Pandemia e revolução - O séc. XXI será o primeiro com...25 DE ABRIL Sete livros que (ainda)...

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Paulo Tavares 25 Abril 2020 — 10:56 TÓPICOS Relacionados 1864 Graças aos cravos portugueses, tudo voltou a parecer possível para as… 25 DE ABRIL Sete livros que (ainda) clarificam algumas ilusões da Revolução de Abril Pandemia e revolução - O séc. XXI será o primeiro com imaginação para mudar sem guerra? Para lá do Estado de Emergência, do quase processo revolucionário em curso com prazo de validade que vivemos nas últimas semanas e das reações de curto prazo à crise, a pandemia poderá ser um catalisador de mudança do nosso modelo de sociedade? 25 de Abril 1864 coronavírus pandemia COVID-19 E xplicar a alunos norte-americanos porque é que o terremoto de 1755 foi um acontecimento que mudou o mundo, que alimentou revoluções, sempre exigiu a Rui Tavares e aos seus alunos um esforço de abstração. "Exigiu", assim, dito no passado, porque já não exige. O historiador tem agora um exemplo concreto, uma pandemia e uma crise em desenvolvimento, para usar nas aulas. Tudo mudou em duas semanas. Da presença física para a comunicação digital e da ambiguidade do abstrato para a clareza do concreto. À escala daquela sala de aula, foi uma revolução. "Na aula anterior tinha-lhes perguntado: "qual o acontecimento histórico das vossas vidas que acham que mudou o mundo?" Alguns deles, que já nasceram depois do 11 de setembro, tinham um pouco de dificuldade de achar esse acontecimento". Dez dias depois, conta Rui Tavares, "já não tinham dificuldade nenhuma. Todos diziam "isto é mesmo uma coisa que nunca foi vista", e portanto é uma coisa que pode ter esse impacto, esse potencial de mudar o curso da História".

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Sete livros que(ainda) clarificamalgumas ilusões daRevolução de Abril

Pandemia e revolução - O séc.XXI será o primeiro comimaginação para mudar semguerra?Para lá do Estado de Emergência, do quase processorevolucionário em curso com prazo de validade que vivemos nasúltimas semanas e das reações de curto prazo à crise, apandemia poderá ser um catalisador de mudança do nossomodelo de sociedade?

25 de Abril

1864

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COVID-19

E xplicar a alunos norte-americanos porque é que oterremoto de 1755 foi um acontecimento que mudou

o mundo, que alimentou revoluções, sempre exigiu a RuiTavares e aos seus alunos um esforço de abstração."Exigiu", assim, dito no passado, porque já não exige. Ohistoriador tem agora um exemplo concreto, umapandemia e uma crise em desenvolvimento, para usarnas aulas.

Tudo mudou em duas semanas. Da presença física para acomunicação digital e da ambiguidade do abstrato para aclareza do concreto. À escala daquela sala de aula, foiuma revolução. "Na aula anterior tinha-lhes perguntado:"qual o acontecimento histórico das vossas vidas queacham que mudou o mundo?" Alguns deles, que jánasceram depois do 11 de setembro, tinham um pouco dedificuldade de achar esse acontecimento". Dez diasdepois, conta Rui Tavares, "já não tinham dificuldadenenhuma. Todos diziam "isto é mesmo uma coisa quenunca foi vista", e portanto é uma coisa que pode teresse impacto, esse potencial de mudar o curso daHistória".

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Não foi a 1 de novembro de 1755 que o terremoto deLisboa mudou o mundo, tal como não será por estes diasque vamos saber se o que estamos a viver tem ou nãopotencial para espoletar mudança, para induzir umarevolução na forma como nos organizamos em sociedade.Seria só anos depois do terremoto e do tsunami que oMarquês de Pombal, para defender D. José I, decideadotar a explicação de que a catástrofe teria tidocausas naturais e que não teria sido um castigo divino.Ao tirar Deus da equação estava, inadvertidamente, acolocar um prazo de validade no absolutismo. O mundohavia de mudar, mas mais tarde.

Rui Tavares avisa que devemos sempre desconfiar dasprimeiras leituras. "No primeiro impacto o que é naturalé as pessoas irem buscar aquilo que de mais recenteconhecem e reforçarem convicções e crenças." Ohistoriador pega em exemplos mais recentes, como areação à crise de 2008, para reforçar a ideia. "Há camposque já estão no debate público e há reputações e carreirasinteiras assentes em defender determinadas ideias. Em2008 não apareceu nenhum liberal a dizer que a culpa erado sistema financeiro, antes pelo contrário, afirmavam quea culpa era do Estado. E aqui também, os que já eramcosmopolitas antes da pandemia vão dizer que precisamosde mais cooperação internacional, mais OMS, maisciência, mais UE e, do outro lado, os nacionalistas a dizerque o que precisamos é de fechar fronteiras, de um Estadomais forte e de um homem forte à frente dos destinos danação."

O antigo ministro do Trabalho e da Segurança Social,Vieira da Silva, partilha dessa cautela. "Estamos aindalonge de perceber todos os impactos que esta crise vaitrazer. Talvez por algum conservadorismo, devido ao meuescalão etário, não seria tão radical e afirmar que isto vaimudar tudo." José Pacheco Pereira carrega um poucomais no ceticismo. "Enquanto houver medo, as coisasnão vão mudar muito, mas eu sou muito cético quantoà possibilidade de haver alterações revolucionárias.Deixemos passar um ano ou dois de sossego, sem

Vieira da Silva afirma:"Estamosainda longe de perceber todos osimpactos que esta crise vai trazer.

Talvez por algumconservadorismo, devido ao meuescalão etário, não seria tãoradical e afirmar que isto vaimudar tudo.

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p g ,vírus, e voltará tudo ou quase tudo ao mesmo."

O antigo político e guardador da memória política coletiva,com o projeto Ephemera que ocupa já largos quilómetrosde prateleiras e estantes, afirma que "a inércia é umagrande força". Pacheco Pereira olha para uma outradimensão da reação ao terremoto de 1755, ao nívelurbanístico, e sublinha que só alterou o que tinha de serreconstruído. "Abalou muita coisa, matou muita gente,deitou as casas abaixo e, portanto, tinham de serreconstruídas. Esta pandemia vai deixar mortos entre osvelhos, uma crise económica considerável e vai deixar oaumento da exclusão e das diferenciações sociais."

A dimensão

O economista Alfredo Marvão Pereira, professor nafaculdade de William & Mary, em Williamsburg, Virgínia,dizia esta semana ao DN que está absolutamente convictode que esta é a crise, o acontecimento de uma vida, deuma geração. "Estou convencido de que vai deixarmarcas mesmo muito grandes. É a primeira vez, naminha geração - quem tem agora cerca de 60 anos - eno mundo ocidental, que temos uma experiência destetipo. Será seguramente uma coisa transformativa, éuma oportunidade, por um lado, que poderemosaproveitar ou não, mas por outro lado vai deixarmarcas."

A pandemia é um acontecimento global, com impactosassimétricos país a país, comunidade a comunidade, masMarvão Pereira acredita que há algo que pode vir a ser umdenominador comum, pelo menos nas sociedades

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ocidentais. "A civilização ocidental, sobretudo depois dofim do bloco soviético, desenvolveu um completo sentidode invulnerabilidade, de invencibilidade. No fundo, irmosonde quer que seja e não nos sentirmos ameaçados. Oque vivemos agora é uma mudança de paradigma no quetoca ao sentimento de segurança pessoal. Nunca nospassou pela cabeça que ir a um restaurante, ir aosupermercado, ir ao futebol, fosse um risco."

Neste sentido, afirma Marvão Pereira, este é "ummomento completamente diferente do que vivemos nopós-11 de setembro. Esta erosão do nosso sentido deestabilidade e de segurança física, é fundamentalmentediferente dessas experiências. Desgraças no mundo temhavido imensas, mas são tudo coisas que se passam noquintal do vizinho e a probabilidade de vir ao nosso quintalé mínima. O que esta pandemia nos dá, por ser universal,é pela primeira vez este sentido de termos um choqueeconómico e psicológico coletivo".

Regressemos à conversa com Rui Tavares e a 1755. Ohistoriador não tem dúvidas sobre a escala da crise, masinsiste que "vamos ter de esperar uns anos para ver,depois destas ideias extremadas, o terreno que fogedebaixo dos pés de determinadas teses políticas. Demorouuns 3 a 5 anos para que, a certa altura, as pessoas que aseguir ao terremoto de Lisboa tinham continuado adefender a tese do castigo divino, serem ridicularizadascom o Cândido do Voltaire e, a pouco e pouco, deixaremde defender aquilo que tinham defendido logo a seguir aoterremoto".

No fundo, trata-se de saber como iremos conferir sentidose significados a este momento. "O que diferencia aqueleacontecimento - terremoto de 1755 - de outras catástrofesem que morreu mais gente, que foram piores do ponto devista geofísico, como a erupção do Krakatoa ou grandes

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inundações na China que causaram milhões de mortos; oque diferencia são os sentidos, os significados que aspessoas vão atribuir, mais tarde, ao acontecimento. Isso éo que resta saber."

Apesar desta ressalva metodológica, Rui Tavares admiteque continua "convencido de que estamos perante umacontecimento que vai mudar o debate que fazemosem relação, no fundo, aos grandes pilares estruturaisda nossa existência, que têm a ver com a natureza,com o humano e com o poder e a política. Estapandemia, porque pode alterar a forma como damossentidos e significados a esses pilares, tem umpotencial enorme de alterar, no fundo, a textura daHistória".

Em que sentido marchará a revolução?

Está no momento certo para uma pergunta clássica, quetalvez pouco tenha a ver com este texto, mas que faz partedos dias. Onde estava no 25 de abril, professor? MarvãoPereira responde que estava em Lisboa, sendo que "o dia25 de Abril de 1974 calhou, por coincidência, noaniversário de casamento dos meus pais. Acabou por serum dia menos nutritivo do que se poderia esperar, porqueestávamos a pensar ir almoçar e jantar fora, para celebrar,e acabámos por ficar em casa" - ao centro do ecrã e nomeio das longas barbas de Marvão Pereira, surge umsorriso enquanto continua a contar a história -, "vivilongas horas sem certeza sobre que tipo de revoluçãoera aquela. Só tive a certeza absoluta no dia 26,quando fui ter com a minha namorada e atual mulherde há muitos anos a Belém e decidi fazer um teste.Comprei o jornal O Avante e abri-o para ler no elétrico.Ninguém disse nada, não aconteceu nada".

Aos olhos do jovem estudante de 16 anos aquelarevolução parecia estar no bom caminho. Seria, nospróximos anos, uma experiência de transformação. "Oimpacto que esse período, entre 1974 e 1978, teve naminha geração foi absolutamente transformativo. Nosentido positivo, entenda-se." A dúvida agora não temtanto a ver com a escala do que estamos a viver, masantes, diz Marvão Pereira, com o sentido das mudançasque podem desenhar-se no pós-pandemia. "O quevivemos agora tem uma dimensão universal, tem umpotencial para que repensemos o que significa sermoshumanos, logo é muito mais profundo. Pode ser muito útil,mas também pode afetar muito negativamente algumasgerações."

Pacheco Pereira lembra que "dopós-25 de Abril saiu um conjunto

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Vieira da Silva recorda que em 1974, com 21 anos, "tinhajá uma perceção relativamente amadurecida do quePortugal era por comparação a outras sociedades e outrosmodelos de organização". O antigo ministro confessa quetem "receio de que as consequências desta crise, com asua originalidade, com o seu caráter global e com aprofundidade que está a ter, sejam tão pesadas como asmudanças que na altura nos apontavam no sentido doprogresso". É sobretudo uma questão do sinal, positivo ounegativo, das mudanças. "Tenho receio que sejammudanças da mesma escala, mas são de natureza bemdiferente. Agora, não creio que esta crise tenhapotencialidade para anular o que foram mudançascivilizacionais e culturais que influenciaram muitopositivamente a nossa sociedade."

Pacheco Pereira lembra que "do pós-25 de Abril saiu umconjunto de liberdades que, até agora e no essencial, nãoforam postas em causa". Ainda assim, o antigo deputadoidentifica, por estes dias, "pressões que podem mudarsignificativamente a liberdade individual. Por exemplo, aideia da geo-referenciação de quem está doente ou testoupositivo para o vírus é uma ideia muito perigosa emdemocracia. A ideia de abrir os negócios mesmo que issosignifique dois ou três por cento de mortalidade entre osmais velhos é absolutamente inaceitável numa sociedadecivilizada".

Olhando para crises recentes, Vieira da Silva avisa que"seria muito penalizador para o nosso futuro se depoisdesta crise assistíssemos a conflitos intergeracionais.Seria muito perigoso e muito crítico para a nossa vidacoletiva numa sociedade em envelhecimento".

de liberdades que, até agora e noessencial, não foram postas emcausa".

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Uma nova globalização?

Continuando à conversa com antigo ministro do Trabalho,escutamos outra preocupação. "Não sei se nãopassaremos a ter sociedades que olhem de forma maisexigente para o processo de globalização, que não seráexatamente a mesma coisa. Não estou a advogar, bempelo contrário, o regresso a um protecionismo e aeconomias fechadas, mas acho que outros equilíbriose outras exigências podem ser colocadas,nomeadamente para tornar o comércio internacionalmais justo e menos dependente de algumas zonas domundo." É preciso repensar, diz Vieira da Silva, "ascadeias de valor e de comércio à escala global, em quepara se produzir um bem se depende de meio mundo paramatérias-primas e equipamentos. Esta crise veio mostrar afragilidade que essa intensidade de relações internacionais

pode trazer para o conjunto das economias, sobretudo asmais abertas".

Rui Tavares concorda que essa pode ser uma das áreasde mudança. "Onde este acontecimento tem potencial paravir a ser preenchido de sentidos e tornar-se historicamenterelevante, não desaparecendo dos debates daqui a dez ouvinte anos, é precisamente se nos fizer refletir sobre outrascoisas e se nos fizer perceber que faltam alíneas ao nossocontrato político. No fundo, procurarmos um novoentendimento entre humanidade, natureza e tecnologia.

Rui Tavares antecipa que "um dosdebates que vai marcar ospróximos anos será o debateentre nacionalismo eprotecionismo económico oucosmopolitismo e cooperaçãointernacional.

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No imediato, no curto prazo, esse caminho podepassar por coisas como alterar os tratados decomércio internacional - com a China, por exemplo,dizendo que só dá para fazer tratados de comércio secumprirem regras fito-sanitárias que sejam mais oumenos iguais às do resto do globo."

Alargando o olhar, o historiador antecipa que "um dosdebates que vai marcar os próximos anos será odebate entre nacionalismo e protecionismo económicoou cosmopolitismo e cooperação internacional. Aresposta à pandemia será num sentido ou no outro. Ambostêm argumentos, mas creio que uma forma mais resilientede reagir a esta pandemia será repensar a globalização,por exemplo, distribuindo mais a produção, não havendotanto uma parte do mundo que produz e outra queconsome. Não sendo tão comum ir buscar kiwis à NovaZelândia ou carne à Argentina e ao Chile, quandodevemos é produzir mais localmente, gastando menosenergia e emitindo menos carbono".

Um mundo mais colaborativo e menosindividualista?

Pacheco Pereira responde diretamente à questão. "Seriabom, mas duvido, porque os interesses em causa sãomuito fortes. Veja o caso da União Europeia. Este pacotenão corresponde nada àquilo que é preciso para fazer facea esta crise. A não haver uma mudança muito significativana forma como na União Europeia se pensa a coesão, queme parece muito difícil dada a posição de países como aHolanda, a Alemanha ou a Áustria, a União Europeia vaiser inútil para esta crise."

Carregando no pessimismo, continua. "Sou cético quanto agrandes mudanças, a não ser que haja conflitualidade debaixo para cima, que haja violação flagrante da igualdade.

O que gera mais conflitualidade social é a noção que aspessoas têm de que não são tratadas da mesma forma, deque são tratadas de forma desigual. Numa situação decrise, se isso acontece, isso sim é fonte de conflitos e esseconflito social pode mudar alguma coisa." Quase semdarmos por isso e entre todo o ceticismo de PachecoPereira, regressamos à ideia de revolução.

Vieira da Silva fala antes de oportunidade. "Seria mau quenão aproveitássemos os ensinamentos desta crisepara pormos alguma ordem nos desequilíbrios queexistem na nossa vida coletiva à escala nacional,europeia e global." A questão será como lidar com asassimetrias. "As consequências económicas e sociaisdesta crise não vão ser simétricas, nem entre países nementre grupos sociais e há aqueles que vão sofrer de formamuito mais dura. Há aqui uma dimensão de curto prazo, deemergência - que deve ser prioritária até porque tem

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consequências duradouras se não for atacada - e depoishá a possibilidade de aproveitarmos essa reflexão paraintroduzirmos mudanças a várias escalas que tornem anossa sociedade mais equilibrada." O antigo ministroconfessa que não está muito otimista, mas afirma que"vivemos num mundo marcado por váriasdesigualdades e assimetrias, e o risco de elas seagudizarem agora é muito profundo, para não dizerque é uma certeza, talvez nos pudesse conduzir aconstruir instrumentos mais estruturais de reduçãodessas desigualdades".

O que ficará do bom que trouxe a disfunção que vivemospor estes dias? Do teletrabalho que garante produtividadeenquanto deixa mais tempo e maior proximidade com afamília, de reuniões e viagens que verificámosdesnecessárias porque transformadas em encontrosdigitais, do carro parado a poupar combustível e emissões,

das cidades com menos automóveis e do ar mais limpo.Miguel Castro Neto, Professor Auxiliar e Sub-director daNOVA Information Management School, afirma que "estatransição digital acelerada pode potenciar umatendência que já começávamos a observar, que é umapassagem de uma economia linear para uma economiacircular, em que a sustentabilidade será, de facto, umafundação para um novo modelo de sociedade em queseremos muito mais utilizadores do que consumidoresde recursos".

O coordenador da pós-graduação em Smart Cities naNova IMS, diz ter esperança de que "olhando agora paraas cidades desertas de carros, tenhamos aqui umaoportunidade única para fazer algumas intervenções emque favorecemos a mobilidade partilhada e o transportepúblico em detrimento da viatura privada. E usar também atransformação digital para reforçar um sinal fraco quedetetamos por estes dias, que é uma preferência peloconsumo local, pelos produtos do bairro, pelos mercados,pela entrega em casa e pelo comércio tradicional.Podemos estar, de facto, perante uma nova realidade,revivendo a vida dos bairros através da tecnologia. Nestescasos, se conseguirmos agir e confirmar tendências,podemos usar a palavra revolução".

A imaginação estará mesmo a caminho do poder? Poderáser mesmo assim? Marvão Pereira faz uma leitura menosotimista, sobretudo porque está nos Estados Unidos e estáa ver os preços dos combustíveis a cair para níveisimpensáveis. "Não tenho dúvidas de que haverámudanças profundas e efeitos positivos em áreascomo o trabalho, a educação ou a saúde, devido aoacelerar da transição digital. Do ponto de vista datransição energética, estou menos otimista. Prevejoque a recuperação da economia seja muito intensiva

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do ponto de vista energético e, sobretudo, muitodependente de combustíveis fósseis. Nesta crise temosuma situação peculiaríssima no mercado do petróleo.Porque o choque é universal, temos os preços do petróleoa níveis potencialmente negativos ou muito baixos, o quesignifica que os incentivos que existem para as empresas -e mesmo a um nível individual - serão para minimizarcustos na energia."

O professor de economia considera, ainda assim, queatualmente, "há um sentimento de arrogância em relaçãoao que a ciência e a tecnologia podem fazer. Esta crise vaiobrigar-nos a repensar a nossa relação com a ciência ecom a tecnologia. Obviamente que devemos apoiar o maispossível, mas também devemos pensar que têm imensaslimitações e que não resolvem tudo. Faz parte daquelenovo sentimento de vulnerabilidade". Esse novodenominador comum para o mundo ocidental poderá ser,na opinião de Marvão Pereira, um catalisador de mudança."Pode haver algumas transformações positivas. Seinteriorizarmos a tal ideia de que somos maisvulneráveis do que pensávamos e de que temos de teralguma atenção ao meio que nos rodeia, que nãocontrolamos completamente a natureza à nossa volta,é possível que nasça uma nova capacidade deperceber os problemas climáticos." Até porque,sublinha, há algo de novo. "Esta é a primeira vez na minhageração que somos confrontados com um problemagrande e universal. Este sabor de que estamos todos nomesmo barco, enquanto planeta e enquanto espécie, erabom que permanecesse para lá da crise."

De regresso à tal questão sobre um futuro maiscolaborativo e menos individualista, Rui Tavares responde

com uma frase que responsabiliza: "Essas são perguntasa que não se responde adivinhando, responde-sefazendo". São possíveis as utopias? Sim, mas"devemos fazer um esforço para que assim seja". É omais longe que vai. O historiador, conversando com o DNa partir dos Açores, onde foi apanhado por um cordãosanitário, antevê que "no debate sobre a recuperaçãoeconómica vamos ter dois tipos de posições. Uma maisutópica, que dirá "estão a ver, afinal sempre foi possívelpartilhar tempo de trabalho, sempre foi possível trabalharmais a partir de casa, dar mais atenção à família, semprefoi possível usar menos o carro e havia uma série deviagens de negócios e de trabalho que não era precisofazer porque já havia tecnologia para fazer essas reuniõesà distância e agora que aprendemos isso com a pandemia,vamos continuar"; depois haverá uma reação a esta gente,que dirá "sim, claro que é possível, mas o resultado é quetens o PIB a cair 10%". Este debate vai partir todas as

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famílias políticas, todos os ministérios, todas asacademias, etc. Na verdade, é um debate que temcaracterísticas temperamentais, um bocado como aquelesdebates de copo meio cheio e copo meio vazio".

E de que lado está Rui Tavares? O copo parece estar meiocheio. "Estou do lado de quem acha que é, de facto,possível viver de outra maneira e que a crise vaiobrigar-nos a uma certa de imaginação que nãotínhamos e que podemos passar a ter. As cadeias dedistribuição podem ser diferentes, há hábitos de consumoque vão mudar e podemos tentar aproveitar isso numsentido positivo, mais inclusivo, mais solidário, mas maisresiliente também. Agora vemos que se tivéssemos, porexemplo, como um dos estabilizadores automáticos algode que se está a falar com mais seriedade, que é orendimento básico de emergência, o impacto sobre aeconomia seria muito menor."

A imaginação do pós-guerra, sem guerra

"No fundo, andávamos aqui com uma crise de falta deimaginação." Rui Tavares olha para esta crise como umaoportunidade para "colocar em cima da mesa asalterações necessárias para fazer com que aglobalização e o mundo do trabalho sejam organizadosde outra maneira, e para que a tecnologia não tenhauma entrada destrutiva no mundo do trabalho". Nofundo, aproveitar a perturbação causada pela covid-19como motor dessa imaginação. "Precisávamos de um novoBretton-Woods, de novas instituições internacionais, que aOrganização Internacional do Trabalho se tornasse numaagência de regulação da globalização, por exemplo.Estávamos numa situação em que precisávamos de ter aimaginação do pós-guerra sem, de preferência, ter umaguerra. Na história europeia, desde há 500 anos quetemos sempre uma guerra por esta altura do século e jávamos em 2020 e até agora não tivemos. Com isso, aindanão tivemos ou fomos forçados a ter a imaginação do pós-guerra."

Voltamos ao copo meio cheio. Rui Tavares reafirma que"este é um acontecimento suficientemente disruptivo, compotencialidade para espoletar mudanças na forma comonos organizamos enquanto sociedade". A forma comoreagirmos à crise será decisiva, pelo exemplo. "Houvevários países onde as pessoas uniram-se para salvaros mais vulneráveis e os mais idosos, conseguiramreorganizar temporariamente as suas economias paraque o impacto fosse relativamente pouco... há portantoelementos das respostas que demos à pandemia quepodemos agora aproveitar e generalizar para termosuma vida melhor. Isso seria essencial, ter essaimaginação do pós-guerra sem ter guerra, mas temosmesmo de conseguir forçar esse debate." Vai ser fácil? Ohistoriador desconfia que não, "não só porque já

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estávamos num contexto de nacionalismo e protecionismoexacerbado, mas também porque vamos ter algumaresistência do lado progressista, onde certamente vãosurgir pressões para regressar à normalidade, com oargumento de que "isso que vocês estão a sugerir é muitobonito, mas a quebra no produto é tão grande que éimpossível de implantar agora"".

Numa conversa à solta entre o real e o ideal, Rui Tavaresfala num novo contrato. "O que esta pandemia talvezpossa criar é condições para se discutir um novo tipode contrato, que seria um contrato entre humanidade,natureza e tecnologia. Reconhecer o lugar especial que ahumanidade tem dentro da natureza, provavelmente comoserventia, como responsabilidade perante aquilo que émais vulnerável do que nós e utilizar a tecnologia paraconseguir uma relação mais justa e equilibrada entre estastrês partes."

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COMENTÁRIOS

1 comentário Ordenar por

Flavio SantosGuerra sem armas de fogo certo? Pq a guerra de agora é comarmas biológicas de destruição em massa... mas os motivadorescontinuam os mesmos: domínio comercial e poder.

Gosto · Responder · 1 · 4 dia(s)

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