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Parte II Morgados e Casas dominantes no distrito de Castelo Branco no século XIX

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Parte II

Morgados e Casas dominantes no distrito de Castelo Branco

no século XIX

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Mapa do Distrito de Castelo Branco

Fonte: www.freguesiasdeportugal.com

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Capítulo I – Os processos de registo de vínculos no Governo Civil de Castelo

Branco: os registadores.

1.1. Um corpus de investigação

Os vínculos registados entre 1861 e 1863 no Governo Civil de Castelo Branco

constituíram o corpus de trabalho para esta investigação. Depois de uma identificação

sumária de todos os administradores que procederam ao registo, observámos e

acompanhámos de forma mais pormenorizada dez desses administradores

representantes de parentelas de significativa importância no distrito de Castelo Branco,

no século XIX.

Provenientes do Governo Civil de Castelo Branco encontram-se na Torre do

Tombo a cópia de 24 processos, embora estejam numerados de 1 a 29 não se encontram

no Arquivo as cópias dos processos números 15, 23, 24, 25. Os números em falta

deverão corresponder a processos que foram feitos de forma provisória e não passaram

a definitivos, pelo que nunca foram enviados para o Arquivo da Torre do Tombo. Neste

sentido sabemos por exemplo do caso de Francisco Correia da Silva Sampaio226 Fidalgo

Cavaleiro da Casa Real, um grande proprietário de Castelo Branco e influente político,

que terá também encetado diligências para efectuar um registo de morgadio do qual era

administrador. Este registo não deverá ter sido concluído, pelo menos não foi enviada

qualquer cópia para Lisboa, no entanto temos provas de que o procurou concretizar as

226 Nascido em Castelo Branco foi casado com Maria Leonor José da Conceição das Dores de Mello e

Castro Costa e Sousa, tendo sido pais do 1º visconde de Castelo Novo, António Manuel Pedro da

Conceição Correia da Cunha de Sampaio Melo e Castro Costa e Sousa que nasceu em 1853 na casa de

família na localidade de Escalos de Cima.

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quais são dadas pelo anúncio publicado no Diário de Lisboa de 20 de Janeiro de 1863,

onde o Juízo da Comarca de Castelo Branco apelava ao pronunciamento de todos os que

se opusessem ao processo de justificação da posse do vínculo227.

De facto, parece evidente que os números em falta corresponderão a processos

iniciados e nunca foram materializados e dos quais desconhecemos os autores com

excepção do caso referido.

Existe um documento que contém a relação dos vínculos registados

definitivamente, em Castelo Branco, o qual em 1868 acompanhou as respectivas cópias

enviadas para a Torre do Tombo, onde estas se encontram numeradas de um a vinte e

quatro. Nesta relação está escrita provavelmente pelo punho de Alfredo Pimenta, uma

nota datada de 22 de Julho de 1931 que diz: “Os 24 processos existem, mas a sua

numeração não é seguida: faltam os processos nºs 15, 23, 24 e 25”. Devido a esta falta

foram ordenadas, em Castelo Branco, as cópias a enviar para Lisboa numa sequência

que não coincide com o número de processo no livro de registo do referido Governo

Civil. Ultrapassando a questão da numeração e utilizando a que corresponde a cada

processo, encontramos referenciados os seguintes vínculos registados neste distrito228.

Processos de registo de vínculos no Governo Civil de Castelo Branco

Nºde

Processo

Localização Administrador

1 Salgueiro (Conc. Fundão) João José de Oliveira Frazão

Castelo Branco

2 São Martinho, Boidobra (Concelho

da Covilhã)

Brigadeiro do exército José de

Figueiredo Frazão

3 Idanha a Nova Conde da Graciosa Fernando

Afonso Giraldes de Melo Sampaio

4 Lousa (Conc.de Idanha-a-Nova) João José Vaz Preto Giraldes

5 Castelo Novo (Conc. Fundão),

Castelo Branco

Pedro de Ordaz Caldeira de

Valadares

227 Consta assim na página 171 da referida publicação, na secção dos anúncios: “PELO JUIZO DE DIREITO

DA COMARCA DE CASTELO BRANCO, e cartório do escrivão Sá, correm éditos de trinta dias, a contar do

dia 15 do corrente mês de Janeiro, chamando todas as pessoas que com melhor direito se julguem ao vínculo

que actualmente administra Francisco Correia da Silva Sampaio, residente em Escalos de Cima, e que pretende

fazer registar para os efeitos da lei de 30 de Julho de 1860, em virtude de justificação a que se procede no dito

juízo. Todos os interessados certos e incertos que tenham direitos a opor os deverão deduzir no dito juízo até à

primeira audiência depois de findo o dito prazo; sob pena de correr o processo à revelia”. 228 Optámos por retirar da obra de Alfredo Pimenta apenas o nome do vínculo e/ou a localização geográfica e o

seu administrador no momento do registo.

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6 Proença-a-Velha, S. Miguel

d’Acha, Aldeia de Santa Margarida

Luísa Augusta da Cunha Castro

Meneses Pita

7* Castelo Branco General Claúdio Caldeira Pedroso

8 Erada, Paúl, Peso, Tortozendo,

Sabugal, Penamacor

Francisco Tavares de Almeida

Proença

9 Oleiros, Pedrogão Pequeno (Conc.

Sertã)

António Leitão de Queiroz e

Andrade

10 Castelo Novo (Conc. do Fundão),

Castelo Branco

visconde de Castelo Branco João da

Fonseca e Castro Refóios

11 Castelo Branco Diogo da Silva Castelo Branco

12 S. Vicente da Beira, Castelo Novo,

Castelo Branco, Vila Franca de

Xira, Monsanto, Midões, Sernache

do Bonjardim, Covilhã, Sertã

visconde da Borralha Francisco

Caldeira Leitão e Brito Moniz de

Albuquerque

13 Covilhã Luís Cândido de Tavares Osório

14* Capinha (Conc. Fundão) João António Franco Frazão

16 Penamacor, Fundão, Sabugal Manuel Pinto Tavares Fragoso

Freire

17 Covilhã, Fundão Aires Paes de Lima Castelo Branco

18 Sernache do Bonjardim António Casimiro Biscaia da Silva

19 Oleiros, Castelo Branco, Sertã visconde de Oleiros Francisco de

Albuquerque Pinto Mesquita e

Castro

20 Sertã, Veiros, Estremoz, Fronteira,

Arraiolos

Carlota Granado de Castro Lemos

21 Pedrogão Grande, Sertã Luís António de Magalhães

Taborda

22 Fundão, Idanha a Nova António de Pádua Leitão Marrocos

26 e 27 Idanha a Nova, Peroviseu, Chãos visconde do Outeiro Jerónimo

Trigueiros de Aragão Martel e

Maria Isabel Osório Macedo

28 Sertã Simão José de Mascarenhas Leitão

29 Castelo Branco Pedro de Ordaz Caldeira Valadares

Quadro nº 3

Embora não tivéssemos explorado todos os processos de vínculos registados no

distrito de Castelo Branco analisámos os 24 documentos existentes e identificámos os

administradores que procederam ao registo. Pretendemos dar uma panorâmica geral

sobre o papel desempenhado por cada um dos indivíduos que registaram vínculos e

determinar as figuras mais relevantes socialmente na região, as quais serão ponto de

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partida para uma análise mais detalhada de forma a permitir o desenvolvimento dos

objectivos desta investigação.

Têm em comum os administradores que registaram vínculos o facto de

pretenderem continuar a ser morgados, ou seja a vontade de manterem o seu património

ou pelo menos parte dele vinculado, era na realidade isso que o registo permitia.

Na leitura dos processos sentimos algumas vezes que estávamos perante um

registo de propriedades que nunca tinham sido vinculadas. O género de justificação

dada para a falta de documentos de instituição, a forma como era testemunhada a

antiguidade da vinculação, utilizando indivíduos manifestamente submetidos ao poder

do pretenso morgado e ainda a troca do favor do testemunho entre registadores leva-nos

a crer que havia detentores de vastas propriedades que aproveitaram a abertura da

legislação para se tornarem morgados. Esta situação terá sido várias vezes denunciada

por parlamentares quando se discutiu a abolição do morgadio. Não nos cabe agora a nós

destrinçar esta suspeita, já que a ter acontecido só indica que apesar da contestação

quase generalizada à propriedade vinculada ainda havia muitos interessados em terem o

estatuto de morgado. No nosso caso os registos que analisámos foram aceites e os

registadores considerados morgados.

Passaremos numa primeira fase a apresentar os administradores que procederam

ao registo, de forma sucinta, através de elementos obtidos a partir da leitura dos

processos, coadjuvados com as informações obtidas da consulta de registos paroquiais e

obras várias, principalmente de carácter genealógico.

São 23 os indivíduos que fazem registos de vínculos neste Distrito em

conformidade com a lei de 1860. São vinte os homens (um dos administradores fará

dois registos) e três as mulheres, uma das quais surge associada ao seu marido.

1.2. Os morgados registadores

O processo de registo nº 1 refere-se a um vínculo instituído sob a invocação de

Santa Maria Madalena, do Salgueiro, freguesia do Concelho do Fundão. O

administrador em 1860, João José de Oliveira Frazão, era filho de João de Oliveira

Frazão de Castelo Branco e de Maria Angélica Elvas Soares. Foi neto paterno de João

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Leitão Frazão de Castelo Branco e Oliveira que justificou nobreza em 1781, fidalgo de

Cota de Armas (c. de 3.11.1881) e foi Senhor e morgado do Salgueiro229.

Casou este administrador com Emília Carolina Vaz Leitão. Residiu no Salgueiro

em casa com capela invocada a Santa Maria Madalena.

Os seus bens vinculados situavam-se nos Concelhos do Fundão, no de Belmonte, no de

Penamacor e no de Idanha-a-Nova.

Foi sucessor o filho, João de Oliveira Frazão de Castelo Branco, bacharel

formado em Direito pela Universidade de Coimbra. Natural do Salgueiro, nasceu em

Maio de 1834 e faleceu em Janeiro de 1892. Foi administrador dos Concelhos do

Fundão, Penalva do Castelo, Covilhã e Belmonte e segundo José Germano da

Cunha230 foi um dos 40 maiores contribuintes do Concelho. Foi casado com Maria

Delfina Vaz Leitão Ferreira de Castro. É este que como procurador de seu pai procede

ao registo.

A posse do património deste vínculo teve que ser provada por um processo de

justificação, pois como vai declarar o administrador, os documentos de instituição terão

desaparecido no tempo das invasões francesas. Refere-se assim: “Que é constante

público e notório que no tempo da invasão dos franceses, os ascendentes do suplicante e

então com a administração do referido vínculo se evadiram precipitadamente

abandonando sua casa, para fugir aos Franceses, em cuja conjuntura houveram e não

podiam deixar de haver roubos, furtos e descaminho de papéis e mais efeitos”231.

Como veremos à frente, serão feitos mais dois registos por indivíduos nascidos

na Casa do Salgueiro.

O processo de registo nº 2 foi feito em nome de José de Figueiredo Frazão,

filho de Gregório José Pedroso da Cruz e de Gervásia de Figueiredo, nasceu no

Salgueiro em 27 de Abril de 1795 e faleceu em 1878. Registou bens vinculados situados

no Concelho da Covilhã, mais concretamente em São Martinho e Boidobra, que recebeu

pela linha paterna.

O seu nascimento ocorreu na mesma casa do anterior administrador, pois são

primos, sendo a mãe de José Frazão irmã do pai de João Frazão Castelo Branco. Além

229 Anuário da Nobreza de Portugal, p.p. 844–845, tomo II, 1985. 230 Apontamentos para a História do Fundão, p.242. 231 Vínculos Abelho, processo nº 1, fl.3.

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de fidalgo da Casa Real foi Brigadeiro do exército e General, notabilizando-se pela sua

ideologia liberal. Desempenhou os cargos políticos de vereador e Presidente da Câmara

do Fundão em 1834, recebeu de D. Luís o título de visconde do Sardoal. Casou com

Ana Jacinta Pimenta Avelar. Foi seu sucessor José de Figueiredo Pimenta de Avelar

Frazão que casou com uma filha do visconde do Outeiro e conde de Idanha, Maria

Natividade Trigueiros Martel.

O processo nº 3 corresponde ao registo feito por Fernando Afonso Giraldes de

Melo Sampaio, conde da Graciosa. Trata-se de um vínculo instituído em 1760, ao qual

foram feitas nove anexações. O território deste vínculo estende-se preponderantemente

pela região de Idanha-a-Nova e Monsanto, inclui também a Quinta dos Arciprestes em

Lisboa. O processo de registo consta de vários documentos, entre os quais: uma

escritura de “contrato de transacção amigável, composição e partilhas entre maiores,

pagamento de legítimas, renunciação e instituição de vínculo e doação irrevogável…”232

documento datado de 1760, feito por Brites Maria de Andrade e Couto, viúva de

Fernando Afonso Giraldes e por dez dos seus onze filhos, em que estes prescindem da

sua legítima em favor do irmão mais velho, o sucessor na administração do morgadio,

Bartolomeu José Nunes Cardoso Giraldes de Andrade. Este último viria a ser o avô do

registador do vínculo.

O conde da Graciosa nasceu em 1808 e era filho de Fernando Afonso Giraldes

de Andrade e Meneses e de Joana das Dores de Melo Sampaio Pereira de Figueiredo e

Bourbon. Veio a casar com Maria José Caldeira Leitão Pinto de Albuquerque, irmã do

conde da Borralha o qual era cunhado do conde da Graciosa pois estava casado com a

sua irmã Inês de Vera Giraldes de Melo Sampaio e Bourbon. Entre outras funções foi

Senhor de Medelim e alcaide-mor de Monsanto e Par do Reino. Recebeu o titulo de

visconde em 1840, o de conde em 1852 e o de marquês em 1879.

Sucedeu a este administrador o seu filho segundo – o primeiro faleceu com 22

anos - Fernando Afonso de Melo Giraldes Sampaio e Bourbon, nascido em 1839 e

falecido em 1900. No entanto este não terá filhos pelo que o seu herdeiro será o filho de

sua irmã, Francisco Furtado de Melo Mesquita Giraldes de Paiva Pinto.

232, Vínculos Abelho, proc. nº3, fl. 4v e 5, ANTT.

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O registo nº 4 foi feito por João José Vaz Preto Giraldes, que regista o morgadio

de São Sebastião da Lousa cujo território se estende no Concelho de Castelo Branco

pelos territórios das localidades da Lousa, Escalos de Cima, Escalos de Baixo, Mata e

Alcains; no Concelho de Idanha-a-Nova pelo Ladoeiro, Idanha-a-Nova, Zibreira e São

Miguel de Acha.

João José Vaz Preto nasceu em 4 de Setembro de 1801 e faleceu em 7 de Janeiro

de 1863. Era filho de Manuel Vaz Preto Tudela de Castilho, da Idanha a Nova e de

Maria José Barba de Meneses Giraldes, nascida em Lisboa. Casou com uma prima,

Joana Carlota Giraldes de Melo e Bourbon, precisamente uma irmã do primeiro

visconde, Conde e marquês da Graciosa, que fez o registo de vínculo anterior. Formado

em Direito pela Universidade de Coimbra, foi vereador da Câmara Municipal de

Castelo Branco em 1835 e Presidente da mesma em 1839. Foi Governador Civil de

Castelo Branco entre 1840 e 1843 e também durante cerca de cinco meses em 1846.

Representou a província da Beira Baixa como deputado entre 1834 e 1836. Recusou

tomar posse do cargo de Senador para o qual foi eleito em 1838. Tomou assento na

Câmara do Pares em 1843, renunciando em 1844. Voltou a ser deputado por Castelo

Branco em 1851/52 e 1858/59. A sua actividade parlamentar pode considerar-se

bastante activa, para além da sua participação em Comissões tanto na Câmara dos

Deputados como na dos Pares. Teve várias intervenções de relevo nas duas Câmaras.

Somente na última legislatura, 1858/59, não interveio. No fim desta legislatura retirou-

se para Lousa onde se vai dedicar por inteiro aos negócios da agricultura.

É numa altura em que está empenhado em dirigir as suas propriedades agrícolas

que procede em conformidade com a lei ao registo dos bens vinculados. Não sobrevive,

porém, muito tempo após o registo, já que este é feito em Outubro de 1862, e João José

Vaz Preto morre em Janeiro de 1863.

Nuno Pousinho233 refere João José Vaz Preto Giraldes como “uma das

personagens mais importantes do Concelho” conjuntamente com Francisco Tavares de

Almeida. Foi seu imediato sucessor, apesar de a legislação que aboliu o morgadio ter

saído poucos meses após a morte de seu pai, Manuel Vaz Preto Giraldes. Nasceu em

Castelo Branco em 1828 e faleceu na sua casa da Lousa em 1902. Este teve um papel

233 Castelo Branco, Governo, Poderes e Elites, Edições Colibri, Lisboa, 2004, p.141.

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político tão ou mais importante que o do seu pai. Formado em Direito, foi deputado,

senador e par do reino. A sua actividade política foi muito intensa, fez parte do partido

Regenerador do qual saiu para fundar uma formação política a que deu o nome de

“Porto Franco”, teve grande influência na construção da linha ferroviária da Beira

Baixa. Mantém-se muito presente na memória dos Albicastrenses que lhe fizeram

erguer uma estátua na sua cidade.

Os processos nº 5 e 29 referem-se a registos feitos por Pedro de Ordaz Caldeira

Valadares. Este é o único caso no Distrito em que o administrador abre dois processos

independentes de registo. Este facto ter-se-á devido não só ao desejo de manter os

morgadios independentes, mas também às diferenças de procedimento que cada um

exigiu para que fosse concretizado o registo. Assim enquanto no processo número cinco

Pedro Valadares regista um morgadio instituído pelo seu avô João D’Ordaz Queiroz, do

qual possui os documentos que fazem prova da instituição, relativamente aos bens que

pretende registar como vinculados, no segundo processo consta uma justificação que era

necessária sempre que não se possuía os documentos que provavam a instituição.

Tratou-se de um processo mais demorado que passou pelo tribunal e exigiu testemunhas

que declararam que os bens se encontravam vinculados há mais de quarenta anos. Neste

caso Pedro Valadares vai informar que não possui os documentos vinculares em causa

“em consequência de extravio que no Tribunal do Desembargo do Paço tiveram as suas

respectivas instituições”234. O primeiro registo abrange património situado em Castelo

Branco e em Castelo Novo. O segundo registo inclui bens em Castelo Branco, Alcains,

Escalos de Baixo, São Domingos de Malpica e Castelo de Vide.

Nascido a 14 de Julho de 1808, em São Vicente da Beira, filho de José Caldeira

D’Ordaz Queiroz e de Angélica de Meneses Ordaz Queiroz e Vasconcelos. Neto do

barão do 1º barão de Castelo Novo, João Ordaz Queirós. Casou com D. Maria Benedita

de Sande e Castro que nasceu em São João da Pesqueira e era filha do 2º Senhor de

Penedono. Não renovou o título de seu pai, justificando assim as suas simpatias pela

causa absolutista entretanto derrotada, mas desempenhou vários cargos políticos, como

o de vereador e vogal do conselho municipal.

234 Vínculos Abelho, processo nº 25, fl.2 ANTT.

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Constituíram os Ordaz uma família de grande importância no poder político do

Distrito de Castelo Branco, não só no antigo Regime mas também no liberalismo apesar

das suas posições absolutistas. Como constatou ainda Nuno Pousinho235, Pedro d’Ordaz

Caldeira Valadares foi uma das personagens que entre os anos de 1834 e 1878 mais se

destacou pela sua permanência nos órgãos de gestão do distrito de Castelo Branco,

tendo sido escolhido em seis ocasiões para vereador. Ainda este último autor define o

estatuto deste morgado no Antigo Regime como Fidalgo da Casa Real, da Principal

Nobreza e proprietário, enquanto no liberalismo o seu estatuto socioprofissional define-

se apenas como proprietário, acrescentando-se que recusou o título de barão de Castelo

Novo236.

De salientar que apesar da suas posições realistas os principais representantes

destas famílias não deixaram de estar presentes na governação do distrito. Por exemplo

o pai de Pedro d’Ordaz, José Caldeira d’Ordaz Caldeira presidiu à Câmara logo após as

primeiras eleições liberais realizadas em 1822, como afirma Nuno Pousinho “a câmara

foi mesmo presidida pelo mais destacado realista da cidade, o barão de Castelo

Novo”237.

O registo nº 6 foi feito por Luísa Augusta da Cunha Castro Meneses Pita. Esta

senhora nasceu em 1832 e faleceu em 1868. Era filha de Luís da Cunha de Castro e

Meneses e de sua mulher Maria Augusta Goldofim de Sá Nogueira. Casou com António

de Gouveia Osório Metelo de Vasconcelos, 1º visconde e 1º conde de Proença-a-Velha.

Herdou esta administradora, vários morgadios que vai anexar num único. A sucessão

passou antes da cair em Luísa Augusta, pelos seus irmãos, entretanto falecidos,

respectivamente João Filipe da Cunha Castro Meneses (o primogénito) e por Francisca

da Cunha Castro Meneses Pita.

Foi seu filho e sucessor João Filipe Osório de Meneses Pita, 2º conde de

Proença-a-Velha, o qual veio a casar em 1884 com Maria de Melo Furtado Caldeira

Giraldes de Bourbon, filha de Francisco Augusto Furtado de Mesquita Paiva Pinto,

conde de Foz de Arouce e de Maria Joana de Bourbon de Melo Giraldes Caldeira de

Sampaio Pereira de Figueiredo que por sua vez era filha de Fernando Afonso Giraldes

235 Op. cit., p. 134. 236 Op. cit., conf. quadro nº 44 p. 134. 237 Op. cit., p. 91.

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de Melo Sampaio 1º visconde, 1º conde e 1º marquês da Graciosa, registador dos

vínculos do processo número três.

Este registo envolve várias instituições que esta administradora vai anexar. Em

1669 constam as instituições feitas por Domingos Gonçalves Robalo e também por sua

mulher, Leonor Peixota; em 1719, a de Maria da Cunha Robalo, de Leonor Domingues

da Cunha e a de Helena da Cunha Giraldes; em 1728 um vínculo instituído por Helena

da Cunha Robalo e sua irmã Leonor da Cunha Robalo, com a particularidade de exigir

que o administrador deste fosse familiar do Santo Ofício; em 1731, a instituição feita

por João Filipe Pereira de Castro de Castro e por sua mulher Brites Maria da Cunha; em

1742, Maria Antónia da Cunha e Castro institui um vínculo para que venha a ser

anexado ao instituído em 1731 por seus pais, João Pereira de Castro e mulher; em 1747

surge nova instituição feita por Leonor Angélica da Cunha Pereira de Castro, irmã de

Maria Antónia, com a mesma intenção de anexação do anterior; e ainda uma capela

instituída por Apolónia Cruz. Estes vínculos que se diz no processo terem sido

instituídos sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, situavam-se nas freguesias

de Proença-a-Velha, S. Miguel de Acha e Aldeia de Santa Margarida.

O registo nº 7 foi feito pelo General Claúdio Caldeira Pedroso. Os bens

correspondentes ao morgadio terão sido recebidos de Alexandre António Pedroso seu

primo (?). Estes bens estavam registados na matriz predial da freguesia de São Miguel

da Sé de Castelo Branco e na matriz predial da freguesia de São Domingos de Malpica.

Temos notícia de Alexandre António Pedroso ter sido eleito vereador da Câmara de

Castelo Branco nos anos de 1813, 1817 e 1821. Nuno Pousinho238 apresenta-o, num

quadro de “Elementos caracterizadores dos vereadores entre 1792 e 1834”, como

natural de Castelo Branco e aí residente; proprietário “das principais pessoas da dita

cidade”; com uma fortuna entre 19.200$000 e 48.000$000 réis a que corresponderá um

rendimento anual entre 768$000 e 1.920$000. Terá sido deste primo que Claúdio

Caldeira Pedroso recebeu o morgadio que na obra Uma Família da Beira Baixa239,

surge como o Morgadio da Alegria.

Claúdio Pedroso nasceu em Lisboa em 1790 e faleceu em 1868. Era filho de

Maria Josefa Pedroso Cevada natural de Castelo Branco e de José Maria Valente

238 Castelo Branco, Governo, Poder e Elites, anexo nº 9, pp. 186/190. 239 José Luíz de Sampayo Torres Fevereiro, p. 304

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Caldeira nascido em Bragança. Teve uma grande carreira militar. Retirámos alguns

elementos da sua extensa actividade tal como é apresentada por José Luíz Torres

Fevereiro, na obra Uma Família da Beira Baixa240: Assentou Praça em Infantaria a 10-

IV-1810, foi Alferes Porta-Bandeira das Milícias de Castelo Branco. Foi promovido a

Tenente em 1815 e a Capitão em 1826. Depois de participar em várias Campanhas

como por exemplo as da Guerra Peninsular de 1813-14, foi gravemente ferido na

batalha das linhas de Lisboa. Recebeu um louvor em Ordem do Corpo em 1834, ano em

que foi promovido a Major. Fez parte, em 1835 da Divisão Auxiliar a Espanha. Foi

promovido a Tenente Coronel em 1837 e a Coronel em 1848. Foi ainda: Ajudante de

Ordens do marquês de Saldanha, Chefe do Estado-Maior de várias Divisões,

Comandante Militar de Coimbra entre outros cargos. Terminou a carreira militar como

Tenente General, tendo ainda sido Ajudante de Campo Honorário do rei D. Luís.

Para além de Militar e proprietário também foi vereador da mesma câmara em

1866. Foi seu filho Henrique Caldeira Pedroso que foi Provedor da Misericórdia de

Castelo Branco, procurador à Junta Geral do Distrito, Administrador do Concelho de

Castelo Branco, foi vogal do Conselho Municipal (Nuno Pousinho e Fevereiro). Este

terá sido um indivíduo bastante empenhado na política Albicastrense que terá falecido

em 1889.

O registo nº 8 foi feito por Francisco Tavares de Almeida Proença. Nasceu no

Tortosendo, casou em 7 de Dezembro de 1835 com Maria da Piedade Fevereiro, filha de

Joaquim Mendes Fevereiro, vereador da Câmara Municipal de Castelo Branco e de

Matilde Joaquina do Carmo. Francisco Tavares de Almeida Proença era filho de Manuel

Tavares Proença (de Souto da Casa), licenciado em Direito pela Universidade de

Coimbra e de Bárbara Joaquina Rombo do Tortosendo.

Registou bens vinculados que se estendiam por localidades do distrito que

abrangiam o concelho da Covilhã, como Erada, Paúl, Peso, Tortosendo; o concelho de

Penamacor. Registou ainda bens no Sabugal, distrito da Guarda.

Francisco Proença foi Par do Reino em 1842, em Abril de 1847 aceitou a pasta

de Ministro do Reino. Sucedeu-lhe o seu filho, nascido a 30 de Março de 1853 também

chamado Francisco Tavares de Almeida Proença que foi chefe do Partido Progressista

240 p. 304.

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da Beira Baixa e Par do Reino em 1905. Ficou muito novo orfão, o seu pai morre em 26

de Agosto de 1872 e a mãe em Julho de 1873. Ficou como gestor de um vasto

património partilhado com três irmãs mais velhas. Faleceu em 14 de Novembro de

1932.

O registo nº 9 foi feito por António de Queiroz e Andrade, filho de Domingos

José de Queirós Figueiredo e Andrade, natural de Pedrógão Pequeno e de Maria

Madalena Leitão de Sequeira Pereira. O seu pai é referido por Cândido Teixeira como

um “proprietário rico”241.

António Queirós e Andrade nasceu em Pedrógão Pequeno, foi capitão-mor da

Vila de Álvaro, cargo que tinha em 1817. Foi casado com Maria do Carmo Caldeira

Melo Castro e Aboim e Silva. Teve este casal três filhos: António Maria Leitão de Melo

Queirós; Higino Oto de Queirós e Melo; Eduardo Maria Leitão de Melo Queirós que foi

Vereador e Presidente da Câmara da Sertã (em 1856).

Os bens vinculados situavam-se nas regiões de Àlvaro, Oleiros, Sertã e

Pedrogão, Fundão e Pampilhosa.

O processo nº 10 foi feito de forma provisória por Francisco da Fonseca

Coutinho e Castro Refóios, na qualidade de imediato sucessor tal como a lei de 1860

permitia. Pelo conteúdo do processo somos levados a entender que o seu pai, não estava

interessado no registo, tendo mesmo evitado que o seu filho o faça, ao negar-lhe o

acesso a documentos necessários para o dito registo. Eram seus pais o visconde de

Castelo Branco, João da Fonseca Coutinho e Castro de Refóios e Ana Joaquina de

Lancastre Barba de Meneses. Os bens provisoriamente registados situavam-se em

Castelo Novo, concelho do Fundão e em castelo Branco.

Francisco da Fonseca Coutinho e Castro Refóios que veio a ser visconde de

Portalegre, casou com Maria Adelaide Mesquita e Albuquerque de Castro e Nápoles,

filha do visconde de Oleiros, registador do processo número dezanove. Foi sua filha

Clara Maria de Guadalupe da Fonseca Coutinho que foi casada primeiro com Fernando

Afonso Giraldes Vaz Preto e em segundas núpcias com João José Trigueiros Osório de

Martel, não havendo descendência de qualquer dos casamentos. Tanto Francisco como

o seu pai João desempenharam importante papel na política Municipal, tendo sido

241 Antiguidades, Famílias e Varões Ilustres de Sernache de Bom Jardim e seus Contornos, vol.I., Tipografia

do Instituto, Sernache do Bom Jardim, 1925, p. 490.

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ambos vereadores e o visconde de Castelo Branco, Presidente da Câmara Constitucional

várias vezes.

Se a forma como é feito o registo do morgadio, ou seja sem o consentimento do

administrador e pai do imediato sucessor deixa transparecer dificuldades de

relacionamento entre pai e filho. Este parece ser um dos casos em que o administrador

pretende obter a libertação da terra vinculada através da ausência de registo.

No entanto o registo acabou por ser concretizado. As tensões familiares que este

registo deixa transparecer voltam evidenciar-se publicamente após a morte do visconde

de Castelo Branco. Desta polémica dá-nos notícia O Jornal Estrella da Beira que em

1866 publica em vários números uma “prevenção”em que Francisco da Fonseca

Coutinho e Castro de Refóios anuncia que “se está procedendo a inventário de maiores

de bens que ficaram por falecimento de seu pai, o exmo.sr. Visconde de Castelo Branco;

que é o anunciante o cabeça de casal do dito inventário, e por isso é o único competente

para arrendar os bens, pertencentes ao ilustre finado, e receber todos os rendimentos

provenientes dos mesmos bens...”. à qual responde o irmão Rodrigo da Fonseca

Coutinho Castro e Refóios com uma “contra-prevenção” na qual informa que o seu

irmão Francisco da Fonseca Coutinho Castro e Refóios no inventário dos bens que

tinham ficado pelo falecimento do pai, ainda não estava nomeado definitivamente

cabeça de casal, pelo que não era o único que teria competência para fazer contratos

com os bens deixados pelo falecido. A esta polémica nos referiremos mais adiante.

Administrador do processo nº 11, Diogo da Silva Castelo Branco, nasceu a 15

de Fevereiro de 1807, filho de Antónia Maria do Almortão Capelo e de José da Silva de

Oliveira Castelo Branco. Foi General de Brigada e General de Divisão, pertenceu ao

conselho de S.M.F. e foi ajudante de campo de S.A.R. o infante D. Augusto,

comendador das ordens de Avis e Torre Espada. Foi casado com Maria Emília de

Mesquita e Costa. Faleceu em 8 de Dezembro de 1881.

Os bens registados situavam-se essencialmente em Castelo Branco. Este

morgado inclui-se na parentela ascendente de Amélia Capelo Fonseca que casou com o

registador do processo 14. Foi testemunha do processo de justificação de Pedro d’Ordaz

Caldeira Valadares, surgindo, nessa data, como viúvo e tenente-coronel do regimento de

cavalaria número oito.

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O processo nº 12 corresponde ao registo feito por Francisco Caldeira Leitão e

Brito Moniz de Albuquerque, 1º visconde da Borralha. Este viveu entre 1803 e 1873.

Era filho de Gonçalo de Albuquerque Cardoso de Brito Moniz e de Josefa Margarida

Pinto de Macedo Mascarenhas. Casou com Inês de Vera Giraldes de Melo Sampaio e

Bourbon, irmã do 1º marquês da Graciosa, registador do processo número três. O 1º

visconde da Borralha foi moço fidalgo da Casa Real e Par do Reino por Carta Régia de

23 de Fevereiro de 1844.

Trata-se do processo de registo com maior número de documentos anexados

atingindo a cópia as 1200 páginas manuscritas. Contém 38 documentos entre os quais

encontramos instituições e anexações de vínculos, descrições matriciais dos bens,

testamentos, escrituras de subrogação etc.

Fazem parte deste vínculo bens situados em S. Vicente da Beira, Castelo Novo,

Castelo Branco, Vila Franca de Xira, Monsanto, Midões, Sernache do Bonjardim,

Covilhã e Sertã. Este processo de registo evidencia também possíveis desentendimentos

familiares pelo menos relativamente à vontade de fazer o registo, pelo que foi feito

provisoriamente devido à contestação dos irmãos do administrador.

O registo nº 13 é realizado por Luís Cândido Tavares Osório, natural da

Covilhã. Este era filho do Coronel Gregório Tavares Ferreira Osório e de Ana Benedita

de Sousa Cabral Osório de Castro. Foi casado com uma senhora inglesa de nome Jane

Ann de Latour.

Regista um vínculo composto por várias quintas situadas no concelho da

Covilhã. Este morgado terá vivido em Londres provavelmente após a vitória das forças

liberais em Portugal. Em 1833 encontramo-lo como coronel entre os militares apoiantes

de D. Miguel242, E, em 1862, será um dos acompanhantes de D. Miguel, na visita à

Exposição Universal realizada em Londres. Apresenta no processo de registo o assento

paroquial de baptismo do seu filho igualmente chamado Luís Cândido de Tavares

Osório. Nada sabemos deste último, no entanto o seu pai e registador do morgadio, em

1866 já tinha falecido. Neste ano, o jornal A Sentinella da Liberdade publica o anúncio

do leilão de todos os móveis pertencentes a Luís Cândido de Tavares Osório e

242 Luiz Pereira Carrilho, Os Oficiais D’El-Rei Dom Miguel, p. 22.

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existentes na sua Quinta da Vargem. Esta Quinta e outros bens vão à praça em 1867

como também surge anunciado no mesmo periódico243.

O processo nº 14 refere o registo de uma Capela feito por João António Franco

Frazão. Trata-se de um processo que regista um vínculo que neste caso é chamado de

Capela, instituído pelo Dr. João Gonçalves Franco e Manuel Martins Franco e que

abrange propriedades situadas nas freguesias da Capinha, Salgueiro e Peroviseu. No

entanto os documentos de instituição não existiam, pelo que se procedeu a um processo

de justificação. O administrador nasceu em 23 de Janeiro de 1837, na Capinha,

Concelho do Fundão, era filho de José Joaquim Franco e de Emília Albertina de

Oliveira Frazão. Frequentou os cursos de Matemática, Filosofia e Direito em Coimbra,

formando-se em Direito em 1861. Foi Governador Civil e Presidente da Junta Geral do

Distrito de Castelo Branco, Presidente da Câmara do Fundão, deputado e Par do Reino.

Como se afirma no Dicionário Biográfico Parlamentar244: “Vivendo num distrito onde

a política era definida pelos interesses dos grupos dos grandes caciques regionais, era

um dos “amigos de Vaz Preto”, grupo que predominou na Beira Baixa até à década de

1890”. Foi pai, entre outros, de Bartolomeu Franco Frazão e de José Capelo Franco

Frazão, conde de Penha Garcia.

O processo nº 16 corresponde a um vínculo administrados por Manuel Pinto

Tavares Fragoso Freire, natural de Pedrógão, Concelho de Penamacor. Abrange

propriedades situadas nos limites de Vale Prazeres, Alcongosta, Bemposta, Pedrógão,

Aguas, Penamacor e Bendada (Monsanto). Segundo o processo tratava-se de um

vínculo que tinha sido administrado por Sebastião Pinto Fragoso, avô do “justificante”,

a quem sucedeu Luís Pinto Fragoso Freire e por morte deste Manuel Fragoso Freire que

procede ao registo. Este era no momento do registo, viúvo de Maria José Miranda e

Silva, da qual tem três filhos, que testemunham no processo de registo a posse do

morgadio. Chamavam-se estes, Luís Pinto Tavares Fragoso Freire, Ana Angélica Pinto

Tavares e Maria José Pinto Tavares casada com António Pinto Tavares Osório.

O processo nº 17 corresponde ao registo feito por Aires Pais de Lima Castelo

Branco, natural de Dominguiso, concelho da Covilhã, nascido em 1819 e casado com

243 São anúncios que foram publicados no referido jornal entre 23 de Dezembro de 1866 e 27 de Janeiro

de 1867. 244 Vol. II, pp. 222/223.

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Maria Angélica de Almeida Lima. Compreende o morgadio, propriedades situadas nos

limites do Telhado, Alcaria (concelho do Fundão) e no Tortozendo (concelho da

Covilhã). Este vínculo foi instituído em 1759, por Pedro Antunes do lugar de Alcaria.

Veio a suceder nele o pai de Aires Castelo Branco, o tenente coronel José Joaquim Leal

Castelo Branco, natural do Telhado casado com Ana Bárbara de Proença Giraldes ,

natural do Alcaide que tinha sucedido a seu pai, capitão José dos Santos Leal, natural do

Telhado, casado com Francisca Nunes, natural do Dominguiso.

O processo nº 18 corresponde ao registo feito por António Casimiro Biscaia da

Silva. Era este, filho do Dr. Pedro José Bruno Biscaia da Silva, natural de Gafede e que

foi corregedor da Vila do Crato e também da Comarca de Castelo Branco, tendo vivido

em Sernache de Bom Jardim, aí faleceu em 1842. António Casimiro que casou com

Eduarda Lusitana Biscaia de Sousa Leitão e Silva, sua prima, foi filho do 2º casamento

do seu pai o qual teve dois filhos de um primeiro matrimónio com Maria Felizarda de

Oliveira e Silva e seis do segundo que realizou com Joaquina Amália da Silva.

Segundo uma nota apresentada por Cândido Teixeira, António Casimiro terá

nascido vinte e quatro horas antes dos seus irmãos gémeos, Maria Amália e João

Teófilo pelo que foi considerado o mais velho (hoje seria considerado o mais novo dos

gémeos) pelo que sucedeu na administração do morgado dos Silvas, situado em

Sernache que “esbanjou perdulariamente”245. Na realidade no processo de registo, este

apresenta-se como administrador do “morgado dos Silva”, no qual sucedeu a seu pai.

Foi o morgadio instituído em 1780 por António da Silva Leitão e Felizarda Josefa da

Silva.

O processo número 19 compreende o registo feito por Francisco de

Albuquerque Pinto Mesquita e Castro, nascido em 1841 em Castelo Branco, imediato

sucessor de seu pai, na altura ainda administrador do vínculo, o visconde de Oleiros

Francisco Rebelo de Albuquerque Mesquita e Castro casado com Antónia Maria de

Paiva e Albuquerque, esta natural de Macau. Neto paterno de Francisco de Albuquerque

Pinto de Castro e Nápoles, barão de Oleiros e natural de Oleiros e de Maria Guadalupe

da Fonseca Pereira Coutinho Forjaz de Mesquita.

245 Conf. Antiguidades, Famílias e Varões Ilustres de Sernache do Bom Jardim, p. 597.

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Os bens deste morgadio estendiam-se pelo distrito, principalmente em Oleiros,

Sertã, Escalos-de-Baixo, Alcains e na cidade de Castelo Branco.

Deste processo não constam os documentos relativos à instituição do morgadio

pois como declara o justificante “em consequência das comoções políticas se encontram

dilaceradas as suas respectivas instituições”246. Por este motivo e cumprindo a

legislação vai abrir-se um processo de justificação em que são chamadas testemunhas

que vão confirmar a posse da família, em forma de vínculo, dos diversos bens que

compõem o morgadio.

O imediato sucessor, neste caso quem procede ao registo, tem em 1862, 21 anos,

é solteiro, bacharel formado em Direito na Universidade de Coimbra e residente em

Coimbra.

O processo nº 20 apresenta-se com uma administradora feminina, Carlota

Granado de Castro e Lemos. Trata-se de uma jovem, que será “maior de quinze anos

mas menor de vinte e cinco”247, tal como se afirma no processo. Carlota e sua irmã mais

nova, Maria José Magalhães de Mendonça Castro e Lemos, filhas de David de

Mendonça Granado Castro e Lemos e de Ana Magalhães Taborda, segundo se

depreende do texto do registo, terão ficado órfãs e ao cuidado do seu tio materno, Luís

António de Magalhães Taborda. Terá sido este que preparou todos os trâmites

necessários ao registo do morgadio de sua sobrinha, da mesma forma que o fará para o

que ele próprio administra e que constitui o processo número vinte e um que

descreveremos em seguida.

Os bens do vínculo de Carlota Castro e Lemos situavam-se na comarca da Sertã

e da de Estremoz e terão sido instituídos na Sertã por Inocência Soares – cujo

testamento data de 1689 –, por Francisco Ferreira e por Gregório de Oliveira que terá

sido mestre de escola da Sé da Guarda. Dos bens situados em Veiros, Estremoz,

Fronteira e Arraiolos a instituição deveu-se a João de Lemos da Herdade Grande, em

1565.

O processo nº 21 foi registado, como já afirmámos, por Luís António de

Magalhães Taborda, tio materno da administradora do processo anterior. Este

administrador era filho de João Magalhães Taborda da Costa Leitão, natural da Sertã e

246, Vínculos Abelho, Processo nº19, fl.2, ANTT. 247 Vínculos Abelho, processo nº 20, fl.3, ANTT.

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de Isabel Caldeira de Meireles, da Aldeia Nova do Cabo. Foi casado com Maria

Saturnino Câmara de Faria e Serpa de Pina e Almeida.

Luís Taborda foi uma personagem de forte intervenção na política local tendo

sido por três vezes Presidente da Câmara Municipal do Fundão, precisamente em 1852,

1856 e em 1872. Segundo Mendes Rosa “o seu mandato ficou caracterizado pela

implementação de várias obras de grande importância”248.

O morgadio registado resulta da anexação dos nove vínculos seguintes: o

instituído em 1749 por Florência das Neves Taborda; o vínculo de S. Domingos,

instituído por Domingos Leitão; o instituído em 1597, em Pedrógão, por Miguel de

Magalhães e sua mulher Simôa Florina; o instituído por Diogo de Almeida; o instituído

por Ambrósio de Andrade Freire, na Sertã, em 1630; o instituído por Catarina de

Coimbra, na Sertã em 1646; o instituído por Catarina Bernardes; o instituído por Ana

Mota; o instituído por Maria Esteves na Sertã em 1591. Este morgadio abrange

propriedades situadas principalmente no Concelho do Fundão e no da Sertã.

O processo nº 22 corresponde ao registo de um vínculo administrado por

António de Pádua Leitão Marrocos, natural da Idanha-a-Velha. Era este administrador

filho de João dos Reis Leitão Marrocos. Terá casado cerca de 1842 com Maria Emília

Castro e Silva, nascida em 1818 em Alcains, sendo já viúvo no momento do registo.

Este morgadio que foi instituído por Leonardo Ferreira Faísca e sua mulher Inês da

Cunha Robalo no Fundão e em Idanha-a-Nova em 1747 foi considerado um morgadio

de grande valor no tempo do pai do presente administrador. Segundo escreve Sanches

Roque no livro Alcains e a sua História “João dos Reis Leitão Marrocos, nascido em

Idanha-a-Velha, cerca de 1768 (…) era Senhor dum vínculo que então havia sido

avaliado em 14 800 000 réis”249.

Em 1863 o património deste morgadio estendia-se pelo concelho do Fundão por:

Alpedrinha, Alcaide, Donas, Castelo Novo, Póvoa da Atalaia, Orca e Vale Prazeres. No

concelho de Idanha-a-Nova por: Monsanto, Salvaterra do Extremo, Alcafozes, Proença-

a-Velha e São Miguel de Acha. Embora para efeitos de registo os bens situados nas

duas últimas freguesias não tenham sido considerados vinculados por “não ter

248 Fundão, História Cronológica – Da Pré-História ao século XIX, Câmara Municipal do Fundão, 2005, p.

141. 249 p. 375.

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justificado de uma maneira certa e precisa quais os bens que naquelas freguesias possui

e administra, com a natureza de vinculados”250. Tem António Marrocos dois filhos, João

dos Reis Leitão que será o seu imediato sucessor, e uma filha, Maria José, na altura do

registo recolhida no Colégio das Urselinas em Coimbra.

As cópias dos processos nº 26 e 27 surgem juntos e referem-se ao Morgadio da

Idanha administrado por Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel e ao de Peroviseu e

Chãos cuja administradora é Maria Isabel Osório Macedo.

Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel da Costa, nascido em 17-7-1825, 1º

conde de Idanha-a-Nova e também visconde do Outeiro (segundo decreto de 17-VII-

1866, de D. Luís), casa em 1850 com Maria Isabel Osório Macedo. Esta senhora foi a

herdeira do morgadio de Peroviseu e Chãos que acaba por ficar, após o casamento,

aliado ao património de seu marido e por ele administrado.

Em 1863, Jerónimo Trigueiros de Aragão e sua esposa para registar os vínculos

que administram, abrem dois processos que no entanto se vão manter juntos, numerados

como o 26 e 27 do distrito de Castelo Branco.

O morgadio de Idanha-a-Nova foi instituído em 1751, por Domingos Ambrósio

e sua mulher Maria Marques Gouloa. O morgadio de Peroviseu e Chãos surgiu de duas

instituições, uma feita em 1696, no testamento do padre Luís Machado e outra feita por

um sobrinho deste também chamado Luís Machado Freire, em 1725. A administradora

já referida deste último vínculo, Maria Isabel Osório Macedo, nasceu cerca de 1834, foi

filha única de Diogo Dias Preto e de Maria Justina de Macedo Tovar de Vilhena de

Gusmão Mendonça.

O património destes vínculos situava-se essencialmente no concelho de Idanha-

a-Nova e no do Fundão, neste caso em Peroviseu e Donas.

O processo nº 28 corresponde ao registo feito por Simão José de Mascarenhas

Leitão filho e sucessor de José de Mascarenhas Leitão. Tratou-se de dois vínculos

anexados denominados o do Poço e o do Castelo instituídos na Sertã. A primeira

instituição foi feita por Julião António Nunes, por Joana Maria Josefa da Mota Manso,

por Cristóvão Luís Serrão e por Maria da Mota Manso. A segunda instituição deveu-se

250 Vínculos Abelho, processo nº 22 , fl. 1v, ANTT.

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a Manuel Leitão Correia e a Catarina Leitão. Os bens compreendidos nestes dois

vínculos, situavam-se nos concelhos da Sertã, Proença-a-Nova e Oleiros.

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Capítulo II - Morgados e Casas dominantes

Os administradores que procederam aos registos de vínculos em resposta à

legislação de 1860 eram, na sua maior parte, figuras proeminentes na sociedade da

região da Beira-Baixa. A sua importância na política e na economia local transvazou

mesmo algumas vezes para o domínio da política nacional. Um caso que não deixa

margem para dúvidas é o da família Franco à qual se encontra ligado não só o conde de

Penha Garcia mas também João Franco, o ministro de D. Carlos que conduziu de forma

polémica os destinos de Portugal durante alguns anos. Mas outros casos há cujo

envolvimento na política local e nacional se fez com grande intensidade, como

aconteceu com os Vaz Preto ou os Proença Tavares ou mesmo os Giraldes, da Casa da

Graciosa.

Imiscuídos numa complicada rede parental gerida cuidadosamente,

principalmente através de alianças em que o casamento era o instrumento principal, a

maior parte dos morgados da Beira Baixa controlavam a política, a economia e a

sociedade até onde os meios que dispunham o permitia.

A origem do poder destes senhores terratenentes, dificilmente se poderá atribuir

a uma única causa, devendo-se sim a um conjunto de circunstâncias, em que se

imbricam acções conscientemente premeditadas com outras menos conscientes e

dependentes do acaso. A maior parte dos grandes morgados da região são na

generalidade as figuras que dominam as opiniões, que são ouvidas pelas gentes locais e

pelos dirigentes nacionais. Não terá havido no século XIX qualquer decisão importante,

política, económica ou militar, para a Beira Baixa que não tivesse passado pela opinião

ou pela acção de um homem que usasse algum dos seguintes apelidos: Vaz Preto,

Tavares Proença, Giraldes, Franco Frazão, Castelo Branco ou Ordáz Caldeira.

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Analisaremos com algum pormenor o percurso de vida e as relações familiares

de alguns dos indivíduos com vínculos registados, no sentido de compreender as

estratégias consciente ou inconscientemente postas em prática no sentido da

manutenção ou aumento do seu poder. Baseámo-nos essencialmente nas reconstituições

genealógicas e nas indicações recolhidas juntos dos actuais descendentes. Em cada caso

as relações parentais foram seguidas de forma a constatar qual seria o actual

descendente que poderia ser morgado caso a tradição se mantivesse e as práticas

comuns fossem cumpridas.

2.1. A “Casa do Salgueiro” e os seus morgados

São três os administradores que fazem registos de vínculos em resposta à lei de

1860 e que partilham o apelido Frazão. Foram estes: João José de Oliveira Frazão

Castelo Branco que foi o autor do registo número 1; José de Figueiredo Frazão, o

administrador que faz o registo com o número 2; João António Franco Frazão faz o

registo número 14, como administrador de uma capela. Todos eles têm em comum

terem nascido ou descenderem de alguém nascido na Casa do Salgueiro. Esta casa

enquanto edifício situa-se na aldeia do Salgueiro, Concelho do Fundão.

Como já afirmámos anteriormente quando redigimos alguns dados biográficos

sobre os morgados que registam os seus vínculos, os dois primeiros indivíduos são

primos direitos entre si. Enquanto o terceiro, João Franco Frazão é sobrinho de João

José Oliveira Frazão Castelo Branco (pois é filho de uma irmã deste, chamada Emília

Albertina Oliveira Frazão Castelo Branco) e segundo primo de José de Figueiredo

Frazão (neste caso a mãe de João Franco, a já referida Emília, é que é prima direita do

morgado José de Figueiredo Frazão).

João José Oliveira Frazão Castelo Branco é o sucessor e herdeiro da Casa e

morgadio do Salgueiro. Este património entrou na posse da família Frazão Castelo

Branco através do casamento de João de Figueiredo Frazão Castelo Branco, da Covilhã,

com Rosa Madalena Leitão, Senhora da Casa do Salgueiro251, casamento que deverá ter

251 Segundo Armando Sacadura Falcão (Frazões das Beiras, p.243), Rosa Madalena era filha de Manuel Pires

Vaz, familiar do Santo Ofício e Capitão de Ordenanças e de sua mulher Isabel Leitão, ambos do Salgueiro.

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acontecido no início da segunda metade do século XVIII252. Sucedeu na casa o filho

deste casal, João de Oliveira Frazão de Castelo Branco, nascido em 1780 - que

justificou nobreza em 1781 (fidalgo de cota de armas com carta de brasão de 3.11.1789)

- que casou com Maria Angélica Leitoa Elvas Caldeira, de Monsanto, estes foram os

pais, entre outros, do morgado administrador do vínculo da Casa do Salgueiro em 1860

(João José de Oliveira Frazão). No entanto foi o imediato sucessor, João de Oliveira

Frazão Castelo Branco que procede ao registo como procurador de seu pai. Este

imediato sucessor foi, como já afirmámos, bacharel em Direito e uma figura que

desempenhou cargos de grande importância política não só no concelho do Fundão, mas

também em Penalva do Castelo, Covilhã e Belmonte.

José Figueiredo Frazão, o registador do processo número dois, tal como o

morgado que referimos anteriormente, nasceu na casa do Salgueiro, embora

descendente da linha feminina. Era filho de Gervásia de Figueiredo, irmã de João de

Oliveira Frazão Castelo Branco. Esta casou com Gregório José Pedroso, ainda seu

parente (segundo a nossa reconstituição Gregório seria primo cruzado do pai de

Gervásia) e teve o seu filho primogénito também na casa do Salgueiro (onde também

nasceram os filhos de seu irmão). No entanto, este descendente por linha feminina,

apesar de não ser herdeiro e sucessor nesta Casa, vai receber bens vinculados do lado

paterno. O vínculo que regista foi instituído em 1736, por Helena da Cruz, tia do seu

avô paterno, Filipe Pedroso da Cruz casado com Joaquina de Figueiredo Frazão, deste

passou a sucessão para o seu filho Gregório José Pedroso, o pai de José Figueiredo

Frazão.

Este morgado seguiu a vida militar, sendo em 1862 Brigadeiro e acabando por

ser General em 1864, quando devido às reformas militares foi extinto o posto de

brigadeiro. Assumindo uma posição política liberal terá prestado importantes serviços

ao país o que lhe proporcionou diversas condecorações. Recebeu o título de visconde do

Sardoal em 1866. Casou com Ana Jacinta Pimenta de Avelar, natural de Abrantes, de

quem teve José de Figueiredo Pimenta de Avelar Frazão, 2º visconde do Sardoal, que

viria a casar com Maria Natividade Trigueiros Martel, filha de Jerónimo Trigueiros de

Terá recebido a casa do Salgueiro de seu tio Dr. Manuel Leitão que se atendermos ao apelido seria

provavelmente irmão de sua mãe. 252 Sabemos que a primeira filha deste casamento, Gervásia de Figueiredo Leitão Frazão, terá nascido a 27 de

Maio de 1776 (Sacadura Falcão p. 243).

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Aragão e de Isabel Osório de Macedo os administradores que procedem aos registos 26

e 27.

Finalmente, João António Franco Frazão registou uma Capela sob a invocação

de São João Baptista (registo número 14 do Distrito de Castelo Branco). Tratava-se de

uma Capela instituída pelos “reverendos licenciados, João Gonçalves Franco e Manuel

Martins Franco”253, naturais da freguesia da Capinha. A administração deste vínculo

recaiu em José Joaquim Franco e em sua mulher Emília Albertina de Oliveira Frazão,

pais do autor do registo que o faz como procurador daqueles. Também João Franco

Frazão vai ter um papel de notoriedade, não só na política da sua região mas também na

do País. Pois para além de governador civil, vice-presidente e presidente da Junta Geral

do distrito de Castelo Branco foi também presidente da Câmara do Fundão. Veio a

pertencer às duas Casas do Parlamento onde como deputado fez várias intervenções

sobre política geral. Casou com Amélia Capelo da Fonseca Franco e foi pai de dez

filhos entre os quais José Capelo Franco Frazão, conde de Penha Garcia.

A casa do Salgueiro e laços de parentesco explícitos unem estes três administradores de

vínculos que concretizaram o seu registo no início da década de sessenta do século XIX.

O percurso de vida de cada um deles foi naturalmente diverso, mas também aqui são

evidentes as semelhanças. O sucessor da “Casa do Salgueiro” e do seu morgadio, João

José de Oliveira Frazão Castelo Branco, fez do filho primogénito seu procurador com o

objectivo de proceder ao registo do vínculo cuja administração lhe viria a pertencer. Se

não conhecemos muito da formação académica e da actividade política de João José,

sabemos porém que o seu filho (e sucessor) foi, como já dissemos, bacharel em Direito

e uma figura muito activa na política da região. Este último mereceu que José Germano

da Cunha, seu contemporâneo, escrevesse sobre si: “Foi um carácter de antes quebrar

que torcer. (…) Para sustentar direitos que julgava legítimos, não hesitava um momento

em intentar questões judiciais, ainda que fosse com os maiores potentados. Afiançaram-

me que em certa ocasião andava envolvido simultaneamente em dezoito demandas”254.

O seu primo José de Figueiredo Frazão o morgado do processo número dois,

também marcara presença na vida social e política da região. Optando pela vida militar

como já tivemos ocasião de afirmar, teve nesta bastante êxito, principalmente no

253 Processo de registo nº 14, distrito de Castelo Branco, fl.1. 254 Apontamentos para a História do Concelho do Fundão, pp. 242/243.

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148

Genealogia parcial da “Casa do Salgueiro” (+ - 1750-1916)

João de F. Frazão C. Branco Rosa Madalena Leitão

(Casa do Salgueiro)

Gregório José Pedroso Gervásia João de O. Ana Figueiredo Mª A. Leitoa Elvas Caldeira

de Figueiredo Frazão C. B. (Testamento) (1776)

Ana J. P. José Jerónimo Trigueiros Isabel Emília João José de O. Ana Augusta Emília A. de O. José Joaquim

Avelar de Figueiredo Martel Osório Carolina Frazão C.B. Frazão Franco Frazão Aragão da Costa Macedo (1806)

José de F. P. Mª. Nativi. Joaquim Amélia Capelo João António Franco José Jerónimo António

de Avelar Frazão Trigueiros Martel Trigueiros da Fonseca Franco Frazão (1837-1916)

José de F. Mª Nativ. Joaquim Trigueiros

Trigueiros Frazão Trigueiros F. Frazão Frazão de Aragão (1891)

Diag. 1

Legenda:

Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina

Filiação Germanidade Relação de casamento

(autora)

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Foto nº1 – Casa do Salgueiro

Foto nº 2 – Casa em Alcafozes de descendentes da Casa do Salgueiro. É visível a

placa com o nome de Amélia Capelo Franco Frazão que dá nome ao Largo

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combate pelos ideais liberais. A sua personalidade é actualmente descrita por Leonor

Osório de Castro Trigueiros de Aragão, esposa de um dos seus descendentes,

precisamente do seu bisneto, entretanto já falecido, Joaquim Trigueiros Frazão de

Aragão, sucessor no título de conde de Idanha. Leonor Osório de Castro descreve na sua

obra255, o general como um herói na defesa de Portugal dos invasores franceses,

afirmando que. “Na família a memória dos seus feitos no Buçaco e perseguição dos

franceses até Vitória têm passado de geração em geração”256. A presença deste morgado

e militar faz-se sentir, segundo a autora referida, não só na memória familiar mas

também na memória da aldeia em que viveu, contando-se várias histórias onde o

General foi protagonista e que o caracterizam como uma personagem de grande

autoridade como por exemplo quando conta que “apesar de ser boa pessoa, infundia tal

respeito aos seus subordinados que, um dia dando uma ordem em tom forte a um

soldado, este caiu redondo, desmaiado! Por algumas peças de vestuário e um retrato de

família vê-se que era um homem grande, alto, feio, as feições endurecidas”257.

Finalmente a presença na política regional e nacional de João António Franco

Frazão, primo do general, também não passou despercebida na sociedade do seu tempo.

Para além da sua intensa actividade como parlamentar já referida, este morgado, pai do

futuro conde de Penha Garcia, marcou a política regional e a sua presença na terra que o

viu nascer, a Capinha, ainda hoje é recordada. Numa obra recente intitulada Memórias

da Capinha - Uma Aldeia do Concelho do Fundão258, João António Franco Frazão é

recordado pela grande casa que aí construiu “A Quinta do Vale Dourado”; pelo

monumento funerário existente no cemitério local, em memória do seu irmão José

Augusto Franco, falecido com 23 anos e cuja construção promoveu; pela arborização da

Serra da Santinha. Sublinha também o autor que João António Franco Frazão foi um

homem que soube manter relações privilegiadas com os reis D. Carlos e D. Manuel II.

255 Trata-se da obra intitulada Quintãs – Uma Aldeia da Beira Baixa. 256 Ibidem p. 243. 257 Ibidem p.243. 258 Publicada em 1999.

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2.1.1. Alianças matrimoniais e descendência da Casa

As alianças matrimoniais concretizadas pelos três administradores e seus

descendentes terão obedecido a estratégias várias que possivelmente hoje não poderão

ser na sua totalidade reconstituídas, no entanto descreveremos no fundamental as

alianças realizadas pelos três registadores de vínculos ligados à casa do Salgueiro e

pelos seus descendentes mais directos, constatando as suas repercussões na reprodução

dos poderes em jogo.

Analisando a teia genealógica reconstituída, verificamos que o sucessor da Casa

do Salgueiro, João José de Oliveira Frazão Castelo Branco casou com Emília

Carolina Vaz Leitão, natural de Manteigas. Sabemos que esta era filha de Manuel José

Vaz Leitão também de Manteigas e de Maria Saraiva natural de S. Romão (Seia). Tudo

indica que esta aliança se enquadrou nas expectativas reprodutivas da família morgada,

pois na geração seguinte o sucessor do Salgueiro, João de Oliveira Frazão, filho do

anterior administrador, casa com uma prima direita, mais exactamente com Maria

Delfina Saraiva Leitão Ferreira de Castro, filha de Umbelina Cândida Saraiva Vaz

Leitão, uma irmã de sua mãe, Emília Carolina. Tratou-se portanto de uma aliança

consanguínea que reforça os laços já existentes entre as duas famílias.

Na geração seguinte não se repetem alianças entre as famílias anteriores mas

volta a ser marcada por pelo menos mais um casamento consanguíneo, embora não seja

o do varão primogénito. Este último, Albano de Oliveira Frazão Castelo Branco, casou

com Isabel da Câmara de Magalhães, natural de Alvaiázere, mas deste casamento não

houve descendência. Será uma das irmãs de Albano, Maria Umbelina Frazão Castelo

Branco que terá filhos que darão continuidade a esta linha familiar da casa do Salgueiro.

Maria Umbelina casou com um primo cruzado, João António Crespo Frazão Castelo

Branco. Este era filho de Maria Libânia Saraiva Frazão Castelo Branco, irmã do pai de

Maria Umbelina (João de Oliveira Frazão Castelo Branco). Deste último casal (Maria

Umbelina e João António) nasceram pelo menos quatro filhos que foram: Maria do Céu

Crespo Frazão Castelo Branco, nascida em 1891; Raul Crespo Frazão Castelo Branco,

nascido em 1892 em Idanha-a-nova e falecido em Penamacor em 1979; Américo (do

qual nada sabemos); Maria de Castro Frazão Castelo Branco, nascida em 1896. O varão

primogénito Raul Crespo que casará com Maria José Cunha Leal Frias Delgado, sendo

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pais de Albano da Cunha Leal Frazão Castelo Branco que por sua vez casará com Maria

Luísa Estela Garcia de Figueiredo. No entanto não será Raul o sobrinho escolhido por

Albano de Oliveira para herdar os seus bens. Segundo um dos descendentes actuais a

esposa de Raul pertencia a uma família, os “Cunha Leal”, com fama de vender os bens

que integravam o património familiar provenientes dos aliados, pelo que Albano fez seu

herdeiro um dos filhos da sobrinha Maria de Castro, o seu sobrinho neto e também

afilhado Nuno Franco Frazão. A “Casa do Salgueiro” e outro património de Albano de

Oliveira ficariam assim dentro de um ramo familiar que ele considerou mais seguro.

Nuno Franco Frazão é filho de Maria de Castro Crespo Frazão de Castelo Branco e de

João Capelo da Fonseca Franco Frazão. Maria de Castro era filha de Maria Umbelina e

de João António Crespo Frazão ambos sobrinhos de Albano Castelo Branco. Era

igualmente, Maria de Castro irmã de Raul Crespo. No entanto esta senhora, ao contrário

do seu irmão que concretizou uma aliança fora da rede parental, fez um casamento

dentro da área parental, ao casar com um irmão do conde de Penha Garcia, voltando

assim a unir linhadas directas dos morgados do registo nº1, João José de Oliveira

Castelo Branco, com o do registo nº 14, João António de Oliveira Franco Frazão. Na

verdade, Maria de Castro é bisneta, por parte da mãe e do pai, do primeiro e o seu

marido, João Capelo, é filho do segundo. Provavelmente não foi alheio a esta reforçada

e endogâmica relação parental, o facto de a casa do Salgueiro ter sido legada a um

descendente deste casamento. Este edifício que foi construído com frontaria voltada

para um largo na aldeia do Salgueiro exibe hoje uma placa com o nome de Dr. Albano,

que dá o nome ao largo, relembrando aquele que terá sido o último senhor a viver nesta

Casa, actualmente desocupada.

Ao observarmos os elementos genealógicos de José de Figueiredo Frazão

(autor do processo número dois) que como já dissemos enveredou pela vida militar onde

obteve inúmeros êxitos, começamos por verificar que casou tardiamente, ou seja com 61

anos. Foi sua esposa Ana Jacinta Pimenta de Avelar, natural de Abrantes e ainda menor

em 1856, ano do referido casamento. O Brigadeiro José de Figueiredo era na altura

comandante do Regimento de Infantaria nº 11 estacionado em Abrantes. Tratou-se de

um casamento antecedido por uma escritura antenupcial onde os direitos da noiva são

muito defendidos. Leonor Trigueiros de Aragão viúva de um bisneto do então

Brigadeiro, na obra que escreveu e a que já nos referimos, defende que estes interesses

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foram desta forma defendidos por a noiva ser mais abastada que o noivo, mas

acrescenta “o noivo tinha para além dos seus bens, uma posição de prestígio: era

Brigadeiro e comandante do 11º Regimento de Infantaria, o que deve ter justificado um

casamento com uma diferença de idades tão notória: ela menor, ele com 61 anos”259.

Na verdade, apesar de não termos elementos para comparar o património de cada

um dos noivos, apercebemo-nos pelas matrizes constantes do processo de registo do

morgadio feito por José Frazão que os seus bens vinculados eram razoáveis e a estes

que recebeu pelo lado do seu pai, terá naturalmente junto outros bens entre os quais os

que recebeu de sua mãe. Do lado materno terá herdado uma casa secundária da família

situada na aldeia contígua à do Salgueiro, chamada Quintãs, a qual terá sido muito

habitada não só pelo Brigadeiro, mas também pelos descendentes que a terão

reconstruído no início do século XX. A vida deste militar e visconde do Sardoal foi

repartida entre Abrantes, Covilhã e a casa de família em Quintãs.

O bom relacionamento do Brigadeiro com a esposa e a sua família transparece

no seu testamento feito em 1868, não só porque põe fim a algumas restrições

relativamente à separação dos seus bens dos da mulher, mas também porque nomeia, na

falta daquela, tutor do seu único filho e ainda menor, o cunhado Joaquim Pimenta de

Avelar e para sub-tutor também um irmão da mulher, neste caso José Pimenta260. Nesta

altura o prestígio deste morgado e militar já tinha sido reforçado com o título de

visconde do Sardoal que lhe foi atribuído em 17 de Abril de 1866 pelo rei D. Luís.

Chamou-se o filho do 1º visconde do Sardoal, José de Figueiredo Pimenta de

Avelar Frazão. Este casou com Maria da Natividade Trigueiros Martel, uma filha do 1º

conde de Idanha-a-nova, Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel da Costa casado com

Isabel Osório Macedo, precisamente os registadores dos morgadios da Idanha e de

Peroviseu e Chãos que deram origem aos processos números 26 e 27. A aliança com os

Trigueiros de Aragão será repetida quando uma filha de José de Figueiredo e de Maria

Natividade, também chamada como a sua mãe Maria Natividade (Trigueiros Figueiredo

Frazão) casa com o primo Joaquim Trigueiros de Aragão. Este era filho de Joaquim

Trigueiros de Aragão, 2º conde de Idanha (na família), (irmão de Maria Natividade

Trigueiros Martel) e de Maria Angélica Torres Coelho.

259 Quintãs, Uma Aldeia da Beira Baixa. 260 Testamento transcrito em Quintãs - Uma Aldeia da Beira Baixa, pp. 287/289.

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O filho varão primogénito de José de Figueiredo Pimenta Avelar, chamado José

de Figueiredo Trigueiros Frazão casou fora da rede parental, concretizando uma aliança

com Maria Madalena de Ataíde de Abreu Castelo Branco, filha do conselheiro Dr. Lopo

de Abreu Castelo Branco Cardoso e Melo e de Henriqueta Júlia Cabral de Ataíde

Mascarenhas e neta do 2º conde de Fornos de Algodres. Aparentemente uma aliança

exogâmica não só a nível parental mas também geográfico.

Destes foi filha única Maria Madalena de Abreu Castelo Branco Trigueiros

Frazão que casou em Fornos de Algodres em 1945 com o Dr. José Maria da Costa

Pereira Pacheco de Sacadura Bote, médico261, nascido em 1898 em Seia e filho de João

Pacheco Sacadura Bote, magistrado e senhor da “Casa da Bica”, em Seia e de sua

mulher Maria Ascensão Mendes Oliva.

Maria Madalena teve do seu casamento três filhos: João de Azevedo Pacheco de

Sacadura Bote, José Maria de Sacadura Bote e Maria Madalena Frazão de Sacadura

Bote. Seria o primogénito desta fratria o sucessor legítimo do morgadio registado pelo

Brigadeiro e 1º visconde do Sardoal, caso actualmente a instituição se mantivesse.

Finalmente observamos a reconstituição genealógica a partir de João António

Franco Frazão o registador de uma capela (processo número catorze) que recebeu de

seu pai José Joaquim Franco, capitão de milícias de Idanha.

Este administrador de vínculo era como já se teve ocasião de explicar, filho de

Emília Albertina de Oliveira Frazão, uma irmã de João José, o primeiro morgado desta

parentela a fazer o registo. É também primo em segundo grau de José de Figueiredo (do

qual sua mãe é prima direita), o segundo morgado de que temos vindo a falar.

João António casa, em 1868, com Amélia Capelo da Fonseca que terá nascido

em S. Miguel d’Acha em 1849, filha de José António da Cruz Capelo, bacharel em leis,

e de Rosa Benedicta do Carmo Fonseca. Deste casamento nasceram vários filhos cujos

casamentos representam alianças significativas com outras parentelas da região. Estas

alianças associadas ao peso político que a nível nacional alcançarão o filho José Capelo

Franco Frazão, conde de Penha Garcia e o primo João Franco – este era neto paterno de

Antónia Emília Franco da Costa Fonseca, irmã de José Joaquim Franco - entre outros

261 Este além de uma notável carreira como médico, foi também deputado à Assembleia Nacional, Conf. NPB,

vol. III, p. 361.

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parentes, fará com que os Francos Frazões, nesta geração, aumentem o seu poder

político, económico e social na região.

Começando por aquela que terá sido a filha primogénita de João António, a que

foi dado o nome de Maria Belarmina Capelo Franco Frazão, nascida em 1869, sabemos

ter casado com José Pinto Tavares Osório de Castelo Branco, nascido em 1875, tendo

sido pais de António Pinto Franco Tavares Osório, nascido em 1898 e falecido na

Capinha em 1967 e que veio a ser presidente da Câmara do Fundão e de Castelo

Branco.

O segundo filho, portanto o varão primogénito, foi José Capelo Franco Frazão,

que virá a ser conde de Penha Garcia, figura de incontornável peso político na sua

época, casou com Eugénia Maria Valdez Penalva. Esta senhora era filha dos viscondes e

condes de Penalva de Alva, que foram José Rodrigues Penalva, nascido em 1811, na

Covilhã e que veio a adquirir grande fortuna no Brasil acabando por obter o foro de

fidalgo cavaleiro da Casa Real, e sua mulher, com quem casou em 1875, Eugénia

Henriqueta Alves Valdez, filha primogénita dos 2ºs condes do Bonfim.

Uma outra filha, Maria Júlia Capelo Franco Frazão, nascida em 1880, casou com

Augusto Pedro de Figueiredo Falcão, sendo este ainda da família ou seja um primo em

terceiro grau, já que o bisavô paterno de Maria Júlia era irmão da bisavó materna de

Augusto. Foram pais de João Carlos Costa Falcão Franco Frazão que foi 2º visconde do

Alcaide.

Também Benedita do Carmo Capelo Fonseca Franco Frazão, outra filha, casou

com um homem de famílias dominantes na região, José Luciano da Fonseca Castelo

Branco. Foram pais de Maria Emília Franco da Fonseca Castelo Branco que por sua vez

veio a casar-se com António Pinto Franco Tavares Osório de Castelo Branco, seu

primo, o filho da irmã da sua mãe, Maria Belarmina, a que já nos referimos.

Interessante também a aliança realizada por um outro filho de João António,

neste caso João Capelo da Fonseca Franco Frazão que veio a casar com Maria de Castro

Crespo Frazão filha de dois netos (portanto primos entre si) do morgado do processo

número um ou seja de João José de Oliveira Frazão Castelo Branco.

Por fim, referimos a aliança realizada pelo filho mais novo de João António

Franco Frazão, chamado Bartolomeu Franco Frazão que casou com Maria Adelaide da

Fonseca Ribeiro Martins, herdeira dos títulos de viscondessa de Portalegre e de Castelo

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Branco. Os membros deste casal fazem parte de uma parentela que se desenvolveu a

partir de um casal que viveu no século XVI, Leonor Lopes Frazão e Marcos Gil,

separados destes por quinze gerações, possivelmente contraíram esta aliança

inconscientes deste facto. No entanto mais consciente e de um carácter endogâmico

mais forte foi o casamento de uma filha de Bartolomeu e de Maria Adelaide, Mariana

Eugénia da Fonseca Ribeiro Martins Franco Frazão com o seu primo Alberto Carlos de

Figueiredo Franco Falcão irmão do 2º visconde do Alcaide, a que já nos referimos. Por

consequência filho da irmã de Bartolomeu, Maria Júlia Capelo Franco Frazão.

Voltando à descendência do primogénito de João António Franco Frazão,

precisamente o conde de Penha Garcia que deveria ser o seu sucessor na administração

do vínculo, se a legislação o continuasse a permitir, sabemos ter tido três filhos do seu

casamento com Eugénia Valdez Penalva. Destes foi primogénito, José Penalva Franco

Frazão que casou com Maria Francisca de Assis Castro pertencente à família dos condes

de Nova Goa, deste casamento não haverá descendência pelo que a continuação da

linhagem se fará pelo casamento do irmão do anterior, João Valdez Penalva com Nezy

Schwytzer. Deste casal foi filho João José Gustavo Franco Frazão que veio a casar com

Maria João Rémus Trigueiros de Martel, 4º condessa de Castelo Branco, que por sua

vez foram pais de João Filipe de Martel Franco Frazão, nascido em Lisboa em 1966 e

que herdou o título de 5º conde de Castelo Branco.

2.1.2. Uma parentela fortemente endogâmica

Das várias reconstituições genealógicas que fizemos as que envolvem as

parentelas ligadas à casa do Salgueiro foram as que registaram maior taxa de

casamentos endogâmicos, a nível familiar e por consequência também a nível

geográfico, sendo muito frequentes os casamentos, principalmente, entre primos.

Nas gerações que se seguiram à dos morgados registadores de vínculos,

principalmente nas 2ªs 3ªs gerações, os casamentos entre parentes vão acontecer com

uma certa frequência. Das vinte alianças que descrevemos neste texto, nove são

endogâmicas. O que significa uma percentagem de quase cinquenta por cento. Não terá

sido na verdade tão elevada, já que não contabilizámos todas as alianças possíveis, no

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entanto a taxa de endogamia é manifestamente elevada. Poderemos pensar que terá

pesado nesta concentração de alianças entre parentes, uma tentativa de contrabalançar a

divisão do património familiar que a extinção do morgadio vem permitir.

Por testemunhos de descendentes actuais, sabemos de casamentos contrariados e

outros forçados no sentido de evitar a entrada de estranhos na família. Precisamente o

casamento de Maria de Castro (1896/1978) com o seu primo João Capelo Franco Frazão

(1887/1930) - os pais de Nuno Castro que virá a herdar a Casa do Salgueiro do seu tio

avô - teria sido forçado. João que estudou na Itália onde obteve o grau de doutor em

Agronomia no Real Instituto Superior Agrícola de Perugia, ter-se-á apaixonado por uma

italiana e terá pretendido casar-se, mas essa aliança nunca foi permitida e em nome dos

interesses da família foi concretizado, em 1917, o casamento com a prima. Um outro

testemunho familiar faz a seguinte observação sobre os casamentos realizados na

família neste período, ou seja no século XIX princípio do XX: “Num outro capítulo

fundamental, o das alianças matrimoniais, saíram-se igualmente bem os Avós.

Consciente ou não, vão seguir neste capítulo a política adoptada pelos barões do

constitucionalismo de estabelecer pelos casamentos dos filhos uma teia de relações o

mais diversificado possível. E com uma descendência tão numerosa os resultados

podem considerar-se brilhantes.

Em termos espaciais esta política permitiu cobrir uma área extensa da Beira com

Casas de família que se impõem sobre as próprias designações geográfico-industriais”

262.

Neste sentido, é apresentado um mapa da região onde se encontram distribuídas

as casas pertencentes a parentes, que faz parte do opúsculo distribuído num encontro de

família realizado em 1987, de onde foram, aliás, retiradas as palavras que acabámos de

citar. No sentido de atenuar o peso negativo que hoje poderão ter estas práticas de

casamentos forçados, acrescenta ainda esta descendente:

“Tal política de casamentos não pressupunha um propósito e sobrepor-se às

circunstâncias concretas e, tanto assim, que não foi viabilizado no caso do tio Joaquim

um projecto brilhante de aliança com a filha de uma das principais famílias do distrito

mas que apresentava inconvenientes de ordem pessoal. Pelo contrário, os casamentos da

262 Texto de Maria Benedita Duque Vieira, gentilmente cedido por João Franco Frazão.

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família são de molde a permitirem a apologia da escolha criteriosa e sensata feita pelo

clã. O sistema só deixava de funcionar quando se interpunham imponderáveis exteriores

contra os quais não havia defesas internas à altura. Em condições normais tudo rodava

sem o menor atrito e, na generalidade dos casos, com resultados espectaculares”.

Conta ainda, a autora deste texto, um episódio que terá acontecido quando se

combinou e concretizou o casamento de Benedita do Carmo Capelo Franco Frazão (uma

irmã de Penha Garcia e filha do morgado do processo 14), com o primo José Luciano da

Fonseca Castelo Branco, este casamento, apesar de não termos dados precisos, virá

reforçar a aliança com os Capelos Fonseca. De facto, Bartolomeu Capelo, ou melhor

Bartolomeu Cruz Capelo, o “negociador” deste casamento era o irmão mais novo de

José António da Cruz Capelo, pai de Amélia Capelo da Fonseca (a esposa do morgado

João António Franco Frazão) e a aliança deverá ser realizada com um parente do lado

da mãe de Amélia. Bartolomeu Capelo terá sido uma figura com alguma influência

familiar vinda, neste caso, de fora. É ele que propõe a aliança de Benedita com José

Luciano, em 1894, como também é padrinho de duas filhas de Amélia Capelo e de João

Franco Frazão. O seu nome, Bartolomeu, é dado ao filho mais novo de João Franco

Frazão, nascido em 1893. Na família recorda-se assim a combinação deste casamento

entre a jovem Benedita e José Luciano:

“A minha Avó contava que, tendo os tios de Alcafozes acordado na

conveniência de um casamento com o primo José Luciano da Fonseca Castel-Branco,

lhe fora perguntado nas férias dos seus quinze anos se estava disposta a isso. Como a

ameaça era diferida, a resposta foi positiva. Quando no Verão seguinte lhe disseram que

chegara a altura aí veio a recusa. Então o tio Bartolomeu Capelo impôs-se. – ‘Eu nunca

faltei com a palavra a ninguém e não é agora uma macaca como tu que me vais obrigá-

lo a fazê-lo’. E o caso ficou resolvido. Casada aos 16 anos tendo o Avô 25, instala-se na

casa da família da Povoa onde viviam os sogros e alguns tios. Se aparecia com ar triste

imediatamente as suspeitas se viravam contra o Avô – ‘Ó José o que é que fizeste à

menina’ e ao longo de uma vida que permitiu a celebração de bodas de ouro, as

demonstrações concretas de ternura multiplicavam-se”263.

263 Franco Frazão (1837- 1987), História e Tradição Oral, de Benedicta Maria Duque Vieira, documento

gentilmente cedido por João José Franco Frazão.

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Outras alianças são referidas como por exemplo a por nós já citada, entre dois

ramos familiares politicamente opostos em que foram envolvidos o casal Maria

Belarmina Capelo Franco Frazão (irmã mais velha de Penha Garcia e filha do Morgado

João António Franco Frazão) e José Pinto Tavares Osório de Castelo Branco. Este

casamento merece a seguinte reflexão da actual descendente cujo testemunho temos

vindo a acompanhar: “Dois meses depois do casamento da Póvoa [o anteriormente

referido] celebrava-se o casamento da tia Belarmina com o tio José Pinto Castello-

Branco. À versão romanesca de uma ‘inclinação’ de dois jovens de famílias desavindas

parece poder contrapor-se a mais realista de um plano, agora dos tios da Capinha de

aproximarem duas famílias já ligadas por laços de parentesco que os acasos da política e

dos interesses materiais tinham afastado”264.

Assim, os casamentos endogâmicos servindo estratégias muito concretas são

hoje reconhecidos pelos descendentes desta forte e enorme parentela que como já se

disse têm, ainda hoje, uma forte ligação à região, embora na sua maioria esteja radicada

fora da Beira Baixa. No caso concreto deste testemunho, escrito em 1987, por uma

descendente, a endogamia é considerada uma mais valia, responsável pela implantação

que a família ainda hoje tem na Beira Baixa. Como se disse, existe aquilo que os

descendentes chamam um mapa mental da família onde são referidas todas as Casas

desta vasta parentela e os nomes dos diversos ramos e áreas de influência.

2.2. A “Casa do barão de Castelo Novo”

Foram os registos nº 5 e 29 efectuados por Pedro de Ordaz Caldeira Valadares

sendo este neto do 1º barão de Castelo Novo, João de Ordaz e Queirós, nascido em 1729

e falecido em 1804. Estes processos abrangem bens que como já tivemos oportunidade

de referir, foram vinculados pelo 1º barão e bens que terão sido, eventualmente,

vinculados por outros, entre os quais António Rodrigues Mourinho265 e nos quais

sucedeu o administrador que procede ao registo.

264 Ibidem. 265 Trata-se de bens situados no Concelho de Castelo de Vide. Conf. Vínculos Abelho, Castelo Branco, Proc. nº

29, fl. 11v.

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160

São bastante diferentes as formas como são apresentadas as instituições dos

morgadios dos Ordaz Queirós. No primeiro processo (nº5) a instituição é perfeitamente

clara, pois tratou-se de uma instituição em testamento feita em favor da filha

(legitimada) do barão e do seu sobrinho e genro (filho de uma irmã do barão e

entretanto casado com a filha deste). No segundo caso (processo nº 29) argumenta-se

que se perderam as instituições e apresentam-se testemunhas que justificam a existência

do vínculo há inúmeros anos. Este é um dos casos que nos suscita algumas dúvidas

relativamente ao facto de todas as propriedades terem sido desde tempos remotos

vinculadas, tal como se pretende fazer crer. No processo de justificação são

apresentados testemunhas que tudo indica fazerem parte de um círculo de relações

próximas de Pedro Valadares como é o caso do administrador da sua casa, João dos

Santos da Fonseca ou Diogo da Silva Castelo Branco, tenente-coronel, morgado do

distrito que também regista o seu vínculo através do processo de justificação266 ou ainda

Agostinho José Fevereiro, rico proprietário da região e também conhecido pela sua

ideologia miguelista tal como Pedro Valadares.

2.2.1. Engrandecimento da Casa: um casamento, um morgadio

Como acabámos de explicar é a instituição a que se refere o processo número

cinco que nos surge explícita, já que do processo número 29 se declara a perca dos

documentos relativos às instituições dos morgadios a registar.

Assim, da leitura do primeiro processo parece-nos claro que a intenção de

instituir um morgadio no seu testamento terá feito parte da estratégia do 1º barão de

Castelo Novo de fortalecimento da sua casa. A este facto também não será alheio o

casamento da sua única filha.

O 1º barão de Castelo Novo, João de Ordaz Queirós, filho do Coronel e

Sargento-mor de Castelo Novo, Francisco de Ordaz e Queirós e de Isabel Joana Robalo

Delgado, natural de Castelo Branco, casou com Maria Josefa Quitéria de Salazar e Melo

Jordão, mas não teve filhos deste casamento. Teve, porém, o barão uma filha fora do

266 Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc. nº 11.

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casamento que veio a legitimar. Tratou-se de Isabel Angélica de Meneses Ordaz

Queirós, nascida em 1778 e legitimada em 10 de Junho de 1803. Esta senhora veio a

casar em 24 de Agosto de 1803 com o seu primo, José Caldeira de Ordaz Queirós. Este

era filho da irmã do barão, Joana Teresa de Meneses de Ordaz e Vasconcelos casada

com Joaquim José Caldeira de Valadares Castelo Branco de Madureira Frazão.

Tendo falecido o 1º barão em Janeiro de 1804, no seu último ano de vida as suas

acções parecem directamente dirigidas para o engrandecimento da sua casa. De facto,

no fim da sua vida legitimou a única filha que tinha, assistiu ao casamento desta com o

seu sobrinho varão primogénito - casamento de tal forma favorável à continuação e ao

fortalecimento da casa do Barão que é difícil acreditar que a sua influência não

estivesse na origem do enlace – e finalmente institui já no mês e ano do seu falecimento,

um morgadio cuja administração deixa à filha e ao sobrinho, já então casados.

A estratégia do barão foi, a curto e a médio prazo, coroada de êxito. O sobrinho

e genro, José Caldeira de Ordaz Queirós, nascido em 1774 e falecido em 1851, 2º barão

de Castelo Novo por carta régia de 20-2-1804, foi uma personalidade que deu

continuidade e aumentou a Casa de João de Ordaz Queirós. Segundo escreve Joaquim

Candeias da Silva, acerca do 2º barão: “Em 1800 era ainda solteiro, fidalgo da Casa

Real, capitão de cavalos, de boa vida e costumes, com bens de raiz calculados em 150

mil cruzados, e já tinha sido vereador da Câmara de Castelo Branco durante vários

mandatos; mas rapidamente chegaria a coronel do batalhão de voluntários de

Penamacor, comendador e alcaide-mor da vila de Segura”267. Nasceram do casamento

do 2º barão com Isabel Angélica pelo menos quatro filhos: Joaquim que terá falecido

solteiro; Pedro de Ordaz Caldeira Valadares, sucessor na administração da Casa; Frei

João de Ordaz Caldeira Valadares e Maria Guilhermina de Ordaz Caldeira.

Foi Pedro de Ordaz Caldeira Valadares que fez os registos vinculares que deram

origem aos dois processos no distrito de Castelo Branco. Este morgado foi uma

personagem muito activa na política da região, principalmente nos anos conturbados

que antecederam a Regeneração. As suas posições absolutistas que o levaram mesmo a

recusar dar continuidade ao título que teria direito a receber de seu pai, não o

impediram, porém, de colaborar com a política do regime liberal.

267 Concelho do Fundão - História e Arte, p. 165.

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Genealogia parcial da “Casa Barão de Castelo Novo” (1792-1912)

Joaquim José Caldeira Joana Teresa de Meneses João d´Ordaz Queirós

Costa Valadares d´Ordaz e Vasconcelos (1º barão de C.Novo)

(1792-1804)

Ana Josefa Pedro Caldeira

Caldeira d´Ordaz d´Ordaz

José Caldeira Isabel Angélica

d´ Ordaz e Queirós de Menezes d´Ordaz

(2º barão de C. Novo)

Mª Benedita Pedro d´Ordaz Joaquim d´Ordaz

Pais de Sande e Castro Caldeira Valadares (Frade)

Francisco Mª Leonor José Caldeira d´Ordaz

António Lucas d´Ordaz Queirós de Valadares

Pedro d´Ordaz Francisco Mª Piedade Mª José

Caldeira Lucas Caldeira d´Ordaz Q. V. Caldeira d´Ordaz Q. V.

(1877-1912)

Diag. 2

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina

Filiação Germanidade Relação de casamento (autora)

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Foto nº 3 – Casa do barão de Castelo Novo em Castelo Braga

Foto nº4 – Pormenor do brasão do barão de Castelo Novo

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164

Casou com Maria Benedita de Sande e Castro, nascida em S. João da Pesqueira

em 1824 e falecida em Castelo Branco em 1899. Era esta senhora filha de Manuel Pais

de Sande e Castro, fidalgo da Casa Real e Senhor da “Casa do Cabo” em São João da

Pesqueira, e de Maria do Resgate Correia de Sá. Do casamento deste administrador de

morgadio, temos notícia do nascimento de sete filhos: Maria Leonor de Ordaz, Maria

Angélica de Ordaz, Maria da Piedade, Maria Guilhermina, Manuel Caldeira de Ordaz,

José Caldeira de Ordaz e Joaquim Caldeira de Ordaz.

Segundo as informações que obtivemos só a filha mais velha, Maria Leonor,

nascida em 1845, terá casado e tido descendência legitima. Esta casou com Francisco

António Lucas, nascido em Alcains em 1854, e deste casamento nasceram: Pedro de

Ordaz Caldeira Lucas em 1877 e Francisco de Ordaz Caldeira Lucas, nascido em 1881.

Pedro, como primogénito, será o representante do título de barão de Castelo Novo

recebido do seu tio José Caldeira de Ordaz Queirós Valadares. No entanto apesar de não

se ter casado José Valadares teve duas filhas, Maria Piedade Caldeira de Ordaz Queirós

Valadares e Maria José. Estas foram reconhecidas, após a morte do pai, pelas suas tias e

herdaram destas. Assim, vão dar continuidade a esta parentela uma via legitima a partir

de Maria Leonor e outras duas que têm na origem as duas filhas legitimadas do irmão

de Leonor, representante do título. Relativamente à linha familiar representante do

título, seguindo-a até à actualidade, pela primogenitura, constatamos que o filho de

Leonor já referido, Pedro de Ordaz Caldeira Lucas casou em 1900 com Eloidia

Patronilha de Sá Viana Conte. Deste casamento sabemos terem nascido três filhos,

sendo o primogénito Pedro Conte Caldeira de Ordaz, nascido em Castelo Branco em

1906. Este casou com Maria Eugénia Cruz Tavares, nascendo deste casamento também

três filhos dos quais o primogénito é Pedro Tavares Caldeira de Ordaz que nasceu em

1935, em Lisboa. Seria este o representante do titulo e o morgado caso a legislação se

mantivesse.

2.3. A “Casa da Graciosa” e o morgadio dos Giraldes

O registo feito neste distrito pelo representante desta Casa, Fernando Afonso

Giraldes de Melo Sampaio, nesta data 1ºvisconde, 1ºconde e mais tarde 1º marquês da

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Graciosa, corresponde ao processo nº 3. No entanto na Torre do Tombo existe

igualmente a cópia de um processo de registo feito em Lisboa, precisamente o processo

número 6 deste distrito que corresponde ao “Vínculo instituído em 11 de Junho de 1789,

por Bartolomeu José Nunes Cardoso Giraldes de Andrade e anexado ao Vínculo

instituído por Afonso Giraldes em data desconhecida, ambos em Lisboa, de que foi

último administrador, o conde da Graciosa”268.

Sabemos também, pela grande obra de carácter genealógico escrita por Luís

Bívar Guerra, intitulada precisamente “A Casa da Graciosa”, que Fernando Afonso

Giraldes de Melo Sampaio, terá procedido no Governo Civil da Guarda ao registo de

vários morgadios269, não existindo porém cópias no Arquivo da Torre do Tombo. Como

não existe, aliás, qualquer cópia de processos feitos naquele Governo Civil.

2.3.1. Instituição e administração do morgadio dos Giraldes

Tudo indica que a origem deste morgadio se encontra na instituição feita em

1448 por Afonso Giraldes em favor de seu filho Giral Nunes Giraldes. Relativamente à

data da instituição Luís Bívar Guerra considera a de 1458, tendo como base a inscrição

numa lápide que se encontra na Casa sede deste morgadio, situada em Idanha-a-Nova,

no entanto um dos documentos que faz parte do processo de registo é taxativo na

apresentação da data de 1448 como a da 1ª instituição.

Passou este morgadio, sem qualquer desvio pelos primogénitos de cada

administrador, até à sexta geração, a partir da qual se dá um corte, por falta de

descendência, passando para um quinto neto do instituidor, mas representante de outra

linhada. Foram, assim, seus administradores depois do primeiro, Giral Nunes Giraldes:

João Nunes Giraldes, António Nunes Giraldes, Bartolomeu Nunes Giraldes, Domingos

Marques Giraldes, Francisco Marques Giraldes e Pedro Sousa Refóios. Terá sido com

este 7º administrador que a continuidade foi quebrada. Tendo este último casado com

Catarina Marques Giraldes, ainda sua parente – o avô materno dela era irmão do avô

paterno dele - não houve filhos do casamento, passando o morgadio para a irmã de

268 Vínculos Portugueses, Alfredo Pimenta, p.33; 269 Conf. no capítulo III, da referida obra.

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Pedro Sousa Refóios, Perpétua de Sousa Refóios que também por falta de descendência

não lhe deu continuidade nesta linha. Passou assim a sucessão para Fernando Afonso

Giraldes primo de Catarina Marques Giraldes e também de seu marido Pedro de Sousa

Refóios.

Saliente-se que o morgadio recebido por este último administrador tinha vindo a

ser aumentado ao longo dos tempos. Luís Bívar Guerra refere precisamente as

anexações que teriam sido feitas pelo seu 5º administrador desta forma:

“Domingos Marques Giraldes achou, e com lógica, que todos esses bens

andando afastados de um todo, estariam em risco de se pulverizarem, por partilhas, em

poucas gerações e com uma compreensão exacta do que era o verdadeiro espírito da lei

dos morgados, reuniu-os ao Morgado dos Giraldes, no ano de 1611, como nos informa

com clareza a segunda parte da lápide da casa solarenga de Idanha-a-Nova que ele

mandou acrescentar”270.

O aumento do valor patrimonial do vínculo foi conseguido pelas anexações, às

quais não terá sido alheia, certamente, uma política de alianças matrimoniais

preferenciais. Durante o século XVII os casamentos feitos pelos administradores do

vínculo e seus parentes mais próximos caracterizaram-se por uma forte endogamia. Por

exemplo na geração do administrador acima referido, Domingos Marques Giraldes,

constata-se que este e seu irmão Marçal Nunes Giraldes têm esposas também irmãs

entre si, respectivamente Catarina Nunes Giraldes e Brites Giraldes, as quais se

tivermos em consideração os seus apelidos já deviam descender de alianças entre os

ascendentes dos dois casais.

270 A Casa da Graciosa, p. 440.

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Genealogia parcial da “Casa da Graciosa” (C. 1750 - 1924)

Bartolomeu José Inês Vera

Nunes Cardoso Braba de Menezes

Giraldes de Andrade

Manuel Vaz Mª José Fernando Afonso Mª Joana das Dores

Nunes Preto Barba Giraldes de Andrade de Melo Sampaio

Giraldes de Andarde Menezes e Menezes Figueiredo Bourbon

(Casa da Lousa) (+ - 1770)

João José Fernando Afonso Mª José

Vaz Preto Giraldes de Melo Leitão Pinto

Giraldes Sampaio Albuquerque

(Visconde, Conde e Marquês) (Casa da Borralha)

Francisco Augusto Mª Joana Francisco Fernando Afonso

Furtado de Mesquita de Bourbon M. G. de Melo Giraldes

Paiva Pinto Sampaio Pereira Sampaio Bourbon

Filipe Osório Mª de Melo Francisco

De Menezes Pita Furtado Caldeira Furtado de Melo

Conde de Proença-à Velha) Giraldes Bourbon Mesquita Giraldes

de Paiava Pinto

Mª Teresa da Franca João Filipe de M. O. de M. Pita

Horta Machado (4º Marquês da Graciosa)

Fernando Afonso de M. S. Pereira de F.

(5º Marquês da Graciosa) (1924)

Diag. 3

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina

Filiação Germanidade Casamento (Autora)

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Foto nº 5 - Casa dos marqueses da Graciosa em Idanha-a-Nova

Foto nº 6 - Vista lateral da casa dos marqueses da Graciosa em Idanha-a-Nova

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Terminada a linha primogénita do instituidor, a continuidade é retomada a partir do

licenciado Fernando Afonso Giraldes. Este é filho de um casal também primos entre si,

Bartolomeu Nunes Cardoso Giraldes e Catarina Afonso Giraldes. Esta tendência

endogâmica terá contribuído para um notório aumento patrimonial e um natural reforço

da importância económica e social do morgadio e da família.

Fernando Afonso para além da sucessão no morgadio do seu primo Sousa

Refóios, sucedeu a seu pai e ao seu tio (irmão do pai), Manuel Marques Giraldes, prior

na freguesia das Donas e que deixou uma genealogia da família, manuscrito que

segundo Bívar Guerra se encontra no arquivo da Casa da Graciosa.

A dimensão do morgadio continuou a aumentar na geração seguinte, durante a

administração de Bartolomeu Nunes Cardoso Giraldes, filho de Fernando Afonso

Giraldes e portanto 10º administrador do morgadio. Recaiu neste administrador o direito

na herança dos bens de seu irmão Fernando Afonso Giraldes que apenas teve uma filha

que morreu criança e também de uma tia, irmã de seu pai, Leonor Giraldes. Com os

seus bens livres e conjuntamente com sua mulher, Catarina Nunes Moucho, instituiu

também um morgadio.

Foi sucessor de Bartolomeu o seu primogénito, Fernando Afonso Giraldes que

veio a casar com Brites Maria Andrade e Couto, uma prima paralela, ou seja com uma

filha de uma irmã de sua mãe. Brites foi administradora do morgado da Tapada do

Alardo sucedendo a seu pai e ainda, pela conjugação de diversas circunstâncias,

administradora de pelo menos mais sete morgadios, dos quais nos dá notícia Luís Bívar

Guerra na obra A Casa da Graciosa271.

É precisamente uma escritura feita por Brites Maria de Andrade, no ano de 1760,

o primeiro documento que é apresentado no processo de registo do vínculo que temos

vindo a tratar. Trata-se de “escritura de contrato de transacção amigável, composição e

partilhas entre maiores, pagamento de legítimas, renunciação e instituição de vínculo e

doação irrevogável causa dotis (…)”272.

Neste documento, Brites Maria - na altura já viúva de Fernando Afonso Giraldes

- e dez dos seus onze filhos, faz a anexação de diversos vínculos entre os quais o que

temos vindo a seguir a administração e, instituído em 1448 por Afonso Giraldes. É por

271 p. 441/442. 272 Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc. nº 3, fl. 5.

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esta pessoa instituído o morgado “dos Andrades”. Para além disso, pretende Brites

Maria fazer suceder na administração de todo este património o seu filho mais velho

Bartolomeu José Nunes Cardoso Giraldes de Andrade. Para isso, neste documento,

todos os outros seus filhos renunciam à sua legitima paterna em favor do irmão mais

velho e a mãe dispõe da sua terça também em seu favor deste filho.

Pretende-se, ao fazer administrador de todos os bens o filho e irmão mais velho

contribuir para o aumento do poder da Casa da família e ainda neste sentido

proporcionar ao senhor da Casa um bom casamento. O texto do documento é neste

sentido explícito ao afirmar: “que por terem muito amor e lhe o merecer o dito seu

irmão Bartolomeu José Nunes Cardoso Giraldes de Andrade e desejarem concorrer

quanto lhes for possível para o seu aumento para que nele como varão mais velho se

conserve a memória e posteridade antiga casa dos seus pais Fernando Afonso Giraldes e

a senhora Dona Brites Maria de Andrade e Couto, e daqueles de quem descendem e

para melhor poder o dito seu irmão tomar o estado de casado para assim se continuar

nele a sucessão da mesma casa e o esplendor da sua família (…)”273.

Conclui-se do documento que se vão manter duas Casas, ou seja os bens que

chegaram à família pela linha do já falecido Fernando Afonso Giraldes que constituíram

o morgadio dos Giraldes ligados principalmente à Idanha-a-Nova e os que fazem parte

do património de D. Brites que constituirão o morgadio dos Andrades e que se ligam

principalmente a Monsanto, estas no entanto após a morte de D. Brites ficarão na

administração exclusiva do seu filho primogénito.

Casou Bartolomeu Giraldes de Andrade em 1768 com Inês de Vera Barba de

Meneses, filha de Gonçalo Barba Alardo de Pina e Lemos – Fidalgo da Casa Real,

Alcaide-mor de Leiria, senhor do Morgado da Romeira, do morgado da Matrena e do da

Quinta do Sirol, foi ainda mestre de Campo de Auxiliares de Leiria - e de Ana Joaquina

Lourença de Carvalho e Meneses. Contava a noiva 15 anos enquanto Bartolomeu já

tinha 53 anos. Foi este um casamento muito negociado e celebrado com grande pompa

em Oeiras no Palácio de Sebastião José de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal com

273 Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc. nº 3, fl. 6v.

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quem o noivo e seu irmão Francisco António Marques Giraldes de Andrade274 tinham

relações estreitas de amizade. Esta geração parece ser de grande importância para o

fortalecimento político e económico da família Giraldes. A proximidade com o marquês

de Pombal é uma evidência, este será padrinho de baptismo de um filho de Bartolomeu

Giraldes. Será este último que com seu irmão Francisco António institui mais um

morgadio que virá a ser anexado ao dos Giraldes, tratou-se do “morgadio dos

Arciprestes na cidade de Lisboa, de que era cabeça a Casa e Quinta dos Arciprestes, ao

Vale do Pereiro (…)”275.

Acrescente-se porém que tendo cursado na Universidade de Coimbra e sendo

bacharel em Coimbra desempenhou variados cargos de importância e confiança política.

Confiança que terá merecido da parte de Sebastião de Carvalho e Melo e também de D.

Maria II, pois como refere o genealogista da família:

“No mês de Junho do ano de 1789, já com o peso dos seus 74 anos adoeceu e no

dia 3 desse mesmo mês e ano quis a Rainha D. Maria II recompensá-lo de todos os seus

serviços fazendo-lhe a mercê do Senhorio de Medelim e a alcaidaria–mor de Monsanto

e das Comendas de S. Pedro das Comedeiras e São Miguel de Fornos na Ordem de

Cristo, tudo em duas vidas. Devendo recair a 2º vida no filho que lhe sucedesse. (…)

faleceu às 4 horas da manhã do dia 14 de Junho de 1789 na sua Casa e Quinta dos

Arciprestes, em Lisboa”276.

Do casamento deste 12º administrador com Inês de Vera de Meneses nasceram

nove filhos, entre os quais Maria José Barba de Meneses que protagonizará uma nova

aliança com a Casa da Lousa, ao casar com o seu parente Manuel Vaz Nunes Preto

Giraldes de Castilho, senhor daquela Casa e do seu morgadio – neste caso a relação de

parentesco que visionamos tem a ver com o facto de uma das trisavós de Manuel ser

274 Este irmão, é mencionado na escritura de “transacção amigável…” como o irmão que não necessita que o

irmão administrador do vínculo lhe pague qualquer renda não só “por ter já boa renda dos ditos seus benefícios

e ordenados das referidas ocupações, mas porque para chegar a este estado haviam concorrido os ditos seus

pais com grandes despesas da sua casa, assim para entrar no Convento de Avis como depois assistindo-lhe na

Universidade de Coimbra em que se doutorou na faculdade dos sagrados cânones e ainda depois na corte

enquanto só teve o limitado ordenado do santo ofício (…)” Proc. nº 3 , fl.7. Na verdade para além de prescindir

de qualquer bem da Casa de seus pais, este clérigo foi uma personagem que desempenhou altos cargos no

Reino e contribuiu muito para o aumento da Casa de sua família. Conf. Luís Bívar Guerra, A Casa da

Graciosa, p.p. 172 a 174. 275 Luís Bívar Guerra, op. cit., p. 174. 276 Luís Bívar Guerra, op. cit., p.176.

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irmã de um dos bisavôs de Maria José277 -. O sucessor da Casa dos Giraldes será o

varão primogénito Fernando Afonso Giraldes de Andrade e Meneses que nasceu em

Lisboa em 1770. Este administrador formou-se em direito e desempenhou diversos

cargos - alguns recebidos de seu pai - entre os quais desembargador da “Casa da

Suplicação”, desembargador dos Agravos, deputado da Mesa da Consciência e Ordens,

moço fidalgo da Casa Real, Alcaide-mor de Monsanto, senhor Donatário de

Medelim278.

Não resistimos a comentar que a estratégia de fortalecimento económico da

“Casa dos Giraldes” que vinha a ser desenvolvida há várias gerações, atinge na geração

deste administrador o seu ponto mais alto. Na realidade, Fernando Afonso Giraldes de

Andrade e Meneses casou com uma das herdeiras mais ricas do reino no seu tempo e

que entre o seu património traz a “quinta da Graciosa”, de onde virá a denominação para

os títulos aristocráticos que virão a receber os seus descendentes. Chamou-se esta

herdeira Maria Joana das Dores de Melo Sampaio Pereira de Figueiredo, nascida na

“quinta da Graciosa” em 1778, era filha de José de Melo Sampaio Pereira de Figueiredo

e de sua segunda esposa Joana Rita de Bourbon de Almeida Peixoto. Com 13 anos

ainda incompletos, casa em 17 Fevereiro de 1791 esta herdeira e sucessora dos seus pais

a quem cabe a administração do morgado do Casaínho, o morgado do Ramirão, da

Capela de Casal Vasco, o prazo de Dona Briolanja, dos morgado dos Botelhos e de

Gonçalo, na Guarda, da Capela de Vila Cova, da Casa e morgado da Graciosa, dos

prazos da Figueira de Boialvo e de Vila Nova da Rainha e ainda da Honra de Real279.

Deste casamento nascem oito filhos, sendo o varão primogénito que assume a

sucessão da casa, foi este Fernando Afonso Giraldes de Melo Sampaio Pereira de

Figueiredo, nascido na “Casa da Graciosa” em 1808 e forma-se em direito em 1835.

É este sucessor que faz o registo vincular em 1860. Foi o primeiro sucessor a receber os

títulos de visconde, conde e marquês da Graciosa. Foi Par do Reino, oficial-mor

honorário da Casa Real entre o desempenho de outros cargos.

277 A relação entre as famílias continuava a ser muito próxima, pois João José Vaz Nunes Preto, pai do noivo

surge no documento de Transacção amigável…citado no texto como primo e procurador de um dos irmãos

(José Francisco Marques Giraldes de Andrade) do pai da noiva. 278 Outros cargos são referidos por Luis Bívar Guerra em op. cit., p.179. 279 Conf. Luís Bívar Guerra, op. cit., p. 180.

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Casou em 1836 com Maria José Caldeira Leitão Pinto de Albuquerque, nascida

em 1817 e filha de Gonçalo Caldeira Leitão de Albuquerque Cardoso de Brito Moniz e

de Josefa Margarida Pinto de Macedo Mascarenhas de Abreu Castelo Branco. Este

casamento levantou na altura alguma contestação. Tendo em consideração uma nota de

Luís Bívar Guerra “O seu casamento fora primeiro negociado com uma filha do

marquês de Penalva, mas desse casamento desistiu em virtude da sua paixão pela

senhora com quem casou. Isto deu azo a uma ruptura com seu tio Francisco António

que lhe havia negociado aquele casamento com muito empenho”280. Na verdade, deve

ter constituído um revês para a família a não realização do casamento preparado pelo

clérigo Francisco António que relembre-se foi uma personagem de que falámos

anteriormente como muito próxima do marquês de Pombal e que terá contribuído em

muito para o aumento do poder económico e político da “Casa dos morgados” da

Idanha e de Monsanto. O poder da Casa do marquês de Penalva não era comparável

àquela de onde saiu a esposa escolhida por Fernando Giraldes de Figueiredo, que era

bem mais modesta.

No entanto, duas alianças se realizam entre estas duas famílias no mesmo ano.

De facto em 1836 Fernando casa com Maria José e o irmão primogénito desta, o futuro

1º visconde da Borralha, Francisco Caldeira Leitão Pinto de Albuquerque de Brito

Moniz, casa com a irmã de Fernando, Inês de Vera Giraldes de Melo Sampaio e

Bourbon. A proximidade entre as duas famílias terá sido bastante pois as alianças

voltam-se a repetir quando um dos irmãos mais novos do visconde da Borralha, Albano

Caldeira Leitão Pinto de Albuquerque casa com uma sobrinha dos aliados Giraldes, ou

seja com Emília Adelaide Vaz Preto Giraldes, filha da irmã mais velha de Fernando e de

Vera, chamada Joana Carlota Giraldes de Melo e Bourbon casada com João José Vaz

Preto Giraldes de Castilho.

Sublinhe-se que em 1836, ano das duas primeiras alianças nenhuma das famílias

possuía títulos nobiliárquicos, Fernando Giraldes foi agraciado com o título de visconde

da Graciosa em 1840, com o de conde em 1852 e com o de marquês em 1879, enquanto

Francisco Caldeira Brito Moniz recebeu o título de visconde da Borralha em 1852.

280 A Casa da Graciosa, nota 204, p. 182.

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Do casamento deste 14º administrador do morgadio dos Giraldes, nasceram três

filhos: Francisco de Melo Giraldes de Sampaio e Bourbon que nasce em 1837 mas vai

falecer muito jovem, em 1859, quando frequentava o último ano do curso em Coimbra;

Fernando Afonso de Melo Giraldes Sampaio que devido à morte de seu irmão será o

sucessor na administração da Casa da Graciosa; Maria Joana de Bourbon de Melo

Giraldes Caldeira de Sampaio Pereira de Figueiredo que nasceu em 1842 e veio a casar

em 1860 com o conde de Foz de Arouce, Francisco Augusto Furtado de Mesquita Paiva

Pinto.

Fernando Afonso de Melo Giraldes Sampaio, nascido em 1839, foi assim o 15º

administrador do morgadio dos Giraldes, no entanto faleceu solteiro e sem

descendência. Por este facto sucedeu-lhe no título o sobrinho, Francisco Furtado de

Melo Mesquita Giraldes de Paiva Pinto filho da irmã Joana, casada com o conde de Foz

de Arouce. Este foi mais um desvio que esta sucessão sofre e que como iremos referir se

repete na geração seguinte. De facto Francisco Giraldes Paiva Pinto nasceu em 1866 e

faleceu solteiro em 1940 sem descendência. Bacharel em Direito pela Universidade de

Coimbra, foi Presidente da Câmara da Anadia em 1940. A sucessão do título da

Graciosa, no morgadio dos Giraldes vem a recair no seu sobrinho João Filipe.

João Filipe de Melo Furtado Osório de Meneses Pita, nasceu em 1896 e era filho

de Maria de Melo Furtado Caldeira Giraldes de Bourbon, irmã primogénita do anterior

administrador, e de João Filipe Osório de Meneses Pita, 2º conde de Proença-a-Velha.

Saliente-se que este último era filho do 1º conde do mesmo título e de Luísa da Cunha

Castro Meneses Pita, a morgada que procede ao registo de Vínculo número seis no

Governo Civil de Castelo Branco. Casou o 4º marquês da Graciosa com Maria Teresa

Benta Jacinta de Horta Machado da Franca, filha do 1º conde de Marim. Deste

casamento nasceram quatro filhos.

O primogénito e sucessor é Fernando Afonso de Melo Giraldes de Sampaio

Pereira de Figueiredo, nascido na Anadia em 1924. Engenheiro Agrónomo, casou em

1947 com Maria José Raposo de Sousa Alte Espargosa. Tiveram nove filhos, sendo o

primogénito Francisco Giraldes Pereira de Figueiredo, nascido na “Casa da Graciosa”

em 1949. Se o morgadio fosse ainda hoje uma realidade este seria o actual sucessor e

administrador do morgadio dos Giraldes.

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2.4. A “Casa da Lousa” e os Vaz Preto

Quando em 1862, faz o registo do vínculo, João José Vaz Preto Giraldes diz-se

administrador dos morgados de São Sebastião da Lousa, do instituído por Dona Maria

Agostinha Sarafana, nos quais sucede a seu pai, Manuel Vaz Preto. Administra também

o morgadio instituído por seu tio frei Manuel Vaz Nunes Preto o qual anexou ao da

Lousa e ainda o instituído por Inês Nunes, que lhe pertence como representante do seu

tio Fernando Afonso de Castilho. Apresenta seis documentos – certidões, escrituras e

relação de bens - pelos quais prova a sua legitimidade como administrador do vínculo

que pretende registar, cumprindo o exigido pela legislação de 1860281.

A relação de bens apresentada no registo é muito extensa. Perante a dificuldade

em definir o património pertencente a cada uma das instituições é incluído no fim do

processo uma relação conjunta que descreve quatrocentos e cinquenta e cinco

propriedades espalhadas pelos concelhos de Castelo Branco e Idanha-a-Nova.

2.4.1. A origem do morgadio da Lousa

O primeiro património que vai estar na origem do morgadio de São Sebastião da

Lousa, vai ser vinculado por Manuel Vaz Nunes em 1703, bacharel em Leis que,

segundo Luís Bívar Guerra282, terá sido Desembargador da Relação do Porto. Não se

tendo casado vai nomear primeira administradora do chamado morgado de Lousa, sua

sobrinha, Maria Vaz Nunes. Esta senhora, filha de Domingos Vaz Nunes, Cavaleiro da

Ordem de Cristo e Familiar do Santo Ofício – irmão de Manuel Vaz Nunes – e de

Feliciana de Figueiredo Manso, será filha única – duas irmãs morreram na infância – e

herdeira não só do morgadio instituído pelo seu tio, mas também do instituído no

testamento de seu pai, igualmente em 1703 e chamado o morgado de São Sebastião que

tem como cabeça a Quinta de São Sebastião em Lousa. Casou Maria Vaz Nunes com

281, Vínculos Abelho, ANTT, Castelo Branco, Processo nº 4. 282 A Casa da Graciosa, p.203.

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Domingos Vaz Freire, filho de Domingos Vaz Burefa, morgado de Alcains, e de Maria

Martins.

Também deste casamento só ficará uma única filha, Catarina Antónia Madalena

Vaz Nunes que casa em 1733, com Manuel Fernandes Preto, filho de Maria Nunes

Simoa e de João Nunes Preto. Herda Catarina os morgados de sua mãe e ainda será 1ª

administradora conjuntamente com o seu marido, de um outro morgadio instituído em

1740 pelo seu 2º primo e tio de seu marido, o clérigo João Nunes Moucho. Este último e

Maria Nunes Simoa eram filhos de Gonçalo Vaz Nunes irmão dos anteriores Domingos

e Manuel Vaz Nunes, respectivamente avô e tio-avô de Catarina e tios-avôs de seu

marido. Catarina Vaz Nunes e Manuel Fernandes Preto tiveram sete filhos. Destes

sobreviveram, pelo menos, João José Vaz Nunes Preto, Gonçalo José Vaz Nunes Preto,

Frei Manuel Vaz Nunes Preto e Fernando Afonso Giraldes Preto. João José Vaz Nunes

Preto, o primogénito, nascido em Idanha-a-Nova em 27 de Dezembro de 1734, será o

sucessor na administração dos vários vínculos dos pais, foi também capitão-mor de

Idanha-a-Nova. Casou com Luísa Madalena Tudela de Castilho, nascida em Castelo

Branco em 1733, filha de Fernando Tudela de Castilho e Costa, Fidalgo da Casa Real,

Juiz da Alfândega de Castelo Branco e de sua mulher Francisca Marques do Prado. São

filhos deste casal: Manuel Vaz Nunes Preto Giraldes de Castilho, Maria Caetana Tudela

de Castilho, Fernando Afonso Giraldes Preto (Tenente do Regimento de Cavalaria de

Almeida), Francisca Eugénia Pilar Tudela de Castilho. Manuel Vaz Nunes Preto

Giraldes de Castilho, como primogénito, assume a administração dos bens vinculados.

Casa em 1800 com Maria José Barba de Menezes, filha do Dr. Bartolomeu José Nunes

Cardoso Giraldes de Andrade e de Inês Vera Barba de Menezes. Será nesta geração que

a família Vaz Preto vai reivindicar a posse de um vínculo instituído em 1681 por Inês

Nunes. O processo de reivindicação é da autoria de Fernando Afonso Giraldes Preto,

datado de 1825 quando o irmão primogénito, administrador dos outros bens vinculados,

Manuel Castilho, já tinha falecido. Pelos elementos que temos Fernando Preto, não teria

casado ou pelo menos não teve descendência, pelo que João José Preto Giraldes quando

em 1862 procede ao registo vincular apresenta-se como representante do seu tio

Fernando283. Teria sido precisamente para aumentar o poder de sua casa que iria

283 Cf. ANTT, Vìnculos Abelho, Castelo Branco, Processo nº 4, fl. 1v.

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prosseguir sob a administração do seu sobrinho João que Fernando Afonso Giraldes

Castilho vai reclamar em 1825, o vínculo instituído por Inês Nunes, naquela data na

posse de António Carlos Oliveira. Considera o autor do processo que António Oliveira

não é parente da instituidora, enquanto ele é o descendente mais próximo de Fernando

Afonso Giraldes que D. Inês, a instituidora, tinha chamado em sexto lugar à

administração do vínculo, tendo sido extintas as linhas dos primeiros cinco sucessores.

Tendo também sido citado para o processo João Mendanha de Valadares como

oponente ao autor. Considerando aquele ser o sucessor legal na administração do

vínculo, vai acusar Fernando Giraldes de não ser descendente dos Giraldes chamados à

sucessão por Inês Nunes, enquanto ele, João Valadares, é bisneto de Bartolomeu Afonso

da Cruz chamado à sucessão em sétimo lugar. O processo parece ter sido complicado,

no entanto a sentença é favorável ao seu autor, ou seja a Fernando Afonso Giraldes que

consegue provar a sua descendência e se vê na posse do vínculo instituído por Inês

Nunes o qual entretanto tinha usufruído de várias anexações, como a do vínculo

instituído por Domingos Nunes284. É João José Vaz Preto Giraldes que administra este

património do seu tio, mais o recebido de seus pais e ainda a doação que recebeu de

seus tios-avós. Na verdade os irmãos de seu avô paterno Frei Manuel Vaz Nunes Preto e

Fernando Afonso Giraldes Preto far-lhe-ão a doação de parte do seu património. Esta

doação é feita em 1815, tendo João 14 anos e sendo já órfão de pai. Desejam estes

aumentar “de mais em mais em opulência e esplendor a casa de seu sobrinho João José

Vaz Preto de Castilho, para que estes e seus descendentes servissem o Estado (…)”285.

Simultaneamente com o processo de registo o administrador do morgadio da

Lousa vai proceder a uma escritura de anexação ao morgadio do que ele chama, no

momento, “duas capelas insignificantes”, a instituída por Maria Agostinha Sarafana e a

de Inês Nunes a cujo processo de reclamação no referimos anteriormente286.

Constitui assim, em 1862, à data de registo o morgadio de São Sebastião da

Lousa um património de tal extensão que o seu administrador opta por apresentar uma

descrição conjunta de todas as propriedades vinculadas, consideradas de maior valor,

com as respectivas confrontações e valor, sem a descriminação a que vínculos

284 Ibidem, fls 52v-57. 285 Ibidem, fl.35. 286 Ibidem, fls. 59 – 60.

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pertenciam, pois isso segundo ele já não era possível fazer. Descreve assim 455

propriedades.

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Genealogia parcial do morgadio “da Lousa” (+ - 1780-1954)

Mª José Barba Manuel Vaz Nunes

de Menezes Preto Giraldes de Castilho

Joana Margarida Carlota João José Vaz Preto

Giraldes de Melo e Bourbon Giraldes

Manuel João José Fernando Emília A. Mª José Albano Caldeira

Vaz Preto Vaz Preto Vaz Preto Bourbon Vaz Leitão Pinto

Giraldes Giraldes Giraldes Preto Giraldes de Albuquerque

Manuel Vaz João José Emília de Boubon

Júlia Sá Valente Preto Giraldes Caldeira Vaz Preto Giraldes

Manuel Vaz Preto Bárbara Tavares

Giraldes Barba de Menezes de Almeida de Proença

João Caetano Mª Taciana Manuel Barba Mª Alda

de Abrunhosa T. P. Vaz Preto B. Menezes de Menezes T. P. Vaz Preto Dias Coutinho

Mª João Mª Barbara António Mª Alice Coutinho Manuel Coutinho

V. P. Giraldes V. P. Giraldes Tavares Proença Vaz Preto Vaz Preto

de Abrunhosa de Abrunhosa de Abrunhosa (1952) (1954)

Diag. 4

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina

Filiação Germanidade Casamento (Autora)

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Foto nº 7 - Casa dos Vaz Preto na aldeia da Lousa

Foto nº 8 - Pormenor de um dos jazigos dos Vaz Preto no cemitério da Lousa

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Casou João José Vaz Preto com sua prima Joana Margarida Carlota Giraldes de

Melo e Bourbon e tiveram quatro filhos, sendo o primogénito Manuel Vaz Preto

Giraldes que nasceu na Lousa em 1828 e sucederá na administração do morgadio.

2.4.2. As alianças matrimoniais e a subsistência da “Casa da Lousa”

Os casamentos concretizados pelos sucessores na administração do morgadio da

Lousa foram de grande importância para a manutenção e aumento da Casa da família

Vaz Preto.

Como já afirmámos anteriormente Catarina Madalena Vaz Nunes como filha

única e sucessora de outra filha única – Maria Vaz Nunes – vai reunir sob a sua

administração um vasto património vinculado, como o morgadio de Alcains e o dos

Vazes na Lousa. Casa com Manuel Fernandes Preto, juiz de fora de Marvão, seu primo

em segundo grau, pois o avô materno deste era irmão do avô materno de Catarina. Será

este património administrado pelo filho primogénito deste casal que se chamou João

José Vaz Nunes Preto.

Este administrador que foi também Capitão-mor de Idanha-a-Nova, como já foi

referido casou com Luísa Madalena Tudela de Castilho. Esta terá sido provavelmente

uma aliança vantajosa para a Casa dos “Vaz Preto”. A família Tudela de Castilho

gozava na altura da fama de “nobre e abastada”. Relativamente a esta família

encontramos muitas referências em diversa documentação. Todavia a sua importância

parece ter tido o seu auge no início do século XIX. Uma gestão menos cuidadosa do seu

património terá tido como consequência a decadência económica desta família. Por

exemplo relativamente a Fernando Tudela de Castilho e Costa que pensamos ter sido

irmão de Luísa Madalena, José Germano da Cunha, na sua obra Apontamentos para a

História do Fundão287, descreve-o como uma personagem de grande talento, que terá

morrido na miséria na freguesia das Donas no Fundão, em 1820, com apenas 47 anos.

Dos quatro filhos de João José e de Maria Madalena dos quais temos notícia foi

o primogénito, Manuel Vaz Nunes Preto Giraldes de Castilho, o sucessor e

287 pag. 183/184.

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administrador dos vínculos da família. Este casou com Maria José Barba de Menezes

em 1800. Esta senhora era filha do Dr. Bartolomeu José Nunes Cardoso Giraldes de

Andrade e de Inês de Vera Barba de Menezes. Apesar de em grau afastado Maria José

tem ligações de parentesco com o seu marido, Manuel Giraldes de Castilho. De facto

uma trisavó paterna deste, Catarina Afonso Giraldes era irmã de um bisavô paterno de

Maria José, chamado Bartolomeu Nunes Cardoso Giraldes.

Na realidade, as alianças entre Giraldes e Pretos já acontecidas no século XVII,

vão repetir-se no século XIX. Assim, o filho sucessor deste casal (Maria José Barba de

Menezes e Manuel Vaz Nunes Preto Giraldes de Castilho) chamado João José Vaz

Preto Giraldes vai casar com Joana Carlota Giraldes de Melo e Bourbon, uma prima

direita, ou seja com a filha de Fernando Afonso Giraldes de Andrade e Menezes, um

irmão de sua mãe.

Joana será uma aliada que reforça as relações parentais já tão próximas entre os

Vaz Preto e os Giraldes. Será certamente este casamento muito vantajoso económica e

politicamente. Recordemos que o pai de Joana, Fernando Afonso Giraldes de Andrade e

Menezes tinha contraído matrimónio com Maria Joana das Dores de Melo Sampaio

Pereira de Figueiredo e Bourbon que como já tivemos ocasião de escrever era

considerada, no seu tempo, uma das herdeiras mais ricas do reino. Além disso Joana

Carlota era irmã de Fernando Afonso que será 1º visconde, conde e marquês da

Graciosa.

Esta família dos Giraldes caracteriza-se pelo seu grande poder terratenente que

vai afirmando ao longo dos tempos e do qual falamos quando nos debruçamos sobre o

estudo dos seus vínculos no distrito de Castelo Branco. As famílias Giraldes e Vaz Preto

andarão muito próximos familiarmente e politicamente durante o século XIX, mais

concretamente durante os conflitos entre liberais e absolutistas em que os “chefes” de

cada uma das famílias – precisamente os cunhados Fernando Afonso Giraldes de Melo

Sampaio e João José Vaz Preto Giraldes - tomarão posições idênticas em defesa dos

ideais liberais.

Como já afirmámos, os cruzamentos com a família Giraldes aconteceram, assim,

no século XVII e repetem-se no século XIX. São famílias muitos próximas e

entrecruzadas pela política de casamentos, embora os Giraldes se sobreponham no

aspecto material, pois o seu património supera o dos Vaz Preto. No entanto na

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influência de cada uma das famílias na política portuguesa do século XIX, parece-nos

que o dinamismo dos Vaz Preto supera o dos Giraldes, apesar de estes últimos terem

recebido títulos de viscondes, condes e marqueses.

Uma personagem marcante na história da segunda metade do século XIX, na

Beira Baixa, foi Manuel Vaz Preto Giraldes, filho do último casal que referimos, ou seja

de Joana Carlota Giraldes de Melo e Bourbon e de João José Vaz Preto Giraldes. De

facto este casal terá tido pelo menos seis filhos, tendo sido primogénito o já citado

Manuel Vaz Preto Giraldes, nascido em 1828 e falecido em 1863. Não terá este sucessor

casado, as genealogias consultadas são omissas neste aspecto, embora haja vários

contemporâneos seus que referenciam o seu interesse pelo sexo oposto. Daí ter deixado

descendência legitimada. Foi seu filho, único varão, Manuel Vaz Preto Giraldes Barba

de Menezes que foi oficial da marinha e morreu em serviço em África, em vida de seu

pai. Este casou com Júlia Sá Valente, a qual segundo apurámos não tinha ascendência

de relevo na região. O filho deste casal chamado Manuel Barba de Menezes Vaz Preto

Giraldes casou com Bárbara Tavares de Almeida Proença, filha de Francisco Tavares de

Almeida Proença. Esta aliança realizada em 10 de Julho de 1920 une duas das casas

mais importantes da região que muitas vezes no passado se tinham confrontado

politicamente como teremos ocasião de explicar no seguimento deste trabalho. Deste

casamento nasceram dois filhos, Manuel Barba de Menezes Tavares de Proença Vaz

Preto e Maria Taciana Tavares Vaz Preto Giraldes Barba de Menezes.

Manuel veio a falecer em 1963, na sua casa na Lousa, assassinado por um

criado. Deixou viúva Maria Alda Dias Coutinho, filha de um também importante

proprietário da região e neta pelo lado materno dos 4ºs marqueses de Soídos. Este casal

teve também dois filhos, Maria Alice Coutinho Vaz Preto Giraldes e Manuel Coutinho

Vaz Preto Giraldes. Maria Alice casou com um ainda parente, Artur José Fiúza

Menezes Correia de Sá, filho do 3º visconde de Merceana. Enquanto o irmão casou com

Maria Rita Pinheiro Manzarra.

Manuel Giraldes seria o sucessor na administração de bens vinculados se a

legislação ainda o permitisse. No entanto e apesar das actuais circunstâncias politicas e

económicas, este descendente ocupa a casa de família na Lousa que mantém,

desenvolvendo importante actividade agrícola que nunca foi interrompida ao longo dos

anos que passaram sobre o fim da instituição morgada.

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2.5. A “Casa do visconde de Castelo Branco”

O registo de bens vinculados administrados pelo visconde de Castelo Branco

surge envolvido de polémica. Como já referimos anteriormente foi o seu filho Francisco

da Fonseca Coutinho e Castro Refóios, como imediato sucessor que se desloca ao

Governo Civil de Castelo Branco para fazer o registo. No entanto este vai queixar-se do

pai, o qual não lhe cedeu os documentos necessários para concretizar o referido registo,

como surge diversas vezes referido no processo:

“Diz Francisco da Fonseca Coutinho e Castro Refóios, moço fidalgo com

exercício no paço, acrescentado a fidalgo cavaleiro, comendador da Ordem de Cristo,

oficial da Casa Real, guarda-roupa da real Câmara d’El-Rei o Senhor Dom Luís

Primeiro filho primogénito do excelentíssimo visconde de Castelo Branco, João da

Fonseca Coutinho e Castro Refóios e seu herdeiro presumptivo, que denegando-lhe seu

pai os títulos dos diferentes vínculos que administra, e não querendo o suplicante e até

não devendo querer que os bens vinculados percam esta sua natureza pela falta de

registo, não tanto por ser o suplicante o seu imediato sucessor, mas porque tem filhos

(…)”288.

O registo foi feito de forma provisória com base em cópias de testamentos de

duas antepassadas nos quais são instituídos vínculos cuja administração veio a recair no

visconde de Castelo Branco. O registador deveria apresentar a certidão da matriz para se

conhecer o valor de cada um dos vínculos o que parece nunca ter vindo a acontecer.

Segundo o processo de registo não estavam registados na matriz predial todos os bens e

rendimentos que compunham os referidos vínculos. Depreendemos do documento que

estaria no momento a decorrer um processo judicial que envolvia os bens não

registados, prometendo o registador apresentar essas indicações mais tarde. Apesar de

incompleto a cópia do processo foi enviada conjuntamente com os registos feitos de

forma definitiva, para o Arquivo da Torre do Tombo.

As divergências entre administrador de morgadio e o seu imediato sucessor

prolongar-se-ão para além da morte do visconde de Castelo Branco. Este terá sido um

288 Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc. nº 10, fl.1;

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caso evidente em que o filho primogénito não vai aceitar a divisão do património em

igualdade de circunstâncias com os seus irmãos.

2.5.1. A origem dos vínculos

Tendo em consideração o processo de registo, os vínculos que lhe deram origem

foram instituídos nos testamentos de duas ascendentes do visconde de Castelo Branco.

O primeiro documento apresentado é o testamento de Sebastiana Luísa de

Azevedo e Melo viúva de Luís de Sousa Refóios. É um documento datado do ano de

1732, no qual aquela institui um morgado regular em que nomeia como administrador o

seu sobrinho Manuel da Fonseca. A instituição do vínculo e a sua sucessão foi declarada

pela testadora nos seguintes termos:

“nomeio em primeiro lugar a meu sobrinho Manuel da Fonseca e sua mulher

enquanto for vivo somente, em segundo lugar nomeio o seu filho mais velho e

morrendo este sem sucessão irá ao que se segue, mais declaro que depois do filho mais

velho não é minha tenção excluir fêmea mas vá o tal morgado ao que for mais velho ou

seja varão ou fêmea, em terceiro lugar, caso que morra o mais velho chamado Diogo da

Fonseca e morra também o segundo chamado Luís neste caso nomeio ao terceiro filho

chamado João para possuir o tal morgado, e caso que estes sobrinhos meus já nomeados

não tenham sucessão, neste caso quero que o sobredito morgado vá a meu irmão

Bernardo de Azevedo e Melo e a sua mulher Dona Maria Isabel e depois a seus

sucessores”289.

A sucessão na administração deste vínculo deverá ter sido de alguma forma

atribulada, já que o autor do processo declara que aquele está de momento na posse de

seu pai, depois de ser retirado em 1834 “das mãos de Lourenço de Azevedo e sua

mulher D. Helena Bernarda de Menezes”290. No entanto na reconstituição genealógica

da ascendência do 1º visconde de Castelo Branco, o primeiro administrador do vínculo,

Manuel da Fonseca (ou Manuel da Fonseca Coutinho Pereira como é referido no

289 Processo de registo nº 10, fl. 9 e 9v. 290 Ibidem fl.2v.

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processo de registo) foi trisavô do visconde de Castelo Branco. A Manuel sucedeu o

filho Luís de Sousa Fonseca Coutinho de Refóios (bisavô do visconde) o qual surge

nomeado no testamento de Sebastiana como possível sucessor. Sucede-lhe João da

Fonseca Coutinho Refóios e a este, o seu filho Francisco da Fonseca Coutinho Refóios

que será o pai do visconde de Castelo Branco e avô do registador. Desta forma, a linha

de sucessão no vínculo tal como foi proposta pela instituidora, na sua primeira opção,

existiu sem interrupção e foi sempre possível pela varonia. Por este motivo ficamos sem

explicação para o morgadio estar noutras mãos em 1834. Todavia e possivelmente por a

razão assistir ao visconde de Castelo Branco, o vínculo acabou por ser recuperado por

este.

O outro documento apresentado neste processo de registo é o testamento de Ana

de Figueiredo Castelo Branco, feito em 1643. Neste documento Ana de Figueiredo,

nomeia com universais herdeiros a sobrinha, também chamada Ana de Figueiredo e o

marido desta, Luís de Sousa Brandão enquanto não for possível passar os bens

instituídos em capela, para a filha destes, Francisca Brandoa. Determina a instituidora

“que morrendo minha sobrinha a dita Francisca Brandoa sem herdeiros passe a dita

capela a meus sobrinhos filhos da dita minha sobrinha Ana de Figueiredo e Luís de

Sousa Brandão (…)”291. Esta é uma possibilidade entre várias, no entanto na

reconstituição realizada, não temos descendência para Francisca Brandoa, pelo que a

sucessão na capela terá caído na irmã de Francisca, Maria de Refóios de Sousa, uma

tetravó do 1º visconde de Castelo Branco.

Usando estes dois testamentos e ainda “autos de posse judicial” dos bens da

capela instituída por Ana Figueiredo, Francisco da Fonseca Coutinho e Castro Refóios

procede ao registo vincular, como imediato sucessor, contrariando a vontade de seu pai

e possivelmente de seus irmãos.

Pensamos que os bens vinculados registados não seriam os únicos que o

visconde da Castelo Branco administrou, já que o seu pai, Francisco da Fonseca

Coutinho de Castro Refóios surge em diversos documentos como “Senhor do Morgado

de Oledo”. No entanto a posição do seu filho primogénito perante estes bens vinculados

291 Ibidem fl. 19

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indicia a vontade de se colocar numa posição privilegiada em relação aos irmãos no que

respeita à herança a receber de seus pais.

2.5.2. A sucessão e a herança após a morte do visconde de Castelo Branco

Francisco da Fonseca Coutinho e Castro Refóios, virá a receber o título de

visconde de Portalegre em 1870. Pelo que conseguimos saber do seu percurso de vida,

tudo indica que o seu empenho em desenvolver estratégias conducentes ao

fortalecimento da sua Casa nem sempre foi bem sucedido.

Como nos foi dado a conhecer pelo processo de registo de vínculo que realizou,

foi um acérrimo defensor da vinculação e consequentemente defendeu contra a vontade

de seu pai a sua posição de imediato sucessor. No entanto a extinção dos vínculos em

1863, a morte do seu pai em 1866, trouxe-lhe graves desentendimentos com os seus

irmãos quanto à sucessão na casa do falecido visconde de Castelo Branco.

Como referiremos mais à frente o seu irmão mais novo, Rodrigo da Fonseca

Coutinho e Castro Refóios irá disputar-lhe o papel de “cabeça de casal” no que terá sido

apoiado por duas das suas irmãs casadas. Parece apenas ter-se colocado ao lado do

futuro visconde de Portalegre a sua irmã Carolina, a qual se terá mantido solteira e terá

acompanhado os pais na sua velhice. As partilhas foram assim impostas por três dos

seus irmãos.

O casamento de Francisco Refóios foi realizado em 1840, com Maria Adelaide

de Mesquita Albuquerque de Castro e Nápoles, filha primogénita de Francisco

Albuquerque de Castro e Nápoles, visconde de Oleiros e igualmente um dos morgados

registadores de vínculos. Foi uma aliança que terá correspondido aos interesses das duas

Casas morgadas da região, pois une a parentela de duas das mais importantes.

No entanto a descendência de Francisco não deverá ter correspondido

exactamente às suas expectativas e, aos interesses que ainda se impunham nos tempos

em que foi pai. Realmente apenas teve três filhas. A leitura da reconstituição

genealógica indica que se continuaram a procurar alianças com outras famílias

morgadas. De facto a primogénita, Clara Maria da Fonseca Coutinho e Castro Refóios

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Genealogia parcial da “Casa Visconde de Castelo Branco” (1740-1955)

Francisco da Fonseca Clara Jacinta

Coutinho e Castro Refoios Zuzarte de Sousa Tavares

Ana Joaquina João da Fonseca Augusta Joana

de Lencastre Barros e Meneses Coutinho e Castro Refoios

(1º Visconde de C. Branco)

Mª Adelaide de Mesquita Francisco da Fonseca Clara Mª C. Joana Rodrigo Augusta

e Albuquerque de Castro e Nápoles Coutinho e Castro Refoios

(1º Visconde de Portalegre)

Clara Mª Ana Delfina Mariana Maragarida Manuel da Silva Ribeiro

de A. da F. C. Coutinho (importante negociante)

Mª Adelaide Pedro

da Fonseca Ribeiro da Silva Martins

Bartolomeu Mª Adelaide

Capelo Franco Frazão da Fonseca Coutinho de Lencastre

e Albuquerque Martins

Edite Francisco da Fonseca Coutinho Mª Eugª Pedro Bartolomeu

Sampaio de Almeida Martins Franco Frazão

Renato Francisco

de Almeida Frazão de Almeida Frazão (1951) (1955)

Diag. 5

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina;

em normal linha de extinção do morgadio. Filiação Germanidade Casamento (Autora)

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189

Foto nº 9 – Casa dos viscondes de Portalegre e Castelo Branco, hoje Governo Civil de Castelo Branco

Foto nº 10 – Casa do visconde de Oleiros em Castelo Branco (cuja filha casou com

o visc. de Portalegre), hoje Câmara de Castelo Branco

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190

casou duas vezes, a primeira com Fernando Afonso Giraldes Vaz Preto e a segunda com

João José Trigueiros Osório de Martel, alianças com parentelas de duas outras Casas

morgadas, respectivamente com a dos Vaz Preto da Lousa e com a dos Trigueiros

Martel, da Idanha. As expectativas postas nos casamentos desta filha do visconde de

Portalegre terão sido goradas, já que de nenhum destes casamentos houve descendência.

Foi na descendência da irmã de Clara, chamada Mariana Margarida de

Albuquerque da Fonseca Coutinho e Castro que virão a cair os títulos de visconde de

Portalegre e de Castelo Branco. Esta casou com Manuel da Silva Ribeiro, um

negociante da cidade de Castelo Branco e teve uma filha, Maria Adelaide da Fonseca

Ribeiro. Do casamento desta última com Pedro da Silva Martins nasceu também uma

filha, igualmente chamada Maria Adelaide que se veio a aliar com um Franco Frazão

(da Casa do Salgueiro).

De facto em 1916, Maria Adelaide da Fonseca Coutinho de Lencastre e

Albuquerque Martins casou com Bartolomeu Capelo Franco Frazão, um irmão do conde

de Penha Garcia e filho de João António Franco Frazão. Deste casamento terão nascido

pelo menos quatro filhos. Uma das filhas Mariana Eugénia casou com Alberto Carlos de

Figueiredo Franco Frazão, (visconde do Alcaide), repetindo assim a aliança com os

Francos Frazões. Enquanto um dos filhos varões, Francisco da Fonseca Coutinho

Martins Franco Frazão, nascido em 1921 casou com Edite Sampaio de Almeida e teve

dois filhos, Renato de Almeida Frazão e Francisco de Almeida Frazão.

A terceira filha, Ana Delfina, veio a casar com José Joaquim de Castro da Maia

e Vasconcelos, coronel do Corpo do Estado-maior e foi professor do príncipe Luís

Filipe e do seu irmão, o futuro rei D. Manuel. José Joaquim nasceu em Angola onde o

seu pai tinha sido Governador-Geral, pelo lado materno pertencia à família dos condes

da Serra Pilar. Esta aliança da terceira filha do visconde de Portalegre com um

indivíduo bem posicionado socialmente, mas perfeitamente estranho à região da Beira

Baixa vai ter como consequência a sua saída da região e o consequente afastamento da

sua descendência. Desta forma seria em Renato de Almeida Frazão descendente da

segunda filha do visconde de Portalegre que recairia hoje a sucessão dos vínculos

registados pelo visconde de Portalegre, filho do visconde de Castelo Branco. É neste

descendente que recairiam igualmente estes dois títulos.

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191

No entanto, tudo indica que o património pertencente a esta Casa ter-se-á

pulverizado através de partilhas e hoje os descendentes, na região, gerem bens

procedentes do património de aliados, neste caso dos Capelo Franco Frazão,

essencialmente situados em Alcafozes.

O solar dos viscondes de Portalegre que serviu de residência principal desde

1743, terá sido vendido no final do século XIX e acolhe hoje os serviços do Governo

Civil de Castelo Branco.

2.6. A “Casa Tavares Almeida Proença”

Francisco Tavares Almeida Proença vai registar, sem apresentar os títulos de

instituição, vínculos instituídos por Maria Barata e suas filhas, na Erada, em 1698, a que

foram anexados outros instituídos em 1705 por Maria Josefa Barata; em 1743 pelo

Doutor Gabriel da Guerra Barata; em 1763 por Brígida de Almeida Cabral. Regista

igualmente vínculos instituídos por Maria de Figueiredo, Manuel de Proença Capinhão

e Úrsula de Proença, os quais recebeu do seu lado paterno. Como não apresenta as

provas de instituições vai fazer um processo de justificação. O seu direito à

administração dos bens vinculados recebidos do seu lado materno vai ser provado pela

apresentação de uma genealogia que surge esquematizada no processo no registo.

Talvez se torne interessante referir que neste processo faltou seguir um dos passos

exigidos pela lei que seria “a citação às partes incertas”292 esta falta é ultrapassada com

a apresentação da genealogia que segundo os responsáveis pelo registo prova não

existirem “partes incertas”. Se considerarmos que a genealogia é da responsabilidade do

registador que poderá ter a possibilidade de manipular os dados apresentados, tudo leva

a crer que a posição dominante deste indivíduo na sociedade local e o seu estatuto de

par do reino terão facilitado este registo.

292 Consta na folha 1 do processo (Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc. 8), em letra diferente “Não obstante

faltar na justificação junta a citação às partes incertas exigida no número doze da Portaria circular do Ministério

do Reino de dezassete de Julho de mil oitocentos e sessenta e dois, faça-se o registo na forma requerida, visto

mostrar-se da árvore genealógica e processo de justifcação que não há interessados incertos e que o único certo

que há foi devidamente citado. Governo Civil de Castelo Branco dois de Janeiro de mil e oitocentos, sessenta e

três.”

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Assim, segundo Francisco Tavares Proença, o vínculo recebido de sua mãe teve

origem nos bens vinculados em 1698 por Maria Barata, viúva, e suas duas filhas,

Catarina Maria Barata e Bárbara Maurícia Ferreira. Neste morgadio viria a suceder o

irmão destas últimas, Luís Afonso de Almeida que também sucede num outro vínculo

instituído em 1705 por outra irmã (Maria Josefa Barata). Sucedeu a Luís de Almeida o

seu filho mais velho, Aleixo de Almeida Cabral que também veio a administrar outro

vínculo instituído por seu tio (irmão de seu pai) Gabriel de Almeida Barata. Não tendo

Aleixo tido descendência sucede-lhe o irmão Doutor Luís Afonso de Almeida que

também é herdeiro de sua irmã Brígida de Almeida Cabral. Pelo que afirma Francisco

Tavares Proença esta linha de sucessão termina em Luís Afonso de Almeida, que não

teve descendência. Passou então a sucessão para um primo, João Ferreira Rombo, filho

de João Ferreira Rombo “o velho”, este filho mais novo de Maria Barata a primeira

instituidora dos vínculos. A mãe de Francisco de Almeida Tavares Proença, o registador

do morgadio, Bárbara Maria Joaquina Rombo era filha daquele primo (João Ferreira

Rombo) e foi portanto sucessora na administração do morgadio. Como já se referiu,

além destes bens vinculados o Par do Reino Francisco Tavares de Almeida Proença foi

também sucessor de seu pai, Doutor Manuel Tavares de Proença Capinhão em bens

vinculados. Tendo sido estes instituídos pelos seus antepassados Maria de Figueiredo,

Manuel de Proença Capinhão e Úrsula de Proença. Estes últimos bens situavam-se

essencialmente nas freguesias do Souto da Casa, Castelejo e na região de Penamacor.

2.6.1.O engrandecimento da Casa: gestão de capitais

Os bens que compõe o morgadio registado por Francisco Tavares Almeida

Proença serão certamente apenas uma pequena parte do património deste indivíduo.

Entre 1835 e 1843 encontramos o seu nome, assim como o de sua mãe, Bárbara Maria

Joaquina Rombo, na lista dos compradores de bens nacionais provenientes das leis de

desamortização. Francisco Tavares Proença é comprador de nove lotes no valor de seis

mil e setecentos e vinte e três reis, enquanto a sua mãe compra nove lotes no valor de

mil e novecentos reis. O seu sogro Joaquim José Mendes Fevereiro também

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193

Genealogia parcial da “Casa Tavares Proença” (+ - 1800 - 1951)

Francisco Tavares Mª da Piedade

de Almeida Proença Fevereiro

Gonçalo Xavier Mª Rosália Mª Joaquª Mª Bárbara = José Luis Francisco Judite

de Almeida T de A. T. de A. T. de A. Saldanha Tavares de Almeida Gualdino

Garrett Proença Proença Proença Oliveira e Sousa Proença

(Conde de Rio Maior)

Alexandre de Proença Francisco Xavier Margarida Barbosa Francisco Tavares Bárbara Tavares Manuel Vaz Preto

de Almeida Garrett de Almeida Garrett Fernandes de Almeida de Almeida Barba de Menezes

Mª Antónia Gonçalo Manuel Alexandre José Mª Mª Alda Manuel Barba de Menezes

de Carvalho de Rovisco de A. F. de A. de A. de A. Godinho Pinheiro Tavares Proença Vaz

Garcia Garrett Garrett Garrett Garrett Dias Coutinho Preto Giraldes

Francisco Garcia Antº José Garcia Mª Alice Coutinho Manuel Pinheiro

de A. Garrett de A. Garrett Vaz Preto Coutinho Vaz Preto

(1964) (1951)

Diag. 6

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina

Filiação Germanidade = Casamento (Autora)

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194

Nº 11 – Casa Tavares Proença no Tortosendo, actualmente habitada por

descendentes, com apelido Almeida Garrett

N´º 12 – Casa Tavares Proença em Castelo Branco

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195

compra bens do mesmo género, investindo em cinquenta e nove lotes, nove mil

trezentos e dezasseis reis293.

Terá sido precisamente o casamento de Francisco Tavares Proença com a Maria

da Piedade Fevereiro, filha única294 de Joaquim José Mendes Fevereiro, (também usou

Joaquim José Nunes Fevereiro) um dos homens mais ricos e influentes da região, que

terá aumentado em muito a fortuna deste morgado. O casamento aconteceu em 1835.

Como se afirma no Dicionário Biográfico Parlamentar a “partir de 1858, tomou uma

participação significativa como accionista do Banco de Portugal mantendo-se entre os

50 maiores accionistas desta corporação até à sua morte.”295 Mais tarde em 1868 veio a

sua fortuna a ser reforçada por uma herança recebida do barão de Porto Mós, o

brigadeiro Venâncio Pinto do Rego César Trigueiros.

Francisco Tavares Proença era oriundo de uma família bem posicionada

socialmente na região. Era formado em direito pela Universidade de Coimbra, obteve

brasão de armas em 1825 e tudo indicava que o esperava uma brilhante carreira política.

Apesar de se saber que iniciou a sua carreira parlamentar ao ser eleito para a legislatura

de 1834 a 1836, não encontrámos referência ao círculo por que concorreu, nem a data

do seu juramento. Sabe-se no entanto que foi eleito deputado pela Beira Baixa em 1836

e apesar do movimento Setembrista vir a suspender esta sua intervenção no Parlamento,

veio a retomá-la e a sua actividade de parlamentar prolongou-se assim como a ocupação

de cargos políticos de maior responsabilidade. Foi senador pelo distrito de Castelo

Branco na legislatura de 1838 a 1840, foi elevado ao pariato em Maio de 1842 e em

1847 foi nomeado ministro do Reino convidado pela rainha D. Maria II, embora conste

que tivesse anteriormente recusado vários cargos ministeriais.

O casamento de Francisco Tavares Proença com a filha de um dos homens mais

ricos da região terá sido determinante para o seu domínio na região. A propósito desta

união, Jaime Lopes Dias escreveu:

“Joaquim José Mendes Fevereiro (…) homem de inteligência prática e

calculista, era já viúvo quando a filha única chegou a idade casadoira. Dispunha de

293 “Lista de compradores de compradores de Bens Nacionais (1835-1843)”, in Nacionalizações e

Privatizações em Portugal, de António Martins da Silva. 294 Joaquim José Mendes Fevereiro terá tido outra filha, Maria do Patrocínio Nunes Fevereiro, que terá morrido

solteira antes do casamento da irmã. 295 Dicionário Biográfico Parlamentar, Vol. III, p.388.

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avultados bens próprios e provenientes do considerável dote da esposa, multiplicados

pela sua excelente administração. Não estava disposto a aceitar para genro o primeiro ou

qualquer candidato desconhecido. (…). Segundo os costumes da época, os cálculos e

conveniências familiares prevaleciam aos sentimentos particulares e às inclinações

pessoais dos legítimos interessados. Após conscienciosas perplexidades, Joaquim José

assentou de si para si que o mais convinhável dos pretendentes era o Dr. Francisco

Tavares, de avantajada estatura, espadaúdo e dextro na equitação e na caça, famoso

jogador de pau. Herdeiro de apreciáveis bens e de uma família de boa cepa, para mais

tendo carta de nobreza e brasão de armas de D. João VI (…)”296.

Esta aliança terá sido muito importante para a afirmação do poder da Casa dos

Tavares Proença, provavelmente mais útil a estes que aos Fevereiro, pelo menos

naquele tempo. A aliança entre o título nobre, o poder político e o dinheiro terá levado

após esta aliança, entre os Fevereiro e os Tavares Proença, a uma sucessão de alianças

que envolvem famílias aristocratas relativamente antigas e bem posicionadas na cena

política portuguesa.

O pai da noiva José Joaquim Nunes Fevereiro terá manifestado desejar associar

a sua fortuna a um título nobiliárquico. Assim terá pensado em obter uma carta de

armas, no que não terá sido bem sucedido, pelo que o casamento de sua filha com

Tavares Proença resolveria em parte esse objectivo. José Lopes Dias aborda este

assunto com as seguintes palavras:

“Mais entendido em questões de negócios, gestão de capitais e administração da

casa comercial e agrícola que nos altos meandros da heráldica, não ficaria insensível à

honra dos pergaminhos dum genro enobrecido. De há muito ele próprio acalentava a

secreta pretensão de suplicar idêntica mercê a Sua Majestade, como se infere do

manuscrito: ‘Justificação tirada na freguesia de avô que mostra quem eram os parentes

de José Nunes Fevereiro’ (…). De qualquer modo, Joaquim José ou não chegou a

endereçar a petição pelas vias competentes, como se afigura mais provável, ou não seria

bem sucedido”297.

296 Revista “Estudos de Castelo Branco” nº 40, citado em Uma Família da Beira Baixa, p. 190. 297 Citado por José Luiz de Sampayo Torres Fevereiro em Uma Família da Beira Baixa pp. 190-193.

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E como acrescenta também Lopes Dias de pouco teria valido o título, já que

acabou por não ter filho varão. Os títulos acabaram por tocar de alguma forma aos seus

descendentes, depois do casamento da sua filha com Tavares Proença e através de

alianças aparentemente bem conseguidas (pelo menos no domínio da titularidade, de

duas das suas netas).

Nasceram quatro filhos do casamento de Maria da Piedade Fevereiro com

Francisco Tavares Proença: Maria Rosália (1848), que ficou solteira; Maria Joaquina

(1850) que casou com Gonçalo Xavier de Almeida Garrett, nascido no Porto em 1841 e

falecido em Castelo Branco em 1925, este era filho de um irmão de Almeida Garrett, o

escritor que recebeu o titulo de visconde. Gonçalo Almeida Garrett foi Doutor em

Matemática, bacharel em Filosofia e Lente na Universidade de Coimbra; Maria Bárbara

(1851) que casou com José Luís de Saldanha de Oliveira e Sousa, bacharel formado em

matemática e Filosofia pela Universidade de Coimbra, era filho segundo do 3º conde de

Rio Maior e por morte de seu irmão primogénito veio a ser 1º marquês e 4º conde de

Rio Maior. Finalmente, o filho mais novo, nascido em 1855 e único varão, Francisco

Tavares de Proença que não frequentou qualquer curso universitário e veio a unir-se a

Judite Gualdino, costureira de teatro.

Os casamentos desta geração e possivelmente a educação destes quatro filhos de

Tavares Proença e Maria da Piedade Fevereiro, terão sido marcados pela morte do casal,

ele em 1872, ela no ano seguinte, quando a filha mais velha tinha 25 anos e o mais novo

apenas 17 anos. As raparigas terão recebido a educação própria da sua condição, a qual

provavelmente não terá sido muito afectada pela morte dos pais, os seus casamentos

terão sido ainda preparados por estes, pois o de Maria Bárbara aconteceu em 1873 e o

de Maria Joaquina em 1875. No caso da aliança matrimonial de Maria Bárbara existem

indícios documentais que indicam ter havido um bom relacionamento entre a sua mãe,

Maria da Piedade Fevereiro e a condessa de Rio Maior, mãe do futuro marido de Maria

Bárbara298. Também a aliança de Joaquina com Almeida Garrett deverá ter sido pensada

ainda pelos pais da noiva.

De facto apesar de posteriores circunstâncias inesperadas - como a morte

precoce de Bárbara Tavares Proença - as alianças realizadas por duas das filhas do casal

298 Referimo-nos principalmente às cartas trocadas entre a condessa de Rio Maior e os seus filhos. Maria

Filomena Mónica, 2004;

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Tavares Proença e Maria da Piedade terão sido concretizados com famílias bastante bem

posicionadas socialmente. O mesmo já não se poderá afirmar em relação à aliança

efectuada pelo único filho varão que não foi concretizada no seu meio social como

explicaremos em seguida.

2.6.2. Consequências de uma má aliança

Terá sido Francisco Tavares de Almeida Proença que ao ficar órfão tão novo,

ficou mais liberto de constrangimentos familiares. Questionamo-nos sobre até que ponto

esta circunstância não estará relacionada com o facto de ter enveredado por um

casamento fora da sua condição social e também com o de não ter vindo a frequentar

um curso superior.

No que diz respeito à sua formação académica o que sabemos da sua vida

demonstra que superou completamente esse constrangimento, apesar de José de

Saldanha, marido de sua irmã Maria Bárbara, ter comentado numa carta escrita de

Castelo Branco a sua mãe, condessa de Rio Maior, que o cunhado tinha algumas

dificuldades em afirmar a sua autoridade por falta de um diploma299. Todavia o seu

percurso de vida demonstra que a formação obtida junto de mestres da região de Castelo

Branco lhe permitiu uma vida social e política de grande relevo. Na chefia do Partido

Progressista na região da Beira Baixa relacionou-se intimamente com os maiores

homens políticos da região e do País.

Quanto à sua aliança matrimonial com Judite Gualdino, uma costureira num

teatro de Lisboa, não podemos hoje contabilizar o prejuízo que isso trouxe à sua Casa.

Na verdade foi uma aliança que pelas suas características não lhe trouxe mais valias nos

relacionamentos nem quaisquer bens patrimoniais. Neste sentido sabemos que esta terá

sido uma relação que enfrentado as suas dificuldades para ser mantida. Apesar de não

termos tido acesso a fontes que nos indicassem pormenores desta relação, consta das

genealogias existentes que dela nasceram dois filhos: Francisco Tavares de Almeida

Proença Júnior e Bárbara Tavares de Almeida Proença. Nas suas certidões de

299 José de Saldanha, carta nº 605. Arquivo de História Social, Correspondência da Família Rio Maior, ICS;

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nascimento consta em ambas que são filhos de mãe incógnita. O seu filho varão nasceu

a 1 de Junho de 1883, na freguesia da Lapa, da cidade de Lisboa, e o seu baptismo foi

celebrado a 22 de Novembro de 1889 na Igreja paroquial de São Cristóvão e São

Lourenço de Lisboa, ou seja quando a criança já tinha seis anos de idade, nesse mesmo

dia Francisco Tavares de Almeida Proença baptiza igualmente a sua filha, nascida em

1887, a quem dá o nome de Bárbara, nome de sua irmã, acabada de falecer (Maio de

1887).

Possivelmente, o processo de aceitação da relação com uma costureira de teatro,

sem ascendência digna de pergaminhos, deverá ter demorado o seu tempo e exigido

bastante discrição de Tavares Proença. No entanto Judite Gualdino deverá ter sido

aceite no círculo familiar de Tavares Proença. Se tivermos em consideração as palavras

de José Luiz de Sampaio Torres Fevereiro que no seu registo genealógico, Uma Família

da Beira Baixa, confessa ainda ter conhecido Judite, e escreve:“A propósito de D.

Judith, uma verdadeira Senhora que eu ainda conheci em Castelo Branco e

acompanhando a minha avó Rita nas visitas ao Hotel Borges, onde a ‘prima Judith’ se

hospedava.”. Ainda no sentido de “dourar” a figura desta senhora, que como vimos

surge de um meio social bem diferente do ideal, Torres Fevereiro, o genealogista, cita

José Lopes Dias, numa passagem em que este tece grandes elogios a esta senhora,

principalmente à sua beleza, a qual não permitiu que Tavares Proença lhe ficasse

indiferente e o arrastasse para um romance fora dos constrangimentos da sua classe.

Segundo Lopes Dias era:

“D. Judite uma verdadeira beldade, como todos reconheciam de bom grado.

Alta, de silhueta donairosa, cuidava com todo o esmero dos naturais dotes de formosura,

e sempre havia de tratar de si até à extrema velhice (…).

Muito bem a conhecemos, pessoalmente, na última quadra da existência e a

impressão da distinta presença era sempre igual. (…).

O palco foi assim a escola activa e única da sua mocidade, pelos métodos hoje

designados audiovisuais. Nada escapava ao seu perceptivo e aguçado entendimento:

mise-en-scène, palavras gestos, atitudes, toilletes. Mais tarde, na situação de grande

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senhora, saberia comportar-se à devida altura na existência de cada dia e mesmo em

situações menos confortáveis e mais embaraçosas”300.

Apesar de os genealogistas ou biógrafos procurarem justificar a presença desta

senhora na família, as consequências negativas deste casamento não poderão deixar-se

de fazer sentir, de alguma forma, dentro de um sistema de alianças na maior parte das

vezes estrategicamente definido.

Sabendo da posição ocupada pela família Tavares Proença, na hierarquia social

da Beira Baixa, tendo em consideração os esforços no sentido de aumentar o poder da

sua Casa, não só economicamente mas também no poder político e social da região, a

personalidade de Francisco Tavares Proença não levou a que fizesse grandes esforços

para submeter a sua vida íntima aos constrangimentos que a manutenção e

engrandecimento que a sua casa exigia.

Um dos traços da sua personalidade a que não terá sido alheio a gestão da sua

vida privada, terá sido a sua pouca religiosidade. Conhece-se a sua preocupação com o

que considerava a exagerada religiosidade de sua mãe, Maria da Piedade Fevereiro

temendo que esta viesse a deixar avultados bens à Igreja. Além disso fugia vulgarmente

das práticas religiosas cujo cumprimento era exigido pela mãe, como escreveu José

Lopes Dias: “Aos olhos de sua mãe – o que era mais grave, ou gravíssimo – consistia na

aversão às práticas religiosas. Em todas elas, comportava-se com desacato e

oposição.”301

Assim, Tavares de Almeida Proença geriu a sua Casa, não a engrandecendo

através de um casamento, mas apostando numa gestão que passou pela administração

das suas propriedades, por um forte investimento na política local e mesmo nacional

paralelamente com um grande apoio à família nuclear da sua irmã Maria Joaquina.

De facto, apercebemo-nos que se preocupou muito em conseguir benefícios para

a casa de sua irmã Maria Joaquina casada com Gonçalo Almeida Garrett, várias vezes

intercedeu pedindo favores políticos para o cunhado e depois mais tarde para os

sobrinhos. Quanto à outra irmã, Bárbara, casada com o descendente dos condes de Rio

Maior, a morte precoce desta – em Maio de 1889, com 38 anos - terá tido como

300 Citado por Torres Fevereiro, Uma família da Beira Baixa p. 2002. 301 Citado por José Luiz de Sampaio Torres Fevereiro, Uma Família da Beira Baixa, p. 200.

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consequência um relativo afastamento deste ramo familiar, já que os quatro sobrinhos,

órfãos de mãe, terão sido criados pela família do pai.

Na correspondência de Tavares Proença com Luciano de Castro e com outros

parentes e amigos, aquele acaba por evidenciar uma notória tendência para manter uma

relação mais próxima com o ramo familiar Almeida Garrett que com os descendentes

dos aliados Saldanhas (Rio Maior). Assim, constatámos nessa correspondência vários

pedidos de intervenção em vários assuntos a favor de inúmeras pessoas entre os quais

como já dissemos para o cunhado Gonçalo Almeida Garrett e mais tarde para os filhos

destes, como por exemplo em 1894 sabemos que fez um pedido para aquele cunhado ser

eleito para Par do Reino a que José Luciano responde:

“Não tenho podido conseguir a eleição de seu Exmo. Cunhado, como par do

reino. Estou trabalhando para ver se ainda posso obter que ele seja eleito pelo colégio

científico (…) mas por ora não sei se os meus trabalhos terão bom resultado (…).

Enfim, só depois da eleição dos delegados é que poderei dar-lhe uma resposta

definitiva”302.

Um mês mais tarde, José Luciano de Castro volta a justificar-se perante o

insucesso de não conseguir a eleição: “Creia que não tenho descurado a respeito da

eleição de seu cunhado. (…). Fiz quanto pude para o fazer eleger pela Universidade;

mas foram baldados todos os meus esforços. De todos os amigos a quem escrevi, recebi

boas palavras, mas todos se declaravam comprometidos.”303 Este processo prolongou-se

com vários episódios, entre os quais a possível aceitação de Gonçalo Garrett do lugar de

Deputado pela oposição ao Partido Progressista, o que causou grande indisposição de

Luciano de Castro. Acabou por Garrett vir a ser eleito Par do Reino quando em 1898

Tavares Proença foi convidado para integrar a lista a propor ao Rei e Tavares Proença

manda responder “aceito a honra que me é oferecida, não para mim, mas para meu

cunhado Almeida Garrett”304.

302 in A Política do Partido Progressista no distrito de Castelo Branco , segundo as cartas de José Luciano de

Castro a Tavares Proença, carta de 9.4. 1894, p.43. 303 Ibidem,carta de 4.5.94, p.45. 304 Nota in A Política do Partido Progressista no distrito de Castelo Branco, segundo as cartas de José

Luciano de Castro a Tavares Proença, p.57.

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202

Depois de sabermos que interferiu várias vezes em favor do cunhado Garrett e

ter dado continuidade à protecção deste grupo parental que envolvia a sua irmã

Joaquina, ao proteger os sobrinhos, nomeadamente Alexandre Almeida Garrett, vai

escrever ao seu amigo e compadre Aurélio Pinto em 1908 o seguinte:

“Urgente e…confidencial. Vai procurar o J. Luciano e pede-lhe que se o

Alcáçovas lhe for falar em uma pretensão lhe não diga que eu não lhe pedi. – Como tu

sabes, e já me tens criticado por isso, eu não peço o que quer que seja para parentes

meus. O Alcáçovas quer agora um lugar junto da Companhia dos Tabacos e aperta

comigo para que eu peça ao Luciano. Eu não lhe quero dizer que não, mas…não quero

pedir. – Arranja lá forma a desentalar-me. É urgente isto”305.

Torna-se pois, incoerente a afirmação de que não pede nada para a família

quando existem documentos que provam o contrário. Provavelmente não se sentiria

motivado para satisfazer pedidos que surgissem de determinada linha familiar. De facto

quando tentamos identificar o “Alcáçovas” constatamos tratar-se de Caetano Henriques

Pereira Faria Saldanha de Lancastre, 4º conde das Alcáçovas, que em 1900 tinha casado

com Maria Teresa de Saldanha de Oliveira e Sousa, sobrinha de Tavares Proença, filha

e sua irmã falecida precocemente Bárbara Tavares Proença que se casou com o filho dos

Condes de Rio Maior. Isto prova que as relações com o grupo parental de sua irmã

Barbara foi mais distanciado do que com o de sua irmã Joaquina.

Acreditamos que a orientação que deu à sua vida familiar, concretamente o

relacionamento com Judite Gualdino, a sua distância em relação à Igreja tenha

interferido nas relações com a família Rio Maior e as famílias aliadas dos seus

sobrinhos deste ramo familiar. Isto não implica no entanto adversidade, já que mais

tarde, precisamente Alexandre de Proença de Almeida Garrett, um dos filhos de

Joaquina vem a casar com a filha mais velha do conde de Alcáçovas.

Relativamente aos dois filhos de Tavares de Almeida Proença e de Judite

Gualdino, aconteceu que o filho varão nunca se virá a casar. A sua vida não foi muito

longa pois veio a falecer com 33 anos, em 1916, portanto em vida do pai. Foi este filho,

Francisco Tavares de Almeida Proença Júnior um homem que se dedicou ao estudo,

tendo-se dedicado entre outras matérias à arqueologia e fundado mesmo um museu na

305 Estudos de Castelo Branco, Arquivo Tavares Proença, carta de 14.12.1908, p.17.

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203

cidade de Castelo Branco. A ele deve o nome o actual museu municipal da referida

cidade. Dele se escreve na revista Estudos de Castelo Branco: “deve ser considerado um

dos grandes homens de Castelo Branco, merecendo a gratidão do albicastrenses por ter

fundado a expensas suas o ‘Museu Municipal’ que hoje tem o seu nome.”306.

A sua irmã Bárbara Tavares de Almeida Proença, casou com Manuel Vaz Preto

Giraldes Barba de Menezes. Este era filho de Manuel Vaz Preto Giraldes Barba de

Menezes e de Júlia de Sá Valente e, neto paterno de uma figura dominante da Beira

Baixa, ou seja do par do reino Manuel Vaz Preto Giraldes. O pai deste e bisavô do

marido de Bárbara foi João José Vaz Preto Giraldes, o morgado da “Casa da Lousa”,

que casou com sua prima Joana Carlota Giraldes de Bourbon da “Casa da Graciosa”.

O casamento de Bárbara Tavares Proença com Manuel Vaz Preto vem em 1920

unir duas das mais poderosas famílias da Beira Baixa e que durante o último meio

século da monarquia em Portugal mantiveram uma rivalidade política que transvazou os

limites da região da Beira Baixa. Tratou-se da rivalidade entre os Vaz Preto e os

Tavares Proença, chamados os “pretos” e os “brancos” respectivamente, e da qual

falaremos mais detalhadamente quando na terceira parte deste trabalho abordarmos a

importância política das famílias morgadas.

2.7. A “Casa do conde da Idanha” e o morgadio de Peroviseu e Chãos

O futuro conde da Idanha, Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel procede ao

registo de vínculos abrindo dois processos que no entanto se mantêm juntos. O primeiro

diz respeito ao vínculo instituído pelos seus bisavôs em 1751 e o outro processo regista

o morgadio administrado por sua mulher Maria Isabel Osório Macedo, denominado de

Peroviseu e Chãos. Perante o casamento destes dois administradores e com a posterior

abolição dos vínculos, o património destes dois vínculos confunde-se, logo na geração

seguinte, diante de uma descendência de dez filhos.

306 Revista Estudos de Castelo Branco, nº 7, citado por José Luiz de Sampaio Torres Fevereiro, p. 204

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204

2.7.1. A origem do morgadio da Idanha

O morgadio registado por Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel foi instituído

em 1751 por Domingos Ambrósio, sargento-mor, filho de Domingos Ambrósio e de

Leonor Fernandes e casado com Dona Maria Marques Gouloa, filha de Domingos Vaz

Rato (de Escalos-de-Cima) e de Maria Marques Goulão (de Alcains –1670-1766).

Domingos Ambrósio e Maria Marques Gouloa tiveram uma filha, Dona Maria Angélica

Marques Gouloa, nascida em 1725.

Neste processo de registo o documento mais antigo transcrito é precisamente a

“Escritura de dote de casamento que faz o sargento maior Domingos Ambrósio e sua

mulher Maria Marques Gouloa, desta vila de Idanha-a-Nova e o Padre Manuel Vaz Rato

do lugar de Escalos-de-Cima, a sua filha e sobrinha Maria Angélica Gouloa para casar

com o Doutor Bartolomeu Franco Português do lugar do Fundão”307.

O casamento a que se refere este documento terá sido breve e sem descendência.

D. Maria Angélica Marques Gouloa fará um segundo casamento com Jerónimo

Trigueiros Martel Rebelo Leite (1716-1792), filho de Simão Rebelo Martel Leite e de

D: Isabel Trigueiros Costa. Deste casamento nasceu para além de D. Maria Antónia

Trigueiros Martel Rebelo Leite, também Joaquim Rebelo Trigueiros Martel (coronel do

Regimento de Idanha-a-Nova), provavelmente o primogénito, nascido em 1764. Este

último será o sucessor no vínculo de sua mãe, D. Maria Angélica. Em 1818 e em 1829

Joaquim Martel anexou bens ao morgadio. Estas anexações terão valorizado bastante o

vínculo.308 Na segunda e última anexação o então administrador assegura o futuro de

sua esposa, D. Angélica Ludovina de Aragão e Costa perante uma situação de viuvez e

a de seu filho Jerónimo Trigueiros de Aragão que, segundo as datas, em nosso poder

teria na altura desta anexação quatro anos de idade. Sabendo que Joaquim Rebelo

Trigueiros Martel faleceu em 1830, a possibilidade da sua morte estava já presente em

1829.

307 Processo de registo de vínculo, nº 26 fl.17V 308 Conf. Ibidem fls. 2V a 9 e fls. 22V a 24v

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205

Genealogia parcial (a) da “Casa Conde da Idanha” (1707-1924)

Simão Rebelo Isabel Domingos Mª Marques

Martel Leite Trigueiros Costa Ambrósio Gouloa

(Fundador de morgadio)

(1707)

Jerónimo Trigueiros Martel Mª Angélica

Rebelo Leite Marques Gouloa

Angélica Joaquim Rebelo

d´Aragão Costa e Ornelas Trigueiros Martel

Mª Isabel Osório Macedo Sousa Jerónimo Trigueiros

Preto Forjaz Pereira de Gusmão d´Aragão Martel da Costa

(Morgadio de Peroviseu e Chãos) (Conde da Idanha)

Joaquim Mª Mª Mª Mª de la Isabel Jerónimo Antº João José José O. Mª Graciosa Isabel Laura

Trigueiros Carmo Nativ. Pied.. Salete T. O. d´A. . d´A. da Silveira Cardoso

(Conde da Idanha) e Costa Martel e Vasconcelos Juzarte

Joaquim Trigueiros Carlos Nuno

de Almeida Osório de Vasconcelos

Vilhena de Aragão Trigueiros de Martel

(1924)

Diag. 7 (a)

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina;

em normal linha de extinção do morgadio. Filiação Germanidade Casamento (Autora)

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206

Genealogia parcial (b) da “Casa Conde da Idanha”

(1825 – 1941)

Mª Isabel Osório Macedo Sousa Jerónimo Trigueiros

(Morgadio de Peroviseu e Chãos) (Conde da Idanha)

Preto Forjaz Pereira de Gusmão d´Aragão Martel da Costa

(1825)

Mª Angélica José de Figueiredo Mª Joaquim João José José O. Mª Graciosa Isabel Laura

Torres Coelho Pimenta Avelar da Natividade Trigueiros T. O. d´A. . d´A. da Silveira Cardoso

(Conde da Idanha) e Costa Martel e Vasconcelos Juzarte

Joaquim Trigueiros José Mª Natividade António Joaquim Trigueiros Carlos Nuno Mª Ester

Aragão Trigueiros de F. T. Coelho de Almeida Osório de Vasconcelos Garcia

Frazão de Aragão Vilhena de Aragão Trigueiros de Martel de Lemos

Joaquim Trigueiros Mª de la Salete Mª Angélica Diogo Paulo

Frazão de Aragão T. Coelho F. Osório de Portugal

de Aragão. Martel Lobo F. Aragão

Diogo João Jerónimo

(1939) (1940) (1941)

Diag. 7 (b)

Legenda: Em negrito transmissão do morgadio em linha primogénita masculina

Filiação Germanidade Casamento (Autora)

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207

Nº 13 – Casa do conde da Idanha em Alcains

Nº 14 – Casa da dos condes da Idanha na Idanha–a-Nova

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208

Terá sido por isso mesmo que neste último documento de anexação, os

interesses de seu filho são defendidos por um curador e D. Angélica, a esposa, ao

consentir na anexação, aceita igualmente ficar com o usufruto “dos rendimentos dos

bens anexados como alimentos consignados por sua vida, conservando-se no estado de

viuvez em lugar das arras que lhe foram prometidas no contrato exponsalício por ele

ilustríssimo marido (...)”309. Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel da Costa será assim

o filho único deste casamento que vai assegurar a sucessão do morgadio. O seu

casamento com D. Isabel Osório Macedo igualmente filha única, sucessora no morgadio

de Peroviseu e Chãos, une como já se referiu estes dois vínculos.

2.7.2. Instituição e transmissão do morgadio de Peroviseu e Chãos

A origem deste morgadio encontramo-la num testamento, datado de 24 de

Novembro de 1696, em que um prior de Peroviseu, Luís Machado Freire decidiu, com o

seu património, instituir dois morgadios e privilegiar na sua sucessão, as suas irmãs

Maria Machada e Isabel Machada da Cunha e os sobrinhos, filhos destas, que deverão

ser não só os seus testamenteiros, mas também os principais herdeiros310: Por este

testamento sabemos que o padre testador, para além das duas irmãs referidas, teve

mais irmãs e irmãos - dos quais dois tinham, na altura, já falecido. No entanto e apesar

de fazer referência no documento a todos os irmãos, a atribuição de bens só contempla

alguns, o que espelha a relação entre Luís Machado Freire com aqueles. Assim, o padre

faz referência aos irmãos Manuel Machado (que também tinha sido prior em Peroviseu)

e José Machado ambos falecidos e dos quais terá herdado bens. Relativamente aos

irmãos vivos menciona: António Machado a quem testa dez mil réis e 15 alqueires de

centeio; Ana Machada que deverá receber vinte mil réis; Domingos da Cunha e seus

descendentes que “nada deverão herdar”; Tomé Machado que deve receber dez mil réis;

Catarina Machada, casada com Francisco Giraldes e mãe de Manuel Giraldes que nada

deverão herdar. A vontade do autor do testamento é que na realidade sejam as suas duas

irmãs, Maria Machada e Isabel Machada da Cunha, a receberem o seu património

principal, constituído na sua parte mais consistente por dois morgadios instituídos,

como já referimos, no testamento em causa.

309 fl.23V 310 Optámos por actualizar a escrita em todas as citações feitas a partir de documentos.

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Genealogia parcial do morgadio de “Peroviseu e Chãos”

Peroviseu

Peroviseu

Prior Luis Maria Francisco Isabel Diogo Dias

Machado Machada Gil Machada Preto

Freire da Cunha (test. 1696)

Chãos Peroviseu e Chãos

Francisco Luis Lourencço Dias

Gil Machado Maria Diogo Dias Machado

Freire Machada Machado (test.1725)

Luis Machado

Micaela Diogo Dias Freire Mota Godinho Machado Preto

Paula Catarina Osório Diogo Dias Preto da Cunha

Coutinho Preto

Diogo Dias José Coutinho Antónia Soares

Preto da Cunha da Cunha Machuca (Chantre)

Diogo Dias Preto Ana Justina Osório Cabral de Sousa

Diogo Dias Preto Maria Justina Macedo

Jerónimo Trigueiros Isabel Osório

Aragão Martel de Macedo

da Costa

Diag. nº 8

Legenda: Indivíduos pelos quais se processou a herança

e a transmissão do morgadio de Peroviseu e Chãos

Herança e sucessão

Junção de morgadios

(test.) testamento (Autora)

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210

Nº 15 – “Casa do castelo” no Fundão, mandada construir por José Trigueiros Martel

no início do regime republicano. Pretendeu através da sua arquitectura

reafirmar valores monárquicos.

Foto nº 16 – Casa que pertenceu ao morgadio de Peroviseu e Chãos, situada na aldeia

dos Chãos (Fundão)

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211

Relativamente à parte dos bens deixados à irmã Maria Machada - instituídos em

morgadio - estabelece que após a morte desta, aqueles passem ao filho Luís Machado

Freire e depois do falecimento deste último, para a sua irmã, chamada tal como a sua

mãe, Maria Machada. Fora da sucessão e herança ficará sempre Francisco Gil, filho

primogénito desta irmã do padre de Peroviseu e portanto irmão de Luís e de Maria. No

testamento em análise ficou registado que Francisco Gil nunca deveria ter acesso à

posse ou administração dos bens do seu tio. Possivelmente um casamento não aceite

estará na origem desta exclusão. Uma das menções feitas a este sobrinho, diz o seguinte:

“suposto que neste testamento acima declarado que Francisco Gil filho da dita minha

irmã Maria Machada nunca em tempo algum sucederia na dita minha fazenda, contudo

por certas razões que me movem, quero e sou contente que também seja admitido a

gozá-la, guardando-se acima, neste testamento referida, contudo nunca nela sucederão

os filhos que teve da primeira mulher que são os Ramos, nem os descendentes destes

tais filhos”311.

A transmissão do seu património e a exclusão de familiares do acesso a este é de

resto uma preocupação constante do instituidor. Ao estabelecer as condições de

transmissão, após a morte da sobrinha Maria, o padre volta a nomear os familiares que

nunca deverão herdar destes bens: “e também que nunca em tempo algum suceda, nem

haja a tal fazenda meu irmão Domingos da Cunha e seus descendentes, nem minha irmã

Ana Machada, moradora no lugar do Fundão nem seus descendentes, nem Manuel

Giraldes filho de minha irmã Catarina Machada, nem os descendentes dele, nem

Francisco Gil, filho da sobredita Maria Machada minha irmã, nem descendentes

dele”312.

As obrigações impostas aos sucessores e herdeiros serão repetidas quando o

clérigo se refere à instituição de um segundo morgadio. Este deverá vir a ser

administrado pela irmã Isabel Machada da Cunha. Relativamente a este vínculo o

instituidor refere o facto de ele ser constituído apenas por bens seus - enquanto do

primeiro faziam parte bens herdados dos irmãos falecidos – e, indica que o sucessor,

após a morte de sua irmã Isabel, será o filho desta, Diogo Dias Machado:

311 Testamento do Padre Luís Machado de 1696, já citado, fl.135v 312 Ibidem, fls. 122v e 123

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212

No entanto, esta sucessão não será simples, pois estará dependente do casamento

preferencial deste sobrinho, Frei Diogo Dias Machado com Maria Machada, a outra

sobrinha, filha da irmã para quem instituiu o primeiro morgadio. Na realidade, o

testador manifesta a vontade de os dois morgadios virem a unir-se, na posse e

administração de um único descendente.

Depreendemos da redacção do documento em causa que, relativamente ao

vínculo transmitido a Maria Machada, a acção do instituidor se encontra condicionada

pois, como afirma, aquele vínculo é constituído por bens herdados dos seus irmãos

falecidos, os quais terão manifestado a vontade desse património vir a ser legado a

Maria Machada. Relativamente ao segundo vínculo, por ser constituído por bens

unicamente seus, o prior sente-se mais livre para impor condições a sua irmã Isabel e

aos seus descendentes, nas futuras transmissões. Estas condições surgem sob a forma de

duas possibilidades. A primeira, que depreendemos ser considerada por ele a ideal,

assenta no casamento do sobrinho Frei Diogo Dias Machado (filho de Isabel) com a

sobrinha Maria Machada (filha de Maria Machada). Esta aliança matrimonial deveria

ser o caminho mais evidente para a unificação dos vínculos. Mas no caso de tal não vir a

acontecer, o testador ditou uma segunda via para o mesmo fim.

Assim, se não houvesse casamento por recusa de Frei Diogo Dias Machado, o

sucessor e herdeiro de Isabel Machada da Cunha seria o seu segundo filho varão,

Lourenço Dias Machado que, por sua vez, passaria o vínculo a uma irmã nomeada por

si. Ou, no caso de não fazer nomeação, determinou o instituidor dever a administração

do morgadio transitar da irmã mais velha para a mais nova e quando esta última

falecesse deveria unir-se o vínculo ao primeiro, instituído em favor da irmã do padre,

Maria Machada. Ficando assim, para sempre, unido e administrado pela descendência

desta última, com a natural perca para os descendentes de Isabel. Se, pelo contrário,

fosse a sobrinha Maria Machada a recusar casar com o primo Diogo Dias Machado ou

mesmo com o irmão deste, Lourenço Dias Machado, os vínculos manter-se-iam

separados. Maria Machada administraria o morgadio que recebeu do irmão, o prior de

Peroviseu, enquanto Dona Isabel e os seus descendentes manteriam o segundo

morgadio, instituído pelo mesmo.

Explicitando melhor, o que se desejava que acontecesse era a unificação dos dois

morgadios através do casamento entre os dois primos ou uma unificação mais tardia, a

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verificar-se no caso em que Diogo Dias Machado se negasse a casar com a prima Maria

Machada. Nesta última situação, determinava o padre a passagem do morgadio,

instituído a favor de Isabel, para os descendentes da prima rejeitada, após a extinção da

primeira geração de descendentes da referida Isabel. Os vínculos manter-se-iam

separados somente no caso em que a recusa em casar com Diogo ou com o irmão deste,

Lourenço Dias Machado, fosse decisão da prima. Neste último caso, a sanção prevista

pelo instituidor seria de nem Maria Machada nem a sua descendência poder herdar e

suceder no morgadio de Isabel. A explicação dos objectivos do instituidor do morgadio

de Peroviseu e Chãos talvez fique mais clara se atendermos às suas palavras:

“e casando o dito meu sobrinho Frei Diogo Dias Machado com a minha sobrinha

Maria Machada filha de minha irmã Maria Machada se vinculará este morgado e capela

que também acima neste meu testamento deixo a dita minha irmã Maria Machada

observando-se, guardando-se e cumprindo-se em tudo as clausulas nele conteúdas, e isto

se entende que serão os ditos meus sobrinhos Frei Diogo Dias Machado e minha

sobrinha Maria Machada, casados e recebidos em face da Igreja (...) e não casando o

dito meu sobrinho Frei Diogo Dias Machado com a dita minha sobrinha Maria Machada

como acima tenho dito, passará a dita capela e morgado a meu sobrinho Lourenço Dias

Machado filho da dita minha irmã Dona Isabel Machada da Cunha, ajudando também

com os rendimentos do dito morgado a sustentar suas irmãs e filhas da dita Dona Isabel

Machada da Cunha e por morte do dito Lourenço Dias Machado meu sobrinho passará

o dito morgado a uma das suas irmãs (...) e por morte dos ditos meus sobrinhos Frei

Diogo Dias Machado e Lourenço Dias Machado e das ditas minhas sobrinhas filhas da

dita minha irmã Dona Isabel Machada da Cunha passará este morgado e capela, e se

unirá e vinculará a outro morgado e capela que deixo a minha irmã Maria Machada,

viúva que ficou do capitão Francisco Gil do lugar dos Chãos, freguesia das Donas, mas

isto se há-de entender no caso que o dito meu sobrinho Frei Diogo Dias Machado não

queira casar com a minha sobrinha Maria Machada filha da dita minha irmã Maria

Machada e que por culpa dele se não fizer o tal casamento, e também dado caso que a

dita minha sobrinha não queira casar com o dito meu sobrinho Frei Diogo Dias

Machado ou com meu sobrinho Lourenço Dias Machado filhos da dita Dona Isabel

Machada da Cunha, nestes termos não deixo a dita minha irmã Maria Machada e sua

filha Maria Machada minha sobrinha este segundo morgado e capela antes o deixo a

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minha irmã sobredita Dona Isabel Machada da Cunha e seus descendentes para sempre

(...)”313.

A primeira vontade do prior Luís Machado Freire cumpriu-se e Diogo Dias

Machado, como o denomina o prior, ou Diogo Dias Preto como sempre é referido nos

documentos, casa-se com a prima Maria Machada (ou Maria Machada Freire, nome

com que surge no assento de casamento). Esta cerimónia foi realizada em Peroviseu, no

dia 19 de Outubro de 1699. Entretanto, o padre instituidor provavelmente já teria

falecido, pois o assento de casamento realizado na Igreja de Peroviseu foi assinado pelo

“prior encomendado” padre Manuel de Paiva Duran.

Este matrimónio foi o que se pode considerar uma boa aliança. O enlace destes

dois primos garantiu a unificação dos dois morgadios, dando assim continuidade, tudo o

indica, à pretensão do tio Luís Machado: a formação de uma Casa assente no

património que ele conseguiu estrategicamente unir. A prossecução deste objectivo

dependeria agora da fertilidade dos nubentes. Tratou-se, também de facto, de um

casamento bem sucedido relativamente à descendência. Em 22 de Março de 1700, cinco

meses após o casamento nascia Diogo, o primeiro filho. Segue-se Luís, em 1702;

Clemente, em 1705; João, em 1707 e Paula, em 1709.

Os morgadios unidos através deste casamento dizem respeito, quase

exclusivamente, a bens imobiliários situados na região de Peroviseu, será a anexação de

um terceiro morgadio cujo património se situa nos Chãos e seus limites (no mesmo

concelho do Fundão, freguesia das Donas) que estende os bens vinculados até esta

última aldeia. A instituição deste outro morgadio é feita no testamento de Luís Machado

Freire, sobrinho e homónimo do primeiro instituidor. Trata-se de um dos três filhos da

irmã Maria Machada, portanto um dos irmãos da noiva referida anteriormente. Este Luís

Machado Freire sucederá ao tio no cargo de prior de Peroviseu e por ele deverá passar a

administração do morgadio em caso da morte da mãe, antes de passar para sua irmã,

(Maria Machada) da qual se esperava que casasse com o primo (Diogo Dias Machado) e

se concretizasse a junção dos dois vínculos, como verificámos ter acontecido.

313 Ibidem, fls. 133,133v,134.

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Luís Machado Freire nasceu nos Chãos em 1661314. Atendendo à data do seu

nascimento pensamos que em 1696, ano do testamento do seu tio (o primeiro

instituidor), este segundo padre com trinta e cinco anos, já teria uma posição

consolidada dentro da Igreja e um património próprio, situação para que deverá ter

concorrido o apoio do seu tio. Deste padre, temos conhecimento do seu testamento feito

em 1725, onde também institui um morgadio com parte dos seus bens. Mais uma vez

está presente nas determinações relativas à sucessão nesta instituição, a ideia de

unificação dos morgadios. Com esta finalidade, o clérigo nomeia para administradora

do referido morgadio a sua irmã Maria Machada que, relembre-se, era a detentora

conjuntamente com seu primo e marido Diogo Dias Machado (ou Preto) dos bens

vinculados pelo tio nas duas primeiras instituições que descrevemos. Estabelece ainda

que deverá suceder a Maria Machada o seu filho Luís Machado Freire (homónimo do

seu tio e do seu tio-avô) que no caso de morrer sem filhos deverá passar a administração

do vínculo para o irmão, Diogo Dias Machado Preto.

Neste caso deparamo-nos com uma preferência interessante: o filho mais novo é

preferido ao mais velho na sucessão. Conforme se pode comprovar pelos assentos

paroquiais de baptismo, Luís nasce em 1702 quando Diogo já tinha nascido em 1700315.

No entanto, esta preferência poderá estar ligada à vontade do padre proteger o sobrinho

que seguindo o seu exemplo terá enveredado pela vida religiosa, prevendo-se,

naturalmente, a ausência de descendência, o que significava a administração do vínculo

vir a recair no irmão Diogo Dias Machado Preto ou nos filhos deste. São as seguintes as

palavras usadas pelo autor do testamento:

“(…) disse ele reverendo testador que chama em primeiro lugar para

administradora deste morgado ou capela a sua irmã Dona Maria Machada viúva que

ficou de Frei Diogo Dias Preto deste lugar de Peroviseu, e por morte da dita sua irmã,

chama para administrador do dito morgado ou capela em segundo lugar o seu sobrinho

Luís Machado Freire, filho da dita sua irmã Dona Maria, e se este segundo chamado

morrer sem filhos de legítimo matrimónio passará o dito morgado ou capela a seu

314 ANTT-registos paroquiais, Dist. Castelo Branco, Conc. Fundão, Freg. Donas, microfilme, rolo nº249 315 ANTT-registos paroquiais, Dist. Castelo Branco, Conc. Fundão, Freg. Peroviseu, microfilme, rolo 267

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sobrinho Diogo Dias Machado Preto todos deste mesmo lugar (...)”316.O acaso

determinou que Diogo Dias Machado Preto, apesar de mais velho, tenha sobrevivido ao

irmão padre e viesse a administrar o morgadio, entretanto já chamado de “Peroviseu e

Chãos”. Tivemos acesso ao seu testamento datado do ano de 1756, altura em que tem a

seu cargo a referida administração.

Diogo Dias Machado Preto, segundo o documento, foi familiar do Santo Ofício,

Alferes de Cavalos do Regimento de Dragões de Castelo Branco. Casou com Micaela

Maria da Mota Godinho. Situámos nos registos paroquiais o baptismo de três filhos

deste casamento: Diogo, Angélica e Paula.

No testamento deste sucessor está implícito que o seu filho varão dará

continuidade à administração do morgadio. A sua preocupação, manifestada no

documento em questão, prende-se com a sua terça que é essencialmente constituída por

terras e outros bens que herdou dos avós paternos ( Isabel Machada da Cunha e Diogo

Dias Preto). O remanescente da referida terça – depois de cumpridas todas as

obrigações - deveria ficar na posse de sua mulher Micaela Maria da Mota e passar

depois da sua morte à única filha viva, Paula - Angélica era à data do testamento já

falecida. Após a morte de Paula, a terça deveria ser vinculada ao primeiro morgado

instituído em 1696: “(...) e depois de meus legados cumpridos deixo o remanescente de

minha terça a minha mulher Dona Micaela Maria da Mota Godinho e por sua morte a

nossa filha Dona Paula e por morte desta ficará vinculada a dita terça ao primeiro

morgado instituido pelo primeiro Prior Luis Machado (...)”317.

Transparece da redacção deste testamento a preocupação do morgado com a

sobrevivência económica da sua esposa e da sua filha. Esta, cujo nome completo foi

Paula Maria Angélica Preto da Cunha, casou com o Dr. Manuel Tavares Falcão. A

posição deste casal em relação à forma como foi feita a administração dos bens da

família não parece ter sido totalmente pacífica e provavelmente terá levantado alguns

problemas. A esse propósito voltaremos a referir-nos a Manuel Tavares Falcão mais

adiante, relativamente a uma anexação feita mais tarde pelo sobrinho de sua esposa

Paula, Diogo Dias Preto da Cunha que virá a ser Chantre da Sé da Guarda.

316 Testamento de Luís Machado Freire, de 1725, transcrito no Processo de Registo de Vìnculos, ANTT,

Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc. nº 27, fl.141. 317 Testamento de Diogo Dias Machado Preto, de 1756, transcrito no Processo de Registo de Vínculos, ANTT,

Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc.27, fl.146.

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Na realidade, foi o irmão de Paula, Diogo Dias Preto que administrou o

morgadio de Peroviseu. Diogo casou com Catarina Maria Osório Coutinho com quem

teve seis filhos, segundo o que pudemos apurar: Diogo, nascido provavelmente em

1744; Maria, nascida em 1745; José, em 1746; Rosa, em 1748; Antónia, em 1750; Luís

Justiniano, em 1753.

Nesta geração, a sucessão do vínculo teve de se adaptar ao facto do primogénito

da fratria referida, Diogo Dias Preto da Cunha, enveredar pela carreira eclesiástica e não

assumir a sucessão. Este facto, não o impediu, no entanto, de orientar a administração

do morgadio e continuar a tratar do engrandecimento da família. Este, que será o já

referido Chantre da Sé da Guarda, vai reunir na sua posse grande quantidade de

propriedades na aldeia dos Chãos, as quais virá a anexar ao morgadio. Terá sido a partir

deste momento que o património do vínculo nesta última aldeia se torna ainda mais

significativo.

A sucessão recaiu no sobrinho do Chantre, filho do irmão (capitão-mor José de

Sousa Osório Coutinho da Cunha). Enquanto tal não aconteceu é possível que a

administração do morgadio se tenha prolongado entretanto nas mãos do pai do clérigo.

Sabemos que o pai do Chantre, está ainda vivo em 1794, altura provável do

casamento do seu neto e sucessor na administração do vínculo. Chamou-se este neto

Diogo Dias Preto Osório Cabral, nascido em 1776 e filho do já referido capitão-mor e

de Antónia Margarida de Vilhena Soares Machuca. Em 1816, é este neto que administra

os bens vinculados e é no mesmo ano que o tio faz uma escritura de anexação de terras e

casas ao morgadio.

Tal como escrevemos algumas linhas atrás, encontramos indícios que nos fazem

crer que esta anexação não foi totalmente pacífica, já que em dado momento do

documento surge o nome de Manuel Tavares Falcão, marido de Paula - tia do Chantre

da Sé da Guarda - como opositor ao processo, embora tendo desistido dessa oposição. É

a seguinte a observação que nos faz levantar a questão: “(...) ouvindo o imediato

sucessor do dito morgado que convém na sua pretensão do suplicante, como também a

suposta oposição de Manuel Tavares Falcão, sendo ouvido com precedência de

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218

informação do Corregedor da Comarca de Castelo Branco, insta se faça a união dos

ditos bens, afirmando ter sido por engano a sua chamada oposição (...)”318.

Assim, como as palavras indicam, o aumento do património vinculado acabou

por não ser posto em causa.

Diogo Dias Preto Osório Cabral, que veio a ser vereador da 1ª Câmara do

Fundão, casou com Ana Justina de Sousa, filha de Diogo Homem de Brito e de Joana

Teresa Centúrio. Os assentos paroquiais319 dão notícia do nascimento de seis filhos:

Diogo, nascido em 1796; José, em 1797; Maria, em 1799; Luís, em 1801, Francisca, em

1805; Rosa, em 1807.

Mais uma vez o primogénito, igualmente nomeado Diogo Dias Preto assume a

sucessão do morgadio. Casará com Maria Justina de Macedo. Deste matrimónio apenas

nascerá uma filha, Isabel Osório de Macedo. A vida deste último Diogo parece ter

atravessado dificuldades, dedução que fazemos do facto de ser citado como “demente”,

numa sentença formal de partilhas320, feita após a morte de sua esposa Maria Justina e

requerida por sua filha em 1863.

Isabel Osório de Macedo casou com Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel da

Costa, visconde do Outeiro que virá a ser 1º conde de Idanha a Nova (na sua família). É

este casal que, como já afirmámos, faz em 1863 o registo do vínculo de Peroviseu e

Chãos simultaneamente com o registo do morgadio da Idanha cujo administrador é o

futuro conde.

Com esta descendente única e, este casamento, acontecido numa época em que

os ideais liberais vieram a ditar a lei de extinção dos morgadios, indiciam para o vínculo

de Peroviseu e Chãos um futuro muito diferente de um passado em que a sua

manutenção, aumento e transmissão se manteve de forma estável, sem sobressaltos

visíveis, durante sete gerações.

318 Ibidem, fl. 2v. 319 ANTT-registos paroquiais, Dist. Castelo Branco, Conc. Fundão, Freguesia Peroviseu, microfilme, rolo 268. 320 Transcrita no processo de registo do morgadio, ANTT, Vínculos Abelho, Castelo Branco, proc.27, fl. 149.

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219

2.7.3. A lógica das alianças matrimoniais

Uma das preocupações constante do grupo de descendentes de Luís Machado

Freire – fundador do morgadio Peroviseu e Chãos -, foi a conservação e o aumento do

seu património material e simbólico. As alianças matrimoniais representaram uma das

vias mais significativas para concretizar esses interesses.

A necessária correlação entre o modo de transmissão dos bens e a lógica dos

casamentos fez com que a escolha de cônjuge não devesse ser deixada ao acaso. Tal,

ressaltou da análise da reconstituição genealógica da família detentora do morgadio de

Peroviseu e Chãos. A nossa atenção cingiu-se principalmente às alianças matrimoniais

estabelecidas pelos sucessores na administração vincular, com o objectivo de

detectarmos possíveis correlações entre estas alianças e as preocupações de manter

indivisível o património, de dar continuidade ou aumentar o poder e prestígio familiar.

A primeira aliança, estabelecida segundo as orientações testamentárias do

primeiro instituidor, o prior Luís Machado Freire, é talvez a que mais evidencia o

propósito e o desejo de, com base na união dos patrimónios, fortalecer o poder familiar.

Trata-se, como já explicámos no ponto anterior, do casamento entre dois primos

direitos. Com este casamento unem-se os dois morgadios que o referido padre destinou,

num primeiro tempo, a duas das suas irmãs, as mães dos nubentes. Este tipo de aliança

entre consanguíneos próximos, não voltará a ser repetida pelos sucessores seguintes. No

entanto a concentração do património conseguida neste primeiro casamento determinará

certamente alianças futuras, com o objectivo de o manter intacto ou ainda, se possível,

aumentá-lo.

A tendência da escolha de parceiros conjugais nas gerações seguintes parece

caracterizar-se pela exogamia familiar, mas também local. Se considerarmos que em

determinadas circunstâncias um tipo de aliança pode determinar a realização de outras

de características idênticas, não é realmente a repetição de alianças dentro do parentesco

que observamos na genealogia em análise. Podemos sim, referir um outro tipo de

regularidade, ou seja o recrutamento frequente de cônjuges com laços de parentesco

próximos com figuras eclesiásticas. Com efeito, tal como referiu Armindo dos Santos:

“alianças futuras são determinadas por alianças passadas, o que conduz a estruturar o

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220

campo matrimonial em função de estratégias múltiplas (...) que se inscrevem no interior

de um espaço de acção social de referência identitária”321.

Tudo indica que durante o período em que seguimos a transmissão deste

morgadio, os indivíduos que asseguraram a sua continuidade relacionaram-se com um

universo marcadamente eclesiástico. As vantagens trazidas à Casa por alianças em que

os benefícios eclesiásticos estavam presentes foram assim, procuradas em várias

gerações.

A este propósito, Fernanda Olival e Nuno Monteiro referem que os benefícios

eclesiásticos “podiam representar um primeiro espaço de capitalização de honra e

recursos a serem reinvestidos nos parentes, designadamente nos irmãos, irmãs,

sobrinhos e sobrinhas. Esta questão era tão ou mais significativa quanto, geralmente, se

esboçava à escala das pequenas localidades”322.

De facto, ao longo dos duzentos anos em observação, houve sempre pelo menos

uma entidade religiosa muito próxima de cada um dos sucessores. Quando o

eclesiástico não era um consanguíneo, era consanguíneo de aliado.

Como referimos na descrição da fundação e transmissão do morgadio, o padre

Luís Machado faz as primeiras instituições em 1696 reunindo património seu ao

herdado de dois irmãos igualmente padres. Na geração seguinte, um dos seus sobrinho,

filho da irmã Maria Machada, chamou-se igualmente Luís Machado Freire e foi padre,

tal como o tio, na Igreja de Peroviseu, assegurando assim, nesta geração, a presença do

poder eclesiástico junto da família. Este último teve também o seu nome reproduzido

num dos sobrinhos, um irmão do sucessor na administração do vínculo. Relativamente a

este sobrinho apenas conseguimos saber que para além de se chamar Luís Machado

Freire, nasceu em 1702. Acreditamos que também lhe estivesse, à partida, destinada a

carreira eclesiástica, no entanto não conseguimos mais notícias deste indivíduo.

Sabemos porém que o seu irmão que sucedeu na administração do morgadio, foi Alferes

de Cavalos e Familiar do Santo Ofício e casou com Micaela Maria da Mota Godinho,

irmã do Padre Inácio Godinho da Costa e Mota, o padre que substituiu Luís Machado

321 «Identité et parenté», in AAVV, Espaces et Culture, (ed. Pierre Pellegrino), Berne/Saint-Saphorin, Editions

Georgi-Saint-Saphorin,p.212. 322“ Mobilidade social nas carreiras eclesiásticas em Portugal (1500-1820)” in Análise Social, vol.XXXVII,

Inverno de 2003, p.1229.

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221

Freire na Igreja de Peroviseu. Continuando, assim, a sentir-se a presença do mundo

eclesiástico junto desta família.

Voltamos a encontrar outra entidade clerical, agora consanguínea, no neto do

casal Diogo e Micaela. Trata-se do neto primogénito, Diogo Dias Preto da Cunha,

Chantre da Sé da Guarda. Este, contribuiu grandemente para o aumento do património

da sua Casa e possivelmente para o seu prestígio. O clérigo da Guarda vai concorrer

para o acréscimo do vínculo com a anexação de grande quantidade de propriedades

situadas na aldeia dos Chãos. O seu sobrinho - filho do irmão José - e futuro sucessor no

vínculo, Diogo Dias Preto Osório Cabral, também é beneficiado com doações do tio

como referiremos adiante. A presença eclesiástica mantém-se através da aliança

matrimonial concretizada por este último, dado casar-se - provavelmente em 1794 - com

Ana Justina de Sousa, sobrinha por via materna do Padre Domingos Pires Centúrio (da

aldeia de Castelejo) e por via paterna do Bispo de Angola.

Assim, em documentos da Chancelaria de D. Maria I323, encontramos as

doações, datadas de 1794, recebidas pelo casal Diogo Dias Preto Osório Cabral e Ana

Justina, da parte do Chantre da Catedral da Guarda e de D. Luís Brito Homem, Bispo de

Angola. Pretendem estas doações, a que se juntam as da mãe, do irmão e as de seis

irmãs de Ana Justina de Sousa e ainda do avô do noivo, assegurar a sobrevivência

económica do casal enquanto Diogo não aceder à administração do vínculo. Além dos

bens que deverão ter sido recebidos na data em que foram feitas as escrituras, é referido

num destes documentos que Diogo Dias Preto deverá ser o herdeiro do Chantre.

Mais uma vez temos que considerar estar perante atitudes muito comuns na

época, pois como afirmam Fernanda Olival e Nuno Monteiro:

“não era apenas em torno da instituição de morgadios que actuavam os eclesiásticos em

favor dos respectivos parentes. Por vezes era muito importante o seu papel no mercado

matrimonial, independentemente do patamar do espaço social que se queira considerar,

quer pela sua hipotética contribuição nos dotes de irmãs e sobrinhas, quer pelo

empenhamento do seu capital de status na escolha do cônjuge. Os exemplos a invocar

seriam inúmeros”324.

323 Conf. ANTT, Chancelaria D. Maria I, Próprios, Livro 47, fls. 296 a 300. 324 “Mobilidade social nas carreiras eclesiásticas em Portugal (1500-1820)” in Análise Social, vol. XXXVII,

Inverno de 2003, p. 1232

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222

Ao filho e sucessor deste último casal tão protegido por doações - a que não

seriam estranhos o prestígio e riqueza da Igreja Católica – foi dado o nome de Diogo

Dias Preto, mantendo a tradição familiar. Nascido em 1796 veio a casar com Maria

Justina de Macedo Tovar de Vilhena de Gusmão Mendonça. Este matrimónio, sem

deixar de ser uma boa aliança, já não está tão próximo de entidades religiosas como as

anteriores. De facto, não devemos esquecer que este sucessor vai viver o auge da sua

juventude num ambiente marcado pela Revolução Liberal, época que como sabemos,

não é muito auspiciosa para a Igreja Católica e para os que dela vivem.

Concluindo, sublinhamos a ideia de que os morgados de Peroviseu e Chãos ao

privilegiarem as alianças matrimoniais feitas com famílias onde prevaleciam as carreiras

eclesiásticas terão usufruído de vantagens que permitiram o aumento do poder

económico, político e simbólico da Casa a que pertenceram.

2.7.4. A gestão do património após a extinção legislativa do morgadio

Como já referimos os morgadios da Idanha e de Peroviseu e Chãos vão ser

registados em simultâneo e tudo indica que a sua administração será feita em conjunto

por Jerónimo Trigueiros de Aragão Martel da Costa, à vontade do qual se deverá ter

submetido a sua esposa, sucessora e herdeira de Peroviseu e Chãos.

Será neste novo desenvolvimento que o património dos dois vínculos irá receber

o impacto da legislação que em 1863 extingue os morgadios. Tudo indica que não

resistiu à partilha dos seus territórios que a lei passou a permitir e os novos ideais

sociais incentivavam. Não seria necessário que assim fosse, pois como afirma Brien

O’Neill em relação ao Código Civil de 1867: “o Código Civil não foi um Deus ex

machina que instituiu as partilhas em todo o país”325. Por vias diversas, a lei continuou a

permitir o desenvolvimento de acções que evitavam a divisão patrimonial e a prova

disso é a existência ainda nos dias que correm de casas e patrimónios fundiários cujas

dimensões indicam que a partilha igualitária não foi estritamente cumprida. De facto e

neste caso o testamento de Jerónimo Trigueiros comprova a existência de possibilidade

325 “Práticas de Sucessão em Portugal : Panorama Preliminar” in Trabalhos de Antropologia e Etnologia, Vol.

37, Porto,1997, pp.121/148.

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223

de continuar a favorecer na herança determinados descendentes. Assim o casal

registador dos morgadios teve dez filhos. Tendo a morte de Isabel, ocorrido após o parto

do seu 10º filho, o marido Jerónimo Trigueiros fará, na situação de viúvo, o seu

testamento no ano de 1900. Neste documento o testador favorecerá, usando a terça, as

filhas que o acompanham na velhice, Maria de La Salete e Maria Isabel, e

principalmente o seu filho primogénito, Joaquim, 2º conde da Idanha, a quem deixa a

Quinta do Outeiro e propriedades anexas e ainda uma quantia em dinheiro. Este

primogénito casou com Maria Angélica Torres Coelho, de Alcains, filha de Francisco

Pereira Torres, lente catedrático da Universidade de Coimbra. Esta aliança, apadrinhada

por Manuel Vaz Preto Giraldes, da Casa da Lousa e por Afonso Giraldes da Casa da

Graciosa, foi muito vantajosa economicamente para Joaquim Trigueiros, pois o pai da

noiva era detentor de grande fortuna. Em 1889, o Conselheiro João Franco em carta

dirigida a Tavares Proença, refere-se a Joaquim Trigueiros como o “herdeiro do bom

coelho”326, numa alusão à fortuna que este recebeu do seu sogro.

Do casamento de Angélica Torres Coelho com o 2º conde da Idanha nasceram

quatro filhos sendo o primogénito também chamado Joaquim. Este casou com sua prima

direita, Maria Natividade Trigueiros de Figueiredo Frazão, filha da irmã de seu pai,

igualmente de nome Natividade e que tinha casado com o 2º visconde do Sardoal, José

de Figueiredo Pimenta Avelar Frazão. Este primogénito nunca tomou posse do título

pois morreu com 45 anos ainda em vida do pai. Assim foi 3º conde de Idanha, o seu

filho Joaquim Trigueiros Frazão de Aragão que casou com Leonor Osório de Castro.

Deste casamento não houve descendência, o mesmo acontecendo da parte da irmã do

conde, Maria de La Salete Trigueiros Coelho que faleceu solteira. Esta linha familiar

dos Trigueiros de Aragão que se cruzou com os Viscondes do Sardoal, extingue-se

nesta geração.

O segundo filho do 2º conde de Idanha foi António Trigueiros de Aragão que

casou com Ana Augusta de Portugal Lobo Vasconcelos. Deste casamento nasceram

quatro filhas. A primogénita Maria Angélica de Portugal Lobo Trigueiros de Aragão

casou com um primo direito de seu pai, Joaquim Trigueiros de Almeida Osório de

Vilhena de Aragão. Deste casamento nasceram três filhos: Diogo de Portugal Trigueiros

326 Conf. “Cartas Politicas do Conselheiro João Franco a Tavares Proença”, Separata de Estudos de

Castelo Branco, 1963, p. 45

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224

de Aragão (1939), João de Portugal Trigueiros de Aragão (1940) e Jerónimo de

Portugal Trigueiros de Aragão (1941).

O património dos morgadios de Peroviseu e Chãos e da Idanha, terá sofrido

diversas partilhas e enfrentou com as gestões empreendidas pelo filho do 2º conde,

António Coelho de Aragão, e pela do sobrinho deste, o 3º conde de Idanha, importantes

perdas. Pois o envolvimento destes indivíduos em negócios ligados a actividades

industriais terão obrigado a diversas vendas.

Actualmente este património divide-se, essencialmente, por duas linhadas que

procuram distinguir-se pelo nome e pela situação genealógica em relação ao 1º conde.

De facto e apesar de o título de conde da Idanha ter a sua representação em Leonor

Osório de Castro Trigueiros de Aragão, esposa do falecido 3º conde, os filhos de Maria

Angélica de Portugal, procuram que o título passe para sua mãe, de forma a o

primogénito, Diogo, vir a ser o próximo representante do título de conde da Idanha. Este

seria igualmente o sucessor na administração dos morgadios de Peroviseu e Chãos e da

Idanha caso a este tipo de instituição ainda existisse. Todavia é nesta linha familiar que

ainda hoje se concentra parte do património reunido no século XIX, pelo 1º e 2º condes

da Idanha. A sua administração é feita, essencialmente, por dois dos filhos de Angélica

de Portugal conjugando a actividade agrícola com a industrial. Esta última ligada à

produção de farinhas dirigida a partir de Lisboa por Diogo de Aragão.

Ainda mantém bens significativos na região, embora sem qualquer actividade

económica, a linha familiar que se desenvolveu a partir da descendência do filho mais

novo do 1º conde, ou seja a partir de José Trigueiros de Aragão Martel. Este, do seu

casamento com Maria Graciosa da Silveira e Vasconcelos, teve quatro filhas e um filho

varão. A afirmação na sociedade do Fundão, no início do século XX, de José Martel

ainda se encontra hoje, simbolicamente patente, numa casa acastelada situada na entrada

sul daquela cidade. Esta e outras casas, assim como vasto património rústico situados na

região limite do Fundão são hoje administrados por Carlos Nuno de Vasconcelos

Trigueiros de Martel (1924), filho varão de José Martel. Estão assim representadas na

região da Beira Baixa duas linhas familiares desta parentela, distinguidas pelo nome e

pela região de implantação. Enquanto na região da Idanha domina a linhada Aragão, na

do Fundão distingue-se a linhada Martel. Principalmente as casas ainda na posse de

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225

indivíduos desta parentela, quer estejam em processo de degradação ou conservadas,

são ainda hoje a marca mais visível do poder antes detido na região.

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226

Morgados registadores de vínculos no Governo Civil de Castelo Branco

1Proc.

nºde

vínculos

Localização Administrador Data e local

de nascimento

Título e

habilit. acad.

Cargos políticos Casamento Naturalida

de e data

nasc.

Noiva/0

1 1 Salgueiro (Conc.

Fundão) João José de

Oliveira Frazão

Castelo Branco

Salgueiro Vereador da Câmara

Municipal do Fundão

Emília

Carolina Vaz

Leitão

Manteigas

2 2 São Martinho,

Boidobra (Conc.

Covilhã)

José de

Figueiredo

Frazão

Salgueiro,

1795

visconde do

Sardoal;

Brigadeiro do

exército

Vereador e Presidente

da Câmara do Fundão

Ana Jacinta

Pimenta

Avelar

Abrantes

3 1 e 9

anexações

Idanha-a-nova Fernando

Afonso Giraldes

de Melo

Sampaio

1808 visconde,

conde e

marquês da

Graciosa

Senhor de Medelim,

Par do Reino

Maria José

Caldeira

Leitão Pinto

de

Albuquerque

(irmã do

Conde da

Borralha)

1817

4 1 e 2

anexações

Lousa (Conc.

Idanha-a-Nova) João José Vaz

Preto Giraldes

1801 Formado em

Direito, pela

Univ. Coimbra

Vereador e presidente

da Câmara de Castelo

Branco; Governador

Civil; Parlamentar na

Câmara dos Pares e na

dos Deputados.

Joana

Carlota

Giraldes de

Melo e

Bourbon

(prima)

5 e 29 2 Castelo Novo

(Conc. Fundão);

Castelo Branco,

Castelo de Vide

Pedro de Ordaz

Caldeira de

Valadares

São Vicente da

Beira, 1808

Recusa o título

de barão de

Castelo Novo

Vereador Maria

Benedita de

Sande e

Castro

São João da

Pesqueira

1824

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227

6 8 Proença-a-Velha;

S. Miguel de

Acha; Aldeia de

Santa Margarida

Luísa Augusta

da Cunha

Castro Meneses

Pita

1832 viscondessa e

condessa de

Proença-a-

Velha

António de

Gouveia

Osório

Metelo de

Vasconcelos,

Visconde e

Conde de

Proença-a-

Velha

1831

7 2

anexados

Castelo Branco Cláudio

Caldeira

Pedroso

Lisboa, 1790 Militar,

terminando a

carreira como

Tenente

General

Vereador da Câmara

de Castelo Branco;

Conselheiro

Municipal; Presidente?

8 4 Erada, Paúl,

Peso,

Tortosendo,

Sabugal e

Penamacor

Francisco

Tavares de

Almeida

Proença

Tortosendo Formado em

Direito;

Par do Reino; Ministro

do Reino; Deputado da

Nação; Vereador

Maria da

Piedade

Fevereiro

9 2 Oleiros,

Pedrógão

Pequeno Conc.

Sertã)

António Leitão

de Queiroz e

Andrade

Pedrógão

Pequeno

Capitão-mor da Vila

de Álvaro

Maria do

Carmo

Caldeira

Castro e

Aboim e

Silva

10 3 Castelo Novo

(Conc. Fundão);

Castelo Branco

Francisco da

Fonseca

Coutinho e

Castro Refóios

(regista como

imediato

sucessor)

visconde de

Portalegre

Vereador da Câmara

de Castelo Branco;

Vogal do Conselho

Municipal

Maria

Adelaide

Mesquita e

Albuquerque

de Castro e

Nápoles

(filha dos

visc. de

Oleiros

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228

11 1 Castelo Branco Diogo da Silva

Castelo Branco

Militar,

Tenente

Coronel

12 9 São Vicente da

Beira, Castelo

Novo, Castelo

Branco, Vila

Franca de Xira,

Monsanto,

Midões,

Sernache do

Bom Jardim,

Covilhã, Sertã

Francisco

Caldeira Leitão

e Brito Moniz

de Albuquerque

1803 visconde da

Borralha

Bacharel em

Direito

Par do Reino

Fidalgo da Casa Real;

Par do Reino

Inês de Vera

Giraldes de

Melo

Sampaio e

Bourbon

(irmã do 1º

Marquês da

Graciosa)

13 1 Covilhã Luís Cândido

de Tavares

Osório

Militar,

Coronel

Absolutista Jane Ann de

Latour

14 1 Capinha (Conc.

Fundão) João António

Franco Frazão

Capinha, 1837 Frequentou os

cursos de

Matemática,

Filosofia e foi

bacharel em

Direito

Governador Civil de

Castelo Branco,

Deputado e par do

Reino

Amélia

Capelo da

Fonseca

Franco

Idanha-a-

Nova,

1847;

16 1 Penamacor,

Fundão, Sabugal Manuel Pinto

Tavares

Fragoso Freire

Pedrogão Maria José

Miranda e

Silva

17 1 Covilhã Fundão Aires Pais de

Lima Castelo

Branco

Dominguiso,

1819

Pai e avô

militares

Maria

Angélica de

Almeida

Lima

18 1 Sernache do

Bom Jardim António

Casimiro

Biscaia da Silva

Eduarda

Lusitana

Biscaia de

Sousa Leitão

(prima)

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229

19 1 Oleiros, Castelo

Branco, Sertã Francisco de

Albuquerque

Pinto Mesquita

e Castro

(imediato

sucessor)

1841, Castelo

Branco

visconde de

Oleiros;

Bacharel em

Direito;

Governador Civil de

Angra do Heroísmo,

Funchal e castelo

Branco

1ºcas. Inácia

de Meneses

Pita e Castro;

2ºcas. Camila

Celestino

Claúdio

Ferreira

20 2 Sertã, Veiros,

Estremoz,

Fronteira,

Arraiolos

Carlota

Granado de

Castro Lemos

21 9 Pedrógão

Grande, Sertã Luís António de

Magalhães

Taborda

Sertã Presidente da Câmara

do Fundão

Maria

Saturnino

Câmara de

Faria e Serpa

de Pina e

Almeida

Cernache

do

Bonjardim

1830

22 1 Fundão, Idanha-

a-Nova António de

Pádua Leitão

Marrocos

Maria Emília

Castro e Silva

Alcains,

1818 (Já

falecida em

1862)

26 1 Idanha-a-Nova Jerónimo

Trigueiros de

Aragão Martel

1825 1º conde de

Idanha-a-

Nova;

visconde do

Outeiro

Maria Isabel

Osório

Macedo

c. 1834

27 2 Peroviseu e

Chãos Maria Isabel

Osório Macedo

c. 1834 condessa de

Idanha e visc.

Outeiro

Jerónimo

Trigueiros de

Aragão

Martel

Fundão

1825

28 2 Sertã, Proença-a-

Nova, Oleiros Simão José de

Mascarenhas

Leitão

Quadro nº 4