Panfleto 01 - Greve Dos Sentidos

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Panfleto nº 01 – 05/2006, edição especial. IMPRIMIR

{verbete} Datação sXVIII cf. AGC Acepções ■ substantivo masculino 1 texto curto, violento e sensacionalista, ger. sobre assuntos políticos, impresso em folha avulsa ou folheto, e de distribuição limitada 2 folha avulsa ou folheto que contém esse texto 3 peça de propaganda eleitoral impressa em folha avulsa com informações sucintas sobre um determinado candidato Etimologia ing. pamphlet (sXIV) 'publicação sem capa ou brochura' < Pamphilus seu de amore 'Panfilo ou sobre o amor', poema de amor popular latino do sXII; f.hist. sXVIII pamphleto Gramática voc. consid. gal. pelos puristas, que sugeriram em seu lugar: folheto LEIA NESTA EDIÇÃO: SENTIDOS ANUNCIAM PARALISAÇÃO. Greve dos sentidos gera debates. Confira!

fonte: http ://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=panfleto.

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SENTIDOS ANUNCIAM PARALISAÇÃO TOTAL EM REPÚDIO AO ATUAL PCCC. Após negociação INFESO anuncia “operação tartaruga”. “Greve dos sentidos”, é o que se lê na tomografia computadorizada! A Internacional Federação dos Sentidos Organizados – INFESO – reiterou a necessidade de reestruturação no plano de critérios, conceitos e conteúdos – PCCC, sem a qual não retoma as atividades ordinárias. No último domingo, os sentidos iniciaram o piquete, em protesto a uma onda de notícias e informações que, diante da fragilidade em que se encontra o controle de qualidade do PCCC, invadiram suas áreas de atuação, mais especificamente cérebro, cerebelo e tronco cerebral, com influências sobre todo o sistema nervoso periférico. Numa primeira rodada de negociações, os grevistas, representados pela INFESO, acordaram em retomar normalmente as atividades relacionadas ao olfato e ao paladar. Em contrapartida, as áreas mais afetadas pelo atual PCCC, visão e audição, permanecem em paralisação, desta vez parcial, dando inicio ao que a INFESO chamou “operação tartaruga”. Há informes de que o tato não teria aderido à greve, mas, questionada a respeito, a entidade representativa dos sentidos nega que o movimento esteja minado: “os cinco sentidos estão firmes no movimento e a classe está unida”, acrescentou a Presidente da INFESO, Intuição, dando conta de que o tato também estará trabalhando de acordo com os ditames da “operação tartaruga”, que contará com 10% das atividades de cada um dos três sentidos envolvidos.

“operação tartaruga” : olfato – desempenhando normalmente suas atividades durante a greve, apenas, em sinal de “luto” pela classe, utilizará trajes pretos; paladar – permanecerá em atividade, restringindo o funcionamento aos alimentos protéicos; demais – apenas 10% das atividades continuarão.

fonte: INFESO

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Entendendo o movimento paredista. Desde que se integraram ao aparato humano, os sentidos fundamentais, conformando o aparelho sensorial da espécie, são em número de cinco: tato, gustação ou paladar, olfato, audição e visão. As funções por eles desempenhadas sempre foram essenciais ao bem-estar do homem em relação ao meio-ambiente. É bem verdade que existem registros históricos de exemplares da espécie cuja falência dos sentidos não implicou ausência de bem-estar e ou de produtividade intelectual. Em todo caso, com o passar do tempo, não obstante as condições de trabalho tenham-se mantido quase inalteradas, a carga laboral foi potencializada e os mecanismos de filtro andam cada vez menos confiáveis e mais caros e, como a maioria dos que compõem a espécie humana detém baixo poder aquisitivo, a sobrecarga dos sentidos era uma questão de tempo.

Os custos de sistemas de contenção e filtro de informações, também conhecidos como sistema de educação e ensino, estão elevados. Além disso, a INFESO acredita que mesmo os que podem arcar com esses custos, precisam lidar com a incerteza do resultado: “o índice de sentidos obnubilados, ou mesmo obliterados, ainda que fazendo uso das frenagens tradicionais de educação é o que mais cresce, o que é assustador”. A entidade acredita que o movimento paredista, apesar de ter como fio condutor a busca por melhores condições de operatividade, através da reestruturação do PCCC, também se funda numa necessidade de causar uma

reflexão na espécie acerca da reformulação dos paradigmas estabelecidos na sociedade. Lembra a Intuição que o “procedimento tartaruga” inclui o Raciocínio como chefe de operações, o que viabiliza essa rediscussão de modelos, mesmo com apenas 10% dos sentidos em atividade. Desabafo “O bombardeio sem critério dos veículos jornalísticos este mês foi a gota d’água para nós”, desabafa o chefe de operações Raciocínio, em entrevista a este panfleto, ao fazer alusão à Revista Veja e aos telejornais da Rede Globo. Panfleto: O Sr. saberia identificar quando começou essa onda de insatisfação dos sentidos? Raciocínio: Sabemos que o processo de acumulação primitiva de trabalho é contínuo. De início, cumpre destacar que os tempos de Gutemberg e a sua festejada “nova arte” – a impressão – eram bem mais pacatos e ordeiros. O “mestre impressor”, que nos chega como uma espécie de “pai da imprensa”,

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não imaginava assumir a paternidade do que hoje nos parece uma das molas propulsoras de nossa paralisação. Não esqueço, por óbvio, que o período “multimeios” é significativo na dificuldade que se nos apresenta – controles, conceitos e conteúdos – mas é de se registrar que o tratamento dispensado pela espécie humana, em especial no que tange o uso dos veículos de comunicação de massa, não é dos mais

eficazes. Panfleto: Mas não seria simplificar demais atribuir aos jornalistas a culpa por essa anunciada “falência dos sentidos”? Raciocínio: De modo nenhum reduziríamos a situação de calamidade em que nos encontramos à pura e simples atuação dos profissionais de imprensa. Reconhecemos que essa impressão de sua parte, pelo que afirmei antes, em verdade sinaliza a ponta do “iceberg” e disso temos consciência. Peço até perdão pelo “desabafo” é que, em verdade, o bombardeio sem critério dos veículos jornalísticos este mês foi a gota d’água para nós [o Raciocínio não especifica o que constituiu esse “bombardeio” a que se refere]. Não desconhecemos o devir histórico e não estamos pedindo melhores condições de trabalho por mero deleite. Não somos contra os avanços tecnológicos que, se por um lado amplia o leque de informações e a necessidade de filtros, por outro amplia as nossas possibilidades. Censura e liberdade – frise-se – permanecem enquanto conceitos antagônicos para nós, além do que muitos foram os prejuízos trazidos pelo regime de exceção de outrora. Todavia, como chefe de operações guiado pela classe – os sentidos – e presididos todos nós pela Intuição, é-nos latente uma

espécie muito comum de informações que nos são trazidas diariamente: a censura maquiada de liberdade, ou melhor, liberdade assistida – para não dizer vigiada. Se em 1948 havia uma guerra mundial como “pano de fundo” de “Nineteen Eighty-Four” [o Raciocínio se refere ao livro “Mil novecentos e oitenta e quatro”, do inglês Eric Arthur Blair, que escreveu sob o pseudônimo de George Orwell]1, parece-nos que hoje o “Ministro da

Verdade” [o entrevistado continua fazendo referência ao livro] já assumiu a pasta e governa desde as micro-relações, numa aparente plataforma de governo que preza pela liberdade, mas que, em última análise, nos deixa gozar apenas de falsas verdades dadas como absolutas. Panfleto: o Sr. poderia esclarecer melhor? Raciocínio: Pois bem. Na verdade, peço novas desculpas. Devo observância, entretanto, ao nosso “movimento paredista” que, sob o manto da “operação tartaruga” (apenas 10% de três sentidos nos são autorizados – visão, audição e tato), impede uma explanação mais clara de nossa parte. Assim, em respeito a essa limitação de greve, vou-me utilizar das palavras de Ignacio Ramonet, que creio serem claras quanto ao que estou tentando reproduzir: “Ceticismo. Desconfiança. Descrença. Eis os sentimentos dominantes dos cidadãos em relação à mídia. Confusamente, cada um sente muito bem que alguma coisa não vai bem no funcionamento geral do sistema informacional. (...) Ninguém nega a indispensável função da comunicação de massa numa democracia, pelo contrário. A 1 Para saber mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/1984_(livro)

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informação continua sendo essencial ao bom andamento da sociedade, e sabe-se que não há democracia possível sem uma boa rede de comunicação e sem o máximo de informações livres. Todo mundo está de fato convencido de que é graças à informação que o ser humano vive como um ser livre. E, não obstante a suspeita pesa sobre a mídia”2. E continua o insigne: “Desde sempre, o conceito de censura é assimilado ao poder autoritário, do qual ela é, de fato, um elemento constitutivo importante. Censura significa supressão, interdição, proibição, corte e retenção de informação. A autoridade tem plena certeza de que um atributo forte de seu poder consiste em controlar a expressão e a comunicação de todos aqueles que estão sob sua tutela. É assim que procedem os ditadores, os déspotas ou os juízes da Inquisição. Viver num país livre é viver sob um regime político que não pratica esta forma de censura e que, ao contrário, respeita o direito de expressão, de imprensa, de opinião, de associação, de debate, de discussão. Esta tolerância, nós a vivemos como um milagre, a tal ponto que negligenciamos ver que uma nova forma de censura se estabeleceu sub-repticiamente, uma censura que poderíamos chamar ‘censura democrática’. Esta, em oposição à censura autocrática, não se funda mais na supressão ou no corte, na amputação ou na proibição de dados, mais na acumulação, na saturação, no excesso e na superabundância de informações. O jornalista está literalmente asfixiado, ele desaba sob uma avalanche de dados, de relatórios, de dossiês – mais ou menos interessantes – que o mobilizam, o ocupam, saturam o seu tempo e, tal como chamarizes, o distraem do essencial. Por cúmulo, isto incentiva ainda sua preguiça, pois não precisa mais buscar a informação. Ela chega por si mesma a ele”. Percebe como é clara a mensagem! Panfleto: de fato.... Raciocínio: Então é isso... quando se reivindica por sistemas eficazes de controle não se quer ‘censura democrática’, até porque é isso o que já temos e é contra isto que estamos lutando. Panfleto: mas e a educação, não é um canal importante de construção dos filtros? Não seria o caso de se ampliar o acesso zerando os custos? Raciocínio: acabo de ser informado pela Intuição que já estamos bem próximos do limite permitido pela greve, sendo assim passo a responder o seu questionamento – aliás como fiz

na indagação de outrora – a partir de autores já consagrados. Nilo Odalia é um deles. Ele nos alerta para que não escorreguemos nas “arapucas” do senso comum quando se fala em educação: “A educação sempre foi um instrumento privilegiado de dominação e isso é facilmente explicável por ser um processo longo, contínuo e que trabalha com um material altamente sensível, a criança e o jovem”3. Ele não para por aí, adverte que esse instrumento não é o único, pois “o processo educativo do povo não se limita ao sistema educacional formal, ele é o mais abrangente e dele não se pode excluir os chamados meios de comunicação de massa”.

2 Raciocínio lê trecho do livro “A Tirania da Comunicação”, de Ignacio Ramonet, Diretor-presidente do “Le Monde diplomatique”, publicado no Brasil em 1999 pela editora Vozes. 3 O entrevistando se refere à obra “O que é violência”, da Coleção Primeiros Passos, publicado pela editora Brasiliense.

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Panfleto: então o problema fica sem limites, não consigo enxergar soluções viáveis. Elas existem? Quais são as reivindicações concretas da greve? Raciocínio: é preciso que todos assumam suas parcelas de responsabilidade. Não deve ficar só a cargo dos sentidos esse trabalho. Uma colocação importante no último seminário internacional da UFRJ foi a da professora da ECA-USP, Esther Hamburger: “na sociedade do espetáculo tudo é público e pode ser assunto, mas não se fala sobre o assunto mídia”. Isso é fato! A nossa lista de pleitos, a falada reestruturação de cargos, resume-se, como se percebe, a uma chamada geral à responsabilidade de todos, lembrando que a parcela dessa responsabilidade será sempre diretamente proporcional aos níveis de instrução e evolução de uso de filtros de cada um dos exemplares da espécie humana. Panfleto: por fim, e quanto ao “desabafo” a que o Sr. Fez alusão no início dessa entrevista? Algo a acrescentar especificamente quanto às empresas que promoveram o “bombardeio”? Raciocínio: gostaria apenas de finalizar registrando ao leitor e a essas empresas, que não vejo problema em nomear os exemplos mais gritantes – Revista Veja e telejornais da Rede Globo – palavras de Ignacio Ramonet: “A informação não é um dos aspectos da distração moderna, nem constitui um dos planetas da galáxia divertimento; é uma disciplina cívica cujo objetivo é formar cidadãos. A este preço, e só a este preço, a imprensa escrita pode abandonar as confortáveis margens do simplismo dominante e ir ao encontro daqueles leitores que desejam compreender para poder melhor agir nas nossas democracias entorpecidas”. Instituições em todo o país apóiam a causa dos sentidos. Uma onda de apoio à paralisação dos sentidos vem tomando conta do país e a própria mídia (a exemplo deste Panfleto) dá voz ao movimento. A Intuição, Presidente da INFESO nos mostra a quantidade de manifestações favoráveis: “a tendência é o movimento dos sentidos tomar corpo. Já está na hora de darmos um basta na omissão”. Confira você mesmo nos “links” a seguir: http://www.cartacapital.com.br http://www.observatoriodaimprensa.com.br http://www.consciencia.net/2004/mes/01/vejaquementira.html http://carosamigos.terra.com.br/novas_corpo_ci.asp?not=725 http://www.piratininga.org.br/artigos/2005/64/lima-guazina.html http://www.inf.ufsc.br/~jbosco/InternetPort.html http://www.insanus.org/novacorja/archives/015816.html