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Sumário INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11 I - PASTOREANDO O REBANHO DE CRISTO ......................................................... 13 1. O termo pastor ......................................................................................................... 13 2. O pastoreio na história ............................................................................................ 14 2.1 No Antigo Testamento..................................................................................... 14 2.2 No Novo Testamento ....................................................................................... 16 2.3 Da Igreja Cristã Primitiva até a Reforma Protestante...................................... 17 2.4 A tarefa pastoral hoje ....................................................................................... 19 3. A atividade pastoral ............................................................................................ 23 3.1 Humildade........................................................................................................ 24 3.2 pregação ........................................................................................................... 26 3.3 Aconselhamento .............................................................................................. 27 4. Pastoreando o rebanho de cristo.............................................................................. 27 4.1 Como Pastorear................................................................................................ 28 II - DEIXEM VIR A MIM AS CRIANÇAS................................................................... 31 1. As crianças e Jesus ............................................................................................. 31 1.1. Qualquer que fizer tropeçar ............................................................................ 32 1.2. Pedra no pescoço ............................................................................................ 33 1.3. Não pereçam os pequeninos ........................................................................... 34 2. As crianças e Wesley.............................................................................................. 35 2.1. Sua Infância.......................................................................................................... 36 2.2. Seu Ministério ...................................................................................................... 37 3. As crianças e a Igreja ............................................................................................. 38 4. Deixem vir a mim as crianças ................................................................................ 39 4.1 Deixar .............................................................................................................. 40

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Sumário INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11

I - PASTOREANDO O REBANHO DE CRISTO ......................................................... 13

1. O termo pastor ......................................................................................................... 13

2. O pastoreio na história ............................................................................................ 14

2.1 No Antigo Testamento ..................................................................................... 14

2.2 No Novo Testamento ....................................................................................... 16

2.3 Da Igreja Cristã Primitiva até a Reforma Protestante. ..................................... 17

2.4 A tarefa pastoral hoje ....................................................................................... 19

3. A atividade pastoral ............................................................................................ 23

3.1 Humildade........................................................................................................ 24

3.2 pregação ........................................................................................................... 26

3.3 Aconselhamento .............................................................................................. 27

4. Pastoreando o rebanho de cristo .............................................................................. 27

4.1 Como Pastorear ................................................................................................ 28

II - DEIXEM VIR A MIM AS CRIANÇAS ................................................................... 31

1. As crianças e Jesus ............................................................................................. 31

1.1. Qualquer que fizer tropeçar ............................................................................ 32

1.2. Pedra no pescoço ............................................................................................ 33

1.3. Não pereçam os pequeninos ........................................................................... 34

2. As crianças e Wesley.............................................................................................. 35

2.1. Sua Infância .......................................................................................................... 36

2.2. Seu Ministério ...................................................................................................... 37

3. As crianças e a Igreja ............................................................................................. 38

4. Deixem vir a mim as crianças ................................................................................ 39

4.1 Deixar .............................................................................................................. 40

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4.2 Impedir ............................................................................................................. 41

4.3 Reino de Deus .................................................................................................. 42

III - PASTOREANDO AS OVELHINHAS DE JESUS................................................. 43

1. Apascenta os meus cordeiros .............................................................................. 44

1.1 Ataques do inimigo as crianças ....................................................................... 45

1.2 Janela 4/14 ....................................................................................................... 46

2. As crianças e suas necessidades ......................................................................... 47

2. 1 Natureza pecaminosa ...................................................................................... 47

2.2 Espiritualmente mortas .................................................................................... 48

2. 3 Fora do reino de Deus ..................................................................................... 48

3. Pastoreando as ovelhinhas de Jesus ........................................................................ 49

CONCLUSÃO ................................................................................................................ 52

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ............................................................................ 53

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INTRODUÇÃO

As crianças são alvos do amor de Deus. Mediante a isso percebermos a importância de

apascenta-las. Este presente trabalho monográfico tem por tino aludir à importância do

pastoreio infantil.

Visando refletir sobre o pastoreio infantil, o seguinte trabalho é estruturado em três

capítulos; O primeiro: Pastoreando o Rebanho de Cristo; o segundo: Deixem vir a mim as

Crianças; e o terceiro: Pastoreando as ovelhinhas de Jesus.

Será abordado, no primeiro capítulo, o pastoreio do rebanho de Cristo. Nele será

explicado à origem do termo pastor, bem como o pastoreio ao logo da história. Também será

trabalhado o pastoreio no Antigo Testamento, e o porquê do povo pastoril não ser bem quisto

nesta época. Outro ponto tratado é o pastoreio no Novo Testamento, e será feita ainda uma

abordagem panorâmica da atividade pastoral desde a Igreja cristã primitiva até os dias de

hoje.

Será tratado, no segundo capítulo, a importância do “deixar vir a mim”, expressada por

Cristo. Outro ponto abordado será a importância que John Wesley dava as crianças em seu

ministério. Será mostrada ainda a importância dada pela Igreja de hoje para as crianças. Não

obstante, ao findar do capítulo, serão abordadas as implicações de não deixamos as crianças

irem a Jesus.

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Será comentado, no terceiro capítulo, a importância de se pastorear as crianças. Pois

elas estão sobre o ataque de satanás, como expresso nesse capítulo, será mostrado ainda, por

meio de pesquisa, qual é a melhor idade para se converter. Outro ponto salientado será a

necessidade das crianças, porquanto elas possuem natureza pecaminosa, estão espiritualmente

mortas e fora do reino de Deus.

O tema abordado é estimulante, conflitante e desafiador, mas muito necessário para

nos posicionarmos quanto à importância de pastorear uma criança. A aspiração deste trabalho

não é esgotar o tema, mas revelar a medida proposta para orientar líderes acerca da influencia

que estamos dando as crianças de nossas Igrejas.

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CAPÍTULO I

PASTOREANDO O REBANHO DE CRISTO “A menos que tomemos conta da geração que está surgindo, o presente reavivamento da

religião irá durar apenas uma geração”. (John Wesley)

Pastorear passa longe de ser uma tarefa fácil, pelo contrário, é árdua, cheio de grandes

desafios, e são poucos os que conseguem como Paulo declarar: “... completei a carreira e

guardei a fé”. (2 Tm 4. 7). Aliais, hoje em dia há muitos que traduzem este texto de outra

forma: Abandonei a carreira e dei no pé, pois os grandes desafios o fazem desistir ou

fracassar. O próprio Jesus declarou que “muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt

22.14).

Pastorear não é tão simples como se imaginam, ainda mais crianças, que claro, requer

muito mais atenção. Entretanto, como pastorear crianças? Será que isso é possível? Antes de

qualquer coisa devemos entender o que significa ser pastor.

1. O termo pastor

Tanto o termo hebraico raah como o grego poimém, traz o sentido de pastor

(CHAMPLIN, 2001 p 104). Pastor é aquele no qual está incumbida a tarefa de cuidar das

ovelhas do rebanho.

Para Ebenézer Ferreira, o termo “pastor” era muito comum aos judeus, pois eles eram:

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um povo pastoril, por isso a figura de pastor como guia espiritual calhava melhor... Essa ideia então foi que predominou. O termo pastor é o que mais alto fala da missão do guia do rebanho... E ele que apascenta o rebanho, preparando-lhe pastagens verdejantes e guiando-as as águas tranquilas, proporcionando-lhe um ambiente espiritual, agradável e alegre. (FERREIRA, 1973 p 140)

A primeira vez que vemos a expressão pastor na Bíblia, está em Gêneses 4. 2, onde

Moisés declara a profissão de Abel. Abraão e seus descendentes, também trabalhavam como

pastores, e de acordo com os relatos bíblicos, podemos ver que os pastores não eram bem

quistos, e para muitos eram até abominação. (Gn 46. 34). Segundo Champlin, os egípcios

também tinham ovelhas e gado, mas os cuidados eram deixados nas mãos dos menos

privilegiados ou das mulheres. (CHAMPLIN, 2001 p 278)

2. O pastoreio na história

O exercício pastoral não é apenas um evento dos dias modernos, porém há um pano de

fundo muito importante para nossa compreensão.

A tarefa primordial dos pastores era alimentar e proteger o rebanho, ir atrás das ovelhas

que estavam desraigadas e livrar dos animais ferozes, que era comum atacar as ovelhas.

2.1 No Antigo Testamento

No Antigo Testamento, os pastores representavam o cuidado, por isso na teocracia da

época, os governantes eram também chamados de pastores, como bem lembra Taylor dizendo

que “não é incomum, nem no Antigo Testamento, nem em outros escritos do antigo Oriente

Próximo, ver governantes designados como pastores” (TAYLOR in AZEVEDO, 2004, p

121).

O próprio Deus promete mandar governantes fiéis ao seu povo por meio do profeta

Jeremias em 3. 15:

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Dar-vos-ei chefes que me obedeçam e que vos dirigirão com sabedoria e entendimento (SBP).

E dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência (ARA).

É interessante notar que Deus também usou outros homens para desempenhar o papel

pastoral para seu povo. Ele fala a respeito de Ciro: “assim diz o Senhor... de Ciro: Ele é meu

pastor e cumprirá tudo o que me apraz” (Is 44.24a, 28 ARA).

Os líderes religiosos no Antigo Testamento são considerados pastores, há outros,

entretanto que já eram pastores antes de serem líderes do povo de Deus. Moisés e Davi, por

exemplo, eram pastores que estavam cuidando do rebanho quando foram chamados por Deus,

o que parece, segundo Champlin que “a vida dos pastores eram uma excelente preparação

para quem tivesse de ser um dos líderes do povo de Deus” (CHAMPLIN, 2001 p 104). Com

isso podemos afirmar que os pastores são líderes do rebanho, o que remonta a ideia de Deus

como nosso pastor, como bem expressa Davi em Salmos 23. 1 – “O Senhor é o meu

pastor...”. Aqui vemos que a ovelha, na presença do Pastor, goza de proteção e saúde. Tem

alimento, e descanso. Repousa tranquila, e é levada a águas calmas. Quando é ferida, é

curada; quando o lobo vem, é protegida; sente e recebe o carinho do Pastor.

Em várias passagens do Antigo Testamento, Israel é tratado como ovelha, que necessita

de um pastor para que às orientem (Jr 23. 1; 50. 6; Sl 44. 22). Deus desenvolve bem esse

papel em relação ao seu povo, demonstrando através do seu amor: “com amor eterno te amei,

também com amável benignidade te atraí” (Jr 31. 3).

Isto nos fornece um embasamento de suma importância para captarmos com excelência

a função pastoral. Amor! Sem amor nada podemos fazer. O rebanho do Senhor deve ser

pastoreado e conduzido pelo amor não pela força. Stowell nos deixa uma pergunta: “O que

pode ser mais inspirador para um rebanho do que ver seu pastor exibir o amor dinâmico de

Cristo?” (STOWELL, 1990, p 177).

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2.2 No Novo Testamento

No Novo Testamento, Jesus aplica a si mesmo o análogo de pastor. Ele diz ser o único,

autentico e bom pastor:

Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas... Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim... Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor. (Jo 10. 11,14,16)

Em Hebreus 13. 20 diz que Ele é o Grande pastor. Jesus constitui no paradigma para o

ministério pastoral, pois Ele conhece suas próprias ovelhas (Jo 1. 48); chama cada uma pelo

seu nome (Jo 10.3), o que demonstra relacionamento; reúne suas ovelhas (Jo 4. 29); e deu sua

vida para salvar suas ovelhas (Jo 10. 11). Jesus, quanto bom pastor, é o Pastor por excelência.

Segundo MacArthur, “o papel e as responsabilidades de um pastor, conforme

apresentado no Novo Testamento são à base de todo ministério bíblico futuro”

(MACARTHUR, 1999, p 58).

Ele ainda diz que no Novo Testamento há cinco termos que fazem referências ao ofício

pastoral. O primeiro deles é o de Presbítero, que Champlin diz ser um termo usado com

outros dois para expressar a função de bispo e pastor. O segundo é o de Supervisor, que

destacava a direção e liderança local. O terceiro é o de Pastor, que também denota uma

posição de liderança. Em quarto o de Pregador, que é aquele incumbido de anunciar a Palavra

de Deus ao rebanho. E por último e não menos importante o de Mestre, que é responsável pela

instrução e direção do seu rebanho.

As Escrituras estão cheias de figuras que deixam claro quanto aos ofícios e as funções

pastorais. Paulo usa uma gama variedade de figuras para anunciar essas verdades cristãs. Em

seu livro imagens bíblicas do ministério pastoral, Irland de Azevedo, demonstra através de

dez figuras o que Paulo emprega em seus ensinos, aplicando assim os princípios para nossa

vida pastoral. E a figura que salta aos nossos olhos, é a figura do pastor.

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Paulo diz em Efésios 4. 11, 12:

E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outras para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado. (Grifo meu).

Sem sombra de dúvidas, de todos os meios empregados para descrever uma liderança

espiritual, uma das imagens mais ricamente exposta é o de PASTOR. Como já fora dito a

tarefa primordial de um pastor é cuidar de suas ovelhas para que as tais não se percam, e leva-

las ao conhecimento pleno da Palavra de Deus e defende-las dos ataques do inimigo. Boff diz

que: “o cuidado constitui o elemento essencial da grandeza do homem e representa o maior

bem e a maior responsabilidade” (BOFF in AZEVEDO, p 117).

Em 1 Pedro 5. 1-3 podemos ver como deve ser a postura do pastoreio sábio e sadio, do

qual, ser for “dedicado ao pastoreio das almas que Deus confiou cuidados, alcançará a

incorruptível coroa da glória quando aparecer o Sumo Pastor” (MacARTHUR, 1995 p 49):

Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. (1 Pedro 5. 1 – 3)

2.3 Da Igreja Cristã Primitiva até a Reforma Protestante.

Este período foi marcado por diversas fases, movimentos, controvérsias e rupturas, mas

não me proponho a descrever detalhadamente este período, contudo quero me deter, de forma

clara e sucinta na figura pastoral ligada a esse período.

O pastor é a figura principal do rebanho cristão, não deve, portanto desempenhar um

papel de ditador, mas liderar suas ovelhas com amor e humildade, “tornando modelo do

rebanho”.

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Não agindo como as fortes tradições eclesiásticas que surgiram no século II, quando os

bispos tornaram-se os sucessores dos apóstolos. Que por sua vez influenciaram diretamente a

natureza do ministério pastoral.

Tais tradições desenvolveram o crescimento do pastoreio, fazendo com que os clérigos

fossem elevados a posições de sacerdotes, transformando-os em instrumentos da graça

salvadora de Deus, participando com Ele da salvação dos seres humanos.

Para John MacArthur Jr, “quanto mais o Novo Testamento transformava-se numa

Igreja fortificada, mas se distanciava dos padrões simples” (MacArthur, 1999, p 65).

Segundo ele, “esse desenvolvimento representou um distanciamento sério em relação

ao ministério descrito no Novo Testamento”. (MacArthur, 1999, p 61)

No período medieval, a estrutura eclesiástica estava centralizada na autoridade e no

celibato do seu clero. É nesse período que vemos a ascensão do papado, que fora produzido

um alto grau de corrupção moral, onde os papas valiam de suas condições pontificais para,

através de qualquer meio, conquistar seus desejos pessoais.

Nesta época alguns se destacam pelos seus posicionamentos contra a forma de governo,

no qual os intitulamos como pré – reformadores. John Wycliffe é um deles, que em seus

escritos declara que os sacerdotes deveriam exercer sua função principal, que é o pastoreio.

MacArthur descreve que nesse período “a Igreja era uma instituição poderosa e

corrupta (...) em que muitos se levantaram desafiando a autoridade eclesiástica em busca da

verdade”. (MacArthur, 1999; p 690).

Todos os que se levantaram tiveram uma grande oposição em seu caminho, pois o

trabalho de redescobrir o verdadeiro ministério pastoral era extremamente complexo.

Isto resultou num acontecimento de grande importância na historia da Igreja, que ficou

conhecido como a Reforma Protestante, que tinha como objetivo reformar a Igreja através dos

princípios bíblicos.

Os reformadores radicais, dos quais se destacam Lutero e Calvino, levaram com afinco

este compromisso na finalidade de estabelecer um ofício bíblico sólido.

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Os reformadores tiveram avanços expressivos em sua reforma, ao que muitos têm se

apegado à herança deixada por eles, rumo ao ministério bíblico eclesiástico profícuo.

De fato, quanto mais próximo nosso ministério pastoral estiver baseado nas Escrituras,

mas saudável será nosso pastoreio e nossas ovelhas verão em nós modelo a ser seguido.

2.4 A tarefa pastoral hoje

Não obstante ao passado, hoje o pastor também é comissionado por Deus para

desempenhar a função de guia espiritual do seu povo. O pastor está incumbido na tarefa de

conduzir as pessoas até Deus. Azevedo diz que o pastor de almas deve lembrar-se “das

riquíssimas lições que o pastor de ovelhas pode ministrar-lhe”. (AZEVEDO, 2004, p 123)

Ao refletir e discorrer sobre o ministro de Deus como pastor, podemos analisar com

felicidade que o pastor hoje deve atentar-se as cinco lições passadas por Irland de Azevedo

para o desempenho eficaz do ministério.

2.4.1 O Pastor como Vigia

O dicionário Michaelis interpreta o termo vigia como sentinela. O pastor, antes de

qualquer coisa deve ser vigia. Conforme Azevedo, os pastores dos tempos bíblicos eram

sentinelas, pois eles estavam em constante vigilância.

Charles Jefferson declara:

Vigiar, observar, esquadrinhar o horizonte, perscrutando na escuridão os dias que ainda não nasceram, observando nas entranhas das forças que estão operando como fermentos insidiosos e venenosos, calculando, ainda acordado, o advento das tempestades ainda escondidas nas cavernas – tudo isso é trabalho pastoral, trabalho que, aliás, nem sempre é executado conscientemente. (JEFFERSON in AZEVEDO, 2004, p 123-124).

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Cabe, todavia ao pastor, antecipar eventos através da vigilância, e até mesmo a

aproximação do inimigo.

2.4.2 O Pastor como Guardador do Rebanho

“Ao pastor não cabe apenas ocupar o púlpito de sua Igreja e pregar dominicalmente,

nem estar à frente de seus alunos e ensinar” (AZEVEDO, 2004, p 125). O pastor também

deve guardar as suas ovelhas. Protege-las dos ataques dos lobos. A ovelha por ser um animal

indefeso, depende do seu pastor para salva-la de qualquer eventualidade.

Muitos pastores, hoje não tem se apercebido dessa tarefa. Por isso vemos muitas

ovelhas desarraigadas ou longe do pasto e dos olhares do seu pastor, estando assim

vulneráveis a ataques.

Como observa Jefferson:

Muito pastor não tem consciência de que é seu dever delinear meios e medidas para confrontar e vencer as forças hostis que estão sempre guerreando contra a Igreja de Cristo (JEFERSON in AZEVEDO, 2004, p 125).

Azevedo completa dizendo que:

Paulo mostra-se consciente dos perigos que rondam o povo de Deus. Por isso ensina, na carta aos efésios, que Cristo vivo presenteou a Igreja com “pastores e mestres”. (AZEVEDO, 2004, p 126)

Até mesmo para que as comunidades cristãs não sejam:

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... como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. (Ef 4. 14 ARA).

Azevedo conclui dizendo que: “O povo de Deus precisa ancorar-se na Palavra

fielmente transmitida por um bom pastor. Os pastores devem atentar para isso”. (AZEVEDO,

2004, p 126)

2.4.3 O Pastor como Guia

Nenhuma ovelha pode caminhar sozinha, ela precisa ter uma direção e alguém que a

conduza no caminho certo. Todavia, conforme expõe Stowell, “nenhum líder poderá ser

realmente eficaz até que primeiro e acima de tudo seja um seguidor de Cristo”. (STOWELL,

1990, p 131) Não há, portanto, como guiar a ovelha no caminho certo, sem antes seguir e

conhecer esse caminho.

Conduzir ovelhas é o maior desafio do líder capacitado, mas quando nos

comprometemos a seguir a Cristo, fica muito mais fácil unir as pessoas ao Salvador.

Azevedo afirma que: “para tanto, o pastor tem de ir à frente, mostrar o caminho e a

direção. É por seu exemplo e sobre suas pegadas que a Igreja caminha”. (AZEVEDO, 2004,

p 127). Mediante a isso, Jefferson finaliza dizendo que:

Alguns ministros dão-se conta do trabalho tremendo que deve ser rentado ou empreendido, mas não conduzem seu rebanho a tanto. Podem descrever de maneira crítica a natureza estratégica da batalha a ser travada, mas jamais levam seu povo ao campo de batalha. São visionários, sonhadores, mas não são pastores. Não lideram, pois ninguém é realmente líder a não ser que alguém o siga. (JEFFERSON in AZEVEDO, 2004, p 127)

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2.4.4 O Pastor como Médico

O pastor, no contexto de Israel tinha que ser também um médico. O bom pastor deve

sempre esta atento ao bem-estar físico das ovelhas, pois por hora ela poderia ser sucumbida

por algum distúrbio físico.

O pastor deve, portanto, ter um grande cuidado e muita ternura para com as ovelhas

doentes. Através de sua atuação pastoral e que o rebanho será abençoado.

Azevedo salienta que:

Em nosso rebanho, há sempre alguém que sofre, não só física, mas moral, mental e espiritualmente. Se somos pastor segundo o coração de Deus cabe a nós assistir essas pessoas. (AZEVEDO, 2004, p 129).

Por isso, Jefferson nos diz que a missão do pastor é:

Ministrar às mentes dos que estão enfermos; erradicar da memoria deles a tristeza; extirpar - lhes as perturbações gravadas em seu cérebro; e com o doce antídoto do esquecimento purificar o coração sobrecarregado de perigoso material que esmaga. (JEFFERSON in AZEVEDO, 2004, p 129).

2.4.5 O Pastor como Salvador

Como já apontamos as ovelhas não podem caminhar sozinhas, por isso elas têm muita

facilidade de se perder, pois lhe falta o sentido de direção.

Em Gálatas 6.1, Paulo esclarece as dúvidas quanto à salvação:

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Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais, deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que também não seja tentado.

Erwin Lutzer nos expõe o que significa restaurar alguém que caiu:

A palavra grega katartizo também era usada em referência à restauração de um osso quebrado. Infelizmente, muitos ossos do corpo de Cristo permanecem fraturados – nunca foram restaurados. (LUTZER, 1998, p 149)

Para Azevedo o pastor como salvador deve:

Conduzir as ovelhas a pastos verdejantes e a águas tranquilas, não às cachoeiras ou correntezas fortes. Assim faziam os bons pastores do Oriente. Devemos fazer o mesmo: os pastos e as águas da Palavra de Deus pregada, ensinada pública e pessoalmente, a Palavra transmitida em momentos de aflição, dor, perdas, ansiedades e dúvidas. Nossos rebanhos carecem de pasto e de águas e muitas vezes nos esquecemos disso. (AZEVEDO, 2004, p 132).

Em Lucas 19.10 vemos a afirmação de Jesus: “Porque o Filho do Homem veio buscar e

salvar o perdido”. Então compete a nós pastores do seu rebanho, conduzir as ovelhas a

salvação e restauração.

3. A atividade pastoral

Um autêntico pastor é aquele que vive em função do rebanho que fora confiado, e se for preciso sofrer e até correr risco de morte, não hesitará, pois o seu alvo maior é ser fiel àquele que o chamou para apascentar as suas ovelhas. (SANTOS, 2011, p 34).

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A função pastoral sempre foi vista como uma atividade simples e humilde, ela é,

portanto a marca registrada de qualquer sujeito empenhado com a obra de Deus.

O objetivo principal do pastor é alimentar o rebanho. A alimentação é uma tarefa

essencial. O rebanho também não se alimenta sozinho, eles precisam ser conduzidos.

Spurgeon nos lembra de que:

Dar esse alimento é trabalho humilde, despretensioso, sem ostentação. Você conhece o nome de algum pastor de ovelhas? Posso até conhecer uma ou duas pessoas que seguem essa vocação, mas nunca ouvi ninguém falar deles como sendo grandes homens; seus nomes não estão nos jornais, nem ouvimos falar deles como profissionais que entram na justiça com uma queixa, reivindicando leis para que sejam notados. Os pastores são geralmente pessoas quietas, discretas. Ao vermos um pastor, não percebemos diferença entre ele e um lavrador. Ele caminha sem reclamar durante todo o inverno e, no começo da primavera, não descansa nem de dia nem de noite porque os carneirinhos precisam dele; isso acontece ano após ano, mas ele nunca ganhará uma "insígnia imperial", nem será elevado à nobreza, embora possa ter feito um trabalho bem mais útil do que aqueles que entram flutuando para altos postos sobre seus próprios barris de chopes. Então, no caso de muito professor fiel de criancinhas, ouve-se pouco sobre ele, mas ele faz uma grande obra pela qual os tempos futuros o chamarão de bem-aventurado. Seu Mestre conhece tudo a seu respeito, e naquele dia futuro ouviremos falar dele; talvez não antes. (SPURGEON, p 13).

Dentro das inúmeras atividades pastorais, podemos salientar algumas que jugo eu ser

muito importante ao tratarmos de pastoreio infantil. É obvio que esta não é, e nem me

proponho a fazer uma lista fechada. Todavia, há diferentes aspectos no ministério pastoral e

alguns deles merecem uma atenção toda especial.

3.1 Humildade

Para muitos a humildade é apenas uma qualidade de um ser, e atribui-la a uma atividade

pode soar meio estranho. No entanto vejo que não há como exercer um ministério eficaz se

não houve a pratica da humildade. A humildade esta inserida na atividade pastoral. Num

mundo em que vivemos não se valoriza a humildade, mas sim a aprovação da multidão, o

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verdadeiro homem comissionado por Deus deve buscar a aceitação do seu Pai. Isso quer dizer

que o pastor deve, impreterivelmente, ser humilde.

A Bíblia esta repleta de referências à humildade, em Provérbios há um trecho que ilustra

bem o que estamos tratando agora: “O temor do Senhor é a instrução da sabedoria, e a

humildade precede a honra”. (Pv 13.33)

Está claro que a humildade precede a honra, isso que dizer que pra que eu seja honrado

tenho que primeiro me humilhar.

Ser humilde é a cerne fundamental da liderança mostrada por Pedro em 1 Pd 5. 1-3.

Pastores humildes são o que Deus tem chamado para liderar seu rebanho. Spurgeon adverte de

que:

Se exaltamos a nós mesmo, nos tornaremos desprezíveis, e não exaltaremos nosso trabalho e nem o Senhor. Somo servos de Cristo, não senhores da sua herança. Os ministros são para Igreja, e não as Igrejas para os ministros... Cuide de não ser exaltado mais do que se deve, para que não se transforme em nada. (SPURGEON in MACARTHUR, 1995, p 38).

Stott adverte que:

Talvez a maior de todas as nossas necessidades é assumir outra vez o nosso lugar humildemente, calmamente e pacientemente aos pés de Jesus Cristo, para ouvir atentamente a sua Palavra, acreditar e obedecer. Aliás, nós não temos direito algum de desacreditá-lo ou desobedece-lo. (STOTT, 2005 p 203)

A humildade adequada escoa-se de uma perspectiva apropriada de Deus. O modo pelo

qual se vive e atua no ministério está pertinente a essa perspectiva. MacArthur afirma que

Um homem humilde, com a perspectiva adequada de Deus, terá confiança no poder divino, estará comprometido com a verdade, será comissionado

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pela vontade do Senhor, compelido por esse conhecimento e consumido pela glória de Deus. (MACARTHUR, 1995, p 40)

Para Agostinho, a humildade é necessária para a verdadeira santidade e que, além disso,

seria “a base de um serviço altruísta, onde um individuo serve verdadeiramente a outrem, e

não ao seu próprio eu de alguma maneira disfarçada”. (CHAMPLIN, 2002, p 182)

Por mais simples que nosso trabalho possa ser, devemos nos lembrar das palavras de

Jesus: “bem aventurados os humildes”, pois a recompensa vem do Senhor.

3.2 pregação

A pregação constitui a base de toda a atividade pastoral. José D. Mendes diz que a

“pregação é o instrumento poderoso no aperfeiçoamento dos santos”. (MENDES, 1988 p 68)

Podemos ver através da leitura da Bíblia que o ministério de Jesus era voltado a

pregação, por isso Ele nos comissionou dizendo “Ide e pregai”. Portanto devemos estar

sempre prontos a anunciar a mensagem de Jesus.

Conforme diz Erwin Lutzer, existem três pessoas que agem na pregação. A primeira é

Deus. Devemos nos lembrar de que o pastor fala em nome de Deus, ou seja, a impressão que a

congregação terá da mensagem de Deus será aquela que o pastor trará.

A segunda pessoa conforme Lutzer é o ouvinte. A ideia de que basta falar é os outros

ouvirão deve ser descartada. Haddon Robinson diz:

A mente humana não é aberta nem oca. Tem um lacre sempre bem fechado, e nenhuma ideia pode penetrar à força. Ela se abre somente quando o dono sente necessidade de abrir. Ainda assim, porém, as ideias precisam ser filtradas por experiências, hábitos, preconceitos, medos e suspeitas. (ROBINSON in LUTZER, 1998, p 44).

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Isso remonta ao principio básico da comunicação: Falar e ser compreendido. Onde só

um fala e outro não entende, não é comunicação, mas um monólogo. E como pastor devemos

comunicar a boa Palavra de Deus de forma eficiente.

A pregação na Igreja deve ser abrangente, que consisti em ministrar de tal forma que a

mensagem possa ser compreendida tanto por crianças como por anciãos. Ou seja, a pregação

deve ir de encontro às necessidades de todos dentro do rebanho.

3.3 Aconselhamento

O aconselhamento é um serviço árduo e desgastante, porém de suma importância no pastoreio. Malaquias diz:

Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é mensageiro do Senhor dos Exércitos. (Ml 2. 7)

Conforme Lutzer, “nós não precisamos ser experts em psicologia para ser conselheiros

eficazes” (LUTZER, 1998, p 98). Mas precisamos buscar em Deus, através da oração e leitura

da Palavra para entendermos as necessidades das pessoas.

4. Pastoreando o rebanho de Cristo

Pastorear um rebanho espiritual não é nada fácil. Muitas vezes e preciso se desdobrar

para ser um pastor espiritual que atende as expectativas da congregação. Por causa das

diversas responsabilidades essenciais para a liderança o ministro sempre enfrentará pressões,

que por muitas vezes o farão sucumbir em meio às lutas.

Em meio a tudo isso qual deve ser a responsabilidade do pastor? Como ele deve

pastorear?

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4.1 Como Pastorear

Não é meu objetivo oferecer uma aula de teologia pastoral, contudo dentro do pastoreio

infantil temos que observar algumas coisas.

Já vimos que o objetivo primário do pastoreio é a alimentar o rebanho. Além disso, no

meu entendimento, o pastor tem ainda duas responsabilidades.

4. 1. 1. Supervisionar o rebanho

Supervisor é aquela pessoa encarregada de verificar se aqueles sob a sua supervisão

estão fazendo corretamente o que têm que fazer. O Dicionário Michaelis diz que

supervisionar é o ato de dirigir ou inspecionar em nível superior. Quando há falta de

supervisão, o rebanho inevitavelmente se desvia. Vemos bem claro em Êxodo quando Moisés

sobe ao monte pra falar com Deus, o povo se dispersa:

Mas o povo, vendo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão, e lhe disse: Levanta-te, faze-nos um deus que vá adiante de nós; porque, quanto a esse Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu... Chegando ele ao arraial e vendo o bezerro e as danças, acendeu sê-lhe a ira, e ele arremessou das mãos as tábuas, e as despedaçou ao pé do monte. (Êx 32. 1, 19)

Quando não há supervisão de um líder existem grandes possibilidades de dispersão, o

pastor que não supervisiona seu rebanho pode facilmente perde-los.

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4. 1. 2. Liderar pelo exemplo

Liderar pelo exemplo é a habilitação para chefiar fundamentada no prestígio pessoal e

com o assentimento espontâneo pelos liderados. O dicionário define liderança como a função

representativa de um grupo. (MICHAELIS, 2005).

O pastor, como líder é um espelho para o rebanho, não tem como escapar, ele é o

exemplo dos seus liderados. Paulo dizia que era exemplo e sua recomendação a Timóteo

mostra que devemos ser exemplo: “Ninguém despreze a tua mocidade, mas sê um exemplo

para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza”. (1Tm 4. 12 Grifo

meu). E também a Tito: “Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra

integridade, sobriedade” (Tt 2. 7 Grifo meu).

4.1.3. Amar o Rebanho

Liderar e supervisionar o rebanho são duas responsabilidades básicas do pastoreio, mas

se ficarmos apenas nestes termos podemos concluir que pastoreio e muito mais

administrativo.

Se o pastor for amoroso, o rebanho será nutrido com as palavras de fé e sã doutrina, e

serão também disciplinadas segundo o propósito do amor. O pastor é essencial ao propósito

de Deus para sua Igreja, pois Ele o capacita extraordinariamente, através do Espírito Santo,

visando o crescimento e aperfeiçoamento das ovelhas.

Em 1 Timóteo 4.12, podemos notar que o apóstolo Paulo adverte que Timóteo deveria

ser exemplo até mesmo pelo amor. O amor, expresso pelo pastor e experimentado pelo

rebanho, é uma ligação que une pastor a ovelha.

As ovelhas tendem a acompanhar os pastores que cuidem delas amorosamente, e não de

si mesmo. Faz parte da natureza da ovelha. E deveria perpetrar também da natureza do pastor.

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A história da Igreja está abarrotada de relatos nefastos de pastores cuja atenção estava

voltada para o uso da comunidade em benefícios convenientes de suas necessidades e bel-

prazeres e que no decorrer abateram o espírito do rebanho, dispersaram as ovelhas e

prejudicaram o testemunho de Cristo em suas comunidades.

Eliyahu Eliezer Dessler traz uma definição de amor que é muito pertinente “amar é dar

sem esperar nada em troca” (WIKIPÉDIA, Acesso 03/11/2011 às 19h). Com isso,

percebemos que o amor do pastor, pela ovelha deve ser altruísta, ou seja, sacrificar seus

próprios interesses, em prol do rebanho.

Josephn M. Stowell conclui de forma objetiva quanto à expressão de amor pastoril.

Quando um pastor verdadeiramente expressa amor, seu rebanho sente-se cuidado; crescerá num ambiente em que suas necessidades perceptíveis são atendidas... A recompensa do pastor é sentir o amor recíproco e ter prazer em ministrar aos corações que se entregam a liderança. (STOWELL,1997, p 185)

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CAPÍTULO II

DEIXEM VIR A MIM AS CRIANÇAS “De que vale uma criança saber quantos quilômetros separam Jerusalém de Nazaré, se ela não

sabe a distância que separa o coração humano de Deus?”. (Dr. Donald G. Barnhouse)

Muitas crianças hoje, não tem a oportunidade de ouvir sobre o Deus que a criou. Algumas delas estão sofrendo nessa sociedade, que de fato, é muito hostil. Mas todas precisam escutar a mensagem da salvação.

As crianças são pecadoras como qualquer outro adulto, e igualmente estão debaixo da ira de Deus, e a melhor notícia que ela pode receber é que Cristo é seu Salvador. E quando uma criança aceita essa notícia, toda sua família pode ser salva, por meio da transformação da sua vida. As crianças que aceitam a Cristo como seu salvador, poderão sem duvidas estar com Ele no céu.

1. As crianças e Jesus

Em Mateus 18. 6, Jesus ao falar sobre quem seria o maior no reino dos céus, ofereceu-nos valiosas informações sobre Seu envolvimento com as crianças, que é bom recordarmos:

Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar.

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1.1. Qualquer que fizer tropeçar

Aqui literalmente significa fazer cair. Não é de hoje que vemos pessoas colocando tantos obstáculos para a salvação de crianças. Certa vez, enquanto preparava uma mensagem para as crianças do bairro onde eu estava, ouvi de um pastor que criança não tem capacidade de decidir entre o certo ou errado, e, portanto não se deve perder o tempo tentando anuncia-las a mensagem redentora, pois ela só entenderá quando chegar à puberdade. Que grande erro!

Muitas se lembram das crianças apenas quando precisam fazer alguma apresentação em alguma data comemorativa, evangeliza-las nem pensar, pra muitos é até fora de cogitação. Comumente vemos grandes campanhas evangelísticas para alcançar jovens e adultos, não que isso seja errado, mas e as crianças? Não seria bom se investíssemos da mesma forma para alcança-las?

Claudia Guimarães questiona que:

No Brasil mais de 100 milhões de crianças vivem nas ruas, 13 milhões são órfãos de pais vítimas da AIDS, 80 mil morrem por ano devido à violência familiar e 10 milhões são vítimas da indústria do sexo. Será que nossa liderança está atenta a este quadro? (GUIMARÃES, 2005, p 40).

Esses números mostram que precisamos levar as crianças a Cristo. Certo dia levaram algumas crianças para que Jesus as tocasse; mas os discípulos as repreenderam, entretanto quando Jesus viu isto:

Indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo que qualquer que não receber o reino de Deus como criança, de maneira nenhuma entrará nele. E, tomando-as nos seus braços, as abençoou, pondo as mãos sobre elas. (Mc 10. 14 – 16).

Muitas vezes negligenciamos os preceitos de Cristo. Claudia Guimarães em seu livro Pastoreando as Crianças desta geração, afirma que ao meditar nas palavras de Jesus se entristece muito, pois por muitos momentos dizemos:

Da criança é o reino dos céus, mas não a prioridade na Igreja. Da criança é o reino dos céus, mas não o melhor local. Da criança é o reino dos céus, mas não o melhor professor. Da criança é o reino dos céus, mas não o

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melhor investimento. Da criança é o reino dos céus, mas não o melhor material. Da criança é o reino dos céus, mas não a melhor estrutura. Da criança é o reino dos céus, mas não o melhor tempo. Da criança é o reino dos céus, mas não a equipe preparada. Da criança é o reino dos céus, mas não as finanças da Igreja. Da criança é o reino dos céus, mas não o professor (homem). Da criança é o reino dos céus, mas não o obreiro treinado. (GUIMARÃES, 2005, p 37).

De certo é uma critica muito intransigente, mas que, apesar disso, não esta longe da realidade. Os discípulos não queriam atrapalhar Jesus. Agiram na melhor das intenções, mas Jesus não gostou, a Bíblia afirma que Ele se indignou com essa atitude. Crianças, na maioria das vezes, são inquietas e é por isso muitos acreditam que elas atrapalham, e mediante a isso criam diversos obstáculos para que elas não alcancem a salvação.

Uma criança que tropeça nunca mais quer saber de igreja. Associa a criatura que o fez tropeçar com o Criador. Ai daqueles que fizer tropeçar um destes pequeninos! Jesus quer que as crianças estejam em seu colo, Ele quer abençoa-las. Ele quer salva-las.

Doherty descreve que:

Jesus ama as crianças e quer que venham a Ele. Ele quer que Seus discípulos sejam apoio para que as crianças venham a Ele, e não tropeço para evitar a sua vinda [...] Ser como Ele, significa amar as crianças, assim como Ele fez. (DOHERTY, 2008, p 68).

1.2. Pedra no pescoço

Jesus expressa de forma rigorosa e pesada para mostrar o seu zelo pelas crianças. Conforme Champlin, os romanos e outros povos, usavam esse método para afogar seus criminosos sobre pena capital. (CHAMPLIN, 1998, p 464).

Por hora dizemos que pastorear crianças não é nossa responsabilidade, chegamos até mesmo a dizer que Deus levantará outro no nosso lugar, tentamos buscar respostas aos problemas que nos atrapalham, de modo que nos livremos deles, a maneira mais fácil que encontramos para achar tais soluções, é atribuir aos outros as nossas próprias responsabilidades. Porque assim, pensamos ficar imunes de assumir os nossos deveres.

Creio que isso é o que Jesus diz sobre colocar uma pedra no pescoço. Temos que ter a consciência de que se não nos responsabilizarmos pela salvação das nossas crianças, não estamos isentos das suas almas.

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O profeta Ezequiel diz:

Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; se não o avisares, nem falares para avisar o ímpio acerca do seu mau caminho, a fim de salvares a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniquidade; mas o seu sangue, da tua mão o requererei. (Ez. 3. 18).

Pesa sobre nós a obrigação de pregar o evangelho a elas. Paulo diz: “Se eu anuncio o evangelho não tenho doo que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; portanto, ai de mim se eu não anunciar o evangelho” (1Co 9 .16 Grifo meu).

Temos a obrigação de cumprir a Grande Comissão e fazer das crianças discípulas, para que assim elas tenham suas vidas transformadas e submissas ao senhorio de Cristo.

1.3. Não pereçam os pequeninos

Todas as crianças estão sujeitas aos ataques de Satanás. Esses ataques se dão de várias formas. E através da atitude de muitos líderes que jugam ser desnecessárias gastar tempo com elas, ficam a mercê do inimigo.

Um erro cometido por muitos é assistir as crianças apenas na sua área física, esquecendo assim da parte espiritual, outros chegam ao ponto de desdenhar qualquer esforço evangelístico.

Em Juízes podemos observar que toda uma geração se perdeu, por causa da desobediência dos líderes em ensinar a mensagem de Deus para as crianças:

[...] e outra geração após eles se levantou, que não conhecia o Senhor, nem tampouco as obras que fizera a Israel. Então, fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o Senhor. (Jz 2. 10, 11).

É realmente isso que o Diabo quer, destruir essa geração. Esta é a razão principal porque devemos evangelizar as crianças. Como bem afirma Sam Doherty:

Nosso Senhor nos ordenou: “pregai o evangelho a toda criatura”. Não há dois evangelhos – um para adultos e jovens e outro para crianças. Não! Devemos pregar o único e o mesmo Evangelho para todas as faixas etárias.

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Haverá diferenças na forma em que o apresentamos ou na forma que o ilustramos, mas a mensagem é sempre a mesma. (DOHERTY, 2008, p 19)

Não devemos deixar que nossas crianças pereçam, pois elas são alvos do amor de Deus. As crianças precisam do evangelho. Certa vez me disseram que não precisamos nos preocupar com as crianças, pois elas são inocentes e Deus não leva em conta o tempo da ignorância. Ou seja, vamos esperar que elas cresçam, e comecem a fazer tudo de errado, aí sim estarão prontas pra ouvir sobre salvação. Acredito que isso contraria o que a Bíblia diz em Provérbios 22. 6 “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”. Spurgeon escreveu:

Elas devem tê-lo (o evangelho), e se forem ensinados acerca do Espírito de Deus serão tão capazes de recebê-lo quanto pessoas maduras [...] o Deus que salvou tantas de Suas crianças ainda irá salvar muitas delas, e devemos ter grande alegria à medida que virmos centenas sendo levadas para Cristo. (SPURGEON in DOHERTY, 2008, p 22).

É um dever nosso levar as crianças a Cristo.

2. As crianças e Wesley

John Wesley viveu na Inglaterra do século XVIII, em uma sociedade conturbada pela Revolução Industrial, onde crescia muito o número de desempregados. A Inglaterra estava cheia de mendigos itinerantes, políticos corruptos, vícios e violência generalizada. O cristianismo, em todas as suas denominações, estava definhando. Ao invés de influenciar, o cristianismo estava sendo influenciado, de maneira alarmante, pela apatia religiosa e pela degeneração moral. Dentre aqueles que não se conformavam com esse estado paralisante da religião cristã, sobressaiu-se John Wesley. Primeiro, durante o tempo de estudante na Universidade de Oxford, depois como líder no meio do povo. (WIKIPÉDIA)

Wesley em todo seu ministério valorizava as crianças. Ducan afirma que:

Sara, filha de Carlos, acompanhou o velho tio na viagem para Holanda em 1783 quando o venerável pregador tinha quase 80 anos. A rua estava cheia de crianças, que corriam para cá e para lá ao redor de Wesley. Depois da

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pregação, todas as crianças cercaram-no. Wesley testifica que “não ficaram satisfeitas antes de eu apertar a mão de cada uma delas” (5/04/1782). O fato de um homem que considerava cada momento de grande valor [...] parar na rua para apertar a mão de uma multidão de crianças uma por uma é revelador o seu amor para com os pequeninos. (DUCAN)

2.1. Sua Infância

Wesley era décimo terceiro filho do ministro anglicano Samuel e de Susana Wesley. Devido às atividades pastorais que impediam o Reverendo Samuel de dar a devida assistência ao lar, Susana administrou e educou os filhos. Intruiu com rigidez seu filhos, observando horário para cada atividade e reservando tempo de encontro com cada filho para conversar, estudar e orar.

Ainda na infância, sua família sofreu um atentado. Sua casa foi destruída por um incendio. Wesley foi salvo de forma milagrosa. Aos cinco anos de idade, Susana Wesley começou a alfabetizar o John, usando o livro dos Salmos como apostila. John estudou com sua mãe até os 11 anos. Entrou, então, para uma escola pública, onde ficou como aluno interno por seis anos.

Wesley aprendeu as verdades espirituais ainda criança. Certa vez solicitou à sua mãe que descrevesse o seu metódo de educação, ao que ele publicou em seu diário:

As crianças da família eram ensinadas, tão logo soubessem falar, a oração dominical, que tinham que dizer sempre ao levantar e no deitar; a isso se acrescentava à medida que cresciam, uma curta oração pêlos pais, algumas coletas, um catecismo menor, e alguma porção da Escritura, conforme as suas memórias permitissem. Cedo tiveram que distinguir entre o Domingo e os outros dias, antes deles poderem falar ou andar. Logo eram ensinadas a ficar quietas no culto doméstico, e a pedir uma benção imediatamente depois, o que faziam por sinais, antes de poderem ajoelhar-se ou falar. (DUNCAN, p 3)

Suzana Wesley preparou seus filhos ainda na infância, ela seguiu o que a Palavra de Deus diz em Provérbios 22. 6.

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2.2. Seu Ministério

Ao ingressar na universidade, John Wesley não se deixou influenciar pela descrença petulante de sua época, e nem pela bandalheira. Mediante a isso, junto com outros poucos jovens, formou o chamado clube santo.

Os participantes desse movimento tinham o dever de testemunhar fielmente sua fé cristã, conforme as regras da Igreja Anglicana. Consistiam em rigidez e regularidades em suas expressões religiosas, no exercício de ordem espiritual e no auxílio aos pobres, aos doentes e aos presos, e também as crianças.

Duncan descreve como eram as atividades de Wesley com as crianças:

[...] Frequentemente entrava nas casas dos pobres nas vilas ao redor de Holt, ajuntando as crianças e as instruindo no seu dever para com Deus, ao próximo, e si mesmas. Explicava-lhes a necessidade de oração privada e pública e proporcionava-lhes as formas mais apropriadas para as suas respectivas capacidades; e reconhecendo o quanto do sucesso dos seus esforços dependia da boa vontade delas [...] (DUNCAN, p 5)

Além disso, juntamente com seu grupo, que passaram a ser chamados de Metodista, estabeleceram uma escola para crianças pobres. Com seu dinheiro e com alguma ajuda de fora, pagavam a professora, e até ajudavam a vestir as crianças.

Wesley conta ainda em seu diário como ele ensinava essas crianças:

Para ensinar-lhe o cristianismo, usamos o catecismo de Lutero, e estudamos para corrigir as vontades bem como a sua compreensão, achando que quando a vontade se move, aprendem mais em poucas horas do que em muitos meses de outra forma [...] Instruímos principalmente por meio de hinos, onde descobrimos que as verdades mais importantes são insinuadas em suas mentes. (DUNCAN, p 7).

Isso mostra que as crianças não eram esquecidas por Wesley

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3. As crianças e a Igreja

A criança, assim como qualquer outro membro da Igreja, pode ser muito abençoada, impactada e cheia do Espírito Santo. Todavia, se como pastores não enxergamos as crianças como parte da Igreja, elas crescem pensando que não podem fazer parte dela.

Crianças estão morrendo sem salvação! Devemos despertar para salva-las, devemos investir em um trabalho solidificado para as crianças, nas palavras do Pastor Paulo Roberto Sória, devemos nos esforçar e:

Investirmos nas crianças. Priorizar as crianças [...] Ensinar a criança a andar no Caminho. Andarmos no Caminho, de mãos dadas com elas, aprendendo delas como é simples ser feliz e como é fácil fazer outros felizes. Ser gratos a Deus pelas crianças [...] Esforcemo-nos para trazê-las à Cristo. (SÓRIA)

Infelizmente vemos em nossas Igrejas um grande despreparo para o trabalho infantil, de fato não são todas. Muitas tem se destacado nesta grande obra.

Contudo, em algumas Igrejas que passei, não pude deixar de notar que muitas delas estão apenas entretendo as crianças, simplesmente para que elas não atrapalhem o culto. Muitas crianças vão aos seus “cultinhos” simplesmente para pintar, brincar ou assistir algum filme, não há uma mensagem especifica para sua vida cristã.

Não podemos apenas entretê-las em seus “cultinhos”. Devemos falar sobre as verdades espirituais. Spurgeon, em sua época já se preocupava com o entretenimento na Igreja. Vejamos o que ele diz:

Existe um mal entre os que professam pertencer aos arraiais de Cristo, um mal tão grosseiro em sua imprudência, que a maioria dos que possuem pouca visão espiritual dificilmente deixará de perceber. Durante as últimas décadas, esse mal tem se desenvolvido em proporções anormais. Tem agido como o fermento, até que toda a massa fique levedada. O diabo raramente criou algo mais perspicaz do que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo [...] Minha primeira contenção é esta: as Escrituras não afirmam, em nenhuma de suas passagens, que prover entretenimento para as pessoas é uma função da igreja. Se esta é uma obra cristã, por que o Senhor Jesus não falou sobre ela? "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Mc 16.15) — isso é bastante claro. Se Ele tivesse acrescentado: "E oferecei entretenimento para aqueles que não gostam do evangelho", assim teria acontecido. No entanto, tais palavras não se encontram na

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Bíblia. Sequer ocorreram à mente do Senhor Jesus. [...] Qual era a atitude da igreja em relação ao mundo? "Vós sois o sal", não o "docinho", algo que o mundo desprezará [...].

São palavras duras, mas verdadeiras. CRIANÇAS ESTÃO MORRENDO SEM SALVAÇÃO. Elas precisam de Cristo. Não de entretenimento. A Palavra de Deus nos alerta:

Por que: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? (Rm 10. 14).

Nossa missão é pregar Jesus, é pastoreá-las no caminho de Deus, leva-las ao pleno conhecimento da obra redentora de Cristo. É fazer com que elas creiam no Evangelho. Mas como elas farão isso se não nos dispusemos a pregar a elas? Como pastorearemos se elas não estão dentro do nosso aprisco recebendo o bom alimento e se fortificando?

4. Deixem vir a mim as crianças

Para Jesus a criança tem um enorme valor. Criança é um ser humano especial. Elas também precisam ser pastoreadas. Devem ser uma das nossas prioridades. Necessitamos, portanto, pastorear as crianças. Necessitamos cada dia mais de pessoas com visão para esse pastoreio. O que Paulo descreve em sua carta aos Romanos aplica-se também às crianças: “Como ouvirão se não há quem pregue?” (Rm 10.14).

Muitos abrangem a visão de pastoreio apenas aos adultos e por vezes esquecem e não dão destaque para as crianças. Não dar o mesmo destaque às crianças é negligência. Alguns creem que as crianças nascidas em lares cristãos, tornar-se-ão crentes automaticamente. Mas, precisamos olhar para as crianças como pessoas que precisam de salvação e também de um desenvolvimento espiritual acompanhada por um pastor.

Cristo afirma em Lucas 18. 16: “Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais é o reino de Deus”. Neste texto há três palavras usadas por Jesus que caracteriza a importância das crianças:

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4.1 Deixar

Conforme o dicionário Michaelis, “deixar” é um verbo que traz a ideia de “não continuar” uma ação de não reter, não obstruir, ou seja, permitir. É isso que precisamos fazer referente às crianças. Precisamos deixar e as crianças irem a Jesus, não retê-las desse direito.

Sobre isso, concordamos com o que descreve o bispo Anderson Caleb,

“Deixem vir a mim”. O mandamento é claro: não impeçam as crianças de virem a mim. Deixem! Facilite o caminho. Os discípulos de Cristo podem ser tanto agentes facilitadores quanto dificultadores do acesso ao Mestre [...] (CALEB, 2011, p 187)

Deixai. Jesus disse isso devido ao episódio que Ele presenciou, onde os discípulos criaram uma situação na qual O mestre usou para instruir sobre a importância e o valor das crianças. Às vezes, agimos da mesma forma, e como os discípulos, achamos que estamos fazendo o que é certo, mas, infelizmente estamos cometendo um grande erro. Jesus recebia e falava para muitas pessoas e acredito que as crianças estavam fazendo aquele barulho característico. Impô-las uma conduta diferente, não era uma atitude das mais sábias por parte dos discípulos, justamente quando a prioridade precisava ser agir de uma maneira correta e permitir que elas chegassem a Jesus.

As crianças têm o direito de ir a Jesus. Elas têm direitos de conquistarem uma vida espiritual. Deixar as crianças desenvolverem suas vidas com Jesus é um direito que elas possuem e que nós, carecemos em favorecer e adequar. Os pequenos precisam ver em nós uma postura honesta, sincera e digna em relação ao que Jesus é e representa para elas. Do mesmo modo, necessitamos reconhecer que podemos sutilmente influenciá-las a fazer uma decisão de seguir a Cristo e continuar em seus caminhos.

Entretanto, alguns questionam qual idade deve ser atingida para que a criança conheça o caminho que se deve seguir. Como já mencionei, entendo que falar de Jesus o mais cedo possível é algo importante. D. L Moody, evangelista americano, disse: “Eu creio que, se a criança tem idade suficiente para vir a Escola Dominical, elas têm idade suficiente para vir ao Calvário”. (O EVANGELISTA DE CRIANÇA).

Piaget, um epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX afirma que:

o período que vai do nascimento até a aquisição da linguagem é marcado por extraordinário desenvolvimento mental. Muitas vezes mal se suspeitou

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da importância desse período; e isso porque ele não é acompanhado de palavras que permitam seguir passo a passo, o progresso da inteligência e dos sentimentos, como mais tarde. Mas, na verdade, é decisivo para todo o curso da evolução psíquica. (PIAGET, 1990, p 35).

Ele ainda afirma que as crianças adquirem conhecimentos ainda bebes (CONGER, 1995, p 112).

Se houver falhas no pastoreio das crianças, haverá uma geração rebelde. A Bíblia diz: “Ensina a criança no caminho que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele” (Pv 22. 6). Quanto mais cedo pastorearmos nossas crianças melhor será. A exemplo de Timóteo, que fora instruído na sua infância acerca da Palavra de Deus:

Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste. E que desde a infância sabes a sagradas letras que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Jesus. (2 Tm 3. 14)

O poder de Deus age na vida das crianças. Em sua terna infância ela pode crer e receber Jesus como seu salvador pessoal.

Então, quando as crianças irão a Jesus? Quando nós aproveitarmos as oportunidades naturais que surgirem para pastoreá-las? Precisamos pastorear as crianças para que estas possam honrar e respeitar a Deus e seus ensinos na Palavra. Não podemos nunca esquecer que Jesus é o Salvador também das crianças. Deixamos, pois elas chegarem a Cristo.

4.2 Impedir

O dicionário define o verbo “impedir” como atrapalhar, embaraçar, estorvar que traz a ideia de dificultar. A nossa postura como pastor de crianças precisa ser de tal forma que essas coisas não aconteçam quanto a nossa missão de conquistar os pequeninos para Jesus.

Jesus disse: “Não as impeçais de virem a mim”, Paremos, no entanto para pensar, quantas vezes e de maneiras diversas criamos dificuldades para que as crianças conheçam o dom da graça. Fato é que muitas delas ocorrem por falta de informação, outras vezes por nossas prioridades serem outras.

O Bispo Caleb diz que devemos desembaraçar o caminho das crianças por que:

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[...] o Rei nos ordena hoje a ser pessoas que abrem portas e não que fecham portas, discípulos construtores de pontes de acesso ao reino, ao Rei e não de muros, dificuldades, criadores de burocracia espirituais e religiosas que dificultem as crianças de se aproximarem e de se jogarem nos braços receptivo do Senhor. (CALEB, 2011. p 187)

Impedimos as crianças de estarem com Jesus quando somos indignos e duvidosos na nossa fé. As crianças precisam e ver em seus pastores atitudes que combine com o nossa homília. Quando a criança não se decide por Jesus nessa fase encontra mais empecilhos na fase adulta.

4.3 Reino de Deus

Jesus ao falar de vida eterna promete para as crianças a participação no reino. As palavras de Cristo denotam que Ele não está alheio às crianças e está pronto para abençoá-las. Mostram-nos ainda que a promessa de vida eterna e salvação ampliam-se a elas. Jesus ensinou que as crianças têm o direito de estarem no reino dos Céus. Jesus disse, “porque delas é o Reino”. Elas são participantes da promessa do Reino.

O Bispo Anderson afirma: “o Reino é delas. A criança tem lugar especial no Reino”. (CALEB, 2011, p 187). Mesmo ainda quando não sabem discernir entre o bem e o mal, quando ainda não possuem consciência própria e real do pecado, são protegidas e seguras pela graça de Deus. As crianças precisam receber Jesus, que a todas espera para aplicar a eficácia de seu sacrifício na cruz do Calvário, através do arrependimento e fé. Devemos oferecer o direito da criança de ter o reino dos Céus. Para tanto, elas precisam de Cristo em suas vidas.

Portanto, trabalhemos com tenacidade, trabalhemos com dedicação com as nossas crianças. Levemos as crianças à igreja. Invistamos nas crianças com oração e com a Palavra. Não tornemos relativo o que não pode ser. Que possamos investir no pastoreio das crianças, que possamos leva-las a Cristo sem nenhum empecilho, sem barreiras.

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CAPÍTULO III

PASTOREANDO AS OVELHINHAS DE JESUS “Feliz é aquele cuja esfera de serviço é entre as crianças”.

(Charles H. Spurgeon)

Por que pastorear crianças? Se observarmos em muitas igrejas, poderemos ver o descaso abrupto que muitos pastores fazem do ministério infantil. Deixando as crianças aos cuidados dos professores, sem recursos, sem salas, sem material didático.

Como pastores devemos nos lembrar das nossas crianças. Pastorear crianças é educá-las em valores para a vida, para o amor e para a paz. E somando-se a isso, as nossas crianças, devem ser pastoreadas.

Quando falamos a respeito de pastoreio infantil, temos que ter latente em nossas mentes que a proposta desse serviço não é apenas influenciar toda a vida de uma criança, mas transforma-las em mensagens vivas para o mundo no qual elas já estão inseridas. San Doherty Diretor da Apec para o leste Europeu, disse em uma conferencia na Europa que: “as crianças são as mensagens vivas que enviaremos para o futuro onde não estaremos mais”. (DOHERTY, 2008, p 65).

Nossa missão não é apenas cobrar, mas sim cuidar, guiar, guardar. O pastor deve ser o amigo com quem a criança poderá ter liberdade. O pastor que pastoreia uma criança “auxilia na formação de sua personalidade cristã, e contribui para que ela desenvolva um relacionamento íntimo com Deus”. (GUIMARÃES, 2010 p 85)

O pastoreio do coração da criança é um ato na qual o pastor tem uma enorme influência na ação educativa da criança. Aquele que é chamado para pastorear a criança é chamado para contribuir na construção de um caminho no qual viver é amar.

Para pastorar as nossas crianças é necessário conhecer as caraterísticas delas, e entender as situações que influenciam seu desenvolvimento. Para pastorearmos uma criança devemos cuidar de cada momento do seu desenvolvimento. Levando em consideração que o desenvolvimento humano está relacionado com sua fé. Como descreve Claudia Guimarães:

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“A fé se desenvolve como uma espiral, com fortes resultados das situações vivenciadas pelas crianças nas relações com as pessoas e ambiente em que vivem” (GUIMARÃES, 2005, p 59)

Paulo, antes de ir para Jerusalém, dá instruções aos presbíteros de Éfeso que demostra a nossa fundamental importância como pastores de Cristo:

Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho que o Espírito Santo entregou aos seus cuidados, como pastores da Igreja de Deus, que ele comprou por meio do sangue do seu próprio Filho. (At 20:29 Grifo meu)

Quando analisamos o adjetivo "todo" como um complemento integral e por inteiro percebemos que Paulo aqui incluía cada, ou qualquer individuo que participasse desse rebanho. Quando Paulo usa a expressão "todo" o que poderíamos deixar de fora? Redundantemente todo significa todos, inclusive as crianças.

Foi entregue a nós a responsabilidade de pastorear, e nosso exemplo maior de pastoreio é Cristo, e como seus servos temos que cuidar de todos os que fazem parte desse rebanho. Essa é a nossa responsabilidade.

Podemos nos atentar a preparar sermões, administrar bem a Igreja, cuidar dos membros da congregação, melhora nossas habilidades pastorais, mas se não cuidarmos com amor de nossas crianças “isso não adiantaria nada”. O pastoreio de crianças está no mesmo pé de igualdade com todos os outros serviços que o pastor tem que exercer na Igreja, talvez não seja a prioridade, mas também não deve ser vista com descaso.

É interessante notar que Jesus cumpria todas as suas obrigações, mas não esquecia os pequeninos. Muitas vezes pensamos nas crianças como pequenos ouvintes que precisam de um entretenimento durante o culto para que não atrapalhem a reunião, assim as tiramos do nosso meio e as deixamos em seus "cultinhos", o que muitas vezes não passa de um simples passatempo, onde elas irão pintar e cantar algumas músicas.

1. Apascenta os meus cordeiros

Conforme o dicionário Michaelis, apascentar é cuidar, guardar, proteger. Como pastores de Cristo, nosso dever é esse. Guardar o nosso rebanho. A Palavra de Deus nos alerta: “Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar” (1 Pd 5. 8). Crianças estão morrendo sem salvação, e por

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isso devemos nos aperceber da importância de apascentarmos. Vejamos agora o porquê de essa tarefa ser tão importante.

1.1 Ataques do inimigo as crianças

O diabo quer também atacar as crianças, por isso se faz necessário à importância do pastoreio infantil. Como no texto citado, ele está ao derredor procurando apenas uma brecha para poder agir.

E ele pode agir de varias maneiras. O fato de se colocar contra a evangelização das crianças é um grande ataque de satanás.

Na Bíblia encontramos dois ataques contra criança. O primeiro deles executado por Faraó, mandando matar todas as crianças do sexo masculino: “Quando servirdes de parteira às hebréias, examinai: se for filho, matai-o; mas, se for filha, que viva”.(Ex 1. 16). E o outro através da ordem de Herodes:

Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente e mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos. (Mt 2. 16).

De acordo com Claudia Guimarães, na história da humanidade, também vemos os ataques às crianças:

Na Roma antiga havia uma legislação chamada As Leis de Romulo que impunham aos pais a obrigatoriedade de criar todos os filhos do sexo masculino, mas somente a primeira filha que nascesse. Na cidade havia uma coluna destinada à exposição de crianças rejeitadas. Elas eram abandonadas ali: meninas, depois os meninos ilegítimo e os defeituosos. Algumas eram recolhidas por estranhos para serem escravas, mas a maioria permanecia dentro de cesto, expostas às intempéries do tempo e à fome; outras eram devoradas por porcos e cachorros (GUIMARÃES, 2005, p 63)

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Hoje, também há muitos ataques as crianças. Muitas vezes de forma sutil, outras de forma escandalosas. Não anseio com isso despertar medo do Inimigo, pois absolutamente esta não deve ser nossa atitude, mas sim, conscientizar das artimanhas de satanás contra as crianças, pois eles são reais.

Devemos ainda, mais uma vez salientar. As crianças são importantes para Deus. Elas têm uma alma imortal e uma vida inteira pela frente. Elas ouvem e atendem à mensagem do evangelho mais prontamente do que qualquer outro grupo de pessoas. Não é à toa que o inimigo das nossas almas busca ceifá-las desde cedo. A atividade satânica direcionada a criança é intensa, por isso como pastores devemos estar atentos aos ataques do inimigo às crianças.

1.2 Janela 4/14

Uma pesquisa realizada por Lionel Hunt registrou de uma forma inequívoca, qual a melhor idade para a evangelização e conversão, idade essa que digo ser pronta para ser pastoreada.

Segundo a pesquisa 1% dos convertidos fizeram sua decisão antes dos 4 anos de idade. 85% a fizeram entre os 4 aos 14 anos. Dos 14 aos 30 apenas 10%, e somente 4% após os 30 anos. (CELETI, 2011, p 10)

Apesar de muitos pastores investirem nas crianças, o quadro geral e bem desanimador. Percebemos que há pouco interesse em investir nos trabalhos infantis.

Mediante a essa pesquisa podemos concluir que se uma criança passar pela Igreja sem ter uma experiência pessoal com Cristo enquanto estiver na faixa de 4/14 anos, dificilmente ela se firmará.

Após os 14 anos, a situação fica mais complicada. Começa a fase da puberdade, a florar vários sentimentos – orgulho, incredulidade, desconfiança, dominarão o coração.

Por isso faz-se tão amplamente necessária o pastoreio infantil. A Bíblia diz: “Não é da vontade do vosso Pai celeste que pereçam um só destes pequeninos” (Mt 18. 14). Desta forma constitui-se um grande desafio para o pastor e para Igreja alcançar a Janela 4/14.

Se quisermos ver um mundo melhor, devemos apascentar nossos cordeirinhos com muito mais intensidade. Não há tempo a perder, ou toda uma geração poderá se perder.

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2. As crianças e suas necessidades O Bispo Caleb nos diz que fomos chamados para sermos pontes, ou seja, ser um acesso

fácil e descomplicado do Evangelho. (CALEB, 2011, p 233). Precisamos pastorear as crianças porque elas necessitam desse Evangelho.

2. 1 Natureza pecaminosa

A Bíblia ensina que todos nascidos neste mundo possuem uma natureza pecaminosa. Vejamos alguns textos:

“Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe”. (Sl 51. 5)

“Desviam-se os ímpios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo mentiras”. (Sl 58. 3)

O pecado, que é morte da alma, se propaga de Adão a todos os seus descendentes por gerações. É intrínseca em cada indivíduo. Assim sendo, é preciso que entendamos que as crianças são pecadoras desde o nascimento. Ninguém nasce inocente, pois todos somos pecadores por natureza.

Todas as crianças nascem com a natureza pecaminosa, e a única forma que ela poderá receber uma nova natureza é se achegando com fé em Jesus. Como diz a Bíblia: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”. (1 Co 5. 17)

Portanto, Deus não quer que nenhuma criança esteja perdida para sempre. Podemos ver isso claramente nas palavras de Jesus;

Porque o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido [...] Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos. (Mt 18. 11, 14)

As palavras de Cristo nos mostram que Deus não quer que nossas crianças se percam, pois Ele enviou Seu Filho para salva-las. R. Hudson Pope, um conhecido evangelista de crianças escreveu:

É verdade que a crianças é um pecador necessitado do Salvador que, a julgar pela forma que se dirigem às crianças, muitos pregadores

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aparentam ignorar. Suas falas são via de regra, histórias com um fundo moral que mostra a necessidade da criança ser amável, sábia, boa e assim por diante [...] A menos que as crianças em questão sejam convertidas, este tipo de ensino não passa de ‘salvação por obras [...]’ A ordem de nosso Senhor foi de pregar o Evangelho a toda criatura (Marcos 16:15). Isto inclui as crianças porque, se isso não ocorrer, então a partir de que idade devemos começar? (POPE in DOHERTY, 2008, p 46)

2.2 Espiritualmente mortas

Toda criança precisa confiar em Jesus Cristo como Seu Salvador, não importa quão jovem ela seja, todas estão mortas espiritualmente. A própria Escrituras no afirma isso: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados [...] e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, pela graça sois salvos”. (Ef 2. 1,5).

Esse texto alude que todos os nascidos neste mundo estão espiritualmente mortos, e a única maneira que uma criança poderá receber uma vida espiritual é mediante ao arrependimento e na fé pessoal em Cristo Jesus.

Como queremos que nossas crianças permaneçam? Num estado de morte espiritual? Creio que não. Nós as queremos vivas espiritualmente. Mas para que isso se torne realidade, precisamos pastoreá-las.

2. 3 Fora do reino de Deus

A Bíblia ensina que todos nasceram fora do Reino de Deus: “disse Jesus: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt 18. 3), e por isso é necessário ser regenerado para entrar neste reino. Só se pode entrar nesse Reino por meio de um novo nascimento.

Precisamos entender que as crianças não herdam o reino dos céus de forma automática por serem crianças, mas a promessa de terem o Reino foi proclamada por Jesus. As crianças estão perdidas e precisam ser salvas. Por isso precisamos evangeliza-las e pastoreá-las.

Spurgeon fez algumas considerações muito pertinentes para nós hoje:

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Será necessário que você ensine a criança acerca de sua necessidade de um Salvador. Você não deve negligenciar essa tarefa [...] Diga que ela precisa nascer de novo.

Essas crianças necessitam de perdão por meio do precioso sangue, assim como todos nós [...] Fale também acerca da punição do pecado e advirta-os de seu terror. Seja gentil, mas verdadeiro. Não esconda a verdade das crianças pecadoras, por mais terrível que ela possa ser. Agora que chegaram a uma idade de responsabilidade, se não crerem em Cristo, ser-lhes-á penoso no ultimo grande dia

Sua criança precisa de ensino. Ela nasceu em iniquidade. Em pecado sua mãe a concebeu. Ela possui um coração mal. Não conhece a Deus e nunca irá conhecer o Senhor, a menos que seja ensinada. Você é o instrumento dEle para jogar a semente no coração desta criança. Lembre-se que, se esta semente não for semeada, ela estará perdida para sempre. Sua vida será alienada de Deus. Ao morrer sua punição será eterna (SPURGEON in DOHERTY, 2008, p 47 – 48).

As crianças precisam urgentemente fazer parte deste Reino, cabe a nós apresentar a elas, o mais rápido possível, como participar desse Reino.

3. Pastoreando as ovelhinhas de Jesus

Ser pastor é um chamado divino e inigualável, concedido a homens eleitos por Deus para serem ministros da sua Palavra.

A maior necessidade das crianças hoje é que se tenham pessoas comprometidas com o pleno evangelho. Pessoas que cumprem suas obrigações para com a presente geração. O pastoreio infantil é muito abrangente, multifacetado e profundo. As necessidades das crianças vão muito além. Um pastoreio sadio e comprometido requer: aconselhamento, visita, ensino, discipulado e evangelismo infantil.

Mas será que o ministério pastoral com as crianças hoje tem correspondido às perspectivas de Deus expressa em sua Palavra? Oden conclama veementemente a um retorno às Escrituras, afim de que se compreenda o oficio do Pastor:

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As Escrituras fornecem a base para a compreensão do oficio pastoral e suas funções [...] A sabedoria pastoral vem sobrevivendo dos textos-chaves clássico, que têm desfrutado uma rica história de interpretação, muito antes do advento da pesquisa histórica moderna. Somos livres para usar essas pesquisas e aprender com elas, sem sermos podados por algumas de suas pressuposições reducionistas. A teologia pastoral sobrevive das Escrituras [...] Não submetemos as Escrituras ao nosso exame, de acordo com critérios alheios a elas, a fim de compreendermos o ministério. Antes, as Escrituras examinam nossas concepções básicas do ministério. Elas as colocam em prova. (OLDEN in MACARTHUR, 1995, p 29)

Olden faz um grande apelo para um ministério conformado com a Bíblia. Por causa disso entendemos que todas as crianças são alvos do amor de Deus. Não podemos negligenciar o cuidado. Deus quer que cuidemos das ovelhas do seu rebanho com amor. Em 1 Co 13. 1 – 3 lemos que:

Eu poderia falar todas as línguas que são faladas na terra e até no céu, mas, se não tivesse amor, as minhas palavras seriam como o som de um gongo ou como o barulho de um sino. Poderia ter o dom de anunciar mensagens de Deus, ter todo o conhecimento, entender todos os segredos e ter tanta fé, que até poderia tirar as montanhas do seu lugar, mas, se não tivesse amor, eu não seria nada. Poderia dar tudo o que tenho e até mesmo entregar o meu corpo para ser queimado, mas, se eu não tivesse amor, isso não me adiantaria nada.

O amor do pastor pela criança é uma escolha, não um sentimento. Biblicamente, o amor tem uma direção. O amor pastoral deve ser altruísta, em outras palavras, deve-se abnegar sua vida pelas ovelhinhas de Jesus. Conforme Stowell: “Um pastor eficaz entende que a substância do amor pastoral vai além de gostos e escolhas de atenção às necessidades do rebanho” (STOWELL, 1997, p 184).

Ele entende que isso é uma questão de amar com o compromisso de se relacionar positivamente com as necessidades dos indivíduos do rebanho. O amor pastoral expresso e experimentado acenderá a chama do amor no coração daqueles que o seguem.

Como pastores devemos lembrar que o fator mais importante ao tratar com crianças é a linguagem que utilizamos. Crianças não são adultos em miniaturas, por isso devemos adequar nossa linguagem.

Como já falamos, o pastor contribui diretamente na formação espiritual da criança. Mediante a isso, temos que salientar que o pastor de criança deve pastorear com sabedoria. O

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ideal é que todo o pastor procure conhecer o processo de desenvolvimento infantil, tanto no aspecto físico e psicológico como no emocional e cognitivo.

Pastorear é antes de tudo um trabalho de amor a Jesus. Para pastorearmos as ovelhinhas de Jesus com eficácia, devemos, portanto, zelar pelos pequenos; nos interessar pelas suas carências e dar a elas o direcionamento para sua vida espiritual. O pastor tem que ser o amigo com que a criança pode contar. Em Mateus 18. 5 diz: “ quem recebe uma destas crianças [...] está me recebendo”. Que possamos, em amor, receber todas as crianças que entram em nossas Igrejas e que possamos atender ao chamado de Jesus e cuidar de suas ovelhinhas.

Que seu serviço chegue ao Pai como aroma suave e agradável. Apascente as crianças com amor, zelo, compromisso, fidelidade, seriedade e honra, pois das tais são o reino dos céus. Faça isso é as crianças seguirão seu exemplo.

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CONCLUSÃO

Após esta explanação, foi possível observar que as crianças são alvos do amor de Deus e necessitam ser pastoreadas.

A criança precisa do pastor. Ela nasceu em pecado. Não conhece a Deus e nunca irá conhecer o Senhor, a menos que seja ensinada. Todo pastor é o instrumento de Deus para instruir o coração da criança. Lembrando de que, se não for pastoreada ela pode ser perder para sempre.

O pastor contribui diretamente na formação espiritual da criança. A postura do pastor de crianças precisa ser de tal forma que elas alcancem maturidade espiritual. Sua missão deve ser conquistar os pequeninos para Jesus.

As crianças têm o direito de ir a Jesus. Elas têm direitos de conquistarem uma vida espiritual. Deixar as crianças desenvolverem suas vidas com Jesus é um direito que elas possuem e que todo pastor deve adequar. Os pequenos precisam ver no pastor uma postura honesta, sincera e digna em relação ao que Jesus é e representa para elas. Do mesmo modo, necessita reconhecer que pode sutilmente influenciá-las a fazer uma decisão de seguir a Cristo e continuar em seus caminhos.

Conclui se que o pastor deve pastorear as crianças com amor. O amor do pastor pela criança é uma escolha, não um sentimento. Biblicamente, o amor tem uma direção. O amor pastoral deve ser altruísta, em outras palavras, deve-se abnegar sua vida pelas crianças e suas necessidades.

A maior necessidade das crianças hoje é que se tenham pessoas comprometidas com o pleno evangelho. Pessoas que cumprem suas obrigações para com a presente geração. O pastoreio infantil é muito abrangente, multifacetado, profundo e necessário.

Jesus disse: “Não é da vontade do vosso Pai celeste que pereçam um só destes pequeninos” (Mt 18. 14). Se o seu desejo, prezado leitor, é ver um mundo melhor, apascente os cordeirinhos de Jesus com muito mais intensidade. Não há tempo a perder, ou toda uma geração poderá se perder.

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