Parvovirose: desafios da imunização de filhotes...berem de 2 a 3 doses nos 3 primeiros meses,...

2
WEBVET MERIAL | WWW.MERIAL.COM.BR | TODOS OS DIREITOS RESERVADOS | 0800 888 7387 Anticorpos maternos A parvovirose é uma das causas mais comuns de diarreias infecciosas em cães. O parvovírus canino (CPV) possui caracte- rísticas que lhe conferem grande resistência ambiental ao pas- so que permitem uma alta taxa de infectividade 1 . Isso permite explicar os índices de prevalência que alcançam 100% de mor- bidade e 91% de mortalidade em filhotes ao redor mundo 2 . O CPV é visto como uma grande ameaça especialmente pa- ra os filhotes tanto pela gravidade da doença como pelo fator de exposição 1 . Enquanto que a dose necessária para infectar um animal não vacinado é, em média, de 1000 partículas virais, um cão doente pode eliminar até 1,25 milhão de unidades virais por grama de fezes durante um período de até 2 semanas após a exposição 2 . Desta forma, a vacinação assume o papel de um dos principais e mais eficazes meios de prevenção e controle da parvovirose ao quebrar o elo entre animais suscetíveis e infectados. Paradoxalmente, o maior obstáculo para o sucesso da imunização reside no mesmo mecanismo que protege os filhotes nas primeiras semanas de vida: os anticorpos maternos 3 . Diversos fatores também podem comprometer a resposta à vacina- ção, como a variação genética 1,2,3 e o uso de bacterinas de Leptospira nas primeiras doses da primovacinação, dentre outros 4 . Os anticorpos maternos compõem a imunidade passiva transmitida pela mãe aos filhotes. A princípio, o tipo de pla- centação dos cães impede que grandes quantidades sejam passadas ainda na vida in utero, resultando em 2 a 18% dos títulos totais alcançados na vida pós-natal 5 . Assim, a grande fonte de imunidade passiva repousa no fornecimento do co- lostro nas primeiras 24 horas de vida. Os títulos de anticorpos maternos diminuem gradativa- Parvovirose: desafios da imunização de filhotes mente durante as semanas subsequentes e, com eles, a proteção contra diversas doenças. A presença destes anti- corpos inibe também a síntese de IgG no filhote. A janela de vulnerabilidade compreende este período em que os títulos se encontram abaixo de um limiar considerado protetor, mas permanecem acima daquele onde ainda há interferên- cia na reposta imune. Isto é, o animal, apesar de suscetível à doença, é incapaz de montar uma resposta eficaz 5 .

Transcript of Parvovirose: desafios da imunização de filhotes...berem de 2 a 3 doses nos 3 primeiros meses,...

Page 1: Parvovirose: desafios da imunização de filhotes...berem de 2 a 3 doses nos 3 primeiros meses, idade na qual usualmente se finaliza a primovacinação2. Este percentual pode ser ainda

WEBVET MERIAL | WWW.MERIAL.COM.BR | TODOS OS DIREITOS RESERVADOS | 0800 888 7387

Anticorpos maternos

A parvovirose é uma das causas mais comuns de diarreias infecciosas em cães. O parvovírus canino (CPV) possui caracte-rísticas que lhe conferem grande resistência ambiental ao pas-so que permitem uma alta taxa de infectividade1. Isso permite explicar os índices de prevalência que alcançam 100% de mor-bidade e 91% de mortalidade em filhotes ao redor mundo2.

O CPV é visto como uma grande ameaça especialmente pa-ra os filhotes tanto pela gravidade da doença como pelo fator de exposição1. Enquanto que a dose necessária para infectar um animal não vacinado é, em média, de 1000 partículas virais, um cão doente pode eliminar até 1,25 milhão de unidades virais por grama de fezes durante um período de até 2 semanas após a exposição2. Desta forma, a vacinação assume o papel de um dos principais e mais eficazes meios de prevenção e controle da parvovirose ao quebrar o elo entre animais suscetíveis e infectados.

Paradoxalmente, o maior obstáculo para o sucesso da imunização reside no mesmo mecanismo que protege os filhotes nas primeiras semanas de vida: os anticorpos maternos3. Diversos fatores também podem comprometer a resposta à vacina-ção, como a variação genética1,2,3 e o uso de bacterinas de Leptospira nas primeiras doses da primovacinação, dentre outros4.

Os anticorpos maternos compõem a imunidade passiva transmitida pela mãe aos filhotes. A princípio, o tipo de pla-centação dos cães impede que grandes quantidades sejam passadas ainda na vida in utero, resultando em 2 a 18% dos títulos totais alcançados na vida pós-natal5. Assim, a grande fonte de imunidade passiva repousa no fornecimento do co-lostro nas primeiras 24 horas de vida.

Os títulos de anticorpos maternos diminuem gradativa-

Parvovirose: desafios da imunização de filhotes

mente durante as semanas subsequentes e, com eles, a proteção contra diversas doenças. A presença destes anti-corpos inibe também a síntese de IgG no filhote. A janela de vulnerabilidade compreende este período em que os títulos se encontram abaixo de um limiar considerado protetor, mas permanecem acima daquele onde ainda há interferên-cia na reposta imune. Isto é, o animal, apesar de suscetível à doença, é incapaz de montar uma resposta eficaz5.

Page 2: Parvovirose: desafios da imunização de filhotes...berem de 2 a 3 doses nos 3 primeiros meses, idade na qual usualmente se finaliza a primovacinação2. Este percentual pode ser ainda

Interferência de antígenos

Conclusão

Outro ponto importante e que pode causar uma falha vacinal é a interação entre antígenos. O uso de bacteri-nas de Leptospira nas primeiras doses da primovacina-ção pode resultar em diminuição da resposta imune às

A imunização de filhotes contra a parvovirose canina permanece um assunto de grande importância no univer-

Influência genéticaUm animal vacinado não pode ser considerado imuni-

zado. Apesar de as vacinas modernas apresentarem al-tos níveis de eficácia, nem todos os pacientes são capa-zes de montar uma resposta satisfatória e protetora por fatores genéticos3. Estes indivíduos são denominados não respondedores.

A pressão de seleção exercida pelo homem na espécie canina ao longo do tempo também interfere na frequência de não respondedores. A grande diversidade fenotípica observada também é refletida na função imune à medida

que se observa ampla variação do perfil de resposta quando se comparam diferentes raças7.

Se por um lado a proporção de não respondedores para o CPV numa população homogênea é estimada em 0,1%, por outro, algumas raças podem ter entre 1 e 5% do total de cães incapazes de responder à vacinação5.

No caso destes animais, a proteção não é conferida pela vacinação individual, mas por uma alta cobertura vacinal. Neste cenário, os cães imunes atuam como uma barreira epidemiológica entre indivíduos infectados e suscetíveis.

frações virais, dentre elas, o CPV4. Por isso, recomenda--se que a sua administração seja realizada nas duas últi-mas doses do protocolo inicial dos filhotes.

so veterinário. No entanto, o sucesso da vacinação re-pousa em superar os diversos obstáculos envolvidos.

A maior parte dos indivíduos possuem títulos abaixo do limiar de interferência às 12 semanas de vida. Contudo, até 10% dos animais podem não responder, mesmo após rece-berem de 2 a 3 doses nos 3 primeiros meses, idade na qual usualmente se finaliza a primovacinação2.

Este percentual pode ser ainda maior em áreas endêmi-cas ou com ampla cobertura vacinal, cuja população, em es-pecial as fêmeas, apresenta altos títulos de anticorpos que,

por sua vez, são passados aos filhotes, aumentando a janela de vulnerabilidade.

Por esta razão, os guias de vacinação mais recentes3,6,7

passaram a recomendar que a última dose do protocolo de primovacinação seja administrada entre a 14ª e 16ª sema-na de idade do filhote. Desta forma, garante-se que 98% dos animais vacinados possuam títulos abaixo do limiar de interferência, portanto, aptos a responder3.

WEBVET MERIAL | WWW.MERIAL.COM.BR | TODOS OS DIREITOS RESERVADOS | 0800 888 7387

Referências: 1. GREENE, C.E.; DECARO, N. Canine Viral Enteritis. In: GREENE, C.E. (ed) Infectious Diseases of the dog and the cat. 4 ed. St. Louis: Saunders Elsevier, 2014. p. 67-80. 2. NANDI, S.; KUMAR, M. Canine parvovirus: Current perspective. Indian Journal of Virology, v. 21, n. 1, p. 31-44, 2010. 3. WELBORN, L.V.; DEVRIES, J.G.; FORD, R. et. al. 2011 AAHA Canine vaccination guidelines. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 47, n. 5, p. 1-42, 2011. 4. GREENE, C.E.; SCHULTZ , R.D. Immunoprofilaxis. In: GREENE, C.E. (ed) Infectious Diseases of the dog and the cat. 3 ed. St. Louis:Saunders Elsevier, 2006. p. 1067-1119. 5. GREENE, C.E.; SCHULTZ , R.D. Immunoprofilaxis. In: GREENE, C.E. (ed) Infectious Diseases of the dog and the cat. 4 ed. St. Louis:Saunders Elsevier, 2014. p. 1063-1205. 6. DAY, M.J.; HORZINEK, M.C.; SCHULTZ , R.D. Guidelines for the vaccination of dogs and cats – compiled by the vaccination guidelines group (VGG) of the world small animal veterinary association (WSAVA ). Journal of Small Animal Practice, v. 51, June, p.1-32, 2010. 7. DAY, M.J. Immune system development in the dog and cat. Journal of Comparative Pathology, v. 137, p. S10-S15, 2007.