PARA SUPERAR O ATRASO DA INSERÇÃO EXTERNA · Mercosul – Egito 02.08.2010 - ... -Em 1980 o...
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PARA SUPERAR O ATRASO
DA INSERÇÃO EXTERNA
IFHC
24 DE SETEMBRO DE 2015
Pedro Passos
Por Que É Importante a Aproximação com o Exterior?
A relação próxima de uma economia com o
mundo traz benefícios relevantes.
Do ponto de vista empresarial, porque abre
oportunidades de negócios e amplia as
possibilidades do crescimento das empresas.
Do ponto de vista da economia como um todo,
porque facilita o acesso a novas tecnologias,
a bens de capital e insumos modernos e mais
baratos.
2
Com maior desenvolvimento tecnológico e
menores custos de investir e produzir as economias
emergentes que tiraram proveito da aproximação
com o exterior reforçaram sua capacidade
competitiva e, assim, aumentaram as exportações.
Em consequência, o comércio exterior tornou-se
um vetor adicional e em vários casos o vetor
mais importante para o crescimento econômico
dos países.
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Por Que É Importante a Aproximação com o Exterior?
O Brasil se distanciou desse processo por
optar por um desenvolvimento “para dentro”
e por eleger prioridades muito limitadas em
termos de acordos e parcerias comerciais.
A meu ver, hoje, o país paga um preço muito
elevado por estas opções.
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Por Que É Importante a Aproximação com o Exterior?
Em Síntese:
- O tamanho do nosso atraso em matéria das relações
externas é tão grande que agora são requeridas ações
urgentes e de grande alcance.
- A crise industrial e a recessão da economia não deixam
outra alternativa senão a aproximação com grandes
centros mundiais.
- O relançamento comercial do país constitui condição
para a reorientação industrial brasileira
Por isso, o momento exige uma
agressiva política de comércio externo
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Momento Atual
A seguir trataremos os seguintes pontos:
- Oportunidades perdidas pelo Brasil devido ao
seu isolamento
- As consequências para o país
- As ações para mudar este quadro e reorientar a
economia
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Oportunidades Perdidas
1 – Multiplicação dos acordos preferenciais (APs)
e mega acordos (TransPacífico e TransAtlântico)
dos quais o Brasil não tem participado
2 – Organização da produção e da comercialização
através de cadeias globais de valor e a falta de
integração do Brasil
Oportunidades se apresentaram
e o Brasil não aproveitou!
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1 - Multiplicação dos
Acordos Preferenciais
Tipos: Acordos bilaterais, regionais e de
cooperação econômica
Abrangência: comércio de bens e serviços,
investimento, concorrência, clima e meio
ambiente, padrões trabalhistas, dentre
outros
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Número de
Acordos Preferenciais 9
Source: WTO, 2013
Mega-Acordos
TTIP – Transatlantic Trade and Investment Partnership
. EUA e UE
TPP – Trans-Pacific Partnership
. EUA, Austrália, Canadá, México, Chile, Peru, Japão,
Cingapura, N. Zelândia, Brunei, Vietnã, Malásia
RCEP – Regional Comprehensive Economic Partnership
. China, Indonésia, Malásia, Filipinas, Laos, Tailândia,
Cingapura, Brunei, Myanmar, Camboja, Vietnã, Japão,
Coreia, Índia, Austrália, Nova Zelândia
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Mega-Acordos
- Acordos sobre regras e não sobre tarifas
- Acordos de convergência de regras só
entre as partes
- Novas regras sobre: medidas técnicas, sanitárias,
fitossanitárias, serviços, propriedade intelectual,
ambiente, clima, trabalho, economia digital
Bom para as partes e
exclusão do resto do mundo
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Mega-Acordos
TPP TTIP RCEP
Países
12 29 16
Porcentagem
PIB mundial (%) 38 46 29
Exportações
Bens+serviços
mundiais (%)
24 25 30
Fonte: Peterson Institute
TransPacífico e TransAtlântico
(TPP e TTIP) 13
Fonte: DRAPER; MELÉNDEZ-ORTIZ, in Mega-regional trade agreements. WEF, July 2014
TTIP EUA UE
TPP EUA Austrália Canadá México Chile Peru
TPP Japão Cingapura N. Zelândia Brunei Vietnã Malásia
Acordos Preferenciais - América
Latina
14
Acordos Preferenciais do Mercosul
Acordo Data de
Assinatura
Data de Entrada
em Vigor
Mercosul – Índia 25.01.2004 01.06.2009
Mercosul – Israel 18.12.2007 39.04.2010
Mercosul – SACU* 03.04.2009 -
Mercosul – Egito 02.08.2010 -
Mercosul – Palestina 20.12.2011 -
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*União Aduaneira do Sul da África Fonte: Mercosul
APCs do Mercosul: em negociação,
assinados, não ratificados
Marrocos (Acordo-Quadro assinado em 2004)
Conselho de Cooperação do Golfo – CCG (em negociação)
SACU e Índia (aprofundamento dos acordos)
Sistema de Integração Centro-Americana – SICA (em negociação)
Paquistão (Acordo-Quadro assinado em 2006)
Jordânia (Acordo-Quadro assinado em 2008)
Turquia (Acordo-Quadro assinado em 2010)
União Europeia (Relançamento das negociações em 2010)
Canadá (Consultas em 2012)
16
Fonte: Ministério das Relações Exteriores.
América do Sul – O Afastamento do Brasil
17
Fonte: Barbara Kotschwar, Peterson Institute, 2014.
Consequências
- Brasil fora dos acordos preferenciais
- Brasil fora dos Mega-Acordos
- Brasil fora da negociação das novas regras de
comércio
- Brasil praticamente só tem OMC como foro de
negociação
- Brasil está perdendo a América do Sul do pacífico
para a Ásia (China) e EUA
- E pode estar perdendo até o Mercosul para China
(Acordo com Argentina)
18
Conclusão
O Brasil ficou para trás, atrelado ao
Mercosul e perdendo oportunidades de
estabelecer acordos com países de peso
19
2 – Cadeias Globais de Valor
Cadeias globais representam
70% a 80% do comércio mundial
20
Cadeias Globais de Valor 21
Participação em
Cadeias Globais:
Um dos principais indicadores de participação dos países
em cadeias globais é o percentual de importação contido
nas exportações de manufaturados.
- Essa relação para o Brasil era de 11% em 2009, muito
menor daquela encontrada para outras economias,
denotando baixíssima participação em cadeias globais.
- Também é revelador da frágil posição brasileira o fato
do indicador não ter se elevado entre 1995 e 2009, ao
contrário do que ocorreu com várias outras economias.
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Participação em
Cadeias Globais:
Alguns exemplos:
- Coreia: 26% (1995) e 44% (2009)
- México: 33% e 37%
- China: 13% e 35%
- Chile: 18% e 30%
- Índia: 12% e 29%
É uma tendência da indústria mundial a
participação crescente em cadeias globais
A reorientação da indústria brasileira deveria
perseguir precisamente esse objetivo central
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Cadeias Globais: Condições Para Participar
- Articulação com as transnacionais exportadoras (brasileiras
/estrangeiras) - utilizá-las como plataformas de cadeias
- Participação em acordos preferenciais com países
desenvolvidos - porque esses países são fonte de tecnologia
- Reforma tarifária - para reduzir custos de importação de
insumos
- Redefinir as regras de origem – reduzindo o conteúdo
regional que é fonte de aumento de custos (ex: conteúdo
regional no Mercosul é de 60%)
- Modernização da Infraestrutura – outro fator de
encarecimento da produção local
Conclusão: Brasil não se preparou para o jogo!
24
Manufatura: Importação/PIB
Indústria (FGV) - % - 25
Manufatura: Exportação/PIB
Indústria (FGV) - % -
26
Manufatura: Importação de Bens
Intermediários/PIB Indústria (FGV) - % - 27
Manufatura: Exportação de Bens
Intermediários/PIB Indústria (FGV) - % - 28
Manufatura: Insumos Domésticos Sobre
Total Insumos Consumidos (FGV) - % - 29
China
- Compete com exportações brasileiras e invade
América do Sul
- China é o maior mercado brasileiro
- Crescem os investimentos da China na América
do Sul e no Brasil
- Oportunidade a longo prazo de, além de
commodities, se tornar mercado para
manufaturados
30
Consequências:
Brasil participa pouco das cadeias globais
de valor, exceto das cadeias de alimentos
Precisamos reestudar a importância das
indústrias de montagem. Estas podem dar início
a processos de aprendizado, de atração de
investimentos e diversificação da produção
31
Conclusão
Isolamento é um dos mais destacados fatores
para a baixa produtividade da economia
brasileira e pelas dificuldades que a indústria
do país atravessa
O fosso da produtividade vem se aprofundando
e o Brasil se distancia muito dos padrões das
economias emergentes mais dinâmicas
32
Brasil: O Fosso da Produtividade 33
Indicadores de Crescimento
Taxa Média de Expansão no Período, em %
PIB Força de Trabalho
Produtividade
do Trabalho
2003-08 2008-13 2003-08 2008-13 2003-08 2008-13
Brasil 3,7 1,8 1,4 0,9 2,3 0,9
China 10,9 8,3 -0,1 -0,1 11,0 8,4
índia 6,5 5,6 -0,3 -0,4 6,8 6,1
Rússia 7,5 0,8 1,7 -0,2 5,7 1,1
África do Sul 3,5 0,5 1,9 -0,9 1,6 1,5
Indonésia 4,2 4,5 0,4 0,8 3,8 3,7
União Europeia 1,3 0,5 0,3 -0,1 1,0 0,6
EUA 1,3 0,9 -0,4 -0,5 1,7 1,4
Fonte: Economic Policy Reforms 2015: Going for Growth - OCDE
A Crise Industrial e a Recessão 34
A etapa muito negativa que a indústria
brasileira está atravessando vem desde a crise
mundial
- A produção hoje é 11% inferior à do período
imediatamente anterior à crise global, ou seja,
agosto de 2008
- O PIB da indústria de transformação vem sendo
fortemente negativo, contribuindo para a recessão
da economia
PIB - Taxa Trimestral com Relação ao
Mesmo Trimestre do Ano Anterior - % - 35
-9
-7
-5
-3
-1
1
3
5
7
9
11
13
15
17
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II
2010 2011 2012 2013 2014 2015
PIB Indústria de Transformação
A Declinante Presença
no Cenário Mundial 36
No âmbito mundial a participação da indústria
brasileira vem recuando, sendo ultrapassada por
outras economias emergentes:
- Em 1980 o Brasil respondia por 2,7% do valor agregado
industrial do mundo, ocupando a 7º colocação no
ranking e liderando os países emergentes
- Posição atual: 11º lugar com apenas 1,6% do valor
agregado e clara tendência de declínio
A Declinante Presença
no Cenário Mundial 37
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
Valor Agregado de Manufatura - % do Total Mundial China: Lado Direito - Fonte: ONU
Córeia do Sul Índia Brasil China
A Inexpressiva Exportação
de Manufaturados 38
Segundo a OMC nossas exportações totais
correspondiam em 2013 a 1,3% das exportações
mundiais; ocupávamos a modesta 22ª posição
Em produtos manufaturados, éramos no mesmo ano
apenas o 31º exportador, com 0,7% das exportações
mundiais
Em 2014 e 2015 devemos ter perdido mais posições
A Inexpressiva Exportação
de Manufaturados 39
4,1
1,6
0,7
17,5
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Exportação de Manufaturados % do Total Mundial China: Eixo Direito – Fonte: OMC
Córeia do Sul Índia Brasil China
Brasil: 31º no ranking
mundial em 2013
A Indústria que o
Brasil Precisa Não É Esta 40
Seu desempenho é frágil e sua expressão mundial é cada
vez menor
Isto reflete uma competitividade cadente motivada por
duas ordens de fatores:
- Fatores externos à dinâmica industrial, conhecidos
como “custo Brasil”, reunindo temas como
infraestrutura, tributação, legislação trabalhista,
câmbio e outros
- A baixa capacidade inovadora e a frágil produtividade
Superação da Baixa Inovação
e Produtividade 41
A solução do Custo Brasil não será possível sem um
conjunto de reformas (fiscal, tributária, trabalhista,
logística).
A superação dos entraves da inovação e da produtividade
insuficientes para amparar um novo e ciclo de
crescimento econômico de longo prazo, pressupõe:
- O abandono da postura defensiva e protecionista que
tem prevalecido; e
- A adoção de firme e consequente abertura para os
mercados globais.
Superação da Baixa Inovação
e Produtividade 42
- Países emergentes de maior sucesso procuraram
assegurar a capacidade de gerar inovações e ganhos de
produtividade por meio de maior vinculação de suas
economias com a economia mundial.
- Estratégias apoiadas em incentivos e proteção
permanentes não desenvolvem estruturas empresariais
capazes de gerar aumentos de produtividade e de
concorrer em mercados abertos.
Superação da Baixa Inovação
e Produtividade 43
É necessário articular as políticas industrial e de
inovação com uma nova política de comércio exterior.
- Isto significa maior participação do país nas
exportações e importações mundiais com integração
da produção brasileira nas cadeias globais de valor.
- A maior integração permitirá ao Brasil seguir as
tendências do desenvolvimento tecnológico e do novo
desenho da indústria mundial.
O Que Fazer?
Dar fim ao isolamento irá requerer
visão clara de objetivos de governo,
determinação e lideranças capazes
de implementar um plano ousado
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O Que Fazer?
Alternativas de curto, médio e longo prazo
1) Redução unilateral de tarifas e revisão do
modelo de conteúdo local
. as tarifas ainda são altas
. as tarifas efetivas são muito altas
. existem grandes distorções entre insumos e
produtos finais
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Tarifas de Importação 46
“As tarifas de importação brasileiras são elevadas
quando comparadas às prevalecentes nos demais
países e os diferenciais são particularmente
significativos nas comparações em setores de bens
intermediários e bens de capital.”
Ricardo Markwald, “Inserção do país na economia
mundial: Qual a singularidade do Brasil?”
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Tarifas de Importação
O Que Fazer ?
2) Acelerar a integração via acordos preferenciais
com países desenvolvidos – fontes de tecnologia
e bens de capital e insumos a custos
internacionais
Opções:
- EUA e União Europeia
- Canadá e Coreia
- México (independe do Mercosul via Aladi)
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O Que Fazer ?
3) Incentivar empresas transnacionais
(nacionais ou estrangeiras) para
maior inserção em cadeias de valor
4) Repensar o Mercosul
O Mercosul não pode ser impeditivo para o
Brasil desenvolver sua própria agenda externa
49
Muito obrigado! 50