Pastorícia projecto pastomed

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Pastorícia - Contributo para sustentabilidade regional Um Estudo sobre a pastorícia mediterrânea. Café Portugal | terça-feira, 2 de Junho de 2009 PASTOMED foi um projecto que uniu técnicos e agricultores da bacia do Mediterrâneo. Países como Espanha, Itália, França e Portugal empreenderam, entre 2005 e 2007, um trabalho de procura e documentação da actividade pastorícia de cada país. Em Portugal, duas foram as regiões envolvidas: Entre Douro e Minho e Alentejo. Dois anos de trabalho revelaram uma realidade perturbante: o desprestígio da profissão não atrai os jovens e em cerca de 20 anos a actividade pode terminar. No final foi redigido um memorando, onde são descritos os passos dados do projecto PASTOMED. Desde uma contextualização do trabalho, passando pelas potencialidades da pastorícia mediterrânea para o desenvolvimento sustentável das regiões, concluindo com a necessidade de modernização desta actividade milenar. En portugais Contexto As regiões do Sul da Europa sofrem de importantes desequilíbrios económicos e demográfi cos. Por um lado estão os núcleos urbanos em forte crescimento e as actividades agrárias intensivas e por outro,as zonas desfavorecidas ou em vias de despovoamento. Nestas dominam as explorações de produção animal que valorizam, através do pastoreio, grandes áreas de recursos marginais, sejam eles bosques, zonas de matos ou baldios. Desde há muito consideradas como tradicionais, estas explorações de produção animal têm evoluído no sentido de desempenharem múltiplas funções a favor do desenvolvimento dos seus territórios : sócio-económicas (estimulando o emprego, os serviços em zonas difíceis e a valorização dos produtos tradicionais) ; culturais (através da imagem e das ligações sociais ao meio rural) e ; por fi m as ambientais, desempenhadas pelos rebanhos e manadas na manutenção da paisagem, na abertura de espaços ocupados por

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Pastorícia - Contributo para sustentabilidade regionalUm Estudo sobre a pastorícia mediterrânea.

Café Portugal | terça-feira, 2 de Junho de 2009

PASTOMED foi um projecto que uniu técnicos e agricultores da bacia do Mediterrâneo. Países como Espanha, Itália, França e Portugal empreenderam, entre 2005 e 2007, um trabalho de procura e documentação da actividade pastorícia de cada país. Em Portugal, duas foram as regiões envolvidas: Entre Douro e Minho e Alentejo. Dois anos de trabalho revelaram uma realidade perturbante: o desprestígio da profissão não atrai os jovens e em cerca de 20 anos a actividade pode terminar.

No final foi redigido um memorando, onde são descritos os passos dados do projecto PASTOMED. Desde uma contextualização do trabalho, passando pelas potencialidades da pastorícia mediterrânea para o desenvolvimento sustentável das regiões, concluindo com a necessidade de modernização desta actividade milenar.

En portugais Contexto

As regiões do Sul da Europa sofrem de importantes desequilíbrios económicos e demográfi cos. Por um lado estão os núcleos urbanos em forte crescimento e as actividades agrárias intensivas e por outro,as zonas desfavorecidas ou em vias de despovoamento. Nestas dominam as explorações de produção animal que valorizam, através do pastoreio, grandes áreas de recursos marginais, sejam eles bosques, zonas de matos ou baldios.

Desde há muito consideradas como tradicionais, estas explorações de produção animal têm evoluído no sentido de desempenharem múltiplas funções a favor do desenvolvimento dos seus territórios : sócio-económicas (estimulando o emprego, os serviços em zonas difíceis e a valorização dos produtos tradicionais) ; culturais (através da imagem e das ligações sociais ao meio rural) e ; por fi m as ambientais, desempenhadas pelos rebanhos e manadas na manutenção da paisagem, na abertura de espaços ocupados por mato, no respeito da biodiversidade, na prevenção de catástrofes naturais (incêndios), etc.

No momento em que as políticas agrárias comunitárias se transformam com a reforma da PAC, as actividades de produção animal têm um papel preponderante em formas de agricultura multifuncionais, favoráveis ao desenvolvimento sustentável dos territórios.

Mas esta evolução encontra difi culdades que se prendem com problemas económicos, a pressão imobiliária e o distanciamento cada vez maior de uma sociedade que se urbaniza (modo de vida, salários e condições de trabalho), o que diminui a atracção pelas profi ssões ligadas ao sector, ameaçando o futuro das explorações.

Enquadramento e objectivos

O enquadramento do Pastomed 1 é o de aumentar o conhecimento sobre a evolução das actividades da pastorícia,de acompanhar e refl ectir sobre as experiências que estão a decorrer, de forma a torná-las reconhecidas pelo conjunto dos agentes agrários e não agrários, no sentido de melhorar a

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efi cácia das políticas comunitárias de acompanhamento, tanto nacionais como regionais. PASTOMED 1 é uma primeira etapa de mutualisação dos conhecimentos e de análise que se deverá transmitir a outros projectos colectivos de interesse comum.

Os principais objectivos do programa articulamse à volta dos seguintes pontos :

  Criar uma rede de parceiros onde estão implicados não somente os criadores responsáveis pelas organizações de agricultores,mas também os cientistas.

  Conhecer o contexto regional das actividades da pastorícia, a sua natureza e papel económico, social, ambiental, cultural e patrimonial ; caracterizar as políticas públicas e territoriais de apoio à pastorícia.

  Analisar as evoluções actuais dos sistemas de criação animal sob o ponto de vista do seu papel no desenvolvimento sustentável dos territórios, referenciar e descrever as inovações.

  Propor adaptações às políticas públicas de acompanhamento da pastorícia e redigir um memorando com base nestas propostas.

  Divulgar os resultados junto dos agentes intervenientes (associações de criadores,organismos científi cos, olectividades territoriais) para melhorar a infl uência da pastorícia nas estratégias de desenvolvimento das fi leiras e dos territórios.

  Preparar futuras acções de aprofundamento de factores de êxito comprovado e projectos sobre os temas colectivamente julgados como prioritários, além do alargamento da rede a novos parceiros.

Metodo,comunicacao

A estrutura do trabalho científi co assenta em 3 eixos :

A pastorícia : conhecimento partilhado,análise comparada, funções.

As políticas públicas de acompanhamento : análise e propostas.

Realizações portadoras de inovação : recuperação, selecção e análise de acções de interesse comum.

Este trabalho técnico consistirá na elaboração de grelhas comuns de análise, para homogeneizar a recolha de informações, a sua organização e o seu consequente tratamento. Será realizado nas regiões pelo conjunto dos parceiros do PASTOMED 1, com trocas de informação regulares de análise e de síntese colectiva.

Dois seminários intermédios darão início à discussão dos elementos comuns das várias problemáticas. O seminário de encerramento terá como objectivo defi nir uma estratégia e linhas de acção comum,nomeadamente no domínio das políticas públicas e territoriais.

A operação consagra uma grande importância à comunicação.

Um memorando apresentará as principais conclusões e propostas em matéria de política pública de acompanhamento. Uma comunicação permanente será disponibilizada por um sítio na WEB (www. pastomed.org) e por cartas semestrais de informação geral.

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Um folheto de encerramento e um documento fi nal farão a síntese do conjunto de resultados principais do programa.

Etat de lieu et perspectives  

Connaissance, reconnaissance des rôles du pastoralisme méditerranéen dans le développement durable des territoires

Cet axe de Pastomed définira ce que recouvre le pastoralisme et identifiera les différentes formes des activités pastorales et leurs rôles dans le développement des territoires, dans leur participation à la vie locale aux plans économique, social, culturel, dans leur fonction de gestion des espaces naturels.

Deux objectifs seront poursuivis :

 1)construire une base de connaissances et d’informations selon une grille commune et harmonisée ;

 2)dégager des éléments communs de problématique.

L’étude sera conduite en 2 volets qui progresseront en parallèle selon une démarche de travail commune :

 Le contexte du pastoralisme à l’échelle du territoire : Quels sont les facteurs qui conditionnent l’exercice des activités pastorales et leur rôle dans le développement des territoires ? Il s’agit ici de décrire les contextes régionaux (indicateurs socioéconomiques, enjeux économiques, territoriaux, environnementaux, aspects fonciers) ; les activités agricoles et d’élevage (emplois, cheptels et surfaces utilisées) ; la nature des produits de l’élevage (standard, sous signes de qualité) et des filières (longues ou courtes, privées ou coopératives), et leur place vis à vis des produits issus d’autres modes de production ; la contribution du pastoralisme à la vie rurale, au patrimoine et à la culture locale.

 Les fonctions économiques et sociales de l’élevage pastoral et leurs évolutions, à l’échelle de l’exploitation agricole : rôles et importance de l’élevage pastoral aux plans de l’économie, de l’organisation du travail, de la définition du métier d’éleveur. Le travail cherchera à repérer la diversité des situations à l’aide de quelques indicateurs communs. Des illustrations concrètes seront apportées à travers quelques situations types caractéristiques.

Des réunions de coordination régulières et des tournées de terrain réalisées par le coordinateur scientifique permettront d’homogénéiser les informations collectées dans les régions. Un croisement sera opéré avec la composante 3 à l’échelle des régions pour analyser les cohérences entre les politiques d’accompagnement, le contexte des territoires et leurs enjeux, la nature de l’élevage pastoral et les fonctions assurées par celui ci. Les points forts de la synthèse seront construits entre scientifiques et responsables professionnels de l’élevage à l’occasion du séminaire intermédiaire de travail.

A l’issue de cette composante, on disposera d’une base d’informations harmonisées sur le pastoralisme dans les différentes régions, et d’un document de synthèse dont la matière alimentera la composante 5 "communication interne et externe".

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Modernité 

Le pastoralisme est une activité ancienne et traditionnelle dans les régions du sud de l’Europe. Ce nécessaire évolution vers la modernité implique une transformation de toutes ses composantes :

 les exploitations d’élevage doivent dégager un revenu dans des conditions de travail acceptables ;

 les produits et filières doivent se différencier des productions de masse et valoriser leurs spécificités ;

 les acteurs du territoire doivent repenser les relations entre les diverses activités (élevage, forêt, chasse, tourisme) ; les pratiques agricoles et les nouvelles préoccupations environnementales doivent trouver leur équilibre ;

 la reconnaissance et la valorisation même du métier doivent être repensées, alors que la place du pastoralisme dans la vie locale, aux plans économique, social et culturel est en mutation.

Enfin, les institutions et les politiques elles mêmes doivent innover pour accompagner ces profonds changements.

Sur ces différents plans, l’objectif de cette composante est de recenser les expériences les plus significatives en cours dans les régions. Il s’agit de décrire et d’analyser des situations concrètes, porteuses d’avenir, sous une forme attractive et diffusable auprès des divers acteurs intervenant sur le thème du pastoralisme.

Les expériences seront décrites selon une grille éventuellement spécifique à chaque type de problématique. L’objectif étant de faciliter la mutualisation des expériences et leur réutilisation, l’analyse inclura obligatoirement les points suivants : genèse et historique de l’opération ; rôle des acteurs publics ou privés ; contraintes et difficultés, et comment elles ont été levées ; mobilisation ou création des connaissances nécessaires à la réussite de l’opération ; politiques publiques d’accompagnement ; éventuellement, retombées sur le développement du territoire (aspects économiques, sociaux, environnementaux, culturels) ; conditions dans lesquelles l’expérience pourrait être reproduite.

La forme que prendront ces présentations sera précisée par les partenaires impliqués dans cette composante.

Veuillez vous adresser à la sous-rubrique de cette page "expériences d’intérêt pastoral et territorial" pour télécharger toutes les expériences proposées par les régions (64 en total)

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Pastorícia - Em cerca de 20 anos a actividade pode terminarTradição milenar, sustento de muitas gerações, a pastorícia carece de reconhecimento e de incentivos. Entre 2005 e 2007 países da bacia do Mediterrâneo, como Espanha e Itália, uniram técnicos e pastores em torno do projecto PASTOMED para conhecer a realidade pastorícia nos seus territórios. As regiões de Entre Douro e Minho e Alentejo foram as representantes portuguesas. O projecto revelou uma realidade perturbante: o desprestígio da profissão não atrai os jovens e em cerca de 20 anos a actividade pode terminar.

Sara Pelicano | domingo, 24 de Maio de 2009

A imagem de bovinos, caprinos e tantos outros animais de pastoreio marcam a paisagem do Alentejo de montado. Mais a Norte, Entre Douro e Minho, a actividade milenar, sustento de muitas populações, também é parte importante da preservação da paisagem de montanha. A pastorícia une Norte e Sul do país pela tradição da actividade e pelo contributo para o desenvolvimento regional. O projecto europeu PASTOMED teve por objectivo «desenvolver um conhecimento mútuo das condições e características da pastorícia; analisar as políticas públicas aplicadas à pastorícia e identificar e partilhar as acções regionais mais inovadoras para o pastoralismo», explica o Memorando do projecto realizado ao abrigo programa financeiro Interreg III C da União Europeia e das Instituições envolvidas.

Na planície alentejana «a pecuária extensiva baseada no pastoreio tem grande importância», afirma Carlos Carmona Belo da Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre (AADP), organismo responsável pelo projecto PASTOMED na região. O especialista explica mais: «Mas ela [a pecuária extensiva] tem também enorme relevância em termos de país. Com efeito, a produção de bovinos para carne no Alentejo ocupa actualmente 414 mil ha, o que equivale a cerca de 80% da superfície agrícola utilizada (SAU) que no continente é dedicada a esta actividade. Também a concentração de animais se destaca pois, as explorações representam 24% do total do continente». Além do evidente consumo de carne de qualidade, a pastorícia dá ainda lugar a produtos que se distinguem por uma tipicidade própria, relacionada frequentemente à imagem dos territórios, a qual é, em vários casos, objecto de valorização através de certificações europeias de qualidade, como Denominação de Origem Protegida (DOP), Indicação Geográfica Protegida (IGP) e agricultura biológica.

Contributo ambientalOs animais a pastar calmamente e o pastor, ao longe, encostado ao bordão que orienta o gado entre uma e outra pastagem é uma imagem arreigada à paisagem das regiões onde a actividade se desenrola. É, como tal, parte integrante da nossa cultura. A pastorícia mediterrânea é a mais comum entre as populações portuguesas e caracteriza-se pelo respeito «às actividades de exploração ovina, bovina, caprina, equina e suína, cuja organização e funcionamento se baseiam no recurso sistemático aos espaços naturais para assegurar a alimentação dos rebanhos, que

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simultaneamente se valorizam pelo pastoreio». Este processo permite, assim, um ordenamento de território e contribui na prevenção de incêndios florestais, características apontadas pelo engenheiro Côrte-real, responsável pelo PASTOMED na região de Entre Douro e Minho. A ideia é corroborada pelo memorando do projecto europeu, onde se valoriza a presença humana e as suas actividades na manutenção da paisagem. «Os espaços naturais mediterrâneos estão sujeitos ao elevado risco crónico dos grandes incêndios florestais, devido à extensão, facilidade de combustão e estrutura multiforme das áreas arborizadas. Por conseguinte, aqueles espaços não podem existir nem perdurar sem actividades humanas permanentes dedicadas à sua gestão e protecção», lê-se no documento.

Futuro incertoA desvalorização da profissão de pastor tem vindo a afastar os jovens desta actividade rural. No recenseamento agrícola de 2005 quase 40% da população agrícola tinha 65 ou mais anos sendo que, «os maiores decréscimos, face a 1999, se verificaram nos escalões etários mais jovens (-35% na classe de 35 a 45 anos e -45% no escalão dos com menos de 35 anos)» divulga Carmona Belo. O afastamento nos mais novos preocupa também Côrte-Real que, pesaroso, diz: «Daqui a 20 ou 30 anos não vejo ninguém a fazer pastorícia». O representante da AADP logo avança com uma possibilidade para alterar este quadro: «A produção animal extensiva em pastoreio, perspectivada no quadro de políticas ambientais, pode ter um contributo relevante na revalorização da imagem da profissão de pastor e dos agricultores ligados à produção animal, promovendo o reconhecimento social destes agentes económicos, criando oportunidades para a melhoria das suas condições de vida e trabalho». O interveniente da região Sul continua a revelar o seu optimismo face à diminuição de profissionais neste sector agrícola e adianta: «Parece já existir na sociedade portuguesa a convicção de que o agricultor ligado à produção animal pode desempenhar um papel activo na conservação e sustentabilidade do ambiente e, de que, a pastorícia, além de configurar um sistema respeitador do bem-estar animal, origina produtos com garantia de segurança alimentar para as populações», comenta Carmona Belo. No futuro vários são os elementos a ponderar para evitar o abandono da pastorícia mediterrânea. A formação dos agentes da fileira, a inovação tecnológica e o fomento de empresas, de dimensão e natureza jurídica adequadas aos territórios, com capacidade de gestão dos espaços de pastoreio, da transformação dos produtos e da sua colocação no mercado são alguns dos aspectos a ter em conta.