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    Marcos Verssimo

    Aula 1Para alm dos problemas de polcia:uma introduo Metodologia daPesquisa em Segurana Pblica

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    Aula 1 Para alm dos problemas de polcia: uma introduo Metodologia da Pesquisa em Segurana Pblica

    Meta

    Apresentar algumas consideraes prvias e de fundamental importn-

    cia para a realizao de uma pesquisa que vise construo do conheci-

    mento na rea da Segurana Pblica.

    Objetivos

    Esperamos que, ao final desta aula, voc seja capaz de:

    1. identificar os rudos presentes nos discursos da imprensa e da opi-

    nio corrente com relao aos dilemas presentes na rea da Segu-

    rana Pblica;

    2. reconhecer a Segurana Pblica como um campo de estudos inter-

    disciplinar no qual esto aptos a atuar todos aqueles que estejam

    dispostos a dialogar com profissionais de outras reas, e no apenas

    concebendo-a como um assunto de polcia;

    3. identificar o tema e os problemas da Segurana Pblica como algo

    que parta das demandas da sociedade, e no somente do ponto de

    vista do Estado.

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    Metodologia de Pesquisa I

    Introduo

    Nas sociedades contemporneas, poucos so os temas que possuem a ca-

    pacidade que a Segurana Pblica tem de gerar polmicas e dissensos.

    Um brutal assassinato de uma criana em uma tentativa de assalto, o do-mnio territorial de reas da cidade por criminosos, a questo das pessoas

    vivendo em situao de rua etc. So muitas as situaes em que o assim

    compreendido clamor pblico exige pronta resposta dos governantes

    em seus diferentes nveis (federal, estadual e municipal) para o problema

    da Segurana Pblica. Alm disso, uma espcie de sentimento de inse-

    gurana da decorrente capaz de alterar hbitos e rotinas das pessoas e

    grupos que vivem e transitam nos espaos pblicos das cidades.

    Figura 1.1: Tenso no Rio de Janeiro: policial fortemente armado protegepopulao em rea de confronto deflagrado.

    Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1e/Angustia.jpg

    Assim, criam-se especialistas e especialidades, grosseira ou sofistica-

    damente relacionados a esse problema social (LENOIR, 1998), jornais

    so vendidos aos milhares, e gestores da polcia e de outras agncias de

    controle social dos comportamentos so interpelados e eventualmente

    destitudos de seus cargos. Ao mesmo tempo, forma-se uma verdadeira

    floresta de dados relativos ao tema. Cabe, ento, a pergunta: em que

    medida tamanha oferta de informao, quase sempre produzida no ca-

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    Aula 1 Para alm dos problemas de polcia: uma introduo Metodologia da Pesquisa em Segurana Pblica

    lor e na presso dos acontecimentos, ajuda ou atrapalha na busca do

    entendimento dos problemas da Segurana Pblica e na criao de tec-

    nologias para a superao deles?

    Nesse sentido, a identificao das naturalizaes que fazem parte

    de toda realidade social condio prvia para o uso produtivo des-

    sas informaes, produzidas nos prprios meios sociais em questo. Do

    contrrio, como seria capaz de atuar o profissional destinado a fornecer

    tecnologias sociais eficientes para o enfrentamento da insegurana e de

    seu sentimento? Impossvel!

    ecnologias sociais, por sua vez, podem ser entendidas como um con-

    junto de atividades relacionadas a estudos, planejamento, ensino, pes-

    quisa, extenso e desenvolvimento de produtos, tcnicas ou metodo-

    logias reaplicveis, que representem solues para o desenvolvimento

    social e a melhoria das condies de vida da populao.

    Por isso, pensamos que, especialmente no caso da Segurana Pbli-

    ca, antes mesmo de se pensar como se fazer uma pesquisa, bom que

    se pense como no se fazer, ou o que se deve evitar nesse processo.

    rata-se, portanto, em primeiro lugar, de abandonar a noo segun-

    do a qual a Segurana Pblica assunto exclusivo dos profissionais

    que atuam como operadores neste campo, tais como os policiais e

    os gestores das polcias. Alm disso, para que esse conhecimentoconstrudo seja qualificado e legitimado enquanto tecnologia para

    o emprego no campo das polticas pblicas de segurana, preci-

    so tambm estar atento ao campo minado de teorias anacrnicas,

    preconceitos e reificaesdifundidos na opinio pblica quando

    o assunto Segurana Pblica.

    A Segurana Pblica e o senso comum

    O que o senso comum? alvez possamos comear dizendo que

    tudo aquilo que no cincia. Chama-se senso comum a forma natura-

    lizada e inconsciente pela qual as pessoas interagem umas com as outras

    no meio social que lhes dado viver. anto as construes cientficas

    quanto o senso comum so frutos de uma mesma necessidade bsica

    humana, que a de compreender o mundo no qual estamos inseridos,

    desde o nascimento at a morte. Por isso, o campo da Segurana Pbli-

    ca, enquanto forma cientfica de conhecimento e de produo de tec-

    nologias sociais, embora tenha como ponto de partida o prprio sensocomum, necessita, para se firmar enquanto tal, superar preconceitos e

    NaturalizaoNo confundir com oprocedimento jurdico-administrativo desubstituir (ou sobrepor)uma cidadania local poroutra atravs do qualestrangeiros passama ser tidos tambmcomo nacionais.Aqui, a categorianaturalizao, tal qualseu emprego correnteno mbito das cincias

    sociais, designa aforma naturalizada (nosentido de no reflexiva)de entender certosfenmenos de ordemsocial. , em outraspalavras, ver como bvioalgo que no deveria sertido como tal. ornou-secorrente ouvir algumdizer isso natural,referindo-se a algumfenmeno que, quandovisto de maneira mais

    aprofundada, mostra-secomo um fato de ordemsocial; portanto, muitomais complexo.

    Reificao

    Do latim rs, ri(coisa)+ terminaoficao(relativo a tornar, vira ser). Sendo assim, osubstantantivo reificaodesigna o ato ou efeito deconsiderar algo abstrato(ou virtual) como coisamaterial (ou real).

    Fonte: http://pt.wiktionary.org/wiki/reificaco

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    Metodologia de Pesquisa I

    supersties a ele inerentes, atravs de uma postura reflexiva em relao

    a seus prprios postulados.

    A naturalizao da vida social uma condio indispensvel para sua

    prpria continuidade. Naturalizamos nossos hbitos e costumes para se-

    guir em frente. at fcil imaginar o quanto seria insustentvel a manuten-

    o de uma postura crtica em todos os momentos e situaes cotidianas.

    Da mesma forma que um condutor entra em um veculo automo-

    tor, pe a chave na ignio, d a partida e, a partir da, inicia uma srie

    de movimentos inconscientes para seguir rumo ao seu destino, absolu-

    tamente sem ter de ficar pensando e refletindo sobre qual movimento

    far em seguida (o que poderia vir a ser desastroso em uma curva), as

    pessoas, em sociedade, so conduzidas inconscientemente pelo senso

    comum. Dessa forma, seguem em frente at que algo que surpreenda

    seu senso comum acontea em uma das curvas da estrada da vida.

    Justamente por conta disso, o senso comum est associado ideia de

    bvio. Contudo, para que o campo da Segurana Pblica se consolide e

    seus profissionais sejam legitimados como atores aptos a intervir de ma-

    neira qualificada nos problemas que nele se apresentam, preciso, mui-

    tas vezes, recusar aquilo que primeira vista parece bvio. O antroplo-

    go Darcy Ribeiro, em seu artigo intitulado Sobre o bvio, afirma que:

    [...] bvio, por exemplo, que todo santo dia o sol nasce, se levanta,d sua volta pelo cu, e se pe. Sabemos hoje muito bem que issono verdade. Mas foi preciso muita astcia e gana para mostrarque a aurora e o crepsculo so tretas de Deus. No assim? Ge-raes de sbios passaram por sacrifcios, recordados por todos,porque disseram que Deus estava nos enganando com aquele espe-tculo dirio. Demonstrar que a coisa no era como parecia, almde muito difcil, foi penoso, todos sabemos (RIBEIRO, 1979, p. 1).

    Nesse sentido, o trabalho cientifico consiste, em grande medida, em

    descortinar aquilo que parece bvio na mesma medida que, h tem-

    pos, descortinou-se a antiga obviedade, segundo a qual estamos parados

    no centro do universo, sobre a erra, enquanto os astros se movem aci-

    ma de nossas cabeas.

    Como j foi aludido anteriormente, uma das crenas mais arraigadas

    no senso comum (tida, em grande medida, como uma obviedade) a

    de que a Segurana Pblica assunto para ser tratado exclusivamente

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    Aula 1 Para alm dos problemas de polcia: uma introduo Metodologia da Pesquisa em Segurana Pblica

    por policiais: caso de polcia. Por isso, este captulo, que introduz a

    discusso metodolgica de nosso programa de estudos, chama-se Para

    alm dos problemas de polcia. E uma introduo, no sentido de que

    essa foi a forma que achamos mais conveniente (mas no a nica) para

    introduzir a referida discusso, ou seja, comear pelo que deve ser re-cusado no caminho para a construo de uma concepo de Segurana

    Pblica que parta do ponto de vista da sociedade, no do Estado.

    Cincia e mitos

    Pensar cientificamente , pois, antes de tudo, colocar esse pensamen-

    to prova sempre. O conhecimento cientfico sempre provisrio. Os

    gregos antigos inventaram a Filosofia por conta da insatisfao que sen-tiram, por volta do sculo VI antes de Cristo, com a forma de constru-

    o de verdades das narrativas mitolgicas, ou seja, passaram a descon-

    fiar da noo de que os fenmenos da natureza poderiam ser explicados

    fazendo-se uso de uma relao de causalidade cujos fenmenos tinham

    como causa uma origem sobrenatural (ddiva ou vingana dos deuses,

    por exemplo).

    Figura 1.2: (1) Relao de causalidade das criaes mitolgicas;(2) Relao de causalidade nas cincias naturais.

    As primeiras inquietaes filosficas, de rechao a relaes de cau-

    salidade contidas nos mitos, por sua vez, ofereceram as bases e princ-

    pios para o que sculos mais tarde veio a ser mais ou menos conhecido

    como cincia.

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    Metodologia de Pesquisa I

    ales de Mileto, por exemplo, considerado o primeiro dos filsofos

    (ou mesmo o Pai da Filosofia), inaugurou uma linha de pensamento

    para a explicao dos fenmenos da natureza que culminou na base da

    fsica e da qumica modernas hoje lecionadas em todas as escolas para

    alunos de Ensino Mdio. A palavra Fsica, por exemplo, deriva do gre-go Physys, que significa Natureza. E ales estimulava seus discpulos a

    criarem seus prprios pontos de vista, criticando o dele prprio quando

    necessrio, ou seja, o do mestre (MARCONDES, 1998).

    Figura 1.3:Tales de Mileto(624 a.C. - 543 a.C.), consi-derado o Pai da Filosofiaeprecursor de inquietaescientficas desenvolvidasposteriormente.

    Fonte: http://pt.wikipedia.org/

    wiki/Ficheiro:Thales.jpg

    Assim, enquanto o conhecimento mtico no pode ser posto prova

    uma vez que, como os dogmas religiosos e o lado mais conservador

    do senso comum, trata de questo de f , o conhecimento cientfico ne-

    cessita ser testado o tempo todo e, por isso, sempre provisrio. Assim,

    at mesmo na linguagem corrente, os mitos so tudo aquilo que no sepode simplesmente classificar como verdadeiro ou falso, sendo, muitas

    vezes, verdadeiro e falso. E o senso comum, no que se refere aos dilemas

    contemporneos da Segurana Pblica, est impregnado de mitos.

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    Aula 1 Para alm dos problemas de polcia: uma introduo Metodologia da Pesquisa em Segurana Pblica

    Galileu e a Revoluo Cientfica Moderna

    Nascido em Pisa (hoje, cidade pertencente Itlia), Galileu Galilei

    viveu em um mundo onde antigas crenas e obviedades estavam sendo

    sacudidas com todo vigor. E, em grande medida, atuou no sentido detornar essas mudanas ainda mais intensas. Estudou medicina e ma-

    temtica, aperfeioou o telescpio, visando permitir a observao dos

    astros e como no podia ser diferente sofreu na prpria carne as

    consequncias de pensar frente de seu tempo em uma poca e lugar

    onde romper com as tradies correspondia a flertar com a heresia.

    Figura 1.4:Galileu Galilei (1564-1642).

    Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Galileo.

    arp.300pix.jpg

    at hoje reconhecido por suas invenes, descobertas e contri-

    buies no campo das ideias filosficas. por essa via que estabeleceu,

    para as cincias, princpios e mtodos que vieram influenciar o de-

    senvolvimento cientfico da ento nascente modernidade. O primeiro

    princpio de seu mtodo a observao dos fenmenos tais como eles

    ocorrem. Por isso, aperfeioou o telescpio, aumentando seu alcance

    e preciso. Assim, derrubou ideias medievais relativas perfeio dos

    corpos celestes (entre outras), o que significava, no caso, uma negao

    a textos bblicos.

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    Metodologia de Pesquisa I

    Primeiramente, as autoridades catlicas limitaram-se a repreend-lo,

    instruindo-o a no mais defender suas ideias inovadoras. Ideias que in-

    cluam a adeso aos princpios postos por Nicolau Coprnico, segundo

    os quais era a erra que girava em torno do Sol, e no o contrrio.

    Durante alguns anos, Galileu se manteve em silncio. Porm, posterior-

    mente, volta a ridicularizar o conhecimento defendido pelos religiosos.

    Dessa forma, acabou atraindo para si toda a ira da ento poderosssima

    Igreja Catlica. Julgado em 1633 no ribunal do Santo Ofcio, foi obrigado

    a desmentir em pblico as teses que at ento defendera, sob pena de, caso

    no o fizesse, ser queimado na fogueira, como herege. Preferiu viver.

    Figura 1.5:Nicolau Coprnico (1473-1543)

    Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:

    Copernicus.jpg

    A chamada revoluo cientfica moderna tem seu ponto de parti-

    da na obra de Nicolau Coprnico, Sobre a revoluo das orbes ce-

    lestes(1543), em que se defende matematicamente (atravs de cl-

    culos dos movimentos dos corpos celestes) um modelo de cosmos

    em que o Sol o centro (sistema heliocntrico) e a erra apenas

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    Aula 1 Para alm dos problemas de polcia: uma introduo Metodologia da Pesquisa em Segurana Pblica

    mais um astro girando em torno do Sol, rompendo desse modo

    com o sistema geocntrico formulado no sculo II por Claudio

    Ptolomeu, em que a erra se encontra imvel no lugar central do

    Universo (cuja origem era o Tratado do cu, de Aristteles, embo-

    ra com importantes diferenas). Representa assim um dos fatoresde ruptura mais marcantes no incio da modernidade, uma vez

    que ia contra uma teoria estabelecida h praticamente vinte scu-

    los, constitutiva da prpria maneira pela qual o homem antigo e

    medieval via a si mesmo e ao mundo a que pertencia (MARCON-

    DES, 1998, p. 149).

    Contudo, tanto tempo decorrido depois da recusa dos gregos em rela-

    o aos mitos, passados alguns sculos da chamada revoluo cientfica,

    que contribuiu decisivamente no sentido de derrubar tantos mitos que j

    perduravam h milnios, o prprio cientista pode ser apontado como um

    dos grandes mitos atuais. Essa a ideia para a qual chama ateno o filsofo

    Rubem Alves, em Filosofia da cincia: introduo ao jogo e a suas regras.

    Para comear, o cientista, no raro, aparece associado imagem do gnio

    ou do louco, em grande medida materializada na figura de Albert Einstein(1879-1955) com seus cabelos desgrenhados e sua lngua para fora.

    Figura 1.6:O fsico alemo Albert Einstein, tornadoa imagem do cientista no senso comum.

    Fonte: http://www.flickr.com/photos/

    stlphotoblogger/170621225/sizes/m/in/photostream/

    Stlphotoblogger

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    Metodologia de Pesquisa I

    Mas esse no o nico e nem o mais importante dos mitos que en-

    volvem a cincia e os cientistas. Muito mais perigosa a noo segundo

    a qual o cientista aquele que, na diviso social das funes e ofcios,

    fica encarregado de pensar correto (por assim dizer), desobrigando os

    outros de pensarem. Pensemos no exemplo dos mdicos profissionaiscujo atributo principal, segundo essa viso, seria pensar as formas de

    cura para as doenas que nos afligem. Em grande medida, esse ponto

    de vista coerente. Por outro lado, ser que isso deveria nos levar a

    abandonar uma atitude minimamente reflexiva em relao a remdios e

    tratamentos aos quais nos submetemos?

    [...] Quando um mdico lhe d uma receita, voc faz perguntas?

    Sabe como os medicamentos funcionam? Ser que voc se per-gunta se o mdico sabe como funcionam? Ele manda, a gentecompra e toma. No pensamos. Obedecemos. No precisamospensar, porque acreditamos que h indivduos especializados ecompetentes em pensar. Pagamos para que pensem por ns. Edepois ainda dizem por a que vivemos em uma civilizao cien-tfica... O que eu disse dos mdicos voc pode aplicar a tudo. Oseconomistas tomam decises, e temos de obedecer. Os engenhei-ros e urbanistas dizem como devem ser nossas cidades, e assimacontece (ALVES, 2000, p. 10).

    No campo da Segurana Pblica, por sua vez, a questo ainda mais

    complexa. Por muito tempo, no Brasil, na falta de uma abordagem real-

    mente cientfica do tema, difundiu-se o mito de que os especialistas in-

    dicados para gerir e definir este campo eram aqueles que nele operavam,

    algo do tipo segurana coisa sria para os policiais que trabalham pon-

    do a mo na massa , no para os loucos dos cientistas! Como pensar,

    assim, uma cincia da Segurana Pblica? Como elaborar tecnologias

    sociais para lidar com seus dilemas?Nos ltimos anos, porm, tais sistemas de crena vm sendo cada vez

    mais relativizados. Ainda que em pequena quantidade, por enquanto, cur-

    sos de graduao, presenciais ou na modalidade a distncia, que forma-

    ro bacharis em Segurana Pblica, j apareceram no cenrio acadmico

    brasileiro e em universidades pblicas. Isso quer dizer que nos prximos

    anos uma massa crtica referente ao tema estar sendo formada, em uma

    histria que ser contada, em grande medida, atravs das biografias da-

    queles que, neste momento, deliberadamente decidiram engajar-se nesseinvestimento, os futuros bacharis e tecnlogos em Segurana Pblica.

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    Aula 1 Para alm dos problemas de polcia: uma introduo Metodologia da Pesquisa em Segurana Pblica

    As principais caractersticas do senso comum

    naturalidade: fenmenos de ordem social entendidos como fatos na-

    turais ou naturalizados;

    praticabilidade: associada ao bom senso, que sempre funciona na

    prtica;

    acessibilidade: o senso comum acessvel a todos os indivduos que

    compem a sociedade.

    Atividade 1

    Atende aos Objetivos 2 e 3

    De acordo com o senso comum, que imagem teria o cientista? Um g-

    nio? Um louco? Um especialista? Algum parecido com Albert Eins-

    tein? Algum que passa os dias em um laboratrio vestido de jaleco?

    Compare essas imagens correntes da cincia e dos cientistas com o que

    se espera de um tecnlogo em Segurana Pblica, elabore um texto e

    discuta-o com seu tutor, respondendo seguinte pergunta:

    Que perfil voc considera que havero de ter os tecnlogos em Seguran-

    a Pblica em uma perspectiva de segurana que parta das demandas

    da sociedade?

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    Metodologia de Pesquisa I

    Resposta Comentada

    O caminho para que voc possa tirar proveito desta atividade escrever

    um texto que demonstre sua capacidade de pensar a construo do co-

    nhecimento no campo da Segurana Pblica fora do mbito das natura-

    lizaes presentes e atuantes no senso comum.

    Por um lado, temos as naturalizaes relativas ao prprio conceito de cin-

    cia (associado a gnio, louco, Einstein, etc.) e, por outro lado, as naturaliza-

    es relativas ao prprio campo da Segurana Pblica onde no raro pre-

    dominam representaes socialmente difundidas a respeito de uma suposta

    melhor propriedade dos policiais para atuarem nessa empreitada.

    Dessa maneira, a resposta ideal a esta provocao aquela que rompe

    com tais reificaes, em favor de uma concepo do profissional da reada Segurana Pblica como sendo aquele capaz de estar atento ao dilogo

    interdisciplinar, visando efetiva compreenso da natureza dos dilemas e

    desafios a colocados.

    A Segurana Pblica e a mdia

    O antroplogo Edilson Silva autor de uma pesquisa que culminou

    em sua tese de doutorado, agora transformada em livro, sobre as re-

    centes mudanas no tratamento daquilo que podemos mais ou menos

    enquadrar como sendo a problemtica da (in)segurana na grande im-

    prensa carioca. Seu estudo tem por objetivo entender as formas pelas

    quais representada e construda a noo de violncia urbana nas re-

    presentaes miditicas da cidade do Rio de Janeiro e da Regio Metro-

    politana (SILVA, 2010).

    O pressuposto bsico adotado o de que a imprensa, juntamente com

    outros atores sociais, no s participa da produo e reproduo simb-

    lica da violncia urbana como atua de forma decisiva na sua definio

    enquantoproblemtica obrigatria, elevando-a, com isso, condio pri-

    vilegiada de um dos mais destacados problemas pblicos da atualidade.

    Segundo as palavras do prprio autor, suas primeiras inquietaes o

    levaram a pensar (inicialmente de maneira quase inadvertida, depois, de

    modo mais sistemtico) como e em que medida o tema da violncia foi, por

    um lado, deixando de ocupar apenas as pginas policiais para ocupar outros

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    Aula 1 Para alm dos problemas de polcia: uma introduo Metodologia da Pesquisa em Segurana Pblica

    lugares de destaque na mdia impressa e, por outro lado, deixou de se fazer

    presente apenas em veculos populares, de preo mais baixo, chegando at

    leitores, por assim dizer, mais refinados, que outrora no alcanava.

    O interesse por esse tipo de questo foi suscitado a partir da per-cepo inicialmente assistemtica e intuitiva de que, nas ltimasdcadas, o problema da assim chamada violncia urbana tinhadeixado de constar apenas nos jornais populares e se tornado re-corrente na grande imprensa em geral, passando a ganhar desta-que, inclusive, nas primeiras pginas dos ditos jornais noticiososou quality papers. A partir dessa percepo inicial, vrios pas-sos foram dados rumo delimitao do objeto de pesquisa que,pode-se dizer, foi se construindo paulatinamente no decorrer do

    doutorado, cursado entre os anos de 2002 e 2007 no Programa dePs-Graduao em Antropologia da Universidade Federal Flu-minense (SILVA, 2010, p. 15-16).

    Fundamentado na anlise de textos jornalsticos e em trabalho

    etnogrfico, o livro de Edilson Silva apresenta a redao de um

    jornal de grande circulao na cidade como o microcosmo de um

    campo de poder,e examina, passo a passo, diversas etapas que envol-

    vem o processo de produo das notcias. Discute, ainda, os critrios

    de seleo e hierarquizao das prioridades noticiosas adotados no

    referido jornal e pe em evidncia os princpios que regem as ativi-

    dades dos seus profissionais, levando-os a tratar de uma maneira es-

    pecfica as notcias e, com isso, oferecer aos leitores um determinado

    modo de apreender e interpretar o real.

    O que deve e o que no deve ser notcia

    O caso que relataremos a seguir real e foi contado durante umaaula da disciplina Mdia e Segurana Pblica, ministrada para a turma

    do ano de 2003 do Curso de Especializao em Polticas Pblicas de

    Justia Criminal e Segurana Pblica, na Universidade Federal Flumi-

    nense. Foi a professora da referida disciplina que relatou o acontecido.

    Um jornalista foi chamado por seu chefe de redao para cobrir

    uma triste notcia. Uma criana teria sido gravemente ferida pelo ata-

    que de um co da raa pitbull. Na poca, vinham sendo noticiados,

    com alguma frequncia, casos em que cachorros dessa raa atacavampessoas, algumas vezes chegando a lev-las a bito.

    Etnografia

    Estudo descritivo deum ou mais aspectossociais e culturais de umpovo, grupo social, etc.

    Atividade de obtenoe elaborao de dadosem pesquisa de campoantropolgica (Fonte:Minidicionrio Aurlio).Em outras palavras, aetnografia a forma pelaqual os antroplogosconstroem conhecimento,atravs da observaodireta (ou observaoparticipante) de ritos,prticas, conflitos eoutros aspectos do grupo

    tomado para, em seuinterior, realizar-se oestudo antropolgico.cnica-me da modernaAntropologia.

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    Metodologia de Pesquisa I

    A redao do jornal ficava na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, e

    o sinistro ocorrera no bairro de Campo Grande, na Zona Oeste, um dos

    mais remotos da cidade. Para cobrir o caso, o chefe da redao disponi-

    bilizou carro com motorista e um reprter fotogrfico.

    Quando chegaram ao local, os membros da equipe constataram que

    a criana estava realmente muito ferida, mas que, diferentemente do

    que haviam inicialmente apurado, o cachorro que a atacara no era um

    pitbull, e sim um vira-lata. Aps realizar as primeiras apuraes, o jor-

    nalista que liderava a equipe ligou para seu chefe e relatou o andamento

    daquela cobertura, informando, inclusive, sobre o fato de no ter sido

    um pitbull, e sim um vira-lata o algoz da criana. Para sua surpresa, foi

    orientado pelo chefe de redao a abortar a misso e retornar imedia-

    tamente sede do jornal, uma vez que o caso deixara, pelo exposto, deser uma notcia relevante, digna de figurar nas pginas daquele jornal.

    Situaes como essas nos devem levar a pensar sobre o que faz com

    que um fato se transforme em notcia. No caso, uma criana gravemente

    ferida pelo ataque de um co menos importante que uma criana gra-

    vemente ferida pelo ataque de um co da raa pitbull. O plus,no caso,

    no a criana ferida, nem a gravidade dos ferimentos, nem que estes

    tenham sido causados por um co, mas a raa do animal.

    Nos estudos desenvolvidos com foco na influncia que os meios decomunicao podem vir a exercer na forma de pensar apresentadas pe-

    las pessoas, h algumas teorias que investigam a respeito de como isso

    operacionalizado. Uma delas a assim concebida agendasetting.

    Consiste na ideia de que a mdia, ao selecionar determinados temas a

    serem veiculados, apaga aqueles que no entraram na pauta. Dessa ma-

    neira, um ou mais assuntos que so noticiados com determinada fora

    nos meios de comunicao acabam relegando ao esquecimento outros

    assuntos no veiculados, mesmo que sejam, tambm, de grande relevn-

    cia para a sociedade e seus cidados. Ora pode ser a corrupo policial

    ou a corrupo na poltica, ora a assim concebida epidemia do crack.

    Por vezes, a eleio de um novo papa, que ocorre em Roma, pode pa-

    recer (a julgar pela cobertura que lhe dada pela imprensa) mais impor-

    tante que os problemas que acontecem na esquina e que, no raro, tm um

    impacto considervel na questo da Segurana Pblica para o cidado.

    Agendasetting

    Significa pauta de fixao;uma forma de direcionara ateno que os leitores

    e telespectadores de umareportagem seguiro,

    ou seja, a mdia aponta

    quais temas seroconsiderados de interessecoletivo. Segundo

    Walter Lippmann, oconhecimento que as

    pessoas tm do mundoexterior formado pela

    seleo miditica desmbolos presentes no

    mundo real, criandouma relao entre aagenda miditica e

    a agenda pblica. Aagenda settingsegue

    fatores condicionados mensagem e recepo,considerando a

    necessidade de orientaodo pblico sobre

    determinado assunto.No quesito mensagem,

    a anlise mais forte estnas manchetes polticas,

    pois a mdia aponta einterfere na formao da

    opinio pblica a respeitoda luta do poder. Neste

    caso, a mdia utiliza como

    artifcios a dramatizaodos acontecimentosnela noticiados, a

    personalizao docontedo na matria e a

    apropriao de dinmicanos acontecimentos paraacelerar o entendimento

    do receptor da mensagem.

    Fonte: http://www.infoescola.com/jornalismo/agenda-setting

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    Aula 1 Para alm dos problemas de polcia: uma introduo Metodologia da Pesquisa em Segurana Pblica

    A mdia e o poder

    Em grande medida, inegvel que os meios de comunicao exer-

    cem hoje um grande poder. Criou-se a imagem de que a mdia fiscaliza

    os poderes oficiais com iseno, cobrando, do Poder Pblico, solues edenunciando-o em seus desvios e omisses. Aparentemente atuando com

    independncia em relao aos governos, reivindica para si a acumulao

    dos papis de denunciante e fiscal. Mas at que ponto, com tal postura,

    trabalha no sentido de construir uma relao de transparncia entre a

    populao e os governantes, e a partir de que ponto resvala em um de-

    nuncismo inquisidor? Em que medida no constri assim mais um mito?

    Sob os imperativos de uma imprensa cidad, tais abordagens (sobre-

    tudo na V, de maneira mais ou menos espetaculosa) acabam, velada oudeclaradamente, passando a ideia de que atuam no vazio deixado pelas

    instituies estatais. Para efeito de nossos objetivos pensar modos de

    construir tecnologias para uso no complexo campo da Segurana Pbli-

    ca , considerar este estado de coisas fundamental. Eis o ponto: para

    quem essas tecnologias devem ser construdas? Para o Estado? Para a

    imprensa? Ou para a sociedade?

    Atividade 2

    Atende aos Objetivos 1, 2 e 3

    Com base em sua compreenso desta aula, resolva as questes objetivas

    a seguir:

    1. No que se refere s relaes entre as perspectivas cientfica e do

    senso comum, assinale, entre as alternativas abaixo, aquela que se mos-trar incorreta:

    b) ( ) anto a cincia quanto o senso comum so tentativas de entender

    e interpretar, em sua complexidade, o mundo em que os seres hu-

    manos convivem.

    c) ( ) Segundo o filsofo francs Gaston Bachelard, o conhecimento

    cientfico sempre a reforma de uma iluso. Seguindo o racioc-

    nio, o conhecimento cientfico da Segurana Pblica nunca pode-

    r ser absoluto, e sim provisrio.

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    Metodologia de Pesquisa I

    d) ( ) O senso comum est mais apto a ser posto prova e a receber crti-

    cas do que a perspectiva cientfica da Segurana Pblica.

    e) ( ) Sociologicamente falando, correto comparar o senso comum a

    um campo minado de valores, preconceitos e supersties.

    2. Marque a alternativa em que encontramos as principais caractersti-

    cas do senso comum, de acordo com a presente aula:

    a) ( ) arbitrariedade naturalidade reflexibilidade.

    b) ( ) naturalidade praticabilidade acessibilidade.

    c) ( ) reflexibilidade praticabilidade acessibilidade.

    d) ( ) autoritarismo razoabilidade praticabilidade.

    3. Assinale, entre as seguintes alternativas, aquela que melhor represen-

    ta, segundo esta aula, uma concepo apropriada de Segurana Pblica:

    a) ( ) Segurana Nacional, assunto para as Foras Armadas.

    b) ( ) Segurana Pblica pensada sob a lgica da iniciativa privada.

    c) ( ) oma como base a perspectiva do Estado.

    d) ( ) Baseada nas demandas da sociedade.

    4. Contemporaneamente, o papel poltico da imprensa tem crescido

    bastante em todos os campos. Com a Segurana Pblica no diferente.

    Sendo assim, de acordo com a presente aula, como deve ser a relao en-

    tre a elaborao de tecnologias sociais para a rea da Segurana Pblica

    e a atuao poltica dos meios de comunicao?

    a) ( ) O tecnlogo em Segurana Pblica deve ignorar totalmente tudo que

    veiculado na imprensa, uma vez que os preconceitos e reificaes

    que a ocorrem inviabilizam a elaborao de tecnologias eficientes.

    b) ( ) Deve-se tomar a mdia como uma aliada preferencial, uma vez

    que seus fins so sempre nobres e puros.

    c) ( ) Assim como os profissionais de imprensa, os novos tecnlogos em

    Segurana Pblica devem instituir sua prpria agenda setting, po-

    dendo assim contradizer a pauta dos meios de comunicao.

    d) ( ) O mais importante tomar a esfera das representaes midi-

    ticas do jornalismo como um campo minado do qual semprese pode partir, mas com algum distanciamento e desconfiana.

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    Aula 1 Para alm dos problemas de polcia: uma introduo Metodologia da Pesquisa em Segurana Pblica

    Resposta Comentada

    1. c) A perspectiva cientfica provisria e sempre posta prova, como

    vimos ao longo da aula. Por isso, o senso comum se configura em um

    sistema de crenas muito arraigado. Portanto, em geral, tende a ser maisconservador e fechado crtica do que a cincia.

    2. b) Ver o item As principais caractersticas do senso comum desta aula.

    3. d) Ver objetivo nmero 3 deste captulo.

    4. d) A relao na qual a perspectiva cientfica da realidade social parte

    do senso comum e supera o seu campo minado atravs do distancia-mento aparece em diversos pontos da aula.

    Concluso

    A elaborao e a execuo de tecnologias para uso no campo da Segu-

    rana Pblica um desafio novo para um tipo de profissional que ir sur-gir do enfrentamento dessa complexa tarefa. No passado recente de nossa

    histria nacional, vivemos os chamados anos de chumbo da Ditadura

    Militar (1964-1985). Naquele contexto, em que prevalecia o conceito de

    Segurana Nacional, nada seria mais distante do que pensar em termos

    de Segurana Pblica. Segurana era assunto para as Foras Armadas,

    focadas, sobretudo, no combate ao inimigo interno, o subversivo.

    Com o restabelecimento da democracia no plano formal, no podera-

    mos esperar que as coisas e as mentalidades se transformassem como numpasse de mgica. Conceitos como o depblico, cidadania, autonomiaapa-

    receram com mais vigor do que nas dcadas anteriores e com defasagens e

    inexatides que no tinham causa, obviamente, apenas na Ditadura.

    Nossa cidadania, longe de ser plena, aparece adjetivada por diversos au-

    tores que se dedicaram ao tema, os quais teremos a oportunidade de abor-

    dar em outras aulas. E isso mostra o quanto no adianta importar conceitos,

    se eles no se encaixam em nossos horizontes conceituais e experienciais.

    Essas e outras confuses e inexatides so como pedras no caminho daconstruo efetiva de um saber para uso no campo da Segurana Pblica.

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    Metodologia de Pesquisa I

    Atividade Final

    Atende aos Objetivos 1, 2 e 3

    Pegue dois jornais, de preferncia em edies de domingo, e analise de-

    tidamente seus contedos, especialmente em relao ao que poderia ser,

    com maior ou menor exatido, enquadrado na categoria de notcias de

    Segurana Pblica. Veja que tipo de profissionais so convidados por

    esses veculos de comunicao para opinar e escrever como especialis-

    tas em questes relativas Segurana Pblica. Que formao eles tm?

    Compare-os em seus editoriais, na seo de cartas dos leitores e no es-

    pao das crnicas.

    Repare em que medida as linhas editoriais desses veculos esto ou no pre-paradas para despertar no leitor a ideia de que a Segurana Pblica assun-

    to que deve ser pensado do ponto de vista da sociedade, e no do Estado.

    Em seguida, prepare um texto para discutir com seu tutor as inquieta-

    es que essa leitura direcionada lhe propiciou, sempre relacionando

    o que voc encontrou nessa anlise detida com o contedo desta aula.

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    Aula 1 Para alm dos problemas de polcia: uma introduo Metodologia da Pesquisa em Segurana Pblica

    Resposta Comentada

    Caro aluno, embora esta atividade seja um pouco mais extensa que as

    outras (exigindo leituras adicionais), recomendamos fortemente a sua

    execuo. Isso porque so as suas inquietaes a partir deste conheci-

    mento difundido no senso comum, via imprensa (mesmo ele sendo um

    campo minado de reificaes naturalizadas), o ponto de partida para

    uma necessria construo do saber, ofcio do tecnlogo em Segurana

    Pblica. Em suma, so suas inquietaes que formaro o fio condutor

    que o levar formulao de tecnologias sociais.

    Por isso, no h uma resposta muito fechada para esta questo que,

    pelo exposto, forosamente dever ser construda a partir da interao

    entre aluno (aliando inquietao e criatividade), tutor e o material jor-

    nalstico eleito para anlise.

    Resumo

    Nesta unidade, procuramos limpar o terreno do campo da Seguran-

    a Pblica, uma vez que povoado por saberes difusos e ideias pre-

    concebidas.

    Faz-se necessrio, portanto, afastar de vez a ideia de que s policiais

    entendem deste assunto.

    Outra necessidade imperiosa para a construo de tecnologias aplic-

    veis rea da Segurana Pblica a de alertar o futuro profissional para

    o verdadeiro campo minado que inerente a esse contexto. Por isso,

    concentramos nosso foco nas abordagens do senso comum, em geral, e

    na imprensa, em especfico.Ao contrrio do que se apregoa, nada pode ser tomado como bvio para

    essa forma de construo do conhecimento de um tema to controverso

    e conflitivo.

    Informaes sobre a prxima aula

    Na aula seguinte, apresentaremos alguns conceitos, preceitos e ferra-

    mentas para uso na construo do saber e na elaborao de tecnologiasna Segurana Pblica. Conceitos, preceitos e ferramentas coerentemen-

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    Metodologia de Pesquisa I

    te associados forma como foi concebido este curso e ao perfil que se

    espera deste novo tipo de profissional, que o tecnlogo em Segurana

    Pblica. At l!

    Leituras recomendadas

    BALANDIER, Georges. O poder em cena. Braslia: Editora UnB, 1982.

    BERGER, Peter; LUCKMANN, Tomas.A construo social da realidade:

    tratado de sociologia do conhecimento. 22. ed. Petrpolis: Vozes, 2002.

    BOURDIEU, Pierre. Questes de nociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero,

    1983.

    ______ .A economia das trocas simblicas. 5. ed. So Paulo: Perspectiva,2001.

    ______ . O poder simblico. So Paulo: Bertrand Brasil, 2002.

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