Parecer Vivian

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Cinema em Cabaceiras: um lugar de produção e a produção de um lugar. Relatos de experiências educativas Mestranda: Vivian Galdino de Andrade Iranilson Buriti “Coragem companheira. Não dar para desejar que o mundo te seja leve, pois inventaste de ser intelectual”. Esta frase, de Sandra Corazza, mostra um pouco os nossos anseios, dilemas e percursos no mundo acadêmico, a procura de um objeto de pesquisa e uma problemática de pesquisa com as quais possamos dialogar. Você conseguiu um objeto e uma problemática para a sua pesquisa. Gostaria de fazer algumas considerações gerais: 1 – Sentimentos. Toda pesquisa nasce da insatisfação com o já- sabido. Para alguém sentir e aceitar que está insatisfeito, é preciso engajar-se na criação de uma nova política das verdades, colocando em funcionamento novas máquinas de pensar, de significar, de analisar, de desejar, de atribuir e produzir sentidos, de interrogar em que sentidos há sentidos. Foi isso que vc fez nesta pesquisa. Encontrou uma problemática para o seu objeto de pesquisa e, a partir da História Cultural e dos Estudos Culturais, colocou em funcionamento novas máquinas de pensar. Construiu, juntamente com os seus depoentes, novos significados para Cabaceiras, desconfiando de algumas falas, engolindo outras, analisando umas, repetindo outras, mas sempre com o desejo de atribuir e construir novos sentidos. Vc ficou insatisfeita com os depoimentos que pareciam tão naturais e procurou criar outras redes de significações. Sua insatisfação com o já-sabido tornou a sua análise criadora e aventadora.

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Cinema em Cabaceiras: um lugar de produo e a produo de um lugar. Relatos de experincias educativasMestranda: Vivian Galdino de Andrade

Iranilson Buriti

Coragem companheira. No dar para desejar que o mundo te seja leve, pois inventaste de ser intelectual. Esta frase, de Sandra Corazza, mostra um pouco os nossos anseios, dilemas e percursos no mundo acadmico, a procura de um objeto de pesquisa e uma problemtica de pesquisa com as quais possamos dialogar. Voc conseguiu um objeto e uma problemtica para a sua pesquisa.

Gostaria de fazer algumas consideraes gerais:1 Sentimentos. Toda pesquisa nasce da insatisfao com o j-sabido. Para algum sentir e aceitar que est insatisfeito, preciso engajar-se na criao de uma nova poltica das verdades, colocando em funcionamento novas mquinas de pensar, de significar, de analisar, de desejar, de atribuir e produzir sentidos, de interrogar em que sentidos h sentidos. Foi isso que vc fez nesta pesquisa. Encontrou uma problemtica para o seu objeto de pesquisa e, a partir da Histria Cultural e dos Estudos Culturais, colocou em funcionamento novas mquinas de pensar. Construiu, juntamente com os seus depoentes, novos significados para Cabaceiras, desconfiando de algumas falas, engolindo outras, analisando umas, repetindo outras, mas sempre com o desejo de atribuir e construir novos sentidos. Vc ficou insatisfeita com os depoimentos que pareciam to naturais e procurou criar outras redes de significaes. Sua insatisfao com o j-sabido tornou a sua anlise criadora e aventadora.2 Prticas prtica de pesquisa um modo de pensar, sentir, desejar, amar, odiar; uma forma de interrogar, de suscitar acontecimentos, de exercitar a capacidade de resistncia e de submisso ao controle. Portanto, uma prtica de pesquisa implicada em nossa prpria vida. diz respeito ao modo como fomos e estamos subjetivados, como entramos no jogo de saberes e como nos relacionamos com o poder. A sua prtica de pesquisa, da forma que vc desenhou na sua dissertao, sua prpria vida. Vc parece Maria, falando, narrando, suspeitando. A prtica de pesquisa uma linguagem e vc captou isso muito bem. Falou como um transeunte em Cabaceiras, um espectador de filmes, mas tambm como um crtico de falas, de gestos, de modos de ser e de se comportar.3 A teoria Voc trabalhou de uma forma muito tranqila os conceitos, desenhando-os ao longo do texto, inserida na discusso, articulada com os depoimentos e com a sua anlise. Ficou leve, como se vc estivesse conversando com Michel de Certeau e Stuart Hall. Peter Gay, apesar de aparecer muito pouco no seu texto, deu uma contribuio significativa para que vc trabalhasse a educao dos sentidos e os sentidos da educao.

Seguem algumas questes para pensar:

Sinopse (pIII): no precisa de concluses no resumo. Instigue o leitor para que o mesmo adentre os sets de filmagens.Making Of: voc apresentou um timo desenho da pesquisa, da metodologia e dos seus percursos.

p. 16 e 17 como vc est trabalhando com os estudos culturais, no interessante utilizar o verbo entender (compreender), pois a histria cultural feita por suspeies. Ao invs de entender, vc deve desconfiar das falas, suspeitar das identidades nordestinas, etc.

p. 20 Os EC vo lhe permitir inventar, representar, criar, mas no REFLETIR.

Captulo I:

Ausncia de dilogos com a histria e com o conceito de autoria. Ariano Suassuna, mesmo no sendo o seu objeto de pesquisa, mas necessita de uma presena melhor no texto. Quem era ele na dcada de 50? Para quem estava escrevendo a Pea? Quais as expectativas? Com quais eventos histricos estava envolvido no momento da produo desse Auto? Quais as temticas que so mais recorrentes, alm do cangao, da famlia e da trapaa?

Sobre Ariano, veja o texto de Foucault O que um Autor?, especialmente o captulo A Escrita de Si, para situar o autor para o leitor. Pensar sobre sensibilidades, saudades, religiosidade, mesmo de forma rpida, mas de modo que estabelea a sintonia fina entre literatura, cinema e histria, permitindo pensar o passado atravs de uma nova pedagogia do olhar e do sentir. Que autor esse? O que leu nessa poca? Com quem se relacionou? Como elabora sua trajetria intelectual?p. 29 povo hospitaleiro: mesmo vc sentindo essa hospitalidade como cidad ou turista, no interessante adjetivar em um trabalho cientfico. Coloque isso sempre na voz de outra pessoa.

O item bastante interessante, mas no ficou bom no incio do captulo. Parece quebrar o ritmo do texto, pois no segundo item vc vai abordar o cinema como prtica educativa, como meio pedaggico. Na minha concepo, este deveria ser o primeiro item do captulo.

p. 36 Linguagem de introduo. s vezes o seu primeiro captulo parece muito com uma introduo, inclusive com idias repetidas (p.41)p. 41 compreenso de novo?p. 47 voc no deve trabalhar com a idia de essncia. O que uma essncia??? Como um historiador dos estudos culturais dialoga com o conceito de essncia, quando metodologicamente ele deve por em dvida as instncias naturalizadas? Quando voc afirma que o que possibilitou a expanso da obra original sem que a mesma perdesse sua essncia, voc est concordando que a Pea possui uma essncia, uma seiva especfica, da qual as demais obras se alimentam. Um historiador cultural foge dessa naturalizao e interroga-se: quais as regularidades discursivas que esto presentes tanto na Pea quanto na minissrie? Que deslocamentos ocorreram? Que textos foram recriados, ressignificados, relidos? Lembre-se que, conforme Chartier, cada leitor um autor em potencial. Quando visitamos um texto, participamos tambm de sua autoria. Isto significa que o prprio Ariano, ao ler sua Pea, recria cenrios, monta novos espetculos imagticos, relembra de formas diferentes. Guel Arraes, ao ler Ariano, participa da construo textual enquanto um leitor-navegador. A prpria leitura cinematogrfica exige isso, ou seja, ela explode as formas tradicionais de ler e pensar e desfoca os olhos das coisas vistas, elevando-os at s visibilidades de uma poca, mas sempre com o olhar do tempo presente. O leitor cultural deve deslocar o olhar da moradia confortvel das palavras e das frases para chegar aos enunciados, como bem disse Corazza. No procure a essncia da Pea, mas exercite sua suspeio sobre a prpria formao histrica que a constitiu. Interrogue se tudo o que foi dito no Auto tudo que pode ser dito, bem como, se aquilo que foi mostrado na minissrie tudo o que se pode ver. Lembre-se do no-lugar, do no-dito e no-visto. Estes tambm so lugares.p. 58 onde esto as tenses apresentadas pela AARTICA?

p. 58 H um corte entre os dois pargrafos. Falta a fala do informante.

p. 76 rodap, pois quebra o texto.

p. 85 coloque esse pargrafo (ltimo) na introduo ou no incio do item.

p. 97 Dados sobre o documentrio, pelo menos em rodap, pois fiquei curioso.

p. 139 A pesquisa em Educao j descobriu Certeau.

Seu trabalho muito amplo. H material para a tese de doutorado. Voc pode trabalhar com gnero, sexualidade, o corpo produzido pelo Auto da Compadecida, a relao entre literatura teatral e linguagem flmica, enfim, h muitos fios interessantes que vc pode tecer.