Passeios na ilha, de Drummond (Trechos)

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PASSEIOS NA ILHA DRUMMOND

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Terceiro livro de prosa de Drummond, publicado originalmente em 1952, Passeios na ilha combina textos históricos, crônicas, aforismos e crítica literária. A ilha de que fala o livro tem sentido obviamente metafórico, e é desse “lugar” que Drummond observa a vida literária, num tom que combina a compreensão e a ironia somente facultadas pela perspectiva histórica. Assim, o livro abre um caminho arriscado entre as posições da chamada arte participante, alardeadas pela militância do Partido Comunista fora e dentro do Brasil, e a atitude de cultivo estrito da forma estética defendida pelos poetas da geração de 1945. Leia + [http://bit.ly/w4Llzy]

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passeios na ilha drummond“Ilhas perdem o homem”, escrevia Drummond em 1938, momento de franca militância política. Em 1952, porém, quando nos propõe estes Passeios na ilha, a significação é outra – a ilha conserva o sen-tido de evasão, mas agora porosa ao contato: “no justo ponto de latitude e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente.” É deste lugar infenso a toda ortodoxia que falam estas crônicas, contíguas ao fragmento, ao relato de via-gem, à crítica literária, impregnadas dessa autêntica dialética entre alheamento e participação.

A instância mais embebida dessa dialética é justamente a da própria literatura, capaz de encontros inesperados entre a “rotina” e a “quimera”. A virtude está em se situar “a igual distância do rea-lismo e do lirismo”; o vício, no abandono à unilateralidade, seja a da “sensação primária”, a do “preciosismo ridículo” ou a do “ingê-nuo discurso de propaganda”. “Cinquenta anos, boa idade para poetas”, lê-se numa passagem. Era a idade do próprio Drummond, situando Passeios na ilha no âmbito da maturidade sem ilusões, contemporâneo exato de Claro enigma.

murilo marcondes de moura

carlos drum

mond de

andrade

Passeiosnailha

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Fontes albertina e knockoutPapel polén soft 80 g/m²Impressão geográficaTiragem 5 000

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passeios na ilhaDivagações sobre a vida literária e outras matérias

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carlos drummond de andrade

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Este livro, não o escrevi, 11

Subúrbios da calmaDivagação sobre as ilhas, 15

A árvore e o homem, 21

Segredos, 25

Carta aos nascidos em maio, 29

Província, minha sombraAntigo, 35

Notícias municipais, 41

Rosário dos Homens Pretos, 47

Colóquio das estátuas, 57

Contemplação de Ouro Preto, 61

Sinais do tempoReflexões sobre o fanatismo, 83

Essa nossa classe média…, 87

Trabalhador e poesia, 91

O velho e o novoPerspectivas do ano literário: 1900, 101

A rotina e a quimera, 109

Conversa cheia de dúvidas, 113

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Apontamentos literários, 117

Do homem experimentado, 123

Meditação no Alto da Boa Vista, 129

ContemporâneosManuel Bandeira

i Recordações avulsas, 135

ii O poeta se diverte, 141

Américo Facó

Poesia nobre, 147

Joaquim Cardozo

Prefácio a Poemas, 153

João Alphonsus

i Comunicação noturna, 161

ii O poeta, 165

iii O vinco burocrático, 170

Raul Bopp

Cuidados de arte, 179

Emílio Moura

Palma severa, 185

Henriqueta Lisboa

Um poeta conta-nos da morte, 193

Sylvio da Cunha

O poeta e a fotografia, 199

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Maria Isabel

Canto amoroso, 205

Alphonsus de Guimaraens Filho

Entre Deus e o silêncio, 211

Beatriz B. Vasconcelos

Do longe Paracatu, 217

Godofredo Rangel

Um delicado, 223

Presenças Cafioto, 233

Personagem, 239

O zombeteiro Exu, 243

fOrtuna CrítiCa

Sérgio Milliet, 253

Orelha da segunda edição (1976), 259

Bibliografia, 261

POSfáCiO

Sérgio Alcides, 263

notas de edição, 291 índice de nomes, 337

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Divagação sobre as ilhas

Quando me acontecer alguma pecúnia, passante de um milhão de cruzeiros, compro uma ilha; não muito longe do litoral, que o litoral faz falta; nem tão perto, também, que de lá possa eu aspirar a fumaça e a graxa do porto. Minha ilha (e só de a imaginar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude e longitude que, pondo-me a cober-to de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a arte do bem viver; uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização.

De há muito sonho esta ilha, se é que não a sonhei sempre. Se é que a não sonhamos sempre, inclusive os mais agudos participantes. Objetais-me: “Como podemos amar as ilhas, se buscamos o centro mesmo da ação?”. Engajados, vosso enga-jamento é a vossa ilha, dissimulada e transportável. Por onde fordes, ela irá convosco. Significa a evasão daquilo para que toda alma necessariamente tende, ou seja, a gratuidade dos gestos naturais, o cultivo das formas espontâneas, o gosto de ser um com os bichos, as espécies vegetais, os fenômenos atmosféricos. Substitui, sem anular. Que miragens vê o ilu-minado no fundo de sua iluminação?… Supõe-se político, e é um visionário. Abomina o espírito de fantasia, sendo dos que mais o possuem. Nessa ilha tão irreal, ao cabo, como as da literatura, ele constrói a sua cidade de ouro, e nela reside por efeito da imaginação, administra-a, e até mesmo a tirani-za. Seu mito vale o da liberdade nas ilhas. E, contemptor do

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mundo burguês, que outra coisa faz senão aplicar a técnica do sonho, com que os sensíveis dentre os burgueses se acomo-dam à realidade, elidindo-a?

A ilha que traço agora a lápis neste papel é materialmente uma ilha, e orgulha-se de sê-lo. Pode ser abordada. Não pode ser convertida em continente. Emerge do pélago com a gra-ça de uma flor criada para produzir-se sobre a água. Marca assim o seu isolamento, e como não tem bocas de fogo nem expedientes astuciosos para rechaçar o estrangeiro, sucede que este isolamento não é inumano. Inumano seria desejar, aqui, dos morros litorâneos, um cataclismo que sovertesse tão amena, repousante, discreta e digna forma natural, inven-tada para as necessidades do ser no momento exato em que se farta de seus espelhos, amigos como inimigos.

E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade dos regatos – tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio delas. A mesma soli-dão existe, com diferentes pressões, nos mais diversos locais, inclusive os de população densa, em terra firme e longa. Res-ta ainda o argumento da felicidade – “aqui eu não sou feliz”, declara o poeta, para enaltecer, pelo contraste, a sua Pasárga-da: mas será que se procura realmente nas ilhas a ocasião de ser feliz, ou um modo de sê-lo? E só se alcançaria tal mercê, de índole extremamente subjetiva, no regaço de uma ilha, e não igualmente em terra comum?

Quando penso em comprar uma ilha, nenhuma dessas excelências me seduz mais que as outras, nem todas juntas constituem a razão de meu desejo. Sou pouco afeiçoado à natureza, que em mim se reduz quase que a uma paisagem moral, íntima, em dois ou três tons, só que latejante em todas as partículas. A solidão, carrego-a no bolso, e nunca me faltou menos do que quando, por obrigações de ofício, me debruça-va incessantemente sobre a vida dos outros. E felicidade não

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é em rigor o que eu procuro. Não. Procuro uma ilha, como já procurei uma noiva.

*

A ilha me satisfaz por ser uma porção curta de terra (falo de ilhas individuais, não me tentam aventuras marajoaras), um resumo prático, substantivo, dos estirões deste vasto mundo, sem os inconvenientes dele, e com a vantagem de ser qua-se ficção sem deixar de constituir uma realidade. A casa de campo é diferente. A continuidade do solo torna-a um pobre complemento dessas propriedades, individuais ou coletivas, públicas ou particulares, em que todo o desgosto, toda a exe-crabilidade, toda a mesquinhez da coisa possuída, taxada, fis-calizada, trafegada, beneficiada, herdada, conspurcada, se nos apresenta antes que a vista repare em qualquer de seus even-tuais encantos. A casa junto ao mar, que já foi razoável delícia, passou a ser um pecado, depois que se desinventou a relação entre homem, paisagem e moradia. Tudo forma uma cidade só, torpe e triste, mais triste talvez do que torpe. O progresso técnico teve isto de retrógrado: esqueceu-se completamente do fim a que se propusera, ou devia ter-se proposto. Acabou com qualquer veleidade de amar a vida, que ele tornou mui-to confortável, mas invisível. Fez-se numa escala de massas, esquecendo-se do indivíduo, e nenhuma central elétrica de milhões de quilowatts será capaz de produzir aquilo de que precisamente cada um de nós carece na cidade excessivamen-te iluminada: certa penumbra. O progresso nos dá tanta coisa, que não nos sobra nada nem para pedir nem para desejar nem para jogar fora. Tudo é inútil e atravancador. A ilha sugere uma negação disto.

A ilha deve ser o quantum satis [na medida exata] selvagem, sem bichos superiores à força e ao medo do homem. Mas

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precisa ter bichos, principalmente os de plumagem glorio-sa, com alguns exemplares mais meigos. As cores do cinema enjoam-nos do colorido, e só uma cura de autenticidade nos reconciliará com os nossos olhos doentes. Já que não há mais vestidos de cores puras e naturais (de que má pintura moder-na se vestem as mulheres do nosso tempo?), peçamos a araras e periquitos, e a algum suave pássaro de colo mimoso, que nos propiciem as sensações delicadas de uma vista voluptuo-sa, minudente e repousada.

Para esta ilha sóbria não se levará bíblia nem se carre-garão discos. Algum amigo que saiba contar histórias está naturalmente convidado. Bem como alguma amiga de voz doce ou quente, que não abuse dessa prenda. Haverá pedras à mão – cascalho miúdo – que se possa lançar ao céu, a títu-lo de advertência, quando demasiada arte puser em perigo o ruminar bucólico da ilha. Não vejo inconveniente na entrada sub-reptícia de jornais. Servem para embrulho, e nas costas do noticiário político ou esportivo há sempre um anúncio de filme em reprise, invocativo, ou qualquer vaga menção a algum vago evento que, por obscuro mecanismo, desperte em nós fundas e gratas emoções retrospectivas. Nossa vida interior tende à inércia. E bem-vinda é a provocação que lhe avive a sensibilidade, impelindo-a aos devaneios que formam a crônica particular do homem, passada muitas vezes dentro dele, somente, mas compensando em variedade ou em pro-fundeza o medíocre da vida social.

Serão admitidos poetas? Em que número? Se foram pros-critos das repúblicas ideais e das outras, pareceria cruel bani-los também da ilha de recreio. Contudo, devem comportar-se como se poetas não fossem: pondo de lado os tiques profis-sionais, o tecnicismo, a excessiva preocupação literária, o mis-to de esteticismo e frialdade que costuma necrosar os artistas. Sejam homens razoáveis, carentes, humildes, inclinados à

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9 de julho

Sérgio Milliet

Do poeta Carlos Drummond de Andrade pouco se dirá que já não tenha sido dito. Um último elogio lhe foi feito quando da publicação de seu primeiro livro de prosa Confissões de Minas; era também um grande prosador. Não apenas (o que é comum nos bons poetas) um prosador dotado de ritmo e sensibilidade, isto é, de dotes poéticos, mas um prosador “no duro”, atento, não somente à elegância da frase e à sua pureza, mas ainda à economia do todo.

Entretanto Confissões de Minas e Contos de aprendiz se ressen-tiam ainda de uma presença por demais marcada do poeta e qualquer juízo a respeito do prosador sofria a influência da lembrança dos poemas. Havia mesmo mais de uma página que a gente gostaria de ler em verso, isenta de certas conjun-ções, sintetizadas sintaticamente em metáforas. Em Passeios na ilha encontro-me com um Carlos Drummond mais cotidiano, um escritor que conversa com os amigos através de sua colu-na no jornal, que dá palpites sobre as obras alheias ou reflete em voz alta sobre temas de interesse comuns a todos nós. Sua prosa, por isso, julga-se melhor agora. Ela não desilude, antes confirma as qualidades que já lhe havíamos atribuído.1

Essa prosa, limpa e decantada sem nenhuma secura, revela um pensamento dominado pelo pudor e a melancolia. Sobretudo nas reflexões avulsas, pois na apreciação crítica

1 Sérgio Milliet, “15 de outubro”, in Diário crítico, v. ii [1944], 2ª. ed. São Paulo:

Martins/ Edusp, 1981, pp. 277-79.

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de seus pares entra uma dose de simpatia, excessiva às vezes, como resultante de um esforço, aliás fecundo porquanto impele o autor tanto a considerações curiosas e penetrantes sobre técnicas e soluções poéticas como a interpretações pessoais mais reveladoras da alma do crítico que da inten-ção do criticado. Daí poder-se endereçar à crítica de Carlos Drummond a mesma censura – ou os mesmos reparos – que timidamente ele oferece aos profissionais do comentário. Eis, com efeito, que, em dado momento escreve: “Às vezes senti-mos vontade de dizer à crítica: meus defeitos não são os que apontas. São outros e aqui estão. Como, também, de advertir-

-lhe: o que julgas qualidade em mim não são qualidades, mas defeitos dissimulados, defeitos de que ainda não consegui desfazer-me”.

Não me parece justa a observação. Nem mesmo essa lucidez dos cinquenta anos, a que alude logo depois da frase citada, autoriza o autor a julgar as suas próprias qualidades e defeitos. Uma coisa é o que o artista considera realizado com felicidade e outra a que realmente realizou. O mais das vezes aquilo que mais valor apresenta para o autor tem justificação na “necessidade”. Por ser-lhe necessária se lhe afigura preciosa, devendo a qualidade naturalmente ressaltar aos olhos do críti-co. Acontece, porém, que a exteriorização dessa necessidade ficou aquém da comunicação indispensável, ou permitiu, na sua vagueza, interpretações diversas, alheias não raro à inten-ção do criador. E o que devia ser qualidade se tornou defeito. Por outro lado o contrário também ocorre e o que não pesou demasiado na vontade expressiva do autor, com força comu-nicativa se externou. Ora, uma obra não vale nunca pelo que quis ser, mas tão apenas pelo que foi. Vejo nessas meditações de Carlos Drummond sobre as falhas da crítica uma abafada irritação de quem se viu incompreendido naquilo que mais desejava exprimir. E no meu pensamento isso que aspirou a

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Drummond a passeio

Sérgio Alcides

Os movimentos da escrita de Carlos Drummond de Andrade no início dos anos 1950 lembram uma curtíssima sequência de cinema em que o poeta atua representando ele mesmo. Não dura sequer um minuto: o escritor-funcionário cami-nha entre os pilotis do prédio do Ministério da Educação, marco da arquitetura moderna do Rio de Janeiro. Um sus-pense repassado de ironia se estabelece graças à trucagem, que faz o poeta se esconder atrás de uma pilastra e, de repente, ressurgir de trás de outra, vindo em direção oposta, para depois desaparecer outra vez e reaparecer de surpre-sa, em close, rindo. É um jogo de criação e ruptura em série das expectativas. Pelo menos a partir dos pressupostos con-vencionais de linearidade, constância e coerência, torna-se impossível determinar a posição do sujeito e o curso de seus deslocamentos.1

Passeios na ilha é o segundo livro da prosa ensaística de Drummond, publicado em 1952. Data do ano anterior o lan-çamento de Claro enigma, um dos pontos altos de sua obra poética. Alguma outra epígrafe terá causado tanta discussão quanto a escolhida para esse volume? Era uma sentença de Paul Valéry: “Les événements m’ennuient” [Os acontecimen-tos me entediam]. A aproximação ao escritor francês parecia agora direcionar para um horizonte de “poesia pura” e absen-

1 Trata-se do curta-metragem O fazendeiro do ar (1972), dirigido por David Ne-

ves e Fernando Sabino.

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teísmo político o consagrado “poeta público” de Sentimento do mundo (1940) e A rosa do povo (1945).

Entretanto, o mesmo Drummond, na mesma época, ia consolidando sua intensa presença no jornalismo carioca, nas páginas do Correio da Manhã, que era um dos principais jornais diários do Rio. Como podia o poeta assim entediado frequentar com tanta assiduidade o próprio teatro impresso dos acontecimentos? Haverá contradição entre a poesia que renuncia às revelações da “máquina do mundo” e a prosa semanal entregue às rotativas da grande imprensa? Ou, pelo contrário, o nexo entre uma e outra se oculta mais além das pistas lançadas na superfície da obra, resistente a qualquer esquema que pretenda apaziguar ou domesticar a tensão de suas sete faces?

O enigma aumenta quando consideramos a certeira observação de Antonio Candido sobre a presença frequente, na prosa de Drummond, do ensaio à maneira de Montaigne, como “exercício em profundidade do pensamento, a partir de estímulos aparentemente fúteis ou desligados do que aca-ba sendo a matéria central”.2 Nenhum outro livro do poeta-

-prosador confirma tão bem essa afirmação quanto Passeios na ilha – a começar pelo primeiro ensaio incluído, “Divagação sobre as ilhas”, com sua irônica busca de um refúgio à mar-gem das tribulações do mundo, comparável ao castelo para onde se retirou o pensador quinhentista, depois de abandonar os negócios públicos.

De um lado, o poeta apontava para Valéry. De outro, o prosador se ensaiava com Montaigne. Que os dois franceses tivessem pouca coisa em comum além da língua e do ceti-

2 Antonio Candido, “Drummond prosador” [1984], in Recortes. São Paulo:

Companhia das Letras, 1993, p. 17. Ver Vágner Camilo, Drummond. Da rosa

do povo à rosa das trevas. São Paulo: Ateliê, 2001, pp. 89-102.

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Passeios na ilha foi publicado em 1952 pela editora carioca Orga-nização Simões, dirigida pelo bibliógrafo e bibliófilo Antônio Simões dos Reis, retratado por Drummond nas crônicas “Poe-sia e utilidade de Simões dos Reis” (Confissões de Minas, 1944) e

“Simões e os poetas” (Auto-retrato e outras crônicas, 1989). O volu-me integrava a coleção Rex, onde também figurava Machado de Assis, de Augusto Meyer, colega do poeta no Ministério da Educação e Saúde.

Em 1975, uma segunda edição de Passeios na ilha saiu pela editora José Olympio, como 111º. título da coleção Sagarana, junto a obras de grandes autores brasileiros e do exterior. De Drummond, na mesma coleção, estavam reedições de Fala, amendoeira (1957), Lição de coisas (1962), Cadeira de balanço (1966), Versiprosa (1967), José e outros (1967) e O poder ultrajovem (1972). Ao contrário do que ocorreu em Confissões de Minas, que teve dois de seus textos realocados pelo próprio autor para Contos de aprendiz (1951), a segunda edição de Passeios na ilha conser-vou todos os textos da primeira. Na edição mais recente da Prosa seleta (2003) não constam os subtítulos de sua divisão original, bem como os textos “Antigo”, “Notícias municipais”,

“A rotina e a quimera”, “Sylvio da Cunha: o poeta e a fotogra-fia”, “Maria Isabel: canto amoroso”, “Beatriz B. Vasconcelos: do longe Paracatu” e “Personagem”. Um detalhe: embora sem levar sua assinatura, segundo Daniel Pereira, na época um dos editores da José Olympio, o próprio poeta foi o autor da ore-lha da segunda edição.

notas de edição

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Antes de qualquer abordagem crítica a Passeios na ilha, é preciso uma palavra sobre a timidez de sua recepção. Confis-sões de Minas, seu antecessor imediato, foi muito mais resenha-do e comentado na época em que veio a público. A que se deve o silêncio diante de uma evidente obra-prima? Um ano antes, Drummond acabara de lançar Claro enigma e Contos de aprendiz. No primeiro, infletia sua trajetória em uma direção inesperada. A própria estratégia que adotou é reveladora: no seu arquivo depositado na Fundação Casa de Rui Barbo-sa, a leitura dos recortes de jornal com as primeiras versões de seus textos mostra que vários dos poemas de Claro enigma foram publicados sob pseudônimos. Contos de aprendiz deixa claro que sua prosa de ficção poderia caminhar naturalmente para as águas do romance. Estaria a recepção de Passeios na ilha prejudicada pela surpresa ainda paralisante dos livros publi-cados em 1951? É possível – o que não justifica a minguada for-tuna crítica nos anos seguintes, mas pode justificar o caráter e a extensão destas notas.

Ainda nessa linha, alguns dados de época podem mudar nossa percepção a respeito do livro. Qualquer leitor que tenha o volume em mãos ou um pesquisador que já tenha consultado parte destes textos em microfilmes ou guarda-dos em pastas, recortados e cuidadosamente corrigidos ou emendados pelo próprio Drummond, terá apenas uma páli-da ideia da forte presença do autor em nossa vida literária. Somente a experiência de folhear uma coleção do Suplemen-to Letras e Artes do Correio da Manhã pode modificar radi-calmente a nossa compreensão da militância e da interação praticada por Carlos Drummond de Andrade diante dos seus leitores.

Nas páginas do suplemento, vários dos melhores poe-mas de Claro enigma se alternavam com ensaios críticos e crônicas. A alta qualidade literária da prosa de Drummond

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era moeda corrente, estava à disposição do leitor todos os domingos. E apenas uma parte dela foi reunida em Passeios na ilha. Dentre tantos textos que ficaram de fora, a grande maio-ria tinha condições de disputar um lugar na seleção final. Outros, ainda que pudessem ter um alcance mais momen-tâneo, nos auxiliam na compreensão de questões ligadas à trajetória do autor.

A partir de 1945, Carlos Drummond de Andrade já não era apenas um nome promissor. Estava no centro da cena literá-ria, tinha um peso decisivo e sua voz podia alterar o rumo das coisas. Sob todos os ângulos, aquele era um momento especial. Entre o fim da Segunda Guerra e o lançamento de Passeios na ilha, em 1952, publicou Novos poemas, Claro enigma, Contos de aprendiz e A mesa. Havia uma ligação profunda entre sua poesia e sua prosa, articuladas num feixe de tensões e transformações. Do ponto de vista literário, a vontade de fazer ficção convivia com a profis-são regular de cronista e a nova inflexão em sua dicção poética. Do ponto de vista biográfico, próximo de completar cinquenta anos, Drummond muda de emprego, saindo da esfera política e entrando na esfera da cultura e da história. As suas novas atri-buições no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-nal (Sphan) abrem sua poesia a uma nova dimensão do tempo. O passado não é visto como o mundo caduco. Uma coleção de jornais antigos adquire valor de um documento de cultura.

Visto de outra perspectiva, antes dos cinquenta anos, Drummond já perdeu o pai e a mãe, esta última falecida em 1948. Ao mesmo tempo, sua única filha se casa e passa a viver em Buenos Aires. Quando parecia que restariam ele e a espo-sa, abrem-se novos ciclos de vida. Na curva dos cinquenta, Deus (ou o Diabo) lhe deu um amor no tempo de madureza. E a filha lhe deu o primeiro neto. Grandes mitos de renovação irrompem misturados à forte decepção com a situação polí-tica mundial.

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Por mais escaldado que estivesse com os comunistas, Drummond não abraça nenhuma causa conservadora ou reacionária, já que parte do seu vocabulário, os nervos da sua reflexão, o seu próprio modo de pensar estavam impregnados de certo instrumental teórico marxista. Em inúmeras passagens de Passeios na ilha, emergem discreta-mente expressões como “meu materialismo”, “luta de clas-ses”, “nessa ilha sóbria não se levará bíblia”. Não se trata também de um retorno ao velho individualismo dos pri-meiros tempos modernistas. Aderindo à escola da suspei-ta, comenta: “Em geral não se pedem companheiros, mas cúmplices. E este é o risco da convivência ideológica. Por outro lado, há certo gosto em pensar sozinho. É ato indivi-dual, como nascer e morrer”.

Inúmeros aspectos aproximam Confissões de Minas e Passeios na ilha. Talvez o mais pronunciado seja o modo como Drum-mond procura organizar seus livros de prosa, privilegiando uma estrutura multifacetada, em consonância com sua pos-tura reflexiva, ao debruçar-se sobre variadas formas de com-preender o mundo: autobiografia, estudo histórico, ensaio, aforismos, relato de viagem etc. Se somarmos a poesia que se insinua nas crônicas, é possível dizer que estamos diante de uma prosa de sete faces. A partir de então, essa tentativa de interpretação do seu modo-de-estar-no-mundo ganhou espa-ço nos livros de poesia, entre outros, Claro enigma (1951), Lição de coisas (1962) e a Antologia poética (1962).

Como observou Antonio Candido em “Drummond pro-sador” (Recortes, 1993), esses dois primeiros livros são com-postos de matéria inteiramente distinta da que se encontra na crônica tradicional. Ambos são dotados de uma prosa densa, porosa, complexa. Matriz de um tipo de ensaísmo moder-nista praticado, por exemplo, em Crônicas da província do Brasil (1937) de Manuel Bandeira. Os escritos que costumeiramente

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índice de nomes

Abreu, Caetano Leonel de 53

Abreu, Capistrano de 104-06, 111

Albuquerque, Mateus de 104

Alcides, Sérgio 265, 297

Aleijadinho (Antônio Francisco

Lisboa) 57, 59, 68, 70, 76-78,

305-08, 311, 313

Alencar, José de 112

Alencar, Mário de 111

Alencastro, Luiz Felipe de 297

Almeida, Antônio Joaquim de 304

Almeida, Lúcia Machado de 304,

310

Almeida, Manuel Antônio de 112

Almeida, Martins de 139

Alphonsus, João 112, 139, 161-78,

323, 325, 329

Alvarenga, Oneyda 218

Alvarenga, Manuel Inácio da Silva

65

Alves, Antônio Frederico de Castro

95, 136

Alves, Constâncio 112

Alves, Oswaldo 314

Alvim, Clara 297

Alvim, Francisco 297

Alvim, Maria Lúcia 297

Amaral, Tarsila do 309

Andrade, Goulart de 104

Andrade, Maria Julieta Drummond

de 334

Andrade, Mário de 37, 97, 119, 136,

138, 146, 167, 183, 228, 297, 307

Andrade, Oswald de 136, 225, 302,

306, 309

Andrade, Rodrigo Melo Franco de

139, 307-08, 312, 328, 332

Anjos, Augusto dos 95, 96

Apollinaire, Guillaume 22, 299, 318

Aranha, José Pereira da Graça 136

Araripe Jr, Tristão de Alencar 111

Araújo, Alceu Maynard 305

Arêas, Vilma 297

Arinos, Afonso 219, 332

Assis, Joaquim Maria Machado de

41, 93, 104, 106, 111, 194, 291, 336

Assumar, Conde (Pedro de Almeida

Portugal) 70-71

Ataíde, Manuel da Costa 75, 311

Athanázio, Enéas 297, 332-33

Aulete, Caldas 30

Azevedo, Aluísio 111

Bandeira, Manuel 96, 117, 135-46,

153, 169, 211-12, 257, 260, 277,

285, 294, 306, 309-10, 313, 318-

19, 328

Baptista, Abel Barros 336

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338

Barbosa, Rui 41, 292, 305, 328-29, 333

Barreto, Afonso Henriques de Lima

112

Barreto, Tobias 106

Barros, Geraldo Mendes 41

Bastide, Roger 308

Baudelaire, Charles 144, 239, 318

Bazin, Germain 308

Bernardes, Diogo 150

Bezerra, Elvia 297

Bilac, Olavo 104, 111, 150, 310

Bittencourt, Paulo 295-96

Boadella, José 317

Bopp, Raul 179-83, 260, 317, 324

Botelho, Branca 331

Botelho, Isaura 297

Botelho, Manuel de Carvalho 51

Botelho, Pero 331

Botelho, Tristão 297

Braga, Lourenço 244

Braga, Vanuza Moreira 310

Brandão, Tomás 66, 311

Bretas, Rodrigo José Ferreira 306-07

Brigadeiro 67

Camilo Filho, A. (Antonio Camilo

de Oliveira) 43

Camões, Luís de 30, 150, 300

Campos, Humberto de 111

Campos, Milton 223-24, 332

Candido, Antonio 266, 294, 297,

314, 333

Capanema, Gustavo 139, 307, 321

Cardozo, Joaquim 117, 142, 153-60,

285-86, 322-23

Carmelo, Jesuíno do Monte 307

Carpeaux, Otto Maria 302, 310

Carvalho, Ronald de 111

Cascalho, Elias do 46

Castro, Aloísio de 104

Castro, Francisco de 93

Castro, Jorge de 306

Castro, Leonardo de Azevedo 50

Cavalcanti, Lya 332

Cavalheiro, Edgard 173

Cendras, Blaise 309

Chirico, Giorgio de 22

Cícero (Marco Túlio Cícero) 42

Coelho Neto, Henrique Maximiano

105, 111

Coelho, Marinilce Oliveira 297

Condé, João 119, 328

Coquelin, Benoît-Constant 44

Coralina, Cora (Ana Lins dos

Guimarães Peixoto Bretas) 332

Corção, Gustavo 329

Corrêa, Roberto Alvim 311

Correia, Aquino 104

Correia, Raymundo 111, 150, 183

Cortesão, Jaime 78, 311, 313

Costa, Brás Martins da 42-43

Costa, Cláudio Manuel da 65, 70, 150

Costa, Joaquim José da 48

Costa, Manuel Rodrigues da 65

Couto, Osório 325

Couto, Ribeiro 97, 137

Cunha, Quartin (pseudônimo) ver

Cunha, Sylvio da

Cunha, Sylvio da 199-203, 291, 317,

326, 327-28

D’Ors, Eugenio 77, 301

Dalcq, Sílvio (pseudônimo) ver

Cunha , Sylvio da

Daniel, Arnaut 150, 322

Dantas, Vinícius 314

Page 35: Passeios na ilha, de Drummond (Trechos)

339

Delavigne, Casimir 23

Dias, Antônio Gonçalves 112, 150,

183

Diniz, Antônio Alves 53

Dourado, Waldomiro Autran 333

Drummond, Alexandre 46

Duarte, Constância Lima 327

Ducasse, Isidoro 159

Duque, Gonzaga (Luiz Gonzaga

Duque Estrada) 111

Durão, José de Santa Rita 65

Éluard, Paul 319

Engrácia, Júlio 42

Eschwege, Wilhelm Ludwig von

306

Etcheverry, Carlos Manuel Graña

334

Etcheverry, Manuel Graña 334

Facó, Américo 147-52, 260, 285-87,

317-22, 328

Faria, José Hipólito de Moura 325

Farias Brito, Raimundo de 112

Faustino, Mário 297

Ferraz, Eucanaã 334

Ferreira, Maria Isabel 205-09, 218,

291, 329

Figueiredo, Fidelino de 118

Figueiredo, Franklin de 44

Figueiredo, Wilson de 331

Filipe, Manuel 69, 70-71

Flieg, Hans Gunter 310

Fontes, Hermes 111

Fortes, Bia 67

Fonseca, Hermes da 41

France, Anatole 31, 256-57, 300

Franco, Afonso Arinos de Melo

(sobrinho) 65, 73, 139, 140, 310,

328, 332

Freyre, Gilberto 302

Galvão, Ramiz, 112

Gama, Basílio da 65

Gautherot, Marcel 308

Gledson, John 279, 287, 297, 336

Goethe, Johann Wolfgang von118

Gomes, Antônio Alq. 53

Gomes, Eduardo 67

Gudman (pintor holandês) 78

Guignard, Alberto da Veiga 331

Guimaraens Filho, Alphonsus de

170, 211-15, 260, 306, 323, 325,

329, 331

Guimaraens, Alphonsus de 79, 165,

197, 226, 329

Guimarães, Bernardo 323, 329

Guimarães, Emanuel 105

Guimarães, João 323, 331

Guimarães, Júlio Castañon 297, 329

Guinguené, Pierre-Louis 150

Gusmão, Alexandre de 313

Hansen, João Adolfo 279

Hardmann, Francisco Foot 297

Harnisch, Sascha 299

Heidegger, Martin 239

Henriques Neto, Afonso 329

Heredia, José Maria de 102

Hermes (marechal Hermes da

Fonseca?) 41, 111

Hilst, Hilda 218

Holanda, Gastão de 329

Holanda, Sérgio Buarque de 305

Horácio (Quinto Horácio Flaco)

119

Page 36: Passeios na ilha, de Drummond (Trechos)

340

Hugo, Victor 93

Hytier, Jean 157, 267n, 318

Jardim, Luis 310, 322

Jerusalmi, Maria Helena Leitão da

Cunha 297

Juvenal (Décimo Júnio Juvenal) 42

Kubitschek, Juscelino 331

Lalomia, Francesco 31

Laurito, Ilka Brunilde 218

Lessa, Adelaide Petters 218

Levin, Willy 323

Lima Junior, Augusto de 306

Lima, Alceu Amoroso 329

Lima, Augusto de 94, 111

Lima, Jorge de 97, 287

Lima, Luiz Costa 267n, 283

Lisboa, Antônio Francisco ver

Aleijadinho

Lisboa, Henriqueta 193-97, 208, 218,

285, 325, 327

Lisle, Leconte de 102

Lobato, José Bento Monteiro 225,

228

Lopes, B. (Bernardino da Costa

Lopes) 102, 104, 111

Lopes, Castro 101

Lorca, Federico García 317

Lorrain, Claude 22

Luccock, John 306

Luís Carlos 104, 112

Lutero, Martinho 78

Machado Filho, Aires da Mata /

Machado Filho, Ayres da Matta

(variando com Aires) 47, 305

Machado, Aníbal 38, 304

Machado, Cristiano 67

Machado, Lourival Gomes 77-78,

301, 308, 311

Magalhães, Valentim 102-03

Mallarmé, Geneviève 329

Mallarmé, Stéphane 144, 149, 203,

239, 286, 318

Mamoré, Barão de (Ambrósio

Leitão da Cunha) 327

Manitti, José Caetano César 65

Maranhão, Haroldo 297

Marcelo (Cláudio Marcelo) 300

Mauriac, François 317

Medeiros e Albuquerque, José

Joaquim de Campos da Costa

105, 140

Meireles, Cecília 208, 217, 327

Mello Viana, Fernando de 32, 300

Melo Neto, João Cabral de 141, 199

Mendes, Murilo 72, 306, 309-11, 329

Mendonça, Lúcio de 112

Meneses, Emílio de 111

Mérian-Poncioni, Cláudia 297

Meyer, Augusto 291

Miranda, Sá de 150

Montaigne, Michel de 85, 266-71,

284

Monteiro, Vicente do Rego 199

Moraes Neto, Geneton 259, 274n

Moraes, Marcos Antonio de 334

Moraes, Vinicius de 73, 97

Morais, Eneida de 300-01

Moura, Emílio 121, 139, 170, 185-91,

285, 317, 324-25

Murat, Luís 104

Musset, Alfred Louis Charles de 23

Page 37: Passeios na ilha, de Drummond (Trechos)

341

Nabuco, Joaquim 106, 135

Nava, Pedro 139, 310

Néry, Adalgisa 327

Neves, David 265n

Nicolussi, Haydée 218

Norberto, Joaquim 65

Nunes, Benedito 297

Oliveira, Alberto de 94-95, 103-04,

111, 150

Ortigão, Ramalho 104

Osório, Ana 218

Ostrower, Fayga 300

Pacheco, Félix 103

Palhares, Taísa 297

Passos, Sebastião Cícero dos

Guimarães 111

Passos, Zoroastro Vianna 47, 305

Pederneiras, Mário 111, 300

Peixoto, Afrânio 103

Peixoto, Fernanda 297

Peregrino, Hélio 331

Pereira da Silva 112

Pereira, Daniel 259, 291

Pereira, Lúcia Miguel 111, 328

Petrarca, Francesco 23, 150

Picasso, Pablo 22

Pierson, Donald 305

Poe, Edgar Allan 214

Pompeia, Raul 111

Pope, Alexander 23

Portinari, Candido 119, 129

Porto-Alegre, Manuel José de

Araújo 111

Prado, Adélia 318, 332

Prestes, Luís Carlos 296

Py, Fernando 297

Quartin, Barão de (Antônio Tomás

Quartin) 327

Queirós, Eça de 104

Racioppi, Vicente 70

Rafael (Rafael Sanzio) 307

Ramalho 104

Ramos, Nereu 300

Rangel, Godofredo 223-29, 332-33

Rank, Otto 241, 335

Raposo Tavares, Antônio 313

Ray, Man 203

Reis, Antônio Simões dos 291

Rembrandt (Harmenszoon van

Rijn) 78

Renard, Jules 22, 257, 299

Renault, Abgar 139

Renéville, Rolland de 214

Reyes, Alfonso 298-99

Ribeiro, Bernardini 150

Ribeiro, João 111

Ricardo, Cassiano 97

Riquet, Michel 256

Rivera, Bueno de 331

Rosa, Mário Alex 297

Rousseau, Henri 316

Sabino, Fernando 265n

Saint-Hilaire, Auguste de 64, 306

Sales, Manuel Ferraz de Campos

107

Santa Rosa, Tomás 322

Santos, Reinaldo dos 77

São Jerônimo 335

Scartazzini, Giovanni Andrea 150,

322

Schmidt, Augusto Frederico 243,

328, 334

Page 38: Passeios na ilha, de Drummond (Trechos)

342

Senna, Homero 299

Sica, Arnóbio de 335

Silveira, Cid 97

Smith, Robert C. 78, 301, 308

Supervielle, Jules 279, 310-11

Távora, Franklin 111

Teles, Gilberto Mendonça 273n,

297

Tigre, Bastos 104

Tiradentes (Joaquim José da Silva

Xavier) 65

Trindade, Raymundo 47, 305

Trindade, Solano 92

Valadares, Conde de (José Luís

de Meneses Castelo Branco e

Abranches) 51

Valéry, Paul 149, 193, 265, 266-69,

284-88, 318, 324

Van Gogh, Vincent 21

Vargas, Getúlio 296

Vasconcelos, Beatriz Botelho

217-22, 291, 318, 331

Vasconcelos, Carlos de 104

Vasconcelos, Diogo de 48-49, 65,

71, 305, 310-11

Vasconcelos, Dora 218

Vasconcelos, Salomão de 311

Vasconcelos, Sylvio 73, 310-11

Veríssimo, José 102-03, 111

Verlaine, Paul 144, 318

Vieira, Adelina Lopes 104

Villa-Lobos, Heitor 136

Virgílio 23, 300

Voltaire (François-Marie Arouet) 84

Von Weech, Joseph Friedrich 306

Wahl, Jean 242

Wainer, Bluma 296

Wainer, Samuel 296

Weisbach, Werner 77, 301

Willems, Emílio 305

Xavier Marques 105

Xavier, D’Alva (Guilherme de

Castro Alves) 95

Page 39: Passeios na ilha, de Drummond (Trechos)

Créditos de imagens

pp. 290, 320, 330 coleção Milton Ohatap. 304 arquivo da famíliap. 312 arquivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - rjp. 326 biblioteca da Fundação Casa de Rui Barbosa - rj

cosac naifyRua Gene ral Jar dim, 770, 2 .o andar01223-010 São Pau lo sp[55 11] 3218 1444cosac naify.com.br

Aten di men to ao pro fes sor [55 11] 3218 1473

© Cosac Naify, 2011Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummondwww.carlosdrummond.com.br

Coordenação editorial augusto massi e milton ohataCapa elisa von randow e paulo andré chagasComposição gabriela castroPreparação cristina yamazakiRevisão mariana delfini, maria fernanda alvares e ana paula martiniProdução gráfica aline valliTratamento de imagem wagner fernandes

Nesta edição, respeitou-se o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Andrade, Carlos Drummond de [1902-87]Passeios na ilha – divagações sobre a vida literária e outras matérias: Carlos Drummond de AndradeSão Paulo: Cosac Naify, 2011344 pp., 7 ils.

isbn 978-85-405-0109-6

11-06707 cdd-869.93

Índices para catálogo sistemático:1. Crônicas: Literatura brasileira 869.93

Page 40: Passeios na ilha, de Drummond (Trechos)

passeios na ilha drummond“Ilhas perdem o homem”, escrevia Drummond em 1938, momento de franca militância política. Em 1952, porém, quando nos propõe estes Passeios na ilha, a significação é outra – a ilha conserva o sen-tido de evasão, mas agora porosa ao contato: “no justo ponto de latitude e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente.” É deste lugar infenso a toda ortodoxia que falam estas crônicas, contíguas ao fragmento, ao relato de via-gem, à crítica literária, impregnadas dessa autêntica dialética entre alheamento e participação.

A instância mais embebida dessa dialética é justamente a da própria literatura, capaz de encontros inesperados entre a “rotina” e a “quimera”. A virtude está em se situar “a igual distância do rea-lismo e do lirismo”; o vício, no abandono à unilateralidade, seja a da “sensação primária”, a do “preciosismo ridículo” ou a do “ingê-nuo discurso de propaganda”. “Cinquenta anos, boa idade para poetas”, lê-se numa passagem. Era a idade do próprio Drummond, situando Passeios na ilha no âmbito da maturidade sem ilusões, contemporâneo exato de Claro enigma.

murilo marcondes de moura

carlos drum

mond de

andrade

Passeiosnailha

• passeios na ilha_capa.indd 1 10/28/11 12:15 PM