Paíspagará - ETH Z · equipamentos de pesquisa domundo. O grupo de Michel Mayor, do...

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ciência EF SEXTA-FEIRA, 24 DE DEZEMBRO DE 2010 C9 Brasil gastará €250 mi com observatório País pagará para entrar em consórcio europeu que possui equipamentos para pesquisa astronômica de ponta Valor será 50% menor do que foi pedido pelo consórcio de países da Europa; acordo deverá ser assinado no dia 29 SALVADOR NOGUEIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Papai Noel foi generoso com a comunidade astronô- mica brasileira. O Ministério da Ciência e Tecnologia e o ESO (Observatório Europeu do Sul) chegaram a um con- senso para a entrada do país no consórcio, a um custo de cerca de €250 milhões (o equivalente a quase R$ 555 milhões) em 11 anos . O acordo, ao qual a Folha teve acesso, está no momen- to sendo analisado pelo Mi- nistério do Planejamento (de onde sairá a verba) e passará por pequenos ajustes de tex- to na pasta das Relações Ex- teriores, antes que a versão definitiva possa ser assinada pelo ministro Sérgio Rezende (MCT) e pelo diretor-geral do ESO, Tim de Zeeuw. Se tudo correr bem, a ceri- mônia de assinatura deve acontecer na próxima quar- ta-feira, dia 29, em Brasília. A partir daí, o Brasil será o primeiro país que não faz parte da Europa a fechar com o consórcio (excetuando-se naturalmente o Chile, que hospeda as instalações). A negociação tinha esfria- do depois que os termos ori- ginais apresentados pela or- ganização europeia foram re- chaçados pelo governo brasi- leiro, em setembro. Mas, num movimento sur- preendente, o ESO decidiu ceder e suavizar um pouco o custo para o Brasil, viabili- zando o negócio. CIFRAS A organização europeia tem interesse no ingresso de novos membros para ajudar a financiar o seu futuro supe- robservatório, o E-ELT (Te- lescópio Extremamente Grande), que terá 42 m de abertura e deve ser inaugura- do em uma década. O resultado foi celebrado pelos envolvidos na negocia- ção. Num e-mail trocado in- ternamente no MCT, um as- sessor descreve o sentimen- to: “As equipes negociadoras comemoram como se tivésse- mos conquistado a Copa do Mundo. Com gols até no últi- mo minuto”. CUSTO REDUZIDO “Foi uma redução de qua- se 50% no custo original”, disse à Folha, por telefone, o ministro Sérgio Rezende. O Brasil ficou isento de uma contribuição adicional que está sendo imposta aos outros membros, no valor de €250 milhões, para a cons- trução do E-ELT , próximo grande projeto do ESO. Outra grande vitória foi o abatimento da anuidade a ser paga pelo país como membro do consórcio. Normalmente o ESO usa o PIB (Produto Interno Bruto) de cada país como critério para determinar quanto é preciso pagar. O governo brasileiro, no entanto, mostrou que a ri- queza nacional não guarda a mesma proporção que a dos outros países do grupo quan- do se leva em conta a divisão per capita e o fato de que a comunidade astronômica brasileira não é, proporcio- nalmente, tão numerosa. Como resultado dessa ar- gumentação, o ESO decidiu promover um aumento gra- dual da anuidade brasileira. Em 2012, por exemplo, o país pagará 25% do valor cal- culado com base no PIB. A porcentagem vai subindo até chegar aos 100%, em 2021. Apesar dessas condições especiais, o país preserva na integralidade seus direitos como membro regular da or- ganização. Isso inclui a submissão de projetos de pesquisa para uso de toda a infraestrutura do observatório (trata-se da maior instituição de pesqui- sa astronômica do mundo). VAI E VOLTA Outra grande vantagem celebrada pelo governo é a possibilidade de empresas brasileiras disputarem as li- citações ligadas à instituição. “A Queiróz Galvão, por exemplo, está terminando um grande empreendimento no Chile com 2.000 funcioná- rios. Está pronta para come- çar a obra de preparação do terreno para a construção do E-ELT, cortar o cume do mor- ro e fazer uma estrutura pla- na”, disse Rezende. “As empresas brasileiras têm muito interesse e vão ter acesso, com a vantagem competitiva de estar muito mais perto do Chile [que as concorrentes europeias].” O ministro destaca que ha- verá benefícios em outros se- tores, além da construção ci- vil. “Na área técnica e de alta tecnologia, as empresas tam- bém terão grandes oportuni- dades. Lembre-se de que o Soar [telescópio brasileiro e americano construído no Chile] teve diversas peças fa- bricadas no Brasil.” BRASIL SERÁ MEMBRO DO ESO OS DIREITOS Governo brasileiro conseguiu negociar um desconto substancial para ser membro do ESO (Observatório Europeu do Sul). Ainda assim, prevê-se um gasto de cerca de € 250 milhões nos próximos 11 anos ACESSO ÀS INSTALAÇÕES O Brasil terá direito a submeter projetos para uso de todos os telescó- pios do ESO, inclusive o famoso VLT, composto por quatro telescópios com abertura de , m LICITAÇÕES Empresas brasileiras terão o mesmo direito de disputar as licitações promovidas pelo ESO, inclusive as voltadas para o telescópio gigante em fase de planejamento ISENÇÃO O país não terá de contribuir na construção do E-ELT (Telescópio Extrema- mente Grande), como os demais membros CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL Do valor total, milhões serão pagos em parcelas distribuídas entre e ANUIDADE O ESO aplica um método de cálculo da anuidade de cada membro com base no PIB de cada país. O Brasil terá descontos OS DEVERES Vista aérea do sistema de telescópios VLT no deserto do Chile Veja a integra do acordo no folha.com/ciencia ESO/Divulgação A entrada do Brasil no ESO muda escala da nossa astronomia. Há um reconhecimento de que estamos preparados para participar da maior instituição do mundo na área SÉRGIO REZENDE Ministro de Ciência e Tecnologia Vamos pagar uma enormidade de dinheiro para que os europeus façam ciência JOÃO STEINER Astrônomo do IAG/USP Participação tem apoio dos pesquisadores COLABORAÇÃO PARA A FOLHA A comunidade astronômi- ca brasileira, de forma geral, é favorável ao esforço para fazer parte do ESO. “A grande maioria é a fa- vor, e em reunião da Socieda- de Astronômica Brasileira, foi decidido que é isso sim que queremos”, afirma Bea- triz Barbuy, pesquisadora do IAG (Instituto de Astrono- mia, Geofísica e Ciências At- mosféricas) da USP. Com o acordo, os pesqui- sadores poderão planejar projetos que envolvam al- guns dos mais sofisticados equipamentos de pesquisa do mundo. O grupo de Michel Mayor, do Observatório de Genebra, por exemplo, se tornou o mais importante caçador de planetas fora do Sistema So- lar graças às instalações do ESO. E o VLT (Telescópio Muito Grande) é líder em pes- quisas de ponta, em diversos segmentos da astronomia. Agora, tudo isso vem com um desafio: os projetos brasi- leiros terão de ser tão bons ou melhores que os europeus. Diferentemente dos outros acordos de uso de telescó- pios estrangeiros, como o Ge- mini, no ESO o Brasil não tem um tempo específico de utili- zação reservado. Os projetos dos países- membros são julgados pelo mérito, e se faltar qualidade na produção brasileira, há o risco de pagar e não levar. O MCT avalia que esse é um risco menor. “Isso será uma mudança de escala para a astronomia brasileira”, diz o ministro Sérgio Rezende. Mas há quem discorde dessa avaliação. Entre eles está João Steiner, do IAG, que participou ativamente das últimas ampliações da in- fraestrutura brasileira para a astronomia, com a entrada no Gemini e a construção do telescópio Soar, no Chile. Mesmo os descontos feitos pelo ESO não o convencem. “Continuo achando o que sempre achei: esse acordo é uma total irresponsabilida- de”, diz. “Nós vamos pagar uma enormidade de dinheiro para os europeus fazerem ciência.” (SN) FOTOSSÍNTESE ARTIFICIAL Como funciona o aparelho Radiação solar concentrada Saída de O ,H e CO Entrada de H e CO Isolamento de alumínio Cério poroso Janela de quartzo A radiação solar concentrada entra por uma janela e atinge a o Cério poroso nas paredes internas do aparelho Os gases que entram pelas laterais e reagem com o Cério na cavidade interna e são expelidos em forma de hidrogênio, oxigênio e carbono Cientistas testam fotossíntese artificial Experimento com gases e energia solar pode levar à produção de combustível ‘verde’ SABINE RIGHETTI DE SÃO PAULO Cientistas dos EUA e da Suíça estão tentando imitar o que as plantas fazem ao con- verter CO 2 e água em carboi- dratos e oxigênio na presen- ça de clorofila e luz do Sol. Por meio de uma máquina do tamanho aproximado de um computador, desenvolvi- da pelos próprios cientistas, eles conseguiram fazer uma “fotossíntese artificial”. A invenção que, está pu- blicada na última edição da revista científica “Science”, poderá resultar em combus- tíveis mais sustentáveis no futuro, com base em energia solar ou hidrogênio. O aparelho criado pelos pesquisadores captura radia- ção solar na sua parte supe- rior e H 2 O (água) e CO 2 (gás carbônico) nas laterais (veja infográfico ao lado). No interior da máquina, em altas temperaturas, a ra- diação solar e os gases captu- rados reagem com Cério— um elemento químico bas- tante usado pela indústria. A máquina, então, expele oxigênio, hidrogênio e mo- nóxido de carbono. “A dissociação termoquí- mica da água e do gás carbô- nico é um caminho atraente para a produção de combus- tível solar eficientemente e em altas taxas no futuro”, ex- plica Aldo Steinfeld, do Insti- tuto Paul Scherrer (Suíça), um dos autores do trabalho. A tentativa dos cientistas imitarem a natureza na pro- dução de energia via fotos- síntese não é uma novidade. Mas a baixa eficiência das conversões já experimenta- das, especialmente na redu- ção de CO 2 , fez com que mui- tos pesquisadores desistis- sem da ideia. Além de eficiente, a má- quina apresentada agora pe- los cientistas utiliza Cério no lugar de metais preciosos (ra- ros e caros), testados em me- todologias anteriores. “O Cério é um óxido metá- lico abundante na natureza e adequado para reações de oxirredução [transferência de elétrons entre sustâncias] por causa da sua rápida de reação”, disse Steinfeld. “O material já está ade- quado para aplicações mais realistas”, conclui. Cubo de gelo gigante ajudará na busca por matéria escura folha.com/ciencia

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ciênciaEFSEXTA-FEIRA, 24 DE DEZEMBRO DE 2010 C9

Brasil gastará €250 mi com observatórioPaís pagará para entrar em consórcio europeu que possui equipamentos para pesquisa astronômica de ponta

Valor será 50% menordo que foi pedido peloconsórcio de países daEuropa; acordo deveráser assinado no dia 29

SALVADOR NOGUEIRACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Papai Noel foi generosocom a comunidade astronô-mica brasileira. O Ministérioda Ciência e Tecnologia e oESO (Observatório Europeudo Sul) chegaram a um con-senso para a entrada do paísno consórcio, a um custo decerca de €250 milhões (oequivalente a quase R$ 555milhões) em 11 anos.

O acordo, ao qual a Folhateve acesso, está no momen-to sendo analisado pelo Mi-nistério do Planejamento (deonde sairá a verba) e passarápor pequenos ajustes de tex-to na pasta das Relações Ex-teriores, antes que a versãodefinitiva possa ser assinadapelo ministro Sérgio Rezende(MCT) e pelo diretor-geral doESO, Tim de Zeeuw.

Se tudo correr bem, a ceri-mônia de assinatura deveacontecer na próxima quar-ta-feira, dia 29,em Brasília.

A partir daí, o Brasil será oprimeiro país que não fazparte da Europa a fechar como consórcio (excetuando-senaturalmente o Chile, quehospeda as instalações).

A negociação tinha esfria-do depois que os termos ori-ginais apresentados pela or-ganização europeia foram re-chaçados pelo governo brasi-leiro,em setembro.

Mas, num movimento sur-preendente, o ESO decidiuceder e suavizar um pouco ocusto para o Brasil, viabili-zando o negócio.

CIFRASA organização europeia

tem interesse no ingresso denovos membros para ajudara financiar o seu futuro supe-robservatório, o E-ELT (Te-lescópio ExtremamenteGrande), que terá 42 m deabertura e deve ser inaugura-do em uma década.

O resultado foi celebradopelos envolvidos na negocia-ção. Num e-mail trocado in-ternamente no MCT, um as-sessor descreve o sentimen-to: “As equipes negociadorascomemoram como se tivésse-mos conquistado a Copa doMundo. Com gols até no últi-mo minuto”.

CUSTO REDUZIDO“Foi uma redução de qua-

se 50% no custo original”,disse à Folha, por telefone, o

ministro Sérgio Rezende.O Brasil ficou isento de

uma contribuição adicionalque está sendo imposta aosoutros membros, no valor de€250 milhões, para a cons-trução do E-ELT , próximogrande projetodo ESO.

Outra grande vitória foi oabatimento da anuidade aser paga pelo país comomembro do consórcio.

Normalmente o ESO usa oPIB (Produto Interno Bruto)de cada país como critériopara determinar quanto éprecisopagar.

O governo brasileiro, noentanto, mostrou que a ri-queza nacional não guarda amesma proporção que a dosoutros países do grupo quan-do se leva em conta a divisãoper capita e o fato de que acomunidade astronômicabrasileira não é, proporcio-nalmente, tão numerosa.

Como resultado dessa ar-gumentação, o ESO decidiupromover um aumento gra-dualda anuidadebrasileira.

Em 2012, por exemplo, opaís pagará 25% do valor cal-culado com base no PIB. Aporcentagem vai subindo atéchegar aos 100%, em 2021.

Apesar dessas condiçõesespeciais, o país preserva naintegralidade seus direitoscomo membro regular da or-ganização.

Isso inclui a submissão deprojetos de pesquisa parauso de toda a infraestruturado observatório (trata-se damaior instituição de pesqui-sa astronômica do mundo).

VAI E VOLTAOutra grande vantagem

celebrada pelo governo é apossibilidade de empresasbrasileiras disputarem as li-citações ligadas à instituição.

“A Queiróz Galvão, porexemplo, está terminandoum grande empreendimentono Chile com 2.000 funcioná-rios. Está pronta para come-çar a obra de preparação doterreno para a construção doE-ELT, cortar o cume do mor-ro e fazer uma estrutura pla-na”, disse Rezende.

“As empresas brasileirastêm muito interesse e vão teracesso, com a vantagemcompetitiva de estar muitomais perto do Chile [que asconcorrentes europeias].”

O ministro destaca que ha-verá benefícios em outros se-tores, além da construção ci-vil. “Na área técnica e de altatecnologia, as empresas tam-bém terão grandes oportuni-dades. Lembre-se de que oSoar [telescópio brasileiro eamericano construído noChile] teve diversas peças fa-bricadas no Brasil.”

BRASIL SERÁ MEMBRO DO ESO

OS DIREITOS

Governo brasileiro conseguiu negociar um descontosubstancial para ser membro do ESO (ObservatórioEuropeu do Sul). Ainda assim, prevê-se um gasto decerca de € 250 milhões nos próximos 11 anos

ACESSO ÀSINSTALAÇÕES

O Brasil terá direito asubmeter projetos parauso de todos os telescó-pios do ESO, inclusive ofamoso VLT, compostopor quatro telescópioscom abertura de 8,2m

1 LICITAÇÕESEmpresas

brasileiras terão omesmo direito dedisputar as licitaçõespromovidas pelo ESO,inclusive as voltadaspara o telescópio giganteem fase de planejamento

2 ISENÇÃOO país não terá

de contribuir naconstrução do E-ELT(Telescópio Extrema-mente Grande), comoos demais membros

1 CONTRIBUIÇÃOESPECIAL

Do valor total,€ 130milhões serãopagos em 11 parcelasdistribuídas entre 2011e 2021

2 ANUIDADEO ESO aplica um

método de cálculo daanuidade de cadamembro com base noPIB de cada país.O Brasil terá descontos

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OS DEVERES

Vista aérea do sistemade telescópios VLTno deserto do Chile

Veja a integrado acordo nofolha.com/ciencia

ESO/Divulgação

“A entrada doBrasil no ESO mudaescala da nossaastronomia. Há umreconhecimento deque estamospreparados paraparticipar da maiorinstituição do mundona áreaSÉRGIO REZENDEMinistro de Ciência e Tecnologia

Vamos pagar umaenormidade dedinheiro para que oseuropeus façamciênciaJOÃO STEINERAstrônomo do IAG/USP

Participação tem apoio dos pesquisadoresCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A comunidade astronômi-ca brasileira, de forma geral,é favorável ao esforço parafazerpartedo ESO.

“A grande maioria é a fa-vor, e em reunião da Socieda-de Astronômica Brasileira,foi decidido que é isso simque queremos”, afirma Bea-triz Barbuy, pesquisadora doIAG (Instituto de Astrono-mia, Geofísica e Ciências At-mosféricas)da USP.

Com o acordo, os pesqui-sadores poderão planejarprojetos que envolvam al-guns dos mais sofisticadosequipamentos de pesquisadomundo.

O grupo de Michel Mayor,do Observatório de Genebra,

por exemplo, se tornou omais importante caçador deplanetas fora do Sistema So-lar graças às instalações doESO. E o VLT (TelescópioMuito Grande) é líder em pes-quisas de ponta, em diversossegmentos daastronomia.

Agora, tudo isso vem comum desafio: os projetos brasi-leiros terão de ser tão bons oumelhores que os europeus.Diferentemente dos outrosacordos de uso de telescó-pios estrangeiros, como o Ge-mini, no ESO o Brasil não temum tempo específico de utili-zação reservado.

Os projetos dos países-membros são julgados pelomérito, e se faltar qualidadena produção brasileira, há orisco de pagar e nãolevar.

O MCT avalia que esse éum risco menor. “Isso seráuma mudança de escala paraa astronomia brasileira”, dizo ministro Sérgio Rezende.

Mas há quem discordedessa avaliação. Entre elesestá João Steiner, do IAG, queparticipou ativamente dasúltimas ampliações da in-fraestrutura brasileira para aastronomia, com a entradano Gemini e a construção dotelescópio Soar, no Chile.Mesmo os descontos feitospelo ESO não o convencem.

“Continuo achando o quesempre achei: esse acordo éuma total irresponsabilida-de”, diz. “Nós vamos pagaruma enormidade de dinheiropara os europeus fazeremciência.” (SN)

FOTOSSÍNTESE ARTIFICIALComo funciona o aparelho

Radiação solarconcentrada

Saída deO2, H2 e CO

Entrada deH20 e CO2

Isolamentode alumínio

Cério poroso

Janela dequartzo

A radiação solarconcentrada entrapor uma janela eatinge a o Cérioporoso nas paredesinternas do aparelho

Os gases queentram pelas lateraise reagem com oCério na cavidadeinterna e sãoexpelidos em formade hidrogênio,oxigênio e carbono

Cientistas testam fotossíntese artificialExperimento com gases e energia solar pode levar à produção de combustível ‘verde’

SABINE RIGHETTIDE SÃO PAULO

Cientistas dos EUA e daSuíça estão tentando imitar oque as plantas fazem ao con-verter CO2 e água em carboi-dratos e oxigênio na presen-çade clorofila e luzdo Sol.

Por meio de uma máquinado tamanho aproximado deum computador, desenvolvi-da pelos próprios cientistas,eles conseguiram fazer uma“fotossíntese artificial”.

A invenção que, está pu-blicada na última edição darevista científica “Science”,

poderá resultar em combus-tíveis mais sustentáveis nofuturo, com base em energiasolar ou hidrogênio.

O aparelho criado pelospesquisadores captura radia-ção solar na sua parte supe-rior e H2O (água) e CO2 (gáscarbônico) nas laterais (vejainfográfico aolado).

No interior da máquina,em altas temperaturas, a ra-diação solar e os gases captu-rados reagem com Cério—um elemento químico bas-tante usado pela indústria.

A máquina, então, expeleoxigênio, hidrogênio e mo-

nóxido de carbono.“A dissociação termoquí-

mica da água e do gás carbô-nico é um caminho atraentepara a produção de combus-tível solar eficientemente eem altas taxas no futuro”, ex-plica Aldo Steinfeld, do Insti-tuto Paul Scherrer (Suíça),um dos autoresdo trabalho.

A tentativa dos cientistasimitarem a natureza na pro-dução de energia via fotos-síntese não é uma novidade.

Mas a baixa eficiência dasconversões já experimenta-das, especialmente na redu-ção de CO2, fez com que mui-

tos pesquisadores desistis-sem daideia.

Além de eficiente, a má-quina apresentada agora pe-los cientistas utiliza Cério nolugar de metais preciosos (ra-ros e caros), testados em me-todologiasanteriores.

“O Cério é um óxido metá-lico abundante na natureza eadequado para reações de

oxirredução [transferênciade elétrons entre sustâncias]por causa da sua rápida dereação”, disse Steinfeld.

“O material já está ade-quado para aplicações maisrealistas”, conclui.

Cubo de gelogigante ajudarána busca pormatéria escurafolha.com/ciencia