PÁSCOA JUVENIL - Um Jeito Jovem de Vivenciar a Páscoa

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PÁSCOA JUVENIL Um jeito jovem de vivenciar a Páscoa Imagem: Cerezo Barredo Série Memórias - 1

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Sistematização de algumas experiências de Páscoa Juvenil realizadas por comunidades e grupos juvenis que são acompanhados pelos Missionários Combonianos no Nordeste do Brasil.

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PÁSCOA JUVENIL

Um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

Imagem: Cerezo Barredo

Série Memórias - 1

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1 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

Centro da Juventude para a Paz

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2 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

Centro da Juventude para a Paz

Jovens, façam de sua juventude a ocasião decisiva para

definir sua vida. Como opção pelo Reino, no seguimento de

Jesus. Sejam radicais, alegres, servidores. Vivam a comunidade.

Vivam a cidadania. Vivam a família. Não brinquem com os

pobres, não brinquem com o amor, não brinquem com a política.

Não brinquem com o Evangelho. Sejam páscoa na Páscoa!

Dom Pedro Casaldáliga

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3 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

Centro da Juventude para a Paz

Conteúdos

Apresentação 3

I. Por que e para que da Páscoa Juvenil 4

II. Onde e como celebrar a Páscoa Juvenil

- Pré - Páscoa Juvenil 5

- Páscoa Juvenil 6

- Páscoa Juvenil Missionária 6

- Páscoa Vocacional Missionária 7

- Pós – Páscoa Juvenil 8

III. O que celebrar na Páscoa Juvenil 8

IV. A Páscoa Juvenil: um roteiro 9

V. A Páscoa Juvenil: algumas experiências 18

VI. Textos de apoio

1. Via Sacra Juvenil: “Peregrinos do Absoluto” 25

2. O sentido da cruz 28

3. “O jardim dos sonhos semeados” 28

4. “Gincana pela paz e pela vida” 31

5. “A Páscoa da Semente” 35

6. Experiências de ressurreição: “Via Lucis” 39

7. Sugestões de cantos 42

8. Outros textos de apoio

a) Páscoa juvenil: Vida de Cristo na vida da gente 42

b) Corações inquietos 44

c) As sete palavras de Jesus na cruz (Pedro Casaldáliga) 45

d) Páscoa (Pedro Casaldáliga) 48

e) A Ceia Pascal (Um tal Jesus) 48

f) Cale-se (Chico Buarque) 67

Conclusão 69

Referências 70

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Apresentação

E disseram um ao outro: “Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo

caminho, quando nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32).

Desde que os Missionários Combonianos do Brasil Nordeste fizeram do acompanhamento das

‘juventudes para a paz’ uma das linhas principais de sua ação evangelizadora percebeu-se a necessidade de

redescobrir, vivenciar e partilhar, junto com os próprios jovens, uma mística/espiritualidade que desse

suporte inspirador ao compromisso com a promoção da Justiça, Paz e Integridade da Criação.

Na busca e na experimentação de espaços e tempos privilegiados de vivência da mística da não

violência ativa foi consolidando-se, aos poucos, em algumas das nossas comunidades, a convicção de que

era preciso, possível e fascinante reler a realidade dos jovens e os desafios do mundo numa perspectiva

profundamente cristã. E ao focalizar o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus de Nazaré nessa

busca, confirmou-se a intuição de que tudo, efetivamente, pode ser relido, graças à fé, numa perspectiva

libertadora e pascal.

Foi assim que, ao longo de vários anos, a vivência da Páscoa Juvenil, contextualizada na realidade

local e relida a partir de desafios nacionais e globais, tornou-se um instrumento atraente e significativo

para o crescimento na fé e na sensibilidade missionária de muitos jovens catequisandos, engajados em

grupos ou movimentos juvenis e membros do projeto Juventude pela Paz - JUPAZ.

Diante da validade desse “jeito jovem” de celebrar e vivenciar o mistério central da fé cristã, os

Combonianos do Brasil Nordeste iniciaram uma sistematização das diversas vivências e modalidades de

Páscoa Juvenil, sobre cuja dinâmica apresentamos e compartilhamos aqui algumas dicas e orientações

simples, porém importantes.

Cabe ressaltar que este é somente o passo inicial de outros que poderão ser dados da

sistematização da proposta. O que significa que ela deverá ser ainda revista e enriquecida com novas

experiências e descobertas, na consciência clara de que a Páscoa Juvenil, longe de ser um evento isolado na

vida dos jovens e das comunidades, deverá ser um meio de evangelização que pressupõe processos bem

mais amplos de formação e de crescimento integral nos quais os destinatários da mesma deverão ser

envolvidos ativamente.

Com carinho, sonho e ousadia, na luta pelo Reino de fraternidade e paz.

Rede de jovens do Centro da Juventude para a Paz – CEJUPAZ.

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I. Por que e para que da Páscoa Juvenil

Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não

morrer permanecerá só; mas se morrer produzirá muito fruto. Quem ama sua vida

a perde e quem odeia a sua vida neste mundo guarda-la-á para a vida eterna. Se

alguém quer servir-me, siga-me e onde estou eu, ai também estará o meu servo.

(Jo 12,24-25).

A Páscoa Juvenil é uma dentre tantas buscas e descobertas a serem feitas visando enfrentar, com

coragem e esperança, o desafio que os Missionários Combonianos reconheceram na ação evangelizadora

que eles tentam desenvolver junto às juventudes:

“*...+ a urgência de encontrar e alimentarmos juntos (entre nós e os jovens) uma mística

que sustente e garanta a fidelidade e continuidade do nosso serviço de evangelização das

juventudes que deverá traduzir-se em formas criativas e ousadas de vivenciar, em nosso

contexto e com linguagem accessível e atrativa para os jovens: a espiritualidade do

encontro e do seguimento de Cristo, a definição de um projeto pessoal e comunitário de

vida pautado nos valores do Reino, a releitura da Bíblia, da liturgia e dos processos

catequéticos a partir dos jovens, a apresentação aberta da riqueza do nosso carisma e da

proposta vocacional comboniana; etc.”. (COMBONIANOS BNE. Juventudes: por uma

renovada opção missionária, julho de 2010).

Inspirados na experiência cristã fundamental do anúncio e testemunho da Páscoa de Jesus, e

buscando alicerçar e alimentar a adesão pessoal ao querigma, nós identificamos esses objetivos1:

Objetivo geral

Oferecer aos participantes a possibilidade de vivenciarem, numa perspectiva missionária, de uma

maneira mais aprofundada, atualizada, contextualizada e adaptada à realidade e à linguagem juvenis, os

mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.

Objetivos específicos

Dependendo do contexto e do público destinatário, durante a preparação e realização da Páscoa

Juvenil poderão acentuar-se alguns dos seguintes objetivos específicos:

- Anúncio dinâmico do querigma.

- Renovação da opção fundamental cristã.

- Mergulho vivencial no mistério pascal.

- Releitura pascal da realidade.

- Fortalecimento da sensibilidade missionária.

- Auxiliar na definição de um projeto pessoal de vida.

- Favorecer o testemunho evangelizador dos jovens (“jovens evangelizando jovens”).

1 Boa parte desse trabalho é o fruto da partilha e reflexão dos membros da Rede Juventude pela Paz - JUPAZ,

articulada e coordenada pelo Centro da Juventude para a Paz.

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II. Onde e como celebrar a Páscoa Juvenil

No primeiro dia dos ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus dizendo: “Onde

queres que te preparemos para comer a Páscoa?”. Ele respondeu: “Ide à cidade, à

casa de alguém e dizei-lhe: ‘O Mestre diz: o meu tempo está próximo. Em tua casa

irei celebrar a Páscoa com os meus discípulos’”. Os discípulos fizeram como Jesus

lhes ordenara e prepararam a Páscoa. (Mt 26,17-19).

Da experiência de Páscoa Juvenil vivenciada em comunidades rurais ou em regiões periféricas de

cidades do Pará, do Maranhão e do Ceará durante vários anos, alguns jovens acompanhados pelos

Missionários Combonianos fizeram uma série de aprendizados que, sem a pretensão de propor

metodologias fechadas ou replicáveis para todos os tempos e contextos, compartilham a seguir.

Estas linhas, portanto, tem mais um caráter representativo e sumário de intuições e convicções

respeitosas e auxiliares de uma pastoral juvenil orgânica e da dinâmica participativa das comunidades

eclesiais de base.

1. Pré – Páscoa Juvenil

O sentido principal da Pré-Páscoa, independentemente do seu lugar de realização, radica na

necessidade de dispor adequadamente a consciência e o coração dos participantes à Páscoa Juvenil. Isso

porque, embora seja o Espírito Santo o protagonista de toda ação evangelizadora, a graça de Deus supõe a

disposição e a abertura humanas.

a) Em áreas urbanas

- Sendo a Pré-Páscoa realizada num só dia, pode-se tomar como referência as leituras próprias do

Tríduo Pascal, alternando catequese com momentos de oração pessoal e trabalho em grupos.

- Pode-se reforçar a predisposição dos participantes para vivenciar com maior intensidade a Quinta-

feira Santa e a sua dimensão de comunhão fraterna através de gestos concretos como a partilha do

almoço.

- Para fazer a atualização do mistério pascal, pode-se recorrer à exibição de um filme que possibilite

fazer as analogias com a paixão, morte e ressurreição de Cristo hoje.

- Pode-se concluir essa etapa com a celebração da Eucaristia, com homilia em forma de reflexão

partilhada. Ou, em vez disso, pode-se também fazer uma pequena experiência de anúncio da Páscoa, com

visitas às casas, encerrando com um plenário e/ou com uma experiência de convívio (ágape fraterno).

- Convocação para participar nas celebrações litúrgicas da comunidade.

- Uma outra modalidade de reflexão pode ser testada tendo como referência os símbolos batismais

(luz, água, etc.), trabalhados em grupo; ou a partir das leituras próprias dos domingos da quaresma

correspondentes àquele ano (tentações, transfiguração, samaritana, cego, etc.).

b) Em áreas rurais

- Aqui o elemento fundamental para ir ao encontro de comunidades rurais é a preparação prévia

(catequese, retiro, etc.) dos jovens que irão participar da Páscoa.

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- Também é muito importante garantir que a comunidade que acolhe esteja ciente da dinâmica da

Páscoa, envolvendo na acolhida e na preparação da mesma não somente a coordenação, mas toda a

comunidade em geral e aos jovens em particular.

2. Páscoa Juvenil

A preparação da Páscoa exige não somente a preparação dos jovens participantes e sim, sobretudo,

a preparação daqueles adultos ou jovens que irão animar ou coordenar as atividades durante o evento. Tal

preparação implica, mais do que as questões óbvias relativas à convocação, à definição de roteiros e

preparação de materiais e infraestrutura, a experiência profunda de fé, a qual não pode ser transmitida

sem antes ser vivenciada.

a) Em áreas urbanas

- O foco principal desse tipo de Páscoa são os jovens que estão afastados, que participam pouco da

comunidade cristã ou que ainda estão participando de processos iniciais de formação na fé. Nesse sentido,

a Páscoa adquire um caráter mais querigmático.

- Neste caso, à divulgação bem feita e chamativa, deverão seguir a comunicação clara de critérios

mínimos de participação (idade, número de vagas, participação na Pré-Páscoa ou num outro encontro

prévio de conscientização sobre o sentido e a dinâmica da Páscoa, etc.).

- Quando o encontro for realizado num local fechado e restrito aos jovens, recomenda-se que haja

momentos prévios ou posteriores à Páscoa em que eles possam interagir com a comunidade.

- No caso em que a Páscoa for realizada em local próximo à comunidade, também se recomenda

que os jovens participem normalmente dos momentos litúrgicos fortes da mesma.

b) Em áreas rurais

- Nesse contexto, evidentemente, os destinatários serão, predominantemente, os jovens dessa

área rural, mesmo que auxiliados por uma equipe de jovens mais engajados provenientes de outras

comunidades ou de zonas urbanas.

- Para a realização da Páscoa em contexto rural, valem as mesmas orientações para aquela que é

realizada em contextos urbanos, embora dando uma atenção especial às particularidades locais

(mentalidade, disponibilidade de infraestrutura, etc.).

3. Páscoa Juvenil Missionária

a) Em áreas urbanas

- Aqui os protagonistas deverão ser aqueles jovens que já participam ativamente em grupos,

pastorais ou movimentos dentro de suas comunidades e que se disponibilizam a favorecer a vivência da

Páscoa Juvenil para jovens de outras comunidades mais periféricas.

- Também para esse tipo de experiência recomenda-se organizar a Pré-Páscoa envolvendo jovens

missionários urbanos e outros jovens das comunidades ou bairros onde irá acontecer a Páscoa.

- Para a Pré-Páscoa, além das sugestões feitas anteriormente, podem servir outras estratégias de

envolvimento dos jovens do local (preparar a encenação da Via Sacra, uma Gincana Bíblico – Litúrgica, uma

confraternização depois da Vigília Pascal, etc.).

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b) Em áreas rurais

- Os protagonistas devem ser os jovens engajados nas comunidades da área urbana que se

disponibilizam a fazer uma experiência de evangelização no contexto rural.

- Aqui a Pré-Páscoa consiste, basicamente, na preparação dos jovens missionários através da

realização de momentos formativos, retiros, catequeses em torno dos mistérios pascais, preparação de

roteiros e materiais a serem usados durante a Páscoa, etc.

- Mesmo não acontecendo uma Pré-Páscoa propriamente dita no meio rural, deverá ter-se o

cuidado de estar em constante contato com as comunidades que acolhem.

- Um elemento característico forte desta experiência é a visitação às famílias auxiliando-se com um

roteiro ou cartilha previamente preparados.

- Durante as visita deverá convidar-se especialmente aos jovens da comunidade para um momento

forte de partilha e interação com os jovens missionários que vem de fora. Quando possível, além desse

encontro, pode-se envolver alguns jovens do local na preparação de algumas das celebrações (por

exemplo: leituras, ornamentação, Via-Sacra, etc.).

- Em qualquer caso, as celebrações litúrgicas deverão ser sempre preparadas por equipes mistas

(jovens missionários e membros da própria comunidade), de forma a preservar o protagonismo das

lideranças locais.

4. Páscoa Vocacional Missionária

a) Em áreas urbanas

- O foco desse tipo de eventos são as moças e os rapazes que estão em fase de discernimento

vocacional.

- Normalmente acontece em locais mais restritos, que possibilitem um acompanhamento mais

personalizado e que facilitem um maior conhecimento mútuo e interação entre os participantes.

- A Páscoa Vocacional é uma oportunidade que os animadores ou equipes vocacionais tem para

conhecer mais diretamente os candidatos à vida missionária ou religiosa.

- Neste caso, a Pré-Páscoa pode ser um momento forte de animação vocacional e missionária, que

pressupõe a realização de outras atividades/eventos (retiros, místicas, apresentação de filmes,

testemunhos ou painéis missionários, etc.) de despertar vocacional, seja nas comunidades como junto a

grupos, pastorais e movimentos.

- Para a celebração dos momentos litúrgicos próprios desse tipo de Páscoa, havendo a

possibilidade, recomenda-se priorizar a participação em comunidades cristãs próximas ao local do

encontro.

b) Em áreas rurais

- Seguem-se as mesmas orientações da Páscoa Juvenil Missionária, pois neste caso os próprios

jovens vocacionados cumprem, de alguma maneira, um serviço missionário.

- Todavia, um diferencial desta experiência pode consistir na realização de momentos de reflexão e

de oração abertos para os jovens ou para outros membros da comunidade interessados em participarem

dos mesmos.

- Pelas suas características, este tipo de Páscoa Vocacional oferece aos jovens em processo de

discernimento muitos elementos de motivação missionária.

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5. Pós – Páscoa Juvenil

Como fora apontado antes, a Páscoa não pode ser reduzida a um encontro intenso e empolgante

na vida dos jovens participantes, sob a pena de não usufruir todos os aprendizados e possibilidades

pastorais que a mesma oferece. Ao contrário, ela só tem sentido quando precedida de uma preparação e

seguida de uma avaliação e quando inserida num contexto maior de processo de crescimento de fé dos

jovens.

Portanto, entre outros elementos importantes a serem descobertos e acrescidos, acenamos para

algumas orientações básicas desta fase:

- Fazer registro e avaliação da experiência (como foi e o que ficou da mesma).

- Convocar os participantes, quando possível, para participarem em outros momentos fortes

(Pentecostes Juvenil, Missionário e/ou Vocacional, Festa do Sagrado Coração, atividades massivas das

pastorais e movimentos juvenis, etc.).

- Buscar meios de socializar a experiência através de testemunhos nas celebrações, artigos para

informativos, sites e blogs, programas de rádio, etc.

- Envolver alguns dos participantes na organização e realização de eventuais futuras Páscoas.

- Estudar e propor estratégias de inserção e acompanhamento continuado dos jovens que estão se

aproximando dos grupos e movimentos juvenis presentes nas comunidades cristãs.

- Incluir o evento dentro de um planejamento orgânico de pastoral de adolescentes e/ou jovens,

visando ao fortalecimento ou nucleação de novos grupos.

III. O que celebrar na Páscoa Juvenil

Quando chegou a hora, ele se pôs à mesa com seus discípulos e disse-lhes:

“Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco antes de sofrer”... E tomou

um pão, deu graças, partiu e distribuiu-o a eles dizendo: “Isto é o meu corpo que é

dado por vós. Fazei isto em minha memória”. E, depois de comer, fez o mesmo

com o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova Aliança em meu sangue, que é

derramado em favor de vós”. (Lc 22,19-20).

Elencamos aqui outros elementos metodológicos que podem ser explicitados, enriquecidos ou

complementados após a realização de algumas vivências diferenciadas da Páscoa Juvenil.

a) Escolha de um tema transversal

- O tema anual da Campanha da Fraternidade.

- Um desafio do contexto local.

- A Páscoa em chave de Justiça, Paz e Integridade da Criação.

b) Momentos fortes de oração

- Primazia da Palavra.

- Contemplação.

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c) Reflexão pessoal e grupal

- O mistério pascal na vida pessoal.

- O mistério pascal na vida da comunidade e na sociedade.

d) Contextualização da vivência

- Visita às famílias da comunidade.

- Análise da realidade local ou global.

e) Celebração do Tríduo Pascal

- Preparação das celebrações.

- Cuidado litúrgico e sensibilidade pastoral.

- Participação ativa e orante.

IV. A Páscoa Juvenil: um roteiro

Apresentamos, a modo de exemplo, algumas experiências de Páscoa Juvenil vivenciadas em locais

diferenciados.

a) Páscoa Juvenil em ambiente fechado, com jovens da Paróquia de Marcos Moura, em Santa Rita

– PB

Paróquia “Santo Antônio”

Marcos Moura, Santa Rita – PB

22-24 de abril de 2011.

“A Vida em toda vida”

Imagem: Cerezo Barredo

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A Vida plena em Cristo (a Vida assim, com maiúscula) que é oferecida a todos os homens e

mulheres e que encontra o seu ponto culminante no mistério da Morte e Ressurreição de Jesus de Nazaré é

força capaz de transformar profundamente não somente a vida das pessoas, mas também de atingir todo

tipo de vida no planeta. É essa a intuição da fé expressa por Paulo quando ele reconhece que “a criação em

expectativa anseia pela revelação dos filhos de Deus [...] na esperança dela também ser liberta [...] para

entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8, 19-21).

Em outras palavras, acolher o mistério pascal de Cristo na própria vida implica, pela fé, uma

transformação profunda das relações das pessoas entre si, com a sociedade e com o próprio meio

ambiente. Toda vida, assim, pode e deve ser “pascalizada”.

No contexto da CF 2011, que tem como tema “Fraternidade e vida no planeta”, a presente

proposta de Páscoa Juvenil é perpassada por elementos, dinâmica e símbolos que remetem à questão

socioambiental, ao cuidado e à defesa da vida como uma dimensão que pode e deve ser relida desde uma

óptica cristã e, portanto, pascal.

Inicialmente, esta proposta de Páscoa Juvenil foi pensada para subsidiar a celebração do Tríduo

Pascal entre jovens do meio urbano ou rural num ambiente geograficamente fechado (num espaço próprio

para encontros ou retiros). Portanto, com ela não se pretende enfatizar, explicitamente, as dimensões

missionária e vocacional que eventualmente podem ser trabalhadas num contexto de Páscoa Juvenil

Missionária ou de Páscoa Vocacional.

Contudo, alguns conteúdos podem servir de referência quando devidamente adaptados e

contextualizados. Aliás, eles mesmos são somente indicativos, restando à equipe que prepara e a anima a

Páscoa Juvenil a liberdade de recriá-los da melhor maneira possível para que atendam aos objetivos da

vivência e ao perfil dos participantes.

Feitas as escolhas metodológicas e de conteúdos, a equipe que irá animar a Páscoa Juvenil deverá

encontrar-se, antes da mesma, todas as vezes que forem necessárias, a fim de se dividirem claramente as

tarefas, preparar todo o material a ser utilizado durante o encontro e cuidar que todas as questões

logísticas estejam garantidas.

Vale a pena lembrar que é fundamental conscientizar previamente os participantes sobre o sentido

da Páscoa Juvenil. O ideal é reuni-los antes numa Pré-Pascoa. Quando isso não for possível, ao menos se

espera que na hora da inscrição seja entregue um pequeno texto explicando as atitudes mais importantes a

serem observadas durante a realização da Páscoa.

Feitas essas observações apresentamos, a seguir, uma proposta esquemática (não detalhada) do

roteiro de uma Páscoa Juvenil que tem como tema transversal o cuidado socioambiental.

PRIMEIRO DIA

a) Quinta-feira Santa: Lema: “A vida em comunhão”

Ideia-chave: O serviço e o cuidado geram vida

- Chegada ao local do encontro.

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- Acomodação e acolhida.

- Dinâmica de apresentação dos participantes.

- Apresentação da dinâmica da Páscoa Juvenil – Programação geral e divisão de tarefas.

- Oração de abertura (a preparar).

- Partilha em grupo e reflexão: “Origem e sentido da Páscoa”. Texto traduzido e adaptado de: “Yo,

Andrónico”, parte I e II (LOZANO; PACHECO, 2003, pp. 103-110).

“EU, ANDRÔNICO”

O meu nome é Andrônico. Sou um judeu do século I e um daqueles animadores e animadoras que

prepararam esta Páscoa Juvenil fizeram contato comigo e me pediram para eu escrever em que consiste

aquilo que vocês irão celebrar. E eu aceitei com muito prazer.

A primeira coisa que eu lhes queria dizer é que, para entender a Morte e a Ressurreição de Jesus é

preciso levar em consideração o contexto social, político e religioso da época em que viveu o Mestre. Por

isso vou dividir a minha narrativa em duas partes: uma sobre o contexto do que aconteceu e outra sobre o

que aconteceu e sobre o seu significado.

Parte 01: Galileia, século I

Antes de tudo, devo deixar claro que os nossos não eram tempos fáceis. Logo vocês

compreenderão por que.

Como povo, nós estávamos sofrendo uma das maiores humilhações: fomos dominados por outra

nação grande e poderosa: o Império Romano. Eu suponho que isso, para qualquer povo da terra deve ser

uma experiência traumática sentir-se submetido e dominado pelos outros. Mas para nós, se pudermos

dizer isso, a afronta era maior. Explico-me: havia muito tempo que nos sentíamos um povo especial, um

povo que Deus tinha conduzido pelos caminhos da liberdade, tirando-nos da opressão do Egito, no

nascimento da nossa identidade como povo. Esse tinha sido o nosso grande orgulho: Deus nos tinha

ajudado a libertar-nos dos egípcios e nos tinha dado a posse de uma terra fértil e generosa onde podíamos

viver como irmãos.

E agora, mais uma vez, estamos estávamos submetidos a outro povo. É verdade que os romanos,

conhecedores do nosso orgulho judaico, respeitavam bastante os nossos costumes e a nossa cultura.

Porém, de qualquer forma ninguém podia tirar-nos o sentimento de humilhação.

Ainda hoje sinto vergonha ao lembrar-me disso.

Bom... Eu estava dizendo que nós estávamos convencidos de que Deus nos tinha libertado no

passado para fazer de nós um povo de irmãos. Pois bem: outra de nossas desgraças é que, ao passar o

tempo, essa história de “povo de irmãos” foi ficando pra trás. Também me explico:

Com o passar dos anos, o conceito de fraternidade e de união foi perdendo a sua força entre nós e,

ao contrário, aumentaram as diferenças. Alguns (na verdade, muito poucos), viviam como autênticos

marajás: eram os judeus que faziam parte da corte de Herodes ou também latifundiários, donos de terras,

e os que pertenciam à família do Sumo Sacerdote que faziam do Templo de Jerusalém o seu negócio mais

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lucrativo. Sim, esse pessoal vivia muito bem, banqueteava-se e apenas não se relacionava com os demais

judeus.

Também havia um pequeno grupo que vocês, hoje, com as suas categorias, os chamariam de

“classe média”. E depois, a grande maioria que vivia, não na miséria, mas sim na pobreza, tentando sair

adiante no dia a dia em meio a muitas dificuldades; esperando nas praças a algum patrão que os

contratasse, suando no mar o percorrendo as cidades com as suas mercadorias...

Porém, o mais difícil para essa gente não era nem a pobreza e nem as dificuldades para ganhar o

pão de cada dia... O mais insuportável era que os judeus ricos os desprezavam porque os consideravam

pessoas pouco queridas por Deus.

Vou tentar explicar um pouco mais, porque eu sei que isso é muito diferente da realidade de vocês.

Hoje, chamar alguém de “ateu” ou “sem religião” não é nenhum insulto. Inclusive, há quem considera isso

um elogio. Mas para nós era tudo o contrário: o grande orgulho de um judeu era ser uma pessoa religiosa,

que amava Deus e se sentia amada por Ele.

Pois acontecia que os judeus ricos consideravam que toda essa gente do povo não era bem vista

nem querida por Deus. E isso doía muito: a gente se sentia esquecido de Deus por não ter riquezas (que

além do mais, eram consideradas como sinal da bênção e do favor de Deus) e por não poder cumprir a Lei

em todos os seus detalhes.

Imaginem, nesse contexto, quão rejeitados deviam sentir-se os doentes quando escutavam que a

sua enfermidade era sinal de pecado e do castigo de Deus! Como diriam alguns: “além de burros,

castigados!”. Era assim que se sentiam muitos judeus: além de terem dificuldades para sobreviver, eram

considerados excluídos pelo próprio Deus.

Passando a outro plano, o que dizer das mulheres? A sua palavra não valia nada, muito menos para

testemunhar num juízo. A sua opinião contava apenas na sociedade em geral. Na rua, os homens não

podiam “rebaixar-se” ao falar com elas; nas sinagogas e nos lugares de culto, elas sempre ocupavam um

lugar inferior e secundário em relação aos homens.

E, as crianças? Eu tenho entendido que na cultura de vocês elas são muito valorizadas, pois até

existem leis que as protegem. Entre nós, as crianças não contavam para nada e não tinham nenhum direito.

Quem realmente era importante, e em quem todo o mundo reparava eram os anciãos: para eles todos

tinham muito respeito e um temor reverencial.

O povo simples e pobre também passava mal por outra questão: o assunto da Lei. É que no

princípio a Lei consistia fundamentalmente em respeitar os dez mandamentos. Porém, com o passar dos

anos e dos séculos, os “estudiosos”, que nós chamamos de “escribas”, foram acrescentando a esses dez

outros centos de normas. Por exemplo: eles determinavam quais coisas podiam ser comidas para não cair

na impureza; o que é que se podia e o que não se podia fazer no “Sabbat”; quais atos eram impuros e quais

não; e assim por diante... Cumprir todos esses preceitos se tornou algo humanamente impossível, numa

autêntica “obsessão” para alguns poucos, de tal maneira que colocavam rapidamente a etiqueta de

pecador e impuro a quem não os cumpria do A ao Z.

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Dessa maneira, a Lei se transformou numa pesada carga para a maioria das pessoas e o seu

cumprimento dava prestígio a uns poucos, entanto que o não cumprimento era sinal de pecado e de

afastamento de Deus.

Por outro lado, os mestres da Lei (“os escribas”) e as pessoas mais religiosas nos falavam

oficialmente de um Deus a quem devemos temer, um juiz severo que podia castigar-nos se não

cumpríamos fielmente todos os mandamentos da Aliança.

Mas então vocês poderão perguntar-se: porque o povo não se libertava de tudo isso que os

mantinha alienados? Bom, não esqueçam vocês que o orgulho maior de todo judeu era pertencer a um

“povo religioso”, o povo da Aliança, o povo que tinha seguido em todo tempo a voz de Deus, e se os

“mestres” nos diziam que tudo isso era a voz de Deus, para nós era o mais importante e primordial. Se os

“mestres” nos diziam que a doença era sinal do castigo divino, era sinal de que Deus tinha deixado essa

pessoa e a sua família de lado por causa do seu comportamento... e nós acreditávamos que isso era

verdade!

Olha só o quadro que eu pintei para vocês! Por favor, não pensem que tudo era assim. Também

aconteciam muitas coisas boas entre nós. Brevemente, vou falar acerca de algumas delas:

Nós éramos gente muito hospitaleira, acolhedora dos vizinhos e com um forte senso de clã, de

pertença a uma família grande. Entre nós ocorriam muitos gestos de generosidade e de solidariedade. Além

disso, nós sabíamos curtir a vida, as pequenas coisas de cada dia, e éramos gente muito brincalhona e

festiva: os nossos casamentos duravam dias e quando peregrinávamos rumo a Jerusalém, todas as estradas

da nossa nação se transformavam em lugares de alegria, de festa e de expressão da fraternidade.

Por outro lado, muitos homens e mulheres bons, na medida em que faziam na sua vida a

experiência de Deus, iam percebendo as coisas erradas e os enganos dos nossos dirigentes...

Alguns desses homens e mulheres foram mostrando para nós o verdadeiro rosto de Deus, o Deus

do amor, do perdão, da misericórdia; o Deus preocupado com a felicidade de cada um dos seus filhos e

filhas... Por isso foram surgindo movimentos religiosos de protesto que reivindicavam o retorno à autêntica

fraternidade entre todo o povo. De todos eles, os que mais entusiasmo e acolhida despertaram entre o

povo foram dois: o movimento liderado por João Batista no Jordão e o grupo itinerante de Jesus de Nazaré.

Com eles começou uma nova etapa da história do povo de Deus.

Agora sim, levando em consideração esse contexto, será mais fácil para vocês compreender o

significado principal dos dias mais importantes do ano cristão que vocês chamam de Semana Santa.

Parte 02: Esclarecendo os Mistérios (?) da Semana Santa

Nesses dias se concentram os episódios mais importantes da história de Jesus, aquele camponês

que passou pelo mundo semeando vida e esperança na vida de tantos e tantas que tivemos a oportunidade

de conhecê-lo. Sim: Jesus não fez mais do que isso: semear de vida todos os encontros, todas as

experiências, todas as situações.

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15 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

Centro da Juventude para a Paz

Um teólogo de nossa época disse isso com palavras muito belas: “Em grande medida, a atividade de

Jesus consistiu em criar comunicação social e em abrir vias de comunicação, sobretudo ali onde reinavam

oficialmente a exclusão e a excomunhão”.

No fundo, pode-se dizer que a história da humanidade é uma história de luta entre a Morte e a

Vida: alguns homens e mulheres lutaram para fazer triunfar a vida sobre a morte: eles e elas escreveram as

páginas mais belas da história da Humanidade. E, de todos eles, Jesus foi o melhor, o construtor mais bem

sucedido da vida.

Outros homens e mulheres optaram por semear morte e destruição e assim anda o nosso mundo

depois de tantos séculos...

E você e eu, suponho que temos um pouco de tudo: às vezes optamos com força por semear vida e

outras preferimos matar, destruir, derrubar...

Por isso é interessante que nos aproximemos de Jesus, que aprendamos dos seus gestos, de suas

experiências, de suas atitudes...

Esta é a oportunidade que temos nestes dias da Páscoa: uma nova oportunidade para sentirmo-nos

acompanhados por Jesus e para confrontar a nossa vida com a dele. Sim: nós vamos vivenciar três dias

carregados de mensagens profundas. Permitam-me que juntos façamos um percurso através dos

significados mais importantes de cada um destes dias.

QUINTA-FEIRA SANTA: O AMOR QUE GERA VIDA

Por experiência vocês devem saber que é diferente “amar” e “apaixonar-se”. Hoje chamamos de

amor a qualquer coisa e esquecemos que, na verdade, não temos direito a falar em amor quando o que

sentimos e vivemos não vai acompanhado de generosidade, de gratuidade, de acolhida total, de

sinceridade... Pois bem: na Quinta-feira Santa lembramos os gestos de amor do Senhor Jesus. São gestos

inconfundíveis, nada ambíguos; gestos de um amor que se entrega generosamente e gratuitamente.

Vejamos:

a) O gesto da instituição da Eucaristia:

Quando alguém nos quer bem não nos abandona nunca, aposta sempre em nós e nos acompanha

ao longo de todos os momentos cotidianos. Jesus procurou um gesto para permanecer sempre conosco,

para que pudéssemos sentir o seu carinho e a sua presença.

Na Quinta-feira Santa, celebramos a instituição desse gesto: a Eucaristia. Trata-se de um gesto

lindo, acompanhado de palavras emocionantes: “quando estiverem reunidos, façam isto em memória de

mim”. Porém, quantas vezes, ao longo dos séculos, temos prostituído esse gesto! Quantas Eucaristias

vazias, quantas eucaristias convertidas em atos sociais, em passividade e individualismo, em rotina, em

mentira...! Quantas vezes temos esquecido o que significa “façam isto”, “vivam dessa forma”: partindo e

repartindo o pão aos outros e pelos outros! Quantas vezes nós dizemos admirar e amar Jesus e

continuamos sem celebrar o seu gesto, dizendo que isso de ir à Missa é algo secundário...!

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16 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Hoje é um bom dia para que possamos perguntar-nos com estamos acolhendo na nossa vida esse

presente de Jesus...

b) O gesto do lava-pés:

Jesus fez próprio esse gesto reservado aos escravos: lavar os pés do patrão que chega cansado da

caminhada. Alguém escreveu o seguinte: “Dos seus lábios nós aprendemos que somente serve para viver

aquele que vive para servir”. É isso mesmo o que significa o gesto que faz Jesus: viver de verdade, com

intensidade, significa viver ao serviço dos outros, viver para os outros... “tido, me-tido, pro-metido, com-

pro-metido com os os homens, os meus irmãos”... Foi assim que viveu Jesus.

E você, serve a alguém ou talvez vive “servindo-se” de muitos? Na verdade, diante de nós há dois

caminhos: viver servindo ou viver servindo-se... Qual o caminho que você está percorrendo hoje?

c) O sacerdócio:

Jesus criou um grupo, uma comunidade de iguais e convidou a todos e a todas para colocarem o

melhor de si ao serviço dessa comunidade. E encarregou a alguns que animassem às comunidades, que

repartissem o pão e o perdão. É este o verdadeiro sentido do sacerdócio dentro da comunidade. Mas com

o passar do tempo, a animação das comunidades se transformou num sinal de poder, de prestígio, de

desigualdade... e novamente foi prostituído o gesto-presente de Jesus.

Hoje lembramos como Jesus queria que fossem organizadas as comunidades cristãs. Pode ser,

portanto, um bom momento para que nos perguntemos sobre a nossa maneira de viver a fraternidade

como grupos, como pastorais e como Igreja. Convido você a perguntar-se com sinceridade: você coloca o

melhor de si ao serviço do grupo e da comunidade? Com os seus gestos e palavras, você promove a

unidade e a igualdade ou, ao contrário, a divisão e a separação? Você celebra de alguma maneira o

presente do Perdão e da Reconciliação que Jesus confiou à comunidade?

- Preparação da celebração (em pequenos grupos).

- Lava-pés: todos lavando os pés uns aos outros, como recomendava o próprio Jesus.

Imagem: Cerezo Barredo

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17 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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- Jantar: em duplas, um servindo ao outro. Evitar usar, ao máximo, todo tipo de material

descartável (copos de plástico, guardanapos, etc.).

- Adoração eucarística. Recomenda-se, para este momento, preparar uma ambientação onde a

natureza, os frutos da terra e o trabalho humano contextualizem o pão eucarístico. Roteiro sugerido

(adaptado) do Manual da CF 2011 (pp. 319-328). Roteiro alternativo “No Horto... sem oliveiras”, a ser

preparado tomando como inspiração o texto “Jueves Santo... en Getsemaní” (LOZANO; PACHECO, 2002, pp.

87-93).

SEGUNDO DIA

b) Sexta-feira Santa. Lema: “Se o grão de trigo não cair na terra, permanecerá estéril”.

Ideia-chave: A entrega frutifica em mais vida

- Oração da manhã: “O rio da vida” (Texto de apoio 01)

- Reflexão: “Jesus morreu ou mataram Jesus?” (Texto a preparar).

- Reflexão em grupo: “Dominar ou cuidar da terra?”. Leitura em grupos da biografia de mártires da

terra: Ezequiel Ramin, Chico Mendes, Dorothy Stang, Margarida Maria Alves e Padre Josimo (Cf.

COVARRUBIAS, 2006, pp. 186-201) com perguntas de aprofundamento e posterior partilha.

- Almoço

- Preparação da celebração da Paixão

- Celebração da Paixão

Imagem: Cerezo Barredo

- “Via Sacra Juvenil” (Texto de apoio 02). Fazer adaptações.

- Oração: “O sentido da cruz” (Texto de apoio 03).

- Celebração penitencial (a preparar).

- Jantar.

- Cine-fórum: “Mataram irmã Doroty”. Alternativa: “Amazônia em chamas”, filme sobre Chico

Mendes.

TERCEIRO DIA

c) Sábado Santo: “Faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que cresce”

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18 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Ideia-chave: A vida cresce no silêncio

- Oração: Ofício Divino da Juventude (preparar, adaptando-o para os jovens, o roteiro do Ofício

Divino das Comunidades).

- Café da manhã

- Contemplação: “Os silêncios de Maria” (preparar algum texto adaptado das “dores de Maria”).

Alternativa: “As sete palavras de Jesus na cruz”, de Dom Pedro Casaldáliga.

- Deserto pessoal (em silêncio, com perguntas ou textos para a reflexão).

- Trabalho em grupos: “Quem tirará a pedra?” (Leitura em grupos do texto bíblico das mulheres

diante da pedra, com perguntas: quais as pedras que impedem a vida brotar?).

- Almoço.

- Dinâmica: “O jardim dos sonhos semeados” (Texto de apoio 04).

- Preparação da Vigília Pascal em pequenos grupos.

Imagem: Cerezo Barredo

- Celebração da Vigília Pascal. Preparar roteiro mais dinâmico, inspirando-se em “Vigília Pascual:

resucitados com Él” (traduzido e adaptado. In: LOZANO; PACHECO, 2002, pp. 175-202).

- Confraternização e/ou “Gincana pela Paz e pela Vida” (Texto de apoio 05).

QUARTO DIA

d) Domingo de Ressurreição: “Testemunhas da Vida, a favor da vida”

Ideia – chave: A vida doada supera a morte

Imagem: Cerezo Barredo

Page 20: PÁSCOA JUVENIL - Um Jeito Jovem de Vivenciar a Páscoa

19 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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- Oração: “A Páscoa da Semente” (Texto de apoio 06).

- Café da Manhã.

- Reflexão: “O sentido da Ressurreição para nós e para o mundo”.

- Via – Lucis (adaptando-a) (Texto de apoio 07).

- Trabalho em grupos: firmando compromissos a favor da vida e pelo cuidado do planeta.

- Avaliação.

- Almoço.

- Retorno.

Imagem: Cerezo Barredo

- Eucaristia na comunidade, com testemunhos de jovens e entrega de sementes para serem

plantadas no quintal das casas ou na comunidade.

V. A Páscoa Juvenil: algumas experiências

b) Páscoa Juvenil Missionária em comunidades rurais de Itupiranga – PA

“Jovens defendendo a Vida”

Experiência da Páscoa Juvenil na comunidade São Sebastião, distrito de Itupiranga, Pará.

Celebrar a páscoa numa comunidade do interior com um enfoque especial sobre a defesa e

promoção da vida foi o que se propôs um grupo de 10 jovens que partiu de Itupiranga, no Pará, animado e

disposto a percorrer os cerca de 115 quilômetros de lama e buracos até chegar à Vila São Sebastião onde o

grupo local de 20 jovens estava alegre e de braços abertos para acolher os visitantes.

Os três dias de boa convivência foram marcados por momentos de reflexões e dinâmicas com o

objetivo de despertar os jovens para a importância de se ter sonhos e buscar realizá-los, despertar

lideranças no grupo e como o líder deve reagir em determinadas situações, ajudar o jovem a definir as

prioridades pessoais, conhecer as formas de ameaças à vida e qual o plano de Deus para nós. Filmes, a

coleta de lixo e outras dinâmicas ajudaram o grupo a dar um passo para a ação.

Mas não só a convivência e a reflexão marcaram este encontro. Os jovens celebraram com toda a

comunidade de forma intensa e participativa os fortes momentos do Tríduo pascal: a Páscoa da Ceia, a

Páscoa da Cruz e a Páscoa da Ressurreição. Entre o refletir, o celebrar e realizar pequenas ações os jovens

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20 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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procuraram apontar os sinais de morte na comunidade e na sociedade, destacaram os sinais de vida

presentes e deram pistas do que precisa ser feito para promover a vida que se encontra ameaçada.

No sábado santo, após a marcante celebração da vigília pascal, houve um momento de

confraternização com toda a comunidade. Ao encerrar o encontro os jovens reconheceram algumas falhas,

mas guardaram o que houve de bom e as descobertas que fizeram: a abordagem de assuntos importantes,

a capacidade que cada um tem de realizar sonhos, o olhar sobre a realidade desafiadora da Amazônia, a

ameaça das drogas e da prostituição, a poluição e a dinâmica de coleta do lixo, a capacidade de auto-

superação, o trabalho em comunidade, a valorização da vida e a necessidade de cuidar do meio ambiente,

além do testemunho dos jovens nas celebrações.

Colaboração:

Raimundo Rocha e David Tena – Missionários Combonianos

Teresina, março de 2008.

Foto: Padres Raimundo e David com jovens de São Sebastião

c) Páscoa Missionária na comunidade de Paripueira, no município de Parajurú – CE

“Vivendo e aprendendo”

Experiência da Páscoa Missionária na comunidade de Paripueira, Parajurú, Ceará

Na Semana Santa de 2008, nós postulantes Combonianos, juntos com Pe. Gustavo e Pe. João Manú

fomos a uma comunidade chamada Paripueira, no litoral cearense, onde, com o povo, celebramos o Tríduo

Pascal.

Com antecedência nos passaram algumas informações, criando em nós um pouco de expectativa.

Ao chegarmos, fomos acolhidos por algumas lideranças da comunidade, com as quais planejamos as

atividades a serem desenvolvidas.

Entre as atividades, estava a visita às famílias. Famílias que manifestaram tamanha confiança,

sentindo-se a vontade em falar de suas preocupações, anseios, dificuldades, entretanto, também a

esperança, a qual é motivo de alegria desse povo.

Page 22: PÁSCOA JUVENIL - Um Jeito Jovem de Vivenciar a Páscoa

21 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

Centro da Juventude para a Paz

O amor-serviço foi manifestado na Quinta-feira Santa quando celebramos o Lava-pés, aonde fomos

motivados a libertar-nos do egoísmo que nos impede de servir ao próximo. Na Sexta-feira o Amor serviço

se fez sacrifício, abrindo nossos olhos para a situação de morte na sociedade, trazendo presente o direito à

vida.

No Sábado Santo celebramos a luz na esperança do Cristo ressuscitado, luz que nos dias de

angústias, tristeza, dor, nos dar uma oportunidade de voltamos a sorrir. Sorrir porque Jesus ressuscitou e

está no nosso meio, sorrir porque é Páscoa.

Durante os quatros dias que passamos em Paripueira, motivamos as pessoas a fazerem memória e

viverem não só a morte de Jesus Cristo, mas também a sua Ressurreição. Porque, infelizmente com o

passar do tempo a Semana Santa foi perdendo suas raízes e modificada deixando de lado seu real sentido –

Morte e Ressurreição.

Por fim, tivemos um pequeno momento de confraternização, visitando as belezas naturais da

região: praias, dunas, lagos, etc. Podemos afirmar que, mais do que ensinar aprendemos e mais do que

aprender vivemos.

Colaboração: Postulantes Combonianos.

Fortaleza, março de 2008.

Foto: Jovens postulantes combonianos com jovens de Paripueira

d) Páscoa Juvenil Missionária com jovens de Timon - MA

“Entrar na onda deles”

Experiência da Páscoa Juvenil na comunidade de São José, em Timon, Maranhão

As atividades começariam na quinta-feira da Semana Santa, mas alguns do nosso grupo de 15

pessoas foram ao povoado “Vertente” um dia antes a fim de visitar os jovens do bairro e organizar as coisas

para os colegas que chegariam no dia seguinte. E assim foi: andamos, visitamos, arrumamos as bagagens e

pela noite celebramos com o povo a festa do padroeiro São José.

Page 23: PÁSCOA JUVENIL - Um Jeito Jovem de Vivenciar a Páscoa

22 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

Centro da Juventude para a Paz

Durante os quatro dias tudo correu tranquilamente: celebrações bem vivenciadas, bons momentos

de reflexão e oração, ótima convivência, partilha de responsabilidades, calorosa acolhida das famílias para

as refeições, bela festa no sábado da ressurreição com muito forró e até animadas piadas! Contudo, uma

coisa faltava: os jovens; justamente nosso público alvo, afinal, tratava-se de uma “Páscoa Juvenil”.

As indagações aparecem: o que aconteceu? Onde eles estavam? Nossa maneira de celebrar e viver

a Páscoa não responde mais a seus anseios? Era possível vê-los nos bares do povoado, nos campos de

futebol ou transitando sobre motos barulhentas, o que mostra um grande desejo por convívio, lazer,

esporte, “adrenalina”, visibilidade e auto-afirmação. Isso tudo é vida, é energia! O problema é que faltam

espaços e situações adequadas para que toda essa vitalidade se manifeste sadiamente.

Vemos, portanto, que a grande questão hoje, em termos de evangelização das juventudes, passa

pela consideração, séria e criativa, de seus anseios em nossas atividades pastorais. Para o próximo ano

seria bom fazer uma programação que conjugue atividades esportivas, culturais, artísticas e lúdicas com

momentos de reflexão, oração e celebração.

Se, de certa forma, conseguirmos “entrar na onda deles”, quem sabe ajudaremos muitos a

enveredarem por caminhos de Páscoa e vida plena.

Colaboração: Pré-Noviços Combonianos

Timon, março de 2008.

e) Páscoa Vocacional Missionária com vocacionados e vocacionadas combonianas

“Uma Páscoa diferente”

Foto: Postulantes e vocacionados combonianos

Experiência da Páscoa Juvenil na comunidade do Arraial de Santa Isabel, em Aracoiaba, Ceará

Olá! Meu nome é Cleyton. Sou da Juventude Missionária de Fortaleza. Durante a Semana Santa de

2009, eu e um grupo de missionários vivemos um momento único, de experiência com Jesus, que entregou

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23 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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sua vida e ressuscitou para a alegria de todos: nesses dias estivemos na comunidade do Arraial de Santa

Isabel, em Aracoiaba - CE.

A comunidade nunca havia celebrado, com a presença de um padre, os ritos da Páscoa... Foram

momentos de muita aprendizagem e de troca de experiências e de fé, pois fomos acolhidos com muito

amor, carinho e atenção. Vivemos momentos de profundo encontro pessoal com Deus no rosto sofrido do

povo, pois lá tivemos contato com o sofrimento daquela gente que, apesar das adversidades, sempre se

encontra de braços abertos...

Durante as manhãs fazíamos a nossa oração pessoal à luz do evangelho do dia e, além disso,

refletíamos sobre a vida de Dietrich Bonhoeffer, um pastor luterano que foi morto dando exemplo de

fidelidade a Cristo e ao projeto de amor do Pai. Depois, durante as visitas às famílias, pudemos perceber a

urgência da missão e o quanto é necessário doar-se para vivê-la.

Juntamente com a comunidade, também nos convencemos de que Páscoa não tem nada a ver com

troca de chocolates: ela, depois do processo de mudança radical que inicia na Quaresma, significa

realmente “renascer em Cristo”, permitindo que tudo o que não nos faz crescer morra e rompendo as

correntes do egoísmo para que o amor possa nascer... Bendita passagem para mais vida!

Colaboração: Cleyton Paes, coordenador da Juventude Missionária da Arquidiocese de Fortaleza

Aracoiaba – CE, abril de 2009.

Fotos: Cenas da Via Sacra no Arraial de Santa Isabel

f) Outras experiências e reflexões sobre a Páscoa Juvenil

“Ai de mim se eu não evangelizar!”

Experiência da Páscoa Juvenil Missionária na comunidade de 50 BIS, Açailândia - MA

Eu sou Joelson, jovem da comunidade de santa Luzia de Piquiá “Paróquia são João Batista”, eu

gostaria de partilhar minha vivência pascal com vocês.

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24 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

Centro da Juventude para a Paz

Em primeiro lugar eu agradeço a Deus pela experiência tão maravilhosa que vivi essa semana santa

no assentamento de 50 Bis. Para mim a missão jovem começou no retiro de preparação que os padres e os

irmãos de nossa paróquia São João Batista organizarem para nós.

O retiro junto com 35 jovens não somente de nossa paróquia, mas também da paróquia São

Sebastião. Somos jovens diferentes, mas temos um coração que bate pela única causa: anunciar o Cristo.

Com tudo que a gente aprendeu e vivenciou nesse retiro de preparação com outros jovens e tudo que os

padres e Irmãos nós permitiram viver eu faço minhas as palavras de São Paulo: “Ai de mim se eu não

evangelizar”.

Na comunidade de 50 Bis eu encontrei pais, mães e amigos que me ajudarem a fazer uma

experiência muito boa. A comunidade é muito acolhedora e simples isto me ajudou a perceber a presença

do Cristo ressuscitado na figura de meus irmãos, isto é para mim a certeza do reino. Eu confesso que a

convivência com toda a comunidade foi um pouco fraca por causa das chuvas, mas isto também é

experiência.

Para mim a missão jovem de esse ano foi uma graça, um encontro com outros jovens, um

momento inesquecível.

Colaboração: Joelson Pereira da Silva

Piquiá, abril de 2009.

Relatório de uma Páscoa Juvenil Missionária

Iniciada no dia 09 de Abril de 2009, quinta-feira, no povoado Angelim, a Semana Santa foi maravilhosa e trouxe-nos grandes conhecimentos de uma experiência única e especial nas nossas vidas.

Saímos da paróquia do Bairro Potosí as 15h00min com destino ao povoado Angelim aonde chegamos as 16h00min.

No dia seguinte, as 08h30min da manhã, foi dado início à 1ª palestra da semana da Páscoa Juvenil, ministrada pelo coordenador do grupo de jovens da igreja do Bairro São Felix, João Antônio. O mesmo falou sobre a campanha da fraternidade explicando-nos o que é a campanha e qual é o seu objetivo.

Eu, Raimundo Nonato, coordenador do grupo de jovens da comunidade Santo Expedito, juntamente com meus três participantes do grupo, participamos da semana Páscoa Juvenil e para nós foi muito gratificante, pois aprendemos bastante em cada palestra ministrada que tiveram como temas o meio ambiente, o desmatamento da Amazônia e outros.

Ouvimos também palestras sobre vocação sacerdotal e matrimonial que nos enriqueceram com grandes conhecimentos, conhecimentos esses que vão ficar guardados para o resto de nossas vidas.

A animação da páscoa juvenil ficou por conta da comunidade Santo Expedito da qual eu sou o coordenador, e para nós foi maravilhoso poder participar desse momento tão especial.

Descobri também uma qualidade em mim que é muito importante: é aconselhar pessoas nos momentos difíceis da vida. Ou seja, descobri que sou um conselheiro nas horas difíceis.

Pontos Negativos da Páscoa Juvenil

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25 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Em primeiro lugar, o que não me agradou muito foi a atitude de muitos jovens que foram sem intenção de aprender e acabaram atrapalhando aqueles que queriam alguma coisa.

Algo que também me deixou triste foi a atitude de certas pessoas do povoado que não nos receberam muito bem. Porém, o restante foi maravilhoso, e eu gostei muito.

A páscoa juvenil de 2009 por maravilhosa apesar de ter sido a primeira foi muito proveitosa e nos trouxe grandes conhecimentos, todos os que participaram gostaram muito e querem que isso se repita mais vezes, principalmente os jovens do povoado onde aconteceu a páscoa Juvenil.

Colaborou: Raimundo Nonato Rodrigues de Miranda

Comunidade do Angelim, Balsas – MA, abril de 2009.

Avaliação de uma Páscoa Vocacional Missionária

Nos dias da Semana Santa desse ano, uma equipe missionária formada pelos postulantes, dois

jovens vocacionados do Ceará (um do interior do Estado e outro da capital), duas aspirantes combonianas

do Maranhão, a Irmã Gabriella Bottani e o Pe. Gustavo Covarrubias celebrou, juntamente com a

comunidade cristã do Arraial de Santa Isabel (pertencente à Paróquia de Aracoiaba - CE), a Páscoa

Missionária.

A experiência foi idealizada e preparada tendo como objetivo "Vivenciar o sentido profundo da

Páscoa através da partilha e da celebração da fé junto a uma comunidade cristã pastoralmente

necessitada". Segundo a avaliação da equipe e da própria comunidade, tal vivência revelou-se muito

positiva. Além da comunidade poder celebrar os mistérios pascais pela primeira vez com toda a riqueza dos

ritos e dos Sacramentos (com a presença de "um padre"), houve a possibilidade de muitas pessoas da

comunidade serem visitadas (particularmente doentes e idosos) e outras tantas vivenciarem momentos de

reconciliação (através da confissão, mas também do aconselhamento/escuta pastoral).

Mais ainda, para a própria equipe a experiência mostrou ser diferente: não somente os

missionários foram "levar" aos outros a sua própria visão/experiência de fé, mas eles também se deixaram

tocar pela vivacidade e a fidelidade da prática cristã da comunidade. Eles, assim, realmente terminaram

aprendendo. Essa atitude de abertura, acolhida e partilha foi reforçada pela programação de momentos

fortes de reflexão e oração pessoal para os/as "missionários/as" e pela preparação e desenvolvimento das

atividades/celebrações em equipe. Foi, portanto, um verdadeiro momento de animação/discernimento

vocacional!

Colaboração: Pe. Gustavo Covarrubias

Fortaleza – CE, abril de 2009.

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26 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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VI. Textos de apoio

Os textos a seguir são pequenos subsídios, auxiliares na realização de uma experiência de Páscoa.

Eles representam um conjunto de ideias e propostas que não eximem os organizadores da Páscoa Juvenil

de reduzirem ou modificarem os conteúdos, adaptando-os à linguagem e ao contexto cultural dos jovens

destinatários.

1. Via Sacra Juvenil: “Peregrinos do Absoluto”

Objetivo e sentido:

- O caminho do Mestre, Bom Pastor, Jesus Cristo, é também o peregrinar de seus seguidores. Acompanhá-lo, acolhê-lo é fazer com que o projeto de vida de Jesus seja também nosso sonho-realidade, realidade-sonho.

- Usar símbolos pode ajudar muito a compreender com maior profundidade e realismo o que cada estação significa para os cristãos.

- Esta "caminhada com Jesus" é uma ajuda para a reflexão e a oração sobre alguns aspectos centrais da via-sacra.

- Enquanto o grupo caminha, várias modalidades de aprofundamento vão surgindo. É importante vivenciar cada momento. Seria bom mudar sempre de duplas para as partilhas que seguirão.

- O que acontece com Jesus é fruto de um tipo de vida, valores, critérios, opções... - O que se deu com Jesus continua se dando com pessoas, comunidades, grupos, classes, raças,

povos, jovens... com cada um de nós. - Aqui queremos refletir sobre nossa "via crucis" à luz do caminho de Jesus. Nesta caminhada

com Ele, não é necessário aprofundar todos os aspectos. É importante preparar e ter bem claro os passos que se quer dar.

1. Primeiro passo: encaminhar bem a via-sacra: a) Prever e traçar o percurso antes de iniciar a via sacra. b) Prever uma cruz de Cristo em tamanho bastante grande. c) Prever outra cruz de madeira (1.50m x 0,70m) que é a cruz do povo. d) Prever barbantes (40 cm cada barbante), gravetos, percevejos. e) Prever sementes para cada participante, um prato de terra com água ou tinta vermelha...

2. Segundo passo: Partir do chão: a) Cada participante começa a fazer sua cruz. Disponibilizar barbante e gravetos ou galhos. b) Enquanto vão fazendo a sua cruz, refletem sobre qual é a maior cruz na vida. c) Todos se encontram em volta da cruz de Cristo e se cria um momento de partilha: algumas pessoas

mostram sua cruz ao grupo e falam sobre qual é sua maior cruz. d) Sentir a própria cruz nas mãos. e) A cruz de Cristo vai na frente, cada participante carrega a sua e alguém carrega a cruz do povo. O

caminho se faz continuando a caminhada.

3. Terceiro passo: contemplar Jesus Cristo. a) O grupo faz uma parada e reflete sobre o aspecto central da via-sacra. b) Faz-se um momento de silêncio para todos contemplarem Jesus pregado na cruz.

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27 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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c) Depois, promover um diálogo em duplas sobre: por que Jesus foi parar na cruz? Quais são as causas da crucificação de Jesus? Como viveu sua vida? Que valores, convicções, sonhos... alimentaram o modo de ser e de viver de Jesus?

d) Em clima de recolhimento e de fé, algumas pessoas podem partilhar com o grupo maior sobre o por quê de Jesus ter sido condenado à morte.

e) O grupo continua sua caminhada, até a próxima parada: cantando, rezando, silenciando, refletindo.

4. Quarto passo: ser solidário com o nosso povo a) Jesus é condenado à morte. b) Partilhar em duplas diferentes a respeito de: quem continua em nossos dias sendo condenado à

morte, condenado a não ter as mínimas condições de vida? c) As novas duplas refletem sobre a realidade de hoje. d) Depois de um tempo de reflexão em duplas, o grupo se reúne novamente: algumas pessoas falam

em voz alta quem continua sendo condenado à morte; e fixam na cruz, com percevejos ou pregos - aquilo sobre o qual refletiram nas duplas.

e) É preciso caminhar sempre. Quanto mais caminhamos, mais se abrem horizontes.

5. Quinto passo: carregar a cruz com decisão a) Jesus carrega e não arrasa a cruz. b) Refletir em duplas diferentes: quais as cruzes que Deus quer? Quais as cruzes que Deus não quer?

O que se deve fazer diante disso? c) As duplas podem escrever num papel as cruzes de que "Deus não gosta"; e... d) No grupo, queimar essas cruzes, refletindo sobre o sentido que isso tem para nós. e) Alguns partilham no grupo sobre o qual as duplas refletiram. f) Formam-se novas duplas e a caminhada continua, podendo partilhar acerca de uma de suas cruzes

libertadoras. Exemplos: a respeito da luta pelos direitos da criança e do adolescente; da luta pela melhoria na educação dos jovens...

6. Sexto passo: nossas quedas

a) Jesus cai, não só uma vez, mas várias vezes... O mais belo não é cair, mas levantar-se sempre. A atitude de Jesus nos evangelhos é alentar, encorajar, animar, perdoar, levantar as pessoas caídas. Ele não pisa, não machuca, não condena.

b) Convidar as pessoas do grupo a contemplar o Cristo na cruz e o Cristo que cai em tantas realidades do povo, das famílias, das pessoas. "Eras tu, Senhor", "Tudo o que fizeres a um destes meu irmãos, foi a mim que o fizeste"... lembrar de outros textos bíblicos significativos para o momento.

c) Para sentir mais este momento e esta realidade das quedas em nossas vidas, convida-se os participantes para que: - Todos se ajoelhem. - E tentem recordar as maiores quedas de sua vida. - Depois: como se levantaram? - Quem você já ajudou e quem me ajudou a me levantar? - Como foram as quedas de Jesus e como ele se levantou? - Onde ele encontrou força para não ficar no chão? Onde você busca força para se levantar

sempre? d) De joelhos, pode-se rezar um salmo, cantar uma música, rezar algumas ave-marias... e) Em seguida, cada pessoa ajuda alguém a levantar-se e a ficar de novo de pé. f) Comentário: nascemos do alto e não para as quedas; nunca devemos Ter medo nem vergonha de

ser irmãos uns dos outros... g) O grupo continua a via-sacra: cantando e rezando; ou partilhando em duplas a respeito de suas

quedas.

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7. Sétimo passo: "Daí de graça o que de graça recebestes". a) Simão Cireneu ajudou a carregar a cruz de Cristo. b) Neste momento, os participantes podem fazer uma roda para rezar uns pelos outros:

- Ou passando as suas cruzes de mão em mão e rezando pelo outro; - Ou amarrando suas cruzes na cruz de Cristo 3. A via-sacra continua. Até a próxima parada, pode-se favorecer uma breve partilha a dois sobre a

família: quantos são, como vivem, sua vivência da fé... como ela ajudou até chegar ao momento

atual de sua vida?

4. A partilha também pode girar em torno do tema da amizade: quem é seu melhor amigo(a)? O

que é o mais importante numa amizade? Onde, em sua vida, pode ser mais Cireneu?

8. Oitavo passo: "O pão nosso de cada dia nos dai hoje". a) Verônica enxuga o rosto de Jesus. b) Refletir sobre esse gesto da Verônica: o que ele significa na vida de Jesus e em nossa vida? Quem

espera em nosso mundo de hoje, gestos como o de Verônica? Sujamos mais ou limpamos a imagem dos outros com as nossas palavras e atitudes?

c) Continuar a caminhada, refletindo a dois sobre o mundo do trabalho, o mundo do suor. Podem ajudar estas questões: onde você trabalha e como é seu trabalho? Como vê a situação do trabalho dos jovens na região? O que se pode fazer para melhorar essa situação?

9. Nono passo: liberdade diante de tudo e de todos a) Jesus é despojado de suas vestes. b) Propor um tempo de silêncio para refletir sobre o que aconteceu com Jesus... c) Trazer a realidade vivida por Jesus para sua vida: refletir individualmente: a que você está mais

apegado? (Coisas, modas, dinheiro, ideias, omissões, vícios...). d) De forma simbólica, cada participante tira algo do corpo (anel, sapato, correntinha, relógio...) para

expressar a necessidade de se desapegar sempre mais. e) Com o símbolo, objeto tirado, caminhar refletindo em silêncio sobre essa necessidade em sua

vida...

10. Décimo passo: "Se a semente não morrer, não nascerá". a) Jesus morre na cruz. Deitar a cruz de Cristo no chão; todos se ajoelham em volta dela e refletem

sobre este gesto máximo de amor de Deus pela humanidade. b) Entrega-se a cada participante uma semente e a cópia do texto Tempo de plantar (Anexo). Ler e

refletir em silêncio, contemplando a semente na mão. c) Depois de tempo de oração em total silêncio, pode-se formar duplas para conversar e partilhar

sobre temas relacionados com essa experiência central da vida do cristão: morrer para o egoísmo, morrer para os apegos, morrer para... morrer para poder ressuscitar. Sugestão de questões: você já viu alguém morrer? Como foi? O que é morrer? Qual o sentido da morte para um ateu e para um cristão? Você tem medo de morrer? Por quê? Para que aspectos de nossa vida devemos morrer?

d) Retomar a imagem da semente e refletir sobre o que aconteceu com ela, e sobre o que é necessário para ela nascer...

e) Todos podem plantar a semente na terra ou num vaso previamente disposto para isso ou em suas casas. O importante é que cada um dê um jeito à sua semente (plantar, guardar, jogar fora, dar a alguém... tudo isso é sugestivo e pode ser revelador).

f) Pegar um pouco de terra na mão e refletir sobre a "mãe terra". Partilhar: o que ela nos dá para a vida?

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g) Molhar a terra e se pintarem mutuamente (mãos, rostos, pés...) para simbolizar a esperança de dias melhores...

h) Conduzir os participantes a um lugar onde houver água e onde deverá dar-se continuidade à liturgia da luz...

2. “O sentido da cruz”

Objetivo e sentido:

Ajudar os participantes a visualizarem, com a ajuda de uma imagem sugestiva, o sentido histórico e

salvífico da cruz de Cristo.

1. Primeiro passo: preparação. Levar os participantes, enquanto possível, até um espaço pouco escuro (de preferência, o mesmo que fora utilizado na contemplação do rosto de Cristo), onde deverão estar as cadeiras previamente colocadas em círculo ou numa posição que facilite que todos possam olhar e concentrar a atenção num mesmo ponto:

- Também deverá já estar colocado, num lugar bastante visível (e se necessário, iluminado, focalizando-o com uma lâmpada ou velas), um cartaz grande com a imagem de Jesus crucificado (recomendamos o Cristo de Velázquez) ou, em seu lugar, um crucifixo.

- Pedir silêncio. Pode-se cantar um mantra ou breve refrão para criar um clima favorável à oração. Também pode ajudar entoar o canto "Ninguém te ama como eu".

2. Segundo passo: motivar para a contemplação silenciosa, com poucas palavras. Quando alguém morre, a melhor palavra que podemos dizer é estarmos presentes no silêncio solidário... Diante da própria morte de Jesus, até o Pai cala. Nesse mistério insondável joga-se a nossa salvação. Deixemos que somente o nosso coração fale...

3. Terceiro passo: manter o silêncio. Depois de alguns minutos, dirigir-se, em silêncio para a atividade seguinte. A partir deste momento, deverá guardar-se o maior silêncio possível.

3. “O jardim dos sonhos semeados”

por Evandro de Castro Sanguinetto

O processo é simples e envolvente: dando corpo e sentido aos Quatro Pilares da Educação do Século 21 propostos pela Unesco (Relatório Delors), entrelaçando com a Fábula-Mito do Cuidado descrita por Leonardo Boff (Saber Cuidar – Ética do Humano Compaixão pela Terra), construímos a prática, a vivência desses pilares: aprender a aprender, aprender a conviver, aprender a fazer e aprender a ser, plantando sementes e mudas de árvores, flores e sonhos pessoais e coletivos de luz, paz, amor, harmonia, sustentabilidade e construção de futuro.

Com roupagens diferentes para diferentes idades, objetivos e públicos, o texto abaixo é o fio condutor de uma das oficinas.

As Origens

Eu sou um Encantador de Sonhos e a função de um Encantador de Sonhos é encantar sonhos pessoais e coletivos, de tal forma que se transformem em seres luminosos, capazes de percorrer o caminho entre o reino mental, dos sonhos e ideais e o reino material, da plena manifestação física. Assim, convido todos a participarem de uma jornada em busca da manifestação de seus sonhos mais profundos e luminosos.

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No começo de tudo uma grande explosão pariu a existência. O fogo cósmico consumia o nada e o transformava em matéria: hidrogênio e hélio se resfriavam no vazio gelado enquanto se distanciavam entre si.

Milhões de anos se passaram e toda aquela matéria dispersa abrandou seu individualismo rendendo-se a uma força maior que os atraía entre si, juntando-os, aumentando a massa, a consciência de grupo, e um dia o mesmo fogo que lhes deu origem, brotou novamente em seu coração e iluminou a escuridão – formavam-se as primeiras estrelas. E o universo começou a pontilhar luz: primeiro uma, depois outra, e mais outra. E cada ponto de luz brilhando na escuridão percebeu que não estava só, que estava em meio a iguais, e que juntas iluminavam vastas regiões do que até então fora a escuridão inominável. E surgiram as galáxias.

Desse turbilhão cósmico, dessa dança de Shiva, do girar das estrelas e galáxias, porções de matéria incandescente se uniram em torno da luz e formaram os planetas. Alguns muito próximos da origem queimam até hoje. Outros mais distantes de seu centro endureceram, perderam o brilho e se congelaram em si mesmos.

A meio caminho entre os extremos, alguns planetas buscaram o aprendizado pelo equilíbrio: nem tão longe que se congelassem, nem tão perto que se queimassem; nem tão grandes que fosse imensa a gravidade, nem tão pequenos que elementos mais leves se perdessem no vácuo do vazio insondável; nem tão rápidos em seu giro pelo espaço que se misturassem dia e noite, nem tão lentos que o lado claro fosse uma fornalha abrasadora enquanto o lado escuro um imenso deserto de frio e gelo e dor.

Nesses planetas, especiais por si mesmos, o que era quente e pastoso foi-se resfriando e solidificando, formando rochas, montanhas, vales. O fogo que lhes originou abrandou na superfície, recolhendo-se a seu interior. Água e ar libertos no calor intenso resfriaram-se e envolveram o planeta, cicatrizando suas feridas, modelando sua superfície, abrandando seu furor.

Em meio a milhões de galáxias, uma é nossa morada. Na porção mais externa de um dos braços da espiral Via Láctea, nossa estrela pai/mãe brilha há bilhões de anos. Ao seu redor nove planetas, filhos cósmicos do amor do tempo. No terceiro, ponto azul cintilante, fogo, terra, água e ar moldam a vida que evoluiu e hoje se auto-observa, têm consciência de si mesma e reflete em seus olhos a história da criação, que a cada momento, a cada instante se vê, se revê, se transforma, amplia a consciência, evolui, cria, destrói e recria. E expressa a beleza de uma dança fantástica, iniciada há eons atrás.

Fogo, terra, água e ar criam, nutrem, mantém, destroem e transformam pessoas, animais, vegetais, planetas, sistemas, galáxias, universos.

E para explicar o nascimento da humanidade em meio a essa dança sagrada do cosmos, culturas diferentes criaram diferentes mitos. Como a Fábula-mito do Cuidado:

Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco do barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu Júpiter. Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado. Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome. Enquanto Júpiter e Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora feita de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então uma discussão generalizada. De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa: Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura.

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Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer. Mas como Você, Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver. E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu: esta criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil.

(Gaius Julius Hyginus, Fábula-mito do Cuidado, em Saber Cuidar - Ética do Humano,

Compaixão pela Terra – Leonardo Boff).

Encantando Sonhos

No processo de encantar sonhos, aprendemos com a natureza e sua história. Aprendemos com o universo e os elementos. E procuramos reproduzir esse aprendizado no cotidiano, buscando equilíbrio, harmonia, sintonia.

E muitas vezes nos deparamos em nossos caminhos, cósmica caminhada, planetária existência, com o que está já pesado demais para carregarmos, que dificulta nossos passos em direção ao futuro, nos prende ao passado, com aquilo que está velho e ultrapassado e já não desejamos levar em nossa aventura, em nossa divina jornada de vida. E o que fazer? Como fazer para nos libertar?

Fogo, terra, água e ar... formam, deformam, constroem, destroem, limpam, modificam, purificam. Cada qual em seu tempo, cada qual em seu ritmo. O fogo mais rápido, forte, destrutor. O ar mais envolvente, benevolente, sedutor. A terra, mãe paciente, recicla, transforma, alimenta. A água, impaciente, renova, revolve, dissolve.

A Prática

Quais seus medos mais presentes? Quais suas amarguras, angústias, inseguranças? Suas sombras, dúvidas, pesos?

Reaproveite um pedaço de papel, escreva tudo que já não quer mais em sua vida e deixe que os elementos os transformem: que o fogo queime e limpe; que a terra decomponha e transforme; que a água dissolva e transporte; que o ar envolva, carregue e dissipe.

Tome agora outro pedaço de papel e escreva nele todos seus sonhos, ideais, tudo de bom que deseja para si mesmo e para o outro. Amasse esse papel, transformando-o em um sonho-semente e coloque-o no fundo de um saquinho, preenchendo-o com terra. Plante então sementes, tantas e quantas representem seus sonhos dourados, seus anseios maiores, suas luzes interiores.

Forme assim um Jardim dos Sonhos Semeados e cuide da vida que brota, como Cuidado na fábula-mito. Seja o condutor das transformações que deseja, do novo que se constrói a si mesmo. Seja a rega, o amor, o carinho que embala e fortifica. Espelhe a abundância, alegria e felicidade que deseja no mundo. E seja muito, muito feliz!

4. “Gincana pela paz e pela vida”

I. FORMAÇÃO DAS EQUIPES:

Uma equipe branca e outra verde, ambas com o mesmo número de integrantes. Para evitar

assimetrias, pode-se fazer um pequeno sorteio (com duas moedas do mesmo valor, porém de ano

diferente, com duas bolas de gude de diferente cor, etc., dentro de um saco) para repartir os integrantes.

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Quando se tiver chegado a o número estipulado para uma equipe, as pessoas que ainda não passaram pelo

sorteio vão fazer parte, automaticamente, da equipe ainda incompleta. Cada equipe receberá a bandeira

da cor correspondente...

II. GRITO DE PAZ E DE VIDA:

São dados 5 minutos para cada equipe inventar o seu "Grito de Paz" (cor branca) ou "Grito de Vida"

(cor verde), o qual pode ser uma frase, a paródia do refrão de uma música, etc.

III. PONTUAÇÃO:

Serão dez, com diferente pontuação, de acordo com a dificuldade da execução. E uma alternativa, em caso

de empate:

1. Brincadeira da Vela. 15 pontos. 2. Tangran (quebra-cabeça). 10 pontos. 3. Feijões ambulantes. 10 pontos. 4. Jogo da mímica. 5 pontos. 5. Vencendo obstáculos. 10 pontos. 6. Sedentos. 5 pontos. 7. Bom de matemática. 5 pontos. 8. Acertar no sino. 15 pontos. 9. Mercadoria dispersa. 10 pontos. 10. Assoprando balões. 15 pontos. 11. Alternativas: Lenços amarrados. 10 pontos

IV. PROVAS. Cada uma tem suas próprias regras. Esclarecer bem elas no início da execução...

BRINCADEIRA DA VELA.

Material: 2 paletós ou camisas com botões, 2 calças folgadas, 2 toalhinas, 2 lenços, 2 chapeus, 2

caixas de fósforos e 2 velas.

Descrição: Duas equipes de igual número de participantes são colocadas em duas filas distantes o

mais possível do "alvo". No "alvo" encontra-se todo o material. O primeiro de cada fila, ao sinal de início do

monitor, vai ao "alvo", veste a camisa, a calça, o chapéu, amarro o lenço no pescoço com um nó, coloca a

toalhinha no ombro, acende a vela, solta a caixa de fósforos no chão e sai correndo, sem apagar a vela,

dando uma volta inteira na fila de sua equipe, volta ao "alvo", tira tudo, apaga a vela, corre e bate na mão

do primeiro da fila de sua equipe e senta-se ao final da fila. Este corre ao alvo e repete a função. A equipe

que acabar primeiro ganha o jogo.

Observações: As roupas ou objetos podem ser variados. A vela é importante manter. Também

recomenda-se brincar descalços e com menos roupas possíveis. Deixar uma média de distância de 3

metros, no mínimo, entre a fila e o "alvo". O monitor deve funcionar como árbitro: caso a vela apague no

meio do caminho a pessoa volta ao alvo, acende-a e continua correndo. Caso largue alguma peça de roupa

fora do lugar, voltará para consertar.

1. TANGRAN (QUEBRA-CABEÇAS)

Material: 7 peças do Tangran para cada um dos participantes (3 de cada equipe).

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Descrição: Cada uma das equipes designa três participantes, os quais receberão num envelope as

peças do tangran. Em silêncio, e em lugares separados previamente determinados, ao sinal de arranque,

cada um deles deverá conseguir montar o quadro. Toda vez que um deles formar o tangran deverá sentar-

se no lugar de sua equipe. Ganha a equipe cujos três membros montarem primeiro os três quebra-

cabeças...

Observação: o Tangran é um jogo milenar chinês que consiste em um quadrado cortado em 7

peças com as quais os chineses formam mais de 1.000 desenhos)

3. FEIJÕES AMBULANTES

Material: 4 pratos e quantidade de feijões iguais para os dois partidos

Descrição: Os jogadores formam dois partidos com igual número de participantes, que ficam

alinhados, mantendo a mesma distância entre um e outro. Numa das extremidades de cada fila está um

prato vazio, e na outra, o prato com feijões. Dado o início do jogo, o primeiro jogador de cada fila, onde

está o prato com os feijões, pega um feijão por vez e passa para seu colega ao lado, e este ao outro até o

último que, então, coloca o feijão no prato vazio que está ao seu lado. O feijão passa de uma mão para a

outra. Não pode pular nenhuma mão, nem passar dois grãos ao mesmo tempo. Se um grão cair no chão,

deve ser recolhido e passado à frente. Vence o partido que mais rapidamente transportar todos os feijões e

não tiver um excedente de duas faltas.

Observação: Para auxiliar o trabalho dos "juízes" (que estarão controlando, no início da fila, que vá

saindo um feijão por vez), cada equipe pode nomear dois auxiliares "bandeirinhas", os quais deverão ficar

um no final da fila contrária e um outro no meio, para fiscalizar que só chega um feijão por vez e que foi

passando realmente de mão em mão.

4. JOGO DA MÍMICA

Material: 10 papelzinhos e 2 canetas.

Descrição: cada grupo receberá cinco papelzinhos onde deverá escrever o nome de cinco políticos,

cantores ou atores conhecidos. Depois entregam os papelzinhos para o monitor. A equipe que for começar

manda uma pessoa escolhida para escolher um papelzinho. Vai à frente do seu grupo e, sem dizer uma só

palavra ou som, representa a pessoa escrita no papelzinho, que seu grupo terá 2 minutos para descobrir e

dizer. Vencerá quem mais vezes conseguir, no tempo determinado, descobrir a quem se está imitando.

Observação: caso algum dos representantes falarem alguma coisa durante a execução da mímica

será descontado um ponto para sua equipe.

5. VENCENDO OBSTÁCULOS

Material: 5 vendas.

Descrição: Um grupo (A) deverá escolher cinco de seus membros, que deverão formar uma fila,

colocando cada qual o braço esquerdo sobre o ombro do companheiro que estiver à frente, guardando a

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34 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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distância do braço esticado e mantendo o braço direito livre. Deverão ser vendados os olhos dos membros

da fila. Após terem sido vendados os olhos, um membro do outro grupo (B) é escolhido para passar em

ziguezague entre as pessoas que estão na fila. O desafio consiste em passar por todos os buracos, sem

tocar em alguém ou ser tocado por alguém que está na fila. As pessoas que estão na fila, por sua vez, só

poderão movimentar o braço direito, tentando tocar no escuro quem está passando. Cada vez que alguém

com os olhos vendados toca ou é tocado por quem está passando, o seu time faz um ponto. Quando o

jogador do time B passou por todos os buracos, invertem-se os papeis: cinco membros do time B deverão

formar uma fila e ter os olhos vendados, e um jogador do time A deverá tentar passar pelos buracos. A

competição termina quando um dos times tiver alcançado o placar combinado pelo grupo.

Observação: O coordenador não deverá permitir que se fique com o braço direito para baixo o

tempo todo e ao mesmo tempo irá ver se o jogador passou por todos os buracos.

6. SEDENTOS

Material: copos com água e colherinhas de chá.

Descrição: o jogo é disputado aos pares. Traçam-se duas linhas paralelas. Atrás de uma delas ficam

os jogadores com os copos d'água pela metade e a colheirinha. Atrás da outra linha estão os seus

respectivos pares. Dado o sinal de partida, os jogadores, com os copos d'água, saem correndo de seus

lugares e vão até seus pares e, com a colheirinha, dão-lhe a água toda. Depois de tomar a água toda, o par

volta à linha inicial. Vence quem por primeiro transpasse a linha de partida.

Observação: não pode ser derramada nenhuma gota.

7. BOM DE MATEMÁTICA

Material: bilhetes correspondentes, em igual número ao de participantes.

Descrição: os bilhetes são preparados da seguinte maneira: num bilhete escreve-se uma soma em

equação (por exemplo: 3+5) e no bilhete correspondente escreve-se o resultado da equação (no caso: 8).

Terminada a preparação, os bilhetes são dobrados e misturados. Explica-se aos participantes que nos

bilhetes estão equações e resultados. Um participante de cada equipe deverá retirar um bilhete e, a um

sinal de quem coordena, eles poderá olhar o que está escrito em seu bilhete e sair à caça do seu

correspondente (os correspondentes estará todos no chão, longe do ponto de arranque. Será vencedor o

jogador que achar primeiro o correspondente e levar o bilhete a quem coordena. A brincadeira poderá ser

repetida várias vezes. Basta para isso recolher os bilhetes, misturá-los e distribuí-los novamente.

Observação: Os bilhetes não deverão ser preparados na presença dos participantes, para que eles

não fiquem sabendo antecipadamente que equações e resultados os aguardam. Na preparação dos

bilhetes poderão ser usadas todas as operações matemáticas. Quem prepara os bilhetes deverá fazê-los de

tal modo que sejam compatível com o nível dos participantes. Para os mais avançados, poderão ser

preparadas equações mais complexas, exigindo rapidez de raciocínio em sua execução. Também poderão

ser usadas equações nos dois bilhetes correspondentes ao invés de equações e seus resultados. Assim,

pode-se, por exemplo, escrever em um bilhete "3+5" e no seu correspondente "12-4".

8. ACERTAR NO SINO

Material: uma corda estendida entre dois suportes, um sino preso ao meio da corda e uma bola.

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35 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Descrição: dois partidos com igual número de jogadores, no mínimo 2 em cada partido. Os

jogadores ficam a um passo da linha divisória, do início do próprio campo, como no esquema:

x o

Sino

x 3m 3m o

O primeiro jogador da equipe que faz o saque inicial arremessa a bola de trás da linha divisória,

para o campo adversário, tentando fazer soar o sino. Se a bola cair no campo adversário sem ter soado o

sino, passa para este campo. Se cair no campo daquele que a arremessou, mesmo sem tocar o sino, volta

para o partido, e outro jogador tenta a sorte. Se com o arremesso da bola o sino tocar, será marcado um

ponto para a equipe, e a bola volta para a mesma equipe para novo lance. A partida terá um tempo

limitado, ao fim do qual será proclamado vencedor o partido que contar maior número de pontos.

Observação: para a disputa da bola, o juiz joga-a por cima da corda central, deixando-a cair

livremente. O primeiro saque é da equipe em cujo campo cair a bola.

9. MERCADORIA DISPERSA

Material: 2 cadeiras e 10 objetos, 5 de cada tipo, 2 vendas para os jogadores.

Descrição: Colocam-se as cadeiras, uma em cada extremidade da sala, e espalham-se os objetos

pelo espaço compreendido entre ambas. Os dois jogadores disputantes observam bem a colocação dos

objetos. Cada uma das cadeiras será o lugar de depósito da mercadoria de cada jogador. Os jogadores são

vendados e começam a recolher sua mercadoria e colocá-la no seu depósito, isto é, embaixo da cadeira.

Decorridos 5 minutos, tiram-se as vendas dos jogadores, e aquele que estiver com maior número de

mercadoria no depósito será o vencedor.

Observação: um jogador pode atrapalhar o outro, espalhando suas mercadorias, quando já

estiverem no depósito ou trocando-as de lugar no espaço entre ambos.

10. ASSOPRANDO BALÕES

Material: 2 balões de borracha bem inflados.

Descrição: duas equipes com igual número de participantes. Para cada partido, numa linha de

partida e outra de chegada, distantes 5 metros uma da outra. Os jogadores estão alinhados em suas

respectivas linhas de partida. O 1º jogador de cada equipe tem diante de si um dos balões.

Dado o sinal para iniciar, o 1º jogador de cada equipe conduz o seu balão, assoprando-o em direção

à linha de chegada. No momento em que o balão atravessar a linha de chegada, o assoprador pega-o e o

recoloca sobre a linha de partida, tocando na mão do jogador seguinte, dando-lhe o sinal para iniciar a

assoprar novamente. O 1º jogador vai postar-se no final da coluna, e esta avança um passo. O 2º jogador

procede como o primeiro, e assim todos os demais. Quando o último jogador fizer o balão atravessar a

linha de chegada, leva-o para o primeiro jogador. A equipe que por primeiro acabar será a vencedora.

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36 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Observação: depois do arranque, não é permitido aos jogadores tocarem no balão antes de chegar

ao ponto de chegada. Caso alguém tocar no balão durante o percurso, deverá reiniciar do ponto de partida.

O jogador pode assoprar em pé, de joelhos, etc.

11. LENÇOS AMARRADOS

Material: 2 lenços e duas cadeiras.

Descrição: formar duas equipes com igual número de participantes, conforme o esquema:

1 2 3 4 5 6

Equipe B o o o o o o

Cadeira B 5m Cadeira A

x x x x x x Equipe A

6 5 4 3 2 1

Os lenços devem estar amarrados no espaldar das cadeiras. Dado o sinal de iniciar, o 1º jogador da

Equipe A, que está mais próximo da cadeira A, sai correndo até a cadeira B, desamarra o lenço e vem

amarrá-lo no espaldar da cadeira A, em seguida bate na mão do jogador seguinte, que procede da mesma

forma. O mesmo acontece com o 1º jogador da Equipe B que está mais perto da cadeira B. Será vencedor o

partido cujo último jogador desamarrar por primeiro o lenço.

5. “A páscoa da semente”

1. Primeiro passo: criar um clima de oração, cantando um mantra (por exemplo, "Todas as coisas

são mistérios"). Prever algumas sementes para todos os participantes do encontro...

2. Segundo passo: Breve relaxamento. Disponibilizar a pessoa toda e todas as pessoas para o

próximo exercício. Pode ajudar o seguinte esquema.

- Convidar todos a fechar os olhos e entrar mais neste exercício de relaxamento e de disposição para a oração.

- Depois o(a) animador(a) convida os participantes a respirarem três vezes em profundidade, permanecendo com os olhos fechados.

- Começam a sentir o corpo. Trata-se de algo muito simples, isto é, sentir e não pensar ou racionalizar o que vai ser proposto. Pois o sentir criará e predisporá o corpo a uma tranquilidade maior.

- Portanto, todos são convidados a:

a) Sentir o corpo

Sinta os seus pés: sentir o pé direito e o pé esquerdo (conceder tempo e se distraírem, não há problema: recomecem sempre de novo a sentir os pés).

Sinta a roupa tocando seu corpo (reservar um tempinho para esta sensação).

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37 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Sinta as pernas: sinta a perna direita e a perna esquerda... permaneça alguns segundos simplesmente sentindo as duas pernas e tudo o que é possível perceber que se passa nas duas pernas.

Sinta agora as costas. Tente acalmar as costas e sentir tudo o que é possível sentir nesta região.

Sinta as mãos. Sinta a temperatura das mãos, sinta todo tipo de sensações...

Sinta os ombros e tente acalmá-los, relaxá-los.

Sinta e solte bem o pescoço...

Sinta os olhos. Faça com que se sintam bem à vontade e tranquilos. Relaxe bem os olhos.

Sinta a face. Tranquilize todos os músculos de seu rosto. Sinta o rosto. Sinta a temperatura no rosto.

Observação: Nesse processo de sentir o corpo, é aconselhável permanecer um tempo maior nas

regiões do corpo que estão mais tensas (os olhos, os ombros, as pernas...) e que podem ser tranquilizadas e

integradas na dinâmica mais total de oração.

Nunca é demais afirmar que o corpo está carregado de espiritualidade. Este exercício é maneira

muito simples de recuperarmos o corpo e nos familiarizarmos mais com ele. Ao mesmo tempo nos pacifica

mais, nos faz mais dóceis para a oração (como também pode ser usado para melhor dormir, melhor

estudar...).

Os passos sugeridos a seguir podem ser a continuação do passo anterior.

b) Sentir a respiração

Agora sinta a própria respiração.

Fique atento e sinta o ar entrando nas narinas (mais fresco) e o ar saindo das narinas (mais quentinho). Fique sentindo a diferença. Se você se distrair, não há problema, porém volte outra vez toda a atenção à respiração. Enquanto isso, continue respirando tranquilamente.

Imagine, enquanto respira, uma coisa boa que gostaria de inspirar e uma coisa ruim que gostaria de expirar. Viva este momento de acolher algo bom e excluir o que não é bom para você (reservar tempo propício para isso).

c) Acolher o novo, acolher a Palavra

(Quando a pessoa atingiu o nível de tranquilidade, de relaxamento, podem-se tomar algumas frases bíblicas

e/ou outras para dar mais conteúdo à oração). Sugerimos o seguinte: Alguém entra no meio dos

participantes e começa a repetir, de forma firme e pausada, levando as sementes na mão: "Se o grão de

trigo não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muitos frutos"...

3º Passo. Oração. Ainda com os olhos fechados, alguém conduz a oração (música de fundo: Quatro

estações, de Vivaldi):

(Summer - Verão)

Senhor, criador e doador da vida: experimento a vocação de ser semente. Encontro-me no meio de

muitas outras sementes. Sinto-me em comunhão e ao mesmo tempo me sinto única...

Tu nos tomas em tuas mãos, conheces profundamente cada uma de nós, acolhes nossas diferenças

e tens carinho especial por todas...

Senhor, reconheço que estar em tuas mãos me dá segurança, sentir tua ternura me deixa em paz.

Sinto alegria única em ser semente e alegria maior por estar em tuas mãos, nosso Criador...

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38 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

Centro da Juventude para a Paz

Nesta presença significativa, experimento algo novo em meu viver: sinto grande encanto por minha

existência, sinto sinceros desejos de querer trabalhar mais em tua vinha. Quero ser útil, quero ser sinal,

quero ser tua... Por isso confio nos sonhos. Começo a acolher mais e mais teu projeto de vida para comigo,

sonho de esperança para todos...

Confesso, Senhor, que muitas vezes não sei o que tu desejas de mim. Vivo em meio a muitas

dúvidas e resistências. Mesmo assim confio. Sei que em tuas mãos estou segura. Pois sei que tu me amas

muito.

(Autum - Outono)

Enquanto isso, vejo que a terra está sendo removida com cuidado especial, a chuva que vem do céu

faz a terra abrir seu coração. A terra está dócil e de braços abertos para nos acolher como sementes e para

nos acompanhar cada uma na sua singularidade...

E chega o momento histórico, um momento decisivo: é preciso descer até as profundezas da terra.

É preciso mergulhar no novo, no desconhecido. O semeador com toda a ternura do mundo deita-me terra

adentro...

Algo estranho acontece comigo: foge-me a luz, sufoca-me a terra, invade-me o medo, a solidão...

tudo é escuridão, estou só. Sinto falta da luz, das outras sementes. Sinto falta do carinho, falta-me a mão

do semeador... Deparo-me com os muros da terra, estou num mundo desconhecido, num silêncio gritante.

Experimento o desespero, o abandono, não vejo saída, estou sem forças. Sinto-me acorrentada ao medo, à

impotência, ao nada. O que está acontecendo comigo? O que fazer? Como sair dessa?

De longe escuto uma voz suave que me diz: "Calma", "não tenha medo", "seja amiga da terra,

confie nela"... Mas como confiar em quem me sufoca? Como acolher o que me parece uma ameaça? Como

ser amiga de quem me amedronta?...

(Winter - Inverno)

Com as lágrimas e o suor reguei a terra e pouco a pouco fui me rendendo; fui confiando apesar de

todas as resistências... A dor que cegara a esperança, foi se transformando em silenciosos gemidos de algo

novo. Minha casca começa a romper-se. A bela semente de outrora adquire aspecto diferente, perde sua

imagem e se despedaça...

Neste quadro de insegurança, de escuridão, mais uma vez escuto uma voz terna e amiga que me

diz: "Não fique na escuridão", "Você foi feita para a luz", "Venha para fora!"...

Senti algo e alguém muito presente neste processo todo. Senti um forte apelo a dar tudo das

poucas forças que ainda sobravam, para sair e conhecer a vida nova, vida estampada no horizonte da

esperança...

Nesta dinâmica de sair de si mesmo para entra no novo sinto que nasço, que renasço. Sinto uma

presença que me refaz, sinto o gesto de uma mão amiga. É presença que me passa coragem e confiança.

Passa-me a certeza de que a luz é mais forte que a noite, sinto que nenhuma noite, por mais escura que ela

seja, consegue impedir o amanhecer de novo dia...

E pouco a pouco, fui crescendo. Fui crescendo e sendo algo com a ajuda do sol, da água, da luz... da

graça...

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39 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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(Spring - Primavera)

Agora sou uma pequena planta, exposta a tudo. Experimento grande confiança em ti. É tua seiva

que me faz ser, que me faz viver, que me faz ser para os demais...

Senhor da Vida, presente e atuante em cada pessoa humana: Tu desejas que o teu Reino se realize

através de nós. Em ti e contigo a nossa fragilidade se torna força. Em ti e contigo nossa autonomia se torna

filiação. Em ti e contigo nossa vida quer tornar-se serviço alegre e humilde...

Contigo, Senhor, nossas dores se tornam solidariedade; contigo os medos se tornam confiança,

contigo as cruzes se tornam sensibilidade, contigo os sofrimentos se tornam esperança. Contigo, a morte se

torna vida...

Senhor, desejo e quero com a tua graça, produzir o oxigênio da misericórdia, da confiança, da

fraternidade, da paz... Desejo e quero acolher a todos na sombra que faz descansar e refaz a vida. Desejo e

quero exalar o perfume de tua ternura e de teu amor infinitos; desejo e quero ser sinal da nova criação em

ti...

4. Quarto passo: Oração em comum e conclusão. Depois de pedir para os participantes abrirem

lentamente os olhos, e permanecer em silêncio por alguns instantes refletindo sobre aquilo que mais os

tocou da dinâmica, dá-se um espaço para fazer algumas preces (só algumas pessoas, devido ao número dos

participantes) espontâneas.. (Depois do seu pedido, a pessoa pega uma semente e deposita num vaso com

terra previamente colocado no meio da roda. A cada duas ou três preces, cantar o refrão: "Põe a semente

na terra, não será em vão. Não te preocupe a colheita, plantas para o irmão!" Pedir depois que o resto do

grupo vá "plantar" a sua semente, embora em silêncio).

5. Quinto passo: experimentar (opcional, dependendo do tempo disponível). Todos procurem

ocupar um espaço nesta sala, um pouco distante de cada pessoa que está ao seu lado (pedir para abrirem

os braços para marcar a distância entre todos).

Vamos fazer a experiência da semente que é lançada pelo agricultor na terra. Procure se abaixar,

ficando de cócoras e juntando os braços às pernas; mantenha o tempo todo os seus olhos fechados,

sentindo e fazendo a experiência da semente...

Um dia Deus nos lançou neste mundo, como o agricultor lança a semente na terra (todos deverão

se abaixar e juntar os braços às pernas)... Ser semente na terra é sofrer com a falta de luz e o sufoco da

escuridão. Como é desconfortável estar na terra, sem ver a luz...

Mas toda semente é chamada a buscar a luz. Só a luz é que dá vida à semente. Levante o seu braço

direito como que buscando a luz... É preciso deixar a solidão da terra, para buscar o alto, onde mora a luz.

Levante o braço esquerdo...

Toda semente que se preza anseia romper com o chão, rasgar as amarras que a prendem à terra,

buscar cada vez mais crescer, até se tornar uma árvore. Mas todo crescimento, para ser profundo e

duradouro, deve ser lento e tranquilo... Calmamente, procure levantar-se como se estivesse

espreguiçando...

Que bom, já não estamos mais na terra, na escuridão e solidão, agora estamos livres, temos galhos,

temos movimento... Estique e movimente os braços para o lado... Como é bom estar livre, poder sentir o

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40 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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vento que nos toca, poder tocar outras árvores que estão ao nosso lado... Movimente os braços tocando

quem estiver ao seu lado, como as árvores tocam os galhos.

Como é bom estar vivo, como é bom ter vida, como é bom sentir a vida que está ao meu lado, nas

pessoas que estão ao meu lado... Procure unir-se a quem estiver ao seu lado, aperte as suas mãos, sem sair

do local onde está...

(Pedindo para todos esticarem os braços para os lados, como se fossem os galhos de uma árvore,

tocar os companheiros que estão ao lado, tomá-los da mão ou abraçá-los e juntos rezar o ou cantar o Pai

Nosso). Cantar: "Eu creio na semente".

6. Experiências de ressurreição: “Via Lucis”

Objetivo e sentido:

Como na Via Sacra Juvenil (Peregrinos do Absoluto), trata-se aqui de entrar em relação com o Cristo

Ressuscitado. Abaixo vão alguns passos que podem ser fonte para a caminhada, dinâmica criativa por parte

de quem prepara e faz que se realizem estes pontos centrais da fé dos cristãos.

1. Primeiro passo: encaminhar:

a) Seria bom conseguir uma cópia do texto "O caminho da luz" (Anexo A) para cada participante ou uma cópia para cada grupo.

b) Introduzir e motivar bem esta dinâmica. c) Determinar em que espaço físico seria melhor fazer a caminhada: pela casa, na capela, pelo

caminho, no mato... d) Dividir o grupo em pequenos grupos. e) Distribuir entre os participantes um número "x" de experiências para que as preparem de

forma criativa e atual. f) Conceder um tempo para que os grupos preparem bem cada experiência: seria aconselhável

que cada grupo pelo menos tivesse uma Bíblia. E acesso a papel, caneta, símbolos...

2. Segundo passo: vivenciar

a) Depois de preparados, favorecer a formação de um clima de confiança e de celebração. b) E juntos vão fazer a caminhada e vivenciar este momento importante.

3. Terceiro passo: atualizar e celebrar. Se oportuno, durante a reflexão da Quinta-Experiência (ou

no final de todas, como encerramento), pode-se apresentar encenar pequena, numa pequena peça,

Os Jovens de Emaús. Concluir com um canto. Pode ser "Eu creio num mundo novo" e/ou "Meu

coração me diz".

A. O caminho da luz

Jesus, depois de se encarnar em nosso mundo, depois de nascer pobre, fugir do Egito, viver

ocultamente em Nazaré, de se deixar batizar no Rio Jordão, de ser tentado fortemente, ter instaurado o

Reino de Deus... depois de viver unicamente para o Pai e para a vida de todos os homens e da humanidade

como um todo, assume o caminho da cruz, é morto em plena atividade apostólica. Porém, a morte não tem

a última palavra, e sim a vida. Deus Pai ressuscitou Jesus dentre os mortos. Este Jesus continua vivo,

presente e atuante na vida e em todos os que acreditam nele e na verdadeira vida. Jesus está presente em

nossa missão em caminho de luz - Via Lucis-, irradiando força transformadora que jamais cessará...

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Por isso precisamos olhar mais para a vida, para descobrir os sinais de vida, de resistência em

nossos dias que nos falam de sua presença. Precisamos olhar para a força do Cristo Ressuscitado na vida do

Povo de Deus. Devemos lembrar dos momentos da nossa vida em que sentimos mais fortemente o Deus

da Vida. Necessitamos reconhecê-lo nas experiências da vida que retratam a sua presença certa.

Caminhando com Jesus - e com o coração ardendo- percorreremos algumas passagens bíblicas da

Ressurreição e acolheremos essas realidades em nossa vida e em nossa missão. Em vez de chamar de

estações, chamaremos os quinze passos que seguem de EXPERIÊNCIAS.

1. PRIMEIRA EXPERIÊNCIA (Jo 20,1-10). O sepulcro está vazio e Jesus ressuscitou dos mortos.

- O Senhor não está mais no túmulo, ele vive. - A última palavra é da vida, e não da morte. - Isso aconteceu no primeiro dia da semana: nova vida e novos tempos. - Proporcionar tempo para rezar, para interiorizar esta experiência.

2. SEGUNDA EXPERIÊNCIA (Mt 28,1-8 e Lc 24,1-11). Primeiro anúncio: "Não está aqui. Esta

Ressuscitado!

- "Por que buscais entre os mortos aquele que está vivo?" - "Procuram Jesus crucificado? Não está aqui. Ressuscitou, como Ele disse!" - "Não temais. Ide dizer que Ele ressuscitou dos mortos". - "Ele vos precede"

3. TERCEIRA EXPERIÊNCIA (Mt 28,11-15). Entre os soldados corre o rumor: roubaram o corpo de

Jesus.

- Os príncipes dos sacerdotes e os anciões tramam nova mentira. - Querem ocultar a verdade com somas de dinheiro e falsos argumentos.

4. QUARTA EXPERIÊNCIA (Mt 28,9-10 e Jo 20,11-18). Jesus se manifesta a Maria Madalena, Maria

de Tiago, Salomé, Joana...

- São encontros marcantes, decisivos, transformadores. - Como terá sido o encontro com Maria, sua Mãe? - É Jesus que sempre toma a iniciativa e se aproxima. - "Não tenham medo!" - Chama pelo nome. É reconhecido. E lhes dá uma missão.

5. QUINTA EXPERIÊNCIA (Lc 24,13-35). Jesus se une aos discípulos no caminho de Emaús... - Jesus entra no caminho e na situação real dos discípulos. - Tem postura pedagógica libertadora. - Respeita sua liberdade. - Reparte o pão. - Continua sua caminhada. - A presença de Cristo faz os discípulos voltarem à sua comunidade...

6. SEXTA EXPERIÊNCIA (Jo 20,19-23). Aparição de Jesus quando não se encontra Tomé.

- Os discípulos estão com medo e as portas trancadas. - Jesus se apresenta no meio deles. - Deseja a paz e sopra sobre eles a força do Espírito Santo.

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- E capacita-os como mensageiros da misericórdia divina.

7. SÉTIMA EXPERIÊNCIA (Jo 20,24-29 e Lc 24,36-43). Aparição de Jesus aos discípulos com a

presença do incrédulo Tomé...

- Tomé ainda estava no caminho dos que só crêem vendo ou tocando. - A presença pacificadora de Jesus leva Tomé a reconhecê-lo. - "Meu Senhor e meu Deus" - E Jesus vai além: "Felizes os que crêem sem haver visto".

8. OITAVA EXPERIÊNCIA (Jo 21,1-23). Jesus no mar de Tiberiade, tendo ai - ao que tudo parece-, um

encontro especial com Pedro (Lc 24,34)...

- Jesus se manifesta a um grupo de discípulos, diante da pesca frustrante. - Está com eles na praia, preparando uma comida. - Pergunta três vezes a Pedro se o ama de verdade. - Apesar de toda infidelidade e negação de Pedro, Jesus o confirma como Pastor da Igreja.

9. NONA EXPERIÊNCIA (At 1,6-11; Mt 28,16-20; Mc 16,19 e Lc 24,50-53). Jesus é elevado para o Pai

(ascensão de Jesus)...

- O Espírito Santo descerá sobre vós e vos dará força pra serdes minhas testemunhas no mundo. - Ide, ensinai as nações, batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. - Jesus é elevado ao Pai. - Aí está nossa vocação. Criados para louvar, reverenciar, servir e comungar plenamente com o

Pai. - Os discípulos são convidados a não ficar olhando para o céu, mas a assumir a missão de

continuadores da missão de Jesus Cristo. - Na confiança de que o Ressuscitado está com eles todos os dias, até o fim do mundo.

10. DÉCIMA EXPERIÊNCIA (At 1,12-14). A primeira comunidade se encontra reunida em oração

junto com Maria...

- Os discípulos, Maria e outras mulheres se encontram no Cenáculo. - Perseveram unânimes na oração. - 11. DÉCIMA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA (At 2,1-36). Jesus envia o Espírito, e Pedro prega a Boa Notícia

da ressurreição.

- É Pentecostes, e todos recebem o Espírito Santo. - Este os envia ao mundo com coragem e confiança. - Pedro refaz a história de Jesus. - "Este que mataram, Deus o constituiu como Senhor e Cristo".

12. DÉCIMA SEGUNDA EXPERIÊNCIA (At 2,37-41). O número de cristãos cresce consideravelmente...

- A pregação de Pedro toca o coração de muitos. - A força do Cristo Ressuscitado provoca várias conversões.

13. DÉCIMA TERCEIRA EXPERIÊNCIA (At 3,1-10). Os apóstolos mostram a mesma sensibilidade e a

força de Jesus diante do sofrimento humano...

- São várias as situações que os cristãos encontram em sua missão.

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- "Ouro e prata não temos, mas o que temos te oferecemos". - "Em nome de Jesus Cristo, levanta-te e anda".

14. DÉCIMA QUARTA EXPERIÊNCIA (At 4,23-31; 5,17-42). Os apóstolos revelam a mesma

integridade de Jesus diante da perseguição e das torturas...

- A confiança e a coragem movem a missão dos discípulos. - Podem matar o corpo, mas jamais a alma. - Importa obedecer antes a Deus do que aos homens.

15. DÉCIMA QUINTA EXPERIÊNCIA (At 2,42-47; 4,32-35). As primeiras comunidades vivem o amor...

- Os primeiros cristãos perseveravam na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações.

- Viviam unidos e tinham tudo em comum. - Não havia necessidade entre eles. - Eram um só coração e uma só alma. - Com coragem, davam testemunho da Ressurreição do Senhor Jesus.

7. Sugestões de cantos (para uma Páscoa Juvenil contextualizada na defesa e no cuidado do meio ambiente)

- Comece – Jorge Trevisol

- Eu creio na semente – Jorge Trevisol

- Cio da Terra – Milton Nascimento

- Meu coração me diz – Popular

- Noites traiçoeiras – Popular

- Põe a semente na terra – Popular

- Canção pra Margarida – Zé Vicente

- Oremos pela Terra – Pe. Zezinho

- Canto da libertação – Zé Vicente

- Meu doce amado – Zé Vicente

- Madrugada é – Zé Vicente

- Eu quis comer esta ceia agora - Popular

- Ninguém te ama como eu – Martin Valverde

- Um certo galileu – Pe. Zezinho

- Jesus Cristo – Roberto Carlos

- Mataram mais um irmão – Popular

- Cale-se – Chico Buarque

- Hino da CF 2011

8. Outros textos de apoio

a) Páscoa juvenil: Vida de Cristo na vida da gente

Escrevo este artigo em clima de ressurreição, na preparação para a festa da Páscoa. Minha reflexão está completamente tomada pelos gritos postos na via-sacra elaborada e animada pela juventude nesta sexta-feira santa.

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Caminhando pelas ruas de Viçosa, MG - terra mineira que cultiva práticas devocionais de outrora e que nem sempre se aproxima da ânsia juvenil por espiritualidade – um grupo de discípulas e discípulos de Jesus – na dinâmica de penetrar no mistério de sua Paixão e morte de cruz, se permitiu percorrer o caminho do calvário (da paixão) fazendo memória do calvário que coloca a juventude à prova de sua própria existência. Com a ousadia que caracteriza o jeito jovem de ser, entre as dores de Jesus e da humanidade, de forma profética, a juventude nos fez rezar e participar de suas dores, sobretudo “falta de educação, desestruturação familiar e violência”.

Como momento motivado e assumido pela Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, a via sacra da juventude foi toda preparada e animada pelos próprios jovens, garantindo assim a autenticidade jovem na linguagem, nos gestos e no conteúdo celebrado. Ao caminhar de uma estação para a outra, a sensação que nos vinha era de profunda sintonia com o calvário de Jesus e, por isto, um grande desejo fora invadindo meu coração: motivar e multiplicar esta experiência pelo Brasil a fora, a fim de cultivar no coração de nossas comunidades a oração jovem, o jeito popular de celebrar sua realidade, em suas durezas e singelezas.

Vivendo esta experiência numa terra marcada pela presença jovem – visivelmente massiva por causa da Universidade Federal de Viçosa (UFV) – pude compreender o quanto ainda estamos distantes da Páscoa Juvenil! Mesmo sentindo naquelas duas horas a sensação de que Cristo libertava aquelas e aqueles seguidores que andavam ladeira acima e retratando a realidade da juventude em detalhes que às vezes nos passam despercebidos, batia forte no peito a dor pelas vidas feridas de jovens e, mais que isto, as vidas de jovens entregues por não experimentarem o sentido da vida.

No profundo da Cruz de Cristo o sentido da vida era pleno, porém, na cruz dos jovens, a entrega da vida por causa do vazio do seu sentido fez-me recolher com as mulheres que choravam e guardavam o túmulo vazio na espera da Ressurreição. Quero crer que na aurora de Cristo a humanidade acorde para uma nova realidade para seus jovens. Não é justo que nossos jovens cresçam sem perspectiva de vida, assumindo o vazio da vida pós-moderna. É injusto que pessoas com potencialidade para sonhar, projetar sua vida e dinamizar as relações humanas com sua vitalidade sejam impedidas disto por causa da incredulidade dos adultos.

Senhor, concede-me a graça de confiar na juventude – “semente oculta do verbo”.

Mais tarde irei presidir a Vigília Pascal que, com toda certeza, será marcada por esta experiência. Diante do fogo novo, desejarei ardentemente que, pelas Chagas de Cristo as chagas da Juventude sejam curadas; na proclamação da Páscoa cantarei a saída de jovens do êxodo para viver uma nova realidade, que lhes permita sonhar e realizar seus sonhos; na Renovação dos Compromissos Batismais quero comprometer-me a acolher e confiar na profecia, realeza e sacerdócio da juventude para que nossos jovens tenham vida nele: Cristo Profeta-Sacerdote-Rei.

Ao fazer memória do Mistério Pascal na última Ceia de Jesus com os seus, renderei ação de graças a Deus pela suprema entrega de Cristo e nela, a entrega de milhares de jovens que, sendo igreja ou não, assumem a causa da Vida e testemunham um outro mundo possível – muito melhor que este que nos apregoa tantas contradições. Em comunhão com Cristo – cordeiro da vida – quero comungar a entrega forçada da vida de jovens que morrem todos os dias sem o direito de “escolher, pois, a vida” como tanto nos ajudou a refletir a Campanha da Fraternidade deste ano. E como encerraram os jovens na via sacra, assim despojarei minha vida: “seja morte matada, seja morte morrida, se for vida doada não é morte, é vida!”.

Nas chagas de Cristo, quero contemplar a violência que afeta a juventude e causa tanta dor em que a ama. Na ressurreição de Cristo, quero transformá-la em sinais geradores de vida e esperança para a humanidade. Então, entoarei ao Senhor: “A morte já não mata, não mata mais a morte. Do chão regado em sangue, o amor brota mais forte”. Do lado aberto de Cristo jorrou água e sangue, fazendo nascer a igreja

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que, na Páscoa de Jesus, oferece a vida de seus filhos fazendo ecoar o grito da libertação: eis a luz, eis a luz, eis a luz de Cristo. E nós, filhos da luz, poeticamente cantamos: “Demos graças, demos graças, demos graças a Deus!”.

Pe. Gisley Azevedo Gomes, css Assessor Nacional do Setor Juventude – CNBB, assassinado em 15 de junho de 2009.

b) Corações inquietos

Por Gustavo Covarrubias Rodríguez

Páscoa. Ressurreição. Vida mais forte que a morte. Trevas definitivamente vencidas pela luz! Depois da vitória de Jesus Cristo, não nos é mais permitido permanecermos na quietude e no fechamento dos nossos inúmeros sepulcros quotidianos. Por causa disso, no Crucificado-Ressuscitado, somos chamados a sermos discípulos e missionários da vida, entregando, se for preciso, a própria vida! Isso significa abominar a atitude de quem fica só olhando para o céu, recolhido na segurança da própria igreja.

Acreditar no Ressuscitado é ampliar a nossa visão. É alargar o coração. É sentir-nos vivos, porque somos tocados, no profundo do nosso ser, pelas angústias e tristezas como pelas alegrias e as esperanças da humanidade tão necessitada de vida plena! Só assim faz sentido acreditar que Ele ressuscitou e está no meio de nós. Só dessa forma podemos realmente testemunhar que “Ele vive”, que Ele está nas “galileias” do mundo e se faz presente e atuante através dos seus seguidores, nos porões da nossa sociedade, iluminando-os e transfigurando-os...

Talvez, uma das expressões mais lindas que pode definir os cristãos que realmente acreditam na ressurreição é a de “corações inquietos”. Corações que resistem, lutam, amam, esperam... Não os corações medíocres ou mesquinhos que buscam, permanentemente, todo tipo de conforto e segurança, seja ela material, doutrinal ou espiritual. Sim os corações “pascalizados” continuamente pela experiência da doação aos irmãos, no serviço aos pobres, na solidariedade com os crucificados de sempre!

Falando de “corações inquietos”, vem-nos à memória a luminosa recordação de Dietrich Bonhoeffer, teólogo e pastor luterano que foi assassinado pelos nazistas no dia 09 de abril de 1945, quando ainda tinha 39 anos.

Bonhoeffer, grande teólogo de futuro promissório, decidiu correr a sorte dos judeus e dos seus compatriotas vitimas de um dos piores regimes de morte da nossa história. Ainda morando nos Estados Unidos, ele, movido por um elevadíssimo sentido de responsabilidade cristã, tomou a decisão de voltar à Alemanha que naquele tempo vivia mergulhada na tempestade fascista. Por causa do seu claro posicionamento contrário ao nazismo, foi trasladado ao campo de concentração e extermínio de Buchenwald, até descer ao inferno de Flossenburg, onde foi exterminado pela Gestapo.

Na véspera da execução, quando os policiais ordenaram-lhe que os acompanhasse, o bom pastor disse: “isto não é o fim; para mim é o principio da vida”. E, antes disso, teria escrito numa de suas obras estas palavras a respeito da graça: “... a graça barata é o inimigo mortal da nossa igreja... A graça barata é a graça como doutrina, como princípio, como sistema... A graça cara [...] é o chamado de Jesus Cristo que faz que o discípulo abandone as redes e o siga... É cara porque custa ao homem a vida; e é graça porque dá de presente a vida!”.

Parafraseando o insigne teólogo alemão, reconhecemos que, ainda hoje, “há tantas pessoas que vivem durante muitos anos somente com a metade do seu coração”. Que, inclusive, desejam o que é justo e o que é bom, mas que nunca arriscam a própria pele em favor dos outros, esquecendo-se que,

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precisamente, “o bom e o justo só pode brotar de um coração pacífico, livre e generoso!” (D. Bonhoeffer). Que a Páscoa nos traga mais inquietação ao coração!

c) As sete palavras de Jesus na cruz

Dom Pedro Casaldáliga (Tradução: Gustavo Covarrubias)

1. “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que estão fazendo!” (Lc 23,34)

Sabendo ou não sabendo o que fazemos,

Sabemos que nos amas,

Porque já conhecemos o teu jeito de ser

Através dos olhos e na boca do teu Filho Jesus.

Tu já não és mais para nós o Deus terrível.

Sabemos que Tu és Amor!

Sabemos que Tu não sabes castigar...

Tu és um Deus vencido na ternura.

Tu esperas sempre, Pai, e acolhes e restauras a vida

Até a vida dos assassinos do teu Filho

(Que somos todos nós).

Perdoa-los! Perdoa-nos!

Atende este pedido do teu Filho na cruz,

Prova maior do teu amor de Pai.

E acolhe-nos, ó Pai, ó Mãe, ó berço, ó casa

De quantos retornamos buscando o teu abraço!

2. “Eu lhe garanto: hoje mesmo você estará comigo no Paraiso!” (Lc 23,43)

O teu coração sem portas, sempre aberto,

Que fácil é roubar-te o Paraíso!

Ladrões, todos nós,

Depredadores

Do Cosmo, da natureza e da Vida,

Somente podemos salvar-nos

Assaltando-te, ó Cristo,

Em nosso “hoje” cotidiano,

Essa Misericórdia que jorra no teu sangue...

O teu suave assobio de Bom Pastor nos chama.

O teu coração reclama, impaciente,

A todos os marginalizados,

A todos os proibidos.

Tu nos conheces bem, e nos consentes,

Irmão de cruz e cúmplice de sonhos,

Companheiro de todos os caminhos.

Tu és o Caminho e a Chegada!

3. “Mulher, eis ai o teu Filho! Eis ai a tua Mãe!” (Jo 19,26-27)

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47 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Por causa desse Homem, o mais totalmente humano,

Tu és bendita entre todas as mulheres!

Mãe de todas as mães, doce Mãe nossa,

Por causa desse Filho, irmão de todos!

Construamos, pois, a casa, ó Mãe!

Construamos a família de todas as famílias de todas as nações!

Por conta dessa Carne, irmã de toda carne,

Destroçada na cruz, Hóstia do mundo.

Cansados ou perdidos,

Nós precisamos, ó Mãe, do teu agasalho,

Sombra clara de Deus em toda cruz humana,

Canção divina de ninar em todo sonho humano.

Queremos ser discípulos amados.

Ó Mestra do Evangelho!

Queremos ser herdeiros de Jesus,

Ó Mãe, vida da Vida!

Nessa troca de filhos,

Tu sabes bem, Maria,

Que nos ganhas a todos e não perdes o Filho

Já de retorno ao Pai,

Para esperar-nos com a Casa pronta.

4. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27,46)

Todos os nossos pecados

Viram hematoma em tua Carne, ó Verbo.

Todos os nossos gestos te deformam o Rosto.

Em tua solidão se refugiam

Todas as solidões da História Humana...

No teu grito vencido

(Misteriosa vitória!)

Detonam, ó Jesus, todos os nossos gritos abafados,

Todas as nossas blasfêmias...

Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?

Por que nos abandonas

Na dúvida, no medo, na impotência?

Por que te calas, ó Deus, por que te calas

Diante da injustiça, da dor e da fome,

No Rio ou no Haiti,

Na África, no mundo,

Diante dos tribunais ou nos bancos... ?

Não te importam os filhos que geraste? Não te importa o teu Nome?

É a hora das trevas, do silêncio do Pai, para o seu Filho.

É a hora da fé, escura e nua,

Do silêncio de Deus, para todos nós...

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48 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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5. “Tenho sede” (Jo 19,28)

Tu tens sede, do que, ó Fonte Viva? No manancial quebrado do teu Corpo Os anjos se saciam. E todos os humanos bebemos nos teus olhos moribundos A luz que não se apaga. Terra de nossa carne, Queimada por todo o egoísmo que brota da Humanidade, Tens sede do Amor que não temos, Ébrios de tantas águas suicidas... Sabemos, porém, Que será dessa boca, ressequida pela sede, Donde nos virá o Hino da Alegria, O Vinho da Fraternidade, A crescente jubilosa da Terra Prometida! Dai-nos sede da sede! Dai-nos sede de Deus!

6. “Tudo está realizado” (Jo 19,30) De tua parte, sim! Da nossa parte, Ainda nos falta esse longo dia a dia De cada história humana, De toda Humana História. Tu já fizeste tudo, Rei e Reino! Tudo está por fazer, à luz do Reino, Na noite que nos cerca (Do lucro e do egoísmo, Do medo e da mentira, De ódios e de guerras). O Pai te deu um Corpo de serviço E Tu rendeste o Cento por Cento, o infinito. Tudo está consumado, No Perdão e na Gloria. Tudo pode ser Graça, na luta e no caminho. Tu já foste o Caminho, Companheiro. E tu és, por fim, a Chegada! Em tua cruz se anulam O poder do pecado E a sentença da Morte. Tudo canta Esperança...

7. “Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito!” (Lc 23,46) Gloria de sua Gloria, Deus de Deus, Desde sempre, igual a Ele, Tu vieste do Pai. E agora voltas Desde nós, igual a nós, Deus e Homem para sempre.

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49 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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No seio do Espírito O Pai te acolhe, Filho Bem Amado, Amém do seu Amor já satisfeito. A morte sucumbiu em sua Morte Como um fantasma inútil, para sempre. E em tuas mãos repousam as nossas vidas, Vencedoras da morte, na nossa hora. Em tua Paz descansa esperançada A nossa agitada paz. Descansa em Paz, por fim, Na Paz do Pai, eterna, Tu que és a nossa Paz!

d) Páscoa

Pedro Casaldáliga

Senhor Jesus Minha força e meu fracasso és tu Minha herança e minha pobreza Tu Minha justiça, Jesus. Minha guerra e minha paz Minha livre liberdade! Minha Morte e minha Vida Tu Palavra dos meus gritos Silêncio da minha espera Testemunho dos meus sonhos Cruz da minha Cruz! Causa da minha Amargura Perdão do meu egoísmo Crime do meu processo Juiz do meu pobre pranto Razão da minha Esperança Tu! Minha Terra Prometida és tu... Páscoa da minha Páscoa nossa Glória para sempre Senhor Jesus!

e) A Ceia Pascal (versão de Um tal Jesus)

Versão para radio e ou teatro, tomada de “Um tal Jesus”, dos irmãos Vigil.

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50 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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CORDEIRO E PÃES ÁZIMOS (cap. 109)

Desde o domingo, depois do acontecido no Templo, não havíamos voltado a mostrar as orelhas em

Jerusalém. Jesus era procurado por toda a cidade e todos nós estávamos em perigo. Nosso amigo Lázaro

escondeu todos os doze e as mulheres num sótão de sua taberna em Betânia...

Lázaro: Que tal viver nessa ratoeira, heim, rapazes?

João: Nada mal, Lázaro. O que mais se pode querer? Teto, comida e amigos para conversar...

Lázaro: Uff...! Estou parecendo um rato como vocês... Ai, diacho, que a nova extravagância estará

tramando esse bando de galileus? Vamos lá, contem-me...

Pedro: O que estamos pensando é que diabos faremos amanhã, Lázaro, porque...!

Tiago: Psiu! Cale a boca, Pedro! Se continuar gritando desse jeito o que faremos é jogar dados na cadeia!

Pedro: Está bem, então vou falar baixinho... O que vamos fazer amanhã?

João: Comer a Páscoa, eu acho, como todos os bons israelitas. Celebraremos a festa escondidos nesse

buraco se for preciso, mas celebraremos, caramba!

Maria: Amanhã já é a ceia da Páscoa... Como os dias passam depressa, não é, rapazes...?

Madalena: Nem me fale, dona Maria...

Pedro: Olhem, camaradas, se nos descuidarmos vamos ficar sem cordeiro. Nossos conterrâneos são os

primeiros a comprá-los, pegam os mais gordos e depois, para você, lhe vendem um cabritinho que mais

parece um saco de ossos.

Começava a escurecer, mas não acendemos nenhuma lamparina para não chamar a atenção. Era Quarta-

feira, 12 de Nisan. No dia seguinte, nós galileus que havíamos ido a Jerusalém para a festa, comeríamos a

grande ceia da Páscoa...

Lázaro: Amigos, desculpem se jogo areia na fogueira de vocês, mas acho que não devem celebrar a ceia

aqui...

Tiago: Eu estou com Lázaro. Cada dia que passa esta taberna se torna um lugar mais perigoso. Betânia está

repleta de peregrinos. E onde há muita gente, há muitas línguas.

Lázaro: Com dedos-duros ou sem dedos-duros, cedo ou tarde virão procurar Jesus aqui. E a noite da Páscoa

é uma boa ocasião para esses tipos. Sabem que podem encontrar todas as pombas no viveiro. Querem meu

conselho? Vão para outro lugar. Sinto por Marta e Maria que tinham muita vontade de preparar-lhes o

cordeiro, mas não, este não será um lugar seguro na Quinta-feira de manhã.

Susana: Mas, se não for aqui, para onde a gente vai?

Pedro: Eu tenho uma idéia!

João: Psiu!... Não grite tanto, Pedro...

Tiago: O que você está pensando, pedrada?

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51 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Pedro: Em falar com meu amigo Marcos. Ele nos emprestará sua casa. Não é muito grande, mas caberemos

todos.

João: Isso é uma loucura, narigão. A casa de Marcos fica muito perto do palácio de Caifás.

Pedro: Por isso mesmo, João. Quem vai imaginar que estaremos tão perto? É o último lugar onde nos

procurariam.

Tiago: É verdade. Além disso, se na Sexta-feira vamos nos juntar diante do palácio de Caifás, já poderemos

ir sondando o terreno e falando com os vizinhos...

Susana: Mas, vocês não estão delirando, não?... Ou será que seus miolos ficaram moles? Vocês estão

pensando em armar outra confusão como a de domingo?

Jesus: É claro, Susana. Na Sexta iremos até Caifás e depois até os outros grandes de Jerusalém e lhes

diremos o que é preciso dizer. Agora que começamos, não podemos voltar atrás.

João: Está certo, Jesus, mas não podemos repetir uma briga como a de domingo. Você estará colocando

sua cabeça a prêmio, moreno.

Jesus: Todos nós já colocamos, João. Mas temos de ir adiante. Quem não arrisca não perde, mas também

não ganha.

Lázaro: Ir em frente, sim, Jesus, mas entrando por aqui e saindo por ali, como faz a cobra. Agora é preciso

ter muita astúcia.

Maria: Ai, filho, por Deus, você acha que pode acontecer alguma coisa ruim...? Quando escuto vocês

falarem assim, fico com o coração na boca...

Jesus: Não tenha medo, mamãe. Você vai ver que dará tudo certo. Deus estará com a gente. Ele não vai nos

faltar, tenho certeza. O guardião de Israel não dorme e não deixará que nossos pés escorreguem.

Pedro: Bem, pois é dito e feito. Amanhã, antes do amanhecer, João, você e eu iremos falar com Marcos e

comprar o cordeiro. As mulheres, que madruguem também para preparar a comida...

Lázaro: E os que ficarem aqui, psst!, como mortos. Boca fechada até a hora da ceia!

O sol daquela Quinta-feira começava a dourar as muralhas de Jerusalém quando Pedro e eu chegamos ao

templo. Apesar da hora, ainda havia centenas de pessoas na grande esplanada de mosaicos brancos e

tivemos que abrir caminho aos empurrões...

João: Ei, pedrada, você entende mais de animais. Escolha você o cordeiro.

Pedro: Veja aquele, João! Parece uma boa peça... Venha!... Ei, você, conterrânea!

Vendedora: O que foi?

Pedro: Conterrânea, quanto você está pedindo por aquele animalzinho?

Vendedora: Catorze denários e pode levar!

Pedro: Catorze o quê? Escute aqui, com esse dinheiro eu compro um rebanho inteiro! Não, não, não, tome

aqui seis denários e não falamos mais nisso!

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52 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Vendedora: Seis denários? Nunca, nunquinha mesmo! Doze e vá com Deus!

Pedro: O que é isso? Sete e ponto final!

Vendedora: Escute aqui, narigão, porque eu fui com a sua cara, deixo por nove e acabou-se!

Por fim, compramos nosso cordeiro. De um ano, macho, sem nenhum defeito, como mandava a Lei de

Moisés. Com ele às costas, subimos as escadas de mármore, atravessamos a porta Formosa e fomos

avançando sem problemas até chegar ao átrio dos israelitas. Centenas de galileus se amontoavam ali,

esperando sua vez. Junto à pedra dos holocaustos, os sacerdotes, com suas túnicas empapadas de sangue,

degolavam um atrás do outro os cordeiros que o povo apresentava como sacrifício de Páscoa...

Pedro: Não precisa empurrar, conterrâneo, as facas não vão perder o fio!

Um velho: Olhe aqui, galileu... você é um dos que estavam no domingo com o profeta de Nazaré...?

Pedro: Eu?... Bem, eu... sabe o que é...?

Velho: Sim, é você mesmo. E você também. Não esqueço dos rostos... Sou de confiança, fique sossegado...

Eu fiquei rouco aqui no Templo de tanto gritar hosanas com todos vocês. Foi o maior dia da minha vida,

podem crer!... Bem, se vocês virem o profeta, digam-lhe da parte deste velho que todos do meu bairro

estão esperando a próxima... Se no domingo éramos mil, quando voltar a levantar a voz seremos cem mil!

Ai, caramba, quem diria que antes de morrer ainda veria as barbas do Messias!

Susana: Você, Madalena, varra bem a casa! Meta a vassoura em todos os cantos, menina... Cuide para que

não reste nenhum grão de fermento em canto algum...

Madalena: Puff!... Esse negócio de tanto varrer e varrer seguramente ocorreu a Moisés porque não era ele

que tinha que segurar a vassoura, mas a sua mulher, claro...

Susana: Ei, Madalena, leve para a Maria um pouco mais de água para amassar!

Na manhã de Quinta-feira, enquanto Pedro e eu estávamos comprando o cordeiro, as mulheres foram até à casa de Marcos no bairro de Sião para preparar a comida da noite. A casa de Marcos tinha dois andares. No andar de cima, num quarto pequeno de paredes caiadas e piso de madeira, íamos celebrar a ceia da Páscoa...

Susana: Esta massa já está pronta, Maria, veja...

Maria: Eu acho que ela ficou muito pesada, Susana... Jogue um pouco mais de água, senão depois, sem o

fermento, os pães ficam muito duros.

Susana: Não ficarão mais duros que a cabeça de seu filho, Maria... Eu fico aqui pensando: como é que pode

ser que esse moreno que eu vi nascer, seja... seja... o Messias, como as pessoas gritavam no domingo. Será

que todo mundo deste país ficou louco, Maria? O que você acha?

Maria: Não sei, Susana, não sei nem o que pensar... Mas, veja só, também pareceu que nosso povo ficara

louco lá no Egito, no tempo de Moisés. E a loucura deles é que queriam ser livres...

Susana: Aí você tem razão... Quando as pessoas buscam a liberdade é porque Deus está no meio... Ai, filho,

acho que o que está me fraquejando é a fé, santo Deus!

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53 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Maria, a mãe de Jesus, e Susana, agachadas no chão, amassavam a farinha e a água dos pães ázimos.

Segundo a tradição de nossos pais, os pães que se comia na ceia pascal eram preparados sem o fermento,

em recordação dos pães que as mulheres de Israel haviam amassado com pressa, sem tempo de esperar

que fermentassem, na noite em que saíram do Egito.

Pedro: Ei, mulheres, aqui está o rei da festa!...

Maria: Não arme tanto alvoroço, Pedro!... Ninguém precisa saber que estamos aqui...!

Pedro: Está certo, está certo, é que a gente vem da gritaria da rua e acaba se esquecendo... E então, o que

vocês acham do cordeiro?... Saiu barato e, reparem bem, é pura carne...

Susana: Madalena, menina, se já acabou de varrer, ajude a Salomé a lavá-lo, ande...

Pedro: Não toque em nenhuma tripa, Maria, que hoje é dia de comê-lo todinho, até as patas...!

Minha mãe e a Madalena começaram a preparar o cordeiro. Na noite da Páscoa, ele era assado ao fogo

sem partir-lhe nenhum osso. Havia que comê-lo inteiro, com entranhas e tudo. E o que sobrava não se

guardava para o dia seguinte, mas se queimava ao amanhecer.

Susana: Lembraram-se de trazer o sangue para as portas, Pedro?

Pedro: Está aqui... Vamos, João, ajude aqui, e depois voltamos para Betânia!... Estou louco de vontade de

ver Jesus para contar-lhe...

Madalena: Conte antes para nós, caramba...

Maria: O que acontece pela cidade, Pedro?

Pedro: O que acontece? Não se fala em outra coisa do que de seu filho, Maria. Todo mundo se pergunta

onde diabos estará escondido. Na hora em que ele mostrar as orelhas, toda Jerusalém se porá de pé como

um só homem.

João: Dizem que ontem estiveram apregoando pelas esquinas para ver se aparecia algum dedo-duro... Mas,

deixe estar, o povo está com ele. Não há por quê se preocupar...

Susana: Chega de conversa e vamos trabalhar! Ei, Pedro, as portas!

Na festa da Páscoa, pintávamos as folhas e os batentes das portas da casa, com o sangue do cordeiro

sacrificado, igual ao que fizeram nossos antepassados no Egito. Aquele era o sangue da Aliança que Javé,

nosso Deus, havia selado com seu povo, de tirá-lo aquela noite da escravidão para a liberdade...

Madalena: Uff!... Como arde!...Vamos pôr um bocadinho mais de cebola... Está delicioso... O cordeiro vai

agradecer este molho mais que a chuva da primavera... Na verdade, essa salada acaba com o soluço de

qualquer um...!

À tarde daquela quinta-feira, a casa de Marcos cheirava a pão feito na hora e a cordeiro assado. A

Madalena havia preparado as ervas que, segundo a tradição, devia-se comer naquela noite. Era uma salada

amarga em recordação às lágrimas e aos sofrimentos de nossos pais no Egito. A mãe de Jesus e Susana

fizeram o molho picante no qual se molhava o pão. Um molho vermelho, da mesma cor que os tijolos que

os israelitas haviam fabricado nas terras egípcias quando eram escravos do faraó...

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54 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Marcos: Bem, vamos ver o que as mulheres fizeram tanto tempo juntas, além de fofocar...!

Susana: Já está tudo pronto, Marcos!

Marcos: Sim, sim, já está tudo pronto, até os guardas! Porcaria, como é que fui me deixar convencer por

esse narigudo do Pedro? Veja só que coisa, aceitar meter esse bando de agitadores na minha casa!... É bom

que vocês rezem alguma oração ao arcanjo Miguel para que ele nos empreste sua espada para quando

vierem prender todos nós, rá, rá, rá!

Maria: Psst, Marcos, não faça bagunça...! Onde será que se meteram esses rapazes que ainda não

chegaram... Já deveriam estar aqui...

Susana: Devem estar esperando escurecer mais um pouco. Precisam tomar cuidado. As portas da cidade

estão muito vigiadas...

Marcos: Muito bem, muito bem, alguma de vocês se lembrou do mais importante?

Madalena: Do mais importante? Será que você não tem faro? O cordeiro estará pronto num segundo!

Marcos: Nesta noite, tão importante quanto o cordeiro é o vinho. Não me digam que esqueceram...?

Madalena: O vinho! É mesmo! Não temos vinho!... E agora, onde vamos comprá-lo?

Marcos: Sossegue, mulher, sossegue... Lá em baixo tenho um tonel deste tamanho, cheio até à boca!...

Podemos todos nos embebedar e ainda sobrará para brindar o profeta Elias quando ele chegar...! Nesta

noite temos de levantar bem alto as jarras e brindar pela libertação de nosso povo...!

Susana: Levantar as jarras e baixar a voz, Marcos, que diacho de escandaloso é você...!

Apesar do medo e do perigo, naquela tarde todos estávamos contentes, dispostos a celebrar a maior festa

do ano. Esperávamos contra toda esperança que Deus estaria conosco e que, naquela Páscoa, romperia de

uma vez as cadeias que tornavam nosso povo escravo.

A festa da Páscoa era a mais solene das festas de Israel. Era celebrada no primeiro mês do ano judaico, o

mês de Nisan (correspondente para nós a meados de março-meados de abril). A festa durava sete dias, mas

considerava-se dia de Páscoa o 14 / 15 de Nisan, quando se comia a ceia Pascal. As indicações sobre como

celebrar a festa foram transmitidas de geração em geração e foram fixadas no livro do Êxodo (Ex 12, 1-28).

A festa da Páscoa estava unida à festa dos ázimos desde vários séculos antes de Jesus (Ex 13, 3-10). Em sua

origem, antes de Moisés, a Páscoa foi uma festa de pastores (comia-se o cordeiro) e a dos ázimos, uma

festa de agricultores (comia-se o pão de uma nova colheita). Depois de Moisés, estas festas populares

foram definitivamente relacionadas com a libertação do povo da escravidão do Egito. E isto foi o que Israel

comemorou durante séculos até os tempos de Jesus. A Páscoa era algo como a festa da independência

nacional. Uma celebração, por vezes patriótica e por vezes profundamente religiosa. Para o povo de Israel

foi o braço de Deus que abriu o caminho da libertação para seus antepassados.

O centro da festa era a ceia Pascal. E o centro daquela ceia, o mais importante, era o cordeiro. Nos tempos

de Jesus, o cordeiro era geralmente comprado nos átrios do Templo e ali mesmo sacrificado. Os sacerdotes,

descalços, com vestimentas próprias do culto, degolavam diante do altar, um atrás do outro, os cordeiros

que os israelitas homens levavam até o átrio. Depois que o sangue tivesse escorrido diante do altar, como

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sacrifício agradável a Deus, as vítimas eram devolvidas a seus donos, que as levavam para casa ou para

fornos coletivos que havia nas ruas para assá-los.

Devia-se comer o cordeiro, segundo as prescrições judaicas, dentro dos muros de Jerusalém, a cidade santa.

Ao pôr-do-sol, que era a hora em que começava um novo dia para os israelitas, as famílias, os grupos, os

vizinhos, congregavam-se comunitariamente para a solene ceia. Pelo fato de as casas serem pequenas e de

precisar reunir pelo menos dez pessoas para cada cordeiro, também se comia a Páscoa nos quintais, nos

terraços e até nos telhados. Jerusalém, repleta de peregrinos, apresentava um ambiente festivo

impressionante. Era a noite mais solene de todo o ano. Primitivamente ceava-se dentro do Templo, na

esplanada, mas uns cem anos antes de Jesus esse costume foi suprimido, devido à multidão que se

congregava na capital. Como um símbolo, as portas do Templo permaneciam abertas de par em par

durante toda a noite da Páscoa.

Nos dias pascais os mercados de Jerusalém transbordavam de produtos típicos para aquela ceia. A verdura

que era prescrita para a salada daquela noite era a alface. Mas também podia ser feita com chicória,

agrião, cardos ou outras ervas amargas. O amargor era uma recordação da dor e das lágrimas do povo

quando era escravo no Egito. A marmelada ritual daquela noite, que se chamava “jaroset” era feita de

diferentes frutas (figos, tâmaras, passas, maçãs, amêndoas), diversos temperos (canela, sobretudo) e

vinagre. Servia como aperitivo para passar no pão. Sua consistência e sua cor lembravam aos israelitas a

argila que seus antepassados escravos no Egito haviam amassado os tijolos para as enormes construções

dos faraós.

O pão que se comia durante os sete dias das festas de Páscoa devia ser amassado sem fermento. Era os

“massot” ou “pães ázimos”. Também estava prescrito que se varressem todos os cantos das casas, para que

não ficasse dentro sequer um grão de fermento. A mentalidade primitiva via na fermentação do pão um

símbolo de decomposição e morte. Por isso, o costume de comer pães mais “puros” na festa. Os pães

ázimos eram feitos em forma de tortas, um tanto grossas. Lembravam os pães que os israelitas haviam

levado do Egito em sua fuga, sem ter tempo de esperar que a massa crescesse e fermentasse.

Alguns israelitas conservariam ainda o antigo costume de marcar com o sangue do cordeiro sacrificado as

portas do lugar onde se reuniam para cear. Na noite em que Israel havia saído do Egito aquele sangue foi o

sinal para diferenciar as casas dos opressores, das dos oprimidos, para que Deus libertasse estes e

castigasse aqueles (Ex 12, 2-13).

Já o livro dos Atos fala que as primeiras comunidades cristãs se reuniam na casa de Marcos para rezar (At 1,

12). Baseando-se nisto, uma antiga tradição fixou na casa de Marcos o lugar onde Jesus teria celebrado a

ceia pascal às vésperas de sua morte. Como tem sido impossível localizar este lugar na Jerusalém de hoje,

outra tradição mais recente situa o “cenáculo” numa ampla sala do segundo andar de um templo

construído no monte Sião, a sudoeste da cidade. Nos porões deste edifício os judeus veneram hoje a tumba

do rei Davi. Nem um lugar nem outro têm autenticidade histórica.

Os judeus continuam celebrando ainda hoje, a cada ano, a festa da Páscoa, com um rito bastante similar ao

que Jesus conheceu, quanto à comida, orações, cânticos etc. Os cristãos, na Eucaristia, se aproximam

diretamente desta celebração. Páscoa (em hebraico “pésaj”) significa “passagem”. Javé passou pelo Egito

na noite da libertação: passou ao largo das casas dos hebreus assinaladas com sangue e castigou os

egípcios e assim, o povo em liberdade pôde passar pelas águas do Mar Vermelho (a cor do sangue) para

uma nova terra. Jesus, pelo sangue de sua vida, passou da morte para a vida. A comunidade cristã, na

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Eucaristia, memorial deste sangue entregue por nossa libertação, continua celebrando a passagem de Jesus

e sua própria passagem da morte para a vida (1 Jo 3, 14).

(Mt 26, 17-19; Mc 14, 12-16; Lc 22, 7-13)

A CEIA DE PÁSCOA (cap. 110)

Entardecia sobre Jerusalém. O sol terminava sua carreira, escondia-se agora entre os montes secos e

amarelentos da Judéia. Logo apareceu no céu, redonda e silenciosa, a lua da Páscoa... Era dia 13 do mês de

Nisan, quinta-feira, véspera da grande festa...

Pedro: Ei, companheiros, está na hora! Minha sogra Rufa sempre diz que o cordeiro Pascal tem que ser

comido entre duas luzes, entre o sol e a lua, para que se tenha uma boa digestão. Depressa, Natanael!

Vamos, Tomé!

João: É, vamos logo, porque na casa de Marcos as mulheres já devem estar desesperadas pensando que

nos aconteceu algo de ruim.

Felipe: As mulheres desesperadas e minhas tripas também!... Vamos andando!

Tiago: Esperem um pouco... esperem um pouco!...

Pedro: O que é agora, Tiago?

Tiago: Não é nada, Pedro. Mas... não devemos ir todos juntos. É perigoso, a cidade está muito vigiada.

Pedro: O cabelo-de-fogo tem razão. Melhor uns saírem por um lado e outros por outro. E você, Jesus,

afunde-se no manto e não fale com ninguém. Estão dando sessenta siclos por seu pescoço, então fique

ligado, desconfie até de sua sombra!... Vamos, vamos embora...!

As ruas de Jerusalém, apesar da hora, estavam repletas de peregrinos que iam e vinham procurando

pousada para dormir ou uma taberna para beber... Nós, em grupos de dois e três, atravessamos o casario

de Ofel, bordejamos a fonte de Siloé e pegamos a rua Longa, que sobe até o bairro de Sião, onde morava

Marcos, o amigo de Pedro... Jesus e eu íamos juntos...

João: Escute, moreno preciso tratar de um assunto com você...

Jesus: Fale, João...

João: Moreno, está acontecendo algo esquisito por aqui. E a coisa é com Judas... Não sei, mas o iscariote

não está jogando limpo... Na quarta-feira ele foi visto falando com Barrabás e outros do movimento. Foi

visto também saindo da casa do chefe da guarda do Templo.

Jesus: Como você sabe disso, João?

João: Quem me disse foi um amigo meu que trabalha de empregado no palácio de Caifás.

Jesus: Você está desconfiado de Judas?

João: Estou.

Jesus: Eu também, João. Mas não tenho certeza... Não posso crer que o iscariote nos passe a perna.

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57 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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João: Nem eu, Jesus... Mas tudo pode ser...

Jesus: Os outros estão sabendo de alguma coisa?

João: Acho que não. Pedro ainda não desconfiou de nada. Tiago, muito menos.

Jesus: E o que vamos fazer, João?

João: Preste atenção, moreno. Fique de olho em Judas. Não o perca de vista. Se o iscariote está aprontando

alguma, não se esqueça de que eu o avisei!

Pouco depois, chegamos à casa de Marcos. As mulheres haviam marcado a porta, conforme a antiga

tradição, com o sangue do cordeiro pascal... Cruzamos o pequeno quintal cheio de barris de azeite e

subimos pela escadaria de pedra até o andar de cima onde íamos cear naquela noite...

Marcos: Puxa, até que enfim esses marotos mostram as orelhas! Está vendo, Maria, seu filho e todos os

outros chegaram à minha casa sãos e salvos!

Madalena: E sairão de sua casa mais sãos e mais salvos depois de fincarem os dentes no cordeirinho!

Maria: Jesus, filho, você acha que estamos seguros aqui...?

Jesus: Estamos, mamãe, não se preocupe. Ninguém nos viu entrar...

Maria: Você traz preocupação nos olhos, Jesus. Eu o conheço como a palma da minha mão. Não me

engane, filho...

Jesus: Fique tranqüila, mamãe. Não vai acontecer nada de mau.

Pedro: Vamos lá, dona Maria, deixe esse medo de lado e alegre esta cara, que isso é uma festa, caramba!

Tiago: Isso mesmo, hoje é a Páscoa, a festa que nossos antepassados celebraram durante setenta

gerações!... Temos que estar alegres!

Madalena: E temos que preparar a mesa! Vamos lá, seus preguiçosos, mexam-se e dêem-nos uma

mãozinha!

Minha mãe, Salomé e a madalena estenderam sobre o piso de madeira várias esteiras de palha trançada.

Como já estava escuro, Marcos acendeu os sete pavios do candelabro ritual e o pôs no centro da sala. Nós

ajudamos as mulheres trazendo da cozinha as jarras de vinho, as tortas redondas de pão ázimo, as

travessas de molho picante e as bacias repletas de salsa, agrião e outras ervas, temperadas com vinagre e

sal...

Marcos: Mais alguma coisa, companheiros?

Jesus: Os bastões, Marcos. Que cada um pegue o seu. Nossos avós comeram assim a primeira páscoa, com

pressa, porque iam a caminho da liberdade. Nós faremos a mesma coisa, mesmo que seja por um só

momento.

Formamos um círculo ao redor das esteiras. Nós, homens, empunhamos nossos bastões e levantamos o pé

direito, como se estivéssemos prontos para partir para uma longa viagem. As mulheres se apoiavam no

braço dos homens...

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58 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

Centro da Juventude para a Paz

Marcos: Vamos, Jesus, abençoe a comida.

Jesus: Não, Marcos, você é o dono da casa, o pai de família.

Marcos: Nem dono nem pai. Não é você que sempre diz que essa história já acabou?... Vamos lá, abençoe

você...

Felipe: Muito bem, muito bem, decidam-se, porque se demorarem mais acabarei desmaiando...

Jesus abençoou a comida com as palavras antigas que durante tantas gerações nossos antepassados

haviam repetido, as palavras que José, seu pai, lhe ensinou quando ainda era garoto lá em Nazaré...

Jesus: Bendito seja, Senhor, nosso Deus, rei do mundo, que dás a Israel esta festa para alegria e memorial!

Todos: Amém! Amém!

Depois do primeiro salmo com que se inicia a ceia pascal, todos deixamos num canto os bastões, tiramos as

sandálias e nos sentamos no chão, sobre os mantos, ao redor das esteiras de palha... Estávamos os treze, as

mulheres e a família de Marcos, formando um grupo apertado. As pequenas chamas do candelabro,

movidas pela brisa da noite, iluminavam nossos rostos...

Marcos: E agora, para começar, um primeiro brinde, companheiros! Vamos, encham as jarras até à borda,

que hoje o vinho corre por minha conta!... Levantem o copo da liberdade!... Viva Javé, o Deus de Israel!

Todos: Viva! Viva!

Tiago: E vivam nossos avós que lutaram contra a escravidão e saíram livres numa noite como a de hoje!

Todos: Vivam! Vivam!

Madalena: E nossas avós, caramba, elas também brigaram duro contra esse faraó sem-vergonha!

Marcos: Muito vinho, muito brinde, mas estamos esquecendo algo muito importante. Ei, vocês, afastem-se

e deixem um lugar para Elias, caso esta noite ele venha à nossa casa!

Segundo a tradição de nossos conterrâneos, o profeta do Carmelo viria de noite, durante uma ceia pascal,

avisar-nos da chegada do Messias. Por isso, as portas das casas nesse dia ficavam abertas e havia um lugar

reservado em todas as mesas dos filhos de Israel, caso chegasse o profeta Elias, cansado e com fome,

anunciando a grande notícia...

Felipe: Elias pode vir à hora que quiser, mas que também venha o cordeiro, porque no ritmo que as coisas

andam, minha barriga vai criar teias de aranha!

Maria e Susana desceram a escadaria e, pouco depois, estavam de novo conosco, no andar de cima,

trazendo uma grande bandeja com o cordeiro recém assado...

Pedro: Viva o cordeiro pascal!

João: E as mãos que o cozinharam!

Madalena: Olhem bem primeiro, para não virem falar depois, não tem nenhum osso quebrado!

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59 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

Centro da Juventude para a Paz

Pedro: Vamos, rapazes, ao ataque! Não deixem de fora nem as patas!

Marcos: Um momento, um momento!... Todas as mãos fora do prato. Primeiro temos de lavá-las, como

está prescrito.

Felipe: Deixe isso pra lá, Marcos, e comecemos a comer, estou com mais fome que a baleia de Jonas.

Marcos: De jeito nenhum. Um dia é um dia. Pelo menos uma vez no ano este bando de piolhentos precisa

comer limpo, caramba!

Felipe: Está bem, então vamos às lavações... Ei, vocês, mulheres, onde estão os jarros de água?

Madalena: Pelo que eu sei, você não é aleijado, Felipe... Pode muito bem ir buscá-los...

Maria: E você também, Tiago, que está aí todo refestelado, enquanto sua mãe sobe e desce as escadas...

Jesus: Eu vou, podem deixar...

Jesus foi o primeiro que se levantou, desceu até à cozinha e trouxe um jarro cheio de água e uma toalha...

Madalena: Venha, moreno, dê isso para mim, e vai sentar-se...

Jesus: Não, Maria, deixe-me ajudar...

Maria: Mas, filho, pelo amor de Deus, deixe disso... Susana e eu lhes lavaremos as mãos.

Felipe: Aqui, dona Maria, mais do que as mãos terá que lavar também os pés, está uma catinga...!

João: E ela está vindo do seu lado, Felipe!

Então Jesus se aproximou de Felipe, amarrou a toalha na cintura e se agachou...

Jesus: Venha cá, cabeção, ponha os pés sujos para cá...

Felipe: O que é isso, Jesus, está me gozando...?

Quando vimos Jesus lavando os pés de Felipe, começamos a rir. Pouco a pouco, nosso riso foi se

transformando em assombro... Aquele serviço só era feito pelas mulheres ou pelos escravos...

Jesus: Vamos, Pedro, que suas pantorrilhas também não estão cheirando a rosas!

Pedro: Mas, está ficando louco, moreno?... Você vai lavar os meus pés?

Jesus: Vou, Pedro. O que tem de mal?

Pedro: Jesus, você é o chefe. E um chefe tem que se fazer respeitar.

Jesus: Ah, é?... E quem disse isso, Pedro?

Pedro: Quem disse... eu é que digo, caramba! Venha, levanta-se daí e deixe esse jarro...

Jesus: Não, pedrada, aqui não há chefes nem senhores. Ninguém está acima de ninguém. E quem quiser ser

o primeiro, que se ponha como último da fila. Portanto, estique os pés para cá...

Pedro: Não, não e não. Eu disse que não.

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60 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Jesus: Tudo bem, Pedro. Então, pelo que estou vendo, você não serve para o Reino.

Pedro: O que você disse, moreno?

Jesus: Que se você não meter na cachola que aqui todos somos iguais, você não serve para o nosso grupo.

Melhor cair fora.

Pedro: Espere, espere, Jesus. Se a coisa é assim... bem, então, jogue o jarro inteiro na minha cabeça para

ver se meus miolos amolecem.

Quando Jesus acabou de lavar os pés de todos, nos apertamos mais nas esteiras para poder alcançar a

comida com as mãos... Pela clarabóia da pequena habitação entrava agora o resplendor da lua de Nisan...

Marcos: Companheiros, bom proveito para todos!

E começamos a comer o cordeiro, a molhar o pão ázimo e as verduras no molho vermelho e a levantar as

jarras cheias de vinho em nome de Javé, o Deus de Israel.

Pedro: O que foi, Jesus, está sem fome?

Jesus: Não, Pedro, tenho fome, sim. E pressa também. Acreditem, companheiros, estava com muita

vontade de comer esta Páscoa com todos vocês... porque esta será a última!

Jesus, com as pernas cruzadas sobre a esteira, nos olhou a todos, um por um...

Jesus: Sim, de verdade eu lhes digo, alegrem-se. Neste ano ainda somos escravos. No próximo ano seremos

livres!... Amigos, antes que voltemos a nos reunir assim, como nesta noite, Deus terá feito sua obra por

nós. Sim, hoje eu tenho certeza. O Reino de Deus está perto, muito perto, já não tarda!...

Jesus pegou sua taça de vinho e a levantou no meio de todos...

Jesus: Brindo pelo Reino de Deus! Companheiros, até aqui semeamos com lágrimas. Agora colheremos com

alegria!

Jesus bebeu primeiro e depois passou a taça para nós. Todos tomamos um pouco dela. Depois, levantou-se,

pegou entre as mãos a taça vazia e a arrebentou contra o chão...

Jesus: Vocês são testemunhas: não torno a provar uma gota de vinho até que chegue o Reino de Deus, até

que o Senhor mude nossa sorte como o deserto muda com as chuvas, até que a terra se abra e brote a

Justiça!

Maria: Que Deus te ouça, filho!

Mil e duzentos anos atrás, numa noite de pressa e de esperança, o Deus de Israel havia mudado a sorte de

nosso povo. Noite de vigília foi aquela para Javé, quando tirou nossos pais da terra do Egito. Os avós

contaram isso a seus netos e os netos, aos filhos, e de geração em geração a Páscoa tornava a ser noite de

vigília para todos nós em honra de Javé, o Deus da liberdade...

Depois do que aconteceu no Templo, e sabedor de um possível “passo em falso” de Judas, Jesus participou com grande tensão na celebração da ceia pascal. Durante aqueles dias, tinha vivido clandestinamente em Betânia, Jesus sabia que as autoridades haviam colocado sua cabeça a prêmio. Daí a enorme dramaticidade da ceia. Aquela celebração estava carregada de ressonâncias proféticas. Contando com a possibilidade de

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61 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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um final próximo, mas também esperando contra toda esperança que Deus o salvasse, Jesus celebrou sua última ceia pascal.

Uma ampla calçada romana atravessava Jerusalém, comunicando o bairro de Ofel, onde se amontoavam os

casebres dos pobres, com o bairro alto, no monte Sião, onde as construções eram melhores e onde muitos

dos ricos tinham os seus palácios. Entre eles estavam o de Anás e o de Caifás. Não há certeza histórica sobre

o lugar onde se celebrou a última ceia. Mas Jesus, para entrar em Jerusalém naquela tarde, ou para sair à

noite da cidade, terminada a ceia, provavelmente passou por esta calçada. E não só naquele dia, mas talvez

dezenas de vezes em suas várias visitas a Jerusalém. Um trecho desta larga rua conserva-se perfeitamente

até hoje, com vários de seus amplos degraus perto do lugar em que a tradição fixa o Cenáculo. Esse trecho

de rua é um dos poucos lugares que se conservam em Jerusalém exatamente como nos tempos de Jesus.

Na época de Jesus, os judeus contavam o tempo diário fazendo coincidir o começo do dia não com a meia-

noite ou o amanhecer como nós, mas com o pôr-do-sol. Ou, mais exatamente, com a aparição da primeira

estrela no céu. A esta hora, ao iniciar-se o dia, começava a ceia pascal, que prolongava-se até muito tarde

da noite. Existiam inclusive escritos em que se recomendava aos pais diversas distrações para manter as

crianças acordadas, que deviam permanecer em vigília com os adultos aquela noite, a mais solene de todo o

ano. Permanecer em vigília aquela noite era um importante gesto de fidelidade religiosa (Ex 12, 42).

Muitos quadros e estampas nos fizeram imaginar a última ceia de uma forma que não corresponde com os

costumes do tempo evangélico. Em primeiro lugar, pinta-se Jesus comendo só com os doze apóstolos,

quando a tradição de Israel reunia naquela noite homens e mulheres igualmente.Tudo leva a supor que

Jesus teria se reunido com os doze e com as mulheres que ordinariamente seguiam o grupo: Salomé,

Susana, Madalena, sua mãe etc. Em segundo lugar, as imagens nos apresentam os apóstolos e Jesus

sentados à mesa, como o fazemos hoje em dia. O mais provável é que os participantes daquela ceia

comeram semi-recostados, no chão, sobre esteiras ou almofadas. Nos tempos mais primitivos, os israelitas

comiam de cócoras. Mais tarde foi se impondo o costume de sentar-se à mesa ou de sentar-se no chão –

quando eram muitos para comer – em torno dos alimentos. Mas na noite de Páscoa, uma vez sentados, o

ritual obrigava a recostar-se. Estar reclinado era um símbolo de liberdade. “Enquanto os escravos têm o

costume de comer de pé, na Páscoa é preciso que comamos recostados para manifestar que passamos do

estado de escravidão para o da liberdade”, dizia uma disposição ritual da época. Especificava-se, inclusive,

que até “os mais pobres de Israel” deviam fazer a refeição reclinados, porque Israel era um povo de homens

livres.

Neste episódio, Jesus e seus companheiros, antes de começar esta ceia de libertação, põem-se de pé – sinal

da escravidão no Egito – com seus bastões nas mãos e suas sandálias calçadas. É uma lembrança das

prescrições do Êxodo para quando os israelitas saíssem naquela noite do país do faraó (Ex 12, 11). São um

símbolo da pressa daquela noite e do caminho que iriam empreender e que os levaria, pelo deserto, até à

Terra Prometida.

O vinho era um elemento básico na ceia pascal. Ordinariamente, na Palestina, não se comia com vinho.

Muito menos os pobres. Mas nas ocasiões solenes, e especialmente na Páscoa, uma característica essencial

era a abundância de vinho. Segundo o ritual, devia-se beber, no mínimo, quatro copos. Um dos costumes

daquela noite era a espera de Elias, o mensageiro do Messias. Cada ano, o povo de Israel esperava naquela

mesma noite a chegada do Messias e sua revelação definitiva como libertador do povo. Elias, que na

tradição popular era o precursor do Messias, tinha em muitas casas lugar reservado na mesa do banquete

pascal. Um antigo poema, que se chamava “As Quatro Noites”, cantava que sempre na noite da Páscoa

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62 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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aconteciam os fatos mais importantes da história: a criação do mundo, a aliança com Abraão, a libertação

do Egito... Também o Messias – e este era o quarto acontecimento – chegaria numa noite como aquela.

Para solenizar a refeição pascal, uma das prescrições era a da purificação pela água antes de comer o

cordeiro. Como as pessoas usavam sandálias, os pés eram a parte do corpo que mais se sujava durante o

dia. Os amigos de Jesus não faziam parte dos “piedosos” (fariseus) aficionados a mil e uma purificações.

Mas naquela noite, até os menos cumpridores tratavam de respeitar os ritos. Era uma forma de dar a

máxima importância ao que se comemorava na ceia.

Certamente, lavar os pés era uma missão dos criados ou escravos nas casas em que os houvesse. Quando

não os havia, as mulheres os lavavam. Mas foi Jesus quem o fez naquela noite. O gesto de Jesus deve ter

sido espontâneo, totalmente natural, nada solene ou rígido. Ele não tentou demonstrar aos demais que era

humilde. Ele o era, simplesmente. Nesta simplicidade, os discípulos leram, depois da Páscoa, a importante

mensagem nela contida: Jesus se lhes revela neste gesto como servidor, como companheiro. Este gesto não

era outra coisa que um sinal do que foi toda a sua vida: estar no meio de sua gente, “como um a mais”.

Jesus, quebrando a taça, formula o voto de não tornar a beber até que o faça de novo no Reino de Deus (Lc

22, 16). É um gesto profético cheio de significados. Consciente do perigo que o rondava, Jesus aposta na

esperança do Reino que se já avizinha e que ele vê chegar de forma iminente. Põe em Deus sua confiança,

porque vê que se avizinha também a hora do “trago ruim”. Não beber – jejuar – tem também um sentido de

“intercessão”. Jesus pede ardentemente a Deus, com este voto, que venha seu Reino.

(Lc 22, 14-18; Jo 13, 1-17)

A NOVA ALIANÇA (Cap. 111)

Jerusalém velava, com as lamparinas de suas casas acesas, banhada pela luz da lua cheia. Era quinta-feira,

13 de Nisan. Sentados sobre os mantos, ao redor das esteiras de palha, já estávamos comendo o cordeiro

pascal quando Judas, de Kariot, que havia estado calado durante toda a refeição, fez menção de levantar-

se...

Judas: Escutem, companheiros, como isso ainda vai longe, eu acho que é preciso comprar um pouco mais

de vinho...

Marcos: Não creio que vai faltar, Judas. Ainda tenho meio tonel lá na cozinha.

Judas: Mas é sempre melhor sobrar do que faltar, não acha?

Jesus: O que acontece, Judas...?

Judas: Nada, Jesus. O que poderia acontecer...?

Judas estava muito nervoso. Jesus também, embora tentasse disfarçar. Eu já o tinha advertido que o

iscariote andava muito estranho havia alguns dias... Pelo que pudesse acontecer, levei a mão ao punhal que

tinha debaixo da túnica e apartei o cabo com força...

Jesus: Sente-se, Judas... Não quer mais um pouco de molho?... Está muito gostoso.

Jesus molhou um pedaço de pão no molho vermelho e o estendeu a Judas...

Judas: Obrigado, moreno...Bom, então, eu vou comprar alguma coisa para...

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63 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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João: Maldição, iscariote, você não vai a lugar algum!

Judas: O que está acontecendo, João. Deixe-me sair.

Jesus: Sim, João, deixe-o ir...

João: Mas, Jesus...

Jesus: Deixe-o sair, João... Judas, companheiro, vai e volte logo.

Judas abriu a porta, jogou seu manto de listras sobre os ombros e desceu lentamente a escadaria de pedra

que dava para o quintal. Jesus ficou um tempo em silêncio, com o olhar perdido no quadro negro da

porta... Era noite.

Pedro: Mas, que diabos está acontecendo por aqui, caramba? Falem claro!

Marcos: Ei, João, o que está havendo com Judas? Por que você não queria que ele saísse, heim? Vamos,

deixe de mistérios...

Mateus: Falem de uma vez, caramba... O que vocês estão querendo, que o cordeiro nos atravesse na

garganta?

Voltei a sentar-me no chão, olhando Jesus, sem atrever-me a dizer nada...

André: O que está acontecendo, moreno? Desembuche, homem...

Jesus levantou os olhos do prato. Olhava-nos com tristeza, com preocupação...

Jesus: Quando o lobo aparece, cada ovelha foge pro seu lado. Companheiros, as coisas ficaram difíceis,

mais difíceis do que nunca...

Jesus ficou um momento calado. Sua fronte larga estava marcada pelas rugas e empapada de suor... Todos

estávamos inquietos. A Madalena começou a soluçar abraçando-se em Maria...

Pedro: Diabos, Jesus, por que você disse isso agora?

Jesus: Porque qualquer um de nós pode falhar.

André: De quem você está falando?... De Judas?

Jesus: Não. Falo isso de todos...

André: De mim você não fala, moreno!... Não, não me olhe assim...

Mateus: Nem de mim... suponho. Eu sou um covarde, é verdade, mas eu... eu...

Pedro: Vamos falar claro de uma vez, porcaria! Está bem, está bem, qualquer um pode falhar... Pois que

cada qual responda por si! Eu respondo por mim, e lhe digo que se todos estes fugirem agora mesmo e o

deixarem sozinho, eu nunca farei isso. Juro pela Rufina e por todos os meus filhos.

Jesus: Não jure, Pedro.

Pedro: Juro porque é verdade o que estou dizendo! Ou não me chamo Simão!

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64 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Jesus: Não, Pedro, você também pode falhar, igual a qualquer um. Não encha a boca com juramentos...

Sim, você, você... Se esta noite as coisas se puserem feias, antes do cantar dos galos você já teria se

esquecido que nos conhecia...

Pedro: O que é isso, moreno! Então é você que não me conhece! Prefiro morrer do que falhar com você!

Que chova sobre o molhado e juro sobre o jurado!... E todos vocês são testemunhas!

João: Jesus, não seja tão pessimista, homem. Claro que as coisas estão más, mas tenha certeza de que aqui

ninguém dará para trás.

Madalena: O que João disse, nós também dizemos, diacho!... Não fique tão sombrio, Jesus, que a salada já

está amarga por demais...

Aquela hora não se apaga da minha memória. Jesus, com as pernas cruzadas sobre a esteira, foi nos

olhando a todos, um por um, e quando começou a falar sentimos que suas palavras vinham do mais fundo

do seu coração...

Jesus: Companheiros, quero agradecer a vocês tudo o que pudemos fazer juntos durante este tempo. O

caminho foi muito curto, mas também muito difícil. Até aqui estivemos unidos... Vocês foram meus amigos,

estiveram ao meu lado nos momentos ruins e em tantos momentos bons... De verdade, eu os amei com

toda minha alma...

Jesus deixou cair as mãos sobre os joelhos. Seus olhos estavam cheios de lágrimas...

Jesus: Temos que continuar unidos, até o final, aconteça o que acontecer...

Maria: Mas, Jesus, filho, por que está falando assim? O que é que vai acontecer?

Jesus: Não sabemos, mamãe, mas aconteça o que acontecer, temos que nos manter unidos e nos estreitar-

nos uns contra os outros... Em grupo, sempre em grupo.

Então Jesus, com suas mãos grandes e calosas, tomou uma das tortas de pão que estava sobre a esteira...

Jesus: Estreitar-nos uns aos outros, como se estreitam os grãos de trigo para formarem este pão... As

espigas estavam dispersas pelas colinas e pelos montes e se uniram para fazer esta massa. Nós devemos

estar unidos, assim, da mesma forma que esses grãos...

Jesus olhava o pão dourado e crocante que as mãos de sua mãe havia amassado, o pão ázimo da grande

festa da Páscoa.

Jesus: Amigos, nossos pais comeram no Egito um pão de aflição. Em uma noite como esta, eles também

sentiam angústia e tinham medo e se reuniram para comê-lo com pressa, esperando a passagem de Deus

por aquela terra de escravidão e miséria... E Deus passou e aquele pão foi para eles um pão de liberdade...

Durante muitos meses anunciamos a boa notícia de que Deus está do nosso lado, de que Deus escolheu a

nós, os pobres deste mundo, para dar-nos seu Reino, a nós que amassamos esse pão com suor e lágrimas...

Durante muitos meses lutamos para que as coisas mudem, para que o pão chegue a todos... Talvez seja

esta a última vez que comemos juntos...Tudo bem, não importa... Coloco minha sorte nas mãos de Deus e

ponho minha vida neste pão!... Lembrem-se de mim quando se reunirem para compartilhá-lo... Quando

fizerem isso, eu sempre estarei com vocês...

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65 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Jesus partiu a torta de pão ázimo em muitas partes e todos comemos um pedaço... Depois, pegou com mão

firme uma jarra e com ela encheu uma taça que tinha diante de si... No vinho, vermelho e fresco, refletiam-

se as luzes das lamparinas...

Jesus: Como poderemos pagar ao Senhor todo o bem que ele nos fez?... Levantemos este copo de

libertação e alegremo-nos em seu nome!... Amigos, quando Deus tirou nossos pais da escravidão do Egito,

levou-os à montanha do Sinai e ali fez com eles uma aliança. Um pacto de sangue. Com o sangue de muitos

animais, Moisés aspergiu o povo... Já não é preciso sangue de mais animais... Este vinho foi feito com o

suco de muitas uvas pisadas e espremidas no lagar... É o sangue de todos os inocentes que morreram,

volvendo seus olhos ao céu, sem saber por que morriam... É o sangue de todos os que caíram lutando pela

liberdade de seus irmãos... Eu também ponho meu sangue neste vinho. Com este sangue Deus faz uma

nova aliança para libertar o povo de todas as escravidões...

Jesus passou-me a taça cheia até à boca e eu a passei a Pedro e Pedro a Maria... Todos bebemos um gole

daquele vinho forte e cheiroso...

Jesus: Sim, de verdade, eu sempre estarei com vocês e vocês sempre estarão comigo, como estamos nesta

noite comendo do mesmo pão e bebendo do mesmo copo. Temos que nos amar muito uns aos outros,

estar dispostos a apostar a vida uns pelos outros... Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida

pelo seu povo... Sim, temos que estar dispostos a que partam nosso corpo como se parte o pão e que

derramem nosso sangue, como se derrama o vinho. Não podemos perder a esperança em Deus... Nós

também, um dia, alcançaremos a liberdade...

Maria: Ai, filho, não sei, mas você está falando como se estivesse se despedindo...

Jesus: Mamãe, já lhes disse que as coisas estão muito mal...

João: Jesus, por Deus, pare de rodeios e diga de uma vez...

Pedro: É sempre a mesma coisa!... Mas, o que está acontecendo, homem?

Todos nós tínhamos os olhos cravados em Jesus...

Jesus: Companheiros... houve uma traição.

Pedro: Mas, o que você está dizendo? De quem está falando? De Judas, não é mesmo?

João: Sim, suspeitamos dele. O iscariote anda muito estranho nesses últimos dias... Ou será que vocês não

enxergam?

Pedro: E, aonde foi esse condenado, heim? Aonde foi?

Jesus: Não sabemos, Pedro. Não sabemos que planos ele tem.

Mateus: Se tivesse sido eu... eu que sempre tive bons amigos entre os lá de cima... Mas, Judas, por que ele?

Todos nós olhamos Mateus, o cobrador de impostos. Com os olhos brilhantes parecia pedir-nos perdão por

uma traição que sempre tivera ao alcance da mão, muito mais que qualquer um de nós...

Marcos: Agora não importa por quê ele fez. O que importa agora é sair já desta casa.

Pedro: É isso mesmo! Se Judas foi cagüetar, virão atrás da gente aqui...

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66 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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Marcos: Vamos lá, não há tempo a perder!...

André: Puxa vida, moreno, por que você não disse antes? A essas horas já estarão na nossa pista!

Marcos: Depressa, peguem seus mantos e vamos embora!

Maria: Mas, para onde... para onde vocês vão?

Madalena: Ai, Deus bendito, ampara-nos!

Marcos: As mulheres ficam. Ninguém vai se meter com vocês. Aqui estarão mais seguras... Nós vamos para

o monte, àquele horto que eu tenho lá perto do Cedron. Há umas grutas lá para a gente se esconder.

Pedro: Boa idéia, Marcos.

Marcos: Não se fala mais nisso. Temos que passar esta noite longe desta casa... E eu vou lhes dizer uma

coisa: amanhã, antes que amanheça, vão para a Galiléia. Eu me encarrego de tirá-los da cidade. Vocês não

podem ficar aqui em Jerusalém nem um dia mais...

Madalena: Isso, a Galiléia! Esta cidade está amaldiçoada pelos quatro lados!

Jesus: Eu não vou voltar para a Galiléia. Ainda nos resta muitas coisas para fazer em Jerusalém.

André: Venha, moreno, não seja maluco!

Marcos: Jesus, se mostrar a cara eles os pegarão e se Judas bateu com a língua nos dentes, vão procurar

até encontrá-lo...

Maria: Mas, Deus meu, como é possível que esse moço fez uma coisa dessas?

Marcos: Deixe isso pra lá, Maria. Seja o que for, o que é preciso é sair daqui. Vamos embora!

João: Pedro, pegue essas duas espadas, por precaução!

Pedro: Safado do Judas! Eu o faria em pedaços!

Marcos: Iremos pelo caminho mais curto... Vocês, mulheres, fiquem tranqüilas, não acontecerá nada com

vocês... E nem pensar em dizer a alguém onde estamos! Nem ao próprio anjo do céu, se ele aparecer!...

Andando, companheiros!... E separados, sem formar grupos. Vamos logo!

Saímos depressa, sem olhar para trás, como fizeram nossos pais na noite em que Deus passou pelo Egito,

com mão forte e braço estendido, para tirá-los da escravidão do faraó.

Logo que Judas saiu do lugar em que estavam reunidos, Jesus experimentaria com ainda maior ansiedade a

tensão que caracterizou aquela ceia pascal. Fala de “traição”, o horizonte começa a se fechar. A fé no Deus

libertador se tornará para ele, a partir deste momento, mais árdua, mais dolorosa, mais dramática. Neste

marco se inaugurará uma nova aliança, novos laços para a comunidade dos que continuarão no mundo o

projeto que ele ia deixar apenas começado.

Era costume que na ceia de Páscoa quem presidisse a celebração – o pai de família, ou se não estivesse, a

mãe ou o mais velho do grupo – cumprisse o rito de explicar passo a passo a cerimônia para os demais. Era

um costume que todos cumpriam fielmente naquela noite. O mais jovem ia perguntando ao mais velho o

significado simbólico das orações, do cordeiro, dos pães... As palavras de Jesus na ceia, dando ao pão e ao

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67 Páscoa Juvenil: um jeito jovem de vivenciar a Páscoa

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vinho um sentido tão especial, devem ser enquadradas neste costume de séculos. Não estavam isoladas do

resto da cerimônia. Era totalmente coerente com as tradições da ceia que quem presidia explicasse que

sentido tinha o pão, e que sentido tinha o vinho que estavam comendo e bebendo naquela noite.

É típico da mentalidade israelita, como da de outros povos orientais, a crença de que comer juntos une os

comensais em comunidade. Para eles é algo muito sério e muito profundo o comer juntos: vincula uns aos

outros, é sinal de uma fraternidade que permanece para além do momento da refeição. Jesus e seus amigos

foram criados nesse ambiente. Quando o que presidia a mesa – no caso Jesus – abençoava o pão ao iniciar-

se a refeição, ficava constituída a comunidade. Por outro lado, era habitual em todas as refeições que

aquele que presidia – geralmente o pai de família – partisse o pão e desse um pedaço para cada comensal.

O mesmo se pode dizer do vinho. Era habitual usar-se um copo comum, que passava de mão em mão

durante a refeição e do qual todos bebiam. Esses gestos não eram nem especiais nem “misteriosos”. Eram

algo totalmente cotidiano e todos os que comeram com Jesus naquela noite tinham visto fazer aquilo desde

a infância. Além de serem gestos familiares a todos, entendia-se que ao comer o pão e beber o vinho todos

participavam da bênção pronunciada antes de distribuí-los.

Jesus parte o pão e o reparte e passa entre todos o copo de vinho. No pão “partido” Jesus indica um sinal de

vida compartilhada até o extremo, até o último, até à morte se for necessário. No vinho vermelho Jesus

oferece um sinal do sangue derramado pelos demais, entregue generosamente para que fecunde a terra

para a chegada do Reino de Deus.

A Eucaristia que os cristãos celebram até hoje, repartindo os gestos e símbolos que Jesus realizou naquela

noite pascal, deve ser entendida no mesmo sentido. Trata-se de uma comunhão de mesa que deve se tornar

comunhão de vida. Não podemos limitar a comunhão ao comer o Pão e beber do Cálice. A comunhão tem

que se dar na vida. É preciso levar em conta que os primeiros cristãos não entendiam suas celebrações

eucarísticas como uma mera repetição formal do que Jesus havia feito unicamente na quinta-feira santa,

mas uma continuação de sua vida comunitária com ele, como vivência através do tempo daquelas muitas

refeições que compartilharam juntos, com todo o profundo significado que tinham para eles.

Dos textos que chegaram até nós da ceia e das palavras que Jesus disse a seus amigos naquela noite, a

partir das quais a Igreja cristã celebra o memorial da Eucaristia, o mais antigo de todos não está nos

evangelhos. É o que Paulo recolhe em sua primeira Carta aos Coríntios (11, 23-25). Nesta fórmula que Paulo

conservou, fala-se de uma “nova aliança”. Há um momento central na história de Israel: quando Moisés

asperge o povo com o sangue do sacrifício dos novilhos imolados no Monte Sinai e consagra os israelitas

como povo de Deus (Ex 24, 1-8). Jesus, com sua vida entregue até o derramamento de sangue, inaugura

uma nova aliança entre Deus e os homens. Uma aliança, porque a vida dos cristãos é um compromisso,

pacto de entrega. Nova porque com Jesus todas as antigas formas religiosas (culto, sacrifícios) ficam

superadas.

Ao explicar o significado do pão e do vinho, como era habitual na ceia da Páscoa, Jesus diz que ele

“entrega” sua vida pelos demais. Já no tempo de Jesus entendia-se que a morte de um inocente – uma

criança, um homem vítima da injustiça – tinha “um valor” como resgate para o povo. Essas mortes eram um

grito diante de Deus. Um grito de intercessão pela comunidade. Isto já aparece no Livro dos Macabeus,

escrito uns cento e cinqüenta anos antes de Jesus. Na mentalidade do povo fiel entendia-se que a morte de

um homem justo aproximava o dedo de Deus da história, trazendo-lhe uma fecundidade libertadora e o

perdão dos pecados do povo. Jesus teve consciência de ser um profeta mensageiro definitivo do Reino de

Deus e, por vezes, teve o pressentimento seguro de que sua vida terminaria de forma violenta. Quando ele

se perguntou pelo sentido de sua morte deve ter se respondido com estas idéias do mundo crente em que

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vivia. Nas palavras do profeta Isaías (Is 53, 1-12) que falam por vezes do fracasso e do êxito, de humilhação

e de prêmio, de dor e de esperança, Jesus encontraria uma luz no meio daquela noite de incertezas em que

seu coração se envolveu com tanta intensidade com o Deus de quem tudo esperava.

(Mt 26, 26-35; Mc 14, 2-31; Lc 22, 19-23; e 31-38; Jo 13, 21-38; 15, 4-15)

f) Cale-se

(Chico Buarque)

Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue...(2x)

Como beber Dessa bebida amarga Tragar a dor Engolir a labuta Mesmo calada a boca Resta o peito Silêncio na cidade Não se escuta De que me vale Ser filho da santa Melhor seria Ser filho da outra Outra realidade Menos morta Tanta mentira Tanta força bruta...

Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue...

Como é difícil Acordar calado Se na calada da noite Eu me dano Quero lançar Um grito desumano Que é uma maneira De ser escutado Esse silêncio todo Me atordoa Atordoado Eu permaneço atento Na arquibancada Prá a qualquer momento

Ver emergir O monstro da lagoa...

Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue...

De muito gorda A porca já não anda (Cálice!) De muito usada A faca já não corta Como é difícil Pai, abrir a porta (Cálice!) Essa palavra Presa na garganta Esse pileque Homérico no mundo De que adianta Ter boa vontade Mesmo calado o peito Resta a cuca Dos bêbados Do centro da cidade...

Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue...

Talvez o mundo Não seja pequeno (Cale-se!) Nem seja a vida Um fato consumado (Cale-se!) Quero inventar O meu próprio pecado (Cale-se!)

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Quero morrer Do meu próprio veneno (Pai! Cale-se!) Quero perder de vez Tua cabeça (Cale-se!) Minha cabeça Perder teu juízo

(Cale-se!) Quero cheirar fumaça De óleo diesel (Cale-se!) Me embriagar Até que alguém me esqueça (Cale-se!)

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Conclusão

Ajudar a juventude a celebrar e vivenciar o mistério central da fé cristã “de um jeito jovem”

responde a uma das necessidades pastorais mais urgentes da Igreja no atual contexto do mundo pós-

moderno, onde o mero repasse de conteúdos e informações (via catequese) se revela, na maioria dos

casos, repetitivo e cansativo e, por isso mesmo, pouco significativo e cativante para um público que,

paradoxalmente, busca ao mesmo tempo novidades e referenciais profundos e duradouros no processo de

construção do seu projeto de vida.

Nessa tarefa empolgante de anunciar a sempre válida Boa Notícia do Reino a gerações jovens em

contínua transformação, desejamos que, assim como tentamos fazer com a Páscoa Juvenil, os

evangelizadores da juventude saibam sempre agir, nas propostas que eles fazem aos jovens, como os

escribas sábios que estão sempre dispostos a tirar “do seu depósito coisas novas e coisas velhas” (Mt.

13,52), movidos pela convicção pedagógica de que, como diria o profeta que descobriu o segredo da eterna

juventude: “Feliz de quem entende que é preciso mudar muito pra ser sempre o mesmo” (Dom Hélder

Câmara).

Esperamos, portanto, que este pequeno subsídio possa auxiliar catequistas, animadores e

assessores de juventude que estejam dispostos a vivenciarem, juntamente com os jovens, experiências

mais atrativas e significativas de evangelização da juventude.

Timon – MA, dezembro de 2011.

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Referências

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CNBB, 2010.

COVARRUBIAS, Gustavo Rodríguez. Galera jovem construindo a paz: manual de educação para a paz. São

Luís: Estação Gráfica, 2006.

LOZANO, Isidro; PACHECO, José Rodríguez. ...Y prepararon la Pascua / I: del desencanto a la esperanza.

Experiencias pascuales en ambientes juveniles. Col. Celebrar y orar. Madrid: Editorial CCS, 2001.

_______ . ...Y prepararon la Pascua / 2: por los caminhos de la vida. Experiencias pascuales en ambientes

juveniles. Col. Celebrar y orar. Madrid: Editorial CCS, 2002.

_______ . ... Y prepararon la Pascua / 3: abriendo puertas. Experiencias pascuales en ambientes juveniles.

Col. Celebrar y orar. Madrid: Editorial CCS, 2003.

MAYER, Canísio. Encontros que marcam: dinâmicas, encontros, orações, exercícios, mensagens,

celebrações, reflexões. São Paulo, Paulus, 2001.

_______ . Viver e conviver: dinâmicas e textos para diferentes momentos. 8 ed. São Paulo: Paulus, 2003.

SERVICIOS Koinonia. La página de Cerezo Barredo. Disponível em: <http://servicioskoinonia.org/cerezo/>.

Acesso em: 15 ago. 2011.

VIGIL, José María López; VIGIL, José Ignácio López. Um tal Jesus. In: Instituto Paulista da Juventude.

Disponível em: <http://sites.google.com/site/insitutopaulistadejuventude/um-tal-jesus/download-da-

serie>. Acesso em: 10 jun. 2011.

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“Com criatividade pastoral é importante apresentar e

testemunhar Jesus Cristo dentro do contexto em que o

jovem vive hoje e como resposta às suas angústias e

aspirações mais profundas”.

CNBB, Evangelização da Juventude, 54.