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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CURSO NORMAL SUPERIOR – EAD
PALESTRA DAS DISCIPLINAS:
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO I SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO II
Livro 9
Sociologia da Educação: Múltiplos olhares
Livro 10
Sociologia da Educação: Olhares para
a escola de hoje
Profa. Débora Giselli Bernardo
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SOCIOLOGIA: ORIGENS E DEBATES ATUAIS
**CONTEXTO DE SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
**A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO **OS PENSADORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA **A SOCIEDADE GLOBALIZADA E AS NOVAS QUESTÕES A SEREM PENSADAS PELOS CIENTISTAS SOCIAIS **ANÁLISE SOCIOLÓGICA DA QUESTÃO CURRICULAR NO BRASIL
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1. AS TRANSFORMAÇÕES NA SOCIEDADE CAPITALISTA E O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
O contexto histórico
* Transformações ocorridas na Europa a partir do
século XVIII: crescimento populacional; deslocamento
da população para os centros urbanos; formação de
uma massa de desempregados (reserva humana);
invenção de máquinas para a indústria;
desenvolvimento de transportes ferroviários e
marítimos; REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1770-1870);
* O desenvolvimento da sociedade industrial gera
maior concentração de renda nas mãos dos
capitalistas e, conseqüentemente, maiores
desigualdades sócio-econômicas;
O surgimento da Sociologia
* É diante deste contexto que a Sociologia desponta
como uma nova ciência para estudar os fenômenos e
fatos sociais e explicar as transformações que vinham
acontecendo, bem como as contradições que se
evidenciavam naquele momento.
* O termo Sociologia foi usado primeiramente por
August Comte (1798-1857), na obra intitulada Curso
de Filosofia Positiva (Cours de Philosophie Positive).
Comte é considerado o “pai da Sociologia”.
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O papel do sociólogo
* Identificar e analisar os fatos, procurando
compreendê-los e explicá-los por meio de uma
interpretação imparcial.
Objeto de estudo da Sociologia
* Todas as atividades humanas e as relações que os
homens estabelecem em sociedade.
A divisão da sociologia:
Sociologia Geral; Sociologia Econômica; Sociologia
Política; Sociologia Industrial; Sociologia da
Linguagem; Sociologia da Educação, dentre outras.
Autores centrais para a origem e o
desenvolvimento da Sociologia da Educação:
Jonh Dewey (1859 – 1952)
* Propunha que o papel da escola e da Igreja deveria
ser o de incutir na criança a consciência sobre a
sociedade que crescia ao seu redor para que pudesse
dela participar;
* Concebia a escola como uma comunidade em
miniatura, que refletia a sociedade mais ampla;
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Émile Durkheim (1858 – 1917)
* Considerava a sociedade como um todo, como um
organismo que só sobrevive quando existe certo grau
de homogeneidade/harmonia entre os seus órgãos;
* A educação perpetua e reforça essa homogeneidade
ao fixar na criança os valores e atitudes essenciais que
a vida coletiva exige;
* Assim, não existe um tipo ideal de educação, pois
cada sociedade determina o tipo de educação
necessária à sua existência e manutenção;
Karl Mannheim (1893 – 1947)
* Percebeu que a abordagem sociológica dos
problemas educacionais era um meio de ajudar a
estabelecer, para a própria Educação, um conteúdo e
um método;
Discussões atuais da Sociologia da Educação
* Giram em torno da análise crítica das relações entre
escola e sociedade, visando estabelecer as causas e as
conseqüências da interferência de questões sociais no
cenário educacional.
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2. CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA
2. 1. AUGUSTE COMTE (1798-1857): SOCIOLOGIA E EDUCAÇÃO POSITIVISTA
O contexto histórico
* Comte viveu no auge da primeira revolução
industrial. Observou, portanto, as transformações
sociais causadas por esse processo, e, a partir daí,
criou teorias para explicar a sociedade. Inspirou-se no
ambiente de lutas entre o proletariado e a burguesia,
o qual designou como um estado de “anarquia” e de
“desordem”, um caos em que a sociedade européia
estava mergulhando. Buscou, assim, indicar caminhos
para a reestruturação social.
O contexto intelectual
* As idéias que estavam em vigor no Ocidente, à
época de Comte objetivavam:
- compreender a natureza do agir político;
- discutir a relação entre o homem e a realidade;
- indagar a essência (e não o porquê das coisas);
- entender as relações existentes entre os fenômenos;
- observar os mecanismos que regem o mundo;
Idéias políticas de Comte
* Unir a política com a ciência para neutralizar as
contradições sociais;
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* Tornar científico o estudo da política e estabelecer a
influência da ciência sobre os governantes;
* Analisar o curso histórico da humanidade e
interpretá-lo como uma evolução natural e
harmônica;
Idéias sociais: a Sociologia
* Após 1846, Comte desenvolveu um programa de
reforma social e propôs uma nova religião, a Religião
da Humanidade, proclamando-se o seu sumo
sacerdote;
* Objetivando a reestruturação da sociedade, baseada
na coesão entre os homens, desejava criar um
conjunto de crenças comuns a todos os homens;
* Afirmava que o Positivismo deveria difundir a ciência
real e reorganizar a sociedade;
* Entendendo que a reorganização social exigia a
elaboração de uma nova maneira de conhecer a
realidade, estabeleceu princípios de orientação do
conhecimento humano e defendeu que uma verdadeira
filosofia poderia se posicionar diante da realidade de
forma “positiva”, ao contrário do “negativismo”
iluminista, que contestava as instituições sociais.
Princípios da filosofia positiva de Comte
* Comte estudou o desenvolvimento da inteligência
humana ao longo do tempo, com a intenção de
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descobrir a lei fundamental que a regia e como as
ciências e o espírito humano se desenvolveram.
Considerou três fases distintas de desenvolvimento: o
estado teológico, o metafísico e o estado positivo.
- No estado teológico a imaginação desempenhava
um papel central. O homem só conseguia explicar a
natureza mediante idéias sobrenaturais: deuses e
espíritos explicavam o desconhecido;
- No estado metafísico ainda há a procura por
respostas absolutas, que expliquem a natureza. A
diferença é que a imaginação é substituída pela
argumentação.
- No estado positivo encontramos a preocupação de
descobrir, por meio da razão e da observação, as leis
efetivas que estão por trás dos acontecimentos. Daí
partiria a organização das ciências como investigação
do real, do certo incontestável, do precisamente
determinado. Nesse estado, o poder espiritual passaria
para as mãos dos sábios e cientistas e o poder
material ficaria sob o controle dos industriais.
* O papel da Sociologia no estado positivo seria o de
formular um sistema filosófico que reestruturasse e
mantivesse a sociedade, com base na ordem e no
progresso.
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Ordem social e progresso
* Ordem (estática social): responsável pela
preservação dos elementos permanentes da
organização social, das instituições que mantêm a
coesão e garantem o funcionamento da sociedade
(família, religião, propriedade, linguagem, direito);
* Progresso (dinâmica social): responsável pelo
desenvolvimento da sociedade; representa a
passagem para formas cada vez mais complexas de
existência;
* O progresso aperfeiçoa os elementos da ordem
sem destruí-la; POSIÇÃO CONSERVADORA;
O Positivismo buscava justificar os padrões burgueses
de organização social e resolver os conflitos sociais por
meio da exaltação à coesão, à harmonia natural entre
os indivíduos e a um suposto bem estar do todo social.
* Comte admitia os conflitos existentes entre a
burguesia e o proletariado, afinal viveu em um
contexto de ferrenha luta de classes. Todavia,
considerava que a solução para esse “caos” era a
elaboração de novas normas que orientassem a
conduta de cada indivíduo (reforma moral);
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* a partir dessa reforma, por exemplo, os
trabalhadores aceitariam a sua importante função
produtiva na sociedade, deixando a cargo das elites o
exercício do poder político e da ciência (divisão entre
trabalho intelectual e trabalho braçal);
* ficaria, inclusive, a cargo da elite industrial e dos
cientistas a melhoria de vida dos trabalhadores (retira
dessa classe a sua tradição de luta e protesto);
* a conciliação entre as classes só seria alcançada pela
intervenção da sociedade na vida do individuo, de
modo a educá-lo para a subordinação;
Sociologia e Educação em Comte
* Preocupação com os “fins sociais” da educação e a
necessidade de preparar a criança para a vida na
sociedade burguesa;
* a educação positivista relaciona-se ao bem-estar
social, à estabilidade, ao progresso e à capacidade de
transformação sem revolução; CONSERVADORISMO;
O objetivo da Educação Positivista
Formar o cidadão para viver harmoniosamente em
sociedade. Para isso, a educação precisaria atingir as
diferentes classes sociais, desde o proletariado até a
burguesia.
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Educação idealizada por Comte
Apresenta duas fases:
* Espontânea: educação física, moral e estética;
ocorre nos primeiros anos de vida e acontece na
família, sob a direção da mãe. Educação de caráter
afetivo.
* Sistemática: educação intelectual, baseada no
ensino abstrato e nas leis científicas. Inicia-se na
adolescência. Procura 1) sistematizar os
conhecimentos já adquiridos; 2) incluir o estudo das
leis naturais que regem a natureza e o homem; e 3)
instruir para a vida ativa, com a inclusão da
aprendizagem de um oficio que prepare para o
trabalho na sociedade. Os cursos de especialização,
realizados nos locais de trabalho, auxiliariam no
aperfeiçoamento dos estudos.
OBS.: Para essa fase, que não pode ocorrer na
família, seria fundamental a existência de um sistema
de educação pública, universal, que atendesse às
necessidades do mundo moderno.
*As universidades se destinariam a poucos, servindo
como complemento do ensino integral (perpetua a
divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual).
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2. 2. ÉMILE DURKHEIM (1858-1917): A SOCIEDADE, O INDIVÍDUO E A EDUCAÇÃO
* Importância do autor para a consolidação da
Sociologia como disciplina científica:
- ocupou a primeira cátedra de Sociologia criada na
França;
- fundou a Escola Sociológica Francesa, ao reunir um
grupo de cientistas voltados para a análise da
sociedade;
* Foi bastante influenciado pelo contexto histórico de
transformações capitalistas a partir da Revolução
Industrial; tal influência transparece nos temas de
seus estudos.
Definição de Sociologia, para Durkheim: “[...]
ciência das instituições, tanto de sua gênese como de
seu funcionamento.” (CALEGARI-FALCO; FRANCHETTI,
2005, p. 44).
Objeto próprio da Sociologia, para Durkheim: os
fatos sociais;
Fatos Sociais: são “[...] as maneiras de agir, de
pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de
um poder de coerção em virtude do qual se lhe
impõem.” (DURKHEIM apud CALEGARI-FALCO;
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FRANCHETTI, 2005, p. 44). Desse modo, são fatos
sociais, por exemplo: as regras jurídicas, morais e
religiosas, a moda, a língua, dentre outros.
EXEMPLOS: 1) o idioma: não somos obrigados a nos
comunicar em português, mas desde cedo
aprendemos que, se não o fizermos, não teremos
sucesso nas relações sociais (poder coercitivo); 2) a
moda: ninguém nos obriga a usar certos tipos de
roupas, mas se nós não as usarmos somos vistos
como “estranhos” ou “fora de moda” (teríamos
inclusive dificuldade em encontrar outros tipos de
roupa nas lojas).
Nesse sentido, toda atitude individual tem algo de
social, pois reproduz, de certo modo, o modelo
coletivo no qual estamos inseridos. Assim, Durkheim
explica a sociedade através do aspecto coletivo, e não
do aspecto individual.
Método próprio da Sociologia, para Durkheim:
1) considerar os fatos sociais como “coisas” exteriores
aos indivíduos, afinal eles não são um produto da
nossa vontade, mas sim “[...] moldes de acordo com
os quais somos obrigados a formar nossas ações”.
(CALEGARI-FALCO; FRANCHETTI, 2005, p. 46).
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2) buscar a objetividade científica, destituindo-se de
subjetividade (paixões) e pré-conceitos;
* REFLEXÃO: será que isso é possível?
* Para a análise dos fatos sociais, Durkheim considera
indispensáveis os seguintes conceitos:
- consciência coletiva: encontra-se na sociedade, e
não no indivíduo; é formada pelo conjunto de crenças
e valores partilhados por uma mesma sociedade;
“Apesar de todos os indivíduos possuírem ‘consciências
individuais’, suas formas de se comportar e de
observar a vida, seguem formas padronizadas de
conduta e pensamento no interior de qualquer grupo
ou sociedade [...]”. (CALEGARI-FALCO;FRANCHETTI,
2005, p. 46).
A sociedade, no pensamento de Durkheim, prepondera
sobre os indivíduos, e a coesão entre eles só é
alcançada através da solidariedade, que pode ser
mecânica ou orgânica.
- solidariedade mecânica: ocorre em sociedades
primitivas, nas quais ainda não ocorreu a divisão
econômica do trabalho e ainda não surgiu a
propriedade privada; nesse tipo de sociedade, a
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consciência dos indivíduos é semelhante, e a
solidariedade ocorre por conta dessa semelhança
compartilhada;
- solidariedade orgânica: caracteriza as sociedades
modernas (divisão do trabalho e propriedade privada);
a complexidade dessas sociedades possibilita maior
desenvolvimento das individualidades, no entanto, a
solidariedade entre eles não é menor, pois todos
fazem parte de um mesmo “corpo”, sendo
interdependentes (os indivíduos são como órgãos que,
com suas funções distintas, precisam funcionar em
harmonia para o bem do corpo).
Continuando a comparação da sociedade com o
organismo vivo, Durkheim considera que existem:
- fatos sociais normais: são todos aqueles que estão
disseminados na sociedade e nela desempenham
função importante; EX.: o crime é um fato social
normal na medida em que serve para enfatizar
condutas que devem (ou não) serem seguidas.
- fatos sociais patológicos: são todos aqueles que
fogem ao controle da sociedade; EX.: o crime é um
fato social patológico na medida em que ocorre em um
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nível acima do aceito socialmente, gerando uma
situação de caos e ausência de controle.
* As paixões individuais devem ser contidas para que
não venham a abalar o equilíbrio do coletivo. Para
tanto, Durkheim propunha as:
- regras morais: implicam a noção de dever para
com os outros; pressupõem que os indivíduos não
nortearão suas atitudes pelos impulsos egoístas, mas
sim pela noção de solidariedade.
DURKHEIM E A EDUCAÇÃO
* Função social da Educação
Segundo Calegari-Falco e Franchetti (2005, p. 51), em
Durkheim a educação “[...] é fundamental para
manter a coesão social, na medida em que, desde
criança, o ser humano adquire os hábitos que são
comuns na sociedade. [...] Pela educação, para que
possa crescer em sociedade, os fatos exteriores ao
indivíduo precisam ser internalizados por ele desde a
infância, ou seja, a educação serve para socializar a
criança”.
* Para Durkheim, existem 2 indivíduos em cada ser
humano: o ser individual e o ser social. O primeiro
é composto pela personalidade, pelos estados mentais
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particulares; o segundo, é formado por idéias, hábitos
e valores socialmente construídos e introjetados. A
Educação deve voltar-se à construção do SER SOCIAL,
ou seja, em síntese:
“[...] o homem que a educação deve realizar, em cada
um de nós, não é o homem que a natureza fez, mas o
homem que a sociedade quer que ele seja; [...]”.
(DURKHEIM apud CALEGARI-FALCO; FRANCHETTI,
2005, p. 52).
2. 3. KARL MARX (1818-1883): EDUCAÇÃO E
TRABALHO
* Marx foi um dos mais importantes pensadores do
século XIX. Fundou um método de análise da história
humana – o materialismo histórico e dialético – que
inspiraria, em sua época e posteriormente, inúmeras
ações políticas de cunho revolucionário;
* materialismo histórico e dialético: ao longo da
história, toda sociedade, caracterizada pelo modo de
produção da sua vida material, gera em seu seio as
contradições que levarão ao seu fim e ao surgimento
de um outro tipo de sociedade (novo modo de
produção);
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* A importância de estudar o pensamento de Marx, no
âmbito da Sociologia, reside justamente no fato de ele
ter criado uma explicação para o desenvolvimento da
sociedade ao longo da História (modos de produção).
Objetivo do estudo da sociedade, para Marx:
Dominar a teoria para dirigir a prática. O contexto em
que escreve é revolucionário. Marx se debruça, em
suas análises, sobre a sociedade capitalista, com o
objetivo de superá-la.
“[...] o conhecimento da realidade social deve se
converter em um instrumento revolucionário, capaz de
orientar os grupos e as classes sociais para a
transformação da sociedade.” (SANTOS; BENEDICTO,
2005, p. 60).
* Diferentemente de Durkheim, Marx não via na
divisão do trabalho no sistema capitalista uma forma
de solidariedade entre os homens, e sim uma das
formas pelas quais se realizava a exploração de uma
classe (proletariado) pela outra (burguesia) e,
consequentemente, se criavam antagonismos
insuperáveis, como a riqueza de poucos e a extrema
pobreza de muitos. Diante dessa contradição, caberia
ao proletariado a responsabilidade de destruir o
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capitalismo, através da tomada do poder, e de
construir o comunismo;
* Desse modo, a análise sociológica feita por Marx
“[...] cumpriu o papel de demonstrar e desvendar a
essência das relações capitalistas, analisando os seus
aspectos fundamentais sempre na direção
superadora”. (SANTOS; BENEDICTO, 2005, p. 62).
Trabalho e Conhecimento em Marx
* O trabalho ocupa posição central no pensamento de
Karl Marx. É através do trabalho (produção material),
segundo esse autor, que o homem faz o intercâmbio
com a natureza e com os outros homens (relações
sociais de produção). É a forma de organização do
trabalho pelo homem que determina o tipo de
organização da sociedade (modos de produção:
escravista = trabalho escravo; feudal = servidão;
capitalista = trabalho assalariado).
* Na sociedade capitalista, que Marx busca entender,
a propriedade privada dos meios de produção (terras,
fábricas, maquinários) fez surgir a seguinte divisão do
trabalho: trabalho manual e trabalho intelectual.
Essa divisão se concretiza no ato de “isolar os
responsáveis pela concepção e criação daqueles que
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simplesmente executam o trabalho. [...] O operário
perde a relação existente entre conhecimento e
trabalho. A esse processo de separação entre pensar e
executar, somado à apropriação dos resultados do
trabalho pelo capitalista [mais-valia], Marx chamou de
alienação.” (SANTOS; BENEDICTO, 2005, p.65).
* TRÊS TIPOS DE ALIENAÇÃO
- da natureza: o homem se “coisifica” ao transformar
sua força de trabalho em mercadoria e ao desconhecer
o produto de seu próprio trabalho (afinal, é através de
sua produção material que ele conhece e se relaciona
com o mundo e com os homens).
- de si mesmo: o trabalho deixa de ter como finalidade
a relação com o mundo, e passa a ser um sofrimento
imposto como meio de sobrevivência.
- da espécie: o trabalho deixa de ser um vínculo do
homem com a humanidade, passando a ser um meio
individual de garantir a própria sobrevivência.
* Segundo Marx, as instituições sociais (família,
escola, leis, meios de comunicação, etc.) estão
impregnadas pela ideologia capitalista, acentuando a
alienação;
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* A EDUCAÇÃO, do modo como está organizada na
sociedade capitalista, serve, segundo Marx, “[...] como
um elemento de manutenção da hierarquia social e da
hegemonia ideológica da burguesia”. (SANTOS;
BENEDICTO, 2005, p. 66). ESCOLA COMO APARELHO
IDEOLÓGICO DO ESTADO (Althusser).
PROPOSTA DE MARX PARA A EDUCAÇÃO
* Embora não tenha escrito muito sobre o assunto,
Marx apresentava uma concepção de educação, que
transpareceu em algumas de suas obras. Para esse
autor, uma das formas de emancipar o ser humano e
livrá-lo da alienação, seria integrar instrução
intelectual e trabalho – o que ele chamou de ensino
politécnico ou formação omnilateral. Tal ensino se
constituiria em:
1) instrução intelectual;
2) educação física;
3) treinamento tecnológico, que transmita os
fundamentos científicos gerais de todos os processos
de produção (observar que, no século XIX, esses
processos eram bem menos complexos e variados).
“O processo de ensino e aprendizagem começaria na
infância, tendo por base que a educação é para todos
e gratuita. Portanto, o ensino intelectual (cultura
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geral), o desenvolvimento físico (ginástica e esporte) e
o aprendizado profissional polivalente (técnico e
científico) comporiam o novo ensino formal que
contribuiria para a construção de um mundo não mais
mediado pela propriedade privada.” (SANTOS;
BENEDICTO, 2005, p. 67).
* Nesse sentido, a educação tem, em Marx, um
grande potencial transformador, desde que ela
abandone a formação unilateral e alienante proposta
pela burguesia e adote o caráter totalizante produzido
pela união entre conhecimento e trabalho (trabalho
intelectual e trabalho manual).
3. ANÁLISE SOCIOLÓGICA DAS TRANSFORMAÇÕES
NO MUNDO CAPITALISTA GLOBALIZADO:
TECNOLOGIA, TRABALHO E EDUCAÇÃO
Os pensadores clássicos aqui trabalhados são fontes
inesgotáveis de conhecimento para pensar a
contemporaneidade, mas a complexidade e incerteza
que vivenciamos parece não condizer mais com
muitos dos conceitos por eles elaborados. Hoje, faz-
se necessário considerar novas questões postas à
sociedade, tais como: a globalização, o avanço das
tecnologias e sua influência na comunicação e nas
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relações humanas, a crise no mundo do trabalho.
Compreender todas essas mudanças exige uma
Sociologia “plural”. Plural, porque o novo estágio do
capitalismo, e a globalização a ele atrelada,
mostram-nos um mundo interconectado por meio de
uma tecnologia que chega a todos os lugares,
penetrando em todos os domínios, de tal forma que
a Sociologia sozinha não pode mais dar conta de seu
objeto. Torna-se indispensável recorrer à
interdisciplinaridade, ou seja, buscar o auxílio de
outras disciplinas (filosofia, psicologia, antropologia,
etc.) para se entender as transformações sociais e
propor caminhos.
3.1 AS TECNOLOGIAS DA MODERNIDADE E A
SOCIEDADE TECNOLÓGICA
* A partir de fins do século XX: os meios de
comunicação de massa contribuíram para um “mundo
sem fronteiras”, no que diz respeito a uma nova forma
de circulação de idéias, imagens, informações. O
sistema de comunicação que antes era dominado pela
tipografia e pelo alfabeto é deixado para trás. Emerge
uma realidade caracterizada pela estimulação sensorial
da realidade e fácil comunicabilidade, mas que leva a
um menor esforço psicológico. A televisão e a Internet
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contribuem amplamente para o confinamento das
pessoas em casa, para a crise das relações
interpessoais. As fronteiras se alargam, mas o homem
se fecha em casa, imerso na solidão.
* Esse processo de globalização de informações e
imagens, deu-se concomitantemente à globalização da
economia, caracterizada pelo “capital sem fronteiras”
(multinacionais, como as automobilísticas, por ex.).
* A interação da tecnologia com a economia global e a
política mundial, concretizou um novo estilo de
produção material e de comunicação, desembocando
na sociedade tecnológica ou sociedade em rede dos
anos 90.
* O advento da proliferação de armas químicas e
nucleares, do massacre ao meio ambiente, da
deteriorização da vida social e o papel vital dos meios
de comunicação nas relações sociais, ajudaram a
produzir uma desconfiança em relação às ideologias do
progresso (positivismo, marxismo) e uma incerteza
sobre o futuro.
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3.2. QUAL A SITUAÇÃO DO TRABALHO NA SOCIEDADE
TECNOLÓGICA?
* O desenvolvimento do sistema capitalista
consolidou, ao longo da História, o TRABALHO como o
centro da vida social: “[...] como motor da sociedade,
como base da dignidade, satisfação e liberdade
humana, como possibilidade de ascensão social”.
(CALEGARI-FALCO; FRANCHETTI, 2005, p. 89). A
participação no mundo do trabalho é entendida como
garantia de cidadania e, a exclusão desse mundo, é
vista como marginalização.
* Desde o avanço tecnológico, principalmente nos
campos da informatização e da robótica, iniciou-se
uma lenta, mas constante, substituição da mão-de-
obra humana pela artificial. A conseqüência, em longo
prazo, é o estabelecimento de uma situação de
desemprego estrutural, atingindo países desenvolvidos
e subdesenvolvidos. A cada dia os trabalhadores
tornam-se menos necessários. Além de substituir a
força física humana, a tecnologia promete também
substituir a mente humana.
CONTRADIÇÃO
O próprio trabalho do homem criou máquinas cada vez mais eficazes em relação à produtividade, as
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quais substituíam, de forma crescente, o trabalho humano. Hoje nos deparamos com um avanço tecnológico impressionante a ponto de parecer trilhar seu destino independente da grande maioria dos homens, os quais, por sua vez, ficam subtraídos de um emprego bem remunerado, que lhes forneceria direitos, e, principalmente estabilidade. (CALEGARI-FALCO; FRANCHETTI, 2005, p. 92).
* Uma outra contradição a ser destacada é a seguinte:
embora o mundo do trabalho esteja em crise, a rápida
mutação dos processos produtivos exige uma mão-de-
obra qualificada, que se disponha a aprender e a
inovar constantemente.
* Atualmente, com os Programas de Qualidade
Total, só estão aptos ao trabalho os indivíduos
capazes de: 1) aprender constantemente; 2) trabalhar
em equipe; 3) ter visão geral;
3. 3. EDUCAÇÃO E TRABALHO NA SOCIEDADE TECNOLÓGICA
* O Brasil encontra-se inserido no atual contexto de
globalização da economia e de avanço tecnológico,
que, como vimos, gera a cada dia inúmeras mudanças
no mundo do trabalho, tais como: o surgimento de
novas profissões e o desaparecimento de outras; a
27
substituição do trabalho humano pela máquina e o
conseqüente desemprego, a exigência de aprendizado
constante. A Profa. Eloíza Elena da Silva, no capítulo 2
do livro 10, partindo desse contexto, analisa a função
atualmente atribuída à Educação escolar pelo senso
comum, e a correspondência ou não dessa função às
reais possibilidades da Escola.
* Senso comum: a educação é o fator chave do
sucesso dos indivíduos, portanto possui o poder de
transformar a realidade;
* Crítica da autora: essa noção está baseada no
princípio de igualdade entre os homens; se todos têm
direito à educação, o fracasso passa a ser visto
unicamente como resultado da incompetência do
indivíduo, não se levando em conta outros fatores
(condição social, acesso aos bens culturais,
preconceitos, discriminações, etc.).
* A educação assume, no senso comum, uma forma
redentora; assume o poder de realizar transformações
no indivíduo e na sociedade, independentemente dos
outros condicionantes sociais.
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EDUCAÇÃO E TRABALHO
Analisando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB 9.394/96), de 1996, percebemos que a educação
e o trabalho aparecem interligados.
“A educação, dever da família e do Estado, inspirada
nos princípios de liberdade e de solidariedade humana,
tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996, p. 5).
* A idéia de que a educação deve formar o homem
para o trabalho foi influenciada pelo ideário liberal do
século XVII, que afirmava que a venda da força de
trabalho é o que permite ao indivíduo adquirir a
propriedade de quaisquer bens.
* Tal concepção ainda vigora: encontram-se à nossa
disposição uma infinidade de bens e serviços, dos
quais só podemos usufruir se pagarmos, e só teremos
dinheiro para tanto se trabalharmos;
ESTAR DISPONÍVEL NÃO SIGNIFICA SER ACESSÍVEL.
* Em nossa sociedade, que relaciona diretamente
EDUCAÇÃO e TRABALHO, dar acesso à educação
significa, ao menos teoricamente, dar aos homens a
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possibilidade de “capacitar” sua força de trabalho, que,
bem remunerada, propicia o acesso ao consumo. O
sucesso ou não nessa “empreitada”, é de
responsabilidade apenas do indivíduo.
* Segundo Eloíza Elena da Silva, é preciso questionar
essa estreita relação entre educação e trabalho,
especialmente no atual contexto, em que o mundo do
trabalho vem sofrendo constantes mudanças. Não se
pode mais ignorar a contradição em que se encontra a
sociedade capitalista, que pressupõe o trabalho
humano como principal fonte de riqueza, mas está
cada vez mais prescindindo dele (como consumir as
mercadorias produzidas pelo capitalismo, se o
trabalho, que garante o salário, está cada vez mais
escasso?).
* Em nossos dias, grande parcela da classe
trabalhadora sente o impacto da diminuição das
ofertas de emprego. Cada vez mais, o
desenvolvimento da tecnologia propicia a substituição
do trabalho humano pelas máquinas. Essa situação
leva a um aumento do desemprego. Tal cenário é
duplamente terrível para os trabalhadores: eles
competem com as máquinas e com a massa de
desempregados que disputam as poucas vagas de
trabalho disponíveis.
30
* Diante dessas constatações, e tendo em vista que,
no atual estágio do capitalismo, uma boa qualificação
profissional já não é garantia de oportunidades
efetivas de emprego, faz-se indispensável refletir
criticamente sobre a concepção de educação do senso
comum e estabelecer novos fins e objetivos para uma
EDUCAÇÃO MAIS CONDIZENTE COM A REALIDADE.
* Conforme palavras da própria autora:
“Faz-se necessário libertar a educação
institucionalizada do estigma de redentora social, para
que se possam buscar soluções para as crises sociais
consideradas como totalidade, pois a escola não tem em
si mesma o poder de resolver tais crises. A educação
carece sim de novos fins e objetivos para sua existência,
dentro do contexto social e não como curativo para seus
males.” (SILVA, p. 30).
3. 4. AS FUNÇÕES SOCIAIS DA ESCOLA E DO PROFESSOR NA ATUALIDADE
* Diante da situação de transformações e crises da
sociedade capitalista atual, atribui-se à educação a
responsabilidade de formar e educar o indivíduo
conforme as demandas da sociedade do
31
conhecimento. Isso porque a escola, desde a sua
origem, sempre esteve em função das necessidades
postas aos homens pelo próprio processo de produção.
* Maria Eunice Volsi destaca, no capítulo 5 do livro 10,
alguns estudiosos da educação e da sociedade
contemporânea que definem a função e/ou papel que
a escola deve desempenhar.
- José Carlos LIBÂNEO:
• Preparar as novas gerações para enfrentamento
das exigências postas pela sociedade moderna;
• Ajudar os alunos a tornarem-se sujeitos
pensantes, capazes de construir categorias de
compreensão e apropriação crítica da realidade;
• Propor respostas educativas e metodológicas em
relação às novas exigências de formação posta
pela realidade contemporânea como a
capacitação tecnológica, a diversidade cultural, a
alfabetização tecnológica, a superinformação, o
relativismo ético, a consciência ecológica, etc.
- Dermeval SAVIANI:
• Reorganizar o trabalho educativo, levando em
conta o problema do saber sistematizado, a partir
32
do qual se define a especificidade da educação
escolar;
- Pedro DEMO:
• Assumir a condição de lugar de formação de um
tipo essencial de competência frente à formação
da cidadania e frente às mudanças na sociedade
e na economia;
- M. BEHRENS:
• Apresentar-se como um ambiente inovador
transformador e participativo, no qual os alunos e
os professores sejam reconhecidos como sujeitos
capazes de inovar e de produzir conhecimento;
***
* Gislaine Dalcolle e Maria Eunice Volsi, no capítulo 6
do livro 10, propõem aos seus leitores que façam
uma reflexão sobre essas funções atribuídas à escola e
sobre um novo conceito de educação. Todavia, elas
nos chamam a atenção para a importância de também
refletirmos sobre o papel do professor na sociedade
globalizada e tecnológica (pós-moderna).
33
* Funções atribuídas ao professor hoje: A) dominar o
conteúdo exigido; B) aplicá-lo satisfatoriamente (levar
ao aprendizado do aluno); C) converter o constante
processo de transformações sociais em situações de
aprendizagem; D) ajustar sua didática às novas
tecnologias; E) formar um indivíduo autônomo,
criativo, crítico, capaz de participar ativamente na
construção do conhecimento; F) “formar o caráter e o
espírito das novas gerações” (segundo Jacques Delors
em relatório para a UNESCO);
* Algumas considerações devem ser feitas a respeito
dessa questão:
1) os professores não têm recebido formação
adequada às funções que dele vem se exigindo, até
porque há uma distância entre o aprendizado
universitário e aquilo que se exige nas escolas;
2) para que o professor tenha condições de realizar
tais funções, faz-se necessário também: a valorização
social do professor (ela só existe no discurso); a
melhoria de sua remuneração; a diminuição de sua
carga de trabalho; a garantia de melhores condições
de trabalho (salas menos numerosas, adequação do
espaço físico, acesso à tecnologia, etc.);
34
* Exige-se que a escola ofereça ensino e
aprendizagem eficiente e de qualidade, esquecendo-se
de que o que faz a qualidade de uma escola é, em
grande parte, o seu material humano (professores e
funcionários), que deve ser capacitado, valorizado e
bem remunerado, o que não vemos acontecer;
“A nova sociedade que desponta necessita de pessoas
críticas, criativas, flexíveis, que tenham consciência da
necessidade e da importância do aprendizado
constante.” (DALCOLLE; VOLSI, 2005, p. 74);
* No entanto, para se ter professores aptos a
enfrentar os desafios da “sociedade do conhecimento”,
tornam-se indispensáveis:
• Qualidade formal: boa e adequada formação do
professor;
• Qualidade política: valorização do profissional da
educação;
* DALCOLLE e VOLSI concluem a reflexão, destacando
que: “[...] para que essa situação se concretize seria
necessário o desenvolvimento de políticas para
formação de professores diferentes das que vêm
sendo encaminhadas nos últimos tempos. Não temos
nessas políticas a perspectiva de uma formação que
35
contemple a qualidade formal e política [...],
capacitando os profissionais para que, em sua prática
social, possam buscar caminhos para a transformação
da sociedade”. (p. 75).
4. DOIS ESTUDOS DE SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO: AS
TEORIAS EDUCACIONAIS E A QUESTÃO DO
CURRÍCULO NO BRASIL
Os últimos capítulos, tanto do livro 9 – Sociologia da
Educação: múltiplos olhares – quanto do livro 10 –
Sociologia da Educação: olhares para a escola de
hoje – trazem-nos discussões que podem ser
inseridas no âmbito da Sociologia da Educação, e,
portanto, servem para refletirmos sobre as
contribuições que a Sociologia pode trazer às nossas
práticas pedagógicas.
4.1. AS PRINCIPAIS TEORIAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
Fazendo uma análise sobre as teorias da educação que
fundamentaram e/ou fundamentam as práticas
pedagógicas dos professores brasileiros, Aparecida M.
Calegari-Falco e Érica M. O. Itoda, fazendo uso das
idéias de Dermeval Saviani, afirmam que as principais
teorias dividem-se em dois grupos: “teorias não-
36
críticas” (tradicional; nova; tecnicista) e “teorias
críticas” (divididas em 2 grupos: crítico-reprodutivistas
e crítica da resistência).
Teorias não-críticas
- não colaboram com a transformação social;
- consideram que a função da educação é corrigir o
homem que não se enquadra na ordem estabelecida
(burguesa);
Pedagogia Tradicional
- Não propõe crítica à sociedade: a educação
padroniza os indivíduos, para que eles apenas
reproduzam o conhecimento adquirido através da
figura central do professor.
- Não favorece, portanto, o desenvolvimento
autônomo, pois forma homens obedientes, que não
conhecem suas determinações históricas.
- Contribui desse modo, para a consolidação da
burguesia como classe dominante.
- Todavia, como aponta a educação como remédio
para todos os males e a coloca como direito de todos,
torna-se até certo ponto democrática.
Pedagogia Nova
- A partir de fins do século XIX e início do século XX, a
pedagogia tradicional foi considerada incapaz de
37
cumprir seu papel: igualar a todos. Dentre as críticas,
emergiu uma nova teoria: A Escola Nova ou Pedagogia
Nova. Nomes importantes: Maria Montessori (1870-
1952) e John Dewey (1859-1952).
- No Brasil, os princípios da Escola Nova foram
defendidos no Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova (1932).
- Embora também afirmem que cabe à educação
corrigir as diferenças sociais, criticam o pressuposto
da igualdade entre os homens. O novo discurso é de
aceitação das diferenças individuais e do trabalho com
a subjetividade;
- O professor deixa de ser o centro; os instrumentos
fundamentais passam a ser o ambiente e a
organização da aula.
- Essa proposta também não venceu as
desigualdades: o custo para manutenção de tal escola
era muito alto, restringindo-se às instituições
privadas;
- Mostrou-se ineficaz, uma vez que sua prática só
favoreceu níveis mais altos da sociedade.
Pedagogia Tecnicista
- A partir da 2ª metade do século XX, especialmente
após o Golpe Militar, o Brasil passa por um processo
marcante de industrialização, o que leva à adoção da
pedagogia tecnicista.
38
- Ensino técnico, cujo enfoque é a padronização. O
objetivo é formar pessoas eficientes e produtivas.
Teorias Críticas
- Nega a idéia de que a educação é garantia da
igualdade e da universalidade do conhecimento, à
medida que se torna evidente que nem todos
conseguem ingressar no ensino ou, ainda, que nem
sempre alcançam o êxito prometido.
- Teorias críticas surgem a partir da
compreensão sociológica que leva em conta as
lutas de classe (CONTRADIÇÕES SOCIAIS).
Teorias Crítico-Reprodutivistas
- Afirmam que a escola tem suma importância na
reprodução da cultura dominante, e é utilizada para
isso, pois abriga muita gente, por muito tempo;
- Apresentam a escola como instituição subordinada à
sociedade vigente, portanto, sem capacidade de
promover uma transformação social;
- Mérito dessas teorias: analisar, criticar e teorizar a
função social da escola na sociedade capitalista;
- Henry Giroux distingue duas variações da teoria
crítico-reprodutivista: 1. a teoria da reprodução social
(Louis Althusser); 2. a teoria da reprodução cultural
(Bourdieu e Passeron).
39
TEORIAS DE REPRODUÇÃO SOCIAL
- Louis Althusser, no livro A ideologia e os aparelhos
ideológicos de Estado, afirma que a escola, a religião,
a família e a mídia, dentre outras instituições,
constituem aparelhos ideológicos do Estado, por
englobarem as massas. Não desafiam o capitalismo.
São meios tão engendrados de disseminação da
ideologia dominante, que sua alteração é praticamente
impossível.
TEORIAS DA REPRODUÇÃO CULTURAL
- Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, na obra A
reprodução, enfatizam o aspecto cultural da luta de
classes: a cultura ensinada na escola é a dominante,
em detrimento da cultura popular, considerada
inferior. A cultura dominante é imposta e esta
imposição é vista como natural, pois a escola é
entendida tradicionalmente como o lugar de
transmissão da cultura necessária para a ascensão
social dos indivíduos.
Teoria Crítica da Resistência
- A educação é vista como um agente reprodutor da
ordem vigente, mas que também comporta a
possibilidade de transformação social ao dar às classes
populares instrumentos de conscientização. A escola,
40
ao mesmo tempo, reproduz e resiste. Calegari-Falco e
Itoda destacam dois autores:
Paulo Freire – Conscientizar para mudar e mudar
para transformar
- “A educação para Freire não é apenas ensinar a ler e
a escrever: é criar condições para que a massa possa
ter uma participação crítica na sociedade” (p. 121).
- A mudança social só poderá ocorrer se, antes,
houver uma tomada de consciência por parte do povo.
- O papel do professor é instigar essa mudança por
meio do diálogo, contextualizando politicamente o
processo educativo.
Dermeval Saviani: a pedagogia histórico-crítica
(ou pedagogia crítico-social dos conteúdos)
- Para Saviani, “[...] a função primordial da educação
é a transmissão de conhecimentos historicamente
acumulados a todos os grupos sociais”. (p.122).
- A educação deve permitir que o aluno, de qualquer
classe social, “[...] adquira o conhecimento total e
tenha acesso a todas as visões possíveis de um
mesmo conteúdo”. (p. 122).
- O aluno deve ter o direito de conhecer como se
produz, histórica e socialmente, o conhecimento. Deve
41
ser conscientizado de que qualquer assunto tratado na
escola tem origem na sociedade e influencia nas
práticas sociais. Deve, ainda, reconhecer-se como
sujeito dessas práticas e, portanto, buscar ser um
cidadão crítico e reflexivo.
- NÃO se preocupa estritamente com a transformação
social, pois considera que uma postura crítica dos
indivíduos acaba auxiliando, conseqüentemente, nessa
transformação.
4. 2. Sociologia da Educação e a questão
curricular no Brasil
* A nova Sociologia da Educação, representada por
autores como Henry Giroux e Michael Apple, partindo
da concepção de que a sociedade atual utiliza-se da
reprodução ideológica e cultural para manter o status
quo, considera que as escolas ao reproduzirem a
cultura dominante, preservam as desigualdades
sociais. Nesse caso, a escola repassa a ideologia
dominante por meio de seu currículo. Daí a
importância, para os profissionais da educação, de
estudar as teorias curriculares;
* Início do século XX: surgem as teorias curriculares
embora questionamentos como “que tipo de homem
formar?” e “quais conteúdos ensinar?” sejam bem
anteriores.
42
* Definição de Currículo: constitui-se em uma
elaboração conjunta da escola (corpo administrativo,
docentes, pais), que expressa o entendimento dessa
coletividade sobre o homem, a sociedade e a
educação.
* Para que ocorra a efetivação de um currículo, faz-se
necessário que os professores estejam de acordo com
a filosofia educacional que ele apresenta; caso
contrário, pode haver resistência à sua
implementação;
* Além disso, o currículo pode ser consistente, ou
seja, seguido coerentemente, ou inconsistente –
apresentar uma teoria, que não encontra na prática
escolar a sua efetivação. Sua inconsistência está
ligada ao currículo oculto. Para entendermos o que é o
currículo oculto, devemos tecer algumas considerações
sobre as várias teorias curriculares;
TEORIAS CURRICULARES
* Currículo tradicional: tanto a escola quanto o
currículo são vistos como NEUTROS. Não discute
relações de poder e ideologia, não relacionando
criticamente a educação com as demandas políticas
econômicas.
* Currículo crítico: surge na década contestadora de
1960. É defendido por uma corrente crítica de
estudiosos, que discute os meios de manutenção da
classe dominante. Tal corrente, conhecida como Nova
43
Sociologia da Educação, contesta posições até então
naturalizadas:
- questiona a identidade e a função do homem que se
está formando. Procura desvendar mecanismos de
dominação existentes no currículo.
- analisa a existência do chamado “currículo oculto”:
“algo que não é explicitado, mas acontece
silenciosamente por meio de atitudes já inculcadas na
prática e na atuação do professor” (CALEGARI-FALCO;
ITODA, 2005, p. 113). O professor, conscientemente
ou não, privilegia, em seus discursos e ações, certas
idéias e atitudes, que não condizem com os ideais
presentes no currículo. O comportamento do professor
tem mais peso, para os alunos, do que palavras
escritas em um documento.
REFLEXÃO: o professor deve estar sempre
repensando suas práticas pedagógicas, amparado nas
teorias críticas e no projeto que a escola pretende
consumar.
* Currículo pós-crítico: também chamado de
currículo multiculturalista. A intenção é trazer para o
universo escolar as diversas culturas, e não apenas a
cultura dominante. Fundamenta-se na perspectiva
pós-moderna e na existência de inúmeras verdades
44
(não há verdade, mas pontos de vista diferentes sobre
um mesmo objeto). Apresenta duas correntes:
** multiculturalismo humanista: aceita o outro por
considerá-lo exótico; aceita a cultura do outro se
enclausurada no seu próprio meio. Essa é a concepção
predominante nos livros didáticos brasileiros. Possui
quatro vertentes:
1. multiculturalismo reparador: estuda a cultura do
outro apenas com a intenção de compensá-lo por
prejuízos causados pelo discurso dominante. Ex.
negros.
2. folclorismo: as diferenças culturais são
apresentadas como “curiosidades”, sem explicações
políticas.
3. reducionismo identitário: reduz-se todo um povo a
um aspecto cultural, como se todos fossem
possuidores da mesma identidade, dos mesmos
valores, da mesma cultura.
4. guetização cultural: oferece-se espaço para
discussão política de um determinado grupo social.
Porém, a “verdade” de tal grupo é aprendida sem que
se faça relação com as demais verdades.
45
** Corrente crítica da teoria curricular
multiculturalista: divide-se em duas concepções:
1. a pós-estruturalista: acredita que as diferenças são
produzidas nos discursos; não existe “a” verdade,
mas, versões de verdades passíveis de discussão.
Conduz a três compreensões das relações sociais:
pode-se chegar a um relativismo; pode-se assumir
uma posição etnocêntrica; concebe-se o poder como
algo ramificado, e não hierárquico.
2. a materialista: O foco das desigualdades culturais
não está no discurso, mas nas relações econômicas
que o produzem.
5. PROPOSTA DE REFLEXÃO: COMO A SOCIOLOGIA
PODE CONTRIBUIR PARA AS DISCUSSÕES DO CAMPO
EDUCACIONAL?