Parasitologia humana 11ª edição - david pereira neves

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  • 1. 1. Glossrio, 3 David Pereira Neves 2. Relao Parasito-Hospedeiro, 2 David Pereira Neves 3. Epidemiologia: Introduo e Conceitos, 15 Maringela Carneiro Carlos Maurcio de Figueiredo Antunes 4. CIassificao dos Seres Vivos, 27 David Pereira Neves 5. Protozoa, 33 Ricardo Wagner de Almeida Vitor 6. Subfilo Mastigophora, 32 Ari Moura Siqueira 1. Gnero LeisLmania, 41 Marilene Suzan Marques Michalick 8. Leishmaniose Tegumentar Americana, 47 Oduir Genaro (in memoriam) Alexandre Barbosa Reis 9. Leishmaniose Tegumentar do Velho Mundo, 65 Odair Genaro (in memoriam) Alexandre Barbosa Reis

2. 10. ~eishmanioseviscera1 Americana, 61 Marilene Suzan Marques Michalick Odair Genaro(in memoriarn) 11. Xypanosorna cruzi e Doena de Chagas, 85 Marta de Lana , WashingtonLuiz Tafuri 12. Xypanosorna (Herpetosorna)rangeli, 109 Edmundo Carlos Grisard Mrio Steindel 13. Trchornonas, 115 Geraldo Attlio De Carli Eana Tasca 14. Giardia, 121 Maria Ins Terra Leme Sogayar Semramis Guimares 15. Amebase: Entamoeba histolytica/Entamoeba dispar, Edward Flix Silva Maria Aparecida Gomes 16. Amebas de Vida Livre, 139 David Pereira Neves 11. ~Iasmodiurn-Malria, 143 rika Martins Braga Cor Jesus Fernandes Fontes 18. Toxoplasma gondii, 163 Urara Kawazoe 19. Sarcocystis, Isospora e ~ryptosporidium,113 Jos Divino Lima 20. BaIantidium coIi, 181 David Pereira Neves 21. Helmintos, 185 Hlio Martins de Arajo Costa (in memoriarn) 22. Schistosoma mansoni e a Doena, 193 Alan Lane de Me10 Paulo Marcos Zech Coelho 3. 23. MoIuscos Transmissores do ScListosoma mansoni, 213 Femando Schemelzer de Moraes Bezerra 24. Fasciola Lepatica,.223 Marcos Pezzi Guimares 25. Tenase e Cisticercose, 222 Amlia Vernica Mendes da Silva 26. Echinococcus granulosus - Hidatidose, 239 Maria Elisabeth Aires Berne 22. Hymenolepis nana, 242 David Pereira Neves 28. Outros Cestoda, 251 David Pereira Neves 29. Ascaris lumbricaides, 253 Amlia Vernica Mendes da Silva CristianoLara Massara 30. Ancylostomidae, 261 Antnio Csar Rios Leite 31. Larva migrans, 221 Walterdos Santos Lima 32. Strongyloides stercoralis, 215 Julia Maria Costa-Cruz 33. Enterobius vermicularis, 285 David Pereira Neves 34. TicLuris trickiura e Outros Trichuridas, 289 Deborah Aparecida Negro-Corra 35. WucLereria bancrofti -Filariose Linftica, 299 Gilberto Fontes Eliana Maria Maurcio da Rocha 36. OncLocerca uovulus e Outros Filardeos Humanos, 309 Gilberto Fontes Eliana Maria Maurcio da Rocha 4. 31. Filo Adhropoda, 319 David Pereira Neves 38. Classe Insecta, 323 David Pereira Neves 39. Hemiptera, 321 Lilia Diotaiuti Marcos Horcio Pereira Hlio Nogueira Espinola 40. Cimicidae, 341 David Pereira Neves 4 1. Diptera ,343 David Pereira Neves 42. ~s~chodidae,345 Paul Williarns Edelberto Santos Dias 43. Culicidae, 355 lvaro Eduardo Eiras 44. Simuliidae, 369 David Pereira Neves Herbert Tadeu de Alrneida Andrade 45. Cerat~po~onidae,313 Carlos Brisola Marcondes 46. Tabanomorpha, 311 David Pereira Neves 41. Muscomorpha, 319 David Pereira Neves 48. Miases, 382 Arcio Xavier Linhares 49. Siphonaptera, 392 Pedro Marcos Linardi 50. Anoplura, 402 Pedro Marcos Linardi 5. 51. Classe Amchnida, 413 Jos Oswaldo Costa Jos Ramiro Botelho 52. Subordem Sarcoptiformes, 423 Jos Ramiro Botelho 53. Controle de Insetos, 429 David Pereira Neves 54. Parasitoses Emergentes, 431 Ornar dos Santos Carvalho Cristiane Lufeta G E de Mendona Henrique Leonel Lenzi David Pereira Neves Dulcinia M. Barbosa Campos Jos Divino Lima Urara Kawazoe Ricardo Wagner de Almeida Vitor 55. Exame Parasitolgico de Sangue, 453 David Pereira Neves 56. Exame p ara si to lgico de Fezes, 455 Mriam Oliveira e Rocha Colaborador: Rmulo Teixeira de Mel10 51. Meios de Cultura, 465 David Pereira Neves 58. Exame de Vetores, 469 David Pereira Neves ndice Remissivo, 415 6. Conceitos Gerais 7. H*- Glossrio David Pereira Neves Agente Etiolgico. o agente causador ou responsvel pela origem da doena. Pode ser um vrus, bactria, fungo, protozorio,helminto. Agente Infeccioso. Parasito, sobretudo, microparasitos (bactrias, fungos, protozorios, vrus etc.), inclusive hel- mintos, capazes de produzir infeco ou doena infecciosa (OMS, 1973). Anfixenose. Doena que circula indiferentemente entre humanos e animais, isto , tanto os humanos quanto os ani- mais funcionam como hospedeiros do agente. Exemplo: doena de Chagas, na qual o Trypanosoma cruzi pode cir- cular nos seguintes tipos de ciclo: ciclo silvestre: gamb-triatomneo-gamb; ciclo peridomstico: ratos, co-triatomneo-ratos, co; ciclo domstico: humano-triatomneo-humano; co, gato-triatomneo-co, gato. Antroponose.Doena exclusivamentehumana. Por exem- plo, a filariosebancrofiiana,a necatorose, a gripe etc. Antropozoonose. Doena primria de animais, que pode ser transmitida aos humanos. Exemplo: brucelose, na qual o homem um hospedeiro acidental. Cepa. Grupo ou linhagem de um agente infeccioso, de ascendncia conhecida, compreendida dentro de uma es- pcie e que se caracteriza por alguma propriedade biol- gica e/ou fisiolgica. Ex.: a cepa "Laredo" da E. his- tolytica se cultiva bem a temperatura ambiente, com m- dia patogenicidade. Contaminao. a presena de um agente infecciosona superficiedo corpo, roupas, brinquedos, gua, leite, alimen- tos etc. Doena Metaxnica.Quando parte do ciclo vital de um parasito se realiza no vetor; isto , o vetor no s transporta o agente, mas um elemento obrigatriopara maturao e/ ou multiplicao do agente. Ex.: malria, esquistossomose. Enzoose. Doena exclusivamente de animais. Por exem- plo, a peste suna, o Dioctophime renale, parasitando rim de co e lobo etc. Endemia. a prevalnciausual de determinadadoena com relao a rea. Normalmente, considera-se como en- dmica a doena cuja incidncia permanece constante por vrios anos, dando uma idia de equilbrio entre a doena e a populao, ou seja, o nmero esperadode casos de um evento em determinadapoca. Exemplo: no incio do inver- no espera-se que, de cada 100 habitantes, 25 estejam gripados. Epidemia ou Surto Epidmico. a ocorrncia, numa co- letividade ou regio, de casos que ultrapassam nitidamente a incidncianormalmente esperada de uma doena e derivada de uma fonte comum de infecoou propagao. Quando do aparecimento de um nico caso em rea indene de uma doena transmissvel(p. ex.: esquistossomoseem Curitiba), podemos considerar como uma epidemia em potencial, da mesma forma que o aparecimento de um nico caso onde havia muito tempo determinada doena no se registrava(p. ex.: varola, em Belo Horizonte). Epidemiologia. o estudo da distribuio e dos fatores determinantesda frequncia de uma doena (ou outro even- to). Isto , a epidemiologia trata de dois aspectos fun- damentais: a distribuio (idade, sexo, raa, geografia etc.) e os fatores determinantes da freqncia (tipo de patgeno, meios de transmisso etc.) de uma doena. Exemplo: na epi- demiologia da esquistossomosemansoni, no Brasil, devem ser estudados: idade, sexo, raa, distribuio geogrfica, criadourosperidomiciliares, suscetibilidadedo molusco, h- bitos da populao etc. (Ver Capitulo 3 Epidemiologia). Espcies Aloptricas. So espcies ou subespcies do mesmo gnero, que vivem em ambientes diferentes,devido a existncia de barreiras que as separaram. Espcies Simptricas. So espcies ou subespcies do mesmo gnero,que vivem num mesmo ambiente. EspcieEuritopa.a quepossui ampladislribuiqogeogr- fica, com amplavalncia ecolgica,e atcom hbitats variados. Espcie Estentopa. a que apresenta distribuiogeo- grfica restrita com hbitats restritos. Estdio. a fase intermedihia ou intervalo entre duas mudas da larva de um &pode ou helrninto.Ex.: larva de 1" estdio, larva de 3*estdio, estdio adulto (em entomologia, estdio adulto sinnimo de instar). Capitulo 1 3 8. Estgio. a forma de transio (imaturos) de um artrpodeou heirninto para completar o ciclo biolgico. Ex.: estgio de ovo, larva ou pupa (portanto, o estgio larva pode passar por dois ou trs estdios). Fase Aguda. aqueleperodo aps a infecoem que os sintomas clnicos so mais marcantes (febre alta etc.). um perodo de definio: o indivduose cura, entra na fase cr- nica ou morre. Fase Crnica. a que se segue a fase aguda; caracteri- za-se pela diminuioda sintomatologiaclnica e existe um equilbrio relativo entre o hospedeiro e o agente infecc,ioso. O nmero do parasitos mantm uma certa constncia.E im- portante dizer que este equilbrio pode ser rompido em fa- vor de ambos os lados. Fmite. representado por utenslios que podem veicu- lar o parasito entre hospedeiros. Por exemplo: roupas, serin- gas, espculos etc. Fonte de Infeco. " a pessoa, coisa ou substncia da qual um agente infeccioso passa diretamente a um hos- pedeiro. ~ s i afonte de infeco pode estar situada em qual- quer ponto da cadeia de transmisso. Exemplos: gua con- taminada (febre tifide), mosquito infectante (malria),car- ne com cisticercos (tenase)." OMS, 1973. Hbitat. o ecossistema,local ou rgo onde determi- nada espcie ou populao vive. Ex.: o Ascaris lumbricoides tem por hbitat o intestino delgado humano. Heteroxeno.Ver Parasito heteroxnico. Hospedeiro. um organismo que alberga o parasito. Exemplo: o hospedeiro do Ascaris lumbricoides o ser hu- mano. Hospedeiro Definitivo.o que apresenta o parasito em fase de maturidade ou em fase de atividade sexual. HospedeiroIntermedirio.aqueleque apresentao pa- rasito em fase larvria ou assexuada. HospedeiroParatnicoou de Ti-ansporte.o hospedeiro intermediriono qual o parasito no sofre desenvolvimen- to, mas permanece encistado at que o hospedeiro definiti- vo o ingira. Exemplo: Hymenolepis nana em colepteros. Incidncia. a freqncia com que uma doena ou fato ocorre num perodo de tempo definido e com relao populao (casos novos, apenas). Exemplo: a incidn- cia de piolho (Pediculus humanus) no Grupo Escolar X, em Belo Horizonte,no ms de dezembro, foi de 10%.(Dos 100 alunos com piolho, 10 adquiriram o parasito no ms de dezembro.) Infeco. Penetraoe desenvolvimento,ou multiplicao, de um agente infecciosodentro do organismo de humanos ou animais (inclusivevrus, bactrias, protozorios e helmintos). Infeco Inaparente. Presena de infeco num hos- pedeiro, sem o aparecimento de sinais ou sintomas clnicos. (Nesse caso, pode estar em curso uma patogenia discreta, mas sem sintomatologia;quando h sintomatologiaa infec- o passa a ser uma doena infecciosa.) Infestao. o alojamento, desenvolvimento e reprodu- o de artrpodesna superficie do corpo ou vestes. (Pode- se dizer tambm que uma rea ou local est infestado de artrpodes.) Letalidade. Expressa o nmero de bitos com relao a determinada doena ou fato e com relao a populao. Por ex.: 100% das pessoas no-vacinadas, quando atingidas pelo vrus rbico, morrem.A letalidadena gripe muito baixa. Morbidade.Expressa o nmero de pessoas doentes com relao a populao. Exemplo: na poca do inverno, a mor- bidade da gripe alta [isto , o nmero de pessoas doentes (incidncia) grande]. Mortalidade.Determina o nmero geral de bitos em de- terminado perodo de tempo e com relao a populao. Exemplo: em Belo Horizonte morreram 1.O32pessoas no ms de outubro de 2004 (acidentes, doenas etc.). Parasitemia. Reflete a carga parasitria no sangue do hospedeiro. Exemplo: camundongos X apresentam 2.000 tripanossomas por cm3de sangue. Parasitismo. a associao entre seres vivos, em que existe unilateralidade de benefcios, sendo um dos as- sociados prejudicados pela associao. Desse modo, o pa- rasito o agressor, o hospedeiro o que alberga o parasi- to. Podemos ter vrios tipos de parasitos: Endoparasito. O que vive dentro do corpo do hos- pedeiro. Exemplo:Ancylostoma duodenale.Ectoparasito. O que vive externamente ao corpo do hospedeiro. Exemplo: Pediculus humanus (piolho). Hiperparasito. O que parasita outro parasito. Exemplo: E. histolytica sendo parasitado por fungos (Sphoerita en- dogena) ou mesmo por cocobacilos. Parasito Acidental. o que parasita outro hospedeiro que no o seu normal. Exemplo: Dipylidium caninum, parasitando criana. Parasito Errtico. o que vive fora do seu hbitat normal. Parasito Estenoxnico. o que parasita espcies de ver- tebrados muito prximas. Exemplo: algumas espcies de Plasmodium s parasitam primatas; outras, s aves etc. Parasito Eurixeno. o que parasita espcies de verte- brados muito diferentes. Exemplo: o Toxoplasmagondii,que pode parasitar todos os mamferos e at aves. Parasito Facultativo.o que pode viver parasitando, ou no, um hospedeiro (nesse ltimo caso, isto , quando no est parasitando, chamado vida livre). Exemplo: larvas de moscas Sarcophagidae, que podem desenvolver-se em fe- ridas necrosadas ou em matria orgnica (esterco) em de- composio. Parasito Heterogentico. o que apresentaaltemncia de geraes. Exemplo:Plasmodium, com ciclo assexuadono mamfero e sexuado no mosquito. Parasito Heteroxnico. o que possui hospedeiro de- finitivo e intermedirio. Exemplos: Trypanosoma cruzi, S. mansoni. Parasito Monoxnico. o que possui apenas o hos- pedeiro definitivo. Exemplos: Enterobius vermicularis, A. lumbricoides. Parasito Monogentico.o que no apresenta alternn- cia de geraes (isto , possui um s tipo de reproduo sexuada ou assexuada). Exemplos: Ascaris lumbricoides, Ancylostomatidae, Entamoeba histolytica. Parasito Obrigatrio.aquele incapaz de viver fora do hospedeiro. Exemplo: Toxoplasma gondii, Plasmodium, S. mansoni etc. Capitulo 1 9. Parasito Peridico. o que frequenta o hospedeiro intervaladamente.Exemplo:os mosquitos que se alimentam sobre o hospedeiro a cada trs dias. Parasitide.a forma imatura (larva) de um inseto (em geral da ordem Hymenoptera) que ataca outros invertebra- dos, quase sempre levando-os a morte (parasitide = para- sitoproteleano). Ex.: os micromenpterosTelenomousfariai e Spalangia endius desenvolvendo-se, respectivamente, em ovos de triatomneos e pupas de moscas. Partenognese.Desenvolvimentode um ovo sem inter- ferncia de espermatozide (parthenos = virgem, mais genesis = gerao). Ex.: Strongvloidesstercoralis. Patogeniaou Patognese. o mecanismo com que um agente infeccioso provoca leses no hospedeiro. Ex.: o S. mansoni provoca leses no organismo atravs de ovos, formando granulomas. Patogenicidade. a habilidade de um agente infec- cioso provocar leses. Ex.: Leishmania braziliensi tem urna patogenicidade alta; Taenia saginata tem patogeni- cidade baixa. Patognomnico. Sinal ou sintoma caracterstico de uma doena. Ex.: sinal de Romana, tpico da doena de Chagas. Pedognese. a reproduo ou multiplicao de uma forma larvria (pedos=jovem, mais genesis = gerao). Ex.: a formao de esporocistossecundrios e rdias a partir do esporocistoprimrio. Perodo de Incubao. o perodo decorrente entre o tempo de infeco e o aparecimento dos primeiros sinto- mas clnicos. Ex.: esquistossomose mansoni-penetrao de cercria at o aparecimento da dermatite cercariana (24 horas). Periodo Pr-Patente. o perodo que decorre entre a in- fecoe o aparecimento das primeiras formas detectveis do agente infeccioso. Ex.: esquistossomose mansoni-perodo entre a penetrao da cercria at o aparecimento de ovos nas fezes(formas detectveis), aproximadamente,43 dias. Poluio. a presena de substncias nocivas (produ- tos qumicos, por exemplo)mas no-infectantes, no ambiente (ar, gua, leite, alimentosetc.). Portador. Hospedeiro infectado que alberga o agente infeccioso, sem manifestar sintomas, mas capaz de trans- miti-lo a outrem. Nesse caso, tambm conhecido como "portador assintomtico"; quando ocorre doena e o por- tador pode contaminar outras pessoas em diferentes fases,f temos o "portador em incubao", "portador convalescen- te", "portador temporrio", "portador crnico". Premunioou Imunidade Concomitante.um tipo es- pecial do estado imunitrio ligado a necessidade da presen- a do agente infeccioso em nveis assintomticos no hos- pedeiro. Normalmente, a premunio encarada como sen- do um estado de imunidade que impede reinfeces pelo agente infeccioso especfico.Ex.: na malria, em algumas re- gies endmicas, o paciente apresenta-se em estado crni- co constante, no havendo reagudizao da doena. Existe um equilbrio perfeito entre o hospedeiro o hspede. Prevalncia. Termo geral utilizado para caracterizar o nmero total de casos de uma doena ou qualquer outra ocorrncia numa populao e tempo definidos (casos anti- gos somados aos casos novos). Ex.: no Brasil (populao definida), a prevalncia da esquistossomose foi de 8 milhes de pessoas em 1992. Profdaxia. o conjuntode medidas que visam a preven- o, erradicao ou controle de doenas ou fatos prejudici- ais aos seres vivos. Essas medidas so baseadas na epide- rniologia de cada doena. (Prefirousar os termos "profilaxia", quando uso medidas contra uma doena j estabelecida e "preveno", quando uso medidas para evitar o estabeleci- mento de uma doena.) Reservatrio. So o homem, os animais, as plantas, o solo e qualquer matria orgnica inanimada onde vive e se multiplica um agente infecioso, sendo vital para este a pre- sena de tais reservatrios e sendo possvel a transmisso para outros hospedeiros (OMS). O conceito de reservatrio vivo, de alguns autores, relacionado com a capacidade de manter a infeco, sendo esta pouco patognica para o re- servatrio. Sinantropia. a habilidade de certos animais silvestres (mamferos, aves, insetos) frequentar habitaes humanas; isto , pela alterao do meio ambiente natural houve uma adaptao do animal que passou a ser capaz de conviver com o homem. Ex.: moscas, ratos e morcegos silvestres frequentando ou morando em residncias humanas. Vetor. um artrpode, molusco ou outro veculo que transmite o parasito entre dois hospedeiros. Vetor Biolgico. quando o parasito se multiplica ou se desenvolve no vetor. Exemplos: o T cruzi, no T infestam; o S. mansoni, no Biomphalaria glabrata. Vetor Mecnico. quanto o parasito no se multiplica nem se desenvolve no vetor, este simplesmente serve de transporte. Ex.: Tungapenetram veiculandomecanicamen- te esporos de fungo. i Virulncia. a severidade e rapidez com que um agen- te infeccioso provoca leses no hospedeiro. Ex.: a E. his- tolytica pode provocar leses severas, rapidamente. Zooantroponose. Doena primria dos humanos, que pode ser transmitida aos animais. Ex.: a esquistossomose hansoni no Brasil. O humano o principal hospedeiro. Zoonose. Doenas e infeces que so naturalmente transmitidas entre animais vertebrados e os humanos. Atual- mente, so conhecidas cerca de 100zoonoses. Ex.: doena de Chagas, toxoplasmose, raiva, brucelose (ver Anfixenose, Antroponose e Antropozoonose). Capitulo 1 10. David Pereira Neves Ao observamos os seres vivos -animaise vegetais - vemos que o seu inter-relacionamento enorme e funda- mental para a manuteno da "vida". Podemos,mesmo, afir- mar que nenhum ser vivo capaz de sobreviver e reprodu- zir-se independentemente de outro. Entretanto, esse rela- cionamento varia muito entre os diversos reinos, filos, or- dens, gneros e espcies. A ecologia a cincia que es- tuda a interdependncia funcional entre bactrias, proto- zorios, vegetais, animais e meio ambiente, ou seja, " o estudo da estrutura e funo da Natureza". Convm sali- entar que as relaes entre os seres vivos no so estti- cas, ou seja, na natureza a caracterstica maior a interde- pendncia dinmica de seus componentes. H uma adap- tao de cada um, tendendo ao equilbrio, cuja estabilida- de jamais alcanada, salvo como etapas sucessivas em demandas de novos e contnuos equilbrios: a "evolu- o". Dessa forma, meio ambiente e seres vivos esto em permanente e contnuo processo de adaptao mtua, isto 6, esto "evoluindo" sempre. Entretanto, para que essa evoluo ocorra, o agente ou fora que provocou o dese- quilbrio ambiental agiu de maneira constante, progressiva e lenta. Porm, se o desequilbrio for brusco, rpido ou muito abrangente,no haver eyoluo, mas, sim, destrui- o das espcies envolvidas. E o que tem ocorrido nas reas em que os humanos tm feito sentir toda a fora modificadora de sua tecnologia sobre (ou mesmo contra) a Natureza. Por isso fundamental que para um desenvol- vimento harmnico de uma regio ou de um pas, antes de toda e qualquer ao humana, h necessidade de se fazer o estudo do impacto ambiental da mesma. Da a idia vi- gente de que para se fazer uma "ao na Natureza" ela sempre deve priorizar o "desenvolvimento sustentvel". Em verdade, "se os humanos no conhecerem e no pre- servarem os recursos naturais do Planeta, vero que os caminhos que levam ao progresso so os mesmos que nos levam ao caos" (Silva, D.B., 2002). Portanto, esse desen- volvimento sustentvel s ser possvel quando formos capazes de entender que nossa espcie uma engrenagem na "Roda da Vida", conformemostramos na Fig. 2.1. A est mostrado a interao permanente que ocorre entre todos os elementos da natureza, incluindo a nossa espcie. de fundamental importncia que os especialistas em Sade P- blica (inclusive os parasitologistas) se dem conta dessa "Roda da Vida", pois " assim que caminhaa humanidade"... Em nosso pas existe um fenmeno civilizatriomuito t- pico, tambm acometendo os demais pases de lngua his- pnica: a influncia dominadora, declarada ou sutil, da igreja catlica e das classes coldnizadoras de Portugal e Espanha. Essa dominaoe o obscurantismono permitiram que ib- ricos ou outros povos aqui viessem para permanecer e for- mar uma sociedadeprodutiva e culta. "Em verdade isso completa os quinhentos anos de ex- plorao e dominao econmica,religiosa,poltica, militar e cultural da 'dinastia' do poder. Essa dinastia trabalha com muita cincia e esperteza. Esto conscientes do que fazem e esto empenhados em divulgar o negativismo e o derrotismo: trabalham para a manuteno da dominao. Agora, com dois ano de governo do Lula (que est traba- lhando equilibradamentena direo certa), essa mesma di- nastia divulga notcias desanimadoras e hipcritas: 'veio para mudar, mas est igual ao anterior', ou tumultuam as're- formas. Nesse aspecto, os radicais entravam as negociaes e incitam greves, os inocentes teis corporativistas aderem e os reacionrios se aproveitam, se unem e buscam tomar o poder novamente..." (ParasitologiaBsica,pg. 5). Como um pas vivo, os fatores que regem a relao en- tre as espcies e o meio ambiente tambm comandam a re- lao entre as pessoas e as naes. Assim, alm da presso e da espoliao externa que padecemos, internamente vivenciamos um aviltamento da relao humana. A falncia das polticas pblicas programadas pelos governos anterio- res, acrescida de um salrio mnimo irrisrio e da concentra- o de renda em cerca de 10%da populao, prejudica toda a sociedade. Felizmente, vejo que mais de 60% da popula- o est tomando conscincia disso e buscando novos ca- minhos. E, conformej foi feito em outros pases organiza- dos e desenvolvidos,a "receita" foi esta: implementaro en- sino pblico, fortalecer os servios e as polticas pblicas, estimular a distribuio de riquezas atravsde mais trabalho e melhor remunerao, aumentar as oportunidades e a auto- estima pessoal e nacional! Capitulo 2 11. Fig. 2.1 A Roda da Vida: interao entre o meio ambiente e os humanos. As aes e reaes so recprocas entre a natureza, o indivduo, a comunidade, a sade, o trabalho, o lazer e a espiritualidade, pois cada elemento sofre e exerce influncia sobre os demais. (Desenho original de D. F! Neves e Anamaria R. A. Neves: Parasitologia Bsica, Coopmed Editora, 2003) Nosso momento histrico agora e no podemos ter medo de mudar e reformar o que necessrio. Precisamos ousar na reorganizao do social e na recuperao do am- biental. Da o fascnio de vivermos agora! Pessoas compe- tentes e sensveis para isso, ns temos; precisamos cora- gem, determinao e largueza de esprito para avanarmos na direo dajustia e do equilbrio! E o que isso tudo tem a ver com a parasitologia e com as doenas parasitrias? Tem tudo, pois na esteira da po- breza, da falta de educao e de saneamentobsico que as doenas parasitrias encontramum campo frtil...(Parasito- logia Dinmica, captulo 1). Alm disso, a dinmica popula- cional tem sido muito intensa em nosso pas, com acentua- do xodo rural e formaco de favelas na ~enfenadas cida- des. Para se ter uma idia, em 1940tnhamos uma populao total de 41 milhes de habitantes, com 30% (13 milhes) vi- vendo em ambiente urbano e 70% (28 milhes) vivendo na zona rural; hoje somos 170milhes, com 80% (138 milhes) vivendo nas cidades e 20% (32 milhes) vivendo na zona rural. Em decorrncia desse xodo acelerado, associado a falta de higiene, de moradia adequada e servios sanitrios amplos, as doenas que eram chamadas de "endemias ru- rais" devem ser hoje estudadas como "endemias urbanas", com perfil epidemiolgicodiferenciadoFig. 2.2). O relacionamento entre os seres vivos visa dois aspectos fundamentais:a) obteno de alimento; b) elou proteo. A obteno de alimentos, quando enfocada sob o pris- ma celular, isto , a obteno de nutrientes para produo de energia ao nvel da clula, um dos captulos mais apaixonantesda cincia moderna. A bioqumica celular es- t hoje num grau muito elevado, mostrando a "uniformida- de" dos seres vivos quanto ao mtodo de produzir energia, sejam animais uni ou pluricelulares. A descrio da bioqu- mica e da fisiologia celular foge ao escopo deste livro, mas pensamos que ser til aos interessadosreportarem-se a li- vros especializados,para melhor conhecimentoda matria. ORIGEM DO PARASITISMO E TIPOS DE ADAPTACOES Como foi dito, os seres vivos na natureza apresentam grande inter-relacionamento, e como ser mostrado, varia desde a colaborao mtua (simbiose) at o predatismo e canibalismo. O parasitismo, seguramenteocorreu quando na evoluo de uma destas associaes um organismo menor se sentiu beneficiado, quer pela proteo, quer pela obten- o de alimento. Como conseqncia dessa associao e com o decorrer de milhares de anos houve uma evoluo para o melhor re- lacionamento com o hospedeiro. Essa evoluo, feita a cus- ta de adaptaes, tomou o invasor (parasito) mais e mais 8 Capitulo 2 12. BAIXA PRODUO I MAIS DOENA IInverses reduzidas em sade e medicina preventiva I Salrios apenas suficientes para subsistir JENERGIA HUMANA DEFICIENTE1 Nutrio deficienteGrandes inverses Educao insuficiente em tratamentos mdicos Vivenda inadequada Flg. 2.2 Ciclo doena x pobreza, segundo a OMS. dependente do outro ser vivo. Essas adaptaes foram de tal forma acentuadas que podemos afirmar que "a adaptao amarca do parasitismo". As adaptaes so principalmen- te morfolgicas, fisiolgicas e biolgicas e, muitas vezes, com modificaesde tal monta que no nos possvel reco- nhecer os ancestrais dos parasitos atuais. As principais modificaes ou adaptaes so as se- guintes: a) degeneraes: representadas por perdas ou atrofia de brgos locomotores, aparelho digestivo etc. Assim, por exemplo, vemos as pulgas, os percevejos, algumas moscas parasitas de carneiro (Mellophogus ovinus) que perderam as asas; os Cestoda que no apresentam tudo digestivo etc. b) hipertrofia: encontradas principalmente nos rgos de fixao, resistncia ou proteo e reproduo. Assim, al- guns helmintos possuem rgos de fixao muito fortes, como lbios, ventosas, acleos, bolsa copuladora. Alta ca- pacidade de reproduo, com aumento acentuado de ov- nos, de tero para armazenar ovos, de testculos. Aumento de estruturas alimentares de alguns insetos hematfagos p m mais facilmente perfurarem a pele e armazenarem o san- gue ingerido. a) capacidadereprodutiva: para suplantaras dificuldades de atingir novo hospedeiro e escaparem da predao exter- na, os parasitos so capazes de produzirem grandes quan- tidades de ovos, cistos ou outras formas infectantes; assim fazendo, algumas formas conseguiro vencer as barreiras e podero perpetuar a espcie. b) tipos diversos de reproduo: o hermafroditismo, a partenognese, a poliembrionia (reproduo de formas jo- vens), a esquizogonia etc. representam mecanismos de re- produo que permitem ou uma mais fcil fecundao (en- contro de machos e fmeas) ou mais segura reproduo da espcie. c) capacidade de resistncia agresso do hospedeiro: presena de antiquinase,que uma enzima que neutraliza a ao dos sucos digestivos sobre numerosos helmintos; ca- pacidade de resistir ao de anticorpos ou de macrfagos, capacidade de induzir uma imunossupressoetc. d) tropismos: os diversos tipos de tropismos so capa- zes de facilitar a propagao, reproduo ou sobrevivncia de determinada espcie de parasito. Os tropismos mais im- portante so: geotropismo (abrigar-sena terra -diz-se nes- te caso que positivo, e abrigar-se acima da superficie da terra - diz-se neste caso que geotropismo negativo), termotropismo, quimiotropismo, heliotropismo etc. TIPOS DE A S S O C I ~ O E SENTRE OS ANIMAIS Os animais, individualmente, nascem, crescem,reprodu- zem-se, envelheceme morrem, porm a espcie, normalmen- te, se adapta, evolui e permanece como uma populao ou grupo. So diversos os fatores que regulam esses fenme- nos individuais e populacionais, que procuram, em ltima anlise, permitir a cada indivduo a melhor forma de obten- 13. o de alimento e abrigo. Para tal fim muitas espcies pas- sam a conviver num mesmo ambiente, gerando associaes ou interaes que podem no interferir entre si. Essas as- sociaes podem ser: harmnicas ou positivas, quando h beneficio mtuo ou ausncia de prejuzo mtuo; desarmnicaou negativa, quando h prejuzo para al- gum dos participantes. Assim, considera-secomo harmnicaso comensalismo, o mutualismo, a simbiose e, como desarmnicas, a compe- tio, o canibalismo, o predatismo e o parasitismo. Em se- guida, procuraremos conceituar os tipos de associaes mais frequentes: uma associao desarmnica na qual exemplares da mesma espcie (competio intra-especifica) ou de es- pcies diferentes (competio interespecfica) lutam pelo mesmo abrigo ou alimento, e, em geral, as menos prepara- das perdem. A competio um importante fator de regu- lao do nvel ou nmero populacional de certas espcies, como, por exemplo, moscas Calliphoridae e Sarcophagidae, cujas larvas se desenvolvem em cadveres (isto , o ali- mento sendo suficiente apenas para determinado nmero de exemplares permitir o desenvolvimento s das que chegarem primeiro ou das mais vorazes; as demais perece- ro ou, se chegarem a moscas adultas, estas sero meno- res e infrteis). Ocorre quando duas espcies ou populaes no inte- ragem ou afetamuma a outra. Pode-se dizer que o neutralis- mo inexistente, pois sabe-se hoje que todas as espcies so interdependentes. o ato de um animal se alimentar de outro da mesma es- pcie ou da mesma famlia. Esse relacionamento do tipo desarmnico e que quase sempre ocom devido superpopu- lao e deficincia alimentarno criadouro, e as formasmais ati- vas ou mais fortes devoram as menores ou mais fracas. Exem- plos: larvasdo mosquito Culex(Lutzia) bogoti se alimentam de larvas de outros Culicini e Anophelini;peixes adultos do g- nero Lebistes se alimentam de filhotesetc. quando uma espcie animal se alimenta de outra es- pcie. Isto , a sobrevivncia de uma espcie depende da morte de outra espcie (cadeia alimentar). Exemplo: ona alimentando-se de pacas; gavio alimentando-se de peque- nas aves ou roedores; hempteros entomfagos alimentan- do-se de insetos etc. a associao entre seres vivos, na qual existe unilate- ralidade de beneficios, ou seja, o hospedeiro espoliado pelo parasito, pois fomece alimento e abrigo para este. De modo geral, essa associao tende para o equilbrio, pois a morte do hospedeiro prejudicial para o parasito. Assim, nas espcies em que essa associao vem sendo mantida h mi- lhares de anos, raramente o parasito leva o hospedeiro a morte. H uma espoliao constante, mas insuficientepara lesar gravemente o hospedeiro. Dessa forma, vemos o tatu, que o hospedeiro natural do Trypanosoma cruzi,raramen- te morrer devido a esse parasitismo. J o homem, o co ou o gato frequentemente morrem quando adquirem a doena de Chagas. Em zona endmica de malria, o nmero de mor- tes (letalidade) na populao autctone muito baixo; en- tretanto, quando pessoas de fora entram nessa zona, adqui- rem a doena na sua forma mais patognica. Essas situaes nos permitem entender por que apesar de, no parasitismo, de modo geral, haver um equilbrio entre parasito e hos- pedeiro, frequentementetem havido casos graves ou epide- mias de parasitoses. que, pela alterao do meio ambien- te, concentrao populacional e baixas condies higini- cas e alimentares,passam a existir condiespropcias para a multiplicao do parasito ou do vetor junto a uma popu- lao suscetvel. Exemplo tpico disso a esquistossomose mansoni que dissemina-se e adquire seus aspectosmais gra- ves quando o homem modifica o ambiente para plantar hor- tas, construir valas de irrigaes de canaviais e arrozais ou fazer loteamentos sem construir redes de esgoto ou dis- tribuio de gua tratada previamente. Portanto, para existir doena parasitria, h necessidade de alguns fatores: a) inerentes ao parasito: nmero de exemplares,tamanho, localizao,virulncia, metabolismoetc. b) inerentesao hospedeiro: idade, nutrio, nvel de res- posta imune, intercorrncia de outras doenas, hbitos, uso de medicamentosetc. Da combinao desses fatores poderemos ter "doente", portador assintomtico", "noparasitado". a associao harmnica entre duas espcies, na qual uma obtm vantagens (o hspede) sem prejuzos para o ou- tro (o hospedeiro). Exemplo: Entamoeba cozi vivendo no intestino grosso humano. Essas vantagens podem ser: proteo (habitao), trans- porte (meio de locomoo) e nutrio (o hspede se apro- veita dos restos alimentares). O comensalismo pode ser di- vidido em: Forsia: quando na associao uma espcie fomece suporte, abrigo ou transporte a outra espcie. Exemplo: o, peixe-piolhoEchneis remora que, com auxlio de uma ven- tosa, se adere ao tubaro acompanhando-o nas suas caa- das e, frequentemente, alimentando-se das sobras. Alguns autores denominam a forsia "comensalismo epizico". Inquilinismo: quando uma espcie vive no interior de outra, sem se nutrir custa desta, mas utilizando o abrigo e parte do alimento que a outra capturou. Exemplo: o peixe Fierasfer,que se abriga no interior de holotiinas e se alimen- ta de pequenos crustceos. Sinfilismo ou protocooperao: ocorre quando duas es- pcies se associam para beneficio mtuo, mas sem obriga- toriedade, isto , a associao no necessria para a so- brevivncia de ambas. Exemplo clssico est entre as formi- Capitulo 2 14. gas (gnero Camponotus) que sugam as secrees de pul- ges (afdeos)ou cigarrinhas (membracdeos), protegendo- os contra inimigos naturais. quando duas,espcies se associam para viver, e ambas so beneficiadas. E uma associao obrigatria, sendo, por muitos autores, considerada como uma simbiose.O exemplo clssico a associao que ocorre no intestino de cupins com os protozorios do gnero Hypermastiginia. a associao entre seres vivos, na qual h unia troca de vantagens a nvel tal que esses seres so incapazes de viver isoladamente. Nesse tipo de associao, as espcies realizam funescomplementares, indispensveis a vida de cada uma. De modo geral, so conhecidos como simbiontes, os indivduos que vivem em simbiose. Por exemplo: algumas bactrias que vivem no interior de protozorios de vida li- we. Os protozorios fornecem abrigo e fontes alimentares para as bactrias que, por sua vez, sintetizam substncias (complexo B etc.) necessrias ao protozorio. A associao de protozorios, que digerem celulose no nmen do bovino outro exemplo tpico, pois, enquanto o ruminante fornece uma srie de fatores alimentares e proteo aos protozo- rios (e bactrias), esses possuem as enzimas capazes de di- gerir a celulose ingeridapelo bovino. ECOLOGIA PARASITRIA Pelo que foi exposto at agora, procuramos salientar a importnciada ecologia no estudo dos parasitos. O relacio- namento das espcies que nos interessam (parasitos huma- nos) com os outros seres, com o ambiente e com o hos- pedeiro (humanos) que vai determinar, em ltima anlise, a existncia dos parasitos e o conseqente parasitismo. Dessa forma, achamos oportuno apresentar uma srie de conceitos ecolgicos, que facilitaro o entendimento pos- terior&epiderniologiae profilaxia sugeridasem cada captulo. Tendo sido definido anteriormente o que ecologia, ve- mos que uma cincia-sntesee, como tal, exige de seus es- pecialistas conhecimentos diversificados e amplos. Os conceitos ecolgicos mais modernos foram desen- volvidos nos ltimos 30 anos. Muitos deles ainda so mo- tivos de acaloradas discusses. Foi o naturalista alemo Emest Haeckel, em 1866, quem criou a palavra (do grego oikos = casa + logos = estudo), afirmando: "Ecologia compreende a relao entre o animal e o seu meio orgnico e inorgnico,particularmente as relaes amigveis ou hos- tis com aqueles animais ou plantas com os quais est em contato." Ou seja, o estudo das relaes dos seres vivos entre si e o meio ambiente. Outro termo bastante usado etologia (do grego ethos = costumes + logos = estudo). Significa o estudo do com- portamento de uma espcie. a unidade funcional de base em ecologia,representan- do uma comunidadeecolgica ou um ambiente natural, on- de h um estreitorelacionamento entre as vrias espcies de animais, vegetais e minerais. O termo biogeocenose, dos autores soviticos, seu sinnimo. Os ecossistemas so a conseqncia dos longos processos de adaptao entre os seres vivos e o meio sen- do dotados de auto-regulao e capazes de resistir, dentro de certos limites, a modificaes ambientais e as bruscas variaes de densidade das populaes. Bons exemplos de ecossistemas so: grandes lagos, o mar, florestas, desertos e campos. Para conhecer e entender bem um ecossistema, h necessidade de estudar sua anatomia e sua fisiologia. Assim, em todo ecossistema encontramos os seguintes ele- mentos componentes: Heterotrficos So os seres que utilizam das substncias orgnicas produzidas pelos seres autotrficos. So os elementos con- sumidores. Exemplo: herbvoros e carnvoros. Decompositores (ou Saprfitas) So os seres heterotrficos capazes de decompor os ele- mentos autototrficos e heterotrficos que morreram, transformando-os em substncias mais simples e reutiliz- veis pelos autotrficos. Exemplo: bactrias. Abiticos So os componentes fsicos e qumicos do meio. Autotrficos So os seres capazes de fixar energia luminosa (solar) e sintetizar alimentos a partir de elementos inorgnicos. So as plantas e algas verdes, que so os elementos produto- res. Na realidade, para sintetizarem protenas e hidratos de carbono, as plantas e algas necessitam, muitas vezes, de bactrias que fixam o nitrognio do ar em suas razes, ou produzem o CO, necessrio, no sendo, portanto, elemen- tos produtores primrios. Todavia, dentro de uma concei- tuao mais ampla, as plantas e algas podem ser considera- das elementos produtores. Esses elementos, portanto, so os componentes da ca- deia alimentar de um ecossistema. Exemplificando:num pas- to, as gramneas so os elementos produtores, o boi o con- sumidor de primeira ordem, e o homem (que se alimenta do boi) o consumidor da segunda ordem. Muitos tipos de parasitismo ocorrem devido ao comportamento dos elos (animais) componentes da cadeia alimentar. Podemos dedu- zir, facilmente,que nenhum ecossistema permanente.Nor- malmente, h uma sucesso de comunidades e de fatos, at que se apresente estvel, ou seja, o clmax. Nessa situao, uma ou vrias espcies apresentam o seu desenvolvimen- to mximo, em perfeito equilbrio com o resto do ambiente. O termo bioma apresenta significado semelhante ao ter- mo ecossistema; entretanto, aplicado quando se quer de- signar grandes comunidades, ou seja, florestas de conferas, pradarias etc. Num ecossistemaou biomaj estabelecidonotamos que h um equilbrio. Esse equilbrio regulado pelo potencial Capitulo 2 11 15. bitico (capacidade reprodutiva) de cada espcie e pela ao dos elementos abiticos, autotrficos, heterotrficos e decompositores. interessante salientar que outros fato- res intervm na manuteno desse equilbrio,pois, de outra forma, determinada espciepoderia expandir-sedemasiada- mente, eliminando as outras. Esses fatores so as barreiras, que podem ser: a)$sicas: presena de montanhas, rios ou mesmo terra para as espciesaquticas, e vice-versa; b) cli- mticas: temperatura e umidade variando durante o ano (es- taes),regulando o potencial bitico; c) biolgicas: ausn- cia de hospedeiros, de alimento,presena de inimigos natu- rais e a prpria densidade populacional (crowding),em que a "superpopulao" inibe a reproduo. Alguns outros conceitos importantes em ecologia: o ecossistema, local ou rgo, onde determinada es- pcie ou populao vive. Exemplo: o Ascaris lumbricoides tem por hbitat o intestino delgado humano. O canguru tem por hbitat as plancies australianas etc. Nesses locais, es- ses animaistm abrigo e alimento. Nicho Ecolgico a atividade dessa espcie ou populao dentro do hbitat. Exemplo: o A. lumbricoides dentro do seu hbitat realiza suas funes reprodutivas e alimentares (absorve fsforo, clcio, carboidratos, acares, protenas etc.), es- poliando o hospedeiro; outro verme que tem hbitat seme- lhante -o Ancylostoma duodenale -tem nicho ecolgi- co diferente, pois consome sangue e ferro do hospedeiro. o abrigo fisico do animal. Assim, dentro de uma flores- ta tropical, o Haemagogus leucocelaenus vive na copa das rvores. Dentro da cafa, os triatomneos ("barbeiros") vi- vem nas frestas do barro. Ectono uma regio de transio entre dois ecossistemas ou biomas estabelecidos. A margem de uma lagoa, a regio prxima entre a floresta e o campo so bons exemplos deste termo. o local onde as condies para a sobrevivncia de uma ou vrias espcies so uniformes e mantm-se cons- tantes em diferentes reas ou regies. Assim, o bitopo do tatu semelhantenas vrias regies onde ele habita. Quan- do quisermos criar em cativeiro alguma espcie animal silvestre, ou mesmo uma planta, esse bitopo domstico deve ser semelhante ao seu bitopo silvestre. Segundo Peres, 1961, bitopo "uma rea geogrfica, de superficie e volume variveis, submetida a condies cujas dominan- tes so homogneas". Alguns autores usam o termo bitopo como sinnimo de ectopo. Em tais casos, os ter- mos significam apenas o lugar fisico que o animal (ou vege- tal) utiliza. a associao de vrios organismos habitando o mes- mo bitopo. Apesar da semelhana do significado deste termo com ecossistema, neste ltimo temos que conside- rar os elementos vivos e no-vivos como uma unidade, ao passo que biocenose representa a associao dos seres vivos num bitopo. Exemplo de biocenose: a associao do Trypanosoma cruzi, triatomneo, homem e o bitopo que a cafa. Com esse nesses conceitos apresentados, podemos ex- plicar por que os parasitos no se distribuem ao acaso nas vrias regies do globo, por que existe a especificidade pa- rasitria e por que, mesmo dentro do hospedeiro, o parasi- to possui o rgo de eleio. Assim, para que uma determinada parasitose se instale numa regio e se propague, h a necessidade de existncia de condies indispensveis exigidas pela espcie parasita. Essas condies necessrias e fundamentais que com- pem ofoco natural da doena, o qual representado pelo bitopo (local) e pela biocenosa (hospedeiros vertebrados, os vetores etc.). Portanto, no foco natural de uma parasitose h um inter-relacionamento de relevo, solo, clima, gua, flora e fauna, de tal como que haja: coincidncia de hbitats dos hospedeiros e vetores; nmero suficiente de hospedeiros e vetores para que o parasito possa circular entre eles; o parasito em nmero suficiente para atingir o hos- pedeiro e o vetor; condiespropcias para a transmisso (clima mido, temperatura e altitude adequadas etc.). Com esses conceitos expostos, podemos entender a im- portncia do estudo da Parasitologia pelos alunos que, de um modo ou de outro, sero os profissionaisda sade (aqui includos mdicos, veterinrios, farmacuticos, odontlogos, enfermeiros, naturalistas, engenheiros sanitaristas e civis). Como veremos no decorrer do livro, a maioria dos parasitos ao mesmo tempo causa e conse- qncia do subdesenvolvimento. No podemos nunca dis- sociar a doena da subalimentao, da pobreza, e vice-ver- sa. A doena no causada nica e exclusivamente pelo agente etiolgico; este talvez seja o fator desencadeante de um desequilbrio social. Numa populao subnutrida, viven- do em precrias condieshiginicas, dormindo mal, moran- do em casa que pouco ou nada protege das intempries, a presena do parasito constante e a doena endmica. Se esse mesmo parasito atingir uma populao bem nutrida, morando em condies saudveis e com repouso normal, provavelmente ir provocar um ou outro doente e, talvez, desaparea. Portanto, a importncia de um agente biolgi- co como causador de doena est intimamente ligada ao "status social" do ambiente em que vive; e, para que perma- nea estvel numa populao, h necessidade de que a mes- ma seja subdesenvolvida. AO DOS PARASITOS SOBRE O HOSPEDEIRO Nem sempre a presena de um parasito em um hos- pedeiro indica que est havendo ao patognica do Captulo 2 16. mesmo. Entretanto, essa ausncia de patogenicidade (se- na comensal e no um parasito) rara, de curta durao e, muitas vezes, depende da fase evolutiva do parasito. Em geral, os distrbios que ocorrem so de pequena monta, pois h uma tendncia de haver um equilbrio en- tre a ao do parasito e a capacidade de resistncia do hospedeiro. "A doena parasitria um acidente que ocorre em conseqncia de um desequilbrio entre hos- pedeiro e o parasito." "O grau de intensidade da doena parasitria depende de vrios fatores, dentre os quais salientam: o nmero de formas infectantes presentes, a virulncia da cepa, a idade e o estado nutrikional do hos- pedeiro, os rgos atingidos, a associao de um parasi- to com outras espcies e o grau da resposta imune ou in- flamatria desencadeada." Em verdade, a morte do hospe- deiro representa tambm a morte do parasito, o que, para este, no bom... Dessa forma, v-se que a ao pato- gnica dos parasitos muito varivel, podendo ser assim apresentada: Ao ESPOLIATIVA Quando o parasito absorve nutrientes ou mesmo sangue do hospedeiro. o caso dos Ancylostomatidae, que inge- rem sangue da mucosa intestinal (utilizam esse sangue para obteno de Fe e O, e no para se nutrirem dele diretamen- te) e deixampontos hemorrgicos na mucosa, quando aban- donam o local da suco.Outro exemplo o hematofagismo dos triatomneos ou de mosquitos. Ao TXICA Algumas espciesproduzem enzimas ou metablitosque podem lesar o hospedeiro. Exemplos: as reaes alrgicas provocadas pelos metablitos do A. lumbricoides, as reaes teciduais (intestino,figado, pulmes) produzidaspelas secre- es no miracdio dentro do ovo do S.mansoni etc. A o MECNICA Algumas espcies podem impedir o fluxo de alimento, bile ou absoro alimentar. Assim, o enovelamento de A. lumbricoides dentro de uma ala intestinal, obstruindo-a; a G. lamblia, "atapetando" o duodeno etc. A o TRAUMTICA provocada,principalmente,por formas larvrias de hel- mintos, embora vermes adultos e protozorios tambm se- jam capazes de faz-lo. Assim, a migraocutnea e pulmo- nar pelas larvas de Ancylostomatidae; as leses hepticas pela migrao da E hepatica jovem; as lceras intestinais provocadas pelos Ancylostomatidae e 7: trichiura; o rom- pimento das hemcias pelos Plasmodium etc. Deve-se a presena constante do parasito que, sem pro- duzir lesestraumticas, irrita o local parasitado. Como exem- plo, temos a ao das ventosas dos Cestoda ou dos lbios dos A. lumbricoides na mucosa intestinal. A o ENZIMTICA o queocorrena penetraodapele por cercriasdeS.rnan- soni; a ao da E. histolytica ou dos Ancylostomatidae para lesaro epitliointesthale, assim, obter alimentosassirnilveisetc. Qualquer parasito que consuma o O, da hemoglobina, ou produ~aanemia, capaz de provocar uma anxia gene- ralizada. E o que acontece com os Plasmodium ou, em infec- es macias, pelos Ancylostomatidae. Capitulo 2 17. ~ n t r o d u ~ oe Conceitos 4 Manngela Carneiro Carlos Maurcio de FigueiredoAntunes CONCEITO E OBJETIVOS Epidemiologia a cincia que estuda a distribuio de doenas ou enfermidades,assim como a de seus determinan- tes na populao humana. Estes determinantes so co- nhecidos em epidemiologiacomo fatores de risco. Alm de enfermidades,as caractensticas fisiolgicas (hipertenso ar- terial, nvel sanguneo de glicose, por exemplo) e as doen- as sociais (a violncia urbana, os acidentes de trnsito, por exemplo) so consideradas como objeto de estudo da epi- demiologia. O objetivo principal da epidemiologia a promoo da sade atravs da preveno de doenas, em grupos popu- lacionais.Estes grupos populacionais podem ser os habitan- tes de uma rea geogrfica definida (municpio, estado, pas), os indivduos de uma determinada faixa etria, os trabalhadores de uma determinada profisso, ou seja, as pessoas que foram ou esto expostas a um ou mais fatores de risco especficos. Diferentemente da clnica, que tem como objeto de ateno o individuo doente, a epidemiolo- gia estuda o estado de sade de uma populao. As dife- renas de abordagementre a medicina clnica e a epidemio- logia so apresentadasna Tabela 3.1. As principais perguntas que a epidemiologia procura responder com relao a distribuio de doenas em uma populao so: Por que certas pessoas adoecem e outras no? Por que algumas doenas s ocorrem em determinadas reas geogrficas? Por que a ocorrncia de determinada doena varia com o tempo? Ao responder a estas pergun- tas, est implcito que a premissa bsica e fundamental em epidemiologia a de que as doenas no se distribuem ao acaso ou de uma forma aleatria na populao, mas existem fatores de risco que determinam esta distribuio. A dis- tribuio da malria no Brasil fornece um bom exemplo: es- ta doena frequente na Regio Norte, ocorre principalmen- te entre operrios empregados na construo de estradas, entre garimpeiros,entre migrantes e pessoas que ocasional- mente ali vo pescar ou caar. Os provveis fatores de ris- co associados a maior freqncia da malria nesta regio es- to relacionados, entre outros, com a maior facilidade para o contato entre o indivduo suscetvel e o aprofelino infec- tado e a maior suscetibilidade de algumas pessoas a infec- o (migrantes sem contato prvio com o parasita). Para entender e explicar as diferenas observadas no aparecimento e na manuteno de uma enfermidade na po- pulao humana, o raciocnio epidemiolgico se direciona primeiramente a descrever e a comparar a distribuio das doenas com relao apessoa, ao lugar e ao tempo. Com relao a pessoa, a pergunta a ser formulada : Quem adoece e por que adoece? O objetivo identificar quais, como e por que as caractersticas das pessoas enfer- mas diferem das pessoas no-enfermas. As caractersticas pessoais estudadas so as demogr$cas (sexo, idade, gru- po tnico etc.), as biolgicas (nveis de anticorpos, horm- Epidemiologia Medicina Clnica Objeto de estudo Diagnbstico de sade Objetivo do diagnstico AvaliaBo Ao Populao Levantamento de sade Preveno de doenas Avaliao das aes e programas de sade Planejamento de sade lndividuo Diagnstico individual Tratamento Avaliao de cura Ateno ao indivduo Capitulo 3 15 18. nios, presso sangunea etc.), as sociais e econ6micas (n- vel socioecon6mico, escolaridade, ocupao etc.), as pes- soais (dieta, exerccios fsicos, uso de lcool, uso de fumo ' ' . etc.) e'as genticas (grupos sanguneos, fator RH, tipo de hemoglobina etc.). No que se refere ao lugar, a pergunta a ser respondida : Onde a doena ocorre, e por que ocorre naquele lugar? O objetivo determinarpor que, em um rea geogrfica,uma enfermidade ou um gmpo de enfermidadesocorrecom maior freqncia quando comparada com outras &as geogrficas. Com relao ao tempo, pergunta-se: Quando a doena ocorre e por que apresenta variaes em sua ocorrncia? Com relao ao tempo, o interesse maior determinar se ocorreram mudanas (aumento ou decrscimo)na freqn- cia de determinada doena atravs do tempo, bem como compreender os mecanismos desta variao. As informaes obtidas em estudos epidemiolgicos so utilizadas, juntamente com as informaes obtidas de outras reas do conhecimento, como medicina, biologia, ge- ntica, sociologia, demografia e bioestatstica, com os se- guintes objetivos: IdentiJicar a etiologia ou a causa das enfermidades. Procurar compreendere explicar a patognese das doenas, incluindo sua forma de transmisso.A identificaodos fa- tores de risco ou causais de uma doena permite o desen- volvimento de programas de preveno. Estudar a histria natural das enfermidades. Entender o curso ou seqncia das diversas etapas do desenvolvi- mento de uma doena atravs do tempo. Descrever o estado de sade das populaes. Inves- tigar a extenso das doenas nas populaes atravs de medidas de morbidade e mortalidade. Estas medidas po- dem ser expressas em nmeros absolutos, em propores ou taxas. Avaliar as intervenes ou programas de sade. Inves- tigar se ocorreram mudanas nos indicadores de sade da populao em decorrncia do emprego de intervenes ou programas. TRADE EPIDEMIOLGICA DE DOENAS A transmisso e a manuteno de uma doena na popu- lao humana so resultantes do processo interativo entre o agente, o meio ambiente e o hospedeiro humano. As doenas tm sido classicamente descritas como resultan- tes da trade epidemiolgica conforme mostrado na Fig. 3.1. O agente o fator cuja presena essencial para ocor- rncia da doena; o hospedeiro o organismo capaz de ser infectado por um agente, e o meio ambiente o conjunto de fatores que interagem com o agente e o meio ambiente. Os vetores de doenas, como os mosquitos, os carrapatos, entre outros, so frequentemente envolvidos neste proces- so. A classificao dos agentes de doenas apresentada na Tabela 3.2. Para que a interao acontea necessrio que o hos- pedeiro seja suscetvel. Fatores de suscetibilidade humana so determinados por uma variedade de fatores, incluindo os biolgicos, genticos, nutricionais e imunolgicos. Os fatores do hospedeiro que podem ser associados ao aumen- Agentes Exemplos Agentes biolgicos Protozorios, metazorios,bactrias,fungos Elementos nutritivos Excesso: colesterol; deficincia:vitaminas, protenas Agentes qumicos Veneno, alrgenos, medicamentos Agentes fsicos Traumas, radialo, fogo to de risco para o aparecimento de doenas so apresenta- dos na Tabela 3.3. O meio ambiente, conjunto de fatores que mantm rela- es interativas entre o homem e o agente etiolgico, pode ser classificadoem biolgico, social e fsico: Meio ambiente biolgico: inclui reservatrios de infec- o, vetores que transmitem as doenas (moscas, mosqui- tos, triatomneos),plantas e animais. Meio ambiente social: definido em termos da organi- zao poltica e econmica e da insero do indivduo den- tro da sociedade. Meio ambientefisico: inclui situao geogrfica, recur- sos hdricos, poluentes qumicos, agentes fsicos e ambientais, que so os seus componentes. Temperatura, umidade e pluviosidade so variveis climticas que mais de perto se relacionam com as doenas. As interaes observadas para doenas infecciosas tam- bm so observadas para as doenas no-infecciosas. Em- bora algumas doena sejam de origem gentica, o apareci- mento destas doenas tambm resultante da interao ge- ntica e dos fatores ambientais. CONCEITOS EPIDEMIOLGICOS DE DOENAS As doenas infecciosas so classificadas de acordo com o agente etiolgico em protozorios, vrus, bactrias etc. Es- ta classificao, baseada em caractersticas biolgicas do agente, adequada sob vrios aspectos, incluindo a pre- veno. Entretanto, tambm possvel classificar as doen- as por suas caractersticas epidemiolgicas e, muitas vezes, esta classificao apresenta algumas vantagens na identifi- Fig. 3.1 -A triade epidemiolgica de doenas. 16 Captulo 3 19. Fatores dos Hospedeiros Exemplos Demogrhficos Sexo, idade, grupo tnico Biolgicos Fadiga, estresse, estado nutricional Sociais Dieta, exerccio fsico, ocupao, acesso aos servios de sade Resposta imune Resistncia natural a infeco; doena auto-imune Suscetibilidade cao&medidas preventivas. De acordo com as caracters- ticas epidemiolgicas, as doenas infecciosas podem ser classificadas das seguintes formas: Veculo Comum O agente etiolgicopode ser transferido por fonte ni- ca, como a gua, os alimentos, o ar. Pode ser resultante de exposio simples ao agente ou exposies continuadas por um determinado perodo de tempo. As infeces alimenta- res e a clera (transmisso pela gua) so exemplosde doen- as transmitidaspor veculo comum. PropagaGode Pessoa a Pessoa O agente disseminado atravs de contato entre in- divduos infectados e suscetveis, por via respiratria (sa- rampo), oral-mal, genital (HIV) ou por vetores (leishmanio- se, malria, doena de Chagas). Porta de Entrada no Hospedeiro Humano Trato respiratrio (tuberculose), gastrintestinal (cole- ra), geniturinrio(HIV), cutneo (leishmaniose, doena de Chagas). Reservatrios dos Agentes Quando o homem o nico reservatrio dos agentes a doena classificada como uma antroponose (sarampo, filariosebancroftiana); quando o homem e outros vertebra- dos so reservatrios, a doena classificada como uma zoonose (leishmaniose, doena de Chagas). As doenas podem ser classificadas de acordo com os ciclos evolutivos dos agentes, desde o mais simples(homem homem: sarampo)aos mais complexos(1) homem hospedeiro intermediriohomem: malria; (2) homem hospedeiro inter- medirio homem, incluindo formas de vida livre: esquistos- somose). Uma importante caracterstica epidemiolgica de doen- a o perodo de incubao, que definido como o inter- valo entre a exposio ao agente (contato) e o aparecimen- to da enfermidade.As doenas infecciosas apresentam pe- rodo de incubao especfico,que depende diretamente da taxa de crescimento do agente infeccioso no organismo do hospedeiro e tambm de outros fatores, como a dose do agente infeccioso, a porta de entrada do agente e O grau de resposta imune do hospedeiro. Este mesmo conceito apli- cvel s doenas no-infecciosas. Como exemplos de pero- dos de incubao para algumas doenas, podemos citar: para a malria por Plasmodiumfalcipamm de 12dias, para a amebase entre duas e quatro semanas, para a esquistos- somose entre duas e seis semanas. Em muitas doenas, a proporo de indivduos infecta- dos sem sinais ou sintomas clnicos (doena subclnica) pode ser bem maior do que a proporo de indivduos que apresentamsintomas clnicos (doena clnica). Por no apre- sentarem manifestaes definidas, estas infeces no so de incio clinicamentediagnosticveis.Entretanto,as infec- es sem sintomas clnicos so importantes do ponto de vis- ta epidemiolgico e, dependendoda doena, esta fase pode ser de alta transmissibilidade.A Fig. 3.2 apresenta a met- fora do iceberg, ou seja, para determinadas doenas, igual ao iceberg, grande parte da histria natural fica submersa. Este modelo apresenta a relao existente entre o nmero de indivduosinfectados,sem e com sintomas clnicos. A doen- a subclnica ou inaparente pode incluir: (1) doena pr-cl- nica: inicialmenteno detectvel atravs de sintomas cl- nicos, no entanto,progride para a forma clnica; (2) doena subclnica:permanece em forma subclnica, sendo detect- vel atravs de exames sorolgicos (anticorpos); (3) doena latente: infeces em que o agente permanece em forma la- tente, no se multiplica. DINMICADA DISTRIBUIODAS DOENASNA POPULAO As doenas se distribuem nas populaes em perodos epidmicos, em perodos interepidmicosou espordicos e endmicos. Endemia definida como a presena constantede uma doena em uma populao de determinada rea geogrfica; pode tam- bm referir-se a prevalncia usual de uma doena em um grupo populacional ou em uma rea geogrfica. As doenas parasitrias,em sua grande maioria, se manifestamcomo en- demias,no Brasil e no mundo. Epidemia conceituada como a ocorrncia de uma doena em uma populao, que se caracteriza por uma elevao progressiva, inesperada e descontrolada, ultrapassando os viilores endmicos ou esperados. Algumas doenas en- Capitulo 3 17 20. Fig. 3.2 - A metfora do iceberg para doenas infecciosas. dmicas podem, eventualmente, se manifestar em surtos epidmicos (Fig. 3.3). Como determinar se existe um excesso no nmero es- perado de casos de uma doena? No existe resposta pre- cisa para esta questo. Geralmente,o Servio de Vigilncia Epidemiolgica de um pas, atravs do acompanhamentoda ocorrncia de doenas, pode determinar qual , o nmero usual ou o nvel esperado para cada doena. E considera- da a existnciade uma epidemia quando o nmero de casos excede o valor esperado, tendo como base a experinciapas- sada da doena em uma determinada populao. Este nvel esperado varia com as diferentes doenas e circunstncias. Nos dias de hoje um nico caso de varola exceder o valor esperado, uma vez que a doena foi erradicadado globo ter- restre. As epidemias podem ocorrer tanto em doenas infec- ciosas como nas doenas no-infecciosas. No existe uma especificaosobre a extenso geogrficade uma epidemia, que pode ser restrita a um bairro ou atingir uma cidade, um estado ou um pas. Pode estender-se por diferentes pero- dos de tempo: horas (infeces alimentares), semanas (gri- pes) ou vrios anos (AIDS). Atualmente,a leishmaniosevis- cera1tem-se manifestado em vrias regies, principalmente na periferia das cidades, em nmero de casos acima do es- perado, caracterizando-seem surto epidmico. panhola, no incio do sculo XX, so exemplos de pan- demias que ocorreram na humanidade. Atualmente, a AIDS, por ser epidmica em vrios pases, considerada pela Or- ganizaoMundial da Sadeuma pandemia. A imunidade individual reduz a probabilidade do in- divduo de desenvolver uma doena particular, quando exposto a um agente infeccioso. A imunidade de rebanho Endemia Epidemia Pandemias Tempo b So as epidemias que ocorrem ao mesmo tempo em v- Fig. 3.3 - Conceitos de endemia e epidemia. rios pases. A peste bubnica, na Idade Mdia, e a gripe es- 18 Capitulo 3 21. ou de grupo indica a proporo de indivduos imunes, em uma comunidade ou em um grupo populacional, que dificul- ta o contato entre infectados e suscetveis. Esta imunidade age como uma barreira, decrescendo a probabilidade de in- troduo e manuteno de uma agente infeccioso, embora ainda exista um nmero de indivduos suscetveis na popu- lao.Um aspecto importante deste conceito o de que no C necessrio imunizar uma populao inteira para prevenir a ocorrncia de uma doena. A imunidade de grupo doen- a especfica. MEDIDAS PREVENT'IVAS A histria natural, entendida com a seqncia de even- tos que acontecem no desenvolvimento de uma doena, pode ser esquematizada didaticamente em quatro fases, como apresentado na Fig. 3.4. Este conhecimento tem aplicaes prticas, no s no emprego de teraputicas especificas como tambm na defi- nio dos mtodos de preveno e controle. As medidas preventivas podem ser divididas em trs diferentes nveis: Medidas que procuram impedir que o indivduo adoea, controlandoos fatores de risco; agem, portanto, na fase pr- patognica ou na fase em que o indivduo encontra-se sa- dio ou suscetvel. Podem ser primordiais (moradia adequa- da, saneamento ambiental, incluindo tratamento de gua, esgoto e coleta de lixo, educao, alimentao adequada, reas de lazer) e especficas (imunizao, equipamento de segurana,uso de camisinha,proteo contra acidentes).As aes de controle de vetores, por interromperem os ciclos biolgicos dos agentes infecciosos na natureza, so medi- das de preveno primria especfica (exemplo: uso de inse- ticida para controle de triatomneos que so os vetores do Tiypanosoma cruzi,agente etiolgico da doena de Cha- gas). A preveno primria pode envolver duas estratgias, ser direcionada para grupos populacionais com o objetivo de uma reduo mdia do risco de adoecer ou dirigida para EXPOSIO I Perodo de incubao I Modificaes patolgicas 6Estagio da IEstgio da suscetibilidade doena subclnica Preveno primria: reduo de casos novos PrevenBo secundria: reduo da durao e gravidade Flg. 3.4 -Histbria natural das doenas e medidas de preveno. indivduos que estejam sujeitos a maior exposio a um fa- tor de risco. Medidas aplicveis aos indivduos que se encontram sob a ao do agente patognico (fase subclnica ou clni- ca). Estas medidas procuram impedir que a doena se desen- volva para estgios mais graves, que deixe sequelas ou pro- voque morte. Entre estas medidas, esto o diagnstico da infeco ou da doena e o tratamento precoce. Consiste na preveno da incapacidade atravs de me- didas destinadas a reabilitao,aplicadasna fase em que es- teja ocorrendo ou que j tenha ocorrido a doena. Entende- se como o processo de reeducao e readaptao de pessoas acometidas por acidentes ou que estejam com sequelas em decorrncia de alguma doena. Inclui a reabilitao (impedir a incapacidade total), a fisioterapia, a terapia ocupacional,as cirurgias de reparo e a colocao de prteses. O implante de marcapassoem pacientes com doena de Chagas um exem- plo de preveno terciria. Muitas vezes a preveno secun- dria e a terciria so aplicadas em conjunto. ESTUDOS EPIDEMIOLGICOS Comoj conceituamos anteriormente,a epidemiologia uma cincia essencialmente comparativa, que estuda enfer- midades e fenmenoscorrelatos em diferentes intervalos de tempo, em diferentes lugares e em diferentes populaes. Estas investigaes so realizadas atravs de estudos epi- demiolgicos, que so classificados em dois grupos princi- pais: os estudos de observao e os experimentais. Estudos em que o investigadorobserva e analisa a ocor- rncia de enfermidades em grupos da populao humana. APARECIMENTO DOS SINTOMAS Estgio da Morte ou cura doena clnica ou incapacidade Preveno terciria: reduo de complicaes e incapacidade 22. Os grupos a serem estudados podem ser selecionadoscomo doente e no-doentes ou expostos e no-expostos a um de- terminado fator de risco. Estudos em que o investigador exerce um controle so- bre os grupos populacionais (experimental e controle) que esto sendo estudados, decidindo quais sero expostos a uma possvel medida preventiva ou teraputica ou o fator de risco. Os testes de vacinas e drogas realizados em popula- es humanas que utilizam o delineamento experimentalso conhecidos como ensaios clnicos. O conceito de sade definido pela OrganizaoMundial da Sade, em 1948,: "O estado de completo bem-estar fi- sico, mental e social e no simplesmentea ausncia de doen- as ou enfermidades." O enfoque da epidemiologia o de identificar in- divduos nos estgios iniciais da doena ou identificar in- divduos que, embora no tenham desenvolvido a doena, apresentemmaior probabilidade de vir a desenvolv-la.Es- tes indivduos so identificados atravs das caractersticas ou dos fatores de risco que esto associados a maior pro- babilidade de ocorrncia de doenas. Estes fatores, aps serem identificados, devem ser observados para que a en- fermidade seja diagnosticada precocemente (preveno secundria) ou para que sejam empregadas medidas que modifiquem os fatores de risco (preveno primria), com o objetivo de se alcanar o estado de sade. Este grupo populacional denominado populao de risco, ou seja, parte da populao suscetvel a uma determinada doena. So considerados os fatores individuais (intrnsecos)e am- bientais (extrnsecos). A doena e a morte podem ser expressas atravs de nmeros absolutos de casos de doenas ou mortes. A principal limitao na utilizao de nmeros absolutos a de no permitir comparaes, porque no leva em con- siderao o tamanho da populao que se encontra sob o risco de adoecer ou morrer. A maior aplicabilidade de nmeros absolutos no planejamento das aes de sa- de por expressar o nmero de doentes existentes em uma populao; uma medida da carga de doena ou de mor- te em uma populao. Como exemplo, o conhecimento do numero de pessoas com esquistossomose em um deter- minado municpio auxilia o servio de sade a planejar a quantidade de medicamento necessria para o tratamen- to desta doena. A medida ideal para expressar doenas ou mortes em uma populao a taxa, que caracterizada pelos seguin- tes componentes: A taxa padronizadapara comparaes e permite com- parar ocorrnciade doenas ou de mortes em diferentespo- pulaes, reas geogrficas e perodos de tempo. a medi- da que mais claramente expressa a probabilidade de adoe- cer ou de morrer, por levar em considerao a populao em risco. Por conveno, as taxas so publicadas por 10"(100, 1.000, 10.000, 100.000etc.) habitantes; este ndice arbitr- rio, adotado para evitar taxas fracionrias. As taxas utiliza- das em epidemiologiamedem morbidade e mortalidade. Taxa de Morbidade A morbidade, medida de freqncia de doenas, ope- racionalizada por duas taxas distintas, que so as taxas de prevalncia e de incidncia. Os dados sobre as freqncias de doenas, para calculo destas taxas, so obtidos nos ser- vios de sade, em hospitais, ambulatrios, nos registros especiais de doenas ou atravs de inquritos populacio- nais. Estas taxas podem ser especficas por doenas, calcu- ladas para diferentes grupos etrios, sexo e regies geogr- ficas. Taxa de Incidncia A taxa de incidncia definida como o nmero de casos novos (recentes) de uma doena que ocorreu em uma popu- lao em um perodo de tempo definido. Exemplo:entre 800 crianaspr-escolaresde um munic- pio, foram diagnosticados quatro casos novos de leishma- niose visceral durante o ano de 1999: Taxa de Incidncia: 41800 = 0,005 = 5 casos de leishma- niose visceral po 1.O00 crianasno ano de 1999. A taxa de incidnciaestima o risco de adoecer. Este ris- co por uma determinada doena pode ser estimadopara um grupo especfico da populao, por sexo, por grupo etrio . ou para um grupo exposto a um fator de risco especfico.O denominador da taxa de incidncia representa o nmero de pessoas que se encontram em risco de desenvolver a doen- a ou que, potencialmente,podem vir a adquirir a doena e passar a fazer parte do numerador. Para que seja determina- da a taxa de incidncia de uma doena necessrio acompa- nhar a populao prospectivamente, durante um perodo de tempo, e registrar o aparecimento de casos novos desta doena. Um dos problemas no clculo da taxa de incidncia o do diagnsticono incio da infeco. Para algumas doen- as, o aparecimento mais facilmente diagnosticado,como o caso da malria; entretanto, para outras doenas, como a doena de Chagas e a esquistossomose,por no apresen- tarem sintomas caractersticos,o incio da infeco dificil de ser identificado.Nestas doenas, nem sempre o diagns- tico coincide com o momento da infeco. Capitulo 3 23. Para o clculo das taxas de incidncia so necessrios dadospopulacionaisque iro compor o denominador. Estes dados nem sempre esto disponveis,e muitas vezes as es- timativas usadas podem superestimar ou subestimar estas taxas. A taxa de prevalncia definida pelo nmero de pessoas afetadaspor uma determinada doena, em uma populao em um tempo especfico, dividido pelo nmero de pessoas da populao naquele mesmo perodo. momento. Para o clculo da taxa de prevalncia so tambm necessrios os dados populacionais. Qual a diferena entre prevalncia e incidncia? A pre- valncia pode ser vista como uma fotografia da doena na populao estudada; identificam-se os doentes e no-doen- tes em um determinadomomento. Por no levar em conside- rao a durao da doena, ou seja, o momento em que a infeco ocorreu, no mede o risco de adoecer. A incidn- cia, por incluir somente os casos novos, estima o risco de adoecer. Estes conceitos podem ser visualizadosna Fig. 3.6 e na Tabela 3.4. A relao entre prevalncia e incidncia pode ser expressa como: Exemplo: entre 400 crianas de uma comunidade subme- tidas ao exame parasitolgico de fezes no incio do ano de 1999,foram encontradas40 com exame positivo para Ascaris lumbricoides. Taxa deprevalncia = 401400 = 0,l = 10casospor 100cri- anas ou 10% das crianas da comunidade estavam com Ascark lumbricoides no ano de 1999. Os fatores que afetam a taxa de prevalncia so apresen- tados na Fig. 3.5. A taxa de prevalncia normalmente expressa em porcentagem. Tem aplicabilidadenos planeja- mentos de sade e no acompanhamento das mudanas no perfil de doenas em populaes que se encontram sob in- tervenode programas de sade. Esta taxa expressa a car- ga de doena em uma populao, refletindo a situao do ~lassifica~oInternacional de Doenas (CID).utilizada por todos os pases. As taxas de mortalidade so publicadas, no Brasil, pelo Ministrio da Sade e so calculadas pela cau- sa bsica da morte, por regio geogrfica, por sexo e por fai- xa etria. Esta taxa pode ser afetada em seu numerador pela qualidade do preenchimento dos atestados de bito, pela existncia de cemitrios clandestinos que no exigem ates- tados para sepultamento, pelos registros da morte no local em que ocorreu e no no local de residncia,impossibilitan- do em alguns casos estimar corretamente mortes por regio geogrfica. As modificaes que ocorrem na definio de uma doena podem ter um significativoefeito na estimativa da causa da morte, principalmente, quando se analisa a ten- dncia temporal da doena. Estas modificaes geralmente ocorrem devido a melhoria de tcnicas de diagnstico. O Fig. 3.5 -Fatores que influenciam a taxa de prevalncia. PREVALNCIA AUMENTA Doenas de longa durao Casos novos de doenas Aumento de sobrevida Emigrao de pessoas doentes Capitulo 3 21 PREVAL~NCIADIMINUI Doenas de curta durao Doenas que causam a morte Teraputica eficaz Imigrao de pessoas doentes Melhoria de tcnicas de diagnstico 24. Inciddncia Prevalncia Probabilidadede desenvolver a doena Probabilidade de ter tido a doena Numerador: somente casos novos Numerador: casos novos e antigos Requer acompanhamento da populao No requer acompanhamentoda populao No depende da durao da doena Depende da durao da doena (doena de longa durao aumenta a taxa de prevalncia) denominador composto pelo nmero de pessoas exis- lidade de vida, sendo empregada para orientar aes es- tentes no meio do perodo, regra que estabelecida visan- pecficas relacionadas a sade matemo-infantil. do a uma melhor aproximao do nmero de pessoas exis- tentes; esta padronizao importante, pois a populao modifica com o tempo. MEDIDAS DE RISCO As comparaes entre grupos de indivduos expostos a NBmero total da martcwem fatores de risco em diferentes gradientes de exposio e pe- umpopuhao, clm um psrkdo nodos de tempo podem ser utilizadas para calcular o risco Taxa de ~tsmpOdsflnido de adoecer que afetar a sade. Mortalidadet EWmen,de exkwm ~ ~ n o m d o d 0 ~ 0 Rrsco A taxa de mortalidade infantil expressa bitos em meno- O risco definido como a probabilidade de ocorrncia res de 1 ano por 1.O00nascidos vivos. E muito utilizadapara de um evento (doenaou morte) em um indivduo, membro comparar condies de sade entre pases. Expressa a qua- de uma populao, em um tempo definido. Indica, portanto, Casos novos (incidncia) Fig. 3.6 - Relao entre prevalncia e incidbncia. 22 Capitulo 3 25. a probabilidade do indivduo de passar de um estado de sade para doena. As principais medidas que expressam risco so: Risco Relativo (RR) a razo (diviso) do risco de adoecer entre um grupo exposto (numerador) e um grupo no-exposto (denomina- dor) a um determinado fator de risco ou caracterstica. E a razo entre as taxas de incidncia nos indivduos expostos e no-expostos. O resultado deste clculo expresso em nmero abso- ; luto. O RR mede a fora de associao existente entre cada I fator e a doena, sendo importante em estudos de etiologia ! ou causas de doena. A probabilidade de uma doena ocor- rer pode resultarda ao de um ou mais fatores de risco. : Risco Atribuvel (RA) a proporo de doena, em um grupo populacional, que pode ser atribuda a um determinado fator de risco; mede a quantidade de doena que poderia ser prevenida se a exposio ao fator de risco em questo fosse evitada. Como exemplo: estima-se que 80% das neoplasias de pul- mio que ocorrem atualmente esto associadas ao hbito de fumar (tabagismo).O RA importante em sade pbli- ca na definio de prioridades para aplicao de medidas preventivas. CAUSALIDADE EM EPIDEMIOLOGIA As associaesestatsticas encontradas entre o fator de risco e adoena podem ser explicadascomo uma associao espria (artefactual), uma associao indireta ou uma as- sociao causal ou etiolgica. uma associao falsa, resultante de vcios identifica- dos no estudo. Estes erros podem ser introduzidos na co- leta de informaes,na seleo dos participantes do estudo, no diagnstico da doena ou na anlise de dados. A exis- tncia de uma associao espria pode ser descartada se os estudos forem bem planejados e bem conduzidos. aassociaoentre a enfermidadee o fator de risco, criada pela presena de uma outra caracterstica (conhecida ou no), associada tanto a enfermidade quanto ao fato de ris- co estudado. Inicialmente, necessrio conceituar "causa" na inter- pretao dos fenmenos biolgicos. O entendimento de causas de doenas importante, no s no campo da pre- veno, mas tambm no diagnstico e na aplicao de tera- putica adequada. No existe um consenso sobre o conceito de causa em epidemiologia e em outras cincias; nenhuma definio totalmente apropriada para as diversas reas do conhecimento. A causa de uma doena pode ser considerada como um evento, condio ou caracterstica, ou a combinao destes fatores, que so importantes no desenvolvimento da doen- a. Logicamente a causa deve preceder a doena. Historicamente,no incio do sculoXX,a causa de uma doena era conceituada como "o fator necessrioe suficien- te para a ocorrncia da doena". Este conceito era adequa- do para uma poca em que se acreditava que as doenas ocomam devido a presena de uma agente nico (microrga- nismo). Implicava a existncia de uma relao 1:1entre o fator e a doena, ou seja: quando o fator estivesse presente, a doena teria que ocorrer; e quando a doena ocorresse, o fator teria que estar presente. As regras clssicas que deter- minavam se um organismo era considerado o agente causal so conhecidas como "postulado de Koch", e podem ser enunciadas como se segue: o organismo tem que ser encontrado em todos os ca- sos de doena; tem que ser isolado de pacientes e crescer em cultura pura; quando a cultura pura for inoculada em animais sus- cetveis ou no homem, tem que reproduzir a doena. Portanto, para ser considerado um agente causal, de acordo com estes postulados, o fator (microrganismo) tem que ser uma condio necessria e suficiente para a ocor- rncia da doena. Todavia, estas condies nem sempre so satisfeitas,mesmo em doenas infecciosas.Por exemplo, na doena de Chagas, o isolamento do Trypanosoma cruzi de indivduos doentes nem sempre possvel e, muitas vezes, o indivduo pode estar infectado sem manifestao clnica da doena. Atualmente, a teoria unicausal (causa nica) no mais explica a ocorrncia de doenas. Aceita-se que a ocorrncia de doenas seja resultante de interaes de causas mlti- plas. Em geral, no preciso identificar todos fatores para que seja possvel uma preveno efetiva. Muitas vezes, a remoo de um fator de risco pode interferir na ao de ou- tros componentes e, ento, prevenir a doena. Desta maneira, em sade pblica, razovel adotar um conceito mais pragmtico de causalidade. Uma relao cau- sal deve ser aceita quando existirem evidncias indicando que fatores etiolgicos so parte integrante de um comple- xo de circunstnciasque aumentam a probabilidade da ocor- rncia da doena, e que a reduo de um ou mais destes fa- tores reduz a freqncia da doena. A expresso "fator de risco" usada para descrever fa- tores que so positivamente associados a probabilidade de desenvolver a doena, mas que no so suficientes para causar a doena. Alguns fatores de risco so associados a vrias doenas e algumas doenas so associadas a vrios fatores de risco. Os estudos epidemiolgicos procuram es- tabelecer a contribuio relativa de cada fator na ocorrncia da doena e a reduo da doena devido a eliminao de cada fato. A identificao de fatores de risco um passo importante para a chamada preveno primria (aquela que 26. atua antes do aparecimento da doena) e na preveno secundria, na identificao de grupos de alto risco (aque- la que atua quando a doena j se instalou, buscando diagnstico precoce nesses grupos). Quatro tipos de fatores de risco fazem parte do proces- so de causalidade de doenas. Todos podem ser neces- srios, mas raramente so suficientes para causar uma doen- a: 1. Fatores predisponentes, como idade, sexo e doenas prvias, criam um estado de suscetibilidadedo indivduo ao agente da doena. 2. Fatoresfacilitadores, como desnutrio, moradia ina- dequada, falta de saneamentoe falta de ateno mdica, fa- vorecem o desenvolvimento da doena. 3. Fatores precipitantes: so os agentes especficos as- sociadosao incio da doena, devendo sempre estar presen- te -so os agentes biolgicos (parasitas, vrus, bactrias). 4. Fatores agravantes: so os fatores que, quando a ex- posio repetida, podem agravar ou estabelecer o estado de doena. Um associao entre um fator de risco e uma doena causal quando sua presena aumentar a probabilidade da ocorrncia da doena e sua ausncia diminuir esta probabi- lidade. A Fig. 3.7 apresenta a cadeia de causalidade para leishmaniose.A Leishmania sp. o agente necessrio, mas no suficientepara que a infeco ocorra. IAvaliar uma associaoobservada entre um fator de ris- co e uma doena consiste essencialmente em distinguir as trs hipteses sugeridas: artefactual, indireta ou causal. Se um estudo bem planejado e conduzido, a hiptese artefactual dever ser uma explicao pouco provvel para a associao estatstica observada. O grande desafio de um estudo epidemiolgico consis- te em determinar se a associaoobservada indireta ou se I Exposio aos flebotomineos Morar em rea rural Contato com matas Presena de reservatrios silvestres Presena de reservatbrios domsticos Cepas de Leishmania sp. Infeces intercorrentes Fatores genbticos Fatores nutricionais Fatores demogrficos (sexo, idade) Capitulo 3 4 b Fatores de risco para infeco 4 Fatores de risco para doena Fig. 3.7 - Cadeia de causalidade na leishmaniose. 27. tem significado etiolgico (causal). As evidncias mais di- retas de uma relao causal entre o fator de risco e a doen- a seriam fornecidaspelos estudos experimentaise pela de- terminaodos mecanismos biolgicos. Os estudos experi- mentais conduzidos em populaeshumanas fornecem uma prova absoluta da associao causal. Entretanto, por ques- tes ticas, estes estudos praticamente no so realizados. Os experimentos conduzidosem animaistambm poderiam fortaleceruma hiptese causal, mas nem sempre podem ser generalizados para populaes humanas. A determinao da patognese, ou seja, o conhecimento da seqncia de eventos que vo da exposio a manifestao clnica da doena,poderia explicar o mecanismo causal. No entanto, o conhecimento atual dos mecanismos biolgicos raramente permite um entendimento completo das seqncias de even- tos em uma doena. Os estudos epidemiolgicos fornecem evidncias in- diretas que permitem diferenciarentre uma associao cau- sal euma associaoindireta.Inferncia causal a expres- soutilizada para determinar se a associao observada em um estudo epidemiolgico etiolgica.Algumas evidncias epidemiolgicas, que devem ser consideradas para infern- cia causal, so: relao temporal: a causa deve perceber o efeito; consistncia da associao: os resultados devem ser semelhantes em diferentes estudos, diferentes populaes, diferentes locais; fora de associao: magnitude do risco relativo; quanto maior o risco, maio a evidncia de uma as- sociao; grau de exposio: existncia da resposta a dose ou a diferentes gradientes de exposio; plausibilidade biolgica: os resultados devem ser consistentes com os conhecimentos exis- tentes. As inferncias derivadas dos estudos epidemiolgicos no devem ser feitas isoladamente; devem sempre ser consideradas juntamente com todas as informaes bio- lgicas relevantes. As evidncias epidemiolgicas e bio- lgicas devem se somar para mostrar que a hiptese cau- sal a mais provvel. Infelizmente, nem sempre pos- svel quantifcar o grau de certeza atingido por todas as evidncias em favor de uma hiptese causal; um certo grau de subjetividade pode permanecer. Entretanto, mes- mo que a hiptese causal seja somente provvel, os co- nhecimentos adquiridos so muitas vezes suficientes para a aplicao de medidas preventivas e aes de sa- de pblica. Capitulo 3 28. David Pereira Neves O numero dos seres vivos existentes na Natureza to grande que, para serem estudados, tm que ser agrupados conformesua morfologia, fisiologia, estrutura, filogenia etc. Esse appamento obedece a leis e possui um vocabulrio prprio. A seguir, citaremos alguns termos fundamentais e sua significao: " a ordenao dos seres vivos em classes, baseando- se no parentesco, semelhana ou ambos" (Simpson). NOMENCLATURA " a aplicao de nomes distintos a cada uma das clas- ses reconhecidas numa dada classificao" (Simpson). TAXONOMIA "Taxonomia o estudo terico da classificao,incluin- do as respectivas bases, princpios, normas e regras" (Simpson). Sistemtica o estudo cientfico das formas de organis- mos, sua diversidade e toda e qualquer relao entre elas" (Sirnpson). Os termos taxonomia e sistemtica geram muita confu- so. Em outras palavras, pode-se dizer que "a taxonomia reconhece, classifica e identifica os seres vivos, enquanto a sistemticaestuda as caractersticas fisicas, fisiolgicas ou comportamentaispara permitir a classificao". A classificao dos seres vivos deve ser feita baseada em vrios aspectos da biologia e morfologia. Algumas ve- zes, no entanto, a classificao baseada unicamente na morfologia externa do animal. Vemos, portanto, que existem dois tipos de classificao: o natural e o artificial. No pri- meiro, os trabalhos so baseados na filogenia (relaciona- mento da espcie estudada com outros menos evoludos ou fsseis); na ontogenia (formao e desenvolvimento da espcie, desde ovo at adulto); na fisiologia, morfologia e, muitas vezes, na ecologia e etologia. No segundo, os trabalhos so baseados exclusivamente na morfologia ex- terna da espcie, sendo esse tipo, por conseguinte, passivel de erro. De alguns anos para c, ao lado dos outros crit- rios para clasificao,tm sido largamente empregadoscri- trios bioqumicos, com grande sucesso. A designao cientfica reguladapor regras de nomen- clatura promulgadas em congressos e denominadas Regras Internacionais de Nomenclatura Zoolgica. Resumidamen- te, apresentaremos alguns itens mais importantes: a. O ponto de partida para a nomenclatura binria (gne- ro e espcie) a 10P edio do Systema Naturae, de Carl von Linn (Linnaeus), 1758. b. A unidade taxonmica (unidade, grupo etc.) denomina- se thon (plural taxa), que pode corresponder a diversos nveis de classificao ou categoria taxonmica, que em zoologia so sete:reino, filo, classe, ordem, famlia,gnero, espcie. c. A nomenclaturadas espcies deve ser latina e binomi- nal, ou seja, a espckie designadapor duas palavras: a primeira represente ognero (deve ser escrita com a primeira letra mai- scula); a segunda a espcie considerada (deveser escrita com letra minscula, mesmo quando for nome de pessoa). Estas palavras devem ser sempregrifa& ou escritasem itlico. d. Quando a espcie possui subespcie, essa palavra vir em seguida a da espcie, sem nenhuma pontuao. Ex.: Culexpipiens fatigam-Culex = gnero;pipiens = espcie; fatigans = subespcie. e. Quando a espcie possui subgnero, este vir interposto entre o gnero e a espcie, separado por parn- teses. Ex.:Anopheles (Kerteszia) cruzi. Anopheles = gne- ro; (Kerteszia) = subgnero; cruzi = espcie. Outras categorias so escritas baseadas no gnero-tipo e acrescentando-se uma desinncia prpria. Assim temos: Capitulo 4 27 29. Tribo acrescenta-se ini. Ex.: Culicini Subfamlia acrescenta-se inae. Ex.: Culicinae Famlia acrescenta-se idae. Ex.: Culicidae Superfamlia acrescenta-se oidea. Ex.: Oxyuroidea f. Quando se vai descreveruma espcie, seu nome deve ser simples, homenageando uma pessoa ilustre, ou eluci- dativo (o nome representa alguma caracterstica da espcie). A grafia deve ser sempre em latim ou latinizada.Quando for nome de homem, acrescenta-seum i e ae quando for mulher. Por exemplo: cruzi, guimaraesi, mariae etc. Alm disso o autor deve apresentar a descrio completa, inclusivecitan- do a bibliografia especializada. Caso uma espcie descrita entre em sinonmia, ou seja, quando outro autor j tenha descritoaquela mesma espcie,ter validade a que for mais antiga (Lei da Prioridade). g. Havendo necessidade de escrever o nome de uma es- pcie num trabalho, a primeira indicao dever ter a citao do autor. Por exemplo,Polygenis guirnaraesi, Linardi, 1978. h. Caso o nome da espcie tenha sido escrito por um autor e, posteriormente, reescritopor outro porque havia al- guma incorreono primeiro, a grafia completa da espcie dever conter o nome do primeiro autor entre parnteses. Ex.:Aedes (Stegomyia) aegvpti (Linnaeus, 1762).Esta grafia indica que outro autor redescreveu essa espcie, anterior- mente descritapor Linnaeus, em 1762. Espcie definida como sendo uma coleo de indivduos que se assemelham tanto entre si como os seus ascendentes e descendentes. Essa identidade de caracteres -caracteres especficos - regulada por genes especficos e homozi- gticos e reprodutivamenteisolada de outros grupos seme- lhantes. D-se esse nome quando alguns indivduos de determi- nada espcie destacam-se do resto do grupo por possurem uma caracterstica excepcional ou um conjunto de pequenas diferenas da forma especficatpica, que se perpetuam nas geraes seguintes. Alguns autores usam subespcies como sinnimo de raa ou variedade. Entretanto,achamos mais vlido empre- gar subespcie como designaoprpria, definida acima, e raa ou variedade (a sim, essas palavras so sinnimas) quando a diferena fisiolgicaou de hospedeiro.Por exem- plo: Sarcoptes scabiei, variedade suis (sarna de porco); S. scabiei, variedade cannis (sarna de co) etc. G*enero Quando vrias espcies apresentam caracteres comuns para reuni-las num grupo, d-se a esse grupo o nome de g- nero. Dessa forma vemos que, frequentemente,um gnero pode possuir vrias espcies e subespcies. Segundo esse raciocnio, isto , agrupamento de carac- teres afins, ns teremos a tribo, subfamlia, famlia,superfa- mlia, ordem, classe e, finalmente,o ramo, ou filo, e reino. Assim, se fssemos classificar o pernilongo transmissor da malria em nosso meio, teramos: Reino Animal Filo Arthropoda Classe Insecta Ordem Diptera F a d a Culicidae Subfarnlia Anophelinae Tribo Anophelini Gnero Anopheles Subgnero Nyssornynchus Espcie A. (N.) darlingi Outros termos importantes: Espcie-Tipo. a primeira espcie descrita que denomi- na um gnero. Gnero-Tipo. o primeiro gnero descrito que denomi- na uma famlia (isto , o nome da famlia tem como base um gnero -o gnero-tipo). Tipos. Quando se descreve uma espcie, ela baseada em um ou mais exemplares, que devem ser guardados em museus prprios. Esses exemplares (ou apenas um) so os tipos, que podem ter as seguintes variaes: Holtipo ou Tipo. um exemplarque foi descrito e guar- dado em museu prprio (pode ser um exemplar macho ou fmea). Altipo. a espcie-tipo descri