As urzes não parecem ter um papel muito significativo na caracterização
gem actual, enquanto que vastas áreas de giestais são encontradas na paisagem
envolvente da Terronha de Pinhovelo. A esteva é abundante no território, frequentemente
acompanhando as giestas, e só raramente formando verdadeiros estevais.
O antagonismo Cistus/Erica poderá de certa forma espelhar a relação Terras de
Transição/Terras Frias na realidade antracológica identificada, isto se tivermos em conta
que mesmo Q. pyrenaica é tida como uma espécie comum às duas regiões.
O predomínio das espécies cerealíferas, presentes mesmo em depósitos dispersos,
indica-nos o nível de modelação da paisagem que se deveria verificar nesta época. Na
verdade a presença de espécies ruderais, ou mesmo de plantas de contextos nitrofilizados e
eutrofizados, as
mentam um território Adjacente (horta) e Próximo (campo) profundamente moldados e
adequados à sua exploração e usufruto quotidiano pelas comunidades humanas.
Em diálogos com os habitantes das aldeias circundantes da Terronha de Pinhovelo foi
fácil perceb
cial do trigo, tinha para a economia das populações. De tal forma, que se cultivava
cereal em quase todos os terrenos, inclusive em algumas das encostas mais altas e topo de
elevações, até na sombra dos sobreiros que não se cortavam por causa do aproveitamento
da cortiça. Assim, um dos objectivos das in
os considerados mais aptos para a plantação de cereal, não foi alcançado. Contudo,
todos os inquiridos mencionaram que o trigo exigia as melhores terras (embora a
necessidade fizesse com que fosse plantado em quase todos os locais), por oposição ao
centeio que poderia ser plantado em solos menos profundos e mais pobres.
168
Figura 5.1. – Campo de cereal no termo de Pinhovelo, a NW da Terronha de Pinhovelo
Ainda assim, é evidente que o topo de algumas elevações permaneceu incólume.
Segundo habitantes locais, nesses locais recolhia-se alguma lenha, embora também aí
escasseasse. Práticas de recolha de lenha deste tipo poderão ter sido uma realidade em
temp
nheira e
sobre
s
e pro
os mais antigos. Na verdade, como foi já apontado, conjugam-se com alguns dos
dados obtidos, nomeadamente a frequência de amostras com Pinus pinaster, Quercus
pyrenaica e Quercus subgenus Quercus. A associação de carvalho-cerquinho, azi
iro às espécies acima mencionadas verifica-se hoje em dia nessas mesmas elevações,
nomeadamente a Oeste da Terronha de Pinhovelo na serra de Palas, mas também a Norte,
nas Raposeiras.
Por fim, embora não se pretenda fazer reconstituições paisagísticas com este estudo,
deseja-se vincular uma imagética de base etnográfica, na qual sobressaem espaços
construídos e escavados, ou seja moldados; com muros e vedações que delimitam espaço
priedades; com pontes, caminhos e trilhos; com estruturas de apoio aos trabalhos
agrícolas ou ao pasto de animais.
Não se trata de uma imagem que se possa, na maioria dos casos, pormenorizar e
atestar, mas não significa por isso que não se possa colocar a hipótese da sua existência
dadas as características tecnológicas e sociais das comunidades em questão.
169
Figura 5.2. – Aldeia de Pinhovelo e campos de cereais abandonados, vistos da
Terronha de Pinhovelo
170
7. A Terronha de Pinhovelo nos estudos regionais de paleobotânica
Os macro-restos vegetais recuperados no Sector B da Terronha de Pinhovelo
testemunham a importância do cultivo de cereais para a economia das populações deste
povoado em época romana. Tal encontra paralelos com a realidade identificada nos
contextos arqueológicos escavados mais a Norte, em território galego.
ntre as espécies de cereais, usualmente aponta-se a existência de um domínio, em
toda a região, de Triticum aestivum e T. compactum entre os cereais hexaploides e de
Triticum dicoccum entre os tetraploides (Ramil-Rego et al., 1996; Rodriguez Lopez, et al.,
1993). Na Terronha de Pinhovelo, as cariopses destes tipos morfológicos também são as
mais frequentes nas amostras analisadas, porém, no caso de T. dicoccum, existem maiores
cautelas na interpretação dos dados biométricos e morfológicos que sustentam a sua
distinção face a T. spelta. Este último encontra-se pouco documentado na região, apesar de
poder encontrar-se erroneamente sub-representado face a T. dicoccum.
ece-se
confirmar na Terronha de Pinhovelo. Não obstante, estando os trabalhos de escavação
ainda
plementar de práticas agro-pastoris. Desta forma, a presença de bolotas
na T
este transmontano, o único contexto arqueológico
poss
es são Pinus
sylve ris e Juniperus sp.
Nos níveis da Idade do Ferro de Crasto de Palheiros, salientamos a identificação de
significativas quantidades de Triticum dicoccum, Hordeum vulgare e Panicum miliaceum e
uma ausência de grãos de variedades nuas de trigo. Tal traduz significativas diferenças face
E
Os milhos e a cevada são tidos como cultivos secundários na região o que par
pouco desenvolvidos, não se exclui a possibilidade de a especificidade dos contextos
estudados poder condicionar esta leitura geral.
O cultivo de favas também está documentado para a região, sendo mesmo a
leguminosa mais representativa (Ramil-Rego et al., 1996) pelo que a sua presença na
Terronha de Pinhovelo, em especial na amostra IV65 do Ambiente I do Sector B, encontra-
se enquadrada cultural e cronologicamente.
De igual modo é conhecido o papel das bolotas na alimentação humana das
comunidades proto-históricas NW peninsular, não como alimento primordial mas sim
secundário e com
erronha de Pinhovelo, bem como em outras jazidas romanas, deve ser considerada
normal, após a desmistificação do eventual atraso tecnológico e cultural que anteriormente
se atribuía ao seu uso para fins alimentares.
No que respeita ao Nord
ivelmente romano com dados arqueobotânicos publicados é Casinhas de Nª Senhora.
Neste encontrou-se uma semente de T. compactum e carvões de espécies, na sua maioria
também presentes nas amostras da Terronha de Pinhovelo. As únicas excepçõ
st
171
à realidade mais recente que foi estudada na Terronha de Pinhovelo. À semelhança do sítio
aqui em estudo, surgem em Crasto de Palheiros abundantes sementes de Vicia faba var.
minor
o nível antracológico as semelhanças face às espécies identificadas na Terronha de
Pinhovelo continuam, embora também se encontrem algumas diferenças importantes na
composição florística. Tratam-se, no entanto, de duas regiões bioclimáticas distintas, e de
dois períodos cronológicos também diferentes.
.
A
172
8. Fronteiras interpretativas dos estudos paleoetnobotânicos
Não interessa, neste capítulo, debater de forma aprofundada as possibilidades e
limitações intrínsecas aos estudos paleoetnobotânicos pois trata-se de uma tarefa levada a
cabo nos capítulos introdutórios. De seguida expõem-se reflexões decorrentes unicamente
do processo inerente ao estudo aqui apresentado.
A principal valência de um estudo desta natureza prende-se com a possibilidade de
fazer aproximações às actividades económicas, principalmente agrícolas, do povoado.
Conhecendo as espécies cultivadas e os meios explorados é possível aceder a um conjunto
de gestos inerentes às actividades de exploração das mesmas. Obtém-se, assim, um
vislumbre dos ritmos anuais e até quotidianos das comunidades que habitaram a povoação,
o que permite alcançar uma maior humanização dos dados arqueológicos.
Dentro do quotidiano insere-se a alimentação. A componente carpológica do estudo
paleoetnobotânico aqui apresentado é uma valiosa fonte de informação para a
recon
hipóteses acerca do funcionamento de
deter
problemas, inerentes a qualquer estudo
comp
is do que um exemplo etnográfico, como é o
exemplo da carbonização das espiguetas de trigos vestidos.
as análises paleoecológicas é claro que a principal valência do
estud
stituição de determinados aspectos das paleo-dietas.
De igual modo, se torna mais acessível a compreensão da organização espacial dos
espaços de vivência das paleo-comunidades transformados numa jazida arqueológica, pois
é possível através destes estudos colocar
minadas estruturas e até áreas do povoado.
É claro, então, que as aproximações a estas realidades paleo-económicas, alimentares
e organizativas devem constituir-se como estudos marcadamente interdisciplinares. Ainda
assim, estes esbarram com importantes
arativo com dados de natureza etnográfica:
- Os dados etnográficos frequentemente reportam-se a realidades ecológicas,
ambientais e culturais diferentes daquela que constitui a nosso objecto de
análise, pelo que devem ser questionados e analisados com as devidas cautelas.
- Frequentemente os dados arqueológicos e arquebotânicos podem ser
explicados de forma viável por ma
Deste modo, assumimos que o princípio básico para qualquer interpretação
arqueológica com base em dados etnográficos é o de que o produto final é a colocação de
hipóteses. Estas devem ser explicadas e bem sustentadas.
Do ponto de vista d
o aqui apresentado é assinalar a presença de determinadas espécies num espaço
parcamente delimitado: a envolvência do povoado romano. A interpretação dos dados
arqueobotânicos esbarra com uma limitação importante que é a natureza do seu objecto de
173
estudo. De facto, os macro-restos vegetais encontrados na Terronha de Pinhovelo são o
produto de uma selecção feita no território que as paleo-comunidades tinham disponível.
Contudo, sem uma imagem regional da paleo-vegetação, nunca iremos compreender o
signif
dada mais importância à selecção
de lenha, nomeadamente aquelas actividades para as quais as propriedades do combustível
seriam mais relevantes de forma de garantir o seu sucesso e aquelas actividades às quais a
comunidade atribuía maior relevância. Por exemplo, é natural pressupor que seria empregue
mais cuidado na escolha de combustível para a cozedura de pão do que para lareiras
domésticas, ainda que o aquecimento durante o Inverno fosse crucial.
No quadro do Anexo IX.9.4 é evidente que no Parque de Montesinho só algumas
espécies foram claramente associadas com os fornos e forjas, pelo que, ainda que muitas
mais fossem utilizadas, aquelas são as que a população considera adequadas e as
preferidas, ou seja são as seleccionadas. Assim, a selecção mais do que uma preocupação
premente das sociedades rurais é um comportamento inerente às mesmas.
Embora os estudos arqueobotânicos de índole paleoecológica se centrem
principalmente em análises de madeiras fosseis, é evidente que não se deve escamotear o
potencial dos estudos carpológicos para a compreensão das paisagens antigas. Sendo claro
que em época romana, em especial num povoado com uma pré-existência proto-histórica,
os territórios Adjacente e Próximo se encontravam fortemente antropizados, conhecer as
espécies que aí eram cultivadas é uma mais valia para a sua reconstituição imagética. Esta
tarefa, embora possa ter subjacente uma base etnográfica ou iconográfica, só pode ser
realizada com plena consciência da integração cronológica e capacidade tecnológica e
organizativa da sociedade em estudo.
Num âmbito arqueológico e pale-económico, uma das principais valência dos estudos
paleoetnobotânicos é potenciar estudos regionais e inter-regionais, permitindo compreender
melhor a integração do contexto em estudo na região em que se encontra, e compreender a
integração desta num plano geográfico mais vasto, por exemplo a Península Ibérica ou o
Império Romano. Desta forma, são mais claros as grandes tendências de mudança, os
processos de aculturação e integração económica das sociedades e regiões. Infelizmente,
na Terronha de Pinhovelo, há ainda poucos contextos analisados pelo que é necessário
assumir as limitações deste estudo e apresentar sempre as devidas cautelas.
icado da selecção verificada.
Assume-se que a componente selecção é a principal condicionante do espectro
antracológico, ainda que a oferta existente no meio condiciona-se fortemente essa selecção.
É fácil imaginar que para determinadas actividades seria
174
VI. CONCLUSÃO
A Terronha de Pinhovelo foi habitada durante a Idade do Ferro e, aparentemente, todo
o período romano, até ao século V. Durante os trabalhos arqueológicos aí realizados foram
recolhidos macro-restos vegetais (carvões, frutos e sementes) para análise
paleoetnobotânica. Esta incidiu unicamente sobre o Sector B, o mais extensamente
esca
ícolas, como da
alime
e a partir das suas
carac
a, T. monococcum, Panicum miliaceum e
Setar
inferir a exploração de diferentes áreas
ecológicas n
Terronha
matagais d
unedo), as m
pinaster re
bosques h s angustifolia, e por
corrências pontuais de Alnus glutinosa, Corylus avellana e Ulmus minor). Com menor
frequ
ente nos percursos realizados
pelos
vado e, ao mesmo tempo, alvo de um maior esforço de amostragem arqueobotânica.
As amostras analisadas pertencem a Unidades Estratigráficas integradas nas fases III e IV,
cronologicamente enquadradas nos séculos IV-V d.C.
Foram definidos vários objectivos visando em especial a compreensão das estratégias
territoriais e económicas, assim como das vivências do quotidiano das populações que
habitaram esta povoação, tanto do ponto de vista dos trabalhos agr
ntação e ainda da gestão e vivência do espaço e do território regional. Alcançar estes
objectivos passava, essencialmente, por compreender melhor determinados contextos
escavados, colocando hipóteses explicativas da sua funcionalidad
terísticas e do seu conteúdo em macro-fosseis vegetais.
Foi possível perceber que os trigos Triticum aestivum/durum, T. compactum e T.
spelta, assim como a cevada (Hordeum vulgare), foram os cereais mais consumidos,
seguidos de T. dicoccum e, em quantidade reduzid
ia italica. Entre as espécies cultivadas salienta-se ainda a fava (Vicia faba var. minor),
a única leguminosa da qual se detectaram sementes. Estas evidências poderão indicar
práticas de alternância de cultivos entre cereais e leguminosas.
A partir da análise antracológica podemos
a estratégia de recolha de combustível por parte da população romana de
de Pinhovelo. São explorados os azinhais, os sobreirais e outros bosques e
e perenifólias (representados principalmente por Quercus ilex, Q. suber e Arbutus
atas de caducifólias (com Q. pyrenaica e Q. faginea), os pinhais (com Pinus
presentado em quase todas as amostras, com uma única excepção); e os
igrófilos ribeirinhos (representados principalmente por Fraxinu
o
ência está também documentada a utilização de lenha proveniente de formações
arbustivas, de maior grau de eco-artefactualidade, possivelmente correspondendo a lenha
recolhida em áreas mais próximas do povoado, eventualm
habitantes para outras actividades, nomeadamente para o cultivo, a pastorícia ou o
maneio dos campos. Assim, os urzais e giestais estão representados por madeira de várias
espécies de Erica e lenho de Cytisus/Genista/Ulex, enquanto que os matos rasteiros e
charnecas reflectem-se na presença de madeira de Cistus.
175
Tornou-se claro que o potencial paleoecológico das análises antracológicas reside
essencialmente na indicação da presença de determinadas espécies na envolvência do
povoado romano sem indicações da sua importância relativa na caracterização da paisagem
regional.
No que respeita à interpretação das estruturas arqueológicas, em especial as áreas de
combustão do Ambiente I, avançaram-se com algumas possibilidades interpretativas que
apontam para a sua utilização nas fases de processamento de alimentos, prévias à sua
confecção, ou o seu uso como locais de despejo de detritos decorrentes dessas tarefas.
Não se exclui a possibilidade de as mesmas estruturas terem sido utilizadas para outros
fins, limitando-nos a interpretar os vestígios do que aparenta ser a sua última utilização.
Ainda assim, existem diferenças significativas entre a composição das duas estruturas pois
somente numa delas, [65], foram detectadas favas, ao mesmo tempo que apresentava
quan
ente I contendo
uma
nte multidisciplinares, sendo evidente a sua utilidade
para a compreensão das próprias jazidas arqueológicas e das paleo-comunidades que nelas
habit
tidades mais significativas de cevada do que o depósito da outra, [66].
Já a estrutura de combustão do Ambiente II, representada pelo depósito [71], forneceu
quantidades mais reduzidas de macro-restos vegetais. Neste Ambiente II detectaram-se
também restos de bolotas, testemunhando o seu uso para alimentação humana. Este
compartimento apresenta importantes diferenças estruturais face ao Ambi
única área de combustão estruturada cuja construção data da fase III de ocupação da
jazida. O Ambiente I data da fase seguinte, tendo a sua construção inutilizado parte da
estrutura de combustão do Ambiente II. Porém, não é claro qual a fase em que se integra a
U.E. [71] pois é possível que a estrutura de combustão que cobria tenha sido utilizada na
fase IV.
O estudo efectuado a partir das escavações da Terronha de Pinhovelo demonstrou
existir um elevado potencial paleoetnobotânico nos estudos de macro-restos vegetais, em
especial quando estes são marcadame
aram.
176
VII. BIBLIOGRAFIA
AGR
AKER
ALAR
versitat Rovira i Virgili.
OCONSULTORES E COBA (1991). Carta dos solos, carta do uso actual da terra e
carta da aptidão da terra do nordeste de Portugal. Memórias. Universidade de Trás-os-
Montes e Alto Douro.
AGUIAR, C. (2001). Flora e vegetação da Serra da Nogueira e do Parque Natural de
Montesinho. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa. ISA.
ET, Ö. (2005). Plant remains from a Bell Beaker site in Switzerland, and the
beginnings of Triticum spelta (spelt) cultivation in Europe. Vegetation History and
Archaeobotany. 14, p. 279-286.
ALARCÃO, J. (1988). O domínio romano em Portugal. 3ª edição. Publicações Europa-
América.
CÃO, J. (2003). A organização social dos povos do Noroeste e Norte da Península
Ibérica nas épocas pré-romana e romana. Conimbriga. 42, p.5-115.
ALLUÉ Martí, E. (2002) - Dinámica de la vegetación y explotación del combustible leñoso
durante el Pleistoceno Superior y el Holoceno del Noreste de la Península Ibérica a partir del
análisis antracológico. Tese de doutoramento apresentada à Uni
ALVES, F. (1934). Memórias archaeológico-históricas do Districto de Bragança. Porto: Typ.
Empreza Guedes.
BADAL, E.; CARRIÓN, Y.; RIVERA, D.; UZQUIANO, P. (2003). La Arqueobotânica en
cuevas y abrigos: objectivos y métodos de muestreo. In Buxó, R. e Piqué, R., dir., La
recogida de muestras en arqueobotánica: objectivos y propuestas metodológicas. La gestión
de los recursos vegetales y la transformación del paleopaisaje en el Mediterráneo
occidental. Barcelona: Museo d’Arqueologia de Catalunya, p.19-29.
BARRANHÃO, H.; TERESO, J. (2006). (2006) - A Terronha de Pinhovelo na ciuitas
zoelarum: primeira síntese. Cadernos “Terras Quentes” 3. Associação Terras
Quentes/Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, p. 7-26.
177
BERG
BUXÓ
CAR
HO, A.; LOUSADA, J.; RODRIGUES, A. (2001). Etnobotânica da Moimenta da
Raia. A importância das Plantas numa Aldeia Transmontana. 1º Congresso de Estudos
Rura
GREN, G. (1981). Atlas of seeds and small fruits of Northwest-European plant species
with morphological descriptions. Vol. 3. Salicaceae-Cruciferae. Swedish Museum of Natural
History.
, R. (1990). Metodología y técnicas para la recuperación de restos vegetales (en
especial referencia a semillas y frutos) en yacimientos arqueológicos. (Cahier Noir, 5),
Ajuntamento de Girona.
BUXÓ, R. (1997). Arqueologia de las plantas. Barcelona: Crítica.
BUXÓ, R. (2005). L’agricultura d’època romana: estudis arqueobotànics i evolució dels
cultius a Catalunya. Cota Zero, 20, 108-120.
VALHO, A. (1954-55). Madeiras de folhosas. Contribuição para o seu estudo e
identificação. Separata de Boletim da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, Vol. 5, 2ª
série (Vol. XX), Fasc. II. Lisboa.
CARVALHO, A. (2005). Etnobotánica del Parque Natural de Montesinho. Plantas, tradición y
saber popular en un territorio del Nordeste de Portugal. Tesis doctoral. Madrid: Universidad
Autónoma de Madrid.
CARVAL
is. Ambiente e usos do território. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
http://home.utad.pt/~des/cer/CER/DOWNLOAD/2014.PDF
CARVALHO, P. (2006). Cova da Beira. Ocupação e exploração do território na época
romana. Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade
e Coimbra.
CARVALHO, P.; FRANCISCO, J.; GOMES, F.; BOTELHO, I. (1997). Assentamento romano
fortificado da Terronha (Macedo de Cavaleiros). Em Busca do Passado 1994/1997. Lisboa:
Junta Autónoma de Estradas.
CASTROVIEJO, S.; AEDO, C.; BENEDÍ, C.; LAÍNZ, M.; MUÑOZ GARMENDIA, F.; NIETO
FELINER, G.; PAIVA, J., eds. (1997). Flora iberica. Plantas vasculares de la Península
d
178
Ibérica e Islas Baleares. Vol. 8, Haloragaceae-Euphorbiaceae. Madrid: Real Jardín Botánico,
.S.I.C.
DIA, F.; NAVARRO, C.; PAIVA J.; SORIANO C., eds. (1993). Flora
erica. Plantas vasculares de la Península Ibérica e Islas Baleares. Vol. 3, Plumbaginaceae
ASTROVIEJO, S.; AEDO, C.; GÓMEZ CAMPO, C.; LAÍNZ, M.; MONTSERRAT, P.;
otropaceae. Madrid: Real Jardín Botánico, C.S.I.C.
DIA, F.; PAIVA, J.; VILLAR, L.,eds. (1986). Flora iberica. Plantas vasculares de la
enínsula Ibérica e Islas Baleares. Vol. 1 (Lycopodiaceae-Papaveraceae). Madrid, Real
ASTROVIEJO, S.; LAÍNZ, M.; LÓPEZ GONZÁLEZ, G.; MONTSERRAT, P.; MUÑOZ
., Brochier J.-E., Chabal L., Crozat S., Fabre L., Guibal F., Marinval P.,
ichard H., Terral J.-F., Théry-Parisot I., La botanique. Paris: Editions Errance, p. 43-104.
ORCUERA, L.; CAMARERO, J.; GIL-PELEGRÍN, E. (2004). Effects of severe drought on
E. (2006). Radial-growth and
ord-anatomical changes in overaged Quercus pyrenaica coppice stands: functional
responses in a new Mediterranean landscape. Tress. 20, p. 91-98.
C
CASTROVIEJO, S.; AEDO, C.; CIRUJANO, S.; LAÍNZ, M.; MONTSERRAT, P.; MORALES,
R.; MUÑOZ GARMEN
ib
(partim)-Capparaceae. Madrid: Real Jardín Botánico, C.S.I.C.
C
MORALES, R.; MUÑOZ GARMENDIA, F.; NIETO FELINER, G.; RICO. E.; TALAVERA, S.;
VILLAR, L.; eds. (1993). Flora iberica. Plantas vasculares de la Península Ibérica e Islas
Baleares. Vol. 4, Cruciferae-Mon
CASTROVIEJO, S.; LAÍNZ, M.; LÓPEZ GONZÁLEZ, G.; MONTSERRAT, P.; MUÑOZ
GARMEN
P
Jardín Botánico, C.S.I.C.
C
GARMENDIA, F.; PAIVA, J.; VILLAR, L., eds.(1990). Flora Iberica. Plantas vasculares de la
Península Ibérica e Islas Baleares. Vol 2, Platanaceae-Plumbaginaceae (partim). Madrid:
Real Jardín Botánico, C.S.I.C.
CHABAL, L.; FABRE, L.; TERRAL, J.-F.; THÉRY-PARISOT, I., (1999). L’anthracologie. In
Bourquin-Mignot C
R
COMMITTEE ON NOMENCLATURE INTERNATIONAL ASSOCIATION OF WOOD
ANATOMISTS (1964). Multilingual glossary of terms used in wood anatomy. Verlagsanstalt
Buchdruckerei Konkordia Winterthur.
C
Quercus ilex radial growth and xylem anatomy. Trees. 18, p. 83-92.
CORCUERA, L.; CAMARERO, J.; SISÓ, S.; GIL-PELEGRÍN,
W
179
CORREIA, H. (2005). Cicouro. In Frazão-Moreira, A e Fernandes, M, org, Plantas e
Saberes. No limiar da Etnobotânica em Portugal. Lisboa: Edições Colibri/IELT, p. 79-81.
edição, Lisboa.
acional, 2. Madrid, p. 25-46.
What wood is that? A Manual of Wood Identification. Stobart Davies
td.
amento
ERNANDES, J.; MARQUES, S.; SANTOS, C. (2001). Plantas aromáticas e medicinais -
ttp://home.utad.pt/~des/cer/CER/DOWNLOAD/2015.PDF
COSTA, M.; MONTE, T. (2005). Aldeia Nova. In Frazão-Moreira, A e Fernandes, M, org,
Plantas e Saberes. No limiar da Etnobotânica em Portugal. Lisboa: Edições Colibri/IELT, p.
73-77.
COUTINHO, A. (1939). Flora de Portugal (Plantas vasculares). 2ª
DAVIDSON, I.; BAILEY, G. (1984). Los yacimientos, sus territórios de explotacion y la
topografia. Boletín del Museo Arqueológico N
DESPRAT, S.; SANCHEZ GOÑI, M.; LOUTRE, M. (2003). Revealing climatic variability of
the last three millennia in northwestern Iberia using pollen influx data. Earth and Planetary
Science Letters. 213, p.63-78.
DIAS, J. (1953). Rio de Onor. Comunitarismo agro-pastoril. Porto: Instituto de Alta Cultura.
EDLIN,H. (1994[1969]).
L
ESPINO, D. (2004) - La gestión del paisaje vegetal en la Prehistoria Reciente y Protohistoria
en la Cuenca Media del Guadiana a partir de la Antracología. Tese de doutor
apresentado à Universidad de Extremadura.
FABIÃO, C. (1992). A II Idade do Ferro. In Mattoso, J., dir., História de Portugal. 1. Circulo
de Leitores, p.167-201.
F
utilizações locais no Parque Natural do Douro Internacional (PNDI). 1º Congresso de
Estudos Rurais. Ambiente e usos do território. Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro.
h
FERNÁNDEZ MARTINEZ, V.; RUIZ ZAPATERO, G. (1984). El análisis de territórios
arqueológicos: una introducción crítica. Arqueología Espacial. 1. Teruel, p. 55-71.
180
FERNÁNDEZ-POSSE, M.; SÁNCHEZ-PALENCIA, F. (1998). Las comunidades campesinas
n la cultura castreña. Trabajos de Prehistoria. 55 (2), p.127-150.
eight in
rchaeological cereal crops: a quantitative approach for comparison with current conditions.
34 (3-4) (Actas do 1º Congresso de Arqueologia Peninsular. 4),
orto, p.427-448.
tology, Palaeoecology. 164, p.397-407.
IGUEIRAL, I.; SANCHES, M.J. (1998-1999). A contribuição da antracologia no estudo dos
IGUEIRAL, I.; SANCHES, M. J. (2003). Eastern Trás-os-Montes (NE Portugal) from the late
ONT QUER, P. (1985). Diccionario de Botánica. Editorial Labor, S.A..
çores). 2. Clethraceae-
ompositae. Lisboa.
e
FERNÁNDEZ RODRIGUEZ, C. (2003). Ganadería, caza y animals de compañía en la
Galicia romana: estudio arqueozoológico. Brigantium. 15. Museo Arqueológico e Histórico.
Castelo de San Antón. A Coruña.
FERREIRINHA, M. (1958). Glossário Internacional dos termos usados em anatomia de
madeiras. (Estudos, Ensaios e Documentos, 46). Lisboa: Ministério do Ultramar.
FERRIOA, J.; Alonsob, N.; Voltasa, J.; Araus, J. (2004) - Estimating grain w
a
Journal of Archaeological Science. 31, p.1635-1642.
FIGUEIRAL, I. (1994). A Antracologia em Portugal: progressos e perspectivas. Trabalhos de
Antropologia e Etnologia.
P
FIGUEIRAL, I.; MOSBRUGGER, V. (2000). A review of charcoal analysis as a tool for
assessing Quaternary and Tertiary environments: achievements and limits.
Palaeogeography, Palaeoclima
F
recursos florestais de Trás-os-Montes e Alto Douro durante a Pré-história recente.
Portugália, Nova Série, 19-20, p. 71-101.
F
Prehistory to the Iron age: the land and the people. In Fouache, E., ed., The Mediterranean
World Environment and History. Elsevier, p. 315-329.
F
FRANCO, J. (1984). Nova flora de Portugal (Continente e A
C
FRAZÃO-MOREIRA, A; FERNANDES, M, org, (2005). Plantas e Saberes. No limiar da
Etnobotânica em Portugal. Lisboa: Edições Colibri/IELT.
181
GARCÍA Y BELLIDO, A. (1993). España y los españoles hace dos mil años según la
Geografía de Strábon. 10ª edição. Colección Austral.
GASSON, P. (1987). Some implications of anatomical variations in the wood of Pedunculate
Oak (Quercus robur L.), including comparisons with common Beech (Fagus sylvatica L.).
IAWA Bulletin, 8 (2), p. 149-166.
Letras da
niversidade de Lisboa/Edições Colibri.
itorial Crítica.
URTADO AGUÑA, J. (2001). La economía del Área carpetana en la época republicana y
nd edition.
ttp://pages.unibas.ch/arch/archbot/pdf/index.html
GUERRA, A. (1995). Plínio-o-Velho e a Lusitânia. Lisboa: Faculdade de
U
HARRIS, E. (1991). Príncipios de estratigrafia arqueológica. Barcelona: Ed
HARRIS, J.; HARRIS, M. (2004). Plant identification terminology. An Illustrated Glossary. 2nd
edition, Utah: Spring Lake Publishing.
H
alto imperial. Iberia: Revista de la Antigüedad, 4, p.71-86.
JACOMET, S. and collaborators (2006). Identification of cereal remains from archaeological
sites. 2
h
JUSCAFRESA, B. (1995). Guia de la Flora Medicinal, Toxica, Aromatica y Condimenticia.
Editorial Aedos.
JÚNIOR, J. (1977). A cultura dos cereais no leste transmontano. Trabalhos de Antropologia
e Etnologia. 23 (1). Porto, p.41-159.
n of vessel size and distribution in
ork oak wood (Quercus suber L.). Wood Science and Technology. 41 (4), p.339-350.
KROLL, H. (1992). Einkorn from Feudvar, Vojvodina, II. What is the difference between
emmer-like two-seeded einkorn and emmer? Review of Palaeobotany and Palynology. 73,
p.181-185.
LEAL, S.; SOUSA, V.; PEREIRA, H. (2007). Radial variatio
c
182
LEMOS, F. (1993). O povoamento romano em Trás-os-montes Oriental. Tese de
ARINVAL, P. (1992). Archaeobotanical data on millets (Panicum miliaceum and Setaria
ines et les fruits: la carpologie. In : Bourquin-Mignot C.,
rochier J.-E., Chabal L., Crozat S., Fabre L., Guibal F., Marinval P., Richard H., Terral J.-F.,
ARTÍNEZ, N.; JUAN-TRESSERRAS, J.; RODRÍGUEZ-ARIZA, M.; BUENDÍA, N. (2003).
ión del paleopaisaje en el Mediterráneo
ccidental. Barcelona: Museo d’Arqueologia de Catalunya, p. 31-48.
. Etno-Arqueologia. Faro: Universidade do Algarve, p.196-219.
ATEUS, J.; QUEIROZ, P. (1993). Os estudos de vegetação quaternária em Portugal;
ATEUS, J.; QUEIROZ, P.; VAN LEEUWAARDEN, W. (2003). O Laboratório de
s, linhas de trabalho
perspectivas. In MATEUS, J.; MORENO-GARCÍA, M., eds., Paleoecologia Humana e
logia. 29). Lisboa: IPA, p.106-188.
s ATQ/CMMC, p. 5-49.
Doutoramento em Pré-História e História da Antiguidade. Braga: Universidade do Minho.
M
italica) in France. Review of Palaeobotany and Palynology. 73, p. 259-270.
MARINVAL, P. (1999) – Les gra
B
Théry-Parisot I. La botanique. Paris: Editions Errance, p. 105-137.
M
Muestreo arqueobotánico de yacimientos al aire libre y en medio seco. In Buxó, R. e Piqué,
R., dir., La recogida de muestras en arqueobotánica: objectivos y propuestas metodológicas.
La gestión de los recursos vegetales y la transformac
o
MATEUS, J. (1990) – A teoria da zonação do ecossistema territorial. In Gamito, T., ed.,
Arqueologia Hoje I
MATEUS, J. (1996) – Arqueologia da Paisagem e Paleoecologia. Al-madan. IIª Série, 5, p.
96-108.
MATEUS, J. (2004). Território Antigo. Património. Estudos. 7. Lisboa: Instituto Português do
Património Arquitectónico, p.36-44.
M
contexto, balanço de resultados, perspectivas. O Quaternário em Portugal. Balanço e
perspectivas. Lisboa: Edições Colibri, p. 105-131.
M
Paleoecologia e Arqueobotânica – uma visita guiada aos seus programa
e
Arqueociências. Um programa multidisciplinar para a arqueologia sob a tutela da Cultura
(Trabalhos de Arqueo
MENDES, C. (Coord.) (2005). Carta Arqueolológica do Concelho de Macedo de Cavaleiros.
Campanha 1/2004.Cadernos “Terras Quentes”. 2. Ediçõe
183
f the Pleistocene: a palaeoecological
construction on the basis of two new pollen sequences. Vegetation History and
REGO, P.; GÓMEZ-ORELLANA, L.; DÍAZ VARELA, A.
005). Palynological data on major Holocene climatic events in NW Iberia. Boreas. 34,
UÑOZ SOBRINO, C.; RAMIL-REGO, P.; RODRÍGUEZ GUITIÁN, M.(1997). Upland
nd
eforestation dynamics. Vegetation History and Archaeobotany. 6, p.215-233.
, P.; RODRÍGUEZ GUITIÁN, M. (2001). Vegetation in
e mountains of northwest Iberia during the last glacial-interglacial transition. Vegetation
URPHY, P. (1989). Carbonised neolithic plant remains from the Stumble, an intertidal site
crop to extinction? The archaeology and
istory of the hulled wheats. In Padulosi, S; Hammer, K. e Heller, J., eds. Hulled Wheat.
d.org/pub/103378711
MUÑOS SOBRINO, C.; RAMIL-REGO, P.; GOMEZ-ORELLANA, L. (2004). Vegetation of the
Lago de Sanabria area (NW Iberia) since the end o
re
Archaeobotany. 13, p. 1-22.
MUÑOZ SOBRINO, C.; RAMIL-
(2
p.381-400.
M
vegetation in the north-west Iberian peninsula after the last glaciation: forest history a
d
MUÑOS SOBRINO, C.; RAMIL-REGO
th
History and Archaeobotany, 10, p. 7-21.
M
in the Blackwater Estuary, Essex, England. Circaea. 6 (1), p.21-38.
NESBITT, M.; SAMUEL, D. (1995). From staple
h
Proceedings of the First International Workshop on the Hulled Wheats.
http://www.getcite
NIETO FELINER, G.; HERRERO, A.; JURY, S., eds. (2003). Flora iberica. Plantas
vasculares de la Península Ibérica e Islas Baleares. Vol. 10, Araliaceae-Umbelliferae.
adrid: Real Jardín Botánico, C.S.I.C.
e Dinis A., eds, Paleoecologia e Arqueologia. 2. Vila Nova de Famalicão, p. 251-
68.
sboa:
stituto de Alta Cultura.
M
OLIVEIRA, F.; QUEIROGA, F.; DINIS, A. (1991). O pão de bolota na cultura castreja. In
Queiroga, F
2
OLIVEIRA, E.; GALHANO, F.; PEREIRA, B. (1976). Alfaia Agrícola Portuguesa. Li
In
184
PREVOSTI I MONCLÚS, M.; GUITART I DURAN, J. (2005). Els estudis del món agrari romà
a Catalunya: un estat de la quesito. Cota Zero. 20, p.41-52.
PEREIRA, B. (1996). Alfaias agrícolas. In O voo do Arado. Lisboa: Museu Nacional de
Etnologia, p. 161-199.
PEÑA-CHOCARRO, L. (1999). Prehistoric Agriculture in Southern Spain during the Neolithic
and the Bronze Age. The application of ethnographic models. (BAR International Series
818).
PIQUÉ i Huerta, R. (1999). Producción y uso del combustible vegetal: una evaluación
arqueologica. (Treballs d’Etnoarqueologia. 3).
PIQUÉ i Huerta, R. (2006). Los carbones y las maderas de contextos arqueológicos y el
paleoambiente. Ecosistemas. 2006/1.
http://www.revistaecosistemas.net/articulo.asp?Id=407&Id_Categoria=2&tipo=portada
A. (1964).
otas prévias sobre a Geologia de Trás-os-Montes Oriental. 5 – Sobre a Geologia da região
UEIROZ, P.; MATEUS, J.; PEREIRA, T.; MENDES, P. (2006). Santa Clara-a-Velha: o
Trabalhos do CIPA. 97. Lisboa.
yacimientos arqueológicos holocenos de
alicia (N.O. Cantábrico). Munibe. 45, p. 165-174.
EDENDOR, A. (2002). Epigrafia romana da região de Bragança. (Trabalhos de
QUADRADO, R.; MATOS ALVES, C.; MACEDO, J.; CRAMEZ, C.; RIBEIRO,
N
de Macedo de Cavaleiros. Boletim da Sociedade Geológica de Portugal. 15 (3). Lisboa.
Q
quotidiano para além da ruína : primeiros resultados da investigação paleoecológica e
arqueobotânica [Texto policopiado].
QUEIROZ, P.; VAN DER BURGH (1989). Wood Anatomy of Iberian Ericales. Revista de Biologia. 14. Lisboa, p. 95-134.
RAMIL-REGO, P. (1993). Paleoethnobotánica de
G
RAMIL-REGO, P.; DOPAZO MARTINEZ, A.; FERNÁNDEZ ROGRIGUEZ, C. (1996).
Cambios en las estrategias de explotación de los recursos vegetales en el Norte de la
Península Ibérica. Férvedes. 3, p.169-187.
R
Arqueologia, 24). Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.
185
REIS, T. (2005). Constantim. In Frazão-Moreira, A e Fernandes, M, org, Plantas e Saberes.
bia University Press.
IBEIRO, J. A. (2005). Plantas bravias comestíveis e plantas condimentares. In Frazão-
IBEIRO, J. A.; MONTEIRO, A.; SILVA, M. (2000). Etnobotânica. Plantas Bravias,
conhecimento estratigráfico e petrológico da região
SW de Macedo de Cavaleiros (Trás-os-Montes Oriental). (Memórias dos Serviços
ODRIGUEZ LOPEZ, C.; FERNANDEZ RODRIGUEZ, C.; RAMIL REGO, P. (1993). El
the Classical World. In Schultes, R., Siri von Reis,
ds., Ethnobotany. Evolution of a discipline. Chapman & Hall, p.131-143.
a-ADL.
CHWEINGRUBER, F.H (1990b). Microscopic Wood Anatomy. Swiss Federal Institute for
ENNA-MARTINEZ, J. ; VENTURA, J.; CARVALHO, H. (2005). A Fraga dos Corvos
(Macedo de Cavaleiros): um sítio de habitat do “mundo Carrapatas” da primeira Idade do
No limiar da Etnobotânica em Portugal. Lisboa: Edições Colibri/IELT, p. 83-85.
RENFREW, J.M. (1973). Palaeoethnobotany. The prehistoric food plants of the Near East
and Europe. New York: Colum
RIBEIRO, J.A. (2003). Património florístico duriense. Plantas bravias comestíveis ou
condimentares e fruteiras silvestres. Douro. 16, p.71-105.
R
Moreira, A e Fernandes, M, org, Plantas e Saberes. No limiar da Etnobotânica em Portugal.
Lisboa: Edições Colibri/IELT, p. 33-43.
R
Comestíveis, Condimentares e Medicinais. 2ª Edição. Mirandela: João Azevedo Editor.
RIBEIRO, M. (1991). Contribuição para o
a
Geológicos de Portugal, 30). Lisboa.
R
aprovechamiento del Medio Natural en la cultura castreña del Noroeste Peninsular.
Trabalhos de Antropología e Etnologia. 33 (1-2). Porto, p.285-305.
RUCK, C. (1995). Gods and Plants in
e
SALGUEIRO, J. (2005). Ervas, Usos e Saberes. Plantas Medicinais no Alentejo e outros
Produtos Naturais. Edições Colibri/Marc
SCHWEINGRUBER, F.H (1990) – Anatomy of European woods. Paul Haupt and Stuttgart
Publishers
S
Forest, Snow and Landscape Research.
S
186
Bronze em Trás-os-Montes Oriental. Cadernos “Terras Quentes”. 2. Edições ATQ/CMMC,
p.61-81.
SENNA-MARTINEZ, J.; VENTURA, J.; CARVALHO, H.; FIGUEIREDO, E. (2006). A Fraga
dos Corvos (Macedo de Cavaleiros): Um sítio de Habitat da Primeira Idade do Bronze em
rás-os-Montes Oriental. A campanha 3 (2005). Cadernos Terras Quentes. Edições
, A. (2007). A Terra Sigillata Hispânica Tardia de Terronha de Pinhovelo: o comércio e
povoamento. Cadernos Terras Quentes, 4. Associação Terras Quentes, p.6-50.
a Arqueologia portuguesa. Resultados desde
931 a 1987. In Queiroga, F. e Sousa, I., eds., Actas do Encontro “Paleoecologia e
razão-
oreira, A.; Fernandes, M., org., Plantas e Saberes. No Limiar da Etnobotânica em Portugal.
da
niversidade.
The
aceae to Compositae (and Rubiaceae).
ambridge University Press.
e Prehistoria, 54, nº 1, p.145-154.
esearch Report, 65). London,
.93-99.
T
ATG/CMMC, p.61-85
SILVA
o
SILVA, Pinto da (1988). A paleoetnobotânica n
1
Arqueologia”. Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, p. 5-36.
STRECHT, A.; LOPEZ, M.; BOTELHO, M; BOGAS, T. (2005). Pruôba (Póvoa). In F
M
Lisboa: Edições Colibri. IELT, p. 99-101.
TABORDA, V. (1932). Alto Trás-os-Montes. Estudo Geográfico. Coimbra: Imprensa
U
TÉLLEZ, R.; CIFERRI, F. (1954). Trigos arqueológicos de España. Madrid: Ministerio de
Agricultura, Instituto Nacional de Investigaciones Agrarias.
TER BRAAK, C,; SMILAUER, P. (2001). Canoco 4.52 for Windows. Wageningen, Netherlands.
TUTIN, T.; HEYWOOD, V.; BURGES, N.; MOORE, D.; VALENTINE, D.; WALTERS, S.;
WEBB, D. (1976). Flora europaea. Vol. 4. Platagin
C
UZQUIANO, P. (1997). Antracología y métodos: implicaciones en la economía prehistórica,
etnoarqueología y paleoecología. Trabajos d
VAN DER VEEN, M (1987). The plant remains. In Heslop, D., The Excavation of an Iron Age
Settlement at Thorpe Thewles, Cleveland, 1980-1982. (CBA R
p
187
VAN LEEUWAARDEN, W. (in prep.). Some remarks on the identification of recent and fossil
ood of endemic Portuguese species of the genus Quercus.
tas medicinais e aromáticas. Direcção
eral dos Serviços Agrícolas. Lisboa.
scapes in the Mediterranean: the
ontribution of Anthracology. In Leveau, P.; Triment, F.; Walsh, K.; Barker, G., eds.,
ERNET, J-L; OGEREAU, P.; FIGUEIRAL, I.; MACHADO YANES, C.; UZQUIANO, P.
OHARY, D.; HOPF, M. (2000). Domestication of Plants in the Old World. The origin and
w
VASCONCELLOS, J. de Carvalho e (1949). Plan
G
VERNET, J-L (1999). Reconstructing vegetation and land
c
Environmental Reconstruction in Mediterranean Landscape Archaeology. (The Archaeology
of Mediterranean Landscapes, 2). Oxbow books, p. 25-36.
V
(2001). Guide d’identification des charbons de bois préhistoriques et récents. Sud-Ouest de
l’Europe: France, Péninsule ibérique et îles Canaries. Paris: CNRS Editions.
VILAÇA, R. (1995). Aspectos do povoamento da Beira Interior (Centro e Sul) nos finais da
Idade do Bronze. 1. (Trabalhos de Arqueologia, 9). IPPAR.
Z
spread of cultivated plants in West Asia, Europe and the Nile Valley. 3rd Edition. Oxford
University Press.
188