ParNa Tijuca

download ParNa Tijuca

of 50

Transcript of ParNa Tijuca

  • Apoio:

  • Este livro o resultado de uma pesquisa desenvolvida com recursos da Fundao Carlos Chagas de Amparo Pesquisa (FAPERJ) relativa ao Projeto A floresta como espao multidisciplinar na educao: conhecendo o Parque Nacional da Tijuca, no mbito do Edital FAPERJ n. 08/2012 - Programa Apoio produo de material didtico para atividades de ensino e/ou pesquisa.

    AutoresAlexandre Justino Soares Alfeu Olival Barreto JuniorAna Maria DonatoAna Roberta TartagliaAndra Espinola de SiqueiraDanielle Bento de Souza BarrosDanielle Cristina Duque Estrada BorimLucio Meirelles PalmaMrcia Nunes RodriguesMarcia Vera Ancora da LuzMarlon Almeida dos SantosMarly Cruz Veiga da SilvaThiago Rocha Haussig

  • 4 5

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    Agradecimentos

    Prefcio

    Apresentao

    Um convite visitao ao Parque Nacional da Tijuca

    Introduo

    Sinalizao das trilhas do Parque Nacional da Tijuca

    Preparao para a visita ao Parque

    Roteiro

    Trilha dos Estudantes

    Caractersticas da Floresta da Tijuca

    Mata Atlntica

    A importncia da serrapilheira

    Cascatinha Taunay

    Funo das Florestas

    Paredo Rochoso

    gua

    Capela Mayrink

    Mata Ciliar

    A relao entre a vegetao e a temperatura

    A importncia da Floresta

    Centro de Visitantes

    Glossrio

    Bibliografia

    Sobre os autores

    5

    6

    8

    10

    12

    14

    18

    22

    22

    33

    41

    44

    46

    57

    59

    64

    67

    73

    76

    78

    82

    94

    95

    97

    SUMRIO AGRADECIMENTOS

    Ao chefe do Parque Nacional da Tijuca, Er-

    nesto Viveiros de Castro, que nos apoiou na realizao

    desta pesquisa, incentivando a divulgao do potencial

    do Parque como um espao no formal de ensino.

    Aos funcionrios do Parque Nacional da Ti-

    juca, que sempre nos receberam com muita compe-

    tncia em nossas inmeras visitas com alunos da Edu-

    cao Bsica e do Ensino Superior, mesmo antes do

    comeo do projeto que resultou nesta publicao, em

    especial equipe do Centro de Visitantes, onde tan-

    tas vezes nos reunimos, solicitamos consultas ao acer-

    vo da Biblioteca Alceo Magnanini e fomos sempre au-

    xiliados e bem acolhidos.

    Aos membros da equipe da Monitoria Am-

    biental do parque pelo acompanhamento dos grupos

    de alunos durante algumas das visitas que antecederam

    a produo deste livro e durante o seu desenvolvimen-

    to, sempre acrescentando informaes relevantes du-

    rante as proveitosas caminhadas nas trilhas do parque.

    Ao Centro de Educao Ambiental do Parque

    Nacional da Tijuca (CEAMP) pela disponibilidade e pe-

    lo apoio em visitas guiadas com grupos escolares ao

    longo dos ltimos anos.

    Ao Instituto Chico Mendes de Conservao

    da Biodiversidade por ter nos concedido a autorizao

    para a realizao desta pesquisa nas dependncias do

    parque.

    Fundao Carlos Chagas de Amparo Pes-

    quisa (FAPERJ) pelos recursos que possibilitaram a re-

    alizao dessa pesquisa.

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro,

    atravs de suas Sub-Reitorias de Graduao (SR-1), de

    Ps-Graduao e Pesquisa (SR-2), de Extenso e Cul-

    tura (SR-3), bem como, ao Instituto de Biologia Ro-

    berto Alcantara Gomes (IBRAG), pelo apoio profissio-

    nal, especialmente na solicitao de auxlio a rgos

    de fomento.

    biloga Liz Magalhes Waltenberg por ter

    carinhosamente criado e desenhado o nosso masco-

    te, o quati professor.

    A todos aqueles que ajudaram a tornar pos-

    svel a realizao desse trabalho.

  • 7GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    6

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    PREFCIO Falar sobre algo que nos seja prximo, impor-tante e extremamente querido, pode parecer muito fcil, principalmente para algum que conhece bem

    suas caractersticas, valores e desafios. Quando j se

    produziu material didtico e bibliogrfico sobre este,

    mais ainda, entretanto, discorrer sobre este assunto

    ao analisar o tema redigido por outras pessoas, torna-

    -se uma misso instigante e fascinante.

    E foi repleta de fascnio que li o trabalho destes

    treze autores, que to didaticamente discorreram sobre

    o tema - Parque Nacional da Tijuca, com nfase na mais

    propcia trilha para estudantes da Floresta da Tijuca.

    Quando a Prof Dr Andra Espinola de Si-

    queira me convidou para fazer o prefcio deste tra-

    balho, senti-me profundamente honrada e feliz, em

    poder mergulhar novamente neste universo que me

    to familiar.

    Ao me debruar sobre este livro, percebi no

    se tratar apenas de um livro didtico, mas um trabalho,

    feito com muito mais sensibilidade e uma imensa pre-

    ocupao em dar aos professores subsdios em diver-

    sas reas, para se prepararem realmente, para explorar

    o Parque de uma forma consistente e multidisciplinar.

    Professores de diversas matrias tero aqui,

    elementos para abordar no apenas os contedos

    que lhes so afins, como tambm ampliar e aplicar

    conhecimentos que, certamente, tornaro o passeio,

    muito mais interessante.

    Um professor de Cincias, por exemplo,

    ter oportunidade de saber o que foi, no campo

    das artes, o perodo neoclssico e mostrar aos alu-

    nos, atravs das edificaes e obras de arte en-

    contradas neste percurso, que o Parque Nacional

    da Tijuca, no se restringe apenas a ser um valio-

    so patrimnio natural. Ele , tambm, um relevan-

    te patrimnio cultural, na medida em que foi, em

    grande parte, refeito pela atuao do homem, e

    que est impregnado de histria e arte. Da mesma

    forma, um professor de Geografia, poder enfo-

    car a importncia da fauna, na sobrevivncia des-

    ta floresta, que presta inmeros servios ambien-

    tais cidade do Rio de Janeiro.

    Surpreendeu-me, igualmente, o trabalho

    ser apresentado num texto coletivo, onde parabeni-

    zo a iniciativa da organizadora, em criar no apenas

    uma coerncia de linguagem, como torn-la acess-

    vel e leve.

    As notas aos professores, sugestes de aulas

    preparatrias visita, ilustraes, glossrio e exem-

    plos de atividades a serem desenvolvidas ps-pas-

    seio, tambm tornam este livro mpar e certamente

    de grande valia para todos os que quiserem ter e for-

    necer aos seus alunos, uma experincia inesquecvel.

    Boa leitura!

    Ana Cristina Pereira Vieira

    FOTO

    TH

    IAG

    O H

    AU

    SSIG

  • 9GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    8

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    APRESENTAO Desde o primeiro dia em que entrei no Par-que Nacional da Tijuca nos idos anos 90, ainda como aluna da graduao, fiquei extasiada com a beleza e

    a imponncia do lugar. A mata exuberante, intermi-

    nvel, o frescor da Cascatinha e as inmeras possibi-

    lidades de caminhadas nas trilhas. Tudo era puro en-

    cantamento! E dessa poca at os dias de hoje nada

    mudou, sinto a mesma empolgao. Como professo-

    ra de Cincias da Educao Bsica por 16 anos, estive

    no parque inmeras vezes, acompanhada dos meus

    alunos, vivenciando experincias inesquecveis e dan-

    do aulas sem a formalidade da sala de aula. E sempre

    foi proveitoso, positivo, empolgante. Lazer e aula no

    mesmo espao. Assim, segui visitando a Floresta com

    meus alunos e com meu filho Bernardo, conhecendo

    novos recantos e almejando sempre prxima visita.

    Recentemente, atuando como professora da

    UERJ, tenho levado periodicamente meus alunos da

    graduao e da ps-graduao (futuros professores

    e professores em exerccio) ao Parque e me espanto

    quando muitos afirmam nunca ter estado ali. Nesse

    sentido, visando o estmulo visitao ao Parque com

    grupos escolares e com a inteno de atender a uma

    demanda dos professores que visitam o Parque sem

    um roteiro de visitao, coordenei uma equipe multi-

    disciplinar no projeto que gerou esse livro.

    Propomos um livro que sirva como um mate-

    rial de apoio para a utilizao do Parque como um es-

    pao no formal de ensino e, cientes de que as possi-

    bilidades de roteiros no Parque so infinitas, focamos

    numa trilha de fcil acesso no setor mais visitado, a Tri-

    lha dos Estudantes. O roteiro destaca pontos que po-

    dem ser observados e abordados pelos professores de

    acordo com a faixa etria dos alunos e com os con-

    tedos curriculares das disciplinas de Cincias, Biolo-

    gia, Geografia, Histria e Artes na Educao Bsica.

    Nele podem ser consultadas as transcries de textos

    das placas presentes na trilha e dos textos dos pai-

    nis encontrados na exposio do Centro de Visitan-

    tes, alm de imagens, tempo estimado para que ca-

    da trecho seja percorrido, sugestes de temas a serem

    abordados e de atividades que podem ser realizadas

    em sala de aula. O material inclui tambm um guia

    ilustrado sobre o percurso (arquivo em formato power

    point), alm de um panfleto com orientaes impor-

    tantes, para a distribuio entre os alunos.

    Esperamos que o roteiro proposto possibilite

    um suporte ao professor fora da sala de aula, incenti-

    ve novas visitas ao Parque e que as propostas com ca-

    rter multidisciplinar, aqui oferecidas, contribuam pa-

    ra a formao dos alunos, incentivando-os a serem

    cidados com senso crtico do ponto de vista socio-

    ambiental, questionadores e conscientes de seu papel

    na sociedade.

    Andra Espinola de Siqueira

    Departamento de Ensino de Cincias e Biologia

    Instituto de Biologia - UERJ

    FOTO

    TH

    IAG

    O H

    AU

    SSIG

  • 10 11

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    UM CONVITE VISITAO AO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    Unidades de Conservao como o Parque

    Nacional da Tijuca (PARNA Tijuca) representam um

    importante patrimnio natural e cultural que, para

    serem mantidos, demandam muito trabalho de equi-

    pes especializadas. O PARNA Tijuca conta com uma

    10 anos de atividades e mais de 35 mil horas de tra-

    balho voluntrio. um exemplo de mobilizao, on-

    de a sociedade d a sua contribuio e ajuda a man-

    ter o bem pblico, ao mesmo tempo em que pratica a

    sua cidadania. Destaca-se, nas aes do voluntariado,

    o combate viso distorcida da atualidade que con-

    sidera o bem pblico como sem dono, ao invs de

    compreender que o bem pblico de todos e que to-

    dos devem cuidar para a sua conservao.

    Nesse intuito, para elaborar o Guia de Cam-

    po do Parque Nacional da Tijuca, uma equipe dedica-

    da e heterognea foi reunida para proporcionar aos

    professores, um roteiro que pudesse fundamentar a

    abordagem dos variados assuntos que podem ser re-

    lacionados Floresta, durante a sua visita ao Parque,

    assim como estimular nos alunos a participao em

    aes voluntrias como exerccio de cidadania. Acre-

    dito que se deve entrar na Floresta como quem fo-

    lheia as pginas de um livro. Os assuntos so muitos,

    mas as possibilidades, infi nitas... Ao adentrarmos na

    Floresta, um mundo todo se abre, os alunos podem

    ver e sentir de forma prtica e ldica temas que, se

    abordados em sala de aula poderiam ser considerados

    desinteressantes ou at mesmo montonos. Estamos

    num local rico e cheio de histrias para contar, atra-

    vs de seus monumentos, suas runas e sua exuberan-

    te mata, resultados de um processo que levou anos

    para se consolidar, partindo de uma iniciativa pioneira

    e visionria do Imperador D. Pedro II.

    E o que podemos aprender com a nature-

    za? Muita coisa, eu garanto! De Cincias, Biologia,

    Geografi a, Histria, Artes e at mesmo Matemti-

    ca. Ver em cada planta, animal ou mesmo numa ro-

    cha algo que se possa explorar didaticamente algo

    novo e com enormes possibilidades, principalmente

    num mundo cada vez mais virtual, onde a realidade

    se distancia da natureza. Competir com jogos e re-

    des sociais se torna uma difcil tarefa para pais e edu-

    cadores e esta visita Floresta se torna uma podero-

    sa ferramenta para resgatar este caminho, trazendo

    os estudantes a uma nova perspectiva de incluso do

    ser humano na natureza. Mesmo assim, inmeras ve-

    zes observo adentrarem na fl oresta, grupos de alu-

    nos que chegam sem preparao alguma, excitados,

    claro, afi nal s o fato de sarem da sala de aula j

    motivo para tal. Destaco que a sensibilizao se tor-

    na necessria para que os alunos desfrutem de todo o

    potencial que a fl oresta oferece. O melhor que se pode

    aprender o respeito pela natureza, pois dela depen-

    demos para a nossa prpria sobrevivncia. A vida alm

    das paredes, ao experimentar a caminhada na Flores-

    ta, algo que se leva para toda a vida! O convite est

    feito, vamos sair das salas de aula para sentir a vida em

    toda a sua plenitude e detalhes, ver as folhas das rvo-

    res caindo, sentir o vento no rosto, perceber a umidade

    e a temperatura amena ao passar por um rio que cor-

    re em nossas montanhas, produzindo um som que, so-

    mado ao canto dos pssaros, nos deixa encantados...

    Boa caminhada!

    Lucio Meirelles Palma

    Coordenador da Monitoria Ambiental e do

    Voluntariado no Parque Nacional da Tijuca

    ICMBio

    equipe de monitores ambientais, formada ao longo

    de anos de trabalho, que se dedica tambm a organi-

    zar o trabalho voluntrio dentro do parque. Este tra-

    balho considerado um modelo para muitos outros

    parques nacionais, pois o voluntariado j completou

    Entrada principal do Parque no Alto da Boa Vista.

    FOTO

    OC

    TV

    IO A

    UG

    UST

    O

  • 12 13

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    O Parque Nacional da Tijuca

    O Parque Nacional da Tijuca (PARNA Tiju-

    ca), com cerca de 3.953 hectares de rea, uma

    floresta secundria em estado avanado de regene-

    rao, representando um dos pequenos fragmen-

    tos ainda existentes de Mata Atlntica, no corao

    da cidade do Rio de Janeiro. A presena de alguns

    marcos e smbolos nacionais tm feito do Parque

    Nacional da Tijuca um ponto turstico, com atra-

    es como o Cristo Redentor e o Parque Lage. Da-

    dos atuais indicam que o parque recebe anualmen-

    te quase dois milhes de pessoas, entre turistas,

    moradores da cidade do Rio de Janeiro, praticantes

    de esportes e excursionistas. A localizao do PAR-

    NA Tijuca possibilita o fcil acesso a partir de vrios

    pontos da cidade do Rio de Janeiro, proporcionan-

    do aos cariocas e turistas o contato com a natureza

    em questo de minutos.

    O parque, conhecido popularmente como

    Floresta da Tijuca, apresenta grande biodiversidade

    de fauna e flora, alm da importncia histrica e cul-

    tural para a cidade, com grutas, rios e crregos, alm

    de destaques arquitetnicos como mirantes, pontes,

    praas, esculturas, runas de antigas propriedades,

    que destacam a histria da cidade e a prpria Cape-

    INTRODUO

    Mapa da distribuio dos setores do Parque Nacional da Tijuca no Rio de Janeiro: Setor A Floresta da Tijuca; Setor B Serra da Carioca; Setor C Pedra da Gvea / Pedra Bonita, Setor D Pretos Forros / Covanca.

    SITE

    HTT

    P://W

    WW

    .CO

    RCO

    VAD

    O.O

    RG.B

    R

    Atualmente o Parque Nacional da Tijuca dividido em 4 setores Setor Floresta da Tijuca:

    composto pela Floresta da Tijuca, Andara e Trs Rios, com uma rea de 14,72 km. Destaca-se como uma

    rea mais visitada pela populao da cidade, com atraes como o Pico da Tijuca e a Cascatinha Taunay. Se-

    tor Serra da Carioca: composto pelas Paineiras, Silvestre, Sumar, Floresta dos Trapicheiros, Corcovado e

    Parque Lage perfazendo uma rea de 17,28 km. Possui, entre outras atraes, a Vista Chinesa, a Mesa do

    Imperador e o Cristo Redentor, smbolo maior da cidade do Rio de Janeiro. Setor Pedra da Gvea / Pedra

    Bonita: composto pela Pedra da Gvea e Pedra Bonita, formando uma rea de 2,57 km. o setor com ca-

    ractersticas geomorfolgicas mais impressionantes, atraindo montanhistas e excursionistas, com destaque

    para a Pedra da Gvea (maior monlito beira mar do mundo) e uma rampa de voo livre na Pedra Bonita.

    Setor Pretos Forros / Covanca: composto pela Covanca e os Pretos Forros, numa rea de 4,78 km. Apre-

    senta vrios estgios de regenerao, incluindo algumas reas de vegetao natural.

    la Mayrink. A preservao do parque tambm de

    extrema importncia para a cidade do Rio de Janei-

    ro, pois a existncia dessa grande rea verde colabora

    para o regime de chuvas, para o equilbrio da tempe-

    ratura e garante tambm a reserva de gua para par-

    te da cidade, protegendo os mananciais responsveis

    por ela, alm de proteger o solo da eroso e do asso-

    reamento dos rios.

  • 14 15

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    SINALIzAO DAS TRILHAS DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    O conceito de trilhas sinalizadas nas reas

    pertencentes ao Macio da Tijuca muito mais an-

    tigo do que se pensa. De acordo com registros hist-

    ricos, em pleno sculo XIX, a trilha do Pico da Tijuca

    (ponto culminante do Parque com 1.021m de alti-

    tude) j apresentava sinalizao para os excursionis-

    tas. Essa sinalizao foi feita aps solicitao do Baro

    dEscragnolle, ento administrador da Floresta, mui-

    to antes da criao do Parque Nacional Tijuca, que

    ocorreu em 1961, inicialmente com o nome de Par-

    que Nacional do Rio de Janeiro. Um dos principais ob-

    jetivos de um Parque Nacional oferecer lazer para

    os visitantes e a sinalizao fundamental nesse sen-

    tido, tornando a atividade mais informativa e segu-

    ra. No PARNA Tijuca, os visitantes podero encontrar

    dois tipos de sinalizao: a direcional e a interpretati-

    va, conforme previsto no Plano de Manejo, que defi -

    ne as reas destinadas ao uso pblico e o nvel de in-

    tervenes que podero ser feitas, caracterizando o

    Brasil, mas em todo o mundo. Esse padro conside-

    rado bastante efi ciente, pois alm do baixo custo de

    implementao e reposio (necessria em funo do

    vandalismo praticado por determinadas pessoas que

    levam as placas de sinalizao para casa como souve-

    nir), o modelo se integra bem ao ambiente, poluindo

    minimamente a paisagem, em termos visuais, alm

    de prezar pela segurana dos visitantes. Essa sinali-

    zao mantida pela equipe da Monitoria Ambiental

    do parque, pela Brigada de Incndio e pelos membros

    do Voluntariado, que frequentam as trilhas do Parque

    constantemente, averiguando possveis falhas.

    Ao todo, a malha atual de trilhas sinalizadas

    do PARNA Tijuca de aproximadamente oitenta qui-

    lmetros e, com a concluso da Trilha Transcarioca,

    prevista para a Copa do Mundo de 2014, esse nme-

    zoneamento desta Unidade de Conservao.

    A sinalizao direcional, como o prprio no-

    me sugere, tem como objetivo indicar aos visitantes o

    caminho a ser percorrido, evitando no s que se per-

    cam, mas tambm que utilizem reas frgeis ou ata-

    lhos o que pode acelerar processos erosivos. O ndice

    de pessoas perdidas no Parque atualmente pratica-

    mente nulo, graas boa sinalizao que vem sendo

    estabelecida e mantida no decorrer dos ltimos anos.

    A sinalizao interpretativa tem como objetivo identi-

    fi car e passar informaes sobre aspectos ambientais

    e histrico-culturais do lugar, sendo fundamental pa-

    ra o trabalho de educao ambiental do parque, le-

    vando o visitante a refl etir sobre o presente, sem ex-

    cluir a histria pretrita do Parque e valorizando a sua

    preservao para as futuras geraes.

    Nos dias de hoje, o Parque conta com o pa-

    dro rstico de sinalizao, bastante utilizado tam-

    bm em diversas Unidades de Conservao no s do

    Exemplos de placa de sinalizao direcional.

    FOTO

    S TH

    IAG

    O H

    AU

    SSIG

    E O

    CT

    VIO

    AU

    GU

    STO

  • 16

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    17

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    ro passar a ser ainda maior, contribuindo com a qua-

    lidade de vida da populao, que ganhar mais uma

    opo de lazer, alm do fator da disperso do fl uxo

    de visitantes em determinadas trilhas, que muitas ve-

    zes fi cam sobrecarregadas. A Trilha dos Estudantes,

    que liga o porto de entrada do Parque ao Centro de

    Visitantes, uma das mais populares do Parque, em

    funo do fcil acesso e traado suave, que respeita

    as curvas de nvel do relevo. Durante o percurso os visi-

    tantes podero observar a sinalizao direcional e a si-

    nalizao interpretativa, que destaca a importncia da

    fl oresta para a cidade, identifi cando tambm diversas

    rvores nativas da Mata Atlntica existentes no Parque.

    Outras duas trilhas totalmente sinalizadas

    que gradativamente vem ganhando popularidade

    no setor Floresta da Tijuca so as duas trilhas cir-

    culares: a Interna Castro Maya, tambm conheci-

    da como Circuito Histrico, que percorre os fundos

    dos vales, atravessando no s runas e caminhos

    coloniais, mas tambm inmeras cachoeiras e gru-

    tas, sempre acompanhando setas vermelhas pinta-

    das nas rvores, enquanto a trilha Circular Externa

    Major Archer, tambm chamada de Circuito dos Pi-

    cos, que percorre principalmente os cumes e diviso-

    res de gua desse setor, acompanhando as setas de

    cor amarela.

    Exemplo de placa de sinalizao interpretativa.

    FOTO

    S O

    CT

    VIO

    AU

    GU

    STO

  • 18 19

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    PREPARAO PARA AVISITA AO PARQUE

    I - Trabalhando com mapas

    Antes de apresentar o mapa da Trilha dos Es-

    tudantes aos alunos, importante contextualizar toda a

    rea correspondente ao Parque Nacional da Tijuca, sob o

    ponto de vista cartogrfico, a partir das diversas escalas

    de representao grfica do territrio. Os mapas deste

    captulo podem ser empregados pelo professor de acor-

    do com a necessidade do alunado envolvido no projeto.

    A imagem a seguir uma fotomontagem que

    apresenta todo o sitio urbano do Rio de Janeiro, nos

    quais podem ser bem visualizados os macios e plancies

    da cidade, assim como os adensamentos populacionais.

    A abordagem locacional tambm muito im-

    portante, especialmente para os alunos dos anos ini-

    ciais do ensino fundamental, a fim de ampliar seu vn-

    culo com o espao que os cerca. A planta da cidade

    Propostas de atividades preparatrias

    Assim como em qualquer outro local de au-

    la externa, importante que o professor responsvel

    pelo grupo de alunos conhea o Parque antecipada-

    mente ou pelo menos o trajeto em que pretende le-

    var os alunos. Sugere-se que o professor, antes da da-

    ta prevista para a visita ao Parque, comece a preparar

    os alunos, abordando os contedos relacionados e in-

    formando turma como eles devem se comportar du-

    rante a permanncia na Floresta da Tijuca. Para isso

    o professor pode solicitar no Centro de Visitantes, em

    umas de suas visitas prvias ao Parque, folhetos infor-

    mativos sobre o que permitido e o que no permi-

    tido dentro do Parque.

    importante que a turma j tenha visto al-

    guns dos temas das disciplinas que podero ser tra-

    balhados pelo professor durante a visita ao Parque.

    Acredita-se que, desta forma, os alunos chegaro ao

    Parque com uma viso geral de alguns dos assuntos

    e o professor poder trabalhar para que eles relacio-

    com os bairros importante para que o aluno perce-

    ba o quanto o seu local de moradia est interligado

    com outras partes importantes da cidade, em parti-

    cular, com o PARNA Tijuca. interessante fazer uma

    comparao entre os diferentes mapas apresentados

    at aqui a fim de que o aluno possa localizar tanto o

    parque, quanto a sua residncia e a sua escola. Se a

    escola possuir computadores com acesso internet

    torna-se mais estimulante ao aluno buscar essas mes-

    mas imagens no Google Maps ou no Google Earth.

    Outra opo de abordagem grfica do Maci-

    o da Tijuca a observao de perfis morfolgicos co-

    mo a sequncia de imagens apresentada no Atlas Es-

    colar da Cidade do Rio de Janeiro (2000), onde uma

    das imagens corresponde s elevaes percorridas

    por uma pessoa at a entrada da PARNA Tijuca, jun-

    to Trilha dos Estudantes (Vistas morfolgicas do mu-

    Mapa da localizao do Macio da Tijuca no Brasil. Mapa da vista de satlite do municpio do Rio de Janeiro.

    FON

    TE: A

    TLA

    S ES

    CO

    LAR

    DA

    CID

    AD

    E D

    O R

    IO D

    E JA

    NEI

    RO (2

    000)

    .

    nem o que foi abordado em sala de aula com o que

    esto vendo no Parque. interessante que durante

    essas abordagens o professor no d muitos exem-

    plos j relacionados ao Parque, possibilitando que os

    alunos possam fazer suas prprias observaes e tirar

    concluses com a visita.

  • 20 21

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    nicpio do Rio de Janeiro, pgina 18, disponvel em:

    http://portalgeo.rio.rj.gov.br/armazenzinho/web/ima-

    gens/08_AtlasEscolar_2000.pdf). Posteriormente, as

    vistas morfolgicas ou perfis de relevo da cidade que

    podem ser associados ao mapa hipsomtrico e o pro-

    fessor pode solicitar que o aluno compare as duas tc-

    nicas de representao da paisagem carioca, obtendo

    duas perspectivas da paisagem.

    II - A caracterizao do stio urbano carioca

    Os mapas do Atlas da Cidade do Rio de Janei-

    ro fornecem timos subsdios para mostrar aos alunos

    a topografia da cidade, bastante acidentada prxima

    aos macios. importante salientar como era a paisa-

    gem natural da rea correspondente ao municpio do

    Rio antes da chegada dos portugueses. Destaca-se a

    importncia em se trabalhar a ideia de morro sob o

    ponto de vista geomorfolgico e antropolgico, com

    uma ocupao desordenada pela malha urbana tanto

    das plancies ou de terras conquistadas ao mar ou aos

    antigos mangues, quanto das encostas dos morros. O

    debate sobre a questo dos morros no pode ser tra-

    balhado de forma simplista ou discriminatria, pois

    sabido que a urbanizao formal tambm gera degra-

    dao florestal, inclusive em maior extenso do que

    a informal, embora envolvendo reas de menor den-

    sidade populacional. Os antecedentes histricos que

    explicam essas formas de ocupao podem ser traba-

    lhados em diversas disciplinas e no apenas no mbi-

    to das aulas de Geografia.

    Os alunos podem pesquisar na internet qua-

    dros que exibem a evoluo da Praa XV ao longo

    do tempo. A vizinhana deve ser o tema principal da

    pesquisa com os alunos, especialmente dos alunos do

    primeiro segmento do ensino fundamental at o 6

    ano. Com alunos de ensino mdio possvel ampliar a

    pesquisa sobre as diversas formas de ocupao do es-

    pao urbano nas metrpoles brasileiras ou de outras

    partes do mundo.

    III - A visualizao do percurso

    importante mostrar aos alunos, ao longo

    do percurso da escola at o PARNA Tijuca, as vrias

    intervenes feitas pelo homem na paisagem cario-

    ca, especialmente nas encostas e nas proximidades do

    Parque Nacional. O desmatamento e a no reposio

    das rvores favorecem o estabelecimento de gramne-

    as, como o capim-colonio, originrio da frica e que

    se expandiu de forma descontrolada na regio Sudes-

    te do Brasil.

    Mapa dos bairros do municpio do Rio de Janeiro.

    FON

    TE: M

    OD

    IFIC

    AD

    O D

    E SE

    CRE

    TARI

    A M

    UN

    ICIP

    AL

    DE

    URB

    AN

    ISM

    O-R

    J

    FON

    TE: M

    OD

    IFIC

    AD

    O D

    E BA

    SEG

    EO W

    EB, A

    RMA

    zEM

    DE

    DA

    DO

    S PR

    EFEI

    TURA

    DO

    RIO

    DE

    JAN

    EIRO

    E IB

    GE

    Mapa da hipsometria do municpio do Rio de Janeiro.

  • 22 23

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    As placas ao longo da trilha demonstram a importncia dos servios ambientais que a fl oresta presta cidade, tais como re-gulao do equilbrio hdrico, conservao da qualidade do solo e do ar, preveno contra eroso, conteno de encostas e regulao do clima em escala local. Caminhe somente na trilha, colabore com a limpeza do Parque, respeite os animais e as plantas e aproveite para sentir a natureza. (Placa 01)

    ROTEIRO

    PLACA 01Trilha dos Estudantes

    Uma das primeiras sensaes que experimen-

    tamos ao entrar na Floresta da Tijuca o impacto vi-

    sual causado pela belssima paisagem, com destaque

    para a vegetao, a qual mostra uma exuberncia de

    espcies, com folhas de diversos tamanhos e formas,

    que se integram e harmonizam, fornecendo abrigo

    e alimento para vrias espcies de animais que ali vi-

    vem. Sentimos, tambm, o ar fresco, o qual, por ve-

    zes, acompanhado pela fragrncia de algumas fl o-

    FOTO

    OC

    TV

    IO A

    UG

    UST

    O

    TRILHA DOS ESTUDANTES

    Trilha Interpretativa AutoguiadaCaminhada Livre:

    Diariamente de 08:00H s 16:00HPercurso Total: 1.280M

    Percurso na Trilha: 876MTempo Mdio: 35Min

    Baixo Nvel de Difi culdade

    PRINCIPAIS ATRATIVOS:Cascatinha Taunay

    rvores da Mata AtlnticaBancos do Sculo XIX

    Rio TijucaCapela Mayrink

    Centro de Visitantes

    Trilha dosEstudantes 00:20

    Incio do primeirotrecho do percursoproposto (Caminhoda Cascatinha)

    Placa P 01

    res, folhas ou frutos. O colorido das fl oraes atrai os

    nossos olhares, alm de diversos visitantes, sendo que

    alguns funcionam como polinizadores, como diver-

    sas espcies de borboletas, abelhas, beija-fl ores, entre

    outros, os quais levam os gros de plen de uma fl or

    para outra, permitindo a reproduo dessas plantas.

    As plantas tm diferentes portes, de acor-

    do com a espcie a que pertencem, variando de pe-

    quenas e delicadas ervas, a arbustos mais ou menos

    desenvolvidos, chegando a rvores com diferentes

    alturas. Todo esse conjunto, juntamente com os ma-

    nanciais de gua, so os responsveis pelas tempe-

    raturas amenas do ambiente fl orestal. Alm de ab-

    sorverem grande parte da radiao solar, as plantas

    contribuem para a umidade do ar, atravs do proces-

    so de transpirao foliar. Elas realizam, ainda, outro

    processo, nico no mundo e fundamental para a ma-

    nuteno da vida no planeta, que a fotossntese. As

    plantas conseguem absorver a energia luminosa, cuja

    fonte o sol, por meio de minsculas organelas ver-

    des contidas nas clulas que compem suas folhas,

    os cloroplastos, os quais so ricos em clorofi la, um

    pigmento verde, responsvel pela cor predominante

    da folhagem. O interior dos cloroplastos o local on-

    de ocorre esse fenmeno maravilhoso da fotossnte-

    se. Esta palavra, fotossntese, resulta da associao de

    duas outras: foto, que signifi ca luz e sntese que

    quer dizer fuso, composio. Neste processo fi -

    siolgico, os cloroplastos absorvem luz e gs carbni-

    co, este ltimo, presente na atmosfera, o qual entra

    nas folhas atravs de minsculos poros existentes em

    sua superfcie, denominados estmatos. Vrias rea-

  • 24 25

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    es qumicas ocorrem dentro dos cloroplastos, onde

    o gs carbnico combina-se com molculas de gua,

    originando glicose, que fi ca armazenada dentro da

    planta, enquanto o oxignio, tambm produzido na

    fotossntese, lanado para a atmosfera, atravs dos

    estmatos, tornando o ar da fl oresta muito saudvel.

    A glicose um acar essencial para a sobrevivncia

    dos seres vivos. Ela fornece energia para as prprias

    plantas que a produzem e, tambm, para todos os

    outros seres que utilizam os vegetais como alimento.

    Alm de ser fonte de energia, a glicose bsica pa-

    ra a formao de muitas outras substncias essenciais

    para os seres vivos.

    Algumas espcies vegetais de pequeno por-

    te, para realizar a fotossntese de maneira efi cien-

    te, precisam se estabelecer sobre troncos de rvores,

    alcanando, assim, a altura necessria para receber

    a luz na quantidade que necessitam. Estas espcies

    so conhecidas como epfi tas. Outras espcies per-

    manecem prximas ao solo, sombreadas por plantas

    mais altas, apresentando, entretanto, adaptaes

    que permitem a sua sobrevivncia nessas condies.

    Todo o conjunto formado pelo solo, rochas, vege-

    tais e animais, interage em busca de um equilbrio,

    o qual permite a coexistncia de grande diversidade

    de espcies.

    Observando atentamente as plantas, verifi ca-

    mos que, praticamente todas as folhas independen-

    temente do seu tamanho ou formato so verdes e la-

    minares, isto , so rgos com pequena espessura,

    porm com uma rea relativamente ampla, resultan-

    te de sua largura e comprimento. Esse tipo de orga-

    nizao o que mais favorece a absoro luminosa.

    No seria vantajoso se as folhas tivessem todo o equi-

    pamento necessrio para realizar a fotossntese, mas

    apresentassem um grande volume e pouca rea ex-

    posta luz.

    Observando a superfcie das folhas, vamos

    constatar que algumas so opacas, isto , sem brilho

    e outras refl etem parte da luz que as atinge, mostran-

    Para visualizar as clulas e os cloroplastos em seu

    interior, necessrio utilizar um microscpio, com

    o qual se examinam preparaes histolgicas, po-

    dendo-se ampliar a imagem das estruturas, 100,

    400 ou 1000 vezes em relao ao seu tamanho

    real, de acordo com o tipo de lente selecionada,

    revelando, assim, um mundo novo, maravilhoso e

    inimaginvel.

    epidrmico, denominado cutcula, uma grande quan-

    tidade de cutina e de cera, que so substncias que

    impermeabilizam as folhas, fazendo com que a gua

    da chuva escorra facilmente por elas, mantendo-as

    mais secas e, por isso, menos apropriadas para o esta-

    belecimento de outros seres vivos sobre elas.

    Plantas que podemos encontrar

    na Floresta da Tijuca

    Voc sabia que as diversas plantas podem

    ser agrupadas em famlias, isto , um amplo conjun-

    to que abrange espcies diferentes, porm com cer-

    to grau de parentesco devido s caractersticas seme-

    lhantes que apresentam? Caminhando pelas trilhas

    da Floresta da Tijuca podemos reconhecer algumas

    famlias de angiospermas, plantas que produzem fl o-

    res e frutos, de acordo com as caractersticas apresen-

    tadas a seguir:

    Famlias e caractersticas

    Araceae - ervas, muitas delas epfi tas, com folhas

    alternas e espiraladas. Infl orescncia do tipo espdi-

    do-se brilhantes. As folhas do primeiro tipo so par-

    cialmente permeveis gua o que favorece o esta-

    belecimento em sua superfcie de diversos tipos de

    seres vivos como bactrias, algas, lquens, fungos e

    insetos. comum vermos folhas com reas mastiga-

    das ou apresentando vrias perfuraes, muitas ve-

    zes formando desenhos geomtricos, os quais resul-

    tam da herbivoria sofrida nos estgios bem juvenis da

    folha, quando esta ainda se encontrava enrolada ou

    dobrada. Ao se expandir, as perfuraes aparecem de

    forma simtrica nas duas metades das folhas.

    As folhas com a superfcie mais brilhosa so

    muito menos atacadas, pois tm no seu revestimento

    Exemplos de algumas formas foliares.

    Efeito geomtrico causado por herbivoria nas folhas an-tes de sua expanso.

    Herbivoria: predao sofrida pelas plantas,

    causada por animais, principalmente por insetos

    que so os maiores consumidores de vegetais em

    reas de fl orestas.

  • 26 27

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    ce, como os antrios. Plantas como a jiboia, comigo-

    -ningum-pode, copo-de-leite, lrio-da-paz e costela-

    -de-Ado, so exemplos dessa famlia.

    Arecaceae - tambm conhecida como Palmae

    a famlia das palmeiras. So plantas altas, com cau-

    le do tipo estipe, ou seja, sem ramifi caes, lenhoso,

    com as folhas dispostas no seu pice, muito desen-

    volvidas e vistosas, profundamente pinatipartidas, isto

    , profundamente recortadas, parecendo folhas com-

    postas. Entre as palmeiras, o palmiteiro tem grande

    valor econmico, alm dos coqueiros, com seus deli-

    ciosos frutos.

    Balsaminaceae ervas cultivadas, sendo comum

    a espcie conhecida como maria sem vergonha ou

    beijo, muito ornamental, com fl ores de diversos

    matizes ocorrendo, subespontaneamente, em reas

    fl orestais.

    Bromeliaceae muito frequentes como epfi tas,

    com folhas alongadas, coriceas, organizadas em

    roseta, formando um reservatrio onde se acumula

    gua da chuva em sua base. O abacaxi pertence a

    esta famlia, alm de numerosas espcies de gran-

    de valor ornamental. So tpicas da mata atlntica e,

    em muitos casos, encontradas exclusivamente nes-

    se bioma.

    Fabaceae tambm conhecida como Legumino-

    sae. So ervas, arbustos ou rvores, com folhas alter-

    nas, compostas, com estpulas. A mimosa e o feijoei-

    ro so exemplos dessa famlia.

    Hypoxidaceae ervas com folhas longas, parale-

    linrveas e plicadas (parecendo pregueadas ao longo

    de seu comprimento). Exemplo: curculigo.

    Malvaceae plantas com folhas palminrvias, is-

    to , que lembram a palma de uma mo, com fl ores

    grandes e vistosas. Fazem parte desta famlia, o Hibis-

    cus (mimo-de-Vnus) e o Malvaviscus (graxa-de-estu-

    dante).

    Marantaceae ervas com folhas de base assim-

    trica, com pulvino na base, o qual possibilita movi-

    mentos s folhas, e bainha. Exemplos dessa famlia in-

    cluem diversas plantas ornamentais e de importncia

    econmica, como a araruta, da qual se extrai um pol-

    vilho utilizado para fabricar biscoitos.

    Melastomataceae arbustos ou pequenas rvo-

    res com folhas curvinrveas, opostas e caules qua-

    drangulares. O exemplo tpico dessa famlia a qua-

    resmeira.

    Musaceae ervas robustas com folhas grandes,

    alongadas, frequentemente rasgadas pelo vento. In-

  • 28 29

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    fl orescncia vistosa. No Brasil, as bananeiras so to

    amplamente cultivadas que alguns chegam a pensar

    que elas so nativas. Seus frutos, de grande interesse

    comercial, so dos mais consumidos. Sua reproduo

    ocorre de forma vegetativa, atravs de seus rizomas.

    Myrtaceae rvores ou arbustos com tronco es-

    foliante. Folhas opostas, simples, com margem intei-

    ra, peninrveas e com nervura marginal coletora, po-

    dendo visualizar-se pontos translcidos, indicadores

    de cavidades secretoras de leos essenciais. Exemplos

    dessa famlia incluem a jabuticabeira, goiabeira, pi-

    tangueira, eucalipto, cravo-da-ndia, jambolo, gru-

    mixama, cabeludinha e guarirobeira.

    Piperaceae pequenos arbustos com folhas alter-

    nas, simples, com a base assimtrica, isto , com ta-

    manhos e contorno desiguais, frequentemente com

    estpulas. Infl orescncia em espiga. A pimenta do rei-

    no pertence a esta famlia.

    Poaceae tambm conhecida como Gramineae.

    So ervas com caule cilndrico e folhas alternas dsti-

    cas, paralelinrveas, com bainha aberta e lgula entre

    a bainha e o limbo. Diversos tipos de capins, bambus,

    o arroz, o trigo, o milho e a cana de acar fazem par-

    te desta famlia.

    Rubiaceae ervas, arbustos ou rvores, com fo-

    lhas simples, geralmente opostas, com estpulas. Re-

    presentantes dessa famlia so o caf, o jenipapo e o

    pau-mulato.

    Alm das angiospermas, as pteridfi tas e as

    brifi tas tambm compem a vegetao da fl ores-

    ta. Observando-se a vegetao dos barrancos mui-

    to provvel que vejamos alguns representantes desses

    dois grandes grupos vegetais. Os samambaiaus so

    exemplos de pteridfi tas arborescentes, destacando-

    -se quanto ao seu porte, dos demais representantes

    do grupo, geralmente de porte herbceo. As samam-

    baias e avencas so relativamente frequentes na fl o-

    resta.

    As brifi tas, representadas pelos musgos, he-

    pticas e antceros podem ser visualizadas recobrin-

    do rochas, barrancos, troncos, alm de formarem ex-

    tensos tapetes sobre solos midos.

    Samambaiau no centro da foto.

  • 30 31

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    NOTA PARA O PROFESSOR: importante mostrar ao aluno como o processo de retirada de vegeta-

    o nativa que ocorre no mundo todo, resultado do crescimento das atividades produtivas e econmicas

    e, principalmente, pelo aumento da densidade demogrfi ca em escala mundial, colocam em risco as regi-

    es compostas por fl orestas. Atualmente a destruio ocorre em um ritmo acelerado, causando uma cres-

    cente diminuio das reas naturais do planeta, principalmente pela produo agrcola e pastoril, o cres-

    cimento urbano, a minerao e o extrativismo vegetal e mineral. Muitas so as consequncias da retirada

    da cobertura vegetal e exposio do solo ao impacto das chuvas, como: o aumento do processo erosivo;

    o assoreamento de rios e lagos; a extino de nascentes; a diminuio dos ndices pluviomtricos; a eleva-

    o das temperaturas locais e regionais; o agravamento dos processos de deserti-

    fi cao; a perda de biodiversidade; a reduo das atividades extrativistas vegetais;

    proliferao de pragas e doenas. Quanto ao reconhecimento da identidade das

    plantas, vale lembrar que algumas espcies, pertencentes a uma mesma famlia,

    podem apresentar aspectos bem diversifi cados, pertencendo, porm, ao mesmo

    grupo taxonmico, pelo conjunto de caractersticas anatmicas, fi siolgicas, evo-

    lutivas e moleculares, que comprovam o parentesco entre elas.

    Relato e proposta de atividades para

    a Educao Infantil e Ensino Fundamental

    (1 segmento)

    Por Mrcia Nunes Rodrigues Meninato

    A Trilha dos Estudantes por ser considerada

    com nvel baixo de difi culdade, pode ser realizada por

    estudantes de pouca idade. Por experincia prpria, a

    partir dos quatro anos de idade, esta trilha j desper-

    ta grande interesse nos pequenos. Alm do clima de

    aventura, por estarmos no meio do mato, o tema

    fl oresta por si s j remete aos contos de fada farta-

    mente oferecidos s crianas desde bem pequenas.

    Em ocasio de uma aula passeio com alunos de seis

    anos, aps muitos preparos at chegarmos Flores-

    ta da Tijuca, uma aluna disse a inesquecvel frase: _

    Esta fl oresta falsssima!!!. Ao ser questionada so-

    bre tal afi rmativa ela colocou: Onde j se viu fl oresta

    com ruas e carros???? E foi a que se lanou o desa-

    fi o de comprovar que a Floresta da Tijuca era verdadei-

    rssima. Fomos pesquisar ento, do que se faz uma fl o-

    resta, e escolhemos a Trilha dos Estudantes como um

    trecho em que possvel observar de perto as ques-

    tes abordadas durante nossos estudos. Neste dia ob-

    servamos e tentamos registrar tudo o que pudemos

    com nossos olhos inexperientes, tiramos fotos, impres-

    ses de folhas cadas (usando uma folha de papel so-

    bre elas e pressionando giz de cera deitado). Vimos

    razes de rvores em alguns trechos, onde havia ocor-

    rido pequenos deslizamentos de terra, deixando-as ex-

    postas. Lemos as placas, fi zemos silncio (na medida

    do possvel) para ouvir os rudos da fl oresta. Procura-

    mos insetos camufl ados (bicho pau, bicho folha). Vi-

    mos teias de aranha, uma borboleta rompendo o ca-

    sulo e por fi m na hora do piquenique ao fi nal da trilha,

    uma famlia inteira de quatis. Claro que antes j hav-

    amos orientado os alunos no sentido de no alimen-

    tar os animais. Claro tambm, que um dos alunos no

    resistiu e jogou um biscoitinho para ver o que aconte-

    cia e acabamos ilhados por eles. Tivemos que levantar

    acampamento em tempo recorde e ir lanchar em ou-

    tro lugar.

    Na volta para a escola, demos continuidade

    aos trabalhos com o projeto que se iniciara com os li-

    vros: O Parque seu. Como conhecer, usar e cuidar

    do Parque Nacional da Tijuca, criado pelo CECIP (Cen-

    tro de Criao de Imagem Popular) e Trilhas do Parque

    Nacional da Tijuca, organizado pelo Instituto Terra Bra-

    sil e apresentados aos alunos antes de nossa aula-pas-

    seio. Depois da observao em campo (a visita Trilha

    dos Estudantes) voltamos ao nosso laboratrio (a es-

    cola), para pesquisar e aprofundar os nossos conheci-

    mentos. Comeamos por reunir todos os dados cole-

    tados pelos alunos. Montamos um bloco com as falas

    dos alunos, para depois produzirmos um texto coletivo

    com as informaes trazidas, um painel com as fotos ti-

    radas, outro com as impresses das folhas e a partir da,

    elencamos o nosso alfabetrio. Dele, escolhemos as pa-

    lavras chave e comeamos a pesquisar diferentes tipos

    de texto contendo informaes sobre elas.

    Exemplo de alfabetrio:

    A RVORE ADUBO AR GUA ABELHA |

    B BICHOS BORBOLETA BROMLIA | C CAS-

    CATINHA CLIMA | D DRACENA | E EROSO

    ENCOSTA ESTUDANTE ECOTURISMO | F FLO-

    RESTA FUNGOS FOLHAS FRUTOS FAUNA

    FLORA | G GONGOLO | H HMUS | I INSETOS

    | J JACA JAQUEIRA | L LIQUEN | M MOSQUI-

    TO MAPAS MUSGO MATA ATLNTICA | N

    NASCENTE | O ORVALHO | P PLANTAS PARQUE

    | Q QUATI | R RAZ RIO REFLORESTAMENTO

    ROCHA | S SERRAPILHEIRA SOMBRA SOLO

    SAMANBAIA | T TERRA TIJUCA TROPICAL

    TAUNAY TEIA TRILHA | U UMIDADE | V VE-

    GETAO | Z zOOLOGIA

    FOTO

    OC

    TV

    IO A

    UG

    UST

    O

  • 32 33

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    PLACA 02Caractersticas da Floresta da Tijuca

    A Floresta da Tijuca tem a caracterstica de no ser uma fl oresta primitiva, mas o resultado de um longo processo de regene-rao. No passado, grandes extenses da mata original foram devastadas para a explorao de madeira e pela cultura agrcola (de cana e de caf), o que provocou a reduo dos volumes de gua dos rios que abasteciam a cidade. O refl orestamento e a proteo da rea favorecem a recuperao da fl oresta. (P02)

    FOTO

    OC

    TV

    IO A

    UG

    UST

    O

    Quando se chega ao Parque Nacional da Tiju-

    ca e v-se toda a sua exuberncia, custa-nos acreditar

    que no sculo XIX ela estava devastada, em situao

    crtica, em razo dos maus tratos sofridos. A fl oresta

    original foi quase inteiramente destruda, ao longo do

    tempo, pela retirada da madeira para construo, le-

    nha e carvo e pelo avano das lavouras de cana de

    acar e do caf. No sculo XVII as plantaes de a-

    car foram as primeiras a devast-la e no XVIII e incio

    do XIX as de caf que, quando introduzido no Rio de

    Sugestes de material para as atividades:

    Msica da ABELHA e da ARANHA;

    Poema da RVORE;

    Texto cientfi co sobre LQUEN, BICHO PAU, BICHO FOLHA... ;

    Receita de repelente para MOSQUITO;

    Histrias em quadrinhos sobre nossas aventuras na Floresta;

    Contos de fadas envolvendo FLORESTAS (Joo e Maria, A Bela Adormecida, ...);

    Produo de um convite para uma caminhada na Trilha dos Estudantes;

    Produo de um bilhete para dizermos aonde fomos;

    Notcias de jornal sobre os temas estudados;

    Textos informativos sobre a Trilha dos Estudantes;

    Criao de novas placas informativas.

    NOTA PARA O PROFESSOR: Para as turmas de Educao Infantil, possvel a produo de textos co-

    letivos utilizando o bloco e o alfabetrio com as palavras estveis. J para as turmas de alfabetizao su-

    gerimos o uso dos recursos acima citados e uma ampliao da proposta para a formao e escrita das

    palavras estveis, o reconhecimento das mesmas em textos diversos, e at mesmo a tentativa de escri-

    ta espontnea, primeiramente de palavras, depois frases e por ltimo, pequenos

    textos. Nas sries seguintes, recomendvel a ampliao da profundidade das in-

    formaes, o trabalho com textos mais elaborados, a utilizao de mapas, a in-

    terpretao de grfi cos, a construo de maquetes, entre outros, sempre com o

    objetivo de aliment-los com informaes que despertem o interesse pela pesqui-

    sa e o fornecimento de dados a fi m de gerar refl exo e devoluo sobre o qu e

    como se aprende.

  • 34 35

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    Janeiro, na regio da Tijuca que encontra ambiente

    apropriado para o seu plantio: solo que no fosse seco

    nem encharcado, ideal para a rvore pequena do caf

    - uma rubicea - nativa da Etipia. H tambm o agra-

    vante de que, na poca, acreditava-se que o caf de-

    veria ser plantado em mata virgem, da tambm a

    Mata Atlntica ter sofrido este grande desmatamento.

    O caf demorava quatro anos para crescer e perma-

    necia produtivo durante 30 anos, quando se abando-

    navam as velhas plantaes para logo devastar novas

    reas de florestas nativas. O desprezo pelo solo era to-

    tal por parte dos cafeicultores.

    Diante deste quadro era de se esperar as con-

    sequncias alarmantes: mananciais hdricos afetados,

    fenmenos das enxurradas tornando-se frequentes

    com inundaes das partes baixas da cidade, e, ao

    mesmo tempo, secas severas. O assoreamento dos

    rios, causado pelo desmatamento da regio da Flo-

    resta, e o impacto repetitivo das precipitaes que as-

    solavam a cidade, tornavam a gua que abastecia a

    populao mais turva e no potvel. Para reverter tal

    situao a desapropriao de terras e replantio da Flo-

    resta da Tijuca teve carter emergencial para a vida da

    cidade do Rio de Janeiro.

    transformando a floresta em um belo parque para uso pblico com reas de lazer, fontes, chafarizes, belve-

    deres, trilhas e lagos artificiais, criados pelo naturalista e paisagista francs Auguste Glaziou. Deve-se ressal-

    tar que essa a poca dourada do paisagismo no mundo, quando acontece a remodelao do Bois de Bo-

    logne em Paris, de novos parques na Inglaterra e a criao do Central Park em Nova York. No final do sculo

    XIX surge o turismo como atividade econmica que se fortalecer no sculo XX. A valorizao da montanha

    como local salubre seria vital dentro desta nova perspectiva. Nos primeiros anos da Repblica, a Floresta fica

    praticamente esquecida, mas em 1920, para recepcionar o rei Alberto da Blgica, aficionado por montanhis-

    mo, a trilha para o Pico da Tijuca foi restaurada, degraus foram escavados na rocha e correntes de ferro fixa-

    das para servir de apoio. No final da dcada de 20 a prefeitura contrata Alfred Agache para elaborar o Plano

    Diretor da cidade e d-se a criao do Parque Nacional do Rio de Janeiro que teria como utilidade ser um re-

    servatrio eterno de ar, gua e vegetao. Em 1943 o Prefeito Henrique Dodsworth convoca Raymundo Ot-

    toni de Castro Maya para ser administrador da Floresta e recuper-la, j que as obras de jardinagem e paisa-

    gismo estavam em condies precrias. Em parceria com o arquiteto Wladimir Alves de Souza e o paisagista

    Roberto Burle Marx, o novo administrador introduz obras de arte e ergue novas edificaes e recantos na Flo-

    resta, incluindo restaurantes e sanitrios. Usa-se material oriundo dos casarios demolidos para a abertura da

    Av. Presidente Vargas nesta restaurao. A capela Mayrink, de 1860, praticamente feita de novo em 1943

    e recebe painis de Cndido Portinari. Na gesto Castro Maya, 19431946, o nmero de visitantes aumenta

    significativamente. Em 1961 criado o Parque Nacional da Tijuca, que em 1991 declarado como Reserva

    da Biosfera e, posteriormente em 2004, aps ampliaes, passa a abranger uma rea de 3.953 hectares.

    NOTA PARA O PROFESSOR: Os alunos podem ser questionados sobre qual seria a relao do desma-

    tamento da floresta com a reduo do volume de gua nos rios que atingiu essa regio no sculo XIX.

    importante reforar que isso ocorre porque a floresta protege os mananciais contra assoreamentos, ca-

    racterizados pela interrupo dos cursos dos rios por detritos que so levados pela chuva na ausncia da

    vegetao na adjacente. Alm disso, pode-se ressaltar que o estado atual de con-

    servao da rea do Parque Nacional da Tijuca reflete um conjunto de florestas

    replantadas, remanescentes e regeneradas. A combinao das espcies preserva-

    das, com a floresta que foi restaurada a partir de espcies vegetais predominan-

    temente originais e vrias outras espcies que foram introduzidas, resultou numa

    condio nica para estudos comparativos de longo prazo sobre a sucesso eco-

    lgica que ocorreu no local.

    UM POUCO DE HISTRIA: Em 1860 o governo imperial prope o Plano Geral de Abastecimento d

    gua, j tendo sido feitas, em 1855, as desapropriaes junto aos mananciais e altos cursos dos rios Cario-

    ca, Maracan e Comprido. Em 1861 o Imperador D. Pedro II, atravs do Decreto Imperial 577, cria as Flo-

    restas da Tijuca e das Paineiras, nomendo Manuel Gomes Archer e Thomas Nogueira da Gama, respectiva-

    mente, como seus administradores, para darem incio ao reflorestamento neste mesmo ano. Estima-se que,

    na Floresta da Tijuca, tenham sido plantadas cem mil rvores, ao longo de 13 anos, primeiramente por seis

    escravos (Eleutrio, Constantino, Manuel, Mateus, Leopoldo e Maria) e mais tarde com a ajuda de 22 tra-

    balhadores assalariados. A seleo e agrupamento das espcies plantadas no obedeceram a um plano de-

    finido, somente os eucaliptos foram dispostos em aleias s margens dos caminhos, sendo que as demais

    espcies foram misturadas. Esse ousado e ambicioso projeto de reflorestamento foi pioneiro na Amrica La-

    tina e em escala global, um dos casos mais antigos e bem sucedidos de ecologia de recuperao.

    A admirao pela Floresta e pela esperana no trabalho de Archer fica registrada pelo nosso ro-

    mancista Jos de Alencar, que no seu romance Sonhos dOuro, publicado em 1872, escreve lembrou-

    -se o moo subir at a Floresta, um dos mais lindos stios da Tijuca. O nome pomposo do lugar no por

    hora mais do que uma promessa; quando porm crescerem as mudas de rvores de lei, que a pacincia e

    inteligente esforo do engenheiro Archer tm alinhados aos milhares pelas encostas, uma selva frondosa

    cobrir o largo dorso da montanha onde nascem os ricos mananciais.

    O segundo administrador da Floresta foi o Baro Gasto d Escragnolle, de 1874 a 1888, que insere

    mais 30 mil mudas, sendo algumas delas de espcies exticas. Em sua gesto surge o trabalho de paisagismo,

  • 36 37

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    Auguste Glaziou Auguste Franois Marie Glaziou nasceu em Lannion, na

    Frana em 1833. Formou-se em engenharia civil, e estudou botnica no Museu

    de Histria Natural de Paris, onde aprofundou seus conhecimentos em agricul-

    tura e horticultura. No sculo XIX, a jardinagem ganha grande importncia por

    trazer a valorizao de reas naturais como espaos de salubridade: os jardins, o

    campo, as guas, a floresta e a praia, passam ento, a ser encarados como es-

    taes de sade e comeam a ganhar valor. Tratar dos bens da natureza passa

    a ser uma questo de civilidade, e o Rio de Janeiro como capital do imprio, no

    poderia deixar de se espelhar na Europa e contratar mestres das artes da jardina-

    gem para trazer embelezamento e salubridade cidade. Neste contexto, os es-

    paos naturais e principalmente a floresta, no apenas influenciavam a salubridade da cidade, mas ofere-

    ciam um refgio para escapar das doenas e do calor, sendo tratados como verdadeiros hospitais para o

    corpo e a alma. Assim, em 1858, Glaziou chega ao Rio de Janeiro, a convite do imperador Pedro II, para

    assumir o cargo de Diretor dos Parques e Jardins da Casa Imperial. Antes de vir para o Brasil, trazia em sua

    bagagem a participao na reforma do Jardim Pblico da cidade de Bordeaux, na Frana. Neste perodo,

    acumula tambm o cargo de Inspetor dos Jardins Municipais, alm de integrar a Associao Brasileira de

    Aclimao. Por sua posio e sua ligao com o imperador, executou a maior parte de projetos paisagsti-

    cos acontecidos na Corte durante o Segundo Imprio, como as reformas do Passeio Pblico, da Quinta da

    Boa Vista e do Campo de Santana. Colaborou na gesto do Baro Gasto dEscragnolle, segundo adminis-

    trador da Floresta da Tijuca, de 1874 a 1888, realizando um trabalho focado na transformao da floresta

    selvagem em parque pblico com caractersticas europeias, introduzindo recantos, grutas, lagos e fontes.

    O repertrio do paisagista inclua cenrios de pedras artificiais, simulando falsias e grutas, lagos e quedas

    dgua, a ornamentao de recantos com formas vegetais em concreto armado - as chamadas rocalhas, as

    pequenas construes em runas, os postes de iluminao, os bancos e gradis, os lagos e os passeios. Todos

    esses elementos eram to importantes quanto vegetao na configurao de projetos no seu estilo paisa-

    gstico. Alm da interveno na natureza com suas composies paisagsticas, a Glaziou se deve tanto a in-

    troduo de espcies exticas no Brasil quanto descoberta de diversas espcies, que por conta disso rece-

    beram o seu nome, como a Glaziovia bauhinioides, da Famlia Bignoniacea, descrita na Flora Brasiliensis, e

    a Manihot glaziovii (manioba), bem como a adoo de plantas brasileiras em praas e ruas do todo o pas.

    Foto: Site Fundao Casa de Rui Barbosa / The Natural History Museum Picture Library

    Hoje encontramos as reminiscncias do seu

    trabalho nos recantos criados na administrao do

    Baro, embora tenham sofrido ao de administra-

    es posteriores, com as remodelagens e melhorias

    no Parque. O Lago das Fadas, por exemplo, um dos

    locais que recebeu ateno do paisagista francs e foi

    modificado na gesto de Castro Maya. Alguns outros

    pontos criados na administrao do Baro foram: a

    gruta Paulo e Virgnia, a Ponte da Baronesa, a Vista do

    Almirante, a Cascata Gabriela e o Mirante do Excel-

    sior. Glaziou sempre utilizou ornamentos sofisticados

    em suas obras nos jardins pblicos e privados, usan-

    do constantemente peas da metalrgica Val dOsne,

    especializada na produo de objetos decorativos e

    peas de mobilirio urbano em ferro fundido. Seu ca-

    tlogo oferecia grande variedade de produtos dentre

    eles: 200 tipos de vasos, 110 de chafarizes, 600 de fi-

    guras humanas, 250 de representaes animais, to-

    dos desenhados por cerca de 50 escultores. Foi to

    grande a ligao de Glaziou com a Val dOsne, que

    esta unio contribuiu para que o Rio de Janeiro for-

    masse um dos maiores acervos dessas peas fora da

    Frana. Com a sua atuao em projetos de jardins,

    praas e parques, Glaziou ajudou a transformar a pai-

    sagem brasileira na segunda metade do sculo XIX in-

    fluenciando novos paisagistas com o seu estilo. Per-

    maneceu no Brasil at 1897, quando se aposentou e

    retornou Frana, onde morreu em 1906.

    Rocalhas: do original francs rocaille, que quer

    dizer cascalho.

    Bignoniacea: corresponde a uma famlia de

    plantas angiospermas com ampla distribuio

    em regies tropicais de todo o mundo. So plan-

    tas lenhosas, arbustivas ou arbreas e os princi-

    pais exemplos so o ip e o jacarand.

    Flora Brasiliensis: foi produzida entre 1840

    e 1906 pelos editores Carl Friedrich Philipp von

    Martius, August Wilhelm Eichler e Ignatz Urban,

    com a participao de 65 especialistas de v-

    rios pases. Contm tratamentos taxonmicos de

    22.767 espcies, a maioria de angiospermas bra-

    sileiras, reunidos em 15 volumes, divididos em 40

    partes, com um total de 10.367 pginas.

    Glaziovia bauhinioides (Bignoniacea) e Manihot glaziovii (manioba), respectivamente.

  • 38 39

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    Castro Maya Raymundo Ottoni de Castro Maya (Paris, 1894 - Rio de Janei-

    ro, 1968) foi um empresrio bem-sucedido tanto no comrcio de tecidos quanto

    na indstria sua empresa era a Companhia Carioca Industrial, fbrica de leos

    vegetais, e seu produto mais popular era a Gordura de Coco Carioca, para fi ns

    alimentcios. Um homem de muitas facetas, formado em Direito, foi esportista e

    grande incentivador dos esportes, um pioneiro da preocupao com a ecologia,

    biblifi lo e editor de livros, colecionador de artes, fundador de museus e socie-

    dades culturais, defensor e mecenas do patrimnio histrico, artstico e natural.

    Sua atuao e preocupao com o patrimnio foi to grande que, em 1943, o

    prefeito do Rio de Janeiro, Henrique Dodsworth, convidou-o para coordenar os

    trabalhos de melhoramentos e remodelao da Floresta da Tijuca. Castro Maya no aceitou remunerao

    por seu trabalho e por um salrio simblico, de um cruzeiro por ano, se tornou o primeiro exemplo de one

    dollar man, dispondo-se a dirigir a obra de reforma e urbanizao da Floresta. Contava com cerca de 60

    homens para a conservao, todos custeados por ele mesmo, que depois repassava os custos para a Prefei-

    tura. Dedicava-se todas as manhs s atividades da Floresta, e trouxe para trabalhar consigo alguns de seus

    amigos como o arquiteto Wladimir Alves de Souza [autor do projeto dos portes que marcam a entrada

    da Floresta, no alto da Boa Vista e a sada, no Au-

    de da Solido]; o paisagista Roberto Burle Max [res-

    ponsvel pela remodelao do Aude da Solido] e

    o pintor Cndido Portinari [autor das pinturas origi-

    nais do altar da Capela Mayrink].

    Ao fi nalizar suas atividades, em 1947, pu-

    blicou um documento com todas as obras que rea-

    lizou, como uma prestao de contas sociedade.

    So elas: construo do porto (ver p.8) de entra-

    da e da casa do guarda; remodelao da ponte

    Job de Alcntara e construo da represa e do la-

    go; ampliao da Praa da Cascatinha, colocao

    de grades na ponte, e no belvedere da Cascatinha

    e instalao do painel de azulejos com o mapa do

    parque; reconstruo da Capela Mayrink e instala-

    o de novas pinturas

    no altar, executadas

    por Cndido Portina-

    ri; playground na Praa

    do Mayrink; reconstru-

    o de duas casas para

    guarda no mesmo lo-

    cal; construo dos vi-

    veiros (no concluda);

    pista de obstculos no

    Alto do Mesquita; re-

    construo completa

    do Barraco, constan-

    do de duas casas de

    moradias para guardas

    e escritrios de admi-

    nistrao, garagem e

    depsitos; canalizao

    de ferro para levar gua ao Excelsior e construo de duas casas novas para os guardas; reconstruo to-

    tal da antiga casa do Baro dEscragnolle, transformada em restaurante com jardim, denominado Esquilos,

    alm da instalao de cabos subterrneos para levar fora e luz ao local, numa extenso de 1.200 metros,

    com subestaes transformadoras; abertura de uma nova estrada para a Cascata Gabriela; transformao

    em duas casas para guardas, da casa chamada A Fazenda; abertura de uma gruta no mesmo local; remo-

    delao da gruta Paulo e Virgnia; reforma completa do local denominado Bom Retiro, com a construo de

    um playground e um bar; criao do restaurante A Floresta, em funcionamento desde 1944; reconstruo

    de uma represa e colocao de 800 metros de canalizao de ferro para evitar a contaminao das guas

    no Aude da Solido; reforma completa no Aude da Solido, transformando em um lago e jardim; cons-

    truo do porto de sada da fl oresta, colocao de grades e construo da casa do vigia; casa para o guar-

    da no mesmo local. Alm disso, foram ainda reformadas todas as estradas, abertos novos caminhos para

    cavaleiros e pedestres e novos acessos aos picos, construdas pequenas pontes e muralhas de sustentao

    e instalados inmeros bueiros. Os resultados de sua administrao foram percebidos nos nmeros espan-Ponte Job de Alcntara.

    Playground, localizado ao lado do estacionamento da Capela Mayrink.

    FOTO

    MA

    RLO

    N A

    LMEI

    DA

    FOTO

    TH

    IAG

    O H

    AU

    SSIG

  • 40 41

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    tosos alcanados em 1946, quando uma mdia de 5.000 pessoas, visitava a Floresta por fi m de semana.

    Entretanto, foi a sua atividade no mundo das artes que mais lhe trouxe reconhecimento e pres-

    tgio: Castro Maya fundou a Sociedade dos Cem Biblifi los do Brasil em 1943, responsvel pela edio

    de 23 livros de consagrados escritores, ilustrados por artistas plsticos, com a tiragem limitada a apenas

    100 por ttulo. Tambm fundou a sociedade Os Amigos da Gravura, em 1952, contribuindo para difuso

    da gravura, enquanto manifestao artstica. Participou na fundao do Museu de Arte Moderna do Rio

    de Janeiro, em 1948, e foi seu primeiro presidente. Foi membro da Cmara do Patrimnio Histrico e Ar-

    tstico Nacional do Conselho Federal de Cultura (1967), editou livros sobre Debret - Viagem Pitoresca e

    Histrica ao Brasil, de 1954 e sobre Gilberto Ferrez - A Muito Leal e Herica Cidade de So Sebastio do

    Rio de Janeiro, de 1965, alm do livro de sua autoria sobre a Floresta da Tijuca, em 1967. Em 1963, cria

    a Fundao Raymundo Ottoni de Castro Maya, que se torna a responsvel pela administrao do Museu

    do Aude, fundado em 1964, em sua casa de vero. Destaca-se pela coleo de azulejaria que inclui pe-

    as de Portugal, Frana, Alemanha e Espanha, alm de expor uma vasta galeria de trabalhos de renoma-

    dos artistas plsticos.

    O Museu da Chcara do Cu foi criado em 1972, aps a morte de Castro Maya, em sua bela ca-

    sa de Santa Tereza, onde se encontra a coleo de arte europeia com pinturas, desenhos e gravuras de ar-

    tistas consagrados como Matisse, Modigliani e Degas; a coleo de arte brasileira, formada principalmente

    por trabalhos de artistas modernos, entre eles Guignard, Di Cavalcanti e Iber Camargo, alm do impor-

    tante conjunto de obras de Portinari.

    Belvedere: Palavra de origem italiana para pequeno mirante, terrao em parte elevada, de onde se des-

    cortina uma paisagem.

    Museu do Aude: Estrada do Aude, 764 - Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro / (55) 21 3433-4990. Dia-

    riamente, exceto s teras-feiras, das 11h s 17h. Entrada franca s quintas. Fecha nos dias 1 Janeiro,

    Carnaval, 25 e 31 Dezembro. www.museuscastromaya.com.br

    Museu da Chcara do Cu: Rua Murtinho Nobre, 93 - Santa Teresa, Rio de Janeiro / (55) 21 3970-

    1126. Diariamente, exceto s teras-feiras, das 12h s 17h. Entrada franca s quartas. Fecha nos dias 1

    Janeiro, Carnaval, 25 e 31 Dezembro. www.museuscastromaya.com.br

    PLACA 03Mata Atlntica

    Voc est na Mata Atlntica! Esta uma fl oresta tpica de encosta montanhosa da zona tropical. Uma das caractersticas des-ta fl oresta apresentar vrios estratos, ou seja, camadas de vegetao, que so constitudas de espcies de porte herbceo, arbustivo e arbreo. A copa fechada das rvores e os demais estratos impedem que a gua da chuva atinja diretamente o so-lo, protegendo-o e evitando que a camada superfi cial e mais frtil do solo seja carregada para os rios. (P 03)

    FOTO

    OC

    TV

    IO A

    UG

    UST

    O

  • 42 43

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    Vegetais herbceos: plantas de tamanho li-

    mitado, no lenhosas, isto , com textura mais

    delicada e fl exvel. Muitas tm ciclo de vida anu-

    al, ou seja, vivem cerca de um ano, reproduzin-

    do-se por sementes.

    Vegetais arbustivos: plantas lenhosas com

    crescimento mais ou menos limitado, com ramifi -

    cao caulinar desde a sua base. Seu tronco no

    indiviso como o das rvores.

    Vegetais arbreos: plantas lenhosas, de

    grande porte, cujo caule, chamado tronco, s se

    ramifi ca bem acima do nvel do solo.

    As plantas constituem a base das cadeias ali-

    mentares de todos os ecossistemas, pois atravs da

    fotossntese, transformam luz em alimento, liberan-

    do oxignio, sendo essenciais, portanto, para a ma-

    nuteno da vida e para a qualidade do ar que res-

    piramos. A riqueza e a exuberncia das plantas que

    compem o Parque Nacional da Tijuca compem um

    cenrio constitudo predominantemente por angios-

    permas, representadas por vegetais lenhosos de gran-

    de porte, com suas lianas e epfi tas, belas palmeiras e

    por pteridfi tas, como as samambaias arborescentes,

    to caractersticas dessa rea.

    NOTA PARA O PROFESSOR: A valorizao do estudo das plantas deve ser enfatizada, destacando que

    a fl ora brasileira internacionalmente reconhecida como uma das mais ricas e diversifi cadas do plane-

    ta, com espcies de grande interesse farmacolgico, medicinal, ornamental e alimentcio. Deve-se cha-

    mar a ateno, entretanto, para a existncia de uma fl ora de porte bem mais modesto, como as brifi tas,

    as quais formam extensos tapetes sobre rochas expostas e solos nus, onde, juntamente como os liquens,

    colonizam, inicialmente, essas superfcies. Por serem muito sensveis poluio do ar, servem, tambm,

    como indicadores de ar puro, visto que no conseguem subsistir em ambientes muito poludos. Pode-se

    comentar que a ausncia ou baixssima ocorrncia de representantes das gimnospermas deve-se sua na-

    tural distribuio geogrfi ca. Com base nessas consideraes, o professor pode incentivar os alunos, sem-

    pre que possvel, observao dos ciclos de vida das plantas, de acordo com os grupos vegetais a que

    pertencem, ressaltando suas semelhanas e diferenas. Apesar de complexa, es-

    sa tarefa altamente instigante e reveladora de vocaes latentes. O bom cientis-

    ta aquele que no prescinde de uma qualidade essencial: a capacidade de ob-

    servao. Esta deve gerar indagaes, e, mesmo quando forem insinuadas pelos

    professores, as questes levantadas devem levar a pensar, a refl etir, a investigar,

    a fazer associaes e a tirar concluses, o que, em ltima anlise, refl etem as ati-

    tudes que estruturam o processo de ensino-aprendizagem, de forma efi ciente e

    duradoura.

    Exemplo de planta medicinal: a popular pata-de-vaca.

    Tronco recoberto por lquens.

    Selaginella, um tipo de pteridfi ta de pequeno porte, reco-brindo uma rocha.Uma espcie aromtica e de valor econmico, o limoeiro.

    Pilea, uma representante das Angiospermas, muito aprecia-da como ornamental.

    FOTO

    S A

    NA

    MA

    RIA

    DO

    NA

    TOFO

    TOS

    MA

    RLO

    N A

    LMEI

    DA

  • 44 45

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    PLACA 04A importncia da serrapilheira

    A serrapilheira a camada de detritos orgnicos (folhas, caules, frutos, restos de animais), transformada pelos decompositores (bactrias e fungos), que recobre o solo das fl orestas. muito importante como reservatrio de umidade e de nutrientes para os animais e vegetais. Essa camada de detritos funciona como um adubo para o crescimento das rvores, pois o solo de reas fl orestadas, em geral, pouco frtil. (P04)

    FOTO

    S O

    CT

    VIO

    AU

    GU

    STO

    A serrapilheira das fl orestas tropicais forma-

    da por uma camada de folhas, galhos, frutos, cascas

    e restos animais em diferentes estgios de decompo-

    sio, que caem no cho da fl oresta e formam uma

    espcie de tapete, responsvel no s por manter

    a umidade no solo, mas por recompor os nutrientes

    necessrios s plantas e servir como abrigo para uma

    elevada diversidade de animais. Esta camada de fo-

    lhas forma um microhabitat que, geralmente, tem

    elevada umidade devido s baixas taxas de insolao,

    o que favorece a vida de organismos sensveis perda

    de gua como, por exemplo, anfbios, moluscos e pe-

    quenos artrpodes.

    A serrapilheira funciona como isolante tr-

    mico, minimizando os processos erosivos, manten-

    do as partculas do solo agregadas e agindo como

    uma barreira que evita a intensa lixiviao pela ao

    das chuvas, alm de reter uma grande proporo

    de gua, reduzindo a evaporao da gua do so-

    lo. A fertilidade do solo est fortemente associada

    dinmica da serrapilheira, j que ela representa

    a principal via de transferncia de matria orgni-

    ca, possibilitando o reaproveitamento dos nutrien-

    tes (ciclagem de nutrientes) e fornecendo os nu-

    trientes necessrios para a produtividade primria.

    A presena da serrapilheira essencial para o fun-

    cionamento das fl orestas tropicais e as alteraes

    provocadas pela ao humana ou por espcies in-

    vasoras nesse microhabitat podem modifi car todo o

    ecossistema local.

    NOTA PARA O PROFESSOR: As partculas que compem o solo podem ser retiradas de seu local de

    origem, sendo carregadas para as reas mais baixas do terreno, ocasionando a eroso, causada por fe-

    nmenos da natureza ou por ao antrpica. A chuva, por exemplo, um dos principais causadores da

    eroso, agindo sobre o solo desprotegido (sem vegetao), provocando infi ltraes, mudanas na consis-

    tncia do terreno e deslizamentos de terra. importante questionar os alunos sobre o que a chuva pode

    causar a um solo desprotegido. Esclarecer que a eroso causada pela chuva leva sedimentos e nutrientes

    presentes no solo, podendo torn-lo duro e infrtil. Evidenciar as causas e as consequncias da eroso,

    provocada pela desagregao do solo pela ao de agentes externos, tais como

    as chuvas, os ventos, as guas dos rios, entre outros. O ser humano tornou-se o

    grande responsvel pela eroso ao retirar a cobertura vegetal de um solo para

    agricultura, habitao, criao de animais, entre outros usos. O solo exposto per-

    de sua consistncia, pois a gua, que antes era amortecida na queda pelas rvores

    e posteriormente absorvida pelas razes, passa a infi ltrar no solo, causando insta-

    bilidade e consequentemente a eroso.

  • 46 47

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    A Cascatinha Taunay a mais alta e mais fa-

    mosa cascata do parque, com uma queda dgua de

    35 metros de altura, produzida pelas guas do Rio

    Tijuca. Localiza-se a cerca de 500 metros do Porto

    de Entrada da Floresta e recebeu este nome em ho-

    menagem ao pintor francs Nicolas-Antoine Taunay,

    artista plstico, membro da Misso Artstica Francesa

    que chega ao Brasil em 1816 e adquire stio frontei-

    ro Cascatinha da Tijuca, onde fi xa residncia. Tau-

    nay retrata as belezas naturais da Floresta, na primeira

    metade do sculo XIX, que passam a constituir docu-

    mentos histricos da cidade. Nos dias de hoje j no

    existem vestgios originais da passagem do pintor Tau-

    nay por este recanto: a casa em que ele viveu foi de-

    molida no princpio do sculo XX, mas seu espao e

    nome fi caram permanentemente na memria graas

    s homenagens que lhe foram rendidas atravs dos

    tempos, pelos vrios administradores do Parque. So

    elas:

    Fonte da Cascatinha (A): Fonte com frontispcio

    em azulejaria portuguesa, banheira em mrmore Car-

    rara, com motivos fl orais e bica em golfi nho de loua

    em tom azul, entorno com mureta, localizada no p-

    tio inferior da Cascatinha.

    Estela de quatro faces (B): pea com estilo neo-

    clssico, feita em estuque e decorada com azulejos

    contendo textos e um retrato de Flix mile Taunay -

    o Baro de Taunay - fi lho de Nicolas-Antoine, e her-

    deiro que ali viveu, no fi m do sculo XIX. Foi erguida

    no local onde existia a casa dos Taunay.

    Telhado do Sanitrio Pblico (C): Telhas cer-

    micas com esmaltao nas cores branco e azul (s-

    FOTO

    OC

    TV

    IO A

    UG

    UST

    O E

    TH

    IAG

    O H

    AU

    SSIG

    PLACA 05Cascatinha Taunay

    Com 35m de queda dgua, a Cascatinha Taunay a mais alta e a mais conhecida cascata do Parque Nacional da Tijuca. Suas guas so oriundas do rio Tijuca, antes conhecido como Maracan-Cachoeira. Seu nome rende homenagem a Nicolas Antoi-ne Taunay, pintor francs, do sculo XIX, ento proprietrio das terras onde a cascata se localiza e que a imortalizou em seus quadros. A residncia senhorial ento construda junto cascatinha foi depois transferida para o Largo,onde se localiza a Este-la de 4 faces, no estacionamento.

    FOTO

    ALE

    XA

    ND

    DR

    E JU

    STIN

    O

  • 48 49

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    culo XIX). Estas telhas recobrem o portal de entra-

    da do sanitrio, bem como as primeiras fi leiras do

    telhado da edifi cao principal.

    Bancos de alvenaria (D): duas peas feitas em

    alvenaria, construdas na administrao de Castro

    Maya, com assento e encosto revestidos em azule-

    jos portugueses nas cores azul e amarelo. Localiza-

    o: estacionamento da Cascatinha.

    Fonte tipo Stella (E): localizada na escadaria

    de acesso Cascatinha, esta fonte composta pe-

    la bica e a bacia em pea nica, feitas em liga de

    ferro fundido e bronze (leo e flores), assentada

    sobre um painel de azulejaria portugus com mo-

    tivos florais nas cores azul e amarelo. Foi produzi-

    da pela famosa Fundio Val dOsne. A fonte foi

    repintada em agosto de 2003, para inaugurao

    da rampa de acesso para deficientes fsicos, em

    2003 e reformada em 2008 pelo projeto guas em

    Unidade de Conservao (financiado pela PETRO-

    BRS). Localizao: escadaria junto ao antigo Res-

    taurante Cascatinha.

    Fonte dos Taunay (F): Obra inserida por Cas-

    tro Maya, composta por uma banheira em mr-

    more de Carrara, decoradas com stiros e sobre

    ela, a bica com a efgie de um leo e um belo pai-

    FOTO

    OC

    TV

    IO A

    UG

    UST

    O, M

    AR

    LON

    ALM

    EID

    A E

    TH

    IAG

    O H

    AU

    SSIG

    FOTO

    S O

    CT

    VIO

    AU

    GU

    STO

    Fundio Val dOsne, empresa francesa que ga-

    nhou notoriedade por produzir peas artsticas

    para embelezamento de praas e parques pbli-

    cos; foi estabelecida em 1836 e s encerrou suas

    atividades em 1986.

    nel de azulejos, em estilo portugus, figurando o

    mapa do Parque. Este painel foi feito sob a enco-

    menda de Castro Maya, para indicar ao visitante,

    seus principais pontos de interesse, seus recan-

    tos e acessos, e principalmente, marcar as reas

    recuperadas ou modificadas em sua administra-

    o. A execuo do painel ficou a cargo da Cer-

    mica Brasileira Pr Arte Bordallo Pinheiro, no Rio

    de Janeiro. Localizao: estacionamento da Cas-

    catinha.

  • 50 51

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    Residncia Taunay/Antigo Restaurante Cascatinha: Prdio de trs andares, hoje usado pela

    Guarda Municipal e funcionrios da Brigada de Incndio, localizada na Estrada do Imperador. Foi utilizado

    como restaurante Cascatinha at 2011, construdo sobre primitiva casa ocupada por Taunay em 1817. Se-

    gundo relatos histricos, a casa ainda existia em 1894, na administrao de Magalhes de Castro, e foi de-

    molida, segundo Castro Maya, no incio do sculo para a construo de um novo prdio. Segundo Castro

    Maya, a edificao parecia uma fbrica e foi remodelada por ele, que lhe deu cunho colonial. Tem telhas

    coloniais e de coxa (1944-1947).

    Mas quem foi Taunay, afinal? Nicolas-Antoine Taunay nasceu em 10 de

    fevereiro de 1755, em Paris. Sua famlia prezava muito as artes, o que fez com

    que desde cedo se dedicasse a elas, comeando a estudar pintura aos 13 anos.

    Em 1775, se torna aluno de Jacques-Louis David, o mais caracterstico represen-

    tante do Neoclassicismo na Frana. Desenvolveu sua carreira de pintor de paisa-

    gens e cenas histricas, expondo entre os Sales de Paris e de Roma, e foi mem-

    bro-fundador do Instituto de Frana. Em 14 de janeiro de 1788, Nicolas-Antoine

    casa-se com Marie-Josphine Rondel e com ela teve cinco filhos: Carlos, Hipli-

    to, Theodoro, Adriano e Flix mile Taunay. Todos se dedicaram arte, literatura

    e a msica, porm, Flix se tornaria diretor da futura Academia Imperial de Belas

    Artes do Brasil, e viria a ser o Baro de Taunay. E seu filho foi o Visconde de Taunay, Alfredo dEscragnolle

    Taunay, autor do romance Inocncia (1872).

    Nicolas Taunay j estava com seus 60 anos e longos cabelos brancos quando a crise se abateu so-

    bre a Frana, aps a batalha de Waterloo e queda de Napoleo. Ele e outros artistas no se sentiam segu-

    ros na Frana devido s perseguies polticas, e sob a proteo da famlia real portuguesa, que financiaria

    a viagem e moradia, foram convidados a integrar a Misso Artstica Francesa, que aportou no Rio de Janei-

    ro, em 1816. Muda-se com toda sua famlia e seu irmo Auguste-Marie Taunay, que era escultor e tambm

    membro da Misso, para o Brasil. Desde o desembarque em terras brasileiras Taunay se sentiu extasiado

    com a exuberncia do Rio de Janeiro e logo que pode, abandonou a moradia reservada aos artistas da mis-

    so e adquiriu um terreno na Tijuca, na floresta, ao redor de uma cachoeira construindo ali uma pequena,

    mas confortvel casa, para a qual se transferiu com toda a famlia e o irmo.

    Mas quando Taunay chegou Floresta da Tijuca, em 1817, esta no era um paraso intocado, pe-

    lo contrrio, muitas das fazendas mais avanadas do setor agrrio de todo o Imprio, ali j existiam e pros-

    peravam. Acima da Cascatinha, o conde de Gestas, que mais tarde se tornaria amigo de Taunay, plantava

    caf e frutas e assim como ele, vrios outros estrangeiros, sobretudo os franceses, possuam plantaes de

    caf na regio.

    A mais famosa representao da Cascatinha feita por Taunay, (Cascatinha da Tijuca, leo sobre

    madeira [1816-21], 54x37 cm), foi descrita por SCHWARCz (2008) como ...uma espcie de retrato de Tau-

    nay no Brasil. Nela o pintor aparece minsculo diante da imensa natureza do pas. Toda a paisagem qua-

    se misteriosa, tal a bruma que a envolve, e mais parece uma aluso nova nacionalidade que se criava nos

    trpicos. A natureza que surgia como smbolo possvel de identidade (...). A obra pode ser apreciada no

    Museu do Primeiro Reinado, no Rio de Janeiro.

    Em 1821, aps cinco anos no Brasil e com 65 anos, Taunay retorna Frana com sua mulher e um

    de seus filhos, Hiplito, deixando seu irmo Auguste Marie e seus outros filhos na Cascatinha. Taunay fale-

    ceu em 20 de maro de 1830 e aps sua morte, sua mulher veio para viver com seus filhos na Cascatinha.

    NOTA PARA O PROFESSOR:

    Jacques-Louis David (1748-1825): pintor neoclssico que dominou a atividade artstica francesa por

    cerca de cinquenta anos atuando politicamente com a sua arte, primeiro como pintor da revoluo, ver

    quadro A Morte de Marat (1793) e depois como pintor oficial de Napoleo Bonaparte, como no quadro

    Napoleo Cruzando os Alpes (1800).

    Neoclassicismo: movimento artstico e cultural, nascido na Europa no sculo XVIII, que exerceu gran-

    de influncia sobre todo o Ocidente at meados do sculo XIX. Teve como ideal a Antiguidade Clssica,

    visando representaes mais equilibradas, moderadas e livres dos excessos dramticos e decorativos dos

    movimentos artsticos anteriores, como o Barroco e o Rococ.

    Instituto de Frana: fundado em 1795, agrupa as cinco grandes academias nacionais francesas que re-

    gulam e estudam: o idioma, a literatura, as cincias, as belas artes e as cincias morais e polticas.

    Misso Artstica Francesa: constituda por um grupo de artistas e artfices

    franceses que tinha o intuito de introduzir o ensino superior no Brasil, atravs

    da fundao de uma academia e fortalecer assim o desenvolvimento do Neo-

    classicismo em contraponto enraizada tradio barroca. O grupo era lidera-

    do por Joachim Lebreton, e dentre seus integrantes estavam Jean Baptiste De-

    bret, pintor, e Grandjean de Montigny, arquiteto, alm de outros de diferentes

    artes e ofcios.

  • 52 53

    GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA GUIA DE CAMPO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

    As espcies exticas O homem sempre carregou coisas que lhes fossem teis e isso no foi diferente

    com as plantas e os animais. Desde a colonizao espcies tm sido transportadas, intencionalmente ou

    no, entre os continentes ou mesmo dentro de pases para reas fora de sua distribuio geogrfica ori-

    ginal. Nesses novos ambientes muitas espcies, longe de seus predadores naturais e parasitas, encontram

    condies ambientais favorveis e tornam-se mais eficientes que as nativas no uso dos recursos, tornan-

    do-se dominantes. Junto com a fragmentao do habitat, a introduo de espcies exticas invasoras for-

    mam as duas principais causas de perda de biodiversidade e destruio de ecossistemas na maioria dos

    ambientes do mundo. A Conveno sobre Diversidade Biolgica, assinada por 175 pases em 1992 duran-

    te a Rio-92, define como espcies exticas invasoras aquelas no nativas de um ambiente natural, que se

    espalham sem a assistncia humana causando ameaa a ambientes naturais ou seminaturais. Estas es-

    pcies possuem no apenas o poder de sobrevivncia e adaptao em outros ambientes, mas a capacida-

    de de dominar a diversidade biolgica nativa atravs da alterao das caractersticas bsicas dos processos

    ecolgicos naturais e das intera