Patologias em Paredes Exteriores de Alvenaria de Tijolo Furado
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DETERIORAÇÃO DE PAREDES EM ALVENARIA DE TIJOLO FURADO SINTOMAS, CAUSAS E MECANISMOS
Filomeno Pequicho
RESUMO 1
2
Esta monografia pretende abordar a problemática da 3
deterioração em paredes não estruturais inseridas na 4
envolvente dos edifícios habitacionais, constituídas por 5
um ou mais panos de alvenaria de tijolo furado e 6
revestidas a argamassa de reboco em ambos os lados. 7
Numa primeira fase pretende-se dar ênfase à 8
sintomatologia evidenciada após a degradação das 9
paredes, seguindo-se uma abordagem às causas e 10
mecanismos que contribuem para o aparecimento das 11
patologias que conduzem, por qualquer forma ou 12
processo, a uma diminuição das suas capacidades 13
funcionais inicialmente previstas e, consequentemente á 14
sua deterioração. 15
16
PALAVRAS-CHAVE 17
18
Sintomas, deterioração, mecanismos, paredes, 19
alvenaria. 20
21
ABSTRACT 22
23
This monograph seeks to address the problem of 24
deterioration in bearing walls inserted in the envelope of 25
residential buildings, consisting of one or more pieces of 26
brick masonry and covered with mortar stuck plaster on 27
both sides. Initially intended to emphasize the symptoms 28
observed after the degradation of the walls, followed by an 29
approach to the causes and mechanisms contributing to the 30
emergence of diseases that lead, in any form or process, a 31
reduction in their functional capabilities initially provided 32
and consequently to its deterioration. 33
34
KEYWORDS 35
36
Symptoms, deterioration, mechanisms, walls, masonry. 37
38
1 INTRODUÇÃO 39
40
A utilização da terra crua para produção de tijolos de 41
adobe remonta á mais de 10.000 anos sendo este 42
seguramente, o processo que directamente antecedeu a 43
produção contínua de tijolos de barro que, por volta de 44
1200 a.C. se generalizou na Europa e Ásia. 45
46
Os tijolos para construção utilizam fundamentalmente dois 47
tipos de matéria-prima; O barro e o betão. 48
Este trabalho será direccionado para as paredes que 49
utilizam alvenarias construídas com tijolos de barro 50
comummente designado de argila e que, após a sua 51
moldagem são submetidos a um processo de cozedura de 52
modo a melhorar as suas características quer químicas 53
quer as mecânicas. 54
55
A argila e mais concretamente o barro vermelho, á muito 56
que se tornou num dos principais materiais de construção 57
de edifícios tendo esta eleição sido obtida pelas mais 58
variadas causas desde a sua sustentabilidade assente na 59
biodegradabilidade do material, facilidade e baixo custo de 60
fabricação, utilização de material normalmente existente 61
na região produtora, elevado conforto térmico, acústico e 62
hidráulico, boa resistência à compressão entre outras, 63
características que o tornaram no material quase exclusivo 64
na elevação de paredes, incluindo, até á poucas décadas, as 65
paredes resistentes (ex: alvenaria confinada), nos edifícios 66
construídos desde a idade média á actualidade. 67
68
De forma a garantir uma universalidade do fabrico e 69
utilização funcional dos tijolos de barro bem como 70
garantir regras comuns nos processos de cálculo quer 71
estrutural, térmico, acústico ou hidráulico, actualmente o 72
fabrico dos tijolos de barro foi normalizado [NP 80 e 73
NP834] quer nas dimensões quer nas suas características 74
mecânicas ou químicas. 75
76
Existem actualmente dois grandes grupos de tijolos de 77
barro: i)Tijolos maciços, ii)Tijolos furados ou perfurados. 78
79
Para cada um destes grupos, existem vários tipos de 80
tijolos: i)Tijolo maciço em superfície lisa, ii)Tijolo maciço 81
em superfície tosca, iii)Tijolo maciço refractário, iv)Tijolo 82
maciço vidrado, v)Tijolo maciço flutuante, vi)Tijolo 83
DETERIORAÇÃO DE PAREDES EM ALVENARIA DE TIJOLO FURADO SINTOMAS, CAUSAS E MECANISMOS
Filomeno Pequicho
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furado e perfurado com vários furos e superfície lisa, 1
vii)Tijolo furado com vários furos e superfície de encaixe 2
3
Neste trabalho, designa-se de “Parede”, o conjunto da 4
construção constituída por um ou mais panos de parede 5
em alvenaria de tijolo furado, os espaços entre panos, 6
preenchidos ou não por materiais isolantes térmico-7
acústicos bem como os revestimentos superficiais 8
aplicados tais como argamassas de reboco e tintas de 9
protecção. Encontram-se ainda incluídos na definição de 10
“Parede” os elementos estruturais designadamente os 11
pilares e vigas em betão armado. 12
13
Esta monografia divide-se em três aspectos básicos que 14
conduzirão a uma melhor compreensão do processo de 15
deterioração das paredes de alvenaria de tijolo furado. São 16
eles; 17
-A sintomatologia evidenciada quer à superfície quer 18
dentro da própria parede e que constitui o processo 19
evolutivo da degradação do conjunto; 20
-As causas que estão por detrás do aparecimento 21
desses sintomas; 22
-Os mecanismos que desencadeiam essas causas e que 23
dão início ao processo de degradação das paredes. 24
25
2 CARACTERIZAÇÃO DAS PAREDES DE 26
ALVENARIA DE TIJOLO FURADO COM 27
REVESTIMENTO EM ARGAMASSA DE REBOCO 28
29
As paredes de alvenaria que utilizam na sua composição 30
estrutural tijolo furado de barro vermelho, caracterizam-se 31
por ser elementos laminares, estruturalmente resistentes ou 32
não, aplicáveis, entre outros, na construção das 33
envolventes exteriores ou interiores dos edifícios ou como 34
simples elementos divisórios de espaços com distinta 35
utilização. 36
O Eurocódigo 6 em §1.4.2.9 define 11 tipos distintos de 37
parede; i)Parede resistente, ii)Parede simples; iii)Parede 38
dupla, iv)Parede composta, v)Parede dupla preenchida 39
com betão, vi)Parede de face à vista, vii)Parede com 40
juntas descontínuas, viii)Parede cortina, ix)Parede 41
resistente ao corte, x)Parede de contraventamento, 42
xi)Parede não resistente. 43
44
2.1 Alvenarias de tijolo furado 45
46
Construídas a partir da sobreposição alinhada dos tijolos, 47
com disposição ao alto ou ao baixo, podem apresentar um, 48
dois ou mais panos de alvenaria. As mais comuns 49
executam-se com um pano para as paredes divisórias ou 50
utilizam dois panos de alvenaria para as paredes da 51
envolvente exterior ou interior ou ainda em paredes 52
divisórias entre fogos distintos. A solidarização entre os 53
tijolos é executada com juntas verticais e horizontais, em 54
argamassa de cimento e areia convencional, argamassa-55
cola ou argamassa leve (§3.2.1 do EC6) sendo as 56
argamassas convencionais as mais utilizadas, com 57
espessuras que variam entre 10 a 15mm e propriedades 58
mecânicas e químicas de acordo com o prescrito no §3.2.2 59
do EC6. Regra geral as paredes encontram-se confinadas 60
por elementos estruturais que podem ser em betão ou 61
perfis metálicos. 62
63
As Alvenarias definem-se, de acordo com o §1.4.2.1 do 64
Eurocódigo 6 em i)Alvenarias, ii)Alvenaria armada, 65
iii)Alvenaria pré-esforçada, iv)Alvenaria confinada, 66
v)Aparelho de alvenaria. 67
68
2.2 Espaço entre panos e isolamentos térmicos 69
70
As paredes que utilizam mais do que um pano de 71
alvenaria, regra geral, apresentam um espaço entre panos e 72
que pode ser total ou parcialmente preenchido com 73
material de isolamento térmico-acústico sendo aqui 74
utilizado normalmente o EPS (placas de espuma de 75
poliestireno expandido), XPS (placas de espuma de 76
poliestireno extrudido), placas ou rolo de lã mineral MW 77
(vidro ou rocha), ICB (placas de aglomerado de cortiça 78
expandida), PUR (espuma de poliuretano ex: projectado) 79
entre outros. 80
81
Será conveniente salientar que os materiais de isolamento 82
térmico poderão igualmente ser aplicados tanto pelo 83
interior como pelo exterior dos panos de alvenaria. 84
85
As placas em espuma de poliestireno EPS ou XPS, 86
produzidas a partir de polímeros (material plástico como o 87
estireno) cuja matéria base, são os hidrocarbonetos 88
(proveniente do petróleo), têm baixa condutibilidade 89
térmica, boa resistência mecânica e hidráulica mas 90
resistem mal face á chama. Idênticas características têm as 91
espumas de poliuretano projectado e que são produzidas a 92
partir de compostos químicos sintéticos. 93
As lãs minerais MW, produzidas a partir de matérias-94
primas naturais (minerais) e completamente renováveis 95
tais como a rocha vulcânica (lã de rocha) ou sílica (lã de 96
vidro) bem como os aglomerados de cortiça expandida 97
ICB que são produzidos igualmente com matéria-prima 98
natural e renovável, têm igualmente bom desempenho 99
térmico, são permeáveis ao vapor de água têm melhor 100
comportamento face ás chamas sendo o ICB praticamente 101
ignífugo e apresenta excelente resistência mecânica. 102
103
Estes materiais deverão cumprir com as várias 104
especificações normativas consoante as características de 105
desempenho exigidas, nomeadamente características 106
acústicas, térmicas, higrométricas, estruturais e resistência. 107
Apresentam-se no Quadro 1 as Normas a exigidas a cada 108
um dos materiais anteriormente referidos: 109
110
Quadro 1 – Normas aplicáveis aos materiais isolantes térmicos 111
Material Norma aplicável EPS EN 14933:2007 XPS EN 14934:2007 MW EN 14064-1: 2010 ICB EN 13170:2008 PUR EN 13165:2008 Fonte: European Commission – Enterprise – Regulatory policy - 112
NANDO 113
114
O grande objectivo da utilização destes materiais nas 115
paredes dos edifícios é exclusivamente o aumento da 116
resistência térmico-acústica do conjunto. 117
118
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Filomeno Pequicho
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2.3 Revestimentos em argamassa de reboco 1
2
Quanto aos revestimentos superficiais dos panos de 3
alvenaria, quer pelo interior quer pelo exterior, 4
abordaremos neste trabalho apenas os que se executam 5
com argamassa de reboco. 6
As argamassas de reboco cujas especificações deverão 7
obedecer às normas EN 998 partes 1 e 2, têm espessuras, 8
regra geral, entre 12 e 20mm e, de acordo com as suas 9
propriedades e utilização podem definir-se nos seguintes 10
tipos: i)Argamassa de reboco de uso geral, ii)Argamassa 11
de reboco leve iii)Argamassa de reboco colorida, 12
iv)Argamassa de reboco monocamada (monomassa), 13
v)Argamassa de reboco de renovação, vi)Argamassa de 14
isolamento térmico. 15
16
Podem classificar-se as argamassas em: 17
-Argamassas tradicionais: são preparadas em obra, 18
segundo procedimentos milenares. Este método é 19
muito grosseiro, sujeito a erros graves e outros 20
inconvenientes abordados mais adiante. 21
-Argamassas fabris: são preparadas em unidade fabril 22
segundo padrões de controlo elevados. 23
24
Basicamente, as argamassas de reboco resultam da mistura 25
ponderada de um ou mais ligantes (cimento e/ou cal 26
hidráulica), um ou mais agregados (areia do mar/rio) e 27
água, em quantidades que variam com a natureza da 28
utilização e o meio onde se aplique. 29
Poderão ainda ser aditivados, no acto do fabrico, produtos 30
em pó ou líquido tendentes a melhorar o desempenho 31
mecânico ou estrutural das argamassas, dependendo do 32
fim a que de destinem, da agressividade do meio ambiente 33
onde se apliquem ou da durabilidade que se pretenda 34
atingir. 35
36
Cumulativamente a estes aditivos, as argamassas de 37
reboco poderão ser estruturalmente reforçadas utilizando 38
redes metálicas, redes em poliéster ou fibra de vidro, 39
fibras de sisal entre muitos outros, garantindo um melhor 40
comportamento á retracção bem como a tensões 41
tangenciais de tracção ou de compressão, normalmente 42
responsáveis por fendilhações superficiais. 43
44
Tradicionalmente as argamassas de reboco têm como 45
principal objectivo proteger as alvenarias dos agentes 46
mecânicos, atmosféricos e/ou químicos bem como conferir 47
maior solidez ao pano de alvenaria. 48
49
2.4 Protecção às argamassas de reboco - Pinturas 50
51
As pinturas constituem o principal acabamento superficial 52
das paredes quer exteriores quer as interiores. 53
A tinta, produto pigmentado, geralmente líquido que, 54
quando aplicado em camadas finas sobre uma superfície, 55
constitui uma película sólida, (algumas com fortes 56
característica de elasticidade como a tinta de borracha), 57
insolúvel na água, resistente, aderente e opaca cuja 58
principal característica é, nas paredes exteriores, a 59
protecção hidráulica e nas paredes interiores o efeito 60
decorativo. 61
Deveremos referir igualmente as tintas intumescentes 62
utilizadas na protecção contra incêndios. 63
Existem ainda muitos outros tipos de tinta cuja sua 64
aplicabilidade não serve os propósitos desta monografia. 65
66
3 O PROCESSO DETERIORATIVO DAS PAREDES 67
68
A evolução das paredes de alvenaria em Portugal quer nos 69
processos de construção quer nos materiais utilizados, 70
trouxe, sem dúvida, benefícios nomeadamente de carácter 71
económico, resistência hidráulica, térmica, acústica, 72
química e biológica, diminuição no peso próprio bem 73
como facilidade de execução e manuseamento dos 74
materiais envolvidos. Curiosamente as características que 75
tornam estes benefícios uma realidade, são as mesmas que 76
lhe conferem vulnerabilidade. De facto, com a utilização 77
simultânea de uma variedade elevada de materiais de 78
características e comportamentos tão diferentes quer do 79
ponto de vista estrutural, térmico, higroscópio quer sob o 80
ponto de vista do seu comportamento face a ataques 81
químicos e/ou biológicos, as paredes tornaram-se 82
elementos de construção de intervenção constante e de 83
cuidado acrescido durante o processo da sua execução. A 84
acrescer a estes factores poderemos ainda referir o facto de 85
igualmente se terem alterado as suas características de 86
carácter funcional bem como o aumento significativo das 87
exigências a vários níveis a elas atribuídas devidas ao 88
elevado grau de exigência de conforto e funcionalidade 89
com que se projectam os espaços que estas envolvem. 90
91
3.1 Sintomas 92
93
Os sintomas de degradação das paredes de alvenaria 94
podem resultar de anomalias i)estruturais e ii)não 95
estruturais. 96
97
Os sintomas estruturais estão normalmente associados a 98
causas mecânicas que afectam as paredes de alvenaria. 99
Das anomalias estruturais resultam, regra geral, sintomas 100
de i)forte fissuração, ii)perda da estabilidade dos apoios 101
nas paredes de alvenaria, iii)menor resistência à flexão da 102
parede quando constituída por mais de um pano de parede, 103
iv)empenamento da superfície, v)esmagamento dos 104
blocos. 105
106
Os sintomas não estruturais constituem a grande maioria 107
das anomalias existentes nas paredes de alvenaria de 108
tijolo, nomeadamente as exteriores. 109
A este grande grupo de anomalias das paredes de alvenaria 110
estão associados sintomas de i)humidade, ii)fissurações, 111
iii)eflorescências / criptoflorescências, iv)envelhecimento 112
e degradação dos materiais, v)pulverulência, vi)presença 113
de microrganismos ou de organismos vivos, vii)descasque/ 114
descamação dos matérias de revestimento, 115
viii)aparecimento de manchas, ix)bolsas de água sob 116
pintura, x)humidades. 117
118
3.2 Causas e mecanismos 119
120
As causas e os mecanismos associados aos sintomas 121
deteriorativos das paredes têm, regra geral, o seu início 122
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Filomeno Pequicho
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ainda em fase de projecto das construções e prolongam-se 1
para além da utilização dos espaços que envolvem. 2
É fundamental perceber que a deterioração de uma parede 3
acompanha o seu período de vida, podendo e devendo esta 4
ser minimizada ou anulada, mesmo que temporariamente, 5
com intervenções apropriadas e em tempo conveniente. 6
7
Na origem da degradação das paredes podem estar 8
factores humanos (directa ou indirectamente ligados ao 9
projecto ou falta dele, durante a fase de execução em obra, 10
na fase de utilização da construção ou factores acidentais) 11
ou naturais (tais como factores de ordem física, química, 12
biológica ou acidentes naturais). 13
14
Desenvolvendo a sequência descrita em 3.1, comecemos 15
por abordar as causas e mecanismos que levam à 16
degradação das paredes de alvenaria de tijolo por motivos 17
estruturais. 18
19
Para cada um dos sintomas aqui abordados, estão-lhe 20
sempre associadas mais do que uma causa ou mecanismo 21
desencadeante 22
23
Qualquer dos factores a seguir indicados, pode, 24
dependendo da sua gravidade, causar a perda parcial ou 25
total da estabilidade da parede. 26
27
A degradação estrutural das paredes de alvenaria de tijolo 28
está associada a i)erro no dimensionamento da parede ou 29
falta de pormenorização construtiva em projecto, 30
ii)deficiente escolha de materiais, iii)escolha de métodos 31
construtivos inadequados, iv) falta de rigidez à flexão 32
horizontal devido á falta de grampeamento entre panos de 33
alvenaria, v)falta de ligação entre o pano de parede e os 34
elementos estruturais confinantes, vi)flecha excessiva nas 35
lajes de apoio, vii)assentamentos diferenciais nas 36
fundações, viii)excessivo movimento rotacional da 37
estrutura, ix)interrupção da rigidez das paredes com 38
inclusão de tubos de queda, coretes para instalação 39
técnicas ou chaminés, x)deficiente apoio dos panos de 40
parede, nomeadamente os que constituem a envolvente 41
exterior dos edifícios. 42
43
A fissuração nas paredes enquanto anomalia estrutural, 44
pode estar associado a factores de actividade continuada 45
ou passiva. A actividade continuada da qual resultam 46
fissuras activas, provoca um constante e continuado 47
aumento na abertura das fendas mesmo após a sua 48
reparação e, regra geral, requer uma intervenção mais 49
profunda e a nível da estrutura de apoio e/ou 50
confinamento. A fissuração passiva termina após 51
reparação (reabilitação) da mesma. Embora esta última 52
possa estar igualmente ligada a factores externos à própria 53
alvenaria, acontece que, se o fenómeno que provoca a 54
fissura cessar, cessa igualmente a abertura da fenda. 55
56
As causas não estruturais, partilham com outros elementos 57
construtivos, patologias devidas à i)humidade, 58
ii)fissuração, iii)envelhecimento e degradação dos 59
materiais e iv)composição desajustada face ás exigências 60
necessárias a cada caso. 61
62
As patologias devidas à humidade e que resultam na 63
alteração das propriedades físicas/químicas e, 64
consequentemente, na degradação dos materiais, são, na 65
maioria dos casos, causadas por i)humidade resultante da 66
secagem dos materiais, ii)humidade relativa no interior da 67
construção, iii)humidade no terreno, iv)humidade devida à 68
água da chuva, v)humidade do ar exterior, vi)humidade 69
ascensional, vii)humidade devida a causas acidentais, 70
viii)humidade ascensional, ix)humidade por rotura de 71
canalizações. Todos estes factores resultam rm 72
mecanismos de transferência de humidade às paredes 73
através de fenómenos conhecidos como a 74
higroscopicidade e/ou capilaridade dos materiais ou 75
condensações externas ou internas. 76
77
Patologias como a eflorescência, criptoflorescência, 78
envelhecimento e degradação dos materiais, pulverulência, 79
presença de microrganismos ou de organismos vivos ou o 80
aparecimento de manchas associam cumulativamente mais 81
do que um factor onde a humidade, regra geral, se 82
encontra presente. 83
84
As causas patológicas que conduzem à fissuração de 85
carácter não estrutural resultam i)da retracção de secagem 86
das argamassas de revestimento, ii)de reacções químicas 87
nas argamassas acompanhadas de expansão de alguns 88
materiais, iii)variações térmicas dos elementos de 89
confinamento das paredes, iv)variações de humidade que 90
envolvem tensões de fendilhação significativa. 91
92
Também o envelhecimento, a degradação dos materiais 93
quer estruturais (tijolo e/ou argamassas de assentamento) 94
quer de revestimento (argamassas de reboco e/ou 95
pinturas), uma composição desajustada das argamassas de 96
revestimento ou ainda uma escolha incorrecta da tinta a 97
aplicar como revestimento final, induzem a uma 98
aceleração na degradação do conjunto que caracteriza a 99
alvenaria. 100
101
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 102
103
As paredes executadas em alvenaria e mais concretamente 104
as que utilizam blocos de tijolo furado na sua construção, 105
desempenham à muito um papel primordial na construção 106
de edifícios qualquer que seja a sua utilização. 107
108
Com o desenvolvimento de novos materiais tecnicamente 109
mais evoluídos quer na sua resistência mecânica, química 110
ou biológica, quer na facilidade de aplicação e até na sua 111
preferência arquitectónica, poderá, no futuro, não estar 112
garantida a continuidade da utilização em paredes, dos 113
tradicionais blocos de barro revestidos a argamassas de 114
cimento. Contudo importa não esquecer que todos esses 115
novos materiais se desenvolvem sob o legado dos estudos 116
e ensaios efectuados ao longo dos tempos ás tradicionais 117
paredes de alvenaria, onde o objectivo final será o da 118
obtenção de elementos capazes de desempenhar as 119
mesmas funções até aqui conseguidas, sem as patologias 120
anteriormente mencionadas, garantindo ainda novos 121
atributos, com certeza, ligados a maiores resistências, á 122
domótica bem como acompanhando o desenvolvimento da 123
arquitectura de fachadas ou divisórias interiores. 124
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Filomeno Pequicho
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56
57
DECLARAÇÃO DE ORIGINALIDADE O autor desta monografia declara que o conteúdo da mesma é da sua autoria e não constitui cópia parcial ou integral de textos de outros autores.
(Assinatura do autor)