Palestra Yuri Bezmenov

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    A subverso nos pases-alvo

    da extinta Unio SoviticaPalestra de um ex-agente do KGB, Yuri Alexandrovitch Bezmenov (Tomas D.Schuman) (1939 1993), proferida na Summit University, em Los Angeles,Califrnia, em 1983.

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    ubverso o termo. Se virem no dicionrio ou no cdigo penal deste assunto, normalmente explicado como uma parte de uma atividade para destruir

    coisas como religio, Governo, sistema, sistema poltico-econmico de umpas; e, normalmente, ligado a espionagem e coisas romnticas, como explodirpontes, descarrilar comboios, atividade capa e espada no estilo Hollywood; quando oque vou falar a respeito, agora, no tem absolutamente nada a ver com o clich deespionagem ou da atividade do KGB de coletar informao.

    Ento, o maior erro ou conceito errado (acho eu) que, quando estamos a falar

    de KGB, por alguma razo estranha, de produtores de Hollywood a professores decincia poltica e especialistas em assuntos soviticos (kremlinlogos, como seautodenominam), acham que a coisa mais desejvel para Andropov e todo o KGB roubar o esquema de algum jato supersnico, traz-lo de volta para a Unio Soviticae vend-lo para o complexo industrial militar sovitico. apenas em parte verdadeiro.

    Se tomarmos todo o tempo, dinheiro, e mo de obra que a Unio Sovitica e oKGB em particular gasta fora das fronteiras da Unio Sovitica, descobriremos (claroque no h estatsticas oficiais, ao contrrio da CIA ou do FBI) que a espionagemcomo tal ocupa apenas 10[%] a 15% do dinheiro, tempo e mo de obra. 15% daatividade do KGB. Os 85% restantes so sempre subverso. E ao contrrio de um

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    dicionrio de ingls (dicionrio Oxford), subverso, na terminologia sovitica, significasempre uma atividade distratora e agressiva, visando destruir o pas, nao ou rea

    geogrfica do seu inimigo. Ento, no h romnticos l, de forma alguma. Nada deexplodir pontes, nada de microfilmes em latas de Coca-Cola, nada desse gnero!Sem nonsense James Bond!

    A maior parte. Esta atividade aberta, legtima e facilmente observvel, se vocsse derem ao tempo e trabalho de observ-la; mas, de acordo com a lei e sistemasfiscalizadores da civilizao ocidental, no crime! Exatamente por causa do conceito

    errado manipulao de termos , achamos que o subversor uma pessoa que vaiexplodir as nossas lindas pontes! No! Subversor um estudante que vem paraintercmbio, um diplomata, um ator, um artista, um jornalista (como eu fui h dezanos)

    Bem, subverso uma atividade que uma estrada de dois sentidos. Vocs nopodem subverter um inimigo que no quer ser subvertido. Se conhecerem a histriado Japo, por exemplo: Antes do sculo XX, o Japo era uma sociedade fechada. Nomomento em que um barco estrangeiro chegava s margens do Japo, o exrcitoimperial japons, educadamente, mandava-o desaparecer. E se um vendedoramericano chega s margens do Japo, (digamos) uns 60, 70 anos atrs, e diz: Oh,

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    eu tenho um aspirador de p muito lindo para si! Sabe, com um bomfinanciamento.... Por favor, deixe-nos. No precisamos do seu aspirador. Se no

    forem embora, eles atiram, para preservar a sua cultura, ideologia, tradio, valores,intactos! Vocs no foram capazes de subverter o Japo. No podem subverter aUnio Sovitica, porque as fronteiras esto fechadas, a comunicao social censurada pelo Governo, a populao controlada pelo KGB e polcia interna. Comtodas as lindas figuras lisas da revista Time e Magazine America, que publicadapela embaixada americana em Moscovo, vocs no podem subverter os cidados

    soviticos porque a revista nunca chega aos cidados soviticos. Ela coletada dasbancas e lanada na lata de lixo.

    A subverso s pode ser bem sucedida quando o iniciador, o ator, o agente dasubverso, tem um alvo que responde. um trfego de dois sentidos. Os EstadosUnidos so um alvo recetivo de subverso. No h resposta similar dos EstadosUnidos Unio Sovitica. Ela para em algum lugar no meio do caminho; nunca chegaaqui.

    A teoria da subverso remonta a 2500 anos atrs. O primeiro ser humano queformulou as tticas de subverso foi um filsofo chins chamado Sun Tzu (500 a. C.).Foi um conselheiro para vrias cortes imperiais na China antiga. E ele disse (aps

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    longa meditao) que, para implementar poltica estatal de uma maneira belicosa, mais contraprodutivo, brbaro e ineficiente lutar num campo de batalha.

    Sabem que a guerra a continuao da poltica estatal. (Certo?) Ento, sequerem implantar com sucesso a sua poltica estatal e comear a lutar, esta amaneira mais idiota de fazer. A mais alta arte da guerra no chegar a lutar; massubverter qualquer coisa de valor no pas do seu inimigo, at ao momento em que aperceo da realidade do seu inimigo deteriora a ponto de ele no o perceber a sicomo um inimigo e em que o seu sistema, a sua civilizao e as suas ambies

    parecem ao seu inimigo uma alternativa se no desejvel, ento ao menos factvel.Antes vermelho que ser morto. Esse o propsito final, a etapa final da subverso,aps a qual vocs podem simplesmente dominar o seu inimigo sem disparar um tiro,se a subverso for bem sucedida. Isto basicamente o que a subverso.

    Como podem ver, nenhuma meno a explodir pontes. Claro que Sun Tzu nosabia muito sobre explodir pontes. Talvez no houvesse tantas pontes naquelapoca!

    Mas o bsico da subverso est sendo ensinado a todo o aluno da escola doKGB, na Unio Sovitica, e a oficiais de academias militares. No sei se o mesmoautor est includo na lista de leituras para oficiais americanos, sem falar de

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    estudantes comuns de cincia poltica. Eu tenho dificuldade em encontrar a traduode Sun Tzu na biblioteca universitria em Toronto e depois aqui, em Los Angeles;

    mas um livro que no est disponvel. Ele forado para todo o estudante naUnio Sovitica, todo o estudante que se pensa que lidar mais na sua carreira comestrangeiros.

    O que subverso?

    Basicamente, consiste em 4 perodos, temporalmente. Se comearmos aqui eformos neste sentido no tempo (certo?), aqui o ponto inicial. A primeira etapa dasubverso o processo chamado basicamente desmoralizao. Diz por si o que .

    DESMORALIZAO

    Leva (digamos) de 15 a 20 anos para desmoralizar uma sociedade. Porqu 15 ou20 anos? Esse o tempo suficiente para educar uma gerao de estudantes oucrianas. Uma gerao. Um tempo de vida de uma pessoa, de um ser humano, que

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    dedicado a estudar, a formar a mentalidade, ideologia, personalidade. No mais, nomenos. Normalmente, leva de 15 a 20 anos.

    O que inclui? Inclui: Influenciar, ou (por vrios mtodos) infiltrao, mtodos depropaganda, contactos diretos (no importa muito; vou descrev-los depois), vriasreas onde a opinio pblica formada ou moldada: religio, sistema educativo,vida social, administrao, sistema fiscalizador legal (militar, claro) e relaesde trabalho (trabalhador) patro, economia. (OK?) Cinco reas. (No vouescrever porque no vamos ter espao suficiente.)

    s vezes, quando descrevo todos os mtodos, alunos perguntam-me: Tem acerteza de que isso o resultado da influncia sovitica? No, necessariamente.Vejam: a ttica da subverso sobre a qual estou a falar similar arte marcial, a artemarcial japonesa. Se alguns de vocs esto familiarizados com esta ttica,provavelmente vo-se lembrar de que se um inimigo maior, mais pesado que voc,seria muito doloroso resistir ao seu golpe direto. Se uma pessoa mais pesada mequer acertar no rosto, seria muito ingnuo e contraprodutivo eu parar o seu golpe. Aarte chinesa e japonesa do judo diz-nos o que fazer: primeiro, evitar o golpe, e entoagarrar o punho e continuar o seu movimento na direo em que estava antes,(certo?) at que o inimigo bata na parede. (Viram?)

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    Ento, o que acontece aqui: O pas-alvo, obviamente, faz algo errado. Se umasociedade livre, democrtica, h vrios movimentos diferentes dentro da sociedade.

    H, obviamente, em toda a sociedade, pessoas que so contra a sociedade.Podem ser criminosos comuns, em discordncia da poltica estatal; inimigosdeclarados; simples personalidades psicticas que so contra tudo... (Certo?) E,finalmente, h o pequeno grupo de agentes de uma nao estrangeira, comprados,subvertidos, recrutados. (Certo?) No momento em que todos estes movimentosestiverem direcionados numa direo (certo?), esta a hora de agarrar este

    movimento e continu-lo at que o movimento force a sociedade inteira aocolapso, crise. (Certo?) Ento, esta exatamente a ttica da arte marcial. Noparamos um inimigo; deixamo-lo ir, ajudamo-lo a ir na direo em que ns queremosque eles vo. (OK?)

    Ento, na etapa de desmoralizao, obviamente h tendncias em cadasociedade, em cada pas, que esto indo na direo oposta aos princpios e valoresmorais bsicos. Tirar vantagem destes movimentos, faturar em cima deles o maiorpropsito do originador da subverso.

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    Ento,1. Temos religio;

    2. Temos educao;3. Temos vida social;4. Temos estrutura de poder;5. Temos relaes de trabalho sindicatos;6. E, finalmente, temos lei e ordem. (OK?)Estas so as reas de aplicao da subverso.

    O que significa, exatamente?No caso da religio: Destrua-a. Ridicularize-a. Substitua-a por vrias seitas,

    cultos, que levam a ateno das pessoas, a f (seja ela ingnua, primitiva... noimporta muito), desde que o dogma religioso basicamente aceite seja erodido devagare levado para longe do propsito supremo da religio [que ] manter as pessoasem contacto com o Ser Supremo. Isto serve ao propsito. Logo, substitua asorganizaes religiosas aceites, respeitadas, por organizaes falsas. Distraia aateno das pessoas da f real e atraia-as a vrias fs diferentes.

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    Educao: Distraia-os de aprender algo que seja construtivo, pragmtico,eficiente. Em vez de matemtica, fsica, lnguas estrangeiras, qumica..., ensine-lhes a

    histria do conflito urbano, comida natural, economia domstica, a sua sexualidade...,qualquer coisa, desde que afaste. (OK?)Vida social: Substitua as instituies e organizaes tradicionalmente

    estabelecidas por instituies falsas. Tire a iniciativa s pessoas. Tire aresponsabilidade s ligaes naturalmente estabelecidas entre indivduos, grupos deindivduos e a sociedade como um todo e substitua-as por rgos artificialmente e

    burocraticamente controlados. Em vez de vida social e amizade entre vizinhos,estabelea instituies de assistentes sociais pessoas que esto na folha depagamento de quem? [Da] sociedade? No: Burocracia! A principal preocupao dosassistentes sociais no a sua famlia, no voc, no a relao social entregrupos de pessoas. A preocupao principal receber o cheque de pagamento doGoverno. Qual ser o resultado do servio social deles? No importa, realmente. Elespodem desenvolver todo o tipo de conceitos para mostrar ao Governo e ao povo queeles so teis. (OK.) Para longe dos elos naturais.

    Estrutura de poder: (OK.) Os rgos naturais de administrao quetradicionalmente so eleitos pelo povo em geral ou indicados pelos lderes eleitos da

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    sociedade so substitudos ativamente por rgos artificiais: rgos de pessoas,grupos de pessoas que ningum elegeu jamais! Na verdade, a maioria das pessoas

    no gosta deles de modo nenhum, mais ainda assim eles existem. Um destes grupos a comunicao social. Quem os elegeu? Como podem eles ter tanto poder, poderquase monopolista sobre a sua mente?! Eles podem violentar a sua mente! Masquem os elegeu? Como podem? Eles tm ousadia de dizer o que bom ou mau parao Presidente eleito por vocs e para o seu Governo. Que diabo so eles?! SpiroAgnew, que era odiado pela esquerda liberal, chamou-os de tropa de snobes

    despudorados, e exatamente o que so. Eles acham que sabem. No sabem! Onvel de mediocridade: Em grandes estabelecimentos como New York Times, LosAngeles Times, grandes redes de televiso, voc no tem de ser um jornalistaexcelente. Voc tem de ser exatamente um jornalista medocre. mais fcilsobreviver: No h mais concorrncia. Tem a sua bela e boa renda: 100 000 dlarespor ano. E pronto. Se melhor ou pior, no importa mais, desde que sorria para acmara e faa o seu trabalho. isso. No h mais concorrncia. Estrutura de poder lentamente erodida pelos rgos e grupos de pessoas que no tm nem qualificao,nem a vontade do povo para mant-los no poder, e ainda assim eles tm poder. (OK.)

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    Junto com isto, h outro processo Fiscalizao, lei e ordem: A organizaoest sendo erodida. Nos ltimos 20, 25 anos, se virem os filmes antigos e os filmes

    novos, vero que, nos filmes novos, um polcia, um oficial do exrcito americano,parece burro, raivoso, psictico, paranoico. E o criminoso parece porreiro, como:Bem, ele fuma maconha e injeta qualquer droga; mas, basicamente, um serhumano bonzinho. criativo. E improdutivo s porque a sociedade o oprime;enquanto um general do Pentgono sempre, por definio, um burro, um manacoguerreiro. O polcia um porco, um polcia rude, abusa do poder... (Sabem?) Uma

    generalidade, uma generalizao como esta. O dio, a desconfiana para com aspessoas que vos devem proteger e fazem cumprir a lei e a ordem. Relativismomoral!

    O processo Angelo Buono durou dois anos em Los Angeles e ainda assim halguns advogados que dizem: Olhem: ele um bom sujeito, na verdade. Houvetestemunhas que disseram (tambm criminosas!): Ora, ele um tipo porreiro! Umdia, eu pedi para ele queimar a casa do meu inimigo e ele no quis! Tipo porreiro!Eroso. Uma substituio lenta dos princpios morais bsicos, em que um criminosono bem um criminoso: um ru. Mesmo que a sua culpa esteja provada, h aindauma dvida. Matar ou no matar, ser ou no ser. No matars! Sim! Mas esta fala

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    pode no ser necessariamente aplicvel a um assassino! No assassinars! esta deveria ser a premissa, e no no matars. (OK.)

    Relaes trabalhistas: Nesta etapa, dentro de 15 a 20 anos, destrumos os elostradicionalmente estabelecidos de negociao entre patro e empregado. A clssicateoria marxista-leninista de troca natural de bens: Uma pessoa A tem 5 sacas decereais e uma pessoa B tem 5 pares de sapatos; e a troca natural sem dinheiro quando eles negociam entre si, e apenas com a introduo da terceira C, umcompleto terceiro aliengena, estranho, que diz: No lhe d a ele as 5 sacas de

    cereal. D-mas a mim. E voc, d-me os seus 5 pares de sapatos, e eu distribuirei deacordo. Ento a economia ir [balanar] Esta a morte da troca natural, a morteda negociao natural.

    Bem, os sindicatos foram estabelecidos h cem anos atrs. O objetivo eramelhorar as condies de trabalho e proteger os direitos dos trabalhadores daquelespatres que estavam a abusar do seu direito porque tinham mais dinheiro.Objetivamente, naquela poca, inicialmente o movimento dos sindicatos funcionou defacto. O que vemos agora que o processo de negociao no est mais a resultarno acordo que leva diretamente melhoria de condies de trabalho e aumento desalrio. O que vemos que, aps cada greve prolongada, os trabalhadores perdem.

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    Mesmo que tenham aumento de 10% nos seus salrios, no conseguem recuperarpor causa da inflao e do tempo perdido. Mais que isso: Milhes de pessoas sofrem

    com aquela greve, porque agora a economia interdependente, est entrelaadacomo um nico corpo. Se, antes, os siderrgicos, (digamos) cem anos atrs, podiamentrar em greve, ningum sofreria. Agora, impossvel. Se um funcionrio do lixoentra em greve, hoje, o resto da cidade de milhes fica a cheirar mal. Quer dizer: oservio faltar. No Qubec, por exemplo, os eletricistas entraram em greve no meiodo inverno! Voc pode congelar o seu traseiro, e ainda assim eles estavam em greve.

    Eles recuperaram o salrio? No! Perderam! Quem ganhou com isto? Os lderes dosindicato. Qual o motivo da greve? Melhorar as condies do trabalhador? No!bvio que no ! Ento qual ? IDEOLOGIA! Para mostrar a esses capitalistas! E ahorda obediente de trabalhadores, como ovelhas, segue essa gente e no podedesobedecer. Porqu? Porque se desobedecerem, sabem o que acontece com eles?Piquetes, assassinatos, camionistas baleados por piquetes!... Em Montreal, porexemplo, vi com os meus prprios olhos, quando fui correspondente da CBC(Canadian Broadcasting Corporation International), quando trabalhadores de umafbrica de aeronaves destruram computadores e equipamentos na fbrica e aadministrao contratou fura-greves, os seus carros foram virados de cima para baixo

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    e queimados. As suas casas foram queimadas! Os seus filhos foram intimidados ehouve vtimas! Disto, vocs podem ter a certeza. Porqu? Para melhorar ascondies dos trabalhadores? No! Ideologia! (OK.)

    Isto o que basicamente acontece. Pode ou no acontecer sem a ajuda da UnioSovitica, mas as tendncias naturais esto a ser bastante aproveitadas e exploradaspelos sistemas de propaganda soviticos. Como? Sempre que um sindicato entra emgreve, temos um influxo de propaganda, meios de comunicao social, disseminaoideolgica: O direito dos trabalhadores! E repetimos, como papagaios: Sim, o

    direito dos trabalhadores. Direito de quem? Dos trabalhadores? No! A nicaliberdade do trabalhador vender o seu trabalho de acordo com o seu prprio desejoe vontade -lhe tirada! Por quem? Pelo chefe do sindicato. dado poder ilimitado,responsabilidade... Quero vender o meu trabalho, no por 2,50 hora, mas por 2dlares. Eu no tenho o direito! A minha liberdade -me negada. Eu sei que sevender o meu trabalho por 2 dlares hora e no por 3 dlares, concorrerei melhorcom o outro indivduo, que preguioso e mais ambicioso. Eu no preciso de 3dlares. Preciso apenas de 2 dlares. No! Fui forado a acreditar pela comunicaosocial, pelas empresas, por agncias publicitrias que preciso de mais e mais e mais!J viram alguma publicidade na TV para consumir menos? No! De modo nenhum!

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    Se precisa de um carro de 6 cilindros ou no, tem de compr-lo e j! Quando euvinha a conduzir para c, na estao de rdio local um locutor empolgado disse:Voc, corra e economize, economize, economize! Tem uma liquidao de p-de-meia! Economize, comprando mais!! Claro, claro! Seria muito ingnuo esperar que oKGB obrigasse a agncia publicitria a fazer uma propaganda maluca dessas. No,claro que no! Mas o que fazamos, quando eu trabalhava para a Novosti:Atolvamos editoras, organizaes estudantis, grupos religiosos, com literatura deluta de classes, se no diretamente com propaganda marxista-leninista, ento

    propaganda de aspiraes legtimas da classe operria: melhoria de vida, igualdade...Igualdade! Vejam s! O Presidente Kennedy uma vez disse: Povo, vamos fazer aAmrica acreditar que as pessoas nascem iguais! As pessoas nascem iguais? Halguma meno na Bblia ou em alguma outra escritura sagrada em qualquerreligio? Qualquer religio! Se no acredita em mim, v para a biblioteca e procure.No h uma nica palavra sobre igualdade! Mas o oposto: Pelas tuas aes, Deus tejulgar! O que voc faz importante: o mrito da sua personalidade. Voc no podelegislar igualdade. Se quer ser igual, voc tem de ser igual! Tem de merecer.

    E ainda assim, construmos a nossa sociedade sobre o princpio de igualdade.Vocs dizem: As pessoas so iguais. Sabem que falso, uma mentira! Algumas

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    pessoas so altas e estpidas; outras so baixas, carecas e inteligentes. AlgumasSe as fazemos iguais fora, se colocarmos o princpio da igualdade na base danossa estrutura sociopoltica, o mesmo que construir uma casa na areia . Cedoou tarde, ela vai desmoronar; e exatamente o que acontece.

    E ns, propagandistas soviticos, estamos a tentar empurrar a vocs na direoem que vo sozinhos: Igualdade, sim! Igualdade! As pessoas so iguais! Terra dasoportunidades iguais! verdade ou no? Pensem bem! Oportunidades iguais. Devehaver oportunidades iguais? Para mim? E para um safado preguioso que vem para

    c, vindo de outro pas, e imediatamente se regista como recipiente, beneficirio deseguro? Eu nunca recebi um nico dl... No, desculpem, recebi uma vez. Mas nuncarequeri seguro. Por 13 anos, aceitava qualquer emprego: segurana, jornalista,taxista, qualquer coisa!

    Bem, eu fui muito ativo, mas algumas pessoas no gostam disso. Ento, porquedeveramos ter oportunidades iguais? Porqu? [Oportunidade igual de se destacar.]Oportunidades iguais em circunstncias iguais, sim, mas vocs sabem que aspessoas so diferentes. Destacar-se, sim, supondo que cheguemos ao mesmo nvelde excelncia, perfeio, que um futuro distante hipottico. Sim, talvez. Massabemos perfeitamente bem que, mesmo com as melhores intenes, as pessoas

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    no poderiam ser iguais. Porque deveramos ter igualdade no (digamos) sistemalegal? Eu, que me considero um cidado cumpridor da lei, e uma pessoa que vemaqui para roubar e atirar? Digamos... O Governo dos Estados Unidos, sob Carter,importou milhares de criminosos cubanos. Eram criminosos conhecidos. Ainda assim,foram aceites. Acham justo que eu e a minha esposa das Filipinas, que trabalha como(perdo!) cavalo como tcnica de laboratrio no hospital, deveramos ter os mesmosdireitos que um criminoso de Cuba? Porqu? E ainda assim, repetimos comopapagaios: Igualdade, igualdade, igualdade! E o sistema de propaganda sovitica

    ajuda-nos a acreditar que igualdade algo desejvel. A democracia, tal como foiestabelecida pelos patronos deste pas [os Estados Unidos], deste sistema, no sculopassado [XIX], no igualdade: o sistema em que pessoas diferentes, pessoasdesiguais, tm sorte de sobreviver e de se ajudarem umas s outras, em constanteconcorrncia, em constante aperfeioamento, e no uma igualdade que imposta porum padrinho ou uma pessoa boazinha, em Washington DC. E a igualdade absolutaexiste na Unio Sovitica. Igualdade: Toda a gente est igualmente na lama,exceto algumas pessoas que so mais iguais que as outras, no Politburo. (OK?)

    Ento, no momento em que vocs levam um pas ao ponto de quase totaldesmoralizao, em que nada funciona mais, quando no tm a certeza do que

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    certo ou errado, bom ou mau, quando no h diviso entre o bem e o mal,quando at os lderes da Igreja dizem s vezes: Bem, violncia em favor da justia(especialmente justia social) justificvel em pases como Nicargua, El Salvador,(bem,) talvez Rodsia E escutamos isto e dizemos: , provavelmente. verdade. verdade? No, no verdade! Violncia no justificvel, especialmenteem favor de justia social introduzida por marxistas-leninistas (que so meus ex-colegas da Agncia Novosti). (OK.)

    Ento, atingimos aquele ponto. O prximo passo desestabilizao.

    DESMORALIZAO > DESESTABILIZAO

    De novo, fala por si o que : desestabilizar todas as relaes, todas asinstituies e organizaes aceites no pas do seu inimigo.

    Como que vocs fazem? No tm de mandar um batalho de agentes do KGBpara explodir pontes. No! Vocs deixam-nos fazer sozinhos! A rea de aplicao mais estreita agora. No como no caso anterior. As aes abertas, legtimas, doKGB, neste caso, mal seriam percetveis. No h crime se um professor querecentemente veio da Unio Sovitica introduz um curso de marxismo-leninismo

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    numa universidade californiana, por exemplo. Ningum vai chegar porta dele edizer: OK, senhor. Venha. Est preso. No! No crime. No sequer consideradoum crime moral contra o seu pas.

    Ento, a rea de aplicao aqui estreita-se para:1.Economia (novamente, relaes trabalhistas, certo?);2. Para lei e ordem e militares;3. E, novamente, a comunicao social, mas um pouco diferente. (Vou explicar

    depois.) (OK.)Trs reas, basicamente.

    Economia: A radicalizao do processo de negociao. Se naquela etapa aindapoderamos atingir, teoricamente, algum acordo positivo entre as partes negociantes,com (digamos) introduo arbitrria de juzes de terceira parte, objetivamentejulgando as exigncias de ambos os lados; aqui radicalizao. Na etapa dedesestabilizao, no chegamos a um acordo nem dentro de uma famlia. O marido ea mulher no poderiam descobrir o que melhor: O marido quer que os filhos comam mesa, e a mulher quer que a criana corra pelo cmodo e derrube comida pelo

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    cho. Eles no chegam a um acordo, a no ser que comecem uma luta. impossvelchegar a um acordo, um acordo construtivo entre vizinhos. Alguns dizem: Eu nogosto que voc trabalhe na relva nesta hora porque exatamente nesta hora ando apassear com o meu cachorro e ele fica nervoso e no consegue passar as bolas.(Sabem?) Eles no entram em acordo: Vo para um tribunal ou coisa assim.

    Radicalizao de relaes humanas, sem mais acordo. Luta, luta, luta! Asrelaes normais tradicionalmente aceites so desestabilizadas. As relaes entreprofessores e alunos em escolas e universidades: luta! As relaes, na esfera

    econmica, entre empregados e patres so mais radicalizadas: No h maisaceitao da legitimidade das exigncias dos trabalhadores. Como os japoneses, coma teoria Z (se j ouviram falar), em que trabalhadores esto envolvidos no processode deciso, ento eles no tm incentivo moral para lutar contra os seus patres. NosEstados Unidos, justamente o oposto. Quanto mais difcil a luta, melhor, maisheroicos eles parecem. Quando a rede Greyhound estava de greve, recentemente, oscorrespondentes de emissoras de TV locais em todos os Estados Unidos abordaramos grevistas, e estes diziam: Ah, sim, estamos a fazer algo de bom!. E pareciamheris e tinham orgulho. Havia uma famlia: O marido era motorista de autocarro eento eles tinham decidido, em protesto contra os patres, acampar em algum lugar

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    da floresta. Foram apresentados audincia como uma gente heroica e boazinha.(Viram?)

    Os embates violentos entre passageiros, piquetes e os grevistas soapresentados como algo normal. 10, 15, 20 anos atrs, ficaramos nervosos, a dizer:Porqu? Porqu tanto dio? Hoje, no. Dizemos: Bem: lugar-comum!Radicalizao, militarizao s vezes, como expliquei naquela etapa (adiantei-me umpouco): Pessoas baleadas! (OK.)

    Lei e ordem, agora: Tambm empurrada para reas em que as pessoas antes

    resolviam as suas diferenas pacificamente e legitimamente. Agora, estamos a ficarcom esses casos judiciais nos casos mais irrelevantes. No podemos mais resolveros nossos problemas. A sociedade como um todo fica cada vez mais antagnicaentre indivduos, grupos de indivduos e a sociedade como um todo.

    A comunicao socialcoloca-se em oposio sociedade em geral, comoum todo, separada, alienada. (OK?) Nesta etapa (lembram-se de que eu falava humas duas horas atrs dos dormentes?), a quando os estudantes (digamos) dosEstados Unidos (se so treinados na Universidade Lumumba) ou das naes emdesenvolvimento (os estudantes com que eu lidava) esto a ser mandados de voltada Unio Sovitica para aqui. Ou, se j estavam nos Estados Unidos, no pas que

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    objeto da subverso, partem para a ao! Os dormentes acordam! Dormiram por 15 a20 anos. Agora, tornaram-se lderes de grupos, pregadores, sei l pessoaspblicas. Agem proeminentemente. Incluem-se ativamente no processo poltico. Derepente, vemos um homossexual... H 15 anos, ele fazia as sujeiras dele e ningumligava, e agora ele faz disso uma questo poltica. Exige reconhecimento, respeito,direitos humanos, e junta um grande grupo de pessoas: o grupo dele e pessoascomuns. E h choques violentos entre ele e a polcia, o grupo dele e pessoascomuns. No importa o qu: So negros contra brancos, amarelos contra verdes. No

    importa onde est a linha divisria, desde que este grupo entre em choqueantagnico, s vezes militarmente, s vezes com armas de fogo. Isto o processo dedesestabilizao.

    Os dormentes (muitos dos quais so simplesmente agentes do KGB) tornam-selderes do processo de desestabilizao. No quer dizer que o camarada Andropovmande o camarada Ivanov para os Estados Unidos. A pessoa que toma conta j est

    aqui! um cidado respeitado dos Estados Unidos. s vezes, recebe dinheiro devrias fundaes para a sua luta legtima a favor de (sei l!) direitos humanos, direitodas mulheres, kid-lib, prison-lib, seja o que for. H americanos simpatizantes que lhedoam o seu dinheiro!

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    DESMORALIZAO > DESESTABILIZAO > CRISE

    O processo de desestabilizao, normalmente, leva diretamente ao processo decrise. No caso de naes em desenvolvimento (esta era a rea em que eu era ativo),o processo comea quando os rgos legtimos de poder, a estrutura social,desmoronam, no podem funcionar mais. E ento ns temos rgos artificiaisinjetados na sociedade; tais como comits no eleitos (lembram-se de que eu falavadeles aqui [na desmoralizao]?); assistentes sociais, que no so eleitos pelo

    povo; comunicao social, que so os senhores autoinvestidos da sua opinio; algunsgrupos estranhos, que alegam que sabem como guiar a sociedade para a frente. Emgeral, no sabem. Tudo o que eles querem saber como coletar doaes e vender asua prpria ideologia misturada, misto de religio e ideologia.

    Aqui, temos todos estes rgos artificiais exigindo poder. Se o poder lhes negado, tomam-no fora. No caso do Iro, por exemplo, de repente tnhamos

    comits revolucionrios. Quem? Qu? Que tipo de revoluo? No havia revoluoainda, e ainda assim tinham comits! Tomavam o poder de julgamento, tinham opoder de execuo, tinham o poder de legislao, e tinham o poder judicial, todoscombinados numa pessoa, que um intelectual de miolo mole, s vezes formado em

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    Harvard ou Berkeley. Ele volta para o seu pas e acha que sabe a soluo para todosos problemas sociais e econmicos. (OK.)

    A crise quando a sociedade no pode mais funcionar produtivamente:desmorona. Obviamente, esta a palavra para crise. Portanto, a populao comoum todo anda a procurar um salvador. Os grupos religiosos esto espera de quevenha um messias. Os trabalhadores dizem: Temos famlia para alimentar! Vamoster um Governo forte, talvez um Governo socialista, centralizado, onde algumcoloque os patres nos seus lugares e nos deixe trabalhar! Estamos cansados de

    greve e de perder horas extra e todas essas coisas. Precisamos de um homem forte,Governo forte! Um lder, um salvador, necessrio. A populao j est irritada ecansada. E c est: temos um salvador! Ou uma nao estrangeira vem; ou o grupolocal de esquerdistas, marxistas... no importa como eles se chamam: sandinistas,reverendo, ou algum tipo... Bispo Muzorewa (como no Zimbabu)... No importa. Vemum salvador e diz: Eu guiar-vos-ei! Ento, ns temos duas alternativas aqui: guerra

    civil e invaso.

    DESMORALIZAO > DESESTABILIZAO > CRISE > Guerra Civil ouInvaso

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    (OK?) Viram como funciona?Guerra civil, sabemos o que . Lbano o melhor exemplo: A guerra civil que foi

    artificialmente implantada no Lbano por injeo de foras da OLP (Organizao paraLibertao da Palestina).

    Invaso, tivemos em vrios outros pases como Afeganisto. Falem de qualquerpas do Leste Europeu: foi invadido pelo exrcito sovitico.

    Mas o resultado o mesmo.A prxima etapa normalizao.

    DESMORALIZAO > DESESTABILIZAO > CRISE > Guerra Civil ouInvaso > NORMALIZAO

    Normalizao uma palavra muito irnica, claro! emprestada da situao de1968, na Checoslovquia, quando a propaganda sovitica e depois o New York Times

    declararam: O pas est normalizado. Os tanques chegaram a Praga; ento, noh mais Primavera de Praga, no h mais violncia... Normal. Normalizao. Nestaetapa, os governantes autoinvestidos da sociedade no precisam de mais nenhuma

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    revoluo, no precisam de mais nenhum radicalismo. Ento, este o reverso dadesestabilizao; basicamente, estabilizar o pas fora.

    Ento, todos os dormentes e ativistas e assistentes sociais e liberais ehomossexuais e professores e marxistas e leninistas so eliminados; fisicamente, svezes. J fizeram o servio deles. (OK?) No so mais necessrios. Os novosgovernantes precisam de estabilidade para explorar a nao, para explorar o pas,tirar vantagens da vitria. (OK?) Ento, chega de revolucionrios, por favor!

    E exatamente isto o que acontece em vrios pases. Lembram-se do

    Bangladesh? (Esta foi a crise na qual eu fui de utilidade.) Primeiro, tinham MujiburRahman. Em 1971, ele era o lder do Partido do Povo, a Liga Awami, com um bigodecomo Stalin. Esteve vrias vezes na Rssia. Cinco anos depois, foi baleado pelosseus ex-colegas marxistas. Cumpriu a sua funo. No Afeganisto, isto aconteceu 3vezes. Primeiro, havia Taraki, depois Amin e agora Babrak Karmal. Mataram-sesucessivamente, um aps outro, no momento em que um cumpria a sua obrigao; o

    primeiro desmoralizava o pas, o segundo desestabilizava, o terceiro levou-o crise.Adeus, camarada. Pum! Babrak Karmal vem de Moscovo e colocado no poder. Omesmo aconteceu em Grenada, recentemente. Maurice Bishop, marxista, foi morto

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    por Austin (Como se chama? General qualquer coisa), que tambm era marxista!(Certo?) Ento, chega de revolues, por favor. Normalizao, agora.

    De agora em diante, chega de greves, chega de homossexuais, chega dewomen-lib, chega de kid-lib, chega de lib. Ponto final! Boa e slida liberdade proletriademocrtica!... E pronto.

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